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165 Revista Observatório da Diversidade Cultural Volume 01, nº 01 (2014) www.observatoriodadiversidade.org.br/revista ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE LEITURA DE IMAGENS, PRÁTICAS EM ATELIÊS. Um estudo de caso: Instuição Lar de Maria Flávia dos Santos Oliveira Gama 1 Samuel de Jesus Pereira 2 Resumo Este estudo de caso tem a intenção de contemplar as avidades socioeducavas realizadas pelo educador social de artes visuais da Instuição Lar de Maria, e consequentemente registrar as prácas parcipavas de criação arsca de crianças e adolescentes em ateliê, o que resultou na produção de uma exposição que compôs o Ciclo Cultura da Instuição. Assim, abordaremos as prácas de leitura de imagem por considerar suas potencialidades estécas, cognivas e suas dimensões socioculturais. As análises das obras de arte têm demonstrado ser um instrumento capaz de esmular a construção do conhecimento do educando. Palavras chave: arte educador, leitura de imagem, ateliê, mediação Abstract This case study is intended to provide educaonal acvies carried out by the social educator of Visual Arts of the Home Instuon of Mary, and hence register the parcipatory pracces of arsc creaon of children and adolescents in Studio, which resulted in the producon of an exhibion that composed the cycle Culture of the instuon. So, we’ll cover image reading pracces by considering their potenal cognive, aesthec and socio- cultural dimensions. The analyses of the works of art have been shown to be an instrument capable of smulang the knowledge construcon of educang. 1 Graduação em História, especialista em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural pela Universidade Federal de Minas Ge- rais, mestranda em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo. E-mail: fl[email protected] 2 Graduação em pedagogia, especialista em Alfabezação e Letramento pela Faculdade Sumaré, Educador social de artes visuais da Instuição Lar de Maria. E-mail: [email protected]

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ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE LEITURA DE IMAGENS, PRÁTICAS EM ATELIÊS. Um estudo de caso: Instituição Lar de Maria

Flávia dos Santos Oliveira Gama1

Samuel de Jesus Pereira 2

Resumo

Este estudo de caso tem a intenção de contemplar as atividades socioeducativas realizadas pelo

educador social de artes visuais da Instituição Lar de Maria, e consequentemente registrar as práticas

participativas de criação artística de crianças e adolescentes em ateliê, o que resultou na produção de

uma exposição que compôs o Ciclo Cultura da Instituição.

Assim, abordaremos as práticas de leitura de imagem por considerar suas potencialidades estéticas,

cognitivas e suas dimensões socioculturais. As análises das obras de arte têm demonstrado ser um

instrumento capaz de estimular a construção do conhecimento do educando.

Palavras chave: arte educador, leitura de imagem, ateliê, mediação

Abstract

This case study is intended to provide educational activities carried out by the social educator of Visual

Arts of the Home Institution of Mary, and hence register the participatory practices of artistic creation

of children and adolescents in Studio, which resulted in the production of an exhibition that composed

the cycle Culture of the institution.

So, we’ll cover image reading practices by considering their potential cognitive, aesthetic and socio-

cultural dimensions. The analyses of the works of art have been shown to be an instrument capable of

stimulating the knowledge construction of educating.

1 Graduação em História, especialista em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural pela Universidade Federal de Minas Ge-rais, mestranda em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] Graduação em pedagogia, especialista em Alfabetização e Letramento pela Faculdade Sumaré, Educador social de artes visuais da Instituição Lar de Maria. E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Esse relato de experiência apresenta o ateliê como um espaço educativo das instituições socioeducativas.

Diante desta proposta, foi realizado o levantamento das práticas artísticas desenvolvidas pelo educador

social, bem como as opções metodológicas utilizadas para integrar arte e cultura.

A Instituição Beneficente Lar de Maria foi criada em 19633 por um grupo de colaboradores da Casa

Solidariedade, que oferecia sopa para a comunidade de rua da cidade de Santo André. Com o passar

do tempo, os colaboradores começaram a conhecer melhor essas pessoas e perceberam que suas

necessidades iam além da fome, o que os levou a fundar a instituição.

Ao longo de sua história, a instituição sofreu várias modificações e adaptações. Atualmente, o Lar de

Maria é considerado uma Instituição Filantrópica de Assistência Social que presta serviços à população

do Município de Santo André que vive em vulnerabilidade social. Trata-se de uma entidade integrante

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), caracterizada como prestadora de Serviço de Atenção

Básica (atendimento às crianças e adolescentes em situação de risco social e pessoal).

