ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf ·...

89
ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE CONCRETO: ASPECTOS CONSTRUTIVOS E PRÉ- DIMENSIONAMENTO Gabriel Stelling Pinheiro Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Márcio Santos Faria Rio de Janeiro Março de 2018

Transcript of ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf ·...

Page 1: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE

CONCRETO: ASPECTOS CONSTRUTIVOS E PRÉ-

DIMENSIONAMENTO

Gabriel Stelling Pinheiro

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Márcio Santos Faria

Rio de Janeiro

Março de 2018

Page 2: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

ii

ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE

CONCRETO: ASPECTOS CONSTRUTIVOS E PRÉ-

DIMENSIONAMENTO

Gabriel Stelling Pinheiro

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Márcio Santos Faria

Rio de Janeiro

Março de 2018

Page 3: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

iii

ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE CONCRETO: ASPECTOS

CONSTRUTIVOS E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Gabriel Stelling Pinheiro

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

_________________________________

Engº. Márcio Santos Faria

Orientador

_________________________________

Prof. Luis Otavio Cocito de Araujo, D.Sc.

Co-orientador

_________________________________

Prof. Leandro Torres di Gregorio, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO de 2018

Page 4: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

iv

Pinheiro, Gabriel Stelling

Alvenaria estrutural em blocos de concreto: aspectos construtivos

e pré-dimensionamento / Gabriel Stelling Pinheiro. – Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2018.

xiii, 76 p.: 29,7 cm.

Orientador: Márcio Santos Faria

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 73-76

1. Introdução 2. Revisão bibliográfica 3. Processo de

produção da alvenaria estrutural 4. Projeto 5. Conclusões

I. Santos Faria, Márcio; II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.

Título

Page 5: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que fizeram parte dessa jornada e a fizeram se tornar especial

em minha vida.

À minha família, que sempre esteve presente e me apoiando em todas as situações, e

que sem eles esse sonho não seria possível.

Aos meus amigos que levo junto comigo desde a infância, que sempre estiveram do meu

lado dando sempre os melhores conselhos.

Aos amigos que fiz na UFRJ, obrigado pelas noites viradas, pelos ensinamentos e pela

motivação, e também desejo muito sucesso a todos.

Aos meus orientadores pela dedicação e pelos ensinamentos.

Page 6: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

vi

Resumo de Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE CONCRETO: ASPECTOS

CONSTRUTIVOS E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Gabriel Stelling Pinheiro

Março/2018

Orientador: Márcio Santos Faria

Curso: Engenharia Civil

A busca cada vez maior por novos sistemas construtivos no Brasil trouxe a alvenaria estrutural

como uma alternativa aos métodos convencionais. Devido à sua facilidade construtiva,

flexibilidade, rapidez, qualidade e principalmente economia que pode chegar até 30% do custo

total da obra, esse sistema vem se firmando como um dos principais no país, quando

consideradas tipologias de projeto que se enquadrem nas premissas de aplicação desse sistema

construtivo. O presente projeto pretende apresentar os principais conceitos sobre alvenaria

estrutural por meio de pesquisa bibliográfica e o desenvolvimento de um pré-dimensionamento

estrutural de um edifício de 4 pavimentos sem pilotis. Serão reunidas definições de

componentes, erros executivos, informações úteis sobre a execução de alvenaria estrutural e a

memória relativa ao pré-dimensionamento considerando apenas ações verticais.

Palavras-Chave: Alvenaria Estrutural, Sistema Estrutural, Economia, Racionalização.

Page 7: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI / UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

STRUCTURAL MASONRY IN CONCRETE BLOCKS: CONSTRUCTIVE ASPECTS

AND PRE-DIMENSIONING

Gabriel Stelling Pinheiro

March/2018

Advisor: Márcio Santos Faria

Course: Civil Engineering

The increasing search for new constructive systems in Brazil has brought structural masonry as

an alternative to conventional methods. Due to its constructive ease, flexibility, speed, quality

and mainly economy that can reach up to 30% of the total cost of the construction, this system

has been established as one of the main in the country, when considering project typologies that

fit the premisses of the application of this constructive system. The presente project intends to

present the main concepts on structural masonry through bibliographical research and the

development of a structural pre-dimensioning of a 4 story building without pilotis. Component

definitions, executive errors, useful information about the execution of structural masonry and

the memory relative to the pre-dimensioning considering only vertical actions.

Keywords: Structural Masonry, Structural System, Economy, Rationalization.

Page 8: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

viii

Sumário

LISTA DE TABELAS ................................................................................................... xi

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... xii

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1 Importância do Tema ........................................................................................ 1

1.2 Objetivo ............................................................................................................ 2

1.3 Metodologia ...................................................................................................... 2

1.4 Estrutura da Monografia ................................................................................... 3

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 5

2.1 Um Breve Histórico .......................................................................................... 5

2.2 Informações Elementares Acerca da Alvenaria Estrutural ............................. 10

2.2.1 Definições ................................................................................................. 11

2.3 Componentes de Alvenaria Estrutural ............................................................ 13

2.3.1 Blocos ........................................................................................................ 14

2.3.2 Argamassa de Assentamento .................................................................... 19

2.3.3 Graute ........................................................................................................ 20

2.3.4 Armadura .................................................................................................. 21

2.4 Vantagens e Limitações do Sistema ............................................................... 21

3 PROCESSO DE PRODUÇÃO DA ALVENARIA ESTRUTURAL .................... 25

3.1 O Valor de Um Projeto ................................................................................... 25

Page 9: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

ix

3.2 A compatibilização de projetos ....................................................................... 27

3.3 Coordenação Modular ..................................................................................... 28

3.4 Racionalização Construtiva ............................................................................ 30

3.5 Erros Executivos ............................................................................................. 31

3.5.1 Desaprumo ................................................................................................ 32

3.5.2 Espessura e Preenchimento das Juntas ...................................................... 33

3.5.3 Deficiência no Grauteamento .................................................................... 34

3.6 Propriedades Mecânicas ................................................................................. 35

3.7 Norma de Desempenho – NBR 15575 ........................................................... 37

3.7.1 Segurança Estrutural ................................................................................. 38

3.7.2 Segurança Contra Incêndio ....................................................................... 39

3.7.3 Segurança no Uso e na Operação .............................................................. 40

3.7.4 Estanqueidade ........................................................................................... 41

3.7.5 Desempenho Térmico ............................................................................... 41

3.7.6 Desempenho Acústico ............................................................................... 42

3.7.7 Durabilidade e Manutenibilidade .............................................................. 43

3.7.8 Impacto Ambiental .................................................................................... 44

4 PROJETO ............................................................................................................... 45

4.1 Dados do Projeto ............................................................................................. 47

4.2 Análise Para Modelagem da Estrutura do Edifício ......................................... 48

Page 10: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

x

4.2.1 Definição das Parede Estruturais .............................................................. 48

4.2.2 Pré Moldados ............................................................................................ 49

4.3 Memória de Cálculo ........................................................................................ 50

4.3.1 Carregamentos .......................................................................................... 50

4.3.2 Áreas de Influência ................................................................................... 52

4.3.3 Determinação das Resistências dos Blocos .............................................. 53

4.3.4 Conclusões Sobre o Projeto ...................................................................... 64

4.4 A Tecnologia BIM .......................................................................................... 66

4.4.1 Quantitativo ............................................................................................... 68

5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 71

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 73

Page 11: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dimensões reais .......................................................................................... 17

Tabela 2 – Requisitos para resistência característica à compressão ............................. 18

Tabela 3 - Dimensões dos blocos cerâmicos estruturais .............................................. 19

Tabela 4- Comparação de economia entre alvenaria estrutural e concreto armado ..... 23

Tabela 5 – Vida Útil de Projeto de uma alvenaria ........................................................ 43

Tabela 6 - Peso específico aparente dos componentes e materiais ............................... 51

Tabela 7 - Cargas Verticais Variáveis .......................................................................... 52

Tabela 8 - Reação da Laje............................................................................................. 54

Tabela 9 - Peso prório de cada parede .......................................................................... 55

Tabela 10 - Peso próprio da abertura ............................................................................ 56

Tabela 11 - Peso total na laje ........................................................................................ 57

Tabela 12 - Grupo de paredes ....................................................................................... 58

Tabela 13 – Quantidade de blocos utilizado na obra .................................................... 69

Page 12: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Coliseu de Roma, em Roma, Itália ............................................................................ 6

Figura 2 - Pirâmides de Gizé, no Cairo, Egito ........................................................................... 6

Figura 3 - Esquema estrutural das construções em alvenarias de pedra ..................................... 7

Figura 4 - Edifício Monadnock, em Chicago, EUA ................................................................... 7

Figura 5 - Conjunto Habitacional “Central Parque da Lapa”, 1966 ........................................... 9

Figura 6 – Conjunto Habitacional “Central Parque da Lapa”, 1972 ........................................ 10

Figura 7 - Alvenaria armada ..................................................................................................... 12

Figura 8 - Diferença entre área bruta e área líquida. ................................................................ 12

Figura 9 - Família de blocos 14x39 .......................................................................................... 15

Figura 10 - Família de blocos 14x29 ........................................................................................ 15

Figura 11 - Bloco de concreto .................................................................................................. 16

Figura 12- Classificação dos blocos cerâmicos ........................................................................ 18

Figura 13 - Diferença do tamanho dos furos dos blocos cerâmico e de concreto .................... 20

Figura 14 - Capacidade de influenciar os custos do empreendimento ..................................... 26

Figura 15 - Quadrícula modular - 1M / 2M / 3M ..................................................................... 29

Figura 16 - Limite máximo para o desaprumo ......................................................................... 32

Figura 17 - Variações máximas da espessura das juntas de argamassa.................................... 33

Figura 18 - Detalhe de recortes para conferência do grauteamento. ........................................ 34

Page 13: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

xiii

Figura 19 – Tensões no bloco e na junta de argamassa devido à aplicação de carga de

compressão axial....................................................................................................................... 36

Figura 21 - Planta baixa do pavimento tipo .............................................................................. 45

Figura 22 - Corte Longitudinal ................................................................................................. 46

Figura 23 - Corte Transversal ................................................................................................... 47

Figura 24 - Eliminação do shaft e definição das paredes estruturais ....................................... 49

Figura 25 - Numeração das paredes ......................................................................................... 53

Figura 26 - Família 39 em 3D .................................................................................................. 67

Figura 27 – Primeira e segunda fiadas...................................................................................... 67

Figura 28 – Elevação do pavimento tipo .................................................................................. 69

Figura 29 - Torre completa ....................................................................................................... 70

Page 14: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Importância do Tema

A crise econômica instaurada no Brasil somada aos escândalos da operação Lava Jato,

à grande queda dos investimentos públicos e ao esfriamento do mercado imobiliário se

refletiram no fraco desempenho do setor da construção civil no país. Segundo o IBGE, do

segundo trimestre de 2013 até o segundo semestre do ano de 2017 o PIB do setor somava uma

queda de 14,3% enquanto o PIB total do país diminuiu 5,5% no mesmo período.

Frente a uma forte crise enfrentada pelos brasileiros, sempre se buscam alternativas para

que essas dificuldades sejam superadas por parte das construtoras. Com uma disputa por

mercado e necessidade de diminuição de custos, a alvenaria estrutural se apresenta como um

sistema estrutural bastante interessante e econômico, com agilidade em sua execução e sem

necessidade de mão de obra especializada. Isso não significa que esse sistema construtivo só

seja interessante em momentos de crise, muito pelo contrário, é uma alternativa excelente e tem

um enorme potencial para determinadas tipologias de edificações, como por exemplo edifícios

de moradia popular, que possuem vãos com pequenas dimensões, e também até determinadas

alturas, sendo mais utilizada para construções de baixa altura.

A utilização deste sistema em larga escala no Brasil tem sido possibilitada pelos avanços

tecnológicos e pelo seu custo competitivo, tornando o país uma referência mundial no assunto.

Isso projeta um excelente futuro para o país em questões de qualidade da alvenaria estrutural

como sistema construtivo, tornando-se um diferencial para os engenheiros que tem profundo

conhecimento sobre ela.

Page 15: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

2

Além disso, tocante ao contexto acadêmico, a disseminação do conhecimento sobre o

assunto nas faculdades de Engenharia Civil pelo país fica facilitado ao passo que mais pessoas

conhecem e se interessam pelo assunto. O foco desse trabalho, além de aprofundar a ciência do

autor, é que mais alunos possam tratar de questões mais específicas como o dimensionamento

estrutural e escolha assertiva do projeto, atingindo principalmente os alunos da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, que tem o privilégio de poder cursar a cadeira de Alvenaria

Estrutural, um curso relativamente novo que está ganhando forças no departamento.

1.2 Objetivo

O objetivo desta monografia consiste em fornecer noções básicas para que o estudante

de engenharia civil, o engenheiro de construções e os gestores de obra possam realizar um pré-

dimensionamento de construções em alvenaria estrutural, além de mostrar a importância dele

no planejamento e execução da obra, apresentando noções básicas de cálculo e de conceitos

sobre o sistema estrutural para um melhor entendimento do projeto.

