Alegra Gray - À Sombra de um Escândalo (CH 441)

8/3/2019 Alegra Gray - Sombra de um Escndalo (CH 441)

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Sombra de um EscndaloNothing But Scandal

Allegra Gray

Tudo comeou com uma proposta inocente...Aps a morte do pai, Liz Medford se viu sem um centavo e com uma terrvel perspectiva para

o futuro: casar-se com o desprezvel Harold Wetherby. Sua famlia aprovava a unio, mas Liz j

testemunhara a natureza cruel de Wetherby e sabia que teria uma vida infeliz ao lado daquelehomem. Se ao menos ele desistisse do casamento... A nica maneira de desencoraj-lo seria arruinarsua reputao, que era ilibada... At aquele momento... Liz, ento arquitetou um plano brilhante paraescapar de seu indesejvel pretendente. O nico empecilho era o homem com cuja cooperao elacontava para arruinar sua reputao o irresistvel Alex Bainbridge, duque de Beaufort. Alex,contudo, tinha seus prprios segredos, que o levavam a evitar Liz a todo custo, para o bem de ambos.Ele se mostrou irredutvel em sua deciso de no participar daquele plano maluco... Porm, Lizestava determinada a faz-lo ver que era tambm um plano muito tentador...

Digitalizao: Rosana GomesReviso: Cassia


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Clssicos Histricos n 441 - sombra de um escndalo - Allegra Gray

Querida leitora,

Aps a morte do pai, Liz fica numa situao difcil, mas ela no quer se casar com o cruel

Harold Wetherby. Ela quer encontrar outra soluo, nem que para isso tenha de perder suareputao com o notrio libertino Alex Bainbridge, o duque de Beaufort. Alex, porm, recusa aproposta de Liz, e ento ela no tem outra escolha seno aceitar o cargo de governanta numa casade campo. Liz se sente feliz e segura em seu novo emprego, at que Alex aparece um dia,convidado para uma festa, e a reconhece. Dessa vez, torna-se impossvel resistir atrao mtua.

Alex, contudo, guarda um segredo que mantm Liz presa a ele e ao mesmo tempo faz comque ela seja a nica mulher que jamais poder se tornar sua esposa ou amante. A vida, no entanto, repleta de surpresas...

Leonice Pompnio Editora

Copyright @2009 por Allegra JohnstonOriginalmente PUBLICADO EM2009 por Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP. NY, NY - USA

Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra so fictcios.Qualquer semelhana com pessoas vivas ou mortas ter sido mera coincidncia.

TTULO ORIGINAL: NOTHING BUT SCANDALEDITORA: Leonice PompnioASSISTENTES EDITORIAIS:

Patrcia ChavesSilvia Moreira,

Vnia Canto BuchalaEDIO/TEXTO

Traduo: Carlos Gustavo Barros JaimovichReviso: Giacomo Leone

ARTE:Mnica Maldonado

MARKETING/COMERCIAL:

Andra RiccelliPRODUO GRAFICA:Snia Sassi

PAGINAO:Ana Beatriz Pdua

Copyright 2010 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Butant, 500 10 andar CEP 05424-000 So Paulo - SP

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Captulo I

Londres, abril de 1814

Expectativas de famlia, e a culpa por no estar altura delas, seriam aruna de Liz Medford.

Dado que seu pai, o baro James Medford, jamais fora um bastio daresponsabilidade, tendo acumulado uma verdadeira montanha de dvidas dejogo at morrer inesperadamente, parecia injusto que os parentes esperassemque ela, os salvasse ao se casar com Harold Wetherby.

O terceiro primo podia ter uma renda considervel, mas a lembrana dasmos suadas de Harold, tocando-a quando tinha apenas catorze anos, era o

suficiente para convenc-la de que no poderia se casar com ele.Alm disso, uma vez que havia se revelado um retumbante fracasso naseara do casamento, Liz tinha um novo plano... A ser implementado naquelamanh.

No momento em que se encerrou o desjejum, apressou a irm mais nova,Charity, e a criada, Emma, para fora da casa dos Medford e direto para o HydePark, ignorando a torrente de perguntas enquanto se aprontavam.

Estavam no parque no tinha mais de um minuto, quando Charity encarouLiz e lhe levantou o queixo.

Agora vai dizer o que est acontecendo? Se continuar a me provocardesta maneira, vou acabar morrendo!

Liz olhou para trs. Emma caminhava prxima o suficiente para queatuasse como acompanhante, mas sem ouvir a conversa. Est certo. Pelas ltimas semanas, pensamos apenas em uma coisa:

conseguir um homem, qualquer homem que no seja Harold, para que mepea em casamento. Agora que deixamos o luto por papai, titio e mameesto ansiosos para que eu aceite a oferta. Estou ficando sem desculpas,mas talvez haja outro modo de escapar.

No compreendo. Pense. O que Harold ganharia ao se casar comigo? Seus contatos. Ele quer respeito, ascenso social. Exatamente confirmou Liz, com alegria. No vejo onde isso vai dar. No quero me casar com Harold, certo? Bem, ns estvamos

pensando que eu precisaria de uma oferta melhor para me ver livre. Masno preciso. Preciso apenas que ele retire sua oferta.

Mas o que o levaria a fazer isso? Ele j sabe sobre a situaofinanceira de papai, e nem esse grande fiasco o fez retroceder assinalouCharity.

No, porque, pobre ou no, sou uma "moa de famlia". Cus Liz eu no sei se gosto do que est pensando! Se eu no fosse mais respeitvel, se eu estivesse, digamos, arruinada,

Harold voltaria atrs! Quase tropeou sobre uma raiz, tamanha a excitaodiante da idia.


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Isso muito ousado. Mas como voc faria? E pense no que mamee titio fariam!

Atirariam voc para fora, certamente. Voc seria deserdada,desonrada. Para onde iria?

Eu poderia trabalhar para viver, por exemplo. Liz mordeu o lbio,ciente de que seu plano tinha mais coragem do que contedo. Eu teria o que

fazer. Sou boa com agulhas, assim poderia trabalhar para uma costureira. Ou ento tornar-me uma governanta. Qualquer coisa seria melhor do quecasar-me com Harold. Eu seria forada a tolerar seu toque e...

Arrepiou-se, mas lutou para recuperar o controle sobre as emoes. Airm mais nova no precisava saber o quanto o primo distante a assustava. Elehavia tentado chamar sua ateno anos antes, e agora que ela estava mesmo seu alcance, no pararia por nada at que a houvesse desposado

A no ser, e claro, que se casar com ela ameaasse suas ambies e lheferisse a preciosa reputao.

com voc que estou preocupada. Meu casamento deveria garantirseu bem-estar tambm.

Faa o que precisar. E no se preocupe demais comigo. Pelo amorde Deus, no se case com o monstro s porque ele se ofereceu para manter-me alimentada e vestida. Mas, para que seu plano d certo, sua reputaodeve ser totalmente destruda, e em breve. Voc parece se esquecer deque, apesar dos escndalos e dvidas de papai, voc, irm querida, no temqualquer peso sobre seu nome.

At agora.Os olhos de Charity se apertaram. Voc j pensou em tudo. Est tramando algo. claro.

Bem, conte-me! Voc sabe que no suporto quando no me inclui emsuas aventuras.Liz sorriu serena, ainda que seu corao se acelerasse. Voc no pensou que viemos ao Hyde Park apenas para um passeio,

pensou? No, Charity, eu decidi que a melhor maneira de destruir minhareputao, de maneira que seja certo que Harold jamais se aproxime de novo, ser pega em uma situao comprometedora... Com um homem.

Charity parou. Liz, voc no teria cora... Claro que teria. Mas... Voc precisaria de um homem disposto a participar dessa farsa.

Nenhum cavalheiro jamais aceitaria tal coisa! Nenhum cavalheiro. Certamente. Mas Alex Bainbridge, duque de

Beaufort, talvez.Liz o avistou passeando por um caminho lateral. Mesmo quela hora da

manh, o homem tinha a aparncia de um predador. Desde que se interessarapelo belo duque, na infncia, seguindo-lhe cada movimento com fascinao,ela soubera de sua reputao, a combinar com a aparncia letal. Fora assimque descobrira tambm que ele tinha o hbito de passear pelo parque semprena mesma hora.

Est decidido. Vai fazer isso agora? Tem certeza de que no h outra maneira? Agora. Consegue esconder-se?Charity olhou em volta.

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Mary Sutherby e a irm esto logo ali. Vou juntar-me a elas. Porfavor, tenha cuidado!

Cuidado, Charity, exatamente o que no vou ter.Os olhos da irm se arregalaram de apreenso e admirao. Boa sorte disse, e se afastou apressada.Liz virou-se. Um olhar apenas em direo a Emma foi o suficiente para que

a criada ficasse ainda mais para trs.Apressou-se, ento, apenas o suficiente para que interpelasse o duqueenquanto passava-lhe frente. Puxou o vestido um pouco para baixo, de modoa exibir mais o colo, lembrando-se de que sua presa estava acostumada amulheres ousadas.

Sua graa? Srta. Medford... O duque reduziu o passo. Posso tomar-lhe um momento? O corao dela se acelerou. Teve de

levantar a cabea a fim de encontrar-lhe os olhos. Os vastos cabelos negros doduque roaram as faces mal barbeadas quando ele se curvou paracumpriment-la.

claro. Precisa de algum tipo de ajuda? De certa forma.O duque olhou em volta, como se houvesse alguma emergncia.Liz respirou fundo. Como abordar o caso? Os livros de etiqueta no

cobriam o assunto sobre destruir a reputao de algum, apenas diziam comopreserv-la.

Obrigada, Vossa Graa, por permitir-me um momento de seu tempo. No estou aqui para engrossar as fileiras de mulheres oferecidas que o cercam,esperando que lhes oferea a mo.

No? Ele deu um sorriso. Minha habilidade na valsa deve estar

diminuindo. Em geral, no preciso mais do que isso.Contente por ter sido lembrada, Liz duelou contra o desejo de responderjustamente da maneira que havia se prometido a no fazer.

Se no de outra dana que est atrs, e se no teve qualquerinfortnio no parque, ento como posso ser de serventia?

Na verdade, tenho uma proposta a fazer. mesmo? Uma proposta vinda de uma dama? A voz era provocante,

mas as feies estavam em alerta. Apenas espere at que a tenha ouvido.O duque gargalhou, analisando-a com um olhar descrente, e sentiu um

arrepio diante do que estava prestes a fazer.

Veja, minha me est me obrigando a me casar e eu gostaria quemilorde me arruinasse.

Como? Murmurou o duque. Deixe-me compreender... Voc querser arruinada?

Sim. Por mim? O rosto do nobre tomou um ar mascarado, a expresso

cnica substituiu a franca gargalhada de momentos antes. Sim. No tenho muita experincia nesses assuntos, mas pensei que

Vossa Graa saberia como pr algo assim em prtica. Compreendo. E o que ganho com isso? Imagino que o benefcio para milorde seria o que os cavalheiros buscam

quando arrunam uma donzela.O duque se engasgou. claro que se milorde estiver inseguro sobre como fazer...

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No meu conhecimento nessa rea que me faz pensar. a tolice dasua proposta.

