Algumas Particularidades Do Desenvolvimento Histórico Do Marxismo

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16/9/2014 Algumas Particularidades do Desenvolvimento Histórico do Marxismo http://www.marxists.org/portugues/lenin/1910/12/23.htm 1/5 MIA > Biblioteca > Lenine > Novidades Algumas Particularidades do Desenvolvimento Histórico do Marxismo V. I. Lênin 23 de Dezembro de 1910 Primeira Edição: "Zvezdá", número 2, de 23 de dezembro de 1910. Extraído de OBRAS COMPLETAS, Vol. XVII, Ed. Akal- Madri – Espanha. Fonte: Fundação Maurício Grabois . Revista Princípios, edição 14, Out-Nov, 1987, pág. 16- 19. Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo . Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons . Nossa doutrina — disse Engels em seu nome e no de seu ilustre amigo— não é um dogma, mas um guia para a ação. Esta tese clássica sublinha com notável vigor e força de expressão um aspecto do marxismo que freqüentemente se perde de vista. E ao perdê-lo de vista, fazemos do marxismo algo unilateral, disforme, morto, arrancamos sua alma viva, minamos suas bases teóricas cardeais: a dialética, a doutrina do desenvolvimento histórico multilateral e cheio de contradições; debilitamos sua ligação com as tarefas práticas determinadas da época, que podem mudar com cada nova viragem da história. E em nossos tempos, entre os que se interessam pelos destinos do marxismo na Rússia, encontra-se amiúde gente que perde de vista justamente esse aspecto do marxismo. Mas deve estar claro para todos que nos últimos anos a Rússia passou por mudanças muito bruscas, que modificaram com rapidez e força extraordinárias a situação, a situação política e social, que é a que determina de maneira direta e imediata as condições da ação e, por conseguinte, as tarefas da ação. Não me refiro, é claro, às tarefas gerais e fundamentais, que não mudam com as viragens da história se não muda a correlação fundamental entre as classes. É de uma evidência absoluta que essa tendência geral da evolução econômica (e não só econômica) da Rússia não alterou a correlação fundamental entre as diversas classes da sociedade russa. Mas as tarefas da ação imediata e direta sofreram neste período uma mudança muito profunda, porquanto mudou a situação política e social concreta; por conseguinte, também no marxismo, como doutrina viva, não

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    MIA> Biblioteca > Lenine > Novidades

    Algumas Particularidades doDesenvolvimento Histrico do

    MarxismoV. I. Lnin

    23 de Dezembro de 1910

    Primeira Edio: "Zvezd", nmero 2, de 23 de dezembro de 1910. Extrado de OBRASCOMPLETAS, Vol. XVII, Ed. Akal- Madri Espanha.Fonte: Fundao Maurcio Grabois. Revista Princpios, edio 14, Out-Nov, 1987, pg. 16-19.Transcrio e HTML: Fernando A. S. Arajo.Direitos de Reproduo: licenciado sob uma Licena Creative Commons.

    Nossa doutrina disse Engels em seu nome e no de seu ilustre amigono um dogma, mas um guia para a ao. Esta tese clssica sublinha comnotvel vigor e fora de expresso um aspecto do marxismo quefreqentemente se perde de vista. E ao perd-lo de vista, fazemos domarxismo algo unilateral, disforme, morto, arrancamos sua alma viva,minamos suas bases tericas cardeais: a dialtica, a doutrina dodesenvolvimento histrico multilateral e cheio de contradies; debilitamossua ligao com as tarefas prticas determinadas da poca, que podemmudar com cada nova viragem da histria.

    E em nossos tempos, entre os que se interessam pelos destinos domarxismo na Rssia, encontra-se amide gente que perde de vistajustamente esse aspecto do marxismo. Mas deve estar claro para todos quenos ltimos anos a Rssia passou por mudanas muito bruscas, quemodificaram com rapidez e fora extraordinrias a situao, a situaopoltica e social, que a que determina de maneira direta e imediata ascondies da ao e, por conseguinte, as tarefas da ao. No me refiro, claro, s tarefas gerais e fundamentais, que no mudam com as viragens dahistria se no muda a correlao fundamental entre as classes. de umaevidncia absoluta que essa tendncia geral da evoluo econmica (e nos econmica) da Rssia no alterou a correlao fundamental entre asdiversas classes da sociedade russa.

    Mas as tarefas da ao imediata e direta sofreram neste perodo umamudana muito profunda, porquanto mudou a situao poltica e socialconcreta; por conseguinte, tambm no marxismo, como doutrina viva, no

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    podiam deixar de passar a primeiro plano distintos aspectos dele.

    No marxismo, como doutrina viva, no podiam deixar de passar aprimeiro plano distintos aspectos dele.

