Agricultura e o narcotráfico

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AGRO PECUÁRIO ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 7 D E J U N H O D E 2 0 1 0 2 AGRO PECUÁRIO ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 7 D E J U N H O D E 2 0 1 0 11 Os métodos e pro- dutos considerados efi- cazes cientificamente para controle de pragas e doenças na produção orgânica de alimentos são tema da publicação Controle Alternativo de Pragas e Doenças na Agricultura Orgânica, lançada pela unidade da Zona da Mata da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com a Univer- sidade Federal de Viço- sa (UFV). O livro reúne, em onze capítulos, to- do o conteúdo apre- sentado no 4º Work- shop sobre Controle al- ternativo de pragas e doenças, realizado nos dias 28 e 29 de abril, em Viçosa, que contou com a participação de especialistas de todo o país. Segundo os orga- nizadores, pesquisas relacionadas a técnicas de cultivo para a agri- cultura orgânica e ao desenvolvimento de produtos confiáveis para controlar pragas e doenças nesse sistema têm avançado muito nos últimos anos. Os interessados em obter a publicação podem se informar pelo telefone (31)3891-2646. BIBLIOTECA DO CAMPO Controle de pragas ARTIGO AGRO OPORTUNIDADES MUDAS *Preço válido para assinatura do jornal Estado de Minas com entrega diária, dentro do perímetro de distribuição. Pagamento com cartão de crédito ou débito em conta-corrente. MARA LUIZA GONÇALVES FREITAS* A crise de alimentos no mun- do e seus respectivos impactos na economia em razão da alta dos preços é tema frequente nos meios de comunicação. Lê-se, também, sobre a fome que asso- la um volume crescente de paí- ses situados essencialmente na África, na Ásia e na América Lati- na. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que a massa de famintos atinge 1/6 da humanidade. Esta situa- ção, além de fomentar o deses- pero diário em busca da sobrevi- vência, leva homens, mulheres e crianças a se submeterem a inú- meras formas de violência, que incluem a cooptação de pessoas pelo crime organizado, como no caso do narcotráfico. Uma das principais vítimas nesse campo são os agricultores (homens, mulheres, jovens e crianças), aliciados ou escraviza- dos para atendimento dos inte- resses desse mercado ilegal e bi- lionário. De acordo com Paul Gootenberg (2005), o comércio de drogas ilícitas gera entre US$ 300 e 500 bilhões anualmente. O vulto econômico deste negócio alia-se à crescente pressão da de- manda mundial, impulsionada por cerca de 250 milhões de pes- soas – conforme estatísticas da ONU relativas ao ano passado -, as quais imprimem o ritmo do aumento da produção ilegal, concentrada em países em de- senvolvimento na África, na Ásia e na América Latina. Esse temerário crescimento redundou na Declaração Política e no Plano de Ação de Coopera- ção Internacional para Controle das Drogas, chancelada por 130 países em 2009 e que pretende reduzir a dependência das dro- gas; combater o negócio ilícito; controlar elementos químicos relacionados à produção de en- torpecentes; erradicar, por meio de cooperação internacional, o cultivo ilícito e ao mesmo tem- po, fomentar o desenvolvimen- to sustentável; combater a lava- gem de dinheiro e aumentar a cooperação judicial. O tratado, infelizmente, ace- na para uma guerra que o mun- do está perdendo. O World Drug Report 2009 aponta que embo- ra se tenha registrado uma re- dução das áreas plantadas, em decorrência do combate realiza- do por instituições especializa- das em repressão ao narcotráfi- co, não houve um impacto sig- nificativo sobre a oferta de en- torpecentes, já que a produtivi- dade por hectare tem aumenta- do de forma desproporcional, comparada ao avanço da repres- são. No caso da papoula (Papa- ver rhoeas), matéria-prima para a produção de ópio, verifica-se que a área plantada ficou na casa dos 187 mil hectares, distribuí- dos entre os principais produto- res: Afeganistão, República De- mocrática do Laos e Miamar, submissos aos interesses de gru- pos terroristas, como os Talibãs. No caso da coca (Erythro- xylon coca), a área plantada nos principais países produtores – Bolívia, Peru e Colômbia – per- maneceu em 175 mil hectares, comandada por grupos guerri- lheiros. Esses três países, em par- ticular, chamam a atenção por conta dos seus laços históricos com a produção de coca voltada anteriormente ao atendimento de parâmetros culturais pré-co- lombianos. A cultura “facilita” a produção de coca e papoula com “alto padrão de qualidade”. É claro que a adesão do elo produtor a esta cadeia produtiva bilionária e ilegal não se dá de forma pacífica. O caso da Colôm- bia, em particular, permite clare- za nessa percepção. A ação das guerrilhas, como a Força Armada Revolucionária da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional, fundadas em movimentos cam- pesinos contra o governo colom- biano na primeira metade do sé- culo 20, no período intitulado “La Violência”, é a principal peça des- te perigoso quebra-cabeça. Léon Valência, em publica- ção de 2005, citando Nazih Ri- chani, observa que a situação colombiana é dramática, consi- derando que “um milhão de agricultores, pequenos campo- neses e trabalhadores agrícolas” têm na produção de entorpe- centes um meio integral ou parcial de sobrevivência. Esta dependência fica mais evidente quando o autor explica que na- quele