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Álvaro de campos Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo... Álvaro de Campos

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Álvaro de campos

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso,

tenho em mim todos os sonhos do mundo...

Álvaro de Campos

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Historia de vidaÁlvaro de Campos nasceu em 1890 em Tavira e é engenheiro de profissão. Estudou engenharia na Escócia, formou-se em Glashow, em engenharia naval. Visitou o Oriente e durante essa visita, a bordo, no Canal do Suez, escreve o poema Opiário, dedicado a Mário de Sá-Carneiro. Desiludido dessa visita, regressa a Portugal onde o espera o encontro com o mestre Caeiro, e o início de um intenso percurso pelos trilhos do sensacionismo e do futurismo ou do interseccionismo. Espera-o ainda um cansaço e um sonambulismo poético como ele prevê no poema Opiário: «Volto à Europa descontente, e em sortes / De vir a ser um poeta sonambólico».

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surgimento

Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Este heterônimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.

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encontroConheceu Alberto Caeiro, numa visita ao Ribatejo e tornou-se seu discípulo: «O que o mestre Caeiro me ensinou foi a ter clareza; equilíbrio, organismo no delírio e no desvairamento, e também me ensinou a não procurar ter filosofia nenhuma, mas com alma.» .

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DiscípuloDistancia-se, no entanto, muito do mestre ao aproximar-se de movimentos modernistas como o futurismo e o sensacionismo. Distancia-se do objectivismo do mestre e percepciona as sensações distanciando-se do objecto e centrando-se no sujeito, caindo, pois, no subjetivismo que acabará por enveredar pela consciência do absurdo, pela experiência do tédio, da desilusão («Grandes são os desertos, e tudo é deserto / Grande é a vida, e não vale a pena haver vida») e da fadiga («O que há em mim é sobretudo cansaço - / Não disto nem daquilo, / Nem sequer de tudo ou de nada: / Cansaço assim mesmo, ele mesmo, / Cansaço»).

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sensaçõesÁlvaro de Campos experimentara a civilização e admira a energia e a força, transportando-as para o domínio da sua criação poética, nomeadamente nos textos Ultimatum e Ode Triunfal. Álvaro de Campos é o poeta modernista, que escreve as sensações da energia e do movimento bem como, as sensações de «sentir tudo de todas as maneiras». É o poeta que mais expressa os postulados do Sensacionismo, elevando ao excesso aquela ânsia de sentir, de percepcionar toda a complexidade das sensações.

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TRAÇOS DA SUA POÉTICA-   poeta modernista-   poeta sensacionista (odes)-   cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”)-   cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”)-   cultor das sensações sem limite-   poeta do verso torrencial e livre-   poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral-   poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”)-   observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto-   poeta da angústia existencial e da auto-ironia

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Fases de suas obras

-   abulia, tédio de viver-   procura de sensações novas-   busca de evasão

“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”“E eu vou buscar o ópio que consola.”

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)

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2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS-FUTURISTA/SENSACIONISTANesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atuação quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.

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       Futurismo-   elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)-   ruptura com o subjetivismo da lírica tradicional-   atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida·        Sensacionismo-   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)-   sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)-   cantor lúcido do mundo moderno

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3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMOPerante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.- caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração- face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido- frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior

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-   dissolução do “eu” -   a dor de pensar -   conflito entre a realidade e o poeta -   cansaço, tédio, abulia -   angústia existencial -   solidão -   nostalgia da infância

irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)

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TRAÇOS ESTILÍSTICOS-   verso livre, em geral, muito longo-   assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)-   grafismos expressivos-   mistura de níveis de língua-   enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva-   desvios sintácticos-   estrangeirismos, neologismos-   subordinação de fonemas-   construções nominais, infinitivas e gerundivas-   metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles-   estética não aristotélica na fase futurista

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Linhas Temáticas Expressividade da linguagem "     O canto do Ópio; "     O desejo dum Além; "     O canto da civilização moderna; "     O desejo de sentir em excesso; "     A espiritualização da matéria e a materialização do espírito; "     O delírio sensorial; "     O sadomasoquismo; "     O pessimismo; "     A inadaptação à realidade;

A angústia, o tédio, o cansaço; "     A nostalgia da infância; "     A dor de pensar. Nível fónico a)        Poemas muito extensos e poemas curtos; b)        Versos brancos e versos rimados; c)         Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas; d)        Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas Nível morfossintáctico a)        Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações,

interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;

b)        Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.

Nível semântico a)        apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas,

polissíndetos.

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CamposO que se constata, finalmente, é que Álvaro de Campos, a despeito de intelectualizar as sensações e apresentar laivos surrealistas, é a personalidade pessoana que mais se aproximou de uma poesia realista, e, também, quem mais foi marcado pelos caracteres da modernidade.Citação que sintetiza a fase: "íssimo, íssimo, ísssimo cansaço“

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FIM DA TRAJETORIAA sua primeira composição data de 1914 e ainda em 12 de Outubro de 1935 assinava poesias, ou seja, pouco antes da morte de Fernando Pessoa o qual cessara de assinar textos antes de Álvaro de Campos.

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Poemas primeira fase Opiário               Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro      É antes do ópio que a minh'alma é doente.   

      Sentir a vida convalesce e estiola         E eu vou buscar ao ópio que consola         Um Oriente ao oriente do Oriente.Esta vida de bordo há-de matar-me.        São dias só de febre na cabeça        E, por mais que procure até que adoeça,        já não encontro a mola pra adaptar-me. 

      Em paradoxo e incompetência astral        Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,        Onda onde o pundonor é uma descida        E os próprios gozos gânglios do meu mal. 

      É por um mecanismo de desastres,         Uma engrenagem com volantes falsos,         Que passo entre visões de cadafalsos        Num jardim onde há flores no ar, sem hastes. 

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Segunda fase ODE TRIUNFAL 6-1914

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  Tenho febre e escrevo.  Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!  Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!  Em fúria fora e dentro de mim,  Por todos os meus nervos dissecados fora,  Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!  Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,  De vos ouvir demasiadamente de perto,  E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso  De expressão de todas as minhas sensações,  Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

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fim

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fontes http://webcache.googleusercontent.com/

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http://www.pessoa.art.br/?p=14 http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/

campos.htm#2fase http://cfh.ufsc.br/~magno/campos.htm