    Para aclarar esta idia, observemos quais foram as mudanas concretasda situao poltica e social nos ltimos seis anos. Diante de ns sedestacam em seguida os dois trinios em que se divide esse perodo: um,que termina at o vero de 1907; o outro, no vero de 1910. Do ponto devista puramente terico o primeiro trinio se distingue pelas rpidasmudanas nas caractersticas fundamentais do regime poltico da Rssia,com a particularidade de que a marcha dessas mudanas foi muito desigual,a amplitude das oscilaes foi muito grande para ambos os lados. A baseeconmica e social dessas mudanas da "superestrutura" foi a ao detodas as classes da sociedade russa nos terrenos mais diversos (atividadena Duma e fora da Duma, na imprensa, nas associaes, nas reunies etc.),uma ao to aberta, imponente e massiva como poucas vezes registra ahistria.

    Pelo contrrio, o segundo trinio se distingue repetimos que noslimitamos ao ponto de vista puramente terico, "sociolgico" por umaevoluo to lenta, que quase equivale ao estancamento. Nenhumamudana mais ou menos aprecivel no regime poltico. Nenhuma ou quasenenhuma ao aberta e ampla das classes na maioria dos "campos" em quedurante o perodo precedente essas aes se desenvolveram.

    A semelhana de ambos os perodos est em que a evoluo da Rssiafoi, no curso de um e do outro, como o era anteriormente, uma evoluocapitalista. A contradio entre esta evoluo econmica e a existncia denumerosas instituies feudais, medievais, no desapareceu, manteve-sede p sem atenuar-se, porm agravada pelo fato de que certas instituiesassumiram parcialmente um carter burgus.

    A mdia e a grande burguesia, situadas numa posio de um liberalismomais ou menos moderado, temiam as mudanas bruscas.

    A diferena entre os dois perodos que, no primeiro, figurava emprimeiro plano o problema de qual ia ser o resultado das mudanas rpidase desiguais mencionadas anteriormente. O contedo dessas mudanas, emvirtude do carter capitalista da evoluo da Rssia, tinha que sernecessariamente, burgus. Mas h burguesia e burguesia. A mdia e agrande burguesia, situadas numa posio de um liberalismo mais ou menosmoderado, temiam, por sua prpria situao de classe, as mudanasbruscas e tratavam de conservar importantes remanescentes das velhasinstituies, tanto no regime agrrio como na "superestrutura" poltica. Apequena burguesia rural, entrelaada com o campesinato que vive "do

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    trabalho de suas mos", devia aspirar forosamente a outro gnero dereformas burguesas, nas quais fica muito menos espao s sobrevivnciasmedievais. Os operrios assalariados, enquanto mantinhamconscientemente uma atitude em face do que ocorria ao seu redor, nopodiam deixar de adotar uma posio definida a respeito desse choque deduas tendncias distintas, que, circunscritas ambas no regime burgus,determinavam no obstante formas totalmente distintas de tal regime,velocidades totalmente distintas em seu desenvolvimento e distinto grau desua influncia progressista.

    Assim, pois, a poca do trinio passado colocou em primeiro plano, nopor casualidade, mas necessariamente, os problemas do marxismo quepodem ser chamados problemas de ttica. Nada mais errneo do que aopinio de que as discusses e divergncias sobre essas questes eramdisputas "de intelectuais", uma "luta pela influncia sobre o proletariado nomaduro", uma expresso da "adaptao dos intelectuais ao proletariado",como pensam os de "Veji" e toda laia. Ao contrrio, foi precisamente porque esta classe tinha adquirido maturidade, que no pde permanecerindiferente diante do choque das duas tendncias distintas nodesenvolvimento burgus da Rssia, e os idelogos dessa classe nopuderam evitar expor as formas tericas correspondentes (de maneiradireta ou indireta, como reflexo direto ou inverso) a essas tendnciasdistintas.

    No segundo trinio, o choque das tendncias distintas dodesenvolvimento burgus da Rssia no estava na ordem do dia, porqueambas foram esmagadas pelos ultra-reacionrios, obrigadas a retroceder,empurradas para dentro, caladas durante certo tempo. Os ultra-reacionriosmedievais no s ocuparam o primeiro plano, mas tambm inspiraram nasmais amplas camadas da sociedade burguesa os sentimentos propagadospelos de "Veji", o esprito de abatimento e de recuo. No foi o choque entre os dois mtodos de transformao da velha ordem oque apareceu superfcie, mas a perda da f em qualquer transformao, oesprito de "submisso", de "arrependimento", um entusiasmo pelasdoutrinas anti-sociais, a moda do misticismo etc.

    A poca do trinio passado colocou em primeiro plano os problemas domarxismo que podem ser chamados problemas de ttica.