país, o rendimento da co- ca pode se equiparar ao do café, em termos econômicos. “Por uma boa qualidade, o traficante paga, em média, US$ 1 mil por um quilo de pasta de co- ca. Depois de comprar suas pro- visões e pagar seus trabalhado- res, o agricultor pode tirar para si cerca de US$ 325”. Esse valor po- de explicar os motivos pelos quais a produção tem aumenta- do, embora a análise não deva se restringir à vertente econômica. O medo aliado à pobreza dilace- rante, à fragilidade das democra- cias e do próprio Estado são ou- tros elementos que também de- vem ser colocados na balança. Mais de 3,6 milhões de produ- tores rurais colombianos, 90% dos que foram expulsos de suas ter- ras, engrossaram, sobremaneira, a geração de bolsões de pobreza nos centros urbanos, provocada pela expansão da violência desde o iní- cio dos anos 1980. Muitos, fugin- do de tal situação, atravessaram ilegalmente a fronteira de países como o Brasil. Mais de 7 mil pes- soas são mantidas, hoje, como re- féns das guerrilhas, sendo que mais de 50 mil já perderam suas vidas por não concordarem com as políticas das guerrilhas. Essa rota de violência coloca o país no topo do ranking mundial das vítimas de minas terrestres: mais de 10 mil pessoas, na maio- ria, produtores rurais, foram atingidas por estes artefatos pa- ra-militares, os quais, quando não matam, deixam sequelas terríveis pelo resto da vida. Esses dados indicam que os impactos do narcotráfico sobre a agricultu- ra são temerários, podendo con- tribuir de forma decisiva para a insegurança alimentar. *Professora e coordenadora dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Adminis- tração do Vale do Juruena - e-mail adm@ma- rafreitas.adm.br Planejamento de plantio para oferta irregular O Programa de Aquisição de Alimentos e a Compra de Alimentos da Agricultura Familiar para a Alimentação Escolar (Lei 11.947/2009) exigem dos agricultores familiares regularidade na entrega e produtos de qualidade. Para isso, eles precisam planejar o plantio de cada item em função da demanda. É necessária uma integração muito grande entre os participantes, para que a demanda seja atendida, sem problemas de escassez ou eventual excesso de produção em algumas das propriedades incluídas no projeto. No caso das hortaliças, tomando-se por base apenas o ciclo da cultura, podem ocorrer variações em função da cultivar e das condições climáticas – temperatura, ocorrência de chuvas – e de cada dia na plantação. Para definir de forma prática quanto e quando plantar é preciso conhecer o rendimento da cultura e o período em que se pode colher, depois de o vegetal atingir o ponto ideal. Para a alface, por exemplo, esse período é de uma semana e, para a cenoura, duas semanas. Os passos a serem seguidos são: Determinar a demanda semanal; Verificar o rendimento comercial por área ou planta; Dividindo-se a demanda pelo rendimento, obtém-se a necessidade de área por semana; Determinar o tempo de colheita em semanas; Multiplicando-se os passos C e D, obtém-se a área a ser plantada no período. Alguns exemplos CENOURA Demanda semanal – 240 quilos Rendimento comercial – 3 kg por metro quadrado Período de colheita – 15 dias Demanda para 15 dias – 240 x 2 = 480 kg Área a ser semeada a cada 15 dias – 480 ÷ 3 = 160m 2 de canteiro ALFACE Demanda semanal – 2.400 unidades Rendimento comercial – 14 unidades/m 2 Necessidade de área semanal – 170 m 2 (espaçamento 25 x 25cm com as perdas) Necessidade de mudas – 9 bandejas de 285 células por semana TOMATE Demanda semanal – 1.200 kg Rendimento comercial por planta – 6,5 kg Período de colheita – 9 semanas (2 meses) Demanda nesse período – 1.200 x 9 = 10.800 kg Número de plantas para atender a demanda no período – 10.800 ÷ 6,5 = 1.660 Área a ser plantada a cada dois meses (espaçamento 1x 0,60m) – 2.700m 2 Necessidade de mudas – 9 bandejas de 200 células. Produtos que apresentam durabilidade maior, como cebolas do tipo baia e roxa e moranga madura, podem ser armazenados adequadamente por até três meses, em ambientes protegidos do sol e umidade, e serão fornecidos de acordo com a demanda. As raízes e tubérculos, cujo melhor local de armazenamento é a própria terra (inhame, cará, mandioca, batata doce e baroa ou mandioquinha salsa), serão colhidos à medida da necessidade. Os grãos podem ser armazenados sem tratamento com produtos químicos, em recipientes herméticos, como garrafas pet, latas ou tambores. Retira-se o oxigênio das latas ou tambores, colocando um pedaço de vela acesa dentro dos recipientes, a qual irá consumir todo oxigênio até apagar. Esse artifício não pode ser usado para sementes. É importante ressaltar que a agricultura não é matemática, pois existem vários fatores que não se pode controlar durante a produção. Essas são algumas sugestões para auxiliar o agricultor familiar no momento de tomar a decisão de plantio. Fonte: João Augusto Avelar Filho, engenheiro agrônomo, coordenador técnico de Olericultura da Emater-MG/ Unidade Regional de Lavras) – e-mail [email protected] COMO FAZER ALEXANDRE SOUZA SOARES/DIVULGAÇÃO Cada passo do produtor para o bom rendimento das hortaliças deve ser analisado, desde a escolha das mudas aos cuidados no canteiro Agricultura e o narcotráfico Milhares de colombianos que viviam de atividades rurais deixaram suas casas, forçados pelo aumento da violência desde os anos 1980 LUIS ROBAYO/AFP - 19/3/10

