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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇAÇÃODO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÂO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇAO INFANTIL EDNA MARIA NUNES DE OLIVEIRA CONSTANTINO ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO COLIDER/2013

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇAÇÃODO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÂO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇAO INFANTIL

EDNA MARIA NUNES DE OLIVEIRA CONSTANTINO

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

COLIDER/2013

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇAÇÃODO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÂO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇAO INFANTIL

EDNA MARIA NUNES DE OLIVEIRA CONSTANTINO

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

"Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do Título de Especialização em Educação Infantil e Alfabetização.”

COLIDER/2013

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha mãe, pelo carinho, apoio e suporte dado ao longo de minha

vida para que tudo que tenho planejado possa ser realizado.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, que nunca me abandonou mesmo, nos momentos

mais difíceis sendo meu apoio e refúgio.

Ao meu pai, que mesmo sem sua presença física está sempre em meu

coração e pensamento, a minha mãe, responsável por tudo que sou hoje e toda a

minha família e tantos outros que de alguma forma colaboraram com incentivo e

apoio constantes na elaboração desse trabalho

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"Quando olho uma criança ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que é, e respeito pelo que posso ser".

(Jean Piaget)

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SUMARIO

INTRODUÇAO-----------------------------------------------------------------------------------------07

CAPITULO 1 - A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA------------------------------------------------------------------------------------------------08

1.1 - Literatura Infantil: Um mundo de Imaginação, Sonhos e Fantasias----------11

1.2 O papel da contação de historia na Educação infantil-----------------------------16

CAPITULO 2 - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ATRAVES DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS:

RESGATE DA MEMÓRIA E ESTÍMULO À IMAGINAÇÃO--------------------------------23

2.2 - As Diferentes Formas de Contar Histórias------------------------------------------26

2.3 - O papel do contador de historia----------------------------------------------------------29

CONCLUSÃO------------------------------------------------------------------------------------------35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS-------------------------------------------------------------37

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal contribuir com discussões

relativas, baseadas em teóricos sobre à importância da contação de história e da

leitura na educação infantil, bem como investigar como a contação de histórias se

realiza na prática pedagógica dentro da sala de aula. Tendo em vista que esta é a

base para a criança deste cedo aprender a ter gosto pela leitura, onde o papel do

professor é agir como intermediador, ou seja, ao mesmo tempo ele é responsável

pela criança gostar ou não gosta de ler.

O referencial teórico para as discussões e fundamentação da temática

apoiou-se nos estudos de MACHADO, CRAIDY/KAERCHER, ABRMOVICH,

FREIRE, ZILBERMAN, COELHO, dentre outros.

Os resultados da pesquisa nos fizeram refletir sobre a importância da

presença da literatura infantil na sala de aula e sua valorização como apoio à

contação de histórias, bem como sobre sua indiscutível contribuição para a

formação dos futuros leitores.

Palavras-chave: Educação infantil, Contação de histórias, Literatura infantil,

crianças.

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INTRODUÇAO

Este trabalho tem como objetivo ampliar o espaço da contação de historia

nas escolas, desenvolvendo na criança a observação a imaginação, e o gosto pela

leitura estabelecendo uma ligação entre o mundo da fantasia e o da realidade

possibilitando nas crianças o desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal

através da contação de historia.

Contribuindo assim com os professores da educação Infantil sobre a

importância de se preparar a contação de historia, num ambiente agradável, onde a

criança possa viajar no mundo do imaginário possibilitando assim que através da

história, a criança faça uso da imaginação, do senso critico, da criatividade, da

observação, tornando esse momento prazeroso para a criança onde a mesma

aprenda a gosta de ler pelo prazer de ouvir, tornando assim um futuro leitor.

Assim sendo o trabalho esta dividido em dois capitulos: 1º Cap. A

Importância da Literatura Infantil para Desenvolvimento da Criança; e o 2º Cap. A

importância da literatura infantil para o desenvolvimento da criança através da

contação de histórias: resgate da memória e estimulo à imaginação.

Para a realizaçao do mesmo fez-se necessario fundamentar em pesquisa

bibliogrfica em varios literarios como: MACHADO, CRAIDY/KAERCHER,

ABRMOVICH, FREIRE entre outros que deram grandes contribuiçoes para

fundamentaçao do mesmo.

Demonstrando assim que a criança deve ser estimulada desde pequena ao

habito de apreciar uma boa contação de historia adquirindo desde cedo o gosto pela

leitura, pois é até os sete anos de idade que ela forma este habito pela leitura. Não

importa que a criança não saiba ainda fazer a leitura de um livro, pois o professor

deve ler e assim, dar esta referência para ela. A literatura infantil pode ser usada

como recurso lúdico desenvolvendo na criança um comportamento prazeroso.

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CAPITULO 1 - A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA

Ler é descortinar, ampliar horizontes, expressar o universo individual em

interação com os outros, é prática, fundamento da existência, vivenciar outros

saberes, dissipar as trevas da mente, transmitir paixão através de novas

perspectivas, receber mensagens através da musicalidade, dos símbolos e dos

signos.

O livro a importância do ato de ler de FREIRE (1982, p.09), relata que

através da leitura nós conseguimos desenvolver criticamente, a nossa visão diante

da realidade do mundo, mostra ainda a influência da leitura no processo de

alfabetização.

Segundo FREIRE (1982, p.09), a leitura do mundo precede a leitura da

palavra. A leitura na vida de uma pessoa acontece antes mesmo dela ingressar

numa escola. Desde a infância até a fase adulta, adquirimos conhecimentos

advindos da nossa experiência de mundo. Essa leitura é essencial para se constituir

uma compreensão critica sobre a importância do ato de ler. Ler não se resume

simplesmente na decodificação de uma palavra escrita, mas no sentido de entender

um todo, onde cada indivíduo capta o que está escrito conforme o seu nível de

conhecimento e convivência cultural. Dessa forma, a leitura critica permite- nos a

interpretação, a escrita e a re- escrita do lido, ou seja, a transformação da realidade

através da nossa racionalidade.

Para FREIRE (1982, p. 11), o mundo em que vivemos é o mundo das

leituras, das palavras, do texto e do contexto, que aumentam a capacidade de

percepção, compreensão e aprendizagem. A leitura do mundo é fundamental na rica

experiência de compreensão do mundo imediato. “Ao ser introduzido na leitura da

palavra, à decifração da mesma fluíra naturalmente da leitura do meu mundo

particular”. A compreensão crítica da importância do ato de ler, através da prática

revela uma visão da palavra cuja visão precisa ser superada com urgência.

FREIRE (1982, p.22), afirma que é impossível negar a natureza política do

processo educativo, tanto quanto negar o caráter educativo do ato político. Isso

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acontece porque educar é um ato político, que cria vínculos e compromissos com o

futuro, de maneira a contribuir como seres humanos, que vivem e realizam suas

atividades em sociedade, sendo sujeito de sua própria historia e do seu processo de

aprendizagem.

FREIRE (1982, p. 23), considera ainda, que a leitura do mundo em

particular é absolutamente significativa, porque é recriar e reviver uma experiência

vivida no momento em que a pessoa ainda não podia ler a palavra. “É preciso ler o

mundo para ler a palavra.” Ao realizarmos a leitura do mundo adquirimos subsídios

para a leitura da palavra. Para FREIRE é considera imprescindível que o mundo seja

lido para que se possa fazer a leitura da palavra. “A leitura do mundo me foi sempre

fundamental à importância ao ato de ler”. (FREIRE, 1982, p. 28).

ZILBERMAN (2003, p.44), afirma que a literatura infantil está no centro do

processo de transformações que vem passando a sociedade e têm vínculos

estreitos com a escola, o que, levou a literatura infantil, primeiramente um problema

pedagógico, e não literário. Apesar de suas vinculações pedagógicas a literatura

infantil pode oferecer à criança, desde que devidamente cuidada, a percepção

de aspectos literários e artísticos que desenvolvem a sensibilidade do leitor

infantil e sua imaginação.

MARTINS (1985, p. 22), a leitura não pode ser confundida com a reprodução

de informações, ao ato de ler devem ser atribuídos significados e, nesse sentido em

contato com o texto o leitor deixa aflorar seu conhecimento de mundo, interesses e

opiniões. Ler é uma experiência individual, interpessoal e dialógica, individual porque

significa um processo particular de processamento de informações de um texto. Mas

os sentidos não se encontram no texto ou no leitor, exclusivamente, mas sim, entre

ambos, tornando assim a leitura dialógica. Cada leitor aciona seu universo de

conhecimentos no ato da leitura, o que possibilita uma análise mais profunda dentro

desse processo. Quando se fala em leitura, o que vem à mente em primeiro lugar é

a decodificação da linguagem escrita, porém o conceito vai muito além dessa visão.

“Aprender a ler significa aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios”.

Segundo MANGUEL (2000, p. 95), ler é: interagir, interpretar, compreender a

leitura, dá condições de optar e decidir sobre o universo que nos toca. Ler é dar

contexto a todos os textos. Quem lê pensa, adquire forma própria de pensar e não

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aceita a interpretação oficial de tudo. Quem lê desestrutura universos dos padrões

convencionais e reorganiza o mundo através da palavra. A leitura é para a vida uma

maneira de se encontrar e ampliar perspectivas, principalmente para aqueles que

moram longe do conhecimento.

MANGUEL (2000, p. 95), coloca ainda que a leitura não resolve os

problemas sociais, mas transforma-se em conhecimento: quem está informado faz

melhor escolha. Leitura é fruição, trabalho, método, pesquisa, busca de informações:

aprendizado. A leitura viaja sem desprender-se da raiz. O ato de ler acaba

provocando a memória do leitor e nela seus sonhos. “Lemos para compreender, ou

para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler é quase como

respirar. Se considerarmos que a leitura do mundo é necessária para outros

processos do conhecimento, poderíamos afirmar que ler o mundo é praticamente

respirar. Quem lê tende a se expressar cada vez melhor e com mais identidade. Isso

sem contar o papel emancipador da leitura, principalmente, para camadas sociais

historicamente privadas ou com poucas possibilidades de leitura.

Para BORDINI e AGUIAR, (1993 p.17), a leitura desenvolve o pensamento

crítico do ser humano, pois é através dela que esse adquire conhecimento e cultura.

Desde a antiguidade, a sociedade usava para distinção entre pessoas cultas e

incultas o domínio do código escrito, o que contribuiu para a existência de uma

grande desigualdade entre alfabetizados e analfabetos, ocasionando a produção de

uma ação de domínio daqueles sobre estes e isso veio a refletir em diversas formas

de dominação social. Hoje em dia não é diferente, pois o conhecimento adquirido

através da escrita ou o lazer proporcionado pela leitura são um bem a ser desfrutado

somente pelas elites. Desde a infância as pessoas são leitoras, pois constantemente

atribuem sentidos às diversas manifestações da natureza e da cultura que fazem

parte do seu cotidiano. Mas, no entanto, até mesmo pessoas de classes elevadas,

que aprenderam na escola a importância que a leitura exerce na vida do ser

humano, abandonam à proporção que, em seu dia-a-dia, voltam-se as atividades

que lhes promovem lucros. Muitas vezes o hábito e o gosto pela leitura vão

perdendo sua verdadeira identidade,

Segundo AGUIAR & BORDINI (1993, p.18), é preciso que o hábito, não seja

apenas como padrão rotineiro de resposta, automaticamente provocado e realizado.

Diversos são os problemas com a educação no Brasil, mas a pouca leitura

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gradativamente torna-se um dos maiores focos do interesse de estudiosos na área.

Muitas vezes, o ensino está fragilizado, os professores despreparados, o aluno

aprende só por aprender, nem sequer se pergunta o porquê e para quê. Esse tipo de

atitude acaba ofuscando o verdadeiro papel que a leitura exerce na vida do indivíduo

e da sociedade.

De acordo com MARTINS (1994, p.25), a leitura seria a ponte para o

processo educacional eficiente proporcionando a formação integral do indivíduo. É

preciso destacar que todo o ato de leitura tem como recurso básico a biblioteca

escolar, local e fonte de informação, portanto, de produção de conhecimento. Assim,

a escola precisa dispor de uma biblioteca atuante, dinâmica, a serviço da

informação, como um espaço de auto aprendizagem, de convivência, de cultura, de

criatividade, de lazer, atuando assim de modo completo. A seleção dos livros a

serem buscados na biblioteca é tarefa do professor, porém não é uma tarefa fácil, da

mesma forma que não é fácil escolher os textos para serem trabalhados nas aulas

de Língua Portuguesa.

Para PERROTTI (2000, p. 37), a leitura é uma experiência de sentidos e

significados: um jogo entre o leitor e o texto. A leitura acontece num cosmo

impalpável, além da órbita terrestre num não-lugar. O leitor necessita de desafios,

deve ler novidades e gêneros textuais diversos; os livros devem ser inseridos

conforme a progressão do seu contexto de leitura. A paixão pelos livros transforma

as palavras, tornando-as cheias de significados.

1.1- LITERATURA INFANTIL: UM MUNDO DE IMAGINAÇÃO, SONHOS E

FANTASIAS

Segundo, ZILBERMAN (1985, p.9), criança que desde muito cedo entra em

contato com a obra literária escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do

outro. Terá a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar os

horizontes da cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a

cerca.

Para ZILBERMAN (1985, p.9)...

A Literatura Infantil apresenta, no Brasil, um campo de trabalho tão extenso e desconhecido, que ocorre com o investigador o que se passou com Cristóvão Colombo: pensa-se ter descoberto o caminho para as Índias

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quando, de fato, mal tangenciou um continente inexplorado cujo perfil exato ainda está por ser definido.)

Segundo KRAMER (1993, p. 35), o que configura a humanidade é o fato de

sermos sujeitos sociais, cidadãos ativos na história, mergulhado de valores, de

desejos, de sonhos, possuidores e produtores de linguagem. Construtor coletivo que

produz a história como sujeito social da linguagem.

Concordando com essas autoras, CADEMARTORI (1994, p.23), afirma que

...a literatura infantil se configura não só como instrumento de formação conceitual, mas também de emancipação da manipulação da sociedade. Se a dependência infantil e a ausência de um padrão inato de comportamento são questões que se interpenetram, configurando a posição da criança na relação com o adulto, a literatura surge como um meio de superação da dependência e da carência por possibilitar a reformulação de conceitos e a autonomia do pensamento.

Segundo MARCUSCHI (2002, p.19), os gêneros textuais surgem

emparelhados a necessidades e atividades sócio culturais, bem como na relação

com inovações tecnológicas. Esse fato é bastante evidente quando se compara a

quantidade de gêneros hoje existentes em relação a sociedades que antecederam à

comunicação. A escolha de um determinado gênero é feita de acordo com diversos

elementos que participam do contexto, como quem está produzindo o texto, para

quem é dirigido o texto, com que finalidade foi escrito, em que momento histórico foi

produzido.

GUEDES & SOUZA (1999, p.13), afirmam que ler e escrever são tarefas da

escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis

para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola. Portanto, o

interesse pela leitura começa na sala de aula, que é o lugar onde o professor mostra

a importância da mesma, e a biblioteca é o lugar em que o aluno encontra os

tesouros da humanidade, expandindo seus conhecimentos. Após, criado o vínculo

com a leitura pelo professor, o cultivo desse vínculo se dá na biblioteca, onde se

processa o amadurecimento intelectual do leitor.

De acordo com ABRAMOVICH (1995, p.17), ler histórias para crianças,

sempre, sempre é poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas

personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então,

poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de

divertimento. É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em

relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões. É

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uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das

soluções que todos vivemos e atravessamos dum jeito ou de outro através dos

problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não)

pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo). É a cada vez ir se

identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde

àquele que está sendo vivido pela criança). E, assim, esclarecer melhor as próprias

dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas. Portanto, a conquista

do pequeno leitor se dá através da relação prazerosa com o livro infantil, onde

sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e o levam a

vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história, introduzindo

assim situações da realidade.

Para ABRAMOVICH (1995, p. 17), é ouvindo histórias que se pode sentir,

emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a

alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve – com toda a

amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar … Pois é

ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário!

CAVALCANTE (2002, p. 25), afirma que “a melhor técnica para narrar

histórias de maneira sedutora é ser um bom contador, absolutamente apaixonado

pelo mundo do faz de conta.” É importante, também, que o professor busque

atualizar-se e esteja atento aos cursos oferecidos pelos municípios e instituições

comprometidas com a educação, a fim de ficar cada vez mais qualificado para

desenvolver um bom trabalho didático junto às crianças e as escolas de educação

infantil.

Para COELHO (1997 p. 12), a história aquieta serena, prende a atenção,

informa, socializa, educa. A história é importante alimento da imaginação. Permite a

auto identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a

resolver conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem

distinção de idade, de classe social, de circunstância de vida. Descobrir isso e

praticá-lo é uma forma de incorporar a arte à vida.

JORGE (2003, p.97), coloca que é fundamental que a criança possa

vivenciar a palavra e a escuta em todas as suas possibilidades, explorando

diferentes linguagens, capturando-as e apropriando-se do mundo que a cerca, para

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que este se desvele diante dela e se torne fonte de interesse vivo e permanente,

fonte de curiosidade, de espantos de desejos e descobertas, numa dinâmica em

que ela se socialize e se manifeste de forma ativa, criativa, participativa em

qualquer situação, não apenas “recebendo” passivamente, mas produzindo e

reproduzindo cultura .

Segundo OLIVEIRA (2009, p.15), o melhor instrumento e a técnica mais

eficiente são o amor e a criatividade, unidos à preocupação com os objetivos do

trabalho, com o nosso público e com a mensagem a ser transmitida. É preciso que

o professor goste de Literatura infantil, que ele se encante com o que lê, pois

somente assim poderá transmitir a história com entusiasmo e vibração. Se o

professor for um apaixonado pela Literatura Infantil, provavelmente, os alunos se

apaixonarão também. Para ler um texto de Literatura Infantil é preciso ter o coração

de criança. Muitas vezes lemos uma história e não gostamos, uma criança lê a

mesma história e fica encantada. Isso pode acontecer porque lemos com a cabeça

de adulto.

De acordo com OLIVEIRA (2009, p.25), é possível a adaptação das

histórias infantis para representação de seu texto para o teatro; assim, as crianças

assumem o papel dos personagens e os representam. Dependendo dos recursos

da escola, as crianças poderão usar fantasia, máscaras e diversos objetos para

representação do teatro. Ainda destaca que a história não deve ser elaborada pelo

professor e dada pronta para ser “decorada”; antes, será muito mais enriquecedor se

as crianças participarem de todo o processo. Porém, o importante, ressalta a autora,

é que a crianças (o aluno) assimile a mensagem transmitida pela história e verbalize

seu conteúdo, usando a linguagem oral e gestual.

MARTINS (1994, p. 27), afirma que o Brasil em termos de publicações,

distribuição e venda de material impresso, principalmente livros, deixa muito a

desejar. Quanto a bibliotecas nem se fala. Pode-se notar que algumas pessoas que

atuam nas bibliotecas muitas vezes não possuem perfil para estarem nesse tipo de

trabalho, ou não possuem uma qualificação profissional compatível com as funções

a serem desempenhadas dentro de uma biblioteca. Conforme o autor, a maneira

como é efetuado o atendimento aos alunos é muito importante, pois a forma de

comunicação entre a equipe da biblioteca e os usuários é de suma relevância.

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Para NEVES (2000, p.221), escrever, em decorrência, torna-se atividade

enriquecedora que poderá abranger múltiplas formas e, não somente, o processo de

elaboração de texto gráfico. Mas, para abranger essas “múltiplas formas” é

necessário possuir uma biblioteca composta por um acervo variado e instigante, que

possibilite ao aluno desenvolver sua criatividade e gosto investigativo, bem como a

sua construção do conhecimento através dos materiais disponíveis para leitura,

especialmente livros e diferentes gêneros textuais.

Segundo BETTELHEIM (1996, p.13), para que uma estória realmente

prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para

enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu

intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e

aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir

soluções para os problemas que a perturbam.

De acordo com ABRAMOVICH (1995, p.17), ao trazer a literatura infantil

para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o

livro, sua cultura e a própria realidade. Além de contar ou ler a história, ele cria

condições em que a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista,

trocando opiniões sobre ela, assumindo posições frente aos fatos narrados,

defendendo atitudes e personagens, criando novas situações através das quais as

próprias crianças vão construindo uma nova história. Uma história que retratará

alguma vivência da criança, ou seja, sua própria história.

BETTELHEIM (1996, p.13), afirma ainda que ao trazer a literatura infantil

para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o

livro, sua cultura e a própria realidade. Além de contar ou ler a história, ele cria

condições em que a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista,

trocando opiniões sobre ela, assumindo posições frente aos fatos narrados,

defendendo atitudes e personagens, criando novas situações através das quais as

próprias crianças vão construindo uma nova história. Uma história que retratará

alguma vivência da criança, ou seja, sua própria história.

Segundo JOLIBERT (1994, p. 129), è importante dizer também o quanto

pode ser significativo que os pais leiam histórias para seus filhos ou folheiem com

eles um álbum de literatura infantil, levando-os a dizerem o que imaginam que irá

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acontecer na página seguinte depois de virada. Ao ser inserido na escola, a criança

passa a ser orientada pelo educador, que através de suas práticas pedagógicas

apresenta a ela o mundo das palavras, portanto, cabe a ele criar situações e gerar

incentivos para que a prática da leitura seja efetivada, formulando projetos que insira

a criança em sua própria realidade, despertando o interesse e a curiosidade por tal

prática.

1.2 O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTORIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para CADEMARTORI (1994, p.23), poucas crianças têm o hábito de ler em

nosso país. A maioria tem o primeiro contato com a literatura apenas quando chega

à escola. E a partir daí, vira obrigação, pois infelizmente muitos de nossos

professores não gostam de trabalhar com a literatura infantil e talvez desconheçam

técnicas, que ajudem a dar vida às histórias, e que consequentemente, produzam

conhecimentos. Muitos não levam em conta o gosto e a faixa etária em que a

criança se encontra, sendo que muitas vezes o livro indicado ou lido pelo professor

está além das possibilidades de compreensão dela em termos de linguagem.

Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem. Entre elas

estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de diálogo com as

crianças, possibilitando a troca de opiniões e o desenvolvimento de sua capacidade

de expressão. O estabelecimento de relações entre os comportamentos dos

personagens da história e os comportamentos das próprias crianças em nossa

sociedade possibilita ao professor desenvolver os múltiplos aspectos educativos da

literatura infantil.

CADEMARTORI (1994, p.24), acrescenta ainda que experiências felizes

com a literatura infantil em sala de aula são aquelas em que a criança interage com

os diversos textos trabalhados de tal forma que possibilite o entendimento do mundo

em que vivem e que construam, aos poucos, seu próprio conhecimento. Para

alcançarmos um ensino de qualidade, se faz necessário que o professor descubra

critérios e que saiba selecionar as obras literárias a serem trabalhadas com as

crianças. Ele precisa desenvolver recursos pedagógicos capazes de intensificar a

relação da criança com o livro e com seus próprios colegas.

