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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
ALVARO CESAR CATTANI
A INFLUÊNCIA DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS NAS POLÍ TICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
CURITIBA
2006
ALVARO CESAR CATTANI
A INFLUÊNCIA DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS NAS POLÍ TICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Pontíficia Universidade Católica do Paraná, sob a orientação do Prof. Lindomar Wessler Boneti.
CURITIBA 2006
AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para que este trabalho se tornasse realidade. Corro o risco de deixar nomes importantes, mas vou citar alguns. Para minha família, que dispensa comentários o apoio recebido. Para Dani e Márcia, companheiras de viagens, de histórias, de confidências, muita saudade desse período “agitado” de nossas vidas. Para Prof. Lindomar, que, na sua calma tolerou tantos períodos de ausência minha, pelas palavras de força que me disse por várias vezes e pelas várias vezes que ficou com vontade de “dizer” algumas coisas, mas pela sua gentileza, se conteve. Para os médicos do Hospital São Lucas, por tantas trocas de plantão necessárias para que eu pudesse manter a freqüência nas aulas. Para Solange que me socorreu nas horas que eu mais precisei. Para o Professor Dirceu Ruaro, pela correção ortográfica, algumas dicas e por ter gostado muito do texto. E, tantos outros que souberam me tolerar e relevar meu stress durante todo esse período.
RESUMO O presente estudo trata da influência dos organismos internacionais nas Políticas Educacionais para o Ensino Superior no Brasil. Esse estudo parte do pressuposto da necessidade de Políticas Públicas para a consolidação da própria existência social e a efetivação do convívio social. Essas são subentendidas como “necessárias” para a população. Ora são solicitadas pelo povo, ora são formuladas pelo governo. Os diferentes governos as produzem, modificam, transformam, também, subentendendo, benefícios para a população. Mas os sucessivos governos apresentam diferentes políticas, por vezes com características mais socialistas, por vezes com características mais capitalistas. E, conforme o rumo tomado, organismo externos exercem influência sobre as políticas públicas de forma mais contundente, transformando o que era benefício para a população, em benefício para o capital. A metodologia de coleta de dados utilizada foi documental e bibliográfica. Inicialmente documental, com análise de documentos produzidos pelos organismos internacionais e, na seqüência, avaliação da bibliografia existente na literatura, utilizando-se de autores como Fonseca, Dias Sobrinho, Luft, Catani, dentre outros. O trabalho está estruturado em capítulos, apresentando, inicialmente um breve histórico da introdução do neoliberalismo e suas diferenças com o liberalismo clássico da qual deriva, evidenciando que o neoliberalismo prega um Estado mínimo, regulador, e um mercado forte. Neste enredo a educação superior pública passa por um desinvestimento, ao passo que a educação superior privada é estimulada. Na seqüência são discutidas as influências externas sofridas pelo governo neoliberal. Bancos multilaterais, como Banco Mundial, BID, dentre outros, e instituições como CEPAL, OMC, UNESCO, por exemplo, fazendo sugestões para as políticas públicas no Brasil. Sem dúvida, a principal instituição a fazer condicionalidades diante os empréstimos adquiridos é o Banco Mundial. Como se descreve no texto, essas condicionalidades “jogam” as políticas educacionais, com exceção do ensino básico, que é tido como universal e gratuito, para o mercado. E, por fim, apresenta-se uma discussão sobre o governo atual, do Presidente Luis Ignácio Lula da Silva. Um governo de origem de esquerda, do qual se esperava um embate mais duro frente às condicionalidades dos organismos internacionais sobre as políticas públicas. O que se observa é o que ocorreu foi praticamente um paralelo entre as condicionalidades sugeridas pelos organismos internacionais e as políticas educacionais atuais. Apresenta-se também uma análise sobre a reforma universitária que está em discussão, tema complexo, com a expectativa de que traga soluções para a Educação Superior, recolocando-a como uma fonte de conhecimento para o desenvolvimento da nação. Palavras-chave : Políticas Educacionais; Organismos Internacionais; Neoliberalismo.
ABSTRACT
This present study is about the International Organisms influence on the Educational Politics for the Superior Education in Brazil. This study is from the presuposed necessity of the Public Politics to social existence consolidation and social convivial effectuation. These are implicit as "necessary" for people. They are solicited by the people, or they are formulated by the government. Different governments produce, modify and change them, also perceiving, benefits for the people. But the successive governments show different politics, sometimes with socialistic characteristics, sometimes with capitalist characteristics. And, according to the direction taken, external organisms make harder influence on the public politics, changing people´s benefits to capital´s benefits. The collected data methodology used was documental and bibliographic. First the documental, with analysis of the documents from international organisms and, then, bibliography evaluation of the current literature, from authors like, Fonseca, Dias Sobrinho, Luft, Catani, and others. The work is organized in chapters, showing at first a brief historic neoliberalism introduction and its differences with the classical liberalism, from what it is from, evidencing that the neoliberalism lectures a minimum, regulator state and a strong market. Therefore, the public high education passes through a lack of investiment, and the private high education is stimulated. After, the external influences endured by the neoliberal government are discussed. Multilateral banks, such CEPAL, WORLD BANK , BID, and others, and institutions such CEPAL, OMC, UNESCO, for example, are suggesting public politics in Brazil. With no doubt, the main institutions that makes conditionalities face the acquired loans is World Bank. As described in the text, these conditionalities "throw out" the educational politics, except for the primary school, which is believed as universal and free, to the market. And, finally, a discussion about the current Brazilian government, Luis Inácio Lula da Silva, is presented. A govern from the left side, from whom, a hard resistence face the international organisms conditionalities over public conditions, was waited. It´s noticed that what happened was a parallel between the conditionalities suggested by the international organisms and the current educational politics. This study shows an analyse about the university reform that has been discussed, complex subject, with an expectation that could bring solutions for the Superior School Education, replacing it as a knowledge resource for the nation development. Key words: Educational Politics; International Organisms; Neoliberalism
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6
2 A POLÍTICA NEOLIBERAL E A EDUCAÇÃO SUPERIOR................................. 19
2.1 Ideário Neoliberal ______________________________________________ 19
2.1.1 Liberalismo clássico __________________________________________ 19
2.1.2 Neoliberalismo_______________________________________________ 22
2.2 O Neoliberalismo e a Educação___________________________________ 27
3 OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS E AS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL......................................................................................... 31
3.1. Principais Organismos Internacionais que Projetam Influências sobre a Educação Superior no Brasil ________________________________________ 32
3.1.1 Banco Mundial_______________________________________________ 32
3.1.2 Organização Mundial do Comércio – OMC_________________________ 40
3.1.3 CEPAL_____________________________________________________ 48
3.1.4 UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) ________________________________________________________ 53
4 INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL .............. 57
4.1 Políticas que Incidem na Internacionalização da Educação Superior no Brasil 60
4.2 Financiamento da Educação _____________________________________ 65
5. GOVERNO LULA, POLÍTICAS EDUCACIONAIS E REFORMA UNIVERSITÁRIA............................................................................................................................... 70
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 79
7 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 83
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo trata da questão das Políticas de Educação Superior no
Brasil, e, em particular, a influência dos organismos internacionais sobre este setor.
Como as Políticas Públicas se constituem numa categoria de análise
fundamental para este estudo, inicia-se fazendo considerações acerca do
entendimento que se adota, neste estudo, sobre esta temática.
As políticas públicas são formuladas segundo Oszlak e O’Donnell (apud
Rosemberg 2001, pág 21):
A partir de um conjunto de ações e omissões que manifestam uma modalidade de intervenção do Estado em relação a uma questão que chama a atenção, o interesse e a mobilização de outros atores da sociedade civil.
A política pública é o resultado das relações estabelecidas entre os atores
sociais ou institucionais que fizerem parte do curso político, isto é, da situação
política atual. Neste contexto existe a mobilização de atores ou grupos de
interesse em torno de uma política; as instituições que facilitam ou dificultam o
acesso aos centros de decisão conforme suas regras de procedimento; o processo
de decisão que ocorre em um fórum no qual as concessões e coalizões acontecem
em torno de uma ação; e o produto , ou seja, a política resultante.
Para Silva (2000), existem algumas fases para a formulação de políticas,
quais sejam:
1. Reconhecimento do assunto;
2. Formulação de problemas;
3. Identificação das necessidades;
4. Fixação de objetivos;
5. Consideração de opções;
6. Intervenção; e
7. Avaliação das conseqüências.
Estes itens são essenciais para que uma política pública tome forma. A partir
de um reconhecimento da importância do assunto em questão (potencial política
pública), passando por análises sobre as necessidades, os problemas potenciais
que possam gerar, e, por fim, sua execução através de objetivos e, tardiamente,
analisando suas conseqüências.
Mas, como refere a mesma autora (Silva, 2000, p 11),
É necessário que se faça uma análise sobre as agências formadoras de políticas, das regras para tomada de decisão, as interrelações entre as agências e os formuladores, bem como os agentes externos que influenciam o seguimento das decisões.
Outro autor, LIDBLOM, propõe uma outra divisão no que ele considera como
componentes principais na elaboração de políticas públicas (LINDBLOM, 1981, p
121):
1 -os diferentes problemas e reclamações, sociais ou de governo, chegam ao processo decisório e convertem-se em temas da agenda de política dos dirigentes; 2 as pessoas ou atores concretamente envolvidos com o processo concebem, formulam ou descrevem estes temas objeto da ação governamental; 3 planejam-se a ação futura, os riscos e potencialidades envolvidas, as alternativas, os objetivos previstos e os resultados esperados. 4 os administradores aplicam (implementam) a política formulada; 5 uma determinada política pode ser avaliada, o que pressupõe a construção de metodologias específicas para este tipo de análise.
De qualquer forma, existe uma interrelação entre agenda de políticas, atores
envolvidos, formulação de políticas públicas, implementação, sendo tópicos
importantes para análise.
Mesmo com todas as fases sendo respeitadas, observando a necessidade de
uma determinada política pública, respostas a questões, segundo Silva, como quais
as regras a serem seguidas, quem são as agências formadoras e os formuladores e
qual sua relação e, por fim, a influência de agentes externos. Na dependência de
todo esse aparato está a possibilidade, ou não, de uma política pública vir a ser
implantada.
Um aspecto interessante a se analisar diz respeito à relação entre as políticas
públicas e os interesses de formulação destas, ou seja, a agenda que leva à
formulação das políticas públicas. A agenda, neste caso, é uma compilação de
tópicos que chamam atenção do governo e dos cidadãos. Faz-se necessário o
entendimento do por que alguns assuntos são colocados na agenda de discussão e
outros não.
Três tipos de assuntos que habitualmente compõe a agenda são
reconhecidos por Kingdon (apud VIANA, 1995):
• Assuntos Não Governamentais (são assuntos relevantes para a opinião
pública, mas que não chamam a atenção do governo);
• Assuntos Governamentais (são assuntos que chamam a atenção das
autoridades);
• E a agenda de decisão ou lista de problemas a serem decididos.
Na questão da agenda está o envolvimento de espaços de intermediação de
interesses sociais, ora confluentes, ora negociáveis, ora conflitantes, onde as forças
sociais pressionam para que sejam adotadas suas proposições nos processos
decisórios.
Existem atores governamentais que influenciam na construção da agenda, quais sejam parlamentares, executivos, dentre outros, e atores não governamentais como agentes externos, mídia, grupos de pressão, etc. E a possibilidade de inclusão ou exclusão de um determinado assunto está no ativismo dos atores envolvidos. O problema básico está na desigualdade de acesso às arenas de decisões. Os grupos sociais ou categorias sociais tem acesso e controle de meios de produção, organização e comunicação de forma desigual (OFFE, 1991, p.53).
Outra questão chave para a definição de uma política pública é a constituição
de grupos de interesse . Estes grupos, mediante formas múltiplas e variadas,
procuram fazer valer seus interesses junto ao poder público. Estes grupos interagem
de forma consistente com as instituições do Estado e com os partidos políticos. Um
grupo de interesse pode se organizar não só para influenciar o poder, mas também
para participar. Buscam afetar as decisões segundo seus objetivos, transmitindo
seus interesses aos centros de decisão.
Na formulação de políticas públicas é que se tem a intenção das escolhas,
isto é, qual política se torna pertinente aos formuladores das políticas e aos grupos
de interesse e as que são descartadas. Os ditos formuladores de políticas, segundo
SILVA, podem ser classificados como os oficiais, que são os poderes executivo,
legislativo, judiciário, agências governamentais, dentre outras e os não oficiais, como
grupos de interesse e opinião pública (SILVA, 2000).
Uma política pública passa, então, pela agenda, tem o apoio dos grupos de
interesse, é formulada, e, por fim, segue para sua implantação . Apesar de todo o
caminho percorrido, nesta fase ainda existe imprevisibilidade, possibilidade de
renegociações. Existem barreiras à sua viabilização que devem ser ultrapassadas
ou contornadas através de mudanças na sua essência, ou, por vezes, até um
redirecionamento. Para uma implantação adequada é necessária muita clareza da
política em questão, mobilização e relação adequada entre os atores envolvidos
(SILVA, 2000).
Outras questões que levam ao êxito ou ao fracasso da implantação de uma
política pública, estão relacionadas ao contexto político em que se desenvolveu o
processo e a instituição responsável. (Grindle e Thomas, apud SILVA, 2000).
A implementação de uma política pública pode ser melhor representada como um jogo entre implementadores onde papéis são negociados, os graus de adesão ao programa variam, e os recursos entre atores são objeto de barganha. (SILVA 2000, p 09))
E a partir desta luta para a implementação de uma política pública, com
barganhas, atores envolvidos, instituições envolvidas, temos o financiamento de
uma política pública, que será discutida no decorrer do texto. O Financiamento
talvez seja o principal aspecto na implementação de uma política pública, pois trás
no seu bojo influências as mais variadas, como partidos políticos, interesses
pessoais, dentre outros, e definidores internacionais.
Com a política pública em processo de formulação, o cenário político ao qual
está sendo realizada ou idealizada, é extremamente importante. Na história política
recente tem-se importantes mudanças neste cenário.
No final da década de 1980 houve a derrocada do socialismo e a supremacia
do capitalismo, com os Estados Unidos como a única grande potência. Ficava então
em evidência o Neoliberalismo, produzindo profundas e significativas mudanças no
panorama mundial durante a década de 90. A principal marca é a hegemonia do
sistema financeiro que passa a ser globalizado.
Noções de igualdade e justiça passam a ser substituídas por produtividade,
eficiência, vistas como condições básicas para uma nova modernidade (LUFT 2005).
E o Brasil, na década de 1990, sob a presidência de Fernando Collor de Mello
e depois, com mais veemência, com o presidente Fernando Henrique Cardoso
assume o neoliberalismo plenamente no seu governo.
Isto trouxe ao Estado brasileiro uma nova visão de crescimento: liberal,
privativista, de abertura ao comércio exterior, e ortodoxa do ponto de vista
monetário, que veio a atender às necessidades do capital internacional em rápido
processo de globalização, conforme o Consenso de Washigton. (SOARES, 1998).
Nos termos do Consenso de Washington, a responsabilidade central do Estado consiste em criar o quadro legal e dar condições de efetivo funcionamento às instituições jurídicas e judiciais. (SANTOS, 2002, p. 43)
Isto permitirá a permanência da rotina entre os cidadãos, os agentes
econômicos e o próprio Estado.
Tomando cada vez mais corpo diante dos países em desenvolvimento nesta
implementação do neoliberalismo estão os Organismos Internacionais. O Banco
Mundial, o Fundo Monetário Internacional, os Bancos Multilaterais de
Desenvolvimento (como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, o
Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, o BIRD, o Banco de
Compensações Internacionais, o BIS), a Organização das Nações Unidas, a ONU e
suas instituições, como a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, a UNESCO e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a
UNICEF, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a CEPAL, a
Organização Mundial do Comércio, a OMC, dentre outros.
A dimensão da influência destas instituições sobre as políticas públicas
nacionais não são imaginadas pela população em geral, como refere em uma
entrevista o Sr. Marcos Faro, secretário executivo da Rede Brasil sobre Instituições
Financeiras Multilaterais, como segue:
O impacto do Banco Mundial sobre as políticas públicas é imenso. É espantoso que a maior parte da opinião pública no Brasil não tenha clareza a esse respeito. O Banco não somente formula condicionalidades que são verdadeiros programas de reformas políticas, como também implementa esses programas usando redes de gerenciamento de projetos que funcionam de forma mais ou menos paralela à administração pública oficial do Estado Brasileiro. Trata-se da chamada “assistência técnica. (FARO, 2003 – entrevista em áudio)
O Brasil, como um dos maiores tomadores de empréstimo do BM sofreu e
sofre com as inúmeras condicionalidades impostas.
