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C AD . S AÚDE C OLET ., R IO DE J ANEIRO , 15 (2): 257 - 274, 2007 – 257 A CARGA ALOSTÁTICA: UMA REVISÃO Allostatic load: a review Silvio da Rocha Carvalho 1 RESUMO O objetivo deste artigo é rever e discutir o conceito de carga alostática, enfatizando seus fundamentos histórico-conceituais e operacionais, mecanismos de ação e potenciais implicações para o processo saúde-doença. PALAVRAS-CHAVE Carga alostática, estresse, epidemiologia ABSTRACT The objective of this paper is to review and describe the concept of allostatic load, emphasizing its historical, conceptual and operational basis, mechanisms of action and potential implications for disease causation. KEY WORDS Allostatis load, stress, epidemiology 1. INTRODUÇÃO Diante de uma situação cotidiana de vida, um animal pode expressar diversos comportamentos que variarão de acordo com fatores genéticos, experiências anteriores, capacidade física de resposta – o ato de correr para fugir – e capacidade fisiológica para a resposta – via secreção de hormônios que preparam o organismo para a resposta. Desta forma, um grande número de inter-relações se forma visando, dentro das possíveis escolhas condicionadas por esta série de fatores, a resposta mais apropriada para aquele determinado momento. Portanto, os organismos, de acordo com as suas diferenças, lidam de modo distinto com as situações e estas expressões de resposta geram benefícios para a espécie (Korte et al. , 2005). Em uma palavra, adaptação. O mecanismo de adaptação tem sua expressão individual em cada espécie, ou em cada um dos seres de uma mesma espécie. Considerando a resposta individual, 1 Mestre em Clínica Médica. Médico do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. Universidade Federal do Rio de Janeiro. End.: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. Rua Bruno Lobo, 50 - Cidade Universitária - Campus do Fundão CEP: 21941-912 - Rio de Janeiro - E-mail: [email protected]

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A CARGA ALOSTÁTICA: UMA REVISÃO

Allostatic load: a review

Silvio da Rocha Carvalho1

RESUMO

O objetivo deste artigo é rever e discutir o conceito de carga alostática, enfatizandoseus fundamentos histórico-conceituais e operacionais, mecanismos de ação e potenciaisimplicações para o processo saúde-doença.

PALAVRAS-CHAVE

Carga alostática, estresse, epidemiologia

ABSTRACT

The objective of this paper is to review and describe the concept of allostatic load,emphasizing its historical, conceptual and operational basis, mechanisms of actionand potential implications for disease causation.

KEY WORDS

Allostatis load, stress, epidemiology

1. INTRODUÇÃO

Diante de uma situação cotidiana de vida, um animal pode expressar diversoscomportamentos que variarão de acordo com fatores genéticos, experiênciasanteriores, capacidade física de resposta – o ato de correr para fugir – e capacidadefisiológica para a resposta – via secreção de hormônios que preparam o organismopara a resposta. Desta forma, um grande número de inter-relações se formavisando, dentro das possíveis escolhas condicionadas por esta série de fatores, aresposta mais apropriada para aquele determinado momento. Portanto, osorganismos, de acordo com as suas diferenças, lidam de modo distinto com assituações e estas expressões de resposta geram benefícios para a espécie(Korte et al., 2005). Em uma palavra, adaptação.

O mecanismo de adaptação tem sua expressão individual em cada espécie, ouem cada um dos seres de uma mesma espécie. Considerando a resposta individual,

1 Mestre em Clínica Médica. Médico do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. UniversidadeFederal do Rio de Janeiro. End.: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Inst i tuto de Puericulturae Pediat r ia Martagão Geste i ra. Rua Bruno Lobo, 50 - Cidade Univers i tár ia - Campus do FundãoCEP: 21941-912 - Rio de Janei ro - E-mai l : s i lv iocarva lho@ufr j .br

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é possível concluir que, diante de um estímulo, o padrão comportamental daespécie pode ser o mesmo (por exemplo, a fuga diante de um predador) ativadopelos mesmos sistemas fisiológicos (como a secreção de adrenalina), porém sempreadicionado de características próprias do indivíduo, as quais estarão sob ainfluência dos fatores acima citados (McEwen & Seeman, 1999).

