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1 ALVENARIA ESTRUTURAL: aspectos construtivos nas habitações de interesse social. STRUCTURAL MASONRY: constructive aspects in social housing Gislene Gonçalves 1 Silvânia Martins 2 Resumo: O presente estudo abordou a alvenaria estrutural utilizado em empreendimentos habitacionais de baixa renda como uma de suas principais aplicações. Nos empreendimentos habitacionais de baixa renda, as dimensões da qualidade de confiabilidade e conformidade são fundamentais. Buscou-se responder quais fatores devem ser analisados no processo de construção utilizando a alvenaria estrutural para empreendimentos para população da baixa renda? O objetivo geral foi descrever os principais aspectos construtivos da alvenaria estrutural em Habitações de Interesse Social e descrever os custos relacionados a esta etapa com base em um estudo de caso. Foi possível concluir que a alvenaria estrutural assume um papel de fator de racionalização e qualidade, uma resposta condizente com o grande déficit habitacional. Uma vez que se mostrou como sistema racionalizado, com procedimentos normalizados e cuja tecnologia é dominada no setor da construção. Tem-se, desse modo, a segurança da boa qualidade construtiva, conjugada a custos mais baixos e melhor desempenho técnico. Palavras-caves: Alvenaria; Estrutural; Habitações Populares; Sistema Construtivo. Abstract: The present study addressed the structural masonry used in low-income housing projects as one of its main applications. In low-income housing developments, quality dimensions of reliability and compliance are critical. We attempted to answer what factors should be considered in the construction process using the structural masonry for projects for the low income population? The overall objective is to describe the constructive aspects of structural masonry in social housing and describe the costs related to this step based on a case study. It was concluded that the structural masonry assumes a role of rationalization and quality factor, a befitting response to the large housing deficit. Once it showed how streamlined system with standardized procedures and whose technology is dominant in the construction sector. There is, thus, the security of good construction quality, coupled with lower costs and improved technical performance. Key words: Masonry ; structural ; Public Housing ; Construction System 1 Graduando em Engenharia Civil da Faculdades Kennedy. Email: [email protected] 2 Graduando em Engenharia Civil da Faculdades Kennedy. Email: [email protected]

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ALVENARIA ESTRUTURAL: aspectos construtivos nas habitações de interesse social.

STRUCTURAL MASONRY: constructive aspects in social housing

Gislene Gonçalves1 Silvânia Martins2

Resumo: O presente estudo abordou a alvenaria estrutural utilizado em empreendimentos habitacionais de baixa renda como uma de suas principais aplicações. Nos empreendimentos habitacionais de baixa renda, as dimensões da qualidade de confiabilidade e conformidade são fundamentais. Buscou-se responder quais fatores devem ser analisados no processo de construção utilizando a alvenaria estrutural para empreendimentos para população da baixa renda? O objetivo geral foi descrever os principais aspectos construtivos da alvenaria estrutural em Habitações de Interesse Social e descrever os custos relacionados a esta etapa com base em um estudo de caso. Foi possível concluir que a alvenaria estrutural assume um papel de fator de racionalização e qualidade, uma resposta condizente com o grande déficit habitacional. Uma vez que se mostrou como sistema racionalizado, com procedimentos normalizados e cuja tecnologia é dominada no setor da construção. Tem-se, desse modo, a segurança da boa qualidade construtiva, conjugada a custos mais baixos e melhor desempenho técnico. Palavras-caves: Alvenaria; Estrutural; Habitações Populares; Sistema Construtivo. Abstract: The present study addressed the structural masonry used in low-income housing projects as one of its main applications. In low-income housing developments, quality dimensions of reliability and compliance are critical. We attempted to answer what factors should be considered in the construction process using the structural masonry for projects for the low income population? The overall objective is to describe the constructive aspects of structural masonry in social housing and describe the costs related to this step based on a case study. It was concluded that the structural masonry assumes a role of rationalization and quality factor, a befitting response to the large housing deficit. Once it showed how streamlined system with standardized procedures and whose technology is dominant in the construction sector. There is, thus, the security of good construction quality, coupled with lower costs and improved technical performance. Key words: Masonry ; structural ; Public Housing ; Construction System

1 Graduando em Engenharia Civil da Faculdades Kennedy. Email: [email protected] 2 Graduando em Engenharia Civil da Faculdades Kennedy. Email: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A alvenaria estrutural tem sido amplamente utilizada na construção civil

brasileira, sendo o segmento de empreendimentos habitacionais de baixa renda, ou

seja, Habitações de Interesse Social (HIS), uma de suas principais aplicações. Neste

segmento de mercado, a qualidade das HIS tem sido estudada por diversos autores

que buscam reconhecer o caráter multidimensional da qualidade, mas é preciso traçar a

perspectiva da qualidade no contexto para as construções populares. Nos

empreendimentos habitacionais de baixa renda, as dimensões da qualidade de

confiabilidade e conformidade são fundamentais.

Não apenas para as HIS, até mesmo para as de alto luxo, em face de economia

aquecida e o consequente crescimento do setor da construção civil, não se tem mais

barreiras para a utilização da alvenaria estrutural. Nota-se que antes associado,

equivocadamente, somente aos projetos de baixa qualidade, o método construtivo tem

sido reconhecido nos dias atuais como o mais difundido em todo o Brasil. Entre as

vantagens, está a redução de custos, do tempo de execução da obra e do desperdício

de material.

