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    Revista do Servio de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 63

    Amar e Ser AmadoAna Paula Rocha*

    Resumo:O presente artigo pretende abordar a forma como arelao precoce entre a me e o seu beb, quecomeou ainda no tero, vai determinar a qualidadede vida relacional de cada um de ns, enquantosujeitos.

    Os possveis desvios ou desencontros nesta inter-aco traro como consequncia diversas pertur-baes na riqueza da nossa vida afectiva.Por outro lado, uma boa interaco me bebfavorece os fundamentos da formao do vnculoamoroso. Surge assim, por fim, a ideia que destesentimento amoroso e da realizao do mesmo, queresulta uma vida rica e plena de afectos.Palavras-chave: Relao precoce; Vnculo amoroso.

    A B S T R A C T:

    This article intends to ascertain the way thep recocity of the relationship between the mo-ther and her baby, that began in utero, willd e t e rmine the relational quality of life of all ofus as individuals. Possible deviations in thisinteraction will cause disturbance in the rich-ness of our affective life.On the other hand, a good mother-baby inter-action will favour the fundamentals for lovebonds. At last it gives the idea that the outcomeof this love bond and its fulfilment will be a life

    full of aff e c t i o n s .K e y - Wo rd s :P recocity of the relationship; Love

    b o n d s .

    Este parecia ser um bom desafio, escrever algosobre um tema que todos conhecemos na pele e naalma, no sorriso e na lgrima, na ternura e na raiva.

    Quem no conhece o amor, que levante o brao porqueprecisa imediatamente de uma transfuso, pois est decerteza numa anemia de afectos que urgente resolver.Depois deste primeiro pensamento, outros menosagradveis me assaltaram, como escrever sobre um senti-

    mento que parece to simples e natural, mas ao mesmotempo o sentimento mais complexo, que nos move ouparalisa ao longo da vida.

    com o amor prprio e o dos outros, que perseguimos elutamos pelos nossos sonhos e, com a falta dele que nosdeixamos apanhar pelo cinzento da ausncia do sonho. Sefosse sobre uma qualquer patologia, uma qualquer per-turbao provocada pela privao ou desadequao domesmo, era de certeza mais fcil, mas assim fiquei com-pletamente bloqueada, sem saber como dar a volta aotexto, no, pior, como avanar com o texto que ainda noexiste.

    A minha tentativa para falar de um sentimento que foimagistralmente explorado por Cames, Gabriel GarciaMarquez, Baudelaire, Florbela Espanca, Ortega e Gassetou Freud entre muitos outros, tem de ser o mais modestapossvel e, garanto-vos, que isto no tem nada a ver comfalta de amor prprio, mas sim com a prova da realidade.

    Mas vamos l tentar:O percurso que cada um de ns faz desde que fomos pen-sados como possveis, na imaginao dos nossos pais,passando pelo complicado processo de elaborao do

    nosso Eu, at ao momento em que estamos preparadospara enfrentar o fascinante mundo de "gostar dos outros", algo que acontece em cada momento e em todos osmomentos. O que se vai tecendo ao longo do tempo,atravs da forma como somos amados a nossa capaci-

    *Mestre em Psicologia Clnica, Professora: ISPA

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    dade de amar. Por isso, este tema tem de ser por ns vira-do de pernas ao ar, porque s faz sentido se dissermos"Ser amado e amar".

    At h algum tempo atrs sabamos que o amor por nscomeava no exacto momento em que fomos pensadospelos nossos pais, a nossa existncia, se tudo correu bem,nasceu do encontro do desejo dos dois. Comeou a criar-se dentro deles um espao que seria nosso e, se quandofalo de espao, falo tambm do corpo da me que nos vaiacolher durante 9 meses, agora estava mais a pensar noespao do Afecto. Para fazer um filho preciso haver umencontro entre os pais e os seus afectos e da nasce umespao para um novo ser humano que ganha vida dentroda imaginao dos pais, muito tempo antes do seu nasci-mento. o beb imaginrio com o qual os pais vo con-

    vivendo at altura do parto.

    Hoje sabemos mais coisas que nos ajudam a perceber o

    quo poderosa esta nossa primeira relao de amor, quevai para sempre marcar a nossa vida. Nesta altura estocuriosos com esta informao, espero pelo menos mant-los atentos.

    Voltando ao que sabemos. Sabemos muito, mas ainda nosfalta muito mais e, o amor ao conhecimento que nasce dacuriosidade pelo desconhecido, que nos continua a fazercaminhar nesse sentido. Sabemos que o que a me faz cfora tem uma resposta no beb. Os ecgrafos identificamfacilmente o soluo do feto quando a me est comovidae o apaziguamento do espasmo quando algum a tran-

    quiliza. Quando o corao se acelera, quando agita asmos e os ps ou quando faz caretas o feto fornece bonsindcios da percepo da emoo materna. Quando a mefala, possvel perceber que a estrutura fsica da palavrase transforma num tocar que estimula o feto e

    desencadeia um comportamento exploratrio com asmos e a boca. Dito de outra forma, quando a me fala obeb move as plpebras, muda de postura e suga o pole-gar ou o cordo umbilical. A me apresenta-se-lhe tam-bm pela sua extrema habilidade culinria. O lquidoamnitico que de vez em quando engole perfumadocom o corpo da me: acar, uma pitada de sal, acidoctrico, algumas protenas, cido lctico e "voil" temosum lquido com sabor a iogurte. Assim sabemos que o diade nascimento no marca o incio da vida, nem da relaocom os pais, mas sim a nossa apresentao pblica aomundo.

    No entanto neste famoso dia, celebrado para sempre aolongo da nossa vida, o nosso natal, o beb desembarca naterra com um equipamento neurolgico sofisticado quelhe permite perceber, filtrar e organizar o seu pequenomundo ainda que de forma incipiente. Depois do cataclis-mo ecolgico que permite passar do mundo aqutico do

    tero para o mundo areo dos braos maternos, podeobservar-se um comportamento curioso: o recm nascidochora. Foi expulso do paraso uterino pelas contracesdo parto. Dormiu durante o parto at que a sua cabeaembateu contra os ossos da bacia e quando o seu corpotorcido se enfiou na garganta plvica. Desperta, est com-pletamente nu, molhado e gelado num mundo onde pelaprimeira vez na vida tem de desenvencilhar-se ao respirarsozinho. Este novo universo gelado, sonoro e luminoso atao extremo avassalador, e nada comparado ao mundoanterior onde uma suspenso hidrulica nos embalavasuavemente.

    O despertar terrvel. A angstia faz-nos gritar. O ar friopenetra nos pulmes que se desenrugam e expandemcomo a nossa bola de praia do ano passado. E tudo istodi. Neste caos de luz branca, frio, gritos intensos e de

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    choques violentos... subitamente, uma voz familiar: dizemo nosso nome em voz baixa. mais forte e mais agudo queantes, mas reconhecemos o tom e a msica desta voz jouvida no tempo em que vivamos tranquilos. Louca espe-rana dos desesperados, voltamos a cabea e os olhos nadireco da fonte sonora. Tudo o resto se desvanece,porque s aspiramos a ouvir este delicioso fragmento depalavra que nos hipnotiza e, ento, esticamo-nos na suadireco com alguma agitao.

    Ento pegam-nos ao colo. Como uma rede h braos quenos envolvem e nos aconchegam numa concavidadequente. Ao rosto chega-nos um odor conhecido, umadoura intensa que tocamos com as nossas mos e explo-ramos com a lngua. Ento depois do sofrimento, depoisda procura de um outro para amar, sentimos na boca esteser que escorre em ns e nos enche de calor. Estamos sat-isfeitos: todo o vazio preenchido. Acabmos de conhecera nossa primeira experincia amorosa. Este o romance

    do nascimento. O amor no um elo, uma revelao.

    Este encontro pouco deve ao acaso, porque necessita porparte do sujeito apaixonado, de um estado de procuramas para procurar tem de desejar e para desejar tem deestar carente. A satisfao origina o apaziguamento dossentidos como quando nos sentimos saciados aps umabela refeio, ou como quando nos tornamos refractriosaps o acto sexual. Por isso, como nos disse Winnicott, ame tem de ser suficientemente boa, para permitir aexistncia de um espao em que novamente se cria anecessidade do outro. No incio o beb vive quase uma

    experincia de omnipotncia em relao me que ante-cipa todas as suas necessidades e quase podamosarriscar, que ela aqui excepcionalmente boa. Mas medida que o beb vai crescendo a palavra suficienteimpe-se, porque ele vai ter de conseguir lidar com

    alguma frustrao que pode ter a ver com a espera, como tal estado de necessidade que cria a necessidade dame, que nesta fase j no est sempre l, para anteciparas necessidades da criana.

    Mas, voltando ao incio, este primeiro amor um casa-mento que permite encontrar no mundo exterior essafamiliaridade fusional, sentida no tero. A enorme capaci-dade sensorial dos recm nascidos exprime a aptidopara o amor daquele que procura activamente o objectorevelador de si prprio.

    Ter sido nico e especial, exclusivo na verdadeira acepodo termo, constitui a condio determinante de um amor-prprio estvel, forte e que nos permite enfrentar oimpacto que os acontecimentos de vida, ao longo dos tem-pos, nos provocam.

    Se por acaso no fomos suficientemente investidos pelos

    nossos pais, se no ocupmos como o menino/a Jesus, nasagrada Famlia, um papel central na sua ateno apreoe afecto, se no recebemos aquele olhar apaixonado dame que nos vai espelhar como belos, a nossa personali-dade fica partida condicionada e coxa numa organiza-o onde a depressividade vai andar sempre ao nossolado, pronta a pregar-nos uma rasteira e nos deixar cair nadepresso, com a consequente incapacidade de amar, oudesejar ou sonhar, verbos todos eles muito ligados.

    Coimbra de Matos diz-nos, num dos seus textos que"O beb comea por ser reconhecido e investido no

    seu rosto que o diferencia - de todos os outrosbebs, confirmando-o como o nico, o mais belo. esta distino e honra de ser nico e especial que osoergue do anonimato e da indiferena, colocando--o no altar da admirao e do amor. Pelo olhar

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    apaixonado da me/pai, ele/ela o prncipe/princesamaravilhoso/a."

    No entanto, na ausncia deste investimento narcisante obeb vai crescer por um lado, annimo sem identidade, epor outro lado sem investimento libidinal, sem uma sexu-alidade e erotismo psquico. , somente, o ter sido apre-ciado e amado pelos pais que nos possibilita o estatuto depossuir um bilhete de identidade psquico, ser algum, serum rosto que contm e d significado a uma pessoa.

    O que cada um de ns deseja ser amado por aquilo que, nem mais nem menos. Se sou diferente, no serei quemsou. Se fosse querido com outra forma, sentir-me-iarejeitado, pois s amado por aquilo que sou, posso amar-me a mim mesmo, ter um narcisismo saudvel e maistarde construir relaes amorosas slidas e gratificantes,construir um projecto de vida em termos profissionais ede aspiraes com as mesmas caractersticas.

    E ainda voltando a Coimbra de Matos dizer "que aquiloque encanta no um atributo real do sujeito amado, masuma iluso do sujeito amante. (...) a beleza do beb, o seuimpacto esttico na me/pai est no olhar idealizantedestes." Dito de outra forma est no beb fantasmtico eimaginrio, muito mais do que no beb real.

    Quando este amor de que deveramos ter sido objecto noaconteceu, como se tivssemos perdido a nossa infncia,nunca estivemos como a Alice no Pas das Maravilhas,temos de fazer um luto do que no vivemos, a perda

    daquilo que nunca chegou a ser nosso e, este o ver-dadeiro ncleo do sentimento depressivo. Percebemosque cada pessoa mais tarde vai organizar modos particu-lares de lidar com o sentimento de ser mal amado ou osentimento de no se sentir digno desse amor (ter

    interiorizado um objecto de amor predominantementemau). Dito de outra forma, podemos perceber que umdos grandes impulsionadores da psicopatologia narelao a perda de auto valorizao na hipervalorizaodos outros; outro a culpabilidade do prprio para des-culpabilizao dos outros.

    O par complementar inflao narcsica e sadismo muitas vezes mais no do que a reaco e defesa contraa condio depressiva.

    Os bebs abandonados ou privados de amor materno,repetem quase sempre um mesmo quadro de comporta-mentos: depois da busca exasperada, manifestam deses-pero e depois indiferena afectiva. As crianas sem amorno possuem a base de segurana que lhes permite partir conquista do mundo. Estas crianas anaclticas nopodem contar com ningum. Se sobrevivem, mantm emsi o vestgio dessa privao que organiza um verdadeiro

    destino de carncia afectiva. vou conquistar o afecto dosoutros, sacrificando-me, visto que no podem gostar demim por aquilo que sou. de tal modo excepcionalsacrificarmo-nos, que vo amar-me excepcionalmente.Pura iluso, que nos empurra para um masoquismo inter-minvel.

    s vezes s mediante uma psicoterapia ou uma anlise,pode o sujeito reconstruir-se de forma a que o amor possanascer ou renascer. s vezes, trata-se mesmo de um novonascimento se no mesmo, o verdadeiro nascimento afec-tivo. preciso neste processo que o sujeito descubra que

    pode verdadeiramente amar algum, ento poder fazer oluto do seu objecto de amor infantil (pais). O trabalho deluto s se pode processar quando se investiu um novoobjecto.Nas personalidades neurticas mais correntes, menos

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    graves, encontramos muitas vezes uma necessidade infan-til de amor misturada com outra mais adulta e genital. Osujeito quer muitas vezes um objecto de amor que preen-cha as necessidades narcsica e sexual. "Mamar e copularao mesmo tempo" como nos diz Coimbra de Matos.Mesmo que as suas necessidades infantis de amor notenham sido totalmente satisfeitas, no tempo certo, tem derenunciar em adulto posio infantil.

    Um outro aspecto da patologia relacional, em sentido lato, o da insubstituibilidade do objecto de amor. A relao sempre neurtica se considerar o objecto como insubsti-tuvel o que representa sempre um sentimento de infe-rioridade e um investimento narcsico do objecto. Quandoo sujeito est seguro de si mesmo e o investimento dooutro genital/adulto, o outro, por muito que se ame, sempre substituvel. S se pode falar em verdadeiro amorquando existe liberdade, tudo o resto dependncia(amor infantil) e no amor.

    Se antes falmos em pouco amor, aqui falamos em mauamor. Quando o amor inicial se transforma em gaiolaafectiva, a criana no consegue conquistar o seu mundo.

    A fuso amorosa monopoliza os seus sentidos. Percebe ame mas no o que a rodeia. O seu mundo est reduzido pletora amorosa. a lua--de-mel at nusea, at ao diaem que furioso por no poder viver noutro lado, vai odiaraquela que ama e critic-la por no lhe ter permitido voarcom as suas asas.

    No me preparaste para a luta pela vida...guardaste--me

    para ti...detesto-te e no consigo viver sem ti..... precisoamor para que a criana se interesse pelo mundo, masdepois, este amor tem de ir mudando na forma como seexpressa, seno a fuso cria um mundo siams. Depois dosentimento ocenico dos primeiros meses, instala-se o

    desejo de explorar e descobrir o objecto materno que seafasta e separa progressivamente. Este objecto me, toprximo, diferente do Eu e representa todo o Mundoque est nossa espera.

    O problema coloca-se quando existem pais maciamentepatognicos, que se fizeram considerar imprescindveispara os filhos. E, neste caso, no s o filho ter grande difi-culdade de desligar-se da me, como tambm aderiu aesse modelo de objecto de amor e a esse estilo de relao e procurar sempre objectos imprescindveis e terrelaes objectais de dependncia. Desta forma perduramno tempo relaes anaclticas, narcsicas, infantis.

    Mas chega de perturbao..., e se tudo corre bem o amorindica essa fora afectiva que nos impele em direco aum objecto: a me do amor materno, o desencadear sex-ual da atraco pelo outro, a atraco pela montanha, umtrecho de Bach, as ideias ou o sujeito em si mesmo. A

    histria do amor universal narra sempre o mesmo acon-tecimento: o nascimento do sentimento amoroso. Estaemoo deliciosa que nos leva a sair de ns, a arrancar-nos do nosso mundo para ir procura do objectoamoroso perfeito, aos nossos olhos.

    O argumento deste filme quase sempre igual.TAKE 1: O encontro, a emoo do olhar, a dana dasprimeiras palavras e dos primeiros gestos. O jogo da abor-dagem e da seduo. A perturbao emotiva confere sen-tido ao mnimo gesto, mnima palavra, ao mais pequenotremor de voz, piscar de olhos. D-se uma total transfigu-

    rao do banal, a mnima estimulao sensual.

    TAKE 2: Uma vez que os corpos esto presentes, pre-ciso apresentar as almas: conta-se a histria pessoal, o quepermite ir dizendo como se ama, como se receia e como

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    vai ser preciso coordenar-se em torno desta maneira deviver.

    A interpenetrao sensorial, o xtase cruzado dos amantes dconta de um outro mundo de conhecimento: j no possv-el perceber o parceiro atravs de uma observao dis-tncia. Agora a percepo fusional do outro em ns -nosrevelada. Estes so os fugazes momentos da paixo quetm de arder no ideal, na emoo cada do cu. precisoque o amor paixo seja passivo, porque qualquer acointroduz o real desencantador que corta o fluxo fusional enos permite passar ao amor em que o dois j faz sentido.Nesta primeira fase da paixo passeamos, suspiramos,esperamos, olhamos, sentimo-nos bem ali, imveis, jun-tos, fusionados, porque no amor paixo, como diz DeMijolla-Mellor "o nico objecto possvel o prprio eu".

    Apaixonamo-nos e, depois quando a paixo se extingue,d lugar ao amor em que descobrimos o real, na pessoa

    amada. Apaixonamo-nos e revemo-nos no outro e quan-do voltamos a pr os ps no cho, amamos. difcil abor-dar a histria do amor sem citar Stendhal e a sua paixo,Balzac, Andr Breton, Baