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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA
DEPENDENTE QUÍMICO E DIGNIDADE HUMANA
Autor: Edina Gonçalves Parise
Orientadora: Profa. Ma. Marina Silveira Lopes
Monografia apresentada à AJES - Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena, como requisito obrigatório para obtenção do título de especialista em Saúde Mental e Dependência Química.
JUINA/2013
AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA
BANCA EXAMINADORA
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(nome)
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(nome)
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Orientadora: Profa. Ma. Marina Silveira Lopes
AGRADECIMENTOS
Aos mestres que estiveram presentes nesta caminhada.
Aos amigos que incentivaram para mais esta conquista.
À família que compreendeu as ausências.
DEDICATÓRIA
A todos os doentes mentais.
A todas as famílias que entendem os seus doentes mentais.
Aos profissionais que usam o afeto para o bem de todos.
A todos que nunca desistem.
LISTA DE GRÁFICOS
RESUMO
Na sociedade atual apresentam-se muitos casos de dependentes químicos os quais por vezes não conseguem conquistar a dignidade humana. Sendo assim, faz-se importante a presença de um ouvinte para aquele que é dependente químico para que resgate sua dignidade junto a sociedade. Porém, não tem sido prioridade o investimento na formação de profissionais que sejam capazes de atender as pessoas que sejam dependentes químicos de forma que possam contribuir para que estas consigam resgatar sua dignidade social. Entendemos como elementos essenciais para a garantia da dignidade humana: a preservação da igualdade; o impedimento à degradação e coisificação da pessoa; a garantia de um patamar material para a subsistência do ser humano. Atualmente, tem-se a constatação de que com o passar das décadas o problema de uso de substâncias lícitas e ilícitas tomou uma proporção exorbitante causando agravos sociais, impedindo de terem uma vida com dignidade. Assim, apresenta-se a necessidade de alguém que possa auxiliar a família e o usuário a entenderem toda a situação e buscar viver de forma que possam ser felizes. A inclusão com a ajuda de um ouvinte é a possibilidade de superação do problema, garantindo o que está assegurado nas legislações.
Palavras-chave: Família, Dignidade Humana, Dependência Química.
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SUMÁRIO
INTRODUCÃO ......................................................................................................... 08.
CAPÍTULO I - TRANSTORNO MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA .................. 10
1.1- O QUE É UMA DROGA ................................................................................. 12
1.2- DROGAS LÍCITAS: ÁLCOOL E TABACO ...................................................... 15
CAPÍTULO II - DEPENDÊNCIA QUÍMICA E DIGNIDADE HUMANA ...................... 17
2.1- POLÍTICA NACIONAL ANTIDROGAS ............................................................ 19
CAPÍTULO III - DEPENDENTES QUÍMICOS NO CAPS – CENTRO DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL – JUINA/ MT .................................................................................23
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS..........................................................................................................37
ANEXOS....................................................................................................................39
8
INTRODUÇÃO
Na sociedade atual pode-se observar que as pessoas que apresentam
dependência química não têm conseguido viver com dignidade, pois as pessoas
com quem convivem nem sempre conseguem dar o apoio necessário; e,
principalmente porque não encontram profissionais que os possam orientar a
superar as dificuldades.
Ao longo de uma experiência profissional na área da saúde, percebe-se que
ouvir o dependente químico constitui um meio de auxiliá-lo na conquista da
dignidade humana. Além disso, pode favorecer um trabalho preventivo adequado
para equacionar possíveis lacunas deixadas durante o processo de construção da
identidade, compensando déficits atribuídos à falta de atenção das pessoas com
quem convive, característica evidente da sociedade contemporânea.
O principal objetivo é desenvolver estudo que contribua para a compreensão
e efetivação de ações que formem profissionais que auxiliem as pessoas que .sejam
dependentes químicos. Faz-se necessário verificar se as políticas públicas
consideram a importância dos profissionais que atendem aqueles que são
dependentes químicos. Percebendo a partir daí que as pessoas que convivem com
o dependente químico nem sempre tem informação suficiente e por isso não
conseguem dar o suporte necessário. Sendo assim, a intervenção de um profissional
capacitado, no momento apropriado, contribuiria para amenizar o problema
enfrentado.
A pesquisa foi de caráter científico qualitativo, sendo que seu
desenvolvimento se deu através de pesquisa bibliográfica documental e pela
observação. Os materiais utilizados foram as fontes bibliográficas e equipamentos
tecnológicos. Foi também realizada pesquisa de campo com dependentes químicos
que são pacientes no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – Juína- MT, no ano
de 2013 , a qual segue anexa, apoiada na teoria e na prática.
Este trabalho estrutura-se da seguinte forma, Capítulo I: Transtorno Mental e
Dependência Química, conceituando o que se entende por transtorno mental e
quando a pessoa é considerada dependente químico. O Capítulo II: Dependência
Química e Dignidade Humana, trata sobre a conquista da dignidade humana frente a
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família e sociedade. O Capítulo III: Dependentes Químicos no CAPS – Centro de
Atenção Psicossocial – Juína/ MT traz os resultados da pesquisa de campo
realizada junto a pessoas que são dependentes químicas, atendidas nas Unidades
de Saúde de Juína/ 2013.
Enfim, tem-se o intuito de contribuir com pais e profissionais interessados,
oferecendo uma nova ferramenta para auxiliar no processo de conquista da
dignidade humana, trazendo a atenção de um profissional formado sob um olhar
preventivo. Valer-se dessa ciência, que se utiliza da atenção para estudar a
complexidade humana, enxergando o indivíduo com uma visão global e,
considerando os aspectos corporais, cognitivos e sócioafetivos que interferem no
seu desenvolvimento, é devolver às pessoas a possibilidade de viverem com
dignidade.
