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20 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Alquimiando a Química N° 1, MAIO 1995 nascimento dessa ciência a publicação do Traité elémentaire de chemie, por Antoine Laurent de Lavoisier (1743- 1794), em 1789, mesmo que com esse tratado a química tenha passado a ser consi- derada uma das ciências e que Lavoisier seja por muitos considerado o fundador da química. Mesmo se recuarmos mais um século, não podemos decretar o início da química a partir do epitáfio dado pelos ingleses a Robert Boyle (1627-1691): “o Pai da Química”. A busca de um ponto de partida para o conhecimento mostra- se uma investigação problemática e complexa – e provavelmente indefinida. Na magnífica história da construção do conhecimento, talvez pudéssemos incluir o momento em que um remotís- simo ancestral nosso (talvez ainda mais próximo do macaco que do homem) verificou que com uma vara poderia alcançar um fruto mais alto em uma árvore. Não há por que não considerar essa uma das primeiras conquistas no campo da física. Um galho de árvore ou um fêmur mostraram-se úteis para a defesa ou para empurrar uma prancha de madeira sobre as águas. O trabalho foi o passo decisivo para a transfor- mação de nossos ancestrais, e a descoberta de ferramentas foi um mo- mento-chave nessa transformação (Engels, 1973: 107-114). Logo se descobriu como operar melhorias nas ferramen- tas primitivas. Novos materiais foram descobertos: chifres, dentes, conchas, fibras vegetais, couro e cascas converteram-se em martelos, peneiras, arcos, agulhas, raspadores, trituradores. Começava a construção do arsenal tecnológico, e com esse início surgiu o fabrico de cordas e redes de fibras e um interminável aperfeiçoa- mento de novas tecnologias até os dias atuais. Ainda não eram, então, alteradas as propriedades da matéria (ou talvez possamos dizer que ainda não se realizavam reações químicas contro- ladas). As descobertas prosseguiram. Os alimentos se estragavam, tinham seu sabor alterado ou se conservavam mais quando a eles se adicionavam outras substâncias. A descoberta do sal deve ter sido memorável: possibilitou, por A seção “História da química” traz artigos sobre a história da construção do conhecimento científico. Este primeiro artigo procura levantar algumas questões sobre o conhecimento químico, que nos é tão próximo, traçando para a alquimia considerações não-usuais. Embora seja considerada uma parte remota do passado da química, a alquimia continua despertando – à parte condições históricas – a um tempo curiosidade e desprezo. Uma leitura para essa antiga ciência apresenta-se cética; outra, baseia-se em uma visão histórica, e uma terceira envereda pelo realismo fantástico. história da ciência, história da química, alquimia, sincretismo: alquimia/ química moderna Attico I. Chassot Licenciado em química, doutor em educação. Departamento de Química, Universidade Luterana do Brasil, Canoas - RS Quando não podemos explicar algo, é muito mais fácil dizer “isso é impossível” N ão é possível referir algo sobre o surgimento da química sem fazer uma breve referência às múltiplas tessituras da história da construção do conhecimento e a seus diversificados encadeamentos. A própria história da ciência não pode ser adequadamente observada sem se considerar, mesmo que panoramica- mente, a história da filosofia, da edu- cação, das religiões, das artes, das magias, e mesmo todas estas histórias na “história dos que não têm história”. Não há espaço suficiente neste artigo para discorrer amplamente sobre todos esses temas, por isso faremos apenas alguns comentários sobre essa maravi- lhosa história da construção do co- nhecimento. As origens da alquimia – e da pró- pria química – perdem-se em tempos de que não temos registros, pois não podemos assumir como certidão de A separação entre a alquimia e a química é mais profunda que o simples avanço técnico. HISTÓRIA DA QUÍMICA Um alquimista trabalhando,de H. Weiditz, repr. de A pictorical history of chemistry

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Alquimiando a Química N° 1, MAIO 1995

nascimento dessa ciência a publicaçãodo Traité elémentaire de chemie, porAntoine Laurent de Lavoisier (1743-1794), em 1789, mesmo que com essetratado a química tenhapassado a ser consi-derada uma das ciênciase que Lavoisier seja pormuitos considerado ofundador da química.Mesmo se recuarmos mais um século,não podemos decretar o início daquímica a partir do epitáfio dado pelosingleses a Robert Boyle (1627-1691): “oPai da Química”. A busca de um pontode partida para o conhecimento mostra-se uma investigação problemática ecomplexa – e provavelmente indefinida.

