Alentejo - Seara Vocabular 05 RitaCortez - Cancioneiro de Serpa 1994
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ALENTEJO – uma SEARA VOCABULAR – 05
CANCIONEIRO DE SERPA
Maria Rita Ortigão Pinto Cortez,
Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas, com escrita, pautas e desenhos à mão!!!
05 Rita Cortez
José Rabaça Gaspar – 2012 11
proposta de recolha e estudo de joraga.net
2 Breve nota a abrir… pela ‘milésima’ vez o:
CANCIONEIRO DE SERPA
Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994, com 410 páginas, com escrita, pautas e desenhos à mão!!! Ao visitar pela milésima vez esta obra única e encantatória de Maria Rita Cortez, uma
artista discreta, escondida na sua mansão encostada à
muralha de Serpa, onde, um dia, em criança, andou atrás
de um coelho que fugira do quintal, (p. 48)
pareceu-me que podia servir de fonte, mais uma, para
seleccionar palavras e expressões características, bem como assinalar ambientes, usos e costumes mais
expressivos da vida no Alentejo, mais propriamente, na
zona de Serpa.
Surpreendentemente, apercebi-me que, nas letras das modas, não havia, ou muito raro, palavras e expressões a colher… mas, na sua introdução a autora situa o
cancioneiro no ambiente que as envolve e aí encontrei esta ‘seara imensa’…
«Alguns dos desenhos representavam vistas autênticas de Serpa e dos seus
campos…» (e palavras e as expressões para os explicar são uma ‘fonte abundante’.) JRG, Corroios, 2011, Abril; 2012, Novembro)
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
3
Fala a autora na sua introdução ao Cancioneiro:
Pode ver esta INTRODUÇÃO em: http://www.joraga.net/gruposcorais/pags09_pautas_09_CSerpa_MRitaOPC/0433_Cd
eSerpa_MRitaCortez_p009_000_intro.htm
«Num dia de Março de 1983, não sei a que propósito, ocorreu-me a ideia de escrever as canções tradicionais alentejanas que ao longo de toda a minha vida ouvi cantarem
Serpa, e de as ilustrar com desenhos que representassem as ruas e recantos da vila,
os seus campos, os seus habitantes. Assim nasceu o projecto deste Cancioneiro de
Serpa, e com este nome foi logo baptizado.
«Já na minha adolescência eu fizera uma tentativa de organizar tal colectânea.
Porém, o meu conhecimento de Serpa era nessa época bastante reduzido e
superficial, e por várias razões acabei por desistir. Agora, eu sabia que estava em melhores condições de levar por diante a tarefa. Sem perda de tempo, fui comprar
papel, e no dia seguinte iniciava o desenho que ilustra a primeira canção de que me
lembrei. (44 Lá vai Serpa...)
«À medida que rebuscava na memória canções do meu tempo de criança, outras coisas aprendidas em Serpa vinham ao de cima: rodas infantis (293), contos, lendas
(321), orações populares (399), canções religiosas alentejanas (357), ditados e
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4 provérbios (350), maneiras pitorescas de dizer as coisas, assim como imagens de
cenas presenciadas e episódios de infância, que sentia uma vontade enorme de
representar em desenhos.
«E já agora, "acabandes de" (como se diz em linguagem serpense) ilustrar tantas
páginas com canções - que elas não faltam nesta abençoada terra - porque não havia
de registar também todas estas coisas que para mim estavam tão ligadas a Serpa?
Assim, o cancioneiro foi crescendo...
«Às vezes, mostrava o meu trabalho a pessoas amigas. E, se elas não eram daqui, eu explicava os usos, costumes ou recordações que tinham inspirado certos
desenhos. Então, elas apreciavam-nos muito mais. Isto mostrou-me que era
conveniente fazer acompanhar o Cancioneiro de algumas palavras com essas
mesmas explicações, para que o conteúdo do livro pudesse ser melhor (mais bem) entendido, "mormentes" pelos leitores não familiarizados com esta região. (357 - C.
Religioso)
«Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que esta colectânea contém canções
tradicionais que Serpa canta, ou cantou, desde o tempo da minha infância, o que não significa que todas elas tenham tido em Serpa a sua origem. Muitas são
inegavelmente originais daqui; algumas são adaptações de canções nascidas noutras
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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partes do Alentejo; outras cantam-se mais ou menos da mesma maneira em toda a
província, inclusive em Serpa, por isso as inseri.
«Que os naturais desses lugares não pensem que quero usurpar honras devidas a
outras terras, considerando Serpa como o berço de todos estes cantares. Esta não é
uma obra de investigação das origens, mas apenas um registo e não é meu desejo
"arranjar enleios" com os restantes alentejanos "por mó'de" tais questões eruditas!»
No entanto...
«A asserção de que Serpa foi sempre um centro importante da cultura e divulgação do canto alentejano não exprime puro bairrismo, mas um facto. Lembro-me de ouvir
em criança e encontrando-me fora do Alentejo a expressão "cantar à moda de Serpa"
usada como sinónimo de "cantar à alentejana".
«Ilustra de certo modo o prestígio de Serpa neste campo a quadra com que abre o
capítulo das modas e cantigas, e que também aparece com as variantes:
Quem me dera ser de Serpa,
ou em Serpa ter alguém é só por ouvir dizer
és de Serpa, cantas bem!
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6 (ou)
que em Serpa se canta bem!
«Falando há pouco tempo com um cantor de um dos grupos corais, que canta há
mais de quarenta anos, confirmou ele que a maioria das canções divulgadas por todo
o Alentejo nasceu de facto aqui. Segundo me disse, houve tempo em que o célebre
"Lírio Roxo" (84) era uma espécie de hino de Serpa. E contou que, indo ele às vezes com o seu rancho cantar a Lisboa ou a outros lugares, ouvia exclamar com respeito
entre os componentes dos outros grupos: "Serpa veio! Estão cá os de Serpa!"
«Mas as canções viajam facilmente, e ainda há dias transmitiram na rádio a cantiga serpense "Eu sou devedor à terra", (270) entoada por um rancho folclórico de Minho
e ao ritmo duma dança minhota!
«Autoridades comprovadas como Michel Giacometti (ver liga) e Rodney Gallop (ver liga), entre outros, fizeram de Serpa um dos principais centros de recolha de canções
alentejanas. Note-se que o segundo, em trinta e uma canções de todo o Alentejo
incluídas no seu livro "Cantares do Povo Português" regista dezassete recolhidas Em
Serpa, ou seja, mais de metade de toda a colecção.
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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«Porém, repito, não tenho a pretensão de que todas as canções do meu livro tenham
tido aqui a sua origem. Chamei-lhe "Cancioneiro de Serpa", porque em Serpa foi
recolhido todo o material que ele contém.
«Também não foi minha intenção fazer uma recolha sistemática, mas tão só registar
aquilo que eu própria conhecia, abordando, quando muito, uma ou outra pessoa com
o fim de tirar dúvidas ou preencher as lacunas da minha memória. Essas pessoas, por vezes, lembravam-me canções e outras coisas que eu esquecera mas sabia já ter
ouvido. Conhecendo o meu interesse, houve quem me oferecesse folhas e folhas de
cantigas.
«E o Cancioneiro cresceu ainda mais...
«Depois de pronto, ele é um recital dado pelos Serpenses, cantores e contadores de
histórias. E como os Alentejanos quando começam a cantar nunca mais se calam, tive dificuldade em dá-lo por terminado.
«Se eu tivesse feito uma recolha a preceito, acho que teria de escrever vários
volumes iguais a este. "Ia lá por ida"!
«Mas, por agora, "tem avondo"!
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8 «Dedico este livro às crianças de Serpa.
«Com ele, quero ajudar a preservar estas modas, que já não se cantam tanto como se cantavam, estes contos que possivelmente nunca ouviram e a imagem de tantas
coisas belas que há na nossa terra. Pretendo chamar-lhes a atenção para elas
pedindo-lhes que as conservem e as estimem, para que não se percam.