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CAPÍTULO I
TRANSTORNO MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA
“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. OMS- Organização Mundial da Saúde- Constituição da Organização Mundial da Saúde, 2001)
A Constituição da Organização Mundial de Saúde estabelece a saúde como
direito fundamental do ser humano é “Gozar do melhor estado de saúde que é
possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem
distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social”.
(OMS- Organização Mundial da Saúde- Constituição da Organização Mundial da
Saúde, 2001). E coloca o governo como responsável pelas medidas que assegure
bem-estar a todos: “Os governos têm responsabilidade pela saúde dos seus povos,
a qual só pode ser assumida pelo estabelecimento de medidas sanitárias e sociais
adequadas”. (OMS- Organização Mundial da Saúde- Constituição da Organização
Mundial da Saúde, 2001).
O conceito de Direitos Humanos será compreendido da seguinte forma
Direitos fundamentais referem-se àqueles direitos do ser humano que são reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de um determinado Estado (caráter nacional). Diferem dos direitos humanos - com os quais são frequentemente confundidos - na medida em que os direitos humanos aspiram à validade universal, ou seja, são inerentes a todo ser humano como tal e a todos os povos em todos os tempos, sendo reconhecidos pelo Direito Internacional por meio de tratados e tendo, portanto, validade independentemente de sua positivação em uma determinada ordem constitucional (caráter supranacional). (SARLET, 2006, p. 35 e 36).
Assim, todo indivíduo estaria assegurado indiferente de apresentar uma
patologia física ou mental. Nas últimas décadas os casos de pessoas que
apresentam transtornos mentais têm aumentado significativamente.
Porém, não tem sido prioridade o investimento na formação de profissionais
que sejam capazes de atender as pessoas com transtorno mental e que por vezes
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acabam se tornando dependentes químicos de forma que possam contribuir para
que estas consigam resgatar sua dignidade social.
Baseado na Organização Mundial de Saúde – OMS - ONU, entendem-se
como transtorno mental
Transtornos Mentais e Comportamentais as condições caracterizadas por alterações mórbidas do modo de pensar e/ou do humor (emoções), e/ou por alterações mórbidas do comportamento associadas a angústia expressiva e/ou deterioração do funcionamento psíquico global. (BALLONE GJ, 2008, p.1)
Portanto, faz-se urgente a compreensão e efetivação de ações que formem
profissionais que auxiliem as pessoas que apresentam transtorno mental e que
sejam dependentes químicos, para que possam resgatar sua dignidade.
Kant foi o primeiro a reconhecer que ao homem não se pode atribuir valor (preço), devendo ser considerado como um fim em si mesmo e em função da sua autonomia enquanto ser racional. Para Kant, a dignidade é o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, não é passível de ser substituído por um equivalente. Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais: na medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível. Consequentemente, a dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática, e é por esse motivo que apenas os seres humanos revestem-se de dignidade. (QUEIROZ,2005,p.01) .
Desta forma, preceitua Ingo Wolfgang Sarlet ao conceituar a dignidade da
pessoa humana
[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.(SARLET, 2007, p.62)
Nesse contexto a família adquire uma importância fundamental. Segundo
Rocha (2012, p.57) “O desenvolvimento emocional do ser humano é um processo
dinâmico que começa antes do nascimento, porque tem a ver com o contexto
familiar em que a criança foi gerada, e dura até a morte.” Mais adiante também
[MS1] Comentário: Abrir a sigla
[MS2] Comentário: Faça citação indireta, tem muita citação por página. OK
[MS3] Comentário: Reescreva não introduz à citação
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afirma que o transtorno mental também pode ocorrer quando a pessoa não
consegue lidar com seus conflitos e conviver socialmente de forma satisfatória,
havendo assim o aumento do sofrimento. (ROCHA, 2012, p.87).”
Neste momento, o ser humano não conseguindo conquistar a confiança na
família, vai buscá-la na escola, nos amigos, nas drogas. Na vida, existem os
períodos de transição, ou críticos, nos quais o cuidado pode ser mais necessário.
Em se tratando de drogas, quando este cuidado não acontece na hora certa e forma
correta, a pessoa acaba se tornando um dependente químico.
Neste contexto entenderemos a dependência química é o impulso que leva a
pessoa a usar uma droga de forma contínua ou periódica para obter prazer. O
dependente caracteriza-se por não conseguir controlar o consumo de drogas, agindo
de forma impulsiva e repetitiva. (SILVEIRA,2003, p.14).
Neste momento faz-se necessário a intervenção de um profissional preparado
que possa auxiliar. Segundo Rocha (2012, p. 75) “[...] é aceitando que eles existem,
permitindo que eles apareçam e procurando compreendê-los que passamos a nos
conhecer e a viver melhor. [...] nós, que trabalhamos na área da saúde, [...]
precisamos compreender os sentimentos que nós provocamos neles e eles
provocam em nós.”
Como a pessoa se encontra numa situação estranha, de dependência, não
sabendo exatamente o que vai acontecer com ela, os procedimentos devem ser de
cuidado e orientação
Acolher e escutar são ações esperadas por parte de qualquer profissional da equipe, porém a enfermagem encontra-se em posição privilegiada, nesse sentido pelo fato de estar mais próxima do usuário (no contato íntimo do banho, no momento especial da alimentação, por exemplo) e permanecer por mais tempo perto dele (por exemplo, no momento em que a visita vai embora , ou em que a visita não veio, ou na noite de insônia). (ROCHA, 2012, p. 83)
Porém, é um profissional que não está preparado para dar um atendimento
especializado e os encaminhamentos que cada situação exigir.
[MS4] Comentário: Ainda está direta.