Segundo FREIRE (1998, p.18),

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... A leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a comunidade e leitura daquele. Vencida essa etapa, ao alfabetizador cabe a responsabilidade através de situações motoras, preparar a criança para um aprendizado natural e sem traumas. Essa prontidão para aprender foi definida por alguns autores, onde procuraram considerar um nível suficiente de preparação para iniciar uma aprendizagem, ou uma capacidade específica para realizar determinada tarefa. As diferenças individuais seriam a diferença na prontidão para aprender.

AGUIAR & BORDINI (1993, p.10), afirmam que “a acumulação do

conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que

detêm o poder dentro de uma sociedade.” Assim, a maior parte da população, que

não possui recursos para estudar, acaba aderindo aos meios diretos de

comunicação, porque não exigem educação formal para a sua recepção. Dentro do

contexto escolar há vários fatores que influenciam no processo da leitura, pode-se

citar como exemplos, a intervenção do professor, a influência da família e a própria

dedicação do aluno nesta ação. A criança que desde muito cedo entra em contato

com a obra literária escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do outro.

Terá a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar os horizontes da

cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a cerca.

Para BETTELHEIM (1996),

enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. (p.20).

Na concepção de AGUIAR & BORDINI (1993 p. 14), a obra literária pode ser

entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza

pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor. Assim, não é um mero reflexo

na mente, que se traduz em palavras, mas o resultado de uma interação ao mesmo

tempo receptiva e criadora. Essa interação se processa através da mediação da

linguagem verbal, escrita ou falada.

Conforme SILVA (1992, p.57), bons livros poderão ser presentes e grandes

fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos

poderá ser uma excelente conquista para toda a vida. O que se percebe é que a

literatura, bem como toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo

explorada como deve nas escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca

informação dos professores. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à

leitura e esta é uma situação contraditória.

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Segundo MACHADO (2001, p.45) “não se contrata um instrutor de natação

que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de

pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar.”

De acordo com BAKHTIN (1992 p112), quando a criança ouve ou lê uma

história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma

interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de.

Para ele, o confrontamento de ideias, de pensamentos em relação aos textos, tem

sempre um caráter coletivo, social. O conhecimento é adquirido na interlocução, o

qual evolui por meio do confronto, da contrariedade. Assim, a linguagem é

constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do

outro, portanto, uma linguagem dialógica.

Para BAKHTIN (1992, p112), a vida é dialógica por natureza. Viver significa

participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste

diálogo, o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as

mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na

palavra e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio

universal.

Segundo ABRAMOVICH (1997, p.23), é importante contar histórias mesmo

para as crianças que já sabem ler, pois quando a criança sabe ler é diferente sua

relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las.

Quando as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de

imaginação, já que ouvi-las pode estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar,

o recriar. Num mundo hoje tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão

prontas, a criança que não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá

no futuro, ser um indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade para

compreender a sua própria realidade.

Segundo VIGOTSKY (1992, p.128), portanto, garantir a riqueza da vivência

narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o

desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação, que

caminham juntos: a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável

do pensamento realista.

Neste sentido, o autor enfoca que:

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...na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. “Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece. (VIGOTSKY, 1992, p.129).

Segundo SANDRONI & MACHADO (1998, p.12), o contato da criança com o

livro pode acontecer muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam

que a criança que não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter

contato com eles. O que se percebe é bem ao contrário. a criança percebe desde

muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As crianças bem pequenas

interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e que mais tarde,

darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as.

De acordo com SANDRONI & MACHADO (1998, p.15), algum tempo depois,

as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos

livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. Têm

nesta perspectiva, a possibilidade de envolver o real e o imaginário que afirmam que

os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas.

SANDRONI & MACHADO (1998, p.16), afirma que é importante que o livro

seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo

com o objeto do seu interesse. A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe

que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por

meio de palavras e desenhos. O amor pelos livros não é coisa que apareça de

repente. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim,

pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem

estimuladores e incentivadores da leitura.

Para SANDRONI & MACHADO (1998, p.23), o equilíbrio de um programa de

leitura depende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma

hipotética e inexistente classe homogênea.

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CAPITULO 2 - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ATRAVES DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS:

RESGATE DA MEMÓRIA E ESTÍMULO À IMAGINAÇÃO.

MEIRELES (1979, p. 41), coloca que numa sociedade de imensa

mecanização como a nossa, a contação de histórias faz refletir sobre qualidades

esquecidas. A valorização do conhecimento transmitido pela oralidade recompõe o

valor das experiências coletivas. O ofício de contar histórias é remoto, e por ele se

perpetua a literatura oral, comunicando de indivíduo a indivíduo e de povo a povo o

que os homens, através das idades, têm selecionado da sua experiência como mais

indispensável à vida.

Para BUSATTO (2003, p. 10). O hábito de ouvir histórias desde cedo ajuda

na formação de identidades; no momento da contação, estabelece-se uma relação

de troca entre contador e ouvintes, o que faz com que toda a bagagem cultural e

afetiva destes ouvintes venha à tona, assim, levando-os a ser quem são. “Contar

histórias é uma arte porque traz significações ao propor um diálogo entre as

diferentes dimensões do ser.”

Nas palavras de COELHO (2000, p. 27), "a literatura infantil é, antes de tudo,

literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o

homem, a vida, através da palavra." Cada tipo de arte faz uso de certos materiais. A

pintura, por exemplo, trabalha com tinta e cores; a música utiliza os sons; a dança os

movimentos; a escultura faz uso de formas e volumes. E a literatura, pode-se dizer

que é a arte da palavra. Mas, infelizmente para a literatura, sua matéria-prima, a

palavra, não lhe é exclusiva: ela serve tanto à informação quanto à arte

Segundo COELHO (1998, p.14), a história é um alimento da imaginação da

criança e precisa ser dosada conforme sua estrutura cerebral. Sabemos que o leite

é um alimento indispensável ao crescimento sadio. No entanto, se oferecermos ao

lactente leite deteriorado ou em quantidade excessiva, poderão ocorrer vômitos,

diarréia e prejuízo da saúde. Feijão é excelente fonte de ferro, mas nem por isso

iremos dar feijão a um bebê, pois fará mal a ele. Esperamos que cresça e seu

organismo possa assimilar o alimento. A história também é assimilada de acordo

com o desenvolvimento da criança e por um sistema muito mais delicado e especial.

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CALVINO (1993, p. 11), o encontro entre a criança e livro literário provoca

uma comunicação emotiva, interrogativa, mágica e, por vezes, inesperada, pois o

bom livro (um clássico, por exemplo) não enuncia uma verdade pronta, única,

acabada e imposta. Ele instiga o leitor/estudante a buscar nele as respostas que

procura, pois "são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer,

quando são lidos de fato, mais se revelam novos, inesperados, inéditos".

MEIRELES (1979, p. 64), coloca que vemos nas histórias, elementos

identificadores do cotidiano do povo, mesmo quando são histórias de reis e

cavaleiros, já que os temas encontrados no interior das histórias são universais. “A

Literatura Tradicional apresenta esta particularidade: sendo diversa em cada país, é

a mesma no mundo todo.” Contar histórias de origem na oralidade e na

tradição popular restabelece um caminho que permite desenvolver um resgate da

memória coletiva e do ato do ser humano de comunicar-se poeticamente.

Além do que, nossa imaginação encontra um terreno fértil na literatura tradicional, já

que os contos são curtos e econômicos, cabendo à imaginação completá-los.