Assim posto, as respostas diante de um estímulo podem ser as fisiológicas, quesão aquelas produzidas pelo sistema nervoso simpático e eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, e as comportamentais, que no ser humano podem se relacionarà saúde: aumento do apetite, consumo de álcool, fumo e outros abusos desubstâncias. Da mesma forma, o aumento do estado de vigilância, que é fruto daansiedade, é uma resposta que se relaciona à saúde (McEwen & Wingfield, 2003).

Aquelas relativas ao comportamento diante de situações de estresse, exacerbama resposta dos mediadores fisiológicos. Neste sentido, a amplificação das respostasdos mediadores, seja em termos de intensidade ou de duração, coloca em focosuas possíveis conseqüências: as repercussões sobre a saúde e mecanismos dedoença (Korte et al., 2005).

2. CONCEITUAÇÃO

Historicamente, o termo homeostase foi usado para definir a “estabilidade do sistemafisiológico que mantém a vida” (McEwen & Wingfield, 2003). A temperaturacorporal é um exemplo: é mantida em seus níveis estreitos, mesmo com flutuaçõestérmicas externas. É um sistema de ações que estabiliza o meio interno doorganismo. O termo, então, define um processo que se mantém rígido, dentro depequena amplitude, cujos limites, quando ultrapassados, provocam o rompimentodo equilíbrio, levando à incompatibilidade com a vida. É, portanto, um conceitoque beira a estática e que postula um funcionamento ideal para a manutenção domeio interno.

A concepção de alostase agrega a flexibilização, rompendo com a estáticaadaptativa (Goldstein & McEwen, 2002), tornando essa necessidade um ato maisbem sucedido (Seeman et al., 2001). Este conceito foi concebido por Peter Sterlinge Joseph Eyer, tendo como propósito caracterizar a estabilidade na mudança.A partir dele, o foco se volta para uma dinâmica da adaptação interna(Seeman et al., 1997a).

Alostase, então, difere do conceito de homeostase, não na essência, mas emtermos dinâmicos: é o momento que se alcança a estabilidade no processo demudança (McEwen & Wingfield, 2003); é o ajuste orgânico aos eventos previsíveise imprevisíveis. A mobilidade do sistema interno do organismo ocorre à medidaque, submetido a um estímulo do meio ambiente, os sistemas fisiológicosreguladores exibem níveis flutuantes de respostas e, como produto final, geram

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a adaptação às demandas. Define-se uma faixa ótima de operação fisiológica –e não um ponto ótimo – demonstrado por um estado ativo e adaptativo quemantém a estabilidade integrando os elementos sob comando da homeostase(Goldstein & McEwen, 2002).

Esse processo adaptativo conduz a um relacionamento cambiante entre saúdee doença (Korte et al., 2005). Uma alteração fisiológica adaptativa (alostática)que dure um pequeno intervalo de tempo é um modo adequado de resposta aum estímulo ambiental. Esta mesma resposta mantendo-se por longo prazo oude modo freqüente ultrapassa a adaptação e a saúde, podendo gerar desequilíbrioe doença.

O exemplo clássico de alostase citado por Sterling e Eyer é o da pressãosanguínea: ela sobe quando nos levantamos da cama e o fluxo sanguíneo é mantidopara o cérebro quando nos colocamos em pé para mantermos a consciência. Estetipo de adaptação ajuda a manter a tensão de oxigênio no cérebro.

Na Figura 1, a linha pontilhada indica o nível apropriado de equilíbriohomeostático. A linha escura contínua mostra a tentativa de alcançar o equilíbrio(alostase). Devido a constantes necessidades de mudança, o equilíbrio nunca émantido, caracterizando o dinamismo do processo (Stewart, 2006).

Figura 1Mecanismo alostático. Adaptado de Stewart (2006).

Toda resposta é fruto de um estímulo. No caso de uma ação sobre o indivíduo,seja ela de origem psicológica ou física, a resposta será o desvio da homeostase ea conseqüente reação alostática na busca do equilíbrio. O estímulo é o fator quegera a ruptura da homeostase.

