ALBERTO SANTOS DUMONT Casa onde nasceu Alberto Santos Dumont - hoje Museu Cabangu, Santos Dumont MG...

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1 ALBERTO SANTOS DUMONT E OS 110 ANOS DO VOO DO 14 BIS Por: Mario Pellegrini Cupello (*) O ano de 2016 marcou a passagem dos 110 anos do primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar – o 14 Bis – criado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont. Este feito extraordinário para a época foi realizado na França em 23/outubro/1906 – na presença de milhares de pessoas – e homologado pelo Aeroclube de Paris, que havia proposto aos aeronautas o Prêmio Archdeacon: uma Taça com valor mínimo de 2.000 francos a quem fizesse um percurso controlado em aeroplano, superior a 25 metros. Santos Dumont, com o seu 14 Bis voou 60 metros! No mês seguinte, aumentou a potência do motor e em 12/novembro/1906 repetiu a proeza em um voo maior, percorrendo a distância de 220 m. Com este voo, homologado pelo Aero Club de France, estabeleceu o primeiro recorde oficial da aviação e recebeu o prêmio de 1600 francos, que doou aos seus mecânicos. Esta conquista de Alberto Santos Dumont, um brasileiro nascido em Minas Gerais, foi uma extraordinária façanha de valor histórico inegável, não só pelo ineditismo de sua obra como, principalmente, pela importância para o desenvolvimento da história da humanidade, cujos rumos foram mudados pelo maior de seus inventos, o avião, um aparelho que mais tarde aproximaria culturas, economias e países de todo o mundo. Alberto Santos Dumont, nascido no Sítio Cabangu em 20 de julho de 1873, próximo à cidade de Palmira – hoje Santos Dumont MG – embora tenha passado parte de sua juventude no Brasil, foi em Paris que ele pôde colocar em prática toda a sua capacidade criativa, inicialmente com a construção de balões, aos quais proporcionou dirigibilidade. Mais tarde com a invenção de um aparelho mais pesado que o ar ele se consagrou mundialmente. Poucos sabem, mas a cidade de Valença no Estado do Rio de Janeiro possui ligações históricas com a biografia do Pai da Aviação. Esse incompleto trabalho pretende abordar um pouco dessa história – embora de forma resumida – com ênfase na ascendência familiar de Alberto Santos Dumont; os primeiros anos de sua infância passados no Município de Valença; e um pouco da trajetória de vida desse genial inventor.

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ALBERTO SANTOS DUMONT E OS 110 ANOS DO VOO DO 14 BIS

Por: Mario Pellegrini Cupello (*) O ano de 2016 marcou a passagem dos 110 anos do primeiro voo de um aparelho

mais pesado que o ar – o 14 Bis – criado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont. Este feito extraordinário para a época foi realizado na França em 23/outubro/1906

– na presença de milhares de pessoas – e homologado pelo Aeroclube de Paris, que havia proposto aos aeronautas o Prêmio Archdeacon: uma Taça com valor mínimo de 2.000 francos a quem fizesse um percurso controlado em aeroplano, superior a 25 metros.

Santos Dumont, com o seu 14 Bis voou 60 metros! No mês seguinte, aumentou a potência do motor e em 12/novembro/1906 repetiu a proeza em um voo maior, percorrendo a distância de 220 m. Com este voo, homologado pelo Aero Club de France, estabeleceu o primeiro recorde oficial da aviação e recebeu o prêmio de 1600 francos, que doou aos seus mecânicos.

Esta conquista de Alberto Santos Dumont, um brasileiro nascido em Minas Gerais, foi uma extraordinária façanha de valor histórico inegável, não só pelo ineditismo de sua obra como, principalmente, pela importância para o desenvolvimento da história da humanidade, cujos rumos foram mudados pelo maior de seus inventos, o avião, um aparelho que mais tarde aproximaria culturas, economias e países de todo o mundo.

Alberto Santos Dumont, nascido no Sítio Cabangu em 20 de julho de 1873, próximo à cidade de Palmira – hoje Santos Dumont MG – embora tenha passado parte de sua juventude no Brasil, foi em Paris que ele pôde colocar em prática toda a sua capacidade criativa, inicialmente com a construção de balões, aos quais proporcionou dirigibilidade. Mais tarde com a invenção de um aparelho mais pesado que o ar ele se consagrou mundialmente.

Poucos sabem, mas a cidade de Valença no Estado do Rio de Janeiro possui ligações históricas com a biografia do Pai da Aviação.

Esse incompleto trabalho pretende abordar um pouco dessa história – embora de forma resumida – com ênfase na ascendência familiar de Alberto Santos Dumont; os primeiros anos de sua infância passados no Município de Valença; e um pouco da trajetória de vida desse genial inventor.

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2 Da ascendência familiar

Pelo lado materno, Santos Dumont descendia de família portuguesa. Seu bisavô,

o médico-cirurgião da Corte, Dr. Joaquim dos Santos, veio para o Brasil em 1808, juntamente com a comitiva do Príncipe Regente Dom João que se transladou para o Brasil com a Corte portuguesa, fugindo das tropas de Napoleão.

Um dos filhos do Dr. Joaquim – Francisco de Paula Santos – nascido no Brasil (e que viria a ser o avô de Alberto Santos Dumont) radicou-se na cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto), à época capital da Província de Minas Gerais. Sua esposa D. Rosalina era natural de Ouro Preto e lá nasceram os seus filhos.