1.3 Metodologia

A metodologia abordada nessa monografia consiste em uma fundamentação teórica e

apresentação de um pré-dimensionamento estrutural.

A fundamentação teórica se baseou em um estudo de revisão bibliográfica, com

pesquisa em fontes de grande notoriedade e respeito no tema, como autores renomados,

monografias de TCC, dissertações de mestrado, teses de doutorado além de notas de aula do

professor responsável pela disciplina de “Alvenaria Estrutural” da Escola Politécnica da UFRJ

e também orientador deste trabalho, Márcio Faria.

Page 16: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

3

O pré-dimensionamento estrutural de alvenaria modulada desenvolvida neste trabalho é

baseado em um trabalho de aula proposto pelo professor Márcio Faria aos seus alunos da

disciplina “Alvenaria Estrutural”, oferecida pelo Departamento de Construção Civil da UFRJ,

no período letivo de 2017.2. O desenvolvimento do trabalho em sala de aula se deu até o peso

total da laje, ficando a cargo do autor deste trabalho uma revisão do que havia sido feito e o

pré-dimensionamento à compressão.

1.4 Estrutura da Monografia

O trabalho será estruturado em cinco capítulos:

O primeiro capítulo é um capítulo introdutório, apresentando a importância do tema, os

objetivos, a justificativa da escolha do tema, a metodologia utilizada e a estrutura descrevendo

brevemente o que se encontra em cada capítulo.

O segundo capítulo é uma revisão bibliográfica dos principais conceitos e definições

que constarão no trabalho. É apresentado um breve histórico da alvenaria estrutural no mundo

e no Brasil, além dos componentes da alvenaria estrutural e das vantagens e desvantagens do

sistema.

O terceiro capítulo aborda questões relativas à projeto. O valor que tem um projeto na

construção civil, a compatibilização entre os diversos projetos que existem em uma obra, a

coordenação modular, o conceito de racionalização construtiva, apresentação dos principais

erros executivos, exposição das propriedades mecânicas da alvenaria e exposição da norma de

desempenho relacionado à alvenaria.

Page 17: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

4

No quarto capítulo inicia-se o pré-dimensionamento da estrutura. São apresentados os

dados de projeto e é desenvolvido um memorial de cálculo, onde todos os cálculos estão

justificados e ao final do capítulo temos uma pequena introdução à tecnologia BIM, levantando

aspectos quantitativos sobre a obra.

Finalmente, no quinto e último capítulo são feitas as considerações finais e conclusões

do trabalho, seguidas das referências bibliográficas.

Page 18: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Um Breve Histórico

O uso da alvenaria estrutural data de milhares de anos atrás, remontando à época dos

egípcios, gregos e romanos. A sua execução à essa época era sem nenhuma base teórica e

nenhum conhecimento científico sequer, lançando-se mão apenas do conhecimento empírico

que se obtivera e da própria intuição, o que levava a um pequeno progresso após as tentativas

e erros e todo o conhecimento era passado de geração em geração. Eram montadas pedras sobre

pedras alcançando um resultado parecido com uma parede de grande espessura. Esse paredão

que se formava trazia conforto e proteção para as famílias.

Devido ao seu método construtivo, a alvenaria estrutural na época só admitia vãos que

fossem executados com peças auxiliares (vigas de madeira por exemplo). Por isso, era

necessário que as suas dimensões fossem relativamente pequenas, além de que esses materiais

utilizados tinham uma vida útil menor do que a alvenaria propriamente dita, causando um

problema de durabilidade.

Ao passar dos tempos, uma alternativa para a execução dos vãos foi desenvolvida: os

arcos. Essa forma era permitida através do arranjo das unidades, possibilitando assim a

construção de vãos maiores, além de se obter uma maior qualidade à alvenaria estrutural.

Apesar disso, obras grandiosas existentes até os dias atuais utilizavam esse sistema

construtivo, e seus excelentes estados de conservação revelam o grande potencial e qualidade

que a alvenaria pode trazer para as construções. MOHAMAD (2015) explica que essas obras

grandiosas, que marcaram a humanidade pelos aspectos estrutural e arquitetônico, eram

construídas com unidades de blocos cerâmicos ou de pedra intertravados, com ou sem material

Page 19: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

6

ligante. Como exemplo dessas construções podemos citar o Coliseu de Roma, localizado em

Roma, na Itália, com início da sua construção datado de 68 d.C. e finalizado em 79 d.C. (Figura

1). Um outro excelente exemplo são as Pirâmides de Gizé, situada nos arredores de Cairo, no

Egito. Sua construção data de aproximadamente 4.500 anos (Figura 2).

Figura 1 - Coliseu de Roma, em Roma, Itália. Fonte:

http://melhorespontosturisticos.com.br/ponto-turistico-em-roma-coliseu-de-roma-colosseum/

(Acessado em 02/02/2018)

Figura 2 - Pirâmides de Gizé, no Cairo, Egito. Fonte:

http://mundodeviagens.com/grande-piramide/ (Acessado em 02/02/2018)

MOHAMAD (2015) afirma ainda que a arquitetura dessas construções fazia com que a

estrutura trabalhasse basicamente à compressão, na qual os esforços horizontais provenientes

dos ventos eram absorvidos por meio de contrafortes e arcobotantes. Esse esquema estrutural é

mostrado na figura 3.

Page 20: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

7

Figura 3 - Esquema estrutural das construções em alvenarias de pedra. Fonte: Gihad

(2015)

Entre 1889 e 1891, foi construído o Edifício Monadnock em Chicago. Ele possuía 16

pavimentos totalizando 65 metros de altura e na época foi considerado uma obra ousada e

marcante. Suas paredes tinham aproximadamente 1,80 metros de espessura, o que tornava a

racionalização do processo executivo uma técnica praticamente impossível de ser aplicada,

fazendo com que o sistema se tornasse lento e de custo muito elevado. RAMALHO E CORRÊA

(2003) acreditam que, caso edifício fosse dimensionado nos dias atuais, com os mesmos

materiais utilizados à época, a espessura das suas paredes seria inferior a 30 cm. A figura 4

mostra a fachada do edifício.

Figura 4 - Edifício Monadnock, em Chicago, EUA. Fonte: https://bohatala.com/case-

study-of-the-monadnock-building-in-chicago/ (Acessado em 21/02/2018)

Page 21: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

8

À essa época, portanto, o conhecimento e as pesquisas na área eram praticamente

inexistentes, além da total falta de conhecimento da racionalização. Assim, não se conseguia

garantir a segurança estrutural apenas com o conhecimento de teorias empíricas, forçando a se

projetar de forma superdimensionada.

A falta de conhecimento perdurou por muitos anos, até o momento em que as

necessidades foram se multiplicando e as pessoas passaram a tratar a alvenaria como um

verdadeiro sistema de engenharia, passando então a criar teorias científicas e sair do campo do

empirismo. Houve aperfeiçoamento e atualização dos centros de pesquisa podendo assim levar

o que se tem de melhor para os canteiros de obra.

ACCETTI (1998) diz que apenas no início do século que estamos, por volta do ano de

1920, que a alvenaria estrutural passou a ser estudada com base em princípios científicos e

experimentação laboratorial.

Conforme CAMACHO (2006), a primeira norma para cálculo de alvenaria de tijolos foi

publicada em 1948 na Inglaterra. Ele diz também que na década de 50 foram construídos vários

edifícios relativamente altos e que no ano de 1951, na Suíça, o primeiro prédio em alvenaria

não estrutural foi erguido com 13 pavimentos e 41 metros de altura. Esse edifício possuía

paredes internas de 15 cm de espessura e as paredes externas possuíam 37,5 cm (ACCETTI,

1998). Para GIHAD (2015), o projeto dessa construção foi baseado em dados experimentais

coletados por Paul Haller, que deu início à “Moderna Alvenaria Estrutural”, com testes

realizados em mais de 1600 paredes de tijolos. Segundo o autor, esses testes foram realizados

devido à escassez de concreto e aço proporcionada pela Segunda Guerra Mundial.

A história continuou sendo feita durante as duas décadas seguintes. CAMACHO (2006)

ainda cita que em 1966 foi editado o primeiro código americano de Alvenaria Estrutural

Page 22: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

9

(Recommended Building Code Requirements for Engineered Brick Masonry). Já em 1978, uma

nova normal inglesa (BS-5628) que trabalha com método semiprobabilístico é editada e o

critério das tensões admissíveis é abandonado, passando a utilizar o critério de

dimensionamento no estado limite último.

Com o passar dos anos até os dias atuais, o avanço do conhecimento técnico-científico

a respeito do comportamento das estruturas das construções e do elemento de parede

propriamente dito, proporcionou um aprimoramento na tecnologia de construção dos materiais

fazendo surgir unidades que tornam o sistema de alvenaria estrutural eficiente tanto na rapidez

da sua produção quanto na capacidade de suporte de cargas (MOHAMAD, 2015).

No Brasil, o marco inicial do uso de blocos de concreto em alvenaria estrutural armada

(aquela que leva vergalhões de aço e grauteamento em sua constituição) foi em São Paulo, no

Conjunto Habitacional “Central Parque da Lapa”, no ano de 1966. Segundo MOHAMAD

(2015), foram construídos inicialmente prédios com 4 pavimentos com paredes de espessura de

19 cm. Esse edifício é mostrado na figura 5. Mais tarde, em 1972, no mesmo empreendimento,

quatro edifícios de 12 andares foram construídos também em alvenaria armada.

Figura 5 - Conjunto Habitacional “Central Parque da Lapa”, 1966. Fonte:

http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/banco-obras/1/alvenaria-estrutural. (Acessado

em 21/02/2018)

Page 23: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

10

Figura 6 – Conjunto Habitacional “Central Parque da Lapa”, 1972. Fonte:

http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/banco-obras/1/alvenaria-estrutural (Acessado

em 02/02/2018)

A partir da década de 90 que sua utilização foi difundida pelo país, num momento em

que várias construtoras passaram a adotar esse sistema estrutural.

COSTA (2010) afirma que a consolidação do sistema no Brasil se deu quando as dúvidas

em relação à segurança estrutural dos blocos foram diminuídas de forma drástica, a partir do

momento que a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABPC) passou a qualificar e

certificar os produtores de blocos estruturais de concreto com seu selo de qualidade.

2.2 Informações Elementares Acerca da Alvenaria Estrutural

Segundo FARIA (2017) alvenaria estrutural é um processo construtivo que emprega

blocos vazados na construção de paredes que em sua maioria desempenham função estrutural,

substituindo as funções das vigas e pilares de uma estrutura convencional reticulada, além da

função de vedação.

A estruturas convencionais em concreto armado são compostas por pilares, vigas e lajes

e modeladas a partir de barras verticais e horizontais. Já o modelo estrutural da alvenaria

Page 24: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

11

estrutural é composto por chapas carregadas linearmente e RAMALHO E CORRÊA (2003)

definem que a transmissão de ações através de tensões de compressão é o principal conceito

estrutural vinculado ao uso da alvenaria estrutural.

É extremamente recomendável que nesse caso haja a execução de um projeto bem

detalhado e compatibilizado com os outros tipos de projeto para que futuramente não existam

mudanças que possam abalar a segurança estrutural da edificação.

2.2.1 Definições

Algumas definições são essenciais para o bom entendimento do desenvolvimento do

trabalho. Para PARSEKIAN (2013), alvenaria estrutural não armada é o elemento de alvenaria

no qual a armadura é desconsiderada para resistir aos esforços solicitantes. Normalmente é

utilizada em edificações de pequeno porte, tais como edifícios de até oito pavimentos com

tipologia adequada. Nesse caso, o aço tem apenas função construtiva, não sendo considerado

nos cálculos e os esforços de tração gerados na estrutura são resistidos pela alvenaria. O aço se

encontra nas vergas e contravergas de janelas e também reforçando outras aberturas, além de

evitar que futuras patologias ocorram, tais como fissuras e trincas.

De acordo com a NBR 15961-1 (Alvenaria Estrutural – Blocos de Concreto. Parte 1 –

Projeto), elemento de alvenaria armada são aqueles no qual são usadas armaduras passivas que

são consideradas para resistir aos esforços solicitantes de tração. Os esforços de tração na

estrutura são gerados por cargas horizontais como as resultantes da ação do vento e desaprumo.

Quando esses esforços são superiores aos resistidos pela alvenaria, se faz necessário o uso de

armaduras verticais (geralmente uma barra por furo). A figura 7 traz uma ilustração de alvenaria

armada.

Page 25: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

12

Figura 7 - Alvenaria armada. Fonte: http://www.tectonica-

online.com/products/1726/block_concrete_brick_hidro/ (Acessado em 02/02/2018)

A mesma norma citada acima define área bruta sendo a área de um componente ou

elemento considerando-se as suas dimensões externas, desprezando-se a existência dos

vazados.

Ainda citando essa norma, ela afirma que área líquida é a área de um componente ou

elemento, com desconto das áreas dos vazados. A figura 8 explica a diferença entre área bruta

e área líquida.

Figura 8 - Diferença entre área bruta e área líquida.