Todos os países que assinam empréstimos do Banco automaticamente recebem um requerimento de que aceitam cada condicionalidade vinculada àquele acordo, tanto pelo Banco quanto pelo FMI. (...) apesar de o Banco e o Fundo desempenharem papéis diferentes, não se pode ter um sem ter o outro. (...) estudos já estipularam que os projetos financiados pelo Banco Mundial trazem uma média de 114 condicionalidades, se forem computadas as do FMI que são automaticamente vinculadas a eles. (Silva, 2005, p. 11 - 12)
O Banco Mundial sugere que um aumento da produtividade das populações
pobres pode garantir a sua participação nos benefícios do desenvolvimento:
educação e saúde seriam as condições prévias para a produtividade dessas
populações. Produtividade que significa trabalho, força de trabalho para o país. Por
outro lado, a partir da década de 1970 o BM produz vários documentos com
diretrizes e prioridades educativas para a concessão de seus créditos. Sob o
pretexto de garantir o ensino fundamental, a Universidade Pública é praticamente
abandonada, com desinvestimento progressivo e estímulo à privatização da
Educação Superior.
Diante dessa realidade da globalização e das imposições do BM, estão as
Universidades Brasileiras. As Universidades Públicas em uma situação inusitada,
nova, para a qual nunca foram preparadas: a de se tornar uma gestora voltada ao
mercado, com o revés de se submeter aos condicionamentos deste. Caso não
assumam esta posição, estarão fadadas ao desaparecimento, conforme a vontade
de muitos neoliberais. Por outro lado a Universidade Privada, estimulada pelo
mercado e pelas medidas governamentais, sofre influências dos organismos
internacionais como se poderá constatar no decorrer do texto.
Não há como manter-se indiferente no momento em que a Universidade
Pública Brasileira passa por um projeto de reforma universitária, um anteprojeto da
Lei de Educação Superior no Brasil, e, em registro sobre as reações das entidades
representativas do setor privado, lê-se “posturas de confronto” e afastamento de
qualquer possibilidade de diálogo (LOBO, 2005).
Editoriais pediram o encaminhamento do projeto à ‘lata de lixo’ e, assim se
posicionou o ministro Tarso Genro acerca das críticas:
Se você resumir as críticas, as mais duras, hostis, virulentas, elas se desenvolvem em torno de duas questões [...]. No núcleo do projeto e da ‘afronta’ sentido por seus maiores críticos estão ‘o caráter republicano’ da reforma e a concepção de educação como um ‘bem público’, e uma função que pode ser exercida por particulares, desde que delegada e regulada pelo Estado (LOBO, 2005, p.1).
A questão da reforma universitária merece uma contextualização à parte, que
será feita no do decorrer da discussão.
No texto se busca a resposta de questões que necessitam ser respondidas,
como o comportamento da Educação Superior no Brasil frente ao Neoliberalismo e a
Internacionalização da Educação, avaliando qual a influência real dos organismos
internacionais sobre a formulação das políticas educacionais para a Educação
Superior.
Outro aspecto determinante é a posição dos organismos internacionais, suas
posições condicionantes e as políticas para a Educação Superior no Brasil como
uma vertente estimulante para seguir este projeto, com o intuito identificar os
problemas e avaliar os potenciais conflitos destes sujeitos, a partir do seguinte
questionamento: Qual é a influência dos Organismos Internacionais n a
elaboração das políticas públicas para a educação s uperior no Brasil?
Sob a visão pessoal, como profissional da área da medicina e docente em
instituição de ensino superior, a justificativa envolve a predisposição em conhecer o
alcance das ações políticas dos Organismos Internacionais no Brasil, pela própria
necessidade em estar informado sobre as mudanças sociais a que todos os
cidadãos estão expostos.
Além disto, rege o espírito curioso e investigativo, que deseja conhecer os
processos históricos do aparecimento da globalização e as artimanhas políticas que
são utilizadas como recursos pelos órgãos internacionais e que, por causa deles, o
ambiente social do país registra cenas de despreparo, estreitamente ligado com a
exclusão e com o impedimento ao acesso dos bens públicos.
Consoante à justificativa social, melhor seria elaborar um dossiê e divulgar
nas massas, sobre os malefícios que estão ao redor da Universidade Nacional;
entretanto, apesar de reconhecer o estreito foco que se dá a este estudo, acredita-
se que o resultado deste trabalho será contributivo, visto tratar-se de um projeto
investigativo que busca as próprias respostas no contexto vigente, ou seja, a
educação superior e as suas políticas.
Assim o estudo teve como objetivo primeiro a análise da influência dos
organismos internacionais na elaboração das políticas educacionais para o Ensino
Superior no Brasil. Especificamente, o estudo objetivou: 1. Analisar os organismos
internacionais e suas diretrizes para a educação superior para os países em
desenvolvimento, no caso em estudo, para o Brasil; 2. Um breve histórico do
neoliberalismo e sua relação com a Educação Superior no Brasil 3. Avaliar a
influência dos organismos internacionais sobre a elaboração das políticas
educacionais para o Ensino Superior no Brasil, e por fim, uma discussão breve sobre
a reforma universitária e o governo atual e suas diretrizes para a Educação Superior.
Quanto à metodologia de pesquisa a mesma foi realizada de cunho
bibliográfica, por meio de livros, artigos científicos, artigos da Internet.
Neste trabalho são utilizadas duas etapas: a primeira, na qual a elaboração
da pesquisa bibliográfica visa fundamentar o tema e o problema proposto,
desenvolvido a partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos
científicos, amparado no seguinte registro:
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquele que poderia pesquisar diretamente (Gil (1999, p. 65).
Esta vantagem se torna particularmente importante no momento em que o
problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço, porém,
indispensável nos estudos históricos, pois em muitas situações não há maneira de
conhecer os fatos passados, senão baseando-se em dados secundários.
Como etapa seguinte, realiza-se a pesquisa de cunho documental, que se
presta a investigar o que é, descobrindo características de um fenômeno como tal,
sendo considerado, então, como objeto de estudo, uma situação específica, um
grupo ou um indivíduo.
Este tipo de estudo pode abordar aspectos amplos de uma sociedade como,
por exemplo, a descrição da população economicamente ativa, do emprego de
rendimentos e consumo, do efetivo de mão-de-obra, levantamento da opinião e
atitudes da população acerca de uma situação peculiar, caracterização do
funcionamento de organizações, e identificação do comportamento de grupos
minoritários (RICHARDSON, 1999).
As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das
características de uma determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento
de relações entre variáveis. São essas pesquisas as que, habitualmente, realizam os
pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática (GIL, 1999).
Neste trabalho, especificamente, buscou-se analisar documentos de
autores especializados nos temas propostos e documentos das instituições que
foram o foco do estudo, como gerados pelo BM, CEPAL, UNESCO, OMC, dentre
outros.
Serão estudadas as seguintes questões norteadoras: os organismos
internacionais e suas diretrizes para a educação superior para países em
desenvolvimento; aspectos relevantes da política neoliberal, com a clássica “mão
invisível” do mercado com Estado mínimo e a globalização; os fatores
determinantes para a educação superior que trazem no seu bojo; as posições
políticas atuais em relação às definições e “sugestões” dos organismos
internacionais para a Universidade Brasileira.
Para a análise e interpretação dos resultados, foram selecionados pontos
constitutivos dos dados obtidos, orientados pelos objetivos formulados e pelas
questões norteadoras, com a contribuição de inferências.
Assim, o presente estudo divide-se em quatro capítulos. O capítulo I traz a
contextualização da pesquisa com a introdução, objetivos, problema e justificativa.
Neste capítulo busca-se um entendimento sobre a formulação de uma política
pública e seus potenciais fatores que a influenciam até sua efetivação, faz-se uma
breve introdução sobre o neoliberalismo, os organismos internacionais e uma
referência à intenção de responder às questões que norteiam este estudo. Na
introdução são utilizados pensamentos de autores como Camilla Silva, que formulou
um ensaio sobre a atuação do banco Mundial na educação brasileira e nos países
que integram a Iniciativa Via Rápida na América Latina. Outro autor que é citado é
Pedro Luiz Barros Silva, que estudou o processo de implementação de políticas
públicas no Brasil: características e determinantes da avaliação de programas e
projetos. Utilizo-se ainda citações de Claude Offe, Flávio Lobo, Boaventura Santos,
dentre outros.
No segundo capítulo a proposta é de discutir o neoliberalismo, suas raízes e
sua influência na educação superior brasileira. Apresenta um paralelo entre o
liberalismo clássico e o neoliberalismo, suas aproximações e suas divergências.
Neste capítulo são citados autores como Marilena Chauí, Boaventura Santos,
Abagnano, Michael Apple, dentre outros.
No terceiro capítulo passa-se a discutir os papéis e as ações dos organismos
internacionais, descrevendo as suas origens, suas linhas de discursos, com citação
de documentos relevantes apresentados, e as condicionalidades impostas ao
governo brasileiro para incorporação e implementação de políticas públicas
compatíveis com as imposições feitas. São utilizados autores como Marília Fonseca,
que é referência nos estudos sobre o Banco Mundial, Coraggio, Lívia de Tommasi,
Valdemar Sguissardi, e documentos produzidos pelas instituições como Banco
Mundial, OMC, UNESCO, CEPAL, dentre outros.
No quarto capítulo procura-se relacionar as “coincidências” entre as
condicionalidades impostas pelos organismos internacionais e as políticas
educacionais para a Educação Superior. Faz-se uma correlação entre a LDB e
alguns documentos formulados, principalmente pelo Banco Mundial, que é o
primeiro “produtor” de condicionalidades. Neste capítulo são apresentados
documentos dos organismos internacionais já citados, e autores como José Dias
Sobrinho, Lívia de Tommasi, Ana Maria Eyng, Maria Amélia Sabbag Zainko, Luis
Aragon, dentre outros.
E, por fim, no quinto capítulo discute-se as ações e políticas educacionais do
governo atual, do presidente Luis Ignácio Lula da Silva, suas tendências político-
partidárias e a reforma da educação superior. Apresenta-se uma discussão sobre a
situação atual e tendências para o futuro da educação superior. Neste texto são
utilizados documentos do governo brasileiro e autores como Roberto Leher, Saxe-
Fernandez, Olgaíses Maués, João Barroso, dentre outros.
2 A POLÍTICA NEOLIBERAL E A EDUCAÇÃO SUPERIOR
Neste capítulo pretende-se, em um primeiro momento, fazer uma retomada
histórica sobre o Neoliberalismo e o Liberalismo Clássico. Depois entro no
Neoliberalismo propriamente dito, tomando corpo a discussão sobre suas diretrizes
básicas e a potencial influência benéfica e ou maléfica sobre a educação superior no
Brasil.
2.1 Ideário Neoliberal
O Neoliberalismo reúne em si o novo, com o prefixo “neo” e o liberalismo
clássico, ideologia prevalente na Europa e América nos séculos XVIII e XIX. Esta
busca pelo paralelismo entre o antigo e o novo ideário tenta a legitimação do
neoliberalismo, como se atualizando frente às novas questões nos novos tempos.
(MORAES 1997, p 01)
Um paralelo se faz necessário entre o liberalismo clássico e o neoliberalismo.
2.1.1 Liberalismo clássico
Os fundamentos do liberalismo passam necessariamente pelo nome de Adam
Smith, com seu livro “a Riqueza das Nações”, de 1776. Toma corpo um sistema,
então, que refere a livre iniciativa econômica de indivíduos e suas relações, não
limitada por regulamentos e monopólios estatais, produzindo um mundo melhor,
justo, racional, eficiente e produtivo. (MORAES, 1997, p 01).
O Liberalismo político e o econômico deve ser conceituado para o
entendimento do texto subseqüente.
O Liberalismo Econômico pressupõe uma emancipação da economia de
inflências externas à ela. Outro ponto fundamental no Liberalismo Econômico é o
fato de que todos os agentes econômicos são movidos por um impulso de
crescimento e desenvolvimento econômico, que poderia ser entendido como uma
ambição ou ganância individual, que no contexto macro traria benefícios para toda a
sociedade, uma vez que a soma desses interesses particulares promoveria a
evolução generalizada. (WIKIPÉDIA)
Já no Liberalismo Político, segundo Rawls:
O objetivo da justiça como imparcial é prática: e se apresenta como uma concepção da justiça que pode ser compartilhada pelos cidadãos como a base de um acordo político razoável, informado e voluntário. Expressa sua razão política pública e compartilhada. Porém, para obter tal razão compartilhada, a concepção da justiça deve ser, tanto como seja possível, independente das doutrinas filosófica e religiosa oposta e conflitiva que os cidadãos afirmam. Formulando uma concepção tal, o liberalismo político aplica o princípio da tolerância à própria filosofia. (ESTEBAN 2002, p 100).
Conceituando o econômico e político, sigo relatando as características do
liberalismo, como transformação social e o progresso. Na época do liberalismo,
entre os séculos XVIII e XX, existia uma atmosfera de liberdade e a livre empresa
trazia consigo desenvolvimento da ciência, tecnologia e a indústria. O mundo seria
melhor se existisse livre iniciativa, sem um influência forte do Estado,
desregulamentando e reduzindo-o a funções bastante específicas: (MORAES,
1997)
Manutenção da segurança interna e externa;
Garantia dos contratos;
Responsabilidade por serviços essenciais de utilidade pública.
A redução do tamanho do Estado na economia com suas “normas”, tanto
preferenciais como restritivas, determinam um sistema de liberdade natural.
Os interesses próprios e a busca pelo “lucro”, segundo a doutrina liberal,
motivam e estimulam a criatividade das pessoas, com maior interesse ao trabalho,
maior eficácia de empresas e empreendedores.. Um slogan marcava o liberalismo:
“a mão invisível do mercado”, que foi introduzido pelo Adam Smith em "A Riqueza
das nações.
O mercado é afirmado como o caminho mais adequado para Eficiência,
Justiça e Riqueza. Eficiência pela busca e melhor distribuição do trabalho, de
maneira mais econômica e eficiente e o uso adequado de potencialidades, tanto
individuais, coletivas e da própria natureza. Justiça porque premia a criatividade e
leva ao estímulo ao trabalho. E Riqueza pelo aumento do volume de produtos,
beneficiando a todos de modo geral. (MORAES, 1997)
Fundamental também, na tradição liberal, a necessidade de limitar o poder
político e a recusa do Estado-máquina. O poder político potencialmente
influenciando a liberdade individual e o Estado-máquina encarcerando o indivíduo
dentro de ações padronizadas. O único acordo admissível no liberalismo é a
organização da sociedade de modo que cada um possa viver como bem entenda, procurar a felicidade como quiser. Ademais, a diversidade não seria um mal a tolerar, mas um bem a promover. (MORAES, 1997, p 08)
As três funções do Estado, descritas acima, segundo o sistema de liberdade
natural são simples e inteligíveis ao senso comum. Defesa externa e ordem interna
são comuns, mas o problema está na terceira função, com a delimitação do espaço
de obras e instituições públicas. Não existe uma definição exata, uma delimitação
clara neste aspecto, apesar de existir uma “norma” que define o limite até a
possibilidade de oferta por interesses privados, mas mesmo assim dá margem para
muita controvérsia.
2.1.2 Neoliberalismo
O liberalismo clássico sempre lutou contra o Estado Mercantilista e as
corporações. Nos tempos mais recentes estes “inimigos” recebem outras
características, formando um conjunto institucional conhecido como Estado do Bem
Estar, com intervenção estatal na economia, muito identificado com a doutrina
keynesiana. Outra linha de embate também contra as novas corporações, como
sindicatos e centrais sindicais que forçaram ao aumento de salários (reivindicações
salariais) e passaram a exigir do Estado políticas sociais mais profundas, sem
retorno financeiro. (MORAES 1997).
A receita então foi uma forte ação do Estado sobre os sindicatos, política anti-
inflacionária monetarista e reformas orientadas para e pelo mercado. Menos Estado
e mais mercado é a máxima que rege as postulações neoliberais.
O Estado de direito só pode ser responsável por medidas que se estabeleçam como normas gerais; caso contrário, produziria, necessariamente, uma discriminação arbitrária entre as pessoas. (AZEVEDO, 2001, p 11)
Para os neoliberais as políticas públicas são os principais responsáveis da
crise das sociedades, e que
o mercado tem a capacidade de regulação do capital e do trabalho. A intervenção do Estado afeta o equilíbrio da ordem, tanto no plano
econômico como no plano social e moral, na medida em que tende a desrespeitar os princípios da liberdade e da individualidade, valores básicos do ethos capitalista. (AZEVEDO, 2001, p 12)
A intervenção governamental nas atividades econômicas interfere de modo
desigual às condições de concorrência e competitividade, levando a
favorecimentos, coibindo e ameaçando os estímulos individuais para a produção e
competição no mercado de trabalho. (AZEVEDO, 2001)
Em relação às políticas sociais desestimulam a livre iniciativa. Os vários
seguros que o estado produz, como desemprego, acidente, pensões, aposentadoria
dentre outros, desequilibram o mercado de trabalho, levam à acomodação e
dependência de subsídios estatais.