Sabe o que est pedindo?Liz arqueou uma sobrancelha. Fao uma idia. Ento sabe o que acontecer a voc.

Sem dvida. Sorriu. Ele poderia no entender, mas aquelasconseqncias eram exatamente o que ela pretendia. Lamento. No estou interessado. Ele se virou para ir embora. Por que no? Ela no pde evitar.O duque virou-se, encarando-a. Pode soar como surpresa, mas no tenho o hbito de seduzir inocentes

e assim isentar-me de minhas responsabilidades. Compreendo.Mas no compreendia. No tinha ele, justo aquela reputao? Bem, milorde no precisaria me seduzir. Poderamos apenas deixar

que o rumor se espalhe. Eu j lhe disse. No estou interessado. O duque olhou por sobre o

ombro, como se devesse estar em outro lugar.O constrangimento a invadiu, e a garganta apertou-se sob a ameaa do

choro. Era hora de aceitar a derrota. Neste caso, agradeo por seu tempo, Vossa Graa. Ficaria grata se

no mencionasse nada desta conversa a ningum murmurou, reunindo osltimos retalhos de dignidade.

Ele acenou-lhe brevemente.Liz virou-se e se afastou o mais rpido que seu vestido lhe permitia.Alex analisou a ruiva enquanto ela se afastava apressada. Toda a famlia

Medford devia estar louca. Era a nica explicao. Ele havia danado com elaem um baile, e a moa lhe parecera muito atraente.Mas ele no soubera quem ela era at que fosse tarde demais.Tendo crescido com Liz, no entanto, bem sabia sobre sua solido. De

qualquer modo, jamais tinha imaginado que a inocente garota planejava pedir-lhe que se envolvesse em to ilcita relao.

Onde ela arranjara tal idia? S podia estar louca. Liz, uma palavra com voc disse lady Medford, abordando a filha no

momento em que cruzou a porta de casa. Charity, a quem Liz tinha se juntadono parque antes que voltasse a casa, ouviu o tom da me e desapareceu comonvoa sob o vento, deixando-a para que se defendesse sozinha

Mame.Lady Medford caminhou ao longo do corredor e Liz a seguiu, resignada,

arrastando os ps sobre o piso encerado de madeira. A mulher virou-se eencarou a filha como um general se dirigindo a um soldado.

Chegou ao meu conhecimento que voc foi vista danando com oduque de Beaufort.

Liz soltou um grunhido. O duque era a ltima pessoa sobre quem desejavafalar agora.

Sim, no baile dos Peasley. Ele a est perseguindo? Creio que no. Beaufort deixara bastante claro que no tinha a

inteno de persegui-la! Bom. melhor que no se envolva com ele.

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Agora Liz estava confusa, j que a afirmao de lady Medford qualificavacomo a nica me em toda a cidade que no desejava ter a filha cortejada pelorico, belo e disponvel duque de Beaufort.

Mame, eu asseguro de que no houve nada. Foi apenas uma dana. Ainda assim, o homem tem uma pssima reputao. Qualquer

envolvimento com ele tem grandes chances de se revelar uma decepo para

voc. Alm do mais, no creio que seu pai aprovasse.Liz olhou a me, espantada. Ela havia evitado a meno ao marido desdeque este falecera.

Ento por que ela o fazia agora? Nada daquilo fazia sentido. Est tudo bem, mame. No tenho qualquer esperana de merecer a

mo do duque. Muito bem. Cus! Este ambiente precisa ser arejado. Os criados

esto se tornando relapsos em seus afazeres.Liz manteve a boca fechada. Os criados no eram relapsos. Estavam

partindo. Sabiam to bem quanto qualquer um que seu pai havia morrido semdeixar herana, e sim dvidas considerveis. Lentamente, vinham arranjandoemprego em casas mais nobres e estveis.

Virou-se para partir, presumindo que a mudana de assunto significavaque estava dispensada.

No, no v... Voc tem visita.Liz fechou os olhos por um momento. Poderia seu dia tornar-se ainda pior?

Primeiro, a cena humilhante e malsucedida no parque. E agora, quando squeria paz, deveria receber.

E com que propsito? A me anunciaria seu noivado em questo de horas,e ela j estava sem idias sobre como evitar o fato.

Wetherby est esperando na sala de costura. Quis ter certeza de que

voc no nutria nenhum sentimento por Beaufort antes que a enviasse at l. Mas vejo que, ao menos neste assunto, voc uma menina sensata.Liz se encolheu. Falar sobre o duque de Beaufort era infinitamente

prefervel a falar com Harold Wetherby. No podemos mais esperar, Liz. O fato de Wetherby no ter um ttulo

lamentvel, mas sua renda no. Dei-lhe todas as razes para quepensasse que seu pedido ser aceito, ainda que, claro ele; queira ouvir issode sua boca.

Maldio. O plano podia ter falhado, mas, de qualquer modo, no estavapronta para encarar o primo.

Sim. Vou v-lo assim que me recompuser do passeio ao parque.

A baronesa concordou de pronto. Vou pedir que o mordomo transmita o seu recado.Quinze minutos mais tarde, Liz adentrava o recinto. Seu indesejado futuro

noivo encontrava-se janela, batendo os calados caros sobre o piso. Noparecia muito feliz em v-la.

Harold ela saudou com tanta polidez quando pde reunir, forandoum sorriso nos lbios.

Liz.Ela se retesou enquanto ele se aproximava. Voc est tima ele elogiou, parando apenas quando estavam a

alguns centmetros de distncia. Melhor do que esperaria de algum lidandocom o luto.

preciso seguir em frente.

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Tem razo. Ainda assim, voc tem seguido em frente um pouco maisdo que eu apreciaria.

Liz ergueu o queixo, num desafio. Do que ele a estava acusando? Nada a dizer em sua defesa, doura? No entendo o que diz. No? Ento me deixe explicar. Por que pensa que me ofereci a

voc?Liz tinha muitas teorias quele respeito, mas, como Harold no iriaapreciar nenhuma delas, manteve-se em silncio.

Respeitabilidade, Liz! Sua ausncia de dote eu posso tolerar. Tenho fundos suficientes. Mesmo assim, planejo freqentar a sociedade, ecertamente quero o respeito que deveria advir com o casamento com a filha deum nobre.

Claro. Mas isso no explica por que me escolheu. Voc sabe muito bem por qu. Seu pai, o jogador desgraado que

era, deixou-a a meu alcance. Compreendo ela murmurou.Desistiu de mencionar que, para algum que alegava querer

respeitabilidade, ele no parecia ter escrpulos quanto a usar uma linguageminadequada diante de uma donzela bem-criada.

Claro que no compreende. De outra forma, teria mais cuidado coma prpria reputao.

Minha reputao assunto meu. Cuidado, Liz! No vou aceitar uma esposa que me responda assim.

Muito menos uma que tenha se arruinado.Mesmo insultada como estava, Liz sentiu um raio de esperana. Ainda no

havia feito nada inapropriado. Mas, se Harold acreditava ser diferente, talvez

pudesse convenc-lo de que o casamento no valeria pena. Ainda no sou sua esposa, e voc ultrapassa os limites me acusando dealguma impropriedade.

Ento o que significa isto? Ele passou o dedo indicador pelo decotebaixo.

Como ousa? Ela o estapeou, indignada. Por que no deveria? Harold avanou outra vez, lanando-lhe um

olhar maldoso. Voc se esforou bastante para se deixar mostra. Uma mulher

respeitvel teria mais cuidado ao se vestir. Assim como far voc quando forminha esposa.

Eu no vou... E alm do mais, voc precisa ter mais cuidado com as suas

companhias. O que quer dizer com isso? O duque de Beaufort! Explodiu o homem, com o rosto vermelho e os

olhos faiscantes.Liz cruzou os braos. Se est to preocupado com seus avanos na sociedade, devia estar

satisfeito por casar-se com algum requisitado por figuras mais preeminentesdo que o senhor.

Harold bufou, diante da resposta. Por mais que seja preeminente, o duque um conhecido libertino!

Todos sabem disso. Ainda assim, voc o acompanha como se fosse uma criada qualquer.

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Talvez o plano estivesse funcionando, concluiu Liz, lanando-lhe um olharprovocativo.

O duque me aprecia. Bah. Ele aprecia sua inocncia, talvez. Mas, de agora em diante,

vai guardar seus flertes e seu corpinho deleitvel apenas para mim. Eu no havia me dado conta de que voc era to... Antiquado. Afinal,

pouqussima gente na cidade espera um cnjuge fiel. Talvez nocombinemos muito, no final das contas. Combinamos bem o suficiente. Harold deu um passo frente,

fechando a mo em volta do brao dela. No vou deixar que seja arruinadapor outro homem. O direito ao seu corpo meu. E vou casar-me com afilha de um baro, no com uma meretriz.

A bile subiu pela garganta de Liz ante a idia de ela ter de encarar aintimidade de tal monstro. Sem pensar, ela o estapeou com toda a fora quepde reunir.

Harold a soltou to depressa que ela chegou a cambalear. Sua cadela! Berrou, segurando a mo no rosto. Saia daqui. Ela apontou um dedo em direo porta.Harold cambaleou at a sada e ento se virou No pense que isto est encerrado, Liz. Voc pode se safar agora,

mas, como minha esposa, vai aprender a se curvar diante de minhas vontades. Bateu a porta atrs dele com tanta fora que fez a madeira reverberar sobrea soleira.

Liz sentou-se, tremendo, na poltrona mais prxima, e abraou a si mesmacom fora. A pele do brao ainda ardia onde ele a havia apertado. Na manhseguinte, haveria hematomas, sem dvida.

A gritaria de Harold, contudo, podia significar que ele estava ponto de

desistir do casamento. No poderia trat-la daquela forma e ainda esperar secasar com ela!Alex mirava o brandy atravs da penumbra do escritrio. Pensara em

passar a noite em casa, mas o incidente da manh, no parque, se repetia emsua cabea. Por que no podia simplesmente bloque-lo? A adorvel ruiva erato louca quando o pai, mas o desespero que flagrara em seus olhos devorava-lhe a alma.

Ela jamais teria se aproximado se soubesse o que ele faria. Ou talveztivesse, refletiu aps um longo gole do conhaque. Afinal, ele havia tomadoparte na destruio de sua famlia, ainda que no tivesse sido nada intencional.Por que ele no terminaria o trabalho?

No. Irredimvel como era no desceria to baixo. Aquilo ira contra seucdigo de conduta.

Os olhos verdes e magoados de Liz danaram em sua mente. Se ela aomenos soubesse... No teria sido sacrifcio nenhum. Ele podia se; ver beijandoo lbio carnudo ou o canto do sorriso tmido. Exploraria as formas esguias deseu corpo, a curva dos seios, a pele macia...

Virou o resto do brandy e se levantou. At o pensamento excitava. Hanson! Gritou pelo pajem.Precisava de distrao. Uma noite de cartas e bebedeira, talvez. J que

havia dispensado sua ltima amante, e como no gostava de casas detolerncia, iria se restringir aos clubes de cavalheiros.

