Algumas propostas dos técnicos são um absurdo · em 2003 teve pesadelos com o mapa de Portugal a...

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Meio: Imprensa País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 2 Cores: Cor Área: 25,70 x 31,00 cm² Corte: 1 de 10 ID: 71842055 21-10-2017 INCÊNDIOS L ogo a seguir à tragédia de Pedrógão Grande, o primeiro-ministro pediu ao professor Domingos Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, um estudo sobre o comportamento do fogo. A equipa de 14 pessoas foi mais longe e mostrou o que falhou na segurança das pessoas. Em conversa com o PÚBLICO na véspera do Conselho de Ministros que vai decidir que reformas vão ser feitas, o perito em incêndios alerta para soluções “oportunistas” e que parecem “salvadoras”, mas não o são. E entra em choque com algumas das recomendações da Comissão Técnica Independente. Pode explicar às pessoas o Entrevista Liliana Valente Algumas propostas dos técnicos são “um absurdo” Domingos Xavier Viegas Especialista em incêndios diz que em 2003 teve pesadelos com o mapa de Portugal a arder. “Foi isso que aconteceu a 15 de Outubro”. O perito discorda de algumas soluções que podem ser hoje aprovadas pelo Governo porquê de este fogo ter sido excepcional? Neste incêndio houve coisas que foram fora do comum, pelo menos para nós, que estudamos o comportamento extremo do fogo. Por exemplo, a interferência, a interacção entre uma trovoada e um grande incêndio. Este incêndio teve uma particularidade dramática, relativamente grave, que foi a aproximação da trovoada. O que fez? Fez incidir sobre o incêndio correntes descendentes, o tal downburst. Esse fenómeno não era previsível? Eram previsíveis as condições meteorológicas, não o efeito. Que havia trovoada, sabia-se, que se estava a deslocar, também. Penso que não há ainda dentro da estrutura a percepção da gravidade de uma situação destas. Pesquisámos literatura e não encontrámos muitos trabalhos. São muito poucos os casos. O que aconteceu este fim-de- semana é de natureza diferente? Penso que sim. Se o episódio de Pedrógão já nos tinha causado um grande choque, este agora é de uma dimensão que ainda não recuperei dele. Vamos analisá-lo. Aquilo que se me afigura é que havia uma situação de vento muito forte. Por causa do furacão Ofélia? Admito que sim. Vento quente, seco e forte. Em Pedrógão, quando o incêndio começou, não havia praticamente vento, manifestou- se com a entrada da trovoada e o vento que o próprio incêndio gerou. Fazendo o paralelo com o 15 de Outubro, esse vento forte fez com que focos de incêndio se propagassem rapidamente e com projecções que se espalharam por territórios imensos. Fiquei impressionado ao ver as imagens comportamento do fogo que ainda estamos a investigar. Quais? Uma coisa que não é muito conhecida, mas que é um fenómeno que temos vindo a identificar ao longo dos anos, que é o encontro de frentes de incêndio. E aqui neste incêndio houve dois, o de Escalos Fundeiros e o de Regadas, que se desenvolveram independentemente e, a certa altura, encontraram-se. Quando dois fogos se encontram, geram entrecorrentes de convecção muito violentas e muito fortes, dão origem a tornados de fogo e de vento. Localizámos onde se deu esse encontro e onde se desenvolveram esses tornados. A existência desse segundo fogo foi uma novidade. Acredita que se tivesse sido dada importância a esta ocorrência, teria acontecido o que aconteceu? das áreas ardidas. Tivemos duas catástrofes de natureza diferente. Há a possibilidade de se repetirem, com outras características? Diria que sim. Há um elemento que é comum a Pedrógão e a 15 de Outubro, que é a seca. Os combustíveis estão extremamente secos. Monitorizámos a humidade dos combustíveis e na quinta ou sexta-feira, na Lousã, a humidade era de 4%, que é um valor baixíssimo. Correspondem a condições catastróficas. Acabou por alargar o seu relatório. Achávamos que seria apenas sobre o comportamento do fogo... O comportamento do fogo é, por assim dizer, a nossa especialidade, mas trabalhamos também as áreas da segurança pessoal e a prevenção, protecção das comunidades. Há aspectos do

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INCÊNDIOS

Logo a seguir à tragédia

de Pedrógão Grande, o

primeiro-ministro pediu ao

professor Domingos Xavier

Viegas, do Centro de Estudos

sobre Incêndios Florestais

da Universidade de Coimbra, um

estudo sobre o comportamento

do fogo. A equipa de 14 pessoas

foi mais longe e mostrou o que

falhou na segurança das pessoas.

Em conversa com o PÚBLICO na

véspera do Conselho de Ministros

que vai decidir que reformas vão

ser feitas, o perito em incêndios

alerta para soluções “oportunistas”

e que parecem “salvadoras”, mas

não o são. E entra em choque com

algumas das recomendações da

Comissão Técnica Independente.

Pode explicar às pessoas o

Entrevista Liliana Valente

Algumas propostas dos técnicos são “um absurdo”Domingos Xavier Viegas Especialista em incêndios diz que em 2003 teve pesadelos com o mapa de Portugal a arder. “Foi isso que aconteceu a 15 de Outubro”. O perito discorda de algumas soluções que podem ser hoje aprovadas pelo Governo

porquê de este fogo ter sido

excepcional?

Neste incêndio houve coisas

que foram fora do comum, pelo

menos para nós, que estudamos

o comportamento extremo do

fogo. Por exemplo, a interferência,

a interacção entre uma trovoada

e um grande incêndio. Este

incêndio teve uma particularidade

dramática, relativamente grave,

que foi a aproximação da trovoada.

O que fez? Fez incidir sobre o

incêndio correntes descendentes, o

tal downburst.

Esse fenómeno não era

previsível?

Eram previsíveis as condições

meteorológicas, não o efeito.

Que havia trovoada, sabia-se, que

se estava a deslocar, também.

Penso que não há ainda dentro

da estrutura a percepção da

gravidade de uma situação destas.

Pesquisámos literatura e não

encontrámos muitos trabalhos. São

muito poucos os casos.

O que aconteceu este fi m-de-

semana é de natureza diferente?

Penso que sim. Se o episódio de

Pedrógão já nos tinha causado um

grande choque, este agora é de uma

dimensão que ainda não recuperei

dele. Vamos analisá-lo. Aquilo que

se me afi gura é que havia uma

situação de vento muito forte.

Por causa do furacão Ofélia?

Admito que sim. Vento quente,

seco e forte. Em Pedrógão, quando

o incêndio começou, não havia

praticamente vento, manifestou-

se com a entrada da trovoada e

o vento que o próprio incêndio

gerou. Fazendo o paralelo com

o 15 de Outubro, esse vento forte

fez com que focos de incêndio se

propagassem rapidamente e com

projecções que se espalharam

por territórios imensos. Fiquei

impressionado ao ver as imagens

comportamento do fogo que ainda

estamos a investigar.

Quais?