Para BUSATTO (2003, p. 55), os contos da tradição popular, por ser

econômico, se revelam ricos em imagens, assim o ouvinte vai construindo todo o

contexto da história conforme o que é sugerido pelo contador ao revelar as imagens

do conto; imagens reveladas a partir das formas, cores, sons e sensações presentes

no seu corpo. Essa é a grande magia das histórias, viajarmos para qualquer lugar,

sem sairmos do lugar. Contar histórias é arte performática, em que se tenta

retransmitir os contos pelos meios nos quais surgiram, ou seja, através de voz, corpo

e gesto

Segundo BUSATTO (2003, p. 55), coloca ainda que é necessário que exista

identificação entre conto e contador, para que este possa conduzir a narrativa da

melhor forma. Cada contador coloca nas histórias um pouco de sua personalidade,

priorizando passagens que, de alguma forma, dialogam mais com seu íntimo. É essa

identificação entre o conto e seu contador que faz a diferença, pois dessa integração

dependerá o sucesso da performance. É como se o conto escolhesse o contador e

não o contrário. “É preciso ter tempo para sonhar os contos, isto é, ruminá-los

interiormente, mas também é preciso ter a oportunidade de praticá-los, senão

podem ser esquecidos.” (BUSATTO, 2003, p. 55).

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Para SIMONSEN (1987, p. 29), o contador deixa que a história mergulhe

nele e só depois ele conta; primeiro se apropria da história para depois contá-la. Ele

precisa de tempo para deixar que a história mergulhe em seu próprio estoque de

temas e fórmulas, tempo para “se emprenhar” da história. Quando recorda e reconta

a história, em nenhum sentido literal da palavra ele “memorizou”

Portanto, para ALVES (2004 p. 1), a literatura deve ser revelada à criança

como elemento constitutivo do seu patrimônio cultural, como possível conquista

pessoal e social, como objeto impulsionador de autonomia, de observação atrevida e

de fonte de criatividade. Novamente lembrando, a leitura é o meio mais eficaz de

enriquecimento e desenvolvimento da personalidade, é um passaporte para a vida e

para a sociedade. Levar a criança apenas a ler, não é o bastante para despertar o

prazer pela leitura. O que permanece e acompanha a criança ao longo da vida,

como uma fonte de prazer, é um olhar diferenciado para a obra literária. Afinal, como

tão bem, "o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com

as palavras que desejam morar no corpo".

ABRAMOVICH (1989, p. 14), quando o adulto lê para a criança, usa uma

linguagem diferente da falada, o que introduz elementos que serão formalizados,

posteriormente, na escola. O que contribui para a criança aumentar seu vocabulário,

seu campo semântico, e leva-a a descobrir outros lugares, pessoas, culturas, jeito

de agir e de ser, sem nunca ter que sair do lugar. "Contar histórias é uma arte... e

tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é

nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz."

(ABRAMOVICH, 1989: 18).

Segundo GOULEMOT (1996, p. 108), o ato de ler é dar um sentido de

conjunto, uma globalização e uma articulação de sentidos produzidos pelas

sequências. Ele retrata uma idéia de que ao se ler além de atribuir sentido, o leitor

constitui esse sentido. Em suma o autor ao escrever se comunica por meio das

palavras que venham a formar algum sentido, cabe o leitor em seu ato pleno

constituir o seu sentido e não encontrar o sentido desejado pelo autor, a isso se dá o

nome de interpretação.

FARIA & GARCIA, (2002, p. 121), coloca que, "somente me constituindo

como sujeito, posso aspirar a igualdade na minha relação com o outro." E a arte

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cumpre um papel nesse sentido. Dizendo quem sou através do que faço, dialogo

Contação de histórias: resgate da memória e estimulo à imaginação com os outros

em um processo poroso que permite interpenetrações criativas, por meio de formas,

sons, cores e palavras. Muitos educadores ainda não descobriram o quanto as

histórias podem ajudá-los; muitos continuam utilizando as histórias, quando utilizam,

apenas para acalmar os educandos e não veem as várias possibilidades de uma

boa história. O principal objetivo em contar uma história é divertir, estimulando a

imaginação, mas, quando bem contada, pode atingir outros objetivos, tais como:

educar, instruir, conhecer melhor os interesses pessoais, desenvolver o raciocínio,

ser ponto de partida para trabalhar algum conteúdo programático, assim podendo

aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto identificação, favorecendo a

compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos. Agrada a

todos sem fazer distinção de idade, classe social ou circunstância de vida.

2.1 - A IMPORTÂNCIA DO LER E DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Segundo MACHADO (2002, p. 15), ninguém tem que ser obrigado a ler

nada. Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever. É alimento do espírito.

Igualzinho a comida. Todo mundo precisa, todo mundo deve ter a sua disposição de

boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome. Mas é um absurdo

impingir um prato cheio pela goela abaixo de qualquer pessoa. Mesmo que se ache

que o que enche aquele prato é a iguaria mais deliciosa do mundo.

Para MEIRELES (1979, p. 42), começar a ler deve ser uma iniciativa própria

de cada um, precisamos apenas indicar os caminhos para que as pessoas

despertem seu gosto pela leitura. Entre as aquisições da infância, a riqueza das

tradições, recebidas por via oral. Elas precederam os livros, e muitas vezes os

substituíram. Em certos casos, elas mesmas foram o conteúdo desses livros. Sendo

que um dos principais objetivos da escola é fazer com que os alunos gostem de ler.

Mas, não podemos obrigá-los a isto, temos sim que encontrar formas de persuadir

os alunos para que eles próprios busquem a leitura.

Para isto, um caminho possível é o da contação de histórias, pois, como diz

MEIRELES:

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o gosto de ouvir é como o gosto de ler”. Alguém que toma gosto em ouvir histórias, provavelmente, procurará lê-las também. Ou, até mesmo, chegará a escrevê-las, já que “o gosto de contar é idêntico ao de escrever e os primeiros narradores são os antepassados anônimos de todos os escritores. (1979, p. 42).

Para AZEVEDO (2004, p. 158), a contação ajuda, principalmente, os alunos

vindos de famílias analfabetas (incluem-se aqui também os analfabetos, chamados

funcionais sabem decodificar as letras, mas não sabem compreendê-las), já que

estas crianças não seriam mais inseridas diretamente num discurso formal e

científico, intitulado como oficial; partiriam do que lhes é conhecido. Ao entrar em

contato com um conto maravilhoso, uma quadrinha ou um dito da sabedoria popular,

o estudante talvez pense: “Peraí! Meus pais conhecem isso! Isso eu já ouvi! Isso faz

sentido para mim!” A partir daí, é perfeitamente possível imaginar que tal aluno volte

para casa, conte o conto que aprendeu na escola e, no dia seguinte, traga outros

contados pelo pai ou por algum parente. Ao trabalhar com formas populares

(parlendas, música, contos, etc) eles podem vir a reconhecer a cultura de sua

própria família, ou melhor, podem perceber que sua gente também tem cultura.

Segundo MEIRELES, (1979, p. 66), é a literatura tradicional a primeira a

instalar-se na memória da criança. Ela representa o seu primeiro livro, antes mesmo

da alfabetização, e o único, nos grupos sociais carecidos de letras. Por esse

caminho, recebe a infância a visão do mundo sentido, antes de explicado; do mundo

ainda em estado mágico. O romancista José Lins do Rego, por exemplo, ouvia

muitas histórias orais tradicionais de uma ex-escrava, no engenho; isto fez com que

seus livros fossem permeados por traços da oralidade dessas histórias que ouvia.

Há também outros casos, como Ariano Suassuna e João Guimarães Rosa, grandes

escritores de língua portuguesa, que beberam das histórias populares para compor

suas obras.

ARROYO (1984, p. 19), coloca que:

Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza (...) desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e lendas (...) deste modo a gente se habitua, e narrar estórias corre por nossas veias e penetra em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma de seus homens.