[MS5] Comentário: Muita citação direta faça indireta
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1.1 . O QUE É UMA DROGA
Considerando os vários conceitos do que vem a ser uma droga,
consideraremos aqui a seguinte definição:
Droga é qualquer ingrediente ou substância química, natural ou sintética que provoca alterações físicas e psíquicas numa pessoa. As drogas naturais são obtidas em plantas e em minerais, as drogas químicas são obtidas em farmácias e drogas sintéticas que são fabricadas em laboratórios. (BRASIL ESCOLA)
As drogas circulam pelo corpo e entram na corrente sanguínea causando
dependência, problemas circulatórios, cerebrais e respiratórios, compulsão e vários
outros fatores que, iguais a estes citados, podem levar à morte. Hoje, os principais
usuários de drogas são adolescentes de 16 a 18 anos que começam a usá-las por
curiosidade, influências, pelo prazer que elas proporcionam, pelo fácil acesso e pelo
desejo de que elas resolvam seus problemas.
Alguns dependentes químicos conseguem se recuperar sozinhos, apenas
pelo fato de sofrer algum prejuízo muito grande como: financeiro, perder
relacionamento, passar por um suposto divórcio, problemas de saúde, perder o
emprego, ter problemas com a justiça, ter o conhecimento de morte de algum outro
dependente, acidentes.
Porém, na maioria dos casos de dependência química, o indivíduo necessita
de algum tipo de tratamento com acompanhamento de pessoas especializadas no
assunto, ou até mesmo necessitando de um tratamento em regime interno.
Auxiliar o dependente químico implica em tratá-lo como um ser humano
resultado de um contexto único; e, por isso com tratamento próprio de cada um.
“Não são as explicações que mais ajudam a pessoa, mas sim as experiências de
aproximação com alguém que a acolhe. (ROCHA, 2012, p. 113) Ou seja, o principal
objetivo não é acabar com a crise de qualquer maneira, mas cuidar do usuário.
De acordo com ZEMEL (2001, p.60) “Quando aceitamos que o problema de
uso e consumo de drogas é uma questão biopsicossocial já estamos aceitando que
a família se inclui neste processo.” As famílias muitas vezes se colocam fora do
[MS6] Comentário: NEM PENSAR ESSA FONTE! PROCURE DE SITE ESPECÍFICOS
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problema entendendo que o social está representado pela instituição escolar, pela
polícia ou pelo grupo de traficantes. Mas é preciso que elas saibam que são elas as
principais representantes deste “social”.
A disponibilidade dos membros será um fator relevante para um bom encaminhamento, no entanto nem sempre isso é possível. Por isso, algumas intervenções que antecedem este processo são favoráveis, como atendimentos individuais às esposas ou pais e/ou intervenções de orientação e suporte. É através do atendimento familiar que os membros passam a receber atenção não só para suas angústias, como também começam a receber informações fundamentais para a melhor compreensão do quadro de dependência química, e conseqüentemente melhora no relacionamento familiar. Uma avaliação familiar pode ser um grande auxiliar no planejamento do tratamento; fornece dados que corroboram com o diagnóstico do dependente químico, bem como funciona como forte indicador do tipo de intervenção mais adequado tanto à família quanto ao dependente. (FIGLIE, 2004, p. 4).
Segundo LEITE (1999, p.30) “Dificilmente um indivíduo procura tratamento
por estar convencido de que está usando droga ou álcool demasiadamente. As
principais razões para a procura de tratamento são geralmente problemas e
prejuízos que se acumulam ao longo da vida de consumo do paciente.” Dentre as
principais causa de busca de serviço de assistência podemos relacionar as
complicações médicas, por exemplo: convulsões, perda de emprego, separação
conjugal, imposição familiar, sentença judicial, financeira. A adolescência é vista
como uma fase de transição entre a fase inicial a infância, para a fase permanente, a
adulta podendo conduzir o adolescente a ser um dependente químico.
“Tive pouco contato com meu pai. Em meu primeiro contato esperava que ele
me reconhecesse como filho, mas tudo foi muito estranho, mesmo sabendo que eu
era seu filho me maltratou e não quis saber de mim. Nossa fiquei numa revolta.”
(ENTREVISTADO A).
Figlie, Bordin e Laranjeira (2004) falam que as transformações sofridas, em
geral, vêm permeadas de dúvidas, instabilidade emocional e a famosa crise da
adolescência e de identidade; a droga entra nesse contexto como uma resposta
possível para amenizá-las. Além de questões internas, que embora tempestuosas,
são vistas como normais no período da adolescência, pode-se ainda dizer que há
influências de fatores externos: família; amigos; financeiro; profissional e outros
meios em que este convive.
[MS7] Comentário: Faça indireta
[MS8] Comentário: Faça indireta
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A seguir serão abordadas algumas drogas lícitas, especificamente o álcool e
o tabaco.
1.2 DROGAS LÍCITAS: ÁLCOOL E TABACO
Conforme Ribeiro e Laranjeiras (2012), o uso de drogas lícitas como a bebida
alcoólica e o tabaco normalmente antecedem o uso de outras substâncias
psicoativas, geralmente sendo a maconha a droga eleita na segunda fase de
experimentação. Segundo Rocha (2012, p.155): “Depois de algum tempo de uso, o
cigarro é mais consumido pela dor que provoca sua falta do que pelo prazer de seus
efeitos.”
O entrevistado B quando seu pai o maltratou, ele ficou muito revoltado e
disse: “sai pra rua e bebi meu primeiro gole”. “Sempre que encontrava meus amigos,
voltava a beber e fazer uso da maconha, mas minha mãe não sabe.”
De acordo com Silber (1998, p.14) “a droga pode ser utilizada pelo
adolescente como uma solução para os problemas gerados por uma cultura em
crise”. Pode-se supor que eles buscam nas drogas respostas para os conflitos que
estão vivendo no meio que os rodeia: família, escola e grupos afins. Portanto, a
adolescência consiste em uma fase turbulenta, mas essencial à formação de um
indivíduo.
