ALEXANDRE JUNIOR_Cartas de Consolacao a Lucilio

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    CARTAS DE CONSOLAO A LUCLIO

    ANLISE RETRICA DA

    EPISTULA

    6 DE SNECA

    Manuel Alexandre JniorFaculdade de Letras da Universidade de Lisboa

    Sneca, filsofo, dramaturgo, estadista, e tutor de Nero, foi um dos mais

    eminentes escritores da literatura latina no primeiro sculo da nossa era. A obra que dele

    nos resta, produzida toda ela nos anos da sua maturidade, reflecte a esmerada formao

    retrica e filosfica que recebeu e cultivou em Roma.

    Um dos trabalhos filosficos mais bem escritos deste pensador estico foram as

    Epistulae morales, dirigidas ao seu discpulo e amigo Luclio. Trata-se de cento e vinte e

    quatro ensaios morais sobre os mais diversos temas, entre os quais discretamente se

    conta o da consolao; um tema presente em todos os gneros da literatura antiga e que

    cartas, dilogos, ensaios, poesia lrica, pica e elegaca veicularam.1

    J em Homero se fazem discursos de consolao em ocasies propcias expresso

    do elogio pstumo, ao conforto prolptico, lamentao e ao encorajamento pessoal.2

    Mas os ensaios que teoricamente se ocupam do gnero apenas tomaram forma entre os

    sofistas, e assumidamente se desenvolveram nas escolas de filosofia.3 Se Antifonte

    referido como o pai da consolao,4o facto que s no perodo helenstico o gnero se

    desenvolveu de forma elaborada.5A Consolatio de Ccero, escrita em 45 a.C. aps a morte

    da sua filha Tlia, foi talvez a obra que maior influncia teve na transmisso desta

    tradio literria antiguidade tardia tanto no contedo como na forma epistolar.6

    1Ver Stanley K. Stowers,Letter Writing in Antiquity, Philadelphia, Westminster, 1986, pp. 91-94.2E. g.,Ilada6.429-432, 454-463.3 J. E. Atkinson, Senecas Consolatio ad Polybium, in Aufstieg und Niedergang der rmischen WeltII.32.2, Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1985, p. 861.4J. Hani, Plutarque, Consolation Apollonius, Paris, 1972, p. 12.5Crantor (ca. 325-275 A.C.), Peri Penthous. obra dirigida a Hipocles, por ocasio da morte do seu filho.

    Dela nos restam apenas fragmentos.6 Este tratado de Ccero perdeu-se, mas a par desta sua contribuio formal, chegaram a ns cartas deconsolao, entre as quais se conta a carta a Tcio pela morte de seus filhos (Ad Familiares5.16).

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    Retrica epistologrfica na antiguidade greco-romana

    O discurso retrico em forma de carta foi um importante veculo de comunicao

    na antiguidade clssica e helenstica. Pela sua flexibilidade e funo, o gnero epistolarfoi sempre permevel influncia da retrica e facilmente adoptou a estrutura do

    discurso argumentativo, com o simples acrscimo dos naturais praescriptum e

    postscriptum.7Embora os teorizadores de retrica e epistolografia pouco escrevam sobre a

    estrutura de cartas segundo o modelo retrico,8Gregrio de Nazianzo explicitamente diz

    que a melhor carta e a mais bela a que escrita para persuadir tanto o culto como o

    inculto e a ambos ser de imediato inteligvel.9O prprio Sneca concorda que as cartas

    devem ser escritas num estilo claro e o mais adequado situao, reconhecendo a estas aaplicabilidade da argumentao retrica.10

    A prtica epistologrfica antiga revela, de facto, o uso consistente das convenes

    retricas. a elas que aparentemente se deve a preservao das cartas de Demstenes

    nas pocas helenstica e bizantina. Ccero, Quintiliano e Plutarco as conheciam pelo seu

    estilo retrico.11E, como justamente observa Jeffrey Reed, a sua Ep.2 um claro exemplo

    do gnero forense-epidctico de auto-apologia, com a estrutura formal do discurso

    oratrio.12 Um outro exemplo ilustrativo de carta retrica a primeira carta de

    7 Independentemente de terem ou no a rigor a estrutura do discurso oratrio, quase todas as cartas sedividem na antiguidade em trs partes: abertura, desenvolvimento e encerramento. Como observa G.Kennedy, The structure of a Greco-Roman letter resembles a speech, framed by a salutation andcomplimentary closure (New Testament Interpretation Through Rhetorical Criticism, Chapel Hill,University of North Carolina Press, 1984, p. 141).8Vide Jeffrey T. Reed, The Epistle, inHandbbok of Classical Rhetoric in the Hellenistic Period 300 B.C. A.D. 400, Leiden/New York/Kln, Brill, 1997, p. 182.9