Para FARIA & GARCIA (2002, p. 126), os contadores que se utilizam de

histórias tradicionais, o fazem por basear-se no seu vínculo com a vida concreta,

como também com o sagrado. No momento em que ocorre a valorização das

raízes, das religiões, das manifestações culturais, das expressões artísticas, etnia e

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raças, como também no compartilhamento da própria história, podemos ter a base

sobre a qual se estruturam os processos indenitários.

Para BUSATTO (2003, p. 38), os contos possibilitam enxergar as diferenças

culturais e constatar que a diversidade é saudável. Auxiliam a expansão da nossa

consciência ética e estética.

Para ZUNTHOR (2000, p. 90), a performance aspira à qualidade de rito, pois

transporta para outro lugar e para outro tempo. Através da performance consegue-

se acelerar o movimento de identificação a ponto de provocar uma participação

coletiva da plateia. No momento em que se consegue atingir a platéia, acontece

uma experiência. É através do corpo que vivemos a experiência da performance.

No momento em que estamos vivenciando a performance, estamos em processo de

transformação. “O corpo é ao mesmo tempo o ponto de partida, o ponto de origem e

o referente do discurso”

Como nos fala BONDÍA (2002, p. 21):

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa não o que acontece, ou o que toca”. A performance só acontece quando contador e platéia permitem-se experimentar; quando ambos estão abertos à transformação. Isto porque “a performance modifica o conhecimento.

Segundo BONDÍA (2002, p. 26-27), o acontecimento é comum, como numa

contação de histórias, por exemplo. A plateia ouve uma mesma história, mas o modo

como cada pessoa experimentará será diferente. Quando há a performance, dá-se

uma troca entre contador e ouvintes, dessa forma, também, cada vez que a história

for contada, o contador contará de forma diferente, pois o ambiente, as pessoas e

até mesmo o seu estado de espírito influenciarão em sua performance.

Podemos dizer que, a cada contação, o contador conta uma história diferente,

mesmo que aparentemente seja a mesma. Cada performance nova coloca tudo

em causa.

Segundo BUSATTO (2003, p. 18), sempre que ouvimos uma história,

ativamos nossa memória corporal, pois antes de recebermos a história de forma

racional a recebemos através das sensações corporais. Toda contação de histórias

vai ao encontro das ansiedades da plateia, já que cada ouvinte se identificará com a

história, ou mesmo com parte da mesma, posto que dialoga com sua realidade

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atual. “A arte de contar histórias nos liga ao indizível e traz resposta às nossas

inquietações.”

BUSATTO (2003, p. 9), coloca ainda que ao utilizar-se a contação de

histórias, todos saem ganhando, sejam os ouvintes, que serão instigados a imaginar

e criar, seja o contador, que terá a oportunidade de recriar um ambiente de resgate

da memória. E, ao pensarmos na escola, tanto os alunos como os professores terão

uma aula muito mais atrativa e motivadora. Assim, quem mais sai ganhando é, na

verdade, a sociedade, que receberá cidadãos mais criativos e capazes de conviver

com a diversidade.

2.2 - AS DIFERENTES FORMAS DE CONTAR HISTÓRIAS Quem já não ficou sentado em uma varanda junto com os amigos e

familiares, contando acontecimentos que já lhes aconteceram? É neste momento

que contar história se faz presente, pois contamos histórias sem ao menos

percebermos.

Segundo SANDRONI (1998, p.21), “todo mundo sabe contar histórias,

casos acontecidos, lembranças de família, histórias que seus pais, tios ou avós

contavam quando você era pequeno. Histórias inventadas ou adaptadas.” O

contador de histórias não é uma novidade, afinal foi reconhecido nos tempos mais

remotos, tendo privilégios e tendo papel de destaque.

MACHADO (2002, p.42), levanta a importância da história como incentivo á

leitura. Considerando que um dos maiores objetivos da escola é fazer com que os

alunos tenham o gosto pela leitura, sendo algo que não deve ser obrigada, mas

cabe ao professor encontrar uma forma, uma estratégia para manifestar no aluno a

vontade de ler. Umas das formas a ser usadas, podem ser as histórias contadas.

Para COELHO (2001, p.31), a história infantil infiltrada dentro da escola

precisa ser entendida como meio pedagógico e para tanto se faz indispensável uma

responsabilidade por parte dos professores para que não aborde a leitura de uma

historia tão simplesmente, mas com objetivo para compor a formação da criança.

Não se conta uma boa história sem antes haver um preparo prévio para tal tarefa.

Desta forma se faz necessário estudar o que vai contar e mais do que isso é

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escolher a forma como essa história chegará à criança. Para ressaltar este fato, eis

como se pronuncia “estudar a história é ainda escolher a melhor forma ou o recurso

mais adequado de apresentá-la.”

COELHO (2001, p.12), mas o ouvir histórias não só despertará o gosto pela

leitura e o despertar para a imaginação, ela irá proporcionar ao ouvinte a descobrir

soluções para seus problemas, conflitos e emoções o levando a resolução dos

mesmos, a história é importante alimento da imaginação. Permite a auto-

identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a resolver

conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem

distinção de idade, de classe social, de circunstancias de vida. Se observarmos o

que diz o autor sobre a importância da história na vida da criança, pode - se

compreender que ela proporciona um ambiente rico de estímulos, podendo a criança

desenvolver-se em apenas ouvir uma história. “o conto infantil é uma chave que abre

as portas da inteligência e da sensibilidade da criança, para sua formação integral.”

Para CARVALHO (1989, p.18), todavia a contação de histórias influencia

em todas as áreas e colabora para o crescimento da criança abrindo portas para

uma formação integral, considerando a criança como um todo e que necessita desta

formação. Para Carvalho, as histórias podem ser um grande aliado do educador em

suas várias possibilidades. O contar histórias pode divertir, estimular a imaginação,

quando bem contada pode atingir outros objetivos, como: educar, instruir, conhecer

melhor os interesses pessoais, desenvolver raciocínio, ser ponto de partida para

trabalhar algum conteúdo programático, assim podendo aumentar o interesse pela

aula, favorece a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a

resolver conflitos e agrada a todos independente de idades, e classe social.

TAHAN (1957, p.8). Coloca que o contando histórias, narrando lendas,

sugerindo leitura de contos e tradições, está o Professor proporcionando à criança

uma atividade sadia, uma oportunidade para desenvolver a imaginação, enriquecer

vocabulário, complementar experiências e atender à curiosidade da vida em suas

estréias pelo mundo do encantamento. E ainda, pela trilha sinuosa da História desce

o psiquiatra ao fundo, por vezes obnubilado, da alma infantil, e lá vai descobrir

inquietações, prevenir angústias e desvendar a origem de perigosos recalques.

COELHO (1986, p.12), relata a respeito da história que:

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[...] A história aquieta, serena, prende a atenção, informa, socializa, educa.” () pensando nisto podemos entender que a história contada envolve muitos sentimentos que mexem com os seus ouvintes, por isso não é neutra, pois ao ouvir ela está interferindo e influenciando na pessoa que a ouve. (COELHO, 1986, p.12).

Sob este assunto, BETTELHEIM (1985, p.74), afirma que

a estória abre visões gloriosas que permitem à criança vencer sentimentos momentâneos de absoluta desesperança. De forma a acreditar na estória e fazer da visão otimista dela uma parte da sua experiência do mundo, a criança necessita ouvi-la muitas vezes.

BETTELHEIM afirma ainda que:

Escutando repetidamente um conto de fadas e sendo dado tempo e oportunidade para demorar-se nele, uma criança é capaz de aproveitar integralmente o que a estória tem a lhe oferecer com respeito à compreensão de si mesma e de sua experiência do mundo. Só então as associações livres da criança com a estória fornecem - lhe o significado mais pessoal, e assim ajudam na a lidar com problemas que a oprimem. (1985, p.74).

Segundo SANDRONI (1998, p.36), as opções da narrativa

são contadas histórias por adultos, ou pelas próprias crianças, utilizando-se os materiais mais variados, dependendo da criatividade do contador ou de seu relacionamento com o público infantil.

O narrador pode se apropriar de todos estes recursos, para melhor contar

uma história, mas dentre todos esses recursos, a narrativa ainda é a que mais

trabalha e estimula a imaginação e a criatividade.

E ainda sobre a organização de contar história, o contador tem o objetivo de

internalizar a historia com sua realidade de vida, conforme indicam

SANDRONI e MACHADO (1998, p.15):

A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real. Histórias que começam com “era uma vez” e terminam com “viveram felizes para sempre” permitem-lhe pensar sobre coisas que podiam ser assustadoras, mas não são, porque ela já sabe de antemão que tudo vai acabar bem.

TAHAN (1957, p.126), relata que cada história pode se desenvolver uma

apresentação diferenciada dando riqueza e tornando esta mais viva, mais rica e

interessante, podendo de forma criativa cativar a criança já no primeiro contato

chamando sua atenção.

Para TAHAN (1957, p.126), a apresentação da história pode ser feita de

várias formas, de acordo com os artifícios ou recursos empregados pelo narrador.

Assim as histórias não têm um único jeito para se narrar, mas pode e deve ser

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contada utilizando vários recursos e artifícios para que chame mais a atenção de

seu expectador.

2.3 - O PAPEL DO CONTADOR DE HISTÓRIA

Para COELHO (2001, p.9) “a arte de contar histórias possui segredos e

técnicas, depende de certa tendência inata, mas que pode ser desenvolvida,

cultivada.” O contador de histórias precisa estar consciente que a história é a mais

importante, pois ele é apenas o transmissor, desta forma é necessário buscar

conhecimento e se preparar para que a história chegue da melhor forma para a

criança, por isso o contador deve estar preparado e buscar segurança que é

adquirida na certeza que conhece a história.

COELHO (2001, p. 9), afirma que conhecer a história, ter domínio da técnica

traz naturalidade e segurança para quem conta. Para que isso aconteça o contador

vai escolher a história que mais mexe com ele, é como se o conto escolhesse o

contador, assim automaticamente o contador teria mais apropriação na hora da

contação da história.

Segundo SIMONSEN (ANO, PÁGINA) “é preciso ter tempo para sonhar os

contos, isto é, ruminá-los interiormente, mas também é preciso ter a oportunidade de

praticá-los, senão podem ser esquecidos.”

Para SIMONSEN (1987, p.29), o que o autor está afirmando é que o

contador deve se preparar. Mesmo estando preparado não deve significar ser

saliente, pois é a historia que deve ser destacada para que haja interação com a

criança ouvinte. Segundo SIMONSEN (1987, p 28) “é preciso ter tempo para sonhar

os contos, isto é, ruminá-los interiormente, mas também é preciso ter a oportunidade

de praticá-los, senão podem ser esquecidos.”

Para SIMONSEN (1987, p. 29), o que o autor está afirmando é que o

contador deve se preparar. Mesmo estando preparado não deve significar ser

saliente, pois é a historia que deve ser destacada para que haja interação com a

criança ouvinte.

Sobre interferir na apresentação, COELHO (2001), garante:

Por isso - e aí vai mais um segredo – o narrador deve estar consciente de que importante é a história, ele apenas conta o que aconteceu, emprestando vivacidade narrativa, cuidando de escolher bem o texto e

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recriando – na linguagem oral, sem as limitações impostas pela escrita. A história é que sugere o melhor recurso de apresentação, sugere, sugere inclusive as interferências feitas por quem à conta. (p.11).

COELHO (1986, p.139), coloca ainda que dentro desse processo inovador, a

criança é descoberta como um ser que precisava de cuidados específicos para a

sua formação humanística, cívica, espiritual, ética e intelectual. E os novos

conceitos de Vida, Educação e Cultura abrem caminhos para os novos e ainda

tateantes procedimentos na área pedagógica e na literária. Pode-se dizer que é

nesse momento que a criança entra com um valor a ser levado em consideração no

processo social e no contexto humano. Nos rastros dessa descoberta da criança

surge também a preocupação com a literatura que lhe serviria para a leitura, isto

é,para a sua informação sobre os mais diferentes conhecimentos e para a

formação de sua mente e personalidade

ABRAMOVICH (1995, p. 23), o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o

musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imagiar, o brincar, o ver o livro, o

escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode

nascer dum texto

Segundo CRAIDY & KAERCHER (2001, p.81), a partir dos contos, das

histórias, lendas, parlendas e da motivação do professor, a criança tem a

oportunidade de exercitar a imaginação, criando imagens a partir do seu contexto

social. O ambiente narrado na história, às cores, os cheiros, os objetos, os sons, os

personagens ganham proximidade com os fatos vivenciados no cotidiano vivido

ou imaginado pelas crianças.

O ato de ouvir e contar histórias está, quase sempre, presente nas nossas vidas: desde que nascemos, aprendemos por meios das experiências concretas das quais participamos, mas também através daquelas experiências das quais tomamos conhecimento através do que os outros contam. Todos temos necessidade de contar aquilo que vivenciamos, sentimos, pensamos e sonhamos. Dessa necessidade humana surgiu a literatura: do desejo de ouvir e contar para através dessa prática, compartilhar. (CRAIDY e KAERCHER, 2001, p.81).

Segundo CRAIDY e KAERCHER (2001, p.81), recomenda-se inicialmente

propiciar às crianças o contato concreto com o livro e com o ato de ouvir e contar

história de uma forma prazerosa e agradável desde muito cedo. Num segundo

momento é possível trabalhar com a história, com as palavras ali presentes, pois

nesse momento a criança já estará sendo introduzida no mundo da escrita e a

história para ela terá outro sentido.

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A literatura é arte. Arte que se utiliza da palavra como meio de expressão para, de algum modo, dar sentido a nossa existência. Se nós na nossa prática cotidiana, deixarmos um espaço para que essa forma de manifestação artística nos conquiste seremos, com certeza, mais plenos de sentidos, mais enriquecidos e felizes. (CRAIDY e KAERCHER, 2001, p.81).

SERRA (1998, p. 93) defende que “o principal instrumento para que essa

interação de pessoas, de experiências, de informações e de ficção aconteça é a

palavra que, quando escrita, ganha força para multiplicar-se e perpetuar-se.” A

literatura infantil é provocadora de sentidos e significados, pois envolve ver, sentir,

ouvir, ler de maneira ampla, tornando-se um convite à imaginação.

CAVALCANTE (2002, p. 25), ressalta, que o professor para ser um bom

contador de histórias, em primeiro lugar tem que gostar de ler, afinal de contas ele

será um exemplo que pode ser imitado pelas crianças.

Assim CAVALCANTE (2002, p. 25), afirma que a melhor técnica para narrar

histórias de maneira sedutora é ser um bom contador, absolutamente apaixonado

pelo mundo do faz de conta. É importante, também, que o professor busque

atualizar-se e esteja atento aos cursos oferecidos pelos municípios e instituições

comprometidas com a educação, a fim de ficar cada vez mais qualificado para

desenvolver um bom trabalho didático junto às crianças e as escolas de educação

infantil.

CAVALCANTE (2002, p. 25), coloca ainda que ao contar uma história ele

deve assumir uma postura toda especial, um tom de voz bem adequado

suave e convidativo, nem alto nem baixo demais se transformando assim em

um intermédio que transborde alegria fazendo com que os personagens criem vida,

para que as crianças percebam isso e sejam atraídas pela leitura. Em seguida,

organizar um espaço apropriado e confortável, onde todos se sintam à vontade.