O uso de uma determinada substância, como por exemplo, a maconha,
acalmará essa turbulência por um lado, causando, entretanto, consequências na
fase adulta. A necessidade de medidas preventivas, com intuito de impedir que as
drogas afetem esta fase da vida, devem se pautar na compreensão dessa clientela a
fim de auxiliá-la a atravessar essa fase complexa
“Minha mãe não entendeu quando me viu naquela situação e chorou quando
me viu bêbado e drogado, disse para eu não fazer mais aquilo”. ENTREVISTADO C.
O sofrimento causado pelo uso dessas substâncias psicoativas afeta além do
usuário, as pessoas mais próximas a ele e a sua família. Wright e Chisman (2004,
p.265) ressaltam que “o fenômeno das drogas constitui um problema social com
impactos diretos na saúde do individuo, família e sociedade”.
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Assim como o tema das drogas é complexo, a convivência familiar também é.
Ela desempenha um papel fundamental na formação do indivíduo e situa-se como a
primeira unidade de promoção do ser humano e prevenção do uso de drogas.
A família tem uma enorme responsabilidade na formação do indivíduo e por
isso, ao menor sinal de problemas, o sistema de saúde deve tentar intervir e de
alguma maneira apoiá-la, fortalecendo-a para que consiga resistir a problema, tais
como dependência química.
A literatura de enfermagem também vem fazendo referências ao papel da família como cuidadora em situaçoes de saúde e doença. Neste sentido encontramos o conceito de família como unidade de cuidado (de seus membros), cabendo aos profissionais apoia-la, fortalecê-la e orientá-la quando ela se encontrar fragilizada ( ELSEN, 2004, p.20).
Porém, vale ressaltar a valorização da família como meio de prevenção e
combate ao uso indevido de drogas. Portanto, confirma-se a importância do
ambiente favorável e do afeto para que o processo da cura possa acontecer.
Portanto, as pessoas que tem uma convivência próxima exercem grande
influência sobre a formação de valores do ser humano, conduzindo-o a atitudes
saudáveis e benéficas.
8
[MS9] Comentário: Indireta
17
CAPÍTULO II
DEPENDÊNCIA QUÍMICA E DIGNIDADE HUMANA
Para uma melhor compreensão vale relembrar o que se entende por
dependência química. Segundo MALBERGIER (2005), a dependência química é
considerada uma síndrome por apresentar características como perda do controle
do uso de determinada substância psicoativa. Os agentes psicoativos atuam sobre o
sistema nervoso central, que, quando estimulado, provoca sintomas psíquicos e
estimula o consumo repetitivo dessa substância.
Quanto ao conceito de dignidade humana, este tem causado várias
controvérsias durante a história. E, ainda mais quando se trata de pessoa que
apresenta transtorno mental.
Kant sendo o precursor nesta conceituação fundamenta os estudos
subsequentes. Assim, Sarlet (2010, p.70) entende por dignidade da pessoa humana:
A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimos para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
Soares (2011, p.63) defende os seguintes elementos como essenciais para a
garantia da dignidade humana: “a preservação da igualdade; o impedimento à
degradação e coisificação da pessoa; a garantia de um patamar material para a
subsistência do ser humano.”
Atualmente, tem-se a constatação de que com o passar das décadas o
problema de uso de substâncias lícitas e ilícitas tomou uma proporção exorbitante
causando agravos sociais, impedindo de terem uma vida com dignidade. Sarlet
(2010, p.42) coloca que a dignidade da pessoa apenas estará assegurada “quando
for possível uma existência que permita a plena fruição dos direitos fundamentais,
[MS10] Comentário: Faça indireta
18
de modo especial quando seja possível o pleno desenvolvimento da personalidade.”
Assim, apresenta-se a necessidade de alguém que possa auxiliar a família e
o usuário a entenderem toda a situação e buscar viver de forma que possam ser
felizes. Segundo Martins (2009, p.473) “entende-se por família a unidade
mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja economia é mantida pela contribuição
de seus integrantes.” A inclusão com a ajuda de um ouvinte é a possibilidade de
superação do problema, garantindo o que está assegurado nas legislações.
Conforme consta na Lei 8.742/93, art. 1º:
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.
Portanto, como garante a própria Constituição Federal de 1988 art.123 “a
assistência social será prestada a quem dela necessitar.” Sendo assim, faz-se
necessário resgatar a importância do ouvinte para aquele que é dependente químico
para que resgate sua dignidade junto à sociedade. Melmann (2002, p.91) afirma que
quando alguém da família procura um profissional da saúde “para tratar de seu
parente enfermo, surge a oportunidade de que este profissional possa acolher o
sofrimento não somente da pessoa adoecida, mas também do familiar que o
acompanha.”
Para desenvolver uma assistência eficaz, os membros de equipe de
enfermagem devem possuir algumas características como: gostar da profissão e da
especialidade, ter maturidade emocional, ser sensível às necessidades do outro, ser
capaz de desenvolver sentimentos empáticos. A enfermagem no atendimento aos
pacientes dependentes químicos e portadores de transtorno mental, hoje, torna- se
imprescindível para que o tratamento torne- se eficaz. A assistência de enfermagem
a pacientes dependentes químicos e suas famílias atua como elo entre o tratamento,
a família e a reintegração social deste dependente (TAYLOR, 1999, p.25).