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Artigo publicado no jornal O Estado de Minas em 07 de junho de 2010.

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A G R O P E C U Á R I O

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 7 D E J U N H O D E 2 0 1 0

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E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 7 D E J U N H O D E 2 0 1 0

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Os métodos e pro-dutos considerados efi-cazes cientificamentepara controle de pragase doenças na produçãoorgânica de alimentossão tema da publicaçãoControle Alternativode Pragas e Doenças naAgricultura Orgânica,lançada pela unidadeda Zona da Mata daEmpresa de PesquisaAgropecuária de MinasGerais (Epamig), emparceria com a Univer-sidade Federal de Viço-sa (UFV). O livro reúne,em onze capítulos, to-do o conteúdo apre-sentado no 4º Work-shop sobre Controle al-ternativo de pragas edoenças, realizado nosdias 28 e 29 de abril, emViçosa, que contoucom a participação deespecialistas de todo opaís. Segundo os orga-nizadores, pesquisasrelacionadas a técnicasde cultivo para a agri-cultura orgânica e aodesenvolvimento deprodutos confiáveispara controlar pragas edoenças nesse sistematêm avançado muitonos últimos anos. Osinteressados em obtera publicação podem seinformar pelo telefone(31)3891-2646.

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MARA LUIZA GONÇALVES FREITAS*

A crise de alimentos no mun-do e seus respectivos impactosna economia em razão da altados preços é tema frequente nosmeios de comunicação. Lê-se,também, sobre a fome que asso-la um volume crescente de paí-ses situados essencialmente naÁfrica, na Ásia e na América Lati-na. Dados da Organização dasNações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO) indicamque a massa de famintos atinge1/6 da humanidade. Esta situa-ção, além de fomentar o deses-pero diário em busca da sobrevi-vência, leva homens, mulheres ecrianças a se submeterem a inú-meras formas de violência, queincluem a cooptação de pessoaspelo crime organizado, como nocaso do narcotráfico.

Uma das principais vítimasnesse campo são os agricultores(homens, mulheres, jovens ecrianças), aliciados ou escraviza-dos para atendimento dos inte-resses desse mercado ilegal e bi-lionário. De acordo com PaulGootenberg (2005), o comércio

de drogas ilícitas gera entre US$300 e 500 bilhões anualmente. Ovulto econômico deste negócioalia-se à crescente pressão da de-manda mundial, impulsionadapor cerca de 250 milhões de pes-soas – conforme estatísticas daONU relativas ao ano passado -,as quais imprimem o ritmo doaumento da produção ilegal,concentrada em países em de-senvolvimento na África, na Ásiae na América Latina.