Uma coisa que não é muito

conhecida, mas que é um

fenómeno que temos vindo a

identifi car ao longo dos anos, que é

o encontro de frentes de incêndio.

E aqui neste incêndio houve dois,

o de Escalos Fundeiros e o de

Regadas, que se desenvolveram

independentemente e, a certa

altura, encontraram-se. Quando

dois fogos se encontram, geram

entrecorrentes de convecção

muito violentas e muito fortes,

dão origem a tornados de fogo

e de vento. Localizámos onde

se deu esse encontro e onde se

desenvolveram esses tornados.

A existência desse segundo fogo

foi uma novidade. Acredita que

se tivesse sido dada importância

a esta ocorrência, teria

acontecido o que aconteceu?

das áreas ardidas.

Tivemos duas catástrofes

de natureza diferente. Há a

possibilidade de se repetirem,

com outras características?

Diria que sim. Há um elemento

que é comum a Pedrógão e a

15 de Outubro, que é a seca. Os

combustíveis estão extremamente

secos. Monitorizámos a humidade

dos combustíveis e na quinta ou

sexta-feira, na Lousã, a humidade

era de 4%, que é um valor

baixíssimo. Correspondem a

condições catastrófi cas.

Acabou por alargar o seu

relatório. Achávamos que seria

apenas sobre o comportamento

do fogo...

O comportamento do fogo é, por

assim dizer, a nossa especialidade,

mas trabalhamos também as

áreas da segurança pessoal e

a prevenção, protecção das

comunidades. Há aspectos do

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Admito que as coisas poderiam ter

sido diferentes. Se for reconhecida

uma nova ocorrência, o comando,

de acordo com os procedimentos,

precisa de outro ataque inicial.

Mas esse alerta não existiu?

Foi detectada pelos bombeiros.

Foi lá um bombeiro para

reconhecimento e que disse que

estava fora de controlo. Mas não

tinham meios para colocar. Se

tivesse sido reconhecido como

uma nova ocorrência, poderiam

ter vindo meios aéreos que

estavam a actuar no incêndio ao

lado, em Góis, e poderiam ter sido

divergidos para lá.

Durante duas horas não houve

ataque aéreo, entre as 16h e as

18h. Isso fez toda a diferença?

Naturalmente. No incêndio

de Escalos, houve dois meios

aéreos no início e retiraram-se.

Infelizmente esse tempo foi crucial.

Nesse período de tempo o incêndio

poderia ter sido controlado. Mas

também devo reconhecer que estes

dois meios não eram sufi cientes.

Seriam necessários mais meios

aéreos e terrestres.

Foi uma questão de

incompetência do comando, de

desconhecimento?

Falamos bastante no relatório que

temos de ter mais qualifi cação

e uma maior uniformidade na

preparação dos quadros de

comando. Na fase inicial do

incêndio, não houve a percepção

da gravidade, embora ela tenha

sido reconhecida nas primeiras

abordagens. Mas o que não houve

foi a capacidade de traduzir isso

com veemência para o comando

nacional no sentido de serem

alocados meios. No incêndio do

lado foram pedidos esses meios

mais ou menos a essa hora.

E são dois comandos diferentes,

um é de Leiria e outro de

Coimbra...

E foram alocados dois Canadair

para esse incêndio. Ironicamente,

esses Canadair quando iam

abastecer à Barragem do Cabril

passavam por cima do incêndio de

Escalos. Confrontámos o comando

nacional com essa realidade. Se

havia ali um incêndio grave, por

que não agiam lá.

O que lhe respondeu?

Dizia que não podem andar a

saltitar com meios de um lado para

o outro. Por outro lado, a doutrina é

também que se há um incêndio que

se está a atacar, tem de se resolver

esse, porque senão temos dois

grandes incêndios. (...) É preciso

dizer que os bombeiros lutaram

com uma valentia... Tenho um

grande respeito por estes homens.

Diz que tem muitas reservas

sobre as opções de evacuações

compulsivas. Mas não foi isso

que salvou muitas pessoas nos

fogos do Verão?

A evacuação resolve o problema

da salvaguarda da segurança das

pessoas, desde que seja feita com

tempo, porque também houve

evacuações feitas tardiamente que

acabaram por pôr em perigo não só

as forças que estão a fazê-lo como

as pessoas. A nossa realidade é

que as casas são de algum modo

resistentes e se há pessoas que têm

capacidade psicológica e física para

fi car e resistir, essas pessoas devem

permanecer.

A nossa Protecção Civil, apesar de todo o descalabro que houve, deu provas ao longo destes anos. Tem de ser mais bem estruturado, mais bem qualificado, mas não é coisa para deitar fora

Tem de se ter muito cuidado e discernimento em distinguir o trigo do joio e não ir atrás de ideias oportunistas, de coisas que podem parecer salvadoras

[email protected]

RUI GAUDÊNCIOAs reformas para evitar estas

tragédias não foram feitas?

Não podemos só pensar nas

entidades e nas instituições.

Claro que têm um papel e são

responsáveis e têm de olhar para

o problema de maneira diferente.

Temos de olhar para as pessoas.

Se olharmos para a paisagem aqui

à volta, as condições estão lá para

acontecer exactamente a mesma

coisa. E o que estamos a fazer?

Aqueles armazéns que há nas casas

cheios de lenha, com vegetação à

volta. As pessoas viram isto arder

em Pedrógão. O que fi zeram de

Junho até Outubro? Muito pouco.

Houve queimadas...

Por exemplo. Temos de repensar,

temos de reestruturar os

espaços rurais de uma forma

completamente diferente. Como

pode haver uma zona industrial

que está rodeada de pinheiros, que

não tem qualquer defesa?

O Conselho de Ministros vai

decidir sobre que caminho

tomar...

Tem de se ter muito cuidado e

discernimento em distinguir o

trigo do joio e não ir atrás de ideias

oportunistas, de coisas que podem

parecer salvadoras.

Está a falar da ideia de dar mais

dinheiro a bombeiros?

Isso é fácil e se calhar é preciso

fazer-se, mas não pode ser

exclusivamente isso. Qualquer

reforma que seja feita não pode

excluir as coisas boas que o sistema

tem. Neste momento, a nossa

Protecção Civil, apesar de todo

o descalabro que houve, é um

serviço válido, deu provas ao longo

destes anos. Tem de ser mais bem

estruturado, mais bem dotado,

mais bem qualifi cado, mas não é

coisa para deitar fora.

Concorda com as

recomendações da comissão

técnica?

A comissão técnica propõe a

criação de uma agência para gerir

prevenção e combate, inclusive

vai ao ponto de recomendar que

seja gerida por técnicos fl orestais.

Que haja essa junção e articulação

das duas tarefas, parece-me bem.

No nosso relatório falamos de

um plano de gestão de incêndios

fl orestais que olhe para isto no seu

conjunto. Tem de haver alguma

estrutura que esteja por cima.

Parece-lhe que aquelas

recomendações vão longe de

mais?

Participei num processo em 2006

e houve uma recomendação de

criar-se os bombeiros fl orestais.