Na magnífica história da construçãodo conhecimento, talvez pudéssemosincluir o momento em que um remotís-simo ancestral nosso (talvez ainda maispróximo do macaco que do homem)verificou que com uma vara poderiaalcançar um fruto mais alto em umaárvore. Não há por que não consideraressa uma das primeiras conquistas nocampo da física. Um galho de árvore ouum fêmur mostraram-se úteis para adefesa ou para empurrar uma prancha

de madeira sobre as águas. O trabalhofoi o passo decisivo para a transfor-mação de nossos ancestrais, e adescoberta de ferramentas foi um mo-

mento-chave nessatransformação (Engels,1973: 107-114). Logo sedescobriu como operarmelhorias nas ferramen-tas primitivas. Novos

materiais foram descobertos: chifres,dentes, conchas, fibras vegetais, couroe cascas converteram-se em martelos,peneiras, arcos, agulhas, raspadores,trituradores. Começava a construção doarsenal tecnológico, e com esse iníciosurgiu o fabrico de cordas e redes defibras e um interminável aperfeiçoa-mento de novas tecnologias até os diasatuais.

Ainda não eram, então, alteradas aspropriedades da matéria (ou talvezpossamos dizer que ainda não serealizavam reações químicas contro-ladas). As descobertas prosseguiram.Os alimentos se estragavam, tinham seusabor alterado ou se conservavam maisquando a eles se adicionavam outrassubstâncias. A descoberta do sal deveter sido memorável: possibilitou, por

A seção “História da química”traz artigos sobre a história daconstrução do conhecimentocientífico.Este primeiro artigo procuralevantar algumas questõessobre o conhecimento químico,que nos é tão próximo, traçandopara a alquimia consideraçõesnão-usuais. Embora sejaconsiderada uma parte remotado passado da química, aalquimia continua despertando– à parte condições históricas –a um tempo curiosidade edesprezo. Uma leitura para essaantiga ciência apresenta-secética; outra, baseia-se em umavisão histórica, e uma terceiraenvereda pelo realismofantástico.

história da ciência, história daquímica, alquimia, sincretismo: alquimia/química moderna

Attico I. Chassot Licenciado em química,doutor em educação. Departamento de Química,Universidade Luterana do Brasil, Canoas - RS

Quando não podemosexplicar algo, é muitomais fácil dizer “isso

é impossível”

N ão é possível referir algosobre o surgimento daquímica sem fazer uma breve

referência às múltiplas tessituras dahistória da construção do conhecimentoe a seus diversificados encadeamentos.A própria história da ciência não podeser adequadamente observada sem seconsiderar, mesmo que panoramica-mente, a história da filosofia, da edu-cação, das religiões, das artes, dasmagias, e mesmo todas estas históriasna “história dos que não têm história”.Não há espaço suficiente neste artigopara discorrer amplamente sobre todosesses temas, por isso faremos apenasalguns comentários sobre essa maravi-lhosa história da construção do co-nhecimento.

As origens da alquimia – e da pró-pria química – perdem-se em tempos deque não temos registros, pois nãopodemos assumir como certidão de A separação entre a alquimia e a química é mais profunda que o simples avanço técnico.

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exemplo, a magnífica oportunidade dearmazenagem da caça farta para diasem que não houvesse possibilidade debusca de alimentos. Com o desenrolarda história, novas conquistas tiveramlugar: frutas secas começaram a serguardadas por períodos longos, e seussucos eram conservados, a maior partedas vezes transformados pela fer-mentação. Os predecessores dosquímicos já andavam então sobre aterra.

O domínio do fogo1 foi um dos pri-meiros conhecimentos ligados à químicaadquirido pelo homem primitivo. Era umatarefa que provavelmente se lhe apre-sentava como algo muito perigoso edifícil, associada que era a seres ouforças sobre-humanas e, por conse-guinte, ao culto místico e religioso.Parece indiscutível que dessa desco-berta vieram importantes benefíciosrelacionados à melhoria da qualidade devida.