Outro aspecto que leva a grande discussão nos argumentos dos neoliberais é
o empreguismo na máquina governamental. Existem regiões altamente dependentes
dos empregos públicos, os custos dos programas sociais elevados, levando a uma
necessidade cada vez maior de receita com subseqüente aumento de tributos e
encargos sociais. O caráter não lucrativo das políticas públicas leva, além do
exposto anteriormente, a um comprometimento de atividades produtivas expressos
por inflação e desemprego.
As políticas educacionais não sofrem hostilidades dentro do ideário neoliberal,
pois, dentre as políticas sociais é considerada uma função “permitida” ao Estado.
Mas essa permissão é referida ao nível básico de educação. Mas um tratamento
alternativo ao sistema educacional é sugerido, com a transferência ou divisão de
responsabilidades com o setor privado. Potencialmente existe um estímulo à
competição e aquecimento do mercado com uma teórica manutenção da qualidade.
(AZEVEDO, 2001)
Outros níveis educacionais devem estar ligados à demanda do mercado: “o
benefício não pode ser proporcionado com vistas à individualidade, mas sim às
vantagens que podem resultar para a comunidade em geral”. (AZEVEDO, 2001)
Na concepção neoliberal uma pessoa com talento, mas sem recurso, deve ser
amparada com “empréstimo” público ou privado, assumindo o seu pagamento assim
que começar a trabalhar na área de formação. Isto quer dizer que no ideário
neoliberal, qualquer pessoa pode ter acesso à educação, mas de forma paga. O
Governo providencia o pagamento, como um empréstimo à formação, e, após a
graduação, este indivíduo deverá retornar o valor gasto aos cofres públicos.
O Neoliberalismo exige de fato a produção constante de evidência que o
indivíduo está realmente ‘fazendo de si mesmo um empreendimento’. Nessas
condições, a educação não só se torna uma mercadoria mercantilizável como pão e
carros, predominando os valores, procedimentos e metáforas do mundo dos
negócios, como seus resultados têm de ser redutíveis a ‘indicadores de
desempenho’ padronizado (APPLE, 2003).
O neoliberalismo pressupõe uma política de mercado como cerne central de sua ideologia, baseada em Hayek e Friedman (BORON, apud MIOTTO 2005, p 04).
Comparando a esfera do Mercado com outras duas, o Estado e as Empresas,
torna-se evidente (como cerne central) a influência superior do mercado frente às
duas outras esferas, ao contrário do capitalismo de bem-estar, em que a esfera
maior que regiria o mercado e as empresas seria o Estado.
A ideologia do mercado propaga o crescimento da economia, e, assim, um
maior rendimento da superestrutura do Estado em função do Mercado torna-se
evidente; Assim, o rendimento relacionado à produção tende a aumentar nos setores
que melhor atendem às exigências do mercado, e, assim, favorece a burguesia e o
aumento da desigualdade social e do desemprego.
A dinâmica do neoliberalismo pressupõe desigualdade social e desemprego para a própria manutenção do sistema; óbvia o privilégio pela educação técnica e pela redução dos salários, pois o trabalhador melhor é o mais adaptável, e a lógica da competição assim está assegurada desde os micro-poderes da sociedade como fim, bem como assegura a manutenção do status quo do trabalhador em função do meio de produção. (MIOTTO, 2005, p 04)
O sucesso da política neoliberal está evidente em países desenvolvidos como
a Inglaterra, em que houve uma política de privatização e “ataque” aos sindicatos.
No Brasil o processo de neoliberalização possui indícios já no Regime Militar. Mas a tentativa marcante deu-se de início com Collor em sua política do "vamos acabar com os Marajás", e tornou-se explícita a partir das estratégias que culminaram com a eleição de Fernando Henrique Cardoso. (MIOTTO, 2005, p 04)
A emergência de uma nova divisão internacional do trabalho, baseada na
globalização da produção teve seu início em 1980, com Froebel, Heinrichs e Kreye,
adotada pelas empresas multinacionais e, conseqüentemente, convertida em atores
centrais da nova economia mundial (SANTOS, 2002).
Essa nova economia apresenta traços específicos, quais sejam: economia
dominada pelo sistema financeiro e pelo investimento à escala global; processos de
produção flexíveis e multilocais; baixos custos de transporte; revolução nas
tecnologias de informação e de comunicação; desregulação das economias
nacionais; preeminência das agências financeiras multilaterais; emergência de três
grandes capitalismos transnacionais (SANTOS, 2002).
[...] a globalização econômica é sustentada pelo consenso econômico liberal cujas três principais inovações constitucionais são: restrições drásticas à regulação estatal da economia; novos direitos de propriedade internacional para investidores estrangeiros, inventores intelectual [...] subordinação dos Estados nacionais às agências multilaterais tais como o Banco Mundial, o FMI e a Organização Mundial do Comércio (SANTOS, 2002, p. 31).
No entanto, persiste o consenso liberal de que o crescimento e a estabilidade
econômicos provocam a redução dos custos salariais, mediante a liberalização do
mercado de trabalho, redução dos direitos liberais, proibição da indexação dos
salários aos ganhos de produtividade e ajustamentos em relação ao custo de vida,
sob aversão de impedir o impacto inflacionário dos aumentos salariais. (SANTOS,
2002, p. 35)
A economia é, assim, dissocializada, o conceito de consumidor substitui o de cidadão e o critério de inclusão deixa de ser direito para passar a ser solvência. Os pobres são os insolventes (SANTOS, 2002, p. 35).
Mas, não é possível desviar-se das conseqüências da globalização, que
transformaram o Estado de Bem-estar em um Estado neoliberal promovendo uma
significativa mudança entre os atores universitários e o setor público (MOLLIS,
2001).
Esta mudança chegou a atingir as definições da democracia; definida por
Held (1955, p. 97 apud TORRES, 2003, p. 80), a democracia predominante no
século XX foi a representativa liberal, com seu princípio de cidadão ativo,
constituindo “um conjunto de regras, procedimentos e instituições que permitem o
mais amplo envolvimento da maioria dos cidadãos, não nos assuntos políticos
enquanto tais, mas na seleção dos representantes [...]”.
Todavia, se for considerada a democracia como relacionada a um sistema de
participação política do povo nos assuntos públicos, ao poder do povo sobre
qualquer outra instituição reguladora, à idéia de direitos iguais para todos os
cidadãos, esta vai além da tentativa de evitar formas de exclusão impeditivas da
participação política e social, pois a chamada democracia radical postula a igualdade
radical nas interações raciais, étnicas, de classe e de gênero, tanto na esfera pública
como na casa das pessoas.
É difícil entender como a “noção de democracia se tornou intimamente
entrelaçada com a noção de capitalismo como o mais eficaz modo de produção para
o desenvolvimento de sistemas democráticos” e, de Samuel Bowlws e Herbert
Gintis1, vem a argumentação de que a dinâmica da democracia repousa na lógica de
expansão do sistema capitalista: direitos pessoais e direitos de propriedade,
freqüentemente agindo em lados opostos, um conflito que tem sua vertente
representada pelo choque entre ideologia dos negócios e os movimentos sociais no
capitalismo industrial avançado e no capitalismo em desenvolvimento e dependente
(TORRES, 2003).
2.2 O Neoliberalismo e a Educação
Para Barroso (2005, p. 741),
No domínio da educação, a influência das idéias neoliberais fez-se sentir quer por meio de múltiplas reformas estruturais, de dimensão e amplitude diferentes, destinadas a reduzir a intervenção do Estado na previsão e administração do serviço educativo, quer por meio de retóricas discursivas (dos políticos, dos peritos, dos meios de informação) de crítica ao serviço público estatal e de encorajamento de mercado.
Para o autor (BARROSO, 2005) existe uma subordinação das políticas
econômicas ao mercado, criando ou importando modelos de gerenciamento,
Para SANTOS (2002, p 05) a conjuntura das políticas educacionais no
Brasil ainda demonstra sua centralidade na hegemonia das idéias liberais sobre a
sociedade, como reflexo do forte avanço do capital sobre a organização dos
1 Samuel Bowles e Herbert Gintis, Democracy and Capitalism; The Contradictions of Modern Political Life (New York: Basic, 1986).
trabalhadores na década de 90. A intervenção de mecanismos internacionais como
o FMI e o Banco Mundial, aliada à subserviência do governo brasileiro à economia
mundial, repercute de maneira decisiva sobre a educação. Em contrapartida, a crise
do capitalismo em nível mundial, em especial do pensamento neoliberal, revela,
cada vez mais, as contradições e limites da estrutura dominante. A estratégia liberal
continua a mesma: colocar a educação como prioridade, apresentando-a como
alternativa de “ascensão social” e de “democratização das oportunidades”. Por
outro lado, a escola continua sendo um espaço com grande potencial de reflexão
crítica da realidade, com incidência sobre a cultura das pessoas. O ato educativo
contribui na acumulação subjetiva de forças contrárias à dominação, apesar da
exclusão social, característica do descaso com as políticas públicas na maioria dos
governos.
O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de elementos já
presentes há muito tempo no capitalismo, ambos tentando se articular
coerentemente, embora as contradições estejam cada vez mais explícitas.
Em termos de estrutura social, vigora a manutenção da sociedade burguesa, com
suas características básicas: a) trabalho como mercadoria; b) propriedade privada;
c) controle do excedente econômico; d) mercado como centro da sociedade; e)
apartheid, exclusão da maioria; f) escola dividida para cada tipo social. (SANTOS,
2002, p 07)
A burguesia mantém sua supremacia ideológica, porém, sendo esta
solução reconhecidamente ineficaz. Coloca o mercado como gerador de sua crise,
mas como solução apresenta a expansão do mercado como solução. Isto que dizer
agravo à crise. (SANTOS, 2002)
Segundo Nascimento (1997 apud SANTOS 2002), o Neoliberalismo sugere
um Estado ao mesmo tempo, centralizado e descentralizado, com sua função
limitada à intervenção, tendo como papel induzir mudanças, estabelecer parcerias e
coordenar iniciativas.
É centralizado no que se refere à definição de um currículo mínimo e de um
sistema unificado de avaliação: é descentralizado no que diz respeito às diferenças
sociais, às desigualdades e às necessidades específicas de cada região. Em suma,
o Estado neoliberal coloca o indivíduo no centro da filosofia social e defende a
propriedade privada como sendo direito fundamental do homem. Ao Estado cabe a
função regulatória, no sentido de reduzir incertezas e assimetrias de informações e
de garantir a produção eficiente e de qualidade. (SANTOS, 2002, p 07)
O Neoliberalismo defende uma escola básica, universal, gratuita e
obrigatória. Níveis superiores ao ensino básico apenas como preparo de mão de
obra para o mercado, numa visão puramente tecnicista.
A educação é vista por um prisma empresarial. Termos como eficiência,
competitividade, produtividade e lucro utilizados hoje abertamente nas instituições
educacionais. Isto leva progressivamente a uma seletividade de acesso com
elitização do conhecimento, resultando, para a grande maioria, em exclusão,
analfabetismo, desemprego, miséria e violência. (SANTOS 2002)
Como foi visto neste capítulo, o Neoliberalismo traz no seu bojo várias
“adaptações” da sociedade como um todo. O Mercado como centro das atenções,
regulador, instituindo as regras de funcionamento da sociedade. O Governo com o
dever de se manter distante, apenas controlando as defesas interna, externa e a
garantia dos contratos, mas, também, garantindo as políticas públicas. E, por fim, o
Cidadão, que gradativamente é excluído da lógica de mercado, pagando o preço
das políticas públicas por impostos e contribuições sociais progressivamente mais
onerosas, sem o retorno de direito.
A educação básica é garantida pelo Estado no neoliberalismo, mas os
outros níveis, incluindo o Ensino Superior, são “empurrados” para as parcerias
público-privadas ou para o setor privado, que, segundo o ideário neoliberal, traz
maior eficiência.
3 OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS E AS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO
SUPERIOR NO BRASIL
O Sistema de Ensino Superior no Brasil, desde a década de 80, vem sofrendo
mudanças significativas tanto na sua estruturação interna, com a dinâmica acelerada
de expansão com conseqüente multiplicação de funções e aumento de custos, como
também pelas influências externas a ela, como financiamento, influências
governamentais e não-governamentais (externa). Este capítulo objetiva tratar sobre
as influências externas, relacionadas com os organismos que produzem documentos
que sugerem alternativas para as políticas para a educação superior no Brasil.
Entidades como Banco Mundial, CEPAL, Organização Mundial do Comércio e
Unesco serão descritos neste capítulo, com suas principais linhas de “orientações” e
suas potenciais influências sobre a Educação Superior no Brasil.
Na seqüência propõe-se uma discussão sobre as políticas que influenciam a
educação superior no Brasil e, por fim, o financiamento para a educação superior.
A educação é a pedra angular do crescimento econômico e do desenvolvimento social e um dos principais meios para melhorar o bem-estar dos indivíduos. Ela aumenta a capacidade produtiva das sociedades e suas instituições políticas, econômicas e científicas e contribui para reduzir a pobreza, acrescentando o valor e a eficiência ao trabalho dos pobres e mitigando as conseqüências da pobreza nas questões vinculadas à população, saúde e nutrição. [...] (TORRES e CORRULLÓN, 1998, p. 125).
A literatura é vasta sobre os organismos internacionais e sua influência sobre
a formulação das políticas educacionais.
No sentido de conhecer as possibilidades que estes organismos podem
influenciar as políticas públicas, e neste caso em particular, sobre as políticas
educacionais, é importante conhecer as origens destes.
3.1. Principais Organismos Internacionais que Projetam Influências sobre a
Educação Superior no Brasil
3.1.1 Banco Mundial
Fundado na conferência de Bretton Woods em 1944, após o término da
Segunda Guerra Mundial, o grupo Banco Mundial é hoje composto por um conjunto
de organismos, dentre os quais o principal é o BIRD (Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento), que abrange cinco outras agências: a IDA
(Associação Internacional de Desenvolvimento), a IFC (Cooperação Financeira
Internacional), o ICSID (Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre
Investimentos), a MIGA (Agência de Garantia de Investimentos Multilaterais) e o
GEF (Fundo Mundial para o Meio Ambiente).
Para Silva e Bock (2005) na sua origem o Banco exerceu um papel de
reconstrutor das economias devastadas pela guerra e de credor para empresas do
setor privado. Com a emergência das tensões com a União Soviética e a escalada
da Guerra Fria, a década de 1950 marcou uma reorientação das políticas do Banco
na direção da incorporação dos países de Terceiro Mundo ao bloco ocidental não
comunista, por meio da criação de programas de assistência econômica e de
empréstimos crescentes.
Segundo Fonseca (1998) em relação ao setor público brasileiro, o Banco atua
como agência financiadora de projetos para a área de infra-estrutura econômica
desde o final da década de 1940, sendo que seus créditos representam pouco mais
que 10% da dívida externa do país. A importância central do Banco ampliou-se, a
partir dos anos 1970, quando passou a constituir uma das mais relevantes fontes de
financiamento para o setor social, senão a maior delas.
Coraggio afirma que,
O Banco Mundial está fortemente comprometido em sustentar o apoio à Educação. Entretanto, embora financie na atualidade aproximadamente uma quarta parte da ajuda para a educação, seus esforços representam somente cerca de meio por cento do total das despesas com educação nos países em desenvolvimento. Por isso, a contribuição mais importante do Banco Mundial deve ser seu trabalho de assessoria, concebido para ajudar os governos e desenvolver políticas educativas adequadas às especificidades de seus países. O financiamento do Banco, em geral, será delineado com vistas a influir sobre as mudanças nas despesas e nas políticas das autoridades nacionais. (apud TOMMASI et al, 1998, p. 75)
Para uma análise mais circunstanciada sobre o novo papel político-social do
BM, é necessário examiná-lo a luz da evolução do conceito de progresso e dos
diferentes modelos de desenvolvimento vigentes no processo de cooperação
(FONSECA, 1998).
Dentre as instituições que apresentam documentos com sugestões para a
política pública brasileira, neste caso a educação, a que produz certamente maior
discussão é o Banco Mundial, porque impõe as “idéias” para as políticas públicas
como condicionantes de empréstimos percebidos.
No Brasil, os projetos financiados pelo Banco Mundial com impacto na
educação continuam a ocorrer sem um acompanhamento sistemático por parte da
sociedade civil. Ao mesmo tempo, dado o elevado volume de investimentos
invertidos e os limites impostos para uma ação pública universal e de qualidade, a
educação passa a se converter em um “mercado emergente” atrativo aos
investidores privados. Assim, ela foi incluída entre os 160 serviços cuja liberação
pode ser negociada e estar comprometida de acordo com os princípios e as normas
da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Silva (2005) menciona que a década de 1980 consistiu em um período
importante de reorientação do papel e das políticas tanto do Banco Mundial quanto
os demais organismos multilaterais de financiamento, como o Fundo Monetário
Internacional (FMI). A crise de endividamento dos países do Terceiro Mundo –
principalmente com credores privados, na qual a América Latina esteve no centro,
propiciou o contexto político favorável para que o Banco assumisse um papel central
na renegociação e garantia dos pagamentos das dívidas externas, na reestruturação
e abertura dos devedores e na instituição de condicionalidades para a obtenção de
novos financiamentos.
Conforme artigo publicado por Fonseca (1998, p. 16),
O Banco Mundial tem assistido o setor educacional brasileiro, na forma de cooperação técnica e financeira para o desenvolvimento de educação de base. Esta assistência foi realizada por meio de seis projetos de co-financiamento desenvolvidos no âmbito do ministério da Educação, nas três últimas décadas. Durante esse período o Banco ampliou suas funções para além da assistência técnica e financeira propriamente ditas, passando a elaborar políticas para os setores a serem financiados, entre eles, a educação.
Continua o autor em estudo referenciando que:
[...] o Banco vem formulando diretrizes políticas para o setor social, as quais são consideradas no quadro mais amplo do projeto econômico que articula junto aos países. Desse modo a educação passa a ter uma função política específica nas diferentes fases da cooperação técnica, segundo a evolução do projeto econômico do Banco. Esse conjunto de políticas é suportado por princípios retoricamente humanitários de eqüidade, combate à pobreza e de autonomia local (FONSECA, 1998, p. 16).
Fonseca (1998) produziu estudos contundentes sobre a relação do Banco
Mundial e a Educação, pois teve acesso aos documentos de dentro da instituição, se
tornando uma referência em relação a esse tema.
No entender de Fonseca (1998), a educação é tratada pelo Banco como
medida compensatória para proteger os pobres e aliviar as possíveis tensões no
setor social. Além disso, ela é tida como uma medida importante para a contenção
demográfica e para o aumento da produtividade das populações mais carentes. Isto
quer dizer que fornecendo educação básica para a população mais pobre, temos um
conhecimento mínimo necessário para o entendimento de controle de natalidade, e,
superando o analfabetismo, as possibilidades de empregos se tornam reais.
E, seguem-na outros autores desfiando definições coincidentes entre as
sugestões do Banco Mundial e as políticas educacionais instituídas, como será visto
no desenvolver do texto.
A fim de garantir a estabilidade econômica dos países em desenvolvimento,
as questões sociais tornaram-se essenciais para o Banco Mundial. De acordo com
seu presidente, James Wolfensohn: (1999):
Justiça social é uma questão tão importante quanto crescimento econômico. A curto prazo você pode manter a desigualdade. Mas a longo prazo não dá para ter uma sociedade estável (...) É necessário criar oportunidades para que as pessoas pobres se desenvolvam, investindo em educação e em reforma agrária.(ALTMANN, 2002, p 03).
Desde 1990, o BIRD tem declarado que seu principal objetivo é o ataque à
pobreza. Para isso, suas duas principais recomendações são: uso produtivo do
recurso mais abundante dos pobres – o trabalho – e fornecimento de serviços básico
aos pobres, em especial saúde elementar, planejamento familiar, nutrição e
educação primária (ALTMANN, 2002).
O neoliberalismo, com raízes a partir do século XVII, traz hoje uma forte
influência na política interna brasileira, com seu auge no governo de Fernando Collor
de Mello: políticas duras e promotoras de exclusão progressiva.
O ingresso do neoliberalismo é a resposta ao desacordo que passou a vigorar
na sociedade pós-industrial que se contrapôs ao modelo denominado de fordista
keynesiano de produção, consubstanciado em uma base técnica desqualificada,
parcializada e repetitiva, dirigindo o capital para uma nova base técnica, ‘produtiva,
seriada, flexível e diferenciada’, que inclui a terceirização dos serviços como
desenvolvimento de novas tecnologias de ponta, conferindo a reprodução e à
acumulação de capital, uma catástrofe de ordem inversa: a estagnação econômica
mundial dos países do chamado terceiro mundo (SAMPAIO, SANTOS e
MESQUIDA, 2003).
Na seqüência dessas mudanças, o FMI e o BM impõem políticas de ajustes
estruturais aos países em desenvolvimento, em razão dos problemas com o
pagamento dos juros da dívida externa (SAMPAIO, SANTOS e MESQUIDA, 2003).
Quanto à educação, a adoção das políticas do Consenso de Washington
reflete-se diretamente nas ações educacionais:
Afastamento do estado como agente financiador da educação; Privatização das instituições públicas de ensino; Ênfase sobre a avaliação e controle – Estado avaliador e controlador (PROVÃO, ENEM, etc); Critérios essencialmente quantitativos para selecionar professores e alunos, bem como para avaliar cursos nos diversos níveis de acesso; Ênfase sobre a prática em detrimento da teoria; Tecnização das ações educativas; Ênfase sobre os fins a serem atingidos, pois estes justificam os meios; Preparação escolar profissionalizante e técnica para atender à demanda das empresas; Formação rápida e à distância, formação oferecida por agências de mercantilização do ensino; Fetichização da educação; A educação precisa trabalhar com a idéia de que vivemos numa sociedade do conhecimento (SAMPAIO, SANTOS e MESQUIDA, 2003, p 08)).
Como se nota nos itens citados acima, as possíveis mudanças sugeridas pelo
consenso de Washington nada mais são do que uma tentativa de ir ao encontro da
mercantilização da educação superior, como se pode verificar mais adiante quando
se fala da OMC.
Portanto, o direito à educação passa a ser considerado como um serviço definido pelo mercado. A lógica do modelo é a de que as instituições de ensino passem a responder a diversas necessidades que lhe são externas”, visando caracterizar-se como multifuncionais, indispensáveis e utilitárias (FREITAS, apud SAMPAIO, SANTOS e MESQUIDA, 2003, p. 09).
O cumprimento das recomendações do ajuste neoliberal é visível nos últimos
anos no Brasil, buscado o equilíbrio orçamentário, como regra diante dos
sobressaltos oficiais das incertezas econômicas, aprovando novas leis, como a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF), agregada à abertura comercial, a liberalização
financeira, a desregulamentação dos mercados domésticos e dos serviços públicos,
que foram seguidos à risca.
Avulta-se a premissa de que o ensino superior é antes um bem privado que
público, e que se trata, segundo Sguissardi (2002, p. 126), sob as vistas da teoria
econômica neoclássica do capital humano, de um elemento agregador de valor, pela
pregação mais determinada a uma aproximação da Universidade com o mundo
empresarial, “com o objetivo proclamado de superar o desajuste entre universidade
e mundo do trabalho”.
As reformas da educação superior no Brasil, neste contexto guardam nítidas
semelhanças com as ocorridas na maioria dos países do Norte e da América Latina,
e que têm como respaldado as diretrizes da reforma administrativa (SGUISSARDI,
2002).
No que concerne às políticas educacionais do Banco, está atualmente em
curso um processo rigoroso de avaliação da eficácia de seus investimentos em
educação primária desde 1990. Um comitê, supostamente autônomo, constituído
pelo Banco, do qual faz parte o ex-ministro da educação do Brasil, Paulo Renato
Souza, está encarregado de analisar a eficácia dos projetos em educação
financiados por essa instituição, que somam mais de dez bilhões de dólares. Para
David Archer, diretor internacional para educação da ActionAid e também membro
do comitê, a avaliação do impacto do Banco Mundial sobre a educação não pode se
ater apenas aos projetos educacionais isoladamente:
Para avaliar o impacto do Banco Mundial sobre a educação não se pode olhar apenas para o quanto o Banco tem gasto (...), pois o Banco financia pequenos projetos aqui e ali, mas o grande impacto sobre a educação se dá a partir das políticas macroeconômicas que ele tem apoiado junto ao FMI (ARCHER, 2005, p. 12).
Para Silva (2005) a integração das políticas do Banco Mundial com as do FMI,
inclusive consolidada pela obrigatoriedade de que os países-membros do Banco
sejam também membros do FMI, já vem sendo problematizada por alguns atores da
sociedade civil. No entanto, merece atenção um processo mais recente em curso: a
aproximação de ambos os organismos à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Países como o Brasil, que têm se esforçado para endurecer as negociações no
âmbito da OMC, passarão a receber cada vez mais pressões do FMI e do Banco
para que aprofundem a liberalização comercial, isto é, a aceitação da
internacionalização do comércio nacional, a aceitação de empresas multinacionais, à
medida que esta se imponha como condição para se receber novos empréstimos. Já
há recomendações explicitas do Banco nessa direção:
Garantir um resultado preciso, bem-sucedido e pró-desenvolvimento da Rodada Doha é crítico para o crescimento mundial e para as perspectivas econômicas dos países em desenvolvimento. (...) Enfatizamos a
importância dos esforços de liberalização e facilitação comercial nos países em desenvolvimento (SILVA 2005, p 11)
As formas de cooperação envolvem o desenvolvimento de programas e
modalidades de articulação entre esses organismos, bem como critérios e atividades
que promovam o apoio das políticas de financiamento do FMI e do Banco às
políticas comerciais da OMC, visando sempre a liberalização do comércio de bens e
serviços, dentre os quais está a educação. Ainda a esse respeito, merece
consideração o fato de que os três organismos apóiam as “Metas de
Desenvolvimento do Milênio” (MDMs) adotadas pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em Junho de 2000, através de recomendações e condicionalidades
afinadas com as mesmas (informe Rede Brasil sobre Insituições Finacieras
Multilaterais, n. 21, 2004). No que tange a educação, Silva (2005) ressalta que estas
metas são bastante reducionistas quando comparadas às metas estabelecidas pela
Cúpula Mundial de Educação para Todos, ocorrida meses antes em Dacar, no
Senegal.
As ramificações do pensamento do Banco se constroem de forma
abrangente, envolvendo e sendo envolvidas pela participação de inúmeros agentes
dos países com os quais o Banco Mundial se relaciona. Não só em termos de
pessoas físicas, mas na área da Educação, os acordos envolvem instituições
acadêmicas e de pesquisa. É “simples”, pouco reveladora a atribuição ao BM das
reformas educacionais em curso nos países de terceiro mundo, se não percebermos
as articulações feitas para que isso ocorra, no interior dos próprios países. As
sugestões feitas pelo BM são sutilmente recebidas e transformadas, algumas vezes,
em políticas educacionais, sem alarde, sem referência feita ao Banco, mas sim como
uma iniciativa do próprio governo. As reformas brasileiras, nos anos 90,
aperfeiçoaram e com certeza têm surpreendido a própria equipe do BM. O ministro
Paulo Renato Souza, então Ministro da Educação, faz parte do rol dos “peritos” do
Banco Mundial, sendo convidado à elaboração do documento “Educação – Setor
Estratégico”, formulado em 1999 (BANCO MUNDIAL, 1999, P 06).
Os brasileiros que dela participaram são mais BM, que o próprio Banco. E isto
é uma ação, de certa forma prevista, pelo BM, na sua forma/arquitetura
organizacional que veicula um determinado "clima institucional", mas que é ainda
pouco discutida nos trabalhos apresentados ( KRUPPA, 2002).
Em suma,
o Banco Mundial sempre tem uma receita educacional, na qual se pode ler a descentralização administrativa (que no Brasil influenciou o processo de municipalização de ensino), a concentração de recursos no ensino fundamental (limitando o financiamento para outros níveis) e a avaliação dos estabelecimentos de ensino pelos resultados de aprendizagem. (SAUER, apud SILVA 2005, p 23).
Nestes termos o Banco mostra que não propicia um volume de recursos
injetados, mas sim sua influência nas políticas sociais porque seu aval condiciona a
liberação de empréstimos aos ajustes estruturais.
3.1.2 Organização Mundial do Comércio – OMC
A Organização Mundial do Comércio foi resultado de uma rodada de
negociações do General Agreement on Trade and Tarifs (GATT) realizada no
Uruguai entre 1986 e 1994, criada em 1995 como um dos mais importantes
resultados. É sem dúvida uma instituição inovadora nas Relações Internacionais,
pois ela difere dos Comitês das Nações Unidas, dos organismos internacionais
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), que são
coordenados por um grupo de diretores. Além disso, apresenta um sistema de
resolução de controvérsias de grande eficácia e atividade. (RODRIGUEZ, 2005, P
11)
Há uma distinção que se faz necessária entre o GATT e a OMC. O primeiro,
cuja origem remonta ao período subseqüente a Conferência de Bretton Woods em
1948, faz parte do projeto de liberalização econômica do comércio internacional, é
um acordo entre partes contratantes (Estados). Já a segunda, é uma organização,
que por sua vez, possui personalidade jurídica e é constituída por membros. A
estrutura legal da OMC engloba as regras estabelecidas pelo antigo GATT, às
modificações efetuadas ao longo dos anos e os resultados das negociações
passadas de liberalização do comércio. (RODRIGUEZ, 2005, p 11)
A partir dos anos 1990 os servidores da OMC começaram a se preocupar
com as barreiras ao livre comércio por parte dos que gerem os serviços educativos.
Restrições diretas assinalam eles, tomam a forma de exigências reforçadas no que
diz respeito à imigração e ao controle de divisas estrangeiras.
A solução segundo a OMC, parece estar em acordos relativos a standards ou padrões para a formação profissional, autorização e acreditação que podem facilitar a aceitação dos diplomas estrangeiros.. (DIAS, 2002, p 7)
Por outro lado, companhias internacionais passam a agir sem tomar em
consideração os reconhecimentos ou certificações formais. Isto quer dizer que o
currículo não necessariamente precisa contemplar tópicos locais na educação.
Isto leva a um problema em que uma empresa, ao contratar um profissional,
não precisa levar em conta a origem do diploma, se origina de uma universidade
nacional legalizada, ou uma formação não reconhecida de uma indústria educativa
(DIAS, 2002).
Em 01/01/1995 os membros da OMC assinaram o Acordo Geral sobre
Comércio em Serviços (ACGS) objetivando a liberação progressiva dos serviços.
A OMC/ACGS contempla 12 tipos de serviços com várias subdivisões:
1. Negócios (contabilidade, informática e afins, jurídico, propaganda e afins, serviços médicos e dentários, arquitetura, etc); 2. Comunicação (telecomunicação, correios, audiovisual, rádio, etc); 3. Construção e serviços de engenharia afins; 4. Distribuição (franchising, varejo e atacado, etc); 5. Educação; 6. Ambientais; 7. Finanças; 8. Saúde e afins (hospital, social, etc); 9. Turismo, viagens e afins (hotel, restaurante, agência de viagens, etc); 10. Esporte, cultura e recreação; 11. Transportes (marítimo, aéreo, rodoviário, ferroviário, dutos, armazéns, etc); 12. “Outros serviços não mencionados em qualquer outro lugar”. Este último item permite a inclusão de qualquer outro serviço não listado e/ou outra atividade que vier a existir no futuro. (Siqueira 2004, p 4)
Todos os serviços incluídos na lista obtiveram o aval de todos os países
membros. A única excepcionalidade era de serviços prestados unicamente pelo
estado, sem concorrência comercial.
Este acordo tinha uma expectativa de conclusão em 10 anos, com metas a
serem cumpridas neste período. Inicialmente propostas para a liberalização de
diversos setores de serviços deveriam ser produzidas, com posterior apresentação
de demandas e a seguir ofertas de alternativas (Siqueira 2004, p 8). Numa primeira
parte deste acordo trata-se das definições e alcance do próprio da ACGS.
Na seqüência, princípios gerais são formulados, com relação às obrigações e
disciplinas gerais (de execução obrigatória). Neste tópico chama atenção o que a
ACGS chama de “nação mais favorecida”. De forma simplificada, se um país permite
que um outro preste em seu território um determinado serviço, todos os demais
países poderão solicitar o serviço e deverão receber o mesmo tratamento.