Francisco de Paula Santos, que mais tarde tornar-se-ia Comendador, era um importante comerciante, dono de muitas propriedades em Vila Rica. Foi um banqueiro bem sucedido e importante minerador. Explorava as lavras de ouro do Fundão, nas cercanias de Mariana. Chegou a ser Deputado à Assembleia Provincial.

Pelo lado paterno, Alberto possuía ascendência francesa. Seu avô, François

Dumont, morava em Paris e era casado com a Sra. Euphrasie François Honoré Dumont, filha de uma tradicional e abastada família de joalheiros.

As atividades da família Dumont envolviam não só o comércio de ouro e pedras preciosas, adquiridas em grande parte na África do Sul, como também a fabricação de jóias.

Com o passar do tempo, porém, na segunda década do século XIX o comércio de diamantes e pedras preciosas viu-se diante de uma crise no mercado internacional e os negócios da família, na França, começaram a preocupar aos Dumont. Naquela época chegou-lhes a notícia da excelente qualidade das pedras preciosas, dos diamantes e das esmeraldas descobertas no Brasil, especialmente no Estado de Minas Gerais, onde também era intensa a extração aurífera.

Esse fato auspicioso atraiu desde logo a atenção de François Dumont (avô de Alberto) que estimulado pelo pai de Euphasie, resolveu a vir para o Brasil com sua esposa, em razão da boa alternativa de negócios, que então se afigurava.

Foi assim que por volta do ano de 1825, François e Euphrasie chegaram ao Brasil, desembarcando no Porto do Rio de Janeiro acompanhados de Victor Honoré Dumont, irmão de François.

Tão logo desembarcaram, dirigiram-se para o Arraial do Tijuco (atual cidade de Diamantina MG).

Lá os três fixaram residência em uma região altamente extrativista, à época, e em pouco tempo se estabeleceram nos negócios de mineração de ouro e lavras de diamantes.

Os empreendimentos rapidamente floresceram e a empresa passou a abastecer o mercado interno brasileiro, além de comercializar produtos com joalheiros da Europa, especialmente em Paris, através de seus parentes franceses.

O jovem casal François e Euphrasie rapidamente se adaptou à região de Diamantina, onde o clima era ameno, salutar e agradável, bem diferente do clima europeu, sobretudo no inverno. Outro fator de rápida adaptação foi o delicioso sabor da tradicional comida mineira, seus queijos, seus doces e, sobretudo, a grande fartura das frutas brasileiras.

Não demorou, portanto, para que a família Dumont se consolidasse, com o nascimento de seus três filhos:

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3 Félix Dumont (1829), que não deixou descendência; Henrique Dumont (1832) pai de oito filhos, entre eles Alberto Santos Dumont; e

Alexandre Dumont (1834), que também não deixou descendência.

As atividades de François Dumont eram intensas com os trabalhos de prospecção e as frequentes viagens de negócio, principalmente a Paris. Com o passar do tempo, no entanto, François percebeu que o comércio de ouro e pedras preciosas estava sofrendo uma forte concorrência, fato que tornou inviável o prosseguimento de seus negócios em nosso País.

Por essa razão, não encontrou outra alternativa a não ser encerrar a sua Firma. Pouco tempo depois, François adoeceu seriamente, vindo a falecer em 1842, deixando esposa e três filhos menores, com 8, 10 e 13 anos.

Com a morte do marido, a viúva Euphrasie, já adaptada ao Brasil, foi viver em uma Fazenda da família, próxima a Curral Del Rey, localidade que deu origem à atual cidade de Belo Horizonte então Província de Minas Gerais. Lá, ela se dedicou à agricultura e à criação de gado, atividades que lhe proporcionaram uma vida confortável.

Seu segundo filho Henrique – já um rapaz – manifestara a vontade de tornar-se engenheiro, incentivado por seu padrinho e amigo da família, Fernando Meirot, que acabou por levá-lo a Paris para seus estudos. Isso porque, à época seria praticamente impossível proporcionar-lhe um curso de nível superior no Brasil.

Na Cidade Luz o jovem Henrique foi residir em Sèvres, próximo ao centro de Paris, na casa de sua tia Mme. Marie Coeurè, irmã de sua mãe.

Lá, cursou a École Centrale des Arts et Métiers (equivalente à Faculdade de Engenharia, nos dias atuais) e, logo após receber o diploma de Engenheiro Civil, retornou ao Brasil em 1853, com 21 anos de idade.

O Engenheiro Dr. Henrique Dumont

Seu primeiro emprego foi na Prefeitura de Ouro Preto, à época capital do Estado de Minas Gerais, onde aplicou seus conhecimentos de engenharia na construção de prédios, pontes e estradas.

A união das Famílias Santos e Dumont

Em Ouro Preto, o jovem engenheiro Henrique conheceu o Comendador Francisco de Paula Santos, cuja esposa Sra. Rosalina Francisca Oliveira Catta Preta Santos falecera prematuramente no Rio de Janeiro em 1854. A casa, então, ficou sob os cuidados da mãe do Comendador, D. Emerenciana de Jesus Drago, de ilustre estirpe espanhola.

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4 A Família Paula Santos desde logo demonstrou uma grande simpatia e respeito

pelo jovem e elegante Dr. Henrique, pessoa de fino trato, educação esmerada e boa formação profissional. Em razão dessa mútua simpatia, tornaram-se grandes amigos.

O Comendador Paula Santos era um homem bem sucedido nos negócios e, à época, pensava em construir uma casa mais confortável para a moradia de sua família. Dada a confiança e a amizade com o jovem Dr. Henrique, o Comendador contratou os seus serviços para a execução do projeto e a posterior construção de sua residência, em um amplo terreno que possuía no Bairro do Rosário, próximo ao centro de Ouro Preto, resultando em um belíssimo solar em dois pavimentos que, entre outros detalhes de sua arquitetura inovadora, foi guarnecido por lambrequins rendilhados nos beirais, uma característica do estilo alsaciano.

Casa da Família do Comendador Paula Santos, projetada e construída pelo Dr. Henrique Dumont em Ouro Preto MG.

Atualmente, esse palacete, restaurado, pertence ao Dr. Ricardo Pereira, proprietário do Hotel “Pousada do Mondego”, em Ouro Preto.

Com a execução da obra e os frequentes contatos do Dr. Henrique com o Comendador Paula Santos, ainda mais se fortaleceram os laços de amizade, cada vez mais baseados em sentimentos recíprocos de respeito e de admiração. Assim, o natural convívio com a família Paula Santos acabou por aproximar o Dr. Henrique da filha do Comendador, a também jovem Francisca de Paula Santos.

Dr. Henrique Dumont Sra. Francisca de Paula Santos

Desse convívio nasceu um grande afeto entre eles, o que os levou a contrair matrimônio três anos depois, na Igreja da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar da Imperial Cidade de Ouro Preto, em 06 de setembro de 1856.

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Do casamento de D. Francisca de Paula SANTOS com o Dr. Henrique DUMONT, na cidade mineira de Ouro Preto, surgiu a Família SANTOS DUMONT, da qual resultaram oito filhos:

1. – Henrique Santos Dumont, nascido em Ouro Preto MG, em 15/ AGO/1857. 2. – Maria Rosalina Santos Dumont, nascida na Fazenda Congo Soco, em Santa

Bárbara MG, em 13/FEV/1860. 3. – Virgínia Santos Dumont, nascida na Fazenda Jaguara, em 20/ DEZ /1866. 4. – Luiz Santos Dumont, nascido na Fazenda Jaguara, em 15 /MAI /1869. 5. – Gabriela Santos Dumont, nascida na Fazenda Jaguara, em 26/ MAR/1871. 6. – Alberto Santos Dumont, nascido no Sítio Cabangu, em 20/julho/1873,

próximo à cidade mineira de Palmira, que mais tarde receberia o nome de Santos Dumont.

7. – Sophia Santos Dumont, nascida na Fazenda Casal, em 02/maio/1875, na localidade de Abarracamento, à época pertencente ao Município de Valença RJ.

8. – Francisca Santos Dumont, nascida na Fazenda Casal, em 28/março/1877, Município de Valença.

Além das atividades como engenheiro, o Dr. Henrique participou de outros

importantes empreendimentos pessoais, quase todos em sociedade com seu sogro e amigo, o Comendador Paula Santos, fato que lhe proporcionou uma razoável fortuna.

Junto com o sogro, entre outros empreendimentos, foi proprietário da famosa Fazenda Jaguara, às margens do Rio das Velhas e também explorou a navegação fluvial no rio das Velhas e São Francisco. Foi o construtor do Vapor Saldanha Marinho, com 28 m de comprimento, o primeiro vapor a navegar nesses dois rios.

O Vapor Saldanha Marinho, construído por Henrique Dumont. À direita o vapor, hoje restaurado, encontra-se em Juazeiro, na Bahia, como uma das principais atrações turísticas daquele município.

A mudança da família para o Sítio Cabangu

Por volta do ano de 1872, o Dr. Henrique Dumont foi convidado a construir um difícil trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, depois Estrada de Ferro Central do Brasil, na subida da Serra da Mantiqueira, próximo à localidade de Palmira, que mais tarde viria a se tornar a atual cidade de Santos Dumont.

Exatamente nesse local é que se inicia a história de vida de Alberto Santos Dumont.

Precisando estar próximo às obras de construção da Estrada, o Dr. Henrique deslocou-se com sua família, então com 5 filhos, para o Sítio Cabangu, na localidade de João Aires, à época Distrito de Palmira, onde ocupou uma pequena casa existente no Sítio. Nela, introduziu melhoramentos para abrigar sua família e instalar o seu escritório de trabalho.

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Casa onde nasceu Alberto Santos Dumont - hoje Museu Cabangu, Santos Dumont MG

Foi nesta casa que em 20 de julho de 1873, nasceu Alberto Santos Dumont,

coincidentemente no mesmo dia em que o seu pai, Dr. Henrique Dumont, completava 41 anos de idade. Nascia ali, o sexto filho da Família, uma criança predestinada, que mudaria o rumo da história da humanidade!

A Família, no entanto, não permaneceu por muito tempo em Cabangu.

A mudança da família para o Município de Valença RJ

Tão logo concluídas as obras de construção daquele trecho da ferrovia, o Comendador Paula Santos, convidou seu genro Henrique a administrar uma Fazenda no então Município de Valença RJ, a Fazenda Casal, na localidade de Abarracamento, onde o Comendador, em sociedade com o seu filho José Augusto de Paula Santos, resolvera iniciar uma atividade agrícola com o plantio do café.

