Águia Que Voa Alto - Stephanie Grace Whitson

download Águia Que Voa Alto - Stephanie Grace Whitson

of 239

Transcript of Águia Que Voa Alto - Stephanie Grace Whitson

Prlogo

O campo de batalha estava silencioso. Apenas um tiro ocasional era dado em alguma parte entre as rvores, a cerca de um quilmetro abaixo, no vale. Ali, prevalecia um silncio lgubre, qubrado apenas uma vez ou outra, por uma cantiga baixa de vitria, enquanto os guerreiros coletavam lembranas dos mortos. guia que Voa Alto, em p, examinava o campo de batalha. Aos seus ps estava o corpo de um dos soldados. O mau cheiro de morte enchia o ar. guia que Voa Alto fechou os olhos e inalou profundamente, permitindo a si mesmo lembrar-se da vitria. Levantando sua vaca, ele se agachou e agarrou o cabelo grosso e preto do soldado em uma mo. O brilho do ouro estancou a faca no meio do movimento. guia que Voa Alto arrebentou o pedao de ouro do pescoo do soldado, examinando a pea cuidadosamente. Quando virou, a pea se abriu, revelando o retrato de uma jovem mulher. guia que Voa Alto prendeu a respirao e olhou, admirado, no a jovem mulher, mas a outra aquela cujos olhos fixos o fitavam firmemente, por trs da jovem. Ela estava mais velha e a boca desenhava uma linha sria, reta. guia que Voa Alto lembrou-se. O cabelo estava preso atrs, do jeito dos brancos, mas ondas e cachos que no podiam ser presos ainda emolduravam a sua face. guia que Voa Alto lembrou-se. Olhando dentro dos olhos, ele sabia. Ali estava Caminhando nas Chamas... sua me. Ele tinha quebrado o medalho ao pux-lo do pescoo do soldado. Ento pegou um tendo de bfalo em seu bolso lateral. Fechado o medalho, amarrou-o com o tendo, dando um n forte, e colocou-o no pescoo. Enquanto puxava para baixo, seus dedos passaram por outro pedao de ouro que estava pendurado em seu pescoo h muitos anos... e nunca fora tirado... guardado com carinho com a ltima remanescncia de sua me. O grito de outro guerreiro que subia a encosta interrompeu suas memrias. guia que Voa Alto levantou-se e recolocou a faca em sua bainha, levantando a mo, para mais uma vez sentir o contorno da cruz dependurada em seu pescoo. Ento, tocando o medalho para ter certeza de que estava seguro, subiu no pnei e correu de volta para a aldeia. O campo de batalha estava quieto. Tiros distantes eram tudo o que lembrava o encontro. Cabelo Longo e seus homens estavam mortos. Levaria dez dias para esta notcia chegar a Lincoln, Nebraska, onde Caminhando nas Chamas a ouviria e temeria pela vida de seu novo genro, e ficaria imaginando o destino de seu filho adotivo. Demoraria mais ainda at que a verdade fosse descoberta. O genro, Mackenzie Baird, estava morto no Pequeno Grande Chifre, enquanto o filho adotivo, um bravo lakota, cavalgava, levando um medalho no lugar de um escalpo. Captulo 1

"Os nossos perseguidores foram mais ligeiros do que as aves dos cus; sobre os montes nos perseguiram, no deserto nos armaram ciladas." Lamentaes 4:19

"Esto todos mortos?", Bfalo Sentado perguntou. guia que Voa Alto apeou e aproximou-se do chefe. "Wicunkasotapelo! (Ns matamos todos eles!)" Bfalo Sentado balanou a cabea e virou-se. "Ento vamos voltar ao acampamento." guia que Voa Alto refreou seu pnei, que se mexia como se estivesse danando, e seguiu Bfalo Sentado at o lugar onde as mulheres, agitadas, tratavam de seus feridos e levantavam tablados para colocar seus mortos. Ouviu-se um pequeno grito vindo do meio de um grupo de mulheres enquanto guia que Voa Alto cavalgava entre elas. Uma ndia, ainda jovem, correu at seu pnei. "Voc est ferido", ela disse, estendendo o corpo para tocar o fluxo de sangue fresco em seu brao. guia que Voa Alto rispidamente desviou-se do toque dela. Mas sua voz ainda foi gentil ao responder: "No nada". A ndia deu um suspiro profundo e fez uma careta. " possvel sentir a morte no ar aqui." guia que Voa Alto balanou a cabea concordando e virou-se para trs, olhando para a colina pintada com corpos vestidos de azul. "Ns teremos de mudar o acampamento." Ele impeliu seu pnei a andar para frente. A jovem ndia aproximou-se de novo. Dessa vez colocou a mo no joelho dele e sussurrou: "Vou cozinhar hoje noite, guia que Voa Alto. Voc no gostaria de vir at a fogueira de meu pai, para compartilhar a histria dessa grande vitria?". Seus olhos brilhavam ao olharem para ele. "Voc ganhou muitas penas hoje. Ouvi o Urso Andante e Lobo Solitrio conversando sobre voc. Disseram que voc golpeou o inimigo, pelo menos umas quatro vezes!" Ele queria terminar a conversa abruptamente, mas sabia que o grupo de jovens mulheres, com quem Winona conversava antes, estava observando. guia que Voa Alto sorriu graciosamente enquanto procurava uma resposta. Quando a encontrou, no era o que a jovem queria ouvir. "No vou compartilhar canes sobre vitria hoje." Tiros a distncia deram a ele uma desculpa. "Ainda h soldados l em cima da ribanceira. Quero dar uns tiros neles." guia que Voa Alto virou o pnei rapidamente e saiu depressa, deixando Winona em p na poeira. "Ele vai vir at a sua fogueira hoje noite?", perguntou, insolentemente, uma das ndias jovens. "Ele tem um pedao de ouro dos soldados. No ofereceu a voc!?", falou, escarnecendo de Winona. "De qualquer modo ele muito velho para algum da sua idade. Voc deveria procurar um homem mais novo." O escrnio teve o efeito desejado. Winona apressou-se at o grupo de mulheres e respondeu de volta: "guia que Voa Alto o melhor caador do nosso bando. o guerreiro mais bravo - e no h homem na aldeia que ousaria apostar uma corrida com seus pneis!". Enquanto Winona listava s amigas as virtudes de guia que Voa Alto, uma mulher de meia-idade aproximou-se do grupo. Flor do Campo repreendeu s jovens mulheres: "Cus, fofocas agora! Isso so horas de ficar contando historinhas bobas de garotas!? H muito trabalho para fazer por aqui!". Ela enxotou o grupo e, colocando o brao ao redor dos ombros de Winona, chamou -a em particular. "Voc sabe que elas dizem todas essas coisas para irrit-la, no ?" Winona chutou a poeira. "Elas so to crianas!" Flor do Campo sorriu e afagou o brao da jovem garota. "Eu acho que elas so da sua idade." Fazendo uma pausa por um momento, disse em voz meiga: "guia que Voa Alto um homem bom. Mas muito velho para voc". Winona retirou o brao de Flor do Campo, empurrando-o para longe de seus ombros, e respondeu desafiadoramente: "Os bravos da minha idade so tolos. Guerreiam para provar sua bravura. Guerreiam para trazer honra a suas famlias. Guerreiam para ganhar cavalos. Guerreiam para ganhar coraes. Quero ir para onde no haja mais guerras". Flor do Campo considerou o desabafo antes de replicar suavemente: "Eu no acho que tal lugar exista. Ns estamos nos tornando como o outeiro da terra que se levanta das guas da Concha da Lua. O homem branco nos rodeia, pegando mais e mais de tudo o que est nossa volta, no pequeno outeiro da terra onde vivemos". Tiros estouraram ao longe. O pequeno grupo de soldados tinha encontrado abrigo em uma das ribanceiras altas. A distncia, as mulheres podiam ver os pneis dos guerreiros disparando de volta e em direo dos ps da ribanceira. Flor do Campo murmurou: "Eu os ouvi dizer que deixariam um caminho aberto ao leste no caso de os soldados desejarem fugir". "Bom", veio a resposta, "espero que eles fujam. Espero que nos deixem sozinhos!" O rosto de Winona brilhava. "Talvez guia que Voa Alto venha fogueira de meu pai."

Flor do Campo a interrompeu: "Talvez ele a embrulhe em sua pele de bfalo!?". Winona sorriu enquanto Flor do Campo a abraava e ento a empurrou para a tenda de seu pai. "V! H muito trabalho para ser feito. guia que Voa Alto disse que teramos de mudar o acampamento, e eu acho que ele est certo. Sua me deve estar esperando voc para ajud-la." As duas mulheres dispararam e aprontaram tudo para a mudana, em meio aos sons distantes de escaramuas. Durante todo aquele dia e mesmo noite, ouviram-se tiros. Bfalo Sentado, guia que Voa Alto, e muitos outros atacavam de l para c, desafiando as balas que vinham dos soldados da ribanceira, enquanto se escutava o som assustador de canes matutinas e gritos de desgosto no acampamento, vindo daqueles que haviam perdido queridos na batalha. Os soldados na ribanceira estavam amedrontados achando que aqueles sons fossem de danas de vitria. Mas os ndios Sioux no se regozijavam. Haviam perdido muitos naquele dia. Quando Bfalo Sentado retornou ao acampamento, chamou seus jovens guerreiros e viu, com satisfao, que haviam obedecido sua advertncia. Ele tinha tido.-a viso de uma grande vitria a menos de duas semanas antes de acamparem ali na Grama Lisa. Quando compartilhou sua viso, advertiu o povo: "A vitria ser um presente de Wakan Tanka. Matem os soldados, mas no peguem os despojos. Se vocs colocarem o corao nas coisas do homem branco, uma maldio cair sobre a nao". Bfalo Sentado olhou fixamente para seus jovens seguidores sentados ao redor da fogueira, e ficou satisfeito. "Vocs agiram bem. Mas meu corao est cheio de tristeza pelo que vi ao nosso redor. Armas, cavalos do exrcito e roupas de homens brancos esto em todo o lugar." Bfalo Sentado apontou o dedo acusando guia que Voa Alto, que tinha acabado de aproximar-se do grupo. O medalho de ouro brilhava com a luz da fogueira. "Voc pegou dos despojos. Agora estar merc do homem branco. Passar fome nas mos deles. E soldados iro esmag-lo." guia que Voa Alto respondeu rudemente: "Eu acreditei em seu conselho, Bfalo Sentado. Pareceu-me certo. Peguei isso porque era algo muito querido para mim. O soldado que o usava parecia muito prximo a mim, agora sinto muito por sua morte". Ao falar, guia que Voa Alto mexia no medalho para abri-lo. Enquanto o manuseava desajeitadamente, dois dos outros bravos jovens se cutucavam. Finalmente guia que Voa Alto abriu o medalho. "No sei o que isto significa, mas esta aquela que chamvamos de Caminhando nas Chamas e que viveu entre ns. J se passaram muitas luas desde que esteve conosco, mas eu a chamava Ina, naquele tempo. Acho que esta outra deve ser a irm, sobre quem Flor do Campo me contou, quando voltou do forte." guia que Voa Alto fez uma pausa. Ficou silencioso ao redor do fogo. Todos os olhos estavam fitos nele, enquanto estendia o medalho para Bfalo Sentado. O chefe pegou o medalho e o examinou cuidadosamente, virando-o de todos os lados na palma da mo. Ele alternou olhares dos rostos na fotografia para guia que Voa Alto muitas vezes. Por fim, Bfalo Sentado agarrou o medalho fechado e o devolveu a guia que Voa Alto. "Talvez Wakan Tanka considere isso verdade e o salve da punio que vir sobre nosso povo." Depois do rpido conselho ao redor da fogueira, os lakotas se apressaram a enterrar os seus. Na manh seguinte, os guerreiros recentemente armados juntaram-se e fizeram o ltimo ataque contra os sobreviventes da batalha entrincheirados. Com muitas armas novas e munio recolhida dos mortos, eles cultivaram fome de mais sangue. Mas as mulheres da aldeia desmontavam as ltimas tendas, e Bfalo Sentado j estava a caminho. Dando ordens aos jovens guerreiros na fila, para baixo e para cima, ele gritou: "J o suficiente! Eles vieram contra ns. Ns matamos a maioria deles. Se os matarmos todos, eles enviaro um exrcito maior ainda para nos punir". guia que Voa Alto refreou seu pnei e seguiu Bfalo Sentado de volta aldeia. Flor do Campo j tinha desmontado a tenda e s esperava pelo filho adotivo antes de seguir em direo s Grandes Montanhas de Chifre. Quando guia que Voa Alto passou por ela e tomou seu lugar habitual na frente da longa procisso, ela gritou, encorajando-o: "Foi uma grande batalha, meu filho. Nesta noite teremos uma dana de vitria". Winona caminhava ao seu lado e, quando guia que Voa Alto olhou para o lado delas, sua face brilhou com um sorriso esperanoso. Mas guia que Voa Alto no se juntou dana de vitria naquela noite. Enquanto seus amigos se regozijavam, ele se retirou para a tenda que uma vez dividiu com Caminhando nas Chamas, sua me, viva; Velha, sua av; e Flor do Campo, a melhor amiga deles. Sua me havia sido seqestrada pelo Lobo Uivante muitas luas atrs. Lobo Uivante havia morrido na mesma nevasca que eliminou qualquer esperana de encontrar Caminhando nas Chamas. Velha foi para a outra vida no muito tempo depois disso. Agora havia somente guia que Voa Alto e Flor do Campo. Flor do Campo havia se juntado ao Crculo de mulheres, danando ao redor do fogo. Enquanto as sombras dos danarinos se projetavam nas peles das tendas da aldeia, guia que Voa Alto ficou sentado sozinho, olhando fixamente os rostos do medalho.