O Serviço de Atenção Básica oferecido pela Instituição é desenvolvido em Programa de Educação

Infantil e em Programa de Centro de Convivência. Atua ainda, por meio do Programa Profissionalizante,

atendendo preferencialmente aos residentes do Município de Santo André, a partir de 16 anos, aos

pais, aos familiares, e demais pessoas em situação de vulnerabilidade social. A Instituição conta com

oficinas de dança, literatura, teatro, percussão, capoeira, inglês, filosofia, recreação, ética e cidadania,

judô, artes visuais, violão, comunicação, informática.

O Plano Político Pedagógico dos programas ofertados é homologado, autorizado e supervisionado

pela Prefeitura Municipal de Santo André, por meio das suas duas Secretarias, a de Educação e de

Inclusão Social. O Plano foi construído pelos Gestores, Educadores, Equipe Técnica Interdisciplinar

e pela comunidade. A instituição possui convênios, parcerias desenvolvidas com vários órgãos

públicos (CRAS, CREAS, Fundação ABC, OAB, INSS, Conselho Tutelar, Centro de Geração e renda,

escolas municipais e estaduais, dentre outros). E também convênios com o governo Federal e

Municipal, através da Secretaria de Educação, de Inclusão Social, Banco de alimentos, Programa do

Leite, Fundo de solidariedade Social, Conselho Municipal de Direitos das crianças e adolescentes,

Conselho Municipal de Assistência Social e etc.

A metodologia utilizada pela Instituição Lar de Maria acompanha as normativas da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação - LDB 9.394/96, as diretrizes dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil, Plano Nacional da Primeira Infância, os critérios de Qualidade da Educação Infantil - MEC, o

Estatuto da Criança e do Adolescente, e o SUAS, no que diz respeito ao Serviço de Atenção Básica.

3 Histórico e demais informações sobre O plano Político Pedagógico, corpo técnico foi retirado do site http://www.lardemaria.org.br/index.php/home/convenios?showall=&start=1

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2. DESCREVENDO AS OFICINAS EM ATELIÊS

Para realizar suas oficinas, o educador social propôs o trabalho com leitura de imagens, pois acredita

que essa atividade permite um roteiro mais amplo para a fruição, criação e diálogo com os educandos.

Assim temos que:

Leitura de obras de arte, quando propostas conscientemente e quando bem conduzidas, estimulam o desenvolvimento crítico, aumentando os conhecimentos e questionamento sobre o mundo, sobre as coisas, a história, e sobre si mesmo. Permitem uma compreensão mais eficaz de imagens e de mensagens visuais e, de modo progressivo, aguçam o olhar e o sentido de observação, possibilitando percepções mais profundas a cada nova proposta de leitura. (CANTO, 2005, p. 1)

É importante reconhecer as formas de pensamento e de escolha que o educador social institui quando

seleciona as obras, quando compõe estratégias para que os educandos, por meio da arte, possam

interpretá-las, estabelecendo conexões que garantem uma experiência significativa.

Esse material foi desenvolvido para retratar o papel do educador social diante da construção do

conhecimento mediante a intervenção da arte, e a sua contribuição para a inclusão e integração de

crianças e adolescentes. Isso consiste em que o educador social decida suas ações de forma cuidadosa

e consciente, pois tudo o que se ensina está imbricado de valores.

Precisamos entender que nenhuma escolha é neutra. As abordagens educativas carregam consigo

propósitos e princípios, e por isso, quando feitas aleatoriamente, isto é, sem fundamentação teórica,

podem comprometer o processo educativo. Assim, “se ensinamos às crianças e os adolescentes

um determinado vocabulário, estaremos ensinando-lhes ideias, e um bom educador deve estar

constantemente consciente dessa postura”. (PARSON e BLOCKER, apud ROSSI, 2010, p. 2)

Por mais que a proposta de trabalho em ONGs seja marcada por características específicas da educação

não formal - como a liberdade de ação, a flexibilidade do tempo, a autonomia para escolher a

metodologia e as temáticas - os educadores não podem isentar-se de seu compromisso socioeducativo.

Dessa forma, para melhor diferenciar as competências entre educação formal e não formal, corrobora-

se com o seguinte pensamento,

enquanto na educação formal ou escolar o ponto central é a formação do aluno, principalmente no que se refere ao acesso aos conhecimentos historicamente sistematizados e transmitidos em uma determinada sequência, estabelecida pela escola, na educação não formal ou extra-escolar o compromisso principal é com questões pontuais, consideradas importantes para determinados grupos que se formaram em função de demandas comuns. (CARVALHO, 2008, p. 99).