Esse temerário crescimentoredundou na Declaração Políticae no Plano de Ação de Coopera-ção Internacional para Controledas Drogas, chancelada por 130países em 2009 e que pretendereduzir a dependência das dro-gas; combater o negócio ilícito;controlar elementos químicosrelacionados à produção de en-torpecentes; erradicar, por meiode cooperação internacional, ocultivo ilícito e ao mesmo tem-po, fomentar o desenvolvimen-to sustentável; combater a lava-gem de dinheiro e aumentar acooperação judicial.

O tratado, infelizmente, ace-na para uma guerra que o mun-do está perdendo. O World DrugReport 2009 aponta que embo-ra se tenha registrado uma re-dução das áreas plantadas, emdecorrência do combate realiza-do por instituições especializa-

das em repressão ao narcotráfi-co, não houve um impacto sig-nificativo sobre a oferta de en-torpecentes, já que a produtivi-dade por hectare tem aumenta-do de forma desproporcional,comparada ao avanço da repres-são. No caso da papoula (Papa-ver rhoeas), matéria-prima paraa produção de ópio, verifica-seque a área plantada ficou na casados 187 mil hectares, distribuí-dos entre os principais produto-res: Afeganistão, República De-mocrática do Laos e Miamar,submissos aos interesses de gru-pos terroristas, como os Talibãs.

No caso da coca (Erythro-xylon coca), a área plantada nosprincipais países produtores –Bolívia, Peru e Colômbia – per-maneceu em 175 mil hectares,comandada por grupos guerri-lheiros. Esses três países, em par-ticular, chamam a atenção porconta dos seus laços históricoscom a produção de coca voltadaanteriormente ao atendimentode parâmetros culturais pré-co-lombianos. A cultura “facilita” a

produção de coca e papoula com“alto padrão de qualidade”.

É claro que a adesão do eloprodutor a esta cadeia produtivabilionária e ilegal não se dá deforma pacífica. O caso da Colôm-bia, em particular, permite clare-za nessa percepção. A ação dasguerrilhas, como a Força ArmadaRevolucionária da Colômbia e oExército de Libertação Nacional,fundadas em movimentos cam-pesinos contra o governo colom-biano na primeira metade do sé-culo 20, no período intitulado “LaViolência”, é a principal peça des-te perigoso quebra-cabeça.

Léon Valência, em publica-ção de 2005, citando Nazih Ri-chani, observa que a situaçãocolombiana é dramática, consi-derando que “um milhão deagricultores, pequenos campo-neses e trabalhadores agrícolas”têm na produção de entorpe-centes um meio integral ouparcial de sobrevivência. Estadependência fica mais evidentequando o autor explica que na-quele país, o rendimento da co-

ca pode se equiparar ao do café,em termos econômicos.

“Por uma boa qualidade, otraficante paga, em média, US$ 1mil por um quilo de pasta de co-ca. Depois de comprar suas pro-visões e pagar seus trabalhado-res, o agricultor pode tirar para sicerca de US$ 325”. Esse valor po-de explicar os motivos pelosquais a produção tem aumenta-do, embora a análise não deva serestringir à vertente econômica.O medo aliado à pobreza dilace-rante, à fragilidade das democra-cias e do próprio Estado são ou-tros elementos que também de-vem ser colocados na balança.

Mais de 3,6 milhões de produ-toresruraiscolombianos,90%dosque foram expulsos de suas ter-ras, engrossaram, sobremaneira, ageraçãodebolsõesdepobrezanoscentros urbanos, provocada pelaexpansãodaviolênciadesdeoiní-cio dos anos 1980. Muitos, fugin-do de tal situação, atravessaramilegalmente a fronteira de paísescomo o Brasil. Mais de 7 mil pes-soas são mantidas, hoje, como re-féns das guerrilhas, sendo quemais de 50 mil já perderam suasvidas por não concordarem comas políticas das guerrilhas.

Essa rota de violência coloca opaís no topo do ranking mundialdas vítimas de minas terrestres:mais de 10 mil pessoas, na maio-ria, produtores rurais, foramatingidas por estes artefatos pa-ra-militares, os quais, quandonão matam, deixam sequelasterríveis pelo resto da vida. Essesdados indicam que os impactosdo narcotráfico sobre a agricultu-ra são temerários, podendo con-tribuir de forma decisiva para ainsegurança alimentar.