    Ep. 51.4.10Ep. 75.2-3: pois assim mesmo que eu pretendo que sejam as minhas cartas, que nada tenham deartificial, nem de fingido!... Mesmo que eu tivesse discutido contigo no me iria pr na ponta dos ps, nemfazer grandes gestos, nem elevar o voz: tudo isso seriam artifcios de oradores, enquanto a mim me bastariacomunicar-te o meu pensamento, num estilo nem grandiloquente nem vulgar. De uma coisa apenas eu tequereria convencer: de que sentia tudo quanto dissesse, e no apenas o que sentia, mas que o sentia comamor!.11Ccero,Brutus121, e Orator15; Quintiliano,Institutio oratoria10.1.107; Plutarco, Vidas20.12Vide Jeffrey T. Reed, op. cit., p. 187: O corpo central da carta consta das seguintes partes: (1) um promio,escrito em tom de indignao por quem foram enganados e apela boa vontade do auditrio (2.1-2); (2) umaproposio, a pedir aos atenienses que o exonerem (2.3.); (3) uma confirmao, a retratar favoravelmente acarreira de Demstenes com base nos chamados tpicos retricos dos telikaVkefavlaia: apropositio justa,legtima, vantajosa, honrosa, agradvel, fcil de cumprir; ou, se difcil, possvel e necessria (2.4-20); (4) um

    eplogo, a reiterar o apelo exonerao e a incluir amplificao pattica e um apelo final sua boa vontade(2.21-26). Cf. J. A. Goldstein, The Letters of Demosthenes, New York, Columbia University Press, 1968, pp.158-166.

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    Dionsio de Halicarnasso a Ameu um consistente e bem desenvolvido argumento a

    sustentar que Demstenes no aprendeu de Aristteles as convenes da retrica.13

    Tambm o discurso de consolao encontrou na carta a forma retrica14

    e literriaque mais se prestou a veicular os seus contedos;15 nomeadamente a lamentao pelo

    infortnio que se abateu sobre o destinatrio (), e o conforto que se lhe d

    para suavizar a sua dor e o ajudar a suport-la (). Num ambiente propcio a

    conselhos, exortaes e admoestaes de carcter filosfico, a consolatio integra assim

    categorias de estilo epistolar como a retrica protrptica e parentica para persuadir o

    leitor quer a permanecer no estilo de vida aceite, quer a adoptar normas de conduta

    diferentes.16

    A estrutura persuasiva destas cartas reflecte em geral a influncia doscnones retricos vigentes,17mas representa em suaflexibilidade de estilomais uma sntese

    do essencial que aflora nas vrias tradies do que a vinculao a alguma delas em

    particular.18Este , a meu ver, o caso das Epistolae 63 e 99 de Sneca a Luclio. Muitas das

    13Jeffrey T. Reed, op. cit., pp. 187-188.14

    Vide R. Kassel, Untersuchungen zur griechischen und rmischen Konsolationsliteratur, Zetemata 18,Munich, 1958.15Circulavam na antiguidade muitos manuais prticos com descries de cartas adequadas a uma variedadede ocasies e necessidades, entre elas, os Typoi epistolikoide Pseudo-Demtrio (II/I sculos a. C.) com adescrio de vinte e uma categorias de cartas, e os Epistolimaioi characteresde Pseudo-Libnio (314-393 a.D.), com a descrio de quarenta e um tipos acompanhados da respectiva exemplificao, entre eles o daconsolao.16No mundo greco-romano havia uma tradio segundo a qual o escritor apelava ao receptor a continuar acultivar um certo estilo de vida pela recomendao da moral convencional e da sabedoria tradicional.Recomendao esta, reforada por exemplos positivos e negativos, ao mesmo tempo que pela lembrana dosprincpios e valores ticos que o receptor j conhece. A par com esta tradio, desenvolveu-se um outromodelo literrio de exortao, de menor impacto, que requeria do receptor a mudana da sua actualorientao de vida e a sua dedicao filosofia ou virtude. Estes dois modos de exortao eram

    identificados com a parnese na tradio greco-romana (Abraham J. Malherbe,Moral Exhortation: A Greco-Roman Source-book, Philadelphia, Westminster, 1986, p. 121). Rudolph Vetschera adoptou, entretanto, aseguinte diferenciao. Reservou o termo paraenesis para aquele modo de mensagem em que o receptor exortado a manter a sua adeso a modos de conduta tradicionais ou geralmente aceites, e o nome deproptresis para aquele modelo de mensagem que assume a forma de apelo mudanado estilo de vida deuma pessoa apelo que normalmente aponta para a devoo ao estudo da filosofia como objectivo ltimo ecaminho mais seguro para a virtude (R. Vetschera, Zur griechischen Parnese, Smichow, Rohlicek &Sievers, 1912, pp. 3-5). Ambos estes modelos visam inculcar virtude. Quando o escritor exorta o destinatrioa uma nova e radical mudana de vida, temos exortao proptrptica. Quando a exortao visa amanuteno do estilo de vida seguido ou aceite, temos parnese (Mark Harding, Tradition and Rhetoric inthe Pastoral Epistles, New York/Washington, D.C./Baltimore/Boston/Bern/Frankfurt/Berlin/Vienna/Paris,Peter Lang, pp. 107-109).17 considervel o uso de cartas na linha do discurso deliberativo, nos primeiros sculos da era crist. Vide

    G. W. Hansen, Abraham in Galatians. Epistolary and Rhetorical Contexts, Sheffield, Sheffield AcademicPress, 1989, pp. 34-43.18Vide Jeffrey T. Reed, ibid., pp. 188-189.