O Dr. Henrique, já com um razoável patrimônio, aceitou o convite e entrou na sociedade com o seu sogro e o seu cunhado José Augusto, em partes iguais.

De engenheiro transformou-se em fazendeiro! Com a transferência da Família Dumont para a Fazenda Casal, o Município de

Valença no Estado do Rio de Janeiro passou, portanto, a fazer parte do roteiro biográfico do Pai da Aviação.

À época em que a Família Santos Dumont deslocou-se para a Fazenda Casal, o jovem Alberto contava com pouco mais de um ano de idade. Sua mãe, D. Francisca, encontrava-se grávida de sua filha Sofia, que viria a nascer em 02/maio/1875, logo após a chegada na Fazenda. Nesta data, Alberto contava com 1 ano, 9 meses e alguns dias.

Portanto, no ano 1875 a Família Dumont já se encontrava instalada na Fazenda Casal, no então Município de Valença, onde nasceu, também, a última filha da Família, Francisca Santos Dumont, no dia 28/março/1877.

A vinda da família Dumont para a Fazenda Casal – onde nasceram suas duas últimas filhas – coloca, mais uma vez, o Município de Valença no roteiro biográfico da Família.

O Batizado de Alberto Santos Dumont

No período em que permaneceu na Fazenda Casal, Alberto Santos Dumont foi batizado em 20/fevereiro/1877, juntamente com sua irmã mais nova Sophia, na Igreja

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7 de Santa Tereza D’Ávila, da Diocese de Valença, na Freguesia de Santa Teresa, à época Município de Valença, onde hoje se situa a cidade de Rio das Flores. Sua irmã Francisca nasceria um mês após.

Igreja de Santa Teresa D’Ávila onde foi batizado Alberto Santos Dumont, em 1877.

Pia onde foi batizado Alberto Santos Dumont Batistério da Igreja

Interessante notar que em razão da inexistência de Cartórios, à época, naquela região, o único documento que comprova ser brasileiro, Alberto Santos Dumont, é o seu Registro de Batismo existente no Livro de Batismo da Igreja de Santa Teresa D’Ávila – na atual cidade de Rio das Flores RJ – até hoje pertencente à Diocese de Valença RJ.

(1) (2)

(1) Foto da placa colocada à junto à Porta da Igreja de Santa Teresa D’Ávila. (2) Dizeres da placa existente abaixo do busto de Alberto Santos Dumont, no pátio fronteiriço à Igreja:

“... E TUDO COMEÇOU COM ELE: ALMA DE TODAS AS CONQU ISTAS AÉREAS. Comissão Estadual do Ano Centenário de Santos Dumont.

1875 – 1975”

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Registro de Batismo de Alberto Santos Dumont

Cópia xerográfica (parcial) dos Registros de Batismo de Alberto Santos Dumont e de sua irmã Sofia

Santos Dumont, em 20/fevereiro/1877, conforme assentamentos no Livro de “Registros de Batizados da Igreja Matriz de Santa Theresa D’Ávila”, da Freguesia de Santa Theresa de Valença – da Diocese de Valença RJ – Volume 1, folha 41. Tais registros receberam os números: 2421 (Alberto) e 2422 (Sofia).

Transcrição dos Registros de Batismo de Alberto Santos Dumont e de sua irmã Sofia.

Alberto – Aos 20 de fevereiro de 1877, nesta Matriz de Santa Theresa de Valença, batizei solenemente o inocente Alberto, nascido a 20 de julho de 1873, filho legítimo do Dr. Henrique Dumont e Francisca Dumont; foram padrinhos Dr. José Augusto de Paula Santos e Dª Maria Eugênia Pinto Coelho da Rocha, representada por uma procuração de Dª Maria Rosalina Dumont. O Vigário Pe. Theodoro Theotônio da Silva Carolina.

Sofia – Aos 20 de fevereiro de 1877, nesta Matriz de Santa Theresa de Valença, batizei solenemente a inocente Sofia, nascido, a 20 de julho de 1873, digo, nascida a 2 de maio de 1875, filha legítima do Dr. Henrique Dumont e Dª Francisca dos Santos Dumont; foram padrinhos o Commdor. Francisco de Paula Santos e Dª Joanna Perpétua de Oliveira Santos, reprezentada, por uma procuração, de Dª Maria Rosalina Dumont. O Vigário Pe. Theodoro Theotônio da Silva Carolina.

Transcrição por Mario Pellegrini Cupello

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9 O batismo de Alberto Santos Dumont, portanto, é mais um dado histórico que

insere o Município de Valença, e posteriormente o de Rio das Flores, na Biografia do Pai da Aviação.

A permanência da Família Dumont na Fazenda Casal

Embora a agricultura não fizesse parte da formação profissional do Dr. Henrique Dumont, durante o período de aproximadamente quatro anos em que permaneceu na Fazenda Casal, pesquisou profundamente o plantio do café e desenvolveu novas técnicas para o seu cultivo, além de construir um amplo maquinário para o beneficiamento do café.

