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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO DO INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR ALTERAÇÕES ÓSSEAS SINCRANIANAS E DENTÁRIAS EM BOTO-VERMELHO (de Blainville, 1817) (CETARTIODACTYLA, INIIDAE, Inia spp.) LUCAS MAGALHÃES LARA Manaus, Amazonas Junho , 2016

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO DO INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE

E PESCA INTERIOR

ALTERAÇÕES ÓSSEAS SINCRANIANAS E DENTÁRIAS

EM BOTO-VERMELHO (de Blainville, 1817)

(CETARTIODACTYLA, INIIDAE, Inia spp.)

LUCAS MAGALHÃES LARA

Manaus, Amazonas

Junho , 2016

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO DO INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE

E PESCA INTERIOR

ALTERAÇÕES ÓSSEAS SINCRANIANAS E DENTÁRIAS

EM BOTO-VERMELHO (de Blainville, 1817)

(CETARTIODACTYLA, INIIDAE, Inia spp.)

LUCAS MAGALHÃES LARA

Orientadora: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva

Coorientador: Dr. Rodrigo de Souza Amaral

Manaus, Amazonas

Junho, 2016

Dissertação apresentada ao

Instituto Nacional de Pesquisas

da Amazônia como parte dos

requisitos para obtenção do título

de Mestre em Ciências

Biológicas, área de concentração

Biologia de Água Doce e Pesca

Interior.

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Lara, Lucas Magalhães

Alterações Ósseas Sincranianas e Dentárias em Boto-Vermelho (de Blainville,

1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Lucas Magalhães Lara. Manaus :

[s.n.], 2016.

xxxiv, 106 f. : il.

Dissertação (mestrado) –- INPA, Manaus, 2016

Orientadora: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva

Coorientador: Dr. Rodrigo de Souza Amaral

Área de concentração: Biologia de Água Doce e Pesca Interior

SINOPSE:

Foram realizados estudos referentes às alterações osteológicas no sincrânio e nos

dentes de exemplares do gênero Inia spp., comparando as alterações entre os

sexos, faixas etárias, tipos de água e espécie. Assim como foi avaliada, pela

morfometria tridimensional, a relação entre o desvio de rostro e desgaste médio

dos dentes.

Palavras chave: 1. Boto-vermelho. 2. Alterações ósseas. 3. Alterações cranianas.

4. Alterações dentárias. 5. Morfometria tridimensional.

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Dedicatória

À minha família

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AGRADECIMENTOS

A Deus pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar аs dificuldades.

À minha orientadora, Dra. Vera Maria Ferreira da Silva, pela confiança,

sugestões, correções e orientação durante toda a elaboração e execução deste

trabalho.

Ao meu co-orientador, Dr. Rodrigo de Souza Amaral, pelo incentivo, conversas

e pelas ideias para o desenvolvimento da dissertação.

Ao técnico do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do INPA, Cristian

Pereira Lourinho, pelas conversas e ajuda no laboratório.

À minha família; meus pais, Carlos e Zélia; minha irmã, Leticia; e sobrinha,

Sophia, pelo apoio, carinho e compreensão, pela minha ausência na convivência

diária, nestes dois anos de mestrado.

Às minhas colegas de turma do BADPI, Jomara Oliveira e Danielle Caló, pela

amizade e companheirismo durante as disciplinas.

À colega de laboratório Gisele Maciel, pela ajuda e diversas discussões sobre

a morfometria 3D.

À Dra. Erika Hingst-Zaher e ao Dr. Leandro Rabello Monteiro, pelos

ensinamentos e ajuda com a estatística referente à parte da morfometria 3D.

Ao Rodrigo Dias, pela ajuda com os gráficos e a parte estatística.

À minha amiga Ana Santos Meira, pelas conversas e ajuda com a edição das

imagens destes trabalho.

Aos meus colegas Sônia Canto e Marcelo Garcia, pelos incentivos e pela ajuda

sempre que necessário.

À Manoela Jardim, pela amizade, paciência, sugestões, críticas e ajuda com a

correção do trabalho.

Ao Jonathan Galdino, pela amizade e pela disposição em sempre ajudar.

À D. Nilda e Sr. Aristides (Piu Piu), por sempre estarem dispostos e solícitos a

ajudar.

A CAPES pela bolsa de mestrado que possibilitou a execução deste trabalho.

Todos foram muito importantes nessa jornada! Muito obrigado por tudo!

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“O que prevemos raramente ocorre; o que

menos esperamos geralmente acontece”

Benjamin Disraeli

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RESUMO

Apesar do grande número de relatos de alterações ósseas para cetáceos, há poucos

registros acerca do gênero Inia spp. Ao avaliar as alterações ósseas sincranianas

foram observadas diversas alterações osteológicas em 63,8% do total analisado.

Dentre as alterações morfológicas observadas estavam a presença do terceiro

côndilo; desvio do rostro; prognatismo e bragnatismo. Alterações traumáticas

também foram observadas. Alterações patológicas, embora menos frequentes,

também foram observadas, sendo encontrados casos de osteomielite; osteólise;

degenerações ósseas no côndilo mandibular; osteoartrite; osteoartrose e

hiperostose. Ao analisar os dentes, houve uma variação de de 22 a 35 dentes por

ramo. A heterodontia foi observada, possuindo dentes do tipo cone e do tipo

molariforme, sendo encontrado dentes fraturados, com desgastes dentários. Dentres

as alterações patológicas dentárias, foram encontradas cálculo dentário (CD), lesões

semelhantes à cárie (LSC) e corrosões dentárias. Dentre as alterações de

desenvolvimento das arcadas, foram encontradas ossificação do alvéolo e nos

dentes pérola de esmalte, raiz dupla, pares de dentes adjacentes e dentes

supranumerários. Na avaliação da relação entre o desvio de rostro e desgaste

dentário médio utilizou-se a morfometria geométrica tridimensional, onde após as

análises realizadas, não foi observada relação estatisticamente significante entre os

dois fatores, demonstrando que o desvio de rostro e o desgaste médio dos dentes

nos exemplares do gênero Inia spp. analisados neste estudo apresentam uma fraca

relação.

Palavras-chave: sincrânio, dente, alterações morfológicas, alterações patológicas,

alterações traumáticas, morfometria geométrica tridimensional

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ABSTRACT

Despite the large number of bone changes for cetaceans, there are few records about

Inia spp. genre. When evaluating skull bone changes several osteological changes

were observed in 63.8% of the total sample analyzed. Among the morphological

changes we observed the presence of the third condyle; deviation of the rostrum;

prognatism and bragnatism. Traumatic changes were also observed. Pathological

changes, although less frequent, were also observed, cases of osteomyelitis;

osteolysis; bone degeneration in the mandibular condyle; osteoarthritis;

osteoarthroses and hyperostosis were observed. When examining teeth, there was a

variation of 22 to 35 teeth per branch. The heterodontia was observed, having 2 types

of teeth: cone type and molariform type. Were found fractured teeth and teeth with

dental wear. Dentres dental pathological changes were found dental calculus (DC),

similar caries lesions (SCL) and dental corrosion. Among the development changes

were found ossification of the alveoli, pearl enamel, double root, pairs of adjacent

teeth and supernumerary teeth. In assessing the relationship between the deviation of

the rostrum and medium tooth wear, by the geometric morphometric three-

dimensional, where after the analysis performed, there was no statistically significant

relationship between the two factors, demonstrating that the diversion of the rostrum

and the average wear of the teeth Inia spp. gender show a weak relationship in this

study.

Keywords: skull, teeth, morphological alterations, pathological alterations, traumatic

alterations, three-dimensional morphometry

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ÍNDICE

Ficha catalográfica i Dedicatória ii Agradecimentos iii Epígrafe iv Resumo v Abstract vi Índice vii Lista de figuras ix Lista de tabelas xiii Lista de quadros xiv INTRODUÇÃO xv O boto-vermelho xv Alterações ósseas em cetáceos xviii Morfologia dentária em cetáceos e suas alterações xix Morfometria tridimensional xxii REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS xxv OBJETIVOS 1 Objetivo Geral 1 Objetivos Específicos 1 Capítulo 1. Alterações ósseas sincranianas encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

2

Resumo 3 Abstract 4 1.1. Introdução 5 1.2. Material e Métodos 13 1.2.1. Análise de Dados 14 1.3. Resultados 16 1.4. Discussão 24 1.5. Conclusões 28 1.6. Referências Bibliográficas 29 Capítulo 2. Alterações dentárias encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

35

Resumo 36 Abstract 37 2.1. Introdução 38 2.2. Material e Métodos 43 2.2.1. Análise de Dados 46 2.3. Resultados 47 2.4. Discussão 60 2.5. Conclusões 68 2.6. Referências Bibliográficas 69

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Capítulo 3. Relação entre desvios de rostro e o desgaste médio de dentes em boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

75

Resumo 76 Abstract 77 3.1. Introdução 78 3.2. Material e Métodos 81 3.3. Resultados 86 3.4. Discussão 89 3.5. Conclusões 91 3.6. Referências Bibliográficas 92 Considerações Finais 99 ANEXO 100

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1. Alterações ósseas sincranianas encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Figura 01. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista dorso-ventral (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

7

Figura 02. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista: ventro-dorsal (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

8

Figura 03. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista: lateral (direita) (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

9

Figura 04. Crânio do Gênero Inia spp.com destaque para os ossos que o compõem, vista: caudo-cranial (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

10

Figura 05. Mandíbula do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

11

Figura 06. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho – Norte do Brasil. Todos os exemplares encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil. Barra: Linhas a cada 5 graus de latitude e longitude.

14

Figura 07. Linhas de fusionamento utilizadas para a classificação das fases do ciclo de vida no gênero Inia spp.. Faixas etárias: (1) Filhote; (2) Juvenil; (3) Subadulto; (4) Adulto. Setas: laranja: fontanela encontrada em exemplares filhotes; preta: sutura parietal–supraoccipital; rosa: parietal–frontal; azul: parietal–esquamosal. Barra de 5 cm.

15

Figura 08. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao sexo dos exemplares analisados.

17

Figura 09. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação à fase do ciclo de vida dos exemplares analisados.

18

Figura 10. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao tipo de água dos exemplares analisados.

18

Figura 11. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao sexo dos exemplares analisados.

19

Figura 12. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao tipo de água dos exemplares analisados.

19

Figura 13. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao sexo dos exemplares analisados

20

Figura 14. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação à fase do ciclo de vida dos exemplares analisados

21

Figura 15. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao tipo de água dos exemplares analisados

21

Figura 16. Exemplos de alterações morfológicas e alterações traumáticas encontradas no crânio e mandíbula no gênero Inia spp. (1a) crânio sem a presença do terceiro côndilo; (1b) exemplar com presença de terceiro côndilo, indicado pela seta branca; (2a) exemplar com desvio de rostro para direita em terço proximal do rostro; (2b) exemplar com desvio de rostro em mandíbula e

22

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maxila; (3) prognatismo; (4) bragnatismo; (5) presença de cicatriz óssea em corpo de mandíbula, indicado pelas setas pretas; (6) presença de calo ósseo no corpo da mandíbula, indicado pela seta branca. Barras 5 cm. Figura 17. Exemplos de alterações patológicas encontradas no crânio e mandíbula no gênero Inia spp.. (1a) osteomielite em dentário, vista dorsal, indicado pelas setas brancas; (1b) osteomielite em dentário, vista ventral, indicado pelas setas brancas; (2) osteólise em pré-maxilares, indicado pela seta preta; (3) degeneração da articulação temporomandibular, indicada pela seta preta; (4) hiperostose, indicado pelas setas brancas; (5) osteoartrite em côndilo do occipital; (6) osteoartrose em côndilo do occipital. Barras de 5 cm.

23

Capítulo 2. Alterações dentárias encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Figura 01. Diferentes formas de dentes encontrado no boto-vermelho. Barra de 1 cm.

40

Figura 02. Terminologia de orientação utilizada neste trabalho (adaptado de Smith e Dodson, 2003). Barra 1 cm.

42

Figura 03. Captura da presa por Inia geoffrensis (boto-vermelho), no qual o peixe é capturado e apreendido pela dentição cônica em sua longa mandíbula, e então transportado para a parte posterior da cavidade oral para ser esmagada e finalmente deglutida (adaptado de Werth, 2006).

42

Figura 04. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho. Todos os exemplares encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil

44

Figura 05. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente a maior quantidade de dentes encaixados no alvéolo dos exemplares analisados.

48

Figura 06. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 0 em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

49

Figura 07. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 1 em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

50

Figura 08. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 2 em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

51

Figura 09. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 2 em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

52

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Figura 10. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente os dentes com algum grau de desgaste em todos os exemplares de Inia spp. analisados..

53

Figura 11. Comparação do índice médio de desgaste dentário entre machos e fêmeas dos exemplares de Inia spp. analisados (p = 0,9601)

54

Figura 12: Comparação do índice médio de desgaste dentário nas diferentes faixas etárias dos exemplares de Inia spp. analisados (p < 0,0001)

54

Figura 13. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente a presença de cálculo dentário em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

55

Figura 14. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente a maior quantidade de dentes com LSC (lesões semelhante à cárie) em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

56

Figura 15. Exemplos das alterações dentárias encontradas no gênero Inia spp.. (1) tipos de desgaste – 0, 1, 2 e 3 (identificados); (2) má oclusão, gerando desgaste nos dentes; (3) desgaste lateral; (4) presença de cálculo dentário em forma de anel, comumente presente na região de cérvix do dente; (5) (a) raiz sem cálculo dentário, (b) raiz com presença de cálculo dentário; (6) lesão semelhante à cárie (LSC) em região de coroa, em típico formato de funil, seta preta; (7) evolução da LSC, em diversos estágios. Barra de 1 cm.

58

Figura 16. Exemplos das alterações dentárias encontradas no gênero Inia spp.. (1) corrosão de dentes na região de cérvix, indicada pelas setas brancas; (2) pérola de esmalte, início e final representados pelas setas brancas; (3) raiz dupla, indicada pelas setas brancas; (4a) presença de dentes adjacentes, representado pela seta preta; (4b) detalhe de dentes adjacentes; (5a) dente supranumerário, fora da linha dentária comum, indicado pela seta preta; (5b) alvéolos supranumerários, representado por estarem fora da linha dentária comum, indicados pelas setas pretas; (6a) presença de ossificação do alvéolo, entre alvéolo sem alterações e alvéolo com dente, limites definidos pelas setas pretas; (6b) mandíbula com diversas anquiloses alveolares, indicadas pelas setas e setas brancas. Barra 1 cm.

59

Capítulo 3. Relação entre desvios de rostro e o desgaste médio de dentes em boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Figura 01. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho – Norte do Brasil. Todos os exemplares encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil. Barra: Linhas a cada 5 graus de latitude e longitude.

82

Figura 02. Landmarks utilizados no crânio de Inia spp., em vistas (de cima para baixo) dorsal, ventral, lateral direita e posterior. Barra 5 cm

84

Figura 03. Representação gráfica dorso-ventral dos landmarks após a análise de Procrustes

86

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xii

dos crânios dos exemplares de Inia spp. analisados, azul escuro representa o “exemplar médio”, o azul claro o desvio padrão, os pontos menores a variação de cada landmark. Figura 04. Análise de componentes principais, demonstrando a influência que cada componente principal possui na variação da forma dos crânios dos exemplares de Inia spp. analisados

87

Figura 05. Representação gráfica dorso-ventral dos landmarks após a análise de componentes principais dos crânios de Inia spp. analisados

87

Figura 06. Gráfico representando a regressão entre o componente principal 1 (PC1) e o desgaste médio (DM) dos dentes de cada exemplar analisado.

88

Figura 07. Gráfico representando a regressão entre o componente principal 1 (PC1) do rostro e o desgaste médio (DM) dos dentes de cada exemplar de Inia spp. analisado.

88

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xiii

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1. Alterações ósseas sincranianas encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Tabela 01. Distribuição dos exemplares de Inia spp. analisados, separados por Local de Origem, Sexo e Faixa Etária.

16

Capítulo 2. Alterações dentárias encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Tabela 01. Número de alvéolos dentários nas diferentes espécies do gênero Inia spp.

47

Tabela 02. Diagnóstico descritivo das alterações dentárias em cetáceos (adaptado de Miles e Grigson (2003) e Loch et al. (2011)).

45

Tabela 03. Número de alvéolos dentários nas diferentes espécies do gênero Inia spp..

48

Capítulo 3. Relação entre desvios de rostro e o desgaste médio de dentes em boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Tabela 01. Descrição dos landmarks utilizados nesse estudo em crânio de Inia spp. (adaptado de Marcus et al., 2005; Jordan, 2012)

85

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xiv

LISTA DE QUADROS

Capítulo 2. Alterações dentárias encontradas em exemplares de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia spp.)

Quadro 01. Categorias de intensidade dos desgastes dentários em cetáceos, utilizando classes pré-estabelecidas (0-3) (Labrada-Martagón et al., 2006).

44

Quadro 02. Diagnóstico descritivo das alterações dentárias em cetáceos, adaptado de Miles e Grigson (2003) e Loch et al. (2011).

45

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xv

INTRODUÇÃO

O boto-vermelho

O gênero Inia spp. pertence à classe Mammalia, ordem Cetartiodactyla

(Perrin, 2015), subordem Odontoceti, família Iniidae (Zhou et al., 2011; Best e da

Silva, 1993). Este gênero encontra-se distribuído ao longo das bacias hidrográficas

do Orinoco, da Amazônica e do Araguaia-Tocantins (Best e da Silva, 1993), onde se

encontram três espécies de boto-vermelho; Inia geoffrensis, Inia bolivienses e Inia

araguaiaensis (Hrbek et al., 2014).

O boto-vermelho é o maior dos golfinhos de rio e apresenta grande

dimorfismo sexual, com machos maiores do que as fêmeas. Os machos atingem um

comprimento médio de 231,5 centímetros e uma massa de 154 kg, as fêmeas são

menores e atingem aproximadamente 199,8 centímetros e massa média de 99,6 kg.

São corpulentos e pesados, porém extremamente flexíveis: a cabeça pode ser

movimentada em todas as direções (Best e da Silva, 1993).

A velocidade para nadar não é muito elevada, porém são capazes de realizar

manobras muito bem entre árvores nas florestas inundadas. Considerando que os

animais jovens são cinza escuro, botos mais velhos são completamente rosas ou

manchados de rosa com um tom mais escuro em volta. Os machos, além de serem

maiores, também possuem uma coloração mais rosada e maior presença de

cicatrizes, quando comparados com as fêmeas (Best e da Silva, 1993; Martin e da

Silva, 2006).

O boto-vermelho utiliza a ecolocalização para capturar presas, navegar e

perceber seu ambiente. Possui um melão pequeno e flácido, sendo que sua forma

pode ser controlada muscularmente. A frequência desses pulsos não parece ser

significativamente diferente daquela emitida por Tursiops truncatus (golfinho-nariz-

de-garrafa), com 45 kHz sendo uma frequência dominante. Pulsos, que variam entre

16-170 kHz, também são usados para a comunicação entre indivíduos (Best e da

Silva, 1993).

A variação sazonal dos níveis de água da Bacia Amazônica influencia na

distribuição dos botos-vermelhos. No período de seca a maioria dos botos-

vermelhos se distribui às margens dos principais rios, acompanhando a migração

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dos peixes. À medida que o nível de água sobe e torna acessível às áreas

alagáveis, há um aumento no número de botos-vermelhos nestas áreas (Martin e da

Silva, 2004a; Martin e da Silva, 2004b; Martin et al., 2008).

O crânio do boto-vermelho possui características marcantes como rostro

longo e robusto, sendo as mandíbulas fusionadas aproximadamente dois terços de

seu comprimento total (Best e da Silva, 1993). Da Silva (1995), avaliando a

morfometria craniana do gênero Inia spp., demonstrou a existência acentuada de

dimorfismo sexual, onde maioria dos caracteres analisados apresentou diferença

significativa. Pelas análises realizadas foi possível demonstrar que o macho adulto

possui um crânio mais robusto, maior no comprimento total e na largura máxima.

O número de dentes por ramo varia de 24 a 35, apresentando entre 96 e 140

dentes ao total (Best e da Silva 1993). Uma das diferenças entre as espécies do

gênero está na quantidade de dentes por ramo, onde I. boliviensis possui de 31 a 35

dentes por ramo, enquanto I. araguaiaensis possui de 24 a 28 dentes por ramo e I.

geoffrensis de 25 a 29, porém todas as espécies possuem a forma da dentição

semelhante (Hrbek et al., 2014).

No boto-vermelho a heterodontia é observada, possuindo dentes do tipo cone

e dentes molariformes (Loch et al., 2006). Os dentes são cônicos na metade anterior

de cada linha dentária, enquanto que na metade posterior os dentes possuem um

sulco lingual que se estende a partir de cada coroa para o lado labial e uma

depressão no lado lingual, os molariformes (Best e da Silva, 1993).

Os dentes possuem variação na cor, variando do amarelo claro até o

castanho escuro. Todos os dentes possuem uma superfície exterior rugosa que é

causada por um enrugamento suave do esmalte (Best e da Silva, 1993).

Os botos-vermelhos se alimentam de uma grande variedade de peixes. A

alimentação inclui pelo menos 43 espécies diferentes de peixes distribuídos em 19

famílias. Aparentemente preferem peixes das famílias Sciaenidae (pescadas),

Cichlidae (carás), Characidae (piabas) e Serrasalmidae (piranhas). Mas pela

característica de sua dentição ser heterodonte, também lhes permite partir presas

com carapaça, incluindo peixes com escudo cefálico e fileira de escudo ossificado

da família Doradidae (bagre), além outros animais como, por exemplo, iaçá

(Podocnemis sextuberculata) e caranguejo (Poppiana argentiniana) (da Silva, 1983;

Best e da Silva, 1993; da Silva e Best, 1996).

