ALTERAÇÕES RENAIS E METABÓLICAS INDUZIDAS PELA … Mestrado... · hiperlipídica e hipersódica...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE IMS PROGRAMA MULTICÊNTRICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS - SBFIS SAMIRA ITANA DE SOUZA ALTERAÇÕES RENAIS E METABÓLICAS INDUZIDAS PELA DIETA HIPERLIPÍDICA E HIPERSÓDICA EM RATAS OVARIECTOMIZADAS. Vitória da Conquista 2012

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SADE IMS

    PROGRAMA MULTICNTRICO DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FISIOLGICAS - SBFIS

    SAMIRA ITANA DE SOUZA

    ALTERAES RENAIS E METABLICAS INDUZIDAS PELA

    DIETA HIPERLIPDICA E HIPERSDICA EM RATAS

    OVARIECTOMIZADAS.

    Vitria da Conquista

    2012

  • SAMIRA ITANA DE SOUZA

    ALTERAES RENAIS E METABLICAS INDUZIDAS PELA DIETA HIPERLIPDICA E HIPERSDICA EM RATAS

    OVARIECTOMIZADAS.

    Dissertao apresentada ao Programa Multicntrico de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas/Sociedade Brasileira de Fisiologia, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Fisiolgicas. Orientadora: Prof. Dr. Telma de Jesus Soares Universidade Federal da Bahia UFBA Co-orientadora: Prof. Dr. Terezila Machado Coimbra Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto FMRP/USP

    Vitria da Conquista

    2012

  • Biblioteca Universitria Campus Ansio Teixeira - UFBA

    Souza, Samira Itana de

    Alteraes renais e metablicas induzidas pela dieta hiperlipdica e hipersdica em

    ratas ovariectomizadas / Samira Itana de Souza - 2012.

    98 f. : il.

    Orientadora: Prof. Dr. Telma de Jesus Soares; Prof. Dr. Terezila Machado

    Coimbra.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal da Bahia, Programa Multicntrico de

    Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas, 2012.

    1. Dieta Hiperlipdica. 2. Cloreto de Sdio na Dieta. 3. Ovariectomia. 4. Obesidade. I. Universidade Federal da Bahia. Programa Multicntrico de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas. II. Ttulo. CDU 615.874.25

  • Deus, por sempre iluminar meus caminhos.

    Aos meus pais pelo imenso amor, proteo, fora e carinho.

    Aos meus queridos irmos Sanaia, Sanio e Maria Lcia pela cumplicidade, apoio e afeto.

    Ao meu namorado pelo companheirismo, carinho e compreenso.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, por conceder a mim a oportunidade de ingressar no mestrado e tambm pela imensa proteo e fora nos momentos difceis. Aos meus pais pelo amor, proteo e palavras de incentivo e afeto que me fortaleceram durante toda a jornada. Aos meus irmos Sanaia, Snio e Maria Lcia pelo companheirismo, carinho e momentos de alegria. Ao meu namorado e aos meus sogros pelo apoio e carinho. prof Telma de Jesus Soares, minha orientadora, que com muita tranquilidade e serenidade soube me conduzir e transmitir seus conhecimentos, contribuindo grandemente para meu amadurecimento profissional. Agradeo tambm pela confiana depositada em mim, pelos conselhos e pelo carinho com que me tratou durante os dois anos de mestrado. prof Terezila Machado Coimbra pela co-orientao do trabalho e pela contribuio para concretizao do mesmo, disponibilizando o seu laboratrio para realizao de alguns experimentos. Ao prof Jos Rodrigues Antunes pela idealizao do Programa Multicntrico em Cincias Fisiolgicas, descentralizando a pesquisa cientfica e possibilitando a difuso dos conhecimentos na rea de fisiologia. prof Amlia Cristina Mendes de Magalhes pela disponibilidade em ajudar, pelas sugestes e contribuio para a construo do trabalho. s professoras Najara de Oliveira Belo e Regiane Yatsuda pela contribuio para realizao do trabalho e pelo bom funcionamento do programa. Ao prof Cndido Celso Coimbra, do Laboratrio de Endocrinologia e Metabolismo do ICB na Universidade Federal de Minas Gerais, pela realizao do radioimunoensaio para insulina. prof Josmara Bartolomei Fregoneze pelo fornecimento dos ratos do Biotrio Setorial do Instituto de Cincias da Sade da Universidade Federal da Bahia ICS/UFBA. prof Cludia Macedo e a Ana Paula Silva Pereira pela realizao dos cortes histolgicos. Aos colegas de laboratrio Anna Carolina, Everaldo, Kelle, Leda, Liliany, Daniela, Raimundo, Thiago Henrique, Gleisy, Luciano, Grazielle e Jussara pela convivncia harmoniosa.

  • Aos colegas de iniciao cientfica, Thiago Trindade, Welber, Fernanda, Jssica, Roberta, Higor, Gabriela, Brbara, Cleidiani, Emanuele, Amanda Rocha, Amanda, Samuel, pela ajuda nos experimentos e dedicao ao projeto. Helosa e veling, alunas de ps-doutorado e doutorado respectivamente, do laboratrio de Fisiologia Renal da FMRP/USP, pelo carinho com que me receberam e tambm pela contribuio na realizao de alguns experimentos. tcnica do laboratrio de Fisiologia Renal da FMRP/USP, Cleonice Giovanni Alves da Silva, pelo auxlio na realizao de alguns experimentos. Ao tcnico do Departamento de Fisiologia da FMRP-USP, Rubens Fernando de Melo, pelos cortes histolgicos. tcnica do departamento de Farmacologia da FMRP/USP, Giuliana Bertozi Francisco pela realizao do ELISA. Aos professores e colegas das Universidades Nucleadoras da FMRP/USP e UFRJ pelo acolhimento. CAPES e FAPESB, pela concesso de bolsa e pelo auxlio financeiro para o projeto que possibilitaram a realizao deste trabalho.

  • Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor o lucro que

    ela d do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa do que

    prolas, e tudo o que podes desejar no comparvel a ela

    (Pv, 3.13-15)

  • SOUZA, Samira Itana de. Alteraes renais e metablicas induzidas pela dieta hiperlipdica e hipersdica em ratas ovariectomizadas. 97 f. il. 2012. Dissertao (Mestrado) Instituto Multidisciplinar de Sade, Universidade Federal da Bahia, Vitria da Conquista, 2012

    RESUMO

    O consumo de dieta hiperlipdica e hipersdica est associado ao aumento da presso arterial, do peso corporal e do tecido adiposo visceral. O excesso de peso e a sobrecarga de sal podem promover alteraes renais. Contudo, a influncia dessa dieta sobre a funo e estrutura renal durante a reduo dos hormnios ovarianos tem sido pouco documentada. O objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos da dieta hiperlipdica e hipersdica sobre a presso arterial e os parmetros renais e bioqumicos em ratas ovariectomizadas. Vinte e quatro ratas Wistar foram ovariectomizadas (OV) e divididas nos seguintes grupos: DCO - ratas OV submetidas dieta padro contendo 12,39% do total de calorias advindas de gordura e 0,3% de cloreto de sdio (n=6); DLO - ratas OV submetidas dieta hiperlipdica contendo 51,1% do total de calorias advindas de gordura e 0,3% de cloreto de sdio (n=8); e DLSO - ratas OV submetidas dieta hiperlipdica contendo 56,1% do total de calorias advindas de gordura e 8% de cloreto de sdio (n=10). O peso e a presso sangunea foram determinados semanalmente. Amostras de sangue foram coletadas para anlise de funo renal e para determinao da glicose, colesterol total, triglicerdeos, insulina e da tolerncia a glicose. Amostras de urina de 24h foram utilizadas para anlise de funo renal. Os animais foram sacrificados aps 24 semanas de dieta e os rins removidos para a realizao dos estudos histolgicos, morfomtricos e imunoistoqumicos. O tecido adiposo visceral foi tambm removido. Os resultados demonstraram que o grupo DLO apresentou maior ganho de peso corporal e ingesto calrica quando comparado ao grupo DCO, enquanto o grupo DLSO no apresentou alteraes significativas desses parmetros. Os grupos DLO e DLSO demonstraram aumento do tecido adiposo abdominal e da presso arterial sistlica (PAS) quando comparado ao grupo DCO. O grupo DLSO apresentou ainda maior PAS em relao ao DLO. Esses animais no apresentaram diferenas nos nveis sricos de colesterol total, triglicerdeos e de glicose, porm, demostraram reduo da tolerncia a glicose quando comparado ao grupo controle. As ratas do grupo DLO apresentaram elevao dos nveis sricos de insulina, do ndice HOMA-IR, da proteinria e reduo da frao de excreo de sdio (FENa+) comparado ao controle. Contudo, a proteinria e a FENa+ foram mais elevados no grupo DLSO. No foram observadas alteraes significativas da creatinina plasmtica e da taxa de filtrao glomerular entre os grupos. O grupo DLO apresentou alteraes discretas no compartimento tbulo-intersticial do crtex renal, caracterizadas por infiltrado inflamatrio, fibrose intersticial e dilatao e atrofia tubular. Essas alteraes no foram observadas no grupo DLSO. O nmero de macrfagos/moncitos estava aumentado no crtex renal das ratas dos grupos DLO e DLSO em relao ao grupo DCO. Os nossos resultados demonstram que a adio de sal dieta hiperlipdica em ratas ovariectomizadas pode contribuir para elevao da PAS e do tecido adiposo visceral, reduo da tolerncia a glicose, proteinria e infiltrao de macrfagos/moncitos no tecido renal.

  • Palavras-chave: Dieta hiperlipdica; Cloreto de sdio na dieta; Ovariectomia; Obesidade.

  • SOUZA, Samira Itana de. Renal and metabolic alterations induced by high fat and

    high salt diet in ovariectomized rats. 97 pp. ill. 2012. Mster Dissertation Instituto

    Multidisciplinar de Sade, Universidade Federal da Bahia, Vitria da Conquista,

    2012.