«Que a ânsia de progresso não as leve a desprezar e a deixar arruinar estes edifícios
antigos (64-65), estas casas tão cheias de personalidade, ou a enquadrá-las noutras
construções deslocadas e sem sentido da nossa paisagem. (53-54-55 - 56-57)
«E que o gosto pela música moderna as não faça esquecer o prazer de cantar esta
belíssima música que é tradição nossa!
«Origem do material deste Cancioneiro… Não foi difícil reuni-lo.
«Quando eu era pequena, cantava-se muito em Serpa. Espontaneamente. As
pessoas cantavam tão naturalmente como falavam. (46-47)
«Nessa época, os aparelhos de telefonia eram raros e barulhentos. Além disso, só se podiam ouvir depois do anoitecer, quando funcionava a central eléctrica. Em poucas
casas existia uma grafonola. Se a gente queria ouvir música, tinha que a produzir!
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«Cantavam as mulheres enquanto faziam a lida doméstica. (50-52)
«As criadas cantavam os dias inteiros, a ponto de causarem dor de cabeça às
pessoas mais velhas. (100-101)
«E com elas aprendi muita coisa...
«Igualmente se cantava no trabalho do campo e durante as longas caminhadas para
lá chegar. (74-75)
«Um desses trabalhos, sobretudo, dava azo a belos concertos nocturnos - era a
apanha dos grãos, que tinha de ser feita de noite, para evitar que o grande calor
do Sol tornasse as plantas quebradiças, ocasionando a perda dos bagos espalhados
pelo chão. Nesse tempo, era costume as manajeiras andarem batendo às portas das mulheres dos seus ranchos, por volta da meia-noite e, pouco depois, todas se
punham em marcha para os campos. E, para afugentar o medo e esquecerem a
dureza do trabalho que as esperava, iam cantando. (264-265)
«Era lindo, no silêncio das noites de Verão, ouvir esses cantares.
«Como diz a quadra:
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O cantar da madrugada
(ou) O cantar da meia-noite
é um cantar "inscelente":
acorda quem está dormindo,
dá gosto a quem 'stá doente!
«Também se cantava muito nas festas familiares, principalmente nos casamentos
(68-69 - 126-127) - ainda hoje há esse costume, mesmo nas famílias consideradas
abastadas - e nas festividades anuais. (394) Ocasiões havia em que apareciam sempre modas novas, compostas localmente ou trazidas de fora, por exemplo no
Carnaval e no tempo da ceifa, em que se celebrava a festa das aprendizas (e dos
aprendizes). Quando as jovens ceifeiras e ceifeiros eram dados por prontos, fazia-se
uma festa, em que eles usavam chapéus coroados de flores. E cantava-se horas a fio.
«Ouvindo-se sempre canções, as crianças aprendiam-nas naturalmente. Mas eu tive
um "professor" que me ensinou a cantar, ainda mal falava - era um empregado que
havia em minha casa. "O Bimbas", (216) "Estou-me divertindo" (146) e "Meus Senhores, que rapariga esta" (216) foram as modas que ele achou mais apropriadas
para me ensinar e, com esta cultura, eu fazia sensação junto da parte não alentejana
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da minha família. Mas, aqui em Serpa, a gracinha não causava admiração, porque
todos os miúdos faziam o mesmo! Acontecia frequentemente, nas tardinhas de
Verão, passarem na rua grupos de rapazinhos cantando, por vezes já a duas vozes, como os homens.
«O bom ouvido musical é uma virtude comum à grande maioria dos Serpenses, ou
era, até há algum tempo, pois está a perder-se o hábito de cantar...
«Saí de Serpa ainda antes de ter concluído a instrução primária, e, enquanto
duraram os estudos, só aqui vinha passar férias. Mas, lá longe, recordava sempre
com saudade, os seus cantares e também a sua paisagem - estes campos imensos com um colorido tão próprio, a sobriedade destas casas antigas, a severidade dos
trajos das pessoas.
«Vinham-me à mente as palavras da cantiga:
Eu não sei que(m) tenho em Serpa,
que Serpa me está lembrando.
Em chegando ao Guadiana,
as ondas me vão levando...
«Um dia, regressei a casa para ficar.
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«Novas modas tinham aparecido durante a minha ausência. Ouvia-as cantar pelas
ruas, sobretudo nas quadras festivas, altas horas da noite, quando os mais retardatários deixavam as tabernas. Algumas das modas da minha infância já não se
ouviam...
«As mais recentes, ia-as aprendendo com esses cantores, com os meus alunos e com os grupos corais de Serpa e das aldeias do concelho, que dão meças entre os da
Margem Esquerda e até entre os de todo o Alentejo.
«E tudo o que já conhecias e o que ia assim aprendendo, eu fui buscar para compor este livro.
«Além de ter recorrido a pessoas amigas, quando não me lembrava bem de qualquer
canção, também me ajudou a recordar modas e contos a consulta de livros contendo material recolhido em Serpa, nomeadamente exemplares da revista "Tradição" e
"Cantares do Povo Português" de Rodney Gallop. Essa consulta facilitou-me o
trabalho no que respeita às músicas, pois foram menos essas que tive de tirar de
ouvido. No entanto, algumas dessas canções conheci-as já numa versão diferente e,
nesses casos, foi a forma minha conhecida que escrevi. Outras ouvi-as sempre cantar num tom mais grave do que o que encontrei nessas obras; noutros casos, a
música mudou, como acontece por exemplo com "As cobrinhas de água", que se
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cantava, no meu tempo, de maneira diferente da que figura em "A Tradição" - versão
recolhida no início deste século (XX), pela Senhora D. Elvira Monteiro, que foi depois
minha professora de piano, assim como de várias gerações de crianças de Serpa.
«Tanto numa como na outra versão destas obras, figuram numerosas canções
recolhidas em Serpa e que nunca ouvi cantar; por isso, não as incluí nesta colecção.
«Direi o que se me oferecer sobre canções (37), etc., em pequenas introduções, no
início dos respectivos capítulos.
«Assim como ia aprendendo as canções mais recentes, agora que vivia em Serpa, também ia observando e conhecendo melhor a vila, os seus recantos, o interior das
suas casas, a sua gente...
«Os desenhos que ilustram estas páginas resultam da observação de todas estas coisas, conforme explicarei a seguir.
«Os Desenhos
«Alguns dos desenhos representavam vistas autênticas de Serpa e dos seus campos. Sem preocupação fotográfica, simplificando, por vezes, os elementos. Que me não
levem a mal os moradores de certas casas ao verem-nas aqui um pouco modificadas,
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14 ou ao constatarem a sua ausência de determinada rua ou praça. Em alguns casos, os
desenhos são inspirados em locais que existem, tendo sido registados somente os
elementos essenciais. (50-51) Outros são feitos de memória, pelo que não podem ser muito exactos. (52-53)
«Por vezes, motivos dispersos são representados juntos; em outros casos, as
distâncias foram encurtadas para que os elementos pudessem caber no espaço disponível. (55 e 65)
«Também idealizei um pouco as coisas, retirando da paisagem fios eléctricos, cabos
telefónicos e antenas de televisão. Bem me basta ter de aturar um grosso e inestético cabo preto que corta ao meio a vista da minha casa de estar (179), da
qual se podem admirar as torres de Santa Maria, do Relógio e do Castelo e que
desmancha todo o prazer de olhar! Este mal só é atenuado pelo facto de os
passarinhos fazerem dele poleiro, o que me permite observá-los mais de perto. (72)
«Quer nos desenhos baseados em paisagem real, quer nos que foram criados pela
minha imaginação, tive sempre como ponto de partida as coisas que se vêem por
aqui:
«As ruas estreitas, de calçadas antigas de pedras irregulares, as paredes sempre
brancas, caiadas várias vezes ao ano, quase tantas vezes quantas se faz a limpeza
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das casas. Alvura que brilha em dias de trovoada, de encontro ao céu quase negro.
(83)
«As portas antigas (83 - 137), umas ogivais, outras cujo lintel ostenta um arco
de querena e outras ainda muito singelas, sem moldura, a madeira pintada de
verde-escuro, azul ou castanho, com postigo (101).
«As grandes chaminés (285), de quatro tipos principais: as de escuta, que podem
atingir a altura de dois pisos - algumas com um janelico, outras sem ele mas do
mesmo feitio e que entendidos dizem não deverem ser consideradas de escuta.
