Álvaro Lapa. Retrospective, Por. Visao, 22. 09.1994

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  • 8/3/2019 lvaro Lapa. Retrospective, Por. Visao, 22. 09.1994

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    ARTES PLSTICAS"Alvaro LapaRETROSPECTIVACentro de Arte Moderna, Fundao CalousteGulbenkian, Lisboa

    Se h trabalho que g a n h ~ em ser visto no seu conjunto o de Alvaro Lapa.Despido de qualquer virtuosismo fcildo ponto de vista tcnico ou material, afora cumulativa que emana do seu trabalho visionria, uma viso simultaneamente ldica e profundamente preocupada com aJm0rtalidade. Esta preocupao emerge, no incio, como qualidade elegaca que vai buscar a Mo-therwell e mais tarde afirma-se numacndida introspeco sobre os valoresculturais que asseguram ao artista umaimortalidade condicionada e irrequieta(veja-se o pequeno mas emblemticoSon.hando com a Imortalidade numaCabana).O trabalho de lvaro Lapa sobretudo cultural: as suas paisagens campestres (por exemplo a srie Campsti-co, ou a pintura Schliemann) so museus ou terrenos arqueolgicos onde opassado pode ser minado ou reinventado. O entrelaar de palavras e imagensreferencia entre si a vasta herana literria e artstica de Lapa, que inclui oViso, 22 Setembro, 1994

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    Surrealismo e o Expressionismo Abstracto, a art bruta e a arte povera, Mozart, Schliemann, Han-Shan, Cline,Burroughs, Gauguin, Heraclitus, Homer e Henry Miller... entre outros. Tudo isto - a arte de um leitor e pensador- no nos atirado aos olhos com apresuno da erudio autoconsciente.Pelo contrrio, faz parte, de forma intrnseca e modesta, da viso do artista,como a insistncia em materiais frgeisou pobres ou a preferncia pela escala reduzida utilizada.A exposio retrospectiva de lvaroLapa, recentemente mostrada na Casade Serralves, no Porto, beneficia damudana para o espao mais neutro eaberto de Lisboa: aqui parece expandir-se, respira, e o longo espao de recuopermite ao visitante uma perspectivacomparada dos 25 anos abrangidos naexposio. Uma nova srie de trabalhosem papel, na Livraria Assrio & Alvim,que funciona como suporte do livro deAlvaro Lapa publicado agora na mesma editora (Sequncias NarrativasCompletas) d-nos um retrato maisvasto desta obra enigmtica e profundamente inteligente que, possuindo umlirismo inato, s vezes irnica, mordaz, e outras quase romntica.O que notvel neste trabalho assimreunido a pujana narrativa e formal depeas que, uma a uma, do a impressode serem relativamente simples. O referenciar entrecruzado (que tem as marcasda amizade do artista com Joaquim Bravo e Antnio Areal), o entrelaar de palavra e imagem, signo e sentido, umapotica da resistncia que surpreendentemente nunca pretensiosa (cf. Espal-dar Modernista de Apedrejar o Pbli-co), estas so algumas das qualidadesque tomam este trabalho fascinante.A mostra acompanhada de umbom catlogo, mas a obra beneficia sevista in situ, o que nos transporta para osdias ureos do Modernismo: as reprodues fotogrficas desmentem avariedade material dos trabalhos em si,assim como a relao interessante entretamanho e escala e as cores luminosas,palpitantes. Estas, impregnadas ou incrustadas, contidas em formas que sesobrepem e em campos subjacentes,estabelecem um inventrio de estratgias pictricas modernistas (que engloba Gauguin, Motherwell, Fontana ...)sem deixar cair o trabalho num pastichecnico que tem sido com frequncia aimagem de marca ga gerao de artistasinfluenciada por Alvaro Lapa. Esta ,sem sombra de dvida, uma das maisinspiradas e inspiradoras exposiesque Lisboa teve nos ltimos tempos.Ruth Rosengarten