AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA

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AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA Por Eliane Miraglia DEZEMBRO DE 2011 2011 foi uma experiência, no mínimo, curiosa. Desnecessária aqui uma retrospectiva completa porque dois fatos podem bem representar as mudanças em processo, ainda que muitos prefiram ignorar as evidências dos novos tempos. O primeiro fato é a capa da revista americana Time ter definido uma capa conceitual 1 para estampar sua edição de dezembro, ao invés de eleger a tradicional personalidade do ano. Figura na capa uma ilustração de um manifestante anônimo, simbolizando os protestos populares ao redor do mundo, reivindicando democracia, justiça social, revisão de políticas econômicas e ambientais. As manifestações não tiveram um líder! Esse é o verdadeiro prenúncio dos novos tempos. As pessoas aprenderam a não esperar mais o Messias, o Super- homem, ou um representante nem sempre ético que possa decepcioná-las e ainda responsabilizá-las por escolhas insensatas e duvidosas. Elas mesmas passaram a se organizar e protagonizar a história. Fazer diferente. A capa de revista é só um detalhe midiático, reflexo comercial inevitável que registra uma inversão histórica de papéis. Nesse processo de crise sistêmica, um detalhe curioso. O Brasil está mobilizado com a busca de soluções internas para aproveitar as oportunidades que vão acontecer no curto e médio prazos: treinamento e qualificação de trabalhadores para a prestação de serviços durante a Copa e as Olimpíadas; aperfeiçoamento de infraestrutura; combate ao narcotráfico; controle de epidemias como a dengue; contenção do crescimento das cracolândias tanto nas metrópoles quanto em localidades rurais. Sem parar de crescer, os resultados do Brasil têm despertado a atenção não só da mídia internacional como sétima economia mundial no ranking The Economist 2 , como atraído investidores e imigrantes de diferentes lugares do mundo, interessados em melhores condições para estabelecerem seus negócios e trabalho, com as mais variadas configurações: participações em empresas locais, implantação de unidades de corporações globais ou mesmo microempresas, como hospedarias instaladas em comunidades pacificadas, promovendo um turismo alternativo e pouco convencional. 1 http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5517793-EI8141,00-Revista+Time+escolhe+O+Manifestante+como+personalidade+de.html 2 http://jornaloexpresso.wordpress.com/2011/01/21/brasil-fecha-2011-na-7%C2%AA-colocacao-na-economia-mundial/

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Artigo sobre a capa histórica da revista TIME e a previsão da aprovação da Lei 1992 - criação da Funpresp.

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AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA Por Eliane Miraglia • DEZEMBRO DE 2011

2011 foi uma experiência, no mínimo, curiosa. Desnecessária aqui uma retrospectiva completa porque dois fatos podem bem representar as mudanças em processo, ainda que muitos prefiram ignorar as evidências dos novos tempos. O primeiro fato é a capa da revista americana Time ter definido uma capa conceitual1 para estampar sua edição de dezembro, ao invés de eleger a tradicional personalidade do ano. Figura na capa uma ilustração de um manifestante anônimo, simbolizando os protestos populares ao redor do mundo, reivindicando democracia, justiça social, revisão de políticas econômicas e ambientais. As manifestações não tiveram um líder! Esse é o verdadeiro prenúncio dos novos tempos. As pessoas aprenderam a não esperar mais o Messias, o Super-homem, ou um representante nem sempre ético que possa decepcioná-las e ainda responsabilizá-las por escolhas insensatas e duvidosas. Elas mesmas passaram a se organizar e protagonizar a história. Fazer diferente. A capa de revista é só um detalhe midiático, reflexo

comercial inevitável que registra uma inversão histórica de papéis. Nesse processo de crise sistêmica, um detalhe curioso. O Brasil está mobilizado com a busca de soluções internas para aproveitar as oportunidades que vão acontecer no curto e médio prazos: treinamento e qualificação de trabalhadores para a prestação de serviços durante a Copa e as Olimpíadas; aperfeiçoamento de infraestrutura; combate ao narcotráfico; controle de epidemias como a dengue; contenção do crescimento das cracolândias tanto nas metrópoles quanto em localidades rurais. Sem parar de crescer, os resultados do Brasil têm despertado a atenção não só da mídia internacional como sétima economia mundial no ranking The Economist2, como atraído investidores e imigrantes de diferentes lugares do mundo, interessados em melhores condições para estabelecerem seus negócios e trabalho, com as mais variadas configurações: participações em empresas locais, implantação de unidades de corporações globais ou mesmo microempresas, como hospedarias instaladas em comunidades pacificadas, promovendo um turismo alternativo e pouco convencional.

1 http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5517793-EI8141,00-Revista+Time+escolhe+O+Manifestante+como+personalidade+de.html 2 http://jornaloexpresso.wordpress.com/2011/01/21/brasil-fecha-2011-na-7%C2%AA-colocacao-na-economia-mundial/

Existem, é claro, muitos problemas que ainda precisam de avanços e respostas mais efetivos: a erradicação da corrupção e a correta destinação dos recursos financeiros públicos para a promoção de saúde, educação, habitação, transportes. Mas, é preciso reconhecer a superação da terrível e lamentável imagem do país dos desdentados e descamisados que um dia o Brasil usou para caracterizar seu povo. Expansão da Previdência Complementar O segundo fato ainda não está consumado mas, em dezembro, também atraiu a atenção da mídia local. A votação do Projeto de Lei 1992, cuja aprovação será decisiva para que a educação previdenciária se naturalize entre os brasileiros. O novo regime capitalizado dos servidores inverterá um conceito paternalista histórico de que o Estado tudo provê com os recursos públicos. O novo regime deverá ser um dos principais agentes de difusão da cultura previdenciária em todos os segmentos da sociedade. Os ganhos serão em escala. Para se ter uma idéia, o modelo fechado de Previdência Complementar no Brasil tem pouco mais de trinta anos. Os fundos de pensão, frente à macroeconomia, assumiram o papel de investidores institucionais, administrando um patrimônio total de R$ 530 bilhões, recursos financeiros que diretamente alavancam a economia e indiretamente geram muitos empregos. Mas esse é apenas um aspecto tangível de todo o processo. A principal função e diferença de um fundo de pensão acontecem mesmo, de fato, no cotidiano de seus participantes, beneficiários e patrocinadores, que conquistam sustentabilidade de vida, por meio de planejamentos financeiros individuais e projetos coletivos de desenvolvimento humano, social e econômico. Dignidade e qualidade de vida no longo prazo. Distribuição inteligente de renda, geração e transmissão de cultura e de valor. Em um mundo onde as pessoas vão viver por mais tempo, é preciso que elas aprendam novos comportamentos, especialmente aqueles que são coletivamente melhores. As pessoas precisam aprender que a interdependência pode ser resposta para muitas perguntas, desde que elas se disponham a avançar e fazer com que suas experiências em liderança, educação e cidadania evoluam. Como as comemorações de virada de ano permitem exageros de todas as naturezas, o meu é de otimismo definitivo e absoluto! E para os céticos sobre tudo isso, só um remédio: os versos visionários de Chico Buarque: “apesar de você / amanhã há de ser outro dia / você vai ter que ver / a manhã renascer / e esbanjar poesia / como vai explicar / vendo o céu clarear / de repente, impunemente / como vai abafar / nosso coro a cantar / na sua frente?”.

Eliane Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e

consultora de comunicação. Com Marisa Santoro Bravi, escreveu A importância dos valores para a construção de novos paradigmas sociais, disponível para leitura em http://biblioteca.abrapp.org.br/default.html