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2.1- POLÍTICA NACIONAL ANTIDROGAS
De acordo com a Secretaria Nacional Antidrogas (2006), até meados de 1998
não existia, no Brasil, uma política pública na área de diminuição e de demanda da
oferta de drogas. Em junho de 1998, em Nova York, durante a XX Assembleia Geral
Especial das Nações Unidas, foram discutidos os princípios da redução da demanda
de drogas e da responsabilidade compartilhada. Em consequência a essa
Assembleia, criou-se no Brasil, neste mesmo ano, a Secretaria Nacional Antidrogas
(SENAD), vinculada diretamente ao Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República. Já em dezembro do mesmo ano, realizou-se, em Brasília,
o I Fórum Nacional Antidrogas, para que se elaborasse a Política Nacional
Antidrogas (PNAD). Somente em dezembro de 2001, três anos depois, quando já
ocorria o II Fórum Nacional Antidrogas, elaborou-se formalmente a PNAD.
Ocorreu então, em 26 de agosto de 2002, por meio do Decreto n 4.345, a
instituição da Política Nacional Antidrogas.
A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), é o órgão responsável por
articular, coordenar e integrar as ações inter-setoriais do governo na área de
redução da demanda de drogas. Tem por objetivo também, além de implementar,
acompanhar e fortalecer a Política de drogas no país, desenvolver um processo para
realinhamento da Política vigente, tendo com base dados epidemiológicos
atualizados, cientificamente fundamentados e na ampla participação social (SENAD,
2006).
Como resultado do processo de realinhamento da PNAD, a partir do Fórum
Nacional sobre Drogas (2004), o prefixo “anti” da Política Nacional Antidrogas
foi substituído pelo termo “sobre drogas”, hoje, de acordo com os novos
estudos, com o posicionamento do governo e com a nova demanda popular,
manifestada ao longo do processo. A política passou a ser denominada
Política Nacional sobre Drogas. (SENAD, 2006, p. 33).
A legislação brasileira sobre drogas foi atualizada pelo Congresso Nacional e
sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 23 de agosto de 2006. O
[MS11] Comentário: Faça indireta.
20
projeto de Lei (PL) n 115/02 do Senado tornou-se a lei n 11.343/06 e substituiu as
leis 6.368/76 e 10.409/02 até então vigentes no país. Esta nova lei coloca o Brasil
em destaque no cenário internacional no que diz respeito a aspectos preventivos,
atenção, reintegração social do usuário e dependente de drogas, e torna as penas
mais rígidas sobre tráfico de substâncias químicas ilícitas (SENAD, 2006).
A Lei 11.345/06 instituiu no Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre
Drogas a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades
preventivas no tratamento e reintegração social dos usuários dependentes de
drogas, bem como as de repressão ao tráfico, estando em perfeito acordo com a
Política Nacional Sobre Drogas e com os compromissos internacionais do país
(SENAD, 2006).
Segundo Pinho (2005, p.11) “nosso posicionamento diante de um
determinado fato ou situação e o direcionamento de nossa intervenção em relação a
ele dependem das idéias e concepções teóricas que fundamentam nossa prática.”
Estabelecer parcerias e interlocução com profissionais da área clínica é muito
importante, no entanto, a atuação de cada área deve estar bem definida.
Accioly (2008, p.63) coloca que ”as causas exatas dos transtornos mentais
são desconhecidas, mas um crescimento explosivo da investigação trouxe-nos mais
perto das respostas. Podemos dizer que determinadas disposições herdadas
interagem com fatores ambientais desencadeantes.” Já Balonne (2001, p.41)
entende como transtornos mentais, as condições clinicamente significativas
caracterizadas por alterações do modo de pensar e de humor (emoções) ou por
comportamentos associados com angustia pessoal e/ou deterioração do
funcionamento.
A partir destas considerações, é importante olhar para além da sua
incapacidade e considerar os demais fatores intervenientes que interferem no
desempenho de suas tarefas e papéis cotidianos. Posto que, além do grau de
comprometimento nas capacidades individuais, há que se avaliar também as
condições socioeconômicas e culturais, as oportunidades de acesso a estímulos e
recursos, que são igualmente contributivos para o desempenho funcional do sujeito.
Portanto, tem-se que nem sempre que haja transtorno mental
necessariamente estará associada à dependência. É possível ter um transtorno
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mental e ainda assim conquistar a autonomia e independência, uma vez que a
participação social, o desempenho de tarefas, envolve muito mais que mobilidade,
movimentos coordenados e habilidades funcionais.
A Constituição Federal assegura, no Artigo 5º, o princípio de igualdade na
República Federativa do Brasil, dispondo que: “Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade [...]” (BRASIL, 1988, p.2).
Assim, a dignidade não pode ser entendida apenas como algo que está
assegurado legalmente e por isso irrenunciável, porque se assim for pensada a
dificuldade para garanti-la será muito maior, pois além de ser um direito implica em
compreensão, atenção, afeto que são construídos por uma interação de qualidade.
Sarlet (2010, p.157) afirma:
“Ainda no que se diz com a proteção da dignidade, percebe-se a existência de consenso no sentido de que a consideração e o respeito pela pessoa como tal (inclusive antes mesmo do nascimento e independentemente de suas condições físicas ou mentais) constituem simultaneamente tarefa e limites intransponíveis para a ordem jurídica”.
A conexão da dignidade da pessoa humana com a exclusão social não se
limita à privação de alguns direitos, mas se manifesta igualmente por meio do
processo de humilhação; e, consequente perda da autoestima. Entende-se,
portanto, que as condições de vida e os requisitos para uma vida com dignidade
variam em cada sociedade e em cada época e precisam ser construídos.
Sendo assim, algumas ideias em relação aos dependentes químicos
deveriam ser desmistificadas. Entre elas está a de que as pessoas que são
dependentes químicas nunca irão recuperar a saúde. E, que deveriam ser excluídas
da família, da comunidade e da sociedade, porém, na verdade deveriam ser tratadas
adequadamente e inseridas na comunidade, sem medo ou exclusão; somente
assim, dentro das suas limitações, poderão ter uma vida normal, feliz e produtiva.