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    suas cartas contm elementos de consolao,19mas apenas estas duas expressamente se

    nos apresentam como cartas consolatrias.20

    Sneca no foi de facto alheio s convenes da retrica

    A presente carta, embora relativamente breve, como alis se recomenda,21 uma

    amostra clara da forma como Sneca se socorre, de forma aparentemente espontnea

    mas bem conseguida, dos recursos de toda uma tradio retrica e epistologrfica para

    nos apresentar uma estrutura coerente de argumentao que simultnea e

    progressivamente consola, admoesta e protrepticamente exorta o seu amigo.

    Situada na tradio da consolao filosfica, esta carta no deixa de reflectir umaforte influncia da retrica na sua configurao estrutural e estilstica. Ela socorre-se

    inclusivamente da diatribe, enquanto apresentao retrica de um argumento tico, para

    tornar mais vincada a fora de argumentao que encarna.22

    A sua anlise mostra-nos, com particular clareza, a convico de que s uma

    retrica conforme a natureza capaz de verbalizar com eficcia e vigor os princpios que

    a filosofia conceptualiza e os valores que implementa. Sem perder de vista o fim real da

    filosofia, Sneca v na retrica o meio necessrio comunicao da verdade que aquela

    encarna. O que ele defende um estilo amplo, fluente e no desprovido de energia, um

    estilo de tal maneira bem conseguido que, na aparncia, se no mostre trabalhado nem

    rebuscado em excesso.23 Pois, como diz na Carta 100, ao filsofo no convm a

    excessiva preocupao com o estilo. Este, porm, no revela negligncia, mas

    naturalidade e segurana. Ao invs de nele se encontrar qualquer vulgaridade, o estilo

    filosfico inspira-se numa retrica que mais se adequa ao ritmo da natureza. Embora sem

    19Por exemplo, a carta 13 sobre receios infundados, a carta 24 sobre como enfrentar a morte, a carta 30 sobrea atitude de Aufdio Basso perante a morte, as cartas 49 e 93 sobre a veloz passagem do tempo e o valor daqualidade da vida sobre a quantidade, a carta 107 sobre o dever de nos conformarmos vontade universal.20A 63 e a 99.21In approximately 14,000 private letters from Greco-Roman antiquity, the average length about 87 words,ranging in length from about 18 to 209 words. Cicero averaged 295 words per letter, ranging from 22 to2,530 words, and Seneca 995, ranging from 149 to 4134 (Randolph E. Richards, The Secretary in theLetters of Paul. Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 2. Tbingen, Mohr, 1991, p. 213).A propsito da consolatio Julius Victor diz: [Rem secundam prolixius gratulare, ut illiuus gaudiumextollas:] cum offendas dolentem, pauculis consolare, quod ulcus etiam, cum plena manu tangitur (asconsolaes devem ser breves, porque uma ferida fica em chaga quando apertada com mo firme).22Cf. M. Ceccarini,L. Anneo Seneca: Consolazione a Polibio: introduzione, testo, traduzione e note a cura

    di M. Ceccarini, Rome, Scriptores latini 12, pp. 11-13.23Cartas a Luclio, 100.2. A traduo, neste passo e nos restantes, de J. A. Segurado e Campos (LcioAneu Sneca, Cartas a Luclio, Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, 1991).

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    luxo decorativo, o seu produto final aquilo a que soe chamar-se uma casa bem

    construda, excelente na globalidade dos seus contedos, e sempre visando ao progresso

    moral, sabedoria.24

    Os recursos retricos no sero essenciais para Sneca, mas eles penetram fundo

    na essncia da sua obra e do mais eficcia aos seus contedos. Como diz na carta 75, ele

    tem por objectivo comunicar o seu pensamento num estilo nem grandiloquente nem

    vulgar, na convico de que a filosofia no deve renunciar por completo ao talento

    literrio (75.3). O que importa que a fluidez do discurso e a qualidade dos actos

    expressos se correspondam na mais perfeita unidade, que a eloquncia surja

    naturalmente, sem esforo ou quase, e, se possvel, em estilo agradvel (75.5-6); noporque a elegncia formal seja indispensvel eficcia psicaggica do ensino, mas

    porque ela facilita a veiculao do efeito moral que se pretende sobre o leitor. 25A uma

    oratria de tradio sofstica tambm ele parece contrapor uma retrica ideal na linha da