Confesso que critiquei muito essa

medida e se é isso que está a propor

agora, tenho sérias reservas.

Bombeiros na prevenção e

depois no combate?

Proponho que aquilo que já

existe seja melhorado. Temos

bombeiros que têm experiência

no combate a incêndios fl orestais

e que sabem combater incêndios

em casas. Temos sapadores

fl orestais que trabalham todo o

ano na fl oresta e podem fazer

trabalho de prevenção. O Instituto

de Conservação da Natureza e

da Floresta (ICNF) devia cuidar

mais dessa força, que existe,

que é numerosa, mas que não

está devidamente treinada

e enquadrada. Claro que os

bombeiros têm de trabalhar em

conjunto com eles, mas não vamos

estar a pôr os bombeiros a fazer

limpeza da fl oresta quando já

temos uma força que faz isso.

Há mais alguma proposta que

lhe mereça atenção?

Há uma situação que é um absurdo,

que é a de ter num incêndio

bombeiros que vão combater o

fogo na fl oresta e bombeiros que

vão defender as casas. Porquê?

Na nossa fl oresta, há casas por

todo o lado. Se um incêndio está a

defl agrar e chegar ao pé das casas,

vamos fazer o quê? Vamos esperar

que cheguem os bombeiros para

proteger aquela casa? É absurdo.

A comissão técnica propõe a

separação entre a protecção das

pessoas e o combate ao fogo...

Se é essa a ideia, que já foi

apresentada há uns anos, estou

completamente em desacordo.

Veja-se o caso do dia 15 de Outubro.

Alguém podia estar no meio da

fl oresta a atacar o fogo? Da mesma

forma que os bombeiros se retiram

para proteger as casas, porque

têm mais prioridade, também é

uma segurança para eles. Vou mais

longe: aquilo que temos assistido

nos últimos anos da parte do

sector fl orestal, do ICNF é que se

tem alheado completamente deste

problema. Tem-se afastado deste

problema.

Ler entrevista na íntegra emwww.publico.pt

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INCÊNDIOS

“Verificámos, com tristeza, que faltou socorro”

Xavier Viegas conta casos

de pessoas que poderiam

ter sido salvas ou, pelo

menos, ter visto o seu

sofrimento apaziguado. O

perito varreu o território

com a Polícia Judiciária logo no

dia a seguir ao incêndio e concluiu

que, além das falhas de combate,

houve várias falhas no socorro

prestado às populações.

No relatório, diz que não foi

feita uma busca e salvamento

em larga escala e que, se

tivessem existido, poderiam ter

sido evitadas algumas mortes.

O que quer dizer com isto?

Relatámos cada um dos acidentes

das vítimas e casos de pessoas que

sobreviveram, que passaram pelas

mesmas circunstâncias daquelas

que morreram. Parece-nos

importante conhecer as decisões

correctas ou menos correctas,

e às vezes ditadas até por factos

completamente fortuitos.

Diz que o socorro não foi

planeado e que se poderiam ter

evitado vítimas. Quer precisar?

Nós verifi cámos, com tristeza, que

faltou socorro.

O socorro falhou?

Faltou algum socorro. E depois

houve algum socorro que foi feito,

por vezes, até de moto próprio.

No nosso relatório referimos três

casos de pessoas que, no nosso

entender, foram heróis. São

pessoas que salvaram feridos,

que levaram queimados, que os

retiraram do fogo e os levaram

para um sítio seguro. Tanto quanto

sei, todas essas pessoas estão fora

de perigo.

São heróis desconhecidos?

Um deles é o adjunto Sérgio

Lourenço, dos bombeiros de

Pedrógão, outro é o comandante

Pedro Nunes e outro é um civil,

médico, Nuno Moisés. Haverá

mais. O Sérgio [Lourenço] meteu-

se num carro e salvou três pessoas

que tinham tido um acidente.

Meteu-as no carro e levou-as para

o hospital, no meio de várias

peripécias. Depois, voltou à

procura de mais e salvou mais

duas ou três pessoas. É importante

que o país saiba, porque no meio

desta tragédia toda houve muitas

situações de grande altruísmo e de

heroísmo. Tristemente, sabemos

de outros casos em que as pessoas

estariam feridas, não estavam

queimadas, nem carbonizadas,

mas estavam vivas, e que não

foram socorridas a tempo.

Porquê?

O caso mais dramático, de uma

morte que se poderia ter evitado, é

o de uma senhora cega que estava

em casa. Teve difi culdade em

perceber o que se passava à volta

dela. A casa dela arde, não no dia

17, mas no dia 18 de madrugada.

A casa desaba e ela morre. Um

outro casal morreu dentro de

casa. Morreram intoxicados.

A casa ardeu uma parte, mas

ADRIANO MIRANDA

onde eles estavam não estava

queimado. O fi lho desse casal foi

lá às 9h30 e encontrou os pais

mortos. Se houvesse socorro, uma

comunidade que reconhecesse

que estavam ali aquelas pessoas,

possivelmente poderiam ter ido lá

resgatá-los.

Por que acha que não

aconteceu essa operação de

socorro de larga escala, depois

das 22h? O comando não estava

preparado? Houve mais mortes

que poderiam ter sido evitadas?

Há o caso do bombeiro que

morreu mais tarde. Nesse caso,

se tivesse socorro antes, admito

que poderia ter-se salvado ou

minimizado sofrimento. Tive

oportunidade de falar com os

sobreviventes e disseram-me

que estavam com um grande

sofrimento, com dores horríveis e

não havia morfi na em Castanheira

de Pêra para atenuar as dores.

Tiveram o acidente às 20h, 20h15,

só receberam uma injecção de

morfi na às 4h da manhã.

Houve, aliás, um caso de um

bombeiro que andou várias

horas sem chegar ao hospital...

Não conseguimos apurar isso

em detalhe. Fizemos perguntas

ao hospital de Coimbra, ao

INEM. É de referir que o INEM

nunca nos respondeu sobre as

perguntas no geral que fi zemos.

Tentámos perceber como tinha

sido o socorro, como tinha sido

a distribuição dos feridos, como

as pessoas tinham sido levadas

daqui para ali. Para o caso dos

bombeiros, quisemos apurar mais

em detalhe, porque soubemos

que houve algum desconcerto no

transporte das pessoas.

O INEM não colaborou consigo?

Não. Tínhamos recebido um

ofício a dizer que estavam a

analisar as circunstâncias em

que nos poderiam responder.

Curiosamente, só no dia a seguir

à divulgação do relatório recebi

outro ofício a dizer que estavam

disponíveis.

Já morreram mais de 100

pessoas em quatro meses. Por

que morreram tantas pessoas?

Estamos a falar de negligência?