Atualmente, existe um grande acúmulo de evidências que demonstram a eficácia das intervenções familiares em promover melhora do quadro clínico, diminuir ou atenuar recaídas e diminuir o número de internações
[MS12] Comentário: Indireta.
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psiquiátricas nos pacientes com transtorno mental severo. As pesquisas epidemiológicas e as experiências terapêuticas apontam para a necessidade de desenvolver estratégias de envolvimento da família. (MELMANN, 2002, p. 89)
A dependência química pode afetar qualquer pessoa, independentemente da
sua idade, emprego ou habilitações escolares; trata-se de uma doença e não de
uma fraqueza de caráter. Pode causar mais sofrimento e incapacidade que qualquer
outro tipo de problema de saúde. Por isso, a importância do ouvinte para aquele que
apresenta transtorno mental e se torna um dependente químico para que resgate
sua dignidade junto a sociedade.
A dignidade da pessoa humana está escrita no Artigo 1º, II da Constituição
Federal como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, tida como
valor supremo: “Ela é considerada um atributo inerente a todo ser humano, uma
qualidade própria e não um direito conferido exclusivamente pelo ordenamento
jurídico.” Ou seja, a dignidade do ser humano deve ser incondicional, não apenas
um direito assegurado pela legislação.
No entanto, para que de fato as pessoas que tem certas limitações tenham
seus direitos assegurados, faz-se necessário colocar em prática as legislações,
satisfazendo os anseios e respeitando os direitos fundamentais – direito a uma vida
digna.
[MS13] Comentário: O que são essas aspas?
23
CAPÍTULO III
DEPENDENTES QUÍMICOS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL –
CAPS JUINA/ MT
Considerando toda a fundamentação teórica percebe-se que estamos em um
cenário em que os dependentes químicos estão cada vez mais presentes em nossa
realidade; e, por isso a legislação tem buscado estratégias para assegurar direitos
diante de uma sociedade em que a garantia de uma vida digna precisa ser
duramente conquistada.
Apesar desse quadro promissor, inúmeros desafios se apresentam por parte
da sociedade, mas também pelos próprios usuários.
A partir dessa realidade faz-se necessário considerar o resultado da pesquisa
realizada com dependentes químicos que são pacientes no CAPS – Centro de
Atenção Psicossocial – Juína- MT por meio dos gráficos a seguir:
Gráfico 1: Idade dos pesquisados
Fonte: PARISI, E. 2013
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O Gráfico 1 demonstra que a dependência química não se apresenta em uma
idade específica. Dos entrevistados 25% são adolescentes e jovens, 55% são
jovens, 20% são adultos. No entanto, a idade de 20 e 30 anos é a fase com maior
índice o que evidencia ser uma fase onde se busca encaminhamentos e que neste
caso caminharam para o lado das drogas.
Gráfico 2: Há quanto tempo é dependente químico
Fonte: PARISI, E. 2013
O Gráfico 2 deixa registrado o tempo de uso de drogas por parte dos
entrevistados, sendo que 60% deles são usuários a mais de 1 ano, 10% a mais de 5
anos e 30% a mais de 10 anos. Diante das entrevistas aqueles que usam a mais de
um ano são em sua maioria os adolescentes e jovens e aqueles que são usuários há
mais de 5 ou 10 anos são alguns dos jovens e os adultos. Percebe-se com isso que
a tendência é de se manter no vício, sem perspectiva de deixar de ser usuário.
No Gráfico 3 tem-se a demonstração da primeira droga consumida pelos
entrevistados: 30% o álcool, 25% o cigarro, 10% a maconha, 5% o crack, 30%
outras. Evidencia-se com isso que a maioria se torna usuário de drogas utilizando as
chamadas drogas lícitas, liberadas legalmente.
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Em contrapartida, tem-se porém que muitos iniciam seu vício também com
drogas ilícitas, aquelas que são consideradas ilegais e com grande poder de viciar
com muita rapidez.
Gráfico 3: A primeira droga que usou
Fonte: PARISI, E. 2013
Quando perguntado aos entrevistados sobre a droga que usam atualmente,
ver gráfico 4, 30% respondeu ser a maconha, 5% o crack, 5% medicamentos e 60%
responderam outras, citando entre elas o álcool, o cigarro, mas também cocaína,
heroína e inalantes.
Gráfico 4 : Qual droga usa atualmente
Fonte: PARISI, E. 2013
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Muitos deles disseram que usam aquela a qual tiverem mais fácil acesso,
nem que tenham que usar mais vezes para satisfazer o organismo. Percebe-se
assim, que a busca por um produto que lhe traga satisfação, nem que seja
momentânea está fora do controle pessoal de cada indivíduo.
O Gráfico 5 apresenta o resultados dos entrevistados quanto ao
conhecimento da família de eles serem usuários de drogas; assim, 60% respondeu
que a família sabe que é dependente químico e 40% respondeu que a família não
tem conhecimento.
Gráfico 5: A família sabe que é dependente químico
Fonte: PARISI, E. 2013
Dentre os 60% a maioria deles são adolescentes e jovens. Enquanto que um
deles também acrescentou que além da família a sociedade também sabe, portanto,
não sendo segredo para ninguém sente-se livre e aberto para usar tranquilamente,
sem restrições. Daqueles que a família não tem conhecimento alguns se manifestam
até envergonhados diante da situação que se encontram, porém a maioria deixa
evidente que pouco se importa se ficarem sabendo.
O Gráfico 6 apresenta em que o usuário confia para falar sobre o assunto:
40% disse que confia nos amigos, 30% na família, 10% no médico, nenhum deles
27
diz confiar em psicóloga, 10% em outras pessoas e 10% diz não confiar em
ninguém.