Captulo 2

" meu Deus, sinto abatida dentro em mim a minha alma." Salmo 42:6

O quarto da mame estava escuro. Seu acolchoaado preferido ainda cobria a cama, e sobre uma pequena mesa de madeira de pinheiro ao lado da cama ainda estava sua Bblia. A cmoda quase desbotada estava do mesmo jeito, exceto pela foto de casamento de MacKenzie Baird e sua nova noiva LisBeth. Sob a luz fosca, LisBeth moveu-se atravs do quarto e pegou a foto. Lgrimas jorraram de seus olhos enquanto ela embalava a foto em uma mo, acompanhando os desenhos de rosas que contornavam a moldura enfeitada. LisBeth andou at a janela e abriu as cortinas pesadas. A luz da tarde inundou o quarto. Ouviram-se passos no corredor. Joseph parou na porta, com um saco de viagem gasto nas mos. LisBeth virou-se rapidamente e sorriu entre as lgrimas. Olhando para a foto em suas mos, no encontrou palavras para dizer. Joseph colocou o saco de viagem no cho, do lado de dentro da porta, e retirou-se para o corredor, voltando poucos minutos depois com o resto da bagagem de Lisbeth. LisBeth olhava fixamente para fora da janela do quarto de mame e falou, meio cochichando: "Obrigada, Joseph. Voc tem sido um grande amigo". Joseph deu um passo para a porta. "Voc precisa de mais alguma coisa agora, LisBeth?" Ela negou, balanando a cabea. O silncio enchia o quarto, pressionando os dois amigos e criando uma brecha estranha entre eles. LisBeth tentou fech-la. "Eu quase no sei o que dizer. Joseph ... " Sua voz sumiu, e ela suspirou profundamente antes de continuar: "No consegui pensar em nada mais alm de ir embora para o Hathaway House Hotel. Mame estaria trabalhando, e ela me traria aqui para seu quarto, e..." LisBeth mal controlava seus soluos. A voz de Joseph, normalmente ressoante, estava delicada e baixa, enquanto tentava suavizar a dor de sua amiga. "Est tudo bem, LisBeth. Est tudo bem. Voc no precisa dizer ou fazer nada agora. S desfazer as malas e descansar. Eu ainda estarei perto de voc. Ali na cocheira. E Augusta - ela no sua me, LisBeth, mas ama voc como se voc fosse sua prpria filha. H muito tempo para pensar em tudo isso. O Senhor ajudar voc." LisBeth deu uma olhada na Bblia de sua me. Ela respondeu miseravelmente: " Joseph, quero acreditar em voc. Realmente, eu quero. Mas parece haver um espao to grande entre Deus e mim. No sei como passar por isso. Quando era pequena e tinha problemas, mame sempre pegava aquele livro, sempre sabia o que ler, precisamente o que dizer. Quando me disseram que Mac estava morto, tudo em que eu podia pensar era: Irei para casa agora, e mame saber o que dizer, ela saber o que fazer. Ento sa daquele trem, e ela no estava l. Voc me trouxe para casa, e tia Augusta me disse que mame morreu na semana passada... " LisBeth parou e mordeu os lbios. Ela olhou para Joseph. " muito difcil, Joseph", ela sussurrou, " realmente difcil". Enquanto falava, suas mos apertavam as pontas do porta-retrato. Apertavam cada vez mais, at que todo o seu corpo estivesse tremendo de esforo para controlar as emoes. Bem no momento em que Joseph se preparava para correr em sua direo, Augusta entrou no quarto. Augusta Hathaway descrevia a si prpria como "uma mulher cheia de espinhos e pontas". Mas a mulher que rapidamente atravessou o quarto para confortar a filha de Jesse King no demonstrou nada daquilo. Augusta tomou o porta-retrato das mos trmulas de LisBeth e o ps sobre a cmoda. Colocando LisBeth na beira da cama, Augusta disse gentilmente: "Agora, querida, fique sentadinha a enquanto pego um copo de gua para voc. Ento a ajudarei a desmanchar o penteado para poder descansar". Cheia de gratido, LisBeth deixou-se ser cuidada como por uma me. Obedientemente, bebeu a gua e sentou-se, enquanto Augusta desprendia e escovava seu farto cabelo preto. Ela assistiu, como que adormecida, a Augusta desfazer suas malas e arrumar o contedo nas gavetas vazias da cmoda. Onde esto as coisas de mame?, LisBeth pensou. Mas estava muito cansada para perguntar. Augusta colocou a camisola de Lisbeth sobre a cama e afagou a mo dela enquanto disse: "Agora, querida, sei que voc uma mulher crescida, No ficarei mandando, em voc como se fosse uma criana. Mas o que voc precisa neste neste momento descansar. Teve um terrvel choque, eu sei. Agora vai descansar e, quando estiver pronta, Joseph e eu estaremos aqui para lhe contar tudo o que aconteceu". Enquanto falava, Augusta desamarrou os sapatos de LisBeth, colocou-os lado a lado perto da cadeira de balano, e dirigiu-se para a porta. Joseph j tinha desaparecido h tempo. "Agora descanse um pouco e, quando acordar, teremos uma longa, longa conversa." Os olhos azuis de Augusta brilharam com amor quando deu a LisBeth um ltimo sorriso encorajador. Antes de fechar a porta, Augusta acrescentou: "LisBeth, querida, se voc ao menos pudesse ter visto o rosto de sua me quando ns a encontramos... No sei o que foi que a levou ao cu, mas certamente foi algo que a fez feliz. Eu nunca vi tal aparncia de paz e amor no rosto de uma mulher". Os passos firmes de Augusta soaram pelo corredor abaixo em direo cozinha. LisBeth ficou sentada na beira da cama por um longo tempo, passando os dedos em seus cabelos pretos, tentando entender os acontecimentos. Eu fiz toda esta viagem... Eu s sabia que Mame poderia me ajudar a descobrir o que fazer. Levantando seus olhos para sua foto de casamento, LisBeth cedeu dor. Enterrou o rosto no travesseiro e chorou amargamente. "O Senhor o meu pastor; nada me faltar." As palavras ecoavam em sua mente, e era a voz de sua mame dizendo. Mame havia lido aquelas palavras vrias vezes. Sempre que elas enfrentavam um problema, mame lia e recitava aquelas palavras. Mas agora elas traziam pouco conforto a LisBeth. Mas Mame ... Estou sentindo falta de tantas coisas, ela pensou tristemente. Quero meu marido de volta ... Quero a vida que estvamos planejando ... e quero voc! Lgrimas de raiva molhavam o travesseiro enquanto LisBeth extravasava toda a emoo que tinha guardado durante a longa viagem de trem do oeste. Quando as lgrimas terminaram, algo tomou o lugar delas. Ela no percebeu, mas, rejeitando as palavras que sempre conforrtaram sua me, LisBeth abriu caminho para uma pequenina raiz de amargura em sua vida to jovem.

Captulo 3

Assim como tu no sabes qual o caminho do vento ... assim tambm no sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas. Eclesiastes 11:5

LisBeth acordou fatigada de sua tarde de descanso. Arrastando-se para fora da cama, sentou-se na cadeira de balano ao lado da janela e fixou o olhar atravs do vidro, pensando no vazio da vasta plancie para onde ela e sua me tinham vindo poucos anos antes. Naqueles dias Lincoln, Nebraska, no tinha muito alm de umas poucas cabanas e pirogas, entre eles uma pequena hospedaria dirigida por Augusta Hathaway. Augusta recebera Jesse King e sua filha, LisBeth, passara a am-Ias como sua prpria famlia, e as inclura em seus planos de prosperidade para a hospedaria. Agora, a Centennial Opera House estava quase pronta. Alm da Centennial, algumas casas novas salpicavam a paisagem. Uma cerca de estacas brancas saltava na campina, protegendo uma residncia de dois andares da vida selvagem. Eu me lembro quando Mame no me deixava andar at a escola da senhorita Griswall sozinha, com medo de que um coiote cruzasse meu caminho. Ela sorriu rapidamente com a memria, mas a dor recente a trouxe de volta realidade e ela se levantou abruptamente, fechando a janela com as cortinas, para barrar a viso da cidade crescente. \ t '. Lisbeth terminou de desfazer uma grande valise que Augusta no havia tocado. Sons familiares vinham atravs do curto corredor. O jantar estava sendo preparado para os hspedes do hotel. Respirando fundo, LisBeth abriu a porta e caminhou em direo cozinha. Ela hesitou na porta, observando Sarah Biddle, de 15 anos, e eu irmo, Tom, de 9, movendo-se. Eles trabalhavam como uma equipe. Tom mancava ao lado de Sarah, quase sempre sabendo o que ela queria sem que fosse necessria sequer uma palavra. Sarah e Tom olharam por cima do forno aberto e rapidamente colocaram de lado as assadeiras com biscoitos quentinhos. Sarah tomou a iniciativa. Limpando as mos no avental de musselina, atravessou rapidamente a cozinha e estendeu a mo a LisBeth. "Sinto demais pelo seu marido, senhora Baird. E por sua me tambm." Tom acrescentou. "Eu tambm sinto muito, senhora Baird." LisBeth j tivera compaixo demais naquele dia. Controlando a vontade de chorar, pegou na mo oferecida e apertou-a momentaneamente antes de dizer: "Sim. Obrigada". Houve um silncio embaraoso at Augusta entrar. Pegando LisBeth pela mo, levou-a para a mesa, onde a edio do Nebraska State Journal de 12 de julho estava aberta. "Achei que fosse gostar de ver isso, LisBeth", Augusta disse. LisBeth leu: Passou para o mundo espiritual, no dia 10 de julho, domingo, no Hathaway House Hotel em Lincoln, a senhora Jesse King, depois de uma jornada de 54 anos nesta terra. Ela nasceu para a vida terrestre em St. Clair County, Illinois, em 1822; casou-se em 1841 com Homer King, que morreu antes dela; teve uma filha, LisBeth, a quem criou at tornar-se mulher, e um filho, Jacob, que, ainda beb passou para a outra vida, onde agora ela o encontrou. A senhora King foi uma crist autntica, batizada quando jovem, e membro fiel da igreja Congregacional at ser convocada pelo Anjo da Morte para entrar no gozo da vida futura. A senhora King cultivou uma vida cheia de bondade e beleza, oferecendo sua filha e amigos um exemplo valioso para ser imitado. Sustentada por sua confiana no amor de Deus e pela esperana de uma vida feliz por vir, ela calmamente adormeceu para acordar naquele Lar onde no h mais separaes. Na tera-feira seu corpo foi enterrado, aps um culto conduzido pelo reverendo W. E. Copeland. Enquanto Lisbeth lia, Sarah e Tom retornaram ao trabalho. Joseph entrou com outro feixe de lenha para o fogo. Trocando uma expresso inquieta com Augusta, ele se serviu de uma xcara de ch e levou um tempo excessivo para empilhar a lenha. Quando uma tora caiu da pilha e bateu no cho, LisBeth pulou. Enxugou as lgrimas, assoou o nariz e olhou para Augusta. Todo mundo na cozinha parecia estar trabalhando furiosamente. Na realidade, eles no estavam fazendo nada, mas esperavam LisBeth terminar a leitura do obiturio da me. "Quero ir Wyuka, Augusta." LisBeth respirou profundamente. "Eu me lembro todo o alvoroo quando eles escolheram aquelas colinas onduladas to longe da cidade. Achei que era tudo to bobo, preocupar-se com um cemitrio... Mas at ento eu no havia pensado em algum que eu amasse sendo enterrado l. Espero que Mac tenha um lugar como aquele - ou quase." Joseph tentou livrar LisBeth de um novo acesso de lgrimas. ": s me falar quando, LisBeth. Eu arrumarei a carruagem e levarei voc l a qualquer hora que quiser."

