Alves et al [2009] DEGRADAÇÃO DA CAATINGA_UMA INVESTIGAÇÃO ECOGEOGRÁFICA

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________

DEGRADAO DA CAATINGA: UMA INVESTIGAO ECOGEOGRFICAJose Jakson Amancio Alves Pesquisador do Grupo de Estudos em Recursos Naturais - GERN, Prof. Dr. do Curso de Geografia da Universidade Estadual da Paraba - UEPB, Bairro Areia Branca PB 75, km 1, CEP: 58200-000 - Guarabira Paraba, Fone: 83 3271.4080 - Fax: 83 3271.3322 E-mail: [email protected]. Maria Aparecida de Arajo Acadmica do Curso de Licenciatura Plena em Geografia, Membro do Grupo de Estudos em Recursos Naturais - GERN - UEPB. E-mail: [email protected] Sebastiana Santos do Nascimento Acadmica do Curso de Licenciatura Plena em Geografia, Membro do Grupo de Estudos em Recursos Naturais - GERN Centro de Humanidades UEPB. E-mail: [email protected]

Resumo - O domnio ecogeogrfico da caatinga ocupa uma rea de cerca de 750.000 Km e engloba partes dos territrios pertencentes aos estados do Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraba, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Sua rea corresponde a 54% da Regio Nordeste e a 11% do territrio brasileiro e constitui o chamado Polgono das Secas. A utilizao da caatinga como pastagem extensiva vem causando degradaes fortes e por vezes irreversveis nesse ecossistema. J so encontradas extensas reas cuja vegetao j se encontra muito empobrecida, tendo perdido a diversificao florstica que lhe peculiar. Porm, quase sempre a regenerao no pode acontecer por causa da presso humana intensa e constante. Esta, uma vez cessada, permitiria, a mdio ou a longo prazo, que a vegetao se reconstitusse. Para que isso fosse possvel seria preciso levar em conta os fatores ecogeogrficos tais como: localizao, tipos de solo, rochas-me, ndices pluviomtricos e durao da estao seca. Do que foi exposto sucintamente, pode-se concluir que as atividades antrpicas, em especial a pecuria extensiva, contriburam para alteraes estruturais da caatinga e que estas se refletem em seu polimorfismo, mas no so os nicos fatores. Contudo esse foi o propsito desse trabalho de apresentar uma viso ecogeogrfica da caatinga submetida atividade humana, especial a pecuria, e as conseqncias impactantes para a cobertura vegetal no semi-rido brasileiro. Palavras-Chave: Semi-rido, Aes Antrpicas, Pecuria, Ecossistema.

DEGRADATION OF CAATINGA: AN INVESTIGATION GEOGRAPHICAL ECOLOGYAbstract - The domain geographical ecology of the caatinga occupies an area of about 750.000 Km and it includes parts of the territories the states of Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraba, Alagoas, Sergipe, Bahia and part of Minas Gerais. Its area corresponds at 54% of the Northeast and 11% of the brazilian territory and it constitutes it calling Polygon of the Droughts. The use of the caatinga as extensive pasture comes causing strong degradations and for irreversible times in that ecosystem. They are already found extensive areas whose vegetation already meets very impoverished; having lost the diversification vegetation that is it typical. Even so, the regeneration cannot almost always happen because of the intense and constant human pressure. This, once ceased, it would allow, the medium or long term, that the vegetation if it reconstituted. So that that was possible it would be precise to take in bill the factors such geographical ecology as: location, soil types, rock-mother, indexes precipitation and duration of the station evaporates. Of what concisely was exposed, it can be ended that the degrading activities as, especially the extensive cattle creation, contributed to structural alterations of the caatinga and that these they are reflected in its polymorphism, but they are not the only factors. However that was the purpose of that work of presenting a vision geographical ecology of the caatinga submitted to the human, special activity the cattle creation, and the consequences impacts for the vegetable covering in the semi-arid brazilian. Key Word: Semi-arid, Degrading Activities, Cattle Creation, Ecosystem.