Mesmo que o educador tenha liberdade para propor temáticas, exercer sua criatividade (ações

inovadoras) e adequar suas propostas à realidade sociocultural da instituição, não se deve ignorar a

intencionalidade e planejamento de seus projetos. A sua formação cultural, o seu repertório pessoal,

social e sua crença na função da arte enquanto ação reflexiva não podem ser desvinculados da

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sociedade. E isso o leva a defendê-la como instrumento de socialização. Para Carvalho (2008), a arte

promove a inclusão social por meio do acesso aos bens culturais, além de conduzir a reflexão e a

construção de conhecimentos.

Para o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil4, “o acesso à ocupação de educador social é livre,

sem requisitos de escolaridade”, mas, quanto ao perfil do educador, Carvalho (2008) esclarece que é

um equívoco achar que a formação acadêmica seja desnecessária, porém,

Os dados apresentados indicam que a qualificação acadêmica não é requisito fundamental. A qualidade do ensino de arte nas ONGs não está, necessariamente, relacionada à titulação. Ao lado das técnicas profissionais, o saber, as aptidões e as características pessoais são muito importantes para a realização de um trabalho competente. (CARVALHO, 2008, p.138)

Entretanto, o educador social da Instituição Lar de Maria afirma que suas atividades culturais e

artísticas são fundamentadas a partir de leituras, de informações que adquiriu em cursos, palestras e

estudos sistematizados ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional. É diante desse cenário que

o educador cria seu próprio repertório, é nesse percurso que encontra as diretrizes para planejar suas

atividades; uma vez que as instituições nem sempre deixam claro as suas concepções de aprendizagem,

suas propostas pedagógicas. Dentre vários conceitos sobre ONGs, Carvalho (2008) afirma que,

Muitas dessas entidades têm obtido admirável êxito ao criar alternativas e facilitar a inclusão social, ao prestar serviços de educação integral e a trabalhar em favor da defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes que vivem em circunstâncias especialmente difíceis. (CARVALHO, 2008, p16)

Com base nesse estudo de caso, é possível compreender que as atividades de mediação artística e

cultural não dependem da formação específica em artes visuais, mas, sobretudo, de uma formação

contínua, ou seja, da busca por cursos complementares, leituras, reflexões, participação em atividades

ofertadas em museus e outras instituições culturais. Nesse sentido, mediação é:

uma ação educativa que contribui para a construção do conhecimento de uma pessoa. Sendo assim, deve ser feita por alguém mais experiente na área, que conheça o processo de pensamento do sujeito, para que possa, então, provocar suas hipóteses, através de questionamentos. (ROSSI, 2010, p.4)

Ao propor processos de mediação, o educador procurou incentivar os educandos, desafiando-os a

questionar a proposta do artista, a contribuir com a própria produção, a participar dos embates que

emergiam durante a construção do conhecimento e a propor saídas plausíveis para o grupo. Nesse

contexto de discussão a intervenção educativa propôs:

• Explorar questões a partir do desenho e da leitura de imagens;

• instigar o educando a elaborar perguntas;

4 Documento CBO – Classificação Brasileira de Ocupações (2002)

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• introduzir informações e conceitos;

• produzir textos visuais;

• desenvolver ideias acerca da obra;

• utilizar a leitura de imagem como disparador para discussões;

• fomentar a participação, atuação e apoio de outros educadores;introduzir informações e conceitos;

• produzir textos visuais;

• desenvolver ideias acerca da obra;

• utilizar a leitura de imagem como disparador para discussões;

• fomentar a participação, atuação e apoio de outros educadores;

As atividades artísticas foram organizadas por meio de oficinas, ministradas duas vezes por semana,

com carga horária de 50 minutos, para 7 turmas de aproximadamente 20 a 25 educandos. Abaixo

segue a metodologia/etapa utilizada nas oficinas de arte e de leitura de imagem:

Etapas Recurso/atividades Objetivos

Observação Percepção visual/sensorial, experimentação e comparação das obras.

Identificar as obras;Desenvolver a percepção visual

Registro Desenhos, descrição verbal ou escrita, fotografia, mural. Organizar as ideias

Exploração Levantar perguntas, problemas, hipóteses. Desenvolver a análise crítica

Apropriação Recriar, ler, confeccionar textos informativos.