Alex chegou ao White's mais tarde naquela noite, apenas um poucobbado, e seguiu imediatamente para sua mesa. Lordes Stockton, Wilbourne e

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Garrett, todos antigos jogadores, j estavam sentados e dedicados aoagradvel passatempo de apostar quantias obscenas.

Enquanto sentava-se, um garom apareceu com um copo de seucostumeiro conhaque, e Alex o agarrou. As trs doses que tinha bebido antesde sair de casa no tinham apagado de sua memria a menina tentadora quelhe havia oferecido sua prpria runa naquele dia. Tampouco as lembranas do

pai dela.Os outros homens o conduziram a um jogo de cinco cartas. Jogaram vriasrodadas, mas a mente de Alex no estava ali.

Qual foi coisa mais estranha que j ganharam nas cartas? Perguntou Wilbourne.

Uma pequena propriedade na Esccia lembrou-se lorde Stockton. No alto das montanhas. Um lugar selvagem onde nenhum ingls em sconscincia viveria.

Lorde Garrett, o mais jovem, arrepiou-se. De qualquer maneira, terras so terras, e com freqncia se aposta

para obt-las. Isso no to estranho. Eu, por outro lado, mereci ganharum leito premiado.

Voc, dono de um porco? Wilbourne gargalhou. Pelo tempo que me leve at que o venda a qualquer preo.Stockton balanou a cabea. Apostador experiente lidava apenas com

dinheiro e terras. Um porco! Wilbourne riu outra vez. Algo que ganhou pode superar

isso, Beaufort? Uma mulher contou Alex, e quase imediatamente se arrependeu.

Devia ter parado de beber quando houvesse alcanado o ponto em que a bocafuncionava mais rpido do que o crebro.

Os outros trs o fitaram, interessados. Conte. Wilbourne baixou as cartas. Uma criada? Perguntou Stockton. Amante de algum? Colaborou Garrett.Ele sacudiu a cabea, desejando no ter de explicar. A filha de algum.Os trs homens pareceram horrorizados, e Alex suspirou. Eu estava apostando com um homem que havia passado dos limites.

Eu no sabia, ou ento jamais teria jogado com ele. De qualquer forma, suficiente dizer, quando ele se deu conta de que no poderia pagar por suasmuitas perdas, ofereceu a filha em troca.

Quem faria tal coisa? Ofegou Wilbourne. O homem j faleceu. Prefiro no citar o nome e no pisar-lhe ainda

mais a memria. Barbaridade grunhiu Stockton. Uma atitude positivamente medieval confirmou Wilbourne. Voc aceitou? Perguntou Garrett. claro que no aceitou respondeu Wilbourne por Alex.Um homem sentado mesa mais prxima, o qual Alex, em meio ao torpor

do lcool, no foi capaz de identificar, levantou-se e roou suas costasenquanto passava, fitando-o por um pouco mais de tempo do que seriaeducado.

Havia ouvido a conversa, sem dvida.Garrett olhou para Alex, buscando confirmao. No, no aceitei ele disse.

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Seria sua reputao to ruim a ponto de que os amigos o julgassem tomal? Possura muitas amantes e concubinas, mas jamais havia tomado umamulher que no se apresentasse por espontnea vontade.

Ps-se de p. Lamento arruinar suas expectativas, Wilbourne, mas vai ter de se

contentar em ganhar o dinheiro desses outros cavalheiros pelo restante da

noite.Liz chegou ao refgio temporrio do quarto, caminhou por algunssegundos, e ento abriu o guarda-roupa e o ba. Contemplou quais coisasseriam mais essenciais para que levasse consigo. A fria e o medo que sentiradiante de Harold haviam cedido, deixando para trs uma sentena firme.

um homem horroroso. Um verdadeiro animal.Liz se assustou quando deram voz a seus pensamentos. Charity! Voc realmente sabe surpreender as pessoas. Ele a machucou? No muito. Ela esfregou o brao. Liz, como voc pode suportar? Ele terrvel demais. Com renda ou

no, no consigo compreender por que mame e nosso tio querem que se casecom ele. Fiquei feliz por voc t-lo estapeado.

No foi meu melhor momento. Est errada. Ele merecia aquilo e mais. Voc no pode casar-se

com ele, Liz! Eu sei.Charity olhou em volta, parecendo notar pela primeira vez as malas que a

irm estava fazendo. Est partindo?Liz concordou em silncio.

Acho bom mesmo. Charity suspirou. Mas para onde vai? Vou visitar Bea. Ela vai me abrigar at que eu pense em algo.Lady Beatrice Pullington havia adentrado a sociedade no mesmo ano que

Liz, e as duas tinham se tornado; amigas bem depressa. Bea se casara quaseimediatamente, j que a famlia fizera arranjos antecipados com lordePullington, um membro mais velho da linhagem. Mas o homem havia vivido porapenas seis meses, at que seu frgil corao cedesse por completo, deixandoBea como uma prspera e jovem viva.

Pelos ltimos dois anos, Bea havia mantido a casa na cidade, um privilgiogarantido por seu status de viva. Era bonita; e rica o suficiente para atrairoutro marido. De qualquer modo, no tinha desejo de renunciar

independncia que julgava merecer aps o breve, porm, difcil casamento.Liz sabia que poderia encontrar refgio temporrio com a amiga.Charity concordou tensa. Devo escrever-lhe uma mensagem enquanto voc faz as malas? No. Ela teria de ser entregue, e melhor que pouca gente saiba de

meu destino. Confio que Bea no me deixar plantada porta, por mais inesperada

que seja minha visita. E tambm sei que posso confiar em voc para queno diga nada a ningum.

claro. E, Liz, voc pode fazer isso sozinha. No precisa queBeaufort a arrune nem nada.

Ah! Nem me lembre disso. Em que eu estava pensando?

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Ah, no seja to dura consigo. Talvez voc quisesse apenas umpouco de diverso, antes de se confinar a uma vida de tdio. O duque bem"quente", no ?

Charity!A irm sorriu, depois voltou a ficar sria. Quando vai partir?

Esta noite, depois que mame tiver se recolhido. Perfeito. Vou dizer que voc escapou enquanto eu dormia. E vouagir como se estivesse magoada por no ter confiado em mim.

Obrigada.Liz sorriu e deu um rpido abrao na irm. Ento fechou a mala.Nas horas seguintes, as duas circularam pela casa, fingindo estar tudo

normal sempre que os criados se aproximavam, fazendo planos sussurradosquando se viam a ss.

A noite chegou, mas nenhuma mostrava qualquer inclinao para o sono.Charity olhou atravs da janela de Liz, agarrando as cortinas. A irm,

estranhamente calma, sentava-se prximo penteadeira. Ouvi mame dizer que tem um encontro na residncia dos Jameson

esta noite. Assim que ela se for, voc pode seguir seu rumo. Olhe! Ocondutor j est preparando o coche.

Liz concordou. O velho condutor, Fuston, estivera dirigindo na noite doacidente e havia desaparecido logo aps a morte do pai dela. Na certa sesentira culpado demais para permanecer no emprego.

Pronto, minha irm. Mame est subindo no coche!Liz se levantou e contemplou a irm que amava com todo o corao. Charity, tem certeza de que estar bem, depois que eu for?A moa sorriu.

claro. Eu sei que no ficaro felizes comigo, mas posso suportar. No precisa mais me proteger, Liz.Liz deu-lhe um longo abrao. Vou sentir a sua falta mais do que tudo! Recomps-se rapidamente.

V frente e consiga uma carruagem. Vou terminar aqui e estarei prontaquando ela chegar.

Olhou o adorvel quarto verde e dourado que conhecera por anos, e bateua porta para aquela antiga vida.

O estbulo dos Derringworth, localizado nos arredores de Londres, serviaapenas aos clientes mais distintos: nobres, em sua maioria. A empresa possuatudo, desde cavalos de corrida at montarias para donzelas, com apenas uma

regra: qualquer cavalo proveniente dos Derringworth era da mais alta qualida-de. A operao representaria a eptome do que Harold Wetherby aspirava setornar. Motivo pelo qual o homem estava a caminho de l, interessado emconseguir um novo animal.

Um jovem encontrava-se sentado a uma pequena escrivaninha esquerdada entrada, e se levantou ao v-lo.

Harold estufou o peito. Harold Wetherby. Vim para ver o garanho que, dizem, est venda. Sr. Wetherby... Sim, vi seu nome em nosso livro. Tim Kemble. Sou

assistente do Sr. Derringworth.Um assistente? Sua visita no merecia a presena do proprietrio?

Perguntou-se Wetherby, irritado. Se milorde me acompanhar, podemos dar uma olhada no animal.

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Passaram por uma baia vazia, depois por vrias que abrigavam belosreprodutores e guas, at que Kemble se deteve.

Este garanho soberbo. Descendente de Warrior Prince. Agora,se de um cavalo para cavalheiros que milorde est atrs, pode se interessarpelo Marty aqui. Gesticulou para dentro de uma baia. tambm um beloanimal.

Harold lanou ao bicho um olhar impaciente. O cavalo era mesmoexcelente, mas suspeitou de que Kemble o houvesse julgado mentalmentecomo indigno do melhor animal que o estbulo possua.

Algum a? Uma profunda voz masculina soou da entrada. Um momento, Sr. Wetherby. Kemble se apressou em ir cumprimentar

o novo visitante.Harold rangeu os dentes. Vossa Graa! Que surpresa! A voz do rapaz ecoou pelo estbulo

logo depois. E uma honra eu devo acrescentar. Se soubssemos quemilorde viria, tenho certeza de que o Sr. Derringworth teria dado um jeito dereceb-lo.

Harold caminhou em direo entrada enquanto Kemble retornava aolado do duque de Beaufort. Poderoso e respeitado. O homem poderia ter tudono mundo, bastaria pedir. Por isso ele o odiava.

O que posso fazer por milorde? Perguntou Kemble. Meu cunhado diz que tem um garanho que vale a pena...Harold sentiu-se retesar. O duque estava interessado no mesmo cavalo

que ele! Sim, ele, Harold Wetherby, antigo joo-ningum, mas agora umhomem em rota ascendente.

Certamente. Uma bela criatura.Enquanto se aproximavam, Kemble assustou-se, parecendo ter se

esquecido de sua presena. Ah, na verdade, o Sr. Wellesley e eu seguamos naquela direo... Sr.Wellesley, o que achou do Marty aqui?

Wetherby corrigiu Harold. E prefiro ver o outro garanho. Sem dvida, mas... Vossa Graa, o senhor se incomoda?Harold bufou. Ele estava ali antes, e com hora marcada!O duque deu de ombros, displicente. Ento venham comigo, cavalheiros.Ao final do salo, havia uma baia com o dobro do tamanho das outras. O

garanho do lado de dentro era massivo, a pelagem de um castanho radiante.Harold suspirou. Ele jamais se sentira confortvel ao lado de grandes

animais, mas quando o duque avaliou o cavalo e lanou ao gerente um olharde aprovao, mudou de idia.