Em uma terceira parte, a de compromissos específicos, chama a atenção o
conceito de tratamento nacional, que nada mais é do que o reforço da “nação mais
favorecida” citada acima. Além de respeitar a solicitação feita por outros países de
um serviço prestado por um terceiro, o tratamento a ser dispensado deverá ser “não
menos favorável” que aquele a seus próprios serviços semelhantes, isto é, aos
prestadores de serviço “nacionais” e dispensado ao “terceiro”. Isto quer dizer que
qualquer solicitação de serviço feita por um membro (um país), este deverá ser
recebido e tratado de igual forma dentro do território nacional como uma empresa
nacional.
E uma quarta parte se refere à liberalização progressiva, com os membros se
comprometendo a sucessivamente produzir rodadas de negociações sem previsão
de limite a este processo.
Com todas as etapas definidas, em 2000 as negociações se iniciaram e em
2001 existiu então um cronograma de negociações relativas ao acesso ao mercado.
Em 2003, 26 membros submeteram ofertas de liberalização, não só na área de
educação, mas aos serviços em geral. (DIAS, 2003, p 08)
Nesta oferta de liberalização o Brasil nada apresentou de propostas ou
ofertas e o ministro da Educação então, Cristóvão Buarque deixou claro que o
governo brasileiro, na época, não abriria mais do que já fez a área de serviços, e
que não daria aval à política de comercialização da Educação Superior. Um
representante do Ministério das Relações Exteriores dizia que:
não há restrições a estrangeiros implementarem instituições de ensino, associarem-se a entidades nacionais ou oferecerem cursos de longa distância, no entanto todos os cursos devem receber permissão do órgão para funcionar, obedecer à Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e ser avaliados pelos sistemas existentes no país, como Provão. (DIAS, 2003, p 09)
Na assinatura deste acordo são incluídos todos os serviços, com
exceção daqueles que são unicamente ofertados pela autoridade governamental, não ofertados de forma comercial e nem aqueles serviços que entrem em competição com o privado”. (Siqueira 2004, p 148).
Isto quer dizer que se um país resolver cobrar taxa na educação pública,
realizar cursos pagos, pesquisas remuneradas, ou que produzam (governo)
quaisquer outras ofertas de modalidades, como educação à distância em
concorrência à educação privada, estaria fora da excepcionalidade, portanto, dentro
das regras de mercado. (Siqueira 2004, p 04)
A OMC apresenta alguns obstáculos e dificuldades para estabelecer a
presença comercial das indústrias educativas nos diversos países: impossibilidade
ou dificuldade de se obterem autorizações ou licenças nacionais, medidas que
limitam o investimento direto por parte dos provedores de educação superior,
requerimentos relativos à nacionalidade, restrições no recrutamento de professores
estrangeiros e a existência de monopólios governamentais, assim como subsídios
importantes dados a instituições nacionais ou locais.
A OMC prevê em seus regulamentos compromissos e obrigações gerais que
se aplicam direta e automaticamente a todos os membros e compromissos setoriais,
resultado, em princípio, de negociações.
Menciona Dias (2002) que o impacto sobre os métodos pedagógicos na
estrutura e na organização das instituições é impressionante, mas é ainda maior na
comercialização da formação e da educação. Um estudo do banco de negócios
norte-americano Merril Lynch calculou o mercado mundial de conhecimento através
da Internet em 9,4 bilhões de dólares no ano 2000.
Nos últimos tempos, efetivamente, observa-se uma tendência a transformar a
educação superior em um grande negócio. Diz-se que ensino superior seria o
terceiro item da lista de produtos de exportação da Austrália.
Com respeito à utilização das novas tecnologias na educação, o tema foi
debatido em uma conferência internacional realizada na Universidade de Tampere,
Finlândia, em 1999. Nesta ocasião, decidiu-se pela criação de uma rede – GUS –
Global University System, presidida pelo professor Tapio Varis e tendo como grande
animador um dos pioneiros de Internet, Tak Utsumi. (DIAS, 2002, p 20)
No campo do ensino superior, o tema vem sendo discutido, já há alguns anos,
na maioria das conferências dedicadas ao ensino superior. Em Paris em 1998, as
novas tecnologias foram objetos de demonstrações, mesas-redondas foram
organizadas pela Universidade das Nações Unidas com os participantes situados
em várias partes do mundo, o debate ocorreu em todas as comissões, em várias
plenárias, sendo o tema objeto de uma discussão aprofundada. Os participantes
aprovaram um artigo ressaltando que as rápidas inovações por meio das tecnologias
de informação e comunicação mudarão ainda mais o modo como o conhecimento é
desenvolvido, adquirido e transmitido. (DIAS, 2003, p 19)
Um documento formulado em 1998 pela OMC, denominado WTO – 1998 –
Council for Trade Services), sobre serviços educacionais, elaborado pelo
secretariado da OMC indica a importância econômica da educação. (OMC, apud
DIAS, 2003, p. 06).
Referências são feitas ao grande número de alunos estrangeiros que são
recebidos em países de primeiro mundo, com potencial de gastos com o comércio
de gastos com o comércio educacional. Refere sobre o surgimento de novas
instituições e parcerias público-privadas na educação superior. Classifica os serviços
educacionais no âmbito da OMC:.
1 Serviços de educação primária (inclui educação pré-primária); 2 Serviços de educação secundária (educação geral preparatória para o ensino técnico e universitário; ensino técnico-profissionalizante e escolas profissionalizantes para alunos com necessidades especiais; 3 Serviços de educação superior (pós-secundária, técnica, profissionalizante, bem como graduação e pesquisa); 4 Educação de adultos (todo tipo de educação não-formal de adultos; alfabetização; educação por rádio, televisão, correspondência); 5 Outros serviços educacionais/atividades de suporte educacional e/ou correlatas (educação formal de adultos, aconselhamento, consultorias, educação especial, testes de seleção/avaliação, 6 administração/gerenciamento escolar, treinamento de professores, livros e materiais didáticos, construções escolares, serviços de limpeza, merenda escolar, etc). (SIQUEIRA, 2004, p 07)
Para a OMC o ensino superior como um todo, público e/ou privado, é serviço,
e suas ações devem submeter-se aos critérios desta organização. Na medida em
que um país aceite que existam instituições particulares, para a OMC, este país
deve se submeter às regras gerais do comércio com todas as suas implicações.
Num Seminário em 1998 organizado pela UNESCO, representantes das
universidades, professores, estudantes, da sociedade em geral aprovaram uma
declaração e um plano de ação, onde, em particular se defendia (Dias 2002, p 32)):
• O acesso ao ensino superior deverá ser aberto a todos em plena igualdade
em função de seu mérito;
• A missão principal do ensino superior é a de educar cidadãos, oferecendo-
lhes um espaço permanente de aprendizagem de alto nível;
• A qualidade do ensino superior é um conceito multidimensional que deve
englobar todas suas funções e atividades.
• O ensino superior deve tirar todo benefício das novas tecnologias, em
particular das novas tecnologias de informação.
• O ensino superior deve ser considerado um bem ou serviço público, entre
outros.
Dias (2002) menciona que é preciso impedir que a OMC avance com seu
projeto de comercialização do ensino superior.
Mas a inclusão da educação dentro dos “serviços” que devem seguir as
regras da OMC está promovendo reações principalmente na Europa. Dois Fóruns
Sociais na Europa produziram questionamentos sobre a Educação dentro dos
serviços da OMC (com os grupos pró-educação como um direito social). Em 23 de
agosto de 2003 um abaixo assinado internacional foi lançado com intuito da retirada
da educação da OMC. (SIQUEIRA, 2004, p 10)
A simples aceitação das regras da OMC impõe mudanças profundas na
soberania de um país. Queda de barreiras para o livre comércio; não ter normas
internas exigentes; aceitação simples de títulos obtidos no exterior (graduação, pós-
graduação, por exemplo); tratamento igualitário entre grupos “nacionais” e
“estrangeiros”, independente se usam mão de obra nacional ou não, ou se oferecem
cursos conforme a necessidade local ou não; subsídios, bolsa de estudos, isenção
de impostos tanto para instituições privadas educacionais nacionais ou de grupos
estrangeiros. Além de ofuscar a soberania nacional prejudica a diversidade cultural e
valores locais.
3.1.3 CEPAL
A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) foi criada pelas
Nações Unidas pela resolução 106 (VI) do Conselho Econômico e Social, em 25 de
fevereiro de 1948 com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico da
América Latina, coordenar as ações encaminhadas a sua promoção e reforçar as
relações dos países entre si e com as demais nações do mundo. À posteriori houve
a ampliação para os países do Caribe e se incorporou o objetivo de promover o
desenvolvimento social. (OLIVEIRA, 2001, p 02).
A convicção da época era de que a institucionalidade era fundamental para a
construção da paz e o desenvolvimento mundial. No seu início sua maior
preocupação residia na questão econômica. Existia uma tendência de mercado
chamada “centro-periferia” na qual os países em desenvolvimento exportariam
produtos básicos (matéria-prima) e importariam bens de tecnologia mais avançada.
Enquanto as exportações ocorreriam de modo lento, as importações demandariam
um rápido crescente produzindo um déficit comercial patente. (HAFFNER, 2002, p
120). Segundo a CEPAL este modelo deveria ser rompido com a possibilidade de
trabalho com artigos manufaturados por parte dos países em desenvolvimento,
gerando uma inserção destes no mercado internacional de forma competitiva.
Já na década de 50 iniciam as conversas sobre a possibilidade de integração
regional. A idéia da inserção no comércio internacional não “vingou” como deveria. O
crescimento era lento e se mostrou uma necessidade, segundo a CEPAL, de uma
política de substituição às importações, não como alternativa ao desenvolvimento,
mas como complemento à proposta de crescimento. (BRAGA, 2002, p 03).
Para que a integração regional pudesse ser fixada um passo importante era a
flexibilização das tarifas alfandegárias, com uma perspectiva de não uniformidade
(cobrança de tarifas conforme grupo de países e categorias de produtos). Existiria
uma implantação progressiva de um mercado comum. (BRAGA, 2002, p 08)
Mas as diferenças entre os países, principalmente na sua colonização traziam
grandes dificuldades para a integração regional. Existia uma forma particular de
relação entre os países colonizados e colonizadores, com a possibilidade de
comércio mais facilitada para o exterior com estes do que para com os vizinhos.
Outra grande dificuldade eram os estágios distintos de desenvolvimento em que
cada país estava passando. (HAFFNER, 2002, p 110) Apesar de todos os esforços
realizados poucas atividades de integração lucraram êxito. Por outro lado, na
década de 60, observou-se o aparecimento de investidores estrangeiros na região
via empresas multinacionais. Isto afrontava com o ideário cepalino de estímulo à
indústria nacional.
Nas décadas seguintes, de 70 e 80, toda essa panacéia relacionada à
integração entre os países latino-americanos praticamente se perdeu. Grandes
endividamentos destes países neste período e queda de empréstimos internacionais
tomaram conta do cenário. O desenvolvimento dependia então do investimento
externo. (HAFFNER, 2002, p 115)
Em 1990 a CEPAL formulou um documento como fruto de extensos estudos
chama a atenção. Intitulado “Transformação Produtiva com Eqüidade: a Tarefa
Prioritária do Desenvolvimento da América Latina e do Caribe nos anos 90”, sob a
coordenação de Fernando Fajnnzylber, que buscava resgatar o desenvolvimento.
Chama atenção nesse documento a mudança de posicionamento da CEPAL
frente aos “problemas” dos países. Uma maior competitividade internacional,
apoiada em progresso tecnológico; integração público-privado (novo relacionamento
entre o Estado e a sociedade civil objetivando eqüidade e harmonia social); política
fiscal, com aumento da poupança pública para financiamento de uma transformação
produtiva; “melhora” na destinação dos gastos; e, por fim, uma maior abertura da
economia.
Este “momento” da CEPAL coincide com a divulgação do Consenso de
Washington”:
A implantação das reformas (propostas pelo ideário neoliberal) suscita entusiasmos e apreensões, expressos em acalorado debate ideológico, freqüentemente polarizado. A CEPAL dos anos 90 logrou posicionar-se com grande habilidade entre os dois extremos. Não colocou-se contra a maré das reformas, ao contrário, em tese tendeu a apóia-las, mas subordinou sua apreciação do processo ao critério da existência de uma “estratégia” reformista que pudesse maximizar seus benefícios e minimizar suas deficiências a médio e longo prazos. O “neo-estruturalismo” cepalino recupera a agenda de análises e de políticas de desenvolvimento, adaptando-as aos novos tempos de abertura e globalização (ALMEIDA FILHO, 2003, p 07).
No passado houve, em muitos países, demasiada complacência com a
inflação e que os novos tempos exigem alterações na forma de intervenção do
estado na economia, buscando-se ampliar sua eficiência:
São tempos de ‘compromisso’ entre a admissão da conveniência de que se ampliem as funções do mercado e a defesa da prática de intervenção governamental mais seletiva. O ‘compromisso’ permite que a análise e as proposições de políticas voltem aos temas caros à CEPAL, ou seja, o progresso técnico e distribuição de renda, abrindo diálogo à direita e à esquerda do aspecto retórico e ideológico internacional”. (ALMEIDA FILHO, 2003, p 07)
E em 1994 a CEPAL lança uma nova retomada na história da integração,
chamando de “Regionalismo Aberto” na qual ela salienta que a associação entre a
abertura comercial e a integração regional, uma bandeira histórica desta instituição,
trás uma forte criação de comércio, e não desvio. (BRAGA, 2002, p 03) Assim,
conforme Haffner, “o regionalismo aberto seria uma forma de criar parcerias
preferenciais, o que levaria ao incremento do comércio entre os membros do acordo
sem reforçar as barreiras existentes para os países do resto do mundo. (HAFFNER,
2002, p 125)”.
No campo educacional, a CEPAL, na década de 90, também começa a
lançar seus documentos. Em 1992 formula “Educación y conocimiento: eje de la
transformación productiva com equidad”. Propõem uma idéia de articulação entre
educação, conhecimento e desenvolvimento. Para a CEPAL a educação é o
principal instrumento na construção de uma nova realidade econômica e social para
os países em desenvolvimento.
Para o desenvolvimento e a implementação das políticas educacionais, a
CEPAL sugere cooperação de vários agentes econômicos e políticos. Medidas
avaliativas e de aferição do desempenho também devem ser incorporadas para
garantir a qualidade do conhecimento.
Para a CEPAL a educação deve ser responsável por:
Distribuir equitativamente os conhecimentos e o domínio dos códigos pelos quais circula a informação socialmente necessária à participação cidadã; Pautar a formação das pessoas por valores e princípios éticos e desenvolver-lhes habilidades e destrezas que assegurem bom desempenho nos diferentes âmbitos da vida social; no mundo do trabalho, na vida familiar, no cuidado com o meio ambiente, na cultura, na participação política, na vida em comunidade (OLIVEIRA 2001, p 04).
Uma política de descentralização da gestão educacional é estimulada pela
CEPAL, com autonomia escolar, premiação ao melhor desempenho, trazendo maior
eficiência aos interesses locais. Estímulo às escolas profissionalizantes de segundo
grau com articulação com o meio empresarial, inclusive com autonomia para ações
cooperativas com obtenção de retorno financeiro.
Segundo a CEPAL é indispensável propiciar um aumento significativo dos
gastos das empresas em capacitação, mediante a orientação dos incentivos
tributários e financeiros. Também seria conveniente certos aspectos do
funcionamento das instituições públicas de capacitação, mediante uma maior
participação das empresas e grupos empresariais na definição de suas orientações,
a adoção de critérios de mercado na sua sugestão e a vinculação dos programas de
capacitação às prioridades tecnológicas. Deve ser dado também ao empresariado,
junto com o setor público, a tarefa de certificação profissional, como forma de
reconhecimento de sua capacidade de avaliar o produto final do processo de
formação profissional. (OLIVEIRA 2001, p 08).
Em relação à educação superior, apesar de considerar a importância para o
desenvolvimento da região, a CEPAL recomenda que o Estado não o financie, e
que conceda bolsas àqueles alunos merecedores de apoio do poder público.
Recomenda maior liberdade às universidades para captação de recursos.
As instituições estejam, no futuro, em condições de obter proporção considerável de seus recursos mediante vendas de serviços, contratos de pesquisa e até cobrança de mensalidades ou atuação como unidade produtiva. Em particular, as relações com o setor produtivo poderiam ensejar a criação de importante fonte de investimento universitário, sempre que fossem observadas as devidas precauções quanto ao valor dos serviços prestados. Ao mesmo tempo deverão ser mantidas nesses acordos as prerrogativas acadêmicas inerentes à atividade” (CEPAL/UNESCO, 1995, apud OLIVEIRA 2001, p 09).
Por um lado a CEPAL vem, em seus documentos, defendendo a geração de
mão de obra qualificada para a região, e, por outro, uma defesa contraditória em
relação à privatização da educação superior. Nessa situação a CEPAL transfere a
capacitação profissional (escolas profissionalizantes e educação superior) para o
mercado, que, sem dúvida, não dá garantias de qualidade. (OLIVEIRA, 2001, p 08).
Percebemos uma nítida “neoliberalização” do ideário cepalino nos anos 90
com o conseqüente paralelismo de “sugestões” aos países em desenvolvimento ou
o afinamento de idéias com o Banco Mundial desde então.
3.1.4 UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura)
A UNESCO é uma das agências da Organização das Nações Unidas com
intuito de incentivo à cooperação técnica entre os Estados membros. Criada em 16
de novembro de 1945 para promover a paz e os direitos humanos com base na
solidariedade intelectual e moral da humanidade. No ato de sua instituição se
declarou “se as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens
que devem ser erguidas as defesas da paz”. (UNESCO, 2006)
No Brasil existe uma representação da UNESCO desde 1972. Em 1992 as
ações da UNESCO se tornaram mais importantes quando da Declaração Mundial
sobre Educação para Todos. Nesta época iniciaram os entendimentos entre a
UNESCO e o Ministério da Educação com um canal de diálogo permanente. E em
1993 foi assinado o primeiro plano de trabalho com o MEC na elaboração do plano
decenal para Educação para Todos. (UNESCO, 2006)
As atividades foram ampliadas desde essa época, com novos projetos
desenvolvidos e hoje abrange áreas de articulação na Educação, Cultura, Ciência,
Tecnologia, Comunicação, Informática, Meio Ambiente, Direitos Humanos e Gestão
Social.
Na área da educação, hoje com seus 188 países membros, tem como
objetivo sua melhora com iniciativas de apoio técnico, elaboração de modelos,
projetos, dentre outros. Os objetivos estratégicos da UNESCO são:
• Promover a educação como um direito fundamental;
• Melhorar a qualidade da educação;
• Estimular a experimentação, a inovação e a política do diálogo.
É interessante salientar a comparação entre dois documentos produzidos,
um do Banco Mundial e outro da UNESCO para o direcionamento de políticas do
setor educacional, com óticas particulares sobre o assunto. Uma economicista e
outra humanista. (Davyt & Figueiredo, 1997).
Os autores destacam a preocupação com eficiência e alinhamento aos interesses produtivos no caso do primeiro, em detrimento a outros aspectos mais amplos dos objetivos da universidade, enquanto o segundo documento destaca a importância de políticas públicas orientando o crescimento do ensino superior e a participação da sociedade na definição dos conteúdos estudados e do papel das instituições de ensino. (Sant’Ana, 2005).
A UNESCO produziu um documento em 1996, chamado Política para el
Cambio y el Desarollo em la Educación Superior. Neste documento três tendências
se observam para as instituições de Ensino Superior (CATANI, 2000):
1. Expansão Quantitativa;
2. Diversificação das instituições, dos programas e das formas de estudo;
3. Restrições financeiras.
Neste documento a UNESCO sugere que a educação superior seja pertinente,
isto é, deve considerar ensino, pesquisa e serviços paralelos com ligações com o
mercado de trabalho, com outras formas de educação, capacitação permanente,
gestão eficiente e eficaz, pois o financiamento público está cada vez mais reduzido.
(CATANI 2000). Sugere também que tenha qualidade, com avaliação eficiente e
internacionalização, ou cooperação solidária internacional.
Em outro documento, também de 1996, chamado Um Tesouro a Descobrir, a
UNESCO refere a necessidade da diversidade de estabelecimentos de ensino
superior, de acordo com as necessidades da sociedade e da economia. (CATANI
2000)
A posição efetiva da UNESCO é a partir da Conferência Mundial sobre
Educação Superior, que aconteceu em 1998. Ela se posiciona por meio de dois
documentos, um a Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI:
Visão e Ação e o outro Marco Referencial de Ação Prioritária para a Mudança e o
Desenvolvimento da educação Superior. Segundo CATANI
Os documentos se complementam. Na Declaração retoma-se a questão da imensa demanda, da diversificação institucional e da consciência sobre a importância da educação superior para o desenvolvimento sociocultural e econômico, o que implica em grandes desafios e dificuldades. (CATANI, 2000, p 07)
Na cidade do México, nos dias 7 e 8 de junho de 2006 o Comitê Científico
Regional para a América Latina e o Caribe realizou um Seminário sobre Educação
Superior, Investigação e Conhecimento com o tema “Mobilidade Acadêmica em um
Ambiente Comercial: questões, riscos e oportunidades”. O objetivo era a análise de
incorporação do comércio transnacional de serviços educativos ao Acordo Geral
para o Comércio de Serviços (ACGS) da OMC. Reuniram-se especialistas,
autoridades universitárias, representantes de governos, agências multilaterais e
organismos relacionados à educação. Depois dos debates e considerações sobre
os trabalhos expostos, foi formularam afirmações gerais para a estruturação de
novo cenário da educação superior, como:
• A redução da educação em mera mercadoria degrada sua qualidade e não assegura seu caráter formativo, simplificando-a a um treinamento para
competências limitado. O grupo repudia sua inclusão entre os serviços da ACGS, apoiando a posição do Brasil (citado anteriormente na fala do ministro Cristóvão Buarque) e outros países que manifestaram sua posição contrária. Isto na é só uma posição contrária, mas também a convicção de que a educação é e deve ser uma formação de qualidade e que só é possível assegurar seu caráter mediante sistemas rigorosos de controle da qualidade das instituições de educação superior. • Sugere também que os sistemas de avaliação sejam capazes de se comunicar, que suas línguas sejam compatíveis ou convergentes, permitindo que cada país defina suas prioridades na avaliação e na promoção da educação, porém ao mesmo tempo delineando princípios que permitam que os resultados sejam “aproveitados” por outros países, um núcleo duro de informação, permitindo um intercâmbio de informações, para aceitar ou não seus créditos, diplomas ou títulos obtidos. • Acena também para uma possibilidade de mobilidade acadêmica entre alunos e também professores, definidos por critérios educacionais e não só por imposições do mercado. Propõe intercâmbio de professores universitários que dêem aulas em instituições de educação superior de outros países, assim como estudantes que possam “assistir” aulas em outros países, tanto na graduação como na pós-graduação. • Concorda com o avanço das redes universitárias já existentes nas regiões dos continentes e a criação de outras novas, com o estímulo a programas horizontais de fortalecimento científico e tecnológico, que facilitam o estímulo à mobilidade acadêmica, propicie a melhor utilização dos recursos físicos disponíveis e de capital humano e favoreça os processos de integração econômica, política, educativa e cultural. (Unesco, 2005).
Este documento, de certa forma, resgata o pensamento de todos os
estudiosos em educação e trás certo alivio em relação à ofensiva da OMC. O
repudio à mercantilizacao da educação, com o intuito de uma formação educacional
de qualidade, com mecanismos avaliativos das instituições de educação superior,
e, com grande propriedade, a individualidade dos paises nas definições de
prioridades na avaliação.
A questão da mobilidade acadêmica também merece um comentário. A
idéia de um núcleo duro de informação, possibilitando a creditação de diplomas,
mobilidade de alunos professores e uma idéia muito interessante. Possibilita uma
troca de experiências entre regiões ou paises com garantia de reconhecimento.
4 INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
A preocupação, neste capítulo, está em pontuar as relações coincidentes
entre as sugestionalidades dos organismos internacionais e sua contrapartida
brasileira na elaboração das políticas para a educação superior.
De início se argumenta sobre a internacionalização da educação superior, as
pressões exercidas pelos blocos econômicos e a OMC e uma visão integracionista
sugerida pelo Mercosul.
Na seqüência se apresentam referências às políticas para a educação
superior propriamente dita, dentro da LDB (Lei de Diretrizes Básicas) para a
Educação e suas pontes com as condicionalidades externas. E, por fim, discute-se
sobre o Finaciamento da Educação Superior no Brasil.
A abordagem da Internacionalização do Ensino Superior no Brasil insere-se
numa perspectiva que reconhece o caráter complexo do tema, ainda encoberto no
seio de inúmeros debates que se voltam para as políticas públicas em especial,
quanto ao papel do Estado de maneira geral e os desafiantes processos de tensão
entre os países e entre o desenvolvimento econômico e sócio-ambiental. Por este
motivo adentramos, inicialmente, nas condições teórico-políticas nas quais o
processo de internacionalização vem ocorrendo. Apresenta-se, para tanto, os
caminhos conceituais e algumas leituras da natureza política sobre os mesmos.
Desde a década de oitenta, o sistema de ensino superior brasileiro enfrenta
uma crise estrutural, associada à dificuldades conjunturais, que afetam o setor
público federal no que diz respeito a sua viabilidade e credibilidade (DURHAM,
1993). No estudo sobre o “Desenvolvimento da Educação no Brasil” de 1996, o
Ministério de Educação admitia o processo de estagnação desse nível de ensino
devido à própria dinâmica de expansão do sistema que seguiu “ uma lógica
perversa” com duas faces conectadas: a primeira a elevada competitividade pelo “
acesso às universidades públicas e gratuitas, que apresentam níveis elevados de
qualidade de ensino, é extremamente competitivo e seleciona os alunos de renda
mais alta, com melhor formação no nível médio, em geral, provenientes de escolas
privadas (MARIN, 2004).
Na atualidade, o Brasil tem em pauta uma reforma do ensino superior e está
pressionado a mudar profundamente as universidades, seus princípios éticos, suas
práticas e seus modos de inserção na sociedade local, regional, nacional e
internacional.
A internacionalização da educação superior é um tema, como tantos, que vem
ampliando o interesse por seu entendimento em razão das conseqüências quanto à
formação dos grandes blocos econômicos que buscam flexibilizar o comércio e o
consumo entre os continentes.
A Educação, até pouco tempo, havia sido pouco tocada, em parte pelo obscurecimento de seu potencial econômico e, por outra parte, porque, para muitos especialistas, tratava-se em um tipo de serviço cujo alcance e interesse dizia respeito aos governos dos países, em razão, essencialmente, de tratar-se de um empreendimento intimamente articulado a padrões culturais, valores cívicos e éticos. Pouco poderia ser notado em relação às possibilidades de “comercializar” os serviços educacionais. (Marin, 2004, p 14)
Mas atualmente ela é vista como um mercado em potencial, com geração de
serviços, participando ativamente na criação de oportunidades de trabalho. Outra
geração de renda é o intercâmbio observado entre países de estudantes em
graduação e pós-graduação, que movimentam volumes vultuosos de capital.
(MARIN 2004, p 14)
A chamada Internacionalização da educação superior se tornou sinônimo de
cooperação internacional entre Instituições de Ensino Superior de vários países. Na
Conferência Mundial da Educação Superior (adiante sempre indicada CMES),
realizada em Paris em outubro de 1998, houve a manutenção do termo, com seu
reconhecimento como relevante para a educação e que obteve, dentro da OMC, e
utilizando sua validação na Conferência Mundial, estímulo para referir a
internacionalização como serviço de educação (ARAGON, 2001).
O Mercosul teve influência de dois planejamentos. O Plano Trienal de Educação 1992-1994, que trouxe uma perspectiva de alcance cultural amplo, dado que buscava discutir algumas condições fundamentais como os idiomas para o ensino, e focava-se na educação básica com o currículo que aí se experimentava e ampliação das prioridades quanto às modalidades, tais como a Educação de Jovens e Adultos e a profissionalização. Por fim o Mercosul é uma proposta que banca o processo de internacionalização, desenhado concomitante com o processo de internacionalização, assumindo, simultaneamente, um caráter supranacional, integracionista, regionalizado e latino-americano. A formação de quadros profissionais e técnicos em Instituições de Ensino Superior assume um caráter privilegiado, neste aspecto. (TORRES, 2003, p.29-30)
Não se tem ainda parâmetros objetivos para pontuar a agressividade na qual
a internacionalização da educação superior atua no Brasil. Mas, como em muitos
países, está presente. Não aparente, mas com ecos esparsos de sua influência.
Nota-se ainda a presença forte do governo neste nível, e, como se pode constatar,
sofrendo influência externa para as definições de políticas para a educação superior.
Reforça-se uma idéia de que as universidades são as únicas que produzem conhecimento de nível superior respeitável, além de gozar de certas garantias legais como a criação e extinção de cursos e a composição de corpo acadêmico de tempo integral, com atribuições claras
relativas a atividades além do ensino profissional, estando, por natureza institucional vinculante, condicionadas ao desenvolvimento das atividades de pesquisa e da extensão ( MARIN, 2004, p 28).
Como se percebe, a internacionalização da educação superior é um assunto
atual, que está no meio acadêmico, que envolve as universidades, que palpita e
estimula o mercado. Sugere, na sua essência, uma melhora da qualidade
educacional, levando a intercâmbios de conhecimento, entre alunos e professores,
entre graduandos e pós-graduandos, entre países de posições econômicas mais
variadas. Mas, por outro lado, pelo capital investido nestas “trocas”, estimula a
cobiça do mercado intencionando mais serviço educacional que educação com
qualidade.
4.1 Políticas que Incidem na Internacionalização da Educação Superior no Brasil
Neste tópico busca-se correlacionar as sugestões de mudanças na educação
superior para o Brasil e suas políticas definidas na seqüência.
Para Marin (2004, p 49) em linhas gerais,
como notamos no marco normativo, após a conclusão do ensino médio ou equivalente, o sistema educacional brasileiro oferece as seguintes opções para a continuidade dos estudos superiores: cursos seqüenciais, com até dois anos de duração, e cursos de graduação, a maioria com quatro anos de duração, havendo, porém, cursos de formação tecnológica, com dois ou três anos de duração, e cursos com cinco ou seis anos, como os de engenharia e de medicina.
Toda a política de qualidade passou por tendências específicas para a
caracterização e as atividades do ensino superior. Uma delas é a exigência de um
novo processo de planejamento. O documento editado sob a Lei n 10.861 de 14 de
abril de 2004, que estabeleceu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (SINAES) que traduz esta distinção é a obrigatoriedade do Plano de
Desenvolvimento Institucional – PDI, elaborado para um período de cinco anos,
visando o período de vigência estabelecido pela legislação vigente.
Este documento identifica a Instituição de Ensino Superior (IES), no que diz respeito à sua filosofia de trabalho, à missão a que se propõe, às diretrizes pedagógicas que orientam suas ações, à sua estrutura organizacional e às atividades acadêmicas que desenvolve e/ou que pretende desenvolver, demonstrando e projetando a instituição para um futuro dinâmico, portanto estratégico. (MEC 2004)
Este documento, no âmbito das instituições é que deve ser estabelecido como
identificador dos fundamentos da avaliação institucional nas IES, incluído nos
processos de criação, autorização e reconhecimento de cursos. Entre a criação e
autorização distingue-se as etapas de reconhecimento. As duas primeiras,
transitórias, é que encaminham para o reconhecimento. As instituições criadas não
podem conferir diplomas. Somente com 50% do projeto curricular atendimento é que
é possível solicitar autorização. (MEC 2004)
A perspectiva da Educação a Distância é a brecha na qual pairam as
possibilidades de introdução de novos provedores. Comumente encontra-se nos
jornais a oferta de cursos por meio dos consórcios, que são na prática empresas
que se organizam para oferta de educação superior.
O debate sobre o ensino superior no Brasil atravessou o século XX
acompanhando o agravamento das assimetrias que esse sistema perpetua.
Desde 1960 o Banco Mundial vem fazendo sugestões para todas as esferas
públicas, desde infraestrutura, passando por serviços sociais de uma forma em
geral. A partir de 1980 o interesse do banco passou a ser sobre a qualidade dos
serviços sociais. (FARO, 2004)
Dois documentos do Banco Mundial, um produzido em 1996 chamado
“Supporting Reform in the Delivery of Social Services” e outro produzido em 2003,
chamado “Social Development Strategy” demonstram um interesse puramente
mercadológico nos programas sociais (WORLD BANK).
Os componentes estratégicos do Banco Mundial para as reformas de
programas sociais são citados abaixo:
• Evitar que objetivos considerados incompatíveis com o equilíbrio fiscal sejam priorizados por governos;
• Encorajar que empresas privadas passem a oferecer serviços que possam ser considerados como “insuficiente ou deficiente” providos pelo setor público;
• Assegurar que os serviços respondam a demandas efetivas, sendo considerados mais eficiente para isto a oferta por meio do setor privado, capaz de criar “mercados competitivos” em programas sociais.
• Evitar a simples devolução de poder de decisão a autoridades locais, assegurando que haja uma “correta” estrutura de governança e incentivos “corretos” para orientar a tomada de decisões.(FARO, 2004, p 57-58)
Com a ingerência sobre as políticas sociais há uma nítida focalização para o
mercado. As reformas sugeridas pelo Banco Mundial sobre as políticas sociais são
falseadas com a alegação de que, se exercido pelo setor privado, será mais
eficiente, irá gerar um padrão de investimento que tornará o acesso mais eqüitativo
nas áreas de saúde, educação e habitação. (FARO 2004)
A educação no Brasil, pois, segue uma tendência privatista e economicista. E
isto é nítido na Educação Superior.
Demerval Saviani, em seu excelente escrito chamado “A nova lei da
Educação: trajetória, limites e perspectivas”, publicado em 1999 remete a uma
história sobre toda a instituição da nova Lei das Diretrizes Básicas para a Educação,
sancionada em 20 de dezembro de 1996.
A nova LDB passou por diversas formulações e reformulações, vários estudos
e inúmeros atropelos dentro de sua tramitação nas casas das leis (câmara dos
deputados e senado) no período de 1988 até sua sanção. Seu texto final leva a
confrontação com as diretrizes para a educação postuladas pelo Banco Mundial. O
texto do Saviani se refere a uma LDB minimalista, que se aproxima do Estado
mínimo do neoliberalismo. Sua característica é mais a omissão que a
implementação de ações concretas. Um exemplo exposto por Saviani,e facilmente
detectado na LDB, é a mudança do texto do artigo III, inciso VII, que fala da
“valorização do profissional da educação escolar”. No texto original se somava a ele
a forma de valorização, “... garantindo, na forma da lei, e respeitada a autonomia
universitária, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial
profissional”.
Outra expectativa que existia era em relação a um rigor maior em relação às
normas para o ensino privado, que, mesmo naquela época da discussão da LDB, já
estava em ação o processo de privatização do ensino superior. Mas o documento
simplesmente enuncia que o ensino privado deve obedecer às normas gerais da
educação nacional. Com isto, retira da LDB a instância de discussão sobre a
educação privada para obedecer outras regras. Mas se a LDB é o documento maior
da educação nacional, com Leis e Diretrizes, é ilógico pensar que o ensino privado
deverá responder em outro foro.
Enfim, a nova LDB é um documento aberto, com múltiplas possibilidades, pois
não define questões, rica em omissões, e como Saviani termina em sua excelente
crítica: “é uma lei com a qual a educação pode ficar aquém, além ou igual à situação
atual.”
A massificação da matricula, ocorrida desde os governos militares e
acentuada no pós-1985, teve um efeito perverso: a democratização do acesso por
meio do ensino privado e pago, de baixa qualidade media, limitando o acesso às
carreiras de maior prestigio aos que tem condições de freqüentar uma escola
privada no segundo grau. (TRINDADE, 2000, p. 131). Neste ponto estão
apresentadas as principais críticas e reivindicações que partem das universidades
federais aos governos que insistem sobre os altos custos e se mantêm indiferentes a
este investimento social. Por seu lado, as universidades têm priorizado o ensino, a
pesquisa e a recuperação de níveis salariais de professores e servidores, mostrando
menos determinação a defender a expansão de vagas na graduação e a elevação
do nível do ensino. Os problemas da educação superior ficam elucidados quando se
interpretam as imbricações dos setores público e privado e as orientações da política
educacional.
As perspectivas futuras no Brasil dos “novos provedores” estão relacionadas
com mecanismos de regulação, isto é de definições legais e de políticas que
permitam selecionar os institutos com perfil de estabelecimento de ensino superior,
aptos a funcionar e a prestar serviços de qualidade. A reforma da educação superior
necessitará dialogar com ambos setores e os grandes interesses econômicos que se
posicionam favoráveis à mercadorização da educação superior. Segmentos
majoritários da rede privada reivindicam a flexibilização de processos de
credenciamento e de avaliação. O credenciamento é a segurança dos institutos que
tem projetos institucionais que buscam meios para elevar sua produtividade em
ensino e pesquisa e ainda a elevação do nível de formação dos docentes. Este
ponto é valido para os institutos públicos e privados. Outra observação é sobre o
padrão de qualidade heterogêneo em ambos os setores (MARIN, 2004).
4.2 Financiamento da Educação
A educação foi reafirmada como direito pela Conferência Mundial de
Educação para Todos (ocorrida na Tailândia, em Jomtien, em 1990) e pela Cúpula
Mundial de Educação par Todos (ocorrida no Senegal, em Dacar, em 2000), ambas
promovidas pela UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial. As metas de Jomtien
e de Dacar são abrangentes, abordando o conjunto da educação básica, incluindo a
educação de jovens e adultos, a questão de gênero e a dimensão da qualidade.
(MONTEIRO, 2003)
Também a partir de 1990, os documentos da Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe (CEPAL) recomendavam que os países da região
investissem em reformas dos sistemas educativos para adaptá-los às novas
exigências do mundo do trabalho. (OLIVEIRA 2001)
A UNESCO em sua Conferência Mundial sobre o Ensino Superior, realizada
em Paris, de 5 a 9 de outubro de 1998, elaborou os documentos “Declaração
mundial sobre educação superior no século XXI e “Marco referencial de ação
prioritária para a mudança e o desenvolvimento do ensino superior, em que faz uma
análise dos compromissos e das funções da educação superior. Sobre o aporte de
recursos financeiros para a manutenção e o desenvolvimento do ensino superior, ela
conclui que “o financiamento da educação superior requer recursos públicos e
privado”.(AMARAL 2003)
Segundo a UNESCO (1999) o Estado mantém seu papel essencial nesse
financiamento. O financiamento público da educação superior reflete o apoio que a
sociedade presta a esta educação e deve, portanto, continuar sendo reforçado, a fim
de garantir sua qualidade e relevância.
Amaral (2003) menciona que com a determinação constitucional de 1988,
esperava-se que as instituições universitárias públicas começassem resolver vários
de seus problemas, entre eles, a falta de autonomia para as mais simples ações
administrativas e orçamentárias, a crônica escassez de recursos para o
financiamento de suas ações e expansão do sistema e a inexistência de ações
colaborativas entre elas. Entretanto, a partir de 1990, os presidentes da República
eleitos iniciaram, no Brasil, a implantação das políticas presentes em orientações de
organismos multilaterais e elaboradas após a crise do Estado do Bem-Estar Social
europeu.
Para Amaral (2003) no ensino superior, o que se viu, no contexto do quase-
mercado educacional, referido com grande destaque pelo Prof. José Dias Sobrinho,
foi uma pregação em favor do eficientismo, da competição entre as instituições, da
implantação de um gerenciamento administrativo/acadêmico que segue padrões de
empresas privadas e da procura por fontes alternativas de financiamento junto ao
mercado, de modo a complementar às do Fundo Público.
É importante vislumbrar que as Diretrizes Educacionais passam a ser
definidas por um Banco: o Banco Mundial.
Quanto a isso, LUFT e CORSSETTI (2005) mencionam que o diagnóstico da
existência de um bilhão de pobres fez o Banco buscar na educação o centro do
combate à pobreza. Entre outras coisas, o Banco Mundial recomenda uma reforma
no financiamento e na administração da educação. Os gastos do governo devem se
ater, preferencialmente, à educação básica. Quanto à educação superior ou
profissional, segundo o Banco Mundial, dará melhores resultados quando conta com
a participação da iniciativa privada. O Banco insiste também que se tenha mais
atenção com os resultados, recomendando para tanto, sistemas de avaliação da
aprendizagem.
Segundo Shiroma (2002, p. 74-75),
A educação, especialmente a primária e a secundária, ajuda a reduzir a pobreza aumentando a produtividade do trabalho dos pobres, reduzindo a fecundidade, melhorando a saúde, e dota as pessoas de atitudes que necessitam para participar plenamente na economia e na sociedade.
O objetivo central é a formação, não apenas de futuros técnicos, mas de
cidadãos trabalhadores. A formação técnica não é então separada da aprendizagem
de certos comportamentos e atitudes. Supõe-se que uma maior competitividade do
setor industrial brasileiro está ligado ao grau de escolarização.
Quanto ao Banco Mundial, este sob o argumento de desenvolver a
comunidade, maximizar a eficiência e obter resultados palpáveis, propõe
que a administração dos recursos da educação seja descentralizada, isto é, que os fundos sejam administrados o mais diretamente possível pelas instituições escolares, ao invés do controle pelo governo. Mais do que isso, sugere que a responsabilidade por arrecadar recursos deve ser compartilhada com a comunidade local, relativizando a responsabilidade do estado em garantir o financiamento à educação.(SILVA, 2005, p 17)
Para Kruppa (2002) ao mesmo tempo em que incentiva a descentralização,
no sentido da transferência de responsabilidades, o Banco Mundial acena com apoio
até mesmo financeiro à constituição de sistemas de avaliação fortemente
centralizados, incumbindo o governo central de fiscalizar e propor aprimoramentos
tanto de caráter administrativo quanto curricular, funções, estas sim, que deveriam
contar com o envolvimento das instâncias locais.
Torres (apud Tommasi et al, 1998, p. 126) considera que,
O Banco Mundial não apresenta idéias isoladas mas uma proposta articulada, uma ideologia e um pacote de medidas – para melhorar o acesso, a equidade e a qualidade dos sistemas escolares, particularmente do ensino de primeiro grau, nos países em desenvolvimento. Embora se reconheça que cada país e cada situação concreta requerem especificidade, trata-se de fato de um “pacote” de reforma proposta aos países em desenvolvimento que abrange um amplo conjunto de aspectos vinculados à educação, das macropolíticas até a sala de aula.
É preciso observar que a posição do BM com relação ao tema educativo e ao
da educação básica, em particular, não é monolítica nem fixa: nos próprios
documentos e estudos promovidos pelo BM existem importantes diferenças de
enfoque, conclusões divergentes e até contraditórias, como também críticas aos
arcabouços conceituais, às metodologias e aos resultados de outros estudos
publicados ou citados pelo BM. Por outro lado, existem movimentos, mudanças e
inclusive reviravoltas significativas na trajetória e nas políticas do BM no setor
educativo.
O Brasil é um dos maiores clientes do Banco Mundial, tendo contraído dede
1949 empréstimos que chegam a US$ 30 bilhões. O montante do empréstimo vem
crescendo, e no período 1999-2002 houve privilégio aos setores de proteção social,
finanças e leis, justiça e administração pública. Já o investimento em políticas
setoriais, tais como saúde, agricultura e meio ambiente, diminuiu, exceto no caso da
educação, no qual se verifica ampliação em relação ao período 1995-19982.
Para Sobrinho (apud EYNG e ZAINKO, 2002, p. 66),
A educação superior, especialmente quando empreende pesquisas de qualidade, é cada vez mais cara, enquanto os Estados alegam que crescentemente vêm minguando os seus recursos e aumentam suas dificuldades para financiar os setores sociais. Soma-se a isso, no que se refere aos países em desenvolvimento, a visão do Banco Mundial que não recomenda como prioridade a educação superior. Esse quadro de dificuldades têm levado a adoção de políticas que facilitam a expansão de um mercado educacional.
Os projetos que o Banco Mundial está financiando no Brasil contemplam
medidas relativas ao fornecimento de livros didáticos, aumento do tempo de
instrução, capacitação dos professores, reestruturação da gestão e fortalecimento
dos sistemas de avaliação e informação. Não incluem, entretanto, medida que visem
a influir sobre a motivação dos professores e o aumento das oportunidades
profissionais.
Como se viu neste capítulo, a educação como um todo sofre pressões
crescentes de organizações bilaterais, multilaterais e internacionais que, de certa
forma, impõe políticas de avaliação, financiamento, padrões, instruções, testes
dentre outros. (BURBULES, 2004)
Inicialmente o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional “ofereciam
propostas” para os países endividados, transformando, a seguir, estas ofertas em
condicionalidades em novos empréstimos com “destinação” específica. Isto quer
dizer que, além de emprestar o dinheiro, as instituições determinam em que setor
2 BANCO MUNDIAL. Uma parceria de resultados: o Banco Mundial no Brasil. 2005 p.7 citado por CAMILA SILVA, 2005.
este dinheiro deve ser gasto. Como vimos, para cada solicitação aproximadamente
114 condicionalidades são impostas. Surpreendentemente a CEPAL, órgão da ONU,
que inicialmente produzia um discurso direcionado para a qualidade na educação,
muito próxima aos ideais da UNESCO, vem concordando, ou balizando o ideário do
Banco Mundial.
Com relação à Educação Superior no Brasil a situação é mais grave. As instituições
particulares se proliferam, com várias tentativas de formas de controle por parte do Governo.
Já as instituições públicas sofrem com o desisnvestimento progressivo, com sucateamento de
sua estrutura, a necessidade de se tornar uma “empresa” na forma de administração, na forma
de buscar recursos, como parcerias com o privado e, conseqüentemente, o potencial
atrelamento da pesquisa às necessidades do mercado, e não à lógica do conhecimento. Os
cursos de graduação cada vez mais se adaptando às exigências do mercado, com cursos mais
curtos, tecnicistas. E, por fim, a pressão que a OMC vem exercendo para que a educação seja
encarada como um “serviço” ficando sujeita à lógica do mercado.
5. GOVERNO LULA, POLÍTICAS EDUCACIONAIS E REFORMA UNIVERSITÁRIA
Neste capítulo são apresentados comentários sobre a evolução das
políticas educacionais no governo vigente. Seus encontros com as orientações dos
organismos internacionais e concepções sobre a educação superior.
Na seqüência discute-se a reforma universitária, suas perspectivas e
expectativas. Segundo Leher,
O governo Lula da Silva recolocou em movimento a engrenagem de uma reforma universitária que, se exitosa, estraçalhará a concepção de universidade da Constituição Federal de 1988 e o futuro dessas instituições. A partir de um tripé constituído pelo Banco Mundial, pelo próprio governo de Lula da Silva e por uma ONG francesa, ORUS, dirigida por Edgar Morin, está sendo erigido um falso consenso que poderá redefinir profundamente a universidade brasileira e quiçá de diversos países latino-americanos (2003, p 01).
Para Leher (2003, p. 1),
Após duas décadas de resistências às reformas propostas pelo Banco Mundial, “A realização de seu programa educacional seria uma amarga e profunda derrota para a universidade pública”. O governo de Lula da Silva e a engrenagem construída com o Banco Mundial e a ORUS, Organização Não-Governamental francesa, podem criar um novo marco na educação nacional, superando os históricos propósitos neocoloniais do Banco.
Continua Leher, em seu texto, que
No estudo de Saxe-Fernández, a partir dos Informes do FMI e do BM, apresentado no Seminário Internacional sobre Imperialismo, Mundialização e Desenvolvimento, organizado pelo Centro de Investigações Interdisciplinares e pelo Instituto De Investigações Econômicas da UNAM (23 a 28 de novembro de 2003), registra que, em duas décadas, a América latina transferiu aos centros de poder econômico das nações desenvolvidas 2,5 trilhões de dólares na forma de pagamento da dívida externa, por fugas de capital e pelo diferencial de preço a que são vendidas as matérias primas. No mesmo Seminário, Eric Toussaint, declarou que, entre 1996 e 2002, as transferências de capital da região alcançaram 310 bilhões de dólares somente pelos depósitos líquidos realizados pelos grupos de poder locais nos sistemas financeiros dos países centrais; no mesmo período, os empréstimos foram de 267 bilhões de dólares (LEHER, 2003, p.1).
A renúncia ao pensamento crítico permitirá suavizar a ação dos organismos
internacionais na América Latina, “uma região compungida a exportar capitais para o
circuito comandado por Wall Street e Washington, em troca de estagnação, miséria
e sofrimento de milhões de pessoas” (LEHER, 2003).
Trata-se das condicionalidades que são impostas pelo BM ao assinar um
acordo com o FMI, momento em que o país flexibiliza a sua soberania, caso
dissertado por Soares (1998) sobre a preexistência desses fatores que alinham o
processo de globalização, favorecendo as seqüelas sociais do ajuste dos Estados
aos interesses do pequeno mundo dos donos do capital, cujos efeitos sociais
provocados pelas reformas impostas pelos agentes financeiros internacionais
redundam em numerosos contingentes populacionais excluídos do mercado como
produtores e consumidores, com conseqüente perda de direitos a benefícios sociais
essenciais como saúde, alimentação e moradia.
Nesta perda,
Uma vez estabilizada a moeda, empenham-se os governantes nas reformas que visam produzir as condições necessárias à nova fase de reprodução do capital monopolista, dentre as quais sobrelevam-se as que afetam as funções reguladoras do Estado sobre o mercado ao mesmo tempo que são reduzidas ou anuladas as suas obrigações sociais, confirmando a tendência cada vez mais nítida de esvaziamento dos estados nacionais nos processos de desenvolvimento (SOARES, 1998, p. 10).
Ficou claro que, na nova ordem desejada pelo capital, a construção de uma
hegemonia em torno das reformas em curso só puderam ser feitas às custas de um
violento processo de amoldamento subjetivo, com perda de cidadania e dos direitos
sociais.
Complementa Leher (2003),
o abandono da responsabilidade do Estado no fomento à produção de conhecimento estratégico agrava a condição capitalista dependente dos países periféricos, observando que essa política é praticada pela coalização de classes dominantes locais, que convergem para os centros hegemônicos do capital, a exemplo que ocorre no Brasil, em que o presidente do Banco Central em acordo com os ministros da agricultura e do desenvolvimento, representa os setores que hoje têm a supremacia na coalizão de governo: financeiro, agrobusiness e commodities.”
O pré-requisito é converter, no plano do imaginário social, a educação da
esfera do direito para a esfera do mercado, usando de um léxico empresarial:
excelência, eficiência, gestão por objetivos, clientes e usuários, empreendedorismo,
produtividade, profissionalização por competências, contraposto às políticas públicas
universais e ao modelo universitário que a Constituição Federal de 1988 proclama,
“cujos defensores são desqualificados como corporativistas, elitistas, privilegiados,
insensíveis ao drama social” (LEHER, 2003, p. 6-7).
O governo Lula joga o povo pobre contra os privilegiados servidores da
universidade, na mesma medida do que fizera na reforma da previdência, de forma
que as reformas progressivas, privatistas, anti-republicanas e que beneficiam os
ricos, são apresentadas aos de baixo, como uma vitória de justiça frente aos
privilégios, exigindo a criação de espaços democráticos de discussão para construir
e difundir na sociedade uma agenda de reforma verdadeira das universidades
brasileiras. (LEHER, 2003)
Contrariamente ao que se esperava, no caso do Brasil, o governo Lula se esmerou, mais de que os governos precedentes, no estreitamento de relações com as Instituições Financeiras Multilaterais (IFMs), demonstrando uma maior disposição de efetivar políticas assimiladas a partir de receituários divulgados por essas organizações. Hoje existem importantes similaridades e consensos entre a agenda e as agendas dos Bancos Multilaterais, ao ponto de tanto o Banco Mundial, como o BID terem assento oficial em espaços de discussão e definição de políticas nacionais, contribuindo formalmente para o direcionamento dos recursos orçamentários do Brasil.(FARO, 2004, 69)
Contrariamente ao que se esperava, isto quer dizer, que a expectativa era de
que a política nacional, com um presidente social-democrata como o Lula,
produzisse um enfrentamento, ou um endurecimento nas negociações com os
bancos multilaterais. Isto, de fato, não aconteceu. Houve uma sintonia entre os
bancos e o governo Lula, com mais “proximidade” que os governos anteriores.
Retoma-se aqui,resumidamente, alguns dados históricos para entender como
vem evoluindo a reforma educacional até os dias de hoje.
O mundo tem sofrido profundas mudanças em todas as esferas, sobretudo a
partir dos anos 70 do século XX. Para Maués (2003) essas transformações ocorrem
em diferentes setores da vida, quer seja o político, o econômico ou o social. Pode-se
dizer que a face do mundo é outra; existe hoje uma cartografia diferente, uma
geopolítica determinada por fatores como a globalização e a reestruturação do
Estado.
Quanto à reforma do Estado, Barroso (2005, p.726), afirma que,
A problemática da reforma e reestruturação do Estado constitui, principalmente a partir dos anos 80 do século XX, um tema central do debate político, num conjunto alargado de países, em todos os continentes, e está na origem de medidas políticas e legislativas, muito diversas, que afetaram a administração pública em geral e, consequentemente, a educação.
Maués (2003) ressalta que as mudanças que ocorreram na estrutura da
sociedade, principalmente no processo de trabalho, com a introdução de novas
tecnologias e com o esgotamento do fordismo, exigiram a formação de um
trabalhador, mais flexível, eficiente e polivalente. A escola preparou o trabalhador
para um processo de trabalho assentado no paradigma industrial – o fordismo -, com
a rígida separação entre a concepção do trabalho e a execução padronizada das
tarefas, deixou de atender às demandas de uma nova etapa do capital. Essa escola
passou a sofrer críticas e ser responsabilizada pelo insucesso escolar, pelo
despreparo dos alunos ao término dos estudos. Os professores foram vistos como
responsáveis pela formação dos profissionais.
Com isso, o Banco Mundial, a Unesco, a Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, passaram a falar em reforma no sistema educacional.
Conforme Meneghel (2001) a Reforma Universitária de 1968 (RU/68)
determinou que as instituições de ensino superior (IES) brasileiras adotassem, via
de regra, o modelo de Universidade moderna, que associa ensino e pesquisa e
contempla diversas áreas do conhecimento. Porém, nos anos 1980, a instituição
acadêmica apresentava-se como custo para os Estados que assumiam configuração
neoliberal. Perdurando até meados da década seguinte, quando a Lei de Diretrizes e
Bases de 1996 (LDB/96) e a legislação complementar não mais definiam a
Universidade como instituição pluridisciplinar que associa ensino e pesquisa. A partir
disso, começou-se a debater sobre uma possível reforma na educação.
Maués (2003, p. 94) afirma que,
As reformas educacionais a partir do final da década de 1980, partiram dos mesmos princípios: as mudanças econômicas impostas pela globalização, exigindo maior eficiência e produtividade dos trabalhadores, a fim de eu eles se adaptem mais facilmente às exigências do mercado. Essas reformas apresentam um objetivo político bem definido, que envolve a estrutura administrativa e pedagógica da escola, formação dos professores, os conteúdos a serem ensinados, os aportes teóricos a serem adotados, enfim tudo o que possa estar relacionado com o processo de ensino-aprendizagem.
Meneghel (2001) afirma que na década de 1980, a globalização do
capitalismo e sua repercussão nos Estados nacionais deu início à passagem do
modelo de Estado intervencionista e de Bem-Estar para neoliberal, regulando o
mercado e promovendo competitividade. Na educação, as influências deste contexto
implicaram na obtenção de novos espaços e meios de acesso ao conhecimento,
mas, também, uma nova determinação dos seus objetivos.
Torres (2003, p. 120) ressalta que “a nova economia reclama por trabalhadores com
grande capacidade de aprender a aprender, capazes de trabalhar em equipe não só
de maneira disciplinada, mas criativa”.
No entendimento de Maués (2003) as reformas educacionais, como uma
forma de regulação social, poderão ter o papel de realizar um ajuste no sistema
social, manter o equilíbrio e servir de controle, Isto é, organismos governamentais
que decidem a direção que devem tomar as reformas, a partir das relações que se
estabelecem no contexto mundial, quer seja no aspecto político, econômico ou
social.
Canoy (1999, apud MAUÉS, 2003, p. 95), entende que, “as mudanças
econômicas mundiais estão exigindo três tipos de reformas na educação”, as quais
ele chama de reformas com base na competitividade, nas exigências financeiras, na
equidade. Os argumentos apresentados por Canoy são que a produtividade
econômica depende de mão-de-obra formada para atender às exigências mundiais;
que a privatização pode ser uma saída para atingir tais objetivos e que o problema
da educação está mais vinculado à gestão racional dos recursos do que à
quantidade de recursos destinada ao setor pelos governos.
Para Vieira (1991) o exame do debate sobre ensino superior demanda que o
investigador esteja atento não apenas àquilo que aparece oficialmente como projeto,
mas observe também como o discurso vai sendo gestado e identifique as forças que
interferem na sua elaboração. Fávero (1980) alerta ainda que, para compreender o
real significado de uma reforma, não é suficiente o exame de documentos e da
legislação, segundo o autor, a pesquisa histórica adequada à educação só faz
sentido quando capta o significado de certos eventos como parte de uma totalidade,
de uma realidade concreta.
A verdade é que, segundo Ristoff (1999, p. 12),
O Brasil continua concebendo a universidade como coisa para um pequeno e seleto grupo – um espaço onde alguns poucos privilegiados tem a oportunidade de acessar o último conhecimento. Que a universidade deve servir à sociedade que a criou não parece haver dúvidas. Resta, no entanto, saber a que sociedade deve servir. E neste sentido, parece evidente que num país democrático, ou que se queira democrático, a universidade precisa romper com o elitismo que a concebeu e engajar-se num projeto nacional que promova o acesso das populações hoje excluídas e transforme as universidades brasileiras em universidades do povo, para o povo e pelo povo.
As reformas educacionais, a partir do final da década de 1980, partiram dos
mesmos princípios: as mudanças econômicas impostas pela globalização, exigindo
maior eficiência e produtividade dos trabalhadores, a fim de que eles se adaptem
mais facilmente às exigências do mercado.
Essas reformas apresentam um objetivo político bem definido, que envolve a estrutura administrativa e pedagógica da escola, a formação de professores, os conteúdos a serem ensinados, os aportes teóricos a serem adotados, enfim tudo o que possa estar relacionado com o processo de ensino-aprendizagem. (MAUÉS, 2003, p. 94).
Para que a educação seja competitiva, é preciso investir pesadamente na
educação básica e na formação de professores. O Banco Mundial aponta na mesma
direção, afirmando que a educação tem de ser produtiva e que é preciso gerenciar
melhor a escola, os conteúdos e a formação de professores, sugerindo em relação
ao último item uma formação mais curta e fora das universidades.
As diferentes conferências mundiais de educação realizadas, como as de
Jomtien (1990) e de Dacar (2000), além dos documentos expedidos pelos
organismos internacionais como o Banco Mundial, a Unesco e a OCDE, apontam
para que a prioridade da educação seja a educação básica, compreendida como o
ensino primário e o secundário, o que representa, no mínimo, oito anos de
escolarização.
Maués (2003) entende que as principais críticas, relativas à educação, estão
ligadas à mercantilização a que ela tem sido submetida, incluindo aí a
desregulamentação e a autonomia, o que significa o abandono da responsabilidade
por parte do Estado, em relação a esse serviço. O fato de a educação apresentar
grandes números, o que significa gastos elevados, tem atraído fortemente o
interesse da iniciativa privada em vista do montante de recursos que isso
representa.
Analisando a reforma universitária nos dias atuais, o Presidente Lula nomeou
por meio do Decreto de 20 de outubro de 2003 um Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) encarregado de analisar a situação atual de crise das
universidades federais e apresentar plano de ação e desenvolvimento de reforma da
universidade brasileira. O GTI composto por membros da Casa Civil, da Secretaria-
Geral da Presidência da República e dos Ministérios da Ciência e Tecnologia do
Planejamento, da Fazenda e da Educação elaborou relatório, de forma fragmentada,
através de diversas medidas legais.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como cenário de transformação da Educação Superior no Brasil, deve-se
considerar que processo análogo também ocorre no nível mundial, em que se
identificam pelo menos dois eixos orientadores: um, da dinâmica gerada a partir das
posições mais economicistas, do tipo neoliberal, do Banco Mundial desde meados
do século passado, que transitam mais no sentido dos processos padronizados pela
globalização; outro, pelos princípios da UNESCO, mais no âmbito dos valores,
sintetizado no encontro de Paris em 1998 e reafirmados no encontro de 2003, que
caminham na direção, também internacionalizada, de uma Educação para a Paz,
respeito a direitos humanos, justiça social, multiculturalidade e promoção das
minorias e excluídos. Esses eixos se apresentam com tensionamentos, mas não de
forma excludente. Visto que num plano mais amplo, os princípios da UNESCO
direcionam conteúdos do processo, enquanto os do Banco Mundial encontram na
lide econômico-mercantil a forma de realizar aqueles.
Em sua trajetória de 1944 a 2000, o BM, sempre ao lado do FMI, não se
desvia dos alvos econômicos-políticos e estratégicos que marcam a hegemonia
americana e dos países desenvolvidos que o conceberam e o sustentam financeira
e politicamente. A partir de 1944 e por mais de duas décadas cumpriu funções
atreladas ao esforço da guerra “quente”, em seguida da guerra “fria”, na década de
1970, envolveu-se nos esforços para superar a crise do Estado do Bem-Estar e nas
ações do que será chamado neoliberalismo em tempos de acumulação flexível do
capital; na década de 80, participou das ações visando minorar os riscos para os
países credores da crise da dívida externa dos países devedores e, na década de
1990, em especial nos países em desenvolvimento, contribuiu com os esforços de
concepção e ação para garantir os profundos ajustes impostos pelo ideário
neoliberal e, então sumarizados, pelo Consenso de Washington.
Quanto à problemática deste estudo em verificar qual a influência dos
organismos Internacionais na elaboração das políticas públicas para a educação
superior no Brasil, constatou-se na revisão de literatura que a forte influência
exercida pelo Banco Mundial na política macroeconômica brasileira irradia sobre
vários setores, entre eles está a educação. Devido a forte ascendência dessa
instituição no Brasil, o conhecimento de suas propostas e influências no setor
educativo é de fundamental importância.
Como se percebe no texto, outras instituições demonstram mudanças
significativas em seu posicionamento em relação à educação superior no Brasil. O
Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, com seu discurso já de muito
conhecido, recebeu, na década de 90 o apoio da CEPAL, órgão da ONU, que afinou
discurso. As 3 entidades defendem a mercantilização da educação superior. A OMC,
paralelo a isso, e com interesses muito maiores neste campo, fazendo pressão
ostensiva sobre o país para que transforme a educação como serviço, ficando
completamente à mercê do mercado, mas não só o mercado nacional, mas ao
internacional, com abertura total para instituições de outros países. A lógica, como
vimos, é comercial, suprimindo a multiculturalidade e valores locais.
Como derradeiro sustentáculo de uma educação humanizada está a
UNESCO, confrontando idéias díspares às entidades que representam o
neoliberalismo na sua essência (BM, FMI e OMC), mas realizando eventos
conjuntos.
Em junho de 2006, a UNESCO apresentou dados produzidos pela IESALC
(Instituto Internacional para a Educação Superior da América Latina e o Caribe), um
órgão que pertence à UNESCO, mostrando que os países latino-americanos
investem menos de 3% do PIB para a Educação Superior, chegando, como no caso
do México a 0.87% do PIB. Conclui que o financiamento, a gestão, a qualidade e o
acesso são os problemas básicos.
Isto tem levado a definir o financiamento como um componente básico da
educação terciária, pois o financiamento não é um componente da educação (estes
são investigação, docência e extensão) nem uma meta de qualidade (como são
cobertura, equidade ou qualidade).
Destaca ainda que “um financiamento adequado sem uma gestão séria,
incorporada, honesta, autocrítica e não improvisada acaba em descalabro financeiro
ou em ineficácia crônica que paga a sociedade, em especial os mais pobres, ao não
acessar à educação, ou ao receber, uma educação de baixa qualidade.” (SANCHEZ,
2006, p 01)
Viu-se ainda que as condicionalidades impostas pelos organismos
internacionais produziram e produzem mudanças nas políticas educacionais, sendo
farto o material publicado sobre isto. Os trabalhos publicados pela Prof. Marília
Fonseca, que promoveu pesquisas no Banco Mundial analisando documentos
internos, demonstram a relação de forma inconteste entre as condicionalidades
impostas e políticas educacionais implementadas.
O Neoliberalismo, exposto como pano de fundo para toda esta transformação
vivida pela Educação Superior no Brasil. E, por fim, a expectativa pela mudança de
governo que tivemos: de um neoliberalismo declarado para uma social-democracia
teórica. Teórica, pois como vimos no texto quando da manifestação do ex-ministro
Cristóvão Buarque no Fórum Mundial de Educação o “não-apoio” à colocação da
Educação dentro das atividades que seguem as normas da OMC. Este um
posicionamento que difere do neoliberalismo, e que incita uma esperança de uma
nova era na educação. Mas, na prática, observa-se o governo assumindo, ou
submetendo-se aos ditames dos organismos internacionais, principalmente ao
Banco Mundial de forma contundente. Observamos uma Social-Democracia teórica
com um Neoliberalismo prático, que, na prática, é a que funciona e nos rege.
Quanto à reforma universitária extremamente necessária e urgente, um
debate atual e complexo, que encontra resistências às mais diversas. As premissas
que devem conter o documento são várias, como o repensar da democracia, da
autonomia, da contribuição social da universidade, não mais possível de se fechar
em seus muros, mas ser solidária e ter seu papel social definido. Cito CATANI, em
sua brilhante explanação sobre reestruturação da educação superior em um debate
internacional, publicado em 2000. Neste estudo existe uma questão que, se
respondida a contento, leva ao êxito a reforma tão esperada. “Como fazer que os
sistemas universitários que estão emergindo caminhem no sentido de dar
contribuições à sociedade como um todo e não se restringir a ser uma das
condicionalidades do desenvolvimento econômico que beneficia apenas alguns”.
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