Moreira (2013) ressalta que não há nenhuma diferença estética entre uma HIS

de alvenaria estrutural e outra erguida convencionalmente. “Você olha para a parede e

não consegue dizer se ela é de gesso, concreto ou alvenaria. O acabamento é o

mesmo. A aparência é exatamente igual”. Já Cotta (2013) complementa, defende o

método construtivo quando o assunto é qualidade, “existe o preconceito de que, por

não ter pilar nem viga, vai cair. As edificações são muito estáveis e não há qualquer

ressalva em relação à segurança”. Especialistas do ramo da construção civil

consideram as paredes de alvenaria estrutural como método que oferece o mesmo

conforto térmico e acústico e não ficam para trás em relação à resistência.

Para atender às regras claras e precisas que assegurem a execução de edifícios

com unidade habitacionais de baixa renda, com desempenho adequado e de custo

coerente, é necessário estabelecer os requisitos e critérios mínimos a serem atendidos

no projeto e execução da estrutura de edifícios em alvenaria estrutural. Estas

condições mínimas são estabelecidas tendo como base a normalização brasileira

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existente em agosto de 2001, bem como as recomendações internacionais para projeto

e construção de edifícios em alvenaria estrutural.

Considerando os aspectos citados, elaborou-se a seguinte questão norteadora:

Quais fatores devem ser analisados no processo de construção utilizando a alvenaria

estrutural para empreendimentos populares? Considera-se que a alvenaria estrutural

em HIS se mostra como um sistema construtivo racionalizado, no qual os elementos

que desempenham a função estrutural são de alvenaria, ou seja, os próprios blocos.

O objetivo geral dessa pesquisa é descrever os principais aspectos construtivos

da alvenaria estrutural em HIS e descrever os custos relacionados a esta etapa com

base em um estudo de caso. Especificamente, buscou-se abordar os aspectos

conceituais e o panorama das HIS e o déficit habitacional brasileiro demonstrando a

necessidade de se investir nesse segmento e o método construtivo da alvenaria

estrutural; expor as características principais e os fatores relacionados em construção

de alvenaria estrutural descrevendo os ganhos do sistema relacionados com a

racionalização oferecida ao construtor e refletir também sobre as desvantagens da

alvenaria estrutural para HIS considerando o projeto elaborado especificamente para

habitações de baixa renda.

O estudo vai ao encontro à possibilidade de reforçar a teoria aprendida durante o

curso de Engenharia Civil da Faculdades Kennedy, especialmente, no que se refere à

alvenaria estrutural enquanto sistema construtivo. Considerando a realidade brasileira

com relação às políticas habitacionais torna-se iminente lançar mão de métodos

construtivos que satisfaçam às expectativas de custo, qualidade e durabilidade para as

HIS. Não se pode mais pensar em habitação popular como aquela construção nos

moldes convencionais, muitas vezes insegura, desrespeitando privacidades.

A relevância está no impacto e na importância da habitação popular, devendo

quebrar o paradigma de que estas construções são unidades de baixa qualidade

construtiva, péssima solução estética, sem infraestrutura e localizadas em regiões

afastadas. Desse modo, a pesquisa permitirá compreender a habitação popular de

modo a contribuir para o resgate da cidadania.

O entendimento de que a alvenaria estrutural pode se apresentar como um vetor

de racionalização e qualidade, servindo também, como resposta à altura do grande

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déficit habitacional. Isso porque se trata de um sistema racionalizado, com

procedimentos normalizados e cuja tecnologia dominamos perfeitamente. O

conhecimento pode assegurar a boa qualidade construtiva, conjugada a custos mais

baixos e melhor desempenho técnico.

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALVENARIA ESTRUTURAL

2.1 Habitação de interesse social

Conforme explicado por Sattler (2010) a habitação deve ser concebida como um

bem de consumo de características únicas, sendo um produto potencialmente durável

onde muito frequentemente são percebidos tempos de vida útil superior a 50 anos. Em

se tratando de um produto caro, as classes menos privilegiadas constituem a maior

demanda imediata por habitação no Brasil.

Em igual sentido, Pisani (2010) conceituou o termo Habitação de Interesse Social

(HIS) como uma série de soluções de moradia voltada à população de baixa renda,

sendo uma definição que tem prevalecido nos estudos sobre gestão habitacional e vem

sendo utilizado por várias instituições e agências, ao lado de outros equivalentes.

Pina et. al (2004, p.6) elucidou os principais aspectos da HIS:

• Habitação de Baixo Custo (low-cost housing): termo utilizado para designar habitação barata sem que isto signifique necessariamente habitação para população de baixa renda;

• Habitação para População de Baixa Renda (housing for low-income people): é um termo mais adequado que o anterior, tendo a mesma conotação que habitação de interesse social; estes termos trazem, no entanto a necessidade de se definir a renda máxima das famílias e indivíduos situados nesta faixa de atendimento;

• Habitação Popular: termo genérico envolvendo todas as soluções destinadas ao atendimento de necessidades habitacionais.

2.2 Desafios da construção da Habitação de Interesse Social

Novaes (2012) descreve que um dos desafios da habitação de interesse social

vai além da simples construção da mesma. A solução se relaciona a fatores tais como a

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estrutura de renda das classes sociais mais pobres, dificuldades de acesso aos

financiamentos concedidos pelos programas oficiais e a deficiências na implantação

das políticas habitacionais. Não obstante, apresenta, também, uma relação com a

vontade coletiva de toda uma sociedade, do ciclo de vida da família, cultura, história,

entre outros fatores.

Tem-se ainda, o desafio da oferta de habitação às populações de baixa renda

permeando a distinção necessária para “habitação de interesse social” da “habitação de

mercado popular”, sendo que a última parte da prerrogativa da produção e consumo de

habitações populares (pequenas construções, autoconstrução, em iniciativas próprias

ou contratadas diretamente pelos usuários da habitação), mas, estas não estão sujeitas

aos mesmos critérios de planejamento e implementação que os programas produzidos

pelo poder público (MEDEIROS, 2011).