Balanou a cabea, demonstrando sua admirao, e declarou: Agora sim, est mais do meu gosto. Quero algo que impressione

minha noiva. O senhor vai se casar? Perguntou o assistente, finalmente desviando

o olhar do duque. Meus parabns.O garanho balanou a cabea e bufou. Harold deu um passo atrs, mas

disfarou em seguida.No queria fazer feio diante de Beaufort. Tempestade o nome dele disse Kemble. Precisa de um pulso

firme.

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Talvez o duque concordou. Mas, sem dvida, o animal tem sidobem tratado.

Harold forou uma gargalhada. Ento ele precisa de um pulso firme, assim como a minha noiva... Vou

trein-los juntos. Ela uma beleza, mas de gnio difcil.

O assistente do estbulo lanou um olhar constrangido ao duque. Abriu aboca como se fosse dizer algo, mas a fechou em seguida. Um animal precisa saber quem seu mestre prosseguiu Harold,

cnico. Depois, a montaria se torna mais suave. E eu certamente apreciouma boa cavalgada... Estendeu o brao a fim de acariciar o animal, mas obicho balanou a cabea e retrocedeu. claro, que domarei nosso amigoaqui antes que o consiga com Liz.

Liz? Perguntou o duque. Sim confirmou Wetherby, o peito estufado. Liz Medford. Talvez

tenha ouvido falar nela? filha de um baro. Boa e antiga famlia. Belamoa tambm, apesar de cabea-dura, como eu j disse. Nada, claro, queum homem como eu no possa resolver.

A expresso do duque era ilegvel. Poderia estar com cimes? Por menosrazovel que fosse no havia dvida de que Liz era atraente.

Wetherby estreitou os olhos. Em sua recente discusso, ela quasedemonstrara interesse por Beaufort. Mas de maneira nenhuma ele a deixariaescapar agora. Por isso decidira pressionar o tio de Liz para que o annciofosse feito logo.

Havia apenas uma coisa faltando para selar aquela tarde perfeita. Quanto quer pelo garanho, Kemble?O assistente se inquietou.

Sr. Wetherby, se uma boa montaria que o senhor quer talvez umanimal de corrida no seja sua escolha ideal. Quanto quer pelo cavalo?Kemble endireitou os ombros e gesticulou em direo ao animal. Bem, Sr. Wetherby, um cavalo com a procedncia de tempestade...

Sua voz foi sumindo, cheia de significado. Quanto quer por ele, Kemble?O jovem olhou para o duque, depois para Harold. Se o senhor estiver interessado, poderia marcar uma hora e... Estou preparado para conversar agora disparou; Harold, os punhos

cerrados.

O preo sugerido de mil e duzentas libras disse Kemble.O duque, um homem conhecido por suas extravagncias, nem se moveu.

Harold, por outro lado, teve de engolir em seco. Aquele assistente idiota spodia estar tentando roub-lo.

uma bela quantia, devo dizer. Forou-se a respirar normalmente. Talvez se pudesse fazer com que o animal trotasse... Mostre-me do que ele capaz.

Tomara pudesse descobrir algum defeito no bicho e forar o assistente abaixar o preo.

Ficarei feliz em levar Tempestade at o lado de fora respondeu orapaz. Quando o vir em ao, vai perceber que o preo se justifica. Vouapront-lo...

Antes que ele o fizesse, contudo, o duque o deteve pelo brao. Negcio fechado.

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P-Perdo? Gaguejou Kemble. Como assim? A pergunta brotou da boca de Harold antes que ele

pudesse impedir. O maldito duque o ignorara! Fao negcios com Derringworth h tempo suficiente para saber que

ele garante seus animais. Tempestade vale no mnimo esse preo. Enviarei meu procurador com uma nota do banco, e o restante da quantia

amanh cedo. Esperem s um minuto! Intrometeu-se Wetherby. Mesmo assim,ningum lhe prestou ateno.

Como quiser Vossa Graa disse Kemble.A raiva brotou em Harold quando ele se deu conta de que, o tempo inteiro,

sua presena no estbulo havia sido meramente tolerada. Inacreditvel! Rosnou, partindo em seguida.Os dois homens o observaram indo embora. Vossa Graa comeou o assistente da gerncia, constrangido , nem

tenho como dizer o quanto lamento... No se preocupe. Alex o tranqilizou. No era ningum de muita

significncia. Isso mesmo. Por favor, deixe-me assegur-lo de que Derringworth

no serve a essa clientela... Lamento pela noiva dele. Eu tambm.Impossvel que aquele imbecil estivesse prestes a se casar com Liz.

Aquele arrogante no sabia nem mesmo como adquirir um cavalo! Estou perdida, Bea! O que aconteceu? Voc conhece as circunstncias nas quais meu pai nos deixou

respondeu Liz. E parece que o restante da cidade tambm. Minhas

perspectivas so nfimas. Lamento Liz.Bea realmente lamentava, notou Liz, ao contrrio de tantos outros que

diziam as palavras enquanto se deliciavam com sua derrocada. Era mais umarazo para que considerasse Beatrice Pullington como uma verdadeira amiga.

Na noite anterior, quando ela chegara porta de Bea com a mala na mo,fora recebida sem questionamentos. A moa a havia instalado em umconfortvel quarto de hspedes e cuidado de cada necessidade sua, at queela sucumbira exausto aps o dia tumultuado.

Agora era o meio da manh, e as duas relaxavam no pequeno salo dacasa enquanto debatiam sobre o futuro de Liz.

No s isso. O irmo de minha me, tio George, o chefe dafamlia agora. Ele insiste em dizer que no pode sustentar a todos e querque eu me case com o nico pretendente que me restou: Harold Wetherby.

Wetherby? No o conheo. No pessoalmente. Ele uma espcie de primo distante de mame.

No anda pelos altos crculos. Mas j lhe contei sobre ele, Bea.Os olhos de Bea se arregalaram com a lembrana. Aquele Wetherby? O do piquenique que... Esse mesmo. No! Bea exclamou baixinho, tomando um breve gole de dia. Por isso no quero voltar para casa. Prefiro trabalhar para viver. Fazendo o qu? Essa a questo. Pensei em me tornar costureira. Sou boa com

agulhas.

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Sim, Liz, mas as melhores modistas vo querer referncias, e voc notem nenhuma.

O que me sugere, ento? H poucas maneiras pelas quais umamulher pode ganhar a vida e se manter annima.

Triste, mas verdadeiro. Conheo uma que ganha vida escrevendolivros...

No tenho competncia para isso, Bea. Alm do mais, levaria muitotempo. Voc bem-vinda para ficar aqui por quanto tempo queira. No

nenhum sacrifcio para mim. Eu sei, e agradeo por isso. No sei para onde mais eu poderia ir,

seno para c. Mas no posso ficar escondida para sempre. Preciso sair oquanto antes. Qualquer que seja o trabalho que eu encontre, deve ser emum local onde meu tio no pense em procurar por mim.

Eu poderia ser uma governanta. E cuidar da casa e dos filhos de outra pessoa? E se forem mimados

ou mal-educados? Ah, Bea. Eu amo crianas! Mas Liz, voc acha que tem jeito para ser governanta? Voc um

tanto cabea-dura, ainda que eu a ame por isso... Creio que esse tipo decaracterstica seja malvisto em governantas.

Tenho certeza de que posso superar esse meu defeito. No possomais me dar o luxo de escolher muito. Mas provavelmente terei o mesmoproblema para arranjar referncias.

Muito provavelmente. Se uma costureira precisa de refernciasimagine o que... Espere!

Eu conheo a pessoa perfeita para acolh-la. Ela pode reconhecer

voc, mas uma alma caridosa. Andei ouvindo, em um ch, outro dia, queela estava ansiosa por contratar uma boa governanta. Ela vive no campo,ento menos provvel que voc seja vista.

Quem ? A viscondessa Grumsby. Grumsby, Grumsby... A irm do duque de Beaufort? Mas ela a irm

de Alex Bainbridge! Eu no poderia! Liz, eu sei que voc tem certo interesse por ele, mas depois que nada

aconteceu aps aquele baile, falho em ver qual o problema. No foi s isso.Tristonha, Liz contou os detalhes de seu encontro com o duque.

Cus! Isso foi ousado. Voc no cabea-dura, minha amiga, completamente louca!

Liz sentiu as faces arder. De qualquer maneira, continua no mesmo ponto em que estaria caso

ele tivesse aceitado sua proposta continuou Bea. Pode ser um tantodesconfortvel se conseguir o emprego e ele aparecer para uma visita irm, claro, mas ser uma chance nica para que voc se mantenha fora decirculao.

Era verdade, pensou Liz. De qualquer modo prosseguiu Bea , acho que vale a tentativa.

Como eu disse, lady Grumsby fica no campo quase o tempo todo, o que deveproteg-la dos olhos mais perigosos.

Mas e se Alex tiver contado a ela sobre mim?

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Pouco provvel. Se ele no quer ter o nome envolvido como eu emum escndalo, por que faria isso? Ele provavelmente j se esqueceu dissotudo.

Liz no estava to certa sobre aquilo, mas, como no podia pensar emopo melhor, e como a idia de deixar a cidade por um tempo tinha um forteapelo, concordou com o plano.

Em questo de horas, Beatrice enviava uma mensagem lady Grumsbyatestando sua total idoneidade para o posto de governanta.E como era possvel que lady Grumsby a reconhecesse de qualquer

maneira, Liz concordou que Bea revelasse seu verdadeiro nome. Apenasrezava para que a me no descobrisse tudo, pois lady Medford tomava ostatus de nobreza com bastante seriedade.

Passou os dias seguintes na expectativa por uma resposta.Como mal podia passear pelas ruas de Londres sem ser vista, Liz se

manteve na casa. Bea tinha mais liberdade e, com a ajuda se Charity,conseguira trazer mais dois de seus vestidos, embora ambos tivessem; sidotingidos de cinza aps a morte do pai dela. Se for trabalhar como governanta,precisa se parecer com uma disse Bea enquanto a ajudava a remover os laosque davam aos trajes sua nica aparncia mais moderna.

A notcia sobre seu desaparecimento ainda no chegou cidade. Suairm diz que a famlia mantm o fato em segredo, esperando encontr-la logoe pr fim situao. O escndalo seria enorme. Eu; claro, jurei que nosabia de nada. Mas Liz, acha que est fazendo a coisa certa?

No tenho dvida disso. Se assim... Bea deu-lhe um; tapinha no brao.Por fim, as boas notcias chegaram: lady Grumsby estava Interessada em

entrevist-la!

Imediatamente, Bea a ajudou a fazer as malas; e Liz comprou umapassagem na carruagem de aluguel que partiria na manh seguinte.Suspirou conformada. No via mais coches luxuosos em seu futuro.A despeito de ter sado cedo da casa de Bea, era quase noite quando a

carruagem se aproximou de Garden Home, a propriedade pertencente irmdo duque de Beaufort e seu marido.

Dado o nome simples, Liz esperava um terreno agradvel, pormmodesto. Em vez disso, o coche passou por vastas relvas bem aparadas e, porfim, avizinhou-se a uma manso espalhada que parecia um conglomerado detodos os estilos arquitetnicos que a Inglaterra conhecera nos ltimos quatrosculos.