Gráfico 6 : Confia em alguém para falar sobre o assunto
Fonte: PARISI, E. 2013
Constata-se diante disso que poucos são aqueles que confiam nos
profissionais da saúde que de fato poderiam ajudá-los a saírem do vício. Confiar nos
amigos talvez seja o caminho para compartilhar sem culpa o caminho que escolheu.
Alguns confiam na família, mas ainda de forma tímida, pois implica em mudar de
atitudes. E, ainda uma porcentagem considerável fala sobre as drogas com qualquer
outra pessoa ou então não confia em ninguém, o que os faz continuarem sozinhos
por uma vida que lhe traz apenas satisfação momentânea.
O Gráfico 7 demonstra, no entanto, em comparação ao gráfico 6, que vários
dos dependentes químicos já tiveram a oportunidade de sair do vício através do
apoio de um profissional da saúde: 15% psicólogo, 5% enfermeiro, 20% médico,
nenhum de assistente social, 30% outros profissionais e 30% disseram que não
encontrou nenhum profissional da saúde que tenha tentado tirá-lo do vício.
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Diante deste quadro percebe-se que muitos dos usuários poderiam ter
deixado de usar as drogas com ajuda profissional, porém nenhum dos entrevistados
conseguiu. Os que responderam que nunca tiveram apoio, disseram também que
não fazem questão de que isso aconteça.
Gráfico 7: Encontrou algum profissional da saúde que tivesse tentado tirar você do vício
Fonte: PARISI, E. 2013
O Gráfico 8 representa porém que 60% dos dependentes químicos
entrevistados afirma que se tivesse acompanhamento de um profissional da saúde
conseguiria sair do vício e apenas 40% disse que mesmo assim não conseguiria
largar o vício. Dentre os 60% alguns disseram que acreditam no tratamento, que
seria uma ajuda, mas que dependeria da vontade de cada um, sendo que parte
deles afirma realmente que não quer sair do vício. Enquanto que dentre os 40% tem
aqueles que disseram que não confiam em nenhum tratamento e que não tem
desejo nenhum de deixar as drogas.
Mas, também tem alguns que disseram que confiam no tratamento, mas
nenhum desejo em deixar de ser usuário. Também houve declarações de que já
sendo usuário há muito tempo não conseguiria deixar o vício, afirmando inclusiva
que se sentem bem assim.
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Em contrapartida também tem aquele que afirma que já tentou e não teve
êxito e que se sente culpado por isso e por algumas tragédias na família.
Gráfico 8: Se tivesse acompanhamento de profissional da saúde, conseguiria sair do vício
Fonte: PARISI, E. 2013
O ENTREVISTADO D concorda que já vem sendo acompanhado e faz um
desabafo: “Faço acompanhamento. É um lugar muito louco. Passam por crises
difíceis, mas é divertido.”
No Gráfico 9, 40% vê que a família teria estrutura e conhecimento para
auxiliá-los, porém 60% afirma que a família não teria conhecimento e nem estrutura
para lhes dar o auxílio que precisam.
Considerando esta realidade, em comparação aos gráficos 5, 6 e 7, constata-
se que os dependentes químicos entrevistados não encontram em pessoa alguma a
possibilidade de encontrar o apoio necessário para deixar do vício das drogas.
Como complemento do Gráfico 9, o Gráfico 10 comprova que para 50% dos
entrevistados a família é a maior dificuldade em sua vida, 15% disse ser a escola,
25% o trabalho, 5% os amigos e 5% disse que não encontra dificuldade nenhuma.
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Gráfico 9 : Sua família tem conhecimento e estrutura para auxiliar você
Fonte: PARISI, E. 2013
Portanto, comprova-se que as pessoas que seriam as mais próximas e que
seriam responsáveis pela construção de valores, a família, são para os dependentes
químicos o maior empecilho. Em segundo fica o trabalho com 25% que é de onde
cada pessoa garante o seu sobrevivência financeira; e, que para o dependente
químico acaba sendo um problema.
Gráfico 10 : Maiores dificuldades enfrentadas por ser dependente químico
Fonte: PARISI, E. 2013
31
Em seguida, com 15% a escola, que em busca do seu papel social acaba se
transformando num transtorno para o dependente químico. Mais uma vez aparecem
os amigos, 5%, como sendo aqueles que menos dificuldades trazem para o usuário
de drogas. . Os 5% que dizem que não encontram dificuldade nenhuma são aqueles
que pouco se importam com quem sabe e o que pensam sobre a questão de ser
dependente químico. Um deles afirma convictamente que a sua maior dificuldade é
consigo mesmo, porque tem muito medo de morrer, porém complementa a fala
dizendo que todos morrerão mesmo algum dia, então nenhum problema há nisso
Gráfico 11: Como se sente frente a sociedade sendo dependente químico
Fonte: PARISI, E. 2013
No Gráfico 11 os entrevistados foram questionados sobre como se sentem
frente à sociedade sendo dependente químico: 0% disse se sentir valorizado, 25%
se sente excluído, 25% reconhecido, 30% rejeitado, 5% envolvido e 15% disse não
sentir nada disso. Portanto, a desvalorização é evidente o que dificulta a vida de
qualquer ser humano e a conquista de novos objetivos. A exclusão e a rejeição foi o
que mais apareceu na resposta dos entrevistados, o que demonstra que são seres
humanos que ficam a mercê da sociedade. Os que responderam que não percebe
nenhum desses sentimentos são aqueles que pouco se importam com quem ou o
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que está a sua volta; e, também porque pensa que ninguém sabe que ele seja
dependente químico, por isso agem normalmente.