No que se refere ao custo da habitação com a renda das populações, estima-se

que o preço da habitação é, em média, quatro vezes superior à renda anual de seu

proprietário, de modo que sua aquisição depende muito de esquemas de financiamento

de longo prazo. Considerando o cenário da habitação nos países desenvolvidos, tem-se

que as despesas com habitação também respondem por 25% de despesas do

consumo pessoal. No caso do Brasil, este valor equivale a 26% para a mesma faixa da

população, o que permite entender a pouca eficácia de políticas específicas para

acesso à habitação pelas populações de menor renda (NOVAES, 2012).

A aprovação da Lei nº 11.124/05 – que instituiu o Sistema Nacional de Habitação

de Interesse Social, criou o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e seu

respectivo Conselho Nacional – possibilita um aperfeiçoamento da política já em vigor,

particularmente no que se refere ao subsídio habitacional para famílias de baixa renda.

“Essa lei é resultado do primeiro projeto de lei apresentado por iniciativa popular, em

novembro de 1991, e condensa as expectativas de 11 diversas organizações da

sociedade civil que atuam no setor da habitação popular” (SETIN, 2013, p.17).

Com relação aos projetos de habitação de interesse social com recursos públicos

de países em desenvolvimento, os impactos econômicos são críticos, pois tem

implicações sociais e políticas. Em um primeiro momento, quanto maior o custo de

construção da unidade, menor será a quantidade de famílias atendidas. Deste modo, o

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desenvolvimento de modelos de ação para superar esta limitação, considerando a

possível distribuição de custos e benefícios entre as partes envolvidas no projeto, na

construção e na operação do edifício são de suma importância (GRASSIOTTO;

GRASSIOTO, 2013).

2.3 A evolução da alvenaria estrutural

A utilização de paredes resistentes de alvenaria na estrutura suporte de edifícios

não se constitui em uma inovação tecnológica recente. Dos dias atuais até o registro

histórico, datando do início do século XX, a alvenaria era o mais utilizado, seguro e

durável material estrutural e o único aceito na estruturação de edificações de grande

porte. Em São Paulo o exemplo mais destacado desta utilização é o Teatro Municipal,

inaugurado em 1911 e totalmente estruturado em paredes de alvenaria resistente.

Linck (2012) esclarece, porém, que mesmo que a utilização tradicional da

alvenaria como estrutura suporte tenha se consolidado no inicio do séc. XX, na década

de 70 foi introduzida, em São Paulo, uma revolucionária inovação neste campo - os

Processos Construtivos de Alvenaria Estrutural (PCAE), conhecidos pela sua forma

simplificada – alvenaria estrutural.

A primeira tecnologia a ser importada teve origem nos EUA e é comumente

denominada por alvenaria estrutural armada de blocos de concreto. Após anos de

adaptação e desenvolvimento no País esta tecnologia foi consolidada na década de 80,

através de normalização oficial (da ABNT e posteriormente referendada pelo

INMETRO) consistente e razoavelmente completa. Outras tecnologias foram

importadas e adaptadas em anos subsequentes, mas até o presente não foram, ainda,

normalizadas.

A diferença fundamental entre o uso tradicional da alvenaria como estrutura e os

PCAE é dado por Estevão (2011) que relata que estes últimos são de dimensionamento

e construção racionais, enquanto que, na alvenaria convencional, as estruturas são

dimensionadas e construídas empiricamente. O dimensionamento por meio de cálculo

estrutural, com fundamentação técnico-científica, permite a obtenção de edifícios com

segurança estrutural conhecida, semelhante à obtida com estruturas reticuladas de

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concreto armado, e compatível com as exigências da Sociedade Brasileira para

edifícios multipavimentos.

Com relação ao dimensionamento racional da alvenaria estrutural, Sabatinni

(2012) sustenta que, da mesma forma que no dimensionamento de estruturas

reticuladas, empregam-se modelos matemáticos que simulam o comportamento físico

do edifício e permitem, através de métodos determinísticos e semiprobabilísticos, inferir

a segurança das estruturas e prever o grau de risco de falência estrutural.

Tal como ocorre em casos de estruturas de concreto armado, Setin (2013) afirma

que para que o nível de segurança teórico seja obtido na etapa de construção, são

estabelecidos com rigor às características dos materiais estruturais, os processos e

métodos construtivos e a metodologia de controle tecnológico a ser empregada.

‘ O aludido especialista, porém, afirma que no Brasil, os requisitos não têm sido

utilizados corretamente e milhares de edifícios têm sido construídos nos últimos 20

anos, utilizando a parede de alvenaria como único elemento estrutural, com níveis de

segurança absurdamente perigosos. Os recentes desmoronamentos são apenas um

reflexo de uma situação calamitosa.

2.4 Principais componentes da alvenaria estrutural

Segundo Parsekian (2012), a alvenaria estrutural diz respeito a um tipo de

estrutura onde as paredes são elementos compostos por unidade de alvenaria, unidos

por juntas de argamassa capazes de resistirem a outras cargas além do seu peso

próprio. O referido autor afirma que esse tipo de estrutura deve apresentar,

fundamentalmente, as funções tais como: resistência às forças do vento; a cargas

verticais; apresentar bom desempenho contra a ação do fogo; isolar acústica e

termicamente o ambiente e proporcionar estanqueidade a água da chuva e ao ar

(PARSEKIAN, 2012).

A alvenaria estrutural não pode ser considerada somente pelo seu

comportamento; a modulação e a racionalização do projeto são essenciais em uma

obra feita em alvenaria estrutural. É a presença da integração entre os projetos

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arquitetônico, estrutural, elétrico e hidráulico das edificações que resultam na economia

em torno de 25% a 30% no custo total da obra (SABATINNI et. al 2006).