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xvii

O boto-vermelho prende sua presa pelos dentes anteriores, então a transfere

para os molariformes para esmagá-las e posteriormente deglute a presa a partir da

cabeça. O ato de conseguir esmagar suas presas não o deixa restrito a alimentos

que passem direto pelo esôfago, o que é uma limitação para muitos cetáceos. O

rostro longo, o pescoço flexível e os dentes molariformes se mostram como

adaptações para a técnica alimentar (Kastelein et al., 1999).

Além de usá-los para alimentação, os dentes para os botos-vermelhos

também são instrumentos importantes em determinados comportamentos da

espécie, podendo provocar marcas intraespecíficas por meio de mordidas ou outras

interações, que causam cicatrizes, sendo encontradas em indivíduos de todas as

idades, contudo, há uma maior incidência dessas marcas em machos adultos.

Sugerindo que durante o período reprodutivo os machos se tornam mais agressivos

e que há intensa competição pelas fêmeas (Martin e da Silva, 2004a; Martin e da

Silva, 2006; Martin et al., 2008).

Também foi observado o ato de carregar materiais como um comportamento

de exibição sócio sexual. Entre os materiais observados estão as herbáceas

aquáticas (usualmente a gramínea Paspalum sp.), galhos soltos de árvores e

pedaços de barro duro coletados no fundo do rio (Martin et al., 2008).

Por ficarem próximos às margens dos rios, os botos-vermelhos possuem uma

relação próxima com o homem, são muito brincalhões e curiosos, podendo socializar

pelo contato ou até mesmo buscando objetos jogados pelo homem. Há relatos de

botos-vermelhos que agarram remos de pescadores e que se esfregam nas canoas

(Best e da Silva, 1993). Segundo Zappes et al. (2013) esta curiosidade do animal

pode propiciar a ocorrência de acidentes com as embarcações, principalmente as de

pequeno porte.

A interação entre botos-vermelhos e pescadores também pode ser deletéria,

pois muitos os consideram como competidores para sua atividade, o que pode

causar lesões nestes animais, pelas agressões diretas com terçados ou arpões

(Loch et al., 2009; Alves et al., 2012; Iriarte e Marmontel, 2013). Além do mais, há

pescadores que abatem o boto-vermelho e utilizam sua carcaça para a pesca da

piracatinga (Calophysus macropterus) (Iriarte e Marmontel, 2013; Brum et al., 2015).

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xviii

Alterações ósseas em cetáceos

Estudos osteológicos possuem diversas implicações que permitem fazer

inferências biológicas diretas, como modo de locomoção e indiretas, como a

distribuição, evolução e ecologia de uma espécie (Lal Mohan, 1985; Bell et al., 2002;

Cooper et al., 2007).

Adicionalmente, esta linha de estudo é de grande valia na taxonomia, uma

vez que o esqueleto tem sido o sistema mais utilizado para demonstrar relações

filogenéticas entre os cordados (Perrin, 1975; Fettuccia et al., 2009; Fettuccia et al.,

2012; Tanaka e Fordyce, 2014).

Um grande número de situações podem acarretar marcas nos ossos, sendo

estas permanentes e passíveis de serem encontradas mesmo depois do passar de

muito tempo da coleta. Assim, a análise macroscópica dos mesmos pode fornecer

dados relevantes sobre a história de vida de qualquer vertebrado (Simões-Lopes et

al., 2008; Bianucci et al., 2010).

O número de estudos sobre as alterações em ossos de cetáceos tem

aumentado nas últimas décadas. Existem relatos de alterações morfológicas, que

são definidas como a ocorrência de formas não usuais nos ossos dos indivíduos

(Fettuccia et al., 2013). Não indica necessariamente uma doença, e pode variar na

forma, número ou posição anatômica (Sweeney e Ridgway, 1975; Best e da Silva,

1993; Furtado e Simões-Lopes, 1999; Berghan e Visser, 2000; Montes et al., 2004;

Gerholdt, 2006; Van Bressem et al., 2006; Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007;

Watson et al., 2008; Laeta et al., 2010; Groch et al., 2012; Fettuccia et al., 2013;

Marigo et al., 2013).

Alterações traumáticas, geradas por traumas diversos e fraturas, onde muitas

vezes é possível verificar a regeneração do tecido ósseo (calo ósseo) ou cicatriz

óssea, também é uma condição descrita em cetáceos, tendo como principais causas

colisões com embarcações e interações intra e interespecíficas (Ogden et al., 1981;

Kompanje, 1995c; Montes et al., 2004; Bianucci et al., 2010; Oremland et al., 2010;

Hellier et al., 2011; Groch et al., 2012; Fettuccia et al., 2013).

Alterações patológicas, são as alterações estruturais decorrentes de

estímulos anormais que ocorrem nos tecidos ósseos, sejam estas, por processos de

senilidade ou infecciosos, sendo comumente relatadas em cetáceos (Sweeney e

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xix

Ridgway, 1975; Alexander et al., 1989; Junin e Castello, 1995; Kompanje, 1995a;

Kompanje, 1995b; Kompanje, 1995c; Orehmer et al., 1998; Furtado e Simões-Lopes,

1999; Kompanje, 1999; Lucas et al., 1999; Turnbull e Cowan, 1999; Kompanje et al.,

2000; Montes et al., 2004; Moore e Early, 2004; Sweeny et al., 2005; Félix et al.,

2007; Van Bressem et al., 2006; Van Bressem et al., 2007; Hellier et al., 2011; Loch,

2011; Arzi et al., 2013; Fettuccia et al., 2013).

Apesar do grande número de relatos de alterações ósseas para cetáceos, há

poucos registros acerca do gênero Inia spp.. A variação morfológica na terceira

vértebra cervical e no processo neural alongado na sétima vértebra cervical

(Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007) e a polidactilia (Pilleri e Gihr, 1976; Best e da

Silva, 1993) já foram registrados em botos-vermelhos. Mais especificamente ao

crânio, foi observado a presença de terceiro côndilo do occipital, prognatismo da

mandíbula e desvios de maxilares e de mandíbulas (Bohórquez-Mantilla e da Silva,

2007).

Morfologia dentária em cetáceos e suas alterações

Os dentes de mamíferos, assim como os alvéolos dentários, indicam a

experiência de vida de cada indivíduo, podendo ser observada, por exemplo, nos

padrões de desgaste do dente, doenças e perdas dentárias. Assim, os dentes

fornecem evidências de história de vida de um indivíduo, refletem parâmetros como

hábitos alimentares, relações filogenéticas, influências do ambiente em que vivem e

até a idade aproximada do animal (Perrin, 1975; Loch et al., 2006; Cuozzo e

Sauther, 2006).

Os animais da classe Mammalia podem ser divididos em monofiodontes, são

aqueles que geram um único conjunto de dentes durante toda a vida (dentes

permanentes); os polifiodontes, os quais fazem trocas de dentes durante toda a vida;

e os difiodontes que são aqueles que geram dois conjuntos de dentes durante a

vida, os decíduos e os secundários (Flower, 1868).

Os dentes também podem ser classificados por sua forma, animais com todos

os dentes similares ou somente com um tipo de dentição são chamados de

homodontes; já os animais que possuem dois ou mais tipos de dentes diferentes são

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conhecidos como heterodontes, estando nesta categoria os demais mamíferos

(Flower, 1868; Keene, 1991).

Os cetáceos em geral são classificados como monofiodontes, ou seja,

possuem somente uma dentição durante a vida; e homodontes, ou seja, dentes com

formato similar (Flower, 1868; Keene, 1991). Outra característica diferenciada na

dentição de cetáceos é a polidontia, ou seja, um número maior de dentes quando

comparados com os outros mamíferos. A polidontia foi provavelmente alcançada

inicialmente em odontocetos primitivos, como Bunophorus, Elomeryx, entre outros,

pela intercalação de dentes permanentes e decíduos, e mais tarde pela adição de

dentes supranumerários (Fordyce, 1982; Wolsan, 1984).

A maioria dos cetáceos odontocetos possui dentes de formato cônico,

levemente curvados para a região lingual. Esta condição é uma modificação

secundária de uma adaptação para a alimentação, na qual as presas são

apreendidas e engolidas sem mastigação. Alguns cetáceos, porém, apresentam

pequenas modificações a este padrão. Por exemplo os representantes da família

Phocoenidae, que possuem dentição espatuliforme (Loch et al., 2006).

Outro tipo de dentição diferenciada em cetáceos ocorre com a espécie

Monodon monoceros (narval), que possui o dente incisivo superior esquerdo mais

desenvolvido que os outros, os zifídeos (baleias de bico), que possuem variações

morfológicas entre os dentes, e no gênero Inia spp. que possui dois tipos

difererenciados em sua dentição (Best e da Silva, 1993; Loch et al., 2006).

Existem alterações dentárias relatadas para cetáceos, para as quais devem

ser dada importância, uma vez que trazem informações sobre a biologia e história de

vida destes animais. A ocorrência destas alterações é causada pelo o uso da

dentição durante a vida do animal e pode ser diferenciada entre as espécies pelo

tipo de alimentação, comportamento e oclusão dentária (Loch e Simões-Lopes,

2013b).

Para cetáceos foram relatados as seguintes alterações dentárias, fraturas

dentárias (Loch et al., 2006; Van Bressem et al., 2006); desgaste de dentes

(Caldwell e Brown, 1964; Van Bressem et al., 2006; Brooks e Anderson, 1998; Loch

et al., 2006; Thewissen et al., 2011; Afonso, 2012; Loch e Simões-Lopes, 2013a);

cálculo dentário (Loch et al., 2006; Loch et al., 2011); lesões semelhantes à cárie

(Brooks e Anderson, 1998; Loch et al., 2006; Loch et al., 2011); corrosões dentárias

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(Loch et al., 2011; Loch et al., 2013); anquilose alverolar (Montes et al., 2004; Van

Bressem et al., 2006); pérola de esmalte (Brooks e Anderson, 1998); dentes

adjacentes (Van Bressem et al., 2006); pigmentação exógena (Loch et al., 2011);

dentes geminados (Luque et al., 2009; Loch et al., 2011); alterações na forma (Loch

et al., 2011); reabsorção de raiz (Loch et al., 2011); hipoplasia do esmalte (Brooks e

Anderson, 1998; Loch et al., 2011); reabsorção de dentina (Luque et al., 2009) e

distúrbios no cemento (Luque et al., 2009)

As anomalias dentárias em mamíferos compreendem alterações no número,

forma, tamanho, posição e oclusão dos dentes. Anomalias de modo geral, estão

mais relacionadas a distúrbios genéticos, de desenvolvimento e patologias, além de

também demonstrar a parte filogenética quando são interpretados como tendências

evolutivas (Drehmer et al., 2012). Entre as alterações mais citadas em mamíferos

estão o desgaste, as cáries e as perdas dentárias, que podem resultar em

ossificação do alvéolo (Caldwell e Brown, 1964; Brooks e Anderson, 1998; Van

Bressem et al., 2006; Loch et al., 2006; Loch et al., 2011; Thewissen et al., 2011;

Afonso, 2012; Loch e Simões-Lopes, 2013a).

O desgaste dos dentes acontece pela combinação de três processos

principais: abrasão (desgaste produzido pela interação dos dentes com outros

materiais), atrito (desgaste por contato dente-dente) e corrosão (dissolução do tecido

duro por substâncias ácidas). Um processo adicional, que tem sido citado mais

recentemente é a abfração (micro-lesões na região cervical do dente, causadas por

força da oclusão dentária) que pode potenciar o desgaste por abrasão e/ou corrosão

(Grippo et al., 2004; Addy e Shellis, 2006; Thewissen et al., 2011; Lucas e Omar,

2012).

O resultado de desgaste do dente é uma complexa interação de variáveis, ou

seja, é um processo multivariado, incluindo o comportamento, dieta, propriedades do

alimento desta dieta, mastigação e processamento de alimentos, morfologia dentária

e a quantidade de esmalte (Grippo et al., 2004; Cuozzo e Sauther, 2006).

Já a cárie dentária em seres humanos é um processo de destruição dos

tecidos dentários que começa no esmalte e em seguida penetra a dentina (Brooks e

Anderson, 1998). Também conhecida por biocorrosão, a perda do tecido duro do

dente é causada por corrosivos que são produzidos pela placa bacteriana residente.

A etiologia da cárie é um processo geralmente aceito como envolvendo tanto o

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agente bacteriano acidogênico quanto mecanismos proteolíticos (Grippo et al.,

2004).

Aceitam-se geralmente que em seres humanos dois organismos,

Streptococcus mutans e Lactobacillus acidophilus, sejam os responsáveis pela

produção de ácido que primeiro descalcifica o conteúdo mineral do esmalte. Isto

então permite a penetração e infecção da dentina subjacente, resultando em um

amolecimento, e a subsequente perda de tecido da dentina (Brooks e Anderson,

1998).

A lesão gerada pela cárie assemelha-se há uma cavidade em forma de funil

(Loch et al., 2011), porém não se pode afirmar que a etiologia descrita para a cárie

em humanos é a mesma nos mamíferos silvestres. Portanto, Miles e Grigson (1990)

sugerem a adoção do termo „lesões semelhantes à cárie‟ (LSC) para se referir às

lesões destrutivas de origem desconhecida que se assemelham às cáries dentárias

humanas, porém sem análise histológica para a confirmação da etiologia (Brooks e

Anderson, 1998).

Em humanos, nos alvéolos a presença de anquilose (perda da função) está

relacionada com a perda de dentes em vida, dentes perdidos após a morte do

animal deixam alvéolos ocos. A presença de ossificação do alvéolo é caracterizada

pelo preenchimento de tecido ósseo no alvéolo. As principais causas de ossificação

do alvéolo são a dieta e o modo como ela é consumida, desgastes dentários

extensos e estrutura do dente (Cuozzo e Sauther, 2006).

No boto-vermelho, já foi relatado a presença de fraturas nos dentes (Ness,

1966; Best e da Silva, 1993; da Silva, 1995; Loch et al., 2006); desgaste dentário

(Ness, 1966; Best e da Silva, 1993; da Silva, 1995); cálculo dentário (Ness, 1966;

Best e da Silva, 1993; da Silva, 1995; Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007; Loch et

al., 2006); e lesões semelhantes à cárie (Ness, 1966; Loch et al., 2006).

Morfometria tridimensional

Em morfometria geométrica, as informações geométricas dos objetos são

comparadas entre si, podendo ser, em duas dimensões (2D) e atualmente em três

dimensões (3D), sendo uma evolução da morfometria linear (tradicional) (Slice,

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xxiii

2001; Fahlke e Hampe, 2015). É considerada uma técnica poderosa para o estudo

de variações nas formas biológicas (Nicolosi e Loy, 2014). Estes métodos estão

sendo cada vez mais utilizados para tratar uma ampla gama de questões ecológicas

e evolutivas (Slice, 2001; Rohlf, 2000).

A morfometria em três dimensões (3D) é a técnica mais recente das três

apresentadas. Pode ser utilizada como uma ferramenta para separar subespécies,

como, por exemplo, Galatius e Gol‟din (2011), investigaram a ontogenia esquelética,

comparando as toninhas-comuns da Califórnia, do oeste da Groenlândia, da

Dinamarca e do Mar de Azov. Essa comparação morfométrica apoia a atual divisão

de toninha-comum (Phocoena phocoena (L., 1758) em três subespécies (Phocoena

phocoena phocoena (L., 1758), Phocoena phocoena relicta (Abel, 1905) e Phocoena

phocoena vomerina (Gill, 1865) .

Loy et al. (2009) também analisaram crânios de diferentes localidades, porém

da espécie Stenella caeruleoalba (golfinho-riscado) do Mar Mediterrâneo e das

costas litorâneas da França e Escócia, com a análise morfométrica em 3 dimensões,

encontrando semelhança entre as populações do Mar Mediterrâneo e da costa da

França, quando comparados à população da costa da Escócia, que possui crânios

mais largos, relacionando esta variação com fatores filogenéticos e adaptativos.

A morfometria 3D também é utilizada para demonstrar as mudanças

ontogenéticas de uma espécie. Sydney et al. (2012) estudou a ontogenia em Sotalia

guianensis (boto-cinza), onde demonstrou que o padrão de alteração de forma

ontogenética desta espécie é semelhante ao descrito para os outros grupos de

delfinídeos, com o rostro demonstrando um maior crescimento inicialmente, mas

taxa de variação diminui rapidamente, enquanto o neurocrânio mostra uma taxa de

crescimento lento, levando a mudanças de forma persistentes e localizadas ao longo

da vida adulta.

A fim de analisar a variação forma, marcos anatômicos homólogos

(landmarks) são coletados em todos os objetos para comparação, e estes landmarks

são sobrepostos utilizando a análise Procrustes generalizada (Goodall, 1991). O

ajuste de Procrustes minimiza a soma do quadrado das distâncias entre pontos de

referência de todos os objetos correspondentes à configuração média, removendo

assim variação no tamanho, posição e orientação. A distância de Procrustes pode

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xxiv

ser utilizada como uma medida da diferença global entre as formas (Rohlf, 1999;

Theobald e Wuttke, 2006; Fahlke e Hampe, 2015).

O tamanho do objeto passa a ser refletido pelo tamanho do centroide, que é a

raiz quadrada da soma dos quadrados das distâncias dos pontos de referência do

centroide. Após o ajuste de Procrustes, uma projeção ortogonal das coordenadas da

forma Procrustes é usada para analisar variação de forma, geralmente por análises

estatísticas multivariada (Fahlke e Hampe, 2015).

Quando se compara objetos que possuem assimetria, como é o caso de

crânios de cetáceos, os efeitos da variação do componente simétrico e do

componente assimétrico são analisados separadamente (Klingenberg et al., 2002).

Este processo envolve o cálculo da média da posição de cada landmark de cada

exemplar envolvido na análise. Esta coleção de médias das coordenadas de cada

landmark é conhecida como “exemplar médio” ou “exemplar consenso”, necessário

para calcular a variação da forma. Desvios nos landmarks de cada exemplar quando

comparado com o “exemplar médio”, compreendem as variações das formas

(Barroso et al., 2012).

Utilizando a morfometria 3D, uma forma simétrica é calculada para cada

amostra por uma média das formas do original, sendo a assimetria definida como o

desvio do original em relação à essa forma simétrica calculada. Já o componente

assimétrico é quantificado pelas diferenças entre as configurações dos landmarks

originais e as configurações espelhadas, é equivalente aos desvios dos landmarks

do “exemplar consenso” em relação às imagens originais (Klingenberg et al., 2002;

Klingenberg, 2011; Fahlke e Hampe, 2015).

Sendo assim, busca-se neste trabalho abordar todas as formas de alterações

osteológicas cranianas, assim como as dentárias encontradas no crânio dos

golfinhos de água doce do gênero Inia spp.. Os temas serão tratados em capítulos

na seguinte ordem: alterações cranianas (Capítulo 1), alterações dentárias (Capítulo

2), e relação entre desvio de rostro e desgaste dentário (Capítulo 3).

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1

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Aumentar o conhecimento sobre o gênero Inia spp., em especial sobre as

alterações osteológicas sincranianas e dentárias.

Objetivos Específicos

I. Registrar as alterações osteológicas sincranianas para Inia spp.;

II. Verificar se as alterações osteológicas sincranianas são diferentes entre os

sexos, fases do ciclo de vida, tipos de água e espécies para Inia spp.;

III. Registrar as alterações dentárias para Inia spp.;

IV. Verificar se as alterações dentárias são diferentes entre os sexos, fases do

ciclo de vida, tipos de água e espécies para Inia spp.;

V. Verificar relação entre o desvio de rostro e o desgaste dentário para Inia spp..

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2

CAPÍTULO 1

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3

1. Alterações ósseas sincranianas encontradas em exemplares

de boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae,

Inia spp.)

Resumo. Foram avaliados 105 exemplares do gênero Inia spp. para verificar a

presença de alterações morfológicas, traumáticas e patológicas nas estruturas

ósseas sincranianas. Os sincrânios foram classificados em quatro fases do ciclo de

vida, utilizando como referência o grau de fusão das linhas de sutura do crânio, em

filhote, juvenil, subadulto e adulto. Foram observadas alterações osteológicas em

63,8% dos exemplares analisados. Dentre as alterações morfológicas observadas

estavam a presença do terceiro côndilo em 36,3% (N = 37), não sendo encontradas

diferenças estatísticas entre os sexos (p = 0,9240), as fases do ciclo de vida (p =

0,5201) e entre os tipos de água (p = 0,5678); desvio do rostro em 25,7% (N = 27),

não apresentando diferenças estatísticas entre o sexo (p = 0,3234), fases do ciclo de

vida (p = 0,2540) e tipo de água (p = 0,3993), estando relacionado com o processo

de telescoping; prognatismo em 12,5% (N =12); e bragnatismo em 2,1% (N = 02). As

alterações traumáticas, ou seja, as fraturas foram observadas em 36,7% do total de

exemplares (N = 38) sendo todos exemplares adultos, não apresentando relação

estatística entre os sexos (p= 0,7759), e entre os tipos de água (p = 0,8141). As

alterações patológicas, embora menos frequentes, também foram observadas.

Foram encontrados três casos de osteomielite (2,8%); três degenerações ósseas no

côndilo mandibular (2,8%); um caso de osteoartrite (0,9%); cinco casos de

osteoartrose (4,7%); e um caso de hiperostose (0,9%). Os exemplares adultos

apresentaram uma maior predisposição aos diversos tipos de alterações ósseas

encontradas nos exemplares analisados. As lesões dos alvéolos dentários parecem

ser a causa para o aparecimento de osteólise e osteomielite nos rostros dos animais

do gênero Inia spp., tendo em vista a localização dos mesmos.

Palavras-chave: sincrânio, alterações, morfológicas, traumáticas, patológicas.