Foto: Beth Cupello

Roda d’água em estrutura metálica, construída pelo Dr. Henrique Dumont, na Fazenda Casal, à época Município de Valença RJ. Na foto o autor deste artigo em meio ao antigo maquinário utilizado para os serviços da Fazenda.

As dimensões da Fazenda Casal e sua topografia, no entanto, não se ajustavam aos planos de desenvolvimento traçados pelo Dr. Henrique. Por essa razão e pelas notícias de que em terras paulistas havia um solo mais adequado ao plantio do café, pesquisou essa possibilidade e acabou por adquirir uma Fazenda no Estado de São Paulo, a Fazenda Arindeuva próxima a Ribeirão Preto, para onde se deslocou com toda a sua Família após um breve período no Rio de Janeiro, encerrando a sociedade agrícola com seu sogro e seu cunhado.

Toda a experiência adquirida na Fazenda Casal o Engenheiro Henrique aplicou em larga escala na Fazenda Arindeuva, chegando a ser um dos maiores produtores de café do País. Comprou terras vizinhas e as anexou à sua propriedade. Construiu uma ferrovia em sua Fazenda com 96 km de extensão, para facilitar a colheita e o escoamento do café, estendendo-a até a cidade de Ribeirão Preto SP.

Para se avaliar a pujança da produção cafeeira da Fazenda Arindeuva, anos mais tarde quando o Dr. Henrique a vendeu por razões de saúde, havia nela mais de 5,6 milhões de pés de café.

A permanência de Alberto Santos Dumont na Fazenda Arindeuva, em São Paulo

Já residindo na Fazenda Arindeuva, em meio a um moderno maquinário de beneficiamento de café, o jovem Alberto teve sua atenção despertada para a mecânica. Ficava fascinado com o movimento das máquinas, das quais não se afastava.

Esta observação, mais tarde seria de grande utilidade para ele no desenvolvimento de seus projetos.

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10 Sua leitura favorita era Julio Verne, escritor que tomou de assalto sua imaginação

infantil, com seus submarinos, balões e transatlânticos, estimulando em seu subconsciente a criatividade e o gosto pela mecânica. Júlio Verne marcou a infância de Santos Dumont, como um dínamo a carregar sua mente com imagens, sonhos e uma antevisão de futuro.

Nesse ambiente rural foi construindo seus sonhos, fazendo experiências com pequenos balões nas festas juninas, construindo pipas que soltava ao vento, chegando a montar uma miniatura de aeronave movida a elástico e hélice.

Sua mente irrequieta e criativa não descansava. A leitura dos livros de Júlio Verne alimentavam ainda mais o sonho que lhe acompanharia por toda a vida: o sonho de voar! .

Assim cresceu o menino Alberto, participando das atividades da Fazenda e cercado pelo carinho de sua família e pelos cuidados de seus pais e irmãos.

A transferência de Alberto para a cidade de Ouro Preto

No ano de 1890, já com 17 anos, apesar da pouca idade Alberto sabia bem o que desejava para seu futuro. A engenharia e a mecânica estavam em seus planos. Por isso resolveu estudar Engenharia em Ouro Preto, onde se matriculou em um curso preparatório para ingressar no Curso de Engenharia da Escola de Minas, instituição criada por D. Pedro II, em 12/outubro/1876, voltada para o estudo da mineralogia. Para tanto, transferiu-se para a cidade de Ouro Preto, indo morar com seus avós maternos, da Família Paula Santos.

O destino, no entanto, havia reservado para ele um futuro diferente. Alberto não precisaria ser Engenheiro para conquistar seus sonhos e atingir a fama que acabou por conseguir através de seus inventos. Seu futuro não estava delineado no Brasil e sim na cidade de Paris, considerada, então, a capital cultural do mundo.

Nessa época, seu pai havia sofrido uma queda de charrete na Fazenda Arindeúva e ficara hemiplégico. Em consequência, precisando viajar a Paris para tratamento médico, resolveu convidar seu filho Alberto para acompanhá-lo na viagem.

Alberto, feliz com o inesperado convite, interrompeu seus estudos em Ouro Preto e seguiu viagem com seu pai.

O despertar de um sonho

Na última década do século XIX, realizava-se em Paris uma Feira Industrial no Palácio da Indústria, com mostras de inovações tecnológicas que marcaram o início da segunda etapa da revolução industrial, caracterizada por avanços na metalurgia, na siderurgia, no uso da eletricidade e do petróleo.

Esse fato auspicioso causou um grande impacto sobre o jovem Alberto, quando seu pai o levou para uma visita a essa Feira Industrial. Lá, pela primeira vez Alberto viu um motor à explosão movido a petróleo, com 1,5 cv. que muito o impressionou. Parou diante dele como que arrebatado pelo destino. Estava completamente fascinado, a tal ponto que pediu ao seu pai para fazer seus estudos em Paris.

Alberto ainda não sabia, mas aquela Feira Industrial e aquele pequeno motor de combustão interna, lá exposto, mudariam totalmente o rumo de sua vida.

A concordância com esse pedido era inevitável, pois o Dr. Henrique já vislumbrara o potencial criativo de seu filho. Essa concordância, todavia, estava condicionada a uma observação de seu pai: Alberto deveria ser cuidadoso na

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11 contratação de seus professores, em especial os de mecânica, pois, profetizando, enfatizou: “o futuro do mundo, meu filho, está na mecânica”.

