ALMEIDA, Pires - A Escola Byroniana No Brasil

download ALMEIDA, Pires - A Escola Byroniana No Brasil

of 119

description

Interessante.

Transcript of ALMEIDA, Pires - A Escola Byroniana No Brasil

  • J(I"'",,i.r.I))

    r)I

    i)I)

    I

    I,'I

    )!)

    I (~

    r )

    ))))))))))))

    ))

    )))

    ))

    A

    ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL

    Suasorigens,suaevoluo,decadnciae desaparecimento

    NOTA

    o trabalhoenfeixadonestevolume um documen-trio dos mais curiosose informativosacrcado

    romantismono Brasil, particularmenteda correntedeinflunciabyroniana.

    Seu autor,o Dr. Pires de Almeida, estampou-onoJornal do Comrciodo Rio de Janeiro, entre 1903e1905,comovai indicadono local competente.

    A suapublicaofoi sugeridaao InstitutoNacionaldo Livro pelo crtico Afrnio Coutinho, tendo sido opreparodo texto realizadosob a direode D. MariaFiLgueiras.

    Por gentilezado Sr. Jos Renato SantosPereira,quandodiretordaquelergo,foi cedidaa cpiaj pron-ta ComissoEstadualde Literatura para publicao

    em SoPaulo, em virtude do interssequeapresentaodocumentoparticularmentepara a histria da Litera-tura nesteEstado.

  • T_

    \ )))

    J )

    J)1))'),)')')!)

    .,)')')')')

    ')')

    ')

    " ),)')

    ')))

    ! ,

    , )I li

    )

    )

    ,)

    }

    )

    )

    (Jornal doComrcio,2 de julho de 1903)

    ISalve,resplandecentePaulicia!trs vzessalve,pro~ni-

    toradepatriotas,seiopossantede gnios,lendrioberodeilus-trespoetas!

    Nomedirijoa ti, - no!modernaPalmira,recentecidadede luz e deprogresso,mas_.Pauliciadomeutempo,terradosestudanteserradios,dasmoreninhasde vue mantilha,dosfra-desindolentes,dossaposdemalhoe bigorna,doscavalosmancose esquelticos! EauHciatresloucada,semprealertaparaasse-renatasaoluar,gemp:r~'l.o:rda..pa:J:'..QrgihyrI9)1.S,cen-tro dostorneiospoticose dosbomiosfamososdo porvir! 0'0

    Adiantado,- poucoimporta!- na vida, COIJJ.o.,yigordeoutroraque,hoje,metransportoa ssepassadode,}8~9/emqueo aterradode Santoseraa estradade rodagemque'maisadmi-ravaaoestrangeiro.

    Macadamizadona extensode duaslguas,da por diante,desdea raizdaSerra,assubidas,talhadasa pique,tornavam-se,depoisdasgrandescheias,quaseinacessveisaosmaisdestroseastutoscaminheiros.'

    Revolvendo,nos arquivos,traadase amarelentasportariasdotempo,umadeparei,assinadapelovelhopatriotaMartimFran-cisco,queconsideravavexatriaa barreiradoCubato,pois,paraapurarseufisco, o arrematantetrancava-a noite,paras fran-que-Ia madrugada,combastantedanoparao comrciolocal.

    O aludidoaterradofra entregueao trnsitoem 1790,se-gundoindicamostrsmarcos,oraderrubados,de quedonot-cia osviajantesKidder e Fletcher,(1)nosquaislespuderam,a

    (1) B,'azil and the brazilians,portrayedin historicaland descripti'Jeskteches.Philadelphia,1852.(A edioencontradana BibliotecaNacionaldo H. de Janeiro de 1857.)

  • OMNIA VINCIT AMOR SUBDITORUM.

    MARIA I REGINA,

    nesteanno,1790.

    custo, e arrancandoaos granitos os j incrustadossedimentos,pr a descobertoestasinscries:

    FES-SE ESTE CAMINHO NO FELIS GOVER-NO DO ILL.o E EX,o BERNARDO JOS DE

    LORENO, GENERAL DESTACAPITANIA.

    11A ESOOLABYRONIANANOBRASIL

    (*) descrescido,no texto.

    Onde estarsagoratonsuradocolega? Bem merecesque terelembrenestaspginas,pelosteus devaneiosacatlicos!Tu, queentrelinhavaso teu brevirio com citaesprofanastiradas dePetrarca,de Byron e at do ateu Shelley! Ondeparas? Acolhode boa mentesteextemporneocantocho,na incertezade queaindaexistas,pois afirmam,uns, que destea almaao diabo,viti-madopelo micrbio do bcio, e - outros - que gozasde boasade,ouministrando,comovigriode Chapud'Uvas,a extrema--unoaos impenitentesmoribundos,ou, comosolicitadoresper-to, no Rio Grande do Sul, limpandoas recheadasalgibeirasspartes,nas trapaasdo fro.

    Apenas chegados raiz da serra, soubemosque volumosasbarreiras,obstruindoo caminho,nos obrigavama tomar a velhaestradade Martim Afonso; mas,no havia voltar atrs.

    E seguimos,e prosseguimos.A trovoadarolou sbrenossascabeaslogo bcada noite;

    no obsl.;lIll,t',fatalistaspor sistema,entregamo-nosconfiantesaodescoll1Jl'cidt),

    E a I.t"lIp(~staderedobrava.P;II't'C('-IlH'estaraindaouvindoum dosda comitiva,- o Bar-

    l'i'.!IO::,~;('\H'lllm(~lembro- declamar,ao estrpitodosraios,que~;('(,ld,I'('CrUzavamrepercutindosinistramentenas gargantasre-hO;lId,t'sl' marulhosasdas montanhas,estasestnciasde,ChildeIlil'l'old:

    "L ondeos rochedoserguiamseuspicosmais alterosos,eraqu('lt~buscavaseusamigosmaisntimos. Eram-lhea moradaasparagensondeo oceanorola suasvagasestrepitosas... O infinito,() ineomensurvel,o desertosombrio,a floresta,as escurascaver-nas,a espumadasondasera tudo que o acercava,era tudo o quele ambicionavae estremecia".

    O chapude fltro de abaslargas cadassbreo rosto,e oslongoscabelosfugindopelasmalhasdo cachende l encarnada,davam-lheo ar sombrioe romnticode novo MaIlfredo; outrasvzes,qual rei Leal', desafiandoa tormenta,levantavacom pre-eipitadogestoo seu sombreiro,mostrandoento a larga fronteao abrir dosfuzis.

    O ventoululavageladoe crispante;e as acardumadasnuvens,rtaspelosraios,despejavamaguaceirospor tal modotorrenciais,que o caminhose tornavapor instantesinsupervel. E as azmoIas, nicosguiasdo momento,palpavamos atoleiros,recuavam,es depoisde decrescidoC*)o grossodasguascontinuavamcomdi-ficuldadea patinharno barro encharcadoe adesivo.

    ~.))'),)

    ))))))))))))

    ))

    ))

    )))

    PIRESDEALMEIDA10

    (2) O padreJos Romode SousaFernandes,nascidona Campanha,Estadode MinasGerais,eravigrioda freguesiade Chapud'Uvas. Aban-donoua Igreja para estudarem S. Paulo, tendofreqentadolivrementeocurso inteiro. Retirou-sedepoispara Santa Catarinaou Paran,e daparao Rio Grandedo Sul, onde,segundouns, faleceuem 1873,e, segundooutros,aindaexerciaa advocaciapor ocasioda revolta. Chicaneirohabi-lssimo,sofistaemrito,alatinoufragmentosdas Horas de cio,de BYRON.

    Os desmoronamentosde grandesbarrancossbre o leito daestrada,entretanto,no ngremeda serra, foravamos viajantes,por tempoindeterminado,aosdesviosda jornada,tendode tomara Estrada Velha de Gois, primitivamenteCaminho de MartimAfonso; caminhoto estreitoe escabroso,que as alimriaso gal.gavama um de fundo e quasea prumo,entre insondveissorvedouros,obrigandoo cavaleiro,pela iminnciado perigo,a entre-gar-seconfianteao instinto altamenteconservadorda montaria.

    Admirando o estranhoesfro daquelespacientesanimaispara galgaralcantisto esguios,beiradospor medonhosabismos,ao fundo dos quais as guasrolavam em catadupas,admirandoainda mais a impassibilidadeem que se mantinhamao estourodos raios, s lufadas de vento e queda da chuva, sentia-me,confesso,apiedadodles,tantasvzesesbordoadosinjustamente,e - o quemeparecemaisdoloroso- rebaixadosat,quando,porintencionalafronta,alcunhamosde burros aos ignorantes.

    Violenta tempestadesorprendeuum grupode estudantesque,havendodeixadoSantos,buscavaa cidadeacadmica.

    ramos todos moos,quase imberbes,naturalmentepoetas,certamenteloucos,emdemandade emoesimprevistas,de aver.-turas extraordinrias,menos um, talvez, o padre Romo que,por sua idade provecta,freqentavalivrementeo curso de Di-'reito.(2)

  • Dosrapazes,unsnocessavamdemodular;tnodiIll1asemvoga,outrosdeclamavamtrechosprediletosde,1?25'-tass~n-tim,eIltais,aopassoqueoutros,maisraros,cabisbaixos,soturnos,dobrandoascostas,procuravamassimescaparsvergastadasdaviolentachuva.

    Durantecincohorasdestarteviajamos,galgandopenosassu-bidas,passandO'por estreitasveredase atravessandodensosca-poeiresondea burradavencialerdapedregososolo.

    O padreRomo,pormatreiro,guardavasemprea retaguarda;e, semnuncaperdero bomhumor, descidade escurodesfila-deiro,lenosapontoua umrecantodo vale,queseestendiaaolonge,umaluz totnuee fugaz,queparecia,a princpio,ou afosforescnciade um pirilampo,ou o brilho de midaestrlaarefletir-setrmulaemadormecidolago;mas,bonachoe alvis-sareiro,o padrelogobradou:

    - Amigos,distingoalma arcadeNo!A exclamaodecontentamentoquedeixamosescapara uma

    voz,denuncioua ansiedadequesentamospor prximopouso.Efetivamente,aocabodealgumasvoltasmaisoumenostor-

    tuosas,havendoperdido,pormomentos,devistao nossosantelmo,achamo-nosemestreitae escurabocaina,cujavegetaoseenre-davatodensa,queosanimaismalpodiamtrilh-Ia,emaranhan-do-seno intrincadocipoal.Anoshavia,talvez,queo solali nopenetrara,tal eraa atmosferasombriae midaqueseentornavaemderredor.

    - Se eu fraCaim,resmoneouo fatalistaVarela,eiso es-conderijoqueescolheriaparasubtrair-me espadavingadoradeJeov! .

    Umahoradepoistnhamossadodagrota.Achvamo-nosempequenavrzeasalpicadade'cupinzeiros,queavultavamde es-paoa espao alturade um metro,e cuja vegetaopareciadevoradapelosperniciososhabitantesdessascolnias.

    De brusco,novamentedistinguimosa dbiae frouxaluzerna,quenosserviadefarol,comoa estrladoOrienteo fraparaostrsreismagos.E caminhamosperseguindoa luz que,por es-tranhoefeitode ptica,maise maispareciaafastar-sedenossospassos.

    Poucosinstantesbastaramparaquenosgrupssemostodos,atqueformidveltrovo,apsofuscanterelmpago,nosdeuacertezadequenosachvamossobo alpendredeumalocanda.

    Aproximamo-nos.O pardieiroestavasilenciosocomoumt-mulo. Batemos pprta, nicaporta,grosseiramentefabricadademaladaptadospedaosdecaixo,pelasfrestasdaqualfiltravaa luz amortecidadeumacandeiasuspensaaovigamento. \

    13A ESCOLA BYBONIANA NO BRASIL

    O quefaltaa estapirmide,disseo Joo Jlio, umaes-finge!...

    _ No! O quelhe falta,acrescentouo Nepomuceno, umvampirofortementeacoladoao alto da ripa destasolitriaes-pelunca.

    E desatamosa rir.Em seguida,comooutroraos gentis-homensnos romances

    medievais,pusemo-nosabater,abaterainda,fazendO'acompanharcadamurro,ou deumajura,ou deumablasfmia.

    _ Em nomede Deus,ou do... diabo,abre. Aqui o padreRomo,quesehaviatrado,benzeu-searrepiado.

    _ Abramestacafua!- 11:steCafarnaum!_ Escancara-te,Ssamo!Nomeiodetodosteberreirodabandadefora,e dealgumas

    injriase improprios,em represlia,da bandade dentro,aoestrondodepesadatranca,a tscap'rtagemeu,e a v'zarrastadaeroucadealgum,quemalpodamosdistinguir,speramenteper-guntouo quepretendamos.

    _ Extemporneapergunta!retorquimosemcro.E umafigurase apresentou,convidando-nosa entrar._ E osanimais?perguntamos._ As alimrias,retrucoule, tmmaistentoque mecs:

    bastasolt-Iasqueirodarconsigona estrebaria.Penetramostodosno desejadopouso,se quecabetal nome

    quelaimundaalbergaria.Houvealgunsmomentosdesilncio,enquantonosaliviamos

    doscapotese dasbotasdemontaria,queatiramossbreostoscosbancos,postosaosladosdec()mpridamesadepinho.

    Inopinadamente,Gennesc9\rompendoo silncio,bradou:- Umamorta!' .Tdasasvistasconvergiramparao estudante,quesevoltara

    espantadoparao fundoda sala,onde,sbreumatbua,via-serealmenteO'c~dverdeumaoctogeIlria,tendo cabeceiraapenasacesaveladesebo.

    ~ Umadefunta,sim,murmurouo estalajadeiro,assomandoimprevisto.

    O aparecimentodaquelevultO'quedensseaproximavalen-tamenteaoslumesfugacesde umacandeiapendidada telha-vnossorprendeu,pois julgamoster empresenaVulcanoressUS-citadoou algumgnomofatdicO'.