Augusta murmurou algo sobre haver tempo suficiente para isso mas LisBeth levantou-se e disse: "Acho que gostaria de ir agora, Joseph. Talvez", sua garganta apertou, "talvez isto possa me ajudar". Joseph j estava para fora da porta. LisBeth retirou-se para o quarto de Jesse. Enquanto colocava o chapu preto, estudou seu reflexo no espelho da cmoda. Seus olhos escuros estavam vermelhos e inchados, e linhas finas haviam ,aparecido nos cantos de cada olho. Antes de um moreno dourado e quente, sua pele agora parecia quase amarelada. Ela havia perdido peso, as mas de seu rosto estavam mais salientes, e a covinha leve de suas bochechas parecia mais pronunciada. LisBeth se lembrou de uma noite h menos de um ano quando sua me Jesse disse tristonhamente: "Voc tem as covinhas de seu pai, Cavalga o Vento, LisBeth. Ele era um lindo valente, pelo menos eu sempre achei". Ento Jesse colocou sua prpria mo clara prxima de LisBeth. "O fato este, LisBeth, voc se parece muito com seu pai. A pele a mesma dele". Ela suspirou e acrescentou suavemente: "Eu realmente gostaria que voc o tivesse conhecido, LisBeth". LisBeth havia-se aproximado para colocar a mo de sua me entre as prprias mos. "A senhora gostaria que ns ainda vivsssemos entre os lakotas, mame?" Jesse havia pensado cuidadosamente antes de responder: "No, LisBeth. O Senhor nos trouxe aqui. Pelo menos assim que eu passei a enxergar isso. Com seu pai morto, teria sido mais difcil para ns. Eu era Caminhando nas Chamas para os lakotas, mas no era realmente uma lakota. Exceto por Flor do Campo, no tive muitos amigos". Sorrindo novamente, Jesse disse: "Ns estamos no lugar ao qual pertencemos agora. Eu ainda desejo s vezes que voc conhea guia que Voa Alto. Deixarei isso nas mos de Deus. Ele sempre faz o que o melhor. Se tiver de ser, ser". A memria de Jesse desapareceu e foi substituda por um sentimento de solido to grande que causou profunda dor fsica por dentro de LisBeth. Um toque suave soou na porta. Sarah estava em p na entrada da porta, as mos apertadas firmemente, e seus olhos azuis srios piscavam rapidamente. "Senhora Baird, sinto-me to mal por tudo o que aconteceu com a senhora. A senhora no me conhece, madame, mas sua me..."Ansiosa por acabar com as memrias doloridas, LisBeth suplicou: "Por favor, Sarah, entre. Sente-se aqui, na cadeira de balano da mame".

Sarah sentou-se nervosamente na beirada da cadeira enquanto LisBeth falava: "Mame escreveu tudo sobre voc e Tom, Sarah. Ela falava e falava sobre como voc trabalhava pesado e sobre quo esperto o Tom . Ela tinha grandes planos para o Tom". "Sim, madame, o Tom sempre foi esperto", Sarah disse orgulhosamente, mas ento voltou a seu assunto. "O que quero dizer, senhora Baird, que eu sinto um bocado mal de estar no seu quarto, agora que a senhora est de volta e tudo mais. No tenho de ficar to perto dos alojamentos. Talvez a senhora Hathaway pudesse nos dar outro quarto ... " LisBeth interrompeu: "No seja boba, Sarah". Suas prximas palavras ganharam a devoo de Sarah e algo que se aproximava de amor. LisBeth chegou mais perto e tomou as duas mos de Sarah. "Mame amava voc e o Tom, Sarah. Sempre quis ter uma irm. J perdi dois irmos na minha vida. O pequeno Jacob morreu antes que eu nascesse, quando era apenas um beb, e o meu outro irmo - bem, as circunstncias simplesmente nos separaram. Eu nunca o conheci ... " LisBeth parou um pouco. "Por favor, Sarah, vamos ser amigas. E no pense sobre o quarto por mais nem um segundo. No mais meu quarto, Sarah. o quarto de vocs." Sarah apertou as mos de LisBeth, com gratido brilhando em seus olhos. Um ano de convivncia com Augusta Hathaway e Jesse King havia preparado Sarah para abrir a porta da amizade quando esta surgisse. Agora, ela rapidamente virou os punhos e foi abrindo-o medida que comeava a compartilhar um pouco de si mesma. "LisBeth, sei o que est sentindo - as pessoas que a gente ama, serem levadas... Sei que horrvel para a senhora neste momento. Mas tudo ficar melhor. A senhora vai se recuperar." Alguma coisa fez LisBeth deix-Ia falar. "Tive uma irm. O nome dela era Emma." Sarah retirou suas mos das de LisBeth e torceu a beirada do seu avental. Olhava para o cho enquanto continuava. "Mame ficou doente e o papai no chamou o mdico. Ele s disse: 'Ns no temos dinheiro para pagar um mdico'. Bem, um dia, eu estava embalando Emma, tentando acalm-Ia perto do cho. Ento papai trouxe uma senhora. Disse que ela poderia "ajudar a pequena Emma. Disse que ela conseguiria um pouco de leite e que o Tom e eu poderamos v-Ia quando quisssemos. Disse que quando mame ficasse melhor, Emma poderia voltar para casa." Sarah olhou desesperadamente para os olhos de LisBeth. "Ento deixei aquela mulher lev-la. Ela disse que poderamos t-la de volta assim que mame ficasse melhor. Mas mame no melhorou, LisBeth. Mame morreu no dia seguinte. Ento papai levou a Tom e a mim para o Lar dos Sem-amigos. Ele disse que voltaria para ns. Mas nunca voltou."

Sarah deu um suspiro profundo antes de concluir: "Mas o pior, LisBeth, foi que nossa pequena Emma tinha ido embora. Uma pessoa rica levou-a". LisBeth ouviu, respirando o mais silenciosamente possvel, na esperana de que Sarah parasse, mas sabendo que ela precisava continuar. Sarah deu um sorriso apertado e amargo. " claro que ningum jamais quis ao Tom ou a mim. Eu ficava pensando que tinha deixado a pequena Emma ir, e eles a levaram. Nunca deixarei o Tom ir embora. Muitas pessoas quiseram me empregar. Mas no queriam ficar com o Tom. Ento ns ficamos juntos no Lar dos Sem amigos. Da nos colocaram naquele trem. Ningum nos queria ento, em nenhuma cidade em que parvamos. Eles olhavam para a perna manca de Tom e apenas davam as costas. Ns voltvamos para o trem e amos para a prxima estao. Tom e eu finalmente fugimos. Imaginei que poderamos nos sair melhor sozinhos. Ningum nos quis at sua me nos encontrar e ficar conosco." Sarah parou de repente. Levantou-se embaraada. "Meu Deus ... eu tagarelei e tagarelei. Como se voc no tivesse problemas suficientes." Sarah estava atrapalhada. "O que eu queria dizer que sei o quanto di. Mas melhora. Melhora sim. A senhora vai ficar bem. A senhora tem o Joseph. A senhora tem a tia Augusta. Tem o amor de sua me dentro da senhora - e o amor do senhor Baird tambm. E, se quiser, tem a mim como amiga. Sarah abaixou a voz delicadamente quando pronunciou a palavra amiga. Ela ficou surpresa em perceber que compartilhar seu passado com LisBeth tinha sido to fcil. Sentiu-se estranhamente revigorada, como se falar sobre sua dor tivesse limpado o ltimo resto de amargura que se havia criado. Impulsivamente, LisBeth aproximou-se e deu um passo atravs da porta de amizade que Sarah abrira to voluntariamente. Enquanto abraava Sarah, os olhos de LisBeth se encheram de lgrimas. A voz de Augusta veio do corredor. "LisBeth! Joseph j aprontou a carruagem ... "

*******

Joseph tinha esperado pacientemente com sua mais fina parelha de cavalos e carruagem por alguns minutos quando LisBeth finalmente saiu do hotel e subiu depois dele. Assim que ele impeliu os cavalos para um trote ligeiro, o vento apareceu. Era um vento quente e seco e, antes de terem andado um quilmetro, LisBeth sentiu o suor escorrer em suas costas e desejou ter prestado ateno sugesto de Augusta para fazer a viagem na prxima manh cedinho, antes que o sol da tarde iniciasse sua agresso.

Protegendo os olhos com uma das mos, LisBeth apertava o lado do assento da carruagem e olhava fixamente para o nordeste, em direo s barreiras de Salt Creek. Umas poucas moitas de olmos e choupos floresciam ao longo dos canteiros de Creek, mas no havia nenhuma sombra para dar descanso aos dois viajantes que saam da Rua O e se dirigiam para o "lugar de descanso" escolhido pela legislatura. "Por que ser que escolheram um lugar to longe?" LisBeth se perguntava em voz alta. "H um ar ruim em volta do cemitrio, LisBeth. Pelo menos os povos brancos pensam que h", Joseph disse. "Eles queriam o cemitrio longe da cidade." "Bem, eles certamente concluram isso", LisBeth disse bruscamente. "Voc quer voltar? Podemos fazer isso de manh quando est mais fresco." LisBeth balanou a cabea. "No, Joseph. Preciso fazer isso agora. Tenho temido isso como algo horrvel. S preciso enfrent-lo" LisBeth interrompeu a si mesma. "Pare, Joseph. S um minutinho - est vendo aquelas flores? Mame as amava. Espere um minutinho." Ela j estava pulando da carruagem e apressando-se at a moita de arbustos coberta de brilhantes flores laranjadas. LisBeth espantou algumas borboletas e juntou um enorme buqu antes de voltar ao lado de Joseph. "Eu lembro que sua me gostava delas ... " Lembra-se de quando aqueles homens vieram de Omaha, e Augusta estava preocupada em impression-los em sua passagem por Lincoln - e mame terminou cozinhando uma refeio toda, com ingredientes silvestres?" Joseph sorriu com a lembrana. "E ento os senhores de Omaha ficaram surpresos. Sua me se divertiu tambm, provocando-os ao dizer que estavam comendo cozido de carne de cachorro." LisBeth deu uma risadinha rpida antes de lastimar: "Ns fizemos sopa da raiz dessa planta e... ". A garganta dela apertou. Ela parou no meio da frase. Tinham chegado entrada do cemitrio. Joseph suavizou o momento, dizendo: "Eles vo fazer umas ruazinhas tortuosas aqui, como naqueles parques de cidades grandes. H muitos planos para plantarem rvores e flores tambm. Vo fazer daqui um lugar agradvel onde enterrar pessoas, LisBeth. um bom lugar para descansar". LisBeth olhou ao redor e perguntou: "Onde?".