Pouco tempo depois de retornarem ao Brasil, os problemas de saúde do Dr. Henrique novamente se agravaram. Por ser ele um homem prático e de grande visão de futuro, sabendo da precariedade de sua saúde, resolveu emancipar seu filho Alberto, já com 18 anos, concedendo-lhe uma expressiva fortuna para que ele pudesse viver em Paris sem problemas financeiros. Seu pai mais uma vez lhe recomendou: “estude física, química, mecânica e eletricidade”, entre outras matérias.

A condição de saúde do Dr. Henrique agravou-se seriamente vindo ele a falecer no Rio de Janeiro, em 30 de agosto de 1892. Contava, então, com 60 anos de idade.

Os estudos de Alberto em Paris

Lembrando as recomendações de seu pai, Alberto procurou professores que pudessem aprimorar os seus conhecimentos em física e química. Estudou, também, eletricidade, mecânica e astronomia.

Embora ainda muito jovem, Alberto logo percebeu que a cidade parisiense poderia lhe oferecer amplas possibilidades, especialmente na área da mecânica, que sempre lhe despertara interesse.

O mundo vivia o final de um século de grandes conquistas e descobertas na área das ciências. Paris era então a capital cultural do mundo e o reduto preferido de intelectuais e artistas como Picasso, Cézanne, Matisse e Monet que se projetavam como pintores. Toulouse-Lautrec registrava em seus quadros a vida noturna nos bares e no Moulin Rouge. Também a atriz Sarah Bernhardt já havia se consagrado no mundo artístico como “a mais famosa atriz da história”.

O final do século XIX foi a época das grandes conquistas da Mecânica, da Engenharia e da Ciência em várias partes do mundo. Um pouco antes já surgira o motor à explosão de Lenoir (1858), a dinamite de Alfred Nobel (1867), a inauguração do Canal de Suez (1869), o telefone de Graham Bell (1876), a vacina anti-rábica de Pasteur (1885), além da eletrodinâmica de Ampère, as ondas eletromagnéticas de Hertz, a fabricação eletrolítica do alumínio, o microfone, o fonógrafo e a incandescente lâmpada elétrica de Thomas Alva Edson!

Alberto Santos Dumont, ainda jovem, em seu escritório de trabalho, em Paris

Não havia, portanto, melhor época para que o jovem Alberto pudesse estar em Paris, para absorver esses conhecimentos em seus estudos.

Algumas críticas de jornalistas brasileiros questionariam mais tarde, embora sem fundamento, sobre a ida de Santos Dumont para a Europa, sob a alegação de que ele

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12 deveria ter desenvolvido suas experiências aeronáuticas no Brasil, sua terra natal. Ocorre que naquela época o Brasil, embora em fase de desenvolvimento, ainda era um país de características agrícolas e nenhum outro lugar no mundo poderia oferecer maiores possibilidades técnicas e científicas do que a cidade de Paris.

Quando Santos Dumont lá se estabeleceu, a torre Eiffel fora concluída havia apenas três anos para a Exposição Universal de 1889, realizada na data do centenário da Revolução Francesa.

A radiotividade e os Raios X já estavam para ser descobertos, e o rádio, para ser inventado. Os primeiros automóveis já sacolejavam pelas avenidas e dali há a alguns anos a Grande Exposição de 1900 faria da Cidade-Luz a Capital do Mundo.

O destino havia reservado a Santos Dumont, a oportunidade de integrar-se ao rol destes gênios e tornar-se um homem de competência e notoriedade muito superiores àquela que seu pai desejara, ou antevira, pois ele foi, de fato, o homem que mudou o rumo da história da humanidade, com seus inventos e com a sua navegação aérea.

Em Paris, o jovem Alberto aos 19 anos de idade pôde colocar em prática sua prodigiosa inteligência. Lá se encontravam, também, os melhores mecânicos e os mais afamados construtores de balões.

Na Cidade Luz, ele anteviu a possibilidade de voar nas asas de seus sonhos! Sua permanência em Paris não envolvia problemas financeiros, como se sabe, já

que seu pai, antes de falecer, entregara-lhe os recursos suficientes para que ele pudesse se manter, estudar e desenvolver suas pesquisas aeronáuticas, sem precisar preocupar-se com o seu sustento.

A carreira aeronáutica de Alberto Santos Dumont resultou no projeto e execução de vários balões dirigíveis, além de inúmeras outra invenções. Com o Balão nº 6, contornou a Torres Eiffel em 1901, conquistando o Prêmio Deutsch, no valor de 125.000 francos (cerca de US$ 20.000).

Com o seu Balão nº 6 Alberto Santos Dumont contornou a Torre Eiffel e

conquistou o cobiçado Prêmio Deutsch, de 125.000 francos.

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13 Além desse Prêmio ele recebeu do presidente Campos Salles outro prêmio no

mesmo valor e uma medalha de ouro. Mais tarde, com o seu pequeno balão nº 9, de grande dirigibilidade, várias vezes pousou no centro de Paris para encontrar-se com amigos em restaurantes e bares.

O versátil Balão nº 9 com o qual Santos Dumont passeava em Paris

A criação do 14 Bis

O ponto alto de sua carreira aeronáutica, todavia, foi a construção de um aparelho mais pesado que o ar, o “14 Bis”, consolidando o seu grande sonho, acalentado desde a infância, em conseguir voar como os pássaros.

