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21/9/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801 Alguns dedos de Prosa: conversando sobre Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade Este Informativo é uma publicação semanal dedicada a Educadores, cujos conteúdos são de inteira responsabilidade da autora. Seu objetivo é formativo: oferecer subsídios e reflexões em Psicologia, Educação Ambiental, Cultura da Paz e Espiritualidade, e renovar o propósito rumo a uma educação transformadora. Vários jeitos de plantar árvores... vários jeitos de preservar a vida! No último Informativo começamos a refletir sobre o tema das árvores. Indicamos o livro de Dorothy Maclean, O Chamado das Árvores, e o filme “Um Doce Olhar”, que narra uma trama comovente na Turquia, numa paisagem densa de árvores... Neste Informativo, tendo em vista a ocasião do Dia da Árvore, prosseguimos nesta reflexão. Tenho sido crítica dos Projetos de Educação Ambiental que levam as crianças para plantarem árvores. E isso não raras vezes causa espanto em alguns colegas. Permita-me explicar o porquê, através de um exemplo. Conheço projetos que levam as escolas para plantar mudas de árvores. As crianças ficam em fileiras para plantar suas mudas. Talvez não saibam nem mesmo o nome daquela árvore. Vão embora. Não mais retornam aquele local. E os educadores saem com a sensação de que fizeram a sua parte. Acompanhei um grande projeto de reflorestamento, cujo impacto foi praticamente nulo ao longo dos anos. O que terá faltado? Somos marcados e atravessados por uma lógica colonialista que compreendeu a natureza como fonte de recursos e pilhagem, e que concebeu, com desconfiança, as civilizações originárias que aqui viviam e que mantinham uma relação de interação com a natureza. O desmatamento é uma das expressões desta lógica colonial. Desmata-se para se criar cidades. Desmata-se para se extrair madeira. Desmata-se para fazer pastos e áreas de plantio. Desmata-se para construir grandes condomínios. Desmata-se para “limpar” áreas. Desmata-se para produzir lenha (Lembro-me de um filme que assisti há algum tempo sobre o desmatamento numa região próxima, hoje de pura aridez). No filme, pergunta-se ao caboclo se ele não sentia remorso em derrubar árvores tão Boletim No. 9, Ano I

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21/9/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801

Alguns dedos de Prosa:

conversando sobre Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade

Este Informativo é uma

publicação semanal dedicada a

Educadores, cujos conteúdos

são de inteira responsabilidade

da autora. Seu objetivo é

formativo: oferecer subsídios e

reflexões em Psicologia,

Educação Ambiental, Cultura

da Paz e Espiritualidade, e

renovar o propósito rumo a

uma educação transformadora.

Vários jeitos de plantar árvores...

vários jeitos de preservar a vida!

No último Informativo começamos a refletir sobre o tema das árvores.

Indicamos o livro de Dorothy Maclean, O Chamado das Árvores, e o filme “Um Doce

Olhar”, que narra uma trama comovente na Turquia, numa paisagem densa de árvores...

Neste Informativo, tendo em vista a ocasião do Dia da Árvore, prosseguimos nesta

reflexão.

Tenho sido crítica dos Projetos de Educação Ambiental que levam as crianças

para plantarem árvores. E isso não raras vezes causa espanto em alguns colegas.

Permita-me explicar o porquê, através de um exemplo. Conheço projetos que levam as

escolas para plantar mudas de árvores. As crianças ficam em fileiras para plantar suas

mudas. Talvez não saibam nem mesmo o nome daquela árvore. Vão embora. Não mais

retornam aquele local. E os educadores saem com a sensação de que fizeram a sua

parte. Acompanhei um grande projeto de reflorestamento, cujo impacto foi

praticamente nulo ao longo dos anos. O que terá faltado?

Somos marcados e atravessados por uma lógica colonialista que compreendeu

a natureza como fonte de recursos e pilhagem, e que concebeu, com desconfiança, as

civilizações originárias que aqui viviam e que mantinham uma relação de interação com

a natureza. O desmatamento é uma das expressões desta lógica colonial. Desmata-se

para se criar cidades. Desmata-se para se extrair madeira. Desmata-se para fazer pastos

e áreas de plantio. Desmata-se para construir grandes condomínios. Desmata-se para

“limpar” áreas. Desmata-se para produzir lenha (Lembro-me de um filme que assisti há

algum tempo sobre o desmatamento numa região próxima, hoje de pura aridez). No

filme, pergunta-se ao caboclo se ele não sentia remorso em derrubar árvores tão

Boletim No. 9, Ano I

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menos contraditória é a lógica tributária das

Cidades, que se alimenta de

empreendimentos que caminham na

contramão da preservação ambiental, como

é o caso da arrecadação do IPTU, que

favorece o crescimento desordenado de

edificações, e o IPVA, que favorece a

circulação crescente de veículos. A lógica do

desmatamento é motor do sistema do

capital.

Mas quero voltar às crianças e a

uma prática de educação ambiental. Como

dizia o grande ecologista José Lutzenberger

(Política e Meio Ambiente, 1986, da Editora

Mercado Aberto), precisamos superar o

paradigma que nos faz “observadores da

centenárias. E ele responde: “meu senhor, eu

não pensava nas árvores, mas no leite das

minhas crianças”. São cenários capitalistas que

rivalizam formas de vida: árvore ou

sobrevivência dos filhos?).

Ainda que as taxas de desmatamento

na Amazônia estejam caindo (em 1994

desmatou-se 29 mil km² e em 2007 esta taxa

caiu para 9.600 km², no Ministério de Marina

Silva), não podemos nos iludir. Questões como

o novo Código Florestal exemplificam como as

grandes decisões relativas ao meio ambiente

são disputadas e decididas por lobbies, bem

longe de seus contextos, por representantes ou

donos de agronegócios, selando impactos

irreversíveis para o futuro do planeta. Não

Lutzenberger ainda dirá que as árvores são nossos “órgãos externos”, da mesma

forma que somos, para elas, seus “órgãos externos”.

da natureza”. Aprendemos que somos “sujeitos” e que todo o resto que nos circunda

são “objetos”. Nesta perspectiva, as árvores deixaram de ser nossas irmãs, protetoras

e sagradas, para se tornarem coisas, matérias-primas para a produção de madeira e

recursos. Desvestimos a natureza de sua sacralidade. Hoje, sabemos da importância

das árvores. Mas não conseguimos senti-las como nossas irmãs, sem as quais não

sobreviveremos.

O arquiteto Carlos Solano, idealizador da Campanha “Vamos Plantar

1.000.000 de árvores” (www.ummilhaodearvores.org.br), em sua coluna Casa Natural,

da Revista Bons Fluidos (junho de 2007), diz-nos que durante a sua vida, apenas uma

árvore é capaz de absorver 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2). Elas retêm

poluentes, liberam oxigênio e vapor d’água, purificando o ar e reduzindo o calor. E nos

alerta que o ar das ruas arborizadas têm 30% a menos de poluição. Lutzenberger nos

explica de maneira científica e poética o ciclo de interdependência da vida, onde

plantas e animais dependem uns dos outros. Ele nos diz que os processos da vida

animal sempre desembocam nas plantas. E isso por uma razão que ele chama de

muito simples: “a planta sabe fazer uma coisa que nenhum animal consegue fazer. A

planta domina a técnica - a ‘tecnologia’ como diríamos hoje – da fotossíntese” (...),

uma fábrica viva de produção sustentável de oxigênio e carboidratos, sem o qual não

vivemos, cujo combustível é a energia solar e o ar gás carbônico que precisamos

descartar para sobreviver e que as plantas precisam metabolizar para viver. Há muito

mais pontos de relação entre as plantas e árvores e nós, seres humanos. Os

catalizadores deste processo são, no humano, a hemoglobina, de cor vermelha, cujo

átomo diferencial é o ferro, e, nas plantas, a clorofila, de cor verde, cujo átomo

diferencial é o magnésio. Vermelho e verde são cores complementares. Lutzenberger

ainda dirá que as árvores são nossos “órgãos externos”, da mesma forma que somos,

para elas, seus “órgãos externos”.

Sugestões de Leituras

Excepcionalmente, sugiro e indico a visita e leitura do site www.ummilhaodearvores.org.br, do Projeto “Vamos plantar um milhão de árvores”, idealizado pelo arquiteto mineiro Carlos Solano, em parceria com Maria-Gabriele Wosien, PhD (Alemanha) e Kaká Werá (etnia Tapuia, Brasil). Segundo Solano, a proposta foi concretizada em 2006, quando a ONU propôs o plantio de 1 bilhão de árvores. Solano, que já tinha este sonho, reuniu-se voluntariamente com alguns parceiros, lançando “uma campanha que mostrasse ao grande público como as árvores são importantes para a saúde planetária, propondo o plantio (e o cuidado) de um milhão de mudas”. O si te contém textos, histórias, informações preciosas e um contador , onde podemos registrar nossos plantios. É importante fortalecermos esta Campanha e proposta, que pode e deve ser de todos nós, densificando esta energia radiante. O contador notifica: já são 1.724.214 mudas registradas. Pode ser muito maior!

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se envolver de vez com o filme. Até a próxima.

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Sugestões de Atividades

Encontrando sua Árvore

Protetora

(Atividade extraída do livro de Denise

Linn, Espaço Sagrado, 2007, Bertrand

do Brasil, p. 143).

Para Denise Linn, as árvores

são fonte de cura, força e luz. Elas são

pontos de contato de energia; pontos

de entrada para harmonias e

frequências de energia, graças à sua

capacidade de destilá-la e transmiti-la.

Uma árvore pode ser um potente

transmissor de saúde para sua casa e

todo o ambiente vizinho. Transmitem

fortes energias num raio de 1,5 km.

Ela ensina um método de

“chamar” a energia de uma árvore, de

trazer sua energia para harmonizar a

nossa casa, que pode ser feito com as

crianças e adolescentes nas Escolas.

Motive o outro a identificar e escolher

uma árvore com a qual possa se

conectar, seja em seu jardim, seja nas

redondezas de onde mora ou estuda.

É preciso cultivar o sentimento de

bem-estar que pode advir desta

relação de proteção. Enquanto

cuidamos dela, ela nos protege.

Antes, contudo, de motivar

o outro a encontrar a sua árvore,

encontre-a também a sua e

experimente a energia advinda desta

relação.

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O grande pensador contemporâneo das ciências, Edgard Morin, conta-nos

sobre uma experiência feita com árvores de uma mesma espécie, em um de seus

textos que busca refletir sobre a subjetividade da vida, numa visão complexa, que

reflete sobre a autoconsciência. Tal experimento acaba por atestar o grau de

comunicação e cooperação das árvores. Ele nos conta que cientistas desfolharam

uma árvore, para observar qual seria a sua reação metabólica. Imediatamente, ela

começou a secretar uma seiva de proteção para o controle de seus possíveis

predadores e para a o crescimento de novas folhas. Mas o que os cientistas não

previam, e se espantaram, foi o fato de que todas as árvores vizinhas a esta também

passaram a produzir a mesma seiva, ainda que nenhuma delas tenha tivesse tido

suas folhas arrancadas... Nessa linha os pesquisadores já perceberam que os

princípios ativos de uma determinada planta, dependem, em parte, do ambiente em

que ela vive e das relações que mantém com outras espécies.

Mas eu gostaria de, nesta reflexão, ir além das “funções” das árvores para

a vida humana. Afinal, nenhuma forma de vida deve ter importância em função de

uma outra. Todas as formas de vida têm dignidade em si mesmas, em sua existência.

E a tarefa de nossa forma de vida é aprender a compartilhar a existência respeitando

todas as outras formas. Assim, as árvores são muito mais do que as espécies que

podem reduzir o aquecimento global. Para os povos originários, as árvores tinham

alma, eram sagradas, protetoras e purificadoras da vida, grandes anciãs, algumas

com muito mais tempo de vida do que qualquer ser humano. Por isso os povos

antigos se comunicavam com as árvores, pediam permissão, perdão e

agradecimento, em caso de necessidade de derrubada de alguma. E se construíam

artefatos, estes eram diferentes dos “objetos” descartáveis das sociedades

capitalistas. Os povos originários não distinguiam o animado do inanimado. Tudo o

que existe tem vida e é animado. Distingue-se apenas através do tempo de vida, do

ciclo de duração. A importância destes saberes não é algo romântico, relativo um

passado perdido que precisa ser resgatado. Mas de um tempo presente, em que as

relações precisam ser ressacralizadas.

Denise Linn (Espaço Sagrado, 2007, Bertrand do Brasil), descente dos

índios Cherokee, nos fala sobre a alma e a consciência das árvores, compartilhada

pelas tradições antigas. Conta-nos que os povos Maori, da Nova Zelândia,

entristecem a cada vez que uma árvore é cortada, porque como tem alma, esta

retorna às estrelas, nos deixando mais pobres. Ela nos conta como a árvore, para o

xamanismo, pode ser um portal para outros estados de consciência, através de suas

raízes.

Acredito, neste sentido, que há várias formas de “plantar” árvores. A

primeira forma de plantio é buscar restabelecer os laços de amorosidade e

parentesco com as nossas irmãs-árvore, nossos “órgãos externos”, como disse

Lutzenberger. Cuidamos naturalmente dos nossos próximos e daquilo que amamos.

Redescobrir estes laços é um primeiro desafio. Uma segunda forma de plantio é

reintegrarmo-nos à paisagem natural a qual vivemos. Conhecer o que nos cerca,

quais são as espécies de árvores nativas, de nossas ruas, cidade, de nossa região.