Joseph no precisou responder. Eles haviam virado esquerda e caminharam ao redor da base de uma colina baixa. Poucas e pequenas pedras, que cobriam as sepulturas, brilhavam com o sol da tarde, e havia um tmulo novo. LisBeth teve de proteger os olhos do branco brilhante para encontrar o nome. Estava gravado abaixo de um desenho simples de copa de palma:

Jesse King Nascida em 26 de janeiro de 1822 Morta em 10 de julho de 1876 54 anos, 5 meses e 14 dias de idade Voltou para a casa

Joseph ajudou LisBeth a descer e ento guiou a parelha para um pequeno riacho que corria ao longo de um dos cantos do terreno do cemitrio. LisBeth ficou em p, olhando fixamente para a lpide por um longo tempo antes de assentar-se para colocar o buqu em seu lugar. "Voc s tinha 54 anos, mame", LisBeth sussurrou. "Pensei que fosse ter voc para sempre. Pensei que voc sempre estaria aqui." A jovem voz tremeu, e LisBeth chorou livremente antes de prosseguir. "Mac tambm se foi, mame. Meu querido, meu lindo Mac se foi. Como voc conseguiu isso, mame? Como voc suportou quando o papai morreu?", LisBeth fungou alto e assoou o nariz. Ento sentou-se na campina e passou os dedos pela grama grosseira e seca. Olhou ao seu redor para as colinas ridas. "Eu me pergunto todo dia como deve ter sido para voc, mame. Voc amava um homem lakota, e ento ele morreu. Voc cuidou de seu filho at ele crescer, e ento foi forada a deix-lo para trs. Voc sentiu tanta dor. Mas quando lembro, lembro de voc sorrindo. Como voc conseguiu isso, mame?" "Vou plantar uma rvore aqui para voc, mame. Sabe qual? Um pinheiro. Lembro que voc me contou que o papai uma vez derrubou a mais alta tora de pinheiro que voc j viu, s para que voc pudesse ter a tenda mais alta da aldeia. Bem, agora voc poder descansar sombra de um pinheiro novamente, mame." Em apenas poucos momentos ao sol, o buqu j tinha comeado a murchar. "Sinto sua falta, mame. Sem voc e Mac, no sei onde me encaixo neste mundo. Quando era a filha de Jesse King e mulher de MacKenzie Baird, no importava muito que eu fosse metade lakota e metade branca. Mas agora estou totalmente sozinha. No tenho certeza de como ou quem devo ser." LisBeth levantou-se com fraqueza e limpou a saia preta. O vento puxava suas roupas. LisBeth sussurrou ao endireitar seu chapu: "H coisas que no entendo, mame. Queria que voc ainda estivesse aqui. Voc saberia o que eu deveria fazer com... tudo isso. Olhando fixamente para o novo tmulo, LisBeth esperou por um longo momento antes de se virar abruptamente e sair correndo. No caminho de volta a Lincoln, LisBeth e Joseph fizeram vrias tentativas para conversar, todas frustradas. Finalmente, eles foram ouvindo o assobio quente e seco do vento atravs da campina aberta. Quando chegaram porta da cozinha, LisBeth desceu da carruagem antes que Joseph pudesse dar a volta para ajud-Ia. Seus olhos agradeceram, mas ela no conseguiu dizer nada. Ela entrou, cruzou a cozinha sem dizer nada a Sarah ou Augusta e retirou-se para o quarto de sua me, onde se deitou olhando fixamente para o teto sem mais lgrimas para chorar e uma sede insacivel de conforto. Quando finalmente adormeceu, guerreiros lakotas e o exrcito dos Estados Unidos encheram a sala escura. Eles se engajaram em um combate mortal at que sobraram somente um soldado e um bravo. Quando os dois ficaram face a face, LisBeth percebeu que o guerreiro lakota se parecia com ela. LisBeth acordou do sonho e se sentou. Balanando-se, saiu da cama e foi para o lavatrio mergulhar o rosto na gua. Quando voltou para a cama, virou-se de costas para aquilo que lhe poderia dar maior conforto que os braos amorosos de Mac ou de sua me. Na pequena mesa ao lado da cama, num lugar de fcil alcance, estava a Bblia de Jesse, e nela todas as palavras que Jesse teria compartilhado se pudesse encontrar-se com sua jovem filha sofredora na estao de trem, Mas a Bblia permaneceu fechada, e o jovem corao sofredor continuou sem conforto.

Captulo 4

"No h parte s em minha carne... no h sade em meus ossos, por causa do meu pecado. Pois j se elevam acima de minha cabea as minhas iniquidades; como fardos pesados excedem as minhas foras. Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo." Salmo 38:3-4,6

No fim, foram as crianas que fizeram isso. No foi o caminhar quilmetros num calor de 50 graus , que o deixou assim. No foi o mourejar, metro aps metro, atolado at os joelhos, que o deixou assim. Mesmo quando sua montaria preferida morreu e foi abatida e servida como refeio, ele no desistiu. Outros homens se sentaram no esterco e choraram como bebs. Mas no Jim. O cabo James Callaway no se dobrava. Ele nunca desistia. Ele nasceu para a vida de soldado, e essa era a vida que ele amava. Faria tudo o que lhe pedissem, incluindo aprender o idioma do inimigo. At o momento em que viu as crianas.Ele fora escolhido para negociar a rendio dos guerreiros indgenas. Segurando firmemente sua pistola, ele escorregou na ravina e ficou pasmado quando uma mulher trmula e molhada o agarrou, gritando histericamente, implorando pela prpria vida. Com a mo livre, Jim agarrou-a e empurrou-a para o lado. Como ele no atirou, outras mulheres vieram impacientemente, segurando a mo de Jim, implorando proteo. Uma trazia, agarrada ao peito, uma criana sem vida, e gritava: "Ns no somos guerreiros. No temos armas. Por que esto nos matando?". Ento vieram as crianas, Elas encheram a ravina, assentaram-se na poeira e esperaram. Algumas tinham ferimentos horrveis. Elas olhavam fixamente para os homens brancos, Para Jim, parecia que todas o encaravam. Os seus olhos traziam perguntas a que Jim no podia responder. O tempo todo elas sangravam, e parecia que ningum se preocupava com aquilo, ningum se mexia para ajud-las. Um soldado raso pegou uma faca e agarrou um ndio. Uma criana, de uns 4 anos de idade, gritou e correu para o seu lado, puxando a mo do soldado, implorando. Foi isso que o deixou assim. Foi isso que derrubou Jim Callaway, que o transportou do limite da sanidade para um mundo rido no qual no havia respostas razoveis.

De repente, os guerreiros, que haviam dito para suas mulheres se renderem e suplicarem por misericrdia, saram da ravina, atacando. Em grande quantidade, eles gritavam duas canes de morte e davam passos para a eternidade. Na confuso, Jim escorregou para dentro da ravina. Seguindo as curvas e os volteios para o sul, fugiu correndo. Rapidamente perguntava a si mesmo se estaria sendo seguido ou no, mas uma olhadela para trs o convenceu de que provavelmente seria dado como capturado pelas mos do inimigo. Jim Callaway tinha, na realidade, cado nas mos do inimigo. Com esprito quebrado, ultrajado pelas coisas que havia sido ordenado a fazer, Jim caiu nas mos do escuro inimigo, dentro de si mesmo. Cambaleou por quilmetros. A batalha parecia distante, mas a viso das crianas no. Na sua mente, as crianas rodopiavam e danavam, entorpecendo seus pensamentos at que ele apertasse a cabea com as mos e gritasse para elas pararem. Ento, soluando, ele implorou alto: "Eu no sabia... pensei que estava lutando com homens grandes. No sabia que eram mulheres - mes - a me de vocs. Eu no sabia". Jim Callaway tinha nascido para a vida militar; havia crescido no Forte Kearny, Nebraska, vendo seu pai ser promovido, crescendo orgulhoso a cada dia que passava, ansioso por servir a seu pas. Quando Jim era apenas uma criana, dois prisioneiros lakotas foram mandados para o forte. Ao invs de serem trancados, eles ficaram livres no forte. s vezes eles at mesmo saam em expedies de explorao com os soldados. Eventualmente lhes era dado a guarda do forte e Jim ainda podia lembrar-se de lutar com eles. Jim tinha descoberto que havia lakota bom e lakota mau, assim como havia homem bom e mau entre os soldados. Ele tinha sido recrutado to cedo fora possvel e comeara uma carreira que lhe dera intensa satisfao. O mundo de botinas polidas e desfiles, uma montaria fina, e defender seu pas era tudo o que ele queria. Tinha sido glorioso - por alguns anos. Mas ento, o "problema indgena" tornou-se uma realidade diria. O pai de Jim se aposentou e se fixou prximo a Kearny, Nebraska. Jim foi transferido para o norte, para Dakota. Os colonizadores comearam a abusar das terras que sempre foram dos ndios. Quando o ouro foi descoberto nas Colinas Pretas, Jim pressentiu o comeo do fim dos lakotas. Com a chegada dos colonizadores em Dakota, o papel do militarismo tomou uma direo que Jim no gostou. No forte Kearny, ele se tornou amigo dos emigrantes que estavam de passagem, ajudando-os a encontrar caminhos seguros, provendo abrigo onde os cansados viajantes pudessem erguer os seus olhos para ver a bandeira tremulando e sentir-se confortados. Mas colonizar o pas ao norte - isso significava conflito inevitvel!

Jim permaneceu leal ao juramento que fez quando tinha apenas 18 anos. Por seis anos ele andou pela corda bamba da conscincia, vendo fazendeiros e lakotas igualmente srios em combates; e Jim sabia que isso acabaria mal para os lakotas. Ele continuou a obedecer s ordens, mesmo quando odiava o que lhe mandavam fazer. Mas ele no havia contado com matar mulheres e crianas. Sentando-se na ravina, viajando mais e mais nas imagens do seu passado, Jim tentou organizar as coisas, mas percebeu que no podia. Piscou os olhos com as ltimas lgrimas e levantou-se abruptamente. Puxou os cinco botes de cobre, no formato de guias, presos frente da sua camisa escura de l, juntou-os e jogou-os o mais longe que pde. Arrancou as insgnias de seu chapu e a tirou-as na poeira, afundando o chapu at acima dos olhos. Ele queria livrar-se de todo vestgio de militarismo, mas tinha de preservar o revlver Colt. Poderia precisar dele para caar algum alimento. Tomando o cinturo ao redor da cintura, contou vinte e quatro cartuchos no-gastos. Se sua sorte continuasse, poderia comer uma vez por dia por aproximadamente um ms at... at o qu? Jim sorriu amargamente. Ningum viria atrs dele. Todos estariam ocupados demais cuidando dos seus novos prisioneiros e dos corpos mortos, para se preocuparem com um soldado de infantaria perdido. Se Charlie Blake ainda estivesse vivo, Jim poderia ter algo com que se preocupar. Charlie tinha sido um amigo, mas morrera dois dias antes em uma discusso sem sentido sobre alimento. Jim havia-se retrado da companhia dos outros, h algumas semanas. Preso num combate consigo mesmo, com relao a tal misso e sua parte na guerra contra os ndios, ele se tornou cada vez mais rabugento e introvertido. Alguns homens que haviam tentado obter informaes dele finalmente desistiram e permitiram que ele se voltasse cada vez mais para dentro de si mesmo. Provavelmente seria considerado perdido, mas ningum se preocuparia muito com o que poderia ter acontecido a ele. Assim, para seus companheiros, seria melhor achar que ele havia morrido cumprindo seu "dever". A palavra trouxe um gosto amargo sua boca. Ele cambaleou na direo sul at o anoitecer, caindo num sono exausto e atormentado na vasta campina. Dias se passaram antes de Jim perceber que os parafusos que juntavam a parte de cima e o solado de suas botas tinham quebrado e seus ps comeavam a aparecer. Ele examinou as bolhas com desinteresse, chutando finalmente o resto de suas botas de cavalaria e continuando a cambalear, agora descalo. Suas calas se rasgaram no joelho quando ele se ajoelhou para beber gua em um riacho lamacento, certo dia. Seu cabelo avermelhado desbotou com o sol, e sua barba tornou-se de um branco puro. As caadas com o revlver foram infrutferas. Finalmente, a fome o levou a roer cascas de rvores e todas as frutinhas que encontrava s para permanecer vivo. Por fim seu corpo desistiu. Ele resmungava consigo mesmo, tentando fazer com que a face das crianas desaparecessem, mas elas no iam embora. Encaravam-no, dia e noite. No importava se ele corresse. No importava o quo alto gritasse com elas, nem o quanto chorasse e implorasse para que o perdoassem. Elas ainda assim o encaravam. Finalmente, com um pequeno sorriso, Jim Callaway decidiu morrer. Deitou-se de lado, apertando os joelhos ao queixo. Esperou um longo tempo, at que os olhos escuros das crianas finalmente se dissiparam. Na sua loucura, Jim achou que elas tivessem aceitado sua morte como suficiente. Foram embora, salvo uma. Era bom que tivessem ido. Com apenas uma para observar, ele morreria. Mas a que ficou para assistir, conversou com ele, tocou seu corpo, balanou-o grosseiramente. Jim empurrou a mo. Virou o rosto para a terra. A mo o atirou para a direita. Arrancado de seu delrio, Jim viu que as crianas do sonho tinham ido embora. No lugar delas, ndios adultos e vivos apareceram. Mas eles no estavam sujos ou derrotados como os das Colinas Esguias. Esses eram guerreiros dos melhores. E sentavam-se com uma perna de cada lado de seus pneis, como senhores das plancies que acreditavam ser. Eles discutiram sobre o achado, em tom baixo, e no se indignaram ao olharem para Jim, inconscientes de ele entendia seus murmrios. Jim ouviu insensivelmente. Estava certo de que iriam mat-lo, vagarosamente. A possibilidade importunou-o, mas no excessivamente. Ele queria morrer. Merecia morrer pelos pecados que havia cometido em nome do dever. "Este homem tem uma blusa azul", guia que Voa Alto comentou, a arma e o cinto so de soldado. At que no saibamos mais, melhor no mat-lo. Seus amigos devem estar sua procura". "Deixem-nos vir!", Trovo gritou. "Ns lutaremos com eles! Com todos eles! No estamos usando os tesouros dos homens brancos mesmo agora? At voc, guia que Voa Alto - voc tem ouro ao redor do pescoo, conseguido na nossa ltima vitria. guia que Voa Alto deu uma olhada para Jim. "Esse a no possui nada. No h honra em matar dessa maneira. Digo que devemos lev-lo de volta ao acampamento. Aliment-lo. Deix-lo beber. Deix-lo descansar. Deix-lo contar o que puder. Ento, guia que Voa Alto saltou sobre seu cavalo, "poderemos mat-lo".