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ de contribuir com os estudos para o equilbrio ecolgico e a sustentabilidade, a partir de uma viso transdisciplinar INTRODUO da geografia com as cincias afins, princpio norteador O domnio ecogeogrfico da caatinga ocupa uma rea desse trabalho. de cerca de 750.000 Km sob as latitudes sub-equatorial compreendidas entre 2 45 e 17 21 Latitude Sul e A caatinga engloba partes dos territrios pertencentes aos estados do Antigamente acreditava-se que a caatinga seria o Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, resultado da degradao de formaes vegetais mais Pernambuco, Paraba, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Sua rea corresponde a 54% da Regio exuberantes, como a Mata Atlntica ou a Floresta Nordeste e a 11% do territrio brasileiro e constitui o Amaznica. Esse pensamento sempre produziu falsa idia de que o bioma seria homogneo, com biota pobre chamado Polgono das Secas. Segundo Andrade-Lima (1981) o domnio da Caatinga em espcies e em endemismos, estando pouco alterada ou est inserido no interior da isoieta de 1000 mm. Porm, na ameaada, desde o incio da colonizao do Brasil. maior parte desse domnio, chove menos de 750 mm Entretanto, estudos apontam a caatinga: (i) como rica em anuais, concentrados e distribudos irregularmente em trs biodiversidade, endemismos e bastante heterognea; (ii) meses consecutivos no perodo de novembro a junho considerada um bioma extremamente frgil (ALVES, (vero ou vero-outono). As vertentes a barlavento das 2007). Nos ltimos 15 (quinze) anos aproximadamente serras e chapadas, especialmente das situadas prximas da costa, recebem maior precipitao devido as chuvas de 40.000 Km se transformaram em deserto devido conveco forada, que causam as chamadas chuvas interferncia do homem na regio. Segundo o Sistema orogrficas ou de relevo. A mdia anual de temperatura Estadual de Informaes Ambientais (SISTEMA) da varia pouco, em torno de 26 C , mas diminui nas altitudes Bahia 100.000 ha so devastados anualmente (SISTEMA, 2007). O que significa que muitas reas que eram acima de 500 m das serras e chapadas. A regio se caracteriza por apresentar terrenos consideradas como primrias so, na verdade, o produto cristalinos praticamente impermeveis e terrenos de interao entre o homem nordestino e o seu ambiente, sedimentares que se apresentam com boa reserva de gua fruto de uma explorao que se estende desde o sculo subterrnea. Os solos, com raras excees, so pouco XVI. A origem do termo caatinga vem do tupi-guarani, desenvolvidos, mineralmente ricos, pedregosos e pouco espessos e com fraca capacidade de reteno da gua, CAA= mata e TINGA= branca, mata branca, o que caracteriza a paisagem no perodo de estiagem quando a fator limitante a produo primria nessa regio O relevo representado pelo Escudo Nordestino vegetao perde as folhas e fica com um aspecto seco e aplainado e seu ncleo arqueado e falhado - a Borborema sem vida (ALVES, 2007). A primeira definio cientfica da caatinga de 1840: - com restos de cobertura sedimentar; pelas bacias sedimentares Paleo-mesozicas do Piau-Maranho com Sylva aestu aphylla. Ela destaca os seus traos os alinhamentos de cuestas da Serra Grande-Ibiapaba e principais: vegetao arborescente, portanto, lenhosa Chapadas do Sudeste do Piau; a dorsal Baiana com a (sylva) e perda total das folhas (aphylla) durante a estao cobertura sedimentar da Chapada da Diamantina; as seca (aestu) (MARTIUS, 1996). Aubrville (1961) aponta a caatinga como sendo um bacias mesozicas do Araripe, Apodi, Jatob, Tucano, termo fitogeogrfico genrico designando o conjunto de Recncavo e outras; e os Tabuleiros elaborados nos sedimentos Plio-pleistocnicos da Formao Barreiras, em todos os tipos de vegetao que recobrem a regio semirida do Nordeste brasileiro, caracterizado pela suas grandes linhas. A cobertura vegetal representada por formaes caducidade das folhas durante a estao seca e presena xerfilas - as caatingas - muito diversificadas por razes freqente ou abundante de arbustos espinhentos e de climticas, edficas, topogrficas, e antrpicas. Ao lado grandes cactceas. Schnell (1961) reporta a caatinga como um tipo de destas formaes vegetais dominantes, ocorrem tambm vegetao arborescente e xerfila, espinhenta, as florestas dos relevos (florestas pereniflias e subapresentando as seguintes caractersticas gerais: rvores e pereniflias dos brejos de altitude e encostas expostas aos fluxos midos de ar e de florestas semi-decduas) e as arbustos na sua maioria espinhentas e desfolhadas na estao da seca, durante a qual ela se apresenta com um florestas riprias e os cerrados. Contudo o propsito desse trabalho apresentar uma aspecto triste e cinzento; presena de plantas suculentas viso ecogeogrfica da caatinga submetida atividade (Cactceas e Euforbiceas); presena de bromeliceas humana, especial a pecuria, e as conseqncias terrestres coriceas e espinhentas; tapete herbceo anual; e impactantes para a cobertura vegetal no semi-rido ausncia de epfitas, com exceo de algumas formaes nas quais so encontradas: Tillandsia, xerfitas, liquens e brasileiro. As investigaes ecogeogrficas complementam a ausncia de lianas em geral. Koechlin e Melo (1980) afirma que a caatinga compreenso das inter-relaes homem-meio e suas conseqncias para o ecossistema, diante da perspectiva resultado de uma floresta seca, com suas diferentes