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O termo estresse engloba uma gama de definições e usos que variam desde umevento ou sucessão de eventos que geram angústia - como percebido no sensocomum – até fatos desencadeantes de sentimentos de alegria (estresse “bom”)(McEwen & Wingfield, 2003). Pode ter um sentido mórbido em sua definição,uma doença oriunda de fatores externos ao organismo, independente do caráteremocional (angústia ou alegria). Pode ainda ser usado como sinônimo do estímulodesencadeante da ruptura da homeostase, ou até mesmo como equivalente daresposta ao estímulo.

Aqui, a palavra estresse descreverá “eventos ameaçadores para o indivíduo e que

extraiam respostas fisiológicas e comportamentais como parte da alostase em adição àquelas impostas

pelo ciclo de vida normal” (McEwen & Wingfield, 2003).Os sistemas de resposta ao estresse mais estudados são o eixo hipoptálamo-

hipofisário-adrenal e o sistema nervoso autônomo, em particular o simpático(McEwen & Wingfield, 2003). Os sistemas de resposta geram mediadores que irãoatuar nos órgão e tecidos dos indivíduos (McEwen, 2000a).

Os mediadores são as substâncias que em última análise desempenham a açãona tentativa de retorno ao equilíbrio, isto é, a alostase. Em geral os mediadoressão neurotransmissores, hormônios e agentes imunológicos (McEwen, 1998),sendo os mais citados os glicocorticóides, as citocinas, as catecolaminas e adeidroepiandrosterona. Eles são liberados visando a períodos curtos de ação, oque nem sempre acontece.

Na presença de vários estímulos ambientais ou psicológicos, o sistema nervosocentral seleciona quais eventos são estressantes, o que funciona como um alarme(Ursin & Eriksen, 2004), determinando respostas comportamentais e fisiológicasao evento (McEwen & Wingfield, 2003). Assim, por exemplo, há alternância dapressão sanguínea, que sobe e desce de acordo com a demanda física, visandomanter o fluxo sanguíneo adequado aos órgãos.

O “termo carga alostática” foi cunhado por McEwen e Stellar (1993) comum sentido de acumulação das diversas tentativas de adaptação. Neste conceitose observa a inserção do risco de doença (Seeman et al., 2002), já que o efeitoprotetor da ação de curto prazo dos mediadores é substituído pelo efeito deletérioquando estes atuam em período prolongado de tempo (McEwen & Wingfield, 2003).

Os sistemas de resposta fisiológica são rapidamente ativados e desativados,mantendo uma sincronia entre resposta e duração do estresse, desta formalimitando o tempo de exposição do organismo e a probabilidade de dano. Quandoeste sistema adaptativo é rompido, a carga alostática (adaptação não realizada ouparcialmente realizada) gera desequilíbrio e doença. Aqui agem também outrosfatores como os genéticos, experiências prévias de vida, fatores cognitivos esuporte ambiental, não apenas os mediadores da alostase (Mayer, 2000).

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Conclui-se então que o custo para o corpo da adaptação é a carga alostática(Seeman et al., 2002).

O estresse age no organismo basicamente de quatro modos distintos. Nasfiguras 2, 3, 4 e 5 abaixo, estão demonstrados estes mecanismos de ação. As linhaspontilhadas indicam o nível apropriado de equilíbrio homeostático e as escuras econtínuas mostram a alostase.

Mecanismo 1: cada vez que uma resposta é evocada, o dano pode ocorrer,como na Figura 2.

Figura 2Mecanismo 1. Adaptado de Stewart (2006).

Um estresse freqüente podecausar ondas de respostas queeventualmente baixam, mas cons-tantemente ocorrem. (aumentosrepetidos de pressão arterial po-dem causar infarto do miocárdio).

Mecanismo 2: a eficiência da resposta pode diminuir enquanto a tensãocontinua, como na Figura 3.

Figura 3Mecanismo 2. Adaptado de Stewart (2006).

Uma tensão freqüente vivenciadapor grande período, esgota osmensageiros moleculares, a cadainvocação, causando pequenosdanos que se acumulam com opassar do tempo.