Desenvolver a capacidade de expressão, criação e produção.

Tabela 1. Fonte: dados da pesquisa

O ateliê é um espaço concebido para propor leitura de imagem, aguçar questionamentos, fomentar

trocas culturais, e para apropriação de novas linguagens (verbais, táteis, visuais), lugar de construir o

conhecimento, ambiente do fazer artístico, de conectar outros saberes. Assim é preciso considerar que:

A criação não é algo que se impõe, não é possível que haja uma ordem imperativa do tipo ‘seja criativo’, crie! Para que haja processos criativos é necessário, anteriormente, a existência ou o oferecimento de um ambiente propício à criação, e que nesse ambiente sejam permitidas e estimuladas, diferentes tipos e potenciais de criação. (FERNANDES, GARCIA, 2005, p.8)

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Dessa forma, as atividades desenvolvidas no ateliê favoreceram a comunicação entre o educador

e o educando, estabeleceram uma maior interação com o conhecimento prévio e as expectativas e

interesses de cada participante. Nesse sentido, é possível afirmar que a exposição resultou de um

complexo e produtivo processo de aprendizagem, onde um conjunto de valores culturais, sociais e

afetivos legitimou a produção do conhecimento partilhado. Na visão de Vásques,

A arte não é mera produção material nem pura produção espiritual. Mas justamente por seu caráter prático, realizador e transformador está mais próxima do trabalho humano – sobretudo, quando este não perdeu seu caráter criador – do que uma atividade meramente espiritual. (VÁZQUEZ, 2007, p.229)

As oficinas promovidas no ateliê permitiram ainda reconhecer a importância do “fazer artístico”,

e nesse sentido percebe-se quão produtivo é para os educandos produzirem por meio de seu

pensamento, de sua intervenção, seleção e escolha. Ou seja, “O trabalho prático, o aprender a fazer,

o construir com as próprias mãos e, dessa forma, poder saber o processo de criação e confecção

de produtos, faz com que eles se sintam não apenas consumidores, mas produtores de cultura.”

(FERNANDES, GARCIA, 2005, p. 5)

A exposição resultou da valiosa intervenção dos educandos em todo o processo de elaboração de seus

próprios conceitos, na escolha das tintas, das cores, das formas, das linhas, das técnicas utilizadas para

expressar-se artisticamente através do desenho, da pintura, da colagem, da fotografia, da instalação do

mural. Assim, a exposição compôs o Ciclo Cultural do Lar de Maria, evento concebido com a finalidade

de divulgar os projetos executados na Instituição.

Nesse sentido, as atividades realizadas no ateliê e que deram “corpo” a exposição foram bastante

diversificadas, podendo ser visualizadas por meio da confecção do autorretrato, da intervenção em

fotografia, da leitura de imagem, da exibição de documentário, das rodas de conversa, das atividades

de colagens, de desenhos e dos painéis. Muitas foram as formas de registrar o processo educativo e a

produção no ateliê, todavia, queremos ressaltar que educar por meio da exposição significa considerar,

valorizar a observação, a interpretação e o sentimento dos participantes. E por interpretação

entendemos que é

dar sentido às evidências visuais de imagem e estabelecer relações entre a imagem e a vida das pessoas que a apreciam. Tão importante quanto conhecer a linguagem visual é conhecer os interesses e as inquietações das pessoas que apreciam essas imagens. (PILLAR, 1993, p. 82)

Movidos pela observação e análise do processo educativo compreende-se que as atividades artísticas,

assim como a leitura de imagem, são ações educacionais alternativas que promovem a sensibilização

dos sentidos através da exploração dos objetos, e que estimula o sentimento de autonomia, de autoria,

de produção e fruição do educando.

Com relação à exposição foram apresentadas as seguintes temáticas:

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1. Proposta poética: Poéticas das apropriações

Obra de referência:

Artista: Pablo Picasso Obra: (Guitarra, 1913)

Instrumento didático: Uso de fragmentos do Documentário: “O Mistério de Picasso”. (Le Mystére

Picasso) - Direção- Henri- Georges. Clouzot, França: 1956, 75 minutos. Texto de referência: “Poéticas das

apropriações - Do Coisário ao Relicário” – Museu de Arte Contemporânea de Niterói, caderno1, 2005.

Objetivo: observar o processo criativo do artista e introduzir a técnica de colagem

Trabalhos produzidos pelos educandos:

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2. Proposta poética: Quais os tempos da memória?