    sabedoria estica, que contempla o como um todo em que tanto cabe o conceito

    que brota da mente como a palavra que o interpreta e lhe d expresso.26Mas, mesmo

    essa retrica s pode ser til quando est ao servio da verdade. Subscrevendo o

    princpio estico segundo o qual idntico a ,27Sneca demarca-

    se de uma retrica puramente tcnica e literria para abraar a sua vertente mais

    filosfica. No se rev, contudo, na ortodoxia mais conservadora do estoicismo.28 E, se

    parece aproximar-se do ideal retrico que Plato defende no Fedro e Aristteles

    pragmaticamente teoriza na Retrica, logo insiste numa comunicao literria cuja

    sublimidade de estilo emana da grandeza da alma que a inspira, e naturalmente

    24Ibid., 11-12.25Talvez por influncia de Ccero, que julgava perfeita a filosofia quae maximis quaestionibus copiose possetornateque dicere (Tusc. 1.7; cf. Part. Or. 79), e possibile, nel suo ricupero del ellemento oratorio dovutoalla sua conciliazione del sermo filosofico con linstanza parenetica dell admonitio, Seneca vadaleggermente pi in l di quanto richiederebbe la funzione puramente pratica che a quellelemento egliassegna (Aldo Setaioli, Seneca e lo stile, in Aufstieg und Niedergang der rmischen Welt II.32.2,Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1985, pp. 788-789).26O lovgo" ejndiavqeto"materializa-se no lovgo" proforikov".27Aldo Setaioli,op. cit., pp. 811-812.28 ...anche se per lo stoicismo lottimo stile si ottiene non dallosservazione esteriore di certe regole madallintrinseca conformit dellanimo a natura, resta alla base il concetto che uno il modo retto di scrivere,

    quello che solo il saggio, in contatto intimo e totale com il lovgo", pu trovare. Seneca invece giunge asfiorare lidea moderna che lo stile di ogni scrittore qualcosa di irripetibile, che ha le sue leggi internevalide solo per esso ( Aldo Setaioli, op. cit., p. 821).

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    harmoniza tanto as partes do discurso como a ordem dos argumentos na economia do

    conjunto.29Tambm nele o bem falar e o recto agir andam de mos dadas.

    Esta prevalncia da res sobre os uerba no s lhe permitia distanciar-se doformalismo retrico que subordinava o contedo ao estilo, como tambm lhe

    proporcionava uma maior liberdade de expresso individual.30 Como o prprio Sneca

    observa na carta 114, clara a correspondncia entre o carcter e o estilo; pois, mais do

    que as regras, o escritor deve seguir a natureza, socorrendo-se de um antigo provrbio

    grego que diz: talis hominibus fuit oratio qualis uita; por outras palavras, o estilo o reflexo

    da vida.

    Estratgia retrica de Sneca na sua carta de consolao a Luclio

    Esta carta de Sneca apresenta-se dividida em trs partes, como convm ao

    discurso deliberativo: promio, argumentao e eplogo. Identificado com a dor de

    Luclio, Sneca lamenta profundamente a morte de Flaco, mas aconselha o amigo a gerir

    estoicamente a situao e evitar o excesso. Transformando introdutoriamente o

    fenmeno concreto da morte de um amigo na tese de um princpio universal, Sneca

    demonstra a seguir esta tese em quatro argumentos, avanando progressivamente as

    razes que justificam a equidade do princpio enunciado, para cabalmente provar que a

    morte de um amigo lacrimandum est, non plorandum (63.1).

    Muito ao gosto dos antigos, o promio apresenta-se estruturado em forma de um

    quiasmo de estrutura AB BA. Avanando do particular para o geral, os mesmos temas se

    repetem na segunda metade em ordem inversa, aplicando no plano filosfico do o

    que se verifica no plano retrico do e do .

    A Lamento profundamente o falecimento do teu amigo Flaco,

    B No entanto entendo que a tua dor no deve ultrapassar os limites do razovel.

    29Ibid., pp. 812-813.30 In un punto stoicismo e retorica concordavano: per entrambi esiste un modo di scrivere che abbiettivamente il migliore, ed a questo ideale assoluto lo scrittore debe cercare di conformarsi, vuoiseguendo la natura e la ragione, vuoi uniformandosi alle regole tecniche della scuola. Non il casodinsistere sul carattere oggettivo e normativo delle dottrine stilistiche antiche: lo stile non come per noi, ilmodo desprimersi di un determinato autore, personale e diverso da tutti gli altri, bensi un genus dicendicon

    leggi determinati alle quali chi scrive si deve attenere; ci sono anzi tanti genera dicendi, ciascuno dei quali adatto a un particolare genere litterario, a una determinata parte dellorazione e cosi via (Aldo Setaioli, op.cit., p. 814).

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    C No ousaria exigir de ti que no sentisses o mnimo abalo perante o facto , embora isso

    fosse o ideal.

    D Uma tal firmeza de nimo apenas est ao alcance de quem j se alou muitoacima das contingncias da fortuna.

    D E mesmo um homem assimno deixaria de sentir na almauma beliscadura, se bem

    que somente uma beliscadura!