É difícil perceber, mas, por outro

lado, também temos de perceber

que um incêndio pode fazer isto

quando se propaga — e estamos

a falar de dois episódios com

condições catastrófi cas. O dia

15 ultrapassou tudo aquilo que

podemos imaginar. Acompanhei

os incêndios de 2003 e publiquei

um livro sobre os incêndios e

lembro-me de escrever que, às

vezes, tinha pesadelos e pensava

ver o país todo a arder. Imagine

o mapa do país e uma frente a

varrer o mapa. Foi essa a sensação

que tive em 2003, e isso foi o que

aconteceu no dia 15 de Outubro.

Mas não aceita a inevitabilidade

dessas mortes?

Não aceito. Não aceito. O que

eu acho é que, apesar de estes

incêndios serem graves, fala-se

de aprender lições. Mas onde está

essa aprendizagem?...

O que eu acho é que, apesar de estes incêndios serem graves, fala-se de aprender lições. Mas onde está essa aprendizagem?...

Entrevista Liliana Valente

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José Artur Neves à frente da Protecção Civil no Governo

José Artur Tavares Neves é o

novo secretário de Estado

da Protecção Civil, pasta

que volta a ter esta deno-

minação, no Ministério da

Administração Interna, ago-

ra ocupado por Eduardo Cabrita, em

substituição de Constança Urbano

de Sousa, que se demitiu na quarta-

feira. O novo governante substitui

Jorge Gomes, o anterior secretário de

Estado da Administração Interna, que

caiu com a demissão da ministra.

José Artur Tavares Neves foi pre-

sidente da Câmara de Arouca entre

2005 e 2017, saindo por limitação

de um mandato durante o qual en-

frentou violentos incêndios, espe-

cilmente no ano passado.

Na Secretaria de Estado Adjunta

e da Administração Interna perma-

nece Isabel Oneto, que manterá, as-

sim, a tutela das forças de segurança,

da segurança interna e da gestão de

património e orçamental. Não se ve-

rifi ca assim a separação desta pasta

em duas secretarias, o que chegou

a ser pensado, tal como o PÚBLICO

ontem noticiou.

Igualdade na PresidênciaA outra nova secretária de Estado é

Rosa Monteiro, que substitui Cata-

rina Marcelino como secretária de

Estado para a Cidadania e a Igualda-

de. A novidade neste domínio é que

esta secretaria de Estado passa para

a tutela da ministra da Presidência

e da Modernização Administrativa,

Maria Manuel Leitão Marques, e sai

da esfera do ministro adjunto, onde

estava com Cabrita.

O novo ministro adjunto do pri-

meiro-ministro, Pedro Siza Vieira,

passará a ter só um secretário de

Estado na sua dependência, o das

Autarquias Locais, lugar que conti-

nua a ser ocupado por Carlos Miguel.

Esta permanência indicia que a des-

centralização continuará a ser um

pelouro do ministro adjunto. Ou seja,

a reforma da descentralização será

agora negociada por Siza Vieira com

os partidos parlamentares e com a

Associação Nacional de Municípios

Portugueses.

Os nomes dos novos secretários de

Estado foram ontem, ao fi m da tarde,

aceites pelo Presidente da República,

Marcelo Rebelo de Sousa, depois de

lhe serem enviados pelo primeiro-

ministro, António Costa, quando es-

te aterrou vindo de Bruxelas, onde

participou na reunião do Conselho

Europeu. Depois de serem empossa-

dos pelo Presidente (hoje, às 9h), no

Palácio de Belém, os dois ministros,

Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira,

seguirão para a residência ofi cial do

primeiro-ministro, onde decorrerá,

a partir das 10h30, o Conselho de

Ministros extraordinário destinado

a aprovar diversas resoluções estru-

turadoras que verterão as orienta-

São José Almeida

STEPHANIE LECOCQ/EPA

Costa só enviou nomes a Marcelo após regressar do Conselho Europeu

ções sobre a reforma da política de

protecção civil, de prevenção e de

combate aos incêndios.

Estas resoluções serão o ponto de

partida para a aprovação de legisla-

ção que leve à prática a reformulação

das estruturas e das lógicas que têm

presidido ao sector nos últimos anos

e que foi imposta pelas tragédias de

Pedrógão Grande e de Góis em Julho,

e a do passado fi m-de-semana, das

quais resultaram já mais de uma cen-

tena de vítimas. Uma imposição que

foi ampliada pessoalmente pelo Pre-

sidente da República, Marcelo Rebe-

lo de Sousa, na comunicação ao país,

ao pedir prioridade e urgência para

esta reestruturação de políticas.

As leis que estruturarão esta refor-

ma — ou, pelo menos, a sua grande

maioria — não serão aprovadas ho-

je e sê-lo-ão nos próximos tempos.

Do Conselho de Ministros sairão as

linhas-base de orientação adopta-

das do relatório da Comissão Téc-

nica Independente em áreas como

comunicações, meios aéreos, qua-

lifi cação de agentes e mecanismos

de prevenção.

Isabel Oneto continua como secretária Adjunta e da Administração Interna e Carlos Miguel mantém as Autarquias Locais. Rosa Monteiro na Igualdade

44é o número actualizado ontem de vítimas mortais dos incêndios de domingo. Vêm somar-se aos 64 mortos provocados pelos incêndios da zona de Pedrógão Grande, em meados de Junho.

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INCÊNDIOS

É preciso acabar com nomeações políticas nos cargos intermédios da Protecção Civil

Portugal não conseguirá dar

resposta a tragédias como as

de Pedrógão Grande e dos

incêndios do passado fi m-

de-semana se não alterar

radicalmente a estrutura

operacional da Autoridade Nacional

de Protecção Civil (ANPC). Acabar

com as nomeações políticas para os

cargos de nível regional, assegurando

que são ocupados “por profi ssionais

recrutados por concurso público,

em função de um perfil técnico

previamente defi nido”, é um dos

caminhos apontados no relatório

em que o Centro de Estudos e

Intervenção em Protecção Civil

(CEIPC) analisa o (tanto) que correu

mal no combate aos incêndios de

Pedrógão.

À medida que o fogo avançava,

alastravam também no sistema de

Protecção Civil montado para com-

batê-lo “situações de total descontro-

lo, motivadas pela insufi ciência ou

mesmo a inexistência de planeamen-

to”, lê-se no relatório, que aponta o

dedo às “inúmeras fragilidades” da

estrutura da ANPC, associadas “ao

défi ce de capacitação dos elementos

da ANPC responsáveis pelo comando

e controlo das operações”.

Esta impreparação dos profi ssio-

nais deve-se, segundo o presidente

do CEIPC e coordenador deste estu-

do, Duarte Caldeira, ao facto de os

cargos viverem “numa constante

alteração de pessoas desde há mais

de 20 anos, o que retira estabilidade

à estrutura”. Por isso, são lugares a

fazer ocupar por concursos públicos,

com a excepção do presidente e dos

directores nacionais da ANPC, que

devem continuar a ser de nomeação

política.

Natália Faria

ADRIANO MIRANDA

Relatório diz que é preciso alterar radicalmente a estrutura operacional da Protecção Civil para evitar os grandes incêndios deste ano

23 sub-regiões operacionais, equiva-

lentes às NUT III, com uma afectação

de recursos proporcional à avaliação

do risco de cada região”, explicita o

também ex-presidente da Liga dos

Bombeiros Portugueses, para quem

urge pôr o sistema de protecção ci-

vil “a salvo do ciclo de experiências

laboratoriais de que tem sido vítima

nas últimas duas décadas”.

A substituição dos actuais CDOS

(centros distritais de operações de

socorro) por centros regionais de

operações de socorro, tendo tam-

bém por referência as NUT II, do-

tando-os de um director regional e

quadros de pessoal, salas de ope-

rações e comunicações próprias, é

outra sugestão a extrair do vasto rol

de conclusões contidas neste relató-

rio (que, como frisa Duarte Caldeira,

é um autoproposto instrumento de

sustentação da decisão política que

vier a ser tomada nestas matérias).

O relatório propõe ainda o reforço

das competências da Direcção Nacio-

nal de Bombeiros, “transferindo para

esta a competência para avocar o co-

mando operacional” nas operações

de socorro, em determinados cená-

rios. A par disso, sugere-se a criação

do cargo de inspector regional de

bombeiros e adjuntos, que actuaria

na dependência do director nacional

de bombeiros. A Direcção Nacional

de Meios Aéreos seria eliminada e as

suas competências transferidas para

uma unidade especializada a criar

com a missão de gestão dos meios

aéreos do Estado.

E quanto aos bombeiros? “Não é

mais possível disfarçar que, face à

severidade do comportamento dos

incêndios, a prioridade dada à defesa

das pessoas e bens não é compatí-

vel com a defesa da fl oresta contra

incêndios”. Logo, é preciso separar

águas e recentrar a função dos bom-

beiros “na salvaguarda de pessoas e

bens”. Por outro lado, e dado que

“a primeira intervenção de socorro

é determinante para a efi cácia do

socorro e para a contenção e limi-

tação do fogo”, a primeira resposta

tem de ser assegurada por bombei-

Ao analisar o que falhou em Pedrógão, o CEIPC encontrou impreparação técnica nos responsáveis pelo controlo das operações

ros profi ssionais. “Não defendemos a

municipalização dos bombeiros nem

a extinção das associações humani-

tárias, que continuam a ser um re-

curso fundamental para o país, mas

é preciso profi ssionalizar a primeira

intervenção no socorro. A primeira

linha de resposta não poderá estar

dependente da disponibilidade de

voluntários para acorrer à chama-

da de socorro, mas terá de assentar

na disponibilidade permanente dos

bombeiros nos quartéis e na sua qua-

lifi cação através de uma formação

permanente e especializada”, expli-

cita o presidente do CEIPC.

Plataforma para voluntáriosSobre o voluntariado, não só das

corporações de bombeiros, mas

de outras estruturas voluntárias

na área da protecção civil, deverão

recair outras responsabilidades. “A

legislação já prevê as associações

de voluntários da protecção civil,

mas falta dar-lhes consequência

prática. Por outro lado, os exem-

plos interessantes de voluntariado

na protecção civil precisam de uma

plataforma agregadora que lhe dê

uma doutrina, uma organização e

uma articulação comuns”, aponta

Caldeira, elogiando o papel da As-

sociação de Vítimas do Incêndio

de Pedrógão Grande, sob cuja égi-

de cada aldeia da região foi dotada

da fi gura de um líder responsável

por pôr em práticas as medidas de

autoprotecção das populações em

caso de tragédia.

A necessidade urgente de ensinar

os cidadãos a protegerem-se em ce-

nários de catástrofe é outra das su-

gestões contidas neste relatório. A

ideia já estava, de resto, nos outros

relatórios sobre a mesma matéria,

com a diferença de aqui se propor

a criação de um Programa Nacional

de Autoprotecção e Resiliência dos

Cidadãos. “Para ser efi caz, tem de

ter uma lógica centralizada e uma

aplicação descentralizada”, esmiú-

ça Caldeira.

[email protected]

Outras medidas

• Criar uma rede de sapadores florestais e garantir a sustentabilidade das equipas existentes

• Criar um Centro de Investigação Aplicada do Risco, tendo como missão a produção de doutrina, estudos, investigação e relatórios de análise de ocorrências para promoção de boas práticas e identificação de vulnerabilidades sistémicas

• Formar técnicos especializados em meteorologia aplicada a incêndios

• Promover acções

descentralizadas, no primeiro semestre de 2018, de formação dirigida aos presidentes das autarquias sobre as competências e responsabilidades que lhes cabem no domínio da Protecção Civil

• Inventariar, operacionalizar e reforçar os kits de primeira intervenção nas juntas de freguesia, promovendo a constituição de Grupos de Intervenção Local

• Reformatar os Postos de Comando Operacional e definir regras-padrão para a sua localização

A eliminação do “nível distrital” da

ANPC e a sua substituição por uma

estrutura que tenha por referência as

NUT II (Norte, Centro, Área Metropo-

litana de Lisboa, Alentejo e Algarve)

é outra das sugestões contidas no re-

latório. “Em vez dos 18 distritos terí-

amos cinco regiões e, abaixo destas,

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O Presidente da República,

Marcelo Rebelo de Sousa,

disse ontem confi ar que,

no Conselho de Ministros

de hoje, será encontrada,

“como o primeiro-ministro

tinha dito (...), uma solução expedita

que corresponda aos anseios” dos

familiares das vítimas dos incêndios.

À saída de uma visita ao hospi-

tal de Viseu, o Presidente foi ques-

tionado pelos jornalistas se con-

siderava estar a ser “o eucalipto

do Governo”, que “está a secar”.

Marcelo confia em “solução expedita” para familiares das vítimas

Marcelo lembrou que está “refor-

mado do comentário político” e

que se dedica “a uma tarefa mais

importante”. “O Presidente da Re-

pública (...) é uma espécie de último

fusível de segurança do sistema.”

Marcelo Rebelo de Sousa obser-

vou que o chefe de Estado tem de

estar “próximo do povo, das popu-

lações” e de instituições, como o

hospital que visitou, recordou que

membros do Governo também já

passaram pelo território afectado

pelos últimos incêndios e que houve

reuniões entre o primeiro-ministro

e autarcas.

Em Nelas, que visitou depois, o

Presidente da República agradeceu

“em nome de todos os portugueses”

o trabalho dos bombeiros e lembrou

que estas pessoas, na sua maioria

voluntários, desempenham missões

ao longo de todo o ano. “Mesmo a

ideia de que há um período de in-

cêndios já deixou de ter razão de

ser, como acabámos de verifi car nes-

te fi m-de-semana”, alertou.

O líder do PSD, Pedro Passos Co-

elho, também visitou ontem zonas

afectadas pelos fogos. Em Tonde-

la, defendeu que os dirigentes da

Autoridade Nacional de Protec-

ção Civil (ANPC) passem a ser re-

crutados por concurso público. E

disse não discordar da proposta

da Comissão Técnica Indepen-

dente de criação de uma agência

de combate aos incêndios, desde

que não se sobreponha à ANPC.

O PSD não desiste da criação de

um mecanismo rápido de indemni-

zação do Estado às vítimas dos fogos

deste Verão: depois de a esquerda,

por proposta do PS, ter reduzido a

possibilidade de indemnização das

vítimas dos incêndios de Pedrógão

Grande e concelhos limítrofes ao

apuramento de responsabilidades

públicas, os sociais-democratas

entregaram um projecto de lei que

volta a propor a criação daquele me-

canismo urgente. A refl orestação da

Mata Nacional de Leiria e atribuição

de apoios aos agricultores são tam-

bém objecto de propostas de resolu-

ção do PSD. PÚBLICO/Lusa

A ideia de que há um período de incêndios já deixou de ter razão de ser, como acabámos de verificar neste fim-de-semanaMarcelo Rebelo de SousaPresidente da República

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INCÊNDIOS

Mira esteve em chamas e não houve reforços nem comunicaçõesCerca de 70% do concelho foi varrido pelo fogo e duas casas arderam a menos de 50 metros da câmara. SIRESP voltou a falhar

Em Mira, o levantamento

ainda está a ser feito. Para

já, a autarquia indica que

cerca de 70% da área deste

município do litoral de

Coimbra terá ardido no

incêndio que varreu o concelho

entre domingo e segunda-

feira. Durante esse período, no

combate às chamas esteve apenas

a corporação de Bombeiros

Voluntários de Mira. O Sistema

Integrado de Redes de Emergência

e Segurança de Portugal (SIRESP)

falhou mais uma vez.

No meio foram apanhadas

casas, campos, fábricas e muita

fl oresta, mas não houve vítimas

mortais. O fogo começou perto

de Quiaios, Figueira da Foz, ao

início da tarde de domingo, e foi

progredindo para Norte com a

ajuda do vento. Antes de Mira,

queimou uma larga faixa de pinhal

junto da costa, destruindo parte

da Mata Nacional das Dunas de

Quiaios, passando também pela

Tocha, Cantanhede.

Ao PÚBLICO, o presidente da

Câmara de Mira, Raul Almeida, diz

que 14 casas de primeira habitação

fi caram destruídas, afectando

um total de 34 pessoas em várias

ReportagemCamilo Soldado

localidades do município. Sobre

as casas devolutas e de segunda

habitação, ainda não foi possível

fazer a contabilidade.

O fogo chegou a Mira ao fi nal

da tarde. “À meia-noite tinha tudo

ardido”, relata o autarca. Durante

essas horas, “só mesmo os

bombeiros de Mira e a população”

combateram as chamas. O

comandante dos Bombeiros

Voluntários de Mira, Nuno

Pimenta, refere que, na fase mais

crítica, apenas os 48 operacionais

da sua corporação estiveram no

terreno, para cobrir uma área

de 124 quilómetros quadrados.

A escassos 50 metros do edifício

da câmara, no centro da vila,

arderam duas casas.

Quando recebeu o alerta de

incêndio, o comandante estava

na Lousã, a mais de uma hora de

distância, a combater as chamas.

“Quando vim da Lousã já vinha

mentalizado que difi cilmente

haveria reforço. Também lá já não

se estava a conseguir mobilizar”.

Raul Almeida lamenta a

gestão dos meios. “Admito que

nas primeiras horas não fosse

possível chegar aqui”, concede.

Mas lembra as promessas de

reforços do secretário de Estado

da Administração Interna, Jorge

Gomes, que ao início da noite lhe

terá dito que “vinham dois grupos

Quando o fogo chegou a Mira,

no quartel havia três veículos: um

ligeiro, um pesado e um tanque.

Não houve tempo avisar

Enquanto houve tempo, foram

evacuadas duas urbanizações

na Praia de Mira, dois parques

de campismo e uma unidade

hoteleira. “Não tivemos tempo

de mandar as pessoas sair das

outras aldeias”, sendo que a GNR

“só conseguiu avisar algumas

localidades”, recorda o autarca.

Por volta das 20h, quando o

fogo chegou ao Casal de S. Tomé,

uma aldeia perto de Mira, pouco

havia para fazer. “Vi fumo e ouvi

estoiros”, conta Alberto Santos, de

55 anos. Como já não havia água

da rede, teve de sair. Convida a

entrar no que resta da casa, para

mostrar os estragos causados

pelas chamas. Era constituída por

uma parte em tijolo e cimento

e por outra em madeira. O

fogo começou pela madeira e

estendeu-se ao resto da habitação,

destruindo-a por completo. “A

casa era pré-fabricada à frente.

Pegou primeiro e foi por aí fora”.

“Arca, televisões, fornos, grelhas,

ouro, dinheiro, roupas, mobílias”,

enumera, enquanto vai apontando

para os escombros carbonizados,

“foi tudo embora”.

Por enquanto, ele e a mulher

estão em casa do fi lho e por lá

vão fi car “até ver o andamento”.

Agora? O que resta da casa “é para

pôr tudo abaixo”, não é possível

recuperar a estrutura. “Se a gente

tiver possibilidades e ajuda de

alguém”, é reconstruir, “para

poder fazer uma vida”.

A casa ao lado não só ardeu

como desabou e há vestígios

que ajudam a contar o que ali

se passou: uma garrafa de gás

aberta e deformada e uma peça

do fogão do outro lado da estrada.

Ali só um fragmento de parede se

mantém em pé.

O vizinho teve mais sorte. “O

poço é que nos safou. Ligaram

a bomba e, enquanto houve

de bombeiros do Norte do país.

Nunca chegou cá ninguém”.

As comunicações com o exterior

falharam. “O SIRESP funcionou

internamente, mas a comunicação

para o posto de comando, que

seria em Quiaios, bem como para

o Comando Distrital de Operações

não era possível”, relata Nuno

Pimenta. Algumas das redes de

telecomunicações também foram

abaixo. O comandante diz mesmo

que “tinha que ir a Calvão, Vagos

(para onde depois passaria o

fogo), para conseguir telefonar”

ao comandante distrital.

“Pedrogão Grande já nos deveria

ter dados lições”, lamenta.

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Fonte: ICNF PÚBLICO

Gerês

Dunas de S. Jacinto

Dunas de Vagos

Dunas de Quiaios

Prazo de Sta. MarinhaDunas da Costa de Lavos

Dunas da LeirosaFoja

ChoupalV. Canas

UrsoPedrógão

LeiriaCasal Lebre

Ravasco

Sete MontesMestrasVimeiro

Valado dos Frades

Ribeiro do Freixo

Serra deS. Mamede

Cabeção

Virtudes

Quinta da Serra

Escaroupim

MachadaDunas da Trafariae Costa da Caparica

Medos

Dunas de Albufeira Arrábida

Ameal de Agualva de Baixo

Valverde

Herdade daNogueira Grande

Área Florestalde Sines

Herdade da ParraTerras da Ordem

Dunas de Vila Realde Sto. António

Dunas da GafanhaReserva Natural

da Malcata

Covilhã Qta. daNogueira

Camarido

Gelfa

30km

As matas nacionaissob administraçãodo ICNF

O ministro da Agricultura,

d a s F l o r e s t a s e d o

Desenvolvimento Rural,

Capoulas Santos, exclui

“qualquer hipótese de pri-

vatização da fl oresta públi-

ca ou a sua atribuição a entidades

privadas”, mas admite “a criação de

uma ou mais empresas públicas ou

parcerias com novas entidades, de-

signadamente autarquias”.