    ABSTRACT

    The consumption of high fat and high salt diet is associated with increased blood

    pressure, body weight and visceral adipose tissue. Excess of weight and high salt

    diet may promote renal alterations. However, the influence of this diet on renal

    function and structure during the reduction of ovarian hormones has been less

    documented. The aim of this study was to evaluate the effects of high fat plus high

    salt diet on blood pressure and renal and biochemical parameters in ovariectomized

    rats. Twenty-four Wistar rats were ovariectomized (OV) and divided into the following

    groups: OSD OV rats submitted to the standard diet containing 12,39% of total

    calories from fat and 0,3% of sodium chloride (n=6), OHFD OV rats submitted to

    high-fat diet containing 51,1% of total calories from fat and 0,3% of sodium chloride

    (n=8) and OHFSD - OV rats submitted to high-fat diet containing 56,1% of total

    calories from fat and 8% of sodium chloride (n=10). Weight and blood pressure were

    measured weekly. Blood samples were collected for analysis of renal function and to

    determine serum glucose, total cholesterol, triglycerides, insulin and glucose

    tolerance. Urine samples collected over a 24-hour period were used for analysis of

    renal function. The animals were killed 24 weeks after the dietary treatment, at which

    time the kidneys were removed for histological, morphometric, immunohistochemical

    studies. The visceral adipose tissue was also removed. The results demonstrated

    that OHFD group presented higher weight gain and caloric intake compared to the

    OSD group, while OHFSD group didnt show any significant alterations of these

    parameters. The OHFD and OHFSD group rats showed increased visceral adipose

    tissue and systolic blood pressure (SBP) when compared to the OSD group. The

    OHFSD group had a higher systolic arterial pressure than in the OHFD group. These

    animals didnt show any difference in the total cholesterol, triglycerides and glucose

    serum levels, but showed reduction of glucose tolerance compared to the control

    group. The OHFD rats presented elevated insulin serum levels, HOMA-IR index,

    proteinuria and reduced and fractional excretion of sodium (FENa+) compared to the

    control. However, the proteinuria and FENa+ were higher in the OHFSD group. There

    were not significant differences in plasma creatinine and glomerular filtration rate

    between the groups. The OHFD group showed slight alterations in tubulointerstitial

    compartment of the renal cortex, characterized by interstitial inflammatory infiltrates,

    interstitial fibrosis, dilation and atrophy tubular. These changes were not observed in

    OHFSD group. The number of macrophages/monocytes was increased in the renal

    cortex of OHFD and OHFSD rats than in the OSD rats. Our results demonstrate that

  • high-fat plus high salt diet in ovariectomized rats may contribute to the increases in

    systolic blood pressure and visceral adipose tissue, reduced glucose tolerance,

    proteinuria and macrophage/monocytes infiltration in the renal cortex of these

    animals.

    Keywords: High fat diet; Sodium chloride in the diet; Ovariectomy; Obesity.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AII Angiotensina II

    CTI Compartimento tbulo-intersticial

    Dahl S Ratos sensveis ao sal

    DCO Ratas submetidas dieta controle e ovariectomia

    DLO Ratas submetidas dieta hiperlipdica e ovariectomia

    DLSO Ratas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica e ovariectomia

    ECA Enzima conversora da angiotensina

    ELISA Enzime Linked Immunosorbent Assay

    eNOS xido ntrico sintetase endotelial

    ERO Espcies reativas de oxignio

    ER- receptor de estrgeno alfa

    FENa+ Frao de excreo de sdio

    HOMA-IR Homeostatic model assessment

    IL-6 Interleucina 6

    LDL Lipoprotena de baixa densidade

    LPL Lipoprotena lpase

    LTI Leso tbulo-intersticial

    MCP-1 protena quimiottica de moncitos

    NF-B Fator de transcrio nuclear kappa B

    NO xido ntrico

    PA Presso arterial

    PPAR Receptor ativado por proliferadores de peroxissoma Gama

    PAS Presso arterial sistlica

    PCR Protena C reativa

    RIA Radioimunoensaio

  • RNAm cido ribonuclico mensageiro

    SNS Sistema nervoso simptico

    SRAA Sistema renina angiotensina aldosterona

    TAM Tecido adiposo mesentrico

    TAP Tecido adiposo peritoneal

    TAR Tecido adiposo retroperitoneal

    TAV Tecido adiposo visceral

    TFG Taxa de filtrao glomerular

    TGF- Transforming growth factor-

    TNF- Fator de necrose tumoral alfa

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Ganho de peso corporal de ratas ovariectomizadas submetidas dieta

    controle (DCO), ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO) e de

    ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24

    semanas aps o tratamento diettico. Dados so expressos como mdiaEPM.

    *p

  • Figura 6. Concentrao srica de insulina de ratas ovariectomizadas submetidas

    dieta controle (DCO), ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO)

    e de ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO),

    24 semanas aps o tratamento diettico. Dados so expressos como mdiaEPM.

    ***p

  • dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24 semanas aps o tratamento diettico.

    Dados so expressos como mdiaEPM. *** p0,05 versus DCO...............................63

    Figura 13. rea do tufo glomerular de glomrulos justamedulares de ratas

    ovariectomizadas submetidas dieta controle (DCO), de ratas ovariectomizadas

    submetida dieta hiperlipdica (DLO) e de ratas ovariectomizadas submetidas

    dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24 semanas aps o tratamento diettico.

    Dados so expressos como mdiaEPM...................................................................63

    Figura 14. Imunolocalizao de clulas ED-1 positivas (macrofgos/moncitos) no

    CTI no crtex renal de ratas ovariectomizadas submetidas dieta controle (DCO)

    (A), ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO) (B) e de ratas

    ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO) (C), 24

    semanas aps o tratamento diettico (40x)...............................................................64

    Figura 15. Quantificao do nmero de clulas ED-1-positivas no CTI no crtex

    renal de ratas ovariectomizadas submetidas dieta controle (DCO), ratas

    ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO) e de ratas

    ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24

    semanas aps o tratamento diettico. Dados so expressos como mdiaEPM.

    *p

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Propores dos ingredientes nas dietas experimentais controle (DC) e

    hiperlipdica (DL) e hiperlipdica e hipersdica (DLS)................................................40

    Tabela 2 Composio bromatolgica das dietas experimentais controle (DC) e

    hiperlipdicas (DL) e hiperlipdica e hipersdica (DLS)...............................................41

    Tabela 3 Contribuio das fraes de protenas, carboidratos e gorduras no total

    da energia metabolizvel nas dietas experimentais e hiperlipdica e hipersdica

    (DLS)..........................................................................................................................42

    Tabela 4 Contribuio das fraes de amido de milho, farelo de soja, casena,

    sacarose e maltodextrina na composio dos carboidratos totais nas dietas

    experimentais e hiperlipdica e hipersdica (DLS).....................................................42

    Tabela 5 ndice uterino dos grupos DCO, DLO e DLSO, aps 24 semanas de dieta..........................................................................................................................51

    Tabela 6 P Peso corporal (g), pesos dos tecidos adiposos (mg/pc) e ingesto

    alimentar (g/dia) e calrica (Kcal/dia) dos grupos DCO, DLO e DLSO, aps 24

    semanas de dieta.....................................................................................................54

    Tabela 7 Presso arterial sistlica, presso diastlica e presso mdia (mmHg) e

    frequncia cardaca (bpm) dos grupos DCO, DLO e DLSO, aps 24 semanas de

    dieta.........................................................................................................................55

    Tabela 8 Parmetros bioqumicos dos grupos experimentais DCO, DLO e DLSO,

    aps 24 semanas de dieta.......................................................................................56

    Tabela 9 ndice de resistncia a insulina (HOMA-IR) dos grupos experimentais

    DCO, DLO e DLSO, aps 24 semanas de dieta......................................................58

    Tabela 10 Parmetros de funo renal dos grupos experimentais DCO, DLO e

    DLSO, aps 24 semanas de dieta...........................................................................59

    Tabela 11 Anlise histolgica, morfomtrica e imunoistoqumica de ratas DCO,

    DLO e DLSO, aps 24 semanas de dieta................................................................65

  • SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................20

    2 REVISO DE LITERATURA..........................................................................23

    2.1 Obesidade e Injria Renal...............................................................................23

    2.2 Obesidade, sal e hipertenso.........................................................................28

    2.3 Sal, Hipertenso e Leso Renal.....................................................................30

    2.4 Estrgenos, obesidade, sensibilidade ao sal e injria renal...........................32

    3 OBJETIVOS....................................................................................................37

    3.1 Objetivo Geral..................................................................................................37

    3.2 Objetivos Especficos......................................................................................37

    4 HIPTESES....................................................................................................38

    5 MATERIAL E MTODOS................................................................................39

    5.1 Animais............................................................................................................39

    5.2 Procedimentos Experimentais.........................................................................39

    5.3 Dietas ..............................................................................................................40

    5.4 Procedimento cirrgico....................................................................................42

    5.5 Determinao da Presso Arterial e do Peso Corporal...................................43

    5.6 Avaliao da ingesto alimentar e calrica.....................................................43

    5.7 Anlise do perfil bioqumico ............................................................................43

    5.7.1 Dosagem de colesterol total............................................................................43

    5.7.2 Dosagem de triglicerdeos..............................................................................44

    5.7.3 Glicemia srica................................................................................................44

  • 5.8 Teste de Tolerncia a glicose..........................................................................45

    5.9 Dosagem de insulina srica (RIA)...................................................................45

    5.10 Homeostatic model assessment of insulin resistance (HOMA-IR)..............45

    5.11 Anlise da Funo Renal.................................................................................46

    5.11.1 Quantificao de creatinina nas amostras de sangue e de urina....................46

    5.11.2 Quantificao de Na+ e K+ nas amostras de sangue e de urina......................47

    5.11.3 Quantificao da protena urinria...................................................................47

    5.12 Anlise Histolgica Renal ..............................................................................48

    5.12.1 Leses Tbulo-intersticiais..............................................................................48

    5.13 Anlise Morfomtrica Glomerular ....................................................................48

    5.14 Anlise Imunoistoqumica para macrfagos/moncitos..................................49

    5.15 Dosagem de TNF srico/ENZIMAIMUNOENSAIO- ELISA...........................49

    5.16 Anlise Estatstica...........................................................................................50

    6 RESULTADOS................................................................................................51

    6.1 ndice uterino...................................................................................................51

    6.2 Ganho de peso e peso do tecido adiposo visceral..........................................51

    6.3 Ingesto alimentar e calrica..........................................................................53

    6.4 Presso Arterial e Frequncia Cardaca .........................................................54

    6.5 Parmetros Bioqumicos.................................................................................55

    6.6 Teste de tolerncia a glicose...........................................................................56

    6.7 Insulina Srica/HOMA-IR................................................................................57

    6.8 Parmetros de Funo Renal.........................................................................58

    6.9 Anlise Histolgica e Morfomtrica do Rim....................................................61

  • 6.10 Imunomarcao para macrfagos/moncitos................................................63

    6.11 Dosagem srica de TNF-.............................................................................65

    7 DISCUSSO..................................................................................................66

    7.1 Limitaes......................................................................................................79

    8 CONCLUSO................................................................................................80

    REFERNCIAS........................................................................................................81

  • 20

    1. INTRODUO

    Os estudos epidemiolgicos tm documentado um rpido crescimento na incidncia

    de obesidade sendo a mesma considerada uma doena epidmica que atinge mais

    de 400 milhes de pessoas globalmente. Igualmente, a incidncia de complicaes

    associadas obesidade tambm tem crescido nas ltimas dcadas (YEPURU et al.,

    2010; KOTSIS et al., 2010; HURT et al., 2010). A obesidade envolve vrios

    distrbios no metabolismo energtico, como dislipidemia, resistncia a insulina,

    aumento de citocinas pr-inflamatrias, caracterizando um estado de sndrome

    metablica que aumenta o risco para o desenvolvimento de hipertenso arterial

    (STEPPAN, LAZAR, 2004; OROURKE, 2009). Alm disso, estudos evidenciam que

    a obesidade pode contribuir para o aumento da presso sangunea em resposta ao

    excesso de sal, caracterizando elevada sensibilidade da presso arterial ao sal na

    hipertenso induzida pela obesidade (NAGAE et al., 2009; SARTORI-VALINOTTI et

    al., 2009). De fato, a hipertenso sensvel ao sal representa aproximadamente 50%

    dos adultos hipertensos e est associada a fatores metablicos, hemodinmicos e

    renais que podem aumentar os riscos de morbidades cardiovasculares e renais

    (CAMPESE, 1994; CHAMARTHI et al., 2010).