Parsekian (2012) ensina que os componentes utilizados na execução de um

projeto em alvenaria estrutural são: as unidades, compostas por tijolos cerâmicos ou

blocos de concreto, a argamassa, o graute e as armaduras, necessárias de acordo com

o cálculo feito para o projeto em questão, representados na Figura 1.

Figura 1- Elementos da alvenaria estrutural Fonte: Parsekian, 2010.

Considera-se para além desses componentes principais as juntas verticais e

horizontais, vergas e contravergas, acessórios, entre outros. Nas palavras de Ramalho

e Corrêa (2003, p.6) “um componente da alvenaria, uma entidade básica, ou seja, algo

que compõe os elementos que, por sua vez, comporão a estrutura”.

De acordo com o que descreve Lourenço (2007), as estruturas são submetidas a

diferentes ações, induzidas pela gravidade; isto significa dizer que ocorrem no sentido

vertical de cima para baixo. Assim, elas compreendem o peso próprio da estrutura, das

alvenarias, dos revestimentos e as cargas decorrentes do uso da construção como os

pesos dos veículos, circulação das pessoas, dentre outros. Não obstante, existem

também as ações produzidas pelos elementos da natureza, como o vento, a terra e a

água, estas difusas e atuantes em diversas direções.

2.5 Exigências quanto aos métodos e técnicas construtivas da alvenaria

estrutural em edificações populares

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A construção de edifícios em alvenaria estrutural deve ser feita seguindo técnicas

específicas e métodos construtivos para se obter estruturas seguras, confiáveis e com a

durabilidade esperada. Diversas técnicas devem ser consideradas, porém algumas se

destacam pela importância, quando o enfoque é em relação à garantia do desempenho

estrutural. Nesta seção são expostas as exigências específicas somente com relação

aos requisitos considerados essenciais e, que por isto, devem ser o foco prioritário do

controle contínuo do processo de produção (CAIXA, 2013).

A ênfase é dada à execução das paredes estruturais, sabendo que também

são feitas exigências em relação à execução de lajes, pois a deficiente execução das

mesmas pode resultar em fissuras e trincas na alvenaria e nos revestimentos,

prejudicando o desempenho e a durabilidade da estrutura, bem como comprometer o

desempenho estrutural do edifício. Porém, para fins deste estudo, os aspectos

construtivos da laje não são citados. São ainda feitas exigências em relação ao

embutimento das instalações e ao corte e seccionamento das paredes de alvenaria, de

modo a prevenir sérios danos ao desempenho esperado.

2.5.1 Exigências construtivas quanto aos métodos de elevação de paredes

O assentamento da alvenaria deve ser feito com base em um projeto de

produção que especifique com precisão a posição dos blocos, as técnicas de união

entre paredes, à defasagem entre fiadas (amarração entre fiadas), os detalhes

construtivos, posição e características dos vãos, etc. refere-se a uma condição

essencial para o início de execução das fundações do edifício em alvenaria estrutural

que o projeto de produção das paredes esteja pronto e aprovado.

O assentamento da alvenaria somente pode ser feito sobre bases de concreto

niveladas e adequadamente resistentes, sendo proibida a execução de alvenaria

diretamente sobre baldrames, sem que o piso do térreo (base em concreto) esteja

executado. A marcação da primeira fiada sobre lajes somente poderá ser iniciada após

16 horas do término da concretagem da laje.

Na alvenaria de blocos de concreto, este último não pode ser molhado durante a

etapa de assentamento. Neste caso a argamassa de assentamento deverá ter retenção

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de água suficiente para evitar a molhagem. A alvenaria cerâmica poderá ser umedecida

para facilitar o assentamento. Com relação às paredes de alvenaria, estas apenas

podem ser executadas com blocos inteiros, não se aceitando corte o quebra de blocos

para obtenção de “peças de ajuste”. Podem-se utilizar peças pré-fabricadas e pré-

moldadas, desde que previstas no projeto de produção e obtidas mediante condições

controladas.

A construção de edifícios em alvenaria estrutural não admite ser conivente com

as imprecisões e erros na execução das paredes, como é comum na construção

tradicional. Ou seja, a execução deve ser feita com as tolerâncias e a precisão

especificadas de modo a que a qualidade final do edifício seja obtida na execução da

estrutura. Para tanto, é essencial que se utilize mão de obra treinada e especializada,

que se adote um completo programa de controle de qualidade de execução (de

aceitação, sob condições especificadas, de cada etapa construtiva).

A união entre paredes estruturais deve ser feita, preferencialmente, por

interpenetração, não sendo possível, admite-se a união por reforço metálico, desde que

seja eficiente para evitar fissuras e permita a distribuição de esforços entre as paredes.

A operação de grauteamento dos “pilaretes” verticais é uma operação de importância

essencial para o desempenho estrutural esperado nos PCAE-PA, tanto para as

alvenarias cerâmicas, quanto para as de blocos vazados de concreto.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Segundo esclarece Marconi e Lakatos (2006) uma pesquisa bibliográfica baseia-

se basicamente da coleta de material de diversos autores sobre um determinado

assunto. Na pesquisa documental acontece quase o mesmo processo, só que se utiliza

um material mais diversificado que pode ser coletado em órgãos públicos ou instituições

privadas e na bibliográfica as fontes são de materiais encontrados em bibliotecas.

Assim, pode-se dizer que este estudo contou com um levantamento bibliográfico

sobre o tema relacionado à alvenaria estrutural e a habitação de interesse social,

considerando as publicações nos últimos 10 anos. Portanto, na pesquisa foi feita uma

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revisão bibliográfica, de caráter qualitativo, que buscou compreender mais amplamente

as relações estabelecidas entre a alvenaria estruturas e as construções populares.

Procedeu-se com a realização de um estudo de caso em obra de habitação

popular com o emprego da alvenaria estrutural. Foram utilizadas fotos, registros

pessoais dos cuidados da etapas executivas da alvenaria estrutural e entrevistas

informais com os profissionais responsáveis. O estudo teve caráter exploratório, que

segundo Gil (2009) é aquele realizado quando o tema não apresenta muitas

bibliografias. Assim, o autor precisa coletar o máximo de informações, por vezes pouco

especializadas, sobre a temática.

4 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

4.1 Descrição do estudo de caso

A obra aqui analisada, refere-se a uma habitação popular, sendo observado uma

unidade de um conjunto habitacional na Figura 2. Em termos gerais, a obra contempla

um total: 36 Blocos em 12 áreas somando 576 apartamentos, sendo que durante a

realização dessa pesquisa havia 28 Blocos em execução no total de 352 apartamentos,

em 08 áreas. A proposta apresenta uma morada que reúne sala, dois quartos,

banheiro, cozinha e lavanderia coberta em uma planta básica de 50 m² para cada

unidade.

Figura 2: Modelo do conjunto habitacional de baixa renda com uso da alvenaria estrutural Fonte: acervo das autoras, 2014.

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No referido edifício popular com alvenaria estrutural a área construída foi de

1.627,29 m² com as devidas características:

• Prédio padrão popular com 4 pavimentos, sendo quatro apartamentos por

pavimento

• Apartamentos de dois dormitórios, sala, cozinha/área de serviço, banheiro e área

de serviço

• Fundação Direta (Rasa)

• Laje convencional treliçada

• Alvenaria de blocos de concreto estrutural

• Esquadrias de alumínio

• Instalações hidráulicas de água fria e esgoto em PVC

• Revestimento de piso em cerâmica comum nas áreas molhadas e regularização

nos demais para revestimento posterior

Ressalta-se que as soluções construtivas observadas neste estudo de caso

conforme Figura 3, são iniciativas que podem ser adotadas em qualquer obra, sendo

que para efeitos desse artigo o foco é dado na alvenaria estrutural.

Figura 3: Fase final da alvenaria estrutural Fonte: acervo das autoras, 2014.

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A alvenaria estrutural com blocos de concreto dispensou vigas e economizou nos

acabamentos. Também chamada de alvenaria integrada, esta foi pensada

exclusivamente para a execução de paredes em habitações populares. Passando por 5

etapas, que agilizam a construção e oferecem mais segurança para quem constrói. São

elas:

A construtora XY, a partir de uma análise do projeto arquitetônico original,

desenvolveu um projeto exclusivo e detalhado de alvenaria estrutural mostrado na

Figura 3. Nesta etapa foram definidos os tipos de blocos, a modulação das paredes, a

quantidade de bloco e outros materiais. Enfim, tudo o que se mostra necessário para

racionalizar os processos de construção e melhorar o desempenho da futura habitação.

Figura 3: Projeto de uma unidade do conjunto habitacional/alvenaria estrutural. Fonte: acervo das autoras, 2014.

Na escolha dos blocos, foi tomado o devido cuidado de se optar por

fornecedores credenciados, com uso de blocos modulares mostrados na Figura 4,

definidos para o projeto. São produtos que possuem certificação nacional de respeito

ao meio ambiente, fornecidos com maior resistência, precisão geométrica e entrega

rápida.

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Figura 4: Blocos utilizados na construção habitação popular observada. Fonte: acervo das autoras, 2014.

Para simplificar e acelerar a execução das paredes e promover qualidade

superior à construção, a Construtora forneceu equipamentos exclusivos e

diferenciados, criados para garantir uma dinâmica otimizada e acelerada no dia na

obra, como exemplificado na Figura 5. São soluções em equipamentos que

possibilitaram maior precisão, reduzem prazos, melhoram a eficiência da equipe e

diminuem o desperdício de materiais.

Figura 5: Misturador de argamassa Fonte: acervo das autoras, 2014.

Antes de começar a execução do projeto, a equipe responsável pela obra foi até

o canteiro de obras para construir um bloco modelo. Essa etapa tem como objetivo

servir de orientação para o cliente e sua equipe, auxiliando os profissionais envolvidos

em como utilizar os materiais e equipamentos da maneira mais eficiente, além de servir

de referência para a construção em larga escala.

Na obtenção de melhores resultados durante a construção, foram reunidas

informações que fundamentaram a preparação dos trabalhos, fornecendo serviços

como o dimensionamento da equipe de execução e de equipamentos, a definição da

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sequência executiva e o planejamento da distribuição dos materiais. Assim, a alvenaria

foi usada com a função de vedação e também como parte da própria estrutura da

construção.

Foram utilizados blocos de concreto com argamassa, ou seja, elementos

construtivos com dimensões pré-determinadas e constantes. A alvenaria iniciou-se com

assentamento sobre uma base devidamente preparada para tal. No caso desta obra, a

fundação em superfície se mostrou mais adequada para a alvenaria estrutural.

Figura 7: Fundação em superfície (rasa) Fonte: acervo das autoras, 2014.

O edifício em alvenaria estrutural necessitava ser mais rígido que um edifício em

concreto armado, revelando a necessidade de menor sensibilidade à ação do vento, e,

em contrapartida, uma maior sensibilidade a deformações impostas (recalques

diferenciais, dentre outros). Foi também checado os recalques para a fundação direta

(rasa).

Seguindo o projeto arquitetônico, foi determinado que, cada parede fosse

iniciada pelos cantos principais, devidamente posicionados pelo mestre de obras que

usou, para tanto o gabarito da obra para a planta estrutural junto com a de arquitetura,

por se tratar de uma obra de 4 pavimentos.