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ A interdependncia entre os diversos elementos do formas, uma formao primitiva de onde, por degradao meio natural-ao humana impe um determinado rumo deu origem a esse xerofilismo. Andrade-Lima (1981) individualiza a caatinga como aos estudos ecogeogrficos e dos recursos naturais, quer uma vegetao arbrea e arbustiva na qual, em quase eles tenham uma finalidade de aplicao ou no. Nesse todas as espcies, predomina a caducidade das folhas trabalho procurou-se utilizar a metodologia que leva em sobre as outras formas de resistncia s deficincias conta a interdependncia entre os diversos elementos que hdricas sem exclu-las; mais ou menos rica em cactceas estruturam a caatinga. Uma avaliao integrada e bromeliceas, com um grande nmero de outras espcies comeando pelo seu conceito. Nessa etapa, consistiu-se em efetuar, em primeiro lugar, um bom recenseamento tambm espinhentas e vrios endemismos. Os autores citados consideram a caatinga integra, pelo bibliogrfico e sua interpretao. Implicou tambm, numa determinismo dos fatores climticos, edficos e srie de etapas de trabalhos de campo e estudos de antrpicos. As suas diferenas fisionmicas se devem no gabinete. Os estudos de campo serviram para confirmar os penas s variaes climticas regionais e locais e dados obtidos no gabinete e levantar novas informaes composio florstica, mas, sobretudo, a certos fatores que no foram fornecidas pelos documentos utilizados. estacionais, como compartimentao topogrfica e Para caracterizao ecogeogrfica da rea estudada foram fenmenos de exposio e abrigo, condies edficas e desenvolvidas as seguintes etapas de trabalho: (1) Descrio edafoclimatolgica; (2) Avaliao do grau de dos impactos das atividades humanas. dos diferentes meios Alguns deles afirmam que todas as formas da caatinga estabilidade/instabilidade atual so oriundas da degradao antrpica, onde o clmax geodinmicos; (3) Identificao das principais formaes sendo a floresta seca. Outros, sem negar o papel das aes vegetais, suas transformaes e o uso atual da terra, com humanas diretas e indiretas, consideram as florestas secas nfase na pecuria; (4) influncia humana na dinmica dos como formaes clmaceas, sendo estas mesoclimticas meios identificados. (5) Estudos de campo. Os estudos de campo serviram para confirmar os dados e/ou edficas. A caatinga apresenta uma imensa variedade de vida e obtidos no gabinete e levantar novas informaes que no um acentuado grau de endemismo, mas ainda precisa ser foram fornecidas pelos documentos utilizados. Na estudada mais detalhadamente para suprir as carncias de execuo desse trabalho foram utilizados alguns recursos, informaes atualizadas sobre esse bioma. Pela falta de tais como: dados atualizados e estudos contnuos que prejudicam o (i) Cartas temticas existentes e confronto das desenvolvimento da conservao ambiental da caatinga. informaes, correlaes e compilao dos dados; (ii) Recenseamento e anlise da bibliografia MATERIAL E MTODOS existente; (iii) Aplicao da leitura da paisagem atravs da ficha de campo 1. Referncias geogrficas da localidade (m) Cenrios Lat. Lon. Alt. A Ab He E I FI Av Cv Sv Ds Sea Vegetao Meios Geodinmicos da localidade Geossistema

1 2 3 4 5 6 7 Ficha de campo 1 Leitura da paisagem e identificao das principais formaes vegetais, suas transformaes e o uso atual da terra. Fonte: Alves, 2007. Legenda: Vegetao: A Arbreas; Ab Arbustivas; He Herbceas; Meios Geodinmicos: E Estveis; I Intermedirios; FI Fortemente Instveis; Geossistema (Dinmica da Vegetao e dos Solos): Av - Adaptao; Cv Concorrncia entre formaes vegetais; Sv Sries de vegetao; Ds Disclmaces e suas conseqncias para os solos; Sea Sistema de explorao antrpica.