Bateu porta, na entrada traseira da casa, trmula.Uma criada veio atend-la e a analisou de cima abaixo. Sim? Estou aqui para uma entrevista de emprego.A moa modificou a expresso para outra de maior respeito. Sim, madame. Lady Grumsby imagina que esteja cansada da viagem.

Devo mostrar-lhe um quarto e sua entrevista ser pela manh, bem cedo. Por aqui.

Liz mordeu o lbio, desacostumada a ser tratada com tanta casualidadepela criadagem, mas seguiu a criada ao longo de um corredor. Era melhor quese adaptasse logo, j que a posio de governanta estava acima da dosempregados...

Ainda que bem abaixo da que conhecera por tantos anos.

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Liz acordou cedo e j estava totalmente vestida, para no mencionaransiosa, quando a criada bateu porta trazendo-lhe uma bandeja com o cafda manh. Aps o rpido desjejum, ela foi levada at o salo principal.

A moa indicou um pequeno banco, recostado numa das paredes, prximoa uma porta que levava, na certa, a outro cmodo.

Espere aqui, por favor.

Liz sentou-se, imaginando como melhor apresentar suas limitadasqualificaes.A criada reapareceu momentos depois. Lady Grumsby vai receb-la agora.Liz deixou escapar o ar que, no havia se dado conta, estava segurando, e

adentrou o salo, um recinto agradvel, decorado em tons de marfim e azul-claro. Uma adorvel morena, alguns anos mais velha do que ela, sentava-se borda de uma delicada cadeira, diante de uma escrivaninha. Sua aparnciatornava relao com o irmo do duque reconhecvel.

Ciente de seu movo status social, Liz se curvou numa reverncia. Milady... No imaginei que fosse ser entrevistada pela senhora. Minhas crianas so muito importantes para mim; querida. Encontrar

uma governanta para elas no uma tarefa que eu julgue apropriado confiar amais ningum.

Liz sorrir aprovando os sentimentos da mulher. Ento voc a Srta. Medford.Liz hesitou, rezando para que o nome Medford fosse comum o suficiente

para que a viscondessa no pensasse em associ-la filha do baro de mesmonome.

Sim, milady. Certo. Bem, Srta. Medford, eu normalmente no entrevistaria sem

referncias, mas lady Pullington sugeriu que conversssemos, de modo queencaro isso como uma referncia. Minha ltima governanta partiu paracuidar de um parente adoecido. Pode sentar-se... A viscondessagesticulou em direo a uma pequena cadeira, acolchoada em amarelo plido.

Por favor, conte-me sobre suas qualificaes.Liz se preparava para blefar, quando a viscondessa franziu a testa. Espere um momento. Voc disse que seu nome era Medford? Voc

no tem alguma relao com... No, no pode ser. Meu vizinho esteve-mecontanto sobre tudo o que aconteceu nesta temporada, e o nome Medford;veio tona, ento pensei...

Liz se moveu desconfortavelmente na cadeira.

Sim, milady. Sou a filha de lorde Medford. No me diga! Como pode se candidatar a um emprego de

governanta? Os olhos de lady Grumsby refletiam seu constrangimento. uma histria bem longa. Por favor, milady eu asseguro que esse

trabalho me necessrio. Minhas condies no so mais as mesmas. Preciso dessa posio e amo crianas.

Estou disposta trabalhar duro, a cuidar delas e a ensinar-lhes tudo oque sei.

A viscondessa cruzou os braos e lanou-lhe um longo olhar. Est comprometida? No, senhora. Mas minha famlia no pode mais sustentar duas filhas

solteiras, e no tenho o desejo de tornar-me um peso quando nem ao menostive a oportunidade de me casar.

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Liz esperava que a viscondessa no fosse adiante ao assunto, poisexplicar que havia recusado a escolha da famlia por um pretendente no serefletiria bem em seu carter, no importando o quanto abusivo este fosse. Eramelhor deixar que lady Grumsby pensasse que era um tremendo fiasco naseara do casamento.

Compreendo. Lamento saber sobre o infortnio de sua famlia.

Voc conhece as responsabilidades de uma governanta? Pouco secomparam s da vida que voc costumava levar. Sim, milady. Eu conheo. Bem, se voc foi criada na sociedade, no posso censurar sua

educao. Meus filhos so ainda muito pequenos, mas quero deix-losexpostos boa moral e ao aprendizado.

No meu caso, tive tudo do mais apropriado, milady. Vou dar-lhe o emprego em regime de experincia. Se, aps um

perodo de trs meses, as crianas e eu acharmos que serve... Voc fica.Liz sorriu genuinamente. Obrigada, milady. No vou desapont-la. timo. Ficarei muito feliz com a sua ajuda s crianas, pois estou

esperando convidados para uma noite prxima. Uma pequena festa na casadurante a visita de meu irmo.

O estmago de Liz revirou, mas ela conseguiu manter um sorriso. AlexBainbridge estaria vindo! O homem diante do qual ela havia se humilhado.Aquele que poderia faz-la ser despedida com apenas uma palavra.

Alex deu com as esporas no cavalo, atravessando o campo aberto. Ogaranho balanou a cabea e flexionou os msculos como resposta aocomando, e ele se deliciou com o ar pesado passando-lhe pelos cabelos. Seusolhos soltaram lgrimas pelos cantos quando o animal cunhou velocidade, e

ele sorriu. No podia pensar em nada que preferisse estar fazendo naquelaperfeita manh de maio. Havia adquirido o animal no estbulo deDerringworth, em nome do cunhado, Brian Grumsby.

Normalmente, teria examinado melhor o animal antes de fazer umaoferta, mas havia se irritado demais com o tal Wetherby para se ater anegociaes.

No fim, o esforo fsico despendido na cavalgada matutina; o ajudou aafastar da mente os sofrimentos do passado.

Deixou o pensamento vagar, enquanto o solo desaparecia sob os cascosfaiscantes. Em Londres, ele era caado por homens de negcios, nobresfalidos, mulheres esperanosas. Dos negcios gostava, e j havia muito se

acostumara s outras coisas. Mas s vezes, um homem precisava ficar sozinho.O problema era que vinha se sentindo assim com muita freqncia.

A casa da viscondessa, com seus jardins aparados; surgiu diante dele.Faria uma boa visita irm e se divertiria com as crianas antes que os outrosconvidados chegassem. No ficar empolgado ao ouvir sobre a festa, masMarian raramente as fazia e agora contava com sua presena.

No poderia decepcion-la, voltando a Londres.Encontrou os sobrinhos do lado de fora, aproveitando a manh com sua

governanta, cada um puxando-lhe uma das mos enquanto apontavamempolgados, para flores, insetos e outras curiosidades. O pequeno Henrylutava para agarrar a coleira de um exuberante filhote de labrador.

A governanta era uma mulher simples, de chapu cinza e vestido damesma cor, mas a ateno que dedicava s crianas era admirvel. Ela

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balanou a cabea e riu quando sua sobrinha, Clara, exibiu um pequeno ninhode pssaros.

To entretida estava a moa que no notou sua chegada. O filhote delabrador, ao contrrio, ficou louco de excitao, desvencilhou-se de Henry ecorreu desajeitado, pelo jardim.

O menino tentou agarrar a coleira que rastejou como cobra sobre a

grama, e puxou consigo a pobre governanta, que perdeu o chapu.Uma massa de cabelos vermelhos caiu em cascata sobre os ombrospequenos, e Alex segurou a respirao. Conhecera apenas uma mulher comcabelos como aqueles. Mas, que diabo ela estava fazendo ali?

Liz espanou a poeira enquanto Henry ralhava com o cachorrinho. No brigue demais com ele, Henry. Ele s um bebezinho, afinal. E o que faria um bebezinho ao ver um cavalo grande e assustador?Liz olhou para cima, e Alex pde ver seus olhos se arregalando ao avist-

lo. As faces preencheram-se de cor e ela balanou a cabea levemente.Alex fez que sim, entendendo a splica silenciosa. Tinha muitas perguntas

para a donzela da alta sociedade convertida em governanta, mas no aconstrangeria diante das crianas.

Tio Alex! Inconsciente da tenso entre os dois adultos, Henry saltoupara cima e para baixo, tentando merecer a ateno do tio.

Sua governanta est certa, Henry ele falou, curvando-se para abraaro menino.

Aqui, deixe-me mostrar uma maneira melhor de segurar a coleira.Alex sentiu os olhos de Liz fixos nele enquanto se detinha nos cuidados

com o filhote. Pelo canto dos olhos, pde v-la endireitar o chapu e retirar-separa um pequeno banco de jardim enquanto ele brincava com as crianas.

Que diabo tinha acontecido nas ltimas duas semanas para que Liz

mudasse to radicalmente?E como ela havia ido parar ali?Quisesse a Srta. Medford ou no, ele descobriria mais. Com uma promessa

de retomar em breve, enviou os sobrinhos de volta para Liz.Precisava encontrar Marian.A irm sentava se em seu salo favorito, o recinto azul e marfim,

trabalhando em seu bordado. O que ela est fazendo aqui, indagou de supeto.Marian saltou, deixando cair agulha. Quem? A Srta. Medford.

Eu a contratei como governanta. Sim, mas... Voc ao menos sabe quem ela ? claro que sei. Sente-se, Alex. No h necessidade de sermos

dramticos. Falho em ver o que o incomoda. No culpa da moa quesuas condies tenham se deteriorado.

Voc preferiria que eu a deixasse na rua? No. Alex passou a mo pelos cabelos, ignorando o convite para que

se acomodasse. Sim.Marian apertou os olhos, ciente dos rumores sobre as vrias ligaes

amorosas do irmo. H algo mais que eu deva saber sobre ela? No. A despeito da proposta ultrajante de Liz, sobre a qual ele no

parava de pensar, nada havia realmente acontecido Alm disso, havia

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concordado em no mencionar aquela conversa, de modo que no haveriamais nada a dizer.

A expresso de Marian suavizou. Ela um amor com as crianas, Alex. Apenas quer se esquecer do

passado e; fazer seu servio. Isso tudo o que eu peo tambm. Imaginocomo deve estar sendo difcil para ela.

Deixe-a em paz.Alex tomou um assento. Liz era uma farsante. Estava certo disso. Umabela farsante, claro, mas nenhuma moa da cidade iria trocar uma vida deprivilgios pelo trabalho de governanta.

Ento, quem voc convidou para essa sua festa? Perguntou,tentando mudar de assunto.

um evento pequeno, certo? Afinal, a temporada continua. Bem pequeno. Cerca de vinte convidados. Um olhar de cupido que

Alex conhecia bastante bem iluminou os olhos da irm. Srta. Landow e Srta.Symington estaro presentes, junto com uma prima recm-chegada da Frana. No consigo lembrar-me do nome agora, mas ela solteira...

Por favor, no me diga que esta festa foi arranjada com o propsito deencontrar para mim uma companhia.

Uma noiva. Mas no s por isso que estou dando a festa. Dequalquer maneira, quando que vai sossegar, Alex? J faz tempo que nocorteja algum seriamente.

No estou interessado. Voc precisa de um herdeiro, esqueceu? Fala como se eu tivesse um p na cova! claro que no. S quero que seja feliz. E no importa o que

alegue esses seus casos no o deixam assim.