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Mecanismo 3: falha em parar a resposta a uma tensão, uma vez que elatenha terminado e a homeostase tenha sido restaurada, comona Figura 4.

Figura 4Mecanismo 3. Adaptado de Stewart (2006).

O sistema de resposta pode falharao receber toda a mensagemclaramente e continuar respon-dendo, após a tensão ter cessado.A depressão causa aumento decortisol, mesmo após o estímulodepressor não estar mais presente.

Mecanismo 4: alguns genótipos não produzem uma resposta primáriahormonal suficiente, como na Figura 5.

Uma resposta alostática primáriaé insuficiente para a tarefa e umsistema secundário (outros me-canismos alostáticos) pode serutilizado, ainda que mais danoso.

Figura 5Mecanismo 4. Adaptado de Stewart (2006).

A carga alostática permite estudar a ação do estresse crônico sobre múltiplossistemas. Com seu caráter cumulativo, dá margem à criação de sistemas de suamensuração, abrindo caminho para possíveis evidências entre o estresse e doençasque se manifestam tardiamente (Stewart, 2006).

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McEwen e Wingfield (2003), em seu trabalho “The concept of allostasis inbiology and biomedicine”, ampliam o conceito de carga alostática, consideradocomo resultado de uma rotina diária e sazonal. Do ponto de vista de reservaenergética, se ocorre um evento não previsto, como doença ou interação social,podem ocorrer aumentos dramáticos na carga alostática. Estes aumentos sãodenominados sobrecarga alostática.

As sobrecargas alostáticas são divididas em dois tipos. O primeiro (tipo 1)ocorre quando a demanda de energia que foi suscitada pelo estresse excede aentrada de energia, necessitando mobilizar as reservas.

O tipo 2 ocorre quando a quando não há um excesso de demanda de energiamas é mantido o canal de entrada aberto ou, de outro modo, ocorre um aumentomuito grande no seu armazenamento (McEwen & Wingfield, 2003). Isto pode ocorrer,por exemplo, quando se consome mais do que se necessita devido à ansiedade.

Assim, as respostas ao estresse podem ser incluídas no processo de alostasecom a concomitante carga e os dois tipos de sobrecarga.

Em outras palavras, a carga alostática pode ser vista como um índice paraaferir esforços adaptativos anteriores, sempre com caráter cumulativo, sendo umbom marcador para medir os esforços e sua relação com os fatores de estresse dequalquer intensidade (Seeman et al., 2002).

3. MEDIADORES

Os mediadores da resposta ao estresse apresentam efeito protetor e lesivosobre o corpo. Quando liberados em curtos períodos de tempo são essenciaispara a adaptação, porém quando por algum motivo permanecem atuando porperíodos longos de tempo acarretam processos patológicos (McEwen, 2000b).

Os quatro mediadores principais da alostase são os glicocorticóides, ascatecolaminas e deidroepiandrosterona como mediadores neuroendócrinos e ascitocinas como imunológico (McEwen, 2003a). As ações destes mediadores noorganismo são múltiplas e estão interligadas.

Iniciando pelos glicocorticóides, praticamente todos os tecidos têm receptores paraeste hormônio. Suas ações na alostase são múltiplas e estão relacionadas ao sistemacardiovascular onde aumenta a sensibilidade às catecolaminas, ao volume de líquidoe na reprodução, que é retardada em momentos de tensão poupando assim energia.

Atua também suprimindo a inflamação e a fase aguda de uma resposta ainfecção mantendo sob controle as respostas visando minimizar o dano, mobilizamcélulas de defesa para o local da infecção e moldam a resposta imune, podendosuprimi-la também (McEwen, 2003a).

Em relação ao sistema nervoso central, como promovem o efeito cardiovasculardas catecolaminas, aumentam o fluxo sanguíneo cerebral. Em níveis basais atuam

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na memória aumentando a formação de recordações de eventos emocionalmentecarregados e em níveis de estresse, suprimem a memória (McEwen, 2003a).