    A maior parte das complicaes atribudas obesidade est relacionada aos riscos

    cardiovasculares associados secreo de citocinas derivadas do tecido adiposo,

    vias neurohumorais e fatores metablicos capazes de provocar maior acometimento

    sobre a microvasculatura e sobre os rgos-alvo (SOWERS, 1998; SHI, CLEGG,

    2009; BROWN, CLEGG, 2010; KOTSIS et al, 2010). A obesidade constitui, ento,

    um importante indicador de risco metablico e cardiovascular, estando

    frequentemente associada sndrome metablica (SOWERS, 2003). Contudo, seus

    efeitos sobre os rins tm sido menos documentados (HALL et al., 2002; DO CARMO

    et al., 2009).

    Os mecanismos pelos quais a obesidade promove leses renais no esto

    completamente elucidados. As alteraes hemodinmicas, metablicas e

    inflamatrias presentes na obesidade parecem desempenhar funo importante na

    induo e progresso de leses renais (DO CARMO et al., 2009). O acmulo de

  • 21

    tecido adiposo, particularmente a adiposidade visceral, est associado a alteraes

    da funo renal caracterizadas pelo aumento da reabsoro de sdio, promovendo

    expanso de volume e elevao da presso sangunea durante o ganho excessivo

    de peso. Por outro lado, a hipertenso e as anormalidades metablicas associadas

    com a obesidade, podem contribuir para o desenvolvimento de doenas renais

    (HALL et al., 2003). A reteno de sdio e o fluido extracelular esto aumentados na

    obesidade induzida pela dieta em modelos experimentais e em humanos obesos

    (HALL et al., 1997). Experimentos com animais obesos demonstram tambm

    alteraes da estrutura renal, incluindo expanso da cpsula de Bowman,

    proliferao celular no glomrulo e espessamento da membrana basal glomerular e

    tubular. Esses achados foram associados a maior expresso glomerular do

    Transforming Growth Factor- (TGF-) (HENEGAR et al., 2001). Em pacientes

    obesos foi observado glomerulopatia relacionada a obesidade, incluindo

    glomeruloesclerose segmental focal, glomerulomegalia e hiperplasia mesangial

    (PAPAFRAGKAKI, TOLIS, 2005). O acmulo de lipdeos no glomrulo e na cpsula

    de Bowman tambm so alteraes histolgicas associadas ao alto consumo de

    gordura (DEJI et al., 2009; HALL et al., 2010).

    A dieta hipersdica pode contribuir para o desenvolvimento da hipertenso, no

    entanto, os mecanismos envolvidos ainda no esto totalmente esclarecidos. As

    alteraes no volume sanguneo, na secreo de renina e aldosterona, nos nveis

    plasmticos de angiotensina II (AII) e xido ntrico, a hiperatividade do sistema

    nervoso simptico (SNS) e o estado redox parecem estar envolvidos nesse

    processo. Alm disso, estudos sugerem que a resistncia a insulina com

    hiperinsulinemia desempenhe funo importante na elevao da presso arterial

    induzida pela dieta hipersdica (MUNTZEL, DRUEKE, 1992; VASDEV et al., 2007).

    A hipertenso induzida pelo excesso de sal durante perodo prolongado est

    associada com aumento da injria renal e mudanas importantes na expresso de

    citocinas renais relacionadas com a resposta pr-inflamatria, deposio de matriz

    extracelular no tecido renal e disfuno endotelial (GU et al., 2006;

    DRENJANEVI-PERI et al., 2011).

    A reduo dos hormnios ovarianos, no perodo da ps-menopausa ou em ratas

    ovariectomizadas, est frequentemente associada a alteraes do perfil

  • 22

    hemodinmico e da funo endotelial, distrbios no metabolismo energtico, estado

    redox, obesidade, dislipidemias e alteraes renais (WISE et al., 1999). A

    menopausa pode ser acompanhada tambm por aumento na sensibilidade ao sal

    (FUJITA, 2007). As mulheres na ps-menopausa apresentam maior risco de

    desenvolver hipertenso sensvel ao sal, sugerindo que os hormnios sexuais

    influenciam no balano de sdio e na regulao da presso sangunea. (HINOJOSA-

    LABORDE et al., 2004; SARTORI-VALINOTTI et al., 2009). Os estrgenos modulam

    a atividade e expresso do NO e AII, e a sua deficincia produz alteraes desses

    dois fatores, resultando em disfunes no balano de sdio renal, estado redox e

    hipertenso (HERNANDEZ, RAIJ, 2006; MAJID, KOPKAN, 2007). No modelo

    experimental de ratas Dahl S-sensveis ao sal foi constatada hipertenso aps a

    ovariectomia, indicando que os estrgenos podem promover proteo contra o

    desenvolvimento de hipertenso (HINOJOSA-LABORDE et al., 2004).

    Algumas formas de hipertenso, incluindo a hipertenso associada obesidade so

    influenciadas pelo aumento da ingesto diria de sdio. Modelos experimentais de

    obesidade e hipertenso sensvel ao sal tm sido desenvolvidos, contudo esses

    modelos muitas vezes no representam as alteraes observadas em humanos,

    pois utilizam animais geneticamente modificados como ratos Dahl S, DOCA-salt ou

    ratos espontaneamente hipertensos (SHR). Alm disso, existem poucos estudos

    analisando os efeitos de dietas ricas em gorduras e/ou sal sobre os rins,

    principalmente em situao de diminuio dos hormnios ovarianos. Diante disso,

    dentre os objetivos do nosso estudo destaca-se o desenvolvimento de um modelo

    experimental de obesidade e hipertenso induzido por dieta hiperlipdica e

    hipersdica, que possa ser utilizado para o estudo das alteraes hemodinmicas,

    metablicas e dos parmetros de funo e estrutura renal em ratas

    ovariectomizadas, mimetizando as alteraes encontradas em humanos.

  • 23

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Obesidade e Injria Renal

    A obesidade pode ser definida como uma condio caracterizada pelo acmulo

    excessivo de gordura corporal, sendo consequncia de balano energtico positivo e

    que acarreta repercusses sade (EKNOYAN, 2011). Existem evidncias de que

    fatores genticos e ambientais esto relacionados ao desenvolvimento de

    obesidade, porm, estudos tm demonstrado que os fatores ambientais como

    alimentao hipercalrica e sedentarismo so os principais responsveis pelo

    acmulo de tecido adiposo e ganho de peso (HURT et al., 2010; ANUBHUTI,

    ARORA, 2008)

    Vrias complicaes esto relacionadas a obesidade, incluindo doenas

    cardiovasculares, por acometimento da microvasculatura e de rgos-alvo, e

    distrbios metablicos (SOWERS, 1998; SHI, CLEGG, 2009; BROWN, CLEGG,

    2010). Alm disso, a obesidade frequentemente acompanhada por inflamao

    sistmica com elevadas concentraes plasmticas de marcadores inflamatrios

    como interleucina 6 (IL-6), fator de necrose tumoral (TNF ) e protena C reativa

    (PCR), citocinas associadas com risco aumentado para o desenvolvimento de

    resistncia a insulina, diabetes mellitus tipo 2, hipertenso e dislipidemia (TILG,

    MOSCHEN,2006; POU et al., 2007).

    Embora a obesidade seja largamente reconhecida como um fator que contribui para

    essa srie de alteraes fisiopatolgicas, sua funo na iniciao e progresso da

    doena renal menos documentada (HALL et al., 2002; ABRASS, 2004; DO

    CARMO et al., 2009). Atualmente, estudos experimentais e epidemiolgicos tm

    demonstrado a relao entre obesidade e injria renal. A incidncia de doena renal

    crnica aumenta paralelamente ao aumento da prevalncia da obesidade. Isso

    porque a obesidade acarreta uma sobrecarga metablica e d incio a uma srie de

    eventos, incluindo hipertenso arterial e diabetes mellitus, que so as principais

  • 24

    causas da doena renal crnica. Alm disso, a obesidade se apresenta como um

    fator de risco independente para o desenvolvimento de injria renal, uma questo

    pouco abordada. Os mecanismos fisiopatolgicos relacionados no so

    completamente compreendidos, mas envolvem alteraes hemodinmicas,

    metablicas e inflamatrias, como resistncia a insulina, hiperinsulinemia,

    hiperleptinemia, ativao do SRAA e ainda alteraes no metabolismo lipdico, que

    contribuem para o de leso renal (GUEDES, 2010; TESAURO et al., 2011).

    - Mecanismos hemodinmicos

    Com aumento das necessidades metablicas ocasionado pela obesidade, h

    elevao do fluxo sanguneo para os tecidos, do dbito cardaco e da presso

    arterial. Assim, o fluxo sanguneo renal, em menor extenso, e a taxa de filtrao

    glomerular encontram-se elevados na obesidade (HALL et al., 2003). A hiperfiltrao

    resulta em hipertrofia glomerular acompanhada por expanso mesangial e

    albuminria. Estas alteraes foram observadas por Deji et al., (2009) em estudo

    realizado com camundongos C57BL/6 submetidos a dieta hiperlipdica por um

    perodo de 12 semanas, foi observado tambm acmulo de lipdios e de colgeno

    tipo IV no tecido renal, alm de infiltrado inflamatrio. A restrio de gordura com

    controle de peso foi eficaz em prevenir as alteraes renais.

    Outros experimentos com animais obesos demonstram tambm expanso da

    cpsula de Bowman, proliferao celular no glomrulo, espessamento da membrana

    basal glomerular e tubular. Esses achados foram associados a maior expresso do

    TGF- glomerular (HENEGAR et al., 2001). E ainda, estudos avaliando a estrutura

    renal de pacientes obesos observaram glomerulopatia relacionada a obesidade,

    incluindo glomeruloesclerose segmental focal, glomerulomegalia e hiperplasia

    mesangial (PAPAFRAGKAKI, TOLIS, 2005). Desta forma, possvel que alteraes

    hemodinmicas decorrentes da obesidade se correlacionem com iniciao e

    evoluo da leso renal.

    A hiperfiltrao glomerular associada elevao da frao de filtrao na obesidade

    um importante fator contribuinte para a reteno de sdio o que, por sua vez,

    contribui para elevao do volume do fluido extracelular e da presso arterial

    (CHAGNAC et al., 2008). A hiperatividade simptica renal e os nveis elevados de

  • 25

    AII, caractersticos da obesidade, tambm esto relacionados ao aumento da

    reabsoro de sdio no tbulo proximal (WAHBA, MAK, 2007). Combinada com a

    hipertenso, a hiperfiltrao contribui potencialmente para o desenvolvimento de

    injria renal (MARIC, HALL, 2011).

    - Mecanismos metablicos

    Alm das alteraes hemodinmicas, a fisiopatologia da obesidade envolve

    alteraes metablicas que contribuem para o desenvolvimento e evoluo da

    doena renal. As principais alteraes metablicas associadas ao dano renal

    incluem a resistncia a insulina, hiperinsulinemia, hiperleptinemia, dislipidemias e

    secreo e atividade aumentada de componentes do SRAA pelos adipcitos

    (MADDOX et al., 2002; PAPAFRAGKAKI, TOLIS, 2005; WAHBA, MAK, 2007).

    A sensibilidade reduzida a insulina constitui a alterao central na sndrome

    metablica e a mais importante ligao entre obesidade e injria renal, pois a

    hiperinsulinemia est associada com glomerulopatia renal por meio de mecanismos

    indiretos e diretos. Em estudo com ratos Zucker obesos foi observado correlao

    positiva entre hiperinsulinemia e elevao da presso arterial, possivelmente por

    seus efeitos sobre o SNS, SRAA e reteno de sdio (MADDOX et al., 2002;

    CHAGNAC, et al., 2000). Este aumento na presso arterial estaria envolvido com

    injria renal a medida que maior presso sangunea sistmica gera maior presso

    hidrulica a que os capilares glomerulares so expostos, submetendo o a

    vasculatura glomerular a maior estresse (WAHBA, MAK, 2007).

    Alm disso, aos efeitos pressricos, a hiperinsulinemia em ratos obesos tambm

    possui aes diretas associadas injria glomerular, incluindo hipertrofia e

    hiperplasia mesangial e aumento da produo celular dos componentes da matriz

    mesangial (ABRASS et al., 1995). Alm disso, a insulina pode contribuir para a leso

    renal potencializando a resposta vascular e das clulas mesangiais AII e

    aldosterona, aumentando a presso arterial sistmica e a presso intraglomerular e

    exacerbando a proteinria. A insulina tambm aumenta o estado redox intrarrenal

    que aumenta a expresso de citocinas inflamatrias e fatores de crescimento

    acelerando o processo aterosclertico no rim (BIDDINGER, KAHN, 2006; WAHBA,

    MAK, 2007; SAVINO et al., 2010).

  • 26

    A hiperleptinemia relacionada obesidade tambm parece afetar a funo e

    estrutura renal. Este hormnio, como a insulina, possui mecanismos de leso renal

    indiretos e diretos. A ativao do SNS e reteno de sdio com resultante elevao

    da presso arterial constituem em um mecanismo indireto pelo qual a

    hiperleptinemia contribui para injria renal (PAPAFRAGKAKI, TOLIS, 2005). Os

    mecanismos diretos so aqueles que no esto necessariamente ligados a

    hipertenso. O tecido adiposo produz e secreta todos os componentes do SRAA, a

    expresso de angiotensinognio no tecido adiposo visceral se aproxima da

    expresso heptica, classicamente considerada a principal fonte de

    angiotensinognio (GUERRE-MILLO, 2004; HUNLEY et al., 2010). Na obesidade a

    hiperleptinemia, hiperinsulinemia, estimulao simptica e o nmero aumentado de

    adipcitos so os mecanismos responsveis pela hiperatividade do SRAA

    (BIDDINGER, KAHN, 2006; STIEFEL et al., 2011). Assim, o aumento nos nveis

    circulantes de AII e a expresso renal de receptores do tipo 1 para AII promove uma

    potente combinao para elevar a vasoconstrio arteriolar eferente, presso

    glomerular e frao de filtrao, bem como a proliferao celular mesangial que

    culmina em dano renal (MATSUSAKA et al., 1996).

    As alteraes no metabolismo lipdico decorrentes da obesidade tambm podem

    contribuir diretamente para o dano renal. Sob condies de alteraes da glicemia e

    do metabolismo lipdico ocorre desequilbrio entre a lipognese e liplise no rim e em

    outros tecidos, essas alteraes contribuem para o acmulo de lipdios no tecido

    renal e lipotoxicidade, fatores associados injria renal (REDDY, RAO, 2006; KUME

    et al., 2007). Estudos realizados com ratos obesos Zucker observaram que a

    elevao nos nveis sricos de lipdios contribuiu para injria glomerular,

    possivelmente relacionada a elevaes nas lipoprotenas de baixa densidade (LDL).

    Isso se deve ao fato de que clulas mesangiais possuem receptores para LDL, em

    nveis elevados o LDL aumenta a produo mesangial de molculas quimioatraentes

    de moncitos, promovendo infiltrao de clulas inflamatrias no interstcio renal

    (ROVIN, TAN, 1993). Hipercolesterolemia tambm estimula a produo de fatores

    que atraem os macrfagos pelas clulas mesangiais bem como aumenta a

    expresso de RNAm para TGF- nestas clulas (MADDOX et al., 2002). Alm disso,

    estudos in vitro com clulas mesangiais humanas expostas a LDL, LDL oxidado e

    LDL glicado em concentraes prximas aquelas encontradas na circulao

  • 27

    aumentam significativamente a sntese mesangial de componentes da matriz como

    fibronectina e laminina (SANTINI et al., 2008).

    - Mecanismos inflamatrios

    A obesidade e hipertenso so caracterizadas pela presena de infiltrado intersticial

    de macrfagos e moncitos e produo anormal de citocinas pr-inflamatrias no

    tecido renal (OHTOMO et al., 2010; RODRGUEZ-ITURBE et al., 2004). Os

    macrfagos so clulas potencialmente capazes de produzir vrios produtos

    citotxicos, incluindo espcies reativas de oxignio (ERO) e de nitrognio,

    quimiocinas, citocinas e AII que podem promover ou intensificar a leso tecidual

    (RODRGUEZ-ITURBE et al., 2004; NAVA et al., 2003). As citocinas, por sua vez,

    podem atuar induzindo proliferao celular e modificao de seus fentipos,

    contribuindo para as alteraes da estrutura e funo renal (OHTOMO et al., 2010).

    Alm disso, a prpria leso das clulas tubulares pode resultar em liberao de

    quimiocinas e citocinas, recrutamento de macrfagos e consequente estimulao

    dos fibroblastos, os quais podem iniciar e influenciar o curso da inflamao e da

    fibrose intersticial (RIYUZO, 2002).

    A presena de linfcitos no tecido renal parece estar relacionada tambm com a

    modulao da resposta inflamatria e pode atuar intensificando a leso tecidual. Os

    linfcitos T so capazes de sintetizar TGF-, citocina classicamente conhecida por

    estimular a produo de colgeno pelos fibroblastos e inibir a produo de enzimas

    responsveis pela degradao da matriz extracelular (PETERS et al., 2004;

    STRUTZ, NEILSON, 1994). Foi tambm demonstrado que a infiltrao tbulo-

    intersticial de linfcitos e macrfagos est associada com a gerao de ERO e AII

    em alguns modelos experimentais de leso renal (RANGAN et al., 1999; NAVA et

    al., 2003; SOARES et al., 2006). A utilizao de agentes anti-inflamatrios e

    antioxidantes reduz o infiltrado inflamatrio e promove a melhora ou preveno da

    hipertenso (MULLER et al., 2000; TIAN et al., 2005).

    Estudos com modelos experimentais evidenciaram que a inflamao renal participa

    da patognese da hipertenso devido reteno de sdio causada pelo acmulo de

    clulas produtoras de AII no tecido renal (RODRGUEZ-ITURBE et al., 2002a). Tanto

    a enzima conversora da angiotensina, quanto a prpria AII, so expressas por

  • 28

    linfcitos T e macrfagos nos tecidos renais em modelos experimentais de

    hipertenso, e o acmulo dessas clulas parece ser a razo primria para a

    reteno de sdio (COSTEROUSSE et al., 1993; RODRGUEZ-ITURBE et al.,

    2002). O aumento da produo de AII renal promove diminuio da taxa de filtrao

    glomerular (TFG), com consequente reduo da carga de filtrada de sdio; aumento

    da reabsoro tubular de sdio; impedimento da natriurese pressrica; sinalizao

    em cascata de fatores de transcrio inflamatrios e produo de superxido

    mediada pela estimulao da NAD(P)H oxidase (RODRGUEZ-ITURBE et al., 2004).

    2.2 Obesidade, sal e hipertenso

    A obesidade um fator de risco que pode acentuar a resposta da presso arterial ao

    sal. Em um estudo realizado com 60 adolescentes obesos e 18 no obesos foi

    verificado a presena de sensibilidade ao sal induzida pela obesidade. Estes

    adolescentes foram submetidos a uma semana de dieta hipersdica seguida de uma

    semana com dieta hipossdica. Os adolescentes obesos que deixaram de receber

    dieta hipersdica e passaram a consumir a dieta hipossdica apresentaram queda

    significativa da presso arterial, enquanto que os adolescentes no-obesos no

    apresentaram reduo da presso arterial aps reduo da carga de sal ingerida.

    Este resultado sugere que a presso arterial de adolescentes obesos mais

    dependente da ingesto de sdio que a presso arterial de adolescentes no-

    obesos (ROCCHINI, 1990). Em outro estudo foi demonstrado que indivduos com

    sndrome metablica apresentaram maior resposta depressora diante de uma dieta

    hipossdica e uma maior resposta pressrica diante de dieta hipersdica comparada

    aos indivduos do grupo controle sem sndrome metablica (CHEN, et al., 2009)

    Os mecanismos subjacentes ao aumento da sensibilidade ao sal em indivduos

    obesos com sndrome metablica ainda no esto completamente compreendidos,

    mas parecem estar associados alterao da natriurese pressrica, comumente

    observada na obesidade. A natriurese pressrica consiste no aumento ou diminuio

    da excreo de sdio e gua devido elevao ou reduo da presso arterial,

    respectivamente, agindo como um componente chave do sistema de feedback para

  • 29

    estabilizar a presso arterial e o volume do fluido corporal (KARPPANEN,

    MERVAALA, 2006). Durante a obesidade, antes da perda de nfrons por injria

    glomerular, ocorre primariamente aumento na reabsoro de sdio, esta mudana ,

    ento, compensada com vasodilatao que provoca elevao da filtrao glomerular

    aumentando a quantidade de gua e eletrlitos filtrados, porm essa compensao

    no completa e o resultado final reteno de sdio e gua, com expanso de

    volume e consequente hipertenso (KOTSIS et al., 2010).

    As alteraes na natriurese pressrica induzidas pela obesidade podem ocorrer

    devido s modificaes nas foras intrarrenais decorrentes de mudanas

    histolgicas na medula renal que podem comprimir a ala de Henle e os vasos retos,

    lentificando o fluxo tubular e aumentando a reabsoro de sdio (HALL, 1997). Outro

    fator que pode alterar a natriurese pressrica e assim, aumentar a sensibilidade da

    presso arterial ao sal, a ativao do SRAA que diretamente proporcional a

    adiposidade (KOTSIS et al., 2010). Estudos demonstram que humanos obesos

    apresentam aumento na atividade da renina plasmtica, nos nveis plasmticos de

    angiotensinognio, AII e aldosterona (RUANO et al., 2005; HUNLEY et al., 2010;

    STIEFEL et al., 2011). Ainda, em estudo experimental realizado por Deji et al.,

    (2009), foi demonstrado que camundongos submetidos a dieta hiperlipdica

    apresentaram retardo na excreo urinria de sdio e elevao da presso arterial

    sistlica quando receberam sobrecarga aguda de sal. A expresso renal de RNAm

    para renina, ECA e angiotensinognio deste animais estava aumentada quando

    comparado com os animais com dieta hipolipdica, sugerindo que a ativao do

    SRAA constitui um dos mecanismos de leso renal e hipertenso sensvel ao sal

    induzidos pela obesidade.

    A sensibilidade ao sal, observada em sujeitos obesos, est tambm correlacionada a

    hiperinsulinemia resultante da resistncia a insulina, j que hiperinsulinemia

    responsvel, pelo menos em parte, pela reteno de sdio (DOBRIAN et al., 2003).

    A hiperinsulinemia crnica pode promover reteno de sdio devido ao estmulo

    direto a reabsoro de sdio no tbulo proximal (FUJITA, 2008); e indiretamente

    pelo aumento da responsividade adrenal a AII aumentando a secreo de

    aldosterona; aumento da atividade simptica (NAGAE et al., 2009a), e portanto,

    pode aumentar indiretamente a reteno de sdio (ROCCHINI, 1990).

  • 30

    2.3 Sal, Hipertenso e Leso Renal

    O alto consumo de sal parece ser um dos principais fatores contribuintes para o

    desenvolvimento de doenas cardiovasculares. Um estudo realizado em indivduos

    de 32 pases constatou que o consumo mdio de sal de 9,9 g/dia (INTERSALT

    COOPERATIVE RESEARCH GROUP, 1988), quando a ingesto diria de sdio

    recomendada pela Organizao Mundial de Sade 5g/dia ou menos (HE,

    MACGREGOR, 2003).

    O excesso de sal na dieta relativamente recente em termos de evoluo, j que h

    alguns milhes de anos atrs a quantidade ingerida era menor que 1g/dia. A adio

    de sal na comida s passou a acontecer h 5.000 10.000 anos atrs com o incio

    da agricultura (PIERRE et al., 2005). Antes da refrigerao, o sal era o mecanismo

    mais utilizado para a conservao do alimento (MOHAN, CAMPBELL, 2009). Na

    atualidade, a maior parte do sal consumido diariamente est presente nos alimentos

    industrializados (HE, MACGREGOR, 2003).

    A primeira associao entre a ingesto de sal e o desenvolvimento de hipertenso

    foi constatada pelo pesquisador Louis Dahl em 1960. Os estudos demonstraram

    relao linear entre a prevalncia de hipertenso e a mdia do consumo de sal em

    cinco populaes. Desde ento, diversos experimentos com animais, estudos

    epidemiolgicos e triagens clnicas tm expandido as observaes feitas por Dahl,

    evidenciando os efeitos da dieta hipersdica sobre o sistema cardiovascular e

    tambm sobre sistema renal (BROWN et al., 2009). Nas populaes onde o

    consumo de sal excede 3g/dia, a proporo de indivduos com hipertenso aumenta

    com a idade, sendo este fenmeno ainda mais pronunciado quanto maior for a

    ingesto de sal (PIERRE et al., 2005). Em contrapartida, estudos com populaes

    que consomem baixas quantidades de sal na dieta tm encontrado baixos nveis de

    presso arterial (INTERSALT COOPERATIVE RESEARCH GROUP, 1988).

    O balano do sdio e, consequentemente, da gua realizado pelos rins que

    equilibram o consumo com a excreo deste ction. Uma dieta hipersdica pode

    gerar acmulo de sdio no lquido extracelular, com reteno de gua e expanso

    do volume sanguneo. O aumento da volemia, por sua vez, est associado

  • 31

    elevao da presso arterial que pode ser ainda mais evidente quando associada a

    habilidade limitada dos rins de excretar completamente o excesso de sdio

    consumido (MOHAN, CAMPBELL, 2009). Apesar de estudos demonstrarem que a

    dieta hipersdica pode promover elevao da presso arterial, a intensidade com a

    qual esta elevao ocorre diante da sobrecarga de sal varivel, correspondendo a

    sensibilidade da presso arterial ao excesso de sal. Indivduos com presso arterial

    sensveis ao sal respondem a sobrecarga aguda ou crnica de sal com aumento

    exacerbado da presso arterial, enquanto em indivduos normais, a presso arterial

    apresenta pouco ou nenhum aumento com incremento de sal na dieta

    (DRENJANEVI-PERI et al., 2006; KOPKAN, ERVENKA, 2009).

    Aproximadamente metade da populao com hipertenso essencial possui presso

    arterial sensvel ao sal. Os mecanismos fisiopatolgicos que levam a sensibilidade

    ao sal so complexos e apenas parcialmente entendidos. Alguns estudos tm

    focado na ao patognica dos rins, j que respostas alteradas da hemodinmica

    renal sobrecarga de sal na dieta e tambm manipulao anormal do sdio nos

    segmentos tubulares tm sido sugeridos como os fatores causais da variao da

    resposta da presso sangunea ao sal (CHAMARTHI et al., 2010).

    Alm disso, grande nmero de estudos investiga a associao de dieta hipersdica

    e presso arterial elevada. Os mecanismos pelos quais o aumento do sal na dieta

    leva ao desenvolvimento de hipertenso dependente de sal no esto

    completamente esclarecidos. Alm disso, a expanso de volume, altas

    concentraes de sdio podem tambm ter outras aes hipertensivas como

    alterao do funcionamento e regulao do SRAA, ativao de NF-B nas clulas

    tubulares proximais desencadeando processo inflamatrio no tecido renal, induo

    de estado redox alterando a biodisponibilidade do xido ntrico, hipertrofia de clulas

    musculares lisas e ativao do sistema nervoso simptico (GU et al., 1998; GU et al.,

    2006; DRENJANEVI-PERI et al., 2006; KOPKAN, ERVENKA, 2009).

    Em estudo realizado por Gu et al., (2008), utilizando ratos Sprague-Dawley

    normotensos submetidos a dieta hipersdica (8% de cloreto de sdio) por 8

    semanas, foi verificado aumento significativo da presso arterial, excreo urinria

    de albumina e inflamao renal. Neste caso, ratos normotensos desenvolveram

    hipertenso arterial mais lentamente quando expostos a dieta hipersdica, havendo

  • 32

    elevao da presso arterial paralela a aumento ao estado redox e o dano renal.

    Observaes experimentais demonstram que a dieta hipersdica, a longo prazo,

    causa hipertenso e leso renal com alterao na expresso de citocinas

    inflamatrias no tecido renal de ratos Sprague-Dawley, alm disso a sobrecarga de

    sal tambm parece estimular a formao de matriz e disfuno endotelial (GU et al.,

    2009). O tratamento com o antiinflamatrio micofenolato mofetil promoveu reduo

    de NF-B renal, da infiltrao de macrfagos/moncitos e linfcitos e da albuminria,

    melhorando assim, a funo e estrutura renal e reduzindo a presso arterial em

    ratos Dahl S alimentados com dieta contendo 8% ou 4% de sal. Os efeitos benficos

    da terapia com antiinflamatrio demonstram que o aumento da presso arterial e do

    dano renal esto relacionadas a infiltrao de clulas inflamatrias no tecido renal

    induzida pela dieta (TIAN et al., 2007a, DE MIGUEL et al., 2010).

    A inflamao renal parece estar associada com os nveis elevados de AII intrarrenal,

    j que ratos Dahl S submetidos a dieta hipersdica apresentam reduo de TNF e

    MCP-1 no crtex renal quando tratados com candesartan, bloqueador do receptor de

    AII. Foi verificado tambm que esse bloqueio reduziu a infiltrao de macrfagos no

    tecido renal, atenuando a inflamao e excreo urinria de protenas (LIN et al.,

    2009). Por outro lado, a elevao de citocina e quimiocinas renais, com infiltrao de

    clulas inflamatrias no interstcio renal, implica em aumento da AII renal, isso se

    deve ao fato de macrfagos e linfcitos secretarem AII (FRANCO et al., 2006). Desta

    forma, instala-se um ciclo vicioso que perpetua a inflamao e a elevao dos nveis

    de AII, resultando em leso renal severa.

    2.4 Estrgenos, obesidade, sensibilidade ao sal e injria renal

    A reduo da produo de estrgenos em mulheres no perodo da ps-menopausa,

    em modelos experimentais de ovariectomia ou de envelhecimento caracterizada

    pelo aumento do peso corporal total e maior acmulo de gordura abdominal (MARIC

    et al., 2008; SARTORI-VALINOTTI et al., 2009). A transio menopausal promove

    mudanas desfavorveis da distribuio de gordura corporal, aumentando o risco de

  • 33

    desenvolvimento de doenas cardiovasculares e renais, diabetes mellitus e outras

    alteraes associadas sndrome metablica (WISE et al., 1999; HALL et al., 2002).

    As mulheres na pr-menopausa apresentam menor ndice de doenas

    cardiovasculares que homens na mesma idade. Observa-se tambm que os homens

    possuem maior risco para desenvolver doenas renais em comparao as mulheres.

    Porm, essas diferenas relacionadas ao gnero parecem diminuir aps a

    menopausa, quando o risco de doenas cardiovasculares, a prevalncia de

    hipertenso e o declnio da funo renal se elevam nas mulheres (COGGINS et al,

    1998; YANES et al., 2010). Mulheres pr-menopusicas submetidas a ovariectomia

    tambm apresentam maior risco para doenas cardiovasculares, entretanto, a

    terapia de reposio hormonal parece promover proteo cardiovascular para estas

    mulheres (ESQUEDA et al., 2007). Adicionalmente, estudos observacionais

    demonstram que mulheres ps-menopusicas que recebem terapia de reposio

    hormonal apresentam menor ndice de doenas cardiovasculares e falncia cardaca

    que aquelas que no fazem reposio (THE ESHRE CAPRI WORKSHOP GROUP,

    2006; ROSANO et al., 2009).

    A reduo dos nveis circulantes de estrgenos e as mudanas no perfil de risco

    cardiovascular aps a menopausa em mulheres ou em animais experimentais

    ocorrem paralelamente ao desenvolvimento de alteraes metablicas como

    obesidade visceral, aumento da lipognese e resultante dislipidemia, hiperglicemia e

    resistncia a insulina (FIGUEIREDO et al., 2010). Estudos clnicos com mulheres

    menopusicas ou experimentais com animais submetidos a ovariectomia

    demonstram que a reduo dos estrgenos seguida por maior ganho de peso e

    acmulo de gordura, principalmente gordura visceral que est relacionado a eventos

    cardiovasculares observados na transio da menopausa (SUTTON-TYRRELL et

    al., 2010; BUTERA, 2010). Estudo experimental realizado por 20 semanas com

    camundongos machos, fmeas intactas e ovariectomizadas, constatou que

    camundongos machos apresentam maior suscetibilidade para a obesidade e maior

    acmulo de tecido adiposo que fmeas quando expostos a dieta hipercalrica, ratas

    ovariectomizadas apresentaram parmetros similares aos machos (HONG et al.,

    2009).

  • 34

    A adiposidade central relacionada menopausa com reduo dos hormnios

    ovarianos pode ser explicada pela ao dos estrgenos sobre a regulao do

    metabolismo e da distribuio de gordura, com tendncia a deposio mais

    perifrica (YEPURU et al., 2010). As aes dos estrgenos sobre o tecido adiposo

    so mediadas principalmente pelo receptor de estrgeno (ER ), que so

    altamente expressos nos adipcitos, e incluem modulao na produo e secreo

    de adipocinas com elevao nos nveis de adiponectina, reduo da secreo

    citocinas inflamatrias pelos adipcitos e elevao na expresso de receptor ativado

    por proliferadores de peroxissoma gama (PPAR) (AKOUM et al., 2011). Os

    estrgenos regulam ainda a ingesto alimentar e os nveis circulantes de lipdios,

    alm de aumentar a liplise por meio da ativao de enzima lpase hormnio

    sensvel (PALIN et al., 2003; BUTERA, 2010).

    Alm da maior suscetibilidade para o desenvolvimento de obesidade, mulheres na

    ps-menopausa tm se mostrado mais sensveis ao sal que mulheres na pr-

    menopausa, sugerindo que os hormnios sexuais influenciam o balano de sdio e a

    regulao da presso sangunea. (HINOJOSA-LABORDE et., 2004; SARTORI-

    VALINOTTI et al., 2009). Parece haver uma relao inversamente proporcional entre

    os nveis circulantes de hormnios ovarianos e a sensibilidade ao sal aps a

    menopausa independente do envelhecimento que pode ser importante para o

    desenvolvimento de hipertenso (SCHULMAN et al., 2006).

    Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da hipertenso sensvel ao

    sal com a reduo dos hormnios ovarianos o aumento da sensibilidade a AII e da

    atividade do SRAA. A ovariectomia em ratas Dahl S ocasiona o aumento no nmero

    de receptores do tipo 1 para AII nos glomrulos e no crtex da glndula adrenal com

    consequente elevao da presso arterial, a reposio com estrgeno atenua estes

    efeitos da ovariectomia (HINOJOSA-LABORDE et al., 2004). Em mulheres na ps-

    menopausa tambm parece haver um bloqueio na supresso da renina pelo sal, o

    que tambm pode contribuir para hipertenso sensvel ao sal (PECHRE-

    BERTSCHI et al., 2002, apud HARRISON-BERNARD et al., 2003). A hipertenso

    sensvel ao sal aps a ovariectomia est ligada tambm a diminuio da atividade

    da enzima xido ntrico sintase endotelial (eNOS) com reduo do xido ntrico,

    potente vasodilatador, a reposio do estrgeno preveniu esta alterao. Estes

  • 35

    achados suportam a importncia do balano entre AII e xido ntrico na

    hemodinmica renal e na homeostase do sdio (SCHULMAN et al., 2006). Os

    estrgenos modulam a atividade e expresso do NO, a atividade do SRAA e do

    SNS, alm de reduzir a formao de espcies reativas de oxignio por diminuir a

    expresso de enzimas oxidantes e aumentar a expresso de enzimas antioxidantes

    (DUBEY et al., 2001; ROSANO et al., 2009; XUE et al., 2009). Sua deficincia

    produz alteraes desses fatores, resultando em disfunes no balano de sdio

    renal, estado redox e hipertenso (HERNANDEZ, RAIJ, 2006; MAJID, KOPKAN,

    2007).

    O ritmo de progresso da doena renal e hipertenso aumenta com a idade e

    menor em mulheres na pr-menopausa quando comparado com homens na mesma

    idade, isso se deve, pelo menos em parte, aos efeitos protetores cardiorrenais dos

    estrgenos (BAYLIS, 2005). Consistente com achados em humanos, em ratas

    fmeas Dahl S a severidade dos danos estruturais no tecido renal e o declnio da

    funo renal associados ao envelhecimento so marcadamente elevados na

    ausncia de hormnios ovarianos e esto correlacionadas ao ganho de peso. A

    glomeruloesclerose e a fibrose tubulointersticial nestas ratas so mais pronunciadas

    com a ovariectomia, enquanto a reposio com estrgeno atenuou estas alteraes

    (ESQUEDA et al., 2007; MARIC et al., 2004).

    A funo renoprotetora dos estrgenos est relacionada tambm a aes diretas no

    tecido renal independentes da presso arterial que incluem a inibio da apoptose

    das clulas mesangiais, aumento na expresso de enzimas metaloproteinases que

    aumentam a degradao de matriz extracelular e reduo na sntese de colgeno

    tipo I e IV e laminina induzida pelo fator de crescimento TGF- (DUBEY et al., 2002;

    GUCCIONE et al., 2002; ELLIOT et al., 2003). Alm disso, os estrgenos melhoram

    os nveis lipdicos, aumentam a vasodilatao dependente do endotlio e protegem

    contra o desenvolvimento de aterosclerose e hipertenso, resguardando

    indiretamente a funo e estrutura renal (MARIC et al., 2004). Estes achados

    demonstram que os estrgenos exercem efeitos protetores sobre os sistemas

    cardiovascular e renal (GILBERT et al., 2008).

    A associao entre obesidade e dieta hipersdica est intimamente relacionada a

    distrbios metablicos, hipertenso, doenas cardiovasculares e renais. Os

  • 36

    mecanismos associados a estas alteraes ainda no esto completamente

    esclarecidos. Alm disso, tem sido pouco investigado os efeitos da dieta hiperlipdica

    e hipersdica numa condio de reduo dos hormnios ovarianos, verificando os

    seus efeitos sobre a presso arterial e funo e estrutura renal. Desta forma, o

    presente estudo visa avaliar as alteraes na presso arterial, funo e estrutura

    renal de ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica.

  • 37

    3. OBJETIVOS

    3.1 Objetivo Geral

    O objetivo do presente estudo avaliar os efeitos da adio de sal dieta

    hiperlipdica sobre a funo e estrutura renal em ratas ovariectomizadas.

    3.2 Objetivos Especficos

    1. Avaliar o consumo alimentar, o ganho de peso corporal e peso do tecido

    adiposo visceral de ratas ovariectomizadas tratadas com dieta hiperlipdica e

    hipersdica.

    2. Avaliar a presso arterial e frequncia cardaca destes animais.

    3. Determinar os nveis sricos de glicose, colesterol total e triglicerdeo, bem

    como a tolerncia a glicose e sensibilidade a insulina.

    4. Determinar os nveis plasmticos e urinrios de creatinina e Na+, protena

    urinria e fluxo urinrio.

    5. Avaliar o comprometimento glomerular e tbulo-intersticial do tecido renal.

    6. Analisar a infiltrao de macrfagos/moncitos no tecido renal.

    7. Analisar os nveis sricos de TNF.

  • 38

    4. HIPTESE

    - A associao da dieta hiperlipdica e hipersdica por um perodo de 24 semanas

    contribui para elevao da presso arterial, alteraes metablicas e da funo e

    estrutura renal em ratas ovariectomizadas.

  • 39

    5. MATERIAIS E MTODOS

    5.1 Animais

    Foram utilizadas 24 ratas Wistar de 10 semanas de idade com peso corporal

    variando entre 150 a 250 gramas, provenientes do Biotrio Setorial do Instituto de

    Cincias da Sade da Universidade Federal da Bahia ICS/UFBA. Os animais

    foram mantidos no biotrio do Instituto Multidisciplinar em Sade - Campus Ansio

    Teixeira/IMS/UFBA em ambiente com controle de luz (12 horas luz, das 7 s 19h) e

    temperatura (233C) e livre acesso gua e rao. O protocolo experimental foi

    aprovado pelo Comit de tica no Uso de Animal Experimental da Universidade

    Estadual de Feira de Santana (Protocolo nmero 003/2011).

    5.2 Procedimentos Experimentais

    Os animais foram alimentados com rao padronizada controle (Pragsolues

    Biocincias, SP) durante uma semana para adaptao. Aps o perodo de

    aclimatao, os animais foram submetidos a trs diferentes dietas experimentais, por

    um perodo de 24 semanas: 1) Dieta Controle (rao padronizada AIN 93 M

    Pragsolues Biocincias, SP, (12,39% do total de calorias oriundas de gordura e

    0,3% de cloreto de sdio; 2) Dieta Hiperlipdica (51,1% do total de calorias oriundas

    de gordura e 0,3% de cloreto de sdio); 3) Dieta hiperlipdica e hipersdica (56,1%

    do total de calorias oriundas de gordura e 8% de cloreto de sdio). As ratas foram

    ovariectomizadas com 10 semanas de idade. Os animais foram randomicamente

    divididos em 3 grupos distintos: DCO Ratas submetidas dieta controle e

    ovariectomia (n=6); DLO Ratas submetidas dieta hiperlipdica e ovariectomia

    (n=8); DLSO Ratas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica e ovariectomia

    (n=10). O peso e a presso arterial (PA) foram determinados semanalmente, e as

    amostras de sangue e urina foram coletadas a cada 3 meses para a anlise dos

    parmetros de funo renal e parmetros bioqumicos. Ao trmino das 24 semanas,

    os animais foram sacrificados por decapitao e os rins e os tecidos adiposos

  • 40

    removidos. O rim esquerdo foi fixado para os estudos histolgicos, morfomtricos e

    imunoistoqumicos. Os depsitos de tecido adiposo mesentrico (TAM), parametrial

    (TAP) e retroperitoneal (TAR) de cada animal tambm foram removidos e pesados

    individualmente. Por fim, o sangue do tronco foi coletado em eppendorfs e

    submetido centrifugao para separao do soro para anlise da funo renal e

    dosagem do fator de necrose tumoral alfa (TNF-).

    5.3 Dietas

    As dietas experimentais foram calculadas com base na recomendao para dietas

    de roedores de laboratrios, elaborada pelo American Institute of Nutrition e

    reportada por Reeves et al. (1993). As propores dos ingredientes das dietas

    experimentais, expressas na matria seca, encontram-se descrita na Tabela 1 a

    seguir.

    Tabela 1 Propores dos ingredientes nas dietas experimentais controle (DC),

    hiperlipdica (DL) e dieta hiperlipdica e hipersdica (DLS).

    Ingredientes DC DL DLS

    --------% MS-------

    Amido de milho 37,38 13,88 20,70

    Farelo de soja 30,50 30,50 -

    Casena - - 15,60

    Sacarose 6,50 6,00 7,5

    Sebo bovino 0,0 24,00 26,00

    Maltodextrina 10,00 10,00 7,5

    Gordura Protegida de soja 7,5 7,50 5

    Celulose Microcristalizada 3,17 3,17 5

    L-cistina 0,30 0,30 0,3

    Cloreto de colina 0,15 0,15 0,15

    Cloreto de sdio1 - - 7,74

    Mistura mineral (AIN-93M-MX)2

    3,50 3,50 3,50

    Mistura Vitamnica (AIN-93-VX)3

    1,00 1,00 1,00

  • 41

    Ingredientes DC DL DLS

    --------% MS-------

    Tert-butil-hidroquinona (BHT) 0,001 0,003 0,005

    Total 100,00 100,00 100,00

    1Cloreto de sdio: 0,3% de cloreto de sdio das dietas esto contidos na mistura mineral AIN-93G-MX, sendo

    que na dieta hiperlipdica e hipersdica foi adicionado 7,74% de cloreto de sdio.