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4

Abstract. 105 specimens of the genus Inia spp. were evaluated for the presence of

morphological, traumatic and pathological changes in the skull bone structures. The

skulls were classified into four stages of the life cycle, using as reference the degree

of fusion of the skull suture lines, into puppy, juvenile, subadult and adult.

Osteological changes were observed in 63.8% of the analyzed samples. Among the

morphological changes we observed the present in the third condyle 36.3% (N = 37),

there was not found statistically significant differences between males and females (p

= 0.9240) phases of the life cycle (p = 0.5201 ) and between the water types (p =

0.5678); rostrum deviation in 25.7% (N = 27) did not show statistical differences

between sex (p = 0.3234), life cycle stages (p = 0.2540) and water type (w = 0, 3993)

related to the telescoping process; prognatism in 12.5% (N = 12); and bragnatism in

2.1% (N = 02). Traumatic changes, or fractures were observed in 36.7% of samples

(N = 38), all were adult specimens, with no significant statistical relationship between

the sexes (p = 0.7759) and between types of water (p = 0.8141). Pathological

changes, although less frequent, were also observed. Three cases of osteomyelitis

(2.8%) were found; three bone degeneration in the mandibular condyle (2,8%); one

case of osteoarthritis (0,9%); five cases of osteoarthritis (4.7%); and a case of

hyperostosis (0.9%). Adult specimens showed a higher predisposition to various

types of bone changes founded in the analyzed specimens. Lesions in the dental

alveoli seem to be the cause for the occurrence of osteolysis and osteomyelitis in the

rostrums in the animals of the genus Inia spp., in view of their location.

Keywords: skull, alterations, morphological, traumatic, pathological.

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5

1.1 Introdução

Estudos osteológicos possuem diversas implicações que permitem fazer

inferências biológicas diretas, como o modo de locomoção e indiretas, como a

distribuição, evolução e ecologia de uma espécie (Lal Mohan, 1985; Bell et al., 2002;

Cooper et al., 2007). Sendo também uma ferramenta muito utilizada para estudos

taxonômicos, possibilitando demonstrar relações filogenéticas (Perrin, 1975;

Fettuccia, 2006; Tanaka e Fordyce, 2014).

Um grande número de situações pode acarretar em marcas nos ossos, sendo

estas permanentes e passíveis de serem encontradas mesmo depois do passar de

muito tempo da coleta. Assim, a análise macroscópica dos ossos pode fornecer

dados relevantes sobre a história de vida de qualquer vertebrado (Simões-Lopes et

al., 2008; Bianucci et al., 2010).

O número de estudos sobre as alterações ósseas em cetáceos tem

aumentado nas últimas décadas. Sendo relatada a ocorrência tanto de alterações

morfológicas quanto traumáticas e patológicas (Sweeny et al., 2005; Félix et al.,

2007; Van Bressem et al., 2006; Van Bressem et al., 2007; Kompanje, 1999; Montes

et al., 2004).

As alterações morfológicas, definidas como a ocorrência de formas não

usuais nos ossos dos indivíduos (Fettuccia et al., 2013), e não indica

necessariamente uma doença, e pode variar na forma, número ou posição

anatômica (Sweeney e Ridgway, 1975; Best e da Silva, 1993; Furtado e Simões-

Lopes, 1999; Berghan e Visser, 2000; Montes et al., 2004; Gerholdt, 2006; Van

Bressem et al., 2006; Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007; Watson et al., 2008;

Laeta et al., 2010; Groch et al., 2012; Fettuccia et al., 2013; Marigo et al., 2013).

Alterações traumáticas, causadas por traumas diversos e fraturas, onde

muitas vezes é possível verificar a regeneração do tecido ósseo (calo ósseo) ou

cicatriz óssea, também é uma condição descrita em cetáceos (Ogden et al., 1981;

Kompanje, 1995c; Montes et al., 2004; Bianucci et al., 2010; Oremland et al., 2010;

Hellier et al., 2011; Groch et al., 2012; Fettuccia et al., 2013).

Alterações patológicas, são as alterações estruturais decorrentes de

estímulos anormais que ocorrem nos tecidos ósseos, sejam estas, por processos de

senilidade ou infecciosos, sendo comumente relatadas em cetáceos (Sweeney e

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6

Ridgway, 1975; Alexander et al., 1989; Junin e Castello, 1995; Kompanje, 1995a;

Kompanje, 1995b; Kompanje, 1995c; Orehmer et al., 1998; Furtado e Simões-Lopes,

1999; Kompanje, 1999; Lucas et al., 1999; Turnbull e Cowan, 1999; Kompanje et al.,

2000; Montes et al., 2004; Moore e Early, 2004; Sweeny et al., 2005; Félix et al.,

2007; Van Bressem et al., 2006; Van Bressem et al., 2007; Hellier et al., 2011; Loch,

2011; Arzi et al., 2013; Fettuccia et al., 2013).

Apesar do grande número de relatos de alterações ósseas para cetáceos, há

poucos estudos acerca do gênero Inia spp., foco deste estudo. Em um estudo com o

mesmo gênero realizado por Bohórquez-Mantilla e da Silva (2007) foi relatada

variação morfológica na terceira vértebra cervical e no processo neural alongado na

sétima vértebra cervical. Também há casos de polidactilia registrados para boto-

vermelho (Pilleri e Gihr, 1976; Best e da Silva, 1993).

Para alterações cranianas há o relato de Bohórquez-Mantilla e da Silva

(2007), que examinaram um total de 62 exemplares de Inia spp., onde foram

observados a presença de terceiro côndilo do occipital, o desvio de maxilares e

mandíbulas, onde não foram observadas diferenças estatísticas entre faixa etária

(adulto e imaturo), sexos ou tipos de água; também foi relatada presença de

prognatismo da mandíbula, sendo relacionada com o tipo de água de onde vieram

estes exemplares.

Os crânios dos cetáceos passaram por um processo conhecido como

telescoping, caracterizado pelo movimento anterior do osso supraocciptal e

moviemnto posterior da abertura nasal, sendo que os odontocetos exibem

sobreposição das maxilas sobre os ossos frontais (Geisler e Sanders, 2003). O

crânio do boto-vermelho também apresenta essas modificações cranianas quando

comparada com outros mamíferos e possui como características marcantes o rostro

longo e robusto, e o fusionamento de aproximadamente dois terços de seu

comprimento total (Figuras 01 a 05).

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7

Figura 01. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista dorso-

ventral (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

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8

Figura 02. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista: ventro-

dorsal (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

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9

Figura 03. Crânio do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem, vista: lateral

(direita) (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

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10

Figura 04. Crânio do Gênero Inia spp.com destaque para os ossos que o compõem, vista: caudo-

cranial (adptado de da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

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11

Figura 05. Mandíbula do Gênero Inia spp. com destaque para os ossos que o compõem (adptado de

da Silva, 1994; Mead e Fordyce, 2009). Barra 5 cm

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12

O boto-vermelho é o maior dos golfinhos de rio e apresenta grande

dimorfismo sexual com machos bem maiores do que as fêmeas (Martin e da Silva,

2006). Estudo de morfometria do crânio demonstrou a existência acentuada de

dimorfismo sexual dentro do gênero Inia spp., cuja maioria dos caracteres

analisados apresentou diferença significativa. Com as análises realizadas foi

possível demonstrar que o macho adulto possui um crânio mais robusto, maior no

comprimento total e na largura máxima (da Silva, 1995).

Machos adultos também possuem maior incidência de marcas

intraespecíficas de dentes, sugerindo que durante o período reprodutivo os machos

se tornam mais agressivos, havendo uma intensa competição pelas fêmeas (Martin

e da Silva, 2004a; Martin e da Silva, 2006; Martin et al., 2008).

Além da disputa entre os machos pelo acesso à fêmea, também foi observado

o ato de carregar materiais com a boca como um comportamento de exibição sócio

sexual. Entre os materiais observados estão as herbáceas aquáticas (usualmente a

gramínea Paspalum sp.), galhos soltos de árvores e pedaços de barro duro

coletados no fundo do rio (Martin et al., 2008).

Os botos habitam as margens dos rios principais, mas também são

amplamente vistos na floresta alagada, uma vez que a eles possuem o rostro longo,

mobilidade na nadadeira peitoral e não possuem o fusionamento das vertebras

cervicais, o que lhes confere maior flexibilidade para o deslocamento neste tipo de

ambiente, que possui uma grande diversidade de alimento (Martin e da Silva, 2004a;

Martin e da Silva, 2004b; Martin et al., 2008).

Por ficarem próximos às margens dos rios e serem muito brincalhões e

curiosos, os botos-vermelhos possuem uma relação próxima com o homem,

podendo socializar pelo contato ou até mesmo buscando objetos jogados pelo

homem. Há relatos de botos-vermelhos que agarram remos de pescadores e que se

esfregam nas canoas (Best e da Silva, 1993). Segundo Zappes et al. (2013) esta

curiosidade do animal pode propiciar a ocorrência de acidentes com as

embarcações, principalmente as de pequeno porte.

Porém, a interação entre botos-vermelhos e pescadores pode ser deletéria,

pois muitos os consideram como competidores para sua atividade, o que pode

causar lesões nestes animais, por agressões diretas com terçados ou arpões (Loch

et al., 2009; Alves et al., 2012; Iriarte e Marmontel, 2013). Além do mais, há

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13

pescadores que abatem o boto-vermelho e utilizam sua carcaça para a pesca da

piracatinga (Calophysus macropterus) (Iriarte e Marmontel, 2013; Brum et al., 2015).

Tendo em vista os riscos e ameaças pelas quais os botos-vermelhos passam

durante a vida, este trabalho visa aumentar o conhecimento sobre as alterações

ósseas sincranianas neste gênero e fornecer subsídios para melhor compreender os

hábitos de vida, e fatores ambientais e comportamentais que possam afetar a saúde

destes animais.

1.2 Material e Métodos

Foram avaliados 102 crânios e 99 mandíbulas de 105 exemplares do gênero

Inia spp. (73 I. geoffrensis; 19 I. araguaiaensis e 13 exemplares de espécie

desconhecida) dos quais 96 exemplares estavam completos (com crânio e

mandíbula). Esse material foi coletado entre os anos 1975 e 2014 e provindos de

diversas localidades das bacias Amazônica e Tocantins-Araguaia (Figura 06). O

material analisado está depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto

Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA), localizado na cidade de Manaus/AM,

Brasil (INPA MA 001, 004, 006, 010-012, 021, 022, 025, 027, 030-036, 042, 044-046,

048, 049, 058, 061, 063, 064, 066, 070, 075, 076, 083-086, 089-091, 092F, 092V,

093-095, 098-109, 112, 114-117, 119, 153-159, 161, 162, 167-170, 172, 173, 176-

192, 195-204, 206, 580).

Os crânios foram classificados em quatro fases de ciclo de vida, utilizando

como referência o grau de fusão das linhas de sutura do crânio, levando em

consideração as linhas de fusionamento entre os ossos parietal–frontal, parietal–

supraoccipital, parietal–esquamosal (Figura 07), adaptado de Galatius e Gol‟din

(2011) e Fettuccia (2010), sendo:

1 – Filhote: sem fusão, ausência de sutura aparente na margem dos ossos e

presença de fontanela;

2 – Juvenil: sem fusão aparente na superfície externa do crânio, margens dos

ossos apresentam sutura aparente;

3 – Subadulto: fusão parcial aparente na superfície externa do crânio;

4 – Adulto: fusão completa dos ossos, suturas obliteradas na superfície

externa do crânio.

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14

Figura 06. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho – Norte do Brasil. Todos

os exemplares encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de

Pesquisas Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil. Barra: Linhas a cada 5 graus de

latitude e longitude.

As alterações encontradas foram registradas por fotografia, identificadas por

exame macroscópico direto, analisadas, descritas e agrupadas em três grupos

distintos: alterações patológicas, traumáticas e morfológicas (adaptado de Montes et

al., 2004 e Fettuccia, 2010).

1.2.1 Análise de Dados

Das alterações encontradas, a presença do terceiro côndilo, o desvio de

rostro e as fraturas, foram comparadas as suas frequências de ocorrência entre

sexos (macho e fêmea), nas diferentes fases do ciclo de vida (filhote, juvenil,

subadulto e adulto), por tipo de água de origem do animal (branca, preta e clara) e

espécies (I. geoffrensis e I. araguaiaenses) utilizando o teste Qui-quadrado. Para as

outras alterações encontradas não foi possível realizar teste estatístico devido ao

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15

baixo número de ocorrência das mesmas. Para as análises e confecção dos

gráficos, foi utilizado o programa Microsoft Excel.

Figura 07. Linhas de fusionamento utilizadas para a classificação das fases do ciclo de vida

no gênero Inia spp.. Faixas etárias: (1) Filhote; (2) Juvenil; (3) Subadulto; (4) Adulto. Setas: laranja:

fontanela encontrada em exemplares filhotes; preta: sutura parietal–supraoccipital; rosa: parietal–

frontal; azul: parietal–esquamosal. Barra de 5 cm.

1 - Filhote

2 - Jovem

3 - Subadulto

4 - Adulto

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16

1.3 Resultados

Dos 105 exemplares analisados, 22 eram fêmeas, sendo três filhotes, quatro

jovens, sete subadultas e oito adultas; 37 eram machos, sendo três filhotes, seis

jovens, seis subadultos e 22 adultos; e 46 de sexo indefinido, sendo quatro filhotes,

sete jovens, 10 subadultos e 25 adultos. Conforme descrito na tabela 01.

Tabela 01. Distribuição dos exemplares de Inia spp. analisados, separados por Local de Origem,

Sexo e Faixa Etária.

Local de Origem

Sexo

TOTAL Fêmea Macho Indefinido

F J S A F J S A F J S A

Rio Araguaia 1 2 3 6

Rio Japurá 1 1 1 1 1 1 2 3 1 12

Rio Juruá 1 1

Rio Madeira 1 1 2

Rio Negro 1 1 1 2 1 1 1 1 9

Rio Purus 1 2 3

Rio Solimões 1 1 1 2 1 3 3 9 2 3 11 37

Rio Tapajós 2 2

Rio Tocantins 1 2 3 3 1 7 1 18

Rio Uatumã 1 1 2

Rio Xingu 1 1

Sem localização 1 3 3 5 12

TOTAL 3 4 7 8 3 6 6 22 4 7 10 25 105

TOTAL GERAL 22 37 46 Legenda: (F) filhote; (J) jovem; (S) subadulto; (A) adulto

Foram observadas alterações osteológicas em 67 exemplares, representando

63,8% do total analisado (N = 105). Foram encontradas, tanto alterações

morfológicas, quanto traumáticas e patológicas.

Dentre as alterações morfológicas observadas estavam a presença do

terceiro côndilo, desvio do rostro, prognatismo e bragnatismo (Figuras 08, 09 e 10).

A presença do terceiro côndilo (Figura 16-1b) foi observada em 36,3% dos

exemplares (N = 37). O terceiro côndilo é identificado como a presença de uma

protuberância óssea localizada entre os côndilos dos occipitais, sendo esta a

alteração mais encontrada. Destes 37, em relação ao sexo, 13 eram machos, oito

eram fêmeas e 16 de sexo indefinido, não havendo diferença estatística entre os

sexos (p = 0,9240). Também não foi observado diferenças estatística entre as fases

do ciclo de vida (p = 0,5201), onde três eram filhotes, cinco jovens, seis subadultos e

23 em adultos; entre os tipos de água (p = 0,5678), onde seis eram sem localização,

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17

12 de água branca, nove de água clara e 10 de água preta. Não houve diferença

estatística entre as espécies (p = 0,2218), sendo 22 I. geoffrensis, nove I.

araguaiaensis e seis de espécie desconhecida.

O desvio de rostro (Figura 16-2a e 2b), segunda alteração mais encontrada

dentre os exemplares deste estudo, foi observado em 25,7% dos exemplares (N =

27), podendo ser observados de diversas maneiras, com desvio à esquerda, à

direita ou rotacionado no próprio eixo. Destes 27, em relação ao sexo nove eram

machos, oito são fêmeas e 10 de sexo indefinido, não sendo encontrada diferença

estatística (p = 0,3234). Também não foram encontradas diferenças estatística

perante à classe etária (p = 0,2540), onde um era filhote, dois eram jovens, sete

subadultos e 17 adultos; e em relação ao tipo de água (p = 0,3993), onde três eram

sem localização, sete de água branca, 10 de água clara e sete de água preta.

Também não foi encontrata relação estatística entre as espécies (p = 0,0715), sendo

15 I. geoffrensis, nove I. araguaiaensis e três de espécie desconhecida.

O prognatismo (Figura 16-3), caracterizado pelo excesso de crescimento

mandibular e foi observado em 12,5% dos exemplares (N = 12), em relação ao sexo

quatro eram machos, três eram fêmeas e cinco de sexo indefinido. Ao considerar a

classe etária um era filhote, dois eram subadultos e nove adultos e esta alteração

não foi encontrada em exemplares jovens, desses apenas um era I. araguaiaensis.

O bragnatismo (Figura 16-4), excesso de crescimento da maxila, foi observado em

2,1% dos exemplares (N = 02), sendo estes dois exemplares de sexo indeterminado

e adultos, sendo um I. geoffrensis e um I. araguaiaensis.

Figura 08. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação

ao sexo dos exemplares analisados.

0

2

4

6

8

10

12

14

Presença de 3° Côndilo Desvio de Rostro Prognatismo

Fêmea

Macho

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18

Figura 09. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação à

fase do ciclo de vida dos exemplares analisados.

Figura 10. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação

ao tipo de água dos exemplares analisados.

As alterações traumáticas (Figuras 11 e 12), ou seja, as fraturas (Figura 16-5)

também foram observadas, sendo em 20 exemplares adultos, sendo oito água

branca, três água clara e sete água preta; três fêmeas, nove machos e nove de sexo

indefinido. Em relação às espécies 15 era, I. geoffrensis e três I. araguaiaensis.

0

5

10

15

20

25

Presença de 3°Côndilo

Desvio de Rostro Prognatismo Bragnatismo

Filhote

Juvenil

Subadulto

Adulto

0

2

4

6

8

10

12

14

Presença de 3°Côndilo

Desvio de Rostro Prognatismo Bragnatismo

Branca

Clara

Preta

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Em relação a presença de fraturas nos exemplares de Inia spp. analisados

não houve relação estatística entre os sexos (p = 0,7759), entre os tipos de água (p

= 0,8141), entre as espécies (p = 0,0671).

Figura 11. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação

ao sexo dos exemplares analisados.

Figura 12. Frequência das alterações morfológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação

ao tipo de água dos exemplares analisados.

As alterações patológicas (figuras 13-15), embora menos frequentes, também

foram observadas. Foram encontrados três casos de osteomielite (2,8%),

apresentando um aumento anormal dos ossos (Figura 17-1a e 1b), em uma fêmea e

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Total

Fêmea

Macho

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Total

Branca

Clara

Preta

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20

dois exemplares de sexo indefinido; em relação à fase do ciclo de vida um subadulto

e dois adultos, sendo dois de água clara e I. araguaiaensis; e quatro casos de

osteólise (2,8%), com perda de tecido ósseos (Figura 17-2), sendo dois machos e

dois de sexo indefinido, todos adultos, sendo um I. araguaiaensis e três I.

geoffrensis.

Também foram encontradas três degenerações ósseas no côndilo

mandibular, que faz parte da articulação temporomandibular (ATM), caracterizadas

pelas cavidades irregulares nestas articulações (2,8%) (Figura 17-3), em um macho,

uma fêmea e um animal de sexo indeterminado, sendo um jovem e dois adultos.

Destes um é I. araguaiaensis, um I. geoffrensis e um de espécie indefinida.

Foi encontrado um caso de osteoartrite (0,9%) (Figura 17-5), demonstrado

como cavidades irregulares na ATM em filhotes ou jovens, encontrado em um

macho filhote de água branca I. geoffrensis. Cinco casos de osteoartrose (4,7%)

foram registrados nos côndilos dos occipitais, apresentado de forma semelhante à

osteoartrite, porém observado em indivíduos maturos (Figura 17-6), em dois

machos, uma fêmea e dois de sexo indefinido, sendo dois subadultos e três adultos,

sendo quatro I. geoffrensis de água branca e um I. araguaiaensis de água clara ; e

um caso de hiperostose (0,9%), caracterizado por proliferação exacerbada do tecido

ósseo (Figura 17-4), em um adulto macho de água clara I. geoffrensis.

Figura 13. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao

sexo dos exemplares analisados

0

1

2

3

Osteomielite Osteólise Degeneraçãodo côndilomandibular

Osteoartrite Osteoartrose Hiperostose

Fêmea

Macho

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21

Figura 14. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação à

fase do ciclo de vida dos exemplares analisados

Figura 15. Frequência das alterações patológicas observadas em crânios de Inia spp. em relação ao

tipo de água dos exemplares analisados

0

1

2

3

4

5

Osteomielite Osteólise Degeneraçãodo côndilomandibular

Osteoartrite Osteoartrose Hiperostose

Filhote

Juvenil

Subadulto

Adulto

0

1

2

3

4

5

Osteomielite Osteólise Degeneraçãodo côndilomandibular

Osteoartrite Osteoartrose Hiperostose

Branca

Clara

Preta

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Figura 16. Exemplos de alterações morfológicas e alterações traumáticas encontradas no crânio e

mandíbula no gênero Inia spp. (1a) crânio sem a presença do terceiro côndilo; (1b) exemplar com

presença de terceiro côndilo, indicado pela seta branca; (2a) exemplar com desvio de rostro para

direita em terço proximal do rostro; (2b) exemplar com desvio de rostro em mandíbula e maxila; (3)

prognatismo; (4) bragnatismo; (5) presença de cicatriz óssea em corpo de mandíbula, indicado pelas

setas pretas; (6) presença de calo ósseo no corpo da mandíbula, indicado pela seta branca. Barras 5

cm.