No tocante ao metabolismo, promove o apetite, a glicólise, proteólise egliconeogênese, em oposição à insulina. Funciona como a insulina quandoem estado de elevação crônica: deposição hepática de glicogênio, lipogênese(especialmente com deposição de gordura no abdome, como na síndrome deCushing, às expensas de perda protéica muscular), promovendo concomitanteliberação de insulina ao mesmo tempo em que impede a ação dela nos receptores.A conseqüência extrema é a progressão para o diabetes tipo 2 com exaustão daprodução de insulina.

Desde modo, a elevação crônica dos glicocorticóides gera hipertensão,obesidade abdominal, perda mineral óssea, perda de massa muscular, supressãode respostas imunes, perda da memória e atrofia de estruturas cerebrais como ohipocampo (McEwen, 2003b).

Como era de se esperar, a ausência de glicocorticóides pode provocar oaumento das respostas inflamatórias e autoimunes, assim como para o desequilíbrioda citocinas.

As catecolaminas são outros mediadores maiores, ao lado dos glicocorticóides.A norepinefrina é importante para a regulação discreta da constrição dos vasossangüíneos e redistribuição do fluxo sanguíneo (importante para o coração,pâncreas e baço). Nos músculos esqueléticos, a epinefrina retarda o consumoprotéico atuando de modo contrário ao glicocorticóides.

A liberação da epinefrina está mais relacionada ao estresse emocional,enquanto a norepinefrina se relaciona mais ao esforço físico (McEwen, 2003a).

No sistema cardiovascular as catecolaminas mantêm o fluxo sanguíneocerebral quando de mudanças posturais. Na liberação durante a atividade física,regula a queima das proteínas musculares e dos estoques de glicogênio do músculo.

Atua na regulação da temperatura corporal, promove o mecanismo de atenção,vigilância e estimulação do sistema nervoso central, além da formação delembranças relacionadas a grandes emoções.

Quanto à retenção de líquido, a hipernatremia inibe a atividade simpáticalevando a natriurese, e a hiponatremia promove a ativação da vasopressina e dosistema renina-angiotensina, além da secreção de aldosterona (que aumenta aretenção de sódio e água).

Na inflamação e imunidade, promove a redistribuição de células imunesdurante o estresse e após desafios imunes específicos (por exemplo, hipersensibilidadetardia). Com o aumento da ação simpática, há queda na função das células T enatural killer mas não na proliferação de células B. A simpatectomia química parecepiorar o quadro das doenças autoimunes (McEwen, 2003a).

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Finalmente, no metabolismo, mobilizam estoques energéticos, atuandosinergicamente com os glicocorticóides: aumento da gliconeogênese, glicogenólisee lipólise, mas de forma contrária no metabolismo protéico, isto é, inibindo aproteólise. A liberação de noradrenalina aumenta os níveis de insulina parecendoque posteriormente a insulina aumenta os níveis de atividade simpática criandoassim um círculo vicioso (McEwen, 2003a; Kaaja & Poyhonen-Alho, 2006).

A deidroepiandrosterona (DHEA) é um estreóide adrenal com antagonismofuncional aos glicocorticóides, já que não interage com receptores celulares deles.Ela inibe a ação de indução de ganho ponderal e a memória. No uso deglicocorticóides, a perda mineral óssea se relaciona à baixa produção de DHEA.Também é antagônico funcional em algumas ações imunes (McEwen, 2003a).

Pode diminuir a sintomatologia da depressão (principalmente no idoso)em sua ação no sistema nervoso e ser um possível agente neuroprotetor noenvelhecimento (McEwen, 2003a).

As citocinas participam da resposta de fase aguda e como ativador da respostaimune. São produzidas localmente por células imunes e à distância por órgãoscomo fígado e cérebro (McEwen, 2003a). O sistema imune influencia o sistemanervoso central através das citocinas (Wrona, 2006), contribuem para a sensaçãode mal-estar geral que as doenças provocam, indução da febre e regulação dosono (Kapsimalis et al., 2005), e têm efeito este direto sobre o sistema nervosocentral (Adler & Rogers, 2005).

São descritos dois tipos de citocinas: inflamatórias (interleucinas (IL)-1, IL-2,IL-6, fator de necrose tumoral (TNFs), fator de crescimento dos fibroblastos, einterferons) e anti inflamatórias (que incluem a IL-4 e IL-10) que inibem a produçãode citocinas inflamatórias (McEwen, 2003a).