«As cilíndricas, muito altas ou atarracadas, cobertas por uma cúpula abobadada
rematada por um pequeno pináculo. As facetadas, com oito ou mais lados, cuja
barra de frestas se situa entre frisos canelados de várias larguras, com cobertura em
pirâmide ondulada que faz lembrar a tampa de um açucareiro inglês - faz pena, actualmente, ver desaparecer chaminés tão bonitas, ocultas pelo crescimento das
casas vizinhas - e ainda as chaminés mais simples, de secção quadrada ou
rectangular, também rematadas por pirâmides onduladas. (243)
«Igualmente, representei, por serem muito características, algumas das clarabóias existentes em muitas casas antigas e que se assemelham a pequenas capelas.
Várias dessas construções cobrem escadas de acesso a mirantes, outras são
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16 clarabóias propriamente ditas e constituem o único ornamento na austeridade
arquitectónica das casas Há uma grande variedade de modelos, alguns bastante
elaborados. (129)
«Estão também representados os telhados velhos, de telha solta, os beirais
assentes em cimalhas salientes. Em certas casas mais antigas, o beiral de telhão
protege do sol ou da chuva quem gosta de se pôr à janela.
«Como não podia deixar de ser, aqui aparecem também as muralhas com os seus
torreões e portas, o aqueduto e algumas das dezassete igrejas, capelas e ermidas
que Serpa se orgulha de possuir. (55 - 379)
«E os fontanários públicos, onde antigamente as mulheres iam buscar água de
"enfusa" à cabeça: à ida a bilha ia deitada sobre a "sogra" e, no regresso,
vinha muito direita, como a sua portadora, que se movia com elegância e à-vontade. Diziam que iam "buscar água ao boneco", porque essas fontes (das quais ainda
existem três) são formadas por uma coluna rematada por um cone, cujo conjunto se
assemelha a uma figura humana; à volta existe um pequeno tanque. (69 - 115)
«Procurei ainda desenhar, sem ter esgotado o tema, as várias grades das janelas, de ferro forjado ou fundido, que tanto embelezam as fachadas das casas. (197)
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«E os quintais, de altos muros caiados, por cima dos quais espreitam quase
sempre os ramos de um limoeiro e às vezes os de uma oliveira, com o seu pavimento
de calçada e ladrilho. E as flores que geralmente lá crescem: as rosas, os cravos, as malvas, os malvaíscos, os jarros, os malmequeres, os brincos de princesa,
as flores de lis. Por vezes, uma grande glicínia faz pender os seus cachos para o
lado da rua. (233)
«E os jardins improvisados junto às portas, (137) pois quem não tem quintal
retira pedras da calçada para fazer canteiros ou planta flores nos recipientes mais
inesperados.
«E, ao longo das ruas, as laranjeiras ornamentais, os jacarandás, as olaias que
no fim do Inverno se cobrem de cor-de-rosa forte. E os saudosos mosqueiros, que
davam tão boa sombra, coisa rara no Verão. Fala verdade a quadra:
Alentejo não tem sombra
senão a que vem do céu.
Senta-te aqui, meu amor,
à sombra do meu chapéu!
«Os interiores das casas que desenhei também se inspiram naqueles que eu
conheço: os tectos de abóbada - aqui muito vulgares - outros de caniço seguido
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18 ou do tipo "salto de rato". As grandes lareiras de parede a parede (139 - 245)
e outras pequenas de canto (131 - 225), existentes, em geral, em casas mais
modestas; umas revestidas de azulejos, outras caiadas a oca, onde se faz (ou fazia) lume no chão e se aquece a água em panelas de ferro. O "pial das enfusas". O
pavimento de ladrilhos (que aqui se chamam "baldosas" se forem quadrados e
"lambazes" os rectangulares) fazendo efeitos geométricos nas suas tonalidades
de vermelho. Os nichos cavados nas paredes grossas das cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de barro, de cobre ou de latão. E o mobiliário e objectos típicos:
as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira,
as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas, o baú
de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata
onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros
e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra
jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.
«Procurei representar os campos nos seus múltiplos aspectos e cores próprias de
cada estação:
«O verde-esmeralda (263) do princípio da Primavera e as "folhas" de tons diferentes à medida que o Verão se aproxima e as searas vão amadurecendo. A cor
de ouro do tempo das ceifas, que vão deixando a terra castanha com laivos
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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amarelos do restolho. As grandes queimadas, (72) que à noite povoam os
campos de inúmeras cidades - antigamente começavam no dia de Santa Maria -
tornando ainda mais insuportável a calma do mês de Agosto e deixando extensas manchas negras no solo. E finalmente a terra vermelha do Outono, húmida das
primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e charruadas que preparam as
sementeiras.
«Retratei com mais frequência o esplendor dos campos na Primavera: searas
verde-bandeira, de trigo, e dum verde mais claro, de cevada, salpicadas de
papoilas, malmequeres palmitos cor-de-rosa. (263) Os prados onde crescem
tufos de rosmaninho, os chupa-meis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as
candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.
«E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das
quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão, no fundo das ribeiras
e barrancos, manchas de cor viva a animar a extrema secura da paisagem.
«E os "montes", como não podia deixar de ser: a casa de habitação, a arramada, o redil, celeiros e palheiros, a chaminé por vezes coroada por um
ninho de cegonhas, o forno redondo isolado ou edificado ao fundo do alpendre ou
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20 casão. (109 - 266 - 273 - 317)
«E a paisagem do Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de "a ribeira" (diz-se "r'bera"), com os seus característicos moinhos (85) abobadados de grossas
paredes pardas, construídos de modo a resistir às cheias que todos os anos ocorriam,
antes da construção das barragens em Espanha. Quando o moleiro pressentia a
aproximação duma cheia, retirava o trigo, a farinha e tudo o que podia e abandonava o moinho, que ficava debaixo de água por uns tempos. Retomado o nível normal das
águas, permanecia sobre as paredes e o tecto mais uma camadas de lama e
sementes de erva, o que contribuiu para dar a estas azenhas o aspecto de
montículos de terra e as faz confundir-se com os penedos das margens do rio.
«Também quis representar fenómenos naturais, como as trovoadas de Maio e o
arco-íris. Num dia de tempestade, observei dois grandes arcos-da-velha
concêntricos e completos, pintados com cores luminosas sobre um céu castanho - eles aqui estão, não tão bonitos infelizmente, numa destas páginas. (276)
«E o "espojinho", corrente de ar causada pelo calor, que traça uma linha de poeira
e folhas secas arrancadas do chão, enquanto tudo à volta permanece imóvel,
elevando-se pois no ar, num redemoinho.
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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«Procurei animar as paisagens da vila e do campo colocando nelas gente e animais,
que têm sempre como fonte de inspiração elementos locais.
«Lembro-me de ver, em pequena, as mulheres de saias compridas e rodadas,
feitas de riscado - era mesmo riscado às riscas, brancas e pretas ou castanhas
escuras - debruadas por um nastro.
«Usavam blusas de chita ou gorgorina de cores escuras, "xale de malha"
pequeno, seguro no peito com um pregador e por cima um xale grande de ir à
rua. Na cabeça, lenço de rebuço que só deixava ver um bocadinho do rosto (dizem
ser reminiscência árabe), e um gracioso chapéu preto de copa redonda e aba enrolada para cima, que usavam apenas as mulheres desta vila. (75 - 76 - 223) E
nos pés, meias de linha, pretas ou de cor e elegantes botas justas à pernas,
apertadas com ilhós e cordões. No Verão, para o trabalho da ceifa, o fato era um
pouco mais garrido, com saias de chita e blusas coloridas, mas traziam o xale de malha da mesma maneira, porque o que protege do frio protege do calor.
«É curioso que, sendo o Baixo Alentejo a região mais quente do País, não se ouve
falar em casos de insolação entre a gente que trabalha no campo.
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22 «Mesmo na vila, os trajes das mulheres eram deste tipo e o uso do xaile obrigatório.
"Censuram!" Diziam, a justificar o facto de terem de pô-lo sempre que iam à rua. As
viúvas traziam o xaile preto pela cabeça, preceito que ainda há quem siga.
«Nessa época, a importância do traje era tão grande, que as manajeiras não
aceitavam nos seus ranchos trabalhadeiras que não estivessem vestidas a rigor. (75
- 77)
«Os homens (135) aparecem nestes desenhos vestidos com fatos de saragoça ou
de sarja cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam camisa de riscado aos
quadradinhos com as pontas da fralda atadas à frente, botas, chapéu de aba larga e lenço dobrado em triângulo atado ao pescoço, (91 - 259) o qual se usa
também desdobrado e colocado sob o chapéu, para defender do ardor do Sol. Outros
trazem peliça ou samarra, outros ainda capote à alentejana. (133 - 289)
«Os pastores usam pelico e ceifões de pele de borrego - também alguns
ceifeiros usam safões (109), mas de pêlo rapado. Ainda hoje se vêem pastores
assim vestidos, por ser uma indumentária confortável. Alguns deles transportam um
borreguinho na curva do cajado posto ao ombro, atado pelas quatro patas como se
fosse uma trouxa. Esta cena observava-se com frequência durante a Semana Santa, altura em que traziam para a vila os animais que iriam ser mortos pela Páscoa e que,
às vezes, eram oferecidos a compadres e amigos. Ao contrário do que se poderia
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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esperar, eles pareciam não achar incómoda a posição e, dali, iam olhando
placidamente as ruas e casas que nunca tinham visto.
«Desenhei também gente a caminho dos campos, seguida dos seus animais: uma
ovelha com a sua cria, que ficavam a pastar enquanto os donos trabalham, e o
inseparável cão.
«Nos desenhos estão também representados ciganos, que se vêem em grande
número por estas paragens.
«Em algumas das ilustrações, as pessoas estão ocupadas nos trabalhos mais comuns: a monda, a ceifa, a apanha da azeitona (265), o lavado da roupa no
rio, o corte da cortiça: e o pastor e o porqueiro guardando o seu gado;
homens a cavar e a lavrar a terra. Nas ruas, mulheres caiando as casas e
lavando as pedras da calçada. Nas cozinhas, a lida do amassado e a matança do porco (225). E o roupeiro na sua rouparia, fabricando o belíssimo Queijo
Serpa (219 - 269).
«E também figuram pessoas vulgares, sem vestimenta especial, como existem em
toda a parte.
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24 «Os animais que aparecem nos desenhos são os que costumam ver-se por estas ruas
e campos.
«Em primeiro lugar, os cães. A população canina deve ser quase tão numerosa como
a humana e, nas ruas e largos, há sempre cães à vista, predominando as raças
ligadas à caça - os perdigueiros - e uns canitos de raças indiferenciada, pretos ou
amarelos, usados para enxotar os coelhos das moitas.
«Há ainda o cão de pastor (251), de tamanho médio e muito felpudo - infelizmente
já não se vêem muitos, sucedendo o mesmo com o grande rafeiro, usado como cão
de guarda nos montes.
«Na vila, os cães costumam andar em liberdade. Correm, saltam e brincam uns com
os outros e, por vezes, têm o hábito de se deitar a dormir no meio da rua, para
desespero dos automobilistas, que são obrigados a fazer travagens bruscas e desvios inesperados, para não os atropelarem. (57)
«O gato também se vê muito sentado à porta das casas (algumas têm um buraco
redondo para ele entrar e sair à vontade), ou espreguiçando-se ao Sol, em cima dos
telhados.
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
25
«Gatos cinzentos, pretos, amarelos ou brancos e a chamada gata mourisca, que
ostenta malhas de três cores. (245)
«Também quis fixar aqui um espectáculo que já se não vê: os burros carregados
de estevas ou de rama de oliveira para os fornos. Punham-lhes uma carga tão
grande em coma, que não se via o burro, ou antes, só apareciam as pontas das
patas, as orelhas e o focinho. Eram autênticas copas de oliveira ambulantes! Por vezes, encontrava-se na estrada um homem conduzindo vários burros assim
ataviados. (73)
Recordações de infância e outras representadas nos desenhos…
«Alguns pormenores das ilustrações podem parecer estranhos, produtos de uma
fantasia que misturou elementos desconexos. No entanto, todos eles são reais.
«Por exemplo, uns passarinhos coloridos, azuis, verdes e amarelos, as cores dos
piriquitos, voando em pleno Alentejo, podem afigurar-se a uma nota insólita. Mas
eles existem. São os abelharucos e os verdilhões, e vi-os várias vezes nas
imediações do Guadiana. A forma pode não ser muito exacta - um pássaro não se
deixa observar por muito tempo - mas as cores são estas. (221)
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26 «Junto ao Guadiana há uns montes que no fim do Inverno se cobrem de junquilhos
bravos e onde, um dia, quando os fotografava, me saltou uma lebre quase debaixo
dos pés. Ambas apanhámos um susto e ela fugiu a toda a velocidade - uma grande bola parda, com orelhas, pisando as flores sem cerimónia...
«Uma manhã de Verão, em que fazia muito calor, apesar de ser ainda cedo, um
jardineiro regava roseiras numa rua onde eu passava a caminho da escola. Ao pé dele e sem se intimidar com os transeuntes, um pintassilgo tomava banho de chuva
na água que respingava da mangueira (95 - 272). É preciso um pintassilgo estar
muito encalmado para se arriscar desta maneira!
«O que é que acontece quando, num mercado, duas vendedeiras colocam lado a lado
um cesto contendo um coelho vivo e outro com um ramo de malmequeres? Foi esta
cena que eu presenciei um dia: o coelho esgueirava-se entre as cordas cruzadas na
boca do cesto, e, de pé nas patas traseiras, roía tranquilamente as flores, iguaria rara para quem vive em capoeira. De vez em quando, a dona apercebia-se do abuso
e dava-lhe uma palmada na cabeça; o coelho encolhia-se, mas não tardava a atacar
novamente os malmequeres da vizinha! (139)
«Num dos desenhos, aparece o interior de uma casa modesta, onde uma mulher faz meia e duas crianças brincam (ver p. 87). O que parece insólito nesta cena é o tecto,
uma linda abóbada com reforço de cantaria e fecho de pedra lavrada. Ela
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
27
existe, de facto, numa casa onde fui um dia procurar um pedreiro. Velha casa rica
degradada com o tempo? Capela da referida casa? Não posso sabê-lo, mas ela ali
está, na Travessa de São Paulo.
«Doutra vez, observei uma cena engraçada:
«Chuviscava e, diante de um automóvel estacionado na rua, vi um grande chapéu de chuva aberto, que quase tocava o chão, por debaixo do qual apareciam quatro
perninhas iguais. Eram duas meninas do mesmo tamanho que, abrigadas pela
sombrinha, faziam fosquinhas para a sua imagem reflectida nos pratos das rodas do
carro. (195)
«Cenas como esta que acabo de descrever não podiam deixar de ser utilizadas nas
ilustrações deste livro.
«Igualmente forneceram matéria para vários desenhos recordações de infância, das
quais vou dar exemplos.
«Um dia, o meu pai teve de ir a um monte e eu acompanhei-o. Nessa manhã, a
pateira tinha apanhado uma coruja que entrara pela janela durante a noite. Como eu me pusesse a admirá-la com a curiosidade de quem nunca tinha visto tal ave,
deram-ma de presente e voltei para casa trazendo ao colo a minha coruja. A minha
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28 mãe é que não achou graça nenhuma à aquisição e declarou que não queria em casa
bicho tão agoirento! Ficou-me sempre o desgosto da perda desse animal doméstico,
em memória do qual representei, numa destas páginas, uma menina com uma coruja ao colo. (87 - 161)
«A casa em que vivo fica encostada à muralha e, por isso, o quintal é pequeno e
sombrio. (103 - 179)
«O meu pai, que era médico, receando que a saúde das galinhas pudesse ser
afectada pela insalubridade do local, mandou construir um galinheiro numa varanda
existente por cima da casa.
«Um dia, em que fui dar de comer aos ditos animais, deixei a porta mal fechada e,
um coelho branco que também ali residia, escapou-se e fugiu para cima da muralha.