Os guerreiros concordaram relutantemente. Sabiam que Bfalo Sentado queria uma chance de aprender diretamente de um soldado. Haveria tempo suficiente para matar. "Ele no consegue andar", zombou um dos bravos. "Eu no estragaria meu melhor pnei de guerra arrastando um soldado quase morto." guia que Voa Alto desceu do cavalo mais uma vez. Amarrando os pulsos e tornozelos juntos, ele jogou o soldado sobre o lombo de seu pnei como a carcaa de um veado, e pulou na frente dele. "Os pneis de meu pai so fortes. No ficaro prejudicados por levarem uma carcaa e mais o amigo deles, guia que Voa Alto." Dando uma longa olhada para aquele que discordava, guia que Voa Alto apressou seu pnei para um galope macio e liderou o grupo de guerreiros s colinas distantes onde o acampamento de Bfalo Sentado estava aninhado em um desfiladeiro.

Captulo 5

D instruo ao sbio, e ele se far mais sbio ainda; ensina ao justo e ele crescer em prudncia. Provrbios 9:9

Quando guia que Voa Alto entrou no acampamento com Jim Callaway na garupa, um grande grupo de lakotas se reuniu, encarando curiosamente o homem branco com aparncia de selvagem. Quando guia que Voa Alto desamarrou o prisioneiro e jogou gua em seu rosto, Jim recobrou a conscincia, cuspindo e tossindo. Olhou ao redor e s viu rostos de lakotas. Ento, sem querer, fez a coisa certa. Levantando-se ereto, encarou guia que Voa Alto firmemente e esperou para ser morto. Se tivesse se agachado na poeira, Jim Callaway sem dvida teria apanhado at a morte. A aldeia inteira teria colocado para fora toda sua raiva pelos brancos. Mas, quando ele ficou em p e bravamente encarou guia que Voa Alto com um olhar frio, eles hesitaram. Isso salvou a vida de Jim, pois deu tempo suficiente para guia Que Voa Alto arrastar o prisioneiro poucos metros at a tenda do Conselho. Uma vez que Bfalo Sentado tinha chegado e expressado seu prazer na perspectiva de entrevistar um soldado cativo, ningum ousou matar o prisioneiro. Jim tentou continuar em p diante de Bfalo Sentado, mas seu corpo fraco no agentou. Caiu como uma rvore cortada, no meio do conselho, e no pde ser reanimado. guia que Voa Alto arrastou o prisioneiro para sua prpria tenda. Flor do Campo fez o que pde para reanimar fisicamente o homem branco, mas foi incapaz de curar sua mente. A doena que estava l tornou-se evidente quando escureceu, e ele acordou a aldeia inteira gritando palavras sem significado para as imagens desconhecidas em seus sonhos. Com desgosto, guia que Voa Alto deu uns tapas no rosto do homem e gritou: "Silncio! No vamos machucar voc; s queremos saber para onde os soldados vo agora!". Mesmo guia que Voa Alto maldizendo a si prprio pela inutilidade de falar a lngua lakota com um homem branco, pde ouvir uma resposta. Veio como um gemido: "Quero que voc me mate. Mate-me e me deixe passar para onde deve haver alguma paz". guia que Voa Alto segurou o cabelo vermelho com uma das mos e forou o prisioneiro a se sentar. Empurrando a cabea para trs, guia que Voa Alto olhou para dentro dos olhos verde-acinzentados. Os dois homens se encararam por um momento antes que guia que Voa Alto sibilasse: "Voc fala lakota, ento sabe o que ns queremos. Queremos saber onde os soldados esto. Amanh voc nos dir. Ento Bfalo Sentado disse que vamos deix-lo partir". Jim deu um sorriso feio. "No sei nada sobre os soldados. No tenho para onde ir." guia que Voa Alto sentou-se novamente no cho para questionar o prisioneiro. Jim balanou a cabea para acordar completamente e se sentou, encarando guia que Voa Alto. "Por que voc deixou os soldados?" Jim balanou sua cabea e no respondeu. guia que Voa Alto empurrou o ombro de Jim e perguntou novamente: "Por que voc os deixou?". Na luz oscilante da fogueira, um brilho de ouro no pescoo do ndio chamou a ateno de Jim. Viu que era uma cruz e se admirou. A testa larga do bravo e o maxilar bem definido, um queixo levemente rachado e uma boca inclinada nas beiradas, tudo compunha um rosto bonito. Uma longa cicatriz formava uma meia-lua que comeava abaixo de um olho e se curvava pela bochecha e para baixo do lado do rosto. Quantos anos voc tem, Jim tentou calcular, e quanto pavor homens como eu impuseram sua famlia? Jim fez caretas com o pensamento. O bravo estava ficando impaciente. "Por que voc os deixou'? Mas Jim no respondeu logo. Considerou a pergunta. Ento, em algum lugar do acampamento um cachorro latiu. Percebeu que no importava o que dissesse. Eles iriam sem dvida mat-lo assim tivessem o que queriam. Focalizou a cruz de ouro e, numa chuva de palavras, apressou-se a dar a confisso. Eu era um bom guerreiro. Quero dizer, para proteger meu povo. Ento meu povo comeou a me pedir para fazer coisas que eu no queria fazer. Vi-os tomando a terra que prometeram deixar para os lakotas. Ainda assim no disse nada. Continuei a brigar. Eu era um bom guerreiro. Mas ... " Jim estremeceu de repente, curvou a cabea e murmurou: "Matei mulheres e crianas... " Colocando as mos na cabea, Jim gemeu: "Matei mulheres e crianas. Eu no sabia que elas estavam naquela ravina quando me mandaram atirar. Achei que estivesse lutando com guerreiros. Mas ento elas comearam a gritar. E eu vi o que havia feito". Jim parou de falar. O cachorro l fora havia parado de latir. guia que Voa Alto ficou sentado ouvindo. Com um suspiro profundo, olhou para guia que Voa Alto. A face bonita no tinha nenhum trao de emoo, mas o furor tinha abandonado seus olhos. Jim terminou a confisso. "No estou matando mais. Parei de matar. No me importo mais. No me importo. Posso contar o que quiserem saber. Mas no sei onde os soldados esto. Passei os ltimos dias fugindo. Eu estava s esperando morrer quando vocs me encontraram. Quando parecia que Jim havia terminado, guia que Voa Alto levantou-se e voltou para sua prpria pele de bfalo para meditar sobre as revelaes do prisioneiro branco. No silncio, ele ouviu o homem respirando profundamente e sabia que estava dormindo. Seus murmrios continuaram, mas j no eram mais gritos.Quando o sol nasceu, Jim percebeu que tinha sido desamarrado e estava livre para se mover pela tenda. A mulher chamada Flor do Campo serviu-lhe um mingau ralo para aliviar a fome. Enquanto comia, eles se observavam curiosamente. A mulher aparentava ser de meia-idade. Uma cicatriz defeituosa altura do cavalete do nariz desfigurava o que sem dvida tinha sido um rosto bonito. Docilidade brilhava em seus olhos e soava em sua voz quando falava. "H gua no muito longe daqui. Eu lhe mostrarei." Jim concordou e seguiu a mulher at um riacho que flua vagarosamente. Apesar da idade avanada, ela caminhava graciosa e rapidamente. Jim afundou-se na gua e tentou tirar o encardido das mos. Empurrando para cima as mangas esfarrapadas, esfregou os braos e tambm o rosto. Ele ainda estava agachado no meio do riacho raso quando guia que Voa Alto se aproximou. Juntos eles caminharam para o centro do acampamento onde Bfalo Sentado esperava para conversar. Quando Jim entrou no crculo do conselho e foi empurrado para o centro, cambaleou e caiu de rosto em terra. Sua roupa molhada ficou empastada de lama. Houve chacotas dos bravos mais novos, mas Bfalo Sentado rapidamente os ordenou que calassem. Jim olhou para cima e ficou surpreso ao perceber algo, que parecia ser docilidade, no rosto do chefe. Ele no estava pintado. Suas tranas grossas quase alcanavam a parte da frente de sua cintura. Uma nica pena de guia adornava a mecha cabeluda atrs. Jim afastou-se e sentou-se com as pernas cruzadas de frente para o chefe, esperando. Bfalo Sentado observou cuidadosamente o cativo antes de falar. Quando finalmente falou, no fez perguntas a Jim. "Nunca pensei que eu fosse contra o homem branco", ele disse. "Todo homem branco que vem minha terra para negociar bem-vindo. No gosto de comear uma briga, mas os brancos tm vindo ao He Sapa. Os soldados construram seus fortes onde os tratados dizem que no deveriam construir. Tudo o que quero saber como e onde posso encontrar carne para meu povo. Ainda assim os soldados se enfileiram para nos matar." Bfalo Sentado parou abruptamente. "Diga-me, soldado, como eles te chamam?" "Jim Callaway."

"Jim Callaway. V esta terra?" O chefe gesticulou dramaticamente para o horizonte. "Antes de seu povo chegar, eu cavalgava com meu pnei mais veloz por uma semana e ainda no alcanava o fim da terra onde meu povo podia caar e viver. Agora homens brancos querem que eu v agncia para falar com o Grande Pai quando tiver fome." Rumores de raiva soaram da garganta dos homens ao redor. Bfalo Sentado continuou: "Quando os brancos vieram pela primeira vez ao nosso meio, queriam um lugar para construir suas tendas. Agora, nada suficiente. Eles querem tudo de nossas terras de caa, do nascer ao pr-do-sol. Querem matar nossos guerreiros. Querem at mesmo matar nossas mulheres e crianas. No nos deixaro em paz. Por isso pegamos nossas armas. Meus guerreiros so bravos, mas os homens brancos so muitos para ns. Eles construram uma teia de aranha ao nosso redor, e no podemos escapar. Ainda assim, no morreremos sem lutar. Ento, Jim Callaway, voc deve me contar. Onde os soldados iro atacar novamente? Quero encontrar com eles". Durante todo o discurso, Jim observou o rosto de Bfalo Sentado animar-se com a convico do que estava dizendo. Quando ele fez a pergunta inevitvel, Jim relutantemente balanou a cabea. No posso dizer a vocs onde os soldados esto. Seus homens me encontraram assim", Jim mostrava suas roupas rasgadas esperando para morrer. O sol nasceu e pousou muitas vezes desde que vi algum soldado." Bem, ns teremos de mat-lo se voc no contar o que precisamos saber." As palavras vieram de trs de Jim, e ele reconheceu a voz de guia que Voa Alto. Jim respondeu sucintamente, sem olhar ao redor: "Disse a vocs, noite passada que rompi com os soldados. No tenho mais nada a ver com eles. Matem-me. No sei de nada que possa ajud-los" . Bfalo Sentado e guia que Voa Alto conversaram entre si , como se Jim no estivesse presente. guia que Voa Alto relatou grosseiramente a conversa noturna deles. Os outros bravos trocaram impresses. Os jovens estavam ansiosos para matar o intruso branco.Depois de considerar a informao de guia que Voa Alto, Bfalo Sentado simplesmente concluiu o conselho. "Ele no tem nada pelo que compense ser morto - nem cavalo, nem rifle. Ele deixar nossa terra. Ns o deixaremos ir, mas primeiro...", Bfalo Sentado sugeriu, mostrando sua lendria generosidade, " ... ns o alimentaremos e daremos um cavalo a ele." guia que Voa Alto tinha arrastado Jim Callaway para o acampamento como um prisioneiro, mas a deciso de Bfalo Sentado o transformou de prisioneiro em um estranho com necessidade de ajuda. guia que Voa Alto agarrou a chance de mostrar sua hospitalidade. "Flor do Campo fez um cozido. Ns iremos aliment-lo. Quando estiver pronto para viajar, darei a ele um de meus pneis." Bfalo Sentado concordou com satisfao. "Muito bem. Voc ser um grande lder um dia, guia que Voa Alto." Nenhum dos bravos mais novos murmurou contra Bfalo Sentado. Eles sabiam que sua hospitalidade significava fora, e no fraqueza. Muitos deles se arrependeram por no se terem adiantado a guia que Voa Alto e exibido bondade pessoal. guia que Voa Alto surpreendeu-se ao sentir alvio por no ter matado Jim Callaway. Matar animais feridos nunca lhe deram prazer. Quando guia que Voa Alto trouxe Jim Callaway de volta tenda, como convidado e no prisioneiro, Flor do Campo recebeu o estranho calorosamente e comeou a conversar alegremente. "Eu sabia que eles no iriam mat-lo", assegurou a Jim. "Ele esconde isso muito bem, mas dentro de seu corao, guia que Voa Alto um homem amvel." Ser deixado vivo pelo prprio povo que ele mesmo perseguira trouxe a Jim certa medida de paz. Ouviu com interesse enquanto Flor do Campo se gabava do comportamento de guia que Voa Alto. "Seu filho salvou minha vida", disse Jim finalmente. No expressava grande gratido. S havia dito isso, esperando que a mulher continuasse a falar. "Filho?", Flor do Campo assustou-se. "No, ele no meu filho. Sua primeira me morreu. Ento houve outra me que veio do seu povo." A voz de Flor do Campo suavizou-se enquanto continuou: "Ela era minha amiga. Voc a conheceu? Voc conheceu alguma mulher chamada Jess-e-King?". O nome trouxe algo familiar do passado, mas Jim balanou a cabea no querendo lembrar. Era uma boa mulher", continuou Flor do Campo, mal tomando conhecimento da presena de Jim. "Ela veio para nosso meio e adotou guia que Voa Alto em seu corao quando ele ainda era um beb. Ficou em nosso meio por muitos anos. Depois foi levada de ns, e guia que Voa Alto se tornou como meu filho. Mas ele ainda carrega Caminhando nas Chamas com ele, prximo ao corao.Em p, do lado de fora da tenda, guia que Voa Alto ouvia propositadamente, zangando-se com a fcil aceitao e com o compartilhar to natural de seu passado com um estranho. Entrou subitamente e gritou com Flor do Campo. "Ns no iremos mat-lo, mas no seremos amigos dele. Alimente-o e o apronte para a viagem. s."

A dor brilhou no rosto dcil e cicatrizado. A voz de guia que Voa Alto suavizou-se com arrependimento. "Eles no so todos como Caminhando nas Chamas, Unci." Era a vez de Flor do Campo ficar brava. "E voc acha que eu no sei disso? Eu estava com voc quando fomos ao acampamento dos soldados. Ajudei a pegar os corpos! Ajudei a encontrar cabanas para deixar os rfos." medida que falava, ficava mais animada que finalmente postou-se em p diante de guia que Voa Alto, balanando o dedo em sua face. "Eu sei que eles no so como Caminhando nas Chamas! Mas este aqui", Flor do apontou o dedo em direo a Jim, "este aqui ficou louco de dor pelo que fez. Voc disse que o encontrou esperando a morte. Eu digo que ele j sofreu o suficiente. Digo que aqui est um homem que merece viver. E se ele for viver na minha tenda, conversarei com ele como eu quiser!". Flor do Campo virou o odre dependurado no mastro e balanou-o mostrando para guia que Voa Alto. "Vou buscar gua", anunciou furiosamente, "e, quando voltar, se Jim Callaway quiser saber algo sobre os lakotas, eu contarei a ele!". Flor do Campo saiu da tenda feito uma tempestade. Depois disso, guia que Voa Alto permaneceu em p por um momento, ento agachou-se perto do fogo e, sem olhar para Jim, disse com naturalidade: "Vocs so um povo difcil de entender, Jim Callaway". "Vocs so um povo difcil de entender, guia que Voa Alto, veio o eco. Pela primeira vez, os dois se olharam como homens.

Captulo 6

Eu que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e no de mal, para vos dar o fim que desejais. Jeremias 29:11

Havia apenas dois deles, Ele havia tropeado neles, no escuro, e sentido seu caminho ao longo das beiradas geladas das pedras, chacoalhando e retirando as mos. Agora, com a luz do dia, inspecionou-os mais de perto. A grama havia crescido ao redor dos tmulos. Ao inclinar-se sobre as lpides, a ateno de Jim foi desviada para uma enorme aranha preta e amarela que havia tranado uma rede entre elas. Balanando com a brisa a aranha esperava pela refeio a ser capturada em sua teia. Jim observou por um longo momento, estudando a teia. Estendeu a mo impulsivamente para tir-la dali, mas parou-a no ar, no meio do movimento, e controlou o impulso. As pedras eram um pouco maiores que rochas vermelhas grandes e, provavelmente, rebocadas de um dos campos que cercavam a casa da fazenda. Suas inscries apenas diziam "Ma" e Pa, com as palavras entalhadas grosseiramente no centro de cada rocha. "Ma" aparentemente morreu antes de ''Pa'', pois a rvore de cedro plantada atrs da pedra era mais alta que a de ''Pa'' cerca de trinta centmetros. Jim ficou em p e caminhou at o poo. Desembaraando e emendando a corda em alguns lugares, ele a deixou comprida o suficiente para alcanar a gua l embaixo. No celeiro encontrou um balde. Desceu, encheu-o e colocou bastante gua entre as duas rvores. Gotas espirraram do balde na teia da aranha, e a criatura procurou refgio na grama alta que crescia ao redor dos tmulos. Depois de aguar as rvores,Jim comeou a trabalhar arrancando o limo que havia crescido ao redor dos tmulos. Depois de somente umas duas horas de trabalho, o terreno parecia bem cuidado. Jim ficou em p novamente e resmungou satisfeito. Voltou sua ateno casa e ao celeiro. Por que um negcio to bom foi abandonado?, pensou, admirado. A casa era modesta, mas parecia bem construda. No lado norte, uma varanda baixa protegia a porta da frente. Dando volta at um lado, a varanda tambm cobria outra entrada no fundo da casa. Essa porta era virada para o leste e para o celeiro. A porta de frente para o celeiro havia-se soltado e estava pendurada em suas dobradias. O lugar estava obviamente vazio h algum tempo. O teto parecia firme e a parede estava no lugar, mas a pintura j tinha desbotado h muito, mostrando na madeira exposta embaixo da varanda algumas manchas descoloridas.

Jim inspecionou o celeiro. O dono tinha tido grandes planos, certamente. Do lado de dentro havia oito baias e, na parede oposta a elas estavam pendurados arreios elaborados, cobertos de poeira e teias de aranha. Depois das baias havia mais duas cocheiras grandes o suficiente para abrigar vrias ovelhas e cabras. Na parede mais longe, uma escada dava acesso ao palheiro na parte de cima. Jim subiu, Em um canto do palheiro um garfo de ferro saa do feno, como se o seu dono tivesse acabado de ouvir o sino chamando para a refeio e abandonado o trabalho. Jim passou a mo spera ao longo das guarnies e vigas do celeiro, admirando o acabamento. O que quer que tenha acontecido, o homem que construiu esse celeiro planejara ficar ali por um longo tempo. Um rato deslizou pelo cho, e Jim saltou de lado quando surgiu um gato amarelo numa perseguio cerrada. Em um instante, o gato reapareceu no topo da enorme pilha de feno, com o prmio dependurado na boca. Jim virou as costas para a cena e desceu a escada. Caminhou at o lado extremo do celeiro novamente, para o lado de fora e ao redor do fundo, pisando sobre a guarnio de uma cerca cada e entrando no curral. Deliberadamente abriu todas as portas do celeiro, deixando a luz se espalhar sobre as cocheiras. Precisavam ser limpas do esterco. Jim pegou o garfo de ferro do palheiro e comeou a limpar cada cocheira. Num canto do celeiro encontrou uma caixa dependurada, apodrecendo meio escondida debaixo de um pelego de sela. Dentro havia uma coleo de ferramentas que tinham sido obviamente manejadas por mos carinhosas. Pegando o martelo, Jim arrancou uns pregos e a cerca do curral. No havia razo para fazer o trabalho, mas restaurar as coisas quebradas dessa fazenda abandonada trouxe-lhe uma paz sem igual. Jim havia capinado o terreno do cemitrio e limpado o celeiro. A noite aproximava-se rapidamente. Com ela veio a fome avassaladora. No seria a primeira noite em que Jim Callaway dormiria sem comer. Tirando um balde de gua limpa do poo, Jim bebeu, subiu a escada para o palheiro, e caiu no sono.