4. O CÉREBRO

O cérebro é o maior controlador dos mediadores também alvo deste sistema.Se os mediadores são liberados e atuam por curto período sendo removidos dasfendas sinápticas por reabsorção ou degradação, têm efeito protetor (McEwen, 2003a).Se não ocorrer deste modo, o órgão corre risco de ser danificado.

Após períodos longos de carga alostática, como em macacos subordinadosque vivem sob uma hierarquia dominante, a sobrecarga alostática pode ocorrer eneurônios piramidais podem até morrer (McEwen & Wingfield, 2003).

Os glicocorticóides e a epinefrina se relacionam com a memória de eventosperigosos, sendo um processo adaptativo. Com a manutenção da carga alostática,o hipocampo – área vital para o processamento de informações sobre a adaptaçãoindividual (McEwen, 1997) - sofre diminuição do tamanho (McEwen, 2002), combloqueio da memória declarativa, contextual, episódica e espacial, que pode ser

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registrado por testes neuropsicológicos acompanhados por ressonância magnéticaem indivíduos com condições patológicas como doença depressiva recorrente,esquizofrenia, doença de Cushing e estresse pós-traumático (McEwen, 1999).

A ação dos hormônios no cérebro é instrumento para inúmeros fatores,incluindo os efeitos do estresse nas funções cerebrais, assim como um determinanteda taxa de envelhecimento do cérebro (McEwen, 1997).

O persistente aumento de glicocorticóides se associa ao prejuízo das funçõescognitivas, em associação com aminoácidos neurotransmissores excitatóriosendógenos, formando radicais livres e lesando a célula nervosa (McEwen, 2003a).

Mas o cérebro possui mecanismos de reparação que remodelam dendritospara a formação e recolocação de sinapses. Mesmo na vida adulta existem regiõesdo cérebro que têm a capacidade de repor neurônios, sendo esta uma respostaao estresse crônico (McEwen, 2003a).

Assim, esse estresse crônico leva a uma adaptação por remodelação, de modoque os neurotransmissores locais e os hormônios que circulam sistemicamente,são capazes de, em conjunto, alterar estrutural e funcionalmente a “neurogênese nogiro dentado e a remodelação dos dendritos do corno de Ammon” (McEwen, 2000c).

5. MÉTODOS DE MENSURAÇÃO

A partir do descrito acima, foram incorporados métodos laboratoriais demensuração da carga alostática. Estas medidas não seriam úteis apenas paraquantificar esta carga, mas também para predizer, prevenir ou retardar doençasque se manifestarão tardiamente na vida (McEwen, 2003a).

Dosagens séricas e urinárias de hormônios, como os glicocorticóides, decatecolaminas, DHEA e citocinas, dosagem salivar de corticosteróide, seriamalguns exemplos de mensuração dos mediadores da carga alostática (McEwen,2003a). Estudos prévios não fornecem informações sobre o valor preditivo dessesmediadores, assim como sua contribuição para a mensuração da carga alostática(Seeman et al., 2002). Há, no entanto, estudos que os relacionam à síndromemetabólica, isto é, um grupo de fatores metabólicos que atuam aumentado orisco para doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

Os efeitos desta carga e da sobrecarga podem ser avaliados indiretamente,como na dosagem de hemoglobina glicosilada. Como exemplo, foi sugerida apresença de um mecanismo de controle alostático nas variações dietéticas desódio sérico (Van Berge-Landre & James, 2004).

Os métodos de operacionalização da carga alostática são estruturados deforma multissistêmica, constando de determinado número de atividades fisiológicasvinculados ao funcionamento do eixo hipotalâmico-hipófise-adrenal, sistemanervoso simpático, sistema cardiovascular e processos metabólicos, com grande

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valor preditivo relacionado a quatro dos maiores desfechos em saúde: incidênciade doença cardiovascular, declínio na função física, declínio na função cognitivae mortalidade (Seeman et al., 2002).