Assustada pela minha imprevidência, desatei a correr atrás dele pela muralha fora e teria dado volta à vila se não houvesse, de onde em onde, paredes divisórias, uma
das quais deteve o fugitivo.
«Nunca El-Rei D. Dinis imaginou, quando ordenou a edificação destas muralhas, que
por cima dos seus adarves viessem a andar meninas a correr atrás de coelhos brancos! (48)
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
29
«Algumas destas recordações de infância estão relacionadas com temporadas que
passei num monte, propriedade de um irmão de meu pai, o Monte Novo. O meu tio
António convidava-nos todas as Primaveras a passar ali algumas semanas e assim me familiarizei com aspectos próprios da vida do campo, que de outro modo não
teria conhecido:
«A grande cozinha do monte, onde comia o pessoal, com o lume no chão sempre aceso e as pessoas sentadas em cadeirinhas baixas ou em mochos. (139) As
tripeças de madeira de azinho. As galinhas que entravam à vontade para
apanhar calor e debicar migalhas espalhadas pelo chão. Os "pirunitos", (245)
que eram uns bichos frágeis e tristonhos, criados dentro de casa, alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam "ortigões" e eu fiquei a
saber donde provinha o meu apelido do lado materno).
«As trovoadas, que faziam morrer na casca os pintainhos quase a nascer e cujo espectáculo admirávamos das janelas do primeiro andar, iluminando todo o céu e os
vastos campos a perder de vista.
«Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no
fabrico do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos
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30 sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo.
«Tal como acontece com todos os montes alentejanos, a casa ficava situada num
ponto alto e desabrigado, donde se desfrutava uma ampla paisagem de serra. De
noite, ouvia-se sempre o assobiar do vento e o latido dos cães. Tais sons, geralmente
tidos como lúgubres, eram, pelo contrário, imensamente agradáveis e intensificavam a sensação de conforto das pessoas ao adormecer, bem quentinhas debaixo dos
cobertores, sobretudo as crianças, cansadas por um dia de brincadeiras e correrias
pelo campo.
«Que para mim não havia campo como aquele. Encantavam-me aquelas terras
bravias, sem muros nem limitações, toda aquela imensidão.
«Corríamos léguas em redor, eu e a minha prima pouco mais velha e a filha da pateira, uma azougada Marianita, que era pouco mais ou menos da minha idade.
«Íamos até ao Barranco de Margalhos, onde havia loendros, poejos (erva
aromática usada na açorda e nas masmárreas), saudades e outras flores e lá nos
entretínhamos tentando apanhar as rãs, que saltavam por entre as pedras, o que ocasionava umas quantas quedas na água.
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
31
«A curta distância do monte havia um sítio chamado Pego das Bruxas, talvez por
ser um amontoado de pedras negras, certamente sinistras depois do escurecer. Mas
de dia era um local maravilhoso, com poças de água e uma enorme variedade de flores. Tantas que, de algumas, ninguém sabia o nome.
«Brincávamos junto ao chafariz, em que a água jorrava de duas carrancas e em cujo
tanque se criavam sanguessugas pretas e vermelhas, que às vezes se prendiam à garganta dos animais e eram muito úteis em certas doenças. Chamavam-lhes
"bichas".
«Íamos ao "corunchoso" – hortejo cercado de "enxapotas" (ramos de azinheira e outras) - onde cresciam couves e alfaces, assim como matrastos,
(mentrasto - metátese de mentastro) erva que cheirava muito bem, especialmente
nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à passagem das
procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos
bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
«Ouviam-se cantar os cucos e as raparigas gritavam-lhes: «Ó cuco, lá da Beira,
quantos anos sou solteira?!» E ele respondia sempre: «Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! Cu-cú-u-u-u-u! ...
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32 «De longe em longe, passavam ranchos a pé ou em carros e paravam para beber no
chafariz.
- «São malteses!» dizia a gente do monte. Ninguém sabia de onde vinham e para
onde iam...
«Nessa época do ano havia galinhas no choco, com os ovos da sua espécie, ou de pata, ou de perua.
«Um dia nasceu uma ninhada de patinhos, muito espertos e engraçados e pouco
demorou vê-los nadar dentro de uma bacia. Então, eu e a Mariana tivemos uma ideia: se eles sabiam nadar tão bem na bacia, ainda melhor nadariam no tanque. E
logo resolvemos proporcionar-lhes uma boa exibição das suas habilidades,
carregando com eles para dentro de uma "pieta" onde as ovelhas bebiam. E eles
nadavam, mas ao fim de algum tempo queriam descansar. Porém, mal eles mostravam vontade de sair do banho, nós enxotávamo-los para o meio da pieta. Os
pobrezinhos não resistiram a tão dura prova e morreram todos! (267)
«Antigamente cultivavam-se variedades de trigo de caule muito alto. Num
desses anos em que íamos para o Monte Novo, as searas cresceram tanto, que atingiram a altura de um homem.
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
33
«Uma manhã, a minha prima Maria dos Anjos e eu fomos brincar dentro de uma
seara, procurando flores e vacas-loiras (uns insectos pretos e vermelhos, que,
quando se lhes cuspia em cima, rebentavam) e fazendo piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo).
«Andámos muito tempo entretidas com esses estragos, até que qualquer coisa nos
lembrou que deviam ser horas do almoço e era preciso voltar para casa. Então, descobrimos que nos tínhamos perdido! O trigo era mais alto do que nós e não
conseguíamos ver o monte, nem sabíamos para que lado ele ficava! Depois de várias
tentativas, assustadas, começámos a andar à roda. Por fim, uma de nós sugeriu que
caminhássemos sempre na mesma direcção até sairmos da seara e podermos orientar-nos, levasse o tempo que levasse. Por acaso, seguimos o rumo certo!
«Também íamos passear a outros montes e quintas próximos: à Junqueira, à
Graciosa, à Quinta de São Brás.
«Alturas havia em que se organizavam burricadas, em que tomavam parte os
adultos e as crianças. Vinham da vila tios e primos e arranjavam-se burros
adequados ao tamanho e às aptidões equestres de cada um.
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34 «Nomes de lugares como Margalhos, Benvenidos, Moinhos da Misericórdia e
dos Bugalhos ficaram-me gravados na memória, associados a imagens envoltas
numa névoa de imprecisão, que lhes aumenta o encanto.
«À Quinta de São Brás, ia-se todas as tardes, ao Sol-posto, comprar o leite de vaca
para o pequeno almoço. Tinha uma grande casa antiga formada de três alas de
barras amarelas e janelas gradeadas e, nas traseiras, uma varanda sobranceira ao jardim. Uma escadaria ladeada de roseiras conduzia até uma
área pavimentada com aldosas, contornando um vasto tanque, alimentado pela
água que jorrava da boca de um leão de alvenaria. No meio do tanque, uma estátua
de Neptuno caiada de branco, a quem chamavam o "Rei dos Peixes". (205) Rodeando esse espaço, bancos de alvenaria, muros de buxo e, mais além, um
fresco pomar. A poucos passos, a ermida de São Brás, cuja romaria se celebrava em
Quinta-feira de Ascensão. A festa, e a apanha da espiga, atraía gente dos montes
em redor e até da vila. Passávamos sempre esta data no Monte Novo e também o dia de Santa Cruz.
«No terceiro dia de Maio, era costume confeccionar uma cruz de flores sobre
uma armação de cana, centrada numa grinalda também de flores. Ajudei a fazê-la
algumas vezes, com rosas saloias de cor viva, que tinham muitas pétalas e lembravam pequenos repolhos. Depois de pronta, a Santa Cruz era pendurada num
prego na parede exterior da casa e, à tardinha, toda a gente lhe dançava ao pé, na
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
35
rua do monte. Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou formando cadeia
(185), acompanhados de modas como "o Pavão" (164), "José Marques" (248), "Foste
tu, ó ladrão, ladrão" (212) e "Eu nesta manhã achei" (130). Às vezes cantava-se ao despique, improvisando.