    C A homens como a ns pode perdoar-se que deixemos correr as lgrimas,

    B Desde que no em excesso, e desde que as saibamos estancar.

    A Importa que, perante o desaparecimento de um amigo, os nossos olhos nem fiquem

    secos nem inundados.31

    Com o primeiro argumento, Sneca mostra que as lgrimas em excesso nada

    mais so do que um falso sinal de ostentao. A verdade da tese realada em clmax pela

    estrutura do promio aqui entimematicamente demonstrada pelo recurso a uma dupla

    interrogatio, que simultaneamente encarna a citao e o exemplo e culmina com a

    autoridade de uma mxima. A morte de um amigo lacrimandum est, non plorandum(63.1)

    porque at o maior poeta da Grcia concedeu s lgrimas to-somente o espao de um

    dia, e o mesmo poeta nos diz que at Nobe no descurou os cuidados com a

    alimentao (63.2). Ningum prodigaliza manifestaes de tristeza quando est

    sozinho.

    No segundo argumento, Sneca induz Luclio a fazer distino entre a sua dor e a

    lembrana de Flaco; a acalentar o doce prazer dessa memria, mesmo sabendo que

    recordar o nome de um amigo se faz sempre acompanhar de um certo aperto de alma, e

    sempre estranhamente gera algum prazer (morsus habet suam uolutatem,63.4).32Trata-se

    de uma complexa linha de argumentao bem ao jeito da diatribe33e na forma elaborada

    31A Moleste fero decessisse Flaccum, amicum tuum,B plus tamen aequo dolere te nolo.

    C Illud, ut non doleas, vix audebo exigere; et esse melius scio.D Sed cui ista firmitas animi continget nisi iam multum supra fortunam elato?D illum quoque ista res vellicabit, sed tantum vellicabit.

    C Nobis autem ignosci potest prolapsis ad lacrimas,B si non nimiae decucurrerunt, si ipsi illas repressimus.

    A Nec sicci sint oculi amisso amico nec fluant; lacrimandum est, non plorandum.32Como ele prprio afirma na suaEp. 99,Non est dolor iste, sed morsus; tu illum dolorem facis(isto no

    dor, mas um mero aperto de alma; s s tu que o transformas em dor)33Sneca imagina-se tambm aqui em dilogo filosfico com Luclio e, passa a responder a uma questo quecoloca nos lbios do amigo, com o objectivo de elaborar ou aprofundar o ponto central da sua tese.

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    da tractatio;34um dilogo filosfico em que Sneca imagina Luclio a interrogar-se, quid

    ergo, inquis, obliuiscar amici?!35, e a elaboradamente responder questo, para melhor

    fundamentar a tese enunciada e mais visibilidade retrica dar ao pensamento filosficoque representa e encarna. Estruturado em sete partes (63.3-7), este argumento parece

    querer, afinal, mostrar que quanto mais breve a dor mais longa promete ser a

    recordao. Vejamos como os tpicos de argumentao logicamente se sucedem:

    (1) Res [3] Curta recordao tu ters dele se a fizeres coincidir com as manifestaes de

    pesar; qualquer sucesso fortuito dentro em pouco te far abrir o rosto num sorriso! Nem

    sequer prevejo que passe muito tempo para que toda essa saudade se dilua,

    (2) Ratio pois mesmo as aflies mais acesas cessam com o tempo. Basta que comeces a

    observar o teu prprio comportamento e todos os sinais exteriores do teu desgosto

    cessaro.

    (3) Confirmatio De momento ests cultivando a tua dor; mas por mais que a cultives, ela

    passar, e tanto mais depressa quanto mais intensa se mostra agora.

    (4) Contrarium [4] Procedamos antes de modo a que a recordao dos desaparecidos seja

    para ns um momento de doura...

    (5) Exemplum [5] O nosso amigo talo costumava dizer que a memria dos amigos

    falecidos nos agradvel

    (6) Simile tal como certos frutos nos agradam apesar de cidos, ou tal como no vinho

    excessivamente velho nos d prazer o prprio travo; ao fim de algum tempo extingue-se em

    ns a parte da angstia e sentimos na recordao meramente a parte do prazer...

    (7) Conclusio [7]...Para mim, pensar nos amigos j desaparecidos algo que nos

    proporciona uma doce satisfao; quando os tinha comigo sabia que os ia perder, agora

    que os perdi como se os tivesse sempre comigo! [8] Age com equidade, caro Luclio, e no

    interpretes mal os benefcios que a fortuna te concedeu: ela roubou-te um amigo, mas

    fora ela quem to tinha dado.36

    34Segundo aRhetorica ad Herennium(4....)35Como dizes? Ento eu hei-de esquecer o meu amigo?!36(1)Res [3]...Brevem illi apud te memoriam promittis, si cum dolore mansura est: iam istam frontem adrisum quaelibet fortuita res transferet. Non differo in longius tempus quo desiderium omne mulcetur,(2) Ratio quo etiam acerrimi luctus residunt: cum primum te observare desieris, imago ista tristitiae

    discedet.(3) Confirmatio Nunc ipse custodis dolorem tuum; sed custodienti quoque elabitur, eoque citius quo estacrior desinit.