6 5

2a

1a

2b

1b

4 3

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23

Figura 17. Exemplos de alterações patológicas encontradas no crânio e mandíbula no gênero Inia

spp.. (1a) osteomielite em dentário, vista dorsal, indicado pelas setas brancas; (1b) osteomielite em

dentário, vista ventral, indicado pelas setas brancas; (2) osteólise em pré-maxilares, indicado pela

seta preta; (3) degeneração da articulação temporomandibular, indicada pela seta preta; (4)

hiperostose, indicado pelas setas brancas; (5) osteoartrite em côndilo do occipital; (6) osteoartrose

em côndilo do occipital. Barras de 5 cm.

6 5

3 2

1b 1a

4

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24

1.4 Discussão

A alteração morfológica, presença do terceiro côndilo do occipital, geralmente

é um achado nos estudos post-mortem, expresso como um simples tubérculo

arredondado na base do forame magno, que muitas vezes passa despercebido

durante toda a vida do indivíduo, porém tubérculos maiores podem causar

instabilidade na articulação atlantooccipital (Figueiredo et al., 2008), ocasionando

dificuldades locomotoras.

A presença do terceiro côndilo já havia sido reportada em Inia geoffrensis,

sem diferenças significativas quando relacionadas com sexo, fase do ciclo de vida

(imaturo ou maturo) e tipo de água (Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007). O

presente estudo avaliou um número maior de exemplares, porém, também não

foram observadas diferenças significativas entre sexo, classe etária, tipo de água ou

entre as espécies de Inia spp., corroborando com a literatura.

Pela anatomia peculiar do crânio que os cetáceos apresentam, com um

rostro mais alongado, demonstrado pela projeção dos ossos maxilares e pré-

maxilares, é comum que estes ossos apresentem algum desvio.

È possível que a causa de desvio de rostro no gênero Inia spp., entre outras

razões, esteja relacionada com o efeito telescoping (Geisler e Sanders, 2003), onde

além de ter alterações na parte óssea, também há alterações nas inserções

musculares e as forças mecânicas da musculatura sobre os ossos do rostro é

provavelmente a causa principal do desvio de rostro neste gênero, tendo em vista

que animais de vida livre não apresentam este tipo de alteração quando capturados

quando jovens, porém, os mesmos animais capturados na vida adulta já

apresentvam estes desvios.

Desvio de rostro foi relatado para algumas espécies, como Mesoplodon grayi

(baleia-bicuda-de-gray) (Montes et al., 2004), Pontoporia blainvillei (franciscana)

(Montes et al., 2004; Gerholdt, 2006) e Delphinus capensis (golfinho-comum-de-

bico-longo) (Montes et al., 2004; Van Bressem et al., 2006). Desses, apenas P.

blainvillei possui um rostro estreito e alongado como o boto-vermelho, sendo que o

das outras espécies estudadas é curto e mais alargado na base.

Na franciscana, o desvio de rostro foi relacionado ao crescimento progressivo

do animal e é relativamente comum a esta espécie, não estando relacionado com a

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idade (Montes et al., 2004). Já Gerholdt (2006), sugere que os desvios do rostro,

para esta mesma espécie, estão relacionados com repetidas capturas em rede de

pesca, com a alimentação, ou, ainda, pela interação com predadores ou com outros

cetáceos, fatores de baixa possibilidade para serem as respostas para o

aparecimento do desvio de rostro no gênero Inia spp.

Nos exemplares de Inia spp. avaliados por Bohórquez-Mantilla e da Silva

(2007), o desvio de rostro não apresentou relação significativa quando comparados

os sexos, fases do ciclo de vida e tipos de água, corroborando com os resultados

deste presente estudo.

Bohórquez-Mantilla e da Silva (2007), já haviam relatado a ocorrência de

prognatismo em exemplares de Inia spp., entretanto, este é o primeiro relato de

bragnatismo para o gênero Inia spp.. O prognatismo foi observado em

Lagenorhynchus obscurus (golfinho-cinzento) e Tursiops truncatus (golfinho-nariz-

de-garrafa) (Montes et al., 2004) e o bragnatismo em Delphinus capensis (golfinho-

comum-de-bico-longo) (Montes et al., 2004). Apesar de ser uma alteração

morfológica congênita, aparentemente não afeta demasiadamente a vida do animal,

tendo em vista que as alterações podem ser encontradas em exemplares adultos de

vida livre aparentemente saudáveis.

Há relatos de fraturas em crânio e mandíbula de cetáceos, como por exemplo,

em Globicephala macrorhynchus (baleia-piloto-de-aleta-curta), Delphinus capensis

(golfinho-comum-de-bico-longo) e Lagenorhynchus obscurus (golfinho-cinzento)

(Montes et al., 2004) e em Globicephala macrorhynchus (baleia-piloto-de-aleta-curta)

(Oremland et al., 2010).

Entre as principais causas de fraturas descritas em cetáceos estão a colisão

com embarcações e o ataque de predadores (Hellier et al., 2011; Groch et al., 2012).

O fato de se aproximarem muito de embarcações, em busca de alimento ou pela

simples interação, pode causar conflitos com seres humanos levando a agressões

físicas, que podem causar desde leves escoriações até lesões sérias. Além disso,

também há a caça intencional do boto-vermelho, cuja carne é utilizada para a pesca

da piracatinga, caça realizada com arpões e outros apetrechos, que podem ferir

gravemente o animal.

Já Oremland et al. (2010) sugerem que as fraturas podem ser causadas por

interações intra e interespecíficas e por características comportamentais de uma

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determinada espécie. Apesar do fato de machos de botos-vermelhos apresentam

um comportamento sócio sexual de competição por fêmeas, ocorrendo diversas

interações mais agressivas entre eles (Martin e da Silva, 2006), não houve diferença

estatística entre os sexos. Demonstrando que a diferença comportamental entre

sexos neste gênero não é fator suficiente para o aparecimento de fraturas maior em

machos, o que seria esperado, pois se expõe a mais riscos, confirmando, assim, a

resistência e dureza dos ossos do sincrânio.

Groch et al. (2012), relacionou fraturas como uma possível porta de entrada

de agentes bacterianos. A entrada de microrganismos pode levar a uma infecção

óssea denominada osteomielite. Outra porta de entrada para a instalação desta

patologia são as infecções dentárias. Sendo a osteomielite, uma condição passível

de ocorrer em botos-vermelhos.

Nos exemplares analisados do gênero Inia spp. deste trabalho foram

encontradas alterações de osteomielite no corpo das mandíbulas. As infecções

dentárias ou outras lesões, como as de pele, podem se agravar com o passar do

tempo e atingir tecidos mais profundos, ocorrendo a migração dos agentes

infecciosos pela corrente sanguínea, levando estes agentes se instalarem, por

exemplo, nos ossos, causando a osteomielite (Bonar et al., 2007).

Bonar et al. (2007) isolaram de lesões de pele de Inia geoffrensis de cativeiro

e na medula óssea dos mesmos indivíduos, as bactérias Salmonella oranienburg e

Streptococcus spp., podendo estas bactérias serem umas das possíveis causadoras

de osteomielite.

A osteomielite já havia sido relatada em mandíbulas das espécies

Phocoenoides dalli (boto-de-dall) (Sweeney e Ridgway, 1975); Orcinus orca (orca)

(Kompanje, 1995c); Delphinus capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Montes et

al., 2004; Van Bressem et al., 2006; Van Bressem et al., 2007); Tursiops truncatus

(golfinho-nariz-de-garrafa), Phocoena spinipinnis (boto-de-burmeister) (Montes et al.,

2004; Van Bressem et al., 2007); Lagenorhynchus obscurus (golfinho-cinzento)

(Montes et al., 2004); Sotalia guianensis (boto-cinza) (Van Bressem et al., 2007);

Delphinus capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Loch, 2011) e Sotalia fluviatilis

(tucuxi) (Fettuccia et al., 2013), também estando relacionadas com infecções

dentárias.

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A osteólise, dissolução ou destruição, óssea é causada por inflamações ou

está associada com a osteomielite (Van Bressem et al., 2007). Nos exemplares de

boto-vermelho deste estudo, todos os casos de osteólise se encontravam no corpo

da mandíbula, estando associados com a perda de dentes, fraturas não-

consolidadas e osteomielite.

Foram relatados casos de osteólise em crânios das espécies Delphinus

capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Montes et al., 2004; Van Bressem et al.,

2006; Van Bressem et al., 2007); Lagenorhynchus obscurus (golfinho-cinzento),

Phocoena spinipinnis (boto-de-burmeister), Tursiops truncatus (golfinho-nariz-de-

garrafa), Sotalia guianensis (boto-cinza) (Van Bressem et al., 2007); Megaptera

novaeangliae (baleia-jubarte) (Hellier et al., 2011), também relacionados com

alterações dentárias e doenças ósseas, principalmente a ostemielite.

A osteoartrite da articulação temporomandibular (ATM) é uma doença

inflamatória que pode existir em vários graus de intensidade envolvendo todos os

tecidos da ATM. A osteoartrite pode levar a anomalias anatômicas, dor e debilitação

do animal, tendo em vista que as anomalias provocadas por ela levam a uma não

oclusão normal da arcada dentária, prejudicando a alimentação do animal (Arzi et

al., 2013). Não foram encontrados relatos dessa anomalia em cetáceos.

A osteoartrite e a osteoartrose das articulações vertebrais foram descritas

para diversas espécies de cetáceos, dentre elas, Tursiops truncatus (golfinho-nariz-

de-garrafa) (Turnbull e Cowan, 1999; Kompanje, 1999); Megaptera novaeangliae

(baleia-jubarte) (Kompanje, 1999; Hellier et al., 2011; Groch et al., 2012);

Lagenodelphis hosei (golfinho-de-fraser), Stenella attenuata (golfinho-pintado-

pantropical), Kogia breviceps (cachalote-pigmeu) (Turnbull e Cowan, 1999);

Balaenoptera physalus (baleia-comum), Phocoena phocoena (toninha-comum),

Lagenorhynchus albirostris (golfinho-de-bico-branco), Lagenorhynchus acutus

(golfinho-de-laterais-brancas-do-atlântico), Lagenorhynchus obliquidens (golfinho-de-

laterais-brancas-do-pacífico), Delphinus delphis (golfinho-comum), Orcaella

brevirostris (golfinho-do-irrawaddy), Steno bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos),

Grampus griseus (golfinho-de-risso) (Kompanje, 1999).

A osteoartrite, inflamação da capsula articular, pode ocorrer em qualquer faixa

etária, causando diminuição da amplitude de movimento, já a osteoartrose resulta da

degeneração da cápsula articular com possíveis alterações ósseas, como

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cavidades, encontradas em indivíduos maduros, muitas vezes associada à

osteoartrite (Kompanje, 1999). Neste trabalho estas alterações foram encontradas

na face articular do côndilo do occipital, que se apresentaram com depressões

irregulares ao longo da mesma, tanto em indivíduos jovens quanto em maduros.

O crescimento da superfície óssea de forma irregular, chamada de

hiperostose, de origem idiopática, foi descrita em Tursiops truncatus (golfinho-nariz-

de-garrafa) por Montes et al. (2004), nos ossos occipital, frontal, pré-maxilares e

maxilares. Esta condição foi encontrada na região óssea da pré-maxila e maxila em

um dos exemplares de Inia spp. analisados.

1.5 Conclusões

Os exemplares adultos apresentaram uma maior predisposição aos diversos

tipos de alterações ósseas encontradas nos exemplares analisados.

A alteração morfológica mais encontrada foi a presença do terceiro côndilo. O

desvio de rostro, provavelmente está relacionado com as forças mecânicas da

musculatura sobre o tecido ósseo, porém não houve diferença entre as fases do

ciclo de vida, o que era esperado, tendo em vida o modo como essa alteração se

apresenta nos animais de vida livre, oq eu pode refletir um N amostral pequeno,

apesar de este trabalho ter um dos maiores N para o genêro.

A presença de fraturas (alterações traumáticas) era esperada que houvesse

uma maior prevalência em machos, por motivos comportamentais de competição e

coorte para fêmeas, porém essa diferença estatística não ocorreu, o que demonstra

a grande resistência dos ossos do sincrânio destes animais.

A alteração patológica foi a osteoartrose do côndilo do occipital e de modo

geral são relativamente incomuns. Porém as lesões dos alvéolos dentários parecem

ser a principal causa para o aparecimento de osteólise e osteomielite nos rostros

dos animais do gênero Inia spp., tendo em vista a localização dos mesmos, nos

ramos mandibulares. Entretanto, ainda se fazem necessários maiores informações

para conhecer melhor sobre os principais agentes infecciosos que atuam na

osteomielite neste gênero.

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CAPÍTULO 2

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2. Alterações dentárias encontradas em exemplares de boto-

vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla, Iniidae, Inia

spp.)

Resumo. Foram avaliados dentes de 113 exemplares do gênero Inia spp.. Os

dentes foram inspecionados visualmente e classificados de acordo com a

intensidade dos desgastes. As alterações dentárias foram classificadas em

traumáticas, patológicas e de desenvolvimento. Do total de dentes analisados (8.510

dentes), 62,3% (5.304) apresentaram pelo menos um tipo de alteração. Entre as

alterações traumáticas e biomecânicas identificadas estão os dentes fraturados

(298; 3,55%) e os desgastes dentários (4.280; 50,3%). O desgaste médio dos

dentes entre os sexos não apresentou diferença estatística (p = 0,9601), entre as

fases do ciclo de vida (filhote, jovem, subadulto e adulto) revelou que houve

diferença estatística (p < 0,0001). Dentre as alterações patológicas, do total de

dentes analisados, foram encontradas cálculo dentário (CD) em 3.752 (44,1%)

dentes, lesões semelhantes à cárie (LSC) em 977 (11,5%) dentes e Corrosões em

79 (0,9%) dentes. A ocorrência de CD, foi estatisticamente maior em fêmeas que em

machos (p < 0,0001); entre as fases do ciclo de vida (p < 0,0001); e entre os tipos de

água (p < 0,0001). A ocorrência de LSC foi estatisticamente significante entre os

sexos (p = 0,0096); entre as faixas etárias (p < 0,0001); e entre os tipos de água (p <

0,0001). A espécie I. araguaiaensis foi a que mais apresentou alterações de CD e

LSC. Dentre as alterações de desenvolvimento, foram encontradas ossificação do

alvéolo em 132 (3,1%) dos alvéolos que estavam sem dentes, pérola de esmalte em

dez dentes (0,1%) e apenas um dente (0,01%) com raiz dupla. Também foram

observados 69 pares de dentes adjacentes e 22 dentes supranumerários.

Palavras-chave: dente, desgaste, cálculo dentário, lesões semelhantes à cárie

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37

Abstract. Teeth of 113 specimens of the genus Inia spp . were evaluated. The teeth

were visually inspected and sorted according to the intensity of wear. The dental

changes were classified as traumatic, pathological and development. Of the analyzed

teeth (8.510 teeth), 62.3% (5,304) had at least one type of change. Among the

traumatic and biomechanical changes identified are fractured teeth (298; 3.55%) and

tooth wear (4280; 50.3%). The average wear of the teeth between the sexes showed

no statistical difference (p = 0.9601) between the stages of the life cycle (calf, young,

subadult and adult) revealed that there was a statistical difference (p <0.0001).

Among the pathological changes, the number of teeth analyzed were found dental

calculus (DC) in 3752 (44,1%) teeth, similar to caries lesions (SCL) in 977 (11,5%)

teeth and Corrosions on 79 (0,9%) teeth. The occurrence CD was statistically higher

in females than in males (p <0.0001); between the phases of the life cycle (p

<0.0001); and among water types (p <0.0001). The occurrence of LSC was

statistically significant between the sexes (p = 0.0096); between age groups (p

<0.0001); and among water types (p <0.0001). The species I. araguaiaensis was the

most submitted amendments DC and SCL. Among the development changes, the

socket ossification found in 132 (3.1%) of the alveoli which were without teeth,

enamel pearl (0.1%) and only one tooth (0.01%) double rooted. They were also

observed adjacent pairs of teeth and supernumerary teeth.

Keywords: tooth, alterations, wear, dental calculus, similar carious lesions, enamel

pearl, double root

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38

2.1 Introdução

Os dentes dos mamíferos, assim como os alvéolos dentários, registram os

eventos na vida de cada indivíduo, podendo ser observada, por exemplo, doenças e

perdas dentárias, idade do indivíduo, idade de maturidade sexual, gestações e,

períodos de lactação. Assim, os dentes fornecem evidências da história de vida de

um indivíduo, e refletem parâmetros como hábitos alimentares, relações

filogenéticas, influências do meio ambiente e até a idade aproximada do animal

(Klevezalʹ e Kleinenberg, 1969; Perrin, 1975; Aguilar e Lockyer, 1987; Hohn, 1989;

Loch et al., 2006; Cuozzo e Sauther, 2006).

Estudos das alterações dentárias e patológicas nos dentes em cetáceos são

escassos e tem recebido pouca atenção dos pesquisadores, apesar do vasto campo

a ser explorado (Ness, 1966; Brooks e Anderson, 1998; Loch et al., 2006; Loch et

al., 2011; Loch et al., 2013a; Loch e Simões Lopes, 2013).

Alterações dentárias ocorrem por diferentes motivos e podem ser causadas

pelo o uso da dentição durante a vida do animal e diferenciada entre as espécies

pelo tipo de alimentação, comportamento, oclusão dentária, alterações metabólicas,

traumáticas e patológicas (Loch e Simões-Lopes, 2013b). + metabólicas e

patológicas

Para cetáceos foram relatados as seguintes alterações dentárias: fraturas

dentárias (Loch et al., 2006; Van Bressem et al., 2006); desgaste de dentes

(Caldwell e Brown, 1964; Van Bressem et al., 2006; Brooks e Anderson, 1998; Loch

et al., 2006; Thewissen et al., 2011; Afonso, 2012; Loch e Simões-Lopes, 2013a);

cálculo dentário (da Silva, 1995; Loch et al., 2006; Loch et al., 2011); lesões

semelhantes à cárie (Brooks e Anderson, 1998; Loch et al., 2006; Loch et al., 2011);

corrosões dentárias (Loch et al., 2011; Loch et al., 2013a); anquilose alverolar

(Montes et al., 2004; Van Bressem et al., 2006); pérola de esmalte (Brooks e

Anderson, 1998); dentes adjacentes (Van Bressem et al., 2006); pigmentação

exógena (Loch et al., 2011); dentes geminados (Luque et al., 2009; Loch et al.,

2011); alterações na forma (Loch et al., 2011); reabsorção de raiz (Loch et al., 2011);

hipoplasia do esmalte (Brooks e Anderson, 1998; Loch et al., 2011); reabsorção de

dentina (Luque et al., 2009) e distúrbios no cemento (Luque et al., 2009).

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39

Para boto-vermelho, fraturas e desgastes nos dentes já foram relatados por

Ness (1966), Best e da Silva (1993), da Silva (1995) e Loch et al. (2006). Ness

(1966), examinou 4 exemplares de Inia spp. e relatou a presença de dentes

fraturados e desgaste. Loch et al. (2006) analisaram 2009 dentes, de 29 exemplares,

dos quais 1,4% (29 dentes) estavam fraturados, e em 37% (737) dos dentes

analisados tinham desgaste, sendo visto mais na região de coroa e, em pouca

quantidade em raiz e no cíngulo.

O cálculo dentário neste gênero foi descrito nos trabalhos de Ness (1966);

Best e da Silva (1993); da Silva (1995); Bohórquez-Mantilla e da Silva (2007) e Loch

et al. (2006). Em da Silva (1995), o cálculo é citato como um anel de tártaro. Loch et

al. (2006) encontraram 21% dos 2009 dentes analisados apresentando cálculo.

As lesões semelhantes à cárie (LSC) foram citadas pela primeira vez por

Ness (1966); sendo que essas lesões se assemelham à cárie das superfícies dos

dentes de humanos e foram observados em 107 (23,6%) dentes dos 453 analisados.

No trabalho de Loch et al. (2006), 194 (9,5%) dos 2009 dentes analisados

apresentaram LSC, ocupando até toda a região de coroa.

Estudos mais detalhados sobre estas alterações nos dentes de boto-vermelho

são necessários para uma melhor compreensão de suas etiologias e causas, bem

como suas possíveis interferências na saúde dos indivíduos e, assim, auxiliar

indiretamente na conservação da espécie (Loch et al., 2011).

O gênero Inia spp. pertence à classe Mammalia, ordem Cetartiodactyla

(Perrin, 2015), subordem Odontoceti, família Iniidae (Zhou et al., 2011; Best e da

Silva, 1993). Este gênero encontra-se distribuído ao longo dos rios das bacias do

Orinoco, Amazônica e Araguaia-Tocantins (Best e da Silva, 1993), onde se

distribuem três espécies Inia geoffrensis, Inia bolivienses e Inia araguaiaensis (Hrbek

et al., 2014).

A variação sazonal dos níveis de água nessas bacias influencia na

distribuição dos botos-vermelhos. No período de seca a maioria dos botos-

vermelhos se distribui ao longo dos canais dos principais rios, acompanhando a

migração dos peixes. À medida que o nível de água sobe e torna acessível às áreas

alagáveis, há migração lateral desses animais e o aumento no número de botos-

vermelhos nestas áreas (Martin e da Silva, 2004a; Martin e da Silva, 2004b; Martin

et al., 2008).

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40

O número de dentes por ramo é de 24 a 35, variando entre 96 e 140 dentes

ao total (Best e da Silva 1993). Uma das diferenças dentro do gênero está na

quantidade de dentes por ramo, por exemplo, Inia boliviensis possui de 31 a 35

dentes por ramo, enquanto Inia araguaiaensis possui de 24 a 28 dentes por ramo e

Inia geoffrensis de 25 a 29, porém todas as espécies possuem a forma da dentição

semelhante (da Silva, 1983; da Silva, 1994; da Silva 1995; Hrbek et al., 2014).