As recentes declarações de Capou-

las Santos sobre o futuro da proprie-

dade fl orestal do Estado, depois do

incêndio que consumiu 80 por cento

dos 11.600 hectares do pinhal de Lei-

ria, suscitaram receios sobre o mo-

delo a adoptar. O ministro defende,

em declarações ao PÚBLICO, que es-

tá “a avaliar os resultados do actual

modelo de gestão da fl oresta públi-

ca para tomar decisões sobre a sua

manutenção ou aperfeiçoamento ou

sobre a adopção de novos modelos

que se possam revelar mais efi cazes”.

Entre as hipóteses avançadas estão

a criação de empresas públicas ou

parcerias com autarquias.

Para já, incumbiu o Instituto de

Conservação da Natureza e das Flo-

restas (ICNF) de defi nir, no prazo de

quatro meses, uma reforma da gestão

das matas do Estado que arderam e o

respectivo plano de fi nanciamento,

o qual será suportado pelas receitas

obtidas na gestão das referidas pro-

priedades e por fundos comunitá-

rios. O Estado detém dois por cento

da propriedade fl orestal.

São pedidas ao ICNF, administra-

dor das matas nacionais, medidas de

estabilização e de recuperação para

o grupo de matas do litoral centro

Governo exclui privatização da floresta pública

Fogo destruiu 14 casas de primeira habitação e 20 fábricas e explorações agrícolas. Comandante dos 48 bombeiros disponíveis tinha de ir ao concelho vizinho para telefonar para o comando distrital

afectadas pelos violentos incêndios,

especialmente Leiria, mas também

Pedrógão, Urso, Dunas de Quiaios e

Dunas de Vagos, Maragaça e ainda

Covilhã. É o que estabelece o despa-

cho do ministério da tutela, assinado

pelo secretário de Estado das Flores-

invasoras, e no “longo prazo”, uma

avaliação “dos modelos de silvicul-

tura e de organização territorial, re-

visão dos planos de gestão fl orestal

em vigor, um programa de rearbori-

zação e um plano de defesa contra

incêndios.

Para quem conhece bem a forma

como a maior mata pública do país

tem sido gerida, garante que o seu

principal problema tem residido na

falta de meios humanos, fortemente

reduzidos desde as reformas dos ser-

viços fl orestais. Confrontado com as

consequências dessa opção, o minis-

tro remete para o próprio Ministério

da Agricultura: “Quando eu próprio

exerci funções, nos governos do eng.

António Guterres, o Ministério da

Agricultura dispunha de mais de 15

mil funcionários. Neste momento,

dispõe de cerca de 5 mil. É evidente

essa redução.”

No caso concreto do pinhal de

Leiria, no fi nal dos anos de 70 ha-

via na circunscrição fl orestal da

Marinha Grande (que se dedicava

quase em exclusivo ao pinhal e ti-

nha orçamento próprio) cinco téc-

nicos, 200 trabalhadores rurais e

40 guardas-fl orestais. Hoje não há

circunscrições e na Marinha Grande

trabalham dois técnicos e dez traba-

lhadores rurais — não há, como se

sabe, guardas-fl orestais. Após duas

grandes reformas nos serviços em

1993 e 1998, os serviços fl orestais

locais e circunscrições fl orestais re-

gionais (três no Centro) passaram a

estar centralizados no ICNF, em Lis-

boa. Hoje, conta fonte conhecedora

do processo, “os técnicos reportam

a um chefe de divisão, que reporta

ao director regional de Agricultura,

que reporta ao ICNF, até para ques-

tões básicas como o investimento na

limpeza de matas.”

Faltou também a gestão da regene-

ração natural do pinhal. Em 2003, ar-

deram 2500 hectares e só 500 foram

mais tarde intervencionados.

electricidade, combateram as

chamas, diz Policarpo Prina,

duas casas ao lado. Na noite

de domingo para segunda não

foi à cama, lembra o homem

de 65 anos que vive ali há mais

de vinte. “Isto foi um inferno”,

descreve, rodeado de vizinhos que

repetem “um inferno”, como que

atestando que a descrição não é

exagerada.

No que toca às empresas, Raul

Almeida diz que arderam vinte

fábricas e unidades agrícolas.

O pólo mais antigo da zona

industrial de Mira foi dizimado.

Fábricas de adubos e fertilizantes,

de madeiras ou de reciclagem de

plásticos fi caram integralmente

destruídas. Outras sofreram

danos consideráveis. Ontem à

tarde ainda circulava um carro

de bombeiros, com máquinas e

trabalhadores a fazer intervenções

de rescaldo. O ar é pesado,

com o intenso cheiro a plástico

queimado que ainda sai dos

escombros fumegantes.

Só na terça-feira às 7h, os

Bombeiros Voluntários de Mira

conseguiram mobilizar meios para

a zona industrial. Com os poucos

meios que tínhamos, “até aí, a

prioridade era defender casas”,

explica Nuno Pimenta.

Lurdes Ferreirae Manuel Carvalho

Ministério dá quatro meses ao ICNF para definir reforma da gestão das matas nacionais que arderam no litoral centro

[email protected]@[email protected]

Nos governos do eng. Guterres,o ministério dispunha de mais de 15.000 funcionários. Neste momento, dispõede 5000. É evidente essa reduçãoCapoulas SantosMinistro da Agricultura, das Florestas e Desenvolvimento Rural

tas e do Desenvolvimento Rural, Mi-

guel Freitas, publicado ontem.

O Governo quer, “no curto e mé-

dio prazo”, para as áreas ardidas,

medidas de prevenção da erosão,

conservação de espécies protegidas,

controlo e erradicação de espécies

FOTOS: ADRIANO MIRANDA

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INCÊNDIOS

A região de Leiria está

de luto. Perdemos

o primeiro e maior

monumento de Portugal.

Nunca vamos esquecer o

teu tom verdejante, o teu

cheiro, o som do vento a passar

nas copas das tuas árvores ou o

teu sabor, que nos proporcionavas

com os teus medronhos e

camarinhas. Esperamos voltar a

ver-te em breve.

O que perdemos: diz-se que

perdemos a mata nacional de

Leiria, mas na verdade foi muito

pior, perdemos não uma, mas três

matas: o Pinhal de el Rey (Pinhal

de Leiria após a implantação da

República, em 1910), localizado

a sul do rio Lis; a Mata Nacional

do Pedrógão, entre o rio Lis e

a Ervedeira; e a Mata Nacional

do Urso (outrora pertencente

à Universidade de Coimbra),

entre a Ervedeira e Leirosa.