Feita esta localização das paredes no plano horizontal, procedeu-se com a

localização das fiadas no plano vertical, o que foi planejado com precisão de maneira

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que foi possível prever quantas fiadas seriam necessárias para alcançar a altura do

respaldo das paredes evitando recortes no final destas como ilustrado na Figura 8.

Figura 7: Localização das paredes no plano horizontal/fiadas no plano vertical Fonte: acervo das autoras, 2014.

Posteriormente, foi feito o cantilhão, referindo-se a um sarrafo perfeitamente reto,

onde foram marcadas as fiadas e colocadas adequadamente no prumo, exatamente

em um dos cantos principais. Foi feita outra régua e colocado na extremidade oposta.

Feito isso, foi realizada a marcação da parede, usando o cantilhão devidamente

alinhado e aprumado conforme mostra a figura 8 abaixo:

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Figura 8: Marcação com uso do cantilhão devidamente alinhado e aprumado Fonte: acervo das autoras, 2014. Com isto, iniciou-se o levantamento da parede, sempre pelos cantos, começando

com algumas fiadas de um lado e do outro, depois prolongando a linha entre os dois

lados e preenchendo o meio com uma fiada completa de tijolos, mantendo as devidas

amarrações. Nesta sequência, até chegar ao respaldo da parede, deixando fazendo

com que a parede ficasse perfeitamente nivelada, no prumo e na altura correta. Tal

procedimento se repetiu ao longo de todas as paredes do mesmo pavimento sendo

também visto na Figura 9:

Figura 9: Levantamento da parede começando com algumas fiadas de um lado e do outro Fonte: acervo das autoras, 2014.

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Pôde-se observar que esse conjunto de procedimento na alvenaria agregou

ganhos econômicos ao propor uma utilização racional do material e também no tempo

de execução, além de ter maior resistência à compressão, sendo perfeitamente

adequadas para uso como alvenaria estrutural.

Observando que o projeto arquitetônico previu a alvenaria aparente, o

planejamento de cada parede e o levantamento com cantilhão se tornaram medidas

obrigatórias, para não resultar em um aspecto desagradável, de uma obra conduzida de

forma errônea e improvisada.

Importante destacar que os tijolos que chegaram à obra continham uma

quantidade de peças partidas, tais pedaços foram aproveitados nos alicerces e nos

travamentos das paredes de 1 tijolo. Quando a parede era de ½ tijolo e revestida,

também foram usados estes pedaços. Mesmo que os tijolos tivessem sido fornecidos

por um mesmo fornecedor estes apresentaram diferenças de dimensão entre si.

Em razão destas estas variações de medida é que foi necessário maior atenção

para seguir estritamente a régua com a marcação (o cantilhão). As eventuais

diferenças foram compensadas a cada fiada para que, chegando ao respaldo, sendo

devidamente ajustado. As diferenças de dimensão nos tijolos foram amortecidas a cada

fiada, aumentando ou diminuindo a espessura da argamassa.

De maneira que a alvenaria fosse devidamente executada e que garantisse

durabilidade à habitação popular observada, a parede foi executada sobre base firme.

Entretanto, mais importante que isto, alguns procedimentos importantes foram tomados:

Os tijolos foram molhados pouco antes do assentamento, para facilitar a

aderência pela eliminação da camada de pó que costuma envolver as peças. A molha

também impediu que o tijolo absorvesse a umidade da argamassa, ficando com menor

aderência e resistência à compressão.

Cuidado em manter o prumo e nível perfeitos na disposição das diversas fiadas.

O cálculo as fiadas e montagem da régua, conferindo o prumo da parede a cada duas

ou três fiadas, no caso de tijolos comuns, ou a cada fiada, pois foram utilizados blocos

19

de concreto. Nas juntas tomou-se o devido cuidado com a sobreposição de juntas, que

diminuiria a resistência da parede naquele ponto.

A espessura da junta foi de 1 cm, sendo aceito até 1,5 cm. Eventuais variações

só ocorreram no ajuste da quantidade de fiadas à cota de respaldo da parede e

também na compensação de eventuais diferenças de medidas nos tijolos, sempre

mantendo o nível da fiada e o prumo da parede.

Com relação ao custo da alvenaria estrutural, considerando os custos de uma

edificação econômica de 28 unidades de 50 m² executada em alvenaria estrutural

também se tem os detalhes a seguir.

Tal como habitação econômica, considerando o custo de uma edificação com

alvenaria estrutural, considerou-se apenas os principais custos que compõem o

orçamento de um prédio padrão popular com uso da referida alternativa. Para tanto,

tomou como referência o projeto do mesmo edifício com 4 pavimentos, considerando

somente os custos diretos da construção considerando 4 unidades por andar de

aproximadamente 50m2 contando com dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço,

um banheiro e varanda.

Na composição do orçamento que serviu como referência para essa pesquisa,

além dos requisitos de uma edificação comum, tais como fundação, alvenarias,

instalações de telhado etc., também se levou em consideração algumas

particularidades estruturais. Em função do uso da alvenaria armada, pilares e vigas

foram excluídos e, como as lajes também são pré-moldadas, os consumos de concreto,

armação e fôrma diminuíram consideravelmente. O uso da alvenaria com régua

aumentou o custo da mão de obra. Mas, por outro lado, eliminou a necessidade de

revestimento interno.

De fato, um dos grandes benefícios da alvenaria estrutural se constatou diante

da possibilidade do barateamento do custo da estrutura. E, justamente por isso, apesar

de limitar a personalização das unidades, o sistema se mostrou bastante atraente em

produtos destinados à baixa renda.

Dentre as vantagens do sistema construtivo face ao sistema convencional está a

regularidade das medidas dos elementos, proporcionando menor desperdício de

materiais e até mesmo a eliminação de serviços de chapisco e fôrmas (para execução

20

das vigas e dos pilares) como visto nas considerações sobre a execução da alvenaria

estrutural.

Importa destacar que os valores não foram tomados como absolutos e ficaram

sujeitos às alterações variadas provenientes da singularidades de cada obra. A

ressalva também vale para os preços unitários, que podem ser diminuídos conforme as

boas negociações das construtoras com seus fornecedores.

Considerou-se no Quadro 1, de um bloco com 4 pavimentos, referente a área de

136m2 por pavimento, tomando como referência apenas os aspectos da alvenaria

estrutural da construção, a título de conhecimento, no revestimento, adotou-se pintura

látex na fachada. O projeto previu a utilização de fundações, laje convencional treliçada;

alvenaria de blocos de concreto estrutural; esquadrias de alumínio, instalações

hidráulicas de água fria e esgoto em PVC; revestimento de piso em cerâmica comum

nas áreas molhadas e cobertura com estrutura de madeira e telha amianto.

Quadro 1 - Orçamento bloco em alvenaria estrutural – Habitação de Interesse

social – 1 bloco/136m2 por pavimento

DESCRIÇÃO

UNI QUANT. PREÇO UNITÁRIO TOTAL GLOBAL

Material Mão De Obra

Total

Total da obra 633.841,89 541.088,87 1.174.930,76 Alvenaria 97.191,94 74.055,57 171.247,51 Execução de rasgo em alvenaria para passagem de tubulação de 15mm (1/2’’) a 25mm (1’’)

m 2668,00 0,00 2,99 2,99 7.977,32

Enchimento de rasgo em alvenaria com argamassa mista de cal hidratada e areia sem peneirar traço 1:4 com adição de 150kg de cimento para tubulação e 15 mm penetrar traço 1:0,5:8– tipo 2

m 2668,00 0,05 2,26 2,31 6.163,08

Alvenaria de vedação com blocos de concreto, 9 x 19x39 cm, espessura da parede 9 c, juntas de 10 mm com argamassa mista de cimento, cal hidratada e areia sem

m2 1691, 88

17,11 12,21 29,32 49.605,92

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peneirar traço 1:0,25:3 – tipo 3 Alvenaria estrutural com blocos de concreto 14 x 19 x 39 cm, espessura da parede 14 cm, juntas de 10 mm com argamassa mista de cimento, cal hidratada, areia sem peneirar traço 1:0,25:3 – tipo 3

m2 2144,36 26,52 14,98 41,50 88.990,94

Verga reta moldada no local com forma d emadeira considerando cinco reaproveitamentos

m2 5,88 914,86 534,06 1448,92

8.519,88

Fonte: elaborado pelas autoras

Observa-se que o orçamento da alvenaria se mostrou coerente, sobretudo no

que tange ao processo construtivo. No que se refere aos preços apresentados, sabe-se

que é comum uma possibilidade de conseguir boas negociações e, com isso, descontos

comerciais. Um ponto que deveria ter sido considerado é a impermeabilização de

baldrames, já que o projeto contempla a construção de apartamentos no pavimento

térreo que poderão apresentar problemas de umidade e, consequentemente, futuros

custos de manutenção.

Compreende-se que no projeto, alguns itens podem ser melhorados de modo a

proporcionar redução nos custos no que se refere à alvenaria. Cita-se como exemplo à

adoção de massa única, ou seja, o concreto dosado e projetado, no lugar de emboço e

reboco (nas paredes internas como externas). Sugere-se, também, o correto

planejamento, e, portanto, a otimização das instalações elétricas e hidráulicas, de

modo a minimizar os rasgos, que devem ser evitados na alvenaria estrutural.

Ainda no item estrutura, observa-se que o grout é um item que deveria estar

contemplado na alvenaria, já o item relacionado a laje pré-fabricada se apresentou

como uma sub atividade (insumo) que elevou o custo da atividade, uma vez que seu

custo unitário do material é alto.

Vale lembrar que, nas obras de habitação popular, o custo e o desperdício são

itens da máxima importância. Nesse sentido, a alvenaria estrutural necessita de

funcionários qualificados para o assentamento do bloco de concreto, pois este material

22

possui uma configuração vazada muito diferente do assentamento da alvenaria

convencional, e um funcionário sem conhecimento específico acabaria desperdiçando

uma quantidade muito alta de argamassa.

Além disso, a alvenaria estrutural se mostra bastante suscetível à perda de

resistência caso a argamassa seja assentada de maneira incorreta, o que pode ser um

fator de risco. Destaca-se ainda, a existência de funcionários que são especializados

no assentamento do bloco de concreto, os chamados bloqueiros, que possuem em

geral alta produtividade em obras de blocos estruturais, agilizando sua obra e evitando

desperdícios.

Ao se optar pela alvenaria estrutural em habitações de interesse social, esta, na

maioria dos casos, reduz os gastos e traz agilidade à obra. Sendo uma estrutura mais

leve, o custo com a fundação é menor, além disso, o investimento em estrutura também

é reduzido e por ter um nivelamento mais rápido e fácil, é possível diminuir a mão-de-

obra e os materiais como visto na execução descrita neste capítulo e nos custos

apresentados. A redução de custos em relação à estrutura de concreto armado pode

chegar a 50% e a economia de tempo, em média, a 30%. O sistema não é

necessariamente mais barato em todos os casos, mas é sempre mais rápido tal como

disseram Carvalho (2005), Marconi (2006) e Medeiros (2013).