«Também na vila havia o costume de fazer a Santa Cruz e de florir, nesta data, os
cruzeiros de pedra, que se erguem nas várias entradas da povoação, o que ainda hoje se faz na Cruz Nova.
«As coisas que admiro em Serpa, as minhas recordações de infância e outras,
serviram para elaborar o "Cancioneiro Visual". Foram horas felizes, lembrando todas essas coisas, enquanto procurava passá-las ao papel. Mas horas de angústia
também, por não ser capaz de fazê-lo tão bem como gostaria e, por as actividades
do dia a dia, me não deixarem o tempo e a disponibilidade de espírito necessários.
«Também não me foi possível utilizar todo o material existente; muita coisa bonita
ficou por representar.
«Ao longo deste trabalho estive sempre consciente de que os motivos de inspiração
eram dignos de pincel mais abalizado. Pintar, como escrever, é tarefa de grande responsabilidade...
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36 «Aqui ficam pois, estes bonecos, a chamar a atenção para o que de belo existe na
nossa terra. É essa função, creio, que eles já têm sido capazes de desempenhar,
mesmo antes de o livro ter sido editado.
«Quero agradecer a todas as pessoas a quem roubei um pouco do seu tempo,
pedindo ajuda na reconstituição de canções e histórias semi-esquecidas e que me
forneceram material para esta colectânea.
«Às empregadas da Escola Secundária de Serpa, nomeadamente as Senhoras: Alda
Apolinário, Catarina Mestrinho, Maria de Fátima Saleiro, Gertrudes Mederio e Maria
da Cruz, a quem algumas vezes pedi para me cantarem esta ou aquela moda e sempre o fizeram de muito boa vontade, tendo-me, as duas primeiras, trazido
grande número de cantigas.
«À Senhora D. Maria da Luz Machado Braga, à minhas primas Maria do Carmo Cortez Saraiva da Rocha e Maria dos Anjos C. Baptista Féria Oliveira e à minha amiga Maria
de Lurdes Varela Bettencourt agradeço a ajuda que me deram na reconstituição das
canções.
«A alguns elementos dos ranchos corais - os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão, do Grupo coral e etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
37
me reviram várias músicas e letras; e ao Senhor António Santinhos, do rancho "Os
Ceifeiros de Serpa", que me deu letras de canções da sua autoria.
«Às Senhoras Nita Rias e Maria do Carmo Felício, que me ensinaram e completaram
canções, histórias e orações populares.
«À minha tia Carlota Cortez Baptista e a D. Palmira Isidoro, que me ajudaram em vários contos e lendas.
«Agradeço também à Senhora Marquesa de Ficalho os esclarecimentos que me deu
sobre a lenda da Condessinha, relacionada com uma janela e com o jardim da sua casa.
«Igualmente agradeço a todas as pessoas que se interessaram por este trabalho e
que me acompanharam e encaminharam nos passos a dar com vista à sua publicação.»
Serpa, 8 de Janeiro de 1987 Maria Rita Ortigão Pinto Cortez
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38 GLOSSÁRIO ALENTEJANO no Cancioneiro de Serpa
TERMO /
expressão
origem CITAÇÃO/INFORMAÇÃO
/Significado
OBRA Pa
g
acabandes de E já agora, "acabandes de" (como se diz em linguagem serpense)…
CSerpa
açorda (erva aromática usada na açorda e nas
masmárreas)
CSerpa
alcachofras Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
aldosas Uma escadaria ladeada de roseiras conduzia até uma área pavimentada com aldosas,
contornando um vasto tanque,
CSerpa
almece Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico
do queijo e do almece, desde a fervura do
leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho
dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro
forte um tanto enjoativo
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
39
almofarizes E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os
cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra
jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
em algumas casas.
CSerpa
alqueives a terra vermelha do Outono, húmida das
primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e
charruadas que preparam as sementeiras
CSerpa
arca de madeira E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os
cântaros e tachos de arame, as chocolateiras
de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
CSerpa
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40 em algumas casas.
arranjar enleios "arranjar enleios" com os restantes
alentejanos
CSerpa
atalhar Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico
do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo
que o fazia atalhar, ao moldar do coalho
dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo
CSerpa
aves –
pássaros… mais
típicos…
Por exemplo, uns passarinhos coloridos,
azuis, verdes e amarelos, as cores dos
piriquitos, voando em pleno Alentejo, podem afigurar-se a uma nota insólita. Mas eles
existem. São os abelharucos e os verdilhões, e vi-os várias vezes nas imediações do
Guadiana
CSerpa
avondo Mas, por agora, "tem avondo"! CSerpa 12
azinheiras …os montados com os seus sobreiros,
azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
CSerpa
azinheiras E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
41
loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
baldosas O pavimento de ladrilhos (que aqui se chamam "baldosas" se forem quadrados e
"lambazes" os rectangulares)
CSerpa
balhos de roda Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou formando cadeia (185), acompanhados de
modas como "o Pavão" (164), "José Marques"
(248), "Foste tu, ó ladrão, ladrão" (212) e "Eu nesta manhã achei" (130). Às vezes cantava-
se ao despique, improvisando.
CSerpa
barranhão Ali soube o que era uma rouparia, assistindo ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico
do queijo e do almece, desde a fervura do
leite em tachos enormes, ao deitar do cardo que o fazia atalhar, ao moldar do coalho
dentro dos cinchos sobre a grande banca de madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro
forte um tanto enjoativo
CSerpa
baú E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite
CSerpa
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42 e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os
cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra
jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
em algumas casas.
Benvenidos Nomes de lugares como Margalhos, … CSerpa
bichas Brincávamos junto ao chafariz, em que a água jorrava de duas carrancas e em cujo
tanque se criavam sanguessugas pretas e vermelhas, que às vezes se prendiam à
garganta dos animais e eram muito úteis em
certas doenças. Chamavam-lhes "bichas".
CSerpa
bilha à ida a bilha ia deitada sobre a "sogra" e, no regresso, vinha muito direita,
CSerpa
Bimbas Bimbas – tema de uma moda… nome? CSerpa 216
brancal a arca de madeira coberta com o brancal, os
capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
CSerpa
burricadas Alturas havia em que se organizavam
burricadas, em que tomavam parte os adultos e as crianças. Vinham da vila tios e primos e
arranjavam-se burros adequados ao tamanho
e às aptidões equestres de cada um.
CSerpa
cadeiras de
bunho
a arca de madeira coberta com o brancal, os
capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira
de cana para os queijos
CSerpa
camas de ferro E o mobiliário e objectos típicos: as camas de CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
43
de joeira ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras
de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
em algumas casas.
Cancioneiro
Visual
As coisas que admiro em Serpa, as minhas recordações de infância e outras, serviram
para elaborar o "Cancioneiro Visual".
CSerpa
candeias - flor Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,
os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
canitos há sempre cães à vista, predominando as raças ligadas à caça - os perdigueiros - e uns
canitos de raças indiferenciada, pretos ou
amarelos, usados para enxotar os coelhos das moitas
CSerpa
cântaros de E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
CSerpa
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44 arame redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.
cante ao
despique
Faziam-se balhos de roda, (97) simples ou
formando cadeia (185), acompanhados de modas como “o Pavão” (164), “José Marques”
(248), “Foste tu, ó ladrão, ladrão” (212) e “Eu
nesta manhã achei” (130). Às vezes cantava-se ao despique, improvisando.
CSerpa
capachos E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
45
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que
ainda se vê em algumas casas.
capote Outros trazem peliça ou samarra, outros ainda capote à alentejana. (133 – 289)
CSerpa
cardos Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,
os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e
umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.
CSerpa
ceifões «Os pastores usam pelico e ceifões de pele
de borrego – também alguns ceifeiros usam safões (109),
CSerpa
chaminés As grandes chaminés, de quatro tipos
principais: as de escuta…
As cilíndricas, muito altas ou atarracadas
As facetadas, com oito ou mais lados… as chaminés mais simples, de secção
quadrada ou rectangular, também rematadas
por pirâmides onduladas…
CSerpa 285
chaparros E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as
charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
46 charnecas E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos
CSerpa
charruadas a terra vermelha do Outono, húmida das
primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e charruadas que preparam as sementeiras
CSerpa
chocolateiras de
cobre
E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os
cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra
jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
em algumas casas.