A definição operacional da carga alostática foi inicialmente concebida porSeeman et al. (1997a) com o objetivo de avaliar a influência dos riscos de longoprazo para o declínio das funções cognitivas e físicas.

Em geral, os parâmetros usados incluem as pressões sistólica e disatólica, umíndice de metabolismo e deposição de tecido adiposo (por exemplo, a razãocintura/quadril), lipoproteína de alta densidade e colesterol total (desenvolvimentode aterosclerose), hemoglobina glicoslada (metabolismo da glicose),dehidroepiandrosterona (antagonista do eixo hipotálamo-hipófise-adernal), excreçãode cortisol urinário (atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal) e excreçãourinária de epinefrina e norepinefrina (atividade do sistema nervoso central)(Seeman et al., 2002; Bjorntorp, 1987; Svec & Lopez, 1989).

Alguns índices que refletem o funcionamento dos mediadores, também serelacionam com a síndrome metabólica mantendo relação com risco para doençacardiovascular: níveis de pressão sistólica e diastólica, lipoproteínas de alta densidade,colesterol total, hemoglobina glicosilada e obesidade abdominal. Desta forma, amedida da carga alostática pode ser apenas uma alternativa de medida para asíndrome metabólica (Seeman et al., 2002).

Um problema que pode acarretar viés de mensuração, é o fato de que osmarcadores podem variar em seus níveis séricos em condições específicas como resul-tado de estados agudos como alergia, infecções, privação de sono e exercício recente,o que pode aumentar ainda mais o estado alostático existente (McEwen, 2003a).

6. AÇÕES DA CARGA ALOSTÁTICA

Para melhor compreensão da interação entre os elementos que compõe acarga alostática e sua ação final no processo de adoecimento, o quadro propostopor McEwen (1998) pode ser útil (Figura 6).

A parir de um estímulo físico (doença, alteração de temperatura) ou social(interação social, pressões no trabalho), haverá um processamento por estruturasespecíficas do sistema nervoso central sob a influência de inúmeros fatores genéti-cos, de desenvolvimento, história social e individual, dentre outros. Percebidocomo ameaça, a memória é acionada e se corresponder a um estímulo conhecidogerará uma resposta vinculada aos custos da experiência anterior. Se a fonte nãoé conhecida, esta resposta ativa mecanismos biológicos que geram alostase, e, sepersistentemente mantidos, uma sobrecarga alostática.

Na Figura 7, são mostrados fatores vinculados à produção de sobrecargaalostática que o indivíduo sofre no decorrer da vida.

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Figura 6Ação da sobrecarga alostática, efetores e efeitos. Adaptado de McEwen (1998).

Do ponto de vista da Epidemiologia Social, os fatores de estresse serão oriundosde processos sociais tais como educação, condições ambientais, condições detrabalho, salário, apoio, acesso à saúde, etc. Estes fatores que atuam no indivíduogeram conseqüências ou se juntam a outros fatores já incorporados ao cotidianodo indivíduo (como o tabagismo), tendo influência na saúde.

Conceitos oriundos das Ciências Sociais servem de substrato não apenas naaplicabilidade em Epidemiologia Social. Assim, a Antropologia Fisiológica aprimorao conceito de carga alostática, sistematizando experimentos em populações

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Figura 7Adaptado de Lynch e Kaplan (2000).

distintas, sempre preocupada com a diversidade interna e com a variação entreessas populações (Stewart, 2006).

Duas abordagem complementares são claramente evidenciadas percebidasem relação ao conceito de alostase e carga alostática: a que envolve os seres vivose os meio ambiente na busca de suas necessidades básicas, essenciais a sobrevivênciae ganho para a adaptação da espécie e, aquela que avalia a influencia daorganização social na saúde em considerando como fator de estresse o predomínioda organização social sobre a necessidade básica (McEwen & Wingfield, 2003).

Existem inúmeros estados patológicos estudados pelos mais diversos pesqui-sadores e apontados como conseqüência de um estado alostático prolongado.Se destacam neste aspecto os estudos vinculados ao sistema nervoso central edoenças degenerativas e psiquiátricas. Como o termo é abrangente no sentido defisiologia animal, existem muitos estudos não só como protótipo para o ser humano,mas que avaliam as sociedades e comportamentos individuais de outros animais(Korte et al., 2005; McEwen & Wingfield, 2003; Goymann & Wingfield, 2004;Price et al., 2004).