Estas três matas nacionais estão

plantadas sobre uma extensa e

imponente área dunar que se

estende até 13km para o interior

(Zona da Ervedeira), sendo

muito relevantes para a sua

estabilização.

Apesar de o Pinhal de el Rey

ser associado a D. Dinis (1279-

1325), devido à atenção que este

rei lhe prestou, pensa-se que

a sementeira terá começado

anteriormente. De qualquer

forma, o pinhal de el Rey é a mais

antiga ação de refl orestação em

larga escala realizada pelo homem.

Esta região não foi sempre

igual. As dunas movem-se e o

rio também. O rio Lis atravessou

de uma forma muito mais

acentuada esta região, tendo

inclusive atravessado a zona

correspondente às três matas.

Existem indícios de a foz do rio

Lis se ter localizado perto

da atual praia do Osso da Baleia,

a cerca de 15km a norte da sua

posição atual.

Prevenção de incêndios: há

vários séculos que uma série

de cuidados têm sido tomados

relativamente à prevenção de

incêndios no Pinhal de Leiria. D.

Maria I (1777-1816) instituiu a caixa

de fumo, feita em folha de ferro

e um palmo de areia de modo a

que os trabalhadores pudessem

apagar os cigarros de forma

segura. Criou os aceiros e arrifes

com o objetivo de facilitar o acesso

à mata e também a atuação como

corta-fogo e proibiu o fabrico de

carvão e alcatrão dentro da mata

e interditou o uso de armas de

fogo durante as montarias, por

exemplo, aos lobos. No reinado de

D. João VI (1816-1826) foi ordenado

untar os rodados dos carros de

bois de modo a evitar ignições

causadas pela fricção. Proibiu

ainda o lançamento de foguetes e

balões às povoações próximas da

mata.

Já no século XIX foram criados

pontos de vigia, que guardavam a

mata de noite e dia, comunicando

entre si inicialmente através de

bandeiras durante o dia, e focos

de luzes durante a noite. As

comunicações eram, no entanto,

difi cultadas devido à formação de

nevoeiro tão comum nesta região,

como todos os conterrâneos

bem sabem. Tendo em conta

esta característica da região e a

difi culdade na identifi cação do

talhão onde ocorria o incêndio, foi

posteriormente criada uma ligação

telefónica entre os diferentes

postos de vigia, facilitando as

comunicações e permitindo uma

triangulação/localização mais

exata do talhão com foco de

incêndio.

As consequências do

desmazelamento: infelizmente, o

cuidado com esta zona tem sido

cada vez menor. Apesar de estas

três matas, entre 2001 e 2009,

terem gerado lucros na ordem

dos 26,2 milhões de euros, o valor

Opinião Micael P. Jorge

Uma homenagem ao Pinhal de el Rey

investido fi cou-se na casa dos 2,7

milhões de euros (dados do ICNF).

Os guias fl orestais passaram a

ser uma “espécie extinta” nestas

matas nacionais, tornando-se

mais tardia a identifi cação de

focos de incêndio. Não existindo

policiamento desta zona, o

pisoteamento dunar também tem

sido cada vez maior, agravado por

jipes e motos.

O “abandono” destas matas

nacionais pelo Instituto de

Conservação da Natureza e

Florestas (ICNF), entidade

governamental responsável pela

proteção desta área, teve agora

as suas consequências, por sinal

catastrófi cas: o desaparecimento

quase total de mais de 700 anos de

história em dois dias. Fala-se em

percentagens de fl oresta perdida

superiores a 80%, pelo menos

do que diz respeito ao Pinhal de

Leiria.

Contudo, o fi m do fogo não é

o fi m dos problemas. Demorará

tempo até a refl orestação ter

início e o tempo de recuperação

é na casa das dezenas de anos.

Enquanto isso, a desestabilização

deste ecossistema dunar poderá

provocar a migração de areias para

o interior, que poderá prejudicar,

por exemplo, zonas atuais de

cultura. Estaremos também mais

suscetíveis aos ventos marítimos

que também poderão prejudicar

a agricultura. No que diz respeito

à lagoa da Ervedeira, um dos ex

libris desta região, também pode

sofrer com este incêndio. As cinzas

poderão aumentar a eutrofi zação

da lagoa e a ausência de vegetação

pode potenciar o movimento de

areias por ação eólica, o que pode

agravar os problemas já existentes

de assoreamento (acumulação

de sedimentos e diminuição

da profundidade) desta lagoa.

Mas talvez a lagoa não interesse

muito, nem à população de

Leiria, que não apoiou a proposta

do orçamento participativo da

câmara municipal que previa um

investimento de 30 mil euros, nem

ao ICNF, que no Plano de Gestão

Florestal, um documento com 175

páginas, conseguiu, nas 36 das

37 menções à lagoa da Ervedeira,

mencioná-la incorretamente como

“Ervideira”.

Recorde-se, para terminar,

uma última perda, de potencial e

riqueza: o turismo. Estamos numa

altura de franco crescimento do

turismo em Portugal, e se antes

os estrangeiros apenas visitavam

Lisboa e Porto, procuram agora

conhecer outras regiões do país

e o crescimento do turismo na

zona centro tem-se feito sentir.

Esta zona fl orestal, devido

às suas características tão

específi cas, estava a atrair cada

mais praticantes de orientação,

tendo-se inclusive estabelecido

nesta região a federação nacional

desta modalidade. Será que vai

continuar a ser um local de eleição

para a prática da modalidade? E o

que será dos que procuravam as

praias da nossa região? Gostarão

eles da mesma forma desta região

agora despida, devorada pelo

fogo? Todos nós duvidamos.

Arderam na Europa cerca de

903,7 mil hectares de fl oresta em

2017 (dados EFFIS). Só Portugal

é responsável por 520,5 mil

hectares, ou seja, cerca de 58% de

toda a área ardida! Se é verdade

que podemos culpar desta vez

o ICNF/Estado português por

durante os últimos dez anos se

ter desmazelado na proteção

destas matas nacionais, a culpa

do mesmo não se aplica, por

exemplo, aos incêndios de

Pedrógão Grande ocorridos em

mata privada. Mais importante do

que apontar o dedo aos culpados é

encontrar as soluções.

ADRIANO MIRANDA

Geólogo

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País: Portugal

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52468a16-6218-4d88-baf9-efc702714606

João Pinto Coelho é o novo vencedor de um dos mais importantes prémios da língua portuguesa p30

Primeira etapa da prestigiada regata à volta do mundo parte amanhã de Alicante para Lisboa p56/57

Governo espanhol reúne--se para aplicar artigo que suspende autonomia. Resta saber até onde irá p24/25

José Conde Rodrigues e Germano Marques da Silva terão feito contratos fi ctícios com o Grupo Lena p14/15

Ex-governante e penalista implicados no caso Sócrates

Catalunha: hoje é o dia em que Madrid activa a ‘bomba atómica’

Prémio Leya para um leitor que só é escritor por acaso

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DANIEL ROCHA

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