Veremos ele falou taciturno.O plano de Alex para descobrir os reais motivos de Liz no progredia bem.Havia sabido pouqussimo pela irm, e confrontar a moa era difcil, j que atentadora governanta mantinha-se a distncia.

Na tarde de sbado, assistiu, enquanto Liz caminhava com os pequenospelo jardim, apontando as vrias plantas e arbustos, uma verdadeira aulasobre a natureza. Os outros hspedes estavam fora, visitando a cidadeprxima, mas ele declinara do convite, alegando precisar cuidar de assuntos dapropriedade.

Liz gargalhava por algo que uma das crianas havia dito. Permitira que ochapu casse para trs, e os raios do sol beijavam-lhe as faces e luziam sobre

seus cabelos.Ela era um enigma, concluiu Alex. Trs semanas antes, pensava nela

como no mais do que uma filha mimada e impetuosa, que no sabia o que eramelhor para si e vinha de uma famlia de tratantes. A maior parte de Londressabia, quela altura, que os cofres dos Medford se encontravam vazios, e que afamlia tangenciava a linha da penria. Estava bem ciente sobre seu prpriopapel em lev-los quele estado, mas o que a Srta. Medford esperavaconseguir, quando se aproximara dele, no parque?

Do lado de dentro da manso, Alex entornou o restante do vinho,desejando que fosse um brandy. Marian poderia ralhar com ele, caso quisesse,mas no estava disposto a encorajar toda donzela desesperada que lhecruzasse o caminho. Seu corao no estava ali.

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Antes que outra convidada da irm viesse a seu encalo, optou por umasada discreta, dirigindo-se ao jardim. Depois, poderia voltar por outra entradae buscar refgio em seu aposento.

Ao dar a volta por um caminho e avistar a silhueta de uma jovem sozinhano jardim, a noite tornou-se bem mais interessante. Mais ainda quando o brilhoda lua sobre os cabelos acobreados denunciaram-lhe a identidade.

Inconscientemente, suavizou os passos. Desta vez, ela no seria capaz deevit-lo.Esperou at que estivesse logo atrs dela, antes de fazer a pergunta sobre

a qual ponderava desde que a descobrira na casa da irm. Por que voc est aqui? Vossa Graa. Liz pulou os olhos arregalados. Eu estava apenas

passeando. A lua est linda esta noite. Sim, est. Mas isso apenas responde parte de minha pergunta. Perdo? O que a traz at Garden Home, Srta. Medford? Milorde conhece a resposta para isso. Sou a governanta de seu

sobrinho e de sua sobrinha agora. claro... Por que a ironia? Sua irm foi bastante gentil ao me contratar e sou

grata pela posio.Alex admirava aquela combinao nica de presena e humildade. Liz no

tinha vergonha de admitir que fosse grata por ter um trabalho, e era forte osuficiente para defender sua escolha.

E agora que ele havia conhecido Harold Wetherby, tinha um palpite sobreo porqu daquela deciso.

Mesmo assim, queria ouvir a verdade dos lbios dela. Por que tinha fugido,

quando tantas outras mulheres em seu estado teriam, de forma submissa,desposado o desgraado? Tive o prazer de conhecer o seu noivo. Meu noivo? Wetherby afirma que vocs dois devem se casar.Nem mesmo o luar pde esconder o profundo rubor de Liz. Aquilo era

constrangimento ou raiva? Ah, sim... Estamos muito apaixonados. o que diz Wetherby mentiu Alex. Ele mesmo... Singular.

Como conseguiu conquist-lo?Uma risada estrangulada escapou-lhe da garganta.

Pura sorte, eu suponho. Ora, vamos. Uma moa bonita como voc? Wetherby deve ter

afastado todos os pretendentes para que pudesse ter uma chance. Algo assim Liz concordou, esmaecida, puxando mais o xale sobre os

ombros.Ento ela no havia tido outros pretendentes. Ao menos, nenhum que o

pai aceitasse antes de sua morte. Liz era atraente, mas sua falta de dote erade conhecimento pblico.

A culpa o alfinetou, e ele resistiu tentao de pux-la para perto eproteg-la. Em vez disso, decidiu manter o jogo verbal.

Conte-me. Como se sente Wetherby com sua noiva trabalhandocomo governanta?

Uma emoo impossvel de identificar danou nos olhos de Liz, quemanteve a postura.

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Fiquei bastante arrasada quando papai faleceu, e de forma alguma mesinto pronta a me casar. Harold compreende isso. Compreende tambm anecessidade de que eu trabalhe, j que sempre precisou fazer o mesmo.

Ele bufou discreto. Poderia apostar que Wetherby viveria tranqilamentesob a fortuna de outra pessoa se tivesse a oportunidade.

Ainda assim, aquela no era sua preocupao principal.

Ento ele sabe que voc est aqui.A hesitao de Liz a entregou. Diga a verdade, por favor ele pediu srio.Ela olhou em volta, a postura to rgida que, sob a luz da lua, a fez parecer

ser feita de mrmore. Est certo. Harold no sabe nem mesmo de minha localizao. E voc pretende manter isso assim... Concluiu Alex. Claro. A mulher

preferia mergulhar no ostracismo a se casar com aquele cretino. Era umadeciso que poucas de seu gnero tomariam, mas algo digno de respeito.

No vai dizer nada a ele, vai? Ela implorou, pousando a mo em seubrao, os olhos cheios de medo.

Alex ps a mo sobre a dela. Wetherby era mais patife do que elepensava, se a assustara tanto.

No vou dizer nada.Liz suspirou, aliviada. Fez meno de retirar a mo, porm Alex a

segurou firme. Mas, em troca, precisa me fazer uma promessa. Que promessa? Ela indagou, umedecendo os lbios, nervosa.Uma torrente de calor, pura excitao sensual, atravessou o duque, e ele

liberou-lhe a mo, surpreso. Que vai parar de me evitar.

As feies delicadas revelaram surpresa, e Alex se viu tentando a beij-la.Em vez disso, cuidou de passar de leve os dedos sobre a face macia antes decaminhar de volta a casa.

Havia obtido a resposta que queria. No tinha por que assust-la aindamais.

A viscondessa Grumsby no sabia, mas estava torturando Liz. A pequenafesta na casa deveria durar uma semana. Era a manh do terceiro dia, e Lizsentia-se em uma armadilha.

Estava no limite desde que Alex Bainbridge havia galopado, literalmente,para dentro de sua vida.

Malditos fossem seus cabelos vermelhos. Sem eles, ela no teria sido

descoberta to depressa.No momento em que olhara nos olhos escuros e debochados do duque,

fora tomada tanto pela timidez quanto pela vontade. Fora ele o responsvelpelo mais humilhante momento de sua vida.

Ao mesmo tempo, uma olhadela para seu belo rosto, um momento gastoobservando seu bvio carinho pelos sobrinhos, e ela estava mais uma vezperdida.

A diferena era que, desta vez, no poderia suportar humilhar-se de novo.Seu emprego dependia de um comportamento modelo.

De responsabilidade e decoro. Havia violado ambos em sua proposta aAlex, e, mais uma vez, ao deixar sua prpria casa.

Uma terceira indiscrio seria sua runa.

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Aps a conversa no jardim, na noite anterior, Liz preocupava-se, achandoque indiscrio era precisamente o que o duque tinha na cabea. Se apenas aidia no fosse to tentadora!

Se a viscondessa Grumsby tivesse alguma noo dos pensamentos queela nutria por seu irmo, ela seria despedida sem qualquer recomendao.

E ainda que; ser uma governanta; no lhe proporcionasse uma vida de

luxos, estava contente.Ao menos por enquanto. As crianas eram doces e tinham nsia poraprender e explorar. O senhor e a senhora da casa a tratavam com gentileza.Eventualmente, pensou, poderia at encontrar uma soluo mais definitivapara o futuro. Mas, nesse meio-tempo, aquele trabalho lhe proveria o que eranecessrio.

Suspirou e fechou a porta. Havia levado as crianas para dentro, a fim deque comessem e descansassem. Os convidados dos Grumsby estavam fora,em um passeio pela tarde. Poderia ento relaxar.

Pensei que nunca fosse encontr-la sozinha.Liz virou-se, o corao batendo forte. Ali, no vo das escadas, estava o

homem a quem tentava esquecer. Vossa Graa. A senhorita pode ser bem evasiva quando quer...Ela manteve o olhar alguns centmetros abaixo do queixo do duque,

tentando evitar a expresso debochada que sabia haver ali. No sei o que quer dizer, milorde. Meu emprego aqui me mantm

bastante ocupada. No est me evitando.Para responder, precisaria mentir ou revelar demais, de modo que se

manteve quieta. Deu uma olhadela para cima. O brilho nos olhos escuros

contou-lhe que ele sabia. O que aconteceu com sua promessa?Ela ergueu o queixo. No creio ter realmente feito alguma promessa. Voc me de decepciona, Liz.Ela desapontava si mesma tambm pelo jbilo secreto que sentia em sua

presena.Decoro, pensou de novo, mas o lembrete mental era abafado pelo palpitar

de seu corao, que dobrou o passo medida que o duque se aproximava. Bem, parece que voc tem um pequeno descanso de suas atividades.

Talvez possa me conceder um passeio pelos jardins?

Acabo de vir dos jardins. Compreendo. Bem, talvez me permita mostrar-lhe a biblioteca? O que milorde est fazendo aqui? Posso fazer a mesma pergunta.O timbre profundo enviou-lhe um arrepio pela espinha. Milorde no contou a ningum o que eu fiz? No. Ainda que eu merea algumas respostas. Confesso que estou

preocupado depois de tudo o que ouvi. A biblioteca ento?

Liz engoliu em seco. Havia prometido no evit-lo, e o duque sabia deseus segredos. Ela precisava manter o aliado. Em todos aqueles anos em que

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imaginara Alex Bainbridge procurando por ela, no entanto, jamais pensara queseria daquela maneira.

O lado bom, disse a si mesma, era que estava realmente pensando emconhecer a biblioteca.

Seria um prazer concordou, tentando no pensar de qual respostaAlex sentia-se merecedor.

O duque abriu um sorriso satisfeito e ofereceu-lhe o brao, como se elafosse ainda a Srta. Medford, filha do baro, e no a Srta. Medford governantada nobreza.

Sentindo que seria rude no aceitar o gesto, pousou a mo sobre o braoforte e, se permitiu ser acompanhada escadaria abaixo. J sabia onde ficava abiblioteca, era claro, e era bem capaz de se transferir para l sozinha; mas,apenas por um momento, decidiu esquecer os ltimos meses, o tom vagamen-te ameaador do duque, ou mesmo o fato de que ele j a tinha rejeitado umavez, e permitir que sua fantasia se concretizasse ao menos em parte.

Era meio-dia e havia outros criados na casa. Sem dvida, nenhum maladviria disso.

Ah, aqui estamos ns disse Alex, enquanto a conduzia at o recintoamplo e bem-arrumado. Prateleiras, todas lotadas, cobriam trs paredes. Naquarta, grandes janelas verticais miravam as pastagens da propriedade. Ascadeiras e poltronas espalhadas pelo recinto pareciam bem confortveis. Era olugar perfeito para se perder em um livro, ou mesmo nos prpriospensamentos.

um cmodo adorvel Vossa Graa. Obrigada por mostr-lo a mim.O duque lanou-lhe um olhar atento. No est ansiosa por se livrar de mim, est, Srta. Medford? claro que no.