Obra: fotografias do acervo da Instituição Lar de Maria.

Instrumento didático: painel de fotografias da instituição e análise do texto de Claudio Kubrusly. “O

que é fotografia”, São Paulo: Brasiliense, 1983.

Objetivo: intervenção em fotografias.

Trabalhos produzidos pelos educandos:

3. Proposta poética: Guerra e Paz na obra de Portinari

Obra de referência:

Obra: leitura do painel Guerra e Paz

Instrumento didático: PONTE, Lena & FERREIRA, Nadya. Caderno do Professor – Portinari. Rio de

Janeiro, Projeto Portinari. 2011.

Objetivos: trabalhar com os fundamentos da cultura de paz

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Trabalho produzido pelos educandos:

4. Proposta poética: Tramas e Linhas na obra de Sheila Hicks

Obra de referência:

Obra: Título não identificado, obra exposta na 30ª Bienal de São Paulo, 2012. Instalação: Institute

Contemporary Art, University of Philadelphia.

Instrumento didático: Material Educativo da 30° Bienal – SIMIONI, Ana Paula. “Bordado e transgressão:

questões de gênero na arte de Rosana Paulino e Rosana Palazyan” – Revista Proa, nº 2, volume 1, 2010.

Objetivos: Dialogar sobre a relação da produção da artista com o artesanato, reconhecer a diferenças

entre tecelagens, bordados, rendas e técnicas artesanais cotidianas e discutir gênero a partir da

questão: “Homem também faz bordado?”

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Trabalhos produzidos pelos educandos:

5. Proposta poética: O que acontece quando você festeja?

Obra de referência:

Obra: Roda de Samba no Terreiro

Artista: Heitor dos Prazeres

Instrumento didático: leitura da obra “Roda de Samba no Terreiro”, do pintor e músico brasileiro,

Heitor dos Prazeres. Livro: NEREIDE. Santa Rosa Schilaro. “A arte de olhar festas”. São Paulo: Scipione,

2003. Material educativo da 30° Bienal.

Objetivos: trabalhar a dimensão social do festejo relacionando com as comemorações dos 50 anos da

Instituição Lar de Maria.

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Trabalhos produzidos pelos educandos:

6. Proposta poética: Menino com Lagartixas

Obra de referência:

Obra: Menino com Lagartixas

Artista: Lasar Segall

Instrumento didático: Material educativo do Museu Lasar Segall, Ministério da Cultura, 2005

Objetivos: discutir os elementos que compõem a obra do artista e relacionar com o contexto social,

educacional e cultural dos educandos.

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Trabalhos produzidos pelos educandos:

7. Proposta poética: A vida como obra de arte “Autorretratos”

Obra: Van Gogh, autorretrato 1889. Tarsila do Amaral, Autorretrato (Manteau Rouge), 1923. Rembrandt

Van Rijin, Autorretrato.

Artistas: Van Gogh, Tarsila do Amaral, Rembrandt

Instrumento didático: Livros:

CANTON, Kátia. Espelho de artista. 3ª edição. São Paulo: Cosac Naify, 2004. SAN´TANA, Denise. Corpos

de passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo. Estação Liberdade, 2001.

FRAYZE-PEREIRA, João Augusto. Do império do olhar à arte de ver o tempo social. Tempo Social. Revista

Sociologia. USP. SP- 1999

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Objetivos: promover rodas de conversas, leitura de imagem, incentivar os educandos a se

autorretratarem a partir da questão: “A vida de todo indivíduo não poderia ser uma obra de arte?”

(Michel Foucault)

Trabalhos produzidos pelos educandos

Visão do espaço expositivo

É importante ressaltar que a leitura de imagem levou as crianças e os adolescentes a questionarem o que

os artistas produziram em diferentes contextos culturais. Ao focar a Arte enquanto uma possibilidade

de intervenção criativa e afetiva, o educador propôs um mergulho no pensamento da curadora da

Bienal,

A arte tem a potência de ativar sentimentos, percepções e reflexões que dificilmente viriam à tona de outra maneira, visto que ela lida com aspectos essenciais na perspectiva do sujeito individual e coletivo. Traduz em cada um de nós as reentrâncias e os abismos da alma, suas misérias e belezas, promovido em nós. (STELA BARBIERI, 2007)

A preparação do educador na seleção das obras artísticas reforçou que a contribuição efetiva da arte no

processo educativo não depende somente de conhecer seus propósitos, mas, sobretudo da intenção

planejada e esclarecida a respeito da situação educativa.