CSerpa
chorrilho Ali soube o que era uma rouparia, assistindo
ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico
do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo
que o fazia atalhar, ao moldar do coalho
dentro dos cinchos sobre a grande banca de
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
47
madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo
chupa-méis Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,
os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e
umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome.
CSerpa
cinchos Ali soube o que era uma rouparia, assistindo
ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico do queijo e do almece, desde a fervura do
leite em tachos enormes, ao deitar do cardo
que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos sobre a grande banca de
madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo
CSerpa
colete Os homens (135) aparecem nestes desenhos
vestidos com fatos de saragoça ou de sarja cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam
camisa de riscado aos quadradinhos com as pontas da fralda atadas à frente, botas,
chapéu de aba larga e lenço dobrado em
triângulo atado ao pescoço
CSerpa
cómodas rústicas
E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
48 estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as
chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que
ainda se vê em algumas casas.
Corro os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão
CSerpa
corunchoso Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de
“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) – onde cresciam couves e alfaces, assim como
matrastos, erva que cheirava muito bem,
especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à
passagem das procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um
espantalho, que não chegava a ser
suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma
noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
CSerpa
cozinha típica do monte
A grande cozinha do monte, onde comia o pessoal, com o lume no chão sempre aceso e
as pessoas sentadas em cadeirinhas baixas ou
em mochos. (139) As tripeças de madeira de
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
49
azinho.
encalmado É preciso um pintassilgo estar muito
encalmado para se arriscar desta maneira…
CSerpa
enfusa (infusa)
os fontanários públicos, onde antigamente as mulheres iam buscar água de “enfusa” à
cabeça
CSerpa
enleios não é meu desejo "arranjar enleios" CSerpa
enxapotas Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de “enxapotas” (ramos de azinheira e outras) –
onde cresciam couves e alfaces, assim como
matrastos, erva que cheirava muito bem, especialmente nas manhãs cinzentas e
húmidas e servia para juncar o chão à passagem das procissões ou nos mastros do
São Pedro. No corunchoso havia um
espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de
espantar os coelhos bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
CSerpa
espojinho E o “espojinho”, corrente de ar causada pelo
calor, que traça uma linha de poeira e folhas
secas arrancadas do chão, enquanto tudo à volta permanece imóvel, elevando-se pois no
ar, num redemoinho.
CSerpa
estanheira a estanheira na parede com pratos e travessas
CSerpa
estevas E também os montados com os seus CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
50 sobreiros, azinheiras e chaparros, as
charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
fatos fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa
flores dos campos do
Alentejo
searas verde-bandeira, de trigo, e dum verde mais claro, de cevada, salpicadas de papoilas,
malmequeres palmitos cor-de-rosa. (263) Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os
chupa-meis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e
umas minúsculas flores azuis escuras de que nunca soube o nome
CSerpa
fontanários fontanários públicos…
Diziam que iam “buscar água ao boneco”,
porque essas fontes (das quais ainda existem três) são formadas por uma coluna rematada
por um cone…
CSerpa
giesta Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
hortejo Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
51
“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) –
onde cresciam couves e alfaces, assim como matrastos, erva que cheirava muito bem,
especialmente nas manhãs cinzentas e
húmidas e servia para juncar o chão à passagem das procissões ou nos mastros do
São Pedro. No corunchoso havia um
espantalho, que não chegava a ser suficientemente medonho a ponto de
espantar os coelhos bravos, os quais, uma noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
Ia lá por ida Se eu tivesse feito uma recolha a preceito,
acho que teria de escrever vários volumes iguais a este. "Ia lá por ida"!
CSerpa 12
inscelente O cantar da meia-noite
é um cantar “inscelente”
CSerpa
Janelas com
grades…
…as várias grades das janelas, de ferro forjado ou fundido, que tanto embelezam as
fachadas das casas.
197
janelico Chaminés… algumas com um janelico CSerpa
jaqueta Os homens (135) aparecem nestes desenhos
vestidos com fatos de saragoça ou de sarja cinzenta, de colete e jaqueta
CSerpa
jarra antiga de
vidro coalhado
E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
52 o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras
de cobre, os almofarizes. E uma ou outra
jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.
junquilho E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
CSerpa
lambazes O pavimento de ladrilhos (que aqui se
chamam “baldosas” se forem quadrados e “lambazes” os rectangulares)
CSerpa
lírios Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,
os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
loendreiras E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
53
loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
manajeiras era costume as andarem batendo às portas das mulheres dos seus ranchos…
CSerpa
Margalhos Nomes de lugares como Margalhos,
Benvenidos…
masmárreas (erva aromática usada na açorda e nas masmárreas)
CSerpa
matrastos
(mantrastos,
(mentrasto – metátese de
mentastro)
Íamos ao “corunchoso” – hortejo cercado de
“enxapotas” (ramos de azinheira e outras) – onde cresciam couves e alfaces, assim como
matrastos, erva que cheirava muito bem,
especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à
passagem das procissões ou nos mastros do São Pedro. No corunchoso havia um
espantalho, que não chegava a ser
suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma
noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
CSerpa
Mederio Apelido família – Gertrudes Mederio CSerpa
Mesas redondas
de braseira
E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
54 bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as
chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que
ainda se vê em algumas casas.
Mobiliário típico
duma casa alentejana
mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 – 219), os cântaros e tachos de arame, as
chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas
CSerpa
moinhos do
Guadiana
Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de
“a ribeira” (diz-se “r’bera”), com os seus característicos moinhos (85) abobadados de
grossas paredes pardas, construídos de modo a resistir às cheias que todos os anos
ocorriam
CSerpa
montados …os montados com os seus sobreiros,
azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
55
de estevas, tojo e urze.
monte típico
alentejano
E os “montes”, … com a casa de habitação, a
arramada, o redil, celeiros e palheiros, a chaminé por vezes coroada por um ninho de
cegonhas, o forno redondo isolado ou
edificado ao fundo do alpendre ou casão. (109 – 266 – 273 – 317)
CSerpa
mormentes mormentes pelos leitores não familiarizados
com esta região
CSerpa
nichos Os nichos cavados nas paredes grossas das cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de
barro, de cobre ou de latão.
CSerpa
Ortigões Os “pirunitos”, (245) que eram uns bichos frágeis e tristonhos, criados dentro de casa,
alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam “ortigões” e
eu fiquei a saber donde provinha o meu
apelido do lado materno).
CSerpa
olivais E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as
charnecas cobertas de estevas, tojo e urze. Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
CSerpa
pavimento de
ladrilhos
O pavimento de ladrilhos (que aqui se
chamam “baldosas” se forem quadrados e
“lambazes”
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
56 pateira a pateira tinha apanhado uma coruja… CSerpa
pial das enfusas O “pial das enfusas”. CSerpa
pieta Para ver os patinhos nadar… carregando com
eles para dentro de uma “pieta” onde as
ovelhas bebiam.
CSerpa
peliça Outros trazem peliça ou samarra, outros
ainda capote à alentejana. (133 – 289)
CSerpa
pelico «Os pastores usam pelico e ceifões de pele de borrego – também alguns ceifeiros usam
safões (109),
CSerpa
piorno Os prados onde crescem tufos de rosmaninho,
os chupa-méis, as saudades, as alcachofras bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
Piparralhas … e fazendo piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo)
CSerpa
piriquitos Por exemplo, uns passarinhos coloridos,
azuis, verdes e amarelos, as cores dos
piriquitos (220)
CSerpa
pirunitos Os “pirunitos”, (245) que eram uns bichos
frágeis e tristonhos, criados dentro de casa,
alimentados a papas de farelos quentes misturados com urtigões (diziam “ortigões” e
eu fiquei a saber donde provinha o meu
apelido do lado materno).
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
57
plantas mais
comuns no
Alentejo
as laranjeiras ornamentais, os jacarandás, as
olaias que no fim do Inverno se cobrem de cor-de-rosa forte. E os saudosos mosqueiros…
CSerpa
plantas mais
comuns no Alentejo
E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as
charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
CSerpa
poejos (erva aromática usada na açorda e nas masmárreas)
CSerpa
por mó de “por mó de” tais questões eruditas! CSerpa
pote de barro E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que
ainda se vê em algumas casas.