Era mentira, e ele sabia to bem quanto ela, que pressionou os lbios erespirou fundo. Milorde disse que queria respostas. Pois aqui vai a que, imagino o

senhor deseja: aquele momento no parque foi uma loucura. Uma atitudedescabida e estpida de minha parte.

Jamais fiz algo assim antes, e no pretendo repetir tal insanidade. Quanto ao homem que se julga meu noivo, jamais concordei em casar-me comele, ou com qualquer outro, alis.

Preciso deste emprego e vou trabalhar muito para mant-lo. Elatomou flego. Mais uma vez, agradeo por mostrar-me a biblioteca.

Alex deu um sorriso e estendeu um brao em direo s prateleiras.

No h de qu. Mas eu mal comecei. O que veremos primeiro? Ah! Eu sei que tem um gosto por poesia, se bem me recordo.

Liz no era nenhuma poetisa, mas tinha freqentado um recital promovidopor um primo dele, alguns meses antes. Todo o evento fora terrvel, desde asbebidas quentes at a voz de corvo com a qual o rapaz pronunciara o que,presumivelmente, eram poemas.

Sem dvida, Alex se lembrava da ocasio, j que, uma vez encerrado oevento, na pressa para sair de l, ela tropeara em seu prprio vestido e carapor cima dele

Olhou-o, tmida, e surpreendeu se ao v-lo piscar para ela.Sorriu sem poder evitar. Eu adoro um bom poema. Bem, no compartilho do talento de meu primo para recitar, mas posso

lhe mostrar a coleo de minha irm de grandes poetas.

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Sem performance? Liz comentou, desapontada, enquanto Alex sedirigia a uma prateleira cheia de volumes encadernados em couro. Ah, sermelhor assim. Se bem me lembro, fiquei to comovida com a ltima a queassisti que perdi o rumo e quase o derrubei... Ela comentou em tom suave,enquanto ele virava para observar os livros.

verdade. Esqueci-me. Talvez eu deva segur-la, ento, enquanto

analisa as pginas, a fim de evitar um novo choque...Liz puxou o ar, quando um par de mos quentes se apossou de ambos oslados de sua cintura.

A tentao de pesar sobre ele, absorver seu cheiro e sua fora, foi quaseirrecusvel. Mordeu o lbio com fora, esperando que a dor a distrasse.

Eu no deveria permitir isso. Se bem me lembro, voc estava disposta a oferecer muito mais. Isso foi antes. Liz fechou os olhos, quando os polegares dele lhe

acariciaram os quadris.Acabei de dizer que... Shhh. Voc uma mulher incomum, Liz Medford murmurou Alex, a

cabea curvada, de modo que ela podia sentir sua respirao por trs dasorelhas. Confesso que capturou meu interesse.

Estavam deslizando para territrio perigoso. Liz se esticou para alcanarum livro de poesias, embora no soubesse qual era o poeta.

Milorde brinca comigo. Jamais. Sei bem que me julga menos do que tentadora. Pois est errada. Vejo-a como a tentao do tipo mais perigoso.O flego quente roava-lhe as orelhas, despertando uma vontade de que

ele beijasse aquele mesmo ponto. Nervosa, ela tentou se concentrar no quanto

se sentira mal ao ser; rejeitada no parque, naquela manh. Virou-se paraencar-lo. Perdoe meu ceticismo, Vossa Graa. Mas acho difcil crer aps ter

sido dispensada quando eu era um membro respeitvel da sociedade epraticamente me ofereci a milorde. Agora que aqui estou, como uma meragovernanta, seu interesse capturado?

Alex deu de ombros. No gosto de mulheres da sociedade.O tom frouxo fez Liz estud-lo mais de perto. Milorde brinca comigo. Asseguro-lhe: no o caso. Mulheres da sociedade so frias e

calculistas. Analisam tudo, desde o mais simples comentrio sobre a cor dasluvas de algum, em sua nsia de ascenso social.

Liz pendeu a cabea de leve. Ele tinha razo. Sua prpria me era umamulher assim.

Voc, por outro lado, me fascina, j que decidiu abandonar aquilo tudo ele prosseguiu com voz rouca. Eu a vi com as crianas. to maisnatural com eles. Vi que demonstra real afeio, ainda que eles no sejamseus filhos. Qual Liz a real? A menina ousada que planejou aquelaultrajante, embora tentadora, proposta, destinada a sua prpria runa? Ou aque est diante de mim, e que pe as necessidades dos outros frente dassuas prprias? Ele exigiu, tocando-lhe a face.

Conduziu-a at uma poltrona, ento, at que Liz no tivesse escolha,seno sentar-se.

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Acomodou-se ao lado dela e pousou as mos sobre as suas. Qualquerresposta que Liz tivesse sumiu.

Est vendo? Sei que estou certo. Veja, aqui estamos, longe dasociedade, tendo uma conversa de verdade. Quantas conversas voc teveem um baile que no girassem sobre o que algum estava vestindo, quemdanava com quem, e como interpretar aquilo tudo em valores no mercado do

casamento?Liz gargalhou. As conversas de baile eram exatamente assim. Voc tem um sorriso adorvel. Ainda que eu prefira sua apario

como uma jovem da cidade ele confessou, passando o dedo pelo tecidosimples e cinzento do vestido, para depois tocar-lhe os cabelos que ela haviaprendido em um firme coque.

Liz no teve tempo para se ofender com o insulto implcito, pois elecontinuou pensativo:

Estranho, no , como as mulheres das altas-rodas se esforam paraparecer suave e convidativo, quando, no fundo, so duras e amargas. Aindaassim, voc, uma governanta carinhosa e de bom corao, deve parecer atopaca de to sbria.

Estou certa de que isso apropriado para uma governanta. Elarespondeu tensa, ainda que o toque leve sobre seus cabelos lhe enviassearrepios por todo o corpo.

Talvez. A mo de Alex cobriu as dela novamente. Mas isso me fazpensar. O que aconteceria caso eu puxasse esses grampos de seu cabelo? Teria diante de mim uma mulher suave e quente, tanto por fora quanto pordentro?

No sei.O bom-senso ditava que ela se afastasse e corresse para o refgio do

quarto. O futuro, no entanto, se apresentava diante dela, repleto de paixo.Seria to errado aproveitar apenas um momento de prazer?No fez qualquer movimento para deter Alex, enquanto ele puxava um

grampo, ento outro, e mais outro. As mechas foram se soltando, at que amassa de fios vermelhos se libertou.

A est a beleza de que me lembro. Como uma cachoeira posta emchamas. O tom dele tornou-se rouco e lanou arrepios pelas costas de Liz. Est com frio?

Acariciou-lhe o brao, e o calor de suas mos esquentou o sangue de Liz.Ela devolveu um sorriso de lado. Creio que milorde tenha um pouco de poeta em si, j que esse foi o

elogio mais bonito que j recebi na vida.O sorriso de Liz sumiu quando Alex curvou a cabea em direo dela. Os

lbios se encontraram por um breve momento e os olhares se cruzaram,enevoados, pouco antes que ele a puxasse para perto e a comprimisse contrao prprio corpo.

Sua boca se moveu contra a dela com paixo incontida, tocando,degustando, testando.

Liz se afogou nas sensaes. Alex a segurava, uma das mos mergulhadaem seus cabelos, altura da nuca, a outra lhe puxando as costas. A lnguapartia-lhe os lbios gentilmente, mergulhando em seu gosto, at que umaurgncia aguda comeou a pulsar em seu ventre.

Ela arqueou o corpo, ento, as mos agarrando os ombros firmes como sebuscando uma ncora em meio quela tempestade de emoes. De alguma

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forma, j no estava mais sentada, mas apoiada contra a poltrona sob odelicioso peso de Alex.

Enlevada, devolveu o beijo to bem quanto foi capaz.Quando a mo de Alex se moveu para toc-la, passando pela cintura at

abrigar um dos seios, Liz gemeu baixinho. Ele continuou com a prazerosatormenta, provocando-a atravs do tecido, at que o mamilo enrijecesse em

resposta.Apenas quando ele deslizou a mo por baixo do corpete, e Liz pde sentiro choque da carcia contra o seio nu, ela se lembrou de algum senso desobriedade.

Afastou-se subitamente, escapulindo para longe, at cair no cho ao ladoda poltrona.

Observou-o, mortificada, enquanto tentava recuperar o flego. A posioridcula em que estava, no entanto, obrigou a se recompor.

Cus! O que ela havia feito?Alex a fitou de volta, os olhos ainda cheios de fogo. Ento se levantou e

lhe ofereceu a mo.Liz a tomou num impulso e permitiu que o duque a ajudasse. Endireitou as

roupas, comeou a procurar pelos grampos, sem dizer uma s palavra aohomem a quem tinha beijado com tanta paixo.

Mesmo enquanto se culpava por seu comportamento, j sentia a falta dotoque dele sobre a pele.

Deus, o que ele devia pensar dela agora? Ela era mesmo uma tola.Assanhar-se com o duque de Beaufort a faria perder o emprego!

Aflita, reuniu os grampos e os colocou de volta nos cabelos. Alex, quepermanecera quieto, tocou-a no brao gentilmente.

No preciso torturar a si mesma. Um beijo no pode ser to mau

assim.Liz respirou fundo. Ele podia estar acostumado a aventuras casuais, masela no, de modo que no soubera como responder leve provocao. Comoele podia ser to frio? O beijo no o afetara?

Provavelmente no. Afinal, ele era bem mais experiente.Para seu horror, lgrimas encheram-lhe os olhos, e ela se virou para

escond-las. Mas no antes que o duque as notasse.Com um suspiro, ele apanhou-lhe o queixo e virou seu rosto, acariciando-

lhe a face com os dedos.Liz fechou os olhos e se manteve imvel, desejando mais do que tudo ficar

com Alex, que ele a tomasse nos braos e a confortasse. Mas aquilo no fazia

sentido. Ele era a causa de seu desconforto.De qualquer maneira, suas emoes estavam mexidas demais para que se

importasse. Preciso ir conseguiu sussurrar. Como quiser. Para seu alvio e decepo, Alex deu um passo atrs.

Mas h mais em voc do que eu imaginava. mesmo muito intrigante Srta.Medford.

Desesperada para recuperar alguma normalidade, Liz voltou ao seu papelformal e fez uma reverncia.

Alex a observou com diverso, algo evidente no torcer dos lbios e nasrugas nos cantos dos olhos. Curvou-se tambm.

Pode partir agora, Liz. Mas no pense nem por um momento que euno a procurarei novamente.

Harold Wetherby mirou a carta sobre a mesa e praguejou.

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Maldito Medford! Ms notcias? Jim Cutter, refestelado sobre uma cadeira do outro lado

da sala, examinava, entediado, o jornal.Era rude examinar as correspondncias diante de um convidado, mas ele

e Cutter dividiam as mesmas opinies a respeito dos modos em sociedade.Alm disso, Cutter era um amigo, ao menos o mais prximo que possua o que

queria dizer que compartilhavam ambies e, por isso, toleravam a presenaum do outro. Ambos tinham alugado casas no distrito no to elegante, eambos sentiam que mereciam uma vida melhor.