    2Mistura mineral AIN-93G-MX: 35,7% de carbonato de clcio; 25% de fosfato monabsico de potssio; 7,4% de

    cloreto de sdio, equivalente a 0,3% de cloreto de sdio na composio da dieta; 4,66% de sulfato de potssio; 2,8% de citrato de potssio; 2,4% de xido de magnsio; 0,606% de citrato frrico; 0,165% de carbonato de zinco; 0,063% carbonato de mangans; 0,03% de carbonato de cobre; 0,001% de iodato de potssio; 0,001% de selenito de sdio; 0,0008% de paramobdato de amnia; 0,145% de metasilicato de sdio; 0,0275% de sulfato de potssio e cromo; 0,0082% de cido brico; 0,00635% de fluoreto de sdio; 0,00318% de carbonato de nquel; 0,00174% de cloreto de ltio; 0,00066% vanadato de amnio; 20,98% de sacarose em p. 3

    Mistura vitamnica AIN-93-VX- Composio de vitaminas por kg de dieta: 30mg de cido nicotnico; 15mg de cido pantotnico; 6mg de piridoxina; 5mg de tiamina; 6mg de riboflavina; 2mg de cido flico; 750g de vitamina K; 200g de D-biotina; 25g de vitamina B-12; 4000UI de vitamina A; 1000UI de vitamina D3; 75UI vitamina E.

    A composio bromatolgica, calculada com base nos valores das anlises

    laboratoriais dos alimentos e da proporo dos ingredientes, encontra-se descrita na

    Tabela 2.

    Tabela 2 Composio bromatolgica das dietas experimentais controle (DC),

    hiperlipdica (DL) e dieta hiperlipdica e hipersdica (DLS).

    Item Dietas Experimentais

    DC DL DLS

    Matria seca (g.kg -1

    ) 82,93 85,25 85,04

    Cinzas (g.kg-1

    ) 2,78 2,74 8,91

    Protena Bruta (g.kg-1

    ) 15,1 15,0 14,2

    Extrato etreo (g.kg-1

    ) 6,97 30,85 30,16

    Carboidratos totais (g.kg-1

    ) 66,76 42,97 36,55

    Valores estimados de energia metabolizvel

    Energia Metabolizvel (Mcal.kg-1

    ) 3,99 5,19

    4,75

    As contribuies das fraes de protenas, carboidratos e gorduras no total de

    energia metabolizvel das dietas experimentais encontram-se descritas na Tabela 3.

  • 42

    Tabela 3 Contribuio das fraes de protenas, carboidratos e gorduras no total

    da energia metabolizvel nas dietas experimentais.

    Item Dietas experimentais

    DC DL DLS

    Energia Metabolizvel (Mcal/kg-1

    ) 3,99 5,19 4,75

    % de contribuio das fraes dietticas na Energia Metabolizvel

    Protena 32,36 24,89 16,51

    Carboidratos 54,25 23,24 26,34

    Gorduras 12,39 51,1 56,14

    Vitaminas 1,00 0,77 0,88

    Tabela 4 Contribuio das fraes de amido de milho, farelo de soja, sacarose e

    maltodextrina na composio dos carboidratos totais nas dietas experimentais.

    Item Dietas experimentais

    DC DL DLS

    Carboidratos totais (g.kg-1

    ) 66,76 42,97 36,55

    Contribuio das fontes de carboidratos na dieta (g.kg-1

    )

    Amido de milho 37,06 13,76 20,52

    Farelo de soja 13,42 13,42 -

    Casena - - 1,08

    Sacarose 6,49 5,99 7,48

    Maltodextrina 9,8 9,8 7,46

    5.4 Procedimento cirrgico

    Para a realizao da ovariectomia, os animais foram anestesiados com Xilazina

    (2mg/ml) e Ketamina (50mg/ml), em uma dose de 4mg/Kg e 40mg/Kg,

    respectivamente. Foram feitas incises bilaterais de aproximadamente 1 cm nos

    flancos dos animais, at a cavidade abdominal, para a remoo dos ovrios. Em

    seguida, o msculo e a pele foram suturados. Como medida profiltica contra

  • 43

    infeco ps-operatria, os animais receberam a dose de 5mg/Kg de antibitico

    enrofloxacino (Flotril 2,5%). Com a finalidade de confirmar a ovariectomia, o tero

    dos animais foi pesado e o ndice uterino calculado (mg/100g pc).

    5.5 Determinao da Presso Arterial e do Peso Corporal

    As determinaes de peso, presso arterial sistlica, diastlica e mdia e frequncia

    cardaca foram realizadas semanalmente, com as ratas conscientes, em ambiente

    livre de rudos para evitar estresse do animal e interferncias nos resultados. Para

    aferio da presso arterial, as ratas foram aquecidas a 35C por 5 minutos para

    determinao da presso pelo mtodo de pletismografia de cauda (LE 5001 Electro-

    Sphygmomanometer - Panlab, Spain). Para a pesagem dos animais, foi utilizada

    balana digital Acculab.

    5.6 Avaliao da ingesto alimentar e calrica

    Durante o perodo experimental, os animais foram colocados em gaiolas metablicas

    individuais por quatro dias, com livre acesso a gua e a rao. Assim, foi feita a

    avaliao da ingesto alimentar (g/dia) por subtrao da quantidade de rao

    fornecida pela quantidade remanescente aps 24 horas, obtendo-se a quantidade

    ingerida pelo animal. Para encontrar o valor calrico ingerido (kcal/dia) em 24 horas,

    multiplicou-se a quantidade ingerida em gramas pela densidade energtica da dieta.

    5.7 Anlise do perfil bioqumico

    O perfil bioqumico foi analisado por meio de dosagens de colesterol total,

    triglicerdeos e glicemia de jejum.

    5.7.1 Dosagem do colesterol total

  • 44

    O colesterol total foi determinado utilizando-se kit comercial colorimtrico (Bioclin).

    Este se baseia na reao catalisada pela enzima lipoprotena lipase que degrada

    steres de colesterol em colesterol e cidos graxos. Na seqncia colesterol

    oxidase a enzima atuante que converte colesterol livre em colesterol-3-ona e

    perxido de hidrognio (H2O2), na presena de O2, o H2O2 reage com a 4-

    aminoantipirina e o Fenol, reao catalisada pela peroxidase que forma um

    cromgeno vermelho. A intensidade da cor gerada nesta reao lida em

    espectrofotmetro (SP-220-Biospectro) no comprimento de onda de 500nm. Os

    resultados foram expressos em mg/dL.

    5.7.2 Dosagem de triglicerdeos

    Para determinao dos nveis sricos de triglicerdeos tambm foi utilizado o kit

    comercial colorimtrico (Bioclin). A reao catalisada pela enzima lipoprotena

    lipase degrada triglicerdeos em glicerol e cidos graxos livres na presena de H2O.

    Em seguida, o glicerol convertido em glicerol-3-fosfato e ADP pelas enzimas

    glicerol kinase Mg2+ em presena de ATP. Posteriormente, a enzima glicerol fosfato

    oxidase converte glicerol-3-fosfato em presena de H2O em fosfato dihidroxiacetona

    e perxido de hidrognio (H2O2). A reao catalisada pela peroxidase onde H2O2

    reage com a 4-aminoantipirina e p-clorofenol resulta na formao do cromgeno

    vermelho, cuja intensidade da cor tambm lida em espectrofotmetro (SP-220-

    Biospectro) no comprimento de onda de 500nm. Os resultados foram expressos em

    mg/dL.

    5.7.3 Glicemia srica

    A glicemia srica tambm foi determinada de kit comercial colorimtrico (Bioclin).

    Neste mtodo, a glicose convertida em cido glicurnico e perxido de hidrognio

    (H2O2) pela enzima glicose oxidase na presena de O2 e H2O. O H2O2 formado

    interage com a 4-aminoantipirina e Fenol, reao catalisada pela peroxidase. Aps

    estas reaes, realizada leitura desse parmetro bioqumico foi realizada em

    espectrofotmetro (SP-220-Biospectro) no comprimento de onda de 505nm. Os

    resultados foram expressos em mg/dL.

  • 45

    5.8 Teste de Tolerncia a Glicose

    Ao final do perodo experimental foi realizado o teste de tolerncia a glicose com o

    objetivo de avaliar a tolerncia a glicose. Aps 12 horas de jejum, foi determinada a

    glicemia basal por meio de inciso na cauda do animal, correspondendo esta

    primeira medida ao tempo 0 (zero). Subsequente a obteno da glicemia de jejum,

    os animais foram submetidos a injeo intraperitoneal de glicose a 50% na dose de

    1g/kg ou 0,2mL/100g de peso corporal. Com esta sobrecarga de glicose foi feita

    glicemia dos animais nos tempos 30, 60 e 90 minutos posteriores a injeo. Para

    dosagem da glicemia, foi utilizado glicosmetro digital (Accu-chek Performa)

    5.9 Dosagem de insulina srica por radioimunoensaio (RIA)

    A dosagem de insulina srica foi realizada por meio de radioimunoensaio (RIA) Linco

    Research de fase slida marcado com iodo 125I, por meio de kits Coat a Count

    (DPC - Diagnostic Products Corporation) no Instituto de Cincias Biolgicas da

    Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    As dosagens de insulina foram realizadas em 100L de plasma, em tampo TRIS

    100 mM, pH 7,0, com BSA (Protena do Soro Bovino) a 0,25% incubados a 37C por

    40 minutos com insulina marcada com iodo 125I e anticorpos especficos. A

    separao do hormnio ligado pelo anticorpo foi conseguida com polietilenoglicol

    (P.M. 6000) a 17% e a contagem realizada de imediato em curva padro preparada

    na vspera.

    5.10 Homeostatic model assessment of insulin resistance (HOMA-IR)

    A resistncia a insulina foi avaliada por meio do clculo HOMA-IR, utilizando a

    concentrao plasmtica de glicose (mmol/L) e insulina (UI/mL) obtidas aps

    perodo de jejum (MATTHEWS et al., 1985; AKOUM et al., 2011), a frmula utilizada

    foi a seguinte:

  • 46

    HOMA-IR (mmol/L x UI/mL) = Glicose de jejum (mmol/L) x Insulina de jejum

    (UI/mL)/22.5.

    Considerou-se os valores do HOMA-IR 2,7 como indicativos de resistncia a

    insulina (GELONEZE et al., 2009).

    5.11 Anlise da Funo Renal

    A avaliao da funo renal foi determinada utilizando-se amostras de sangue e de

    urina de 24 horas coletadas no tempo 0 (uma semana aps o incio do fornecimento

    das dietas; tempo 1 (3 meses aps o fornecimento); e tempo 2 (6 meses aps o

    fornecimento da dieta). Os animais foram colocados em gaiolas metablicas por um

    perodo de 72 horas, sendo as primeiras 24 horas destinadas adaptao, nas

    quais no foram coletadas amostras de urina. O fluxo urinrio foi ento determinado

    a partir do volume urinrio de 24 horas. As amostras de sangue tambm foram

    coletadas por meio de inciso na ponta da cauda dos animais aps aquecimento em

    caixa trmica. O sangue foi coletado em eppendorfs e, em seguida, centrifugado

    para separao do soro que foi armazenado para posteriores anlises da funo

    renal.