Entre a conversa com os dependentes químicos foi perguntado como
mantinham o seu vício. Além de dizerem que é através do trabalho, economias do
dinheiro que recebem dos pais, teve aqueles que falaram que são aposentados por
distúrbio mental e utilizam esse dinheiro para comprar o produto do vício. Alguns
disseram também que se drogam todos os dias e que conseguem ficar no máximo
três dias sem o produto. E, a maioria fala que quando usam a drogam passam por
vários dias na rua, sem noção do tempo ou do perigo. Quando resgatados da rua na
maioria das vezes não percebem e quando acordam, sem crise, estão amarrados. E
continuam dizendo que não pensam no futuro, que apenas vivem o presente, sem
compromisso. Portanto, a realidade dos dependentes químicos demonstra pouca
esperança, mas mesmo assim todos vão à busca de uma vida que lhe traga
realização de acordo com seus próprios princípios.
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CONCLUSÃO
O dependente químico é alvo de preocupação da sociedade brasileira, devido
ao aumento considerável do consumo de drogas lícitas e ilícitas nas últimas
décadas. No entanto, não há um entendimento por parte da maioria das pessoas,
principalmente da família, que ao se tornar dependente químico, dificilmente o
portador conseguirá recuperar-se sem o auxílio de um tratamento adequado, com
medicamentos específicos e terapias.
O usuário de drogas, em sua maioria apresenta transtorno mental e a
dificuldade para conquistar a dignidade humana. Os problemas só tendem a
aumentar através da exclusão social ou relações familiares e de trabalho
complicadas, agravando-se ainda mais pela falta de compreensão e pelas normas
culturais que são impostas pela sociedade.
A dependência química apresenta características próprias. A busca por
recuperação e a aceitação da doença por parte dos usuários é uma tarefa complexa
e árdua, pois depende da vontade de o usuário se pré-dispor em querer sair do
vício. Isso porque, a dependência química causa um comprometimento do cérebro,
prejudicando a saúde mental.
Durante toda esta pesquisa entendemos a dependência química como sendo
o uso contínuo de produtos lícitos ou ilícitos, de forma descontrolada. A partir desta
ação repetitiva e diante da necessidade de precisar conviver socialmente, percebe-
se a perda da dignidade humana que está assegurada em várias legislações
vigentes.
Este estudo teve com objetivo principal contribuir para a compreensão e
efetivação de ações que formem profissionais que auxiliem as pessoas que sejam
dependentes químicos. Verificou-se que as políticas públicas consideram a
importância dos profissionais que atendem aqueles que são dependentes químicos.
Percebeu-se principalmente pela pesquisa de campo que as pessoas que convivem
com o dependente químico nem sempre tem estrutura e conhecimento suficiente e
34
por isso não conseguem dar o suporte necessário. Sendo assim, a intervenção de
um profissional capacitado, no momento apropriado, contribuiria para amenizar o
problema enfrentado pelo dependente químico, às vezes até antes da atuação
médica, pois os problemas que ele enfrenta já são imensos. Também se precisa
considerar família, trabalho, situação social e financeira e a saúde em geral.
Nessa perspectiva, profissionais específicos da área da saúde, faz-se
necessária junto aos usuários de drogas, pois são preparados para compreender
questões ligadas aos valores sociais e comportamentos. Isso se justifica, pois o
dependente químico é tido como alguém incapaz e que atrapalha na família e no
trabalho, uma vez que seu comportamento foge as regras que a sociedade impoem.
Ao mesmo tempo tem-se o usuário que se sente excluído e rejeitado, e encontra
apenas nos amigos o conforto que procura.
Assim, o profissional capacitado fará a intervenção na sociedade para
reconstruir uma imagem em relação ao dependente químico; e, a ação direta junto
ao usuário de drogas com o objetivo de resgatar valores, direitos, deveres,
instrumentalizando-os para a conquista da dignidade humana, ou seja, uma melhor
qualidade de vida.
Portanto, os trabalhos voltados aos dependentes químicos, com o objetivo de
valorizar a saúde e a vida, fazem-se urgentes para que haja a recuperação individual
– dependente químico; e, coletiva – sociedade.
.
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REFERÊNCIAS
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Relatório sobre a saúde no mundo. Genebra, 2001.
[MS14] Comentário: Data de Acesso
[MS15] Comentário: Data de Acesso
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http://www.brasilescola.com.
[MS16] Comentário: Data de Acesso
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ANEXO
QUESTIONÁRIO
IDADE: _____________________
1- Há quanto tempo você é dependente químico? ( ) mais de um ano ( ) mais de cinco anos ( ) mais de dez anos
2- Qual foi a primeira droga que você usou? ( ) álcool ( ) cigarro ( ) maconha ( ) crak ( ) outras
3- Que droga você usa atualmente? ( ) maconha ( ) crak ( )outras
4- Sua família sabe que você é dependente químico? Quem sabe? ( )sim ( )não Quem: ____________________
5- Você confia em alguém para falar sobre o assunto? ( ) amigos ( ) família ( ) médico ( ) psicóloga ( ) outros
6- Em Juína, você já encontrou algum profissional da saúde que tivesse tentado tirar você do vício?
( ) psicólogo ( ) enfermeiro(a) ( ) médico ( ) Assistente Social ( ) outros
7- Se um profissional da saúde acompanhasse toda a sua história você acredita que conseguiria sair do vício? Por quê?
( )sim ( )não Por quê?_______________________
8- Caso sua família saiba ou soubesse você acredita que ela teria conhecimento e estrutura suficiente para auxiliar você?
( )sim ( )não
9- Quais são as maiores dificuldades que você enfrenta sendo um dependente químico?
( ) família ( ) escola ( ) trabalho ( ) amigos ( ) nenhuma
10-Como você se sente frente a sociedade sendo um dependente químico? ( ) valorizado ( ) excluído ( ) reconhecido ( ) rejeitado ( ) envolvido
( ) outros: ________________________________