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    O raciocnio epiquiremtico com que se expande a concluso do segundo

    argumento (63.8)37abre caminho a um terceiro, no menos elaborado, que por acrscimo

    mostra no serem as lgrimas em excesso mais do que um sinal tardio de amizade nomanifesta em vida. Tambm aqui a Retrica a Hernio que inspira o modelo de

    argumentao por ele seguido: a absolutissima et perfectissima argumentatio instruda e

    iluminada no Livro II,38 e tambm ela a lembrar a consagrada elaborao de uma cria

    tanto em Hermgenes39como em Aftnio,40Nicolau41e Libnio42.

    (1) Propositio [9] E que dizes tu daqueles que no ligam importncia aos amigos vivos, e

    os pranteiam exageradamente quando morrem?

    (2) Ratio Por isso mesmo os deploram veementemente, com medo que a sua amizade

    por eles possa ser posta em dvida, e da esses sinais de afecto j fora de horas.

    (3) Pronuntiatio [10] Se ns temos ainda outros amigos, julg-los compensao

    insuficiente pela perda de um s, equivale a desmerecer e desconsiderar a sua amizade.

    Se no os temos, ento ns mesmos que, mais do que a fortuna, fomos cruis para

    connosco, pois se a fortuna nos privou de um amigo, ns fomos incapazes de fazer mais

    amizades.

    (4) Exornatio

    (4.1) Contrarium [11] De resto, quem no foi capaz de fazer mais do que um amigo,

    pouca amizade tinha certamente para oferecer! (11a)

    (4) Contrarium [4] Id agamus ut iucunda nobis amissorum fiat recordatio. Nemo libenter ad id redit quodnon sine tormento cogitaturus est, sicut illud fieri necesse est, ut cum aliquo nobis morsu amissorum quosamavimus nomen occurrat; sed hic quoque morsus habet suam voluptatem.(5)Exemplum [5] Nam, ut dicere solebat Attalus noster, sic amicorum defunctorum memoria iucunda est

    (6) Simile quomodo poma quaedam sunt suaviter aspera, quomodo in vino nimis veteri ipsa nos amaritudodelectat; cum vero intervenit spatium, omne quod angebat exstinguitur et pura ad nos voluptas venit.(7) Conclusio [6] Si illi credimus, amicos incolumes cogitare melle ac placenta frui est: eorum qui fueruntretractatio non sine acerbitate quadam iuvat. Quis autem negaverit haec acria quoque et habentia austeritatisaliquid stomachum excitare? [7] Ego non idem sentio: mihi amicorum defunctorum cogitatio dulcis acblanda est; habui enim illos tamquam amissurus, amisi tamquam habeam. Fac ergo, mihi Lucili, quodaequitatem tuam decet, desine beneficium fortunae male interpretari: abstulit, sed dedit.37 A estrutura do epiquirema quintileneo e da ratiocinatio ciceroniana (proposititio, propositionisapprobatio, assumptio, assumptionis approbatio, conclusio) muito semelhante: trs partes, a primeira;cinco partes (quatro ou trs) a segunda, conforme as premissas se fazem ou no acompanhar das respectivasrazes.38Rhetorica ad Herennium 2.28-30.39H. Rabe (ed.),Hermogenis Opera, Stuttgart, 1969, 1-27.40

    H. Rabe (ed.),Aphthonii Progymnasmata, Leipzig, Teubner, 1926.41Nicolaos, Progymnasmata, ed. J. Felten,Nicolai Progymnasmata, Leipzig, Teubner, 1913.42Libanius, ed. R. Frster,Libanius Opera, tomo VIII, Leipzig, Teubner, 1915, reimpr. Hildesheim, 1963.

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    (4.2) Simile Um homem a quem roubaram a sua nica tnica e se pe a

    autolamentar-se em vez de procurar os meios de se defender do frio, tentando

    encontrar algo com que se cubra no te parece que atingiu o auge da insanidade?(11b)

    (4.3) Iudicatio Encontrar um novo amigo mais importante do que chorar o

    desaparecido (11d)

    (5) Complexio em tom de exortao Tinhas um s amigo, acompanhaste o seu funeral, pois

    procura outro a quem ds a tua amizade (11c).43

    A culminar esta sequncia argumentativa, Sneca recorre mxima, ao entimema

    e ao exemplo para finalmente provar duas coisas: primeiro, que quando

    deliberadamente no pomos ns um termo nossa dor, o tempo o far por ns; e

    segundo, que coisa alguma se torna aborrecida mais depressa do que a dor. O exemplo

    dos antigos romanos e o da sua prpria experincia so argumentos de autoridade que

    sustentam com fundamento as verdades enunciadas, e cabalmente demonstram que

    nada h mais inconveniente para um homem avisado do que deixar o cansao servir de

    remdio dor.