*****

Jim desceu de manhzinha e sentou-se, percebendo de repente que esta noite, pela primeira vez desde aquela nas Colinas Esguias, os olhos das crianas indgenas no tinham vindo assustar seu sono. Ele tinha dormido inteira e profundamente, e os primeiros momentos do seu acordar tinham sido curiosamente de paz. Alguma coisa neste lugar parecia dar-lhe as boas-vindas. Ele no teve pressa em se mover. Mas as pontadas de fome na barriga lembraram que ele tinha de fazer alguma coisa para comer, e logo. Do lado de fora, o som de um carroo sacudindo quintal a dentro interrompeu seu plano de pescar no riacho do fundo. Deitando de bruos, Jim deslizou para o canto do sto e observou fora do palheiro o intruso que havia descido do carroo e permanecia ao lado das sepulturas, coando a cabea com espanto. O intruso olhou ao redor, mos nos quadris, e comeou a falar para o cu. Minha nossa! Vejam s isso aqui! Mas quem que veio aqui e limpou as sepulturas?" Joseph correu os olhos pelo quintal da fazenda tentando encontrar algum sinal de vida. Somente a porta aberta do celeiro deu a ele uma dica de que havia algum ser humano ali. Jim estava quase acreditando que escaparia de ser descoberto quando um pequeno cachorro cinza correu de debaixo do assento do carroo para dentro do celeiro, e para a escada, latindo furiosamente. O homem enterrou seu chapu de volta na cabea, sacou um rifle de debaixo do assento do carroo, e seguiu o cachorro at a escada. "Seja quem for que estiver a, melhor descer agora mesmo desse sto", ressoou uma voz profunda. Jim Callaway ficou em p e limpou o feno de suas roupa, , Exclamou l de cima: "Acalme-se, senhor. Quero dizer, no me machuque. Vim para o quintal da fazenda j tarde e apenas dormi aqui no sto, s isso!". "Se voc no tem nada que esconder, ento saia do sto," Joseph silenciou o pequeno cachorro e cuidadosamente mirou o rifle nas costas largas que vinham descendo a escada. Enquanto o jovem se virava, Joseph percebeu suas roupas rasgadas, a barba sem cuidar, o cabelo comprido. Admirou-se com a brancura da barba e o vermelho do cabelo. J havia visto aquilo acontecer antes - uma vez. Joseph tinha sido chamado para ajudar a examinar os sobreviventes de um incndio. Uma jovem mulher e seus dois filhos tinham morrido por tragdia, e seu jovem marido permanecera em p, incapaz de ajudar a famlia. Sua barba tambm se tornou branca, mesmo o cabelo tendo ficado preto como carvo. Esse garoto deve ter passado por algo muito horrvel. Mesmo com os broches militares removidos, Joseph reconheceu o uniforme do exrcito. Olhou com os olhos semicerrados para ele e murmurou: "Que tal voc me contar o que tem feito aqui na propriedade dos Bairds? Se eu acreditar na sua histria, talvez abaixe esse rifle e poderemos conversar mais". Jim Callaway encontrou o olhar fixo de Joseph Freeman calmamente. Permaneceu em p e respondeu honestamente: "Estou vagando por um bom tempo, senhor. S encontrei o quintal da fazenda ontem noite. Tudo estava escuro. Achei que os habitantes estavam dormindo e no se importariam se eu dormisse no sto, Planejei me oferecer para trabalhar e pagar a hospedagem desta noite logo de manh". Jim deu uma olhada para as sepulturas, "Mas parece que no h ningum por aqui." "Por que voc tem vagado?", veio a pergunta. Jim olhou para fora e piscou muitas vezes. Com dificuldade para engolir, disse silenciosamente: "Olhe, senhor, contaria ao senhor se pudesse. O fato que no posso lhe contar... No sou um criminoso ou qualquer coisa assim ... S no posso...". "Voc um militar." Joseph afirmou j como um fato, e Jim encolheu-se e engoliu com dificuldade. Seus olhos verde-acinzentados encontraram o fixo olhar marrom-escuro, e desviaram. Mas, antes que ele desviasse o olhar, Joseph percebeu. Ele conhecia aquele olhar porque j o tinha visto dezenas de vezes antes. Todo escravo que ele j conhecera, que estava fugindo do passado, tinha aquele olhar igual ao dele. Esse garoto - e para Joseph ele era apenas um garoto - estava fugindo de um passado terrvel demais para conversar a respeito. Algo nos ombros estreitos, no queixo quadrado, a tentativa de resposta honesta, toca Joseph. O olhar dizia: "Tenho uma histria para contar, mas no me pergunte porque est enterrada bem profundamente. Tenho tentado ser um homem honesto. Estou procurando um novo comeo. S no me pergunte a respeito daquilo em meu passado e eu estarei bem. J vou embora, se voc abaixar esse rifle." Jim falou, o mais calmamente que pde, mas seus olhos clamavam por bondade. Lentamente o rifle foi sendo abaixado. "Por que voc consertou aqueles tmulos?" Os ombros largos menearam. "Simplesmente me pareceu que precisava ser feito." Por que voc limpou as cocheiras - consertou a cerca?" Com o olhar de surpresa no rosto de Jim, Joseph disse: ", conheo cada canto e cada rocha neste lugar. Tenho cuidado disso aqui por anos. Ento, por que limpar as cocheiras, consertar aquela cerca? Jim repetiu: "Realmente no sei. Simplesmente parecia que precisava ser feito". O silncio que cresceu entre os dois homens foi quebrado por um ronco forte do estmago de Jim, h tanto tempo negligenciado. Joseph Freeman de repente comeou a rir, uma profunda e marcada risada encheu todo o canto do celeiro. Bem, enquanto eu descubro que tipo de verme voc , seria melhor que viesse aqui e comesse alguns dos biscoitos da senhora Hathaway. No quero um verme morto em minhas mos!" Jim se sentou sombra do carroo de Joseph e devorou os enormes biscoitos antes de Joseph question-lo novamente: "Agora, oua aqui, jovem, voc no precisa contar a histria da sua vida se no quiser, mas tem de contar algumas coisas. Est magro como um palito e precisa de umas boas roupas. Voc est fugindo da lei?", Joseph olhou dentro dos olhos verde-acinzentados e ordenou: "E tambm no minta para mim. Se estiver fugindo da lei isso problema seu, e eu deixarei voc fugir. Mas quero saber verdade". Jim olhou fixamente a face amvel. "No, senhor, no sou um fora-da-lei." "De onde voc veio?" Jim refletiu antes de responder: "No sei senhor. De algum lugar onde estava antes". "Voc est longe o suficiente de onde estava para parar de fugir?" Jim considerou a pergunta antes de balanar a cabea vagarosamente e arriscar: "Acho que sim". Joseph ficou em p e colocou o rifle de volta, embaixo do assento do carroo. "Ento suba aqui e voltaremos para a cidade. A senhora Hathaway abastecer voc com mais do que apenas biscoitos, ns conseguiremos roupas novas... " Com a meno da palavra "cidade", Jim saltou e saiu do carroo. "No!", quase gritou. Ento, embaraado, disse com mais firmeza: "No, senhor, obrigado, mas no tenho necessidade de ir a Cidade. Eu - eu s quero ficar sozinho, senhor, gaguejou e agarrou o lado do carroo para firmar as pernas bambas. Compaixo tomou conta da voz de Joseph. Ele recorreu ao tom suave que sempre usava para aquietar um potro nervoso. "Agora, assente, filho. Ningum vai lev-lo cidade contra a sua vontade. Voc quer ficar sozinho, tudo bem. Todo homem precisa de tempo e... " Uma idia surgiu e Joseph soltou-a antes de ter realmente tempo de consider-la. "Voc estava certo sobre este lugar. As pessoas que aqui trabalhavam j se foram. O filho deles me pediu para dar uma olhada. Tenho cuidado disso aqui j por dois anos. O filho no quis o lugar. Agora ele tambm j se foi, Deus deu descanso sua alma. Sua esposa no se importa com o que acontece no lugar. Portanto as coisas ficam como esto, caindo aos pedaos. Joseph gesticulou. "E realmente uma pena. Poderia ser um lugar bom.Enquanto Joseph falava, Jim parou de tremer. Joseph falou at que o garoto estivesse visivelmente calmo e acrescentou: Gostei da maneira como limpou os tmulos. Mostra respeito. Voc tambm limpou bem o celeiro. Por que no fica aqui enquanto vou cidade, pego algumas roupas e alguma comida para voc?. Jim considerou com suspeita a oferta do estranho. "No tenho dinheiro para pagar roupas novas e comida, senhor."

Joseph apontou para as sepulturas e para o celeiro. "Parece que voc j ganhou algo pelo seu trabalho aqui." Joseph tentou pousar uma mo larga sobre o ombro do rapaz, mas Jim recuou e moveu-se para o lado, encarando Joseph e fechando os olhos contra a luz solar. Joseph esticou a mo aberta: "Pode confiar em mim, filho. Trarei a voc algumas roupas limpas e comida. Fique aqui o tempo suficiente para comer uma refeio decente. Ento, o que voc far por sua conta. D-me um aperto de mo". Jim olhou para a mo aberta. Limpando a palma da mo encardida na perna da cala, aproximou-se para apertar a mo de Joseph. Joseph sentiu o aperto de mo forte com satisfao. O estranho era jovem e assustado, mas tinha uma mo forte e um olhar fixo. Enquanto subia no carroo e falava com sua parelha, Joseph sorriu. Gritou por cima dos ombros: "A porta do lado da casa est dependurada nas dobradias. Voc encontrar um jeito de consert-la, tenho certeza!"O carroo sacudiu estrada abaixo e Jim saiu do sol quente, entrando no celeiro. Olhou sobre os ombros para a casa. Em vez de cuidar da porta pendida, puxou para baixo um arreio. A caixa de ferramentas tinha tudo o que era necessrio. Jim passou a tarde limpando e lubrificando o arreio at que ele estivesse brilhando. Um vento suave soprou, entrando dentro pela porta do celeiro e atravs das cocheiras e misturando o aroma fraco de feno e cavalos. Jim ficou sentado, absorto no trabalho, at o sol comear a se pr, lanando raios de luz cor-de-rosa na porta do celeiro. Com um sobressalto, Jim ouviu o sacudir do carroo que retornava. Joseph saltou e entrou no celeiro, encostando-se na porta e observando como Jim havia arrumado o arreio em pinos. Jim sorriu timidamente. "No cheguei porta." Joseph deu de ombros. "No faz mal. Voc pode fazer isso amanh - uh, antes de ir embora. Tenho de voltar agora mesmo Aqui esto algumas roupas novas para voc. E um pouco de comida." Joseph voltou para o carroo e pegou alguma coisa embaixo do assento. "Acho que pode precisar disso tambm." Deu a Jim uma caixa de balas para sua pistola, no se importando com os protestos do jovem. Jim agarrou a mo do homem, com gratido. "No sei como dizer obrigado, senhor." Joseph sorriu calorosamente. "Conserte a porta antes de parir amanh cedo, e ser o suficiente. Adeus." Subiu de volta ao assento de seu carroo antes de acrescentar: "Vou orar por voc, jovem" Jim deu uma balanada de cabea e levantou a mo enquanto o carroo ia embora.

*****

"No perguntei seu nome, LisBeth", Joseph falou baixo, "mas sei que ele seria bom para voc e MacKenzie se dessem a ele a chance na propriedade rural. Voc tinha de ver a maneira como ele limpou o lugar. E s para pagar por uma noite no palheiro!" LisBeth franziu a testa. "Voc nem sabe o nome dele, e ainda quer que eu concorde em dar-lhe trabalho l?" Joseph respondeu afirmativamente, balanando a cabea, acrescentou a nica coisa que garantiria o lugar para o "jovem homem" na fazenda - se ele quisesse: "Sei que uma esmola fora do comum, LisBeth, mas o fato que os anos esto me consumindo... e no tenho mais a energia de antes, e simplesmente penso que... "A testa franzida de LisBeth foi substituda por um olhar de considerao: Oh Joseph! Sinto muito. Eu simplesmente no pensei em tudo o que voc tem feito! Tenho pedido demais a voc. No tive tempo de fazer os arranjos necessrios, antes de Mac partir com o regimento, e ento, LisBeth gesticulou, "voltei sozinha. S no pensei em tudo o que voc tem feito, Joseph, desculpe-me. Claro que, se voc precisa de ajuda, pea a esse rapaz para ficar. Apenas pea para ele vir amanh cidade para ns conversarmos um pouco". Joseph negociou: "Ele tem de vir cidade, LisBeth? Uma ida ao local vai faz-la sentir-se melhor e eu vou ficar contente em lev-la at l no domingo". Lisbeth encolheu-se. ", no, Joseph! No quero ir fazenda, ainda no." Joseph apressou-se em desculp-la: "Tudo bem, LisBeth... Eu entendo. Algumas coisas so muito difceis logo aps uma perda. No h necessidade de voc ir l. Eu cuido de tudo". Lisbeth ficou visivelmente aliviada. "Obrigada, Joseph. No sei o que fazer a respeito da propriedade, mas at que decida, no h razo para ela cair aos pedaos." Joseph retirou-se rapidamente antes que LisBeth repetisse o pedido para que o rapaz viesse at Lincoln. Subiu em seu carroo, contente consigo mesmo, e tomou caminho para o sul novamente, em direo propriedade dos Bairds. No carroo havia provises para pelo menos uma semana, e Joseph esperava convencer o jovem a ficar.

*****

Quando Joseph retirou a toalha que escondia as provises, Jim deu um sorriso largo e concordou em ficar. "Mas s por essa semana. Consertarei as coisas e ento estarei pronto para ir."