Page 26: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

13

Fonte: TAUIL E NESE (2010)

Essa norma ainda cita área efetiva sendo a parte líquida de um componente ou elemento,

sobre a qual efetivamente é disposta a argamassa.

O prisma é definido como o corpo de prova obtido pela superposição de blocos unidos

por junta de argamassa, grauteados ou não. Esse prisma é destinado ao ensaio de compressão

axial e é um elemento que representa a parede.

Um importante conceito a se destacar é a parede hidráulica. Na alvenaria estrutural nem

todas as paredes são necessariamente parte da estrutura. Algumas delas, além da função de

vedação, tem também o papel de parede hidráulica (será exemplificado no projeto), ou seja,

toda a instalação hidráulica é embutida na parede, inclusive o esgoto, tornando a execução

simples, rápida e prática. Num sistema de alvenaria estrutural isso é importante ao passo de

que, caso as instalações fossem embutidas nos furos do bloco estrutural e mais tarde

necessitassem de reparo, o bloco deveria ser quebrado, condenando a segurança estrutural.

2.3 Componentes de Alvenaria Estrutural

Nesse assunto se faz necessário destacar dois importantes conceitos: componente e

elemento de uma alvenaria estrutural. “Entende-se por um componente de alvenaria uma

entidade básica, ou seja, algo que compõe os elementos que, por sua vez, comporão a estrutura”

(RAMALHO E CORRÊA, 2003).

Os principais componentes empregados na execução de um edifício em alvenaria

estrutural são: blocos, argamassa, graute e armadura, sendo estas construtivas ou de cálculo.

Quando pelo menos dois componentes se unem, chamamos de elementos. Os elementos são

uma parte suficientemente elaborada da estrutura. São eles: paredes, pilares, cintas, vergas, etc.

Page 27: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

14

Os componentes básicos, que são formados pelos principais componentes, devem

possuir caraterísticas mínimas de desempenho e seguirem especificações de norma para que

possam exercer os requisitos requeridos

2.3.1 Blocos

São os componentes mais importantes da alvenaria estrutural, já que “os blocos, como

componentes básicos da alvenaria estrutural, são os principais responsáveis pela definição das

características resistentes da estrutura” (RAMALHO E CORRÊA, 2003). Segundo

CAMACHO (2006), eles comandam a resistência à compressão e determinam os

procedimentos para aplicação da técnica da coordenação modular nos projetos. O conceito de

coordenação modular será discutido posteriormente.

Segundo a norma brasileira NBR 6136 – 2016 “Blocos Vazados de Concreto Simples

para Alvenaria – Requisitos”, família de blocos é o conjunto de componentes de alvenaria que

interagem modularmente entre si e com outros elementos construtivos. Os blocos que compõe

a família, segundo suas dimensões, são designados como bloco inteiro (bloco predominante),

meio bloco, blocos de amarração L e T (blocos para encontro de paredes) e blocos

compensadores e blocos tipo canaleta.

Page 28: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

15

Figura 9 - Família de blocos 14x39

Fonte: TAUIL E NESE (2010)

Figura 10 - Família de blocos 14x29

Fonte: TAUIL E NESE (2010)

No Brasil, os blocos mais utilizados são os de concreto e cerâmicos.

Page 29: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

16

2.3.1.1 Blocos de Concreto

Ainda segundo a norma brasileira NBR 6136 – 2016, bloco vazado de concreto simples

é o componente para execução de alvenaria, com ou sem função estrutural, vazado nas faces

superior e inferior, cuja área líquida (área média da seção perpendicular aos eixos dos furos,

descontadas as áreas médias dos vazios) é igual ou inferior a 75% da área bruta (área da seção

perpendicular aos eixos dos furos, sem desconto das áreas dos vazios). São em concreto

simples, confeccionados com cimento Portland, água e agregados minerais, com ou sem

inclusão de outros materiais. Um exemplo de bloco de concreto é mostrado na figura 11.

Figura 11 - Bloco de concreto. Fonte: https://www.leroymerlin.com.br/bloco-de-

concreto-estrutural-vazado-19x14x39cm-blojaf_87707571 (Acessado em 23/02/2018)

Essa norma estabelece uma classificação dos blocos de concreto quanto ao seu uso. São

elas:

• Classe A: blocos com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria

acima ou abaixo do nível do solo;

• Classe B: com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do

solo;

• Classe C: com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do

solo (recomenda-se o uso de blocos com função estrutural Classe C, designados

M10, para edificações de, no máximo, um pavimento; os designados M12,5 para

Page 30: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

17

edificações de, no máximo, dois pavimentos; os designados M15 e M20 para

edificações maiores);

A tabela 1 mostra as dimensões reais dos blocos vazados de concreto, modulares e sub-

modulares.

Tabela 1 – Dimensões reais

Fonte: TAUIL E NESE (2010)

Nessa norma prevê-se que as tolerâncias permitidas nas dimensões dos blocos indicados

na tabela 1 são de ± 2,0 mm para largura e ± 3,0 mm para a altura e comprimento.

Podemos citar ainda que a norma NBR 6136 – 2016 define os limites de resistência

mínima à compressão por classe, mostradas na tabela 2.

Page 31: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

18

Tabela 2 – Requisitos para resistência característica à compressão

Fonte: NBR 6136 (2016)

2.3.1.2 Blocos Cerâmicos

Já segundo a norma NBR 15961-2 – 2011 “Alvenaria Estrutural – Blocos de Concreto

– Parte 2: Execução”, bloco cerâmico estrutural é o componente da alvenaria estrutural que

possui furos prismáticos perpendiculares às faces que os contém. Esses blocos cerâmicos se

classificam em quatro grupos, exibidos na figura 12.

Figura 12- Classificação dos blocos cerâmicos

Fonte: NBR 15270-2 (ABNT, 2005)

Page 32: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

19

A tabela 3 traz as dimensões de fabricação do bloco de cerâmica.

Tabela 3 - Dimensões dos blocos cerâmicos estruturais

Fonte: NBR 15270-2 (ABNT, 2005)

Uma grande vantagem de se adotar blocos cerâmicos é que seu peso é quase 40% menor

do que os blocos de concreto, representando um alívio de carga na fundação e um menor

desgaste da mão de obra, aumentando a produtividade e, portanto, deixando a obra mais barata.

2.3.2 Argamassa de Assentamento

Conforme CAMPOS (1993), argamassa é o componente utilizado na união dos blocos,

sendo responsável pela monoliticidade da alvenaria, pois transmite esforços entre os blocos.

Ela solidariza, transmite e uniformiza as tensões entre as unidades de alvenaria, além de

Page 33: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

20

absorver pequenas deformações, evitando pontos de concentração de tensões. Além disso

também tem a função de garantir a vedação das juntas contra a entrada de umidade nas

edificações.

2.3.3 Graute

O graute é um micro-concreto (concreto com agregados de pequena dimensão) de alta

fluidez, empregado na produção de elementos que trabalham à flexão com as vergas,

contravergas e vigas, nas cintas (cuja função é uniformizar o carregamento oriundo das reações

das lajes transmitindo-os para as paredes) e aumentar a resistência a compressão de uma parede.

Tem a função também de proteger as armaduras empregadas nas paredes, envolvendo-as

completamente, de modo a formar um conjunto único entre bloco, armadura e graute. A

resistência do graute deve ser no mínimo a mesma do bloco em relação à área líquida.

FARIA (2017) afirma que para blocos de absorção moderada e espaços a serem

grauteados relativamente maiores, um slump de 20 cm é adequado e para blocos de alta

absorção e quando a área da seção a ser grauteado é muito pequena, um slump de 25 cm é mais

adequado. A figura 13 mostra a diferença entre os furos.

Figura 13 - Diferença do tamanho dos furos dos blocos cerâmico e de concreto. Fonte:

https://ceramicasantaclara.files.wordpress.com/2014/07/ceramico-e-concreto.jpg (Acessado

em 23/02/2018)

Page 34: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

21

Fica evidente pela figura que o espaço a ser grauteado do bloco de concreto é maior do

que o do bloco cerâmico. Portanto, é necessário um slump maior do graute que é utilizado em

blocos cerâmicos.

2.3.4 Armadura

São as mesmas utilizadas em construções de concreto armado e serão sempre envoltas

por graute, com a função de combater os esforços de tração. Além disso, são também utilizadas

em vergas e contra-vergas, elementos onde sempre haverá a necessidade de armadura

longitudinal.

2.4 Vantagens e Limitações do Sistema

O uso cada vez mais contínuo da alvenaria estrutural em substituição ao sistema

tradicional de concreto armado no Brasil se dá pelas inúmeras vantagens que esse sistema traz.

MOHAMAD (2015) cita que uma das principais vantagens do uso da alvenaria

estrutural é a economia que ela traz. Esse fato se deu em consequência do aprimoramento das

atividades na obra por meio de técnicas executivas simplificadas e o fácil controle das etapas

de produção. ARAÚJO (1995) afirma que a economia gerada por uma obra executada em

alvenaria estrutural pode chegar até 30% em edifícios sem pilotis. Já os que possuem pilotis,

essa redução é da ordem de 10%, já que existe uma estrutura em concreto armado (pilares e

vigas de transição).

O que acontece em certas obras é que o projeto executivo de alvenaria não é

compatibilizado com os outros projetos, acarretando em muitas alterações no decorrer da obra,

além da quebra de blocos para novas adaptações. Isso, além de abalar a estrutura, trazendo

insegurança para os usuários, também gera uma quantidade grande de entulho, o que vai contra

Page 35: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

22

os princípios da alvenaria estrutural: uma obra limpa, sem quebras e baixíssima geração de

resíduos.

Nas estruturas de concreto armado existe um alto gasto de madeira para formas e

escoramento das peças estruturais além da grande quantidade de aço utilizada. A escolha da

alvenaria estrutural traz otimização da mão de obra: a redução de formas implica na redução da

mão de obra de profissionais carpinteiros. Além disso, os armadores também não se fazem

necessários considerando que a maioria das barras de aço são retas e colocadas pelo próprio

pedreiro. ROMAN et al. (1999) afirmam que a economia se dá “... também devido à economia

no uso de madeiras para formas, redução no uso de concreto e ferragem, menores espessuras

de revestimentos, maior rapidez na execução.”.

A competência que a alvenaria tem de suportar cargas e resistir às suas tensões, além de

servir como um divisor de ambientes representa uma vantagem básica dela, segundo RIZZATTI

(2003). Entretanto, para RAMALHO E CORREA (2003), a segurança da edificação deve ser

garantida com o perfeito controle da resistência dos blocos, levando ao uso de materiais mais

caros e uma execução bem-feita, tornando o custo de produção mais alto que da alvenaria de

vedação.

CAMPOS (1993) cita uma lista de vantagens que resultam no encurtamento do prazo

da obra, e a seguir são apresentadas algumas delas:

• Devido à regularidade dos blocos, a espessura de revestimento é bem fina,

necessitando apenas de duas camadas, o chapisco e o reboco, resultando também

numa economia financeira;

• Ao mesmo tempo que a alvenaria sobe, as instalações vão sendo executadas, ou seja,

estrutura e instalações trabalham simultaneamente;

Page 36: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

23

• A coordenação modular proporciona uma padronização, facilitando a mão de obra

e fazendo com que ela assimile a tarefa numa velocidade maior, aumentando a

produtividade.

A Tabela 4 apresenta uma comparação entre o sistema de alvenaria estrutural e de

concreto armado, mostrando a economia trazida com a utilização do primeiro sistema

construtivo.

Tabela 4- Comparação de economia entre alvenaria estrutural e concreto armado

Fonte: GIHAD, 2015.

FRANCO (1992) apud ARAÚJO (1995) diz que “a facilidade com que se implanta a

coordenação modular nos edifícios em alvenaria estrutural é um dos principais motivos que

tornam o processo favorável à implantação de medidas de racionalização”.

O que se pode notar ao analisar as vantagens é que seu principal motivo é a racionalidade

que pode ser incrementada no sistema construtivo em alvenaria estrutural.

Além disso, ARAÚJO (1995) cita como vantagem a organização do canteiro de obra

devido à pouca variedade de materiais e do sistema permitir que se trabalhe num ambiente de

trabalho limpo. O próprio autor destaca também que melhores condições de treinamento e

acompanhamento dos serviços são possibilitados pela pouca diversidade da mão de obra.

Page 37: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

24

Foi visto que a alvenaria pode trazer diversos benefícios para o projeto e ser um fator

decisivo de viabilidade do empreendimento. Mas deve-se ter em mente também que ela tem

desvantagens em relação às estruturas convencionais de concreto armado, podendo muitas

vezes não atender ao projeto estrutural e ter que ser descartada.

As limitações começam quando falamos de futuras reformas. RAMALHO E CORRÊA

(2003) ressaltam a impossibilidade de se executar alterações na disposição arquitetônica

original devido ao fato de que as paredes fazem parte da estrutura, e caso retiradas,

comprometeriam a segurança estrutural da construção. Com essa impossibilidade, muitos

empreendimentos teriam suas vendas afetadas (normalmente empreendimentos de alto padrão),

tornando o negócio inviável. ROMAN et al.(199) dizem que uma alternativa à dificuldade de

remoção das paredes seria já no projeto estrutural definir algumas paredes que no futuro

poderiam ser removidas. Eles afirmam também que projetos mais arrojados, com muitos

detalhes e grandes vãos acabam encarecendo a obra, não tornando a obra viável.