    Perfeitamente inserido na cultura da poca, uma cultura caracterizada pela

    interaco dinmica entre composio oral e escrita, Sneca soube usar com particular

    mestria tanto as categorias retricas que retm marcas de oralidade44 como aquelas

    figuras que a retrica literria consagrou. Para a eficcia dos seus argumentos concorrem

    figuras de estrutura como o quiasmo, a repetio cclica de palavras-chave como dolor,

    lacrima, amicus e uoluptas, a anttese, a incluso e a simetria concntrica. O discurso

    encerra (63.16) em quiasmo como comeou; simplesmente agora, em tom de exortao e

    43 (1) Propositio [9] Feras autem hos qui neglegentissime amicos habent, miserrime lugent, nec amantquemquam nisi perdiderunt?(2) Ratio ideoque tunc effusius maerent quia verentur ne dubium sit an amaverint; sera indicia affectussui quaerunt.(3) Pronuntiatio [10] Si habemus alios amicos, male de iis et meremur et existimamus, qui parum valent inunius elati solacium; si non habemus, maiorem iniuriam ipsi nobis fecimus quam a fortuna accepimus; illaunum abstulit, nos quemcumque non fecimus.(4)Exornatio:(4.1) Contrarium [11] Deinde ne unum quidem nimis amavit qui plus quam unum amare notpotuit. (4.2) Simile Si quis despoliatus amissa unica tunica complorare se malit quam circumspicerequomodo frigus effugiat et aliquid inveniat quo tegat scapulas, nonne tibi videatur stultissimus? (4.3)Iudicatio Satius est amicum reparare quam flere (11d).

    (5) Complexio em tom de exortao Quem amabas extulisti: quaere quem ames (11c).44 Categorias como o quiasmo, a inverso, a alternncia, a incluso, a composio circular, o refro, asimetria concntrica.

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    em estrutura do modelo ABA. Um quiasmo mediado que tende a dirigir a sua ateno

    para o elemento central da estrutura, e parece querer gerar uma rstia de esperana que

    transforma a tristeza da perda na alegria contida de um possvel reencontro final.

    A [16] Pensemos, caro Luclio, que em breve tambm ns iremos

    B para onde foi agora, para tristeza nossa, esse nosso amigo.

    C At pode suceder quetenham razo os sbios e haja um lugar onde todos iremos residir

    aps a morte;

    B se assim for, esse amigo que julgamos ter morrido,

    A limitou-se a partir para l nossa frente!45

    No sendo um imitador servil das convenes retricas, Sneca soube, de facto,

    usar criativa e inventivamente as tcnicas fundamentais de composio inspiradas nessa

    arte para comunicar com eficcia e vigor a sua mensagem. O juzo negativo de

    Quintiliano sobre o ritmo desigual da sua prosa, as suas frases nervosas e curtas, as suas

    sentenas abundantes, a sua composio irregular,46e o facto de o prprio Sneca nunca

    ter dado grande relevo explcito retrica, no conseguem ocultar os traos contnuos

    de uma exmia tcnica de argumentao e composio. Como justamente observaSegurado e Campos, situado entre o rigorismo da Stoa antiga e a predileco romana

    pela arte da palavra,47 que Sneca se situa. Ele socorre-se da retrica como serva da

    filosofia para dar, no s expresso e relevo grandeza das ideias em que acredita, mas

    tambm persuadir, convencer e transformar o destinatrio da sua carta. E, quem sabe?

    porventura aperfeioar-se a si prprio. Pois, como diz: Sou eu que te escrevo estas

    palavras, eu, que to imoderadamente chorei o meu grande amigo Aneu Sereno, eu, que

    com grande vergonha minha me vejo forado a incluir-me no nmero daqueles que sedeixaram vencer pela dor! (63.14). A relao eu/tu que aqui se enfatiza , pelo menos

    retoricamente, um convite ao auto-escrutnio, auto-revelao que implica o

    45 A ...cito nos eo peruenturosB quo illum peruenisse maeremus;

    C et fortasse, si modo vera sapientium fama est ricipitque nos locus aliquis,B quem putamus perisse

    A praemissus est.46

    Ver Lcio Aneu Sneca, Cartas a Luclio, traduo. Prefcio e notas de J. A. Segurado e Campos, Lisboa,Fundao Calouste Gulbenkian, 1991, p. XX.47Ibid., pp. XVIII-XIX.

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    envolvimento e a transformao de pelo menos dois eus.48Os conselhos que Sneca d a

    Luclio correspondem neste exemplo s prescries que ele de algum modo faz a si

    prprio.De sorte que, mediante uma simples carta de consolao, o autor cumpre o

    projecto filosfico de tambm reflectir sobre si mesmo para se auto-examinar,

    aconselhar e corrigir. Renunciando ao papel de sbio e director da conscincia alheia,

    tambm ele se confessa enfermo e aprendiz em busca da felicidade e sabedoria que

    aconselha.49Mas no estar ele a cumprir este projecto filosfico de aco pedaggica e

    teraputica mediante o recurso a uma subtil estratgia retrica genialmente conseguida

    sem dar nas vistas?, e retricos juntamente concorrem para persuadirLuclio a transformar as lgrimas de tristeza no doce e alentado prazer da memria do

    amigo, e a dor da sua perda na satisfao que resulta de valorizar mais a amizade

    expressa em vida. A lgica de cada um dos argumentos eticamente sustentada pela

    crescente empatia manifesta, e eficazmente demonstrada por toda uma sinestesia de

    emoes que o estilo gnmico, diatrbico e paradigmtico convergentemente despertam.

