ALINE VANIN -...

128

Transcript of ALINE VANIN -...

Page 1: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante
Page 2: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

ALINE VANIN

MUITO MAIS DO QUE AZUL

COR, EMOÇÕES E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social, habilitação

em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul,

apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador (a): Prof. Dr. Ivana

Almeida da Silva

Caxias do Sul

2017

Page 3: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

ALINE VANIN

MUITO MAIS DO QUE AZUL:

COR, EMOÇÕES E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Monografia de Conclusão do Curso de

Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da

Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Aprovado em: __/__/____

Banca Examinadora

_____________________________________

Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da Silva

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_____________________________________

Prof.ª Me.ª Candice Kipper Klemm

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_____________________________________

Prof.ª Me.ª Marliva Vanti Gonçalves

Universidade de Caxias do Sul – UCS

Page 4: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente aos meus pais, que me inspiram a ser uma boa

pessoa e crer que o futuro pode ser bom, que me apoiam em todos os passos da

vida e que com muita paciência, persistência e amor me fizeram ser quem sou.

Agradeço a minha irmã Denise, minha maior incentivadora. Acredito que as

pessoas estão nas nossas vidas para que possamos aprender com elas, e este é o

caso. Aprendi com ela e com meu cunhado, Ronaldo, dois seres humanos incríveis,

que persistir e lutar sempre valem a pena, que enquanto estivermos unidos todas as

dificuldades podem ser vencidas.

Aos meus amigos e colegas de graduação que muitas vezes foram tão

presentes e importantes como minha família. Um agradecimento especial à Juliane e

à Pamela, pelo companheirismo e apoio, pelos trabalhos em grupo e, principalmente

pelos ótimos momentos vividos durante esta caminhada. À Bárbara, minha

companheira de escrita deste trabalho e dos muitos outros durante os longos anos

que nossa amizade existe.

Aos meus professores incríveis, que me ensinaram e incentivaram a nunca

desistir. Em especial, a Prof. Ivana, minha orientadora desta pesquisa e minha

grande inspiração para o futuro.

A todos, que de uma forma ou outra, me inspiraram, me ajudaram a nunca

desistir e fizeram parte da minha formação, muito obrigada.

Page 5: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

“Quem não sonha o azul do voo, perde

seu poder de pássaro.”

Carl Jung

Page 6: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

RESUMO

O objetivo do estudo é descobrir como as cores traduzem emoções e apresentam

diferentes manifestações de sentimento no cinema contemporâneo. Para tanto, valemo-nos inicialmente da pesquisa bibliográfica, onde é encontrada a base teórica

necessária para dar andamento à análise fílmica apresentada ao final, onde são examinados filmes contemporâneos que apresentam a cor azul em suas paletas de cor. Desse modo, observa-se que cada filme analisado utilizou-se de uma

composição de cores diferente envolvendo o azul, trazendo às cenas destacadas emoções diferenciadas. Isso permite concluir que a cor azul possui significações

intrínsecas, a partir de suas combinações na tela do cinema, que expandem seu sentido inicial e conhecido por todos. Ao final podemos compreender melhor uma obra cinematográfica. A criação da imagem fílmica é algo complexo, que envolve

percepção, emoção, profissionais capacitados, tendo a cor papel fundamental na relação do espectador com a obra fílmica. Palavras-chave: Cor. Cinema Contemporâneo. Emoção. Significação. Azul.

Page 7: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Arte Barroca e Uso da Cor: Medusa de Caravaggio ...................................... 17

Figura 2 – Exemplo de logotipo facilmente identificável ........................................... 21

Figura 3 – Logotipo Coca-Cola ................................................................................. 22

Figura 4 - Primeiridade, Secundidade e Terceiridade: Coca-Cola .......................... 24

Figura 5 - Identificando um desenho animado pelas cores ...................................... 25

Figura 6 - Surgimento das emoções conforme a idade ............................................ 29

Figura 7 - Pôster de “Chegada de um Trem à Estação” .......................................... 32

Figura 8 - Películas pintadas à mão: filme Cinderella, 1899 .................................... 34

Figura 9 – Primeiro filme colorido ............................................................................. 35

Figura 10 – Cores que comunicam: La La Land e as estações ............................... 40

Figura 11 – Explorando a paleta de cores ................................................................ 42

Figura 12 - Antes, durante e depois de Angelina Jolie como “Malévola” ................. 45

Figura 13 – O quarto de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) ................. 46

Figura 14 - Correção de cor para o filme Dave (2016) ............................................. 48

Figura 15 – Notas musicais e cores análogas .......................................................... 51

Figura 16 – Frame de O Grande Hotel Budapeste (2014) ....................................... 53

Figura 17 - Pigmentos na pré-história: diversas cores eram aplicadas .................... 56

Figura 18 – Máscara mortuária de Tutancâmon ...................................................... 58

Figura 19 – A Mesquita Azul .................................................................................... 59

Figura 20 - Pôster de Blue (1993) ............................................................................ 62

Figura 21 - Pintura monocromática de Yves Klein ................................................... 63

Figura 22 - Frame do filme Blue (1993) .................................................................... 63

Figura 23 – Pôster de O Regresso (2015) ............................................................... 65

Figura 24 - Acorde Cromático: o distante ................................................................. 66

Figura 25 - O Regresso (2015): acorde cromático de “distanciamento” .................. 67

Figura 26 - Pôsteres de Azul é a Cor Mais Quente (2013) ao redor do mundo ....... 69

Page 8: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

Figura 27 - Acordes cromáticos: paixão e encanto .................................................. 70

Figura 28 - Azul é a Cor Mais Quente (2013): acorde cromático de “simpatia” e

“encanto” .................................................................................................................. 71

Figura 29 - Pôster de “Moonlight: sob a luz do luar” (2016) ..................................... 72

Figura 30 - Chiron conhece Juan e Teresa .............................................................. 75

Figura 31 - Acordes cromáticos de “confiança” e de “força” .................................... 75

Figura 32 - Chiron na escola .................................................................................... 76

Figura 33 - Acordes cromáticos de “passividade” e “introversão” ............................ 77

Figura 34 - O azul enquanto componente de cena .................................................. 78

Figura 35 - Acorde cromático de distanciamento ..................................................... 79

Figura 36 - Pôsteres de “Tron: uma odisseia eletrônica” e “Tron: o legado” ............ 80

Figura 37 - Acordes cromáticos de “inteligência”, “ciência” e “dinamismo” .............. 82

Figura 38 - Acorde cromático da “inteligência” ......................................................... 82

Figura 39 - Acorde cromático da “ciência” ................................................................ 83

Figura 40 - Acorde cromático de “dinamismo” ......................................................... 85

Page 9: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

1.1 METODOLOGIA ................................................................................................ 12

2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO ................................................................. 15

2.1 O QUE É COR? ................................................................................................. 15

2.2 COR E SUA RELAÇÃO COM EMOÇÕES E SIGNIFICADOS .......................... 19

3 COR E CINEMA .................................................................................................... 32

3.1 COR E CINEMA: RELAÇÃO HISTÓRICA ......................................................... 33

3.2 A COR E O CINEMA: LINGUAGENS ................................................................ 36

3.3 A ABORDAGEM DA COR ENQUANTO MATERIAL DE CENA ........................ 40

3.4 PREMIAÇÕES ................................................................................................... 52

4 MUITO MAIS DO QUE AZUL ............................................................................... 55

4.1 A COR AZUL ...................................................................................................... 55

4.2 O AZUL ENQUANTO RECURSO NARRATIVO ................................................ 60

4.3 ANÁLISE DE FILMES CONTEMPORÂNEOS ................................................... 61

4.3.1 O Regresso (2015) ....................................................................................... 64

4.3.1.1 Azul: perturbação e tristeza .......................................................................... 65

4.3.2 Azul é a Cor Mais Quente (2013) ................................................................ 68

4.3.2.1 Azul: aflição e inquietação ................................................ ............................ 69

4.3.3 Moonlight: sob a luz do luar (2016) ............................................................ 72

4.3.3.1 Azul: confiança, vergonha e incômodo ......................................................... 74

4.3.4 Tron: o legado (2010) ................................................................................... 79

4.3.4.1 Azul: interesse, curiosidade e inquietação ................................................... 81

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 88

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 91

FILMOGRAFIA ......................................................................................................... 96

ANEXO ..................................................................................................................... 97

Page 10: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

9

Page 11: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

10

INTRODUÇÃO

Há muito se conhece a importância das cores na vida dos seres humanos e

como elas estão presentes em todos os aspectos de nossa existência. As cores

começaram a ser utilizadas há milhares de anos atrás, inicialmente com o intuito de

representar a caça. As pinturas rupestres são a prova disso. Grandes filósofos,

como Aristóteles, pintores, como da Vinci e físicos, como Isaac Newton, foram

alguns dos responsáveis pelas teorias e conceitos mais antigos acerca das cores.

Existem muitas maneiras de nos expressarmos e diversos meios pelos quais

é possível fazê-lo. A exteriorização de sentimentos e emoções pode acontecer

através da fala, da escrita ou da simbolização de um objeto, por exemplo. As cores

são meios pelos quais, muito comumente, se demonstra um sentimento e, através

dos estudos semióticos é que somos capazes de compreender essa simbolização. A

semiótica é utilizada para que a simbolização de qualquer tipo de linguagem possa

ser interpretada e compreendida.

A cor está inserida em nossa vida de diversas formas e uma delas é no

cinema. O cinema foi uma grande revolução em termos comunicacionais, no início

mudo e preto e branco, mas com os grandes avanços tecnológicos e o decorrer dos

anos, tornou-se colorido.

Através da junção do estudo semiótico das cores com o cinema, este

trabalho propõe-se a responder a seguinte pergunta: como as cores traduzem as

emoções e apresentam diferentes manifestações de sentimento no cinema

contemporâneo?

Para que possamos compreender como esta manifestação de emoções

acontece e como as cores são capazes de manifestar estas emoções precisaremos

compreender primeiramente o que é a cor e como ela se manifesta através da

semiótica.

Precisaremos entender também como as cores são utilizadas pelos

profissionais envolvidos na produção do filme. O maquiador, o figurinista, o colorista,

os diretores geral e de fotografia possuem papel fundamental na empregabilidade

das cores em uma produção cinematográfica e, por isso, buscaremos descobrir

como este “mundo” funciona e qual a sua contribuição para o resultado final do filme.

Page 12: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

11

A fim de elucidar os questionamentos através de um estudo prático,

realizaremos a análise de filmes contemporâneos para que possamos entender

como as cores influenciam na tradução de emoções subjetivas.

Com o intuito de demonstrar o quão importantes são as cores para a

interpretação de sentimentos e emoções nos filmes contemporâneos, realizaremos o

estudo dos mesmos e buscaremos elucidar a questão de como a transmissão das

emoções ocorre.

Para que a explanação se dê de forma mais completa, os capítulos serão

trabalhados de forma a discutir todos os tópicos envolvidos na análise a ser

realizada na etapa final. Para isso, o segundo capítulo abordará os tópicos de cor,

emoção e significação, a fim de contextualizar a relação entre eles e fazer com que

o leitor esteja ciente de como funcionam em conjunto.

O capítulo três, tratará das cores e do cinema contemporâneo e de sua

relação de interdependência. O estudo analisará como, quando colocados juntos,

cor e cinema possuem significação distinta. Para explanar a ideia dos dois assuntos

sendo trabalhados em conjunto, trataremos também dos profissionais que estão

envolvidos na manipulação das cores e das escolhas envolvidas no fazer

cinematográfico. Além disso, também tratar-se-á da questão da linguagem do

cinema e das cores, como os dois trabalham em conjunto e dão ao espectador, de

forma subjetiva, mais informações sobre o mundo envolto nas cenas.

No quarto capítulo serão abordadas as análises dos filmes contemporâneos

e através delas buscaremos entender a relação das cores com o cinema e como, em

conjunto, os dois são capazes de transmitir ao espectador as emoções e

apresentam diferentes manifestações de sentido que estão subjetivas.

Os filmes escolhidos para a realização da análise foram os seguintes: O

Regresso (2015), Azul é a Cor Mais Quente (2013), Moonlight: sob a luz do luar

(2016) e Tron: o legado (2010). Para cada um dos filmes serão apresentados

sinopse, curiosidades sobre o mesmo, tais como os prêmios recebidos e,

posteriormente a análise, na qual trataremos sobre a paleta de cores e as emoções

relacionadas com as mesmas em frames retirados das obras através da análise de

seu conteúdo com auxílio de livros sobre os assuntos.

Page 13: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

12

1.1 METODOLOGIA

A fim de desenvolver a pesquisa proposta para este trabalho, faremos uso

de diversas técnicas de pesquisa com o intuito de entender a relação das cores com

o cinema e como juntos os dois transmitem ao espectador as emoções.

Para que possamos desenvolver os capítulos de forma mais concreta e para

que os mesmos contenham informações relevantes sobre cada tema, utilizar-nos-

emos da pesquisa em material bibliográfico proposto por grandes teóricos

relacionados aos assuntos e também em teses e dissertações de mestrado e

doutorado, que propõem visões mais atuais e arrojadas dos tópicos em questão.

Segundo Flick (2009, p. 23), as pesquisas bibliográficas consistem “[...] nas

reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo

de produção de conhecimento; e na variedade de abordagem e métodos” e, por

tanto são imprescindíveis para o bom desenvolvimento do assunto.

Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller,

importante escritora e cientista social alemã, responsável por estudo aprofundados

da psicologia das cores e como as mesmas afetam a vida das pessoas. Johann

Wolfgang von Goethe é outro exemplo, pois através de seus livros mudou a

percepção sobre as cores e tornou-se um dos mais importantes teóricos à escrever

sobre o assunto.

No campo do cinema e percepção de imagem, faremos uso dos

ensinamentos de Jacques Aumont, importante teórico francês que ainda publica

regularmente seus estudos e contribui para o avanço dos estudos na área. Christian

Metz, um grande teorizador do cinema, pioneiro do uso das técnicas semióticas em

seus estudos, também se fará presente, a fim de aprimorar os conceitos incluídos

nesta pesquisa.

Ao tratarmos especificamente da ciência semiótica, Charles Sanders Peirce

e Lucia Santaella serão nossos guias durante o percurso. Os conceitos a serem

aplicados e as bases teóricas a serem utilizadas partirão destes dois autores.

Santaella é uma das mais importantes divulgadoras dos estudos de Peirce e possui

importante contribuição para o estudo da significação.

Com o objetivo de trabalharmos as emoções e torná-las mais

compreensíveis e acessíveis para o espectador e para que possam enriquecer as

análises, farão parte de nosso estudo os ensinamentos cunhados por David Le

Page 14: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

13

Breton, antropólogo francês, renomado teórico da área e José Maria Martins, teórico

que examina a fundo os principais estudos e pesquisas atuais sobre as emoções,

oferecendo uma visão panorâmica e integrada dos diversos campos que o estudo

das emoções pode tomar.

Para realização das análises das imagens fílmicas, escolhemos trabalhar

com filmes contemporâneos que sejam datados do ano de 2010 até agora, a fim de

que a discussão contemple um olhar sobre o cinema contemporâneo, foco de nosso

problema de pesquisa, organizando nosso olhar.

Para que a análise venha a se tornar mais abrangente no campo das

emoções, decidimos então escolher filmes que fiquem dentro da faixa de tempo

proposta e que tenham em suas paletas de cor o azul como uma das cores que mais

se destaca. A escolha de uma única cor para a análise final das cenas deu-se um

função da busca de um olhar diferenciado sobre a discussão das cores no cinema,

uma vez que pesquisas preliminares demonstraram, já na época do projeto, que os

trabalhos que discutiam as cores no cinema, o faziam sem dar foco em uma delas,

tratando-as como um conjunto. O estudo proposto, surgiu com o objetivo de analisar

a cor azul inserida nos filmes contemporâneos afim de avaliar como uma única cor

pode apresentar diversas significações em diferentes inserções.

A análise a ser realizada se baseia no livro “Psicologia das Cores: como as

cores afetam a razão e a emoção” (2004), escrito por Eva Heller com base em

pesquisas e entrevistas. O livro aborda as cores que estão em conjunto, formando

um acorde cromático e mostra-nos como elas atuam de forma composta a fim de

expressar uma emoção.

Para que possamos complementar as constatações obtidas através do

pensamento de Heller, faremos uso dos registros de José Maria Martins em seu livro

a “Lógica das Emoções: na ciência e na vida” (2004), um estudo realizado pelo autor

que aprofunda as emoções e faz com que possamos relacioná-las uma com as

outras a fim de que surjam novos sentimentos.

As imagens extraídas dos filmes são escolhidas com base nas paletas de

cores, visto que a análise baseia-se justamente nas cores que foram utilizadas na

montagem dos cenários. De acordo com Aumont (2004, p. 78) “a produção de

imagens jamais é gratuita, e, desde sempre as imagens foram fabricadas para

determinados usos” e, sendo assim, as imagens selecionadas compreendem um

determinado espaço que dá sentido à análise a ser feita.

Page 15: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

14

Page 16: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

15

2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO

As cores estão ao nosso redor de forma ininterrupta, pois estão em todos os

fenômenos que nos cercam, tais como os alimentos, a natureza, os animais, os

objetos, as roupas, etc. E é através desta vasta quantidade de diferentes

apresentações que mostram a sua riqueza e cativam o olhar, fazendo com que cada

vez mais descubramos formas de replicá-las e inserir em mais e mais objetos.

Através da tecnologia, que muito avançou nos últimos anos, podemos citar o

cinema como um exemplo de uso das cores. Em seu “nascimento” e durante um

longo período, o cinema era preto e branco, mas a inconformidade de produtores

que queriam sempre mais e mais, deu origem às películas pintadas a mão, trazendo

cores sutis às cenas que eram apresentadas. Com o passar dos anos e o aumento e

desenvolvimento da tecnologia, o cinema ganhou cor. Hoje, as cores possuem tanta

importância no mundo cinematográfico que acabam ganhando destaque nas cenas,

passam a ter papel fundamental na ação que está acontecendo e, através delas,

pode-se compreender mensagens subliminares, que estão ali para que sejam

desvendadas pelos espectadores justamente com a ajuda das cores aplicadas.

Segundo Goethe (1993, p. 37) “cada olhar envolve uma observação, cada

observação uma reflexão, cada reflexão uma síntese [...]” e as cores apresentam-se

como parte destas observações, reflexões e sínteses, pois influenciam na formação

de opiniões através da construção cênica em que foram colocadas, gerando

emoções e significações.

As emoções e as significações andam juntas quando tratamos das cores. Ao

pensarmos na significação de uma cor, estamos pensando diretamente no efeito que

a mesma causa em seu receptor, ou seja, na emoção que ela provoca na pessoa

que está enxergando-a.

2.1 O QUE É COR?

A cor pode ser definida como um acontecimento físico, visto que é formada

pelos raios de luz que atravessam a pupila humana e penetram o sistema ótico

dando origem, através da ação do cérebro, às cores que vemos. Para Goethe (1993,

p. 45), “a cor é um fenômeno elementar da natureza para o sentido da visão”, pois a

Page 17: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

16

natureza gera a cor e a “envia” para o olhar, que o mistura, funde, intensifica e

neutraliza, formando assim, as cores que enxergamos.

Apesar das cores serem formadas em nosso cérebro, na maioria das vezes

depreendemos que as mesmas são propriedade e/ou qualidade dos objetos. Foi

Isaac Newton, em 1704, em sua obra “Opticks”, que definiu que as cores são

resultados das variações dos raios de luz em detrimento da reflexão e da absorção

dos mesmos por parte dos corpos.

Em 1810, surge a contestação das ideias newtonianas e a nova, e mais bem

aceita, teoria sobre a origem das cores.

As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos esperar

delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que assim quer se revelar ao sentido da visão

(GOETHE, 1993, p. 35).

Na teoria de Goethe (1993), além dos objetos naturais (natureza), ainda são

citados dois outros importantes fatores para a construção do conceito de cor: a visão

e a sensibilidade individual, ou seja, cada pessoa vê de acordo com seu ânimo.

De acordo com Guimarães (2004), o conceito mais bem aceito atualmente é

o de Schopenhauer, seguidor e, ao mesmo tempo, contestador das ideias de

Goethe. Jacques Aumont (2004) e alguns outros teóricos seguem esta mesma

concepção: “a cor não está ‘nos objetos’, mas sim ‘em’ nossa percepção”.

De qualquer forma, desde os mais remotos tempos as cores já se faziam

presente na vida dos seres humanos, como é possível perceber através das pinturas

rupestres, que datam do período Paleolítico e eram utilizadas para planejar ataques

e caçadas a animais.

Desde as antigas civilizações, como na China, Índia e Egito, por exemplo,

acreditava-se que as cores possuíam diferentes simbologias, e estavam mais para a

necessidade psicológica do que para a estética (FARINA, 1990) e, por isso, eram

utilizadas para embelezar e ornamentar príncipes, reis, imperadores e sacerdotes.

Quanto mais atrativa aos olhos e mais rara fosse a cor, mais atributos ela possuía e

mais aumentava sua necessidade de ser utilizada por um nobre.

Para as artes visuais, a cor é peça indispensável, pois ela fundamenta e

ajuda o autor a expressar-se. Para Farina (1990, p. 23) “[a cor] é o fundamento da

expressão. Está ligada à expressão de valores sensuais e espirituais” e, por este

Page 18: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

17

motivo, está intimamente ligada à arte e é considerado elemento individualizador da

obra artística, pois cada artista a utiliza de forma particular e renova sua importância

na arte.

Por se tratar de uma condição, ou seja, cada cor possui uma determinada

simbologia, elas acabam por tornar-se marcos de diferentes épocas. Os períodos da

arte podem ser utilizados como exemplos disso. A Arte Barroca1, considerada como

um dos mais importantes movimentos da história da arte ocidental, fazia uso das

cores para dar ideia de emoções exageradas ou mesmo dramaticidade e eram

empregadas com intuito de evocar texturas às pinturas.

Figura 1 - Arte Barroca e Uso da Cor: Medusa de Caravaggio

Fonte: <http://www.uffizi.com/painting-medusa-uffizi-gallery.aspx>. Aceso em 21 nov.

2017.

Estes diversos exemplos de aplicações nas antigas civilizações e estes

grandes estudiosos buscando conceituar da melhor maneira possível para seu

1 A arte barroca a arte é a arte desenvolvida no século XVII. As obras dos artistas deste período mostram certa tendência ao bizarro, ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, inexistente até então na arte renascentista. O artista barroco compreende a natureza como infinita e para expressar tal sentimento utiliza recursos como contrastes abruptos de luz e sombra, manchas difusas de cores, passagens súbitas entre primeiro e segundo planos, diagonais impetuosas, au sência de simetria. A questão da veracidade do instante representado se dá na arte barroca pelo apelo à emoção do espectador, por isso as contorções exageradas dos corpos e rostos e os efeitos irreais de luz e sombra são alguns dos recursos teatrais utilizados para convencer (in: ENCICLOPÉDIA Itaú

Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2017).

Page 19: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

18

tempo a origem e a formação das cores são úteis como exemplo para provar a

onipresença das mesmas.

Diversas ciências tornaram as cores seu objeto de estudo pois as mesmas

nos cercam por todos os lados. Sua presença pode ser aferida nas atividades da

vida cotidiana, nos esportes, na política, na religião. Elas podem ser usadas para

comunicar e essa comunicação se dá de forma verbal e não-verbal, através de

manifestações artísticas, como nas pinturas, por exemplo.

Para abarcar as definições de todos os grandes nomes que já se

debruçaram sobre este tema e fornecer um conceito que seja abrangente e

satisfatório, Guimarães (2004, p. 12) define que “a cor é uma informação visual,

causada por um estímulo físico, percebido pelos olhos e decodificado pelo cérebro”,

onde cada parte da formação do conceito recebe uma definição.

O estímulo físico, ou o meio, carrega consigo a materialidade de uma das fontes, ou causas da cor [...]. O cérebro - e o órgão da visão como sua extensão - é o suporte que decodificará o estímulo físico, transformando a informação da causa em sensação, provocando, assim, o efeito da cor

(GUIMARÃES, 2004, p. 12).

O órgão da visão é o responsável por permitir ao homem uma conexão entre

o mundo exterior e o interior de si mesmo: “os olhos são as janelas da alma”, diz

Leonardo Da Vinci (1452-1519). É através dos olhos que reconhecemos o mundo ao

nosso redor, é através deles, em conjunto com o cérebro, que identificamos as

cores.

A influência cromática encontrada no mundo varia de cultura para cultura.

Cada povo, país, religião se identifica e trabalha com as cores de uma forma

diferente.

Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo

vermelho pode ter efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo salutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante. Em que consiste o efeito especial?

Nenhuma cor está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada efeito intervêm várias cores – um acorde cromático (HELLER, 2004, p. 17).

Segundo Heller (2004), as cores também funcionam em grupo e variam de

significado de pessoa para pessoa. Além de tudo, as cores ainda servem como

Page 20: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

19

fornecedoras de informações e podem ser separadas em relações taxionômicas e

relações semânticas. As taxionômicas possuem princípios de organização, por isso,

destacam, hierarquizam ou direcionam; enquanto as semânticas possuem a função

de simbolizar, denotar, conotar (GUIMARÃES, 2003).

Essas funções são expressas de acordo com o emprego das cores em

diferentes funções. A função taxionômica é utilizada enquanto meio para que o

receptor entenda que existe uma certa mensagem a ser entregue, pois destacam

uma parte do que está escrito.

Enquanto isso, as semânticas, variam de acordo com o campo em que as

cores estão inseridas. Por exemplo, no jornalismo servem para exaltar, chamar a

atenção do leitor para algum fato importante que está sendo noticiado. Geralmente,

os jornais trazem quadros explicativos sobre um assunto com cores que se

relacionem ao tema, pois, de acordo com Guimarães (2003, p. 29), “a simples

organização de informações por meio de cores pode também transferir significados

e valores para cada grupo de informações” e, sendo assim, cada cor será atribuída à

uma divisão pré-estabelecida geralmente pela cultura popular, como é o caso, por

exemplo, do azul e vermelho para os universos masculino e feminino.

As cores podem ser encaradas de diversas formas, cada qual com sua

particularidade. Estas diferentes visões e convenções sobre as cores, fazem com

que pensemos sobre e ponderemos como elas estão infiltradas em nossa vida e

como somos incapazes de tirá-las ou separá-las de nossa existência.

2.2 COR E SUA RELAÇÃO COM SIGNIFICADOS E EMOÇÕES

Há muitos séculos as cores vêm sendo usadas com diversos propósitos, e

mesmo nas civilizações mais antigas já eram símbolos, já estavam ligadas a um

sentido psicológico (FARINA, 1990). As antigas civilizações faziam uso das cores

pois acreditavam que as mesmas traziam consigo boas energias e tinham

significados positivos.

Os artistas, principalmente os pintores, faziam uso das cores com o intuito

de demonstrar cargas emotivas e psicológicas e passar para o interlocutor o estado

de espírito em que se encontrava ao pintar.

Goethe em “A Doutrina das Cores” (1993), fala de como as cores possuem

capacidade de significar, que cada cor produz um efeito específico em cada ser

Page 21: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

20

humano, que as mesmas podem ser usadas em diferentes relações, sejam elas

alegóricas, simbólicas ou míticas. Por alegóricas, o autor refere-se ao significado

que deve ser transmitido, por simbólicas, sua consonância com o efeito, seu

verdadeiro significado e, por místicas, sua relação com a linguagem para exprimir

relações primordiais.

“As pessoas em geral sentem grande prazer com a cor. O olho necessita

dela tanto quanto da luz”, diz Goethe (1993, p. 128), os seres humanos já estão

habituados a buscar nas cores informações. Por exemplo, a área médica, que faz

uso da cor vermelha, principalmente, como sinal de atenção ou perigo. E o mesmo

com placas que indicam perigo em casos como os de produtos químicos ou

eletricidade.

O indivíduo que recebe a mensagem expressa pela cor, sofre três diferentes

tipos de influências: a de impressão, a de expressão e de construção (FARINA,

1990). A impressão acontece quando a cor é vista, pois a retina a identifica. A

expressão se dá através da provocação de uma emoção ou sentimento. E a

construção acontece com a compreensão da ideia que está sendo comunicada pela

determinada cor.

Uma cor pode nos informar sobre inúmeros fatos, mas o nível de

compreensão dessa informação variará de acordo com o receptor, pois o mesmo

pode não conhecer o contexto do uso desta cor enquanto meio de informação, pode

não saber que o uso dela se dá como sendo um signo.

A cor influencia tudo o que encontramos, moldando a nossa percepção por acidente ou de maneira intencional. Ela pode comunicar interações complexas de associação e simbolismo ou uma simples mensagem mais

clara que as palavras (FRASER, 2012, p. 6).

As reações provocadas pelas cores não se restringem a um determinado

período de tempo. Não existem barreiras capazes de deter a mensagem que a cor

“deseja” informar. Em qualquer parte do mundo, a cor é um elemento de peso.

Existem diversos campos onde é possível citar o uso da cor enquanto

artifício, e na maioria das vezes, a cor possui uma determinada significação. O uso

das cores em logotipos é um exemplo disso. É o caso das grandes marcas, as de

renome internacional. Os logotipos estão tão presentes em nossas vidas que,

Page 22: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

21

instantaneamente, identificamos a qual marca determinadas cores são pertencentes,

mesmo que seus nomes tenham sido deixados de fora do logotipo.

Figura 2 - Exemplo de logotipo facilmente identificável

Fonte: <https://www.visitnacogdoches.org/listing/mcdonalds/100//>. Acesso em: 13 out. 2017.

Um retângulo vermelho e dois arcos dourados são facilmente reconhecidos

como pertencentes à empresa de fast-food McDonald’s. Mundialmente famosos, os

hambúrgueres servidos pela rede de lanches, estão presente na mente das pessoas

e isso faz com que as cores características da marca remetam com facilidade à ela.

Ainda considerando as marcas famosas, podemos pensar na Coca-Cola e

no uso da cor vermelha. Desde o início da marca, o vermelho foi utilizado, mas foi

em 1948 que a marca adotou o disco vermelho com as escritas na cor branca.

Page 23: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

22

Figura 3 - Logotipo Coca-Cola

Fonte: <http://www.cocacolabrasil.com.br/historias/conheca-os-130-anos-da-evolucao-do-logotipo-da-coca-cola>. Acesso em 23 jul. 2017.

O chamado “vermelho Coca-Cola” não está em nenhuma escala de cores,

mas é reconhecido pelas pessoas sem nenhuma dificuldade. James Sommerville,

vice-presidente de Design Global da Coca-Cola, considera o uso da cor vermelha a

“segunda fórmula secreta” da empresa2. É impressionante como o uso da cor

remonta ao ícone da marca, pois quando se vê um disco vermelho na frente de uma

loja, já se sabe que naquele local poderá encontrar uma Coca-Cola.

Esta associação da cor com a marca pode ser explicada através da

semiótica. A semiótica é uma ciência relativamente nova e seu nome possui origem

grega (“semeion”), que quer dizer signo. Esta ciência estuda todos os tipos de

linguagens existentes e busca entender os signos que estão presentes nos mais

diversos campos da vida social dos seres humanos.

Segundo Santaella (2003, p. 1) “semiótica é a ciência dos signos [...], a

ciência geral de todas as linguagens”. Ao falarmos das linguagens estudadas pela

semiótica, é importante ressaltar que não são apenas as verbais ou escritas, mas

também uma extensa lista de formas sociais de comunicação como a música, a

televisão, o cinema, os gráficos, os gestos, etc.

O pensamento semiótico foi consagrado como um aspecto de extrema

importância para a investigação das linguagens (SANTAELLA, 2003) que há muito

vinham sendo utilizadas. Charles Sanders Peirce, considerado pai dos estudos

semióticos, foi um grande incentivador das pesquisas neste campo. Suas definições

são, até os dias de hoje, de grande importância para os estudos desta área.

2 Informações retiradas do site oficial da marca. Disponível em: <https://www.cocacolaportugal.pt/historias/a-hist-ria-da-nossa-segunda-grande-f-rmula-secreta-a-cor-

vermelha>. Acesso em 14 out. 2017.

Page 24: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

23

Os estudos de Peirce resultaram em classificações dentro do estudo da

semiótica conhecidas como primeiridade, secundidade e terceiridade. Estas três

categorias resultam nas modalidades de apreensão de todo e qualquer fenômeno e

através de sua “apreensão-tradução” é possível que identifiquemos o processo de

entendimento da simbologia do fenômeno em questão (SANTAELLA, 2003).

A primeiridade se apresenta como a primeira apreensão de consciência que

ocorre no cérebro ao ser ligado ao fenômeno. É chamado por Peirce de “qualidade

de sentimento”, pois segundo Santaella (2003, p. 10) “a qualidade de sentir é o

nosso modo mais imediato [...]”.

A secundidade ocorre ao tomarmos consciência do fenômeno, torná-lo real

torna-o parte do “segundo”. De acordo com Santaella (2003, p. 10), “certamente

onde haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade. Mas a

qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem

de estar encarnada numa matéria”.

A terceiridade é resultado da junção do primeiro com o segundo, que resulta

na elaboração e compreensão de uma simbologia, de um signo. Para Santaella

(2003, p. 11), “[é a] camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através

da qual representamos e interpretamos o mundo”.

As três classificações podem ser melhor expressas através de um exemplo,

representado na figura 5: temos a família de ursos polares, personagens tradicionais

das propagandas da Coca-Cola.

A primeiridade é representada pelo sentimento de afeto que existe

representado na imagem e, além disso, as cores utilizadas, o branco e azul, ainda

dão a ideia de um ambiente frio. A secundidade acontece com a identificação de que

a família de ursos está reunida, tornando “material” o afeto da primeiridade. E a

terceiridade acontece com o entendimento de que a Coca-Cola está sendo tomada e

compartilhada entre as diferentes gerações, formando uma espécie de tradição de

família, além de fazer valer as cores da primeiridade, dando a ideia de que o produto

deve ser consumido gelado.

Page 25: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

24

Figura 4 - Primeiridade, Secundidade e Terceiridade: Coca-Cola

Fonte: <https://www.lsa-conso.fr/coca-cola-fait-revivre-son-ours-blanc,136228>.

Acesso em 14 out. 2017.

Goethe (1993, p. 129), diz que “a experiência nos ensina que cores distintas

proporcionam estados de ânimo específicos” e por isso, podemos entender que as

cores podem sofrer variações nas suas significações dependendo de como o

indivíduo está se sentindo no momento.

[...] percebemos que a cor, em suas manifestações mais gerais e elementares [...], produz sobre o sentido que lhe é mais adequado, a visão, e, por meio deste, sobre a alma, um efeito que, isoladamente, é específico

[...] (GOETHE, 1993, p. 128).

A variação no significado da cor também pode ser observada nas diferentes

culturas ao redor do mundo. As emoções a serem provocadas podem ser

influenciados pelo meio cultural no qual esta pessoa está inserida, visto que, o que

possui um enorme significado para um ocidental, não significa nada para um

oriental.

Exemplo muito interessante disto, é a cor que representa o luto. Na Índia, o

branco é esta cor, uma mulher ao ficar viúva só pode usar roupas brancas, já no

ocidente o preto é a cor relacionada a este sentimento. Diferentemente da Índia,

mesmo sendo viúva, uma mulher pode usar todos os tipos e cores de roupas.

Segundo Fraser (2012, p.13), “vincular um conceito a uma cor ajuda-a a

carregar todas as significações que queremos que ela contenha - “sangue-azul”,

Page 26: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

25

“ameaça-vermelha”, “revolução-verde”.”, através de simples expressões podemos

perceber a real importância e a grande presença das cores em nosso meio. Por isso,

é possível argumentar que quanto mais vermos uma determinada cor que está

relacionada a determinado objeto ou personagem, mais facilmente nos lembraremos

dele, como é o caso do exemplo apresentado na figura 5:

Figura 5 - Identificando um desenho animado pelas cores

Fonte: <http://lounge.obviousmag.org/advibe/2014/03/as-melhores-aberturas-de-os-

simpsons.html>. Acesso em 23 jul. 2017.

Os Simpsons são uma série de comédia americana, que está desde 1989 no

ar e divertiu muitas gerações de crianças, adolescentes e adultos. O seriado retrata

de forma satírica a vida de uma família de classe média em uma cidade fictícia onde

tudo pode acontecer. O grande diferencial da série, fica por conta do humor negro

trabalhado de forma irônica em relação à cultura e a sociedade americana, a

televisão e diversos aspectos da condição humana.

A série chama atenção pela caracterização de seus personagens, pois todos

são amarelos e isto acontece porque o criador, Matt Groening, queria que sua mais

nova criação se destacasse perante os demais desenhos que já estavam em

exibição, queria que “Os Simpsons” tivessem algo que os tornassem únicos.

Segundo o próprio Groening, a cor foi escolhida por ser diferente de todas as

outras cores de desenhos animados que já existiam: “quando você está passando

Page 27: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

26

pelos canais com o controle remoto, e um 'flash' amarelo aparece, você sabe que

está assistindo aos Simpsons”, disse Groening em entrevista à BBC3.

De acordo com Heller (2004), o amarelo é uma cor chamativa, brilhante,

criativa e alegre, por isso, além de visíveis, como pretendia Groening, o amarelo dos

Simpsons os torna mais visíveis, mais divertidos e mais radiantes, o que os faz

serem facilmente reconhecíveis e lembrados.

Personagens de desenhos animados são somente um dos diversos

possíveis exemplos que seriam facilmente encontrados para demonstrar a

lembrança que a cor é capaz de provocar em um espectador.

Ainda segundo Fraser (2012, p. 6) “ao longo de toda a história, nossas

posturas diante da cor - pessoais ou profissionais - foram moldadas por gostos e

normas vigentes” e por isso, podemos inferir que as cores funcionam como um

gatilho que ativa memórias e faz com o indivíduo relembre algo que já tenha visto e

que seja relacionada a mesma.

A natureza, nas suas mais diversas formas, faz uso das cores como

elemento. O exemplo mais comum, é a camuflagem. Animais, como os camaleões,

fazem uso desta técnica para proteger-se de predadores. Mas no reino animal,

também podemos encontrar aqueles que fazem uso de suas plumagens ou

penugens com o intuito de chamar atenção.

As fêmeas, no período de acasalamento, buscam por seus parceiros e

sempre dão preferência aos machos que possuem penugens mais coloridas.

Segundo Darwin, em seus Estudos de Seleção Natural, que aconteceram durante o

período de1832 até 18444, isso se dá pois quanto mais colorido mais forte seria sua

linhagem genética. Podemos assim perceber que mesmo os animais, percebem

certa significação nas cores.

Placas de trânsito dizem o que fazer sem o uso de palavras e todas as

pessoas as obedecem, pois são signos que indicam a necessidade ou proibição de

determinada ação no trânsito. As placas vermelhas indicam proibição, as amarelas,

atenção e as azuis, são informativas.

3 Informações retiradas de artigo do Jornal Estadão. Disponível em:

<http://emais.estadao.com.br/noticias/tv,ha-uma-explicacao-cientifica-para-os-simpsons-serem-amarelos,70001754358>. Acesso em: 14 out. 2017. 4 Informações disponíveis em: <https://www.khanacademy.org/science/biology/her/evolution-and-

natural-selection/a/darwin-evolution-natural-selection>. Acesso em 21 out. 2017.

Page 28: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

27

É possível exemplificar ainda que, ninguém interpreta um carro vermelho

como sendo sinônimo de parada, muito pelo contrário, a lataria vermelha é vista

como indicativo de velocidade. Ainda tratando de trânsito, os táxis são, em muitos

lugares do mundo, amarelos por um motivo muito específico: a cor é facilmente

reconhecível e pode ser avistada de longe em meio ao fluxo de veículos, tornando o

reconhecimento perante os demais automóveis nas metrópoles cinzentas com maior

facilidade.

A cromoterapia, segundo Gaspar (2002), é utilizada com o intuito de curar

doenças e se vale do estudo psicológico das cores e como elas influenciam as

pessoas nas mais diversas áreas da vida. Cada cor possui diferentes significados,

como por exemplo, o vermelho, instiga, o verde representa a vivacidade e o amarelo

é uma cor alegre e cheia de particulares. Esta técnica é utilizada desde as primeiras

civilizações, novamente reforçando o conceito de que as cores fazem parte da vida

das pessoas desde o início.

Segundo Fraser (2012, p. 20), “todas as teorias da cor são, em algum

sentido, teorias da linguagem, e o modo como “falamos”, “ouvimos” ou “lemos” as

cores nos revela muito sobre a maneira pela qual entendemos o mundo”. Analisando

as palavras do autor, podemos perceber novamente como a cultura na qual estamos

inseridos influencia nossa percepção de mundo e influencia também como vemos os

significados que estão inseridos em nosso cotidiano, como é o caso das cores.

As significações são subjetivas e variam de acordo com o meio social e

cultural em que o indivíduo está inserido. Para Le Breton (2009, p. 9), “as

percepções sensoriais, ou a experiência, e a expressão das emoções parecem

emanar da intimidade mais secreta do sujeito [...]”, ao analisarmos as palavras do

autor, podemos inferir que cada ser humano possui sua própria impressão perante

determinada significação, o que acaba por gerar diferentes emoções.

De acordo com Le Breton (2009, p. 11), “as emoções nascem de uma

avaliação mais ou menos lúcida de um acontecimento presenciado por um ator

provido de sensibilidade própria”, ou seja, cada emoção apresentada por uma

pessoa provém de uma situação pela qual ela passou e é um artefato que acontece

sem a percepção ou aprovação do indivíduo que está “sofrendo” a emoção.

Page 29: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

28

As emoções acontecem independente da vontade ou concordância de quem

as sofre e as mesmas podem ser geradas através da observação das cores em

objetos, por exemplo.

Mas o que são as emoções? Segundo Martins (2004, p. 23) “são reações

globais, inatas e passageiras que tem uma função específica na vida de cada ser”.

Desde muito cedo passamos a manifestar emoções e as manifestaremos durante

todo o período de vida. No século XIX, as emoções eram consideradas distúrbios

que afetam as pessoas, mas com o passar dos anos e os estudos de diversos

teóricos compreendeu-se que, na realidade, elas são manifestações da mente e

podem ser boas ou ruins.

Na figura 6, desenvolvida por Martins (2004) é possível acompanhar o

desenvolvimento das emoções segundo a idade e, também, identificar que as

mesmas são divididas em três diferentes grupos. As proto-emoções estão

relacionadas com o bebê, pois são relativas às funções primárias. Quando a criança

ainda é dependente, tais como segurança e proteção. As emoções básicas são

reações globais que não estão ligadas a partes específicas do corpo e são subjetiva

e qualitativamente diferentes de todas as outras emoções, ou seja, não podem ser

subdivididas em outras emoções. As emoções combinadas são resultados da

ativação simultânea de vários mecanismos e funções que geram variações e novas

emoções.

Page 30: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

29

Figura 6 - Surgimento das emoções conforme a idade

Fonte: A Lógica das Emoções na Ciência e na Vida (2004, p. 30).

As emoções podem ser desencadeadas de diversas formas, e uma delas é

através da significação das cores. As significações são atribuídas através de

instituições antigas e podem ser explicadas através da teoria semiótica.

As cores são parte importante da vida dos seres humanos e as mesmas

possuem fundamentalmente significações atribuídas por diversas gerações e

culturas que, ao longo do tempo, foram percebendo sutilezas e características em

cada uma delas e, assim, concedendo significados e sentidos distintos as mesmas.

A semiótica busca estudar estes significados e desvendar os significados que foram

“escondidos” durante anos.

Nas profissões que trabalham diretamente com cores, como designers,

arquitetos e decoradores, a significação das cores também é muito importante. As

cores afetam as emoções das pessoas, então é necessário que se leve isso em

conta ao pintarmos ambientes, por exemplo, para que elas não afetem o estado de

espírito de quem os vê. Os profissionais que trabalham diretamente com as cores,

Page 31: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

30

precisam estar atentos às significações que cada cor denota, para que esteja hábil a

utilizá-las da melhor forma.

Page 32: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

31

Page 33: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

32

3 COR E CINEMA

Foi em 28 de dezembro de 1895 que aconteceu o que, geralmente, é

considerada como a primeira exibição cinematográfica da história. Ocorrida em Paris

e orquestrada pelos Irmãos Lumière, nesta data fora exibido um único filme, de

cinquenta segundos de duração, chamado de “L'Arrivée d'un train en gare de La

Ciotat” ou “A Chegada de um Trem à Estação”. Nascera ali o cinema.

Figura 7 - Pôster de “Chegada de um Trem à Estação”

Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt0000012/mediaviewer/rm3743353088>. Acesso

em 06 ago. 2017.

O invento dos Lumière fora batizado de “cinematógrafo” e fora inspirado em

nas engrenagens de uma máquina de costura. Seu funcionamento era manual,

através de uma manivela.

Diz a lenda que durante a exibição do filme sobre a chegada do trem, as

pessoas que estavam presentes, ao verem a locomotiva se aproximando cada vez

mais, começaram a correr e fugir do teatro, pois estavam com medo de serem

atropeladas pelo mesmo. Aos olhos daquelas pessoas, a cena que estava sendo

exibida era tão incomum e tão surreal para estar apenas em uma tela, que elas

estavam realmente imaginando que o trem as atropelaria.

Page 34: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

33

Porém, antes da exibição histórica dos Lumière, houveram muitos outros

pesquisadores, artistas, matemáticos e físicos que tentaram e, definitivamente,

contribuíram imensamente para o desenvolvimento do cinematógrafo Lumière e para

o nascimento do que viria a ser considerada a “Sétima Arte”.

A partir da descoberta da “persistência retínica” - característica presente em

nosso órgão visual que torna possível a percepção do movimento quando uma

sequência de imagens é apresentada em alta velocidade (ROSENFELD, 2002),

muitos foram os que começaram a produzir equipamentos que fossem capazes de

mostrar essa reprodução dos movimentos.

Taumatrópio, fanaquitoscópio, zootrópio, praxinoscópio, foram muitos os

inventos e todos, de uma forma ou de outra, conseguiram atingir seus propósitos:

reproduzir o movimento. Fosse através de uma rotação em eixo vertical ou através

de uma jogo de espelhos, os aparelhos surgiram em diversas partes do mundo ao

longo do final do século XIX.

Sendo assim, a reprodução dos movimentos há muito vinha sendo buscada.

Segundo Rosenfeld (2002, p. 52) “reproduzir o movimento pela imagem é uma das

aspirações mais antigas da humanidade” e as pinturas rupestres registradas nas

paredes das cavernas são um exemplo muito comum, pois as atividades diárias, tais

como a caça, eram transcritas em forma de desenhos, formando uma espécie de

diário e reproduzindo a movimentação dos primeiros hominídeos.

Segundo Rosenfeld (2002, p. 62 - 63), “entre os anônimos, que desenharam

os afrescos na caverna de Altamira reproduzindo movimentos de animais e o Irmãos

Lumière, que projetavam uma vida saltitante e héctica numa tela de Paris,

decorreram cerca de 20 mil anos”. A réplica dos movimentos finalmente fora

alcançada, o sonho de tantos homens que se dedicaram a este propósito finalmente

fora alcançado e, ainda com certas limitações, o fluxo da vida poderia ser registrado

com toda a movimentação que lhe cabe.

3.1 COR E CINEMA: RELAÇÃO HISTÓRICA

Com a invenção do cinematógrafo, a indústria cinematográfica nascia para

trazer ao mundo uma inovação gigantesca e que, com o passar dos anos, acabaria

por se tornar um dos maiores veículos de comunicação existentes.

Page 35: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

34

Ao pensarmos no nascimento do cinema, geralmente inferimos que naquela

época os filmes que eram exibidos eram preto e branco, visto que ainda não havia

sido possível descobrir como funcionava a captura das cores, porém a grande

maioria dos filmes produzidos até a década de 20, eram coloridos5.

Já que a captura das cores naturais não era possível, a saída encontrada foi

colorir à mão, quadro a quadro, as películas. A “técnica” consistia basicamente em

aplicar no negativo a cor desejada. O processo era muito lento e dispendioso, além

de ser considerado bastante artesanal.

Figura 8 - Películas pintadas à mão: filme Cinderella, 1899

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com/>.

Acesso em 06 ago. 2017.

Geralmente, atribuísse a empresa Technicolor a inserção das cores no

cinema através de um processo que não fosse artesanal. Mas no ano de 2012, 110

anos depois, as imagens do primeiro filme colorido passaram a ser conhecidas.

Datado de 1902, as imagens encontradas, faziam parte de um experimento do

inventor inglês Edward Raymond Turner. Os experimentos de Turner foram

patenteados em 1899 e seus primeiros testes começaram a ser realizados em 1902,

mas foram interrompidos devido a morte precoce do inventor6.

As filmagens feitas por Turner foram encontradas na Inglaterra e retratam a

os filhos dele brincando no jardim, alguns soldados marchando, aves domésticas e

outras cenas.

As cenas simples retratados nas filmagens de Turner são relativas ao

cotidiano vivenciado pelo mesmo e se tratam de experimentações realizadas com

5 Informações do site Cinéfilos. Disponíveis em: http://cinefilos.jornalismojunior.com.br/uma-viagem-

preto-e-branco-para-o-colorido/. Acesso em: 22 nov. 2017. 6 Informações obtidas no site G1. Disponíveis em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/09/primeiro-filme-colorido-e-descoberto-110-anos-apos-sua-invencao.html>. Acesso

em 22 nov. 2017.

Page 36: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

35

cor e iluminação, reafirmando o desejo dos pioneiros do cinema em inserir cores em

suas produções.

Figura 9 – Primeiro filme colorido

Fonte: < http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/09/primeiro-filme-colorido-e-

descoberto-110-anos-apos-sua-invencao.html>. Acesso em 22 nov. 2017.

Então foi com o surgimento da Technicolor7, em 1915, que tudo mudou. A

empresa lançou uma película que fazia uso das três cores primárias para captar as

cores naturais e conceder maior realismo aos filmes. Na época, muitas dúvidas em

relação aos uso das cores por parte dos produtores surgiram e uma delas, e talvez a

principal, era que a cor roubasse a cena, que ela tirasse a atenção da atuação dos

atores ou mesmo do enredo da história (EBERT, 2010).

Segundo texto de Carlos Ebert (2010)8, publicado pela Associação Brasileira

de Cinematografia, um artigo datado de 1935 e publicado pela revista da Society of

7 Surgida em 1915, a Technicolor se destacou da concorrência ao desenvolver um processo, primeiro

de duas cores e depois de três, adequado para os estúdios gravarem filmes coloridos. A empresa participou da criação das cores sutis no cinema e, para que os produtos oferecidos fossem melhores aproveitados, fornecia um consultor de cores e um cinegrafista aos clientes. Informações do jornal O

Globo. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/os-100-anos-do-technicolor-saturacao-sutileza-nas-telas-de-cinema-16650173>. Acesso em 22 nov. 2017. 8 Disponível em <http://www.abcine.org.br/artigos/?id=114&/cor-e-cinematografia>. Acesso em 14

ago. 2017.

Page 37: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

36

Motion Picture & Television Engineers, ao tratar das cores traz à tona o papel

fundamental de Nathalie Kalmus - esposa de Herbert Kalmus, inventor do processo

Technicolor de três películas. Nathalie foi responsável por atuar como consultora de

cor e definir “regras básicas” de uso da cor na estética hollywoodiana. Ela prestou

consultoria para mais de trezentos filmes e ajudou a determinar a linha de aparência

do cinema de Hollywood pelos próximos trinta anos.

Neste mesmo artigo, pode-se ainda observar que Nathalie Kalmus, de certa

forma, fazia uso da semiótica das cores em suas consultorias, pois ela as classificou

segundo seu poder de evocar sentimentos e estabelecer clima nas pessoas e nas

cenas.

Segundo a classificação feita por Nathalie, as cores quentes, tais como

vermelhos, alaranjados e amarelos, despertavam sensações de excitação, atividade

e calor, enquanto, as cores frias, verdes, azuis e roxos, evocavam repouso,

tranquilidade e frieza.

Segundo May (1967, p. 115) “a cor talvez seja a aventura mais apaixonante

do cinema, desde a descoberta dos Lumière [...]”, pois é através dela que o cinema

passou a comunicar-se com seu espectador de uma forma não-verbal. Através das

cores o espectador do filme recebe informações diversas do estado de ânimo e da

situação física, por exemplo, da personagem que está sendo retratada na tela.

Segundo Guimarães (2003, p. 21) “a cor é, certamente, um dos mediadores

sígnicos de recepção mais instantânea na comunicação [...]”, pois com a ajuda das

cores é possível que os mais diversos tipos de informações sejam passados. E na

distribuição destas informações existem muitos conceitos técnicos e pessoas

envolvidas.

3.2 A COR E O CINEMA: LINGUAGENS

A linguagem cinematográfica busca compreender como o cinema enquanto

meio de comunicação se expressa e troca informações e valores com seu público.

Para entender essa comunicação, faz-se uso de estudos, tais como a teoria do

cinema. Segundo Andrew (2002, p.15) “o objetivo da teoria do cinema é formular

uma noção esquemática da capacidade dessa arte” através de perguntas e

respostas formuladas pelos teóricos dessa indústria.

Page 38: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

37

Cada uma das perguntas formuladas pelos teóricos procura conceituar e

entender como a indústria cinematográfica funciona e como ela se apresenta aos

espectadores. As questões formuladas podem ser divididas em quatro categorias:

matéria-prima, métodos e técnicas, formas e modelos e objetivo ou valor.

(ANDREW, 2002, p.16). As categorias em questão apresentam, cada qual,

diferentes enfoques e, juntas, todas explicam os aspectos que compõem o cinema.

A “matéria-prima” busca analisar e entender quais são os meios utilizados

para que o cinema se torne mais real. Nesta categoria, pode-se incluir a cor, pois

através dela tornamos o fazer cinematográfico mais próximo da realidade, tanto por

trazê-lo ao mesmo patamar da visão humana, quanto por, através dela,

concedermos significados e detalhamentos as cenas.

Os “métodos e técnicas” abrangem o processo criativo enquanto montagem

e concessão de forma à matéria-prima. Trata sobre como a cena será vista pelo

espectador, como o desenvolvimento da mesma se dará e como nela serão

incluídos, ou não, determinados objetos. Novamente a cor se faz presente, pois ao

pensar na composição cinematográfica, pensaremos na estética que a mesma terá

e, assim, nos objetos e cores a serem inseridos, concedendo significação aos

mesmos que, posteriormente, serão apreciados e entendidos pelos espectadores.

As “formas e modelos” tratam de como os filmes foram ou poderiam ser

desenvolvidos, trata-se da análise da construção e, novamente, pode-se pensar na

cor, pois aqui analisa-se como o público irá interpretar a construção proposta e se

será capaz de compreender a significação imposta nas cenas.

Já a categoria de “objetivo e valor” refere-se justamente ao objetivo que o

cinema apresenta na vida do homem. Como este meio de comunicação afeta os

mais amplos campos da existência das pessoas que o consomem.

A divisão apresentada baseia-se em Aristóteles e existem diversas outras

versões, mas pode-se inferir que, basicamente, estas seriam as perguntas mais

frequentemente respondidas pelos teóricos.

Existem alguns dos estudiosos que também pensavam nas perguntas do

ponto de vista dos espectadores. Como é que as pessoas que estavam assistindo

aos filmes estavam reagindo à eles? É o caso de inverter as perguntas, vê-las ainda

como questões que precisam ser respondidas a fim de entender a prática

cinematográfica, mas passar a ver também da forma que o espectador enxerga.

Page 39: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

38

Segundo Andrew (2002, p. 21) “o cinema, argumentavam [os teóricos], era

igual às outras artes porque transformava o caos e a ausência de significado do

mundo numa estrutura e num ritmo autossustentado”, por este motivo é que é

necessário encarar essa concessão de significados de duas formas: a proposta pelo

diretor do filme e a entendida pelo espectador, pois cada pessoa pode compreender

a linguagem e as técnicas utilizadas de diferentes formas.

O cinema desenvolveu um estilo próprio de linguagem, uma evolução de

uma linguagem comum, que passou a caracterizar um novo tipo de comunicação

que transmite conteúdos e informações e narrar uma nova linguagem que se tornou

completamente independente das demais linguagens exercidas (ESPINAL, 1980).

O cinema não é só transporte de imagens, mas é uma superação da linguagem verbal. É uma linguagem nova, uma nova cultura e uma nova

mentalidade está no fundo deste fenômeno. Esta linguagem [...] nos dá as coisas com uma totalidade e ambientação afetiva convincente. A linguagem do cinema nos chega ao subconsciente de uma maneira inteiramente nova

e mais eficaz do que costuma fazer a linguagem da palavra (ESPINAL, 1980, p. 88).

A linguagem cinematográfica se faz presente para comunicar ao espectador

o que é proposto pelo roteiro do filme e sua intenção primordial é a representação

deste fator, sua consequência é que a pessoa que está sendo atingida pela mesma

compreenda o que o filme pretende mostrar. Segundo Espinal (1980, p. 89) para a

linguagem do cinema o “[...] seu objeto não é a realidade, mas a representação”.

Ao analisarmos a realidade fílmica estaremos analisando o universo

proposto pelo roteiro em conjunto com o diretor geral. O universo em questão será

completamente real para as personagens envolvidas na trama do filme, já para o

espectador será somente uma representação. De acordo com Espinal (1980, p. 89)

“[...] a linguagem do cinema não se preocupa tanto com a realidade, mas com uma

representação que pode ser completamente alheia a toda realidade existente.”

Raramente a realidade apresentada em uma filme será totalmente efetiva na

existência das pessoas, a não ser que o mesmo seja uma cinebiografia.

As cores são consideradas elementos narrativos, visto que as mesmas

comunicam ao espectador informações sobre a realidade fílmica. A linguagem

cinematográfica se aplica as cores, pois elas estão em sintonia com o universo da

produção em questão.

Page 40: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

39

A verdadeira invenção da cor cinematográfica data do dia em que os

realizadores compreenderam que ela não necessitava de ser realista (isto é, conforme com a realidade) e que devia ser utilizada, principalmente, em função do valores (como o preto e branco) e das implicações psicológicas

das diversas tonalidades (cores quentes e cores frias) (MARTIN, 2005, p. 86).

De acordo com a fala de Martin (2005) desde os primórdios do uso da cor no

cinema os realizadores perceberam qual era o “modelo” de emprego da cor nos

filmes, pois entenderam que as mesmas, apesar de serem parte da vida cotidiana

das pessoas, quando postas na tela podem exercer uma função muito especial e

serem usadas como elemento construtor da linguagem cinematográfica. Exemplo

disso é o atual emprego de cores nos filmes contemporâneos, eles são usados

como linguagem para indicar os mais diversos tipos de comunicação dentro da

realidade fílmica (figura 10).

Exemplo disso, é o filme “La La Land: Cantando Estações” (2016), o longa-

metragem premiado com o Oscar de melhor fotografia e melhor direção de arte, traz

o empregos das cores como um “localizador” temporal. O filme se passa durante as

quatro estações do ano e, em cada uma delas, acontece algo marcante na vida dos

personagens principais.

Cada uma das estações está marcada pela ambientação através de cores

marcantes das mesmas. O inverno é em tons de azul escuro e a primavera é em

cores vibrantes, mostrando ao espectador que as emoções dos personagens nas

duas estações são opostas. O verão e o outono são marcados por cores mais sutis,

mas tão importantes e notáveis quanto nas outras duas.

Page 41: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

40

Figura 10 - Cores que comunicam: La La Land e as estações

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.

Acesso em: 26 ago. 2017.

3.3 A ABORDAGEM DA COR ENQUANTO MATERIAL DE CENA

Ao pensarmos na construção de uma cena cinematográfica, geralmente, são

muito diversos os itens que percorrem nossa mente. Para que uma cena seja feita, é

necessário o envolvimento de diversos profissionais, visto que precisa-se de atores,

figurantes, operadores de câmera e muitos mais.

O desenvolvimento de uma cena é um trabalho conjunto, em equipe. São

diversos profissionais que se envolvem e contribuem para que uma obra

cinematográfica seja possível.

O diretor geral é o responsável pela organização de todo o filme, é ele quem

comanda e gerencia os acontecimentos do set de filmagem. Ele deve conhecer o

roteiro como "a palma de sua mão", saber quais são as especificidades do mesmo e

conhecer todas as técnicas necessárias para o desenvolvimento do roteiro em

questão. É incumbência dele também, ser o canal de confluência dos resultados

esperados, pois ele está à frente dos demais profissionais envolvidos nas filmagens.

A direção de arte é o "setor" que organiza e gerencia todos os profissionais

que trabalham nos bastidores dos filmes, pois é ela a responsável por toda a

comunicação visual expressa pelo filme.

Page 42: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

41

O termo “direção de arte” é geralmente usado para descrever o processo de

organização e direção dos elementos visuais de qualquer tipo de elemento para meios de comunicação, seja ele um filme, um programa de televisão, uma instalação digital, um comercial ou um anúncio impresso. Nesse

sentido, a direção de arte é uma atividade que possui uma ampla aplicação no leque de atividades relacionadas com a comunicação visual (MAHON, 2010, p. 11).

O diretor de arte, então, é o encarregado de gerenciar o projeto visual da

produção fílmica, é através do trabalho dele que tudo toma forma. Juntamente com o

diretor de arte, trabalham ainda muitos profissionais que o ajudam a desenvolver o

aspecto visual desejado para a produção, visto que são muitos os detalhes

envolvidos no processo. É neste campo e com a ajuda de diversas pessoas que se

constrói a realidade e o contexto do filme que devem ser apresentados ao público.

O diretor de arte, segundo Rodrigues (2007, p. 80), é o profissional que

“trabalha diretamente com o desenhista de produção executando suas instruções,

tais como desenho e ambientação de cenários e supervisão de sua execução junto

ao cenógrafo”, porém podemos acrescentar a esta definição uma das mais

importantes partes do trabalho do diretor de arte, juntamente com sua equipe e o

diretor do filme: a criação da paleta de cores.

A paleta de cores é desenvolvida em parceria com o diretor do filme e com o

diretor de fotografia e é, basicamente, um conjunto de cores escolhidas para

ambientar o projeto. As cores inseridas na paleta servem para ambientar o filme, dão

tom, personalidade, humor aos personagens e através dela são construídos diversos

campos utilizados na cenografia, na maquiagem, no figurino.

A direção de fotografia, segundo artigo da Academia Internacional de

Cinema9:

É a área que controla o processo de construção e registro das imagens de

um filme, levando para a tela toda a atmosfera e a linguagem imaginadas na pré-produção, por meio de ferramentas técnicas como iluminação, filtros, lentes, movimentos de câmera, enquadramento, cor, exposição (KREUTZ,

2017, n.p.).

O diretor de arte dá início ao seu trabalho através do estudo do roteiro, para

que comece o processo de desenvolvimento das ideias com base na descrição das

cenas. É com a leitura do script que começam a ser pensadas as cores que devem

9 Disponível em <http://www.aicinema.com.br/quero-ser-diretor-de-fotografia/>. Acesso em 15 ago.

2017.

Page 43: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

42

ser usadas para ambientar o set de filmagem e quais objetos podem ser utilizados

para essa ambientação, por exemplo.

Juntamente com o diretor de arte e o diretor geral, o diretor de fotografia

constrói o cenário e faz uso das técnicas de iluminação, filtros, lentes e

posicionamento de câmera, além do uso das cores para transmitir ao público a

significação buscada. Para exemplificar o uso dos enquadramentos e movimentos

de câmera em harmonia com a utilização da paleta de cores, podemos citar o filme

“A Liberdade é Azul” (1993), representado na figura 11.

Esta produção cinematográfica adotou o azul como a cor principal de sua

paleta e através dela transmite ao público o sentimento de luto vivido pela

personagem principal que perde a filha e o marido em acidente de carro. Os objetos

presentes nas cenas do filme representadas a seguir, o móbile e o papel do pirulito,

são de extrema importância na construção do enredo do filme e estão presentes,

pois são parte do trabalho da direção de arte.

Figura 11 - Explorando a paleta de cores

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.

Acesso em: 15 ago. 2017.

Fazem parte do trabalho de composição pré-filme mais alguns profissionais,

tais como o figurinista e o maquiador, ambos pertencentes à equipe de direção de

arte. Os dois são de extrema importância para a estrutura do filme. Tanto o

figurinista quanto o maquiador trabalham em conjunto com o diretor de arte e de

fotografia e seguem também a paleta de cores.

Page 44: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

43

O trabalho do figurinista consiste em elaborar os trajes de cena dos atores,

que complementam e colaboram com a construção da personagem. O figurino é

desenvolvido em conjunto com os diretores de arte, fotografia e geral, a fim de que

permaneçam em concordância com o que está sendo proposto no filme e para que

também possam carregar o simbolismo das personagens, inclusive através das

cores escolhidas.

O simbolismo é a raiz da criação dos figurinos, que se tornam metáforas da personalidade de seus personagens, sendo que as roupas refletem suas ações e condições, mesmo aquelas que atuam como pano de fundo e que

estabelecem um mundo povoado pelos personagens principais (IGLECIO; ITALINO, 2012, p. 2)10

O figurinista possui a tarefa de construir o respaldo do personagem, pois

através das vestes dos mesmo são reafirmadas as características e trejeitos

adotados pelos atores para desenvolver aquele papel e dar vida àquela nova

pessoa. O trabalho deste profissional é de extrema importância e representa um

forte componente na construção da trama cinematográfica.

A maquiagem também é um elemento muito importante na trama

cinematográfica, visto que ela ajuda a compor o personagem, da mesma forma que

o figurino.

A maquiagem como um dos elementos dos procedimentos criativos na

construção da cena tem conquistado cada vez mais um “lugar” de valor na construção visual da cena, por estar fazendo parte da construção da cena e não apenas como um filtro atenuante entre a iluminação e as expressões

dos atores. Na cena atual a maquiagem é um elemento que atua mais próximo das ações e expressões dos atores e está se relacionando com mais propriedade do conjunto de signos que atuam na cena contemporânea

(SAMPAIO, 2012, p. 5)11.

A maquiagem pode, ainda, ser dividida em duas categorias, a maquiagem

comum, que é a utilizada no dia a dia e a chamada maquiagem criativa.

10 Artigo do 8º Colóquio de Moda da USP - “O Figurinista e o Processo de Criação de Figurino”. Disponível em: <http://coloquiomoda.hospedagemdesites.ws/anais/anais/8-Coloquio-de-

Moda_2012/GT09/COMUNICACAO-ORAL/103760_O_figurinista_e_o_processo_de_criacao_de_figurino.pdf>. Acesso em 15 ago. 2017. 11 Artigo do VII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas,

ABRACE - “A Maquiagem nas Formas Espetaculares”. Disponível em: <http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/historia/Jose%20Roberto%20Santos%20SAMPAIO%20Laplane%20-%20A%20maquiagem%20nas%20formas%20espetaculares.pdf>. Acesso em

18 ago. 2017.

Page 45: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

44

A maquiagem comum pode ser desde uma simples base ou pó translúcido,

utilizado para esconder o brilho do rosto, até as utilizadas em situações mais

específicas, como é o caso das cenas de festas ou mesmo de época, onde certos

traços específicos são utilizados para caracterizar o que está sendo retratado, como

é o exemplo das décadas de 1940/1950 e o estilo pin up (delineado marcado, batom

vermelho e cílios postiços (SALLES, 2008).

Já a maquiagem criativa é aquela que envolve uma produção maior para ser

realizada e, geralmente está presente nos filmes de terror ou ação, nestes casos são

utilizados produtos especiais (SALLES, 2008). Nestes gêneros de filme, na maioria

das vezes, vemos atores com grandes cortes, queimaduras, sangue escorrendo e

fatos deste gênero. O “maquiador criativo” é o responsável pela criação destas obras

de arte assustadoras e extremamente realistas.

O maquiador exerce o uso das cores no seu trabalho o tempo todo. A

maquiagem utilizada nos atores, como já mencionado, compõe o personagem e,

como em todas as partes do filme, também obedece uma pré-seleção de cores e

efeitos, baseados na paleta de cores do filme. A figura 12 é um exemplo de

construção de personagem através da maquiagem. Nela, o ator passa pela

transformação e, através dela, entra no corpo do personagem que interpretará.

Page 46: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

45

Figura 12 - Antes, durante e depois de Angelina Jolie como “Malévola”

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.

Acesso em: 18 ago. 2017.

Ainda como parte do setor da direção de arte, existe o ramo da cenografia,

tão ou mais importante quanto as demais áreas deste âmbito. A cenografia é a parte

responsável pela montagem do ambiente em que serão gravadas as cenas.

[A cenografia] abrange atualmente todo o processo de criação e construção

do evento estético-espacial e da imagem cênica. O cenógrafo utiliza-se de elementos como cores, luzes, formas, linhas e volumes, para solucionar as necessidades apresentadas pelo espetáculo e suas matizes poéticas em

diversos meios e fins (URSSI, 2006, p. 14)

O trabalho do cenógrafo além de compor o cenário, também consiste em

organizar os objetos, principais e secundários, da melhor forma possível, a fim de

que se obtenha um resultado harmonioso (BETTON, 1987), para que, por exemplo,

seja viável utilizá-lo de maneira prática ou que seja possível que ele traduza sua

função semiótica. São muito comuns os casos em que o cenário torna-se,

praticamente, um personagem da trama cinematográfica.

A cena representada na figura 13 é do filme O Fabuloso Destino de Amélie

Poulain (2001), e mostra o trabalho desenvolvido pela cenografia do filme ao

Page 47: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

46

escolher cores vibrantes para a decoração. As cores ali colocadas representam a

personalidade da personagem, refletem seu estado de espírito.

Figura 13: O quarto de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

Fonte: < http://www.mydomainehome.com.au/amelie-apartment>. Acesso em 22 nov. 2017.

Segundo Betton (1987, p. 51-52) “o elemento principal [provavelmente a

personagem em destaque na cena] e seu ambiente são interdependentes e

interagem, formando juntos um sistema macroscópico [...]”, ou seja, o ator enquanto

elemento do filme, interage com o cenário e junto com ele forma um conjunto que se

faz importante na cena.

Os elementos que são colocados nos cenários, são estudados e analisados

e inseridos por algum motivo. Em geral, o roteiro indica quais são os elementos

necessários para a construção do cenário, mas também leva-se em conta a paleta

de cores e os signos estabelecidos pelo autor.

A criação e a construção do material cênico exige a compreensão das questões conceituais e práticas específicas da encenação. Uma análise dos

espetáculos de acordo com estes princípios proporciona informações primordiais sobre sua concepção, projeto e construção, ampliando a compreensão de suas consequências como um evento estético e espacial

da estimulação social na produção cultural contemporânea. (URSSI, 2006, p. 77)

A direção de arte é uma área muito vasta e muito importante para o

desenvolvimento de um projeto cinematográfico, visto que ela abrange desde a

Page 48: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

47

produção do set de filmagem até a produção do ator, através das roupas e

maquiagem utilizadas pelo mesmo. Ela faz uso de técnicas e ferramentas, por isso,

o cinema deve a ela muito de sua grandiosidade.

Ainda como parte da composição do filme cinematográfico, existe a pós-

produção. Já com a filmagem toda pronta, a pós-produção entra em cena para

finalizar o filme. Esta esfera do cinema pode ser dividida em diversas partes, como

colorimetria, sonoplastia e edição.

A colorimetria é o processo de ajuste e melhora das cores no filme. É o

trabalho exercido pelo colorista. A correção da cor agrega valor ao filme, pois é

através deste trabalho que as cores são enriquecidas e podem tornar-se mais reais,

a fim de melhor ajustarem-se a linguagem e ideia do autor e transmitir a determinada

significação proposta através delas.

Os coloristas trabalham em estreita colaboração com diretores e

cinematógrafos para concretizar sua visão. Seja criando um visual estilizado, corrigindo imagens que são expostas de forma incorreta, melhorando os tons de pele, destacando um produto ou remasterizando um filme antigo, os coloristas usam sua sensibilidade artística, juntamente com

seus conhecimentos técnicos, para que cada quadro seja o melhor (DÍAZ, 2016, n.p.).

A definição do trabalho proposta anteriormente foi escrita por uma das mais

conhecidas coloristas dos últimos tempos, Caitlin Díaz. Caitlin vem trabalhando

como freelancer nos últimos anos e possui em seu currículo filmes independentes,

clipes de artistas famosos, como Nick Jonas e Beyonce, web series e vários outros

trabalhos.

Em seu blog12 Díaz (2016), além de explicar o trabalho desenvolvido por ela

e pelos colegas de profissão, ainda traz um vídeo com exemplos de correção de

cores desenvolvidas por ela com o antes e depois do tratamento.

12 Blog da colorista Caitlin Días. <http://caitlindiaz.com/Color-Reel>. Acesso em 23 ago. 2017.

Page 49: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

48

Figura 14 - Correção de cor para o filme Dave (2016)

Fonte: Caitlin Díaz blog. Disponível em: <http://caitlindiaz.com/Color-Reel>. Acesso

em 23 ago. 2017.

O trabalho do colorista é desenvolvido através de softwares de computador

e é um trabalho que acaba por ser desenvolvido através do ponto de vista do próprio

colorista, que durante a carreira e com o contato com a profissão desenvolve cada

vez mais as habilidades, tornando-se cada vez melhor no que faz.

A tarefa do colorista é melhorar a qualidade da filmagem, tornar as cores

mais atrativas e interessantes e dar à obra cinematográfica um visual mais instigante

e que faça com que o espectador tenha acesso a algo mais bonito visualmente.

Mas, João Theodoro, colorista desde 1994, alerta que mesmo que o trabalho da

correção de cor seja agregar valor ao filme, ela não tem o poder de salvar uma obra

que não está boa, “se o filme é fraco em roteiro, diálogos, atores e direção, ele já

chega morto para a correção de cor, não há nada o que se possa fazer”13.

Outra das áreas da pós-produção que é muito importante para a composição

cinematográfica é a sonoplastia. Segundo o Dicionário Houaiss (2001, p. 2609), a

palavra sonoplastia tem origem na junção do Latim com o Grego, respectivamente,

“son(o)- [som] + -plastia [que é possível modelar]”, e é “o conjunto das atividades de

equalização e edição de sons provenientes de vários canais”, ou seja, a sonoplastia

13 Artigo da Associação Brasileira de Cinematografia, ABCine - “A Arte da Correção de Cor”. Disponível em: <http://www.abcine.org.br/artigos/?id=452&/a-arte-da-correcao-de-cor>. Acesso em 23

ago. 2017.

Page 50: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

49

consiste na modelagem e adequação do som ao meio de comunicação e espetáculo

em que será utilizado.

A sonoplastia é ao mesmo tempo uma técnica e um processo de criação realizado em diferentes etapas. A primeira etapa consiste no levantamento prévio dos elementos sonoros que serão postos em cena com base nas

rubricas do autor e/ou pela direção teatral. A segunda etapa consiste na seleção, considerando o porquê do som, a intenção do diretor ao empregar determinado efeito, o que estes sons podem representar no contexto e

estrutura da peça. A terceira etapa refere-se à produção de sons. A quarta à adequação, ordenação de material, considerando a coerência e o bom gosto. A quinta consiste na relação entre a sonoplastia e os outros

elementos da cena. A sexta refere-se à operação propriamente dita (CAMARGO apud LIGNELLI, 2014, p. 5)

Foi nos anos 1920 que o som começou a ser introduzido nas produções

cinematográficas, pois durante cerca de duas décadas o cinema foi mudo. Quando o

som finalmente passou a integrar as produções, ele era muito rústico e deixava

muito a desejar em termos de qualidade, sem contar que era muito difícil conseguir

sincronia entre o som e a imagem. Os sons inseridos se resumiam a fundos

musicais e efeitos básicos (KREUTZ, 2017)14.

Foi em 06 de outubro de 1927, em New York, que o primeiro filme com som

foi ao ar. O Cantor de Jazz (1927), foi o precursor no uso do som, mas ainda não era

completamente sonoro, pois existiam partes mudas. O filme contava a história de Al

Joelson, cantor e compositor norte americano, e nas cenas sonoras era possível

ouvi-lo tanto cantando quanto falando (CASTRO, 2012)15.

O sonoplasta é o profissional responsável pela manipulação e ajuste dos

sons em um filme. Segundo Tankel (1990, p. 34) “um sonoplasta é a pessoa que

transforma o som da atuação no som que irá para a obra”, ou seja, através do

julgamento do profissional são adaptados os sons conforme se faz necessário

através do roteiro. O profissional da sonoplastia faz uso do subjetivo, de sua

percepção e do que julga que melhor se encaixa naquela cena para compor a trilha

a ser incluída no filme.

A sonoplastia, através da sensibilidade do sonoplasta, ambienta o filme e

concede à ele um clima que não poderia ser atingido sem a ajuda do som. O som e

a cor, trabalham em conjunto para dar clima e significação aos filmes e, assim, levar

14 Artigo da Academia Internacional de Cinema. Disponível em <http://www.aicinema.com.br/quero-

trabalhar-com-som-no-cinema/>. Acesso em 23 ago. 2017. 15 Informações compiladas em artigo no site da EBC - Empresa Brasileira de Comunicação. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cultura/2012/10/cantor-de-jazz-completa-85-anos>. Acesso

em 23 ago. 2017.

Page 51: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

50

aos espectadores a ambientação que fora planejada para atingi-los. Através da

junção dos dois elementos, pode-se transmitir ao espectador as emoções

exploradas subjetivamente.

É interessante mencionar a proximidade dos sons e das cores no sentido de

ambientar uma determinada cena. Ao pensarmos em um filme de suspense ou

terror, por exemplo, logo imaginaremos cores escuras e sombrias, como o preto, e

uma trilha sonora arrepiante, este exemplo torna compreensível a ligação entre os

dois elementos, pois graças a junção de cor e som é possível transmitir ao

espectador uma emoção mais verdadeira, visto que dois de nossos sentido estão

sendo aguçados ao mesmo tempo, produzindo em nossa mente um sentimento de

medo, como é o caso dos filmes de terror, ainda mais forte em relação ao filme.

Pitágoras, Da Vinci, Newton, matemáticos, teólogos, poetas, cientistas e

diversos outros estudiosos ao longos dos séculos estudaram as relações que as

cores e os sons estabeleciam entre si.

Louis Bertrand Castel, físico, matemático, jornalista e teórico francês que

dentre outras teorias, estudou a fundo a correspondência entre sons e cores

desenvolveu depois de mais de trinta anos de pesquisa o que chamou de Teclado

Ocular. O instrumento, datado de 1754, possuía teclas que estavam ligadas a um

quadro com sessenta janelas de vidro, ao tocar uma tecla a janela se abria e revela

a cor correspondente à frequência do som. Castel ainda desenvolveu outras

experiências baseadas em sua teoria, mas não existem registros de conservação de

seus protótipos (OROZCO, 2015)16.

O funcionamento do Teclado Ocular apresentava a ligação entre cores e

sons através da teoria desenvolvida por Castel de que os dois elementos seriam

análogos por natureza, por serem derivados de vibrações.

Na figura a seguir é possível conferir as ligações estabelecidas por Castel

através de seus experimentos com o Teclado Ocular.

16 Informações compiladas em: Orozco (2015, p. 45). Disponível em: <https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1852/1/FINAL%20A%20melodia%20das%20c

ores%20Marcado%20Comp%20Tayane%20Orozco.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.

Page 52: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

51

Figura 15 – Notas musicais e cores análogas

Fonte: Orozco (2015, p. 45). Disponível em:

<https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1852/1/FINAL%20A%20melodia%20das%20cores%20Marcado%20Comp%20Tayane%20Orozco.pdf>. Acesso em: 24 nov.

2017.

Existe mais um importante trabalho na composição do filme e, este é

especialmente significativo, pois se dá na finalização do mesmo. A edição acontece

a partir do momento em que todos os demais trabalhos já se encerraram, pois o

editor entra em ação para exercer a montagem das cenas que serão exibidas no

cinema.

A montagem cinematográfica não pode ser vista somente como um

procedimento técnico em que planos são combinados com o único objetivo de traduzir o que está previsto no roteiro ou no pensamento do diretor. A montagem é essencial no processo de realização de um filme (ou de uma

obra audiovisual) uma vez que é o momento em que se organizam os materiais e se define a estrutura da narrativa no jogo que se instaura na associação de imagens e sons. Vista como um momento de criação ela se

impõe e passa a ter um papel central e significativo. (MOURÃO, 2006, p. 231).

O editor é o responsável pela transmissão de ideias e sensações. É através

do trabalho dele que são definidos onde e de qual maneira serão inseridos no filme

os efeitos especiais, qual o enquadramento a ser colocado em determinada cena,

qual a trilha sonora que melhor se encaixa para o momento que está sendo

apresentado naquela cena.

No decorrer de sua existência, a montagem [edição] passou a ser organizada como profissão e tornou-se uma atividade técnica responsável pela capacidade inventiva do realizador, produzindo no cinema o

movimento vibratório dos signos capaz de lhe fornecer força poética. (AUGUSTO apud ROCHA; LIRA, 2010, p.3)

Page 53: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

52

É através do trabalho do editor que as partes de um filme são colocados

juntos, é através da percepção dele que tudo se encaixará e transmitirá, ou não, o

sentido que foi proposto no roteiro e buscado pelo diretor. A edição insere no

contexto do filme o que Rocha; Lira (2010) chamam de “gramática audiovisual”. Este

termo pode ser definido como as ferramentas de construção de sentido e

transmissão de ideias que são utilizadas pela linguagem cinematográfica para

entregar ao espectador o que o escritor e o diretor planejaram.

3.4 PREMIAÇÕES

Todas as áreas de pré e pós-produção de um filme passam pela análise e

“julgamento” de pessoas, fundações e academias que prezam e buscam a

excelência do cinema. Desde 1927, por exemplo, existe a Academia de Artes e

Ciências Cinematográficas, uma “associação” de mais de seis mil pessoas que se

reúnem e escolhem os melhores filmes. A Academia é responsável pela indicação e

“eleição” do maior prêmio de cinema do mundo, o Oscar.

O Oscar conta com vinte e quatro categorias para diferentes prêmios: melhor

filme, melhor ator e melhor atriz, melhor trilha sonora, melhor direção, melhor

figurino, melhor fotografia e etc. O evento sempre ocorre na noite do dia 22 de

fevereiro, está na sua octogésima nona edição (2017) e é conhecido como a “grande

noite de Los Angeles”, cidade onde acontece17.

Além do Oscar existem outros prêmios tão importante e concorridos quanto.

O Urso de Ouro, por exemplo, é um deles. O evento acontece em paralelo com o

Festival de Berlim e é entregue desde 1951. O Festival de Cinema de Cannes é um

outro exemplo, ele acontece desde 1946 e é realizado na cidade francesa de mesmo

nome. Os prêmios entregues neste festival são o Palma de Ouro, que é considerado

o mais importante do festival e é entregue desde 1955 e o Grand Prix, segundo

prêmio mais importante e entregue desde 196718.

No Brasil acontece o Festival de Cinema de Gramado. Importante prêmio

nacional, realiza-se desde 1973, mas foi apenas em 1992 que passou a receber

17 Informações compiladas do site oficial do evento. Disponíveis em: <http://oscar.go.com/>. Acesso

em: 26 ago. 2017. 18 Informações compiladas nos sites dos respectivos eventos. Disponíveis em: <https://www.berlinale.de/en/HomePage.html> e <http://www.festival-cannes.com/en/>. Acesso em:

26 ago. 2017.

Page 54: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

53

concorrentes estrangeiros. Acontecendo há 45 anos e se tornando um importante

evento nacional e internacional, o festival é palco de encontros, conversas e debates

entre figuras do cinema, estudantes e pesquisadores. Os prêmios mais importantes

do evento são o Kikito e o Oscarito, ambos de grande importância no cenário do

audiovisual19.

Cada um dos festivais que premiam obras cinematográficas no mundo,

levam em conta diversos itens para a eleição do filme vencedor nas categorias

analisadas. A cor é um dos itens que é analisado para estas premiações. Direção de

arte, fotografia, figurino e efeitos visuais, são algumas das categorias onde a cor é

muito importante. Para cada filme a ser premiado, os jurados buscam analisar os

detalhes de cada obra para que possam extrair deles as características de cada uma

destas categorias.

O Grande Hotel Budapeste, filme de 2014, levou o Oscar de Melhor Direção

de Arte, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem e Penteados no ano de 2015. Este é

um exemplo do uso das cores enquanto um material de cena, encaixando-as nas

escolhas feitas pelos diretores, respeitando a paleta de cores e trazendo para o

espectador, através das cores, as emoções a serem compreendidas.

Figura 16 – Frame de O Grande Hotel Budapeste (2014)

Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt2278388/mediaviewer/rm2170344704>. Acesso

em 22 out. 2017.

19 Informações compiladas no site do evento. Disponíveis em: <http://www.festivaldegramado.net/>.

Acesso em: 26 ago. 2017.

Page 55: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

54

Page 56: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

55

4 MUITO MAIS DO QUE AZUL

O estudo da cor azul neste trabalho se dará através da análise de imagens

fílmicas previamente escolhidas. O critério de escolha utilizado tem o intuito de gerar

um olhar amplo sobre o cinema contemporâneo e, por isso os filmes escolhidos são

datados de 2010 até os dias de hoje.

Além de especificar o recorte temporal do filmes, também estabelecemos

que seriam utilizadas obras que possuíssem paletas de cores com azul como cor

predominante. A fim de proporcionar um novo olhar sobre o campo da semiótica das

cores e sua relação com as emoções, para que pudéssemos analisar como uma

única cor pode se comportar e transmitir diferentes sentimentos de acordo com o

local de inserção da mesma.

Na análise são apresentadas cenas retiradas dos filmes escolhidos e através

delas será analisado o comportamento da cor azul em cada situação apresentada

nos filmes.

4.1 A COR AZUL

O linguista israelense Guy Deutscher, publicou em 2010 o livro “Through the

Language Glass: why the world looks different in other languages”20, onde compila

os estudos dos filósofos William Ewart Gladstone (1809-1898) e Lazarus Geiger

(1829-1870), sobre as antigas civilizações.

Uma das descobertas propostas por Deutscher (2010), foi a de que não

existe menção à cor azul nos livros antigos. Os dois filósofos estudados pelo

linguista, analisaram livros como “A Ilíada” e “A Odisseia”, de Homero, versões da

Bíblia em hebraico, o Alcorão e diversos outros livros importantes para a história da

humanidade, mas em nenhum momento encontraram a descrição do céu, por

exemplo, como sendo azul. Ambos os filósofos e, também Deutscher (2010),

atribuem a não aparição ao fato de que houve um lento surgimento de palavras que

denominaram as cores, e o azul, por ser um pigmento de difícil obtenção acabou

demorando para ser nominado.

20 Do inglês, tradução nossa: “Através do Cristal das Linguagens: porque o mundo parece diferente

em outras línguas”.

Page 57: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

56

Para Gladstone (apud Deutscher, 2010, p. 55) “[as antigas civilizações]

entendiam o azul com a mente, mas não com a alma” e, por isso, não faziam uso de

palavras para descrevê-lo. Com a evolução tecnológica das civilizações passou a

ser necessário existir um refinamento nos conceitos das cores. E assim, cada cor

passou a receber um nome.

A cor azul é a última, porque, além de não ser encontrada tão comumente na natureza, levou muito tempo para fazer este pigmento. [...] Era perfeitamente normal dizer que o mar era preto, porque, quando está azul

escuro, parece preto, e isso é suficiente nesta época. Uma sociedade funciona bem com o preto, o branco e um pouco de vermelho (DEUTSCHER, 2010, p. 92).

O pigmento azul foi o mais difícil de ser obtido, pois não se encontra na

natureza grandes quantidades de materiais azuis de onde se possa efetuar a

extração.

Os pigmentos são materiais que mudam as cores das luzes transmitidas ou

refletidas como resultado de uma absorção seletiva num dado comprimento de onda

(BRANCO, 2015)21. Os pigmentos utilizados para pinturas, em plásticos e em

tecidos são, geralmente, corantes em pó. Existem registros do uso de pigmentos

desde a pré-história, onde os homens primitivos faziam uso dos mesmos para as

pinturas rupestres e também para pinturas corporais (figura 17).

Figura 17 - Pigmentos na pré-história: diversas cores eram aplicadas

Fonte: Revista Galileu. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com>. Acesso em

05 set. 2017.

21 Informações compiladas do artigo de Pércio de Moraes Branco (2015), no site da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Pigmentos-Minerais-1263.html>.

Acesso em: 05 set. 2017.

Page 58: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

57

Os pigmentos que são obtidos através de materiais botânicos, como cascas

de árvore e pétalas de flores, resíduos animais, insetos e moluscos, são conhecidos

como orgânicos. E existem também os pigmentos minerais, que são obtidos através

de rochas e de terra.

A dificuldade de obtenção do pigmento azul fez com que o mesmo acabasse

ficando vinculado à realeza, visto que, seu preço era muito alto. O pigmento azul era

extraído da pedra semipreciosa lápis lázuli, encontrada em maior quantidade no

Afeganistão e no Paquistão.

Seu histórico de nobreza foi tão fortemente marcado que surgiu o ditado “ter

o sangue azul”. O ditado foi herdado da época em que a aristocracia da Península

Ibérica era extremamente orgulhosa de não ter nenhuma miscigenação com os

mouros que invadiram o país. Possuíam uma pele muito clara, que se diferenciava

da dos mouros e dos que eram miscigenados com os mesmos. Devido a este tom

de pele, era possível então enxergar as veias e artérias por baixo da mesma e, por

isso, parecia que o sangue dos mesmos era azul. Surge aí a expressão citada

anteriormente (QUINION, 2017).

A nobreza do azul também chegou à arte. A dificuldade de obtenção do

corante e seu alto preço de comercialização, fizeram com que essa cor fosse

utilizada apenas em peças muito especiais. Na pintura, a cor era empregada apenas

na representação de santidades, como é o caso do manto de Nossa Senhora

Aparecida, ou em divindades, tais como a máscara mortuária do Deus Tutancâmon,

faraó do Egito Antigo (figura 18) (TRINDADE, 2009).

Page 59: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

58

Figura 18 - Máscara mortuária de Tutancâmon

Fonte: Disponível em: < http://www.newgreenfil.com/pages/a-magnifica-mascara-de-

tutankamon>. Acesso em: 22 nov. 2017.

Simbolicamente, o azul, em várias culturas, era tido como a cor do céu, da

imensidão da água e observado pelos pensadores como cor transparente, pura, imaterial e cor do divino, da verdade e da fidelidade, no que diz respeito às três religiões monoteístas, e ainda do apego à verdade e ao

firmamento celeste. Na arte pictórica da cristandade medieval, o azul é a cor da santidade [...] (TRINDADE, 2009, p. 236)

A arte trabalhou a aplicação dos corantes naturais e sintéticos em seus mais

diversos vieses. A arquitetura árabe, por exemplo, utilizou-se de mosaicos azuis

para revestir mosteiros no século XV, pois acredita-se que o azul era a cor favorita

do profeta Maomé (figura 19) (TRINDADE, 2009). Como é possível ver na figura 18,

A Mesquita Azul, construída entre 1609 e 1616, foi completamente revestida de

azulejos azuis, a fim de alegrar o profeta Maomé.

Page 60: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

59

Figura 19 – Mesquita Azul

Fonte: disponível em <http://www.myhomeandstudio.com/blog/tiles-with-the-color-

blue/>. Acesso em 05 set. 2017.

As porcelanas chinesas, amplamente comercializadas na Europa a partir do

século XVIII, também são exemplos do emprego do pigmento azul na fabricação de

objetos. A porcelana além de ser um material muito delicado, possuía traços muito

requintados nas pinturas, o que encantava os nobres e aristocratas, fazendo com

que o comércio das mesmas fosse muito grande entre eles, resultando em peças

caras e reservadas aos que possuíam poder aquisitivo (TRINDADE, 2009).

As roupas e tecidos tingidas com o pigmento azul, até certo tempo, eram

exclusividade das figuras ilustres e aristocratas. Devido ao valor de produção do

corante e da vasta nobreza representada pelo mesmo, visto seu uso em pinturas e

louças muito caras e superiores, o uso de tecidos tingidos desta cor também

reservava-se às pessoas de maior poder aquisitivo.

A saída encontrada para fugir dos empecilhos - preço/dificuldade de

produção - e tornar o azul uma cor mais “acessível”, veio através dos egípcios que

acabaram por desenvolver um corante sintético22 para substituir o que era produzido

a partir do lápis lázuli. O novo corante era extraído de uma combinação de dióxido

de silício, cobre e álcali e tornou-se mais barato para produzir e consequentemente

mais acessível.

Com a descoberta egípcia, o acesso ao azul tornou-se muito mais fácil, mas

a cor em si, nunca perdeu seu ar de nobreza. Segundo pesquisa realizada por Eva

22 Os corantes sintéticos são uma classe de aditivos introduzidos nos alimentos, bebidas, tecidos, etc., com o único objetivo de conferir cor e torná-los mais atrativos. São cada vez mais usados, especialmente por apresentarem maior uniformidade, estabilidade e poder tintorial em relação às

substâncias naturais (PRADO; GODOY, 2003).

Page 61: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

60

Heller para o livro Psicologia da Cor: como as cores afetam emoção e a razão

(2004), o azul é a cor preferida de 46% dos homens e 44% das mulheres. Segundo

as próprias pessoas entrevistadas por Heller (2004), o azul está ligado às boas

qualidades e aos bons sentimentos, principalmente aos que se referem a

reciprocidade.

Existem no mundo cento e onze diferentes tons de azul. Cada um deles

possui um nome específico e, em muitos circunstâncias, aplicação em áreas

especiais. Como é o caso dos azuis cobalto, ultramarino e phthalo, cada um deles

tem uma determinada função no campo das artes, por exemplo.

4.2 O AZUL ENQUANTO RECURSO NARRATIVO

Quando pensamos nas cores no cinema, é possível imaginá-las em diversos

aspectos, visto que, elas podem se apresentar no cenário, no figurino, na

maquiagem, etc. Como as cores possuem designações sígnicas que são passadas

de geração em geração, quando desejamos transmitir algo à alguém, fazemos uso

das mesmas.

Segundo Gobé (2002, p. 126 - 127) “a partir dos dez anos de idade, a visão

é o sentido predominante dos seres humanos, na exploração e na compreensão do

mundo. [...] [e] as cores desencadeiam respostas muito específicas no sistema

nervoso central e no córtex cerebral. Uma vez afetado o córtex cerebral, as cores

podem ativar os pensamentos, a memória e os tipos particulares de percepção”, ou

seja, fazemos uso de nossa visão para entender o que está nos cercando e através

dela ocorre a ativação de memórias e percepções e assim as pessoas são capazes

de fazer ligações e “ativar” signos.

As cores estão inseridas em nosso mundo e através dela compreendemos

diversos componentes da vida em sociedade. No cinema, as cores se apresentam

como fortes transmissoras de significados e estão a todo momento necessitando da

compreensão humana para que sejam compreendidas.

O azul, por ser uma cor muito querida pelas pessoas está presente em

muitas ambientações. Segundo Heller (2004), o azul índigo é a cor de mais prestígio

de todas as épocas no vestuário, por exemplo.

Ao pensarmos nos filmes contemporâneos, são muitos os que trazem

consigo a ideia de uma cor inserida como um meio de traduzir ao espectador um

Page 62: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

61

determinado sentimento ou visão das cenas que estão sendo apresentadas e, sendo

assim, pode-se pensar nas cores com um papel muito importante nas produções

cinematográficas.

Também o azul, em seus mais diversos tons, é utilizado para demonstrar

diversas emoções, entre elas, a sensação de algo ser divino. Como antes citado, o

azul sempre foi de difícil obtenção, e por consequência, ligado à nobreza e dessa

forma, foi utilizado, principalmente na pintura, para retratar as divindades. A ligação

do azul ao divino, ao sagrado e ao santificado, também pode ser justificada por estar

ligada a cor do céu (HELLER, 2004).

A harmonia, a simpatia, a amizade e a confiança também são sentimentos

ligados à cor azul, e segundo Heller (2004), estes sentimentos são aqueles que

somente surgem com o tempo, ou seja, aqueles que são despertados pela

reciprocidade. Heller (2004) também constatou que estas emoções estão ligadas à

ideia de o céu ser azul, da cor ser divina e estar relacionada com o eterno,

simplificando, o azul é a cor de tudo aquilo que desejamos que permaneça, que dure

eternamente.

A cor azul traz consigo a ideia da eternidade, devido aos sentimentos a está

ligada e, dessa forma incorpora a significação de que quando utilizada enquanto

recurso de linguagem cinematográfica, que a utiliza para enriquecer e aprimorar seu

diálogo com o espectador, passa a ser um meio de comunicação com o mesmo. A

comunicação através das cores funciona de forma subjetiva e se dá através dos

significados e simbologias inseridos no meio cinematográfico pela cultura popular.

Ao tratarmos do azul enquanto linguagem cinematográfica aplicada aos

sentimentos, estaremos falando de emoções permanentes, como a simpatia, a

amizade e a confiança. Ao tratarmos desta cor enquanto material de cena,

componente de cenário e figurino, geralmente a mesma aparece denotando leveza,

repouso, tranquilidade ou frieza.

4.3 ANÁLISE DE FILMES CONTEMPORÂNEOS

Ao assistirmos uma produção cinematográfica, são poucas as pessoas que

levam em conta os elementos de cena para entender as circunstâncias da trama que

está se desenrolando. Porém é cada vez mais frequente que os produtores

Page 63: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

62

envolvidos no desenvolvimento do filme acrescentem mais do que somente os

atores como fonte de transmissão de signos para o espectador.

As cores estão presentes como um dos elementos utilizados para que o

espectador seja capaz de captar os estados emocionais dos personagens que estão

inseridos nos acontecimentos da trama fílmica. É possível identificar a presença das

mesmas em diversos aspectos e em diferentes representações.

Com o intuito de referir a uma determinada emoção, os diretores fazem uso

de diversos itens para serem capazes de transmitir o sentimento desejado. A

sonoplastia ajuda a conferir o clima para as cenas, por exemplo, enquanto que o

cenário concede um espaço-tempo para a narrativa. Mas as cores inseridas nas

cenas fazem com que o som e o cenário recebam um sentido maior através de suas

propriedades sígnicas.

As propriedades sígnicas são concedidas através das crenças populares e

todas as formas de linguagens possuem seus próprio signos. Os signos podem

variar de cultura para cultura, mas estão presentes em cena com o intuito de tornar a

produção cinematográfica mais interessante e mais desafiadora para o espectador.

Um exemplo do poder representativo da cor pode ser obtido no filme Blue

(1993), de Derek Jarman. O filme trata da história de vida do próprio Jarman

enquanto homossexual e portador do vírus da AIDS em estágio terminal.

Figura 20 - Pôster de Blue (1993)

Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt0106438/mediaviewer/rm998543872>. Acesso

em 06 out. 2017.

Page 64: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

63

Jarman trabalha, durante os 70 minutos do filme, apenas com uma tela azul

estática. O som é o responsável por todo o enredo. Em decorrência das

complicações da doença, o mesmo perdeu quase cem por cento da visão, e, sendo

assim, ele escolheu trabalhar com a tela estática com o intuito de evocar no

espectador as sensações descritas no discurso do filme, sem que as mesmas

pudessem ser experienciadas pelo olhar.

A cor azul foi escolhida pois o autor se inspirou em uma obra de Yves Klein,

uma pintura monocromática, vista durante uma visita ao TATE Britain, em Londres,

em 1974. Depois desta exposição Jarman ficou tentado a realizar uma obra em

homenagem a Klein, onde pudesse utilizar o que chamou de “International Klein

Blue”, uma cor vibrante que expressa uma experiência sensorial rarefeita, que

transcende a realidade e alcança um futuro imaterial e espiritual23.

Figura 21 - Pintura monocromática de Yves Klein

Fonte: <http://www.tate.org.uk/art/artists/yves-klein-1418>. Acesso em 06 out. 2017.

Figura 22 – Frame de Blue (1993)

Fonte <http://www.imdb.com/title/tt0106438/mediaviewer/rm3931217408. Acesso em 06 out.

2017

23 Informações compiladas do site do TATE Britain, museu de arte independente. Disponíveis em:

<http://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/display/derek-jarman-blue>. Acesso em 06 out. 2017.

Page 65: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

64

Para que a concepção de sentido de uma cor aconteça, não

necessariamente ela se apresentará sozinha. As produções utilizam-se de acordes

cromáticos para que um efeito seja atingido e se torne tangível para o espectador.

Segundo Heller (2004, p. 18), “um acorde cromático se compõe daquelas

cores que mais frequentemente associam-se a um efeito particular. [...] Um acorde

cromático não é nenhuma combinação acidental de cores e, sim, um todo

inconfundível”, ou seja, cada cor está em determinado lugar porque precisa estar lá.

Nenhuma cor aparece em cena sem ter sido colocada naquele ambiente com um

determinado intuito e com um significado a ser transmitido.

Um exemplo de acorde cromático pode ser percebido na criação das paletas

de cores do filmes. Todas as cores inseridas, estão ali com o intuito de ambientar o

roteiro, de dar seguimento à ideia proposta e entregar ao espectador aquilo que ele

precisa perceber.

As cores são colocadas nas paletas para agir como signos, como

representações de algo maior que precisa ser apresentado ao espectador. Segundo

Peirce (apud Santaella, 2005, p. 43), “[...] o signo é uma mediação entre o objeto

(aquilo que ele representa) e o interpretante (o efeito que produz) [..]” e, por este

motivo, os signos dependem da interpretação do espectador para que passem a

mensagem correta.

4.3.1 O REGRESSO (2015)

Como exemplo disto, temos o filme O Regresso (2015), foi vencedor de três

categorias do Oscar 2016 e indicado em outras nove. O filme conta a história de

Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), um explorador norte-americano, que em 1823,

durante uma exploração no Velho Oeste, é atacado por um urso e deixado para trás

por seu companheiro para morrer; Hugh sobrevive e, então, sai em território

selvagem em busca de vingança contra o ex-companheiro, pois este além de

abandoná-lo, ainda matou seu filho.

Page 66: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

65

Figura 23 – Pôster de O Regresso (2015)

Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt1663202/mediaviewer/rm2770541312>. Acesso

em 22 nov. 2017.

Ao analisar o projeto cinematográfico de Alejandro Iñarritu (diretor geral) e

Emmanuel Lubezki (diretor de fotografia), é possível perceber nitidamente o uso das

cores enquanto meio de comunicação com o espectador e como elas são usadas

para ambientar o cenário.

4.3.1.1 AZUL: PERTURBAÇÃO E TRISTEZA

Iñarritu e Lubezki fizeram uso de um acorde cromático chamado por Heller

(2004) de “distante” (figura 24). Para a autora, o azul é a cor da frieza, da

passividade, da serenidade e da fidelidade e, de certa forma, todos estes

sentimentos podem ser encontrados em Hugh durante o filme.

Page 67: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

66

Figura 24 - Acorde Cromático: o distante

Fonte: Heller (2004, n.p.)

Este acorde cromático pode ser encontrado durante toda a extensão do

projeto cinematográfico, mas em especial a partir do momento em que a

personagem principal começa a buscar o retorno ao seu vilarejo.

A frieza é sentida tanto no próprio cenário, que traz imagens de nevascas,

de um inverno muito rigoroso, quanto na personagem, pois a mesma não se abala

com os imprevistos que encontra pelo caminho, tais quais sua dificuldade de andar

ou de precisar abrigar-se dentro do corpo de um animal morto para sobreviver.

Neste caso, trata-se do sentimento de frieza emocional.

Apesar da situação à qual está exposta, a personagem mantém-se serena

durante sua jornada. Parece sentir que apesar de todos os percalços que encontrou

pelo caminho conseguirá chegar ao seu destino e atingir seu objetivo. Sua

serenidade pode ser observada até mesmo através de gestos bondosos que pratica

durante seu percurso, como é o caso do salvamento de uma jovem que estava

sendo abusada por índios em um acampamento do qual se aproxima.

A personagem mantém-se durante todo o desenrolar do filme em busca de

vingança pela morte do filho e pode-se, de certo modo, dizer que ele se mantém fiel

a seu ideal e à memória do menino que foi assassinado.

Segundo o estudo realizado por Heller (2004), uma cor complementa a outra

e dá significado, ajudando o espectador a entender alguns dos sentimentos da

personagem que não são expressos de forma verbal, por exemplo.

Page 68: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

67

O acorde cromático de distanciamento pode ser observado na figura a seguir

(figura 25), que foi retirada do filme citado, onde é possível enxergar todas as cores

descritas por Heller (2004) no acorde cromático trabalhado em seu livro.

Figura 25 - O Regresso (2015): acorde cromático de “distanciamento”

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 24 set. 2017.

Ao analisarmos a cena representada na figura 25 juntamente com a tabela

(figura 6) do acorde cromático proposto por Heller (2004), é possível inferir que a

construção de um sentimento pode dar-se pela junção de diversos itens de

construção de cena, mas um dos mais importantes é a cor. Através das cores

podemos compreender o que está se passando com a personagem.

Da mesma forma que a composição do acorde cromático em O Regresso

(2015) conversa com o espectador e transmite a ideia do distanciamento emocional

dos sentimentos que a personagem que está à espera da vingança não expressa

verbalmente, ela nos mostra o quanto a composição da paleta de cores a ser

empregada em um filme é importante.

A figura 6 (página 29), onde de acordo com Martins (2004), estão listados os

diferentes tipos de emoções, pode nos dar ideia de como uma combinação de

Page 69: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

68

sentimentos transforma-se em novas emoções. Em O Regresso (2015), a

personagem principal enfrenta diversas “classificações” de sentimentos.

Segundo a figura 6 e seu agrupamento de emoções, dos sentimentos

considerados “positivos”, a personagem demonstra apenas um: o amor.

Considerado como uma emoção combinada, ele é o resultado da junção de diversos

sentimentos e pertencente à “classe” que provêm da identidade/socialização. Hugh

Glass, sente um amor incondicional e avassalador por seu filho, que se torna o

motivo de todos os outros sentimentos virem à tona (MARTINS, 2004).

Os demais sentimentos expressos pelo personagem ou descobertos através

da análise semiótica do filme, se apresentam como “emoções negativas”: a

perturbação, o incômodo, a raiva, a tristeza e o nojo, são classificados por Martins

(2004), como proto-emoções ou emoções básicas, fazem parte das pessoas desde

que nascem e incluem-se na “classe” da autorregulação, apego e defesa. Além

destes, a personagem ainda apresenta a culpa, que é considerada uma emoção

combinada, e se origina a partir do momento em que o mesmo não consegue evitar

a morte de seu filho, mesmo que o fato tenha ocorrido a partir de uma trapaça do ex-

companheiro da personagem.

A paleta inserida em uma obra cinematográfica é de extrema importância

para a transmissão das emoções ocultas, visto que ela é capaz de revelar aos olhos

dos espectadores o que está velado, o que é uma mensagem codificada esperando

para ser explorada.

Os profissionais que estão envolvidos na produção de um filme precisam

estar atentos a todos os sinais que os componentes inseridos nas cenas

representam, pois, como vimos, uma simples combinação de cores pode resultar em

um desastroso sentimento quando “traduzido” em uma análise.

4.3.2 AZUL É A COR MAIS QUENTE (2013)

O filme Azul é a Cor Mais Quente (2013), conta a história de Adèle, uma

adolescente de 15 anos que descobre sua sexualidade com uma moça mais velha,

chamada Emma. A história narra o amadurecimento de Adèle enquanto mulher e

suas descobertas ao longo dos anos. O enredo é baseado, de forma livre, na história

Le Bleu est une Couleur Chaude24, datado de 2010 e escrito por Julie Maroh.

24 Do francês: O Azul é Uma Cor Quente.

Page 70: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

69

Na França, o longa-metragem recebeu o nome de La Vie D’Adèle, já em

suas traduções ao redor do mundo, inclusive no Brasil, ficou conhecido como Azul é

a Cor Mais Quente, fazendo referência principalmente ao cabelo e aos olhos

marcantes da personagem Emma (figura 22).

Figura 26 - Pôsteres de Azul é a Cor Mais Quente (2013) ao redor do mundo

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com/>.

Acesso em 01 out. 2017.

4.3.2.1 AZUL: AFEIÇÃO E INQUIETAÇÃO

O filme Azul é a Cor Mais Quente (2013) faz uso da paleta de cores para

revelar a mensagem do encanto e da simpatia, ambas abordadas por Heller (2004),

enquanto acordes cromáticos, mesmo quando as personagens não haviam tido

contato uma com a outra e portanto não se conheciam.

Tanto o encanto quanto a simpatia, segundo Heller (2004), são

representadas por cores vibrantes como o vermelho e o verde. O azul se faz

presente em ambos os sentimentos e isto se deve ao fato de serem emoções que,

depois de sentidas, são carregadas por um longo tempo. É a ideia da cor azul estar

intimamente ligada aos sentimentos eternos.

Page 71: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

70

Figura 27 - Acordes cromáticos: simpatia e encanto

Fonte: Heller (2004, n.p.)

Durante a obra cinematográfica, o azul é uma das cores que mais se

percebe, mas não somente pelo fato de uma das personagens ter o cabelo e os

olhos azuis. Em todas as cenas analisadas a cor está presente de uma forma ou de

outra. Nas roupas, no mar, em objetos colocados nos cenários, o azul se faz

presente e, segundo Heller (2004), quando é combinado com o verde e o vermelho,

o mesmo desperta emoções de harmonia.

Na figura 28 as cores elencadas por Heller (2004) em seus acordes

cromáticos (figura 27) se fazem presentes de forma palpável. O encanto, acorde

cromático que utiliza as cores rosa, vermelho, verde, cinza e azul, se apresenta

ainda quando as duas personagens se cruzam em um lugar movimentado. É um

sentimento que aparece assim que o primeiro contato visual acontece.

Já o acorde da simpatia, representado pelas cores azul, verde, vermelho,

amarelo e laranja, pode ser percebido quando as duas trocam suas primeiras

palavras. Elas se encontram em um bar e conversam por alguns minutos, é

perceptível tanto pela linguagem corporal das duas, quanto pelas cores usadas no

“encontro” e na cena subsequente em que Adèle escreve em seu diário sobre

Emma, que a simpatia foi instantânea.

Page 72: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

71

Figura 28 - Azul é a Cor Mais Quente (2013): acorde cromático de “encanto” e

“paixão”

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 01 out. 2017.

As emoções que podemos perceber, tanto por demonstração quanto por

análise semiótica do filme, são o interesse, a curiosidade, a alegria, afeição e a

inquietação.

Segundo o quadro das emoções (figura 6) elaborado por Martins (2004), as

quatro primeiras citadas são positivas e se encontram na área das emoções básicas,

que são desenvolvidas desde a infância. Já a última, a inquietação, é considerada

por Martins (2004), como sendo negativa, como sendo um desprazer. Para Adèle,

pode ser considerada como uma emoção negativa, visto que, ela fica muito

interessada em Emma, o que a faz se questionar sobre sua sexualidade quando a

homossexualidade é um assunto muito distante de sua realidade.

Pode-se dizer que as cores são utilizadas nos filmes com o intuito de traduzir

ao espectador aquilo que foi planejado pelos diretores, mas que não pôde ficar

implícito de forma verbal e teve de ficar subjetivo.

Page 73: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

72

Os estados emocionais das personagens geralmente estão enquadrados

nestes casos, pois não há como narrar ou falar de como estão se sentindo durante

todos os momentos do filme.

Estado emocional, segundo Edwards (1973, p. 91), “trata[-se] de uma

experiência que contém uma carga afetiva, psicológica em sua origem e [é] revelada

no comportamento e nas funções fisiológicas”, através das atitudes das

personagens podemos perceber muito a seu respeito e, quando associamos suas

ações às cores empregadas nas cenas, passamos a entender melhor como funciona

sua percepção da situação em que a mesma está inserida.

4.3.3 MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR (2016)

Um dos mais marcantes filmes da atualidade, enquanto uso de cor nas

cenas a fim de transmitir emoções, é o vencedor do Oscar 2017 de “Melhor Roteiro

Adaptado” e do Globo de Ouro do mesmo ano de “Melhor Filme”. Moonlight: sob a

luz do luar é uma adaptação da peça In Moonlight Black Boys Look Blue25 de Tarell

Alvin McCraney.

Figura 29 - Pôster de Moonlight: sob a luz do luar (2016)

Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt4975722/mediaviewer/rm1452607488>. Acesso

em 03 out. 2017.

25 Do inglês: Sob a Luz do Luar Meninos Negros parecem Azuis.

Page 74: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

73

O filme conta a história de Chiron em três diferentes fases de sua vida.

Quando criança, quando adolescente e quando adulto. Quando pequeno, Chiron

sofria bullying na escola por ser diferente dos demais colegas. Em sua primeira

aparição no filme, o mesmo está tentando fugir de um grupo de garotos que o

ameaçava.

Logo no início do longa-metragem, Chiron conhece seu “salvador”. Juan, seu

mais novo amigo e protetor, é narcotraficante, chefe do tráfico na região onde o

menino mora. Ele encontra em Juan alguém que o ajuda a se entender e se aceitar

do jeito que é. Chiron vive com a mãe em Liberty City, Miami. Seu nome é Paula, e

ela é usuária de drogas e abusa emocionalmente do filho. Nesta primeira parte

também conhecemos as personagens Teresa, mulher de Juan, e Kevin, amigo de

Chiron.

Na segunda parte, durante a adolescência de Chiron, uma das piores partes

desta fase, acontece quando o menino precisa lidar com a situação em que a mãe

se encontra. Ela está cada vez mais incontrolável e instável. Chiron ainda conta com

a ajuda de Teresa para sobreviver a esta fase, mas Juan já não o pode ajudar, pois

morreu. Na escola, o menino continua sofrendo bullying por sua diferença perante os

colegas: Chiron é homossexual e encontra em Kevin apoio, compreensão e prazer.

Os dois têm um encontro na praia onde acabam fazendo sexo.

Nesta faixa etária, os colegas nomeiam-no como “bicha” e “veado”, o que o

deixa muito mal consigo mesmo. Em determinado período, Chiron não aguenta mais

sofrer com as agressões dos colegas, que neste momento se tornam físicas e muito

hostis. Depois de ser espancado por Kevin, junto com outros três colegas de escola,

Chiron revida com uma cadeirada em um deles e acaba preso.

A terceira fase começa com um Chiron já adulto e livre. Nesta fase, ele é

conhecido como “Black” e comanda o narcotráfico de Atlanta. Ele recebe muitas

ligações de Paula, sua mãe, que pede que ele o visite na clínica de tratamento de

viciados em drogas em que está internada, pois está muito arrependida de tudo o

que o fez passar. Em uma certa noite, ele recebe o telefonema de Kevin, que o

convida para voltar a Miami para uma visita.

Neste reencontro, Kevin, que está surpreso pela nova vida de Chiron,

principalmente com seu “trabalho”, desculpa-se e conta sobre sua vida desde a

última vez em que se viram. Os dois conversam durante longas horas, e Chiron

Page 75: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

74

conta a Kevin que nunca mais foi íntimo de ninguém desde seu encontro. Kevin o

conforta enquanto Chiron relembra seus tempos de criança na praia.

4.3.3.1 Azul: confiança, vergonha e incômodo

A história de filme conta de forma muito completa e complexa todas as

emoções pelas quais Chiron passa durante as três fases de sua vida. Analisando o

pôster do filme (figura 29), podemos perceber ali mesmo o quão fundamental são as

cores no enredo dessa narrativa. O cartaz é divido em três partes, que representam

as três fases da vida de Chiron que serão abordadas no filme.

A primeira faixa traz a imagem da primeira fase, acompanhado de um tom

de azul mais suave, que acompanha o menino durante toda a primeira fase do filme.

A segunda faixa apresenta um tom de roxo, característica da introspecção e da

tristeza, que representa a fase mais sofrida da vida de Chiron. Na terceira faixa,

encontra-se um tom mais escuro de azul, um indício de que, com a passagem do

tempo e as dificuldades encontradas, Chiron endureceu e tornou-se mais sombrio,

mais “escuro”.

A infância (primeira fase retratada), pode ser representada em duas partes

específicas: o lado positivo, que é seu encontro com Juan, e o lado negativo:

formado pela depreciação que sofre por parte da mãe e do bullying que sofre na

escola.

Na figura 30 podemos acompanhar o momento em que Chiron conhece

Juan e Teresa, seus novos amigos e uma espécie de salvação para o menino, pois

com eles, Chiron não tem medo de ser quem é e acreditar que sua vida pode ser

melhor. Além de acompanhar o momento de encontro entre os personagens,

podemos ver através da paleta de cores da mesma, que o momento resume-se em

cores vibrantes e alegres.

Page 76: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

75

Figura 30 - Chiron conhece Juan e Teresa

Fonte: Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 07 out. 2017.

Ao analisarmos a paleta formada a partir dos frames do filme e utilizarmos o

livro de Heller (2004) para relacioná-la com emoções, chegaremos a dois acordes

cromáticos que possuem relação com os sentimentos de Chiron. A confiança e a

força foram os acordes cromáticos escolhidos para a moldagem desta análise.

Figura 31 - Acordes cromáticos de “confiança” e de “força”

Fonte: Heller (2004, n.p.)

De uma forma muito espontânea, e própria das crianças, Chiron confia em

Juan. Apesar de não querer falar com o homem, aparentemente o menino se sente

Page 77: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

76

seguro com o mesmo e concorda, não apenas em sair com ele, como também ir a

sua casa e dormir lá.

Pode-se dizer que a força se mostra presente também através da confiança,

pois Juan salva o menino e o ajuda em um momento difícil. É como se Chiron

encontrasse em Juan a força de sair do lugar abandonado onde estava e seguir em

frente. Aqui podemos falar de maneira literal, pois quando se encontraram pela

primeira vez, o menino estava em uma casa abandonada, mas também

metaforicamente, visto que Chiron estava perdido em sua casa, sem suporte e

sofrendo com os transtornos da mãe e da mesma forma que também estava perdido

na escola, sofrendo bullying e apanhando dos colegas.

Na segunda etapa do filme, durante a adolescência de Chiron, pode-se dizer

que houve um escurecimento nos tons utilizados para ambientação das cenas. Os

tons passaram de um azul mais claro para um tom de roxo, indicando o quão difícil

esta fase se mostra para a personagem.

O Chiron adolescente continua sofrendo com a mãe e com problemas na

escola, pois nesta fase os colegas o apelidam e usam o vício da mãe para zombá-lo.

Também nesta fase, ele passa a ter emoções mais escuras, passa a se sentir

isolado e não consegue defender-se dos ataques.

Figura 32 - Chiron na escola

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 07 out. 2017.

Page 78: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

77

De acordo com os acordes cromáticos de Heller (2004), podemos classificar

a cena representada na figura 32 como sendo combinações de cores que indicam a

passividade e a introversão.

Figura 33 - Acordes cromáticos de “passividade” e “introversão”

Fonte: Heller (2004, n.p.)

A passividade de Chiron é questionada por Kevin ainda quando eram

crianças, quando o menino assiste aos outros zombarem e baterem em Chiron.

Percebe-se que com a passagem de tempo que ocorre no filme, infelizmente, o

menino continua inerte a todas as coisas que lhe incomodam, como por exemplo o

bullying que sofre.

A introversão de Chiron é aparente durante todo o longa e, boa parte dela,

se deve aos problemas que enfrentou com a mãe desde pequeno, pois sempre foi

julgado e criticado por ela. Ele aprendeu ainda em casa, quando criança, que não

devia se abrir com ninguém, pois seria censurado e depreciado pelos demais.

Referente aos sentimentos de Chiron, podemos inferir que nele existe uma

mistura de perturbação, inquietação, incômodo, tristeza, medo e vergonha. Martins

(2004) classifica os três primeiros como proto-emoções negativas e as três últimas

também como emoções negativas, no entanto como sendo básicas, pois como

aconteceu com Chiron, estas emoções são “cultivadas” desde que somos pequenos

e estão ligadas às defesas que criamos.

Não é apenas uma coincidência que Chiron tenha criado emoções negativas

todas ligadas à infância, visto que, estes sentimentos surgiram a partir do que o

menino viu e ouviu quando era pequeno, tanto por parte da mãe, quanto por parte

dos “amigos”.

Page 79: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

78

É importante ressaltar que na fase adolescente de Chiron, são muito raros

os momentos em que o menino teve um momento alegre. Pode-se citar também,

que ele passa para o final da fase adolescente com cores cada vez mais escuras e

que, por sinal, acabam prevendo o futuro infeliz que o espera em pouco tempo.

Depois de apanhar de Kevin e outros três colegas, Chiron se vinga com uma

cadeirada em um deles e é preso.

A fase três do filme retrata a etapa adulta da vida de Chiron. Neste

momento, ele já está fora da prisão e comanda o tráfico de Atlanta. As cenas

passam a trabalhar com uma luz avermelhada, dando ideia de que ele está mais à

vontade com a vida que leva agora, que se sente mais confortável do que se sentia

na infância e na juventude.

A cor azul, no entanto, aparece agora em detalhes e continua sendo de total

importância para o enredo do filme, pois da mesma forma que fazia nas outras duas

fases, ainda ajuda a exteriorizar os sentimentos de Chiron. Apesar de não ser mais

uma pessoa retraída como era antes, Chiron ainda guarda muitas mágoas e

segredos e o azul aplicado nos detalhes das cenas aparece para representar isto.

Figura 34 - O azul enquanto componente de cena

Fonte: Netflix. Acesso em 07 out. 2017.

Através da figura 34 podemos perceber o quão importante o azul inserido

nos detalhes é, pois, em todos os frames selecionados, Chiron está fazendo alguma

coisa que o deixa desconfortável, o que acaba trazendo para a superfície de seu ser

o menino inseguro, introvertido e envergonhado que era na infância e na

adolescência.

Page 80: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

79

Para retratar o momento adulto do personagem, escolhemos o acorde

cromático de Heller (2004) que representa o distanciamento (figura x). Chiron não é

mais o mesmo menino assustado e vacilante que era nas outras duas fases de sua

vida, mas agora é um adulto distante, que quer deixar seu passado para trás para

não ter que enfrentar as mágoas e dificuldades novamente. Suas emoções são

escondidas pela nova vida criminosa de chefe do tráfico, mas a insegurança e o

medo do julgamento alheio ainda lhe incomodam.

Figura 35 - Acorde cromático de “distanciamento”

Heller (2004, n.p.)

Através deste exemplo, confirmamos mais uma vez o quão importante é o

trabalho dos profissionais que trabalham na cenografia, maquiagem, figurino de um

longa-metragem, pois os detalhes, o posicionamento de todos os objetos, a

iluminação e até o da câmera, fazem toda a diferença para que os instrumentos

utilizados estejam bem colocados e façam com que os espectadores percebam o

sentido dos mesmos.

4.3.4 TRON: O LEGADO (2010)

Como exemplo de filme contemporâneo que faz uso do tema da tecnologia

relacionado às novas descobertas, podemos citar Tron: o legado (2010). O filme se

trata da continuação de Tron: uma odisseia eletrônica (1982) que, diferentemente do

primeiro, traz como personagem principal Sam Flynn, filho de Kevin Flynn, que foi o

personagem principal do primeiro filme.

Page 81: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

80

Figura 36 - Pôsteres de Tron: uma odisseia eletrônica (1982) e Tron: o legado (2010)

Fonte: Imagem elaborada pela aluna através de imagens disponíveis em:

<http://www.imdb.com/>. Acesso em 08 out. 2017.

Em “O Legado”, Kevin, um programador dono da maior empresa de

tecnologia do mundo, a ENCOM, desaparece sem deixar rastros quando Sam ainda

é uma criança, deixando todos curiosos sobre seu paradeiro. Vinte anos se passam,

Sam já é um adulto e, misteriosamente, um dos amigos de seu pai, Alan, recebe

uma mensagem em um pager, um pedido de Kevin para que ele vá até seu antigo

fliperama.

Quem se dirige até lá é Sam, que descobre o laboratório secreto de seu pai,

e da mesma forma que ele, acaba sendo sugado para a realidade virtual da Grade,

um mundo digital desenvolvido por Kevin, há muitos anos atrás.

Neste mundo virtual, Sam encontra CLU, um programa criado por Kevin para

manter a ordem e a perfeição da realidade virtual, que se voltou contra ele e desde

então o mantém preso na Grade. CLU é uma reprodução física de Kevin, visto que

este não podia passar o tempo inteiro no mundo virtual, acabou criando uma cópia

de si mesmo para que tomasse conta do lugar enquanto estivesse fora. Além disso,

CLU ainda reprogramou Tron, o programa de segurança criado por Kevin e Alan e

seu maior aliado no mundo virtual. Com a reprogramação, Tron passou a ser o fiel e

inescrupuloso vassalo de CLU.

Sam, ao ser sugado, é levado a um campo de batalhas, onde diferentes

programas se enfrentam por sua sobrevivência. CLU é o chefe deste mundo e ao

descobrir que o filho de Kevin está ali, vê sua chance de conseguir o que sempre

Page 82: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

81

quis: o disco de identificação de Kevin, uma espécie de diário, onde tudo fica

registrado. Tudo o que se aprende, tudo o que se vê e todas as informações sobre

os dados que passam pela vida de cada programa. O disco de Kevin é uma espécie

de chave-mestra, que comanda todo o sistema e o mantém de pé, visto que o

criador de tudo isso é o próprio Kevin.

Após uma batalha, Kevin e Sam se reencontram depois de muito tempo,

contam como têm levado a vida, mas discutem, principalmente, o porquê de Kevin

nunca ter voltado para casa. Então Sam fica sabendo de tudo o que CLU fez para

dominar o mundo virtual e como planeja dominar o mundo real também.

4.3.4.1 AZUL: INTERESSE, CURIOSIDADE E INQUIETAÇÃO

Os filmes que trabalham com o tema da tecnologia são exemplos do uso

abundante do azul para ambientação de seus cenários, visto que, a tecnologia

possui uma relação muito forte com o que é relacionado ao progresso, às

descobertas e ao futuro. Como dito anteriormente, segundo Heller (2004), o azul

está relacionado às emoções de longa duração e, de certo modo, com o futuro, com

o que está porvir.

O filme trabalha as cores intensamente e, através delas, explora as emoções

de todos os personagens envolvidos na trama. O azul é utilizado, principalmente

para referir-se a tecnologia e as descobertas que estão sendo feitas, mas também

com relação às memórias afetivas de Kevin e aos sentimentos que são descobertos

ao longo da história.

Ao analisarmos as imagens do filme e colocá-las lado a lado com a análise

de Heller (2004), podemos inferir que os acordes cromáticos que mais se encaixam

com a trama e as cores empregadas nela, são a ciência, a inteligência e o

dinamismo.

Page 83: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

82

Figura 37 - Acordes cromáticos de “inteligência”, “ciência” e “dinamismo”

Fonte: Heller (2004, n.p.)

Para que a análise do filme seja feita de uma forma mais completa,

escolhemos frames de partes diferentes do filme, visto que o azul, em seus mais

diversos tons é usado em abundância durante a produção.

A inteligência, o primeiro acorde cromático representado na figura 37,

mostra-se presente em diversas partes do enredo, visto que o filme trata de

tecnologia e novas descobertas.

Figura 38 – Tron: acorde cromático da “inteligência”

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 08 out. 2017.

Page 84: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

83

Podemos perceber através da figura 38 que, neste caso, a tecnologia se

apresenta através de diversas cores, devido ao acorde cromático, mas que todas

elas puxam sua matiz para o azul. Segundo os estudos de Heller (2004), o azul

desperta as emoções da serenidade e da harmonia e, se levarmos em conta os

momento em que estamos “exercitando” a nossa inteligência, na maior parte das

vezes, estamos em um ambiente calmo, onde podemos estar em harmonia com nós

mesmos e, assim, desenvolver um trabalho de qualidade. A serenidade é uma aliada

da inteligência e, por isso, podemos percebê-la através da análise do acorde

cromático de Heller (2004).

O segundo acorde cromático representado na figura 37 é a ciência e este é

muito parecido com o acorde da inteligência. Isto não acontece por acaso, pois

ambas estão intimamente ligadas. Para desenvolvermos a ciência, precisamos da

inteligência, faz parte do processo de concepção de novas realizações ou projetos

que haja um estudo por trás dele. Todo e qualquer desenvolvimento de projeto

requer o estudo dos passos, seja uma tarefa simples, como montar um móvel em

casa, ou uma tarefa mais complexa, como a estruturação do cenário de um filme,

por exemplo. Para que haja ciência, precisamos de inteligência.

Figura 39 – Tron: acorde cromático da “ciência”

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 08 out. 2017.

Page 85: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

84

A ciência também é uma parte fundamental do enredo do filme, pois as

personagens envolvidas trabalham com ela o tempo todo. Além disso, a história

apresentada só acontece porque Kevin, ainda no primeiro filme, inventa o portal que

dá acesso ao mundo virtual. Em sua invenção, o personagem se vale de leis da

física, de matemática e de outras ciências para desenvolver seu trabalho.

Como o intuito aqui é relacionar a ciência enquanto emoção, podemos dizer

que a mesma é uma espécie de emoção combinada, que ela se torna um resultado

de emoções que já conhecemos. Kevin sente amor, afeição, interesse, curiosidade

pela ciência em que trabalha. Ele se sente tão apegado em relação às suas

descobertas, acha tão fantástico o acesso à isso, que acaba transformando a ciência

em seu sentimento mais poderoso.

Seu filho, porém, sente aversão, inquietação e incômodo em relação à

mesma ciência que seu pai amava, pois ela foi a responsável por separá-los quando

ainda era pequeno. Com o desenrolar da história e com o contato que estabelece

com o pai, ao final da trama, entretanto, o menino descobre o prazer da ciência e até

mesmo assume o lugar do pai na empresa da família.

O último acorde cromático representado na figura 37 é o dinamismo. Este

acorde vem representando os momentos de ação do filme, as lutas, os embates, os

problemas enfrentados pelos personagens. É possível identificar este acorde,

principalmente, quando CLU e seu exército se apresentam.

Page 86: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

85

Figura 40 - Acorde cromático de “dinamismo”

Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.

Acesso em: 08 out. 2017.

A figura 40 foi composta com frames de diversos momentos do filme e, por

isso, mostra o acorde cromático do dinamismo de forma mais completa. No primeiro

frame escolhido, Sam está sendo encaminhado para a preparação antes de entrar

na arena de batalha. No segundo e terceiro frames, temos a primeira aparição de

CLU e o momento em que Sam se encontra com ele e, no último, o momento em

que o vilão dá as boas-vindas a seu exército. Os momentos descritos definem partes

muito importantes do longa-metragem.

Cada vez que vemos CLU e seus homens, podemos associá-los ao

dinamismo, pois ser dinâmico está relacionado a movimentar, a mudar uma situação

e é isso que estes personagens fazem.

Se relacionarmos o dinamismo que provêm de CLU e seu exército, teremos

diversos sentimentos ligados a eles e, isto faz com que este dinamismo acabe por

ser tornar uma emoção no contexto do filme. Analisemos os momento representados

na figura 40. Por exemplo, no primeiro frame Sam está indo para os jogos, portanto

a perturbação, a inquietação e o medo se fazem presentes, visto que ele não sabe

do que estes jogos se tratam.

Page 87: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

86

O dinamismo enquanto emoção será sentido e nomeado através de outras

emoções e sentimentos, mas como faz Martins (2004), podemos uni-los e formar

emoções combinadas, emoções que nascem a partir da junção de outras emoções.

Na análise de Tron: o legado (2010), utilizamo-nos da estrutura montada por

Martins (2004), das proto-emoções que se transformam em emoções básicas e que

mais tarde se transformam em emoções combinadas e, sendo assim, através da

combinação de diversas classificações de emoções fomos capazes de nomear

novas emoções. Essas novas emoções, como o dinamismo e a ciência, são

formadas a partir de emoções comuns a todos os seres, mas adquirem um novo

nome e um significado especial devido ao contexto em que estão inseridos no filme.

Os profissionais que executaram a montagem dos cenários e figurinos do

filme em questão, fizeram uso de cores opostas nos diferentes momentos da

produção do longa-metragem. Percebe-se que nos momentos de quietude, de

tranquilidade do filme as cores são mais escuras e fechadas, porém nas lutas e

confrontos, as cores se abrem e se tornam mais claras e vibrantes, demonstrando

ação, movimento.

De acordo com Joly (1999, p. 48), “uma das funções da análise da imagem

pode ser a procura ou a verificação das causas do bom funcionamento, ou pelo

contrário, do mau funcionamento da mensagem visual” e, é exatamente este o

intuito de analisar o emprego da cor azul nestas obras cinematográficas, procurar e

verificar a utilização da mesma enquanto um meio de comunicação com o

espectador do filme, mas também avaliar o trabalho dos profissionais que estão

atrás das câmeras, nos bastidores, os que são responsáveis por cada aparição de

cada tom empregado em cada cena assistida.

Page 88: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

87

Page 89: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

88

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tem como tema a relação das cores com o cinema

contemporâneo e a manifestação de emoções através das mesmas. O problema de

pesquisa proposto é: como as cores traduzem as emoções e apresentam

diferentes manifestações de sentimento no cinema contemporâneo? A fim de

solucionar este problema, utilizaremos os métodos de pesquisa bibliográfica e

análise de imagens fílmicas com base na semiótica das cores e sua relação com as

emoções.

A fim de melhor explorar os assuntos abordados e entender o quão profundos

e complexos os mesmo são, decidimos dividi-los em partes tratar deles em

diferentes esferas e correlações.

As cores são apresentadas no segundo capítulo para que pudéssemos

entender sua relação com o mundo em que vivemos e como estão intrínsecas aos

demais temas que viriam a ser abordados posteriormente.

As cores são elementos compositores de ambientes e objetos nos quais

encontram-se inseridas. Através delas, torna-se possível o envio de mensagens às

pessoas, pois cada uma está ligada à uma significação, à uma acepção dada,

geralmente, pelas antigas civilizações.

As antigas civilizações já tratavam as cores como um elemento repleto de

significados ocultos. Quanto mais rara e difícil de se obter fosse a cor, mais nobre

ela seria e, por consequência, maior seria a sua significação, pois haveria um

acréscimo no montante de signos atribuídos à mesma em relação à sua

singularidade

Ainda neste segundo capítulo, também abordamos o tema das emoções,

suas classificações e como as mesmas se apresentam, se formam e são

caracterizadas. Além disso, ainda trazemos a teoria semiótica para a discussão, com

o intuito de entendermos de que forma as cores e as emoções se entrelaçam e

influenciam na vida dos seres humanos.

A abordagem realizada, além de tratar dos conceitos e características de

ambos os temas, também fez menção às relações que foram estabelecidas entre

Page 90: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

89

eles, fazendo com que nascesse a visão esperada para o desenvolvimento deste

trabalho, que se trata justamente da subjetividade gerada através da junção dos do

cinema com as cores e a análise dos mesmo através da teoria semiótica.

Tratamos no terceiro capítulo sobre o cinema contemporâneo e os

profissionais que se envolvem na produção de uma obra cinematográfica. A cor se

faz presente novamente, desta vez enquanto participante do fazer cinematográfico,

trazendo para o espectador novas percepções. Na visão dos profissionais,

explanamos sobre como cada um deles pode contribuir para com a obra através da

aplicação das cores em cena, trazendo um aperfeiçoamento para a obra, através,

por exemplo, do correto uso da correção de cores, utilizada para melhorar a

aparência do filme e enriquecer a obra como um todo.

O resultado obtido através da junção da cor com o cinema contemporâneo, é

um tipo de linguagem, pois comunica fatos, acontecimento e circunstâncias para o

espectador e, por isso, também foram abordadas, pois são importantes para a

compreensão do universo que faz parte da filmagem e da análise fílmica,

empregada por teóricos e estudiosos da área.

Para o último capítulo, elegemos os filmes a serem analisados: datados de

2010 até os dias de hoje. Queríamos um vasto leque de opções de obras

cinematográficas que pudéssemos analisar e entender como as cores se

manifestavam nelas. A fim de que o estudo ficasse mais aprofundado em

determinados pontos, escolhemos trabalhar com filmes que fizessem uso da cor azul

como uma das mais abrangentes em suas paletas de cores.

A escolha do azul se caracterizou porque o mesmo é uma cor muito

abrangente, apesar de, na maioria das vezes, ser reconhecido apenas como a cor

do distanciamento e da frieza. Esta cor possui um vasto campo de atuações e é

muito versátil. Através dos acordes cromáticos desenvolvidos por Heller (2004),

fomos capazes de contemplar o quão ampla é a gama de sentimentos que se

associam à cor azul.

Pretendíamos através deste estudo compreender o que é a cor e como ela se

manifesta através da semiótica e, através do método de pesquisa aplicado, fomos

Page 91: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

90

capazes de desenvolver uma pesquisa que fosse capaz de explanar de qual

maneira este fenômeno ocorre.

Além disso, também buscávamos entender como as cores traduzem as

emoções dos personagens nos filmes e como os profissionais que estão envolvidos

na produção cinematográfica ajudam a ambientar este cenário. Sendo assim,

através da análise de textos e teses fomos capazes de fundamentar a manifestação

efetiva da emoção nos filmes, através da análise do exercício de cada atividade.

Com a realização deste estudo, fomos capazes de entender a complexidade

que envolve a manifestação de emoções através das cores e como isto ocorre

durante uma obra cinematográfica. Aprendemos que existem diversos vieses que

podem ser analisados durante o desenvolvimento da pesquisa e que estes vieses

direcionam o estudo para novas descobertas e aprendizados.

Através das experiências e vivências que aconteceram durante o processo de

escrita deste trabalho, fomos capazes de perceber que existe muito a ser descoberto

no campo das cores, da semiótica e das emoções e que quando trabalhamos os três

temas juntos, o assunto torna-se muito fascinante e complexo e que muitas

pesquisas ainda podem ser feitas nas áreas que abrangem. São temas muito

importantes e complexos e abrangem diversos vieses e possibilidades de pesquisa

e, portanto se tornam de muita relevância para a área da Publicidade e Propaganda,

visto que, traz um novo olhar sobre as diferentes significações acerca de uma única

cor.

Page 92: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

91

REFERÊNCIAS

ANDREW, J. Dudley. As Principais Teorias do Cinema: Uma Introdução. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. AUMONT, Jacques. A Imagem. 9. ed. Campinas: Editora Papirus, 2004.

BARROCO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São

Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo64/barroco>. Acesso em: 21 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia.

BETTON, Gérard. Estética do Cinema. 1 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes,

1987.

ESTUDO DE SELEÇÃO NATURAL. In: KAHN Academy. São Paulo: Fundação Lemann, 2017. Disponível em: < https://www.khanacademy.org/science/biology/her/evolution-and-natural-

selection/a/darwin-evolution-natural-selection>. Acesso em 21 nov. 2017.

BRANCO, Péricles de Moraes. Pigmentos Minerais. 2015. Portal da Companhia de

Pesquisa de Recursos Minerais. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-

Ametista/Canal-Escola/Pigmentos-Minerais-1263.html>. Acesso em: 05 set. 2017 CASTRO, Davi de. Primeiro Filme Sonoro Completa 85 anos. 2012. Blog da

Empresa Brasileira de Comunicação. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cultura/2012/10/cantor-de-jazz-completa-85-anos>. Acesso

em: 23 ago. 2017. CONGRESSO DA ABRACE - ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS, 2012, Porto Alegre. A Maquiagem nas Formas Espetaculares. Bahia: Abrace, 2012. 7 p. Disponível em:

<http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/historia/Jose Roberto Santos SAMPAIO Laplane - A maquiagem nas formas espetaculares.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2017.

DEUTSCHER, Guy. Through the Language Glass: why the world looks different in

other languages. New York: Editora Metropolitan Books, 2010. Disponível em: <https://archive.org/details/ThroughTheLanguageGlass>. Acesso em: 05 set. 2017. DÍAZ, Caitlin. Color Reel. 2016. Disponível em: <http://caitlindiaz.com/Color-Reel>.

Acesso em: 23 ago. 2017.

EBERT, Carlos. Cor e Cinematografia. 2010. Disponível em:

<http://www.abcine.org.br/artigos/?id=114&/cor-e-cinematografia>. Acesso em: 14

ago. 2017. EDWARDS, David C. Manual de Psicologia Geral. São Paulo: Editora Cultrix,

1973.

Page 93: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

92

FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 4 ed. São Paulo:

Editora Edgar Blücher, 1990.

FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FRASER, Tom. O Essencial da Cor no Design. São Paulo: Editora Senac São

Paulo, 2012.

GOBÉ, Marc. A Emoção das Marcas: Conectando marcas às pessoas. Rio de

Janeiro: Editora Campus, 2002.

GOETHE, Johann Wolfgang Von. A Doutrina das Cores. 2. ed. São Paulo: Editora

Nova Alexandria, 1993.

GUIMARÃES, Luciano. A Cor Como Informação. 3 ed. São Paulo: Editora

Annablume, 2004.

GUIMARÃES, Luciano. As Cores na Mídia: A Organização da Cor-Informação no

Jornalismo. São Paulo: Editora Annablume, 2003.

HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: como as cores afetam a razão e a

emoção. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, 2004.

IGLECIO, Paula; ITALIANO, Isabel C. O Figurinista e o Processo de Criação do Figurino. 2012. Disponível em:

<http://coloquiomoda.hospedagemdesites.ws/anais/anais/8-Coloquio-de-

Moda_2012/GT09/COMUNICACAO-ORAL/103760_O_figurinista_e_o_processo_de_criacao_de_figurino.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017.

JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Lisboa: Editora Edições 70,1999.

KHAN ACADEMY. Darwin, evolution, & natural selection. 2017. Disponível em:

<https://www.khanacademy.org/science/biology/her/evolution-and-natural-

selection/a/darwin-evolution-natural-selection>. Acesso em: 21 nov. 2017. KREUTZ, Katia. Quero ser Diretor de Fotografia. 2017. Disponível em:

<http://www.aicinema.com.br/quero-ser-diretor-de-fotografia/>. Acesso em: 15 ago. 2017.

_____________. Quero Trabalhar com Som no Cinema. 2017. Disponível em:

<http://www.aicinema.com.br/quero-trabalhar-com-som-no-cinema/>. Acesso em: 23 ago. 2017. LE BRETON, David. As Paixões Ordinárias: Antropologia das Emoções. Petrópolis:

Editora Vozes, 2009.

LIGNELLI, César. Sonoplastia: Breve Percurso de um Conceito. Uberlândia: Editora

Ouvirouver, 2014. Disponível em:

<http://www.seer.ufu.br/index.php/ouvirouver/article/view/32065>. Acesso em: 26 ago. 2017.

Page 94: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

93

MAHON, Nik. Basics Advertising 02: Art Direction. USA: Ava Publishing, 2010.

MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico. 7 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

MAROT, Julie. Le Bleu est une Couleur Chaude. Paris: Editora Arsenal Pulp Press,

2010.

MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. 4 ed. Lisboa: Editora Dinalivro,

2005.

MARTINS, José Maria. A Lógica das Emoções: Na Ciência e na Vida. Petrópolis:

Editora Vozes, 2004.

MOURÃO, Maria Dora Genis. A montagem cinematográfica como ato criativo. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, [s.l.], v. 33, n. 25, p.229-250, 23 jun.

2006. Universidade de São Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2006.65628. Disponível em:

<https://www.revistas.usp.br/significacao/article/viewFile/65628/68243>. Acesso em: 26 ago. 2016.

NEWTON, Isaac. Óptica. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2002.

NORONHA, Danielle. A Arte da Correção de Cor. 2011. Blog da Associação

Brasileira de Cinematografia. Disponível em:

<http://www.abcine.org.br/artigos/?id=452&/a-arte-da-correcao-de-cor>. Acesso em: 23 ago. 2017. OROZCO, Tayane. A Melodia das Cores: O sensível, o audível e o visível. 2015. 88

f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Artes Visuais, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Natal, 2015. Cap. 4. Disponível em: < https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1852/1/FINAL%20A%20melodia%20das%20cores%20Marcado%20Comp%20Tayane%20Orozco.pdf>. Acesso em:

24 nov. 2017. PRADO, Marcelo Alexandre; GODOY, Helena Teixeira. Corantes Artificiais em Alimentos. 2003. Disponível em:

<http://200.145.71.150/seer/index.php/alimentos/article/viewFile/865/744>. Acesso

em: 05 set. 2017. QUINION, Michael. World Wide Words: Blue Blood. 2017. Disponível em:

<http://www.worldwidewords.org/qa/qa-blu1.htm>. Acesso em: 13 set. 2017.

ROCHA, Patrício; SOUZA, Bertrand de. Percepções do ver - e do não ver - o mundo: o papel da montagem/edição nos documentários “Janela da Alma” e “A Pessoa é para o que Nasce”. Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, v. 1, n. 3, p.1-7, 01 jun. 2010.

Disponível em: <http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/cm/article/view/11719/6743>.

Acesso em: 26 ago. 2017.

Page 95: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

94

RODRIGUES, Chris. O Cinema e a Produção. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora

Lamparina, 2007. ROSENFELD, Anatol. Cinema: arte e indústria. 1 ed. São Paulo: Editora

Perspectiva, 2002. SALLES, Filipe. Como se Faz Cinema - Parte 1: Funções e Equipe. 2008.

Disponível em: <www.mnemocine.com.br/index.php/cinema-categoria/28-

tecnica/154-fazercinema1>. Acesso em: 18 ago. 2017. SANTAELLA, Lucia. Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal.

São Paulo: Editora Iluminuras, 2005. ________________. O Que é Semiótica. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense,

2003. 86 p. Coleção Primeiros Passos.

SONOPLASTIA. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.

TANKEL, Jonathan David. The Practice of Recording Music: Remixing as

Recording. New York: Journal of Communication, 1990. Disponível em:

<http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1111/j.1460-2466.1990.tb02269.x/abstract>. Acesso em: 26 ago. 2017. TRINDADE, Rui André Alves. Imagens de Azul: evidências do emprego do azul

cobalto na cerâmica tardo medieval portuguesa. Lisboa: Revista de História da Arte,

2009. URSSI, Nelson José. A Linguagem Cenográfica. 2006. 122 f. Dissertação

(Mestrado) - Curso de Artes Cênicas, Departamento de Artes Cênicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:

<http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/C�nica/Pesquisa/a_linguagem_cenografica.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2017.

SITES CONSULTADOS:

CINÉFONDATION (França). Festival de Cannes. 2017. Disponível em:

<http://www.festival-cannes.com/en/>. Acesso em: 26 ago. 2017. COCA COLA COMPANY. A história da nossa segunda grande fórmula secreta:

a cor vermelha. 2017. Disponível em: <https://www.cocacolaportugal.pt/historias/a-

hist-ria-da-nossa-segunda-grande-f-rmula-secreta-a-cor-vermelha>. Acesso em 14

out. 2017.

ESTADÃO. Há uma explicação científica para os Simpsons serem amarelos. 2017. Disponível em: <Há uma explicação científica para os Simpsons

serem amarelos>. Acesso em: 14 out. 2017.

Page 96: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

95

EUROPEAN FILM MARKET (Alemanha). Festival de Cinema de Berlim. 2017.

Disponível em: <https://www.berlinale.de/en/HomePage.html>. Acesso em: 26 ago. 2017.

G1.com. Primeiro filme colorido é descoberto 110 anos após sua invenção.

2017. Disponível em: < http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/09/primeiro-filme-

colorido-e-descoberto-110-anos-apos-sua-invencao.html>. Acesso em 22 nov. 2017. INSTITUTO NACIONAL DE CINEMA (Brasil). Festival de Cinema de Gramado.

2017. Disponível em: <http://www.festivaldegramado.net>. Acesso em: 26 ago. 2017.

O GLOBO. Os 100 Anos do Tecnicolor: saturação e sutileza nas telas de

cinema. 2017. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/os-100-anos-

do-technicolor-saturacao-sutileza-nas-telas-de-cinema-16650173>. Acesso em 22 nov. 2017.

TATE BRITAIN. Exhibitions and Events. Disponível em:

<http://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/display/derek-jarman-blue>. Acesso em: 06 out. 2017.

Page 97: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

96

FILMOGRAFIA

A CHEGADA de um Trem à Estação. Direção de Auguste Lumière; Louis Lumière.

Paria: Cinématographe Lumière, 1895. P&B.

A LIBERDADE é Azul. Direção de Krzystof Kieslowski. Produção de Marin Karmitz.

Roteiro: Agnieszka Holland; Edward Zebrowski; Krzysztof Piesiewicz; Slawomir Idziak; Krzysztof Kieslowski. Paris, 1993. (98 min.), DVD. Série A Trilogia das Cores.

AZUL É A COR MAIS QUENTE. Direção de Abdellatif Kechiche. Paris: Quat'sous Films, 2013.

BLUE. Direção de Derek Jarman. Londres: Derek Jarman, 1993.

CINDERELLA. Direção de Georges Mèliés. Paris: Méliès's Star Film Company, 1899. (6 min.).

LA LA LAND. Direção de Damien Chazelle. Los Angeles: Summit Entertainment, 2016.

MOONLIGHT: sob a luz do luar. Direção de Barry Jenkins. Miami: A24, 2016.

O ANJO AZUL. Direção de Josef von Sternberg. Berlim: Universum Film AG, 1930. P&B.

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN. Direção de Jean-Pierre Jeunet. Paris: Lumière, 2001.

O GRANDE HOTEL BUDAPESTE. Direção de Wes Anderson. Görlitz: TSG Entertainment, 2014.

O REGRESSO. Direção de Alejandro Iñarritu. Ushuaia: New Regency Pictures, 2015.

TRON: o legado. Direção de Joseph Kosinski. Burbank: Walt Disney Studios, 2010.

TRON: uma odisseia tecnológica. Direção de Steven Lisberger. Burbank: Walt Disney Studios, 1982.

Page 98: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

97

Anexo A – Projeto – Monografia I

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ALINE VANIN

ESTUDO EM AZUL:

COR E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Caxias do Sul

2017

Page 99: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

98

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

ALINE VANIN

ESTUDO EM AZUL:

COR E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida

da Silva

Caxias do Sul 2017

Page 100: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

99

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 04

1.1 PALAVRAS-CHAVE ................................................................................................... 05 2 TEMA ................................................................................................................................ 06

2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ......................................................................................... 06 3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 07

4 QUESTÃO NORTEADORA ......................................................................................... 09

5. OBJETIVOS ................................................................................................................... 10

5.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 10

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 10 6. METODOLOGIA ............................................................................................................ 11

7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 13

7.1 COR ................................................................................................................................ 13 7.2 CINEMA CONTEMPORÂNEO................................................................................... 16 7.3 DIREÇÃO DE ARTE .................................................................................................... 19

7.4 EMOÇÃO ...................................................................................................................... 21 7.5 SIGNIFICAÇÃO ................................................................................................ 24 8. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS ...................................................................................... 26

9. CRONOGRAMA ............................................................................................................ 27

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 28

Page 101: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

100

1 INTRODUÇÃO

Há muito se conhece a importância da cor nos diversos aspectos da vida do

ser humano. Por estarem presentes em tudo o que nos cerca, a cor faz parte da

existência dos seres humanos. Roupas, ambientes, alimentação e natureza são

alguns dos meios pelos quais a cor se introduz em nossas vidas.

As cores começaram a serem utilizadas há milhares de anos atrás

inicialmente com o intuito de representar a caça. As pinturas rupestres são a prova

disso. Grandes filósofos, como Aristóteles, pintores, como da Vinci e físicos, como

Isaac Newton, foram alguns dos responsáveis pelas teorias e conceitos mais antigos

acerca das cores.

O Dicionário Houaiss, define a cor como:

s.f. propriedade de radiação eletromagnética, com o comprimento de

onda pertencente ao espectro visível, capaz de produzir no olho uma

sensação característica [outras sensações fisiológicas podem

resultar na mesma sensação.] [...] (HOUAISS, 2009, p. 833).

Como é possível é perceber nessa definição do Dicionário Houaiss, a cor

pode, sim, provocar sensações fisiológicas, desencadeando emoções, sentidas pelo

espectador ao ser apresentado à ela.

A cor está inserida em nossa vida de diversas formas e uma delas é no

cinema. O cinema foi uma grande revolução em termos comunicacionais, no início

mudo e preto e branco, mas com os grandes avanços tecnológicos e com o decorrer

dos anos, tornou-se colorido.

O cinema é uma peça de interação entre a tela e as pessoas, diferentemente

da fotografia que é estática, segundo Metz (1977, p 19), “há uma constante

interação entre os dois fatores: uma reprodução bastante convincente desencadeia

no espectador fenômenos de participação – participação ao mesmo tempo afetiva e

perceptiva”, e é esta participação perceptiva que nos importa no momento.

A fotografia engaja o observador, mas é o movimento do cinema que o

prende ao filme, que o liga à sensação de realidade. Como pode-se explicar esta

necessidade de movimento? É Metz (1977, p 20) que nos dá a definição novamente:

“em relação a fotografia, o cinema nos traz portanto um índice de realidade

suplementar (já que os espetáculos da vida real são móveis)”, ou seja, nos

Page 102: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

101

prendemos aos encantos do cinema porque seu movimento imprime realidade, algo

que a fotografia, por exemplo, não faz.

Ainda dentro da participação perceptiva, temos a presença das cores no

cinema. E a presença das mesmas nos causa uma percepção ainda maior. Sabe-se

que em muitos filmes as cores são usadas como elementos de cena. Muitas vezes é

através das cores que se percebe um sentido do filme, uma intenção, algo que a

narração explícita não indicou, uma emoção apresentada por um personagem.

A presença das cores no cinema pode ser observada e estudada através dos

estudos de significação e, dentre estes, pelo viés semiótico. A semiótica, segundo

as palavras de Lúcia Santaella (2003, p. 1) “[...] é a ciência geral de todas as

linguagens”, no caso deste estudo, a linguagem a ser analisada através desta

ciência é a das cores no cinema. Pois, ainda segundo Santaella (2003, p. 2), “existe

um linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam conceitos [...], mas existe

simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se

constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo.” Ou seja,

todas as cores utilizadas em uma cena são propositalmente lá colocadas. São

pensadas, estudadas e esquematizadas através de uma paleta de cores.

A paleta de cores consiste em uma tabela onde são especificadas as cores a

serem usadas durante o projeto, ela é formada pela indexação das cores em índices

e associadas aos pixels presentes na tela, formando então um sistema de

apresentação das cores que podem ser vistas na tela. A paleta é seguida durante o

filme todo e todas as cores contidas nela tem um motivo para estar ali. A paleta de

cores e seu uso são pensados por um “setor” muito importante do cinema: a direção

de arte.

O que quer-se saber aqui, é como se dá a manifestação da emoção a partir

da cor em um filme? Para responder a este questionamento deve-se considerar o

trabalho de composição de cena, visto que, a cenografia, o figurinista, a música, a

iluminação e muitos outros aspectos, são responsáveis pela montagem do ambiente

onde acontece a cena e de como o espectador olhará para a composição em busca

de significações.

1.1 Palavras-Chave

Cor, cinema contemporâneo, direção de arte, emoção, significação.

Page 103: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

102

2 TEMA

A presença da cor no cinema.

2.1 Delimitação do tema

A cor está presente em todas as esferas da vida humana. Nos vemos

cercados por ela o tempo inteiro e no cinema não poderia ser diferente. Os filmes

contemporâneos são meios pelos quais as cores são levadas até as pessoas e este

meio a utiliza de uma forma especial. A significação das cores é este meio e o

cinema vale-se dele para transmitir aos espectadores um determinado sentimento.

Page 104: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

103

3 JUSTIFICATIVA

Trabalhos sobre cores não são exatamente uma novidade, visto que, há muito

este é um tema recorrente e importante. As cores são fundamentais em nosso dia a

dia, pois estão presentes em tudo o que nos cerca. Uma das formas mais comuns

de estuda-las é a semiótica. Os estudos semióticos consistem na análise dos signos,

como por exemplo, do significado que determinada cor tem para pessoas de

diferentes culturas, países, religiões.

Com base na disciplina Teorias da Comunicação II, hoje Estudos de

Significação, do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e

Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, esta aluna tomou conhecimento

sobre signos e significados, sobre significação das cores e semiótica segundo a

visão de diversos autores, como Roland Barthes, Umberto Eco e Charles Sanders

Peirce. A experiência foi tão enriquecedora e causou tanta fascinação pela área que

ela decidiu então trabalhar com a semiótica das cores neste trabalho.

A direção de arte engloba a concepção visual de toda uma produção,

inclusive a cenografia, o figurino, a maquiagem, os adereços e todas as demais

necessidades para a montagem de cenários e personagens. São estes profissionais

que “escolhem” o que colocar ou não em uma cena, e é através deles que as cores

traduzem para as pessoas as emoções dos filmes. Por exemplo, se no filme A

Liberdade é Azul, não existisse o móbile, um dos detalhes mais marcantes, a

produção possivelmente não seria a mesma. O trabalho destes profissionais é um

dos mais importantes e decisivos na montagem, produção e aperfeiçoamento do

filme, quando considerado o campo semiótico e a intenção de dar significado as

cenas que estão sendo idealizadas.

Foram vários os locais pesquisados em busca de trabalhos já produzidos

sobre o tema da semiótica das cores no cinema, com foco principalmente no

trabalho da direção de arte.

A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD1, um banco de dados

com pesquisas científicas brasileiras, traz apenas para os últimos cinco anos, 6820

teses e dissertações como resultados para a pesquisa do termo “cor”. Teses e

dissertações com os mais variados assuntos, tais como as cores nas cidades e

como elas afetam os seres humanos, a semiótica discursiva e sua ligação com a

neurobiologia visual, como as cores influem na seleção visual. São resultados ainda

Page 105: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

104

mais interessantes quando se analisam as áreas de aplicação dessas pesquisas:

engenharia, odontologia, arquitetura, publicidade e muitos outros. Muitos dos

resultados obtidos não referem-se a cor com a mesma designação adotada neste

trabalho, em muitos casos “cor” significa raça, parâmetro para experimento químico

e outras aplicações.

Para o termo “cinema” o resultado da busca é consideravelmente grande:

1440 teses e dissertações sobre o assunto. São diversos os campos de pesquisa, as

análises de filmes são muito recorrentes, assim como análises do trabalho de um

diretor específico e de gêneros específicos, como o cinema noir, por exemplo.

Já para o termo “direção de arte” quando o conceito da semiótica aplicado a

significação de cor é levado em conta, obtêm-se como resultado apenas três

dissertações que se encaixam aqui.

Pesquisando nos registros da Universidade de Caxias do Sul, encontrados no

site do Centro de Ciências Sociais, ao qual o curso de Publicidade e Propaganda é

pertencente, os resultados são muito poucos. No Portal Frispit2, são colocados à

disposição monografias e trabalhos de conclusão de curso desde o ano de 2008.

Para os termos “cor” e “cinema”, são encontrados apenas dois resultados, e apenas

um deles remete ao campo semiótico. Já para “direção de arte”, nenhum resultado é

encontrado.

As cores estão presentes em tudo o que nos cerca e na publicidade isso não

poderia ser diferente. Uma das maiores preocupações é o balanceamento das

cores, visto que, é preciso ajustá-las ao que estamos produzindo. Este é um dos

campos fundamentais e mais fascinantes da publicidade. Como saber qual cor usar

em determinada peça se o intuito é passar determinada emoção? A resposta é:

através da semiótica. Este um pilar fundamental da criação publicitária e é

extremamente importante que os estudantes o conheçam e o valorizem, para que

possam usufruir do mesmo com sabedoria, visto que quando se trata de cores e

emoções, a publicidade é uma das áreas que mais faz uso das mesmas juntas.

_____________________

26 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia: Biblioteca Digital Brasileira de

Teses e Dissertações. Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/vufind/>. Acesso em: 14 abr. 2017.

Page 106: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

105

4 QUESTÃO NORTEADORA

Como as cores traduzem as emoções e apresentam diferentes manifestações de

sentimento no cinema contemporâneo?

Page 107: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

106

5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo geral

Entender como a as cores se manifestam e fornecem as emoções de um filme

através da análise da composição do ambiente fílmico, ou seja, através da análise

da música, do enquadramento, dos objetos colocados na cena, das roupas dos

personagens, dentre diversos outros aspectos.

5.2 Objetivos específicos

Compreender o que é a cor e como ela se manifesta através da semiótica;

Entender como as cores traduzem as emoções dos personagens nos filmes e

como a iluminação, os enquadramentos, a música podem ajudar neste

momento;

Assimilar o que é o trabalho da direção de arte e o quanto ele é fundamental

para a manifestação efetiva da emoção nos filmes, além de entender o

trabalho do colorista e do sonoplasta na pós-produção;

Analisar filmes contemporâneos afim de entender a real influência das cores e

sua relação com a tradução das emoções nos mesmos.

Page 108: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

107

6 METODOLOGIA

Para a definição da metodologia adotada para o desenvolvimento desta

pesquisa, nos valemos de diversos métodos.

Durante o aprofundamento dos estudo, muitos livros são utilizados e, é

através da análise deles que se obtém base científica para o desenvolvimento deste

estudo. Segundo Marconi; Lakatos (2009, p.23) “analisar é, portanto, decompor um

todo em suas partes [...] indicar os tipos de relações existentes entre as ideias

expostas” e é exatamente o que fazemos durante a leitura dos livros, buscamos

analisar os textos e extrair dos mesmos os seus significados e conclusões sobre os

assuntos abordados.

A pesquisa bibliográfica é fundamental neste projeto. Através dela

identificamos informações e apuramos fatos de importante relevância para o

decorrer do estudo. Conforme Marconi; Lakatos (2009, p. 43), “toda pesquisa implica

o levantamento de dados de variadas fontes” e, por este motivo é que foram

incluídos diferentes estudiosos para cada um dos tópicos da pesquisa bibliográfica

do presente estudo. A averiguação feita através desta pesquisa resulta em relatos e

pareceres de consagrados autores que auxiliam no teor e na relevância do conteúdo

incluído na análise a ser desenvolvida e de acordo com Marconi; Lakatos (2009, p.

44), “a pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser considerada também como o

primeiro passo de toda a pesquisa científica”.

A internet também é usada como um método de busca para o

desenvolvimento desta pesquisa. A mesma é atualmente o maior e mais acessível

meio de se obter informações e oferece todos os tipos de conteúdo com grande

facilidade de acesso, para se ter ideia de quão importante ela é, a Universidade de

Washington desenvolveu uma disciplina para estudar o fenômeno dos mecanismos

de busca enquanto fenômeno cultural (DUARTE; BARROS, 2005, p.146-147). Esta

ferramenta pode ser utilizada para consulta de sites de busca de diversos tipos, tais

como de teses e dissertações que muito ajudam a perceber a importância da

pesquisa a ser desenvolvida em relação ao tema abordado.

Segundo Duarte; Barros (2005, p. 203) estudarmos “semioticamente um

objeto de pesquisa significa relacioná-lo com o maior e mais significativo número e

natureza de possibilidades que ele comporta, buscando compreendê-lo em

movimento, dinâmico e operante”, ou seja, buscamos atribuir signos, significados e

significantes a este objeto e entender de que forma ele se comporta.

Page 109: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

108

A análise da imagem fílmica é outro dos meios de pesquisa para a elaboração

deste projeto, pois é através dela que se complementam as investigações do uso da

cor como símbolo dentro de uma cena. A importância da análise de uma imagem

pode ser percebida pela grande importância que as mesmas representam nos

registros visuais da vida dos seres humanos, da vida em sociedade, das origens e

de diversos outros aspectos. Mais uma vez, segundo Duarte e Barros (2005, p. 330)

“[...] em linhas gerais, poderíamos dizer que a análise de imagens seria uma espécie

de faculdade “natural” de todo ser humano, uma de suas formas de comunicação

com o outro, a sociedade”, ou seja, analisar o que se vê é tão espontâneo para o ser

humano que acabou por se tornar comum, é como respirar, é involuntário.

Porém a analise a ser utilizada se aprofunda um pouco mais e busca ir mais a

fundo no quesito semiótico, afim de entender como as cores no cinema passaram a

ser utilizadas para fazer com que o espectador entenda um sentido, um fundamento

ou uma razão. Para a realização desta análise, elegemos filmes que trabalham a cor

azul em suas paletas de cores.

Esta análise é feita através do método semiótico e os filmes analisados se

referem especificamente aos elaborados com paletas de cores em tons de azul.

Procuraremos trabalhar com filmes contemporâneos, de forma que possamos

perceber como a cor azul é usada para transmitir um sentimento no filme. O intuito

de trabalhar com esta cor também se dá pelo motivo de que encontramos diversos

filmes, em diferentes gêneros, com paletas trabalhadas com o azul e queremos as

variações de emoção, em busca do tom emocional que esta cor transmite.

Page 110: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

109

7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

7.1 COR

Quando pensamos em cor, existem diversos vieses possíveis de serem

explorados, um deles é sua formação no cérebro humano. Um raio de luz branca

atravessa nossos olhos e “atinge” nosso cérebro, dando origem então a um

cromatismo intenso no qual vivemos mergulhados. Diz Farina (1990, p.21) que é

“uma sensação visual que nos oferece a natureza através dos raios de luz irradiados

em nosso planeta”.

Estamos cercados de cores por todos os lados, no céu, no mar, na decoração

das casas, nos alimentos que consumidos, em tudo o que nos cerca. Passamos a

perceber as cores do momento em que nascemos até nossa morte. Não é possível

passar pelo mundo sem constatar a importância e a presença das mesmas. Como

afirma Guimarães (2004. p. 7), “podemos depreender de forma corrente que

compreendemos a cor como propriedade ou qualidade natural dos objetos”, a cor já

é vista como sendo parte do que vemos e não uma produção de nosso cérebro.

Pedrosa (2002, p. 17), afirma que “a cor não tem existência material: é

apenas sensação produzida por certas organizações nervosas sob a ação da luz”,

esta afirmação está correta, no entanto, as cores começaram a ser usadas ainda

nos primórdios da humanidade e há mais ou menos 100 anos atrás com a

intensidade com que se faz hoje, segundo Farina (1990), e estão tão introduzidas

em nosso meio que não somos capazes de perceber que são mesmo imateriais e

separá-las de nosso convívio.

No início dos tempos, as cores existentes eram os pigmentos fornecidos pela

natureza e eram utilizados principalmente para a montagem dos planos de caça

através das pinturas rupestres, que ainda hoje são encontradas nas cavernas. A

influência cromática encontrada no mundo varia de cultura para cultura. Cada povo,

país, religião se identifica e trabalha com as cores de uma forma diferente.

Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo vermelho pode ter efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo salutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante. Em que consiste o efeito especial? Nenhuma cor está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada efeito intervêm várias cores – um acorde cromático (HELLER, 2012, p. 17).

Page 111: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

110

Heller (2012), com esta definição, explica que as cores podem ser encaradas

de diversas formas, cada qual com sua particularidade. Pode-se citar nesta linha o

filme Azul é a Cor Mais Quente, de 2013, que trata a cor azul, considerada a mais

fria dentre todas exatamente como seu oposto.

Figura 1 – Pôster do filme Azul é a Cor Mais Quente

Fonte: Disponível em: http://www.imdb.com/title/tt2278871/mediaviewer/rm3122082560.

Acesso em 20 jun. 2017.

Estas diferentes visões e convenções sobre as cores, fazem com que

pensemos sobre e ponderemos como elas estão infiltradas em nossa vida e como

somos incapazes de tirá-las ou separá-las de nossa existência.

Por muitos anos, as cores foram usadas para a caça, com o desenvolvimento

da humanidade e a influência do homem, elas passaram a ser usadas para milhares

de fins, TV, cinema, tecidos, tintas, papeis de parede e um dos mais curiosos, é a

chamada cromoterapia. Esta técnica se vale do estudo psicológico das cores e como

elas influenciam as pessoas nas mais diversas áreas da vida. Cada cor possui

diferentes significados, como por exemplo, o vermelho é instigante, o verde

representa a vivacidade (principalmente das plantas) e o amarelo é uma cor alegre e

cheia de particulares.

Page 112: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

111

O significado das cores é muito presente nos ambientes hospitalares, nas

decorações de casas, nos museus e as pessoas conhecedoras do assunto também

usam este tipo de estudo para vestirem-se, é o caso de Eneida Duarte Gaspar,

estudiosa da cromoterapia e autora de um livro sobre o assunto.

A técnica e o estudo da psicologia das cores e dos significados das mesmas é

muito usada no cinema devido a sua real e grande influência e importância.

A cor é a forma mais imediata de comunicação não verbal. É natural que tenhamos reações a ela: evoluímos com certa compreensão das cores [...]. A cor é usada para representar pensamentos e emoções de uma forma que nenhum outro elemento do design consegue, e pode chamar a atenção de modo instantâneo no papel, na tela ou na prateleira do supermercado (AMBROSE, 2009, p. 6).

O cinema, mais do que qualquer outro meio, usa das características da

psicologia das cores para trabalhar cenários e personagens. É desta forma que são

compostos os filmes, para que os espectadores sejam impactados e marcados até

mesmo pelo uso cromático escolhido para a montagem de uma cena.

Page 113: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

112

7.2 CINEMA E AS CORES

Os irmãos Lumierè, ao criarem o cinematógrafo no final do século XIX,

provavelmente não tinham ideia, mas estavam revolucionando de uma maneira

grandiosa a comunicação de massa para todo o sempre.

No início do século XX, apenas as pinturas e os museus eram aceitos, pois

possuíam fama de cultos por serem programas da aristocracia da época. O cinema

infelizmente demorou alguns anos para derrubar este estereótipo e não foi aceito de

imediato, pois segundo Ferro (2010, p. 9) “tudo o que possuía a imagem era uma

legitimidade contestada [...] e apenas a sua alta aristocracia [...] podia adentrar as

portas do mundo da cultura ou poder”.

A indústria cinematográfica demorou algum tempo para desenvolver técnicas

sofisticadas o suficiente para que um filme fosse colorido ou mesmo que tivesse o

som das falas. Durante a época do cinema mudo, os filmes eram acompanhados

apenas por uma canção ao fundo e muito perguntou-se o porquê disto, visto que

geralmente, ela não tinha relação concreta com as cenas que estavam sendo

apresentadas. A resposta, segundo Rosenfeld (2002, p. 123), é simples “alega-se,

por exemplo, que a música, no início, não veio satisfazer um impulso artístico, mas a

simples necessidade de encobrir os ruídos do projetor”. Esta é uma curiosidade que

faz com que percebamos como os tempos antigos do cinema eram difíceis.

Para chegar a era do cinema colorido, muito penou-se. No entanto, os

cineastas de época sempre buscaram inserir a cor em suas produções, tanto que

existem muitas películas antigas que eram pintadas a mão para dar a ideia da cor.

Cinderella, de 1899, um curta-metragem francês de apenas cinco minutos, é um dos

exemplos de películas coloridas manualmente. Vida e Paixão de Jesus Cristo, de

1903, é um dos mais conhecidos filmes de películas manualmente pintadas já

produzidos.

Page 114: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

113

Figura 2 – Exemplo de película pintada manualmente

Fonte: <http://cinemaclassico.com/filmes/vida-e-paixao-de-jesus-cristo-1903/>. Acesso em:

21 jun. 2017.

O cinema já tentava ser colorido desde a época em que era preto e branco,

por isso as películas eram pintadas. Porém, a alguns anos, alguns diretores

decidiram investir novamente no chamado cinema P&B. Neste sentido, podemos

nos valer da fala de May (1967, p. 116) de que “a realidade cromática é percebida

por nós no quotidiano de modo inteiramente passivo e obedecendo a um

automatismo psicológico elementar” e pensando desta forma é possível que

entendamos o porquê da grande surpresa quando, em pleno século XXI, um filme

em preto e branco seja lançado.

O cinema, como já mencionado, é um meio de comunicação de massa e por

isso é um importantíssimo meio de dispersão de ideias, impressões e um grande

“registrador” de acontecimentos. A história e o cinema são muito próximos, pois,

segundo Ferro apud Costa (1989, p. 30), ele é capaz de pôr “em evidência, com

grande clareza, de que forma o cinema pode ser visto como fonte, ou seja, como

fator de documentação histórica [...] e como agente da história, ou seja, como

elemento que entra de modo ativo em processor históricos”, sendo assim, os filmes

podem ser considerados grandes registros da evolução do homem, do tempo e de

acontecimentos em geral.

Existem muitos estúdios e produtoras de cinema em todo o mundo. O cinema

hollywoodiano, por exemplo, é uma indústria gigantesca que produz centenas de

filmes por ano. Os filmes produzidos além de serem fonte e agente históricos,

engajam uma grande equipe de produção e requerem uma enorme estrutura de

Page 115: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

114

produção. Mas o que mais chama atenção nestas produções é o quão encantadoras

elas são e os artefatos de comunicação de que fazem uso.

Figura 3 – Pôsteres de cinema contemporâneo

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.

Acesso em: 21 jun. 2017.

Ao observarmos os três pôsteres acima, podemos constatar o quão

importante é a pré-produção do filme, a escolha das cores e a ambientação das

cenas. O cinema é um meio de comunicação de massa e por isso trabalha de

diversas formas a comunicação com o público. Os textos e a ambientação de uma

cena apresentados nos filmes podem variar de significado para cada espectador

presente em frente a tela, segundo Turner (1997, p. 122) “o significado do filme não

é simplesmente uma propriedade de seu arranjo específico de elementos; seu

significado é produzido em relação a um público” e por isso, podemos incluir nesta

linha de raciocínio que a direção de arte de um filme é uma das áreas mais

importantes da construção do mesmo.

As técnicas avançadas e a tecnologia que se encontra ao alcance de um

clique são fatores que contribuem muito com o cinema atual, fazendo dele uma

indústria ainda mais atrativa e lucrativa. Estas tecnologias e o trabalho da pré e pós-

produção alinhados fazem dos filmes contemporâneos grandiosas fenômenos da

atualidade.

Page 116: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

115

7.3 DIREÇÃO DE ARTE

A direção de arte é o campo da comunicação visual que se relaciona

diretamente com o aspecto visual do que se produz.

O termo “direção de arte” é geralmente usado para descrever o processo de organização e direção dos elementos visuais de qualquer tipo de elemento para meios de comunicação, seja ele um filme, um programa de televisão, uma instalação digital, um comercial ou um anúncio impresso. Nesse sentido, a direção de arte é uma atividade que possui uma ampla aplicação no leque de atividades relacionadas com a comunicação visual (MAHON, 2010, p. 11).

A direção de arte é uma das mais importantes partes para a construção de

um filme. E é dentro dela que encontramos todo o mundo da cenografia, da

construção da maquiagem e dos itens do figurino, além de seu trabalho conjunto

com itens de diversas partes da composição do filme, tais como a sonoplastia, o

enquadramento das cenas e o tratamento das imagens na pós-produção.

Basicamente, é nesta área em que é construída a realidade e o contexto de um filme

para que, posteriormente, ele seja moldado através de múltiplas técnicas ao que se

quer mostrar.

Rodrigues (2007, p. 80) descreve o diretor de arte da seguinte forma:

“[profissional que] trabalha diretamente com o desenhista de produção executando

suas instruções, tais como desenho e ambientação de cenários e supervisão de sua

execução junto ao cenógrafo”, porém podemos acrescentar a esta definição uma

das mais importantes partes do trabalho do diretor de arte, juntamente com sua

equipe e o diretor do filme: a criação da paleta de cores.

Através da paleta de cores do filme é que se escolhe quais tipos de objetos,

roupas, maquiagens irão entrar em cena com os atores. São muito comuns

exemplos de filmes que adotaram uma cor específica para sua paleta e foram

acrescentando variações de tom nas cenas conforme necessário.

A escolha da paleta de cores, geralmente, é feita em conjunto pelos

profissionais envolvidos na produção do filme, mas Fraser (2012, p. 118)

complementa explicando que “o diretor (e, as vezes, o roteirista) normalmente

decidirá e controlará o que é comunicado pela cor, embora os efeitos [passados por

esta determinada cor] sejam controlados pelo diretor de arte e pelo diretor de

fotografia”. É importante complementar que todos os objetos colocados em uma

cena são devidamente pensador para ali estar, nada aparece por acaso.

Page 117: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

116

Martin, em A Linguagem Cinematográfica (2005), trata do que ele chama de

“Elementos Fílmicos Não-específicos”: a iluminação, os cenários, a cor, a “tela larga”

e o desempenho dos atores. Durante as muitas páginas nas quais discorre sobre

todos estes assuntos, cita a importância dos mesmos para a estética do filme e para

a percepção dos espectadores para o que é proposto nas cenas. O estudo, a

elaboração e a concepção da montagem e funcionamento destes importantíssimos

pontos do universo fílmico fazem parte do trabalho da direção de arte.

Pensemos agora na direção de arte como fundamentadora da criação de

símbolos e signos. Através do trabalho do diretor de arte e sua equipe, são

instituídos os elementos que participarão de cena e, estes objetos vêm a tornar-se

marcantes em muitos casos, e sendo assim é possível citar Chklovski (1917, p. 40)

que institui que “a arte é antes de tudo criadora de símbolos". Por exemplo, em A

Liberdade é Azul (1993), o pirulito que Julie encontra na bolsa e o móbile que

aparece em diversas cenas são dois componentes de extrema importância para a

estética do filme e são ambos instituídos pelo trabalho da direção de arte, através do

estudo do que as determinadas cenas desejam transmitir.

Figura 4 – Elementos chave

Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.

Acesso em: 21 jun. 2017.

Quando se trata de direção de arte, é muito importante citar que este

segmento do trabalho de preconcepção de um filme é imprescindível para a inserção

e apresentação do que chamamos de tom emocional, ou seja, da transmissão dos

sentimentos de um personagem através do que uma determinada cena inclui. Martin

(2005, p. 73), refere-se a ambientação e as escolhas da direção de arte para cenário

e iluminação em A Noite de São Silvestre (1923), de um exemplo de filme com “um

Page 118: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

117

notável êxito de criação de ambiência” e é exatamente este termo e seus

semelhantes ou derivados que nos interessam.

Page 119: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

118

7.4 EMOÇÃO

Em A Lógica das Emoções (2004, p. 23-25), José Maria Martins esclarece-

nos as diferentes visões acerca das emoções, que no início dos estudo foram vistas

de formas negativas e encaradas com desconfiança por pesquisadores. Nos últimos

cem anos, as emoções passaram a ser estudadas em diferentes vertentes, campos

e níveis da sociedade e podem ser descritas como um estado de espírito, uma

experiência subjetiva do ser humano, um fenômeno complexo que envolve reações

corporais e sofre influências culturais.

A emoção que aqui queremos tratar, fala especificamente da experiência de

excitação mental que pode-se perceber em uma pessoa. Não é necessário que

“emoção” seja a palavra utilizada para demonstrar o sentido que buscamos, existem

diversas outras expressões que denotam o mesmo sentido que queremos

demonstrar.

Em A Linguagem Cinematográfica (2005, p. 71), Michel Martin, ao falar da

iluminação utilizada nos filmes, diz que “a sua importância [da iluminação] é

desconhecida e o seu papel não se impõe diretamente aos olhos do espectador

inexperiente porque contribuem sobretudo para criar a <<atmosfera>>”. É através

desta fala de Martin que podemos entender a visão e o sentido de emoção que

abordaremos aqui.

Ao falar de emoção, podemos ligá-la diretamente ao que queremos que o

espectador de um filme perceba, por exemplo. Geralmente, nestes casos, os

responsáveis por alcançar esta difícil meta são o diretor geral do filme e a equipe de

direção de arte.

Gérard Betton, em A Estética do Cinema (1987, p. 91), fala do insucesso do

filme A Cidade das Mulheres, de Federico Fellini, datado de 1980. O autor diz que

“[...] o inconsciente do espectador não reagiu ao inconsciente do diretor, não houve

acordo, eco, ressonância [...]” e por isso o filme não foi bem aceito, o público não

“comprou” o que o diretor e sua equipe quiseram passar e é nisso que o conceito de

emoção buscado aqui se baseia, é que a emoção do diretor e do espectador

possam se conectar, que o espectador seja capaz de “comprar” a ideia do diretor.

O que queremos dizer ao falar de emoção é justamente o que o público, o

espectador, leva para si do que acabou de assistir. É o sentido que ele tira da

música que escutou ou da peça ou cena ou filme a que assistiu. Desse modo,

Page 120: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

119

podemos colocar o pensamento de Rudolf Arnheim, (citado por AUMONT et

al.,1995, p. 226) que diz que “nossa visão absolutamente não se reduz a uma

questão de estímulo da retina, é um fenômeno mental que implica todo um campo

de percepções, de associações [...]” e que nos faz absorver um mundo bem mais

complexo e farto.

Ao falar do sentido de uma cena, é muito difícil deixar de pensar diretamente

nas cores, pois elas são grandes aliadas para a transmissão da emoção requerida

pelo emissor do mesmo. Fraser (2012, p. 22) exemplifica que “existem certos

significados “naturais” da cor que nos afetam independentemente do

condicionamento social ou cultural” e sendo assim, mesmo que não percebamos, as

cores afetam nossa vida e a maneira como vemos determinadas situações.

As cores atuam sobre a emotividade dos seres humanos, e afetam nossa

realidade de formas expressivas. Geralmente classificadas em quentes ou frias, elas

conduzem as reações das pessoas e os fazem reagir a ela. Pode-se novamente

citar o cinema como exemplo, pois filmes como os dramas trabalham com paletas de

cores voltadas para as cores frias – tons azulados ou acinzentados, enquanto que

os filmes de ação, trabalham paletas de cores quentes – cores vivas e brilhantes

como o vermelho e o laranja. Farina (1990, p. 107), ao falar de como as cores

atuam sobre o sistema nervoso e neurovegetativo das pessoas diz que “todas as

experiências comprovam a validade do uso da cor na terapia ou a importância de

não usar determinadas cores quando se deseja evitar certos efeitos psíquicos ou

fisiológicos”.

É muito interessante pensar nas associações simbólicas que cada cor

apresenta. Existem muito mais sentimentos do que cores no mundo, mas todo

sentimento está relacionado a uma cor: podemos ficar “verdes de fome” e “roxos de

raiva”, por exemplo.

Em uma pesquisa realizada por Eva Heller, para escrever A Psicologia das

Cores (2004), ela entrevistou duas mil pessoas e fez perguntas como “qual sua cor

favorita?”, “qual a cor que você menos gosta?” e “que impressões essa cor lhe

causa e com qual sentimento você a associa?”. Não foi uma surpresa para Heller

(2004), ao final da pesquisa, constatar que as cores e os sentimentos citados não se

combinavam de forma acidental e que na verdade eram “experiências universais,

profundamente enraizadas desde a infância em nossa linguagem e nosso

Page 121: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

120

pensamento”. Esta constatação feita por Heller pode ser explicada através da

significação.

É cientificamente comprovado que as cores provocam diferentes emoções

nas pessoas e que as influenciam a pensar ou agir de determinada forma. Oliver

Sacks, em Um Antropólogo em Marte (2006, p. 43) diz que “a visão colorida, na vida

real, é parte integrante de nossa experiência total, está ligada a nossas

categorizações e valores”, as cores estão diretamente ligadas a emoção e esta

ligação pode ser vista de forma muito evidente quando observamos um filme.

Page 122: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

121

7.5 SIGNIFICAÇÃO

Significação é um substantivo feminino que indica significado, “representação

mental relacionada a uma forma linguística, um sinal, um conjunto de sinais, um fato,

um gesto etc.; aquilo que um signo quer dizer; acepção, sentido, significado”,

segundo o HOUAISS (2001, p. 2569, grifo nosso).

Ao ler uma das definições de significação, “aquilo que um signo quer dizer”, é

possível pensar diretamente na semiótica. A semiótica, segundo Santaella (2003, p.

1) “é a ciência dos signos [...], a ciência geral de todas as linguagens” e, sendo

assim, através dela é possível investigar o significado de qualquer linguagem

existente. Ao falarmos em linguagem, é bom esclarecer, que não estamos falando

apenas da linguagem verbal ou escrita, mas também de uma extensa lista de formas

sociais de comunicação como a música, a televisão, o cinema, gráficos, gestos e

etc.

O pensamento semiótico foi consagrado como um aspecto de extrema

importância para a investigação das linguagens (SANTAELLA, 2003) que há muito

vinham sendo utilizadas. Charles Sanders Peirce, considerado pai dos estudos

semióticos, foi um grande incentivador das pesquisas neste campo. As definições

semiológicas de Peirce são, até os dias de hoje, de grande importância para os

estudos desta área.

Voltando a fala de Santaella (2003) referente à semiótica ser o estudo dos

signos, é necessário que entendamos o que ser um signo significa, pois assim é

possível que entendamos também seu funcionamento dentro do campo semiótico.

A palavra Signo será usada para denotar um objeto perceptível, ou apenas imaginável, ou mesmo inimaginável num certo sentido [...] para que algo possa ser um Signo, esse algo deve “representar”, como costumamos dizer alguma outra coisa, chamada seu Objeto [...] (PEIRCE, 2010, p. 46-47).

Através desta fala de Peirce, fica perceptível o que é o signo dentro da

semiótica, mas é importante acrescentar que na teoria peirceana figuram outras

diversas classificações, tanto para o signo, quanto divisões do próprio estudo

semiótico.

Ao tratarmos de semiótica e signos, é muito difícil não falarmos em Ferdinand

Saussure. Saussure foi um importante linguista e filósofo que contribuiu muito com as

Page 123: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

122

teorias semióticas. Foi ele o responsável pela elaboração da análise de um signo

dividido em duas partes: significante e significado. O significante é a parte material do

signo (um som, por exemplo) e o significado é a imagem mental fornecida pelo signo

(Netto, 1999). Vale salientar que não existe signo sem significante e sem significado.

Podemos, ainda seguindo as especulações acerca dos signos, fazer algumas

considerações a respeito de como fazemos uso dos mesmos durante nossa vida e

acabamos por não nos darmos conta de sua presença constante.

Souza (2006, p. 47), vale-se das palavras de Eco para caracterizar que o ser

humano enquanto “emissor é capaz de atribuir significados aos significantes, que

serão decodificados por receptores também capazes de manter ou modificar os

significados”, ou seja, nós (emissores), enquanto falantes da Língua Portuguesa,

podemos subverter palavras comuns em signos e as pessoas que estão ao nosso

redor (receptores) são capazes de entender a subversão que elaboramos. Este

exemplo pode ser atribuído a linguagem falada e escrita, mas também ao cinema,

através das cores ou objetos inseridos nas cenas.

A semiótica cinematográfica possui algumas particularidades, tais como a

diegese. A diegese se refere a realidade da narrativa e nada possui em comum com o

mundo externo ou real. Ao assistirmos um filme, somos inseridos no mundo do

personagem e, por muitas vezes, as unidades diegéticas nos passam despercebidas

– como é o caso da significação das cores. As cores de um filme estão ali por um

motivo específico: transmitir um sentimento, incluir e comunicar a emoção de uma

cena.

Para Metz (1973), não necessitamos de palavras para entender o significado

da cena e isto é chamado por ele de “semiótica não-verbal”. A semiótica não verbal

de Metz se manifesta através da diegese e fornece informações sobre o universo do

filme. Estas informações fazem com que percebamos o que Metz (1973) chama de o

todo-da-imagem. O todo-da-imagem se refere ao ambiente do filme e envolve as

diferentes figuras de discurso e as edições das imagens, por exemplo. As cores

presentes no filme são composições do todo-da-imagem, pois ajudam a formar o

conjunto do filme e situar o espectador no universo de acontecimentos do mesmo,

dando-as significados que fazem diferença no contexto.

Page 124: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

123

8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1 INTRODUÇÃO

1.1 Metodologia

2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO

2.1 O Que é Cor?

2.2 Cor e Sua Relação com Emoções e Significados

3 COR E CINEMA

3.1 Cor e Cinema: relação histórica

3.2 Direção de Arte: a abordagem da cor enquanto material de cena

3.3 A Cor e o Cinema: linguagens

4 O ESTUDO AZUL

4.2 A Cor Azul

4.3 O Azul enquanto Personagem

4.4 Análise de Filmes Contemporâneos

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6 REFERÊNCIAS

Page 125: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

124

9 CRONOGRAMA

Defesa da Monografia em 2017/4

JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Organização de materiais, revisão

bibliográfica e introdução

X X

Escrita do capítulo 2 X

Escrita do capítulo 3 X

Escrita do capítulo 4 X

Considerações finais, revisão e

impressão

X

Preparação da apresentação X

Defesa da Monografia X

Page 126: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

125

REFERÊNCIAS

AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Design Básico: cor. 1 ed. Porto Alegre: Editora

Bookman, 2009. AUMONT et al. A Estética do Filme. 1 ed. Campinas: Editora Papirus, 1995.

BETTON, Gérard. Estética do Cinema. 1 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes,

1987. CHKLOVSKI, Viktor. A Arte como Procedimento. 1917. Disponível em:

<http://www.eduardoguerreirolosso.com/A-Arte-Como-Procedimento-Chklovski.pdf>.

Acesso em: 14 abr. 2017. COSTA, Antônio. Compreender o Cinema. 2 ed. São Paulo: Editora Globo, 1989.

COR. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva,

2009. DUARTE, Jorge, BARROS, Antônio. (Org.) Métodos e Técnicas de Pesquisa em

Comunicação. 1 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005.

GASPAR, Eneida Duarte. Cromoterapia: Cores para a Vida e para a Saúde. 2. ed.

Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2002. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 4 ed. São Paulo:

Editora Edgar Blücher, 1990.

FERRO, Marc. Cinema e História. 2 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2010.

FRASER, Tom. O Essencial da Cor no Design. São Paulo: Editora Senac São

Paulo, 2012.

GUIMARÃES, Luciano. A Cor Como Informação. 3 ed. São Paulo: Editora

Annablume, 2000.

HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: como as cores afetam a razão e a

emoção. 1 ed. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, 2012.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Editora Objetiva, 2009. MARTINS, José Maria. A Lógica das Emoções na Ciência e na Vida. Petrópolis:

Editora Vozes, 2004. MAHON, Nik. Basics Advertising 02: Art Direction. USA: Ava Publishing, 2010.

MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico. 7 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

Page 127: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

126

MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. 4 ed. Lisboa: Editora Dinalivro,

2005.

MAY, Renato. A Aventura do Cinema. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização

Brasileira, 1967.

METZ, Christian, MORIN, Violette, BREMOND, Claude. A Significação no

Cinema. 2. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977. (Debates). Tradução e

posfácio de Jean-Claude Bernardet.

METZ, Christian. Cinema, estudos de semiótica. 1 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.

NETTO, J. Teixeira Coelho. Semiótica, Informação e Comunicação. 5. ed. São

Paulo: Editora Perspectiva, 1999.

SACKS, Oliver. Um Antropólogo em Marte. São Paulo: Editora Companhia de

Bolso, 2006. PEDROSA, Israel. Da Cor à Cor Inexistente. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora Léo

Christiano Editorial, 2003. PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. 4 ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2010.

RODRIGUES, Chris. O Cinema e a Produção. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora

Lamparina, 2007. ROSENFELD, Anatol. Cinema: arte e indústria. 1 ed. São Paulo: Editora

Perspectiva, 2002. SANTAELLA, Lúcia. O Que é Semiótica. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense,

2003. 86 p. Coleção Primeiros Passos. SIGNIFICAÇÃO. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Editora Objetiva, 2009. SOUZA, Lícia Soares de. Introdução às Teorias Semióticas. 1 ed. Petrópolis:

Editora Vozes, 2006.

TURNER, Graeme. Cinema como Prática Social. 1 ed. São Paulo: Editora

Summus, 1997.

SITES CONSULTADOS

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Brasil). Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 2009. Verbete cor. Disponível em: <http://www.academia.org.br/nossa-

lingua/busca-no-vocabulario>. Acesso em: 24 mar. 2017.

Page 128: ALINE VANIN - frispit.com.brfrispit.com.br/.../wp-content/uploads/2018/09/ALINE-VANIN_2017_4PP.pdf · Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller, importante

127

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. Frispit: Portal do Centro de Ciências Sociais

- UCS. 2015. Disponível em: <http://www.frispit.com.br/site/monografias/>. Acesso em: 14 abr. 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Disponível em:

<http://bdtd.ibict.br/vufind/>. Acesso em: 14 abr. 2017.

FILMOGRAFIA

A CIDADE das Mulheres. Direção de Federico Fellini. Neuilly-sur-seine: Opera Filme

e Gaumont International, 1980. DVD.

A LIBERDADE é Azul. Direção de Krzystof Kieslowski. Produção de Marin Karmitz. Roteiro: Agnieszka Holland; Edward Zebrowski; Krzysztof Piesiewicz; Slawomir Idziak; Krzysztof Kieslowski. Paris, 1993. (98 min.), DVD. Série A Trilogia das Cores.

AZUL é a Cor Mais Quente. Direção de Abdellatif Kechiche. Produção de Vincent

Maraval Brahim Chioua. Roteiro: Abdellatif Kechiche Julie Maroh Ghalia Lacroix. Paris: Imovision, 2013. (179 min.), DVD.

CINDERELLA. Direção de Georges Mèliés. Paris: Méliès's Star Film Company, 1899. (6 min.).

VIDA e Paixão de Jesus Cristo. Direção de Lucien Nonguet e Ferdinand Zecca. Palestina: Pathé Frères, 1903. (60 min.), DVD.