O projeto, se pouco ou mal detalhado, gerará problemas futuros na obra, pois decisões terão

que ser tomadas no canteiro de obra, aumentando as improvisações e o custo da obra.

ARAÚJO (1995) apresenta outras desvantagens desse sistema estrutural, como por exemplo

o número de pavimentos a serem alcançados, sendo o seu limite máximo bem menor do que

estruturas em concreto armado (ou protendido) e a necessidade de transição para estruturas em

pilotis.

CAMACHO (2006) e RAMALHO E CORRÊA (2003) destacam a dificuldade de se adaptar

a arquitetura para um novo uso já que ao longo da vida útil dos edifícios, há uma tendência da

arquitetura mudar para atender às novas necessidades dos usuários. Mas devido à

impossibilidade da retirada das paredes, essas adaptações também não podem ocorrer.

Page 38: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

25

3 PROCESSO DE PRODUÇÃO DA ALVENARIA

ESTRUTURAL

3.1 O Valor de Um Projeto

Segundo a PMBOK, “um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um

produto, serviço ou resultado exclusivo. Os projetos e as operações diferem, principalmente, no

fato de que os projetos são temporários e exclusivos, enquanto as operações são contínuas e

repetitivas.”

TAUIL E NESE (2010) adaptaram a definição de projeto acima para um projeto em

alvenaria estrutural como:

Projeto é um esforço temporário empreendido a partir da coleta de informações

provenientes do cliente, que serão interpretadas, analisadas, discutidas, conceituadas

e enquadradas legal e tecnicamente por uma equipe de profissionais, por uma equipe

técnica, gerando um resultado exclusivo para a criação de uma edificação em

alvenaria estrutural.

A ideia de exclusividade e singularidade em projetos é uma importante característica já

que cada empreendimento é único e ímpar, apesar de muitas similaridades existentes entre eles.

Em todos os tipos de sistema construtivos, após a análise de viabilidade inicial do

negócio, inicia-se a fase de projetos. Essa etapa é essencial para que o empreendimento tenha

qualidade, trabalhando com rapidez e economia, podendo prever a maioria dos imprevistos que

poderiam ocorrer no meio da construção, tendo em sua concepção todos os detalhes e

especificações dos itens trabalhados.

Embora a sua importância seja unanimidade entre os que fazem parte do meio da

construção civil, na maioria das vezes a qualidade dos projetos é uma grande barreira para o

Page 39: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

26

sucesso do empreendimento no Brasil pois essa etapa é bastante depreciada. Obras se iniciam

sem todos os projetos concluídos ou sem que todos eles tenham sido compatibilizados, ficando

evidente sua importância quando imprevistos que poderiam ser antevistos começam a surgir na

hora da execução, onde o recurso utilizado é a improvisação das soluções formuladas em

projeto.

Pode-se verificar no Brasil que os projetos são, em grande, confeccionados apenas por

exigências legais para que a obra possa ser iniciada e sem que os detalhes construtivos sejam

realmente discutidos.

Na figura 14 podemos constatar quão importante é a fase de projeto em relação ao custo

do empreendimento. A qualidade da concepção do projeto influencia diretamente na economia,

portanto um bom projeto requer um bom planejamento orçamentário.

Figura 14 - Capacidade de influenciar os custos do empreendimento

Fonte: Construction Industry Institute (1987)

Page 40: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

27

GREGÓRIO (2010) afirma então que a qualidade do produto final fica comprometida

já que muitas das decisões são tomadas num momento em que a obra já foi iniciada. O que era

para ser, portanto, uma das fases mais longas e mais importantes do processo, acaba sendo algo

feito às pressas e sem o cuidado e preocupação que realmente deveria se ter.

O projeto estrutural da alvenaria estrutural, como todos os outros tipos de estrutura,

necessita atender todas as normas de segurança ao usuário e precisa também que seja

compatível com a arquitetura em questão. Além disso, os estados limites de utilização devem

estar de acordo com as normas para que o usuário não tenha nenhum tipo de desconforto com

a utilização da estrutura.

3.2 A compatibilização de projetos

O primeiro projeto de uma edificação é o de arquitetura, servindo como base para os

projetos complementares, que podem ser divididos em dois grupos principais: instalação predial

(elétrica, hidráulica, esgoto, entre outros) e o projeto estrutural.

Para KALIL E LEGGERINI (s.d.) um dos fatores mais importantes que afetam

diretamente a qualidade de um projeto concebido em alvenaria estrutural é a necessidade de

haver compatibilização entre todos os projetos da edificação.

O conceito de compatibilizar projetos surge no momento em que um começa a

influenciar na construção e funcionalidade de outro. Pode-se avaliar a intervenção de dois

sistemas ao sobrepor o projeto arquitetônico aos projetos complementares. Faz-se necessário

então um estudo para que um não interfira na existência do outro, e sim que coexistam

harmonicamente na edificação e para que essas interferências não sejam detectadas na fase de

Page 41: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

28

construção, o que geraria uma série de improvisos, soluções não muito boas e gastos ainda

maiores.

É importante que os projetistas dos diferentes projetos conversem entre si e evitem um

retrabalho ou até mesmo um projeto que não funcionará no futuro. Uma condição necessária

para que haja melhoria do desempenho dos projetos é uma maior integração entre membros que

participam desses projetos. Para FRANCO E AGOPYAN (1993), não se consegue garantir a

qualidade do projeto como um todo quando os projetos, apesar de um alto nível, são tomados

isoladamente.

MELO (2006) acredita que aliando a atuação em conjunto dos responsáveis pelo

processo projetual com a execução concomitante das diversas etapas de um projeto, por meio

de um grupo multidisciplinar, muitos desses problemas de interferência podem ser

minimizados.

No caso da alvenaria estrutural, compatibilizar se torna ainda mais necessário devido à

sua dupla função (vedação e estrutura). Como não são admitidos rasgos na parede (ou são

permitidos pequenos rasgos) e a remoção de paredes também não é permitida, os sistemas e

subsistemas de uma edificação devem estar totalmente integrados para que não haja nenhuma

necessidade de quebra da parede, o que ocasionaria numa condenação da estrutura, afetando a

segurança.

3.3 Coordenação Modular

De acordo com a NBR 5706 (ABNT, 1977), “coordenação modular é a técnica que

permite relacionar as medidas de projeto por meio de um reticulado espacial modular de

Page 42: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

29

referência” e que o conceito de módulo é “a distância entre dois planos consecutivos do sistema

que origina o reticulado espacial modular de referência”.

A princípio pode parecer que a ideia de utilizar esse reticulado pode tornar o projeto

bem inflexível. Mas TAUIL E NESSE (2010) afirmam que, muito pelo contrário disso, projetar

dessa maneira permite que haja uma perfeita organização e compatibilização dos elementos

construtivos e à medida que diminuímos o módulo do reticulado, essa flexibilidade aumenta.

Figura 15 - Quadrícula modular - 1M / 2M / 3M

Fonte: TAUIL E NESSE (2010)

Deve-se atentar para não confundir a coordenação modular com a coordenação

dimensional (ou modulação da alvenaria). A coordenação dimensional utiliza como base as

dimensões das unidades de alvenaria, ou seja, as famílias de blocos são utilizadas para

“completar” os módulos do reticulado de referência. ANDRADE (2000) apud ZECHMEISTER

(2005) explica que a coordenação dimensional pode ser entendida como “o emprego de padrões

de dimensão com o objetivo de criar boas relações de escala e proporção entre partes da

edificação”. ROMAN et al. (1999) afirmam então que a coordenação modular só pode ser

alcançada se as unidades de alvenaria forem padronizadas. Além disso, para este mesmo autor,

o trabalho do arquiteto desde o início deve ser pautado sobre uma malha modular.

Page 43: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

30

A racionalidade é inversamente proporcional à qualidade da modulação da alvenaria, ou

seja, quanto melhor esse trabalho for feito, menor vai ser o desperdício e menor o custo da obra

em questão. Conforme RAMALHO E CORRÊA (2003), as unidades escolhidas pela equipe do

projeto serão determinantes para acertar as extensões em planta e assim chegar a uma

modulação para um arranjo arquitetônico, de maneira a não precisar realizar cortes ou quebras

na execução da alvenaria. Os mesmos autores também constatam que a produtividade é

aumentada em 10% quando utilizada a coordenação modular.

GREGÓRIO (2010) confirma a ideia acima exposta dizendo que a diminuição das

perdas materiais advindas da quebra e corte de blocos e o aumento da produtividade são as

principais vantagens da adoção da coordenação modular

Pode-se afirmar então que a modulação proporciona uma sucessão de vantagens,

permitindo a racionalização de vários procedimentos, ou seja, o conceito de sistema

racionalizado só se aplicará caso as alvenarias sejam moduladas de acordo com as medidas

disponíveis de blocos.

3.4 Racionalização Construtiva

O conceito de racionalização construtiva consiste em projetar, pensar e executar com

economia, funcionalidade e qualidade.

Na alvenaria estrutural, esse conceito começa a ser colocado em prática no momento

em que a alvenaria realiza a função tanto de vedação quanto de estrutura. No sistema estrutural

convencional, estrutura e vedação andam separados, o que torna a alvenaria estrutural bem

racional nesse sentido.

Page 44: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

31

A racionalidade da mão de obra é um fator importante nesse sistema estrutural, já que

os profissionais de armação podem ser muito reduzidos, a partir do momento que o próprio

pedreiro que assenta os blocos coloca a ferragem dos blocos. No caso, a mão de obra dos

armadores seria para as lajes e peças estruturais como caixa d’água e cisterna, por exemplo.

A utilização de blocos modulados, sem a necessidade de quebras, garante uma obra

limpa e mais segura para os usuários. Nesse sentido também se aplica a racionalização, pois

quanto menos desperdício e entulho na obra, menos gasto com a sua retirada, e maior eficiência

da estrutura.

Percebe-se, portanto, que esse conceito é imprescindível para que a alvenaria estrutural

se torne uma alternativa viável. Caso não haja uma etapa de projeto bem planejada, com o

tempo realmente necessário para que se pense em todos os problemas futuros, gastos surgirão

no meio da execução da obra, onerando a obra, atrasando cronograma, causando prejuízos

irreversíveis e causando uma péssima relação com o cliente.

3.5 Erros Executivos

O desempenho e resistência da alvenaria são decididos na etapa de projeto. Mas para

assegurar que esses itens sejam realmente colocados em prática, vários cuidados devem ser

tomados na obra.

É imprescindível que as especificações e tolerâncias nos processos executivos sejam

respeitados para que o comportamento das alvenarias atenda ao modelo considerado na

elaboração do projeto.

Page 45: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

32

Apesar de todos os cuidados tomados, um número considerável de falhas pode ser

notado em uma obra de alvenaria estrutural, colocando em risco toda a qualidade do processo,

além de colocarem em cheque toda a economia que esse sistema traz.

A seguir serão expostas algumas das principais falhas encontradas nas obras.

3.5.1 Desaprumo

Parede desaprumada é aquela que cresce com um pequeno ângulo de desvio em relação

à vertical. Para evitar esse problema, o pedreiro deve estar munido de ferramentas básicas e

essenciais para a construção, como linha, nível, prumo e esquadro.

Conforme a norma NBR 15812-2 (2010), o desaprumo das paredes no pavimento, além

do desalinhamento em pavimentos consecutivos, não podem superar 13 mm e também devem

atender os limites de 5 mm a cada 3 m e 10 mm a cada 6 m. A figura 16 mostra bem essa

situação.

Figura 16 - Limite máximo para o desaprumo

Fonte: NBR 15812-2 (2010)

Page 46: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

33

CAMACHO (2006) afirma que as paredes construídas de maneira errada, desaprumadas

ou desalinhadas, produzem cargas excêntricas não previstas em projetos, acabando numa

redução da resistência da mesma. Segundo ROMAN et al. (1999), há um enfraquecimento entre

13 e 15% da parede se ela tiver um defeito de 12 a 20 mm.

3.5.2 Espessura e Preenchimento das Juntas

A norma NBR 15812-2 (2010) especifica os valores de espessura mínima e máxima

tanto para juntas verticais como horizontais.

Para a junta horizontal da primeira fiada, o valor mínimo é de 5 mm e o máximo não

deve ultrapassar 20 mm, podendo chegar a 30 mm em trechos de paredes com comprimentos

inferiores a 50 cm. Caso esses valores máximos tenham que ser ultrapassados, o procedimento

é fazer um nivelamento com concreto de mesma resistência da laje.

Para as demais juntas, tanto verticais quanto horizontais, a espessura deve ser de 10 mm,

com variação máxima de ± 3 mm.

Figura 17 - Variações máximas da espessura das juntas de argamassa.

Fonte: NBR 15812-2 (2010)

Page 47: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

34

ROMAN et al. (1999) diz que, caso as juntas não sejam completamente preenchidas, a

resistência da alvenaria pode ser reduzida em até 33% e que o não preenchimento das juntas

verticais, apesar de causar pouco efeito na resistência à compressão, afeta a resistência à flexão

e ao cisalhamento da parede.

3.5.3 Deficiência no Grauteamento

Como dito anteriormente, o grauteamento de certos furos dos blocos tem a finalidade

de aumentar a resistência da parede naquele ponto. Esses pontos são definidos em projeto e sua

execução deve ser fiscalizada para que não comprometa a segurança estrutural da edificação.

Normalmente o que é realizado em campo são recortes no bloco da primeira fiada

referente à posição que receberá o graute, que funcionará como uma janela de inspeção. Os

profissionais devem lavar e limpar o furo para posteriormente fazer o seu preenchimento com

o graute. Um outro procedimento (que nesse caso seria extra) é um profissional fazer furos com

uma furadeira em diversas alturas para que se verifique a qualidade do preenchimento.

Figura 18 - Detalhe de recortes para conferência do grauteamento.

Fonte: http://construcaomercado17.pini.com.br/negocios-incorporacao-

construcao/158/execucao-de-alvenaria-estrutural-blocos-devem-chegar-paletizados-e-326581-

1.aspx. Autor: Daniel Beneventi. (Acessado em 25/02/2018)

Page 48: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

35

O grauteamento incorreto ou a sua ausência causará, portanto, uma deficiência na

estrutura, pois aquele ponto, considerado com resistência reforçada em projeto, encontra-se

com resistência normal, podendo a alvenaria trincar e em casos mais extremos a probabilidade

é de colapso dessa parede. Cabe ao projetista estrutural decidir quais medidas devem ser

adotadas para solucionar o problema.

3.6 Propriedades Mecânicas

A resistência de uma alvenaria depende de uma série de fatores, já que sua composição

é a união de vários componentes. Dentre esses fatores, pode-se destacar principalmente as

características mecânicas dos materiais utilizados para a produção dessa alvenaria.

A resistência à compressão da alvenaria é definida, dentre várias condições,

especialmente pela resistência à compressão dos blocos, pela resistência à compressão da

argamassa, pela espessura da argamassa e qualidade da mão de obra. FARIA (2017) afirma que

a resistência à compressão do componente bloco é predominantemente responsável pela

resistência à compressão da parede, mas a resistência à compressão da parede não é igual à

resistência à compressão do bloco. Portanto há uma relação.

O ideal seria ensaiar uma parede em escala real, porém não é um procedimento de fácil

realização e tem um custo elevado. O ensaio de prisma é, então, o melhor custo benefício para

o cálculo da resistência à compressão da parede. Segundo KALIL E LEGGERINI (s.d.), os

resultados dos ensaios mostram que a resistência à compressão dos prismas é menor do que a

resistência à compressão dos blocos, porém é maior que a resistência à compressão da

argamassa. O ensaio de prismas é regulamentado pela norma NBR 8215 – “Prismas de blocos

vazados de concreto simples para a alvenaria estrutural – preparo e ensaio à compressão”.

Page 49: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

36

FARIA (2017) assegura também que a resistência à compressão do componente

argamassa tem uma baixa influência na resistência à compressão da parede.

Predominantemente o papel da argamassa na junta é manter os blocos unidos e absorver

deformações e tensões, garantindo a integridade da parede frente a essas solicitações.

Na interação da argamassa com o bloco as tensões que se desenvolvem nas interfaces

entre esses dois componentes são sempre contrárias (ação e reação). As restrições aos

deslocamentos nas duas direções ortogonais, no plano de assentamento que o componente

argamassa fica submetida, sob ações normais e tangenciais, geram no componente bloco

tensões de tração nessas mesmas direções. KALIL E LEGGERINI (s.d.) explicam essas reações

devido ao fato de que a argamassa é mais deformável que o elemento bloco, portanto a tendência

é que ela se deforme transversalmente mais que a unidade de alvenaria e já que esses elementos

estão unidos solidariamente, são forçados a se deformarem juntos e igualmente nas interfaces,

causando esforços de compressão transversal na base e no topo das juntas e esforços de tração

transversal de valores iguais, nas faces inferior e superior da alvenaria.

Figura 19 – Tensões no bloco e na junta de argamassa devido à aplicação de carga de

compressão axial

Fonte: SABBATINI (1984)

Page 50: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

37

KALIL E LEGGERINI (s.d.) concluem, portanto, que a resistência da alvenaria diminui

se a espessura da junta aumentar, já que há o aumento do esforço de tração transversal da

unidade de bloco. Além disso, concluem também que a resistência da alvenaria aumenta de

acordo com o aumento da altura da unidade de bloco pois quanto maior a altura da unidade,

mais ela se deforma transversalmente, gerando um menor valor de tensão transversal na

interface unidade/argamassa e também pelo fato de que a seção transversal resistente ao esforço

é maior. As mesmas autoras finalizam ainda dizendo que a resistência à compressão da

alvenaria aumenta de acordo com o aumento da resistência à compressão da unidade de bloco,

já que o valor da resistência à tração transversal também aumentou.

FARIA (2017) limita a resistência à compressão da argamassa a uma faixa entre 0,7 da

resistência característica à compressão do bloco referido a área bruta. A NBR 15961-1 (2011)

preconiza que o valor máximo da resistência à compressão deve ser limitada a 0,7 da resistência

característica à compressão do bloco, referido à área líquida.

Ao se especificar uma argamassa com resistência à compressão muito baixa em relação

à do bloco, teremos uma queda na resistência à compressão da parede. E o contrário, caso se

especifique uma argamassa com resistência à compressão muito alta em relação à do bloco, se

obterá uma alvenaria com baixa capacidade de acomodar deformações e tensões, e com

probabilidade de aparecimento de fissuras. Nesse último caso, a ruptura da alvenaria se dá por

esmagamento do componente bloco.

3.7 Norma de Desempenho – NBR 15575

Para VITTORINO (2017), as normas de desempenho representam os requisitos

qualitativos dos usuários em critérios objetivos e elas não substituem as normas prescritivas,

Page 51: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

38

que são aquelas que fixam tipo e qualidade de materiais, espessuras mínimas, etc., mas sim são

complementares a elas.

Essa norma é dividida em 6 partes, sendo elas: requisitos gerais, sistemas estruturais,

sistemas de pisos, sistemas de vedações internas e externas, sistemas de coberturas e sistemas

hidrossanitários. O presente trabalho tratará da Parte 4 da norma: Sistemas de Vedações

Verticais Internas e Externas (SVVIE).

A alvenaria desempenha funções tais como vedação, separação de ambientes,

proporcionam estanqueidade, isolamento térmico entre outros. Além disso, no caso de alvenaria

estrutural, ela também assume a função de estrutura da edificação.

Na parte 1 da NBR 15575, são apresentadas as exigências que necessitam ser atendidas

pela edificação. No nível de segurança, exige-se a segurança estrutural, contra incêndio e no

uso e na operação. No nível de habitabilidade, os fatores exigidos são de estanqueidade,

desempenho térmico, acústico e lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e

acessibilidade e conforto tátil e antropodinâmico. Finalmente, a nível de sustentabilidade, são

exigidos durabilidade, manutenibilidade e impacto ambiental.

3.7.1 Segurança Estrutural

Os requisitos especificados de segurança estrutural exigem que a estrutura não ruina ou

perca estabilidade, além de fornecer segurança aos usuários em momentos que a estrutura esteja

sob ação de choques, impactos e vibrações. Todos os componentes estruturais da edificação,

incluindo-se obras geotécnicas, devem ser estáveis e apresentar segurança estrutural.

Fissurações de vedação e acabamentos devem estar em níveis aceitáveis, e instalações devem

funcionar normalmente com as deformações de elementos estruturais.

Page 52: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

39

Como as paredes são elementos da estrutura e previamente planejadas e calculadas, os

requisitos estruturais, tensões e deformações e uma vida útil mínima de 50 anos são garantidos

pelas normas de cálculo estrutural referente à alvenaria estrutural.

3.7.2 Segurança Contra Incêndio

As edificações devem facilitar e possibilitar a saída de ocupantes da edificação e

segurança em situações de incêndio, assegurando que o socorro ao público também seja

acessível, com a entrada de equipamentos e recursos humanos.

Os revestimentos das paredes e os blocos são elementos fundamentais na estabilidade e

isolação térmica (para-chamas), pois as paredes e seus componentes devem impedir ou

dificultar que o fogo se alastre, além de não gerar fumaça em excesso, garantindo que as pessoas

possam escapar em casos de incêndio.

Como as alvenarias com blocos de concreto (revestidas com gesso ou argamassa à base

de cimento, ou sem revestimento) são materiais incombustíveis, elas ficam isentas de

comprovação de alguns requisitos tais como: dificultar a ocorrência da inflamação generalizada

e dificultar a propagação do incêndio. Para o requisito “dificultar a propagação do incêndio e

preservar a estabilidade estrutural da edificação”, devem ser seguidas as normas NBR 5628 –

“Componentes construtivos estruturais – Determinação da resistência ao fogo” e a norma NBR

10636 – “Paredes divisórias sem função estrutural – Determinação da resistência ao fogo”.

O Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (LEME), da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul (UFRGS) realizou ensaios baseados nas normas citadas acima em segmentos

de paredes de blocos de concreto com dimensões de 800x800x190 mm), compostos por blocos

inteiros e amarração de meio bloco, argamassa industrializada com juntas de 10 mm tanto na

Page 53: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

40

horizontal quanto na vertical, sem revestimento, 28 dias após o assentamento. Os blocos

ensaiados foram de variadas dimensões e resistência, a saber: 190x190x390 mm, com

resistência de 4 MPa; 140x190x390 mm, com resistência de 4 MPa; 140x190x390 mm, com

resistência de 9 MPa. Todos eles foram expostos a 900ºC durante um período de 4 horas. A

conclusão dos ensaios foi que o tempo de resistência do bloco, nas condições de ensaio

adotadas, era superior a 4 horas e que a sua estanqueidade a gases quentes foi satisfatória, pois

resistiu ao tempo total de ensaio sem permitir o vazamento de gases quentes.

3.7.3 Segurança no Uso e na Operação

Como já sabido, a alvenaria estrutural traz consigo uma grande desvantagem que é a

impossibilidade ou grandes restrições no que se diz respeito a remoção de paredes, o que

acarreta em dificuldade de mudança de layout dos ambientes internos.

Este item aborda a segurança no uso e na operação, ou seja, possíveis alterações no

layout por parte dos usuários devem ser previstas. Dentre essas alterações podemos destacar

mudanças nas instalações, cargas suspensas nas alvenarias e outras mudanças que possam

acarretar em um comprometimento da estrutura. Porém, o usuário nesse caso fica restrito à

alterações de remoção de paredes, já que comprometeria totalmente a segurança estrutural.

Essas informações pertinentes à segurança da alvenaria são passadas nos termos de recebimento

da edificação.

Para as instalações, é fornecido ao usuário um manual do usuário, no qual são

especificadas cotas de instalações hidrossanitárias, ficando por responsabilidade do usuário o

mal uso.

Page 54: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

41

3.7.4 Estanqueidade

A estrutura deve ser totalmente estanque, não permitindo, portanto, entrada de água de

chuva e entrada de umidade vinda do solo. O conjunto alvenaria-esquadria deve ser o mais

observado para esse requisito. As melhores técnicas e materiais devem ser utilizados para que

não infiltre água na interseção dos dois e para que não permita a ocorrência de manchas de

umidade nas paredes. Para isso, deve-se cumprir os requisitos da norma NBR 13749 –

Revestimento de paredes e tetos de argamassa inorgânicas e a NBR 7200 – Execução de

revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas.

Em relação à estanqueidade à água de chuva considerando-se a ação dos ventos, SILVA

(2014) afirma que as alvenarias de bloco de concreto que seguem a norma NBR 6136 tem

potencial para atender esse requisito. Além disso, deve cumprir também os requisitos das

normas citadas acima. As paredes sem revestimento devem ser protegidas através da aplicação

de resina impermeabilizante na face externa.

Deve-se atentar também para ambientes de área molháveis. A alvenaria não deve

permitir que a água do chão em contato com ela penetre em níveis estabelecidos por norma.

3.7.5 Desempenho Térmico

O desempenho térmico envolve diversas variáveis como a insolação, ventilação,

dimensão dos ambientes, condução de calor pelos materiais e da interação destas variáveis com

o ambiente construído, além de topografia e orientação da fachada.

O território brasileiro é dividido em 8 zonas bioclimáticas e o conforto térmico deve ser

atendido dentro dessas zonas, que são relativamente homogêneas quanto aos elementos

climáticos que interferem nas relações entre ambiente construído e conforto humano.

Page 55: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

42

Por norma, são utilizados dois métodos para a avaliação do desempenho térmico das

alvenarias externas: o procedimento simplificado e a simulação computacional. A avaliação

completa é efetuada por simulação computacional. No verão e no inverno, as condições internas

devem ser melhores ou iguais às do ambiente externo, num dia típico de verão e inverno.