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ Com isso, espera-se contribuir, ao nvel de encontram cobertas por uma camada de solo bastante reconhecimento, para o fornecimento de uma base profunda e com afloramentos rochosos ocasionais, em geoambiental da caatinga objetivando contribuir com as particular nas reas mais altas que bordejam a Serra do atividades de planejamento que iro explorar o potencial Tombador, tais solos (latossolos) so solos argilosos e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes. dos recursos naturais desse bioma de forma sustentvel. Afloramentos de rochas calcrias de colorao Caractersticas edafoclimatolgicas do bioma caatinga De acordo com estudos investigativos sobre a acinzentada ocorrem a oeste, sendo habitados por algumas biogeografia da caatinga, Alves (2008) caracterizou espcies endmicas e raras, como coroa-de-frade geograficamente o bioma caatinga em: (a) climatologia, (Melocactus azureus). Os solos gerados a partir da (b) vegetao e (c) solo, denominando a juno desses decomposio do arenito so extremamente pobres em nutrientes e altamente cidos, formando depsitos parmetros geogrficos de edafoclimatologia da caatinga. arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam mais profundos onde a topografia permite; afloramentos Climatologia rochosos uma caracterstica comum das reas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com formam as condies ideais para os cactos, e muitas ndices pluviomtricos muito baixos, em torno de 250 a espcies crescem nas rochas, em fissuras ou depresses da 900 mm anuais. Enquanto que as mdias mensais de rocha onde a acumulao de areia, pedregulhos e outros temperatura variam pouco na regio, sendo mais afetadas detritos, juntamente com o hmus gerado pela pela altitude que por variaes em insolao, as variaes decomposio de restos vegetais, sustentam o sistema dirias de temperatura e umidade so bastante radicular destas suculentas. Embora no tenha potencial pronunciadas, tanto nas reas de plancie como nas regies madeireiro, exceto pela extrao secular de lenha, a regio rica em recursos genticos em funo da sua alta mais altas do planalto. No planalto, os afloramentos rochosos ficam mais biodiversidade. A salinizao do solo , hoje, uma expostos, sujeitos ao do vento e de outros fatores, que realidade. Especialmente na regio onde os solos so rasos podem experimentar temperaturas muito baixas durante as e a evaporao da gua ocorre rapidamente devido ao noites mais frias do ano, enquanto que a temperatura pode calor. ser bastante elevada durante os dias quentes e ensolarados do vero. Esta grande variao local de temperatura e umidade durante o dia influencia bastante a vegetao Vegetao destas reas, e um dos fortes eventos a determinar a sua A vegetao do bioma extremamente diversificada, composio. As variaes em temperatura so menos extremas incluindo, alem das caatingas, vrios ambientes durante a estao chuvosa, e tambm durante certos associados (enclaves). So reconhecidos 12 tipos perodos quando a neblina se forma, especialmente noite diferentes de caatingas, que chamam ateno especial nas reas de maior altitude, durante a estao seca. No pelos exemplos fascinantes de adaptaes aos hbitos incomum se observar pesadas formaes de nuvens ou semi-ridos (ALVES, 2007). Tal situao pode explicar, parcialmente, a grande neblina nas regies mais altas no inicio da manh, durante a estaco seca, o que resulta em menos de cinco horas de diversidade de espcies vegetais, muita das quais insolao por dia no planalto, enquanto que as reas de endmicas ao bioma. Estima-se que pelo menos 932 plancie circunvizinha possuem uma taxa mais alta de espcies j foram registradas para a regio, sendo 380 endmicas. A caatinga um tipo de formao vegetal com insolao diria, sete horas ou mais. Ao amanhecer, pode-se observar a presena de orvalho caractersticas bem definidas: rvores baixas e arbustos em abundancia cobrindo o solo, as rochas e a vegetao que, em geral, perdem as folhas na estao seca (espcies nos locais mais altos. Isto fornece certa umidade ao solo caduciflias), alm muitas cactceas. A caatinga apresenta mesmo durante a estao seca, e contribui para a trs estratos: arbreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 manuteno da vegetao da rea. As reas de plancie metros) e o herbceo (abaixo de 2 metros). Algumas poucas espcies no perdem as folhas na esto sujeitas a um perodo de seca muito mais longa e severa que as reas planlticas, perodo que dura poca seca, entre essas se destaca o juazeiro (Zizyphus aproximadamente sete meses, mas que s vezes pode joazeiro), uma das plantas mais tpicas desse ecossistema. chegar a at doze meses. No s a taxa de precipitao As espcies vegetais que habitam essa rea so em geral anual mais baixa, como tambm as temperaturas so em dotadas de folhas pequenas, uma adaptao para reduzir a transpirao. geral mais altas. Alm de cactceas, como Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereus (xiquexique), a caatinga tambm Solo Geologicamente, a regio composta de vrios tipos apresenta muitas leguminosas (mimosa, accia, etc.). No meio de tanta aridez, a caatinga surpreende com diferentes de rochas. Nas reas de plancie as rochas prevalecentes tm origem na era Cenozica as quais se suas ilhas de umidade e solos frteis (enclaves). So os