    48Catherine Edwards, Self-scrutiny and Self-transformation in Senecas Letters, Greece and Rome44:1,1997, pp. 23-38. Neste artigo, Edwards observa que a obra de auto-transformao implies the involvementof at least two selves, the author and the addressee (p. 27). De sorte que o conselho de Sneca correspondeneste exemplo s prescries que ele d a si prprio.49 como companheiro de sanatrio que eu falo contigo da nossa comum enfermidade e te dou parte dos

    medicamentos que uso. Escuta, portanto, as minhas palavras como se me estivesses ouvindo a falar com osmeus botes; como se eu te permitisse o acesso aos meus segredos e discutisse comigo mesmo na tuapresena... (27.1). Cf. 68.9.

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    TEXTOS63.1

    A Moleste fero decessisse Flaccum, amicum tuum,B plus tamen aequo dolere te nolo .

    C Illud, ut non doleas, vix audebo exigere; et esse melius scio.D Sed cui ista firmitas animi continget nisi iam multum supra fortunam elato?D illum quoque ista res vellicabit, sed tantum vellicabit.

    C Nobis autem ignosci potest prolapsis ad lacrimas,B si non nimiae decucurrerunt, si ipsi illas repressimus.

    A Nec sicci sint oculi amisso amico nec fluant; lacrimandum est, non plorandum.

    63.3-7(1) Res [3]...Brevem illi apud te memoriam promittis, si cum dolore mansura est: iamistam frontem ad risum quaelibet fortuita res transferet. Non differo in longius tempusquo desiderium omne mulcetur,(2) Ratio quo etiam acerrimi luctus residunt: cum primum te observare desieris, imagoista tristitiae discedet.(3) Confirmatio Nunc ipse custodis dolorem tuum; sed custodienti quoque elabitur,eoque citius quo est acrior desinit.(4) Contrarium [4] Id agamus ut iucunda nobis amissorum fiat recordatio. Nemo libenterad id redit quod non sine tormento cogitaturus est, sicut illud fieri necesse est, ut cumaliquo nobis morsu amissorum quos amavimus nomen occurrat; sed hic quoque morsushabet suam voluptatem.(5) Exemplum [5] Nam, ut dicere solebat Attalus noster, sic amicorum defunctorummemoria iucunda est(6) Simile quomodo poma quaedam sunt suaviter aspera, quomodo in vino nimis veteriipsa nos amaritudo delectat; cum vero intervenit spatium, omne quod angebatexstinguitur et pura ad nos voluptas venit.(7) Conclusio [6] Si illi credimus, amicos incolumes cogitare melle ac placenta frui est:eorum qui fuerunt retractatio non sine acerbitate quadam iuvat. Quis autem negaverit

    haec acria quoque et habentia austeritatis aliquid stomachum excitare? [7] Ego non idemsentio: mihi amicorum defunctorum cogitatio dulcis ac blanda est; habui enim illostamquam amissurus, amisi tamquam habeam. Fac ergo, mihi Lucili, quod aequitatemtuam decet, desine beneficium fortunae male interpretari: abstulit, sed dedit.

    63.9-11(1) Propositio [9] Feras autem hos qui neglegentissime amicos habent, miserrime

    lugent, nec amant quemquam nisi perdiderunt?(2) Ratio ideoque tunc effusius maerent quia verentur ne dubium sit an amaverint;

    sera indicia affectus sui quaerunt.

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    Pronuntiatio [10] Si habemus alios amicos, male de iis et meremur etexistimamus, qui parum valent in unius elati solacium; si non habemus, maiorem

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    iniuriam ipsi nobis fecimus quam a fortuna accepimus; illa unum abstulit, nosquemcumque non fecimus.

    (4) Exornatio

    (4.1) Contrarium [11] Deinde ne unum quidem nimis amavit qui plus quam unumamare not potuit.(4.2) Simile Si quis despoliatus amissa unica tunica complorare se malit quam

    circumspicere quomodo frigus effugiat et aliquid inveniat quo tegatscapulas, nonne tibi videatur stultissimus?

    (4.3) Iudicatio Satius est amicum reparare quam flere (11d).(5)Complexio em tom de exortao Quem amabas extulisti: quaere quem ames (11c).

    63.16A ...cito nos eo peruenturos

    B quo illum peruenisse maeremus;C et fortasse, si modo vera sapientium fama est ricipitque nos locus aliquis,B quem putamus perisse

    A praemissus est.