O Manual de Desempenho de Alvenaria de Blocos de Concreto (2014) afirma que as

construções com SVVIE de blocos de concreto obtém uma classificação de desempenho

térmico Superior.

3.7.6 Desempenho Acústico

Envolve o comportamento do som no ambiente construído. A acústica torna-se vital,

porém, em edificações de uso específico, tais como salas de aula, auditórios, teatros, cinemas,

estúdios de gravação, etc.

Em edificações habitacionais, deve-se apresentar isolamento acústico adequado das

vedações externas referentes a ruídos advindos do exterior da edificação, além de isolamento

acústico entre as áreas comuns do edifício e das unidades privativas. Quanto mais barulhento o

exterior, maior será o requisito para as paredes.

Devem ser feitas avaliações nos dormitórios das unidades habitacionais com portas e

janelas fechadas, atendendo a um desempenho mínimo fixado na norma de desempenho, sendo

este o ambiente mais rigoroso. Além do dormitório, as alvenarias entre ambientes também

devem ser avaliadas com portas e janelas fechadas, também seguindo desempenho mínimo pela

mesma norma.

Page 56: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

43

3.7.7 Durabilidade e Manutenibilidade

A ISO 13823 apud. POSSAN e DEMOLINER (2013) define a durabilidade como a

“capacidade de uma estrutura ou de seus componentes de satisfazer, com dada manutenção

planejada, os requisitos de desempenho do projeto, por um período específico de tempo sob

influência das ações ambientais, ou como resultado do processo de envelhecimento natural”.

Devem ser atendidos, portanto, requisitos de durabilidade dos sistemas do edifício,

durabilidade dos elementos e componentes dos sistemas, ou seja, devem cumprir as funções

que lhes foram atribuídas. O período de tempo entre o sistema começara funcionar e deixar de

desempenhar o seu papel se chama vida útil de projeto (VUP).

A tabela 5 apresenta a vida útil das paredes, o tempo que ela deve manter a capacidade

funcional e as características estéticas.

Tabela 5 – Vida Útil de Projeto de uma alvenaria

Fonte: Manual de desempenho – Alvenaria de blocos de concreto (ABCP, 2014)

A manutenção deve ser realizada preventivamente além de manutenções corretivas

sempre que necessárias, quando um problema se manifestar a fim de evitar que falhas (mesmo

que pequenas) progridam rapidamente.

Page 57: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

44

Para as paredes de blocos de concreto, os pontos mais vulneráveis para o cumprimento

da vida útil de projeto são os revestimentos e as pinturas.

3.7.8 Impacto Ambiental

Este item tem a intenção de orientar os projetos de modo a minimizar as alterações e

impactos no ambiente, dado que a construção civil é um dos setores que mais produzem resíduo

e geram impacto ambiental no mundo.

Nos projetos, usa-se uma Análise de Ciclo de Vida para mensurar e comparar os

impactos ambientais que os materiais de construção causam no ambiente a longo prazo, o que

acaba esbarrando na complexidade e nos custos de implementação dos produtos e serviços.

Para os projetos em alvenaria estrutural, a racionalização é um dos princípios básicos

de projeto. A modulação faz com que a necessidade de cortes seja reduzida praticamente a zero,

os furos nos blocos permitem passagem de instalação elétrica sem necessidade de rasgos e a

qualidade do bloco admitem uma pequena espessura de revestimento. Apesar disso, a

construtora deve ter um plano de gestão de resíduos na obra para facilitar o reuso, a reciclagem

ou a disposição final dos resíduos em locais apropriados.

Page 58: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

45

4 PROJETO

O objetivo desse trabalho é elaborar um pré-dimensionamento estrutural de alvenaria

modulada de blocos vazados de concreto, segundo o projeto arquitetônico mostrado na figura

21.

Figura 20 - Planta baixa do pavimento tipo

Fonte: Autor

Page 59: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

46

A seguir, nas figuras 22 e 23, são apresentados os cortes longitudinal e transversal da

edificação.

Figura 21 - Corte Longitudinal

Page 60: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

47

Figura 22 - Corte Transversal

4.1 Dados do Projeto

• Dimensões em planta: Lx = 15,67m; Ly = 16,53m.

• Número de pavimentos: 4;

• Pé direito piso à piso: h = 2,72 m;

• Pé direito adotado para projeto (descontando laje e revestimento do piso): h =

2,60 metros;

• Vãos: as portas possuem altura de 2,10 metros e largura variando de acordo com

o cômodo e as janelas tem peitoril igual a 1,00 m e 1,20 m. As dimensões a

Page 61: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

48

serem consideradas no projeto modulado das alvenarias são medidas de bloco a

bloco, portanto sem revestimentos);

• Altura total: 10,88 m;

• Largura dos blocos de concreto igual a 14 cm;

• Espessura do revestimento interno: 1 centímetro

• Espessura do revestimento externo: 2,5 centímetros

• Utilização de laje pré-moldada de 12 centímetros de espessura;

• As dimensões dos blocos foram definidas em fase inicial de projeto. Pela

“Tabela 1 – Dimensões padronizadas” da NBR 6136 (ABNT, 2016), foi

escolhida a família 15 x 40.

4.2 Análise Para Modelagem da Estrutura do Edifício

4.2.1 Definição das Parede Estruturais

Ao receber o projeto arquitetônico do cliente, identificou-se que o shaft externo proposto

que serviria para abrigar as instalações do banheiro seria mais oneroso, e como havia outras

alternativas mais racionais foi recomendada a alteração. A alternativa dada, então, foi que a

parede estrutural que divide os dois banheiros virasse uma parede de vedação na qual

poderíamos embutir todas as instalações necessárias. Além disso, a parede que contém as portas

dos dois banheiros e a parede que contém a porta da suíte também foram transformadas em

alvenaria de vedação. A seguir, na figura 24, essas paredes estão destacadas.

Page 62: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

49

Figura 23 - Eliminação do shaft e definição das paredes estruturais

Todas as outras paredes, com exceção das destacadas acima, serão consideradas como

estrutural para efeitos de cálculo.

4.2.2 Pré Moldados

Os materiais pré-moldados utilizados no projeto serão, além dos próprios blocos de

concreto, a escada que dá acesso aos pavimentos, que será do tipo “escada-jacaré” e as lajes.

Page 63: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

50

Serão necessárias 3 escadas por bloco, portanto 36 escadas no total. Para a sua colocação

será necessária a colocação de consoles nas paredes laterais da escada que servirão de apoio

para as peças.

Para o projeto em questão, foi feita a escolha de laje pré-moldada treliçada, maciça de

12 centímetros de espessura, com treliça de 8 cm de altura, TR8 mais 4 cm de capa.

4.3 Memória de Cálculo

Aqui serão apresentados os passos de cálculos para o desenvolvimento do projeto

estrutural.

4.3.1 Carregamentos

As cargas que atuam no edifício e devem ser consideradas para o cálculo são

classificadas em verticais e horizontais. Para as cargas verticais, teremos dois tipos: as

permanentes, que atuam com valores praticamente constantes (ou com pequena variação)

durante a vida útil da construção (peso próprio, revestimento e todas as instalações

permanentes, por exemplo) e as cargas verticais variáveis, que como o próprio nome diz, variam

de intensidade durante toda a vida útil e atuam na edificação em função do seu uso (sobrecarga

acidental, por exemplo)

4.3.1.1 Cargas Permanentes

Para o cálculo das cargas permanentes, se faz necessário o uso dos pesos específicos dos

materiais utilizados. A tabela 6 a seguir nos traz esses valores.

Page 64: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

51

Tabela 6 - Peso específico aparente dos componentes e materiais

4.3.1.1.1 Peso das Paredes

Para se chegar ao peso próprio das paredes, considera-se um pé direito de 2,60 metros,

a largura do bloco de 14 centímetros e o peso específico deste de 14 kN/m³. Além disso, deve-

se também considerar o peso específico do revestimento neste cálculo.

O peso próprio das paredes então é dado por:

𝑃𝑃𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 = (𝑃𝑒𝑠𝑝 × 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑜 𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 × 𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒) + 𝑃𝑟𝑒𝑣

𝑷𝑷𝒑𝒂𝒓𝒆𝒅𝒆𝒔 = (14𝑘𝑁/𝑚³ × 0,14𝑚 × 2,6𝑚) + 1,48𝑘𝑁/𝑚 = 𝟔, 𝟓𝟖𝒌𝑵/𝒎

Obtem-se então que o peso próprio da parede é dado por metro. Para saber o peso total

de uma parede basta, portanto, multiplicar pela extensão total da mesma.

4.3.1.1.2 Peso da Laje

Como dito anteriormente, a laje escolhida é pré-moldada treliçada, maciça de 12

centímetros de espessura, com treliça de 8 cm de altura, TR8 mais 4 cm de capa. Portanto, o

peso da laje é dado por:

𝑷𝑷𝒍𝒂𝒋𝒆 = 25𝑘𝑁

𝑚³× 0,12𝑚 = 𝟑, 𝟎𝟎 𝒌𝑵/𝒎²

Bloco de Concreto 14 kN/m³

Argamassa de Assentameto 19 kN/m³

Concreto Armado 25 kN/m³

Revestimento + Piso 1 kN/m²

Page 65: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

52

4.3.1.1.3 Peso do Revestimento e do Piso

O peso do conjunto revestimento e piso será adotado como igual a 1,0 kN/m².

4.3.1.2 Cargas Variáveis

A tabela 7 traz os valores de sobrecargas em cada compartimento do edifício.

Tabela 7 - Cargas Verticais Variáveis

Fonte: NBR 6120

4.3.2 Áreas de Influência

A partir da planta baixa e utilizando a ferramenta AutoCAD, pode-se aferir a área de

influência de cada laje, descarregando nas respectivas paredes.

Elas serão modeladas rotuladas em função das reduzidas dimensões dos vãos. Portanto,

pode-se considerar um ângulo de distribuição de 45º a partir das interseções das paredes para

encontrar a área de influência das lajes para cada parede. Em paredes que contém aberturas,

será traçado uma perpendicular à essa abertura até interceptar a linha mais próxima. No

dimensionamento das lajes, que não será desenvolvido neste trabalho, recomenda-se o emprego

de armaduras negativas construtivas, mesmo na consideração de cálculo adotada neste trabalho.

Ao se analisar a planta do edifício, percebe-se que os apartamentos são totalmente

simétricos, se fazendo necessário então o cálculo de apenas um apartamento e o hall do

pavimento.

A figura 25 mostra a identificação das paredes e seus respectivos comprimentos.

1,5 kN/m² (dormitório, sala, copa, cozinha e banheiro)

2 kN/m² (despensa, área de serviço e lavanderia)

2,5 kN/m² (escada)

Sobrecarga

Page 66: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

53

Figura 24 - Numeração das paredes

4.3.3 Determinação das Resistências dos Blocos

Para chegar à resistência mínima dos blocos em cada pavimento, deve-se primeiramente

calcular a tensão que cada parede recebe.

Page 67: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

54

4.3.3.1 Carregamento Permanente e Variável da Reação da Laje

Calcula-se o peso próprio da laje (Rglaje) como sendo o seu peso encontrado nos item

3.3.1.1.2 (3,00 kN/m²) acrescidos do peso do revestimento (1,00 kN/m²) multiplicado pela área

de influência da respectiva laje (m²).

Para as cargas variáveis, tem-se as sobrecargas que variam de acordo com a utilização

do ambiente, como citado em 3.3.1.2. Assim como na carga permanente, para chegar à

sobrecarga (Rqlaje), multiplica-se o peso da carga variável pela área de influência da respectiva

laje.

Tabela 8 - Reação da Laje

Px1 5,05 3,47 0,12 3,00 1,00 13,88 1,50 5,21

Py9 0,74 1,02 0,12 3,00 1,00 4,08 1,50 1,53

Py12 4,08 6,88 0,12 3,00 1,00 27,52 1,50 10,32

Py16 0,37 0,36 0,12 3,00 1,00 1,44 2,00 0,72

Px2 2,3 5,09 0,12 3,00 1,00 20,36 1,5 7,64

Py8 0,97 1,03 0,12 3,00 1,00 4,12 1,5 1,55

Px4 0,96 1,67 0,12 3,00 1,00 6,68 1,5 2,51

Py15 2,64 2,52 0,12 3,00 1,00 10,08 1,5 3,78

Py7 1,22 1,65 0,12 3,00 1,00 6,60 1,5 2,48

Px5 2,69 1,39 0,12 3,00 1,00 5,56 2,5 3,48

Py19 2,95 6,75 0,12 3,00 1,00 27,00 1,5 10,13

Py22 2,95 6,75 0,12 3,00 1,00 27,00 2,5 16,88

Px7 2,34 4,92 0,12 3,00 1,00 19,68 1,5 7,38

Py6 0,75 0,77 0,12 3,00 1,00 3,08 1,5 1,16

Py20 1,61 3,85 0,12 3,00 1,00 15,40 2,5 9,63

Px9 6,24 10,36 0,12 3,00 1,00 41,44 1,5 15,54

Py5 1,65 2,02 0,12 3,00 1,00 8,08 1,5 3,03

Py11 3,64 14,98 0,12 3,00 1,00 59,92 1,5 22,47

Py18 0,4 2,19 0,12 3,00 1,00 8,76 1,5 3,29

Px11 0,69 2,19 0,12 3,00 1,00 8,76 1,5 3,29

Py17 2,95 2,19 0,12 3,00 1,00 8,76 1,5 3,29

L (m)Parede Alaje(m²) hlaje(m) PPlaje(kN/m²)Sobrecarga

laje(kN/m²)Rqlaje(kN)Rglaje(kN)PPrev(kN/m²)

Page 68: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

55

4.3.3.2 Peso Próprio das Paredes

Definidas as nomenclaturas e extensão das paredes anteriormente, o cálculo do peso

destas pode ser realizado.

O peso de cada parede é dado pelo peso próprio dela por unidade linear, encontrado em

3.3.1.1.1, multiplicado pela extensão dela.

A tabela 9 traz o valor do peso próprio de cada parede.

Tabela 9 - Peso prório de cada parede

Px1 5,05 6,58 33,23

Py9 0,74 6,58 4,87

Py12 4,08 6,58 26,85

Py16 0,37 6,58 2,43

Px2 2,3 6,58 15,13

Py8 0,97 6,58 6,36

Px4 0,96 6,58 6,32

Py15 2,64 6,58 17,37

Py7 1,22 6,58 8,03

Px5 2,69 6,58 17,70

Py19 2,95 6,58 19,41

Py22 2,95 6,58 19,41

Px7 2,34 6,58 15,40

Py6 0,75 6,58 4,94

Py20 1,61 6,58 10,59

Px9 6,24 6,58 41,06

Py5 1,65 6,58 10,86

Py11 3,64 6,58 23,95

Py18 0,4 6,58 2,63

Px11 0,69 6,58 4,54

Py17 2,95 6,58 19,41

L (m)Parede PP (kN)PP (kN/m)

Page 69: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

56

As parcelas das aberturas para esquadrias foram contabilizadas nas paredes adjacentes,

metade para cada uma delas, já que a linha de influência parte de sua metade. A partir das

dimensões das aberturas (h e L), foram descontados os pesos dos blocos e argamassa ali

existentes.

Tabela 10 - Peso próprio da abertura

O peso total permanente em cada laje (RTglaje) é a soma do peso da parede, com o peso

da abertura e o da laje. Já o peso total variável (RTqlaje) é a própria sobrecarga.

Px1

Py9 1,21 3,52 1,21 2,13

Py12

Py16 1,01 4,02 0,96 1,93

Px2

Py8 1,82 8,55 1,82 7,78

Px4 1,21 3,52 1,16 2,04

Py15 1,01 4,02 0,96 1,93

Py7 1,22 10,07 1,22 6,14

Px5 1,21 3,52 1,16 2,04

Py19

Py22

Px7

Py6 1,82 8,55 1,82 7,78

Py20

Px9

Py5 2,42 7,03 2,42 8,51

Py11

Py18

Px11

Py17

Parede PPabertura(kN)L abertura(m)PPabertura(kN)h abertura(m)

Page 70: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

57

Tabela 11 - Peso total na laje

Os valores de RTg e RTq dizem respeito a apenas 1 pavimento. Posteriormente será

feita a análise da resistência em cada um dos pavimentos.

4.3.3.3 Agrupamento das Paredes

A partir deste ponto agrupam-se as paredes, limitando-as pelas aberturas de esquadrias,

adotando as cargas e os comprimentos por grupo.

O agrupamento de paredes é um processo no qual todas as cargas verticais da parede

que compõe cada grupo são uniformizadas. Isso é necessário pois há uma interação entre as

paredes, e caso fossem consideradas isoladamente, haveria uma minoração de carga em

RTglaje(kN) RTqlaje(kN)

Px1 47,11 5,21

Py9 11,08 1,53

Py12 54,37 10,32

Py16 5,81 0,72

Px2 35,49 7,64

Py8 18,26 1,55

Px4 15,04 2,51

Py15 29,38 3,78

Py7 20,77 2,48

Px5 25,30 3,48

Py19 46,41 10,13

Py22 46,41 16,88

Px7 35,08 7,38

Py6 15,80 1,16

Py20 25,99 9,63

Px9 82,50 15,54

Py5 27,45 3,03

Py11 83,87 22,47

Py18 11,39 3,29

Px11 13,30 3,29

Py17 28,17 3,29

Parede

1o Pavimento

Page 71: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

58

algumas paredes e uma majoração em outras, tornando o projeto deficiente e desfavorável à

economia. Com a utilização desse processo de agrupamento, o projeto fica seguro, econômico

e resulta em cargas adequadas para estruturas de apoio.

Portanto, tem-se 9 grupos de paredes. Estes serão organizados por sua extensão e cargas

permanentes e variáveis totais.

Tabela 12 - Grupo de paredes

Grupo Paredes por Grupo1 PX1, PY9, PY12, PY16 10,24 118,36 17,782 PX2, PY8 3,267 53,76 9,183 PX4, PY15 3,6 44,42 6,294 PY7 1,22 20,77 2,485 PX5, PY19, PY22 8,59 118,12 30,486 PX7, PY6 3,09 50,87 8,547 PY20 1,61 25,99 9,638 PX9, PY5, PY11, PY18 11,93 205,21 44,339 PX11, PY17 3,64 41,47 6,57

Tipo

GRUPO DE PAREDES - CARREGAMENTO Gtotal (kN)L(m)

Qtotal (kN)

Page 72: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

59

4.3.3.4 Dimensionamento à Compressão

O dimensionamento da alvenaria à compressão simples é dado pela seguinte fórmula:

𝑁𝑅𝐷 = 𝑓𝑑 × 𝐴 × 𝑅

No qual:

• NRD é a força normal resistente de cálculo;

• fd é a resistência à compressão de cálculo da alvenaria;

• A é a área da seção resistente;

• R é um fator de redução devido à esbeltez da parede, dado por:

𝑅 = [1 − (𝜆

40) ³]

e

𝜆 =ℎ𝑒𝑓

𝑡𝑒𝑓

Sendo:

• hef a altura efetiva, que compreende o pé direito e a laje, portanto: 2,6 + 0,12 =

2,72m;

• tef a espessura efetiva, neste caso 0,14m que é a espessura do bloco.

Portanto,

𝑅 = [1 − (2,72

40 × 0,14) ³] ≃ 0,89

Page 73: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

60

NRD pode ser escrito como: 𝑁𝑅𝐷 = 𝛾𝑓 × 𝐹𝑘 = 1,4 𝐹𝑘;

Assim como 𝑓𝐷 pode ser reescrito como:

𝑓𝑑 = 𝑓𝑘

𝛾𝑚 =

𝑓𝑘

2,0.

A área da seção é a espessura do bloco multiplicada pela extensão (L) da parede.

Substituindo todos os valores na equação, temos:

1,4 𝐹𝑘 =𝑓𝑘

2,0× (0,14𝑚 × 𝐿) ×0,89

𝑓𝑘 = 1,4 × 2,0 ×𝐹𝑘

0,14 × 𝐿 × 0,89

Logo,

𝑓𝑘 = 22,6 ×𝐹𝑘

𝐿

Onde fk é a força resistente da parede em kN/m² e Fk é a resistência característica total

somando a carga permanente com a variável, em kN.

Para relacionar a resistência da parede com a resistência nominal do bloco, devemos

usar a relação com a resistência característica do prisma fpk:

𝑓𝑘 = 0,7𝑓𝑝𝑘

Portanto:

𝑓𝑝𝑘 = 33,3 ×𝐹𝑘

𝐿

Page 74: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

61

Fk será a carga total atuante (permanente + variável), enquanto que L é o comprimento

do grupo de paredes. Lembrando que a carga foi obtida para apenas 1 pavimento. Multiplicando

esta razão para todos os pavimentos temos a seguinte configuração:

Page 75: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

62

Gru

po

Par

ed

es

po

r G

rup

oG

(kN

/m)

Q (

kN/m

)G

(kN

/m)

Q (

kN/m

)G

(kN

/m)

Q (

kN/m

)G

(kN

/m)

Q (

kN/m

)1

PX

1, P

Y9, P

Y12

, PY1

61

0,2

41

18

,36

17

,78

11

,61

,72

3,1

3,5

34

,75

,24

6,2

6,9

2P

X2

, PY8

3,2

67

53

,76

9,1

81

6,5

2,8

32

,95

,64

9,4

8,4

65

,81

1,2

3P

X4

, PY1

53

,64

4,4

26

,29

12

,31

,72

4,7

3,5

37

,05

,24

9,4

7,0

4P

Y71

,22

20

,77

2,4

81

7,0

2,0

34

,04

,15

1,1

6,1

68

,18

,15

PX

5, P

Y19

, PY2

28

,59

11

8,1

23

0,4

81

3,8

3,5

27

,57

,14

1,3

10

,65

5,0

14

,26

PX

7, P

Y63

,09

50

,87

8,5

41

6,5

2,8

32

,95

,54

9,4

8,3

65

,91

1,0

7P

Y20

1,6

12

5,9

99

,63

16

,16

,03

2,3

12

,04

8,4

17

,96

4,6

23

,98

PX

9, P

Y5, P

Y11

, PY1

81

0,8

61

98

,17

44

,33

18

,24

,13

6,5

8,2

54

,71

2,2

73

,01

6,3

9P

X1

1, P

Y17

3,6

44

1,4

76

,57

11

,41

,82

2,8

3,6

34

,25

,44

5,6

7,2

Tip

o3

º p

avG

RU

PO

DE

PA

RED

ES -

CA

RR

EGA

MEN

TO2

º p

av1

º p

avG

tota

l (kN

)L(

m)

pav

Qto

tal (

kN)

Fk/L

Page 76: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

63

Utilizando a fórmula acima que relaciona Fk/L com a resistência do prisma, e dividindo

o valor resultante por 1000, temos as seguintes resistências de prisma em MPa:

A partir da determinação da resistência do prisma, consulta-se a tabela a seguir.

Tabela 13 - Relações de resistências por fbk

Fonte: FARIA (2017)

Analisando todos os pavimentos, nenhum grupo de paredes exigiu fpk acima de 3,2MPa,

portanto usa-se fbk = 4MPa em todos os pavimentos do projeto.

4º pav 3º pav 2º pav 1º pavGrupo Paredes por Grupo Fpk (MPa) Fpk (MPa) Fpk (MPa) Fpk (MPa)

1 PX1, PY9, PY12, PY16 0,44 0,89 1,33 1,772 PX2, PY8 0,64 1,28 1,92 2,573 PX4, PY15 0,47 0,94 1,41 1,884 PY7 0,63 1,27 1,90 2,545 PX5, PY19, PY22 0,58 1,15 1,73 2,306 PX7, PY6 0,64 1,28 1,92 2,567 PY20 0,74 1,47 2,21 2,958 PX9, PY5, PY11, PY18 0,74 1,49 2,23 2,979 PX11, PY17 0,44 0,88 1,32 1,76

Resistência do PrismaGRUPO DE PAREDES - CARREGAMENTO

fbk FEprisma fpk FEgraute fpkgrauteado fa fgk ftk τo fk

4,0 0,80 3,20 0,80 5,80 4,00 8,00 0,20 0,15 2,24

6,0 0,77 4,62 0,80 8,30 4,00 12,00 0,20 0,15 3,23

8,0 0,74 5,90 0,80 10,70 5,00 16,00 0,20 0,15 4,14

10,0 0,72 7,20 0,80 13,00 7,00 20,00 0,20 0,15 5,04

12,0 0,69 8,28 0,80 14,90 8,00 24,00 0,20 0,35 5,80

14,0 0,66 9,24 0,80 16,60 9,00 28,00 0,20 0,35 6,47

16,0 0,64 10,24 0,80 18,40 11,00 32,00 0,20 0,35 7,17

18,0 0,60 10,80 0,80 19,40 12,00 36,00 0,20 0,35 7,56

20,0 0,60 12,00 0,80 21,60 14,00 40,00 0,20 0,35 8,40

22,0 0,60 13,20 0,80 23,80 15,00 44,00 0,20 0,35 9,24

Page 77: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

64

4.3.4 Conclusões Sobre o Projeto

Comparando os resultados das tensões verticais e verticais incluindo o vento com os

resultados obtidos neste trabalho, sem a consideração das ações horizontais, concluiu-se que

para edifícios com a tipologia adotada e baixa altura, o cálculo simplificado elaborado

manualmente não compromete a segurança nem a economia.

Como as tensões verticais atuantes são muito reduzidas em relação a resistência mínima

à compressão a ser obedecida para prismas de dois blocos de concreto, fica como sugestão para

os próximos trabalhos a investigação dos limites de altura econômicos e seguros considerando

as tensões devidas ao vento e desaprumo empregando-se modelos simplificados como cantiliver

e mais elaborado como por associação de pórticos planos e comparando-os com os resultados

de modelos que empregam pórtico espacial.