Foi assim que em 23/outubro/1906 ele se apresentou perante uma Comissão de técnicos do Aeroclube de Paris, com o seu 14-Bis, um aparelho ainda primitivo construído com vime, seda e bambu. Tinha o formato de um grande pássaro, com a força motriz de um pequeno motor. Um avião com o comprimento de 10 metros e envergadura de 12 metros.

Projeto do 14 Bis de Santos Dumont

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Aquela era a oportunidade mais importante de sua vida, com a qual sonhara desde a infância e a razão maior de sua dedicação nos últimos 15 anos de estudos, sacrifícios e realizações.

Só precisava voar 25m, conforme estabelecera o Aeroclube de Paris para a conquista da Taça Archdeacon. Mas voara 60 metros! Pela primeira vez na história da humanidade, um homem conseguira voar! O que parecia impossível foi, enfim, realizado. Este foi um momento glorioso em sua vida!

Logo após o Prêmio Archdeacon, o Aeroclube de Paris, querendo estimular a competição aeronáutica, instituiu um prêmio de 1600 francos a quem conseguisse realizar um voo, “utilizando os próprios meios da aeronave, percorrendo uma distância superior a 100 metros”.

Movido por mais esse “estímulo” Santos Dumont corrigiu pequenos problemas em seu aparelho, aumentou a potência do motor para 50 HP e em 12/novembro/1906 repetiu a proeza em um voo maior, percorrendo 220 metros a uma altura média de 6 metros do solo, à velocidade de 41,3 km/h e tempo de 21 segundos, para o delírio da multidão que sempre o acompanhava. Esta façanha ficou conhecida em todo o mundo como: “o minuto memorável da navegação aérea”.

Preparativos para o voo do 14 Bis: nas ruas de Paris e no Campo de Bagatelle

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O Voo histórico do 14-Bis – 23/outubro/1906

O surgimento do Demoiselle

O melhor e mais gracioso modelo de avião, criado pelo brasileiro Santos Dumont em 1907, foi sem dúvida o “Demoiselle”, também conhecido como “Libellule”. Ele foi sendo aperfeiçoado pelo seu inventor até 1909. Tratava-se de um aparelho de poucas dimensões e de baixo custo.

Com ele, frequentemente Santos Dumont passeava pelos arredores de Paris ou visitava amigos em seus castelos.

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Santos Dumont, com o seu gracioso Demoiselle, no gramado do Castelo de Wideville, próximo a Paris

Santos Dumont, homem de grande desprendimento e generosidade, nunca quis registrar os seus inventos: ao contrário, estimulava aos seus amigos aeronautas a construírem seus aparelhos, cedendo graciosamente os projetos, para que suas aeronaves fossem fabricadas em larga escala, de forma a popularizar e desenvolver a aviação, tratada à época apenas como um esporte.

Logo após, diferentes oficinas construíram no mínimo quarenta unidades. Sua vida em Paris foi marcante, tendo convivido com renomadas autoridades e

participado da sociedade parisiense, onde angariou respeito e admiração, além de influenciar a moda da época com seu vestuário sóbrio e elegante.

Os prêmios em dinheiro, conquistados através do Aeroclube de Paris, ele os distribuía entre seus funcionários e os pobres de Paris.

Em realidade, Alberto Santos Dumont colocou sua fortuna à serviço do desenvolvimento da aeronáutica.

Tal era o apreço que ele tinha por sua origem materna e paterna, que ele costumava colocar entre os seus nomes de família um sinal de igual, SANTOS=DUMONT, querendo simbolizar o seu grande apreço por sua ascendência brasileira e francesa. Esse sinal traduzia, também, o seu declarado amor pelo Brasil e pela França, países onde viveu.

Considerações finais

Embora incompleto, este trabalho procurou mostrar os ascendentes familiares de Alberto Santos Dumont; a vida de seus pais e o seu nascimento; além das ligações históricas do Pai da Aviação com o Município de Valença RJ.

Gênios como Santos Dumont – e tantas outras personalidades brasileiras de grande importância – ainda estão a merecer o reconhecimento e as homenagens das autoridades brasileiras, ou ainda um preito de gratidão por tudo o que fizeram em favor do nosso País e da humanidade.

Lamentavelmente, nem sempre os estudantes são estimulados a preservar e a exaltar a memória histórica dos brasileiros que contribuíram para a nossa identidade

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17 nacional, ou mesmo a preservar o meio-ambiente, entre outros valores tão importantes.

As atuais gerações, especialmente as mais jovens, pouco conhecem – ou se conhecem não são capazes de avaliar – a importância de algumas personalidades do passado que em muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso País ou para o progresso da humanidade.

É certo que durante a educação formal, os alunos são informados nas escolas sobre os vultos históricos e os heróis brasileiros que contribuíram para a consolidação da nossa nacionalidade.

Todavia, nem sempre esses jovens são incentivados a preservar a nossa memória histórica. Alguns monumentos cívicos eventualmente colocados em praças públicas, não são visitados pelos transeuntes – que já não os percebem mais – pois essas obras que se destinam a transmitir à posteridade a lembrança de fatos ou personalidades notáveis, passam a fazer parte da paisagem.

Assim, a memória histórica se perde, tal como se perdem as referências e, principalmente, os exemplos que pessoas do passado deixaram para outras gerações.