    E esta mudana surpreendentemente brusca no obedece casualidade, nem resultado apenas da presso "de fora". A poca anteriortinha agitado to profundamente camadas da populao que por geraes,durante sculos, tinham estado afastadas, tinham estado alheias squestes polticas, que se tornou natural e inevitvel uma "reavaliao detodos os valares", um novo estudo dos problemas fundamentais, um novo

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    interesse pela teoria elementar, o abec da poltica. Os milhes que sedespertaram de pronto do seu longo sono e se depararam com problemasimportantssimos, no puderam manter-se muito tempo nessa altura. Nopodiam continuar sem uma pausa, sem voltar s questes elementares,sem uma nova preparao que lhes ajudasse a "digerir" os ensinamentos,sem precedentes por seu valor, e a tornar possvel a uma massaincomparavelmente mais ampla marchar adiante novamente, mas agora demodo muito mais firme, mais consciente, mais seguro e com maiorconseqncia.

    A dialtica do desenvolvimento histrico tem sido tal, que no primeiroperodo estava na ordem do dia a realizao de reformas imediatas emtodos os aspectos da vida do pas, e no segundo, o estudo da experinciaadquirida, sua assimilao por camadas mais amplas, sua penetrao, se sepode expressar assim, no subsolo, nas fileiras atrasadas das diversasclasses.

    Precisamente porque o marxismo no um dogma morto, no umadoutrina acabada, pronta, imutvel, mas um guia vivo para a ao, nopodia deixar de refletir em si a mudana assombrosamente brusca dascondies da vida social. Esta mudana se refletiu numa profundadisperso, diviso, em vacilaes de todo tipo, em uma palavra, numa criseinterna sumamente sria do marxismo. A resistncia decidida a essadesagregao, a luta resoluta e tenaz em prol dos fundamentos domarxismo foi novamente posta na ordem do dia. Na poca anterior camadasextraordinariamente amplas das classes que no podem prescindir domarxismo ao formular suas tarefas, o haviam assimilado de modo unilaterale mutilado, aprendendo de memria certas "consignas", certas soluespara os problemas tticos, e sem compreender os critrios marxistas paraessas solues. A "reavaliao de todos os valores" nas diversas esferas davida social conduziu "reviso" dos fundamentos filosficos mais abstratose gerais do marxismo. A influncia da filosofia burguesa em seus maisdiversos matizes idealistas encontrou expresso na epidemia machista queeclodiu entre os marxistas. A repetio de "consignas" aprendidas dememria, mas no compreendidas nem meditadas, conduziu a uma ampladifuso da fraseologia oca concretizada na prtica em tendncias que nadatm de marxistas, em tendncias pequeno-burguesas como o "otzovismo"franco ou envergonhado, ou como o reconhecimento do "otzovismo" como"matiz legtimo" do marximo.

    No foi o choque entre os dois mtodos de transformao da velhaordem o que passou superfcie, mas a perda da f em qualquertransformao, o esprito de "submisso", de "arrependimento", umentusiasmo pelas doutrinas anti-sociais, a moda do misticismo etc.

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    Incluso 03/04/2013

    Por outro lado, o esprito dos de "Veji", o esprito de renncia, queabarcou as mais amplas camadas da burguesia, penetrou tambm natendncia que trata de enquadrar a teoria e o trabalho prtico marxistas noleito da "moderao e da escrupulosidade". Do marxismo no resta a nadamais que a fraseologia com que se revestem esses raciocnios sobre"hierarquia", "hegemonia", etc., completamente impregnados com o espritoliberal.

    Este artigo no tem o propsito de analisar esses raciocnios. Uma brevereferncia aos mesmos suficiente para ilustrar tudo o que se disse comreferncia profundidade da crise pela qual atravessa o marxismo, e suarelao com toda a situao econmica e social no perodo atual. No possvel se esquivar dos problemas que essa crise coloca. Nada pode sermais pernicioso e sem princpios que deixa-los de lado valendo-se de frases.Nada mais importante que reunir todos os marxistas que compreenderama profundidade da crise e a necessidade de combat-la, em defesa dosfundamentos tericos do marxismo e suas teses bsicas, desfiguradosdesde os pontos de vista mais opostos ao estender-se a influncia burguesaentre os diversos "companheiros de viagem" do marxismo.

    A resistncia decidida a essa desagregao, a luta resoluta e tenaz emprol dos fundamentos do marxismo foi novamente posta na ordem do dia.

    O trinio precedente despertou camadas to amplas para a participaoconsciente na vida social que so muitos os que, pela primeira vez,comeam agora a conhecer o marxismo. A imprensa burguesa fomentanesse sentido, muito mais que antes, os equvocos e os di funde com muitomais amplitude. A desagregao do marxismo particularmente perigosanessas condies. Por isso, compreender as razes que tornam inevitvelessa desagregao nos tempos que atravessamos e nos unirmos paracombat-la conseqentemente , no sentido mais direto e exato da palavra,a tarefa do momento para os marxistas.

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