Foi utilizado o software de cálculo estrutural TQS para realizar essa comparação, que é

apresentada na tabela a seguir.

Page 78: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

65

A seguir são apresentados os diagramas de tensões de compressão devidas ao

carregamento de vento e desaprumo modeladas através do software CadAlvest – TQS que

considera o modelo em pórtico espacial, para os grupos de parede G1 e G8, valores em tf/m2.

.

Grupo σvertical(MPa) σverticais+vento(MPa)

1 1,76 2,16

2 1,93 2,04

3 1,6 1,81

4

5 2,1 2,3

6 1,9 2,02

7

8 2,2 2,7

9 1,9 1,9

TQS

Page 79: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

66

4.4 A Tecnologia BIM

MENEGOTTO (2015) define que a metodologia BIM (Building Information Modeling,

ou Building Information Management, de acordo com alguns autores) é “uma metodologia de

projeto que utiliza como o elemento central de trabalho o modelo tridimensional virtual do

objeto projetado”. Para esse mesmo autor, a metodologia está presente na totalidade dos

aspectos envolvidos na indústria da construção civil, como por exemplo a construção, o

gerenciamento e a fabricação de componentes construtivos.

Page 80: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

67

No presente trabalho, utilizou-se o software de modelagem 3D “Revit” (que utiliza essa

tecnologia), no qual a família dos blocos utilizados foi modelada no próprio software (figura

29) e os blocos foram utilizados para o desenho da primeira e segunda fiadas, mostrados na

figura 30.

Figura 25 - Família 39 em 3D. Fonte: AUTOR (2018).

Figura 26 – Primeira e segunda fiadas. Fonte: AUTOR (2018).

Page 81: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

68

A locação dos blocos foi feita respeitando a distância entre eles de 1cm para a colocação

da argamassa. Nos encontros de paredes foram respeitadas as amarrações em “T”, com o bloco

de 54cm ou em “L”, com o bloco de 34cm.

Nem sempre foi possível respeitar à risca as medidas estipuladas pelo projeto

arquitetônico: foram feitas pequenas alterações da ordem de centímetros na planta, de modo em

que se respeitasse as regras de locação de blocos e a distância para preenchimento da argamassa,

que em algumas vezes ultrapassou a distância de 1cm. Quando não se pôde preencher as paredes

com blocos inteiros de 39cm, foram colocados os blocos compensadores de 4cm ou 9cm para

completar a locação da parede. Esta compensação foi feita por vezes no meio da parede, para

que os cantos ficassem com os blocos “L” ou “T”, como indicado pela Norma.

Nos vãos das portas, foram adotadas as seguintes distâncias:

a) Porta de 80cm - Vão de 91cm

b) Porta de 70cm - Vão de 86cm

c) Porta de 60cm - Vão de 71cm

Como as portas tem altura livre de 2,10m, na 11ª fiada será empregada uma verga pré-

moldada de concreto.

Sendo assim, foram definidas as 1ª e 2ª fiadas. Estas estão nas plantas baixas em anexo.

4.4.1 Quantitativo

Para quantificar os blocos necessários, faz-se a elevação das paredes, excluindo os vãos

das janelas conforme a figura abaixo.

Page 82: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

69

Figura 27 – Elevação do pavimento tipo. Fonte: AUTOR (2018)

O software Revit gera automaticamente o quantitativo de blocos usados. A partir deles,

é possível definir o total de blocos necessários para a obra.

Tabela 14 – Quantidade de blocos utilizado na obra

Portanto, serão necessários 21.848 blocos de concreto para realizar este

empreendimento.

Componentes Pavimento Torre

B19 509 2036

B34 422 1688

B39 3905 15620

B54 215 860

Compensador A 320 1280

Compensador B 91 364

Total 5462 21848

Page 83: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

70

Figura 28 - Torre completa

Uma sugestão para futuros trabalhos é que seja realizado um orçamento utilizando o

software Revit, chegando a um valor final de estrutura, que pode ser dividido entre alvenaria e

laje. Além disso, com esse software é possível que se faça um orçamento detalhado das mais

diversas etapas da obra, ficando a cargo do autor o que será inserido nesse orçamento.

Page 84: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

71

5 CONCLUSÕES

O presente trabalho mostra que com um simples cálculo feito à mão, e utilizando

ferramentas básicas de informática, é possível que se faça um pré-dimensionamento de uma

estrutura em alvenaria estrutural, podendo assim ter noção de resistência básica dos blocos que

serão utilizados na obra, além da quantidade total dos blocos. Com um conhecimento específico

em Revit, pode ser gerado um orçamento preliminar da estrutura, se traduzindo em uma

vantagem para o engenheiro que detém esses conhecimentos. Para aproveitar todos os

benefícios a vantagens que o sistema oferece, é necessário além de tudo que os projetistas

conheçam bastante do sistema, conhecendo todas as suas particularidades.

Esse trabalho expõe também premissas básicas do sistema e erros construtivos que

devem ser detectados no decorrer da obra para que esses erros não se propaguem para o resto

da estrutura. As propriedades mecânicas se mostram muito importantes tanto para o engenheiro

de estruturas tanto para o engenheiro de obra, pois forneceu informações importantes acerca do

comportamento do conjunto de parede.

Além disso, após diversas exposições, concluímos também que a alvenaria estrutural se

apresenta como uma maneira rápida, econômica e eficaz de construção, o que, na situação

econômica atual do país, torna-se um diferencial enorme frente aos outros sistemas. Para

determinadas tipologias de edificação e determinadas alturas de construção, a alvenaria

estrutural é uma alternativa bastante econômica.

Para um empreendimento obter sucesso, é necessário que os projetos estejam bem

definidos antes que a obra comece, com todos os ajustes e compatibilização feitos. Além disso,

a execução torna-se um quesito essencial no desempenho estrutural do sistema, portanto é

Page 85: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

72

fundamental que se garanta que essa etapa seja colocada em prática seguindo todos os

procedimentos para que a obra saia como o planejado.

Seu sistema altamente racionalizado e com alto nível de industrialização permite que

haja pouca perda de materiais e mão de obra, e consequentemente menor custo. Na busca pela

racionalização, a alvenaria estrutural se mostra como uma das melhores opções do mercado.

Tudo isso, claro, se houver uma boa concepção, compatibilização e execução de projeto, além

de um planejamento bem feito com um cronograma de obra adequado.

Deve-se ter em mente das limitações do sistema. Quando discutido a sua vantagem em

relação a outros sistemas, toda uma análise deve ser feita para comprovar essa vantagem,

obedecendo os limites da alvenaria estrutural, estudando todas as variáveis envolvidas e todas

as condições em que se insere o sistema, para comprovar que atende aos requisitos necessários

ao empreendimento. Quando comprovada a viabilidade de um projeto em alvenaria estrutural,

a estrutura deve ser executada com qualidade, já que um só produto exerce várias funções:

vedação, estrutura, proteção térmica e acústica, etc., e a qualidade só vem com a capacitação de

todos os envolvidos no processo, e o presente trabalho teve o objetivo de proporcionar a alguns

desses atores um melhor entendimento do sistema.

Enfim, é necessário que se projete com racionalidade e de forma consciente, com soluções

eficientes e objetivo num produto final de alta qualidade e menor custo, e foi mostrado aqui que

a alvenaria estrutural pode ser um perfeito aliado para todas essas finalidades.

Page 86: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

73

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCETTI, K. M., 1998, Contribuições ao projeto estrutural de edifícios em alvenaria.

Dissertação de M.Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São

Carlos.

ARAÚJO, H. N., 1995, Intervenção em obra para implantação do processo construtivo em

alvenaria estrutural: Um estudo de caso. Dissertação de M.Sc., Universidade Federal de Santa

Catarina. Florianópolis, SC.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Coordenação modular da

construção. NBR 5706, Rio de Janeiro, 1977.

_______. NBR 6120: Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro,

1980.

_______. NBR 6123: Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.

_______. NBR 6136: Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Requisitos. Rio

de Janeiro, 2016

_______. NBR 15270-2: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural – Terminologia e

requisitos. Rio de Janeiro, 2005.

_______. NBR 15812-1: Alvenaria estrutural – Blocos cerâmicos – Parte 1: Projetos. Rio

de Janeiro, 2010a.

_______. NBR 15812-2: Alvenaria estrutural – Blocos cerâmicos – Parte 2: Execução e

controle de obras. Rio de Janeiro, 2010b.

Page 87: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

74

_______. NBR 15961-1: Alvenaria estrutural – Blocos de concreto – Parte 1: Projeto. Rio

de Janeiro, 2011a.

_______. NBR 15961-2: Alvenaria estrutural – Blocos de concreto – Parte 2: Execução.

Rio de Janeiro, 2011b.

CAMACHO, J. S. Projetos de edifícios em alvenaria estrutural. Notas de aula. Faculdade de

Engenharia de Ilha Solteira – Universidade Paulista, 2006.

CAMPOS, F. T. N., 1993, Alvenaria armada em blocos de concreto: um estudo comparativo.

Dissertação de M.Sc., Universidade Federal Fluminense – UFF. Niterói, RJ.

COSTA, A. O., 2010, Patologia nas edificações do PAR, construídas com alvenaria estrutural

na região metropolitana de Belo Horizonte. Dissertação de M. Sc., Universidade Federal de

Santa Catarina – UFSC. Florianópolis, Santa Catarina.

FARIA, M. S., Materiais componentes (Aula 5). Notas de Aula. Departamento de Construção

Civil, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017a.

FARIA, M. S., Trabalho (Aula 6). Notas de Aula. Departamento de Construção Civil, Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, 2017b.

FARIA, M. S., Projetos (Aula 7). Notas de Aula. Departamento de Construção Civil, Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, 2017c.

FRANCO, L. S; AGOPYAN, V. Implementação da Racionalização Construtiva na Fase de

Projeto. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, São Paulo, 1993.

Page 88: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

75

GREGORIO, M. H. R., 2010, Edificações em Alvenaria Estrutural: uso e desenvolvimento do

sistema construtivo e contribuições ao projeto arquitetônico. Dissertação de M.Sc. Programa

de Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília – PPG

– FAU/UnB. Brasília, DF.

KALIL, S. M. B; LEGGERINI, M.R., Alvenaria estrutural – apostila de estruturas mistas.

Notas de aula. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, sem

data.

MELO, M. C., 2006, Projeto Arquitetônico: necessidades e dificuldades do arquiteto frente às

particularidades do processo construtivo de alvenaria estrutural. Dissertação de M.Sc.

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis, SC.

MENEGOTTO, J. L., BIM – Modelo Digital da Edificação. Uma introdução. Notas de aula.

Departamento Gráfico, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,

Rio de Janeiro, RJ, 2015.

MOHAMAD, Gihad; FARIA, Marcio S.; E OUTROS, 2015, Construção em Alvenaria

Estrutural – Materiais, projetos e desempenho. São Paulo, SP, Blucher.

PARSEKIAN, Guilherme A.; HAMID, Ahmad A.; DRYSDALE, Robert G., Comportamento

e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural. EdufsCar, 2010.

POSSAN, E., DEMOLINER, C. A., 2013, Desempenho, durabilidade e vida útil das

edificações: abordagem geral. Revista Técnico-Científica do CREA-PR, 1ª edição, PR.

Project Management Institute. A guide to the project management body ofknowledge, Third

Edi:ion (PMBOK Guides); 2004.

Page 89: ALVENARIA ESTRUTURAL EM BLOCOS DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf · Alvenaria estrutural em blocos de concreto: ... Tabela 3 - Dimensões dos blocos

76

RAMALHO,M. A.; CORRÊA, M. R. S., 2003, Projetos de edifícios de alvenaria estrutural.

São Paulo, SP, Pini.

RIZZATTI, E., 2003, Influência da geometria do bloco cerâmico no desempenho mecânico da

alvenaria estrutura sob compressão. Tese de D.Sc. Curso de Pós-Graduação em Engenharia

Civil da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

ROMAN, H. R.; MUTTI, C. N.; ARAÚJO, H. N. de Construindo em Alvenaria Estrutural.

Florianópolis: Ed da UFSC, 1999.

SABBATINI, F. H., 1984, O processo construtivo de edifícios de alvenaria estrutural sílico-

calcária. Dissertação M. Sc. Escola Politécnica da USP. São Paulo, SP.

SILVA, C. O., Manual de desempenho – Alvenaria com blocos de concreto. Associação

Brasileira de Cimento Portland – ABCP, Associação Brasileira da Indústria de Blocos de

Concreto – BlocoBrasil. São Paulo, 2014.

TAUIL, C.A., NESE, F.J.M., 2010, Alvenaria Estrutural. 1 ed. São Paulo, SP, PINI.

VITTORINO, F., ABNT NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho. Notas de

Aula. Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, São Paulo, SP, 2017.

ZECHMEISTER, D., 2005, Estudo para a padronização das dimensões de unidades de

alvenaria estrutural no Brasil através do uso da coordenação modular. Dissertação M.Sc.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS. Porto Alegre, RS.