Assim, se fizermos recuar a históriaàs origens do conhecimento químico,vamos encontrar em tempos imemoriais,nas mais diferentes civilizações, umgrande número de tecnologias químicas,como as relacionadas com a alimen-tação (cocção, conservação com sal,produção de vinagre, vinho e cerveja);com a extração, produção e tratamentode metais; com a produção de esmaltee corantes; com o fabrico de utensíliosde cerâmica, vidro, porcelana e metal;com a produção de pomadas, óleosaromáticos e venenos; com técnicas demumificação; com a produção demateriais de construção como arga-massa, tijolos, ladrilhos etc.

Na acumulação de conhecimentospor alguns líderes tribais — geralmentepessoas ligadas também às práticas doculto —, era particularmente significativoo aproveitamento de recursos naturais(especialmente chás vegetais) para acura de doenças. Valia então a metáforaque podemos usar hoje ao nos referir-mos a nossos índios: “quando morre umpajé, é como uma enciclopédia que sequeima”.

Não procede a concepção redu-cionista da alquimia como práticas daIdade Média e do Renascimento quebuscavam a transformação de metaismenos nobres em ouro. Da mesmaforma, não se pode simplificar dizendoque a transição da alquimia à químicacorresponde à ascensão da primeira emciência. A alquimia, segundo algumasconcepções, não pode ser consideradaa origem da química, pois restringia-semais a concepções filosóficas da vida.

Na analogia da purificação dos metais,buscava-se uma maneira de viver, apurificação interior.

Assim como permanecem dúvidassobre o que de fato era (ou é) a alquimia,não parece possível definir quando setransformou na química — consideran-do-se as acepções mais usuais de umae de outra. Muitos afirmam até que aquímica teria exterminado a alquimia aotentar explicar algumas de sua práticas,tirando-lhe assim o caráter místico.

Como em muitos momentos dahistória da humanidade, a alquimia estáhoje muito presente, mais uma vez, nasdiscussões e questionamentos daspessoas. Podem ser feitas pelo menostrês leituras da alquimia, decorrentesestas das diferentes representaçõessociais que se tem sobre a alquimia. Emoutro texto (Chassot, 1994b), apresentode forma mais extensa as seguintesleituras possíveis:

i) uma cética, que apresenta aalquimia como uma prática eivada decharlatanismo e destituída de qualquersignificado científico, mas à qual se con-cede, não sem um certo desprezo,algumas contribuições acidentais;

ii) uma histórica, que faz uma releituracrítica de períodos mais distantes dahistória, em especial do medievo,contextualizando a alquimia e os alqui-mistas nesses períodos;

iii) uma que admite um certo rea-lismo-fantástico, que não é sinônimo defantasia, mas que tem muito de incrívelou ainda inexplicável. Nesta leitura nãoapenas se aceita como possível terhavido transmutações alquímicas, comotambém se colocam figuras singularescomo Newton na galeria dos que opera-ram esses feitos.

Poderia estender-me por váriaspáginas relatando experimentos atravésdos quais alquimistas alegam ter reali-zado aquilo que modernamente clas-sificamos como transmutação de ele-mentos. Sabemos que são as transmu-tações que ensejam que em moder-níssimos laboratórios se sintetizem, porexemplo, os elementos localizadosdepois do urânio na tabela periódica. Seaceitarmos a hipótese de que vegetaise animais podem realizar transmu-tações, podemos também reconhecer

como válida a hipótese de que outros játenham conhecido os segredos dastransmutações hoje feitas em algunspoucos centros de pesquisas nucleares.Aos céticos, que vêem a impossibilidadedisso nas enormes energias envolvidasno processo, apresento uma analogia.Um cofre pode ser aberto de duasmaneiras: conhecendo-se o segredo oupor arrombamento. Todos sabemos asgrandes diferenças de energia envolvi-das em uma e outra situação. Hoje, atransmutação nuclear corresponde auma violência contra um núcleo — é umarrombamento. Se forem válidas ashipóteses de que plantas e animaisfazem transmutações, por que nãoaceitar que alquimistas conheceram osegredo de algumas transmutações —nada nos impede de trabalhar comhipóteses, mesmo que previamentequalificadas como absurdas, apenaspara especulação. Reconheço, é claro,que essa afirmação é ainda impossívelde ser aceita, dentro de nosso quadroatual de conhecimentos sobre energia.