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As obras referenciadas e utilizadas em cada atividade foram selecionadas de acordo com o conhecimento

e a preparação do educador. Dentre outros critérios, foram escolhidas por terem relação e possibilidade

de conexão com os projetos que outros educadores já desenvolviam na Instituição Lar de Maria.

E, durante todo o percurso de trabalho, coube ao educador social orientar, mediar as tarefas, tornar

prazeroso o processo de criação, de intercâmbio de novas culturas, contribuindo inclusive para

o esclarecimento de dúvidas e para o fomento de debates. De forma ele consciente prepara cada

atividade, e é conhecedor de sua responsabilidade no processo de socialização das crianças e dos

adolescentes. Diante disso, a fruição e a comparação entre as obras de vários artistas permitiram

que uma diversidade de expressões culturais fossem não apenas registradas, mas compartilhadas e

ressignificadas. Ambos aprenderam enquanto pensavam, selecionavam ou manuseavam os materiais

da exposição. Assim a arte

supõe a intenção inventiva deliberada no processo de construção, que nos afasta da reprodução

imediata do real. Ela se caracteriza pela busca incessante e continuada de recriar o vivido. Por isso, a

arte é a expressão definitiva do desejo de construir novos mundos. E este processo de construção de

outro mundo supõe uma espécie de voltar-se para a própria vida e indagar a condição humana. A arte

é, nesse sentido, admiração, contemplação da vida. (GRINSPUM, 2003)

Convém ressaltar que não se tem a pretensão de ensinar arte como uma técnica, mas de evidenciar o

processo de criação do qual ela faz parte. Ao propor o redimensionamento das atividades, o educador

social busca potencializar as reinterpretações dos indivíduos, colaborando para que assumam o

protagonismo de suas ações.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A exposição produzida com a participação ativa dos educandos permitiu a consolidação de um espaço

contínuo de encontro e de negociação de saberes. E isso implica em fortalecer a comunicação entre os

participantes e garantir o cruzamento de novos conhecimentos. Assim, foi possível articular os saberes

trazidos pelos educandos com os conhecimentos adquiridos em sua ação comparativa e reflexiva frente

à proposta educativa. Através dessa intervenção foi possível vislumbrar a arte e a cultura enquanto

mediadoras de processos socioeducativos. E os resultados observados indicam que a experiência

construída em oficinas de ateliê proporcionou a conquista pela confiança e a credibilidade dos educandos.

E ainda, a liberdade de expressão, a capacidade de relacionar com diferentes obras e estilos.

Acredita-se que ao propor algumas reflexões sobre a leitura de imagem em práticas de ateliês, o estudo

de caso contribui para demonstrar o potencial das propostas poéticas, isto é, das obras de referência

sugeridas pelo educador social, e especialmente aquelas produzidas pelos educandos. Nesse sentido,

as práticas participativas de criação artística em instituições socioeducativas contribuem para promover

a diversidade das expressões culturais. Portanto, as relações de troca e cooperação em processos de

construção do conhecimento, mediante a leitura de imagens, têm demonstrado que o mesmo é criativo

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e relacional. E isto significa que o contato com a linguagem visual provoca a imaginação, o interesse e

maior proximidade dos educandos com as imagens, o que revela um sentimento de pertencimento e

de reelaboração de novos sentidos. Através da observação, do registro, da exploração e da apropriação

da imagem é possível criar uma relação de significados e compreensão estética.

Se nos pautarmos nos estudos de Grinspum (2001) chegaremos à conclusão de que alguns níveis de

desenvolvimento estético também foram alcançados. O narrativo, por exemplo, demonstrou que ao

elaborarem suas observações e reflexões sobre as obras de arte, tanto as crianças quanto os adolescentes

conseguiram criar sentido e estabelecer uma relação subjetiva. E nesse contexto, ao assumirem sua

autonomia, os educandos constroem sua história com base na ressignificação e ampliação do seu

conceito sobre cultura.

Ao discutir o perfil do educador social, as metodologias utilizadas em suas oficinas de ateliê, bem como

evidenciar as possibilidades de interação dos educandos junto às práticas de educação não formal,

estamos contribuindo para ampliar a reflexão sobre a produção artístico-cultural nas instituições

socioeducativas, uma vez que as práticas educativas do terceiro setor ainda são pouco analisadas.

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