Emprestei lorde Medford uma boa soma alguns anos atrs respondeu Harold. Mal podia arcar com aquilo, na poca, mas precisava doapoio do homem e de seus contatos.

E ele jamais o pagou de volta? No. Morreu no ltimo outono. Acidente de carruagem.Cutter moveu a cabea num lamento.Harold tomou a carta, uma educada nota do procurador das terras de

Medford. O dinheiro tinha acabado. Aparentemente, no existiam mais chancesde ele recuperar seu prejuzo.

Bateu com o punho sobre a mesa. Maldio!No importava que agora pudesse arcar com a perda. O baro o havia

usado. E mesmo que ele no fugisse regra, no gostava de ver o jogoinvertido.

Harold trincou os dentes. O que me irrita como algum como ele considerado da alta

sociedade, enquanto, no importando o quanto eu estude, o quanto eu invista,o quanto eu avance, continuo sendo um excludo. De qualquer forma, aposto

que a filha de Medford no est sorrindo agora completou, finalmenteagarrando-se a um pensamento que o agradava. Atormentou-me por anoscom sua aceitao indiferente, julgando-se boa demais para mim. A piranhateve a audcia de me estapear revelou Harold com os dentes cerrados. Como se tivesse opo melhor!

A raiva o inundou quando se lembrou de seu ltimo encontro.Cutter jogou o jornal na lareira e lhe dispensou alguma ateno. No vi nenhum anncio de casamento sobre ela no The Times. Todos

na cidade sabem que a moa est sem nada.Ento Liz havia falhado. Em breve, aprenderia qual a sensao de ter de

agradar e se curvar por qualquer punhado de aprovao. Em breve,

compreenderia a sensao de ter as portas fechadas diante dela porque noera rica; o suficiente, ou, como no caso dele, por no haver nascido de umalinhagem nobre.

Harold sorriu. A idia do desconforto de Liz dava-lhe prazer.Cutter ps-se de p. Preciso partir. Tenho um compromisso com meu alfaiate. Lamento

por suas perdas, Wetherby.Harold concordou em silncio, acenando para o amigo e escolhendo

ignorar o tmido desgosto que flagrara na voz do homem.No importava. Liz Medford ainda poderia lhe ser til. O pai no pagaria

suas dvidas... Mas ela poderia faz-lo.O duque mantinha a palavra. Mesmo aps a partida para Londres dos

convidados dos Grumsby, permaneceu na casa. Onde quer que Liz fosse eleestava l.

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Ela se perguntava por quanto mais ele poderia prolongar a visita. Poderiadespist-lo naquele jogo de gato e rato antes que sucumbisse queles olharescheios de desejo e significado que Alex lhe lanava quando no havia ningummais por perto?

Aquilo estava errado. Era perigoso sentir-se assim.Algum na festa contara uma piada e, a julgar pela gargalhada do duque e

pela expresso chocada de vrias das jovens donzelas, a anedota no era leve.Ela, todavia, no acreditara nem por um minuto no choque das mooilas. Umadelas, inclusive, usara a oportunidade para fingir um delicado desmaio,mirando os braos do duque.

Suspirou. A cada ano, cada me casadoura desejava que sua filha fosseaquela a fisg-lo.

Quando Alex se decidisse por se casar, e deveria faz-lo, a fim de passaradiante suas terras; provavelmente seria com algum inesquecvel, umdiamante lapidado. No algum como Liz Medford.

Naquela manh, as crianas estavam fora com o pai, um homem a quemLiz aprendera a respeitar. Assim, ela havia aproveitado a liberdademomentnea para escolher um livro de poesia na biblioteca, onde estiveradistrada demais na ltima vez, e lev-lo at seu banco preferido, no jardim.

Sua mente, no entanto, no podia concentrar-se nas palavras. Em vezdisso, deslizava das frases doces e pousava sobre Alex.

Havia parado de tentar evit-lo. Isso no apenas era impossvel, mas, apsa intimidade daquele beijo, ansiava por sua presena, de modo que no sesurpreendeu ao v-lo caminhar em sua direo.

Sentou-se mais ereta, conscientemente reunindo defesas. No poderiaarcar com mais indiscries.

O lembrete fez pouco, ao entanto, para amainar o jbilo que lhe encheu o

peito medida que o homem se aproximou. Um belo dia para leituras, Srta. Medford. A senhorita compe umabela imagem com esse banco, cercada por rosas.

Vossa Graa. Levantou-se e fez a cortesia.O homem era um mestre dos galanteios, mas ela sabia o suficiente para

que no os levasse, ou a ele, a srio demais. Alex j havia encantado legiesde mulheres. Ela era apenas a mais recente na fila das que tinham capturadosua ateno.

Mas, ah, como queria acreditar que fosse diferente! Por favor, sente-se ele convidou.Liz sentou-se, e ele se ps a seu lado. Se algum compunha uma bela

imagem com o que havia ao redor, naquela manh, esse algum era ele. Alexera to bonito quanto amvel, observou em pensamento. Vestia calas e umabela camisa de l, alm de uma casaca de uma prpura profundo. O ventobrincava com seus cabelos, e ela resistiu tentao de ajeit-los com osdedos.

Gostaria de acompanhar-me em um passeio, amanh tarde? Creioque nossa conversa na biblioteca foi interrompida, e estou ansioso porcontinu-la.

Milorde muito gentil, mas eu no poderia. Por que no? Amanh domingo, e sei que minha irm gosta de

passar os domingos com as crianas. Parece-me que estar livre... A noser, claro, que queira me evitar.

No, Vossa Graa, claro que no. A resposta escorregou antes queela pudesse pensar em algo melhor.

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Ento vai vir?Ela deveria dizer que j havia feito planos. Mas que planos? Alex ps as

mos sobre as dela, o polegar perfazendo crculos por sua palma. Conheo um caminho agradvel que podemos tomar. As flores

acabaram de nascer. Assim como voc... Um belo boto desabrochando diante de meus

olhos.Liz sentiu-se quente. Seus galanteios so ultrajantes, Vossa Graa. No creio que sejam

apropriados. essa sua preocupao, ento? Ser apropriada? Tocou-lhe a parte

interna do pulso. claro conseguiu dizer, mas a voz saiu como um sussurro.Alex sorriu mais. Sabia muito bem o que estava fazendo. Liz virou-se,

porm ele tomou-lhe ambas as mos. No h razo para timidez. Sei que no avessa s minhas atenes.

De outra forma, jamais teria vindo a mim com aquela proposta fascinante. Deixe-me ver... Como foi que voc colocou? Ah, sim. Pediu-me que aarruinasse.

Liz levantou-se, indignada. muito pouco galante de sua parte, milorde, trazer isso tona outra

vez ralhou, ainda que, pela diverso visvel nos olhos do homem, a broncativesse surtido pouco efeito.

Alex deu-lhe um puxo no brao que a fez cair sentada de novo; destavez, bem mais perto.

Alm do mais, aquilo ocorreu quando pensei que seu envolvimentoseria benfico ela continuou nervosa, tentando ignorar o fato de que suas

coxas roavam. Deus fosse louvado pela quantidade de tecidos que osseparava. Agora que consegui evitar meu pretendente indesejado e quearranjei um emprego por conta prpria, no h nem mesmo a necessidade deque pense em mim.

Discordo. Ele deslizou para ainda mais perto, e o brilho intenso emseus olhos denunciou que pretendia beij-la. Estou bem certo de haver essanecessidade.

Ela se inclinou para trs, o calor subindo-lhe pelas faces. Haveria vantagens para voc.Ela inclinou a cabea, incerta sobre como responder. Deixe-me ser ousado... Quero t-la como amante.

Dificilmente essa uma posio que almejo Vossa Graa! Ao contrario, cherie. Como minha amante, voc teria muito mais luxo

do que poderia conseguir como governanta.Liz desviou o olhar. Pense Liz ele disse o tom mais gentil. Ambos sabemos que voc

no foi feita para o trabalho de governanta. uma criatura por demaisapaixonada. Com o dedo, acariciou-lhe o queixo.

A profisso de governanta bem mais respeitvel do que que meoferece, milorde ela respondeu, pondo-se to rija quanto uma esttua. Minha famlia pode estar decepcionada comigo, mas, ao menos no estouarruinada aos olhos da sociedade. Como quero me manter digna, prefiro seruma governanta de reputao ilibada.

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Incrvel que, h to pouco tempo, voc estivesse to tranqila quanto idia de ser arruinada. E, sinceramente, ainda acho que minha oferta bemmelhor do que trabalhar como governanta.

Eu estava um tanto desesperada quando sucumbi quela idia insana. Por sorte, voltei a meu juzo e encontrei algo mais estvel. Se eu fossesua amante, estaria em constante risco de perder minha posio, pois seu

interesse em mim acabaria desaparecendo, como desapareceu com tantasoutras... E ento, como eu ficaria?Alex afastou o argumento com um abanar da mo. Voc se subestima. No posso saber ao certo, Vossa Graa. melhor que eu cuide da

minha reputao. De qualquer modo, sente-se atrada por mim.A confiana na voz a fez querer estape-lo. Era verdade, claro, e ele sabia

disso. Esse no o ponto. Ento por que me beijou na biblioteca?Agora ele a tinha apanhado. Poderia argumentar que fora ele quem

iniciara o beijo, mas ambos sabiam que ela havia correspondido. No precisa decidir agora. Alex se levantou. Apanho-a amanh,

por volta das duas horas. Vamos at o campo. As feies bem feitassuavizaram-se por um instante. Minha carruagem estar sem a insgnia. No precisa temer ser vista.

Milorde vai perder seu tempo. Eu no irei.O duque lanou-lhe um sorriso tolerante. Acho que vai, sim.Liz estudou o cho. Ele a conhecia bem demais. Alex deu-lhe um beijo nas

costas da mo e comeou a se afastar. Estarei contando as horas.

Captulo 32

Alex esfregou as tmporas e encarou a carta sobre a mesa. Na volta dojardim, encontrara uma pilha de correspondncias sua espera. Seu secretriohavia sabiamente reunido todas e feito com que fossem entregues na casa dosGrumsby, sabendo que seu patro no era do tipo que deixava os negciospara trs.

Por um momento, ele desejou que o assistente fosse menos eficiente, jque no tinha qualquer desejo de ler aquela carta em particular.

Mesmo aps sua morte, o baro Medford continuava a ser uma pedra emseus sapatos.

Estava bem ciente de que o homem havia falecido ainda lhe devendo umaquantia considervel, mas ficou um tanto surpreso ao ver que o salafrrio tinhamantido o controle sobre a dvida. Agora, o procurador de Medford enviavauma carta explicando o status de seus bens aps a morte.

E, resumindo a questo: no havia mais bens.

Alex rasgou a carta ao meio. Revoltante. Homens na situao de Medfordno tinham por que jogar. O infeliz destrura

Alegra Gray - À Sombra de um Escândalo (CH 441)

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