Alguns estados patológicos que mostram evidências que os vinculam a sobrecargaalostática dentro do contexto psiquiátrico (McEwen, 2000b; 2003b) podem sercitados: doença depressiva (Price et al., 2004) e síndrome da fadiga crônica (McEwen& Wingfield, 2003; McEwen, 2003a; Maloney et al., 2006). A memóriatambém pode sofrer com a sobrecarga alostática, podendo ser este efeito reversívelem alguns casos (Seeman et al., 1997b).

As doenças inflamatórias também podem ser concebidas pela ótica do acúmuloalostático, já que são compostas por fatores genéticos (antígeno dehistocompatibilidade), semelhança molecular entre antígenos bacterianos e auto-antígenos (forma a tolerância a estes antígenos) e o meio hormonal que regula a

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resposta adaptativa imune (McEwen, 2003a). A fibromialgia (desequilíbrio decitocinas e diminuição de glicocorticóides) (McEwen, 2003a) é um outro exemplo.

Podem ser relacionados os estresses diários com início ou piora de sintomasde doenças gastrointestinais como intestino irritável, doença inflamatória e doençapéptica (Mayer, 2000).

Como observado anteriormente, a sobrecarga alostática pode estar vinculadaao início da vida. Desta forma os estresses tornam o indivíduo mais susceptível aameaças à saúde. Dependendo do estresse as doenças podem se manifestar décadasmais tarde. Assim, o abuso na infância (Mayer, 2000; Price et al., 2004) pode gerardesequilíbrio homeostático compensável por uma sobrecarga alostática e suasconseqüências na saúde.

Também se pode observar a presença dos efeitos da sobrecarga alostática emcrianças. Usando a reatividade cardiovascular (freqüência cardíaca e pressõessistólica e diastólica) como medida da sobrecarga, ficou estabelecida a relaçãoentre densidade populacional da moradia (gerador de estresse crônico) e dias deausência à aula por doença (Jonhston-Brooks et al., 1998).

As condições de trabalho influenciam a saúde não apenas pela presença deum meio ambiente insalubre, evidente formador de uma carga alostática, mastambém por outros estresses que impõe a quem desempenha a tarefa. Foi destacadaa relação entre demanda do trabalho e sobrecarga alostática (Schnorpfeil et al., 2003).

Os padrões neuroendócrinos medidos pelos mediadores alostáticos eixohipotalâmico-hipofisário-adrenal, sistema nervoso simpático e atividadecardiovascular parecem ser bastante sensíveis ao meio social. Aspectos comostatus, estabilidade da ordem social e qualidade dos relacionamentos sociaisestão relacionados com sobrecarga alostática. Interações sem suporte sociais(Goymann & Wingfield, 2004), hostis, se associam a um aumento da reatividadeneuroendócrina (Seeman & McEwen, 1996).

7. CONCLUSÃO

O estresse evoca comportamentos adaptativos. As expectativas de resposta aoestímulo podem ser positivas, negativas ou sem estes valores, dependendo docaráter individual, experiências anteriores, doença prévia etc. Quando se têmrespostas positivas, não se coloca em risco a saúde, pois não teremos umasobrecarga alostática.

Quando se tem uma resposta que gere uma carga alostática, busca do retornoà homeostase que se encerra com o final do evento, não se tem acúmulo quepoderá gerar doença.

Ao contrário, quando a carga alostática é mantida por períodos longos ouindefinidamente ou a resposta adaptativa que encerraria o ciclo não ocorre,

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temos a sobrecarga alostática com atuação perene de mediadores metabólicos(eixo hipotálamo-hipofisário-adrrenal, catecolaminas e glicocorticóides) econseqüente dano à saúde.

O dano pode se manifestar de vários modos (doenças) tendo como pano defundo a perda de tecidos (degeneração), agressão a tecidos como inflamação,hipersensibilidade, sobrecarga funcional (hipertensão) ou transtornos psíquicos(ansiedade, depressão).

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

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