*Professora e coordenadora dos cursos de

Administração e Ciências Contábeis da AJES –

Faculdades de Ciências Contábeis e Adminis-

tração do Vale do Juruena - e-mail adm@ma-

rafreitas.adm.br

Planejamento de plantio para oferta irregularO Programa de Aquisição deAlimentos e a Compra de Alimentosda Agricultura Familiar para aAlimentação Escolar (Lei11.947/2009) exigem dosagricultores familiares regularidadena entrega e produtos de qualidade.Para isso, eles precisam planejar oplantio de cada item em função dademanda. É necessária umaintegração muito grande entre osparticipantes, para que a demandaseja atendida, sem problemas deescassez ou eventual excesso deprodução em algumas daspropriedades incluídas no projeto.No caso das hortaliças, tomando-sepor base apenas o ciclo da cultura,podem ocorrer variações em funçãoda cultivar e das condições climáticas– temperatura, ocorrência de chuvas– e de cada dia na plantação. Paradefinir de forma prática quanto equando plantar é preciso conhecer orendimento da cultura e o períodoem que se pode colher, depois de ovegetal atingir o ponto ideal. Para aalface, por exemplo, esse período éde uma semana e, para a cenoura,duas semanas.

Os passos a serem seguidos são:● Determinar a demanda semanal;● Verificar o rendimento comercialpor área ou planta;● Dividindo-se a demanda pelorendimento, obtém-se anecessidade de área por semana;● Determinar o tempo de colheitaem semanas;● Multiplicando-se os passos C e D,obtém-se a área a ser plantada noperíodo.

Alguns exemplosCENOURADemanda semanal – 240 quilosRendimento comercial – 3 kg pormetro quadradoPeríodo de colheita – 15 diasDemanda para 15 dias – 240 x 2 =480 kgÁrea a ser semeada a cada 15 dias –480 ÷ 3 = 160m2 de canteiro

ALFACEDemanda semanal – 2.400unidadesRendimento comercial – 14unidades/m2

Necessidade de área semanal – 170m2 (espaçamento 25 x 25cm com asperdas)Necessidade de mudas – 9 bandejasde 285 células por semana

TOMATEDemanda semanal – 1.200 kgRendimento comercial por planta –6,5 kgPeríodo de colheita – 9 semanas (2meses)Demanda nesse período – 1.200 x 9= 10.800 kgNúmero de plantas para atender ademanda no período – 10.800 ÷ 6,5= 1.660Área a ser plantada a cada doismeses (espaçamento 1x 0,60m) –2.700m2

Necessidade de mudas – 9 bandejasde 200 células.

Produtos que apresentamdurabilidade maior, como cebolas dotipo baia e roxa e moranga madura,podem ser armazenadosadequadamente por até três meses,em ambientes protegidos do sol eumidade, e serão fornecidos deacordo com a demanda.As raízes e tubérculos, cujo melhorlocal de armazenamento é a própriaterra (inhame, cará, mandioca,batata doce e baroa ou

mandioquinha salsa), serão colhidosà medida da necessidade.Os grãos podem ser armazenadossem tratamento com produtosquímicos, em recipientesherméticos, como garrafas pet,latas ou tambores. Retira-se ooxigênio das latas ou tambores,colocando um pedaço de velaacesa dentro dos recipientes, aqual irá consumir todo oxigênio atéapagar. Esse artifício não pode serusado para sementes.

É importante ressaltar que aagricultura não é matemática, poisexistem vários fatores que não sepode controlar durante a produção.Essas são algumas sugestões paraauxiliar o agricultor familiar nomomento de tomar a decisão deplantio.

Fonte: João Augusto Avelar Filho, engenheiroagrônomo, coordenador técnico deOlericultura da Emater-MG/ Unidade Regionalde Lavras) – [email protected]

COMO FAZER

ALEXANDRE SOUZA SOARES/DIVULGAÇÃO

Cada passo do produtor para o bom rendimento das hortaliças deveser analisado, desde a escolha das mudas aos cuidados no canteiro

Agricultura e o narcotráfico

Milhares de colombianos que viviam de atividades rurais deixaramsuas casas, forçados pelo aumento da violência desde os anos 1980

LUIS ROBAYO/AFP - 19/3/10