Joseph concordou que uma semana seria mais que suficiente. Mas de alguma maneira, a semana seguinte chegou, e havia mais servio que precisava ser feito, e o reumatismo de Joseph estava aumentando. Jim concordou em ficar outra semana. No stimo dia, o carroo de Joseph retornou ao lugar com um cavalo baio castrado, na traseira do carroo. "S me deu problemas, desde que o comprei", Joseph falou cuidadosamente. "Morde tudo o que ponho na cocheira dele, e no consigo montar. claro que fui enganado quando aquele negociante veio cidade na semana passada. Ento, achei que, se eu o trouxesse aqui, onde pode ficar sozinho, talvez pudesse amans-lo para mim. "Simplesmente odeio pensar em perder meu investimento." Quando Jim comeou a protestar, Joseph segurou sua mo e disse: "Sei que voc estava planejando partir amanh. Mas preciso de uma ajuda a mais com este animal, e ento voc poder seguir seu caminho... Ele no precisa de nenhum domador grandioso. S precisa de algum com tempo para conversar com ele e acalm-lo um pouco. O que voc acha?". "Jim" foi a resposta. Joseph estava desamarrando o animal, perfeitamente treinado, enquanto ele falava. Quando o jovem pronunciou seu nome, ficou em p e olhou em assombro. "Jim, este meu nome, senhor. Jim Callaway. E eu o ajudo com o cavalo. Sou muito bom com cavalos. No levarei muito tempo para resolver esses problemas" um sorriso vagaroso se formou sobre sua face queimada, "j que vejo que ele perfeitamente bem treinado". A risada barulhenta de Joseph preencheu o ar, e ele bateu no pescoo do animal. "Voc me pegou, hein!? "Bem, s achei que precisava de companhia aqui e, se realmente decidir partir, ter ganhado uma maneira melhor de viajar que esses dois ps. Ento, Jim Callaway, vai ficar aqui? Trouxe a voc um cavalo para o qual no preciso de ajuda, mas o fato que a senhora Baird realmente necessita de auxlio neste lugar aqui at decidir se ir mant-lo ou vend-lo. Seu marido morreu no Pequeno Grande Chifre e ela no superou isso ainda. Veio para casa para descobrir que perdeu sua me tambm. Ela disse que gostaria que voc ficasse e cuidasse do lugar, se quiser o emprego." "Ela no precisar me pagar", veio a resposta curta. " apenas um lugar para ficar, algo para fazer. E isso vale muito - trazer um lugar de volta vida. Adorarei isso." Deu um suspiro profundo seus olhos encontraram os de Joseph. "Eu serei grato senhora Baird se me deixar ficar aqui e trazer vida de volta a este lugar. " Talvez isso possa ajudar..." Jim bateu na porta do seu passado, fechando-a antes de terminar a frase. Joseph ficou satisfeito. Fez um movimento com a mo e falou Eu sei, filho. Eu sei. J passei pelo que voc deve estar passando. S no fique amargurado, Jim. A amargura vai matar seu esprito mais rpido que qualquer outra coisa. Apenas deixe passar. Confie em Deus e siga em frente, Jim". Mais uma vez o animal trouxe Jim de volta realidade. O animal tinha parado de se esfregar e esticou a cabea grande at Jim, empurrando-o at quase derrub-lo. Joseph riu e Jim sorriu vagarosamente. "U m cavalo intratvel mesmo. No sei como irei acalm-lo, mas farei tudo o que puder." Joseph escorregou para dentro do carroo de novo, rindo sem parar. Obrigado, Jim. Eu vou gostar muito disso. Agora, vou ficar l novamente por uns dois dias, ento me faa uma lista das coisas que vai precisar para deixar a fazenda funcionando de novo. A senhora Baird ficar contente em saber que o lar de seu marido est sendo cuidado.

Captulo 7

Antes sedes uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como tambm Deus em Cristo vos perdoou. Efsios 4:32

Poucos dias mais tarde, LisBeth fez sua peregrinao propriedade de Mac. Pensando no apelo de Jim para "ficar sozinho", Joseph protestou brandamente, mas no final Lisbeth conseguiu. Regozijando-se secretamente com um dia de liberdade, fora do alcance dos olhos compassivos, LisBeth sentou-se ao lado de Joseph e preparou os suprimentos para o "Lugar do Mac". "Nunca estive no lugar, Joseph", LisBeth o lembrou, "Acho que eu deveria pelo menos v-lo antes de decidir o que fazer, Ningum duvida de que no sou talhada para fazendeira", falou com uma voz mais suave, "Mas no h sepultura para visitar, e gosto da idia de poder visitar o lugar onde Mac passou a infncia." LisBeth virou a cabea para a frente, endireitando os ombros e levantando o queixo. "Eu me lembro como sua me costumava fazer isso quando estava determinada a executar uma tarefa", Joseph disse. "Fazer o qu?" "Costumava empurrar os ombros para trs, levantar a cabea e encarar as coisas de frente. "Foi isso o que ela fez aquela noite em que topamos com sua fogueira do lado de fora do forte Kearny?" Joseph sorriu com a recordao. "Bem, na verdade, estava extremamente escuro naquela noite. Mas com certeza lembro que ela encarou o dia seguinte de cabea erguida." Joseph comeou a dar risadinhas. "Voc era uma menininha muito viva, Lisbeth." LisBeth sorriu, lamentando. "Espero que ainda seja, Joseph. " A vida no tem sido muito boa ultimamente, mas irei superar, o que quer que seja. Mame sempre dizia para apenas confiarmos no Senhor e seguirmos em frente. Bem, estou tentando seguir em frente." "No se esquea da outra parte", Joseph exclamou. "A parte de confiar no Senhor." Lisbeth mudou de assunto. "Posso dirigir a parelha, Joseph?" Joseph balanou a cabea. "Essa parelha precisa do toque masculino, LisBeth."

Lisbeth insistiu. "Por favor, Joseph. Vai ser divertido!" Fez um rosto to pattico que Joseph rachou de dar risada. "LisBeth, LisBeth! Est parecendo aquele dia em que voc insistiu com sua me para sentar-se ao meu lado na carruagem. E eu um estranho e tudo! Que vergonha, garotinha; voc sabe como conseguir o que quer!" Joseph passou os arreios a LisBeth, mantendo o p prximo ao freio do carroo e mantendo a voz suave e gentil, enquanto instrua a nova motorista. Os cavalos mexeram as orelhas, suspeitando de alguma coisa. A voz era a mesma, mas havia mos novas no cabresto. LisBeth precisou usar toda sua fora para control-los. Ela aceitou o desafio. Depois dos primeiros quilmetros, relaxou um pouco e comeou a desviar o olhar, das orelhas da parelha para a paisagem ao seu redor.Havia girassis por toda parte. Eles cresciam ao longo da estrada, abrindo caminho aqui e ali para os emaranhamentos de rosas silvestres em crescimento, e para as asclpias. De um lado da estrada, uma moita de cerejas silvestres atrara vrias calhandras. Elas voavam entre as pequenas rvores, sugando forte e graciosamente os frutos vermelhos e ento passando ao galhos mais altos da rvore para preencher o ar com suas canes. Com teimosia jovial, LisBeth recusou as recordaes que tentavam crescer dentro dela. No, ela pensou, o dia est lindo e vou apreciar o sol. Estudou cada detalhe do cenrio enquanto a parelha galopava em frente. Joseph apontou para o ponto onde o caminho da propriedade se encontrava com a estrada principal, e Lisbeth forou a parelha a galopar mais levemente. A voz de Joseph perdeu o tom gentil quando forou Lisbeth a diminuir a velocidade. Eles chegaram fazendo muito barulho no quintal da fazenda, e Lisbeth viu-se em p e puxando as rdeas para trs com toda a fora para parar a parelha e prevenir que atravessassem o celeiro at o campo do outro lado. Enquanto se agitavam para parar, Jim Callaway contornava a quina do celeiro. LisBeth estava sem respirao, e seu cabelo tinha desmanchado de um lado, com a sacudida no ltimo pedacinho da estrada. Por um momento, ela foi LisBeth King de novo verdadeira e natural, aproveitando um dia adorvel no campo, sem pensamentos a respeito das tragdias de sua vida. O sol brilhava em seus olhos escuros, e ela olhou com os olhos semi-abertos para o celeiro com um sorriso nos lbios. Viu s!?, pensou. Consegui. E Joseph achava que eu no conseguiria, mas consegui. Jim s conseguiu ver LisBeth por uma frao de segundo. Mesmo quando Joseph gritou "oi" e a apresentou, as plpebras de Lisbeth se fecharam, cobrindo os olhos castanhos e brilhantes. Ela se assentou e apressadamente puxou o cabelo para trs, fazendo um coque firme atrs da cabea. Descendo empinadamente, Lisbeth tornou-se a viva LisBeth. Aceitando a mo de Jim para descer do carroo, Lisbeth explicou: "Joseph no queria que eu viesse, mas achei que deveria. Trouxemos seus mantimentos". Virou-se para olhar ao redor da fazenda. A casa pintada ainda fresca brilhava no sol. "Voc tem trabalhado pesado." Sim, madame. Meus colegas sempre diziam: 'Se um homem supera a dificuldade de pintar uma casa e um celeiro, ento ele tem uma boa colheita e sucesso no caminho'. Acho que, se for vender a propriedade, conseguir um preo melhor dessa maneira.Sim, muito bom." LisBeth ficou em p meio em dvida, ento caminhou at o fundo do carroo e ajudou Joseph a puxar o tecido que cobria o suprimento. "Realmente no dei chance para Joseph conferir os mantimentos antes de partirmos. Espero que tenhamos trazido tudo de que precisa." "Tenho certeza de que tudo est certo, madame", disse Jim girando embaraosamente o chapu em suas mos. Joseph o salvou. "Trarei gua para a parelha, Jim. V em frente e descarregue os mantimentos." Jim virou-se para LisBeth. "Na varanda est sombra. Posso... Jim limpou nervosamente a garganta. "Posso trazer-lhe gua?" "No, obrigada LisBeth rapidamente cruzou o quintal da fazenda e se abrigou no canto da varanda. Sentou-se sombra e observou o ruivo alto e quieto carregar pacote aps pacote para dentro da casa. Alguma coisa no jeito dele se mover e se portar parecia-lhe peculiarmente familiar. Finalmente, ela saiu ao sol. "Isso ridculo. Posso ajud-lo com isso. Oh, no, madame", Jim protestou. "Estou quase terminando, S falta carregar mais aquele barril de farinha e pronto. Ele se apressou em levantar o barril nos ombros. LisBeth sentou-se de novo. Aquela voz tambm parecia familiar. Quando Jim saiu da casa, checou os arreios. LisBeth o observava cuidadosamente. Colocando-se ao redor da parelha ele meticulosamente procurou pedras nas ferraduras da parelha. Finalmente, ele se voltou a LisBeth. "Obrigado por trazer o mantimento. No quero causar nenhum problema.""Oh, no problema, LisBeth respondeu. "Gostei de sair da cidade. Ela suspirou. "As vezes em Lincoln, onde todos me conhecem e todos conheciam Mac, sabe, s vezes difcil. Foi bom para mim sair de l." A parelha havia tomado gua e Joseph checava os arreios enquanto LisBeth subia para o assento do carroo. Um pequeno pacote chamou sua ateno. "Isso deve ser seu, senhor... LisBeth sorriu. "S agora percebi que Joseph nunca me disse seu nome inteiro. Fez uma pausa, esperando resposta. Mas Jim no respondeu. Tentou alcanar o pacote e, ao fazer isso, o pacote desmanchou-se e caiu no cho. Tinha uma plantinha, j bem sofrida com a longa jornada. Ao inclinar-se para peg-la, ele sorriu timidamente. "Minha me tinha uma dessas crescendo ao lado da varanda. Pensei em construir uma trelia de madeira e ver se consigo cultiv-la aqui. So lindas demais quando florescem. "Que flor essa? Rosa mas no do tipo que cresce ao longo da estrada. Vi uma dessas na cidade semana passada." Ele se apressou em explicar: "Joseph e eu fomos caar e estava muito tarde para voltar, ento fui para cidade com Joseph e me hospedei na cocheira at o sol nascer. Ento vi esta rosa justamente da cor que minha me adorava". Ele estava embaraado, e seu rosto ficou vermelho. Aposto que Joseph pediu uma muda. Lisbeth olhou para a raiz esqueltica. "Espero que ela cresa, disse suavemente: "Mac adoraria ver esse lugar de volta vida. Tenho certeza de que ele se alegraria com isso.Jim colocou seu futuro arbusto de rosa na sombra da varanda, Ah, ela vai crescer, madame. Sou bom em fazer as coisas crescerem," Ele se estendeu para coar a parte de trs do pescoo. "No muito bom em nenhuma outra coisa - mas posso fazer coisas crescerem." Joseph observou os dois cuidadosamente. Subiu ao lado de Lisbeth e pegou as rdeas enquanto os apresentava. "LisBeth, parece que esqueci os meus modos. Esqueci