    Avultandodoescuro,reconhecemosnossointrodutordeaindaagorinha.Pacatoancio,noselia emsuafisionomiatraoalgummau,nemmesmosobrenatural;inofensivacriatura,eraummisto

    )

    ))}

    ))

    )))))}))))

    ( ))))))

    I )

    ))))))

    )

    )

    ,l)

    ~

    )

    )

    )

    PIRES DE ALMEIDA12

  • .,

    (*) espivitou,no texto.(**) murro) no text

  • (*) Hypacia,Nina de l'Endas,no texto.
  • - Mas, quemle era?- Tudo ali ficou.- Por Sat,dize-nos:quem era le?-W. COWPER

    Sonhar!sempresonhar!inebri-la,dar emboto,aodeflorardossonhosest'alma,de ilusescansadae apressa...Sonhar!sempresonhar!sentirno crebrouma idia,contnuaa tortur-Io!...Espe'rar!esperar!e em vo...

    (3) Nem s ste, como vanos outros autgrafos, ainda inditos,deALVARESDE AZEVEDO,que sucessivamentepublicarei no correr dste estudo,me foram liberalmente cedidos pelo Sr. Conselheiro Lus Antnio da SilvaNunes, parente e outrora ntimo do malogrado poeta.

    Com esta prvia declaraocumpro duplo dever: provar a autenticidadedo manuscrito,e manifestar-mealtamentereconhecidoao venerandoSr. Con-

    JeffersonHighlight

    JeffersonHighlight

  • I

    selheiroSilva Nunesque,felizmente,existeainda,e de quemalcanceiosaludidosoriginaispor um dssestraosde fidalgagenerosidade,que lhesopeculiares.

    Encenaro poemetofoi tarefaexclusivamenteminha;a issome abalan-ando,maisno fiz do que exornarde fatos,e de figurasve.rdadeiras,agrandetela do inesquecvelpropulsorda escolabyroniana,transplantadaparaasnossasterras.

    Qu'importao sonhodeslizasseum diacomoo cismardo harmjunto s varandas,se levesviraes,prenhesde aromas,lhe iam suavesno travar do espritocomopor frescas,transparentesnoitesao luar de Venezadas lagunasa bafagemdo mar trazendoeflviosda cantilenado barqueiro,s bordasda solitriagndola?

    Sinta-osna febre do viver, e vivado beijo,em frenesi,o ardor dosseios,vida de uns olhos,que em languordesmaiam,e em volupturiaslgrimascintilam,lavasde sorvoem resumir purpreode uns alongadoslbios- melodiasdo colo,quesoluaem ais desfeito;o frescor de uns cabelosderramados!Quero a mulher, que realizesonhosque tantasnoitesme levaramd'brio, II!

    21

    ., ... , ..

    o ,

    , o , ,

    o' o'

    Alm no mar desmaia

    a prolado amor- e o cuseanilae a lua brilha - e o Mlaga tremulano lmpido cristal, luz das lmpadas...Oh! Amar e sonhar- Bebei, fadas!Do levebuo que,ao sombrearde um riso,siJbreo amenodos l.biosse aveluda,hei de cri7)(!,rna maciezmil beijos,I' C'II/, colosalvosdorrnireimeussonhos!

    1';hci de a'lIl,ar (' 'l'i,I)("I'.- hei aeessaesponja,((:IHa'I'!!((, ("11/,/,0'1'11,do 'I'im('r, 1)1"I"III,('-/,(/,(;r; 11'/1,1'

  • _J

    23

    Partiu! e foi semd. .. semumaE eu a ss ficarei - hei deo malfadadocoraodos estosde uma febre insensata. Altft;;'m~us;sonhOs!'Esperanas,alm! Tudo miJiti"x::'Wlft",.".,;;'Nemumaflor, meuDeus!N~1iim,'sorrtsr:Seja de espinhosa grinldcl'VitetOCii/sangrestecoraogQlfgdasnsigs" 'corram-medessaplaerf~'.~ihtb:tias,'u:r:,'ardentes,comolava;ona,s'd~';i?f~nio!L.Lgrimas!querorgrimisrqe'i-rnm~::'Se.a dor do peito,rh'eu'lm'fr'isbhi&s'!:':. ,Partiu! partiu sem d! N eV" uma lgrfiri:itt

    ;.j

    E que importavao sonhador bela?!Qu'importaao sol a nuvemda levante?Daurou-lheum dia o rosicler das'fmbrias,fant~siou-ade luz quenem um ris . ,mais furta-cr,mais ledo se azulara.. ~.'j

    v

    A ESCOl,A BYRONIANA NO BRASIl,

    Partiu! e foi semd.. , Nem uma lgrimaao malfadadosonhadarvotou-lhe

    essaingrata mulher...Partiu! no ltimo adeus,ao ver sumidaa ltima serra dssealm,nem lgrima,

    nem suspirosequer...

    E foi ta beloo ltimoraio aodescorardatardeno vvido crepsculo- entreas grimpas!...

    (*) camngneijola,no texto.

    ~,:':', :,

  • (*) reiminiscencias,no texto.

    psjuntos,queaqulemetalde vozjamaisreconheceraemsuapranteadacompanheira...

    i Depois;seguimosparaa mesa;e,passadosalgunsinstantes,aprosacontinuavanamesmaclavedefrancae confradescaalegria.

    - Comotechamas?interrogou-obruscamenteJuvenal.- Caleb,respondeule.- Caleb!pasmouo Joo Jlio: um comparsade WalterScott?!

    - Que obesofradete batizoucomssenome?acudiudeprontoo Inacinho.

    - Um estudante,apenas... E o nomecficou,poisemtdaestaredondezanomeconhecemporoutro.

    - E quearreliaissodavaquelaqueacabodeperder...E salgadalgrimainvadiu-lhea conjuntiva.- Perder!perder!consola-te,desditosopatriarca!bradouo

    Varela.Todososdiasperdemosalgumacousa:ste,umailuso,_aqule,o guarda-chuva,- aquleoutro,a sograou umaamantedevinteanos!Tudosepodeperder... ata vergonha,ato pu-dor. Eu, por exemplo,acabode perdero meu cigarro,e nomelamentopor isso.

    Calebnosabiacomorespondera semelhantedestampatrio.- Efetivamente,acrescentouo Almeida,um cigarroouuma

    mulherseequivalem.O quealimentaa ambos?simplesmenteofogo. Queproporcionamambos?instantesdeprazer. De ambosoqueseexala?fumaa.A queficamambosfinalmentereduzidos?a cinza. Reanima-te,pois, imbecil!

    - Talvezteacarinhassemuito;no assim?acudiuo sensi-bilizadoMeneses.

    - Muitssimo!Na mocidade,foi o meuraminhodealecrimcheiroso;navelhice,o bordodosmeustrmulospassos.

    - Ol!acudiuo Barreto,entrandoa contrajeitono extem-porneodebique.E semdvida,elarusgavacontigoo diainteiroe a noitetda...

    Talvezmesmotechegassea roupaaoplo,- confessa.- Quedisse?!Explique-se,por favor;insistiuo inconsolvel

    vivo. Ao cabodealgunssegundos,porm,ordenandosuasremi-niscncias,c*)confirmoucomvozplangente:

    - Na realidade,a pobrecriaturadesarrazoava,s vzes;e,quandonesseestado,fincava-meos dentesno couro. Deuslheperdoe.E levantouspliceosolhosparao cu.

    - E se ela aindaconservaaquleincisivoque ali estmostra, parate intimidar,parate ameaar!Previne-te.

    - Oh,asmulheres!amglhel'es!.;;ttalhouo Varela:topu-ras quandocrianas,toprfidasquandomoas,ti!\) repelentesquandovelhas!

    - Sim!altiberramosunssonos:condenemo-Iastdasna car-caadaquelammia:eraumajararaca!

    - Nego,senhores!protestouo magoadovelho.Era umanjo!E, repito,foi a minhacompanheiranavida-, s-lo-tambmnamorte;porque,senhores,nopodereiresistira stetranse.

    E outralgrimaumedeceu-lhea face.Basta!bradouo padreRomo,erguendo-seabrupto.No

    se trataagorade morrer,- trata-se,ao contrrio,de paliaravida. Diz-nos,Caleb,que h para a ceia?

    - Bempouco.Eu nocontava,altanoite,comtoluzidafre-guesia.

    - Vamos!Enunciao ndicede tuas iguarias...- E citaos seusautores .- Tenhosimplesmente.- Magriacaada?- Adivinhamos:curiangos

  • ""

    Recordandoos nomesde Antnio Augusto de Queiroga,Car-dosode Meneses,lvares de Azevedo,Bernardo Guimares,Au-relianoLessa,AlmeidaAreias, FranciscoOtaviano,Pinheiro Gui-mares,(4) Quintino, erguemo-nosabrupto, e entrecruzando oscrnios transbordantesde conhaque,demosa palavra ao Barri-

    (4) No perdurou a influncia byroniana, no Brasil; mas, de S. Paulo,onde tivera origem a fulgurante escola,irradiando-se profusa, inmeros foramos trabalhos originais da seita, e mltiplas tambm foram as parfrases '"verses,para a lngua verncula, de vrias poesias e de poemas inteiros dopoeta-Iorde.

    Do precioso acervo lembro-me no momento das seguintes produes,hbilmente interpretadas umas e outras levadas a efeito com inexcedv",lcapricho e brilho de forma.

    ANTNIOAUGus:1JODEQUEIROGA,nascidona cidade do Srro, Minas Gerais,em 1811ou 1812,formou-se na Faculdade de S. Paulo em 1834. Traduziuvrios trechos do Caim, que suponho perdidos, pois no os encontrei embiblioteca alguma, nem mesmona "Revista Filomtica", de que fra redator

    ilustre poeta. Faleceu em 1855na cidade da Diamantina.AURELIANOLESSA e BERNARDOGUIMARESverteram para o portugus

    algumas das Melodias hebraicas,que se encontram em revistas acadmicasdo tempo. AURELIANOLESSAfaleceu em 21 de fevereiro de 1861,na Concei-o do Srro, aos 33 anos de idade; e BERNARDOGUIMARES,nascido em 1828,na Diamantina, estudou em S. Paulo, mas formou-se na Faculdade deOlinda, em 185l.

    PINHEIROGUIMARES(av), que abandonouo curso de Direito ao quartoano, traduziu o Childe Harold, a Parisina e o D. Juan.

    FRANCISCOOTAVIANODEALMEIDAROSA,o "Crepsculo da tarde", o "Adeus"e a "Ave-Maria" do Childe Harold; e a "Eutanasia", que deu estampanoprlogo do Childe Harold, verso de PINHEIROGUIMARESe alguns trechosdo D. Juan. Jo!oANTNIODEBARROSJNlOR,meu companheirode repblica,o Manfredo se me no falha a memria. ',INCIOMANUELLVARESDEAZEVEDO

    .JNl!OR/irmo do pranteadopoeta,nascido em Niteri a 17 de maio de 1844,faleceu, nesta capital, em 23 de julho de 1863,'quando se preparava parad@rsl"q)4P ano. Fomos companheirosderepblica~m 1862, Por essa oca-sjooLeonf.iQ\1~meum drama em cinco atos, A rf de Alenon, que li ao,q,tQr,JI:WqL,iW.Al:fgusto;mas, simplesmenteirrepresentvel. Nas frias de1860,qundo ainda bichos, colaboramosnum drama fantstico, que deveriadenominar-se- Morta!

    r::bi-est6;INbo DEA~~VEDOtraduziu O cu e a terra, de BYRON, que:prece."me:'obrabemtrabalhada; e falou-me, por vzes, numa verso deA Profecia de Dante, que nocheguei a ler.

    JUVENAL J'i:Rrq,I'SD,El,VIEDOC4-RRAMANHOStrasladou para a lngua por-t1,1gg~,slJ.q~reQd~,'ori'fl,t().~t~echosdo Marino Faliero; ATANAGILDOBARA-.:r~J.';~t~i,Q{i:ru~:~P~~i~i;".a;eDIAs ~A~OCHAFILHO, A Noiva de Abidos, aPftstna;SfOO (AJ:tiii.rante),"a 1(ansina.

    Ls) Rllil\es;'F'IGUEIR!J:autor' dO'Darmo 'oU: ;Os Mistrios da Noite" passoupara a lngua portugusa o Mazeppa; e)PEnoMIROALVES PEREIRA,autor doGennesco, estnciasvrias; Jos CARLOSDE ALMEIDA AREIAS (depois Baroae Ourm), O Sonho e fragmentosde Os Foscari; GENTILHOMEMDEALMEIDABRAGAexcertos do Marino Faliero; CARDOSODE JYb:NESes{l\3arode Parana-

    piacaba), "Eutanasia", que publicou na seo de colaborao literria doJornal do Comrcio a 25 de dezembro de 1902,Estncias a Ins, Oscard'Alva; e BETHENCCURTSAMPAIO,Jo;~oJLIO, ROSENDOMONIZe ANTNIOJOA-QUIM RmAS (depois notvel professor da Faculdade de Direito em S. Paulo)passarampara o vernculo fragmentosde Lara; FRANCISCODEASSIS OLIVEIRABUENO,verteu Estncias a Ins; TIBRCIOANTNIOCRAVEIRO,o Lara; e JosANTNIODEOLIVEIRAE SILVA,tradutor emrito de THOMASMOORE,o dedicadoconfidente do BYRON, publicou alguns excertos, cujos nomes ora me esca-pam; BALTASARDASILVA CARNEIRO,Lara; FERREIRADIAS, fragmentosd' A Pro-fecia de D(mte; JACINTO ALVES BRANCOMONIZ BARRETO,eminente anglicistabaiano, extratos de poemas,apenasvagamentecitados; finalmente CAROLINAV. KOSERIT,de Pelotas (Rio Grande do Sul), o Mazeppa, Oscar d'Alva, etambm, o Manfredo; ALBERTOKRASS, as Poesias a Napoleo; e ANTNIOFRANOODA GOSTA,CLEMENTEFALCO,BALTAZRDA SILVA CARNEIRO,RODRIGUESPEREIRAMEIRELESe O DR. FIALHO as Melodias Hebraicas.

    n.h(m,qll~,,~,:t;ll\;qow~woraoaniversriada passagem,por ali, da-qll~I~~pI;4iqEF;'.lje,1:lYTOr.1i!.n.os,propsacendssemosum ponche,comtodosos'ingredientesda clssicafrmula.