A pergunta que logo se impõe é: Porque, se a ciência tem o conhecimentocumulativamente adquirido, essessegredos ou práticas dos alquimistasnão chegaram até nós? Antes de apre-sentar hipóteses para tal, é precisoquestionar a cumulatividade dos conhe-cimentos científicos.

Determinadas culturas se desen-volvem orgânica e separadamente dasdemais, possuindo uma infância eatingindo depois um esplendor, numaidade adulta, para então sofrer umadecadência. Nesse caso, podemosadmitir que os conhecimentos dasmesmas, se não foram comunicados aoutras culturas, podem ter estado, emdiferentes momentos, mais ou menosavançados. As razões da não-comuni-cação aparecem nas hipóteses mencio-nadas a seguir, na busca de umaexplicação para a ‘perda’ dos segredosdas transmutações alquímicas.

1) Dizimação por uma peste. A ‘pestenegra’, por exemplo, “devastou o mundoocidental de 1347 a 1351, matando de25 a 50% da população da Europa ecausando ou acelerando significativasmudanças políticas, econômicas, so-ciais e culturais” (Gottfried: 13). Ora, seconsiderarmos que muitas comunidadesde alquimistas constituíam guetosafastados da cidade, para preservarseus segredos ou para se proteger deperseguições, (ver hipótese 2), é fácilimaginar como grupos inteiros de alqui-mistas possam ter desaparecido – ecom eles suas práticas, uma vez que

Há diferençassignificativas em

termos de energia noarrombar um cofre eao abrí-lo quando seconhece o segredo

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estas, também para serem mantidassecretas, ou não eram escritas ou eramescritas em código. Esses códigos sãoinclusive uma explicação para a hermé-tica linguagem química.

2) Forte influência da Igreja. Paraproteger seus fiéis dos embusteiros, aIgreja proibiu as experiências de alqui-mia através de uma bula papal de JoãoXXII, em 1317. Houve severa vigilânciados tribunais inquisitoriais sobre publi-cações de qualquer natureza, impe-dindo-se assim a disse-minação do conhecimen-to não-ortodoxo.

3) Destruição pelaprópria descoberta.Soddy defende esta hipó-tese, que parece muitoprovável. Devemos recor-dar que o mercúrio estava muito pre-sente nas tentativas de transmutação, eo envenenamento por esse metal nãopode ser descartado. Se aceitarmos apossibilidade de civilizações que conhe-ceram a energia nuclear, é muito fácilaceitar que uma má aplicação aspudesse ter destruído. Recordemosapenas dois exemplos: Marie SlodowskaCurie (1867-1934) teve revelado, com oexame de sua medula, o verdadeiroresponsável por sua morte: o elementorádio, que ela descobrira em 1898.Manuel de Abreu (1894-1962), médicobrasileiro, inventor do registro radio-gráfico em filmes de 35 mm conhecidocomo Abreugrafia, teve lesões genera-lizadas nas mãos devido à radiação.

4) Poder econômico. É muito prová-vel que fortes pressões econômicastenham retardado e até impedido adivulgação de muitas descobertas.Basta imaginarmos o que significariapara os mercados mundiais se o gramado ouro, que hoje custa mais de dezdólares, passasse (devido a sua fácilfabricação) a dez centavos... Aliás, valesempre perguntar por que o ouro vale/custa tanto. Qual o seu valor de fato?Sabemos que hoje há muitos materiaismuito valiosos que não são fabricadosapenas por intervenção de gruposeconômicos poderosos. Ainda umainterrogação: por que, imediatamenteapós seu anúncio, a fusão a frio2 foirepetida com anunciado sucesso emmuitos outros laboratórios, para logo aseguir ser condenada como uma fusãoa frio ‘fria’? Que interesses poderiam terdeterminado essa reversão? Não pode-ria ser apenas porque seus descobri-dores eram de um estado pobre e margi-nalizado cientificamente, ou por que elafaria com que o preço do petróleo se

reduzisse a valores insignificantes?5) Inveja e conhecimento ‘cientí-

fico’. Deter o monopólio do conheci-mento sempre foi uma maneira deassegurar o poder. Podemos remontaraos povos primitivos e observar o quesignificava ter o fogo ou verificar nosdias atuais como uns poucos detêminformações privilegiadas subjugandomilhões (e talvez possamos dizer semexagero bilhões) de pessoas. Bastaconsiderar que cinco grupos contro-

lam as sementes doscereais e plantas olea-ginosas cultivados emtodo o mundo. O im-pacto das biotecno-logias no setor desementes resulta, ne-gativamente, na cria-