A heterodontia é observada no boto-vermelho, com dentes do tipo cone e

dentes tipo molariformes, sendo o único odontoceto vivo com esta diferenciação,

considerada uma característica de primitividade no grupo (Best e da Silva, 1993; da

Silva, 1995; Loch et al., 2006) (Figura 01 e 02). Os dentes são cônicos na metade

anterior de cada linha dentária, enquanto que na metade posterior os dentes

possuem um sulco lingual que se estende a partir de cada coroa para o lado labial e

uma depressão no lado lingual, os molariformes (Best e da Silva, 1993).

Ambos os tipos de dentes possuem raiz única, ligeiramente curvada nos

dentes cónicos e geralmente reta nos molariformes, porém alguns dos dentes

podem apresentar pregas verticais ao redor da raiz (da Silva, 1994; da Silva, 1995).

Os dentes apresentam variação na cor, variando do amarelo claro até o castanho

escuro. Todos os dentes possuem uma superfície exterior rugosa causada por um

enrugamento suave do esmalte (Best e da Silva, 1993).

Figura 01. Diferentes formas de dentes encontrado no boto-vermelho. Barra de 1 cm.

Entre os cetáceos, o boto-vermelho apresenta um dos esmaltes mais

espessos, com 315–415 µm de espessura nos dentes cônicos e 475–515 µm nos

molariformes. Os prismas do esmalte dentário nesse gênero estão organizados em

bandas de Hunter-Schreger (BHS), com angulações de 90° entre elas. As BHS são

consideradas como dispositivo para resistir à propagação de fissuras. Isso pode

ocorrer devido ao aumento das demandas funcionais, possivelmente relacionados

com a dureza dos itens da dieta da espécie, assim como elevada elasticidade

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41

presente no esmalte. No boto-vermelho a estrutura das BHS se assemelha aos de

arqueocetos extintos (Loch et al., 2013b; 2013c).

Em geral, dentes com esmalte dentário espesso correspondem a uma dieta

predominantemente dura, embora esta relação ainda não tenha sido totalmente

esclarecida. Além disso, a quantidade de esmalte, a estrutura interna de esmalte,

por exemplo, e a presença de prismas em orientações diferentes, é proposto como

uma característica que proporciona maior resistência à propagação de desgaste.

Mamíferos com esmalte mais espesso apresentam maior longevidade funcional dos

dentes (Cuozzo e Sauther, 2006).

Os botos-vermelhos se alimentam de uma grande variedade de peixes. A

alimentação inclui pelo menos 43 espécies diferentes de peixes distribuídos em 19

famílias. Aparentemente preferem peixes das famílias Sciaenidae (pescadas),

Cichlidae (carás), Characidae (piabas) e Serrasalmidae (piranhas). Mas pela

característica de sua dentição ser heterodonte, também lhes permite partir presas

duras e com carapaça, incluindo peixes com escudo cefálico e fileira de escudo

ossificado da família Doradidae (bagre) e Loricariidae (bodós), além outros animais

como, por exemplo, iaçá (Podocnemis sextuberculata) e caranguejo (Poppiana

argentiniana) (da Silva, 1983; Best e da Silva, 1993, da Silva e Best, 1996).

O boto-vermelho prende sua presa pelos dentes anteriores, então os transfere

para os molariformes para esmagá-los e posicioná-los posteriormente e deglutem a

cabeça da presa antes (Figura 03). O ato de conseguir esmagar suas presas não o

deixa restrito a alimentos que passam direto pelo esôfago, o que é uma limitação

para muitos cetáceos. O rostro longo, o pescoço flexível e os dentes molariformes se

mostram como adaptações para a técnica alimentar (Kastelein et al., 1999).

Além de importantes para alimentação, os dentes para os botos-vermelhos

também são instrumentos importantes em determinados comportamentos. Provoca

marcas intraespecíficas por mordidas ou outras interações, que causam cicatrizes,

encontradas em indivíduos de todas as idades, contudo, há uma maior incidência

dessas marcas em machos adultos. Durante o período reprodutivo os machos se

tornam mais agressivos, brigando e mordendo seus adversários, durante intensa

competição pelo acesso às fêmeas (Martin e da Silva, 2004a; Martin e da Silva,

2006; Martin et al., 2008).

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42

Figura 02. Terminologia de orientação utilizada neste trabalho (adaptado de Smith e Dodson, 2003).

Barra 1 cm.

Figura 03. Captura da presa por Inia geoffrensis (boto-vermelho), no qual o peixe é capturado e apreendido pela dentição cônica em sua longa mandíbula, e então transportado para a parte posterior da cavidade oral para ser esmagada e finalmente deglutida (adaptado de Werth, 2006).

Labial

Labial

Lingual

Lingual

Apical Basal

1 cm

Coroa

Raiz

Cérvix

MOLARIFORME CONE

1. Captura 3. Deglutição 2. Posicionamento

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43

Também foi observado o ato de carregar objetos pela boca como um

comportamento de exibição sócio sexual. Entre os materiais observados estão as

herbáceas aquáticas (usualmente a gramínea Paspalum sp.), galhos soltos de

árvores e pedaços de barro duro coletados no fundo do rio (Martin et al., 2008).

Tendo em vista as situações adversas pelas quais o boto-vermelho passa

durante sua vida, os poucos registros de anomalias dentárias já relatadas podem

estar relacionadas com o baixo número de exemplares analisados (Pilleri e Gihr,

1976; Ness, 1966; Loch et al., 2006 e Loch et al., 2011). Desta forma este trabalho

visa aumentar o conhecimento sobre as alterações dentárias neste gênero,

fornecendo subsídios para melhor compreensão do comportamento e da saúde

destes animais.

2.2 Material e Métodos

Foram avaliados dentes de 113 exemplares do gênero Inia spp. (77 I.

geoffrensis, 19 I. araguaiaensis e 17 de espécie indefinida). Esse material foi

coletado entre os anos 1975 e 2014 e provindos de diversas localidades das bacias

Amazônica e Tocantins-Araguaia (Figura 04) e encontram-se depositados na

coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia

(INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil (INPA MA 001, 002, 004, 010-012, 014,

021-023, 025, 027, 030-037, 042, 044-046, 048, 049, 058, 061, 063, 064, 066, 070,

075, 076, 083-086, 089-095, 098-110, 112, 114-116, 118, 119, 153-158, 160-164,

167-170, 172-192, 195-206, 580).

Os dentes foram inspecionados visualmente para a identificação das facetas

de desgaste. Após a identificação, foram classificadas de acordo com a intensidade

dos desgastes, por meio de categorias previamente estabelecidas segundo Labrada-

Martagón et al. (2006) (Quadro 01).

As alterações dentárias também foram classificadas em traumáticas (dentes

fraturados), patológicas (lesões semelhantes à cárie e cálculos dentários) e

alterações de desenvolvimento (forma) (Loch et al., 2006).

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44

Figura 04. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho. Todos os exemplares

encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas

Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil

Quadro 01. Categorias de intensidade dos desgastes dentários em cetáceos, utilizando classes pré-estabelecidas (0-3) (Labrada-Martagón et al., 2006).

Grau Classificação

0 Sem desgaste

1 Desgaste superficial, atingindo o esmalte e regiões periféricas da dentina e

que compromete até 10% da coroa dentária

2 Desgaste moderado que atinge até regiões mais profundas da dentina, com

comprometimento de até 50% da coroa dentária

3

Desgaste profundo onde se observa perda superior a 50% da dentina da

coroa, podendo comprometer também porções do cíngulo e raiz. Em casos

extremos, pode ocorrer exposição da cavidade pulpar

A identificação das patologias e anomalias dos dentes e dos alvéolos

dentários foi realizada por inspeção visual simples. Os diagnósticos foram feitos com

base nos trabalhos de Ness (1966), Verstraete et al. (1996 a, b), Brooks e Anderson

(1998), Miles e Grigson (2003) Luque et al. (2009) e Loch (2009).

Para descrição das alterações encontradas nos dentes de Inia spp. foi criado

um quadro (Quadro 02) adaptada de Miles e Grigson (2003) e Loch et al. (2011),

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45

separando as alterações em traumáticas ou biomecânicas, patológicas, e as

alterações do desenvolvimento.

Os indivíduos avaliados foram classificados de acordo com as fases do ciclo

da vida com base no grau de fusão das linhas de sutura no crânio, conforme descrito

no Capítulo 1 deste trabalho.

Quadro 02. Diagnóstico descritivo das alterações dentárias em cetáceos, adaptado de Miles e Grigson (2003) e Loch et al. (2011).

Alterações Descrição

Lesões Semelhantes à

Cárie (LSC)

Cavidade formada por processos destrutivos na região

coronal dos dentes, assemelhando-se a um funil

Cálculo dentário (CD) Substância aderente firmemente ligado à superfície do

dente, cuja cor pode variar de amarelo ao preto

Corrosão Destruição química dos tecidos duros dos dentes,

resultando em defeitos não profundos na superfície da

coroa do esmalte ou aprofundamento da região de cérvix

Hipoplasia do esmalte Variações na forma normal e dureza do esmalte de

cobertura, nos seus diversos graus de ausência, linhas

horizontais, ranhuras ou áreas faltantes de esmalte. Um

pequeno número de dentes ou toda a dentição pode ser

afetada

Pigmentação exógena Pigmentação exógena anormal no esmalte, variando de

marrom claro ao preto. Manchas podem ser isoladas,

agrupadas ou por toda a coroa

Reabsorção de raiz Defeitos da estrutura de raiz, volume e forma. Zonas de

reabsorção mostram margens irregulares em diferentes

graus de intensidade de reabsorção. As lesões podem ser

unitárias ou múltiplas

Alterações na forma Variação da forma normal dos dentes, incluindo as

variações extremas de comprimento e largura, espessura ,

curvatura na coroa , características da raiz, etc.

Dentes geminados Dentes com coroas bífidas e raiz única, cujo diâmetro é

maior do que os outros dentes. As duas coroa estão

separadas por uma ranhura, que se divide em 2 dentes em

alguns casos

Dentes adjacentes Dentes vizinhos inclinados na direção um do outro, o qual

provoca um desajuste no encaixe durante a oclusão

dentária

Dentes supranumerários Dente extra, ao lado de um dente normal, não pertencente

à linha dentária comum

Pérola de esmalte Pequenos tecidos mineralizados globóides, com

constituição semelhante ao esmalte coronário

Ossificação do alvéolo Preenchimento do alvéolo por tecido ósseo

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46

2.2.1 Análise de Dados

Vários exemplares apresentavam dentes soltos. Para os dentes que estavam

fixos nas linhas dentárias, foi calculada a frequência de presença destes dentes para

cada alvéolo de acordo com sua posição na mandíbula e maxila. Em seguida, a

frequência de ocorrência dos graus de desgaste dentário (0, 1, 2 e 3); a presença de

qualquer tipo de desgaste; de cálculo dentário (CD), de lesões semelhantes à cárie

(LSC) e de ossificação do alvéolo, foi comparada entre as arcadas superiores e

inferiores, esquerdas e direitas, e tipo de dentes (cone e molariforme), utilizando o

teste Qui-quadrado.

Para todos os dentes (fixos e soltos) foi comparada a frequência de

ocorrência das alterações CD, LSC, entre sexos (macho e fêmea), nas diferentes

faixas etárias (filhote, juvenil, subadulto e adulto), por tipo de água do rio de origem

do animal (branca, clara e preta) e entre as espécies (I. geoffrensis e I.

araguaiaensis) utilizando o teste Qui-quadrado.

Foi calculado o índice médio de desgaste dentário para cada indivíduo,

levando em consideração todos os dentes (fixos e soltos), utilizando a fórmula:

Índice Médio = (N0x0) + (N1x1) + (N2x2) + (N3x3) / NT

Onde:

N0 – número de dentes com Desgaste 0

N1 – número de dentes com Desgaste 1

N2 – número de dentes com Desgaste 2

N3 – número de dentes com Desgaste 3

NT – número total de dentes

O índice médio de desgaste foi comparado entre os sexos (macho e fêmea),

por meio do teste U Mann Whitney; e entre as diferentes fases do ciclo da vida

(filhote, juvenil, subadulto e adulto), utilizando o teste de Kruskal-Wallis.

Para estas análises, foi utilizado o software R. Disponível no site <

https://www.r-project.org/>.

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47

2.3 Resultados

No boto-vermelho, os dentes se encontram em alvéolos dentários dispostos

nas linhas dentárias dos maxilares e mandíbulas. Ao todo foram analisados 8.510

dentes provindos de 113 exemplares do gênero Inia spp., sendo 5.268 (61,9%)

dentes cônicos e 3.242 (38,1%) do tipo molariformes.

Nos exemplares de Inia geoffrensis analisados foi observada a ocorrência de

25 a 31 alvéolos na hemimandíbula esquerda, 24 a 31 na hemimandíbula direita, 24

a 30 hemimaxila esquerda e 24 a 31 na hemimaxila direita. Já para Inia

araguaiaensis foi observada a ocorrência de 25 a 28 alvéolos na hemimandíbula

esquerda e 25 a 28 alvéolos e na hemimandíbula direita, 23 a 34 hemimaxila

esquerda e 23 a 33 na hemimaxila direita (Tabela 01).

Tabela 01. Número de alvéolos dentários nas diferentes espécies do gênero Inia spp.

Espécie Sexo Posição N Variação Média

I. geoffrensis

F

SE 12 24-28 26.6

SD 12 25-30 26.7

IE 11 26-30 27.4

ID 12 26-30 27.2

M

SE 27 24-30 25.7

SD 27 25-31 26.7

IE 29 25-29 27.0

ID 29 24-29 27.1

I. araguaiaensis

F

SE 7 25-27 26.1

SD 7 24-26 25.2

IE 7 25-27 26.4

ID 7 26-27 26.4

M

SE 5 23-27 25.2

SD 5 23-26 24.8

IE 6 25-28 26.3

ID 6 25-28 26.5 Legenda: (F) Fêmea, (M) Macho; (N) Número de exemplares; (SE) superior (hemimandíbula)

esquerdo, (SD) superior (hemimandíbula) direito, (IE) inferior (hemimaxila) esquerdo, (ID) inferior

(hemimaxila) direito.

Dos 8.510 dentes analisados, 67,5% (5.748) estavam fixos nas arcadas

dentárias (Figura 05), sendo 50,3% (2.895) dentes na arcada inferior (inferior

esquerdo + inferior direito) e 49,7% (2.853) dentes na arcada superior (superior

esquerdo + superior direito); 50,1% (2.876) dentes no lado direito (inferior direito +

superior direito) e 49,9% (2.872) dentes no lado esquerdo (inferior esquerdo +

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superior esquerdo); e 64,4% (3.703) dentes do tipo cone e 35,6% (2.045) dentes

molariformes. A maior frequência de dentes fixos se encontrava no terço médio entre

os alvéolos da posição 10 e 20. Esses dentes apresentam uma curvatura da raiz que

o fixam firmemente na arcada (da Silva, 1995).

Legenda:

Figura 05. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores (IE – inferior esquerdo, ID –

inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde

foram encontradas proporcionalmente a maior quantidade de dentes encaixados no alvéolo dos

exemplares analisados.

Do total de dentes analisados (8.510 dentes), 62,3% (5.304) apresentaram

pelo menos um tipo de alteração.

Entre as alterações traumáticas e biomecânicas identificadas estão os dentes

fraturados e os desgastes dentários (Figura 22-1, 2 e 3). Foram encontrados 298

(3,55%) dentes fraturados, dentro do total de dentes analisados. Em relação aos

graus de desgaste, foram encontrados 4.280 (50,3%) dentes sem desgaste

(desgaste 0), 2.781 (32,6%) dentes com desgaste 1, 804 (9,7%) dentes com

desgaste 2 e 645 (7,4%) dentes com desgaste 3.

Ao avaliar o desgaste para os 5.748 dentes que estavam fixos na arcada

dentária, foi observado maior presença de dentes sem desgaste (desgaste 0) nos

alvéolos do terço distal de cada arcada dentária (entre os alvéolos 20 e 30) (Figura

06).

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49

Legenda:

Figura 06. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores (IE – inferior esquerdo, ID –

inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde

foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 0 em todos os exemplares de

Inia spp. analisados.

Para o desgaste 0 (dentes sem desgaste) não houve diferença estatística

para as arcadas superior e inferior (1.064 dentes e 1.118 dentes, p = 0,3009), e

entre os lados direito e esquerdo (1.091 dentes e1.091 dentes, p = 0,9670). Entre os

tipos de dentes, cone e molariforme (1.381 dentes e 1.550 dentes, respectivamente),

foi verificado que há diferença estatística, sendo a maior proporção de dentes sem

desgaste encontrada em dentes molariformes (p < 0,0001).

Para o desgaste 1, em relação ao dentes fixos analisados, a maior ocorrência

está no terço medial de cada arcada dentária (entre os alvéolos 10 e 20) (Figura 07).

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50

Legenda:

Figura 07. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior

esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito),

demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 1 em todos

os exemplares de Inia spp. analisados.

Houve diferença estatística, para o desgaste 1, entre as arcadas superior e a

inferior (1.254 dentes e 1.131 dentes, p = 0,0002), sendo este tipo de desgaste mais

encontrado na arcada superior; e entre os tipos de dentes, cone e molariforme (988

dentes e 971dentes, p < 0,0001), essa patologia foi prevalente nos dentes em

formato de cone. Já entre os lados direito e esquerdo (1.197 dentes e 1.188 dentes,

p = 0,8442) não houve diferença estatística.

O desgaste 2 se apresentou mais frequente nos alvéolos do terço proximal de

cada arcada dentária (entre os alvéolos 1 e 5) (Figura 08).

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51

Legenda:

Figura 08. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior

esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito),

demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 2 em todos

os exemplares de Inia spp. analisados.

Para o desgaste 2, não houve diferença estatística entre a arcada superior e

a inferior (331 dentes e 340 dentes, p = 0,8663); e para o lado esquerdo e direito

(317 dentes e 354 dentes, p = 0,1334). Já entre os tipos de dentes, cone e

molariforme (448 dentes e 356 dentes, p = 0,0001), foi verificada diferença

estatística, sendo prevalente, assim como para no tipo de desgaste 1, nos dentes

tipo cone.

O desgaste 3 mostrou-se mais frequente nos alvéolos do terço proximal de

cada arcada dentária (entre os alvéolos 1 e 5) (Figura 09).

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52

Legenda:

Figura 09. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior

esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito),

demonstrando onde foram encontrados dentes com maior frequência de desgaste do tipo 2 em todos

os exemplares de Inia spp. analisados.

Para o desgaste 3, houve diferença estatística entre a arcada superior e a

inferior (204 dentes e 306 dentes, p < 0,0001), sendo mais encontrado na arcada

inferior; entre os tipos de dentes, cone e molariforme (480 dentes e 165 dentes, p <

0,0001), mais presente nos dentes tipo cone; e entre o lado direito e esquerdo (234

dentes e 276 dentes, p = 0,0494), ocorrendo em maior frequência no lado esquerdo.

A presença de dentes com qualquer tipo de desgaste ocorreu mais

frequentemente nos alvéolos do terço proximal (entre os alvéolos 1 e 5) (Figura 10).

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53

Legenda:

Figura 10. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito), demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente os dentes com algum grau de desgaste em todos os exemplares de Inia spp. analisados..

Para dentes com qualquer tipo de desgaste, houve diferença estatística entre

os tipos de dentes, cone e molariforme (2.738 dentes e 1.750 dentes, p < 0,0001),

mostrando uma maior prevalência dos desgastes dentários nos dentes tipo cone. Já

para a arcada superior e a inferior (1.777 dentes e 1.789 dentes, p = 0,3009); e entre

as arcadas direta e esquerda (1.785 dentes e 1.781 dentes, p = 0,9670) não houve

diferença estatística.

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54

O degaste médio dos dentes entre macho e fêmea não apresentou diferença

estatística (p = 0,9601) (Figura 11).

Figura 11. Comparação do índice médio de desgaste dentário entre machos e fêmeas dos

exemplares de Inia spp. analisados (p = 0,9601)

A relação entre degaste médio e as fases do ciclo de vida (filhote, jovem,

subadulto e adulto) revelou diferença estatística (p < 0,0001) (Figura 12), mostrando

que exemplares mais velhos apresentam maior desgaste dentário quando

comparado com os mais jovens. Quando comparado entres os grupos, não foi

verificada diferença estatística entre filhotes e jovens (p = 0,2605), porém houve

diferença estatística entre filhotes e subadultos (p = 0,0040), filhotes e adultos (p <

0,0001), jovens e subadultos (p = 0,0488), jovens e adultos (p < 0,0001), e

subadultos e adultos (p = 0,0001).

Figura 12: Comparação do índice médio de desgaste dentário nas diferentes faixas etárias dos exemplares de Inia spp. analisados (p < 0,0001)

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55

A relação entre degaste médio e os tipo de água (branca, clara e preta)

revelou diferença estatística (p < 0,0001), mostrando que exemplares provindos de

água clara apresentam maior desgaste dentário quando comparado com os demais

tipos de água. Quando comparado entres os grupos, foi verificada diferença

estatística entre água branca e preta (p = 0,0021 - preta), houve também diferença

estatística entre água branca e clara (p < 0,0001 - clara), e preta e clara (p < 0,0001

- clara).

Entre as espécies também foi observada diferença estatística (p < 0,001 – I.

araguaiaensis).

Dentre as alterações patológicas, do total de dentes analisados, foram

encontradas cálculo dentário (CD) em 3.752 dentes (44,1%) (Figura 22-4 e 5b),

lesões semelhantes à cárie (LSC) em 977 dentes (11,5%) (Figura 22-6 e 7) e

Corrosões em 79 (0,9%) dentes (Figura 23-1), sendo que esta última ocorreu

somente em dois exemplares. Houve presença de CD e LSC combinada em 864

(10,1%) dentes.