Daí a importância dos Museus e das publicações literárias que visam a preservar a memória nacional.

O Instituto Cultural Visconde do Rio Preto – criado em Valença em 1990 pelo autor deste artigo, juntamente com sua esposa Elizabeth Santos Cupello – ao longo dos últimos 26 anos vem procurando, modestamente, preencher esta lacuna através de exposições temáticas, de palestras, de concursos literários sobre os heróis de nossa nacionalidade e tudo o mais que possa despertar na população, especialmente na dos mais jovens, a importância da preservação de nossa rica memória histórica.

Um exemplo de exaltação aos feitos do Pai da Aviação foi o que fez a direção do “Museu do Amanhã”, no Rio de Janeiro, que a partir de 26/abril/2016, apresentou a Exposição: “O poeta voador – Santos Dumont”, em uma de suas salas temporárias, através de Gringo Cardia, cenógrafo e curador da mostra.

Outro bom exemplo, ocorreu na abertura da Olimpíada do Rio, em 05/agosto/2016, quando os cineastas brasileiros Fernando Meirelles e Andrucha Waddington fizeram a simulação de um voo do 14 Bis para 50 mil pessoas no estádio, e cerca de um bilhão de pessoas pela TV em mais de 150 países, que viram o 14 Bis decolar daquele estádio e mostrar para o mundo os pontos turísticos do Rio de Janeiro.

Certamente, em todo o Brasil, muitas exposições devem ter sido realizadas ao ensejo dos 110 anos da decolagem do 14 Bis, ocorrida em Paris em 23/outubro/1906.

Entre outras, seguem apenas duas referências. O Instituto Cultural Visconde do Rio Preto participou, juntamente com outras

instituições, dando apoio cultural através de fotos e documentos à Exposição “Santos

Dumont: das raízes mineiras à ascensão do Gênio dos Ares”, realizada em Ouro Preto na Sala Manoel da Costa Athaide, no anexo do Museu da Inconfidência. Na abertura daquela Exposição, em 11/novembro/2016 – e a convite do Dr. Rui Mourão, Diretor do Museu da Inconfidência – o autor desse artigo proferiu algumas palavras sobre o Pai da Aviação e suas ligações familiares com o Município de Valença.

Nesse sentido, merecem aplausos os organizadores daquela bem montada Exposição que, numa prova inequívoca de exaltação à memória desse grande gênio mineiro, Alberto Santos Dumont, realizaram esta Exposição exatamente na cidade

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18 onde residiu sua família materna, além dele mesmo, Santos Dumont, ainda jovem, que lá residiu por um breve período.

Outra exposição, esta realizada em São Paulo sob o título, “Santos Dumont na

Coleção Brasiliana Itaú”, lembra os 110 anos do primeiro voo do 14 Bis, “com mais de 400 peças da Coleção Brasiliana exposta pela primeira vez em ambiente com referências temporais”, conforme artigo publicado no Caderno 2 do Jornal O Estado de São Paulo, de 23/11/2016.

Ao finalizar, o autor deste incompleto artigo agradece ao Dr. José Antônio de Ávila Sacramento, Advogado, Escritor e Pesquisador (Membro do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto), pela oportunidade que lhe foi concedida em publicar esta matéria em seu conceituado site “Pátria Mineira”, um veículo de grande importância na preservação da memória histórica de Minas e de nosso País.

(*) O autor é Arquiteto; Escritor; diplomado em Direito. Fundador e Presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, Valença RJ. Membro da Academia Valenciana de Letras, Cadeira nº 34, Patronímica de Alberto Santos Dumont. Em São João del-Rei: é Membro Correspondente da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico. Membro da Fundação Oscar Araripe – Tiradentes MG. Membro da Academia de Letras Jurídicas de São João de-Rei e Tiradentes. Membro da “Divine Academie Française des Ars Lettres et Culture”. Detentor, entre outras, das Medalhas: Santos Dumont, Grau Ouro; Mérito Santos Dumont; e da Inconfidência.

Referências bibliográficas:

BARROS, Henrique Lins de – Santos Dumont – O homem voa! – Contraponto Editora Ltda. – Petrobrás, 2000.

BARROS, Henrique Lins de – Alberto Santos Dumont – EditoraIndex - 1986

CUPELLO, Mario Pellegrini – Discurso de Posse na Academia Valenciana de Letras – 10/11/2001.

CUPELLO, Mario Pellegrini – Palestra na Academia de Letras de São João del-Rei MG – 04/03/2006.

CUPELLO, Mario Pellegrini - Alberto Santos Dumont - Filho de Minas Gerais, Herdeiro do Café, Pai da Aviação – Artigo publicado no Livro comemorativo dos 60 anos da Academia Valenciana de Letras – Volume 1 – Editar Editora Associados – 2009.

NICOLAOU, Stéphane – Santos-Dumont Dandy et Génie de L’Aéronautique – E.T.A.I. & Musée de l’Air et de l’Espace.

WINTERS, Nancy. O homem voa!, São Paulo, SP, Ed. DBA, 2000.

EDITORA NOVA FRONTEIRA – Alberto Santos Dumont – “Eu naveguei pelo ar – Da conquista da dirigibilidade dos balões ao mais pesado que o ar” – 1898-1910.

Créditos fotográficos: acervo do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto (ICVRP).