Antes da escolha do método construtivo em habitações populares, que deve

ocorrer ainda na fase de concepção da planta, é preciso avaliar o projeto, pois ele pode

limitar o uso do sistema. Se houverem grandes vãos, lajes em balanço, poucas

paredes, muitas fachadas de vidro, entre outros fatores, tem-se uma situação em que

se pode haver restrições ao uso da alvenaria estrutural, o que é incomum em

construções de baixa renda. Outro fator importante é que nela não é possível fazer

modificações arquitetônicas como demolir paredes internas, assim, as mudanças

devem ser previamente analisadas e aprovadas por um engenheiro calculista, afinal, a

própria alvenaria é a estrutura da edificação.

Na obra observada, a alvenaria estrutural se mostrou menos prejudicial à

natureza, afinal, produziu menos entulho e não utilizou formas sem reutizá-las. Outro

fator a ser levado em consideração é o menor desperdício de materiais e de energia

elétrica, já que não são necessários vibradores no concreto ou combustível para

23

geradores. Não obstante, o concreto usinado utilizado em estrutura de concreto armado

tem aditivos químicos que podem contaminar solos e lençóis freáticos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo expôs os principais aspectos da alvenaria estrutural enquanto

sistema construtivo. Pode-se constatar na literatura pesquisada, que nos últimos anos,

no Brasil, o setor da construção civil foi marcado pelo crescimento da utilização da

alvenaria estrutural como método. Desse modo, os autores aqui abordados defenderam

a necessidade da criação de alternativas que ajudassem a promover a habitações para

a população de baixa renda, destacando a alvenaria estrutural, devido à racionalidade,

agilidade e economia que o mesmo proporciona.

Neste contexto, a alvenaria estrutural se apresentou como opção viável, uma vez

que atende as exigências indicadas nas Normas Técnicas, satisfatoriamente, às

especificações necessárias à garantia de segurança e durabilidade, aliados ao baixo

custo das unidades habitacionais. É comum encontrar, nos dias atuais, diversos

conjuntos habitacionais populares surgindo pelo país, ajudando na inserção da

população de baixa renda no mercado imobiliário.

Várias construtoras e incorporadoras têm contribuído com a disseminação de

construções em alvenaria estrutural pela cidade. Devido ao baixo custo e por sofrer o

estigma de solução construtiva limitada e de qualidade questionável, o sistema de

alvenaria estrutural é constantemente associado a construções para a população de

baixa renda. Entretanto, trata-se de um sistema altamente versátil, podendo ser

utilizado pra obras que venham a contemplar todas as classes da sociedade.

Vale a ressalva de que a habitação popular não pode mais ser vista como

unidades de baixa qualidade construtiva, péssima solução estética, sem infraestrutura e

localizadas em regiões afastadas. Segundo os autores citados ao longo desse trabalho,

revelou-se que a habitação popular deve contribuir para o resgate da cidadania, o que

implica em um projeto adequado, boa construção e infraestrutura, com áreas de lazer,

saneamento, redes de água, energia, escolas, transporte.

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No estudo de caso aqui descrito é importante destacar a padronização das

etapas da alvenaria estrutural em habitações de interesse social, que se mostrou como

sendo uma característica intrínseca ao referido método. A resistência ao referido

sistema são justificadas diante da falta de informação da população e até mesmo de

alguns profissionais da construção civil. Porém, o que pode ser também constatado é

que a alvenaria estrutural se mostrou como uma técnica construtiva que precisa ter

seus procedimentos devidamente calculados, para evitar o desperdício de material,

garantia de um bom acabamento, resistência e qualidade à edificação.

Questionaram-se quais fatores devem ser analisados no processo de construção

utilizando a alvenaria estrutural para empreendimentos populares. Como resposta

obtida, constatou-se que a adequação de anteprojetos indica a melhor modulação do

bloco, elemento fundamental na alvenaria estrutural, para racionalização do processo

construtivo é um dos fatores que devem ser analisados. Além disso, os diversos

projetos envolvidos na construção do conjunto habitacional de baixa renda devem estar

compatibilizados e integrados ao projeto estrutural e de instalações, evitando

adaptações no canteiro de obras e interferências.

Nessa perspectiva, foi entendido que somente em habitações com grandes vãos,

lajes em balanço, poucas paredes, muitas fachadas de vidro, entre outros fatores,

representam uma situação em que se pode haver restrições ao uso da alvenaria

estrutural. Foi possível concluir que a alvenaria estrutural assume um papel de fator

de racionalização e qualidade, uma resposta condizente com o grande déficit

habitacional. Uma vez que se mostrou como sistema racionalizado, com procedimentos

normalizados e cuja tecnologia é dominada no setor da construção. Tem-se, desse

modo, a segurança da boa qualidade construtiva, conjugada a custos mais baixos e

melhor desempenho técnico.

O sistema como um todo se torna mais barato pela rapidez de execução, pela

garantia de qualidade e de cumprimento das normas, pela redução dos desperdícios no

canteiro e pela eliminação do retrabalho para adequações e correções. Deve ser

considerado o custo do reparo de algo que saiu errado, problemas quase sempre

decorrentes de projetos mal desenvolvidos associados à improvisação.

25

Assim, pode-se dizer que o objetivo geral dessa pesquisa de descrever os

principais aspectos construtivos da alvenaria estrutural em HIS e os custos relacionados

a esta etapa com base em um estudo de caso, foi atingido.

Mostra-se como um desafio para as empresas construtoras, adotarem sistemas

de monitoramento e controle de qualidade que sejam eficazes, que se estabeleça um

roteiro de acompanhamento da execução da alvenaria estrutural no canteiro de obra.

Estas são medidas a serem seguidas, à risca, as normas e técnicas para este tipo de

construção. Sugere-se a realização constante do controle tecnológico no que diz

respeito às argamassas de assentamento e teste de carga sobre as paredes levantadas

para que se garanta a eficácia da referida técnica construtiva.

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