Para isso, pode-se utilizar além do livro, fantoche, filme, peças de teatro produzidas

pelas próprias crianças, músicas, revistas e álbum seriado, o que a criatividade

permitir, desde que seja bem planejado e ensaiado.

ABRAMOVICH (1993, p. 18), mas para contar histórias sem livro o professor

deve procurar utilizar algumas técnicas, gestos, tom de voz, posição corporal, além

de ter o conhecimento da história em seus mínimos detalhes, para que a narrativa

transcorra sem interrupções e com muita emoção. É a emoção, passada pelo

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professor através dos gestos e, principalmente pela voz que seduz as crianças para

o mundo apresentado na narrativa.

ABRAMOVICH (1993, p. 18), sugere que:

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte.

ABRAMOVICH (1995, p. 23), o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o

musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imagiar,o brincar, o ver o livro, o

escrever, o querer ouvir de novo ( a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode

nascer dum texto!

De acordo com ZILBERMANN (1987, p. 17), a criança passa a deter um

novo papel na sociedade, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o

brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a

pedagogia ou a pediatria).

ZILBERMAN (2003, p. 44), a afirmar que a literatura infantil está no centro

do processo de transformações que vem passando a sociedade e têm vínculos

estreitos com a escola, o que, levou a literatura infantil é primeiramente um problema

pedagógico, e não literário. Apesar de suas vinculações pedagógicas a literatura

infantil pode oferecer à criança, desde que devidamente cuidada, a percepção de

aspectos literários e artísticos que desenvolvem a sensibilidade do leitor infantil e

sua imaginação.

ABRAMOVICH (1995 p. 17), uma história deve ser contada emocionalmente

e não simplesmente apresentada em seu enredo. Uma boa história é uma obra

aberta, que permite muitas leituras, muitos caminhos, muitas saídas. Contar uma

história é fazer a criança sentir-se identificada com os personagens. É trazer todo o

enredo à presença do ouvinte e fazer com que ele se incorpore à trama da história,

como parte dela.

É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... ( ABRAMOVICH, 1995, p. 17).

De acordo com BETTELHEIM (2004, p.20):

Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em

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tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança.

De acordo com FARIA (2009, p;21), todo livro oferece ao leitor uma

complexidade maior ou menor para destrinchar; e o leitor é também portador de

uma complexidade mais ou menos grande no ato da leitura. Se a complexidade do

livro é menor do que a dor leitor, este se aborrecerá. Ao contrário, se o livro é muito

complexo para a complexidade do leitor, este só utilizará certos aspectos, ou não

chegará a entra no livro.

Segundo VIGOTSKY (1992, p.128), caminham juntos:

a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.". Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: "afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece.

Para RANGEL (2005, p. 46), os professores têm árduas tarefas de

ensinar seus alunos a ler, escrever e interpretar. È aqui que fica bem visível a

significância que a escola exerce na alfabetização de seus alunos e ela se vale de

inúmeras metodologias para assim desempenhar seu papel. Porém há grandes

questionamentos da qualidade com que isso é transmitido.

Segundo AGUIAR (2006, p. 258), está em constante intercâmbio com a

sala de aula, faz com que o saber ultrapasse a palavra única do professor e seja

buscado pelo aluno na efervescência das idéias de vários autores, ao mesmo tempo

que é provocada pelas exigências da sala de aula, que cobra atualização e

dinamismo.

ZILBERMAN (2003, p. 44), a afirmar que a literatura infantil é

primeiramente um problema pedagógico, e não literário. Apesar de suas

vinculações pedagógicas a literatura infantil pode oferecer à criança, desde

que devidamente cuidada, a percepção de aspectos literários e artísticos que

desenvolvem a sensibilidade do leitor infantil e sua imaginação.

Para CARVALHO (1989, p.21), a criança é criativa e precisa de matéria-

prima sadia, e com beleza, para organizar seu “mundo mágico”, seu universo

possível, onde ela é dona absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando

tudo o que ela deseja. A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com

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riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a

terra agreste, que se aduba e enriquece, produz frutos sazonados.

Para OLIVEIRA (2005, p. 125), os livros infantis, além de proporcionarem

prazer, contribuem para o enriquecimento intelectual das crianças. Sendo esse

gênero objeto da cultura, a criança tem um encontro significativo de suas histórias

com o mundo imaginativo dela própria. A criança tem a capacidade de colocar seus

próprios significados nos textos que lê isso quando o adulto permite e não impõe os

seus próprios significados, visto estar em constante busca de uma utilidade que o

cerca.

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CONCLUSÃO

A literatura infantil é um processo desafiador e motivador, que transforma as

pessoas completamente, ajudando-a a ser mais responsável e crítica. É aí que entra

a função da escola, que é de desenvolver na criança o hábito pela leitura. O gosto

pelo faz de conta através da curiosidade e a imaginação, exemplo este que deve ser

dado tanto pelos professores quanto pelos pais.

A contação de histórias provoca na criança prazer, amor à beleza,

imaginação, poder de observação, amplia as experiências, gosto pelo artístico,

ajudando a estabelecer ligação entre fantasia e realidade.

As histórias enriquecem a experiência, a capacidade de dar sequencia lógica

aos fatos, sentido da ordem, esclarecimento do pensamento, a atenção, gosto

literário, ampliação do vocabulário, o estimulo e interesse pela leitura, a linguagem

oral e escrita, verbal e não-verbal.

Neste contexto, é que cada vez mais as escolas e os pais devem adotar a

literatura infantil para a educação das crianças, pois somente assim formarão

adultos competentes e responsáveis na formação de um mundo melhor.

Sendo assim a partir da pesquisa desenvolvida para fundamentaçao do

trabalho, podemos constatar através das teorias dos autores estudados, que o ato

de contar histórias, é sem dúvida, uma atividade que oportuniza ao aluno a

realização das tarefas de leitura e escrita com mais qualidade.E que é atraves do

livro infantil de qualidade tal como a prática planejada e aplicada de contação de

historias insere na criança ao conhecimento de mundo e sua capacidade de fazer

associações e inferências.

Tornando assim, necessario, adequado e de fundamental importancia que

toda escola tenha seu projeto de leitura, embasado, por questões que façam com

que haja a ampliação de capacidade de compreensão e interpretação de conteúdos.

O educador deve perceber a pertinência na temática, a proposta poética e a

construção da narrativa, tal como o cenário, dos personagens para aplicar a

contaçao de historia ou para a aplicação das atividades , seja na sala de aula, ou

mesmo na biblioteca escolar.

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Com tal análise, foi possível ver, através das teorias dos autores estudados

e das concepções das pessoas que colaboraram para esta investigação, que o ato

de contar histórias é, sem dúvida, uma atividade que oportuniza ao aluno a

realização das tarefas de leitura e escrita com mais qualidade.

Tendo este trabalho como objetivo primordial despertar na criança o

interesse pela leitura, sendo este o desejo de todos os pais. Porém, não sabem eles

que é a partir de uma contação de histórias poderá estimular seus filhos a apreciar

os estudos com olhos de interesse e não de sofrimento. É no contar uma história

que estimulará seus filhos a fantasiar, e trazer de alguma forma esta história para

sua realidade. E até mesmo um momento com a família.

Este foi o grande objetivo do trabalho, tentar de alguma forma ajudar

educadores a contar histórias, tarefa esta que não é nada fácil. Sabendo o que ler

como ler, e entender sua importância é a grande base da literatura.

Estimulando as crianças a imaginar, criar, envolver-se já é um grande passo

para sua carreira.

Acredito que a educação seja um espaço para descobertas obtidas através

da participação e colaboração ativa de cada criança com seus parceiros em todos os

momentos, possibilitando, assim, a construção de sujeitos autônomos e

cooperativos.

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