    .iAal~gri, :asatlsf:!t;@,v'6"entusiasmoredobrou;e Caleb, nothdon1iSas'prat'eleivasUrnterrina capazde conter o pon-che-'rrtoi1stropttok'-'nem:tiill'gr;&hdealguidar,que pousou sbrea mesa.

    Momentosdepois,o poncheflamejavacomoumapira no san-turio de Vesta.

    Apagamosas velas. E, servindo-nosde taasos crnios,asenchemos porfia da saborosabebida.

    O lquido incendiado,bruxuleavaem flamasazuladas...Todo ssecenrioproduziaum efeito fantasmagrico:as la-

    baredasprojetando em os nossossemblantes,nesse lusco-fuscoproposital,reflexosmveisc indecisos,os transformavaem cada-verosasfae'ics.

    E a beberagemfervilhavasempre.Em tal estadodeviva exaltao,atiramoschufas Morte, con-

    juramosos demnios,rendemospreito de amor e ternura s he-diondase implacveisFrias, praguejamoscontra Deus, e vili-pendiamoso prximo! Tudoprofanamos.- De tudoblasfemamos!O nossocepticismoera clamoroso,explosivo,inaudito,porquantochegamosa pr emdvidaos sentimentosmaisarraigadosd'alma.

    E por fim, interpelandoo cadverhirto, emprazamo-loa quenos dissesseque tal era o inferno; se se passavabempor l, apa-rentementeto distante;se Satanslhe tomaracontade todosospecadosmortais;se, finalmente,as filhas de Pluto eram formo-sas,ardentes,voluptuosascomoas morenaspaulistanas!

    27A ESOOLABYRONIANANO BRASIL

    )

    )

    )))

    ))))))))))

    )

    ,,),

    , ,)

    , )i ) I

    )

    )

    PIRESDEALMEIDA26

    ~~,.:'

  • 28 PIRES DE ALMEIDA

    E, a uma,erguendooscrniosemfogo,levantamosestrondo-sotoasta AlvaresdeAzevedo,o primusinte1'paresdobyronismobrasileiro.

    Ao sintetismodestafrase,asvalvasda janelase abriram;ea aurora,entrandoradiosa,iluminou,a um tempo,umacavalga-daquedemandavaa cidadeacadmicaeumentrroquecaminha-valentoparao cemitriorural.

  • ))

    ))

    )))

    )))))

    )))))

    )))

    )

    )

    )

    )

    )

    )

    ))

    ))

    ))

    )

    )

    )

    (22 de setembrode 1903.)

    11

    DepoisdetrslongashorasdeviagemtrilhvamoscamposdoIpiranga,a trsquartosdelguadacidadeacadmica,e demand-vamosopequenovaledeterraavermelhada,porondecorretorso,arroio,tributriodo 'l'amanduate,que recebeuaqulemesmonomedacrquessuasguastransmitemosseuslveos.(1)

    Momentosmaistardenosachvamosnaverdee rmacolina,memorvelpelograndeacontecimentodequeelafracenrio,em1822:a caravanasedeteveenquantoaclamava,segundoos esti-los,o PrncipeCavaleiroqueali proclamaraa nossaindependn-cia,poisahistriadonossoprogressoprende-seincontestvelmentea essagrandedata.

    Trintae seteanoserampassadose a naturezaconservava-seali quaseamesma,comoquerecomendandosgeraesvindourasaqulesstios. A mesmaplancie,tapetadadeflhasamarelaseverdes,aquelasmesmascomqueospatriotas,quetestemunharamo ato,guarneceramasabotoadurase oschapus,entrandoassimadornadosnacidadeemalvoro.

    Seguindoviagem,a conversaoversouexclusivamentesbreo motivo,quesintetizareiembrevespalavras.Noserdemasiareproduzi-Iasaqui,poisquedaleituradasreYistas,a~g~!E:icasno~ecorre.!lte-,peJ:'()()y~:r:ifil::l,:s~,ql!

  • ,WifII" !

    OliveiraeMeIo (1.0BarodePindamonhangaba);dosargento-moI'DomingosMarcondesde Andrade;do tenenteFranciscoBueno Garcia Leme e dosguardasMigueldeGodiMoreirae Costa,Manuelde GodiMoreira,Adria-no GomesVieiradeAlmeida,ManuelRibeirodoAmaral,AntnioMarcondesHomemde MeIo, BeneditoCorreiaSalgado,FranciscoXavier de Almeida,Vicenteda CostaBraga,Fel'nandoGomesNogueira,Joo Jos Lopes,Rodri-go GomesVieil'a,BentoVieira de Moura.Flvio Antniode Andrade,Sal-vadorLeite Ferraz,Jos MonteirodosSantos,CustdioLemeBarbosa,sar-gento-moI'Joo Ferreira de Sousa,CassianoGomesNogueira,Floriano deS Rios, JoaquimJos de SousaBreves, AntnioPereiraLeite, sargento--moI'AntnioRamosCordeiro,Jos da RochaCorreia,David GomesJar-dim,EleutrioVelho Bezerrae AntnioLus da Cunha.

    Testemunharamtambmo atoda aclamaoo guarda-roupaJoo Mariada GamaFreitasBerqu,depoisMarqusde Cantagalo,os criadosparticu-laresJoo Carlotae Joo de CarvalhoRapso;o ajudanteFranciscoGomesda Silva,o padreBelchiorPinheiro,o brigadeiroManuelRodriguesJordoe o oficial da secretariado SupremoTribunalMilitar Paulo Bregaro.

    monstram,noh dvida,queaqulemonarca,a meuver, umepilptico,obedecendoemboraa violentaimpulso,cederatos suaespontneavontade,arrastadopor amoraoBrasil,que,selhe nofrao bero,assistiratodavia evoluode suaturbu-lentamocidade.

    Eis o fato,tal qualmonarraraminsuspeitose criteriososcon-temporneos,algunsdosquaisviviamaindaem 1859,e outrosqueo referiamdeoutiva.

    Caaa tardede7 dejunhode1822.Em caminhodeSantosparaS. Paulo,o PrncipeRegente,por motivoquenovemaocaso,ordenou suaguardadehonraqueoprecedesse,indoaguar-d-losportasdacidade;e apeou-se.

    Nessenterimtmpartidoda cidade,a tdabrida,dousca-valeirosao encontrodo Prncipe. Avistando-osao longe,tomadeumsaltoo animal,eaguardaestacadoa inesperadaembaixada.Trajavafardetaazulsimples,caladamesmacr,botasdemon-tariaenvernizadas,chapuarmado,espada cinta,e o inseparvelrebenquependidodo punho.

    Eramo majorAntnioRamosCordeiro,guardadehonra,ePaulo Bregaro,oficialdo SupremoTribunal,que chegavamdaCrte,e inteiradosdaviagemdeSuaAltezaReala Santosnodia5, iamemseuseguimento,poiseraminstantese gravesasnovasquetraziam.

    Ei-loschegadosaocimodacolina,cobertosdesuorepoeira;emal apeiam-se,beijandoreverentesa destrado Prncipe,entre-gam-lheumofciodeJosBonfcioeumacartadaAugustssimaPrincesa.D. Pedrorasgaosselos,abree l; todosse lhe apro-ximam;e,malpodendocontera ansiedadedeinteirar-sedoesta-

    (>I

  • Por vs, pela ptria,o sanguedaremos!Por glria s temos:Vencer ou morrer!

    (*) a, no texto.(**) imprevista,no texto.(3) Notavam-seno grupodaqueles:ManuelJoaquimdo AmaralGur-

    gel e VicentePiresda Mottae IldefonsoXavier Ferreira,quej haviamto-madoordenssacras. AntnioMarianode AzevedoMarquese Jos Antnio

    o brigadeiroMartiniano, assomandopor vzesa um cama-rote da segundaordem,improvisaversosanlogos,sob o mote:Independnciaou morte!

    Debalde se esforavamos atrespara atrair a atenodosespectadores;os olharesconvergiamtodospara o ilustre perso-nagem,que se constituraalvo das mais fervorosas,quanto dis-cretasdemonstraesde amorptria,e issodevido presenaalide umamocidadetalentosa e reconhecidaque,confianteno futu-ro, seguiaospassosdosAndradas,(3)incontestvelmenteosgrandesdiretoresdosmovimentospolticosda poca.

    E a caravanaprovidencialda Independncia,entrealvissarei-ros vivas,prosseguiamaisrpidamentena viagem,ansiosade le-var hericacidadede S. Paulo a preciosanotcia.

    A noite,a cidadetda ilumina-seespontneamentee o povono tropel de unnimealegria,percorreas ruas, saciandoo entu-siasmopatriticoemvivasretumbantes.

    Escancaram-seas portasdo teatro: a CompanhiaZachellire-presentaemrepetioO convidadodepedra.

    O edifcio estreitopara contero povo que desejacolaborarnessanoite com o Prncipe Regente,.na primeira festa da Inde-pendncia;a platiaregurgitade espectadoresbrasileirose por-tuguses;e, nos camarotes,o (*) escolda sociedadese apresentaimprevisto,

  • 34 PIRES DE ALMEIDA A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 35

    "Na segunda-feira,entreguesasrdeasdogovrnoa umtri-unviratocompostodobispodiocesanoD. Mateus,ouvidorda co-marcaDI'.Jos CorreiaPacheco,e comandantedapraadeSan-tosmarechalCndidoXavier de Almeidae Sousa,e guardacvicaformadapor vrioscidadossobo ttulode "SustentculodaIndependnciadoBrasil",D. Pedrodecretasuavoltaimediataparaa Crte".

    Taisforamasrecordaes,queanossacaravanabomiaexpe-rimentouaopassarpor ssestiomemorvel.

    Prosseguimos.Umahoramaistardeestendia-sediantedenso Caminhoda

    glria,quedavasubida cidade,cercadadetovirent;V-~g~taoque"preciaemergirdeumramodeflores.

    Efetivamente,apenashavamostranspostoa Ladeirado Car-mo,osanimais,estacando,preveniam-nosdequefindarasuafati-gantetarefa.

    Apeamo-nos.E nosdirigimosemgrupoparao HotelLefevrequedemoravaaoLargodoPalcio. A tivemosesplndidoalmo,adubadodeboaspilhrias,porvzesinterrompidaspelosincessan-tesoferecimentosdecriados,cozinheirase lavadeiras,quevinhamreclamarseusmisteresnasreorganizadasrepblicas.

    O velhoLefevreeraumarelquiano mundoacadmico.Osquecompletavamo cursolegavam-noaoscaloiroscomocuriosida-de local. Francsde origem,maldizentepor ndole,irnicopOIatavismo,imiscua-senavidaalheiapor temperamento,noesca-pandoquaisquerincidentes,privadosoupblicos,dequenodesseoportunaou inoportunamentecincia,a todosquantosencontras-se. E tudoisso,e maisaquilo,numacaarolagem(5)esquiptica,extravagante,desafinada,e quiintraduzvel.

    A que aldeia,cidade,ou departamentopertenciassegali-canorato,noopossohojecertificar;lembro-me,entretanto,queestropiavao beloidiomadeCamese deVieira,comotodosbonsfrancesesquese respeitam,entremeando-ode vocbulosptrios,comocaractersticosdo estilo;e juntandoaocabode cadafrase,oudecadanarrativa,umpitoresco:mais,lenoquerquesesaiba.

    inseparvel,representai-mequeeu providenciarei.A divisado Brasil deveser de- Independnciaou morte!Sabeiquequandotratoda causapblica,notenhoamigose validosemocasioalguma.

    "Existi tranqilos,acautelai-vosdos facciosossicriosdas Crtes deLisboa;e contaiemtdaa ocasiocomo vossodefensorperptuo.

    Pao em 8 de setembrode 1822.- PrncipeRegente,"(5) Comotivessesido cozinheirodo Hotel Freres Provanaux,nesta

    Capital,os estudantesassimdenominavamaquleindigestopato.

    J)

    !)I)J)

    J)

    J)

    )

    )

    J)

    )

    )

    )

    )

    ')

    ))

    !)

    J)

    J)

    !)

    J)

    !)

    I)

    J)

    I)

    !)

    I)

    ))

    Cruzadosos talheres,nosseparamosaospares,dirigindo-secadaqual suarepblica,ondej se achavama postosa cozi-nheira,a lavadeira,e opernsticocriado.

    Fui ocuparumsobradonoPrto-Geral, beiradoTamandua-te, rio debrevee mansocurso.

    Cercadade velhasjabuticabeiras,que me ensombravamoesguiosto,asjanelaslateraisabriamparaextensotabuleirodeverdores,ondelavadeirasemtropel,de saiaarrepanhada,entra-vame saamd'gua,estendendoa roupanosespaosgramados.

    Instalado,quefra,revolvendoas canastras,penseina vidanovaquesedesdobravadiantedemim,vidalivre,empacatacida-dequeacolhiadeigualmodoossisudose osestrinas,semcogi-tardeondevinham,ouprovinhamdomomentoquesealistassemcomoestudantes.

    Anoitecera;e, fatigadoda viagem,atirei-meao improvisadoleito. Apenascomeavaa conciliaro sono,enormesbandosdesa-posaofrio danoite,pulandoinesperadosnavrzea,saudavam-mecomohspede,aotomdemetlicaserenata.

    Dispensava-anomomento,por issoque,semplanoassentado,eucontavacomo repousopredisponente calmadodiaseguinte,noquerespeita reflexoe desgnios;mas,- debalde!- aquelaprotofoniademsicado futuroliquidou-meo sono.

    E desintencionalmenteenveredeiparaosdomnioslargosdopensamento,interpelandoa mimmesmo:

    Quaismeusintentos?Consultei,mediacasominhasmodestasaptidesquandoresolvitentarestanovacarreira?Fareiloucuras,comoraros,ousereiajuizadocomoquasetodos?

    O imprevisto,os acidentesda vida estudantesca,entretanto,seduziam-me:pisavaemterralendria,ondesseviviadevidamental,ondetodoseramsonhadores,confirmadamenteloucos.

    Serpoetaeratodomeuideal.E descortineinaquelemomento,a poesia,sobformaetrea,vaporosa,de roupagensalvas,loura,seiosnus,olhosmidos,adejandonoespao,caindode almmun-do;e pousandosbreumadasvalvasdajaneladomeusto,or-denousilncio orquestradossapos,e veioata mim,comoquedizendo:

    - Tomadalira e canta.Mas,a qualdosgnerosafeioar-me?A byroniana,librrima,

    cambaleante,bria,e aomesmotempoaltiva,arrogante,galgandocomManfredooscimosnebulosos?enlevando-menacompreensodo remorso,personificadoem Caim?comprazendo-meno tdioconstantedavida,comoemChilde Harold?

    Ou pender-me-eiantesparao gnerosatnico,doentioe bi-zarro,queimortalizouBaudelairee Leopardi?

  • Nomeconviriatalvezensaiarosassombrososefeitos,osvio-lentoslancesdas tragdiasromnticasde Victor Hugo?Quemsabe!

    E tirocniodosfamosospoetasdocomodosculopassado,comotantosoutrosfachosacesos,cruzavama minhaimaginaocomosdeslumbramentosdeques susceptvela ardentecere-braoda mocidade:vivertal comoByron,Shelleyou Musset,atravessara vidatal comoEdgardPoe,eratodoo meusonho.

    Quemeimportaria,a mim,olharesvesgosdo lerdoe tristoburgus,seissonodissipavaa indiferenadanossaidadee donossoobjetivo?..

    Por quecobrirde ignomnia,perguntavaeu a ssesgnioscujosnomes,ultrapassandomeiosculo,vieramaosnossosdiasvvidosde fulgor,noobstanteseusdesregramentos,suasins-nias, suasbacanais?

    Mil vzeslouvadasessasorgias,e ssesdesequilbrios,e essasdesordens,pois foramlesas fontesinexaurveisdospreciososversosqueexplodiamdaquelescrebrospossantes!...

    Comoeuteriaaceitadoespontneoa vida parte,desdenho-sa e vriadaqueleloucosublimequese chamouByron,se,emtroca,eupudessedeixarapsmimtoimorredouronome!...

    E, noentanto,sseestrina,cujasdissipaestantoescandali-zaram,eraapenasumdesiludido,umdescrente.

    Um desiludido,e umdescrente,sim;altamenteelegaco,By-ronnoeraumsaciado,umcnico:suavidanoimplicavadesdmpelosatrativosdomundo,alecujaimaginaopairavanasregiessiderais.Nessefervilhardeseuesprito,nessedesconcrtodesuaexistncia,o tresvairadopoetaencontravao objetivodesuaspro-dues,quetraavaincendidocoma penaaindafumegantedelcool.

    Nessasbacanais,o insensatobuscavaapenasno coraodasmundanasa fascadivinaqueelasrecatamsemprepura,e que,comoum diamante,iluminava-lhea almano momentode suascriaes.

    Era crenaentreosantigosquedentroda cabeadossaposseencontravaumapedratalismnica,o bezoar;assimByron,Mus-sete AlvaresdeAzevedo,enxafurdaram-sena escriasocial,ati-rando-se(inconscientesaoslupanares!e embriaguez,convencidosde queno fundode todosselamaal,existiao seuencantadobezoar.

    As composiesde todosospoetasdestaescolaforamescri-tasadespeitodesuasade,desuaprpriavida.EternosD. Juans,lesprocuravamescravizara mocidadeaosmaisaltosideais,afei-o-Iaaosseusdelrios,ssuasfantasias,aosseusdevaneios;mas, (*) imprescendiveis,no texto.

    (**) ruia, no texto.

    - baldadointento!- noestna contingnciahumanaalcan-ar impossveis.Da o desengano,asdecepes,asdesiluses-da o lirismoultravaporoso- da tambmo incessanteconflitoentresuamusae a morte...

    E sseconstantemirardosabismos,- o cuou o inferno,queimporta!-~SegterIlosofrimento,- a indiferenae desp-gopelascousasterrenas,palpveis,reais,- ssecompletodesa-crdoentrea materialidadedavida,entresuasimprescindveis

  • 38 PmES DE ALMEIDA

    ~

    }) A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 39

    e tantosoutros,um tipodemulhertoetereamentecativantecomoLenora? E dondesurgiuessacriaotoartisticamenteimaterial?De um clix de absntio,talvez!de uma taa de brandy,quemsabe!de um copode cerveja,certamente.

    Parece,emverdade,quenomundodaplstica,osprivilegiados.mentaisforam amalgamadosde dor e desespro;era preciso oexlio, os amresrefalsados,a descrena,o descasopelosprecon-ceitossociais,para queByron escrevesseo D. Juan, o Childe Ha-rold, o Lara, o Manfredo,a fim de vazarnessesmoldesas Mdora,as Teresa,as Zuleica.

    Em que qualqueroutropoemaencontramosformade mulherira~(}doqueum disfarceao tdio, mo:notoI1iacll1'1lida.. . .-

    Era, pois,um suicidafrio, um esplentico,um degeneradopsquico;elJ1b:r.!..yeg__cl~J11;10,comoo de muitosoutrosrapazesda mesmapoca,nagativesse..clg.Jr.:t1J!"!~,le aparentava-sesempreumenfastiadod,oido;e detodos,noo seduzindonemmesmoummeigosorrisodemulher.

    Teriaacasoalgumaferidoo pontomaisdelicadodo seuco-rao?

    Nosei;e nemleo reveloua algum.Suavidaacadmicasemsermisteriosa,era-otodaviamaisconcentradae discretaquea deseuspares,poisemsuascomposiespoticasjamaisosten-touosnomesdesuasamadas;sobpseudnimospropositaisocul-tamgeralmenteas Marlias,as Anlias,as Natrcias,que,compequenoesfroa crticadescortina;comBernardoGuimares,entretanto,issonosucedia;aocontrrio,quandoseprocurades-cobrirquala mulherquemaisfortelhe fizeratangera lira oinvestigadoresbarra-sena parteexticade seusCantos, depoisde s ter ouvidogritosdedesre:na.

    No podiasteincidentepassardespercebidoaosseusnti-mose muitasforamas versesquecorreramparaexplicarto

    12e.b.b.

  • (*) tormigas,no texto.

    estranhocaso;PaulodoVale,autordo Caetaninhoe velhoami-godopoeta,deu-meo fio dameada.

    BernardoGuimaresencontroua desilusopela.mulherna\>estializaodaprpriamulher;e o nojoqueo assoberbou,in-vadJ.-i.Igualmentea estudantadado tempo,sendoqueboapartedelaconservou-secelibatriaou tomouordens.

    Recordandoaqui o que ouvirade Paulo do Vale, e ajus-tandosuaafirmativaminhadiretaobservao,procurareiquantopossvelatenuarssedescasodo ilustremineiropelasociedadeemgeral.

    A cidadeacadmicaeraum ninhodebelas,tisnadas: noi-tinha,quandoasportasdetdasascasassefechava.m,e apenasatravsdos postigosxadrezadosse distinguiaa luz fumarentade umacandeia,gemiao montonoviolo,petulantesmooilas,tranandosuasmantilhaspretas,percorriam,afrontandoa garoa,asdesertasruas,demandando,umas,as"repblicas",- e outras_ asbancasdevsporae asespeluncas,ondesefolgavae bebiaato amanhecer.

    Essasnoctvagas,na suamaioriacafusase sarars,presen-tementeexploradaspor suasprpriasmes,ocupavam-seduran-te o diaemlavare engomarroupa,quelevavam freguesiadeestudantes,a fazercigarros,e a vestirformigas(*)savas,no queeramperitas.

    Por condiesespeciaisdemeio,ou- qui- porabusodopinho,pocahaviaem que elasse apresentavammanchadasde ppulas,principalmentenas superfciesdescobertasdo cor-po; atribudas aoimediatadosraiossolares,lastr

  • ~/

    (*) paroximos,no texto.(**) Assimno texto.

    damesmapoeira;apenasospinheirosmedravamali,protegendo-osdo sol!... e quidifom.

    Os prpriosanimaisdomsticos,pelados,ossudos,lazeiren-tos,compartilhavam,tal comoseusdonos,da saniosapeste.

    Entretanto,a pequenadistncia,a naturezaadornava-sedeverdores;e, pelosclarosdas uvaieiras,distinguia-seo cristaldosrios, ondeas jabuticabeirasse debruamde umaa outramargem,e asmarrequinhasdeslizamaoscardumes.

    Nessasduasestncias,nessasduaspequenasdistnciasvisI-velmenteopostas,esplndidae soleneumae a outrahorrendaeftida,o contrasteentretantamagnificnciae tantaavidez,ti-nhaalgumacoisadedesoladore cruel.

    Felizesnoseusofrimento,osdouscenriosexasperavam,en-tretanto,a cleradaquelesmseros,questinhampragascontraosqueosbaniam.

    As vzes,profundossuspirosentrecortadospelospigarrosdaleprosepulmonarescapavamquelescarcomidospeitos,e ospes-tiadosolhavam-se,deixandodeslizar,na hediondezdas plpe-bras,lgrimasques um contaminadopodiaenxug-Ias;outrasvzesconservavam-setaciturnos,e no significativosilncioal-gumacoisasenotavade odientoe feroz. quelespercebiamquea gangrenadesuascarnesestendia-seaoseuesprito,ia atsuaconscincia,sopitandoali tudoquenoa vidaatual,a satis-faoimediata.

    E retumbavamnosseusimproprios,desesperose exploses.Oh oscondenados,no inferno,devemter ssesmomentosde

    injriase derevolta;porque,oua continuidadedopadecerador-meceo mal,tornandoa criaturainsensvel,ou ento,por crises,comoummoribundoquevolta conscinciae vida,o precitoganhafras,reanima-see afrontao algoz.

    Na realidade,ali, asblasfmiasescalavamO' cu,justamentequandoa naturezaeramaisesplndida,e asmaldi~;esdaquelesdesesperadosfaziamestremecero caminheiro queasouviaatravso descampado.

    E nessespequenosmundos parte,emques pareciaha-verparoxismosC*)dedore hiperteresiasC""')deodientaclera,des-dobravam-se,noobstante,cenasdeamore volpia.E essaexis-tnciadesprezvel,essasdeformidadesptridasincompatveiscoma srieinteirada luxria,desdeo singelobeijoatosmaissen-suaisamplexos,davam-lhesestmulosa pactuaremcomo prprio 0

    181A ESCOLA BYRONIANA NO.BRASIL

    (*) gualpes,notexto.(**) assombrar-lhe,no texto.

    Sat,conchegando-seplanejadamentea indivduossos,dessartetentandoinocularo vrusdalepraemanaturezainteira;conbiosstes,que lhesaumentavacruelmenteas dorespeloatritodostubrculosulceradosporm,que,na febreda vindita,transfor-mavam-seem libaesde alegria.

    E seessas?:rgiaseram,entreles,praticadasao ar livre domesmomodoque entreos irracionais,quandoessascalavrosaseramsolicitadaspor estranhos,por issomesmoques sebara-teavams escuras,taisdesregramentostomavamas proporesdossonhosdeCapri,emtodosseusrequintes.

    Para tais reuniespreparavam-segrandesgalpesC*)enfei-tadospor cimade trepadeirassilvestres,e lateralmentede reta-lhosde chita,atravsde cujasmalhascoavam-seos claresdeumafogueira,sbrea qual ferviauma caldeiradade pinhes.

    As abasdeumajanela,arvoradaemmesa,garrafasde ca-chaa,e canecasdeflhaservindodecopos;e, cabeceira,gar-rafescheios,que eramsubstitudosapenasesvaziados.

    Escrnionessesncleosde esperadoresda morte,era quea prprianaturezamortaparecia,nessasocasies,festiva:saquelasdissonantese esfarrapadascriaturas,nas tocaias,mo-viam-secomosombras;mas,quandoa febredaloucuraescaldava-lheso crebro,ospensamentosqueo atravessavampareciamas-sombrar-lhes(**)a prpriaalma.

    E, ao lusco-fusco,viam-seaqulesmonstros,disformes,in-completos,supurantes,queseesvaamno furor do gzo,ao ef-meroesquecimentoda fria realidade.

    Dir-se-iaqueos tecidos,ocultossobas emaciaes,haviamcriadofunesnovas!e quessestecidos,assimsaturadosdepus,reclamavamcarciastambmnovas!e que a imaginao,exa-cerbada,agindoagorasbreregiesanatmicasinsensveis,exi-gia sensaesmaisfortes!

    E ssessres,aosquaisa vidafugiapoucoa pouco,tinhamsde de desejosquenopodiamsatisfazer;e, noscontaetosdo-lorososde chagacontrachaga,estremeciam,semque as sensa-espudessematingiros centrose filtesnervosos,fazendo-osentosoltarurros de sofrimento.

    Quemcontemplasseum instantea encalombadanudezda-quelestroncosemcontores,duvidariaseeramrealmentecria-turashumanasque se convulsivavam,ou se torosde velhasenodosasrvores,ali aosparesderrubadas.

    )))))}

    ))

    )

    )

    )

    )))

    )

    )

    )))

    l\

    I)

    ~

    I)

    I)

    I)

    !)

    i)

    I)

    ) )

    ,)

    ')

    )

    PIRES DE ALMEIDA180

  • E suasbcasdisformes,carcomidas,comos dentes mos-tra, denegridos,abalandonasgengivassangrentas,escorbticas,implantadosemmaxilaresquasedesarticulados,ruminantes,comum retalhode lnguapendente,procurandooutrasbcasasco-saspara imprimir-lhesbeijoslascivos,pareciamcraterastras-bordantesde ftidasnie.

    E purulnciacontrapurulncia,elasse atritam,se boqui-nham;e aqulescorposviolceos,emqueas emplas,esborra-chando-se,rachavam,abrindooutrastantasfendas,outrostan-tosorifcios,outrastantascavidades,ondeelas,nosseusestre-mecimentos,embebiamatoradalnguahirtaeafogueada,comoseembcasfssem;e seufarejarimundose apascentavaao acasosbreessaspeasanatmicasemcorrurpode sepulcro.

    Carnespingentadascomoosderradeirostraposde bandeiraapsvencidabatalha,erambastantesa ssestrnsfugasde an-fiteatroparadespertareletrolisantessensaes,emboraderradei-ras!

    Algumas,j quaseem osso,no maispodendotolerarascruciantesdoresda esbraseadafogagem,possudasde furor aoverembaldadastdasassolicitaes,urravamrbicascomoon-asfamintas,mordendo-seindistintamentecomosabaladosden-tesquesepartiamfincadosnostegumentos,arrancando-Ihesascrostas,at que viscososanguenegro,projetandodas varices,pingavaprecpitenascanecasde flha,a meiode cachaa,queelasemborcavam,oferecendo-seemrodopio.

    E embriagadas,cambaleantes,de esquelticosbraospro-curandoamparar-se,se acumulavamembloco,e caindosurdo,formavamafinalpilhasde carnedondese desprendiamexala-escadavricas.

    Calmadaa crise,a voz rouca,quaseextinta,poucose de-tinhamdep,parando,estacando.E ento,cobertasdesuorvis-coso,desatavama chorar,a chorarlgrimasamargas,que seprojetavamdasduasrbitas,ondeas apostemadasesclerticas,desprotegidasdasplpebras,rolavamcomoduaslanternasemflama.

    Dominandoa choradeira,a tscamesavai ao cho;osgar-rafes,entrechocando-se,se estilhaam,aosestertresdaquelasbanidasdo amor,porqueo amorno sfunodamatria.Eelasuivamcaninas,estorcendo-sesardnciasvesicantesdeumaviglia de excessos.

    Depois,depois,profundorepouso.A fogueiraseapagara,e asprimeirastonalidadesdamadru-

    gada,dourandooshorizontes,espalhama custoseuslumess-bre aquelasespriassociais,emcujoscarcomidoslbiosse de-

    senhaum risodemonaco,queatiravamcomoqueum escarroafaceda divindade,queas enjeitou.

    Duas figuras extraordinrias,entretanto,assistianlfatal-IlJ.eIltequelassaturnais;e essasfiguras,outroraacatadas,alhean-do-se prpriavontadese haviamtornadoconvivasobrigadosdssescontactoslazarentos.

    E eramdouspoetas!e ssessonhadores,entretanto,muicaropagaramo extravagantecomparecimento:um dles,o sonetistado Livro de Extilia contraindoa lepra;e o outroo autordosCa,ntosda Solido,perdendoas ilusespelamulher,e comelasos ideaisdo amor.

    Concluindoo cursojurdico,e de regresso suaprovncianatal,o materializadopoetamineirocomeoua escarnecerdoshomens,aosquaisencaravaatravsde prismadeverasextrava-gante.

    DemandandoOuroPrto,seinstalaranumprdio,cujosfun-dos,a cavaleirodaserra,a frente,noobstante,d()IIlil1:yaJ1 rua,emladeira,numaalturadedoussobrados. . .

    Ocupavaacanhadoe acaapadoaposentodo segundoandar,comduassacadasde facee duasjanelasde peitorilao fundo,tendoa umdosngulosumaescadademo,quasea prumo,quecomunicavastecomos aposentosdo pavimentoinferior,habi-tadopor um velhosargentode milcia.

    Numanoite,o excntricopoeta,as maisdasvzescontra-riadoemsuaspretenses,tendo-lhesidoindeferidaumapetioque dirigiraao Presidenteda Provncia,procurouno sonoes-quecero formaldesapontamento.

    Alta noite,porm, brutalmentedespertadopor um estron-donosoalho.Semmaisdemora,iscafogo;acendea vela:eraumburroque,escorregando,rolaraa montanha,entrando-lhecomoumaavalanchapor umadasjanelasdo fundo.

    Nopodendofaz-Iovoltar ngremepastagem,nemenxo-t-Ioparaa rua pelosdegrausda estreitaescada,o nosSOesple-nticobardoresolveudar condignapousadaao discretoqua-drpedepor todoo restoda noite,mantendocomle o pito-rescoe originaldilogoqueaindapor a correemapagadatra-dio.

    - No sabendo,porm,no dia seguinte,comodesvencilhar-sedoorelhudohspede,e nopermitindoo limitadoespaoguar-d-Iapor maistempo,sobpenade algumlevianocouce,Ber-nardoGuimaresaproveitoua ocasioparavingar-sedo inde-ferido do Presidente,chamandoao mesmotempoa atenodequemdedeverparaa remoodoornejanteintruso,parao que,descendo saletado reformadomiliciano,apanhou-lheo desbo-

    182 PIRES DE ALMEIDA

    ..,

    )))))))))))))))))))))))))))))~))\

    :}

    li .

    ;1'

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 183

    JeffersonHighlight

    JeffersonHighlight

  • tado fardo ainda com as dragonas,o chapuarmadoe as me-dalhas de campanha,uniformizandoo sisudo asno; e, em se-guida,encurralando-oentre a sacadae uma pesadamesa,assimo expsgalhardoao grandepblico da localidade.

    E comofustigassede quandoem quandoa pachorrentaaz-mola, aconteciaque ela no abandonavaa janela, erguendoasancase abaixandoa cabea,em cortesiaaospassantes.

    E, coincidindoo fato com um dia de grande gala, os quetransitavamao longe, tomando-opelo Presidenteda Provncia,cumprimentavam-noreverentes,enquantoque outros, pasmos,indecisos,levavama mo testa, para melhor certificarem-seda indistintapersonalidade.

    Desavindo-se,nem s com a maior autoridadelocal, pormaindacomgrandeparte da populao,Bernardo Guimares,dei-xando a capital,demandouos lares do seu nascimento,ondeen-tregou-se reiteradaslibaese solido.

    Cptico, sarcstico,ferino sempre,cruel s vzes, prosse-guiu ~fdozurzidor da humanidadecom o verso aceradode ve-neno, veneno ste que, nem mesmona intimidade,podia dis-farar.

    Por fatalidade,seu exaltadoorganismo,invadido por inten-sa efusode blis, caiu em escaldantefebre, precedidade vio-lentas clicasbiliares.

    Submetidoa indicaesclnicas,foram-lhelogo interditasasbebidasalcolicas; e como se amiudassemas referidas clicas,ministrou-se-Iheo ter internamente,s gotas,e, localmente,emlargaspulverizaes.

    Revoltado com a interdio, e agradando-lheo sabor doter, iludindo qualquervigilncia,comeoua us-Io aos peque-nos goles,passandoem brevea dosesexageradas.

    Mas comose queixassea mido de ter, como Goethe,umn na garganta,sem desconfiardo pretexto os que dle cuida-vam, satisfaziamsem hesitar s suas solicitaes;e, a cada in-gesto,agradeciaos bons ofcios, referindo que, com o salutarmedicamento,a gravata frouxara, achando-seem conseqnciadispostoa rir de Deus e do mundo.

    Hoje, que ssescasostUl sido observadosem mais larga es-cala, a cinciamdicaos classificouna ordem das neurastenias.

    Mas, a ingestodo ter, que comearaem dosesmedicinais,e portanto, inofensivas,tornando-seabusivas,produziam todosseusnefastosefeitos.E ento,Bernardo Guimaresencerrav-seno seu gabinetede estudo,entregando-sea excessos.Anunciava-lhe a embriaguezpronunciadacrise, que abalava-lheo organis-mo inteiro; e, no estadode exaltao,ou dava livre expansos

    (*) Assim no texto.(**) disfilada, no texto.

    (***) dispenhada, no texto.(****) surco,no texto.

    Sentados vzesno aLcantildosmontesmsculossons das cordasarrancando

    a tempestadeinvocas,e tua voz os aquilesrevoltos

    desfilada

  • (*) gongorra, no texto.

    Quando,espancandoas sombrassonolentas,surgea aurora no ccheradiante,inundandode luz o firmamentoentre o rumor dos vivos que despertam,levantoa minha voz, e ao sol, que surge,pergunto:- Onde estDeus? - antemeusolhosa noite os vus difanosdesdobra,vertendosbrea terra calmosilncio,propcio ao cismador;- entominha almadesprendeo vo nos etreospramos,almdossis,dosmundos,dos cometas,

    Outrasvzesdava-lhea fantasiapara sestearsbreestfoes-carlate: imaginavaentoas delciasque sentiriase estivesseven-do a humanidadeinteira assar-seeternamentenas grelhasde Pe-dro Botelho.E ento,mandavao obedientemolequeabrir o In-ferno de Dante,em edioilustrada,e extasiava-seno horror dasestampas;durante o que o expeditcorifeu acendiapedacinhosde papel, que soltavano ar a modo de linguo de fogo; e aomesmotempo,ao centroda mesa,flamejavao ponchede conha-que, lembrandoa avrnicafornalha onde o crepitar dos dentescrestadosde cravosda ndia semelhavamcabeasde condenadosnas fogueirasexpiatrias.

    Outras vzesera para o marulhosooceano,que lhe dava aveneta.Assim, ordenavaao negrito que substitusseaquelacol-cha por outra verde-salsacom achamalotadosbrancos; e essabambae desconjuntadachaise-longue,sob o nvo aspecto,ser-via-lhe de trampolinapara galgar os infinitos.

    Depois,variando-lheo motivo,guarneciao canapcom apa-nhadosde lenis,que lhe produziamo efeito de alvasespumas;e quandocarregavana dosede ter,armavasbretda essagan-gorrac*)fantasmagricaa suafranjadarde,que,ferozmente,balan-adapelo forosoe chatomolecote,reproduzia-lhe,pelossolavan-cos um navio desarvoradoem alto mar.

    E, agarrado,para no cair, escreveu:

    (*) surrir, no texto.

    187A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL

    varandoafoita a profundezdo espao,anelandoentreverna imensidadea eternafonte, dondea luz emana... , plidosfanais, trmuloscrios,que na esferaguiaisda noite o carro,plantas,que em cadnciaharmoniosano ter cristalinoides boiando,dizei-me:- ondeestDeus? - sabeisse existeum ente,cuja mo eternae sbiavos esparziupela extensodo vcuo,ou do seiodo caosdesbrochastespor insondvellei do cegoacaso?Conheceissserei, que rege e guiano espaoinfindo vossoerrantecurso?Eia, dizei-me,em que 1'egiesignotasse elevao trono seu inacessvel?Mas em vo interrogoos cus e os astros,em vo do espaoa imensidopercorrodo pensamentoas asasfatigando!Em vo; - todo o universoimvel,mudosorrir(*)parecede meu vo desejo!:EJvid- eis a palavra que eu encontroescritaem tdaa parte; - ela na terra,e no livro dos cusvejo gravada, ela, que a harmoniadas esferasentoasem cessara meus ouvidos!

    Eis o que se passarano crebrodo extravagantepoeta,quan-do influenciadopor algunsclicesde ter.

    De misterse torna, certo,grandefra de imaginaoparaobter, com tais meios, iluses to fora de realidade;os poetas,porm,no encontramembaraosnem mesmonos impossveis;e os byronianosem particular,ultra-romanescos,por excelncia,tinham a fantasia sempredispostaa ultrapassaros limites darazo.

    Partindo de uma idia qualquer,de um paradoxos vzes,ganhamlogo asas,e voamaosextremos,s ltimasraias de suasalucinaes.

    Mas pergunto eu:O pensamentoj de si no uma quimeraque, arrojando-se

    aos intrminos,se embebe,nos lumesprateadosda lua, se exta-

    )))))))))))))),))),)))J

    )

    ~

    I)

    ))

    I)

    ))

    ))

    I)

    I)

    j)

    \

    PIRES DE ALMEIDA

    fende a lgubre sombra,- estalao raio,e os ecospavorososribombandoas celestesabbadasatroam;e a tempestadeas asasrugidoras

    de montea monteestende...

    186

  • 188 PIRES DE ALMEIDAl)

    1)

    siana brilhodasestrlas,conhecendO'seupontadepartida,masignorandO'semprea seuparadeira?

    O pensamentO'pertencecertamentea essafamliade pssa-ros, quesedenominaeulbuta.ntes;(*)taisstes,taisstes,ala-se,ala-se,entantece,vaIandO'dasalturas.

    Parecemesmaque,na queda,vai afundar-sena terra audespedaar-senosrochedas;assim,parm,nO'sucede;lerec'-bra alento,e emendaa vo,e investeincessantecantraa infi-nito.

    BernardoGuimares, imagemdaquelespssaros,elevou-senassuasinspiraes;o lco'I,O'ter,p'rm,O'atiraramaO'aban-danO',desi mesmoaormo,cujaconsolaolhe foram,noslti-mosanos,osseusltimosversose osseusltimosromances.

    (*) Assimno texto.

    i)

    j)

    ]i

    ji

    ]i

    ]

    ]J

    , 'I

    , )

  • \,

    ))

    \ ))))))

    )))))

    , ))

    )

    )I )

    )

    )

    ;I

    , )

    )

    )

    (13dejulhode1905)

    o DI'. Francisco,PinheiroGuimares(snior),(1) acadmicoemS. Paulo,ou publicistanestaCapital,foi um dosescritoresquemaisconcorreramparaa vulgarizaodas obrasde lordeByron;e nemsdstepoeta,masaindadeShakespeare,ThomasMooree Victor Hugo,de quemtraduziurespectivamenteMac-beth,Sardanapaloe Hernan',que,devido suaascendnciadedi-retorliterriodaCompanhiaDramticasubvencionada,foramle-vadas cenano TeatrodoRocio.

    Aprofundudoconhecedorda lnguainglsa,at ento,parans,quaseinacessvt.d, erasobretudonessaliteraturaquelesedeliciava;c tuo1ntilllalllenteseafeioou,queadquiriuexcentri-cidadesbl'itfUlic:ISque,pelocartere temperamento,pelogestoe maneirast.it-St.'apresentar,e atpelotrajar,tornou-seumorigi-nal na sociedadee nomeio.

    V-Io e ouvi-Io,dir-se-iaum inglsde boa roda: fleugma,afetadasisudez,semblantefechado,um sorrisofrio, nadamais.

    Slllente,por singulardiscordncia,abominavao rum.Pretendendoqueo quesepassavadentrode si era insufi-

    ciente~suapenaeinspirao,iabuscarincitaesnosestadosv-riosdaalmaalheia.O mundo,parale,eravastocenriodette-res;e,emsuashorasdespleen,entretinha-seemmovimentars-sese"trambticospersonagensdemodoa desopil-lonascrisesdenegrabile.

    E diziaqueospoetasfaziam-secompreenderpor intermdiodessasfiguras,conservando-sedepoiscomoquealheiossimpres-sesproduzidas,a zombardosadmiradorese doscrentes.

    Noobstante,comotodosossectriosdesuaescola,o velhoPinheiroGuimaresadmitiaqueo gniotemsuasedeno crebroe no estmago,e queparaobrig-loa manifestar-seerapreciso

    (1) O Dr. PINHEffiOGUIMARES(snior) nasceunestacidadea 1.0dejunhode 1809e faleceua 18denovembrode 1857.EstudouHumanidadesem Londres,formando-seem 1832,na FaculdadeJurdica de S. Paulo.

  • (*) sibelinos,no texto.

    ativar a mucosagstrica,formandoblhas que s o lcool tinhaa propriedadede levantarna massaenceflica.

    E, comoo teoristase abstivessede tda a espciede bebidaespirituosa,levavaos amigosa excessos,unicamentepara v-Iosfora de si, para apreci-Iosem bizarrasexpanses,para gostosa-mentedesfrut-Iosemarrancose desplantesanormais.

    E assimemfaltadstes,logoquecomeavaqualquerescritoli-terrio, valia-sede um moleque,seu escravo,a quem colocavaemfrente mesade estudo,e de p.

    J ali se achavamduasgarrafas,uma contendoguado pote,e,a outra,cachaa,e ambascomclicesaoslados;impondoaomo-lecoteque o imitasse,bebia golesde gua,ao passoque aqule,com a maior repugnncia,e entre esgaresburlescos,enxugavaaltasdosesde aguardente.

    Contemplandoopretinho,o tradutordoSardanapaloinspirava-senostrejeitos,nascuspinhadas,naspalhaadas,nashorrendasca-retas,enfim,que fazia o inconscientemolequeaosvapresda ca-ninha em ebuliono acanhadocrebro;e no raro, descansan-do a pena,provocava-oa bestialgicos,a responder-lhesbresi-bilinos

  • 192 PIRES DE ALMEIDA

    SARDANAPALO

    Meu costume faz-lasentre os homens,e psto estejas quero em memriados alegresbanquetesj passados,esvaziara taa...

    (Sardanapalotoma a taa, e depois de beber vira ofundo para cima,e vendocair uma gtaexclama:)

    Ao bom Belsisfao estalibao!

    MYRRA

    Por que laboramais em vossalembranao nomedste,que o do seu criminosocompanheiro?

    SARDANAPALO

    Esse soldado,e apenasinstrumento,de que se serveaqule,que vontadeo move comoautmatode guerra.Porm dlesno queromais lembrar-me.Escuta,Myrra, dize, livremente,e semtemor,que morte me acompanhas?

    MYRRA

    Julgais vs que uma gregano se atrevaa fazer por amor, quantopraticauma viva indiana por costume!

    SARDANAPALO

    Pois esperao sinaL ..

    MYRRA

    Quanto j tarda !SARDANAPALO

    Agora d-meo teu ltimo abrao.

    MYRRA

    ltimo no, um outro inda nos resta!

    ))))))))))))))))),))))))))I)

    ft

    ~

    ))

    il1)

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL

    SARDANAPALO

    Sim, que o fogo h de unir as nOSsascinzas.

    MYRRA

    S me aflige uma idia...

    SARDANAPALO

    Qual ela?

    MYRRA

    Que uma s moamigano teremos,que as ajunte e recolhaem uma urna.

    SARDANAPALO

    Tanto melhor! Levadas peLosventose no ar espalhadasantessejam,que profanadasmais por mos'humanasde escravosou traidores.- Ns deixamos,aqui nestepalcioincendiado,e fumegantesrunas de seusmuros,mais nobre monumento,do que o Egitolevantaraem montanhasde tijolosa reis ou reses,que hoje ningumsabese as soberbaspirmidesmemoramos seusmonarcas,ou seu deus,Boi-Apis.Quo poucovalempois os monumentos,quandose olvida aquilo que recordam?

    MYRRA

    Adeus, mundo,e tu, tu que s do mundoo ponto mais formoso,adeus, Grcia!Possassempreser Livre,e semprebela!Possassempreafastar-tedo infortnio.Minhas ltimasprecespor ti foram,e emti meusderradeirospensamentos,a exceode um s.

    SARDANAPALO

    Em quem foi ste?

    MYRRAEm vs!

    13 e.b.b.

    193

  • 194 PIRES DE ALMEIDA A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 195

    (Ouve-seo som da trombetado Panias que toca den-tro)

    SARDANAPALOEscuta!...

    MYRRAAgora...

    SARDANAPALO

    Adeus, Assria!terra querida de meus pais e minha!Ptria, que sempreamei mais comoptria,que comoimprio meu! - Paz e prazeresem abundnciate dei, e a recompensa esta,que ora vs! Nada te devo,nem mesmoum tmulo!

    (Sobe para a fogueira e grita:)

    Myrra!MYRRA

    Estais j pronto?

    SARDANAPALO(de cima da fogueira)

    Como essatocha que na mo sustentas...

    (Myrra vai acendera fogueira; depoisde a ver arderum poucodiz:).

    MYRRA

    De todo acesaest,e a vs j corro!

    (No momentoem que vai a precipitar-senas chamasdesceo pano).

    .Obedecendo() correntebyroniana,o DI'. J. A. de.Oliveirae Silva manifesta-sefervorosoadepto,e por tal modo identifi-cadoque,no s o chefeda escola,masainda ThomasMoore eoutros de escoladiversa,comoShakespeare,Lamartine,Schiller,Dante, C. Delavigne,Goethe,Panckouke, Petaefi; Th. Gautier,Alf. de Musset, Arnault, Knowles, Porchers,Alexandre Du-mas, etc.,mereceram-lhebrilhos de pena nas interpretaesdosremontadosversos, sendo que, como di-lo le prprio no seu

    (*) Obecendo,no texto.

    prefciodas Traduese Originais: "Tdas as versesforam fei-tas sbreos originais,comoser fcil verificar, cotejando-as."

    No que respeitaa Byron, o Dr..Oliveir~e Silva salienta-sepela abundnciadas prduestraduzidas,nas quais se encon-tram verdadeiroslavres de forma, e admirvel compreensodos motivospoticos.

    Versadssimojem letras inglsas,as tragdiasde Shakes-peare deparavam-se-lhenas horas desocupadas,e da suas tra-dues,emversos,do Hamlete do Macbeth,ambasrepresentadaspelo trgicofluminenseJoo Caetanodos Santos,e devidamenteapreciadaspela crtica do tempo.

    Escolhi, ao acaso,dentre suas tradues,a "LamentaodeHerodes"apsa mortede Mariana, cantoXIX dasMelodiasHe-braicas:

    Dessorasangueo coraodaquelepor quem,Mariana, derramasteo teu;converteu-sea vinganaem agoniae ao rancor o remorsosucedeu.

    Onde ests, Mariana? Ai! que no podesouvir da minha dor a amargaendeixa!Se o pudesses,por certoperdoaras,emborao curepulsea minha queixa.

    E ela morreu? - Pois qu!mpios ousaramdos meus zelos sanhaobedecer!Sanha que ao desesprome condenae o sevoferro a mim faz reverter.

    O assassinogelou-te, minha amada!Meu negrocoraoem vo suspirapor quemsozinhaalou-seaos cus,deixandominhaalmaindigna sua sorte dira.

    Ela que partilhou meu diademajaz; e com ela o,s minhasalegrias.Flor de Jud, de tua hastearranquei-te,semme lembrar que s pra mim florias!

    o autor do crime fui e fui do infernoque 'st meu triste peito consumindo;bemmerecitorturastais que lentas,sem jamais se exaurir, vo-meexaurindo!

  • TO IN:I!:S

    Mas, a dor profunda, a tristezado legendriovagabundohebreu,que s tem olhosfitos sbreo tmuloondev descansarmartrio seu.

    E perguntasque dor punge-meocultacorroendoa alegria e a mocidade?Envenenadador - e que te importa,se a mitigar no pode essapiedade!

    197

    Eu vou por tda a parte,rprobo,do passadoperseguido-mas consola-meo ver que, quantoeu sofra,nuncamaish de ser quantohei sofrido.

    Quanto hei sO'fridO'?ai! no mo perguntes,por piedade,anjo eterno!

    Ri-te - desmascararnO'queirasdo homemum coraoque te amostrar o inferno!

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL

    E no entantO'O'utrosvejo nos prazeres,fruindoo que eu deixei:

    possamles,dos sonhosnos arroubos,nunca acordar, assim como acordei!

    Quem de si fugir pode? o pensamento,ssedemnioda alma enegrecida,nosmaisremotosclimassegue-o,segue-o,aoitevivo da importunavida!

    \-

    \i )))))),,,)),)J1:,,.,)}))I)))II)))i)\ )I)))i)) )J

    PIRES DE ALMEIDA196

    Oh! no sorrias para a fronte plidaquenopodesorrir.

    Nunca dem-teos cusveresteu prantoem vo, em vo cair.

    mas, a mgoa,que me vem de tudoquanto eu escutoe vejo

    nome alegramos encantosda beleza,nem ssesolhos, que resplandemo beijo.

    No amor,nem dio,nem de ambiesa honra v perdida,que os dias meus aborrecerme fazeme os amresfugir que amei na vida:

    Joaquim.de'SQll;;~:.\..?d;~d)nascidono Maranhoem 1833,reClama,pela sua bela traduoda 'To Ins", lugar distinto nailustre falang2dos byronianos.

    Bem moo, dispondode fortuna, saiu do seu estadonatalpara formar-seem direito na Faculdade de Paris. Da seguiuviagempara a Inglaterra e outrospasesda Europa e das dusAmricas, sempreacercadode estimae conceito.

    No CancioneiroAlegre, de Camilo CastelQ.Branco,as re-fernciasque lhe sofeitashonram-no em extremo.

    . Ocupando-secomstepoeta,Slvio Romero,em sua Histriada Literatura Brasileira, distingue-lhe,no poetar,grandesdefei-tos e grandesmritos.Sua obra capital a Guesaerra'l1t~..

    H dsteautorvriasedies,publicadasiiAm'ri~'ado Nor-te, .na Europa e no Maranho.

    Suas versesdas poesiasde Byron filiam-no intimamenteescolado grandeLorde.

    Eis a versoda

  • ) ') )r )! .')))}))I ) )))))))))))}l)))))))))\))

    J ')

    \ )!)

    (20de novembrode 1905)

    Comoeranatural,deparcomosfervorososadeptosdasedu-toraescolaviam-semuitosbyronianos,acadmicose "bichos",fu-tricas e at formiges,quese distinguiam,maispelavida des-regrada,do quepelomritode seustrabalhospoticos.

    E assim,serevistasacadmicasexuberavamde bombsticase retumbantesestrofes,as aventurasamorosascontavam-seemdbro,e comelasosescndalosque,tratando-sededesprotegidos,no raro causavamo abandonodos estudospor perseguies,imerecidas,s vzes.

    Pela Jileira depoetasj apresentados,deverter previstooestimvelleitoremquesentidoo byronismoacadmicosehaviaencaminhado,e comoosrapazestinhamtomadoaosrioospapisromanescos.

    As aventurasdemaisestrondoeram,naverdade,asquemaisosseduziam;e impossvelfraimaginaro quedeinconcebvelsedavasob()pretextodeimitaoda atraentee irresistvelescola.

    E assim, noite,altanoite,osponchesdeconhaqueflameja-vamna pluralidadedasmesasde estudo,os livros eivadosdecepticismoeramos maispercorridos,e da as imprecaescon-tra os cultose o fanatismopoticopelasmulheressensuais,daigualmenteas reprodues,maisou menosfiis,dosfestins,dos"banquetesnegros",no CampoSanto.

    Duranteo dia,bestava-secinicamente,na fraseda gria;en-tretanto,erabelode ver, nasruasmaisafastadasdo centro,tardinha,enfiadosemricoschambres,debombachasde chita,egorrodeveludobordado,osdescrentesestudantesrecostadosemsuascadeirasdebalano,ou catreadosaopeitorildasjanelasdecasastrreas,comaspernasaladas,e livro aberto,recordandoasapertadassabatinas!...

  • Numadessastardesdeu-seo escandalosofatoqueabalouacidadeempso.

    Lulu B. invadindoa marcenariado repentistaMartinianoRua daFrca,contgua suarepblica,trouxeparao meiodarua umamesade pinhobranco,armando-seda palmatriaqueserviade distintivo atravancadaloja.

    Pulandona referidamesa,concitouos surpreendidostran-seuntesa ouvi-Io.A sseaplo,s janelasdebruaram-securio-sos,e a rua atopetou-sedecargueiros,embaraadosemseuitine-rrio.

    Lulu B., vendo-sebemassistido,desfechouformidvelaren-ga contratodosos santosda CrteCeleste;e desafiando-Ihesaclera,declarouprovoc-Ioscascandoumaboadziadebolosnoprimeiropadrequecasualmenteali aparecesse.

    Nisso,apontana esquinao cnegoM. C., pregadorexcelsoquese recolhiaruminando,comode costume,a suaprticado-minical.L. B. saltou-lheao encontro,e narra-lheo ocorrido,la-mentandoquesejale a vtimado formalcompromisso,e que,paracumprirsuapalavra,norecuariadiantedeconsideraoal-guma,poisempenharaa salvaodesuaalmaperanteoscaipirasque O aguardavamcrdulos.

    O cnegofungou,refungou;receando,porm,maiordesa-cato,deuasmos frula,sgargalhadasdosestudantes,e agra-vo geraldosmatutosquese benziam,esconjurandoo mpio.

    Apenaso desacatadosacerdotevoltaraascostas,umtipotra-jandocasacode belbutinapreta,calescurtos,meiasde algo-do,semcolte,nemgravata,sapatosde duraque,cabeleiraderabichoe chapuarmado Napoleo,apontana opostaesquina,empunhandoa varacaractersticadosclssicosjuzesderemotostempos.Era umoficialdeJustia,que,segundoosvelhosestilos,deviatransmitira simblicavara,de um juiz, emimpedimento,:aosuplentequeentravaemexerccio.

    - Alto! bradouo L. B., dando-lheumapeitada.Para ondete diriges,temerosoFerrabrs,dignocompetidordo SeteOre-lhas!...

    A brutal intimao,o meirinho,altivando-seempavesadogritou-lhe:

    - Sou um representanteda Justia Pblica,e sigomeucaminhoemnomedaLei, responsabilizandocomtdasaspenasprevistase imprevistasaqulequesemeinterpuserno cumpri-mentodosagradoe inviolveldever.

    - Pois v-Io-s,retrucou-lheo desabusadoestudante:emnomedaprpriaLei, quecitas,e daspenascomquemeamea-as,vou punir-te,da inslitaarrogncia,arrancando-tea vara,e sovando-tecomelao lombo.

    E L. B. meteu-oemservio,atvoarpelosaresa Vendaea Balanada Justia,engastada na sebosahstea.

    Ningumestranhar,depoisdisto,o quepassoa narrar:ne-fastabrincadeira,queficou tristementeregistradanosanaisdavidaacadmicadeoutrora,poisdelaresultandoa mortedeumaobscuramulher,seguiu-seo competenteprocesso,e a condenaoe fugadosprotagonistas.

    Crcadetrintaestudantes,a pretextosdecombatero spleenproduzidopelasviglias,engendraramum festimmacbricono

    .Cemitrioda Consolao.A meia-noiteemponto,embuadosemnegrose roagantes

    mantos,cachende trsvoltas,e chapusdesabados,achavam-sea postos,e a senhatransmitidaeraHaidia,umadasheronasdo seuheri.

    Consigohaviamlevadoprovisode bcas,certosde encon-trarem,no ossriocomum,os crniosnecessriosparalhesser-viremdetaas.

    Intil fra dizerque,s repetidaslibaes,os crebroses-quentaram-se,e os mooscomearamdesdelogoa atirar apo-dos lua,quepareciaenovelar-seema neblinaparanoassis-tir ao diablicoespetculoqueia dar-se.

    Terminaraintensaepidemiade varola;e as valas,repletasdecadveres,exalavammiasmasptridos,vapresftidospeculia-res a essanauseabundamolstia.

    Entontecidospor aqulepestilencialbafioaosclaresesbra-seadosdeum archotedealcatro,saltandovalas,tropeandoemossadas,se enredandonos longoscabelosdas defuntas,cujoscrnioshaviamsidoarrancadosscamadassuperficiaisdascovasrasas,chegaramafinal quadramaisfavorvelaosseusintentos,edepositaramo farnelsbreumadaslousastumulares,quea ve-getaocircundara,e aschuvase o relentohaviamgastoos im-becise desfrutveisepitfios.

    Distinguiam-seapenas,nas lpides,entrelamentosde sau-dadesbanais,dosquegeralmentese gravamttuloshonorficos,tributos vaidade,a essavaidadeque exigertulospstumosatmesmonasportasda Eternidade.

    """.

    \J

    ~":-~~'

    ""~:';:;;'.1e:t!,":;:.{

    ':J2:::;'J

  • (1) Todosns tnhamostomadonomesde patronos,que eramos depersonagensdospoemase dramasde Lorde Byron; e da, Manfredo,Lara,Giaour,Marino Faliero,Beppo,Conrado,Sardanapalo,Mazeppa,Caim etc..

    E oscomentriosfizeram-se,porque,a cadapasso,deparava-se um - Aqui jaz o Comendadortal. - Aqui repousao Barodisto.Aqui descansao Viscondedaquilo.E perguntvamos,unsaosoutros,quantocustariaquelespretensiososssesretumban-tesbrases,por queservioslhesforamconferidos,comoos so-licitarame quantosrapapsexecutaraqualquerdaquelesbas-baquesparanobilitar-se?

    E assim,buscandoum lugarmaisretiradopassamosemre-vistatdasas lousas,descobrindo-nosanteaquelasque obriga-vamaorespeito,e chacoteandosbreoutrassemosmesmosre-quisitos.

    Subitamente,idiadeloucoatravessouo crebrodeum dosnossoscompanheiros:

    - Se aclamssemosumaRainhadosMortos?dissele.'- Masa quemaclamar?interrogouGiaour.(l)- simples,continuouMazeppa:dentreas corredeirasda

    cidade,setesoapontadaspor suaperegrinabeleza:a RitinhaSorocabana,a Dina, a AntoninhaBela, a Belona,a MarocasCampineira,a Eufrsiae a Cristina.Decida-sea votos.A demaisadoradoresserescolhida.E faremoso seuentrrocomamaiorpompa.

    - SesetratadeumsmiledaProserpina,paraevitardelon-gas,lembro,nestemomento,a D. Ana Cangalhas,ou a Cava-lheira.

    Um temporalde gargalhadasabafoua proposta.- Se hesitamentreasmaisformosase as maishorrendas,

    por queno elegersemhesitaesa maisestpida?- A AntoninhaBela?Quemousariadestruirumaobrade

    arte?- A Eufrsiameparecemaisde conformidadecomo re-

    quisito,emendouLara.- Seja,pois,a Eufrsia;proclamaramtodos.- Mas, comocelebrar-lheos funerais?Precisamosde um

    esquife,de mortalhas,de tachas,de mil cousasfnebres,enfim,objetouBeppo.

    - Noencontrarcaixomorturionumcemitrioequivaleanoacharguaemaltomar.

    Para obt-Io,bastarcavara terra.Desalojemosum dstesdefuntosfrescos...Serumadesapropriaocomoqualqueroutra... E j que

    nos achamosprecisamentedianteda covado Miguel Vinagre,faamos-lhedepoisdemortoo queletantofz durantea vida,quelesquelhenopagavamosaluguisdosprdios.Um, dous,trs!Arregacemosasmangasatossovacos,byronianosdaPau-licia!

    A lua, rasgandosua tnicade neblina,projetanesteins-tante,sbrenossasfrontes,a luz de sualanternade opalas!Euvosconjuro,- duendesmedonhos!- danaiemronda,vol-teandoabandonadostmulos,enquantonosentregamos profa-naoabenoadaem o seiodo silncioe ao pio grasnantedosmochosno tpodascasuarinas!A faina! lida,pois!emmem-ria dasnoitesfantsticasdo Chefe-lorde,da embriaguezclssicae dasbacanaisno mosteirodeNewstead.

    Mazeppae Caim hesitam.- um sacrilgio!exclamouo segundo.Recuamantequalquerirreverncia,retorquiuBeppo,quan-

    do umdogmadaescolao desdmpelasestulticeshumanase aafrontas mais arraigadassupersties?!...Julgava-osespri-tosfortes,filosficos,e notoquevocsnopassamdeunstimo-ratos...

    Nemtantofoi misterparaaguilhoar-nos;assimestimuladospercorremosa quadrainteira,embuscadeumasepultura,dondepudssemossuspenderum caixocondignodaRainhaquetnha-mosdetransportar.

    Econtramo-Io,finalmente:alastradode grama,nomaissepodiamdistinguiras inscries.

    Todavia,e semmaisdemora,enterrandonosentrebordosdomrmoreos dedosenregeladospelagaroa,ao terceirosolavancoa escuralousatombou,partindo-seemestilhaos;e, empunhan-do aIgurnastbias,comeamosa escavar.A terra,seesboroando,o buraco,escancarado,hiantee misterioso,maise maisse pro-fundavaao nossofrenesi.

    Eis que tocamoso caixo.Tscamentefeito, resistiraumidadedo solo,- apenasa tampahaviaemparteapodrecido.Arrancamo-Ia.Sobumaamlgamade sniee podrides,depara-mosaJ'inalum esqueleto,- o escorridoesqueletode umamu-lher,- deumavelhinha,semdvida,porqueo espinhaolinea-va-se-lheemarco,e osmaxilares,semum dente,e entreabertos,pareciamescarnecerdo formidvellgro.

    Nossasituao,porm,erasobremodoemocionanteparanosdetermosa meiasimpresses.E comomaisnohavamosfeito

    202 PIRES DE ALMEIDA

    ))))))))

    , )

    ),

    ))

    )~

    I)

    I)

    I)

    ))

    )

    I)

    )

    I)

    ) )

    i)

    J)

    i)

    )

    )

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 203

    JeffersonHighlight

  • que violar uma sepultura,interrogando,comoHamlet, o segrdode um tmulo,por que no prosseguir?por que no aproveitarssescorrompidosdespojosde uma annima,poupando-lhea de-cepode assimapresentar-seto nojentano dia do Juzo? Noera,certamente,comossosde ligamentospodresque a deformadavelhinhadesejariacomparecerperanteo Rei do Cu e da Terra,quandoa trombetado julgamentofinal nos chamea todosparaprestar contasdo bem e do mal que praticamos:se ela dssemodo ressuscitasse,seria troteada a valer pela assembliaemrisota. E a desalojamos,atirandoaos saposaqulesinfectosmo-lambos de carne; e os sapos,cortejando-oscom os seus paposde fole, fugiram para o capinzalmais prximo, coaxando,coa-xando.E com o caixoao ombrodemosvolta pela vrzea,e ca-minhamos,at chegar estradareal, e a concertamosna pr-tica do nossoplano.

    A noite ia profunda.Apenasum ou outro estudantevagavana rua, dos que voltavam de serenatassobraandoo frouxoviolo.

    Tnhamostomadoa precauode colocar,em diversospon-tos,vigias,que nos prevenissemda aproximaode qualqueres-tranho.

    De possedo caixo,cogitvamosagoranos meiosde arran-jar a mortalha,os balandraus,as tochas,quandoum dos espias,imitando o pio da coruja, deu aviso de algumao longe; puse-mos em p o caixo colocando-nosem frente para escond-Io.Eram dous parlapatesque, voltando de uma reunio poltica,protestavamcontra as decisestomadasem favor de um oposi-cionista eleitoral.De nada se apercebendo,seguiramseu cami-nho.

    Nessenterim,uma janela se abriu, e, luz de agitadaveladistinguimosuma cabeade mulher... Era a Eufrsia, que sedespediado amante...

    - Ei-Ia! bradamosa uma voz: a Rainha dos Mortos!E, assim aclamada,passevamoso caixo, quando outro

    guinchonos ps alerta: destafeita era um cordode tropeiros,em rumo da cidade.

    Desassustados,caminhamosem direo luz transportandoaossolavancoso pesadssimotramblho. voz de alto! paramos,formandocompactogrupo. Estvamosem frente da Maonaria.Manfredo,apontandopara o edifcio,bradou:

    - Destemidoscompanheiros!o que procuramosali encon-traremos.Naquela Loja manica,onde os Cavaleiros da RosaCruz iniciam-senos mistrios de sua ordem e submetem-sesprovas dos sucessivosgraus, no nos faltaro vistosasinsgnias,

    aventais e estandartes,abracadabrnticos,mortalhas, s deze-nas,as vestimentasdo Irmo Terrvel e as dosentrantesdo Tem-plo, espadasde ao,que se cruzamem forma de abbada,mac-tes, compassosdos construtoresdo Templo de Salomo,fachos,e tudo mais necessriopara os funerais da recrutadaRainha dosMortos.

    - Profanao!exclamouLear. Lembrem-seque esta Lojarepresentana histria ptria importantssimopapel. Inauguradapor Pedro I em suaprimeiravisita cidadepaulistana,presidia-lhe permanentes sessescomoseu fundador,substituindo-onosseus impedimentosa poderosaMarquesade Santos,que a trans-formou no centropatriticoque tanto concorreupara o inespe-rado adventoda nossaIndependncia.

    - E da qual hoje venervelo bojudopadreFortunato,queaindaestamanhcelebrouumamissaa bonsgolesde vinho bran-co por alma de minha av, acrescentouCaim, metendoo ombro porta;mas,quid inde?

    Riscandofsforos e mais fsforos, subimosao escuro pavi-mento,vasto salo das sessesdos pedreiros-livres,conveniente-mente ornado segundoo rito escocs.Ao fundo, compridocor-redor que serviade Sala dosPassosPerdidos,ondeuma lmpadade azeite,a apagar-se,estalavao morro; e, a um canto,encos-tadoss paredesforradasde veludo prto, ou suspensosdo teto,se achavamos objetosque ansiososprocurvamos.Arrecad-Ios,e traz-Iospara o saguo,foi ato de um momento.Nesseaf,umestrondose ouviu; era o esquifedosnefitosque, encontradope-los companheiros,steso empurrarama pontaps,tendo-ofeitorolar, recheadode pesadascorrentesde ferro, pelos degrausdemrmoreda extensaescadaria.

    - Dispensamoso rabeco,ponderou Faliero; o que trou-xemosconoscoestmais de acrdocom a cerimnia.

    - Nada intil no mundo,replicou Mazeppado alto patamar,e j vestidocom a roupa escarlatedo Irmo Terrvel, cuja fan-tasiaenriqueceraajaezando-secomos distintivosdo Venervel,eempunhandoo longo estandartesimblico.

    - Esta tumba,voltada,servir-me-de andor.Deponhones-te instanteos patronosda cidade,e proclamo-meseu sucessor.

    E nos revestimoscom as mortalhas,passandoa tiracolo asinsgnias,cujas lantejoulascintilavamaos relmpagosdos archo-tes levadosaos lados.

    Dez minutosdepois,batamoss xadrezadasjanelas da sur-preendidaEufrsia.Ela apareceu-nos,coma candeiaao alto paradistintamentereconhecer-nos.Bombsticopalavreadopara per-suadi-Iaque nos devia dar entrada.Diante destaturma vesnica,

    204 PIRES DE ALMEIDA

    ))))),)))}

    )))))))

    ))

    ))))

    )

    ))

    )

    )

    )

    )

    )

    )

    )

    )

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 205

  • (*) ceremonial,no texto.(**) paroximos,no texto.

    e fantasiadaapresentando-sequelahora,era,na verdade,paraassombrar-se,e a pobreraparigarelutou.

    Osfraseadossucederam-se,nosentidodeconvenc-Iaquetudoaquilomaisno era do que um cerimonial(*)preparadopelosseusadmiradoresparacoro-IaSoberanado ReinodosMortos.

    Eufrsia,sembemcompreender-nos,negava-seao convite;mas,enquantoela,recalcitrantee medrosa,recusava-se,o IrmoTerrvel,agarrando-a,envolveu-atdanumdoslenisda cama,e trancou-ano caixo.Ela quisgritare nopde.

    EnquantoD. Juan ordenavaa vistosaprocisso,os quepe-gavams alasdo fretrotomavamo centro.Lara puxouo ou-tro lenol;ajustando-oaocorpocomoumatnicapontificial,ps-se frentedoprstito,soprandonumlongocachimbode maa-ricovivaslabaredasdeenxfre,quedestacavamashorrendasfi-guras.

    E guardandoo pesadocaixomorturio,seguidodo andorairosamentecalcadopeloFilho dasTrevasarrastandogrossascor-rentesde ferro,ladeadosdosrespectivosconfradesamortalhadosdeprto,pusemo-nostodosa caminho,aozumbidodeum canto-chode defunto.

    Devezemquando,umaououtrajanela,seentreabrindo,porelaespiavaum velho,ou umavelha,de leno cabea,envoltoemgrossocobertor,de castialrompentena destrae velaacesaa tremer-lhe mo;masestvamos,eu disse,nosparoxismos(**)deumaepidemiadevarola,e stesespantadosvelhes,supondoalgumentrrode bexiguento,apertavamas ventas,e ajoelha-vam-se,rezando-Ihespor intenoumacoroadorosrio.

    Um terceirosilvofoi desferido,e felizmenteo ltimo.Dousvultos,escorando-secostascontracostas,lobrigavam-

    se,cambaleando,a distncia.Expedimosdouscompanheirosparareconhec-Ias:eramos

    dousfamosostiposderua,PadreBacalhaueMota,stecachaceirodeprofisso,e aquleummentecaptopor incidente.

    Seriacrimedelesa-crnicanoacrescentaralgunsesclareci-mentosa respeitodssesgrotescosdo tempo.

    Motagraduara-seemFilosofiapelaUniversidadede Heidel-berg.Repatriado,porestrina,seguiuemS. Pauloa mesmavidaquenacidadeteutnica.Masa Pauliciaeraentoescolhidocen-trodeintelectuais,eMata,pelorespeitoquelhevotavamaosaber,e peloprestgiodeseuilustretio,vagueavadiae noitepelasruas,

    esbravejando,implicando,provocando,insultandomuitavezsemqueningumousasserefre-Io.

    Era agradabilssimov-Ioenvolvidono seuamploe esbura-cadocapote,longoscabelosemaranhados,barbicasespecadas,de-sarticuladosculosde tartarugaao alto da testa,cachimboaocantoda bca,livro sobraado,e lpisempunho,altitroar,emguturalalemo,estrofes,poemasinteirosde Schiller,de Goethe,de Uhland!

    NovoBias,perlustravaa cidade;e ondea cabealhe pesavade lcool,estendiao capote,e cozinhavaa mona,vendodesfilar,- quemsabe!- as valquriasda vetustaGermnia.

    Uma feita encontrei-ocado minhaporta;e, comocho-vessetorrencialmente,convidei-oa entrar:aceitou,convencidodequeeuo obsequiariacomalgunscoposdecervejaBass.Meufim,entretanto,era ouvi-Ia,paraindagardo motivoquepoderiaterarrastadossehomemde esmeradacultura,aovcioda embria-gueze vagabundagem.

    Lembrando-mequevulgarmentesediz quessesindivduos,quantomaisbrios,maislcidos,coloqueisbrea mesaa im-prescindvelgarrafade "Fine Cognac"queo nossotipo de ruaempolgousemhesitaes;e, assimcomoDigenes,a exemplodoo,prescindirada cuiaparabeberguana sarjeta,o Biaspau-listanonoseutilizoudo clix,quejulgoutodispensvelcomoa cuia,emborcandoa garrafadelitro pelogargalo.

    Maso rifo,digamo-Iadepassagem, umabanalidadecomoqualqueroutraindistintamenteaplicadaa todosos desarvoradosmaisoumenosilustres;e detolernciaemtolerncia,o ridculopreconceitomantm-seaindacomtodosos visosde verdade.Eassimseo desequilibradoummdico,afirma-sequelesatinacoma molstiaquandocambaleante cabeceirado doente;seadvogado,nuncadefendeosruscommaissucesso,doquequan-dosobe tribunace l; sepoeta,msicooupintor,nuncapro-duz causasmaisaplaudidas,do quequandotem,paraacender-lhe a imaginao,umafrasqueiraespecialde laranjinha.

    Poisbem:o nossoMotanopodiaescapar regra;mas,ver-dade,verdade,o lcool,quandomuito,tornava-ofalastro,im-pertinente,rusguento,desabusado;e, quandoassimarquipfio,li-mitava-sea recitar,numalemode cervejaria,versosdoscls-sicose romnticosquedecoraraemconferncias.

    E, naquelanoite,deu-lheparadeclamara "Canodosestu-dantes"deGoethe.E eu repetiao estribilho,o quemuitolison:-jeavaao InacinhoAzevedo,seuinteligentetradutor.

    Extemporneoseriaaquiexararasperguntaspor nsambosformuladas,a queMotarespondiacomo desplantedosirrespon-

    206 PIRES DE ALMEIDA

    )})J

    ))),,,),)

    ),))

    ~

    ),)1

    ,!

    11

    I)

    JJ

    I[

    1,1

    I)

    d

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 207

  • sveis.Repetia-nosser efetivamentesobrinhode eminenteper-sonagemqueo mandaraparaAlemanhacursaraltosestudosdeTeologia,a fimdeordenar-se;pormque,errandoaportadaUni-versidade,enveredarapelosestaminets,ondepassavadia e noi-te entrealgunscopziosde vinhode Renoe umatravessadechucrute.A contraiulea nostalgiadasmesasestudantinas,daqualseutio e protetorjulgoumelhorcur-lo chamando-oaocli-manatal;masdomesmomodoqueMotacultivaraa poesiabra-sileiraemJena,cultivavaemS. Pauloa poesiaalem.

    Tudoverdade.E seMotanopossuaumtalentosuperior,erano entantoumaintelignciaaproveitvel,poistratando-sedeele-ger,entrecondiscpulos,umacomissopararepresentarascincoantigasUniversidadesAlems,nasfestasda inauguraoda es-ttuade Schiller,emBerlim('1), foi o nossovulcnicopatrcioumdosmaismerecidamentevotados.

    O outro,PadreBacalhau,menosinteligente,menoserudito,matriculara-seSeminaristaemS. Paulo,chegandoa receberor-denssacras.Um incidente,porm,alistousseinfelizsacerdoteemo nmerodostiposderua.Ordenado,quefra,a pretextodeseguir,comomuitosoutros,a carreirajurdica,aboletou-seemumarepblica,saindotdasas manhsparadizera suamissanaBoaMorte,e freqentandoduranteo diaassiduamenteasau-las do Curso.De umafeita,pelaQuaresma,subiuao plpito,empanturrado,congesto,de sobrecenhocarregado,cefalico,pre-paradoparaexortao.Os fiis,supondoquelese achavapos-sudode cleracontraas msovelhas,aguardavamsilenciososviolentaprdica.Efetivamente,o padredesatounumchorrilhodeimprecaescontratodosquantos,complenaindiferenadospre-ceitosda SantaMadreIgreja,nojejuavamduranteas quatrodomingasdepenitncia.E aspalavras,as frases,osperodos,asmetforasonomatopicasrepercutiamnas abbadasdo templo,ecoandonos coraescontritosdo auditrioarrependido.Poucoa pouco,porm,a vozselhefoi moderando,apagou-sequase,ou-vindo-seapsprolongadoe tristesussurroportodoo templo.Su-bitamente,o oradorempalidece,glidosuorescorre-lheda fron-te; e, desmaiando,estavaprestesa cair,quandoalgunscristosmaisprximos,galgandoo plpito,levam-noembraos,condu-zindo-oparaa sacristia.Uma devotade mantilh,compungida,e rezando,borrifa-odeguabenta.Santoremdio!singularefei-to! O padrevomitoupor inteiroa piedosahmile,numasu-culentafritadade bacalhau!O penitente-moI'haviarevoltante-mentevioladoo quaresmalpreceitodo jejum. O Bisposuspen-deu-odeordens,e o povo,emlembranadoacontecimento,chis-tosamenteapelidou-oPadreBacalhau.

    Eramstesosdoustiposqueescoravam-sereciprocamenteemdistnciaparanocair;mesmonesseestado,os incorporamosaobando,e comlesprosseguimosequilibrando-osnos avinhadoscambaleiose ajeitando-osnosbaforentosziguezagues.

    E a procissoseguiaimponente,aosreparosdeuns,e aopas-mo de outros,queacidentalmentepassavam,semcontudoousa-remaproximar-se.

    Chegamosafinal portado cemitrio.Na impossibilidadedepularo muro,o SumoPontficeforou

    a largaportade madeiraque,ao embatedo primeiropontap,fzvibraro marteloda campainha,despertandoo coveiro:tontodesono,acudiu,aoscambaleios,ao inesperadotoque,e, atordoa-doainda,e tomando-nospelaConfrariadaMisericrdiaque,comodecostume,levavaosmortosforadehoras,e revestidossegundoosestilosdoseucompromisso,escancarou-amais,paraquemaisfrancamentea transpusssemos.

    O coveirotornou suacasinhatsca,e perseguimoso mes-modestino,no sentidodaquadradeantemoescolhida.A, o f-nebrevolumefoi depositadosbrea sepulturada asquerosave-lha, decujosossosnosvalemosmaisestavezparaescor-Ia.

    Atravessandoa quadradosIsraelitas,umtmulochamoudeprefernciaa nossaateno.Paramos.Recentea inscrio,Ma-zeppaleu-a: Judite - 20anos.

    Era tudo.A essaspalavras,Faliero,descobrindo-se,agalhou-sesoluando.

    A histriadestaJudia umadaspginasmaiscompungentesda vidaacadmicade outrora.

    Por estadata,habitavaS. Pauloum velhoisraelita,queti-nhaumafilha denomeJudite.Tipo delicadode umagentiab-blica,eram-lheosolhoscomoquede veludo,fundose rasgados,sombreando-osespssase arqueadassobrancelhas.Engastemoss-sesolhosnumrostotostadoe fino,enquadremoso todonumema-ranhadode cabelosnegrssimos,e teremosumabelezaabsoluta,a belezadaquelaesplndidarapariga,quetodosns,aotranspor-mosdiriamenteo Ptio do Colgio,fitvamosencantados,en-doudecidos.

    Como intuitivo,estudantese futricasfreqentavamo res-taurantedaquelehotel,unicamentepara contemplara recatadaJudia; e porvzes,um ou outroestabanadoaproximando-secau-telosodobalcoparadizer-lhemeiguices,esbarravacomo narizaduncodotalmudistaJacob,surgindoinesperadoparaevitaren-trevistas.

    208 PrnES DE ALMEIDA

    -)

    )))))))))))))))))))))))))

    )))))))}

    A ESCOLA BYRONIANA NO BRASIL 209

    ) 14 e.b.b.

  • (*) Assimno texto.

    o nicoempregadodo hotelera um seusobrinho,guapoeobsequiosoo moosemcertasaspiraes,e que se deixavale-var pelaslisonjeiraspromessasde futuro intersseno negcio.

    Dentreosfreqentadoresdohotel,distinguia-seumestudante,belorapazde18anos,filhodeabastadofazendeirodaentoPro-vnciado Rio deJaneiro.

    As mulheressogeralmentevaidosas;e Judite, lisonjeada,retribua-lheos enamoradosolhares,comoutrosnomenoster-nose esperanosos.

    E o eleganteacadmico,numbelodia pediua sedutoraJu-dia emcasamento.

    Mas,apesardosmaislouvveisintentosde suaparte,o ve-lho Jacobnegaceava;receando,porm,quea raparigafugissedacasa,semtirar, ao pretendente,tdaa esperana,adiouo sim,pretextandofalta do consentimentopaterno.

    Nessenterim,o correspondenteescreveu famliapartici-pandoo ocorrido,e aomesmotempocientificando-ada desigual-dadedoenlace,sendoo malogradonoivorecambiadoincontinentiparaa Crtecomsuasmortasiluses.

    Mas a Judia, quedeveraso amava,tornara-setriste,e caiudoente;e o hoteleiro,tentandodebaldedispersuadi-la(*)de se-melhantepaixo,resolveufirmementecas-Ia,segundoseusri-tos,como caixeiroe sobrinho.

    Contraa inabalveldecisodovelhopai,quesentia-lhecor-rer nasveiaso sanguede Moiss,quefazer?!A meigaJudite,que era umaantteseda suahomnimabblica,submeteu-seimposio,e, numaaprazvelmanhde julho o feroz Judeuacompanhou-os sinagoga,dondesaramambos,Judite e Eu-fraimenlaadossegundoTalmude.

    A partir dssedia,a desditosacnjugeemagreceucadavezmais,foi-se-lhedo rostoa beleza,definhou,e tanto,tanto,quetornaram-seurgentesoscuidadosmdicos.Esfor