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ O processo de degradao da caatinga teve inicio ainda chamados brejos, que quebram a monotonia das condies ecogeogrficas dos sertes. Nesses enclaves, possvel no Brasil colnia juntamente com a expanso da pecuria produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos para o interior do pas, no sculo XVII. De acordo com o Instituto de Geografia e Estatstica trpicos. Por fim, a flora dos sertes constituda por espcies (IBGE) desde 1993 que 201.786km da caatinga tinham com longa histria de adaptao ao calor e a seca, sido transformados em pastagens, terras agricultveis e incapaz de reestruturar-se naturalmente se maquinas outros tipos de uso intensivo do solo (IBGE, 2007). Devido s vrias dcadas de anos do uso imprprio e forem usadas para alterar o solo. A degradao , insustentvel dos recursos naturais, a caatinga, foi um portanto, praticamente irreversvel na caatinga. bioma muito desgastado e considerado o ecossistema brasileiro menos estudado, menos conhecido cientificamente e menos conservado. RESULTADOS E DISCUSSES Recentemente foram feitos importantes estudos para melhorar e ampliar o conhecimento desta regio e tentar Processo de degradao da caatinga O processo de ocupao do Nordeste brasileiro minimizar ou reverter este processo. Neste sentido, a iniciou-se a partir do litoral e interiorizou a partir do EMBRAPA, e o Ministrio do Meio Ambiente (MMA) desenvolvimento das atividades extrativas e da produo por meio do Programa Nacional da Biodiversidade agrcola voltada para a exportao. Foi no sculo XVII (PROBIO), vem contribuindo para os avanos do que se deu ocupao do serto pelo gado, e das fazendas conhecimento da biodiversidade, das reas que mais e currais dos bois originaram-se os primeiros ncleos necessitam de conservao e do nvel de degradao da caatinga (MMA, 2007). urbanos. O MMA/PROBIO considera trs reas prioritrias para Atualmente o serto se caracteriza por atividades conservao de biodiversidade no bioma Caatinga, sendo econmicas ligadas pecuria e ao extrativismo minerais ambas as atividades caracterizadas pela forma extensiva elas, serra das Almas (Cear), Curimata (Paraba) e de produo. Com relao agricultura tradicional esta Betnia (Pernambuco) (ARAJO et al., 2005). Na Paraba, dois teros da rea total do Estado continua sujeita s vicissitudes climticas e apresenta correspondem ao bioma caatinga. Estende-se por cerca de problemas de rendimentos e de mercado. Assim, a pecuria tornou-se a atividade principal 4/5 da superfcie do seu territrio, abrangendo as regies dentro do bioma caatinga, proporcionado segundo Moreira do Serto, Cariri, Serid e Curimata (MELO & et al. (2007) pela vegetao nativa da caatinga que permite RODRIGUES, 2003). Segundo o Ibama, cerca de 20 mil hectares de lenha um consumo de matria seca capaz de atender as so retiradas das matas Paraibanas. So vrios os fatores necessidades dos animais. A criao do gado praticada extensivamente, responde atualmente por uma forte que causam a degradao desse bioma, entre eles, esto os concentrao de terras, sobretudo na aps a utilizao de cortes da vegetao nativa para retirada de lenha, desgaste pastos melhorados e da cultura de plantas forrageiras progressivo do solo pela formao de pastagens, pratica agrcolas inadequada. (palmas forrageiras). O estudo do subprojeto PROBIO, foi realizado no Na maioria dos casos, as atividades econmicas so Curimata oriental, que ocupa parte dos municpios de acompanhadas de desmatamentos indiscriminados da caatinga que associados fragilidade natural desse bioma Cacimba de Dentro, Araruna, Arara, Dona Ins, Solnea, trazem srias conseqncias para os getopos e para as Campos de Santana (antigo Tacima) (ARAJO et al., biocenoses: comprometimento dos recursos hdricos, 2005). De acordo com Arajo et al. (2205) os resultados eroso, salinizao e compactao dos solos, reduo da diversidade biolgica e da produo primria, entre divulgados em relao rea de Curimata, no so nada positivos. Na rea total mapeada (797,15 km), pouco outros. Essas alteraes provocam uma reduo drstica na mais de 2% (18 km) apresentam ainda a sua vegetao qualidade de vida do sertanejo, sobretudo quando este em bom estado de conservao. Tomando como exemplo o Diagnstico Fitogeogrfico da rea de Curimata, os pertence aos grupos que possuem as rendas mais baixas. Para agravar mais o quadro de vida do habitante do resultados apresentados foram: Caatinga florestada que ocupa boa parte 38% da serto vem se acrescentar s secas peridicas, as quais, embora nem sempre sejam previsveis so sempre rea de Curimata = 305 km A caatinga arbreo-arbustiva ocupa uma boa provveis. O acesso a terra e gua e os meios para atravess-las deveriam ser equanimente partilhados pr parte com 43% = 334 km. Mata seca ocorre em boa expresso em 18% = todos. Segundo Andrade (1989), o problema do serto no 143 km de ordem fsica, mas sim social. Mas para isto ser No caso dos complexos vegetacionais, o alcanado preciso solues tcnicas e meios para que o complexo galeria ocupa uma pequena parte 1% = 8 km. sertanejo viva com as secas e elas s podero ser aplicadas Complexo arbreo-arbustivo no aparece no se houver uma forte vontade poltica em faz-lo. Curimata como tambm o complexo arbreo.

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ A interveno humana nas caatingas vem acelerando a De um modo geral a rea da cobertura vegetal original da caatinga est em um grande nvel de degradao. degradao do seu potencial florestal e dos seus solos e, preciso instalar com urgncia unidades de recuperao e por conseguinte, provocando desequilbrios ecolgicos de gravidade varivel. preservao considerando a importncia dessas reas. As tradies adquiridas h 400 anos, exercem uma Existem setores onde a caatinga apresenta fcies ntido de regenerao caracterizada por uma sinsia de pequeno forte influncia na utilizao atual da caatinga, e, de certa porte, arbustiva, quase mono-especfica e com maneira, do seu uso futuro. A utilizao ainda se ramificaes desde o nvel do solo. Os remanescentes fundamenta em processos meramente extrativistas para a arbreos que foram poupados do machado e do fogo produo de produtos de origem pastoril, agrcola ou apresentam-se espaados e a base de algumas dessas madeireira. A expanso da pecuria, a partir de meados o sculo rvores como tambm dos arbustos resulta de um crescimento secundrio aps terem sido cortados. Eles XVII, ampliou as reas de pastagem por meio do corte das rebrotam a partir dos troncos que foram vtimas do rvores e do fogo, para que pudessem crescer gramneas novas. A prtica da devastao de grandes espaos da machado. Nos setores em que a caatinga for transformada em caatinga, pelas queimadas, fez realmente aumentar as pastos, seu aspecto geral de uma savana arborizada ou reas de pastagem, mas provocou transformaes no. Se as atividades cessarem, a regenerao da caatinga irreversveis nesse ecossistema. O superpastoreio de apresenta um grupo de arbustos com porte uniforme. As caprinos, ovinos e bovinos tem modificado a composio espcies de substituio so Mimosa ssp., Caesalpinia florstica no s do estrato herbceo, mas tambm do extrato arbreo-arbustivo, pela presso do pastejo. A ssp., Croton ssp. Nos setores submetidos a uma menor presso explorao agrcola, com prticas de agricultura itinerante antrpica a vegetao mais densa e constituda por que constam do desmatamento e da queimada vrias espcies cuja dominncia difcil de ser desordenados, tem tambm modificado tanto o estrato herbceo como o arbustivo-arbreo. A explorao determinada. Constata-se nas reas que so ocupadas por caatingas madeireira j tem causado mais danos vegetao lenhosa em fase de regenerao, isto , livre das aes humanas e da caatinga do que a agricultura migratria (MELO, dos animais, a ocorrncia de uma formao mais densa 1998). que pode ser observada pela presena de rvores poupadas e dos rebrotamentos bastante desenvolvidos a partir dos A Pecuria O semi-rido nordestino foi ocupado, desde o sculo troncos cortados rente ao solo. Porm, quase sempre a regenerao no pode XVII, pela expanso da pecuria extensiva em campo acontecer por causa da presso humana intensa e aberto. Essa expanso se fez custa da caatinga. Tanto nas reas de caatingas arbreas como nas constante. Esta, uma vez cessada, permitiria, a mdio ou a longo prazo, que a vegetao se reconstitusse . Para que arbustivas, os criadores de gado passaram a usar a queima isso fosse possvel seria preciso levar em conta os fatores do pasto, antes da estao das chuvas, para facilitar o ecogeogrficos tais como: localizao, tipos de solo, brotamento do mesmo, lanando nas reas uma grande rochas-me, ndices pluviomtricos e durao da estao quantidade de animais (bovinos, caprinos e ovinos), acima da capacidade de suporte das mesmas. seca. A utilizao da caatinga como pastagem extensiva No se deve esquecer que os processos morfogenticos tpicos do meio semi-rido, com duas estaes vem causando degradaes fortes e por vezes irreversveis contrastadas, e as degradaes antrpicas, so do ecossistema. J so encontradas extensas reas cuja responsveis por um dinamismo da vegetao em que vegetao j se encontra muito empobrecida, tendo caatingas raquticas e ralas representam um sub-clmax e perdido a diversificao florstica que lhe peculiar, a caatingas em fase de regenerao so disclmaces exemplo da rea perifrica das cidades do serto e no antrpicos. A caatinga arbrea ou floresta seca seria, neste entorno das vilas, povoados e fazendas da regio. Moreira et al. (2007) ressalta que a alternativa para os caso, o verdadeiro clmax mesmo atingido pelas aes sistemas pecurios do semi-rido seria procurar ganhos de antrpicas. produtividade no fator terra. Isto s seria possvel com um manejo racional da caatinga, utilizando-se apenas naquele Aspectos Gerais da interveno humana perodo de 2 a 4 meses ao ano.

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No Quadro 1, esto listadas as espcies herbceas, arbustivas e arbreas de valor forrageiro para o rebanho. Nele observar-se que o caprino o de maior comestibilidade. Nome Vulgar Nome Cientfico Comestibilidade por tipo de Gado BOVINO CAPRINO OVINO Angico Piptadenia macrocarpa Barana Xchinopsis brasiliensis + + Catingueira Caesalpinia pyramidalis +** Facheiro Cereus squamosus +* + +* Jurema preta Mimosa hostilis + + Jurema branca Pitehcolobium comosum + + Mandacaru Cereus jamacaru +* Macambira Bromelia laciniosa +* +* +* Marmeleiro Croton sincorensis Pereiro Aspidosperma pyrifolium + Pinho-bravo Jatropha pohliana Xiquexique Pilocereus gounelei +* +* +* Quadro 1 - Espcies da caatinga de potencial forrageiro apreciado pelo gado Fonte: Saito e Maruyama, 1988, modificada por Melo, 1997, complementada por Alves, 2008. Legenda: * comestvel depois da retirada dos espinhos ** comestvel quando jovens + Comestvel - No comestvel Investigando a utilizao das plantas nativas da caatinga pelos pequenos agropecuaristas para a alimentao dos animais na seca em cinco comunidades da Bahia e de Pernambuco, registraram que o mandacaru utilizado por 46,52% dos agropecuaristas. Enquanto o xiquexique responde por 10,51%, a coroa-de-frade por 6,96% e o facheiro por 12,28% (CAVALCANTI & RESENDE., 2006). Observar-se tambm quando do efetivo do rebanho for muito grande e criado solto, em destaque o caprino, que apresenta maior comestibilidade dentre as espcies da caatinga (Quadro 1), as pastagens so na realidade sobrecarregadas, tendo em vista o sistema de criao supracitado e as condies ecogeogrficas locais. Nesta pesquisa listamos alguns efeitos mltiplos que o gado exerce sobre o ecossistema da caatinga a partir da avaliao da Figura 1 e do trabalho de campo:

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Figura 1 Mudana na caatinga devido ao pastoreio Fonte: Hayashi, 1988, adaptada por Alves, 2008. Ele procura sempre as melhores espcies, impondo assim flora da caatinga, uma ao seletiva negativa que se traduz pela rarefao ou desaparecimento das espcies que lhes so mais apetecveis e que so (3) eliminadas antes que possam se reproduzir, em detrimento daquelas que no o so e que ao se multiplicarem tornamse invasoras (Mimosa ssp, Caesalpinia ssp, Croton ssp.). (2) Ao se alimentar dos brotos germinativos das espcies lenhosas, o gado, especialmente o caprino, compromete a sua reproduo e, por conseguinte, a recuperao dos estratos arbustivos e arbreos da (1) caatinga. Da mesma maneira, a utilizao de capoeiras de idades diferentes como pasto natural, vai retardar a evoluo e a reconstituio da vegetao. O superpastoreio que suprime o tapete herbceo e o excesso de pisoteio, geram fenmenos de eroso importantes em diferentes graus de intensidade: sulcos, ravinas, voorocas e decapitao dos solos, alm de comprometer a sua capacidade hdrica, sobretudo por torn-los compactados, favorecendo o escoamento superficial.

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ (4) Afeta o sistema solo gua atravs da diminuio das quantidades de matria seca residual; CONCLUSES favorece a invaso por espcies herbceas no pertencentes ao clmax; deteriora progressivamente os Como discutido nesse trabalho, a caatinga um bioma recursos do solo e da vegetao; acentua os efeitos da seca que em decorrncia da relevncia que representa para o climtica e aumenta a extenso de reas em processo de meio ambiente precisa ser preservado e estudado, em desertificao. especial mecanismos de sustentabilidade. um Essas diversas transformaes se conjugam e ecossistema rico em variedades de fauna e flora como provocam uma reduo da biomassa vegetal utilizada pelo tambm apresenta muitas espcies endmicas. gado, diminuindo, portanto, a sua capacidade de carga. A So conhecidas vrios estgios de caatingas e estas tendncia aps anos seguidos de sobrecarga e abrigam impressionantes espcies que vivem no semisuperpastoreio, que a vegetao definhe, os solos fiquem rido, so animais e plantas que se adaptaram de uma mais expostos s intempries naturais (chuva, vento, forma surpreendente ao clima seco e que sobrevivem temperatura, radiao), trazendo conseqncias danosas dentro desse geoambiente. para o comportamento hdrico (permeabilidade e Com tantas fragilidades e singularidades, a caatinga escoamento) (KOECHLIN & MELO, 1980). vem sendo mais valorizada nas ultimas dcadas. Esto O superpastoreio, principalmente nas reas tradicionais surgindo novas pesquisas que contribuem para criao de de criao, aliado a uma poltica de baixos investimentos novas unidades de conservao e sustentabilidade, mas na atividade pecuria, o nvel educacional dos produtores falta muito h ser feito para que a caatinga seja e o ttulo de posse da terra, so fatores que vm devidamente conservada e restaurada. contribuindo para baixar os ndices produtivos e Do que foi exposto sucintamente, pode-se concluir que reprodutivos dos rebanhos e, conseqentemente, as atividades antrpicas, em especial a pecuria extensiva, cerceando um maior crescimento desse setor (MELO, contriburam para alteraes estruturais da caatinga e que 1983). estas se refletem em seu polimorfismo, mas no so os nicos fatores. Querer afirmar que todas as caatingas so A conservao da caatinga originadas a partir das aes predatrias do homem Esse bioma rico em espcies animais e vegetais, apenas uma das muitas hipteses sobre os seus aspectos muitas ainda desconhecidas. Quando chove na caatinga a fisionmicos. Condies climticas locais aliadas a outros paisagem muda rapidamente. As plantas renascem e fatores ecolgicos como solos, fenmenos da exposio e cobre-se de folhas dando novamente um aspecto verde a de abrigo, caractersticas herdadas de sistemas vegetao e o que antes parecia morto e feio cobre-se de morfoclimticos e paleoecolgicos devem ser vida e beleza. consideradas. A urgncia em definir uma poltica para conservao Resta que, o polimorfismo da caatinga traduz-se por da biodiversidade da Caatinga fica patente quando se diferente fcies o que torna muito difcil a sua considera que no bioma, h cerca de 40 unidades de enumerao. O certo que muitos deles se devem aos conservao correspondentes a 7,1% da superfcie total, fatores geotpicos, mas muitos outros, trazem a marca porm, apenas cerca de 1,21 % desse total so unidades de incontestvel das atividades humanas pretritas e atuais, proteo integral (ARAJO et. al., 2005) e cerca de 70% como a pecuria extensiva e o desmatamento da caatinga j foi alterada por aes antrpicas. Visto isso, indiscriminado. a grande variedade de espcies desse bioma esta sendo ameaada e algumas ainda esto sendo registradas, isso mostra como a precariedade de estudos realizados REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS grande nesse ecossistema. Vem aumentando o interesse em proteger os biomas ALVES, Jose Jakson Amancio. Geoecologia da caatinga brasileiros e esto crescendo tambm os interesses de no semi-rido do Nordeste brasileiro. CLIMEP: instituies governamentais e no governamentais para Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v.2, n.1, conserva essa imensa biodiversidade, mas as unidades de p. 58-71, 2007. conservao que j existem ainda so insuficientes (principalmente na caatinga). De acordo com o I Relatrio ALVES, Jose Jakson Amancio. Bio_geografia. Joo Nacional para Conservao da Diversidade Biolgica o Pessoa: Ed. Fotograf, 108p. ISBN: 978-85-904116-6-6. Brasil conta com 8,13 % do territrio legalmente 2008. protegido, mas s 1 % na caatinga. O que significa que ainda h muito h ser feito, principalmente em relao a ANDRADE, Manoel Correia de. Lintervention de l/Etat programas de sustentabilidade para o semi-rido, os quais et la scheresse dans le Nordeste du Brsil. In: Les j conduziriam para uma diversidade de alternativas Hommes face aux Scheresses (Coord. Bernard Bret), p. sustentveis onde a caatinga seria preservada e 391-398. Coll. Travaux et Mmoriesde LIHEAL, n 42 racionalmente utilizada pelos sertanejos. Srie Thses et Colloques, n. 1. Ed. EST/IHEAL, Paris, 1989.

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REVISTA CAATINGA ISSN 0100-316X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao ________ pernambucano. Revista Caatinga, Mossor, v.20, n.3, ANDRADE-LIMA, D. A. The caatinga dominium. Rev. p.13-21, 2007. Bras. Bot. Rio de Janeiro, v.4, n.1, p. 149-153, 1981. MARTIUS, K. P. von A viagem de Von Martius: tabulae ARAJO, F.S. RODAL, M.J.N. BARBOSA, M.R.V. physiognice: 1840. v. 1. Rio de Janeiro: Index, 1996. Anlise das variaes da biodiversidade do bioma caatinga. Ministrio do Meio Ambiente, DF. Braslia, MELO, A. S. Tavares de. Desertificao: Etimologia, Conceitos, Causas e Indicadores. Rev. do UNIP, Joo 2005. Pessoa: UNIP, 2 (2):21-35, 1998. AUBRVILLE, A. tude cologique des principales formations vgtales du Brsil, et contribuition la MELO, A. S. Tavares de. Lorganisation des paysages connaissance des forts de l' Amazonie. Paris: Comtre dans lest de la Paraiba et du Rio Grande do Norte (Brsil) Une contribution de limagerie radar aux tudes Techique Forestier Tropical, 1961. cogographiques. Univ. de Bordeaux III, Talence, (Tese CAVALCANTI, N. de Brito. RESENDE, G. Milanez de. de Doutorado), 1983. Consumo do mandacaru (Cereus jamacaru P. DC.) por caprinos na poca da seca no semi-rido de Pernambuco. MELO, A. S. Tavares de. RODRIGUES, Janete Lins. Paraba, desenvolvimento econmico e a questo Revista Caatinga, Mossor, v.19, n.4, p.402-408, 2006. ambiental. Joo pessoa: Grafiset, 2003. HAYASHI. I. Changing aspect of caatinga vegetation in semi-arid region Northeast Brazil. In: Agricultural land MMA. Ministrio do Meio Ambiente. Disponvel em Use and Transformation of Ecosystem in the semi-arid http://www.mma.gov.br acesso em: 30 out. 2007 . region, Northeast Brazil. Univ. of Tsukuba. p. 61-76, SCHNELL, R. Le problme des homologies 1988. phytogographiques entre lAfrique et lAmrique IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. tropicales. Mm. Mus. DHist. Nat. Nouv. Srie, Paris, v. Disponvel em http://www.ibge.gov.br acesso em 18 out. 11, p. 137-241, 1961. 2007. SAITO, I. MARUYAMA, H. Some types of livestock KOECHLIN, J. Le milieu biologique: la vgtation. In: ranching in So Joo do Cariri in the upper Paraba MELO, A. S. Tavares de. Gographie et cologie de la Valley, Northeast Brazil. In: Agricultural Land Use and Paraiba (Brsil). Talence: Centre dEtudes de Gographie Transformation of Ecosystems in the Semi-Arid Region, Tropicale, (Trav. et Doc. de Gogr. Tropicale, n. 41), Northeast Brazil. Centro de Estudos Latino-Americanos. Univ. of Tsukuba. p. 101-120, 1988. 1980. MOREIRA, Jos Nilton. et al. Consumo e desempenho de vacas guzer e girolando na caatinga do serto SISTEMA Estadual de Informaes Ambientais. Disponvel em: Acesso em: 23 fev. 2007.

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