A ocorrência de dentes com CD, nos dentes fixos, foi mais presente no terço

medial para o distal da arcada dentária (entre os alvéolos 15 a 25) (Figura 14).

Legenda:

Figura 13. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior

esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito),

demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente a presença de cálculo dentário em todos

os exemplares de Inia spp. analisados.

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56

Para a presença de CD foi observada diferença estatística entre a arcada

superior e a inferior (1.743dentes e 1.611 dentes, p = 0,0040), sendo mais frequente

na arcada superior; entre os tipos de dentes, cone e molariforme (1.171 dentes e

1.424 dentes, p < 0,0001), ocorreu em maior número em dentes do tipo

molariformes. Já entre o lado esquerdo e o direito (1.715 dentes e 1.715 dentes, p =

0,0587) não houve diferença estatística.

A ocorrência de CD, levando em consideração o total de dentes, foi

estatisticamente maior em fêmeas que em machos (1.097 dentes e 1.441 dentes,

respectivamente; p < 0,0001); e entre as fasess do ciclo de vida; filhotes, jovens,

subadultos e adultos (170 dentes, 390 dentes, 618 dentes e 2.574 dentes

respectivamente, p < 0,0001), sendo a maior prevalência em adultos; e entre os

tipos de água, branca, clara e preta (1.683, 895 e 735 dentes, respectivamente; p <

0,0001), sendo mais frequente nos exemplares oriundos de água clara. Entre as

espécies, I. geoffrensis e I. araguaiaensis (p < 0,0001), mais comum entre os I.

araguaiaensis.

A presença de dentes com LSC, para os dentes fixos, mostrou-se mais

frequente nos alvéolos do terço proximal (entre alvéolos 1 e 5) (Figura 16).

Legenda:

Figura 14. Representação gráfica das arcadas dentárias inferiores e superiores (IE – inferior

esquerdo, ID – inferior direito) e superiores (SE – superior esquerdo, SD – superior direito),

demonstrando onde foram encontradas proporcionalmente a maior quantidade de dentes com LSC

(lesões semelhante à cárie) em todos os exemplares de Inia spp. analisados.

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57

A LSC não mostrou diferença estatística entre a arcada superior e a inferior

(348 dentes e 362 dentes, p = 0,7238); nem entre o lado esquerdo e o direito (377

dentes e 333 dentes, p = 0,0744). Porém foi estatisticamente significativo entre os

tipos de dentes, cone e molariforme (394 dentes e 290dentes, p < 0,0001), sendo

mais frequente nos dentes do tipo cone.

A ocorrência de LSC foi estatisticamente significante entre fêmeas e machos

(173 dentes e 365 dentes, p = 0,0096), mais prevalentes em fêmeas; entre as faixas

etárias; filhotes, jovens, subadultos, adultos (4, 35, 125 e 813 dentes, p < 0,0001),

ocorreu em maior frequência em adultos, entre os tipos de água, branca, clara e

preta (164, 88 e 512 dentes, respectivamente; p < 0,0001), sendo mais frequente

nos exemplares oriundos de água preta. Entre as espécies, I. geoffrensis e I.

araguaiaensis (p < 0,0001), mais comum entre os I. araguaiaensis.

Dentre as alterações de desenvolvimento das arcadas, foram encontradas,

pérola de esmalte em dez dentes (0,1%) (Figura 23-2) e apenas um dente (0,01%)

com raiz dupla (Figura 23-3). Também foram observados 69 pares de dentes

adjacentes (Figura 23-4a e 4b) e 22 dentes supranumerários (Figura 23-5a e 5b). A

presença de alvéolos com ossificação do alvéolo, nos exemplares analisados, foi

mais frequente no terço proximal (entre os alvéolos 4 e 10) (Figura 21).

A ossificação do alvéolo foi presente em 132 (3,1%) alvéolos, que estavam

sem dentes e com preenchimento por tecido ósseo (Figura 23-6a e 6b)

A ossificação do alvéolo não mostrou diferenças estatísticas entre a arcada

superior e a inferior (60 alvéolos e 60 alvéolos, p = 0,5954); e entre os lados, direito

e esquerdo (54 alvéolos e 75 alvéolos; p = 0,1052).

Ainda em relação aos alvéolos, foi observado que em animais recém-

nascidos e filhotes, os septos entre os alvéolos ainda não estavam totalmente

formados e se comunicam entre si.

Não foram detectados dentes geminados, alterações na forma, reabsorção de

raiz e hipoplasia do esmalte nos exemplares analisados. Não foi possível avaliar a

ocorrência de pigmentação exógena, uma vez que a coloração normal dos dentes

de Inia spp. varia do amarelo claro ao castanho escuro (Best e da Silva, 1993).

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58

Figura 15. Exemplos das alterações dentárias encontradas no gênero Inia spp.. (1) tipos de desgaste

– 0, 1, 2 e 3 (identificados); (2) má oclusão, gerando desgaste nos dentes; (3) desgaste lateral; (4)

presença de cálculo dentário em forma de anel, comumente presente na região de cérvix do dente;

(5) (a) raiz sem cálculo dentário, (b) raiz com presença de cálculo dentário; (6) lesão semelhante à

cárie (LSC) em região de coroa, em típico formato de funil, seta preta; (7) evolução da LSC, em

diversos estágios. Barra de 1 cm.

1

2 3

4 5

6 7

a b

3 3

2 2 1

1 0 0

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59

Figura 16. Exemplos das alterações dentárias encontradas no gênero Inia spp.. (1) corrosão de

dentes na região de cérvix, indicada pelas setas brancas; (2) pérola de esmalte, início e final

representados pelas setas brancas; (3) raiz dupla, indicada pelas setas brancas; (4a) presença de

dentes adjacentes, representado pela seta preta; (4b) detalhe de dentes adjacentes; (5a) dente

supranumerário, fora da linha dentária comum, indicado pela seta preta; (5b) alvéolos

supranumerários, representado por estarem fora da linha dentária comum, indicados pelas setas

pretas; (6a) presença de ossificação do alvéolo, entre alvéolo sem alterações e alvéolo com dente,

limites definidos pelas setas pretas; (6b) mandíbula com diversas anquiloses alveolares, indicadas

pelas setas e setas brancas. Barra 1 cm.

1

2

4a

5a

6a

3

4b

5b

6b

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60

2.4 Discussão

Os dentes do gênero Inia spp. podem estar lascados, anômalos pelo

crescimento e desgastados (Best e da Silva, 1993). Sendo todas estas e outras

condições encontradas nos exemplares analisados. Entre as alterações traumáticas

e biomecânicas mais frequentes identificadas estão os dentes fraturados e os

desgastes dentários.

A contagem dos alvéolos para as diferentes espécies apresenta valores

diferentes dos citados por Hrbek et al. (2014), onde os valores por hemimandíbula

para as espécies são 25-29 alvéolos para I. geoffrensis, 24-28 alvéolos para I.

araguaiaensis; já neste trabalho foram encontrados 24-31 para I. geoffrensis e 23-

28 para I. araguaiaensis. De acordo com da Silva (1994) para a espécie I.

bolivienses, há variação de 25-35 alvéolos por cada hemimandíbula. As contagens

de alvéolos mostram uma diferença no número total de dentes entre as espécies;

com números maiores para exemplares da espécie I. bolivienses (da Silva, 1994).

Com a diferença dos números de alvéolos se observa que é possível fazer a

separação da espécie de I. boloiviensis das outras duas espécies, pois apresenta

um maior número de alvéolos quando comparado com as outras duas. Porém, pelo

número de alvéolos, não é possível separar as espécies I. geoffrensins e I.

araguaiaensis.

Fraturas dentárias também foram relatadas em Sotalia fluviatilis (tucuxi) (Loch

et al., 2006) e Delphinus capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Van Bressem et

al., 2006), sendo este tipo de condição indicada como uma porta de entrada para

infeções, podendo gerar abscessos ou até mesmo osteomielite (Erb et al., 1996;

Drehmer et al., 1998).

Para Inia geoffrensis (boto-vermelho), fraturas nos dentes já foram relatados

por Ness (1966), Best e da Silva (1993), da Silva (1995) e Loch et al. (2006). Loch et

al. (2006) encontraram 1,4% de dentes fraturados, dentro de uma amostra de 2009

exemplares; neste trabalho 3,55% apresentaram-se fraturados, provavelmente em

maior proporção devido ao tamanho da amostra analisada nesse estudo,

equivalente a quatro vezes maior que a amostra de Loch et al., 2016. Apesar da

amostra maior, ainda assim, observaram-se poucos registros de fratura no dente do

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boto-vermelho, mostrado pela baixa incidência desta alteração, o que sugere uma

grande dureza e resistência óssea nestes animais.

Existem relatos de desgaste de dentes nos cetáceos ancestrais, Bunophorus,

Elomeryx, Anthracobunodon, Khirtharia, Indohyus, Pakicetus, Rodhocetus,

Babiacetus e Zygorhiza, e relacionados com a dieta dos mesmos (Thewissen et al.,

2011).

Em odontocetos modernos essa mesma condição dentária já foi descrita para

Tursiops truncatus (golfinho-nariz-de-garrafa) (Brooks e Anderson, 1998; Afonso,

2012; Loch e Simões-Lopes, 2013a); Orcinus orca (orca) (Caldwell e Brown, 1964;

Loch e Simões-Lopes, 2013a); Sotalia fluviatilis (tucuxi) (Loch et al., 2006);

Delphinus capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Van Bressem et al., 2006; Loch

e Simões-Lopes, 2013a); Lagenodelphis hosei (golfinho-de-fraser), Pseudorca

crassidens (falsa-orca), Sotalia guianensis (boto-cinza), Stenella coeruleoalba

(golfinho-listrado), Stenella clymene (golfinho-clímene), Stenella frontalis (golfinho-

pintado-do-atlântico), Steno bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos) (Loch e

Simões-Lopes, 2013a).

O desgaste em dentes em Inia geoffrensis foi citado por Ness (1966), Best e

da Silva (1993), da Silva (1994), da Silva (1995) e Loch et al. (2006). Loch et al.

(2006) observaram desgaste em 37% dos 2009 dentes analisados, sendo mais

comum na região de coroa, e em menor proporção em raiz e no cíngulo.

Como observado na maioria dos animais silvestres, o desgaste dentário é um

processo fisiológico normal e na maioria das vezes não reflete a condição física dos

animais (Cuozzo e Sauther, 2006). Portanto, é esperado que indivíduos saudáveis

apresentem algum grau de desgaste nos dentes durante a sua vida como

consequência do contato dente-dente, da alimentação e do comportamento. Porém,

quando em graus mais graves e progressivos podem expor a cavidade da polpa do

dente e, assim, aumentar a susceptibilidade para infecções tais como a osteomielite,

podendo comprometer a performance e saúde dos animais (Loch e Simões-Lopes,

2013a).

Em orcas (Orcinus orca) o desgaste dentário foi relacionado entre a anatomia

do maxilar e o comportamento alimentar. Orcas com grandes desgastes em seus

dentes se alimentavam de pequenos peixes, ao invés da dieta esperada, geralmente

de animais maiores e de sangue quente. O extremo desgaste dos dentes, sem

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dúvida, restringe a dieta do animal, mas não o impede de ingerir tipos menores de

alimentos com sucesso (Caldwell e Brown, 1964).

Os movimentos mandibulares envolvidos na biomecânica da alimentação e o

grau de dureza do alimento contribuem diretamente para o desgaste dos dentes

(Loch et al., 2006). O desgaste apical está relacionado com o processo de abrasão,

causado pelo contato dente-alimento-dente, antes que a arcada superior e a inferior

entrem em contato físico direto (Thewissen et al., 2011). Porém o contato dente-

dente gerado quando os dentes superiores e inferiores se encaixam uns com os

outros quando a mandíbula se fecha é, potencialmente, a principal fonte de desgaste

dos dentes para os cetáceos (Loch e Simões-Lopes, 2013a).

Para comparação do desgaste entre as arcadas não foi observada diferença

estatística, assim como em relação aos lados direito e esquerdo. Porém para as

arcadas superiores e inferiores, neste trabalho, houve diferença estatística para o

desgaste 1 na parte inferior e o desgaste 3 na superior. Já na presença ou ausência

de qualquer tipo de desgaste, houve um maior desgaste no terço proximal e inico do

terço médio do rostro, estando mais relacionado com os dentes do tipo cone.

Em relação aos tipos de dentes foi observado que os dentes do tipo

molariforme apresentam menor desgaste, quando comparados com os dentes do

tipo cone. Isso pode estar relacionado com o modo de captura e movimento do

alimento na boca nos indivíduos desta espécie. A presa é geralmente apreendida

primeiramente na parte anterior da boca, utilizando os dentes cônicos, que como

uma pinça serrada, segura a presa para depois, dependendo do tamanho da presa e

caso haja necessedidade, passa-la para os dentes molariformes para fazer a quebra

antes de engolir, sugerindo então maior uso dos dentes da frente, quando

comparado com os de trás. A presença de uma estrutura do tipo cúspide nos dentes

molariformes auxilia na perfuração e quebra da carapaça das presas duras e a

depressão lingual protege a gengiva dos fragmentos duros gerados na quebra

dessas estruturas rígidas durante a mordida (da Silva, 1994).

Comportamentos agressivos como bater as mandíbulas, segurar objetos e

morder outros indivíduos, também podem contribuir ao desgaste dentário, devido ao

aumento da abrasão e dos dentes ficarem mais propensos ao desgaste e às fraturas

(Loch e Simões-Lopes, 2013a).

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Loch (2009) investigou a diferença entre o desgaste médio dos dentes entre

machos e fêmeas, de Sotalia guianensis (boto-cinza) e Tursiops truncatus (golfinho-

nariz-de-garrafa), não obtendo diferença para o boto-cinza. Porém no golfinho-nariz-

de-garrafa as fêmeas apresentaram médias maiores do que os machos, embora,

aparentemente, não existam aspectos comportamentais que justifiquem a diferença

observada.

Ramos et al. (2000) não encontraram diferenças significativas entre as

medidas dentárias e o sexo em Sotalia guianensis (boto-cinza), sugerindo que as

taxas de desgaste nessa espécie são similares.

Ao comparar a relação entre degaste médio e machos e fêmeas de boto-

vermelho não se obteve diferença estatística, o que mostra, que embora os machos

apresentem maior interação interespecífica, tanto para disputa de fêmeas quanto de

outros comportamentos sócios sexuais, esses comportamentos não se mostraram

suficientes para promover um maior desgaste nos indivíduos do sexo masculino.

O desgaste dentário é geralmente, um fenômeno relacionado com a idade,

com indivíduos mais velhos exibindo mais desgaste dos dentes. Em alguns casos,

pode ser tão avançado que a coroa dos dentes pode se desgastar por completo,

muitas vezes resultando em perda de dentes durante a vida do animal (Cuozzo e

Sauther, 2006).

As espécies Stenella frontalis e Tursiops truncatus confirmam esse padrão

por possuírem maiores médias de desgaste dentário com a progressão da idade e

crescimento (Loch, 2009). A relação entre degaste médio dos dentes e as fases do

ciclo de vida em Inia spp. apresentou grande diferença estatística, o que era

esperado, mostrando que exemplares mais velhos possuem maior grau de desgaste

nos dentes. A espécie I. araguaiaensis apresentou maior grau de desgaste,

provavelmente pelos exemplares disponíveis na coleção, onde a maioria dos

exemplares são adultos desta espécie e consequentemente apresentam maior grau

de desgaste dentário.

Dentre as alterações patológicas o cálculo dentário (CD) foi o mais presente,

sendo encontrado em 44,1% dos dentes analisados. Essa patologia também já foi

registrada nas espécies Sotalia fluviatilis (tucuxi) (Loch et al., 2006); Orcinus orca

(orca); Pseudorca crassidens (falsa-orca); Sotalia guianensis (boto-cinza); Steno

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bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos); Tursiops truncatus (golfinho-nariz-de-

garrafa) (Loch et al., 2011).

Loch (2009) observou a presença de CD em pequenos delfinídeos em torno

de 7% dos exemplares analisados, porém nos grandes delfinídeos como P.

crassidens e O. orca esta patologia foi registrada em todos os espécimes

analisados. Foi descrito, para Inia geoffrensis, por Ness (1966); Best e da Silva

(1993); da Silva (1995); Bohórquez-Mantilla e da Silva (2007) e Loch et al. (2006).

Loch et al. (2006) registraram CD em 21% dos 2009 dentes de Inia spp. analisados.

O CD é formado pela mineralização da placa dental, com os fluídos desta

placa e saliva, sendo estes as principais fontes de mineral para estes depósitos na

maioria dos mamíferos, porém ainda não se sabe como estes depósitos são

formados em cetáceos (Loch et al., 2011). Por aumentarem a alcalinidade da

cavidade oral e favorecerem a precipitação de minerais, dietas ricas em proteína

contribuem para a formação dos tártaros dentários. Esta constatação é consistente

com a ocorrência de tártaros em delfinídeos, devido a dieta desses golfinhos ser

composta geralmente por peixes (Loch, 2009).

O CD é encontrado predominantemente na região do cérvix do dente, muitas

vezes formando um anel em sua volta e mais grosso na parte externa dos dentes.

Sua coloração varia de amarelado até preto, com os depósitos maiores sendo os

mais escuros (da Silva, 1995; Loch et al., 2011).

Os resultados encontrados neste trabalho se assemelham com os descritos

na literatura, uma vez que nos dentes que apresentavam CD, essa alteração foi

observada na maioria dos casos na região do cérvix e apenas em poucos dentes foi

observado na região do cíngulo e da raiz.

Quando comparado os tipos de dentes, cone e molariforme, verifica-se maior

presença de cálculo nos molariformes. Como visto neste trabalho, nos dentes do tipo

cone ocorre maior desgaste, dessa forma não sendo possível visualizar a presença

de cálculo após o desenvolvimento deste desgaste.

Ao comparar a relação da ocorrência de CD entre os sexos foi verificado que

houve prevalência em fêmeas. É possível que ocorra uso mais intenso dos dentes

pelos machos durante o comportamento sócio sexual (Martin et al., 2008) gerando

maior atrito dos objetos com os dentes e removendo a placa bacteriana. Entre as

faixas etárias, observou-se o esperado, sendo a prevalência de CD em adultos;

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quanto aos tipos de água, exemplares provenientes de rios de água clara

apresentaram maior número de dentes com CD. Provavelmente por este tipo de

água apresentar um pH mais alcalino, em torno de 5,87 - 7,39, quando comparado

com os outros tipo de água (Novo et al., 2002), o que facilita o aumento da

concentração de cálcio e consequentemente a predisposição para o aparecimento

de cálculo dentário (Guastaldi e Aparecida, 2010). A espécie I. araguaiaensis

apresentou maior quantidade de CD, pois o ambiente que habita é de água clara,

um ambiente propricio para o aparecimento do CD.

As LSC, já foram descritas para algumas espécies de delfinídeos como

Tursiops truncatus (golfinho-nariz-de-garrafa) (Brooks e Anderson, 1998; Loch et al.,

2011); Sotalia fluviatilis (tucuxi) (Loch et al., 2006); Delphinus capensis (golfinho-

comum-de-bico-longo), Sotalia guianensis (boto-cinza), Stenella coeruleoalba

(golfinho-listrado), Stenella frontalis (golfinho-pintado-do-atlântico), Steno

bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos) (Loch et al., 2011). Com grande incidência

nas espécies Stenella coeruleoalba (golfinho-listrado) e Stenella frontalis (golfinho-

pintado-do-atlântico), com 30 e 25% dos exemplares afetados. Já para as outras

espécies, D. capensis, S. bredanensis, T. truncatus e S. guianensis, foram

registrados casos em torno de 6% de exemplares afetados (Loch, 2009).

Para o boto-vermelho, a LSC foi citada pela primeira vez por Ness (1966);

sendo citadas por este autor simplesmente como cáries, descritas como

semelhantes à aparência da cárie das superfícies dos dentes humanos. Neste

trabalho 453 dentes foram analisados, sendo que 23,6% apresentavam LSC. Já no

trabalho de Loch et al. (2006) 2009 dentes foram analisados, sendo encontradas as

LSC em 9,5%, sendo que as LSC chegaram a ocupar até toda a região de coroa.

Nos estudos de Ness (1966) com botos-vermelhos, foi mencionado que em

humanos com dietas ricas em carboidratos a ocorrência de cáries dentárias é alta,

mas menos plausível para cetáceos, em sua maioria, piscívoros.

Mesmo possuindo uma dieta fundamentalmente piscívora, os botos-

vermelhos apresentam patologias cuja ocorrência não seria favorecida por este tipo

de dieta, como, por exemplo, as cáries dentárias (Loch et al., 2006). Um fator que

pode facilitar a instalação da LSC é o desgaste excessivo e as fraturas dos dentes,

que podem expor a dentina favorecendo o acumulo de partículas de alimentos e a

consequente colonização bacteriana (Loch et al., 2011). Foi verificada diferença

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estatística para a presença de LSC entre os dentes do tipo cone e molariforme. LSC

estão mais presentes no dente tipo cone, provavelmente por serem os dentes que

mais apresentaram desgaste, sendo esta condição uma porta de entrada para

bactérias.

Fêmeas apresentaram uma maior quantidade de LSC quando comparadas

com machos. Isso pode ser consequência de também possuírem maior quantidade

de CD, onde há maior acúmulo de bactérias. Também houve diferença estatística

quanto as faixas etárias, sendo que os adultos apresentaram maiores números de

casos de LSC, mostrando a relação de presença de cáries com a idade. As LSC

também foram mais presentes em exemplares provindos de rios de água preta,

provavelmente por este tipo de água possuir um pH mais ácido, quando comparado

o de água branca (Sioli, 1985), e considerando que esse tipo de patologia apresenta

um processo biocorrosivo, provavelmente a acidez deste tipo de água (pH = 4,6-6,2)

(Novo et al., 2002) pode levar a um maior número de casos de LSC. A espécie I.

araguaiaensis apresentou maior quantidade de LSC, como possuem maior

quantidade de CD, onde há maior acúmulo de bactérias, qualquer alteração que

aparecesse no dente facilitaria a entrada de bactérias.