CSerpa
Pote de lata E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
58 redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas, o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos (325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê em algumas casas.
Prateleira de
cana
E o mobiliário e objectos típicos: as camas de
ferro de joeira e de outros feitios, as mesas redondas de braseira, as cómodas rústicas, a
estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta com o brancal, os capachos e as cadeiras de
bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite e o de barro para as azeitonas (131 – 219),
os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras de cobre, os almofarizes. E uma
ou outra jarra antiga de vidro coalhado que
ainda se vê em algumas casas.
CSerpa
R’bera – o
Guadiana… e
Guadiana, (177) que alguns chamam ainda de
“a ribeira” (diz-se “r’bera”), com os seus
característicos moinhos (85) abobadados de grossas paredes pardas, construídos de modo
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
59
a resistir às cheias que todos os anos
ocorriam
rosas albardeiras
Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
rosmaninho Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno, as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e
umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
rouparia roupeiro
E o roupeiro na sua rouparia, fabricando o belíssimo Queijo Serpa (219 – 269).
CSerpa
rouparia
roupeiro
Ali soube o que era uma rouparia, assistindo
ao trabalho do roupeiro, ocupado no fabrico
do queijo e do almece, desde a fervura do leite em tachos enormes, ao deitar do cardo
que o fazia atalhar, ao moldar do coalho dentro dos cinchos sobre a grande banca de
madeira, de onde escorria o chorrilho para um
barranhão. Tudo aquilo exalava um cheiro forte um tanto enjoativo.
CSerpa
safões «Os pastores usam pelico e ceifões de pele
de borrego – também alguns ceifeiros usam
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
60 safões (109),
samarra Outros trazem peliça ou samarra, outros
ainda capote à alentejana. (133 – 289)
CSerpa
Santa Cruz No terceiro dia de Maio, era costume confeccionar uma cruz de flores sobre uma
armação de cana, centrada numa grinalda também de flores. Ajudei a fazê-la algumas
vezes, com rosas saloias de cor viva, que
tinham muitas pétalas e lembravam pequenos repolhos. Depois de pronta, a Santa Cruz era
pendurada num prego na parede exterior da casa e, à tardinha, toda a gente lhe dançava
ao pé, na rua do monte. Faziam-se balhos de
roda, (97) simples ou formando cadeia (185), acompanhados de modas como “o Pavão”
(164), “José Marques” (248), “Foste tu, ó
ladrão, ladrão” (212) e “Eu nesta manhã achei” (130). Às vezes cantava-se ao
despique, improvisando.
CSerpa
sarja fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa
saragoça fatos de saragoça ou de sarja cinzenta CSerpa
saudades Os prados onde crescem tufos de rosmaninho, os chupa-méis, as saudades, as alcachofras
bravas e os cardos, moitas de giesta e piorno,
as rosas albardeiras, os lírios, as candeias e umas minúsculas flores azuis escuras de que
nunca soube o nome.
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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sobreiros E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos
CSerpa
sogra …à ida a bilha ia deitada sobre a “sogra” e,
no regresso, vinha muito direita,
CSerpa
tachos de arame E o mobiliário e objectos típicos: as camas de ferro de joeira e de outros feitios, as mesas
redondas de braseira, as cómodas rústicas, a estanheira na parede com pratos e travessas,
o baú de pele e a arca de madeira coberta
com o brancal, os capachos e as cadeiras de bunho, a prateleira de cana para os queijos
(325), o pote de lata onde se guarda o azeite
e o de barro para as azeitonas (131 - 219), os cântaros e tachos de arame, as chocolateiras
de cobre, os almofarizes. E uma ou outra jarra antiga de vidro coalhado que ainda se vê
em algumas casas.
CSerpa
telhados telhados velhos, de telha solta, os beirais assentes em cimalhas salientes.
CSerpa
tem avondo Mas, por agora, "tem avondo"! CSerpa 12
terra vermelha a terra vermelha do Outono, húmida das
primeiras chuvas, revolvida pelos alqueives e
charruadas que preparam as sementeiras
CSerpa
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62 terrabazias Íamos ao "corunchoso" - hortejo cercado de
"enxapotas" (ramos de azinheira e outras) - onde cresciam couves e alfaces, assim como
matrastos, erva que cheirava muito bem,
especialmente nas manhãs cinzentas e húmidas e servia para juncar o chão à
passagem das procissões ou nos mastros do
São Pedro. No corunchoso havia um espantalho, que não chegava a ser
suficientemente medonho a ponto de espantar os coelhos bravos, os quais, uma
noite por outra, iam lá fazer terrabazias.
CSerpa
tojo E também os montados com os seus sobreiros, azinheiras e chaparros, as
charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as loendreiras que florescem no pino do Verão…
junquilhos bravos
CSerpa
Torrão os Senhores José Filipe Justo do Corro e Armando Elias Torrão
CSerpa
traje típico da
mulher
alentejana (um)
Lembro-me de ver, em pequena, as mulheres
de saias compridas e rodadas, feitas de riscado - era mesmo riscado às riscas,
brancas e pretas ou castanhas escuras -
debruadas por um nastro. Usavam blusas de chita ou gorgorina de cores
escuras, "xale de malha" pequeno, seguro no
peito com um pregador e por cima um xale
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
63
grande de ir à rua. Na cabeça, lenço de
rebuço que só deixava ver um bocadinho do rosto (dizem ser reminiscência árabe), e um
gracioso chapéu preto de copa redonda e aba
enrolada para cima, que usavam apenas as mulheres desta vila. (75 - 76 - 223) E nos
pés, meias de linha, pretas ou de cor e
elegantes botas justas à pernas, apertadas com ilhós e cordões. … Nessa época, a
importância do traje era tão grande, que as manajeiras não aceitavam nos seus ranchos
trabalhadeiras que não estivessem vestidas a
rigor. (75 - 77)
traje típico do
homem… (um)
Os homens (135) aparecem nestes desenhos
vestidos com fatos de saragoça ou de sarja
cinzenta, de colete e jaqueta, outros trajam camisa de riscado aos quadradinhos com as
pontas da fralda atadas à frente, botas,
chapéu de aba larga e lenço dobrado em triângulo atado ao pescoço, (91 - 259) o qual
se usa também desdobrado e colocado sob o chapéu, para defender do ardor do Sol.
Outros trazem peliça ou samarra, outros
ainda capote à alentejana. (133 - 289)
CSerpa
traje típico do
pastor…
Os pastores usam pelico e ceifões de pele de
borrego - também alguns ceifeiros usam
safões (109), mas de pêlo rapado.
CSerpa
proposta de recolha e estudo de joraga.net
64 urtigões Os "pirunitos", (245) que eram uns bichos
frágeis e tristonhos, criados dentro de casa, alimentados a papas de farelos quentes
misturados com urtigões (diziam "ortigões" e
eu fiquei a saber donde provinha o meu apelido do lado materno).
CSerpa
urze E também os montados com os seus
sobreiros, azinheiras e chaparros, as charnecas cobertas de estevas, tojo e urze.
Os olivais e os pomares das quintas. E as
loendreiras que florescem no pino do Verão… junquilhos bravos
CSerpa
vacas-loiras fomos brincar dentro de uma seara,
procurando flores e vacas-loiras (uns insectos pretos e vermelhos, que, quando se lhes
cuspia em cima, rebentavam) e fazendo
piparralhas (pequenas flautas com o caule do trigo)
CSerpa
vasilhas Os nichos cavados nas paredes grossas das
cozinhas, onde se arrumam as vasilhas de barro, de cobre ou de latão.
CSerpa
Alentejo- seara vocabular 05 – Cancioneiro de Serpa de M. Rita O. P. Cortez
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trabalho realizado por @ JORAGA
Vale de Milhaços, Corroios, Seixal 2012
JORAGA
JORAGA
proposta de recolha e estudo de joraga.net
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05 – RitaCortez
Corroios - www.joraga.net - 2012