    5.11.1 Quantificao de creatinina nas amostras de sangue e de urina

    A anlise da creatinina srica e urinria foi realizada por mtodo colorimtrico

    enzimtico utilizando cido pcrico (Labtest) (HAYGEN, 1953). O mtodo se

    fundamenta na reao entre a creatinina e outros cromgenos do soro com o cido

    pcrico ou picrato do kit em meio alcalino formando o picrato de creatinina e os

    cromgenos-picrato, respectivamente, a reao resulta em uma soluo com

    colorao amarelada. Aps esta reao, foi realizada leitura absorbncia da soluo

    por espectofotometria com absoro mxima de 510nm. Por conta da interferncia

    dos outros cromgenos presentes na amostra, o mesmo foi acidificado para

    quantificar a creatinina verdadeira contida no soro. A anlise da creatinina urinria

    tambm foi realizada com o princpio da reao entre o cromgeno da amostra e o

  • 47

    cido pcrico do kit, porm, no houve a etapa de acidificao. A taxa de filtrao

    glomerular (TFG1) foi determinada pelo Clearance de Creatinina.

    5.11.2 Quantificao de Na+ e K+ nas amostras de sangue e de urina

    A dosagem de sdio e potssio foi realizada por fotometria de chama (Mod. 910,

    Analyser, So Paulo, Brazil), uma tcnica analtica baseada em espectroscopia

    atmica. A amostra contendo ctions aspirada e inserida em uma chama

    ocorrendo alguns fenmenos fsicos e qumicos, como evaporao e vaporizao,

    que converte a amostra lquida em aerossol, e atomizao gerando radiao. A

    radiao emitida quando os elementos liberam a energia recebida pela chama

    proporcional a concentrao deste elemento na amostra. O comprimento de onda da

    radiao caracterstico para cada elemento (OKUMURA, CAVALHEIRO, 2004).

    Aps as determinaes das concentraes plasmticas e urinrias de sdio e

    potssio, foram calculadas as cargas e as fraes de excreo (FE2) destes ons.

    5.11.3 Quantificao da protena urinria

    A quantificao da protena urinria foi realizada pelo mtodo colorimtrico,

    utilizando o kit comercial Sensiprot (Labtest, MG, Brasil). A protena presente na

    amostra de urina reage com o vermelho de pirogalol e molibdato de sdio do kit

    originando um complexo de cor violcea. Aps a reao, feita quantificao da

    intensidade da colorao em espectrofotmetro utilizando um comprimento de onda

    de 600 nm, cuja absorbncia proporcional concentrao de protena da amostra.

    1

    Plasmtica Creatinina de oConcentra

    UrinrioVolume UrinriaCreatinina de oConcentra =TFG

    2 100 UrinriaCreatinina de oConcentra Plasmtico Na de oConcentra

    Plasmtica Creatinina de oConcentra UrinrioNa de oConcentra = FENa

  • 48

    5.12 Anlise Histolgica Renal

    Aps o sacrifcio, os animais tiveram seus rins removidos e fixados em soluo de

    methacarn (metanol 60%, clorofrmio 30% e cido actico 10%) durante um perodo

    de 24 horas e depois o fixador foi substitudo por lcool etlico hidratado 70 INPM. O

    tecido renal foi ento parafinizado, cortado em seces de 4 m de espessura e

    corado com Tricrmio de Masson que marca de azul as reas de fibrose para

    estimar o grau de fibrose (YHEE et al., 2008) e avaliar o comprometimento

    glomerular e tbulo-intersticial do crtex renal dos animais.

    5.12.1 Leses Tbulo-intersticiais

    Para avaliar as leses tbulo-intersticiais (LTI) foi realizada a leitura de 30 campos

    do crtex renal, por meio de microscopia de luz no aumento de 40x, baseando-se na

    presena de fibrose tbulo-intersticial, infiltrado inflamatrio, dilatao ou atrofia

    tubular. Estas alteraes foram quantificadas seguindo o escore padronizado por

    Shih et al. (1988): escore 0: nenhuma leso; escore 0,5: pequenas reas de leses

    discretas e focais; escore 1: leso atingindo uma rea < 10% do crtex; escore 2:

    leso atingindo uma rea de 10-25%; escore 3: leso atingindo uma rea de 25-75%

    e escore 4: leso extensa e difusa atingindo uma rea > que 75% do crtex.

    5.13 Anlise Morfomtrica Glomerular

    A anlise morfomtrica dos glomrulos foi feita pela medida da rea do tufo de 30

    glomrulos da regio cortical e 15 da regio corticomedular do corte renal de cada

    animal dos diferentes grupos experimentais. As imagens obtidas pela microscopia

    de luz, com aumento de 40x, foram captadas por meio de vdeo-cmera conectada a

    um analisador de imagens (Kontron Electronic KS-300, Eching, Germany). A rea do

    tufo glomerular foi delimitada manualmente e determinada por morfometria

    computadorizada.

  • 49

    5.14 Anlise Imunoistoqumica para macrfagos/moncitos

    Alm dos estudos histolgicos, o tecido renal foi submetido anlise

    imunoistoqumica. As seces de 4 m de tecido renal foram desparafinizadas e

    incubadas com o anticorpo anti-ED-1 (macrfagos/moncitos - 1/1000), monoclonal

    (AbD serotec), durante 60 minutos em temperatura ambiente (SOARES et al.,

    2007; DOMINGUEZ et al., 2007). O produto da reao foi detectado pelo complexo

    avidina-biotina-peroxidase (Vector Laboratories, Burlingame, CA, USA) e a cor

    desenvolvida com 3,3-diaminobenzidina (DAB) (Easypath). A contracolorao foi

    feita com Metil green.

    Para anlise quantitativa da infiltrao de macrfagos/moncitos, as clulas ED-1

    positivas foram contabilizadas em 30 campos (0,245 mm2) do compartimento tbulo

    intersticial (CTI) do crtex renal, com aumento de 40x. Aps a quantificao foi

    calculada o nmero mdio de clulas ED-1 positivas de cada animal. Foi realizado

    um controle negativo para a reao de imunoistoqumica, o qual foi submetido s

    mesmas condies da reao correspondente, omitindo-se o anticorpo primrio.

    5.15 Dosagem do TNF srico/ ENZIMAIMUNOENSAIO - ELISA

    A quantificao de TNF- nas amostras de soro foi realizada pelo mtodo

    imunoenzimtico (ELISA) tipo sanduche na Faculdade de Medicina de Ribeiro

    Preto - Universidade de So Paulo, no departamento de farmacologia. Os anticorpos

    policlonais anti TNF- foram colocados numa placa de 96 canais e deixados durante

    a noite, em seguida, as placas foram lavadas e bloqueadas com soluo de

    albumina bovina 1%. As amostras experimentais foram colocadas na placa e

    deixadas durante a noite. Aps a lavagem da placa, a quantidade de citocina fixada

    foi detectada usando-se um anticorpo secundrio conjugado peroxidase e um

    substrato cromognico. A intensidade da cor gerada nesta reao proporcional a

    concentrao de TNF- da amostra.

  • 50

    5.16 Anlise Estatstica

    Para a anlise dos dados de fluxo urinrio foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, no

    paramtrico, com comparaes mltiplas pelo teste de Dunn. Para a anlise

    estatstica dos dados de proteinria, cada dado individual foi transformado para

    escala de logaritmo em base 10 (Proteinria g/24h log 10). Esses dados de

    proteinria, bem como os demais dados experimentais foram submetidos anlise

    de varincia com comparaes mltiplas realizadas pelo teste de Newman-Keuls. O

    nvel de significncia adotado foi de p< 0,05 como probabilidade mnima aceita.

  • 51

    6. RESULTADOS

    6.1 ndice uterino

    O ndice uterino foi o parmetro utilizado para avaliar a eficcia da ovariectomia. O

    estrgeno responsvel por estimular o crescimento das clulas estromais e das

    glndulas do endomtrio. Dessa forma, a deficincia desse hormnio no organismo

    promove uma gradativa involuo do endomtrio e, consequentemente, reduo do

    volume e peso do tero em comparao as ratas controle, cujo o ndice uterino em

    torno de 180mg/100g de peso corporal. Todas as ratas do presente estudo

    apresentaram reduo no peso uterino, indicando atrofia uterina devido a reduo

    nos nveis circulantes de hormnios ovarianos (Tabela 5).

    Tabela 5. ndice uterino dos grupos DCO, DLO e DLSO, aps 24 semanas de dieta.

    Dados so expressos como mdiaEPM.

    6.2 Ganho do peso corporal e peso do tecido adiposo visceral

    No houve diferena significativa do peso corporal entre os grupos experimentais,

    aps 24 semanas do fornecimento das dietas. Contudo, a anlise do ganho de peso

    corporal ao longo das 24 semanas de dieta demonstrou maior ganho de peso nas

    ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO), (p

  • 52

    pesos dos tecidos adiposos mesentrico, parametrial e retroperitoneal, assim como

    a mdia do tecido adiposo visceral total e do peso corporal so apresentados na

    Tabela 6.

    DCO DLO DLSO0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    ***

    *

    Gan

    ho

    de p

    eso

    (g

    )

    Figura 1. Ganho de peso corporal de ratas ovariectomizadas submetidas dieta controle (DCO), ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO) e de ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24 semanas aps o tratamento diettico. Dados so expressos como mdiaEPM. *p

  • 53

    6.3 Ingesto alimentar e calrica

    No houve alteraes significativas da ingesto alimentar (g) entre os grupos

    experimentais. Apesar disso, a ingesto calrica diria foi maior nos animais do

    grupo DLO quando comparado aos animais do grupo DCO (p

  • 54

    Tabela 6. Peso corporal (g), pesos dos tecidos adiposos (mg/pc) e ingesto

    alimentar (g/dia) e calrica (Kcal/dia) dos grupos DCO, DLO e DLSO, aps 24

    semanas de dieta.

    Tecidos DCO DLO DLSO

    Peso Corporal 416,35,22 442,411,38 433,915,95

    TAM 0,910,14 1,450,08* 1,190,15

    TAP 2,090,32 3,160,34* 3.490,22*

    TAR 1,320,25 3,050,39* 3.100,6*

    Gordura Visceral Total 4,320,63 7,660,64* 7,780,74*

    Ingesto alimentar (g/dia) 14,970,31 14,90,37 14,060,42

    Ingesto calrica (kcal/dia) 59,731,23 77,331,96*** 66,81,94

    TAM=Tecido adiposo mesentrico; TAP=Tecido adiposo parametrial; TAR=Tecido adiposo

    retroperitoneal; mg/pc=Miligramas por peso corporal. Dados so expressos como mdiaEPM. *p

  • 55

    DCO DLO DLSO0

    25

    50

    75

    100

    125

    150

    ***# # #

    PA

    S (

    mm

    Hg

    )

    Figura 4. Presso arterial sistlica (PAS) de ratas ovariectomizadas submetidas dieta controle (DCO), ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica (DLO) e de ratas ovariectomizadas submetidas dieta hiperlipdica e hipersdica (DLSO), 24 semanas aps o tratamento diettico. Dados so expressos como mdiaEPM. ***p

  • 56

    Tabela 8. Parmetros bioqum