ção de mercados cativos (compra desementes híbridas todo ano), na uni-formização genética com conse-qüente vulnerabilidade a doenças epredadores aumentada (acrescente-se que são as divisões sementeiras defirmas globais que também vendem osherbicidas ‘mata-tudo’), e no desapa-recimento de um patrimônio genéticodiversificado (Ver Hathaway, 1992). Omesmo se pode dizer da dependênciaquase mundial de alguns poucos (trêsou quatro) produtores de ovos e ma-trizes de aves para postura e corte. Oque aconteceria a alguém, hoje, quedescobrisse o código genético paraproduzir uma determinada raça degalinha comercializada por uma des-sas empresas globais? O que poderiater acontecido a alguém que soubessefazer transmutações que tornassem oouro desvalorizado?

Hoje, muitas vezes nos pergun-tamos por que as lâminas de barbearoxidam com tanta facilidade; por queas lâmpadas queimam, por que ospneus se desgastam tão rapidamente...São problemas que a ciência já resol-veu, mas interesses econômicos impe-dem que as soluções se tornemdisponíveis aos consumidores, poisrepresentariam perda de lucros para osfabricantes.

Há ainda a possibilidade de aceitarpara a alquimia a leitura que classifiqueicomo cética, e nesse caso teremos denos contentar em aceitar a transição daalquimia medieva para a modernaquímica pós-lavoisierana; e a de buscar-mos um sincretismo entre uma e outra,algo que poderemos discutir em artigofuturo.

Esta seção trará em cada númeroartigos escritos por diferentes autores –

e aqui fica um convite formal para queleitores se tornem autores; esperamossua contribuição.

Notas1. Há um excelente filme, disponível em

vídeo, A guerra do fogo (França, 1981, 96min, direção de Jean-Jacques Annaud), noqual se relata uma batalha entre duas tribosrivais pela posse de uma fantásticatecnologia: o fogo.

2. Fusão do hidrogênio – como ocorrena bomba de hidrogênio – a partir de umprocesso eletrolítico, anunciado porFleischmann e Pons, na Universidade deUtah, EUA, em março de 1989.

Diferentes formas depoder podem nos ter

sonegado muitasimformações de

tempos mais remotos Referências bibliográficas

CHASSOT, A.I. A ciência através dostempos. São Paulo, Moderna, 1994a,193p.

——————-. Alquimia: em buscade um sincretismo com a químicamoderna. Episteme (nº 1, ano 1), noprelo.

ENGELS, FRIEDRICH. El papel deltrabajo em la transformacion del monoen hombre. Buenos Aires, EditorialAteneo, 1973.

GOTTFRIEND, R S. La muerte negra— desastres en la Europa medieval.México, Fondo de Cultura Económica,1989.

HATHAWAY, D. Patentes, alimentos,nós mesmos. Tempo e Presença (ano14, 266, nov/dez), pp.16-17, 1992.

Para saber mais

AGUILAR, CARLOS SEBASTIÁN.Origen y desarrollo de la química.Zaragoza, Universidad de Zaragoza,1983.

ALFONSO-GOLDFARB, ANA MA-RIA. Da alquimia à química. SãoPaulo, Nova Stella/EDUSP, 1988, 281p., p.147.

GIMPEL, JEAN. A revolução indus-trial da Idade Média. Mem Martins,Publicações Europa-América, 1986.

MOORE, F.J. História de la química.Barcelona, Salvat, 1953.

PERNOUD, RÉGINE. Idade Média –o que não nos ensinaram. Rio deJaneiro, Agir, 1994.

RONAN, C. História ilustrada dasciências da Universidade de Cam-bridge. São Paulo, Círculo do Livro,1989, 4 vol.

VANIN, ATÍLIO. Alquimistas equímicos, passado, presente e futuro.São Paulo, Moderna, 1994.