Conhecer seus nomes, seus ciclos, suas lendas. Conhecer as árvores, ouvi-las com os

ouvidos colados em seus troncos, tocar suas folhas, texturas e troncos, contemplá-

las em suas formas e singularidade, conhecer seus ciclos, seus hóspedes visíveis

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Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

Primeiramente gostaria de agradecer o convite da querida amiga Maristela para fazer parte desta ideia cheia de informação, reflexão e acima de tudo sensibilidade, uma característica peculiar da nossa Stela. A proposta aqui será a de trazer pequenas sinopses e indicações de filmes de nacionalidades diferentes com o objetivo de possibilitar interações variadas com a imagem e as narrativas cinematográficas. Espero que gostem.

Nosso primeiro filme chama-se VERMELHO COMO O CÉU (2006), produção italiana, dirigida por Cristiano Bortone e que narra a vida de Mirco, um garoto de 10 anos de idade que vive na região da Toscana e é apaixonado por cinema. Após um acidente perde a visão e, rejeitado pela escola pública, é enviado para um instituto para cegos na cidade de Gênova. É neste ambiente, após a descoberta de um gravador, que começa a criar histórias sonoras que mudarão sentidos e paradigmas. Realizado com extrema sensibilidade – algo muito peculiar no cinema italiano – “VERMELHO COMO O CÉU”, traz a superação como possibilidade sempre real e por isso envolve o espectador de maneira única – assim como qualquer ser humano – diante das transformações, sejam elas vistas das mais variadas formas. Para finalizar, um pequeno registro para quem curte as curiosidades que envolvem as narrativas cinematográficas: a história do filme é baseada na vida real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica da Itália – o elemento que faltava para se

“A primeira forma de plantio é

buscar restabelecer os laços

de amorosidade

e parentesco com as nossas

irmãs-árvore (...)”

(insetos, plantas, pássaros), sua rede de vizinhanças (outras espécies),

abraçá-las e sentir a força deste contato... Aliás, nada é tão

desestressante como a entrada numa mata ou o descanso próximo a

uma grande árvore. Uma terceira forma de plantio é replanejarmos

nossas vidas, incluindo momentos e programas de contato com a

natureza e as árvores. Ir menos aos shoppings e aos locais fechados e

artificiais e mais à natureza. Por si este encontro tem uma força

terapêutica. Uma quarta forma de plantio é nos acercarmos de verde,

de plantas, de flores, de espécies de árvores que se adequem aos

nossos espaços e até aos nossos vasos. Tenho uma grande árvore da

felicidade dentro de minha sala... Se resgatarmos os laços de

parentesco com as plantas, se aprendermos a cuidar delas como

cuidamos de nós, acredito na Educação Ambiental como prática de

plantio de árvores. Árvores-irmãs, que precisam ser replantadas,

porque têm o direito de coabitarem este planeta, ao nosso lado, e que

nossos modelos de sociedade as suplantaram. Um plantio amoroso,

cuidadoso, que planta, que cuida, mas que também preserva e favorece

a vida em sua diversidade e que se opõe a este modelo econômico que

se alimenta do desmatamento. Mas não acredito numa prática

sensibilizadora de plantio de árvores que seja desconectada com o

amor universal à vida, sobretudo esta que se desenrola ao nosso lado,

nesta nossa espécie, também tão maltratada pelos donos do mundo.

Grande parte de nossos irmãos vivem em situação de miséria, de

exclusão, de preconceito, de sofrimento, vítimas de guerras. Imagens do

Servo Sofredor. Não é possível, a meu ver, amar as árvores sem que

reaprendamos a amar e respeitar os próprios irmãos e irmãs, cujas

dores já nem sequer sentimos e nos identificamos. Amar e fazer algo.

Porque não podemos ficar esperando o Estado, com seus slogans

humanitários de superação da miséria, resolver suas pendências de

corrupção, para cuidar efetivamente da Vida.

“Não é possível, a meu ver, amar as árvores

sem que reaprendamos a amar e respeitar os

próprios irmãos e irmãs, cujas dores já nem

sequer sentimos e nos identificamos”.

Sugestões de Filmes

Reinaldo José de Lima

([email protected])

“O ano em que meus país saíram de férias” (2006) é um

excelente representante da (recente) filmografia brasileira.

Dirigido por Cao Hamburger o filme narra a vida de Mauro,

um menino de 12 anos que sai de Minas Gerais com a

família para São Paulo. Lá seus pais saem em uma viagem e

o deixam com seu avô paterno, interpretado pelo ator

Paulo Autran. A viagem, na verdade, é uma fuga dos pais já

que fazem parte de um movimento de esquerda em plena

época da ditadura militar brasileira. Entre os momentos de

tristeza em estar longe dos pais e de outros problemas que

surgem durante a narrativa, Mauro também tem a

oportunidade de vivenciar novas experiências com seus

novos amigos em uma São Paulo com uma diversidade

ímpar e que, envolta pelo olhar infantil do menino torna a

narrativa ainda mais bela e comovente. O grande mérito do

filme está justamente em mostrar como uma criança é

afetada por toda essa situação ao qual está inserido. E

justamente a sutileza do filme está no olhar da criança para

tudo o que está ao seu redor, tanto bom quanto ruim. Para

os apreciadores do cinema brasileiro de qualidade um

exemplar que não pode faltar e para educadores (do 5º

ano do Ensino Fundamental em diante) um excelente

recurso para apresentar o período histórico que se

configura como pano de fundo para a narrativa e também

um excelente filme para possibilitar reflexões sobre a

diversidade cultural.

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VOCÊ SABIA?

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Uma Educação Ambiental precisa incluir essa sensibilidade e amorosidade em

relação a todas as formas de vida em sua pauta. Ações novas e efetivas dependem de

novas lógicas e sentimentos. E nesta perspectiva, o trabalho começa já em nós,

educadores ambientais, antes mesmo de criarmos pautas para os outros, para as

crianças e para o mundo. Termino com a história singela de uma amiga, educadora

ambiental, que com sua prática ambiental não apenas plantou árvores (já que contribuiu

voluntariamente para a formação de um corredor ecológico importante), mas vive

recriando a vida a partir do cotidiano:

Todos os dias, em seu percurso de trabalho, numa região rural, encontrava

uma família em situação de miserabilidade, no meio do nada, sem uma vegetação ao

redor, ainda que vivessem perto da terra. Sabia que algo precisava ser feito. Sabia que

nem o patrão do homem daquela família e nem mesmo o Estado estavam dispostos a

fazer algo imediatamente. Integralmente sensível, ela teve uma ideia. Aproximou-se da

família, com 5 crianças pequenas e esfomeadas, fazendo-lhe uma proposta, em nome de

um suposto projeto: que esta família plantasse as mudas que iriam receber no entorno

de sua casa e cuidasse delas. Em contrapartida, ganharia uma cesta básica para ajudar

na alimentação. Tal cesta, comprada com seu salário de professora, não era

convencional, como estas que vêm apenas feijão, arroz, óleo. Incluía sabonetes, pasta de

dentes, guloseimas para as crianças. Cada criança ia adotando uma árvore. Eram árvores

frutíferas: mangueiras, laranjeiras, jabuticabeiras, acerolas, abacateiros, pitangueiras. E

assim o processo se deu. Ela visitava a família, acompanhava a relação da mesma com o

crescimento das árvores, ajudava na alimentação e no que podia (buscava doações).

Este processo se deu por mais de um ano. Antes dela se mudar para outra cidade, houve

um processo de conclusão, de distanciamento, e um redimensionamento da questão da

miséria, já que se descobriram capazes de cuidar de algo que pode vislumbrar uma

sustentabilidade. Certo é que as árvores crescem ao redor da casa e muito em breve,

antes que estas crianças sejam adultas, eles poderão se alimentar com as frutas e vendê-

las, tendo em vista a manutenção de sua vida.

Cada um de nós, a cada dia, é desafiado pela vida e recebe um tanto de

convites como estes. Plantar árvores é um gesto de compromisso com a vida e com

todas as formas de vida!

Fotografias:

1) “Viuvinha”, no jardim da Pousada Vivenda (Tiradentes, MG)

2) Árvore no Centro Cultural Yves Alves (Tiradentes, MG)

3) Spa OCA (Oficina do Corpo e da Alma), de Stella Rebecchi (Araras, Petrópolis)

4) Arranjo de bolas de vidro e cerâmicas (casa de Marisol, Petrópolis).

Maristela Barenco Corrêa de Mello

Graduada em Teologia (ITF

Petrópolis), Psicologia (Universidade

Católica de Petrópolis), Mestre em

Educação (UERJ) e Doutora em Meio

Ambiente (UERJ). Formada em

Terapias Holísticas (ASBAMTHO).

Educadora social há 25 anos

Seção Cinema

Reinado José de Lima

Professor graduado em Pedagogia e

Coordenador Pedagógico do Centro

Educacional Canto de Criar – Areal

(RJ)

Maristela Barenco

Corrêa de Mello

(24) 2237-5801 [email protected]