As corrosões dentárias, ocorreram em dois exemplares de Inia spp., adultos e

sem procedência ou sexo, totalizando 79 dentes (0,9%). Essa patologia foi descrita

para as espécies Orcinus orca (orca), Pseudorca crassidens (falsa-orca), Sotalia

guianensis (boto-cinza), Steno bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos), Tursiops

truncatus (golfinho-nariz-de-garrafa) (Loch et al., 2011; Loch et al., 2013a).

Os cetáceos se alimentam, em sua maioria, de peixes. Considerando a alta

quantidade de proteína em suas dietas, seria esperado que os mesmos possuíssem

um ambiente oral alcalino devido ao metabolismo de aminoácidos e da ureia em

amônia. Por estas razões, Loch et al. (2013a) consideram improvável que uma dieta

ácida seja a causa da corrosão nos destes destes animais. Esse mesmo autores

sugerem que a regurgitação das secreções gástricas e os ácidos provindos do

ambiente onde estão inseridos os animais sejam as causas mais plausíveis para

explicar a corrosão nos dentes de cetáceos.

Úlceras gástricas já foram relatadas no boto-vermelho em animais mantidos

em cativeiro, sendo três casos diagnosticados em vida e mais 13 casos no exame

de necropsia (Bonar et al., 2007). Se essa condição for uma constante também em

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animais de vida livre, a gastrite pode ser uma das causas para o aparecimento da

corrosão nos dentes dos animais analisado.

Dentre as alterações de desenvolvimento foram encontrados 132 alvéolos

com anquilose, este tipo de alteração ocorre quando há perda de dente durante a

vida do animal. Após, a perda dos dentes, o alvéolo é preenchido por tecido ósseo,

formando então a ossificação do alvéolo. A ossificação do alvéolo já foi descrita para

as espécies Delphinus capensis (golfinho-comum-de-bico-longo) (Montes et al.,

2004; Van Bressem et al., 2006); Tursiops truncatus (golfinho-nariz-de-garrafa),

Lagenorhynchus obscurus (golfinho-cinzento), Phocoena spinipinnis (boto-de-

burmeister) (Montes et al., 2004).

A pérola de esmalte foi observada pela primeira vez nesse gênero em dez

dentes, proveniente de oito exemplares adultos, sendo cinco I. geoffrensis (um

exemplar com duas pérolas de esmalte), dois exemplares I. araguaiaensis (um

exemplar com duas pérolas de esmalte) e um exemplar de Inia spp. sem localização

de origem, provenientes de diferentes localidades, e nos dois tipos de dentes (cone

e molariforme). Condição descrita também para a espécie Tursiops truncatus

(Brooks e Anderson, 1998). A pérola de esmalte decorre da hiperatividade ectópica

dos ameloblastos na porção radicular do dente. São caracterizadas

morfologicamente como pequenos tecidos mineralizados globóides e a sua

constituição é similar ao esmalte coronário. Aberrações do desenvolvimento

dentário, como as pérolas de esmalte, podem predispor a área afetada ao acúmulo

de biofilme oral e à maturação do cálculo dental (Castro-Silva et al., 2013).

A raiz dupla foi observada em apenas um dente, e do tipo cônico,

característica não encontrada para outros odontocetos, já que as espécies desse

grupo são majoritariamente homodontes. Dessa forma, esta alteração pode ser

hereditária ou ocorrer devido a uma mutação (Fordyce, 1982; Wolsan, 1984). Este

também é o primeiro relato dessa alteração para o gênero.

A condição de dentes adjacentes, encontrado nos exemplares de Inia spp.

analisados para este estudo, também foi descrito para Delphinus capensis (golfinho-

comum-de-bico-longo) (Van Bressem et al., 2006). Sendo propricio o aculúmo de CD

nessas condição, além de aumentar a probalidade de ocorrerem desgastes laterais.

Não foi possível avaliar a ocorrência de pigmentação exógena (descrito para

Lagenodelphis hosei (golfinho-de-fraser); Sotalia guianensis (boto-cinza); Stenella

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coeruleoalba (golfinho-listrado); Stenella frontalis (golfinho-pintado-do-atlântico);

Steno bredanensis (golfinho-de-dentes-rugosos); Tursiops truncatus (golfinho-nariz-

de-garrafa) (Loch et al., 2011)), uma vez que a coloração normal dos dentes de Inia

spp. varia do amarelo claro ao castanho escuro (Best e da Silva, 1993).

Apesar do grande número de exemplares analisados nesse estudo quando

comparado a outra espécies, não foram detectadas outras patologias descritas para

outros cetáceos, como dentes geminados (Luque et al., 2009; Loch et al., 2011),

alterações na forma (Loch et al., 2011), reabsorção de raiz (Loch et al., 2011),

hipoplasia do esmalte (Brooks e Anderson, 1998; Loch et al., 2011), reabsorção de

dentina e distúrbios no cemento (Luque et al., 2009).

2.5 Conclusões

Este trabalho apresenta o primeiro relato de corrosão, pérola de esmalte, raiz

dupla, dentes supranumários e dentes adjacentes para o gênero Inia spp.. Entre as

alterações mais encontradas para o gênero Inia spp. estão o desgaste dos dentes, a

presença de cálculo dentário, lesões semelhantes à cárie e ossificação do alvéolo.

Pelo menos um tipo de alteração dentária foi encontrada em exemplares

adultos, sendo comum a combinação de duas ou mais alterações. Os dentes cones

apresentaram maiores números de alterações, relacionado com o modo alimentar do

gênero. Já as fraturas e desgaste, apesar da grande resistência e dureza dos

dentes, estão relacionadas com tipo de alimentação do gênero, composto por peixes

que possuem placas ósseas e estruturas rígidas.

Ao comparar a relação da ocorrência de cálculo dentário entre os sexos foi

verificado que houve prevalência em fêmeas. Quando comparada as faixas etárias,

observou-se o esperado, sendo mais frequente em adultos, de exemplares

provenientes de água clara e para I. araguaiaensis.

As fêmeas apresentaram maior quantidade de LSC. A idade também foi um

fator preponderante, sendo os adultos aqueles com maior número de casos. Essa

patologia foi mais frequente em exemplares provindos de rios de água preta e para a

espécie I. araguaiaensis.

Dentes supranumários e a presença de raiz dupla, são características de

primitividade do gênero.

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CAPÍTULO 3

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3. Relação entre desvios de rostro e o desgaste médio de dentes

em boto-vermelho (de Blainville, 1817) (Cetartiodactyla,

Iniidae, Inia spp.)

Resumo. Foram analisados, utilizando morfometria geométrica tridimensional,

a relação entre o desvio do rostro e o desgaste dentário em 95 crânios de

exemplares do gênero Inia spp.. Para inferir o desvio do rostro dos exemplares

analisados foi utilizado um braço digitalizador, modelo MicroScribe® G - Portable

Measurement Systems, com o qual os landmarks foram digitalizados. Os graus de

desgaste dentário foram classificadas em 4 classes, de 0 a 3, sendo calculado um

índice médio de desgaste para cada exemplar. Utilizou-se o MorphoJ versão 1.06d

para comparar o grau de desgaste dos dentes e sua relação com o componente

assimétrico craniano. A regressão entre o componente assimétrico de todos os

landmarks e o desgaste médio dos dentes não apresentou significância estatística (p

= 0,0711), sendo a porcentagem da predição das duas situações de estarem

correlacionadas é de 1,8215%. Do mesmo modo, a regressão entre o componente

assimétrico dos landmarks somente do rostro e o desgaste médio dos dentes

também não apresentou significância estatística (p = 0,6052) e a porcentagem da

predição destas duas variáveis estarem correlacionadas é de 0,8802%. Apesar da

existência de torção de rostro e desgaste dentário, não foi observado relação

estatisticamente significante entre essas duas variáveis na análise aplicada,

demonstrando que o desvio de rostro e o desgaste médio dos dentes nos

exemplares de Inia spp. analisados neste estudo apresentam uma fraca relação. O

processo de desgaste é multifatorial, e envolve a abrasão, o atrito, a corrosão e a

abfração. Todos estes fatores devem ser levados em consideração quando o

assunto é abordado.

Palavras-chave: desvio de rostro, desgaste dentário, morfometria geométrica

tridimensional

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77

Abstract. Were analyzed using three-dimensional geometric morphometry, the

relationship between the deviation of the rostrum and tooth wear in 95 skulls of Inia

spp. genre. To infer the rostrum of the deviation was used a scanner arm,

MicroScribe® G model - Portable Measurement Systems, with which the landmarks

were digitized. The degrees of tooth wear were classified into 4 classes, from 0 to 3,

and calculated an average rate of wear for each sample. MorphoJ version 1.06d was

used to compare the degree of tooth wear and their relationship to the asymmetrical

component of the skull. The regression between the asymmetrical component of all

landmarks and the average tooth wear was not statistically significant (p = 0.0711),

and the percentage of the prediction of the two situations are correlated is 1.8215%.

Similarly, the regression between the asymmetrical component landmarks of the

rostrum and the average tooth wear also not statistically significant (p = 0.6052) and

the percentage of the prediction of these two variables are correlated is 0.8802%.

Despite the existence of the deviation of the rostrum and tooth wear, there was no

statistically significant relationship between these two variables in applied analysis,

showing that the deviation of the rostrum and the average tooth wear in the sample

of Inia spp. analyzed in this study show a weak relationship. The wear process is

multifactorial and involves abrasion, friction, corrosion and abfraction. All these

factors must be taken into account when the issue is addressed.

Keywords:rostrum deviation, tooth wear, three-dimensional morphometry

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78

3.1 Introdução

A morfometria geométrica tridimensional (3D) pode ser utilizada como uma

ferramenta para separar subespécies (Galatius e Gol‟din, 2011), espécies (Loy et al.,

2009) e demonstrar as mudanças ontogenéticas de uma espécie (Sydney et al.,

2012), entre outras aplicações.

Para quantificar a assimetria cranial em arqueocetos, Fahlke et al. (2011)

utilizaram a técnica da morfometria geométrica em três dimensões. Os desvios do

crânio foram calculados em relação ao comprimento da linha rostrocaudal, em

comparação com uma amostra de crânio de artiodáctilos modernos por serem

considerados simétricos. Esses autores verificaram que todos os exemplares

apresentavam desvio de crânio para a direita, no entanto, encontraram que o desvio

é estatisticamente significativo apenas em quatro dos seis crânios de arqueocetos

estudados.

Embora a assimetria craniana seja uma característica em cetáceos (Ness,

1967), um grande número de situações podem acarretar marcas ou alterações nos

ossos, sendo estas permanentes e passíveis de serem encontradas mesmo depois

de muito tempo da coleta dos exemplares (Simões-Lopes et al., 2008; Bianucci et

al., 2010).

A ocorrência de formas não usuais nos ossos dos indivíduos, definidas como

alterações morfológicas, não indicam necessariamente uma doença. As alterações

morfológicas podem variar na forma, número ou posição anatômica (Sweeney e

Ridgway, 1975; Best e da Silva, 1993; Furtado e Simões-Lopes, 1999; Berghan e

Visser, 2000; Montes et al., 2004; Gerholdt, 2006; Van Bressem et al., 2006;

Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007; Watson et al., 2008; Laeta et al., 2010; Groch

et al., 2012; Fettuccia et al., 2013; Marigo et al., 2013).

Os crânios dos cetáceos passaram por um processo conhecido como

telescoping, caracterizado pelo movimento anterior do osso supraocciptal e

moviemnto posterior da abertura nasal, sendo que os odontocetos exibem

sobreposição das maxilas sobre os ossos frontais (Geisler e Sanders, 2003).

A anatomia peculiar do crânio que os cetáceos apresentam devido a evolução

dessa estrutura (Macleod et al., 2007), trouxe adaptações como mudança da

posição habitual dos ossos nasais e um rostro mais alongado em relação aos outros

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mamíferos, além da projeção dos ossos maxilares e pré-maxilares, sendo comum

que nestes ossos encontrem-se alguma alteração morfológica, como o desvio de

rostro (Montes et al., 2004; Gerholdt, 2006; Van Bressem et al., 2006).

Estes desvios de rostro podem ser para a esquerda, direita, ventral, dorsal ou

rotacionado no próprio eixo, alterando a oclusão dentária dos indivíduos (Montes et

al., 2004; Bohórquez-Mantilla e da Silva, 2007; Capítulo 1, este trabalho).

Em relação aos dentes dos cetáceos já foram descritas diversas anomalias,

entre elas alterações no número, forma, tamanho, posição, entre outras. Uma das

alterações mais citadas nos odontocetos é o desgaste dentário (Drehmer et al.,

2012).

Apesar das restrições biomecânicas na movimentação da mandíbula há certo

dinamismo desta articulação em odontocetos. Os cetáceos executam principalmente

os movimentos mandibulares verticais, porém certos níveis de movimentos

mandibulares horizontais e transversais também podem estar presentes (Caldwell e

Brown, 1964). Esta movimentação mandibular é demonstrada pelos desgastes

encontrados no ápice e nas laterais dos dentes, sendo estes tipos de desgastes no

ápice dos dentesos mais frequentes em todas as espécies de odontocetos (Miles e

Grigson, 2003; Loch, 2009).

O desgaste dos dentes acontece pela combinação de três processos

principais: abrasão (desgaste produzido pela interação entre outros materiais com os

dentes), atrito (desgaste pelo contato dente-dente) e corrosão (dissolução do tecido

duro por substâncias ácidas). Um processo adicional, que tem sido citado mais

recentemente é a abfração (micro-lesões na região cervical do dente, causadas por

força da oclusão dentária) que pode potenciar o desgaste por abrasão e/ou corrosão

(Grippo et al., 2004; Addy e Shellis, 2006; Thewissen et al., 2011; Lucas e Omar,

2012).

O resultado de desgaste do dente é uma complexa interação de variáveis, ou

seja, é um processo multivariado, incluindo o comportamento, dieta, propriedades do

alimento desta dieta, mastigação e processamento de alimentos, morfologia dentária

e a quantidade de esmalte (Grippo et al., 2004; Cuozzo e Sauther, 2006).

O boto-vermelho possui por ramo de 24 a 35 dentes, variando entre 96 e 140

dentes ao total (Best e da Silva 1993, Capítulo 2 – esse estudo). Uma das diferenças

dentro do gênero está no número de dentes por ramo, por exemplo, Inia boliviensis

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possui de 31 a 35 dentes por ramo, enquanto Inia araguaiaensis possui de 23 a 28

dentes por ramo e Inia geoffrensis de 24 a 31, porém todas as espécies possuem a

forma da dentição semelhante (da Silva, 1983; da Silva, 1994; da Silva 1995; Hrbek

et al., 2014, Capítulo 2 – esse estudo).

Os odontocetos do gênero Inia spp. possuem dois tipos de dentes. Na metade

anterior de cada linha dentária os dentes são cônicos, enquanto que na metade

posterior os dentes possuem um sulco lingual que se estende a partir de cada coroa

para o lado labial e uma depressão no lado lingual, os molariformes (Ness, 1966;

Best e da Silva, 1993).

O boto-vermelho apresenta um dos esmaltes mais espessos entre os

odontocetos, 315–415 µm de espessura nos dentes cônicos e 475–515 µm nos

molariformes. Os prismas de seu esmalte dentário estão organizados em bandas de

Hunter-Schreger (BHS), consideradas como uma estrutura para resistir à

propagação de fissuras (Loch et al., 2013a; 2013b).

Em geral, um esmalte dentário espesso corresponde a uma dieta

predominantemente dura, embora esta relação ainda não tenha sido totalmente

esclarecida. Além disso, a quantidade de esmalte, a estrutura interna do esmalte, e

a presença de prismas em orientações diferentes, por exemplo, é proposto como

uma característica que proporciona maior resistência à propagação de desgaste.

Mamíferos com um esmalte mais espesso apresentam maior longevidade funcional

dos dentes (Cuozzo e Sauther, 2006).

Os botos-vermelhos se alimentam de uma grande variedade de peixes. A

alimentação inclui pelo menos 43 espécies diferentes de peixes distribuídos em 19

famílias. Aparentemente preferem peixes das famílias Sciaenidae (pescadas),

Cichlidae (carás), Characidae (piabas) e Serrasalmidae (piranhas). Mas pela

característica de sua dentição ser heterodonte, também lhes permite partir presas

duras e com carapaça, incluindo peixes com escudo cefálico e fileira de escudo

ossificado da família Doradidae (bagre) e Loricariidae (bodós), além outros animais

como, por exemplo, iaçá (Podocnemis sextuberculata) e caranguejo (Poppiana

argentiniana) (da Silva, 1983; Best e da Silva, 1993; da Silva e Best, 1996).

O boto-vermelho prende sua presa pelos dentes anteriores, e os transfere

para os dentes posteriores molariformes para esmagá-la e posicioná-los

posteriormente e deglutem, geralmente, primeiro a cabeça da presa ou pedaços

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grandes que são partidos e engolidos inteiros. O ato de conseguir esmagar suas

presas não o deixa restrito a alimentos que passam direto pelo esôfago, o que é

uma limitação para muitos cetáceos. O rostro longo, o pescoço flexível e os dentes

molariformes são adaptações para a técnica alimentar (da Silva, 1983; Kastelein et

al., 1999).

Além de usá-los na alimentação, os dentes para os botos-vermelhos também

são importantes em determinados comportamentos. Provocam marcas

intraespecíficas por mordidas ou outras interações, que causam cicatrizes, sendo

encontradas em indivíduos de todas as idades, contudo, com maior incidência

dessas marcas em machos adultos. Esse fato sugere que durante o período

reprodutivo os machos se tornam mais agressivos e que há intensa competição

pelas fêmeas (Martin e da Silva, 2004; Martin e da Silva, 2006; Martin et al., 2008).

Também foi observado o ato de carregar objetos como um comportamento de

exibição sócio sexual. Entre os objetos observados estão as herbáceas aquáticas

(usualmente a gramínea Paspalum sp.), galhos soltos de árvores e pedaços de

barro duro coletados no fundo do rio (Martin et al., 2008).

Tendo em vista as situações adversas pelas quais o boto-vermelho passa

durante sua vida, este trabalho visa avaliar, por meio da morfometria geométrica

tridimensional, a relação entre o desvio de rostro nos exemplares de Inia spp.

analisados está relacionada com o desgaste dentário destes exemplares estudados,

além de verificar a presença da assimetria craniana neste gênero.

3.2 Material e Métodos

Foram analisados crânios e dentes de 95 de exemplares do gênero Inia spp.

(64 I. geoffrensis, 21 I. araguaiaensis e 10 sem espécie definida). Esse material foi

coletado entre os anos 1975 e 2014 e provindos de diversas localidades das bacias

Amazônica e Tocantins-Araguaia (Figura 01). Estão depositados na coleção de

Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA),

localizado na cidade de Manaus/AM, Brasil sob os números INPA MA 001; 004; 010;

011; 012; 021; 022; 025; 027; 030-036; 042; 044-046; 048; 049; 058; 061; 063; 064;

070; 075; 076; 083; 084; 086; 090; 091; 092V; 093-095; 098-109; 112; 114-116; 119;

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82

153-158; 161; 162; 167-170; 172; 173; 176; 177; 179-187; 189-192; 196-204; 206;

580.

Figura 01. Distribuição dos exemplares de Inia spp. utilizados neste trabalho – Norte do Brasil. Todos os exemplares encontram-se depositado na coleção de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônia (INPA), na cidade de Manaus/AM, Brasil. Barra: Linhas a cada 5 graus de latitude e longitude.

Para inferir o desvio do rostro dos exemplares analisados foi utilizado um

braço digitalizador, modelo MicroScribe® G - Portable Measurement Systems, onde

os marcos anatômicos (landmarks) dos crânios foram digitalizados, obtendo-se as

coordenadas de cada ponto. A partir da digitalização dos landmarks foi gerado um

conjunto de dados com as coordenadas em três dimensões (x, y e z). Landmarks

são definidos como regiões homólogas que podem ser reconhecidas em indivíduos

de todos os tamanhos.

Após obtenção dos dados utilizando o braço digitalizador, os landmarks foram

convertidos em variáveis da forma na etapa inicial do processo da análise

morfométrica. A variação da forma representa as diferenças encontradas nos

landmarks dos exemplares analisados e as diferenças entre cada exemplar

analisado e o “exemplar médio”. A diferença entre a forma dos exemplares foi

calculada pela Análise de Procrustes (Barroso et al., 2012).

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83

A análise de Procrustes remove todas as variação de “não-forma”, tais como

a posição, a escala e a orientação do objeto (Rohlf, 1999; Theobald e Wuttke, 2006).

Este processo envolve o cálculo da média da posição de cada landmark para cada

exemplar envolvido na análise. Esta coleção de médias das coordenadas de cada

landmark é conhecida como “exemplar médio” ou “exemplar consenso”, necessário

para calcular a variação da forma. Desvios nos landmarks de cada exemplar quando

comparado com o “exemplar médio”, compreendem as variáveis das formas que

podem ser analisadas por meio de análises estatísticas multivariadas (Barroso et al.,

2012).

Um software abrangente para a análise morfométrica, MorphoJ versão 1.06d,

foi utilizado para avaliar a forma dos crânios dos exemplares do gênero Inia spp.

nesse estudo. MorphoJ implementa um completo ajuste de Procrustes, quando

então é calculado um centróide para cada exemplar, ou seja, é calculada a distância

média das coordenadas (x, y e z), revelando a distância de Procrustes. Para

contabilizar a redundância dos marcos bilaterais resultantes de simetria dos crânios,

MorphoJ altera as dimensões dos dados, este método reduz o número dos graus de

liberdade (Klingenberg et al., 2002).

Em objetos tridimensionais, sete parâmetros são removidos a partir das

coordenadas após a superposição de Procrustes: três eixos de translação, um de

escala (tamanho do centróide) e três ângulos de rotação. Embora esta informação

seja removida, o conjunto de coordenadas mantém o mesmo número de dimensões

(3p, onde p = número de landmarks), ao passo que a dimensionalidade real do

conjunto de dados deve ser 3p - 7. Uma maneira de resolver este problema consiste

em reduzir a dimensionalidade do conjunto de landmarks utilizando uma técnica

multivariada (Monteiro-Filho et al., 2002).

Considerando o grau de liberdade, para este estudo, foram utilizados 34

landmarks em cada crânio, conforme demostrado na (Figura 02 e Tabela 01), dando

preferência para os landmarks localizados na região do rostro, a fim de se obter

mais dados para essa região anatômica, foco deste estudo.

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84

Figura 02. Landmarks utilizados no crânio de Inia spp., em vistas (de cima para baixo) dorsal, ventral, lateral direita e posterior. Barra 5 cm.

14

3

25

13

2

24

12

23

1

11

27

32

20

6

31

19

26

4 5

15 17

7

30

29

18

8

10

28

21 33

22

9

34

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Tabela 01. Descrição dos landmarks utilizados nesse estudo em crânio de Inia spp. (adaptado de

Marcus et al., 2005; Jordan, 2012)

VISTA DORSAL 1 – extremidade anterior da sutura entre os ossos pré-maxilares 2 – primeiro quarto da sutura entre os ossos pré-maxilares 3 – segundo quarto da sutura entre os ossos pré-maxilares 4 – terceiro quarto da sutura entre os ossos pré-maxilares 5 – quarto quarto da sutura entre os ossos pré-maxilares 6 – extremidade do pré-maxilar com o inicio do mesetmoide 7 e 8 – extremidade dos ossos suturais (crista) (anterior e posterior) 11 e 23 – extremidade anterior do osso pré-maxilar (esquerdo e direito) 12 e 24 – primeiro quarto do limite ente o osso maxilar e a linha dentária (esquerdo e direito) 13 e 25 – segundo quarto do limite ente o osso maxilar e a linha dentária (esquerdo e direito) 14 e 26 – terceiro quarto do limite ente o osso maxilar e a linha dentária (esquerdo e direito) 15 e 27 – extremidade posterior da sutura dos ossos frontal e lacrimal (esquerdo e direito) 17 e 29 – extremidade dos ossos frontal e maxilar (esquerdo e direito) 18 e 30 – extremidade posterior das suturas dos ossos frontal e maxilar (esquerdo e direito) 19 e 31 – extremidade anterior do osso esquamosal (esquerdo e direito) 20 e 32 – extremidade posterior do osso esquamosal (esquerdo e direito) VISTA VENTRAL 10 – ponto médio da extremidade posterior do osso vômer VISTA LATERAL 16 e 28 – encontro das suturas dos ossos esquamosal, parietal e frontal (esquerdo e direito) VISTA CAUDAL 9 – extremidade inferior do forame magno 21 e 33 – extremidade posterior do osso parietal (esquerdo e direito) 22 e 34 – extremidade medial do forame magno (esquerdo e direito)

Para explorar a variação da forma dos crânios analisados, após a realização

da análise de Procrustes, foi feita a análise dos componentes principais (PCA) das

variáveis da forma. Os componentes principais indicam a contribuição de cada

componente para resposta da variação a ser analisada. O componente principal 1

(PC1) é o fator que mais contribui esta variação, ou seja, é responsável pelo máximo

de variabilidade nos dados. Para analisar a forma do crânio como um todo a PCA foi

efetuada sobre o componente assimétrico de Procrustes. Todos esses cálculos são

feitos automaticamente no software MorphoJ (Klingenberg, 2011).

Os dentes dos exemplares deste estudo foram inspecionados visualmente um

a um para a identificação das facetas de desgaste. A intensidade dos desgastes e o

índice médio de desgaste foram determinados conforme descrito no Capítulo 2 deste

trabalho.

Para comparar o grau de desgaste dos dentes e sua relação com o

componente assimétrico craniano, foram feitas duas análises de regressão, sendo

que na primeira utilizou-se como variável dependente o componente assimétrico das

coordenadas de Procrustes todo o crânio e na segunda somente os landmarks

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localizados no rostro (1, 2, 3, 4, 5, 11, 12, 13, 14, 15, 23, 24, 25, 26 e 27). Para as

duas regressões foram utilizadas como variável independente o desgaste médio dos

dentes para cada exemplar. A significância estatística foi testada utilizando

permutações (10.000 vezes) (Klingenberg, 2011).

3.3 Resultados

Após a análise de Procrustes, foram obtidas as seguintes representações

gráficas dos exemplares analisados (Figura 03).

Estas representações gráficas demonstram o tratamento geométrico inicial,

aos quais os landmarks coletados foram submetidos para posterior análise

morfométrica geométrica.

Cada landmark está indicado por um número, sendo o “exemplar médio”

representado pelo azul mais escuro, o desvio padrão o azul mais claro e cada

landmark possui uma nuvem de pontos, que representa a variação de cada

landmarks.

Figura 03. Representação gráfica dorso-ventral dos landmarks após a análise de Procrustes dos crânios dos exemplares de Inia spp. analisados, azul escuro representa o “exemplar médio”, o azul claro o desvio padrão, os pontos menores a variação de cada landmark.

A análise dos componentes principais (PCA), demonstrou que o componente

principal 1 (PC1), o comprimento do crânio, é o mais representativo para a variação

da forma, apresentando aproximadamente 25% desta variação, neste caso, e o

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PC2, a largura do crânio, representa aproximadamente 11% da variação (Figura

04).

Figura 04. Análise de componentes principais, demonstrando a influência que cada componente principal possui na variação da forma dos crânios dos exemplares de Inia spp. analisados

Pela PCA também foram geradas as representações gráficas levando em

consideração a variação entre os exemplares analisados e o PC1 de cada

landmarks (Figura 05)

Figura 05. Representação gráfica dorso-ventral dos landmarks após a análise de componentes principais dos crânios de Inia spp. analisados

Pela representação gráfica mostrada na Figura 05, foi possível verificar que

as espécies do gênero Inia spp., assim como os outros cetáceos, possuem

assimetria craniana. Essa assimetria é demonstrada pela direção e disposição dos

vetores no crânio; no qual os ossos da caixa craniana, apresentaram uma tendência

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de assimetria para o lado direito. Isso é diferente do que foi observado no primeiro

quarto do rostro até sua extremidade distal, onde houve uma tendência, dos ossos

maxilares e pré-maxilares, para a esquerda.

A regressão entre o componente assimétrico de todos os landmarks e o

desgaste médio dos dentes não apresentou significância estatística (p = 0,0711)

(Figura 06), onde a porcentagem da predição das duas situações de estarem

correlacionadas é de 1,8215%.

Figura 06. Gráfico representando a regressão entre o componente principal 1 (PC1) e o desgaste médio (DM) dos dentes de cada exemplar analisado.

Do mesmo modo, a regressão entre o componente assimétrico dos

landmarks somente do rostro e o desgaste médio dos dentes também não

apresentou significância estatística (p = 0,6052) (Figura 07), e a porcentagem da

predição destas duas variáveis estarem correlacionadas é de 0,8802%.

Figura 07. Gráfico representando a regressão entre o componente principal 1 (PC1) do rostro e o desgaste médio (DM) dos dentes de cada exemplar de Inia spp. analisado.

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89

3.4 Discussão

Uma das características do crânio dos cetáceos é a assimetria dos elementos

faciais (Perrin, 1975; Alves-Junior e Monteiro-Filho, 1999; Macleod et al., 2007;

Fahlke e Hampe, 2015). Tal característica também foi observada nos exemplares de

Inia spp.. Foi observado em diversas espécies de cetáceos, que os ossos que

margeiam a abertura nasal externa, pré-maxilares e nasais, são movidos

ligeiramente para a esquerda (Ness, 1967; Alves-Junior e Monteiro-Filho, 1999). O

mesmo também foi observado no gênero Inia spp..

Acompanhando esse deslocamento dos ossos, em cetáceos, há um

alargamento das estruturas do lado direito, onde o processo ascendente do pré-

maxilar direito é mais largo do que o esquerdo. As estruturas que compõem a

passagem nasal e a abertura nasal interna são bilateralmente simétricas, somente

os elementos faciais estão envolvidos nessa assimetria (Alves-Junior e Monteiro-

Filho, 1999).

Nas representações gráficas obtidas neste trabalho estas observações estão

representadas pelos vetores em cada landmark na região do sincrânio, com estes

direcionados à direita, demonstrando que a assimetria craniana do gênero Inia spp.

também está voltada para o lado direito, com exceção da extremidade distal do

rostro, que é voltada pra a esquerda.

A assimetria direcional encontrada em crânios de odontocetos está

relacionada com uma adaptação à vida aquática, o que permitiu que os cetáceos

engolissem suas presas por inteiro, enquanto protegem as vias respiratórias durante

a deglutição (Macleod et al., 2007).

Este fato foi demonstrado por meio de uma relação positiva significativa entre

a dimensão máxima relativa das presas consumidas e a média do componente

assimétrico em relação ao tamanho do crânio em diversos gêneros de odontocetos,

entre eles Mesoplodon, Ziphius, Hyperoodon, Kogia, Phocoena, Delphinus, Stenella,

Lagenorhynchus, Tursiops, Grampus, Globicephala e Orcinus (Macleod et al., 2007).

Embora as espécies do gênero Inia spp. apresentem assimetria craniana,

diferente dos outros cetáceos, eles não, necessariamente, engolem a presa como

um todo. Para presas grandes (20-25 cm), primeiro eles apreendem a presa com os

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90

dentes cônicos, após partem com os dentes molariformes, para depois deglutirem o

alimento (da Silva, 1983; Kastelein et al., 1999).

Além do modo de alimentação, a assimetria craniana direcional, uma

especialização dos cetáceos, também pode ser relacionada com a ecolocalização e

com a audição, que são extremamente desenvolvidas nesses animais (Fahlke e

Hampe, 2015). Sendo estes os prováveis motivos pelos quais há assimetria craniana

em cetáceos, assim como no gênero Inia spp..

Ademais da assimetria craniana, também é observado no boto-vermelho com

bastante frequência o desvio do rostro, como já descrito na literatura (Bohórquez-

Mantilla e da Silva, 2007) e observado no Capítulo 1 deste trabalho. Esta alteração

morfológica também é descrita para outras espécies de rostro longo, como

Mesoplodon grayi (baleia-bicuda-de-gray) (Montes et al., 2004), Pontoporia blainvillei

(franciscana) (Montes et al., 2004; Gerholdt, 2006) e Delphinus capensis (golfinho-

comum-de-bico-longo) (Montes et al., 2004; Van Bressem et al., 2006).

Em Pontoporia blainvillei (franciscana) o desvio de rostro foi relacionado ao

crescimento progressivo do animal e que pode ser relativamente comum a esta

espécie (Montes et al., 2004). Já Gerholdt (2006), relaciona os desvios do rostro

nesta mesma espécie com repetidas capturas na rede de pescadores, alimentação

ou interação com predadores ou outros cetáceos. Da mesma forma esses fatores

podem ser a provável causa de desvio de rostro no boto-vermelho.

Outra possível causa de desvio de rostro no gênero Inia spp., provavelmente

está relacionada com a forma de alimentação, em especial por pescarem em áreas

alagadas, com grande presença de raízes, e também pela interação intra e

interespecífica. Tal hábito alimentar pode facilitar o surgimento de alterações ao

longo do rostro por traumas constantes contra obstáculos como raízes e troncos

submersos.

Os movimentos mandibulares envolvidos na biomecânica da alimentação e o

grau de dureza do alimento contribuem diretamente para o desgaste dos dentes

(Loch et al., 2006). O contato dente-dente gerado quando os dentes superiores e

inferiores se encaixam uns com os outros no fechamento da mandíbula é,

potencialmente, a principal fonte de desgaste dos dentes para os cetáceos (Loch e

Simões-Lopes, 2013).

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91

Apesar da existência de torção de rostro e desgaste dentário, não foi

observado relação estatisticamente significante entre os dois na análise aplicada,

demonstrando que o desvio de rostro e o desgaste médio dos dentes nos

exemplares do gênero Inia spp. analisados neste estudo não são relacionados com

o desvio de rostro, ou apresentam uma fraca relação.

O processo de desgaste é multifatorial, e envolve a abrasão (desgaste

produzido pela interação entre outros materiais com os dentes), o atrito (desgaste

pelo contato dente-dente), a corrosão (dissolução do tecido duro por substâncias

ácidas) e a abfração (micro-lesões na região cervical do dente, causadas por força

da oclusão dentária) (Grippo et al., 2004; Addy e Shellis, 2006; Thewissen et al.,

2011; Lucas e Omar, 2012). Todos estes fatores devem ser levados em

consideração quando o assunto é abordado.

Assim como deve ser também considerado, no processo de desgaste

dentário, o comportamento dos animais, sua dieta, as propriedades do alimento

desta dieta, mastigação e o processamento de alimentos, morfologia dentária e a

quantidade de esmalte.

3.5 Conclusões

O crânio de Inia spp., assim como o de outros cetáceos, possui assimetria

direcionada para a direita, com exceção do quarto inicial do rostro, onde o Inia spp.

apresenta uma tendência de assimetria para a esquerda.

Os componentes assimétricos do crânio e do rostro de Inia spp. não

apresentam, por si só relação direta com o desgaste médio dos dentes nos

exemplares analisados neste estudo.

O desvio de rostro é um dos fatores que contribuem para o desgaste dos

dentes, fazendo parte do processo multifatorial que desgaste dentário.

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99

Considerações Finais

O propósito deste trabalho foi de conhecer e aumentar o conhecimento que

se tinha sobre as alterações ósseas e dentárias no gênero Inia spp., pelo exame

macroscópico do sincrânio e dos dentes de exemplares da Coleção de Mamíferos

aquáticos do INPA – Manaus/AM e verificar a relação entre as alterações dentárias e

sincranianas.

Por meio da pesquisa realizada foi possível verificar a ocorrência de diversas

alterações, tanto ósseas, quanto dentárias que ainda não haviam sido descritas para

o gênero.

Também foi possível verificar que exemplares maduros são os que mais

apresentam alterações dentárias e que os dentes, nesses animais, são uma

importante porta de entrada para a instalação de patologias, como a osteomielite,

por exemplo, que podem diminuir a expectativa de vida dos animais.

Saber quais são as principais alterações que acontecem neste gênero é um

dos primeiros passos para entender melhor os desafios que estes animais possuem

em vida livre, sendo necessários maiores estudos para entender a causa e etiologia

dessas alterações, para assim se conhecer o processo dessas alterações como um

todo.

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100

ANEXO

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101

Lista de exemplares analisados de Inia spp.

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/ Fusionamento

Crânio Mandíbula

INPA MA 001 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 002 I. geoffrensis PA Rio Amazonas B I S X -

INPA MA 004 I. geoffrensis AM Rio Negro P I S X X

INPA MA 006 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M S X X

INPA MA 010 - - sem localização - I A X X

INPA MA 011 I. geoffrensis AC Rio Juruá B F A X X

INPA MA 012 - - sem localização - I J X X

INPA MA 014 I. geoffrensis AM Rio Negro P M F - -

INPA MA 021 I. geoffrensis AM Rio Japurá B I A X X

INPA MA 022 I. geoffrensis AM Rio Negro P M J X X

INPA MA 023 - - sem localização - I A - X

INPA MA 025 - - sem localização - I S X X

INPA MA 027 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M S X X

INPA MA 030 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 031 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M F X X

INPA MA 032 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M J X X

INPA MA 033 I. geoffrensis AM Rio Japurá B F F X X

INPA MA 034 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M A X X

INPA MA 035 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M A X X

INPA MA 036 I. geoffrensis AM Rio Japurá B F S X X

INPA MA 037 I. geoffrensis AM Rio Japurá B F F X X

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

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102

continuação

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/

Fusionamento Crânio Mandíbula

INPA MA 042 - - sem localização - I A X X

INPA MA 044 - - sem localização - I A X X

INPA MA 045 - - sem localização - I J X X

INPA MA 046 I. geoffrensis AM Rio Negro P M F X X

INPA MA 048 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F A X X

INPA MA 049 I. geoffrensis AM Rio Japurá P F A X X

INPA MA 058 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 061 I. geoffrensis AM Rio Negro P M J X X

INPA MA 063 - - sem localização - I F X X

INPA MA 064 I. geoffrensis AM Rio Negro P F S X X

INPA MA 066 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A - X

INPA MA 070 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 075 I. geoffrensis AM Rio Japurá P M A X X

INPA MA 076 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M J X X

INPA MA 083 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 084 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M S - -

INPA MA 085 I. araguaiaensis PA Rio Araguaia C F S - X

INPA MA 086 I. araguaiaensis PA Rio Araguaia C I S X X

INPA MA 089 I. geoffrensis PA Rio Tapajós C I J - -

INPA MA 090 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F J - -

INPA MA 091 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F F - -

INPA MA 092F - - sem localização - I S X X

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

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103

continuação

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/

Fusionamento Crânio Mandíbula

INPA MA 092V I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 093 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 094 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F J X X

INPA MA 095 I. geoffrensis AM Rio Negro P M A X X

INPA MA 098 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M S X X

INPA MA 099 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F S X X

INPA MA 100 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 101 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F A X X

INPA MA 102 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 103 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F S X X

INPA MA 104 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F A X X

INPA MA 105 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 106 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F S X X

INPA MA 107 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F A X X

INPA MA 108 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 109 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C M A X X

INPA MA 110 I. araguaiaensis PA Rio Tocantins C F A - -

INPA MA 112 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F S X X

INPA MA 114 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 115 I. geoffrensis AM Rio Tapajós C I J X -

INPA MA 116 I. geoffrensis AM Rio Negro P I A X X

INPA MA 117 - - sem localização - I S - X

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

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104

continuação

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/

Fusionamento Crânio Mandíbula

INPA MA 118 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M F - -

INPA MA 119 I. geoffrensis AM Rio Negro P F A X X

INPA MA 153 - - sem localização - I A X X

INPA MA 154 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 155 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 156 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M J X X

INPA MA 157 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 158 I. geoffrensis AM Rio Japurá B M S X X

INPA MA 159 I. geoffrensis AM Rio Negro P I F X -

INPA MA 160 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I S - X

INPA MA 161 - - sem localização - I J X X

INPA MA 162 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M F X X

INPA MA 163 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F F - X

INPA MA 164 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M F - X

INPA MA 167 I. geoffrensis AM Rio Madeira B M A X X

INPA MA 168 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M J X X

INPA MA 169 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 170 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 171 I. geoffrensis AM Rio Negro P I A X X

INPA MA 172 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I S X X

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

Page 141: ALTERAÇÕES ÓSSEAS SINCRANIANAS E DENTÁRIAS EM …bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/2141/5/9 Dissertação Lucas Lara.pdf · Inia spp. em relação à fase do ciclo de vida dos exemplares

105

continuação

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/

Fusionamento Crânio Mandíbula

INPA MA 173 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F J X X

INPA MA 174 - - sem localização - I A - -

INPA MA 175 - - sem localização - I S - -

INPA MA 176 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I F X X

INPA MA 177 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F A X X

INPA MA 178 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X -

INPA MA 179 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 180 I. geoffrensis AC Rio Purus P I A X X

INPA MA 181 I. geoffrensis AM Rio Purus P M A X X

INPA MA 182 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I S X X

INPA MA 183 I. araguaiaensis TO Rio Araguaia C I A X X

INPA MA 184 I. araguaiaensis TO Rio Araguaia C I A X X

INPA MA 185 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 186 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M S X X

INPA MA 187 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 188 I. araguaiaensis TO Rio Tocantins C I J X X

INPA MA 189 I. araguaiaensis TO Rio Araguaia C I A X X

INPA MA 190 I. araguaiaensis TO Rio Araguaia C I S X X

INPA MA 191 I. geoffrensis AM Rio Xingu P I A X X

INPA MA 192 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 195 I. geoffrensis AM Rio Madeira B I S X -

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

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106

continuação

Exemplar Espécie Estado Procedência Tipo de

água Sexo

Faixa Etária/

Fusionamento Crânio Mandíbula

INPA MA 196 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 197 I. geoffrensis AM Rio Japurá B F J X X

INPA MA 198 I. geoffrensis AM Rio Solimões B M A X X

INPA MA 199 I. geoffrensis AC Rio Purus P I A X -

INPA MA 200 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I F X X

INPA MA 201 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I A X X

INPA MA 202 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I S X X

INPA MA 203 I. geoffrensis AM Rio Uatamã P I A X -

INPA MA 204 I. geoffrensis AM Rio Solimões B F F X X

INPA MA 205 I. geoffrensis AM Rio Solimões B I F - X

INPA MA 206 I. geoffrensis AM Rio Uatamã P I J X X

INPA MA 580 - - sem localização - I A X X

Legenda: Estado: (AC) Acre, (AM) Amazonas, (PA) Pará; (TO) Tocantins; Tipo de Água: (B) Branca, (C) Clara, (P) Preta; Sexo: (F) Fêmea, (I)

Indefinido, (M) Macho; Faixa etária: (F) Filhote, (J) Juvenil, (S) Subadulto, (A) adulto.

Page 143: ALTERAÇÕES ÓSSEAS SINCRANIANAS E DENTÁRIAS EM …bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/2141/5/9 Dissertação Lucas Lara.pdf · Inia spp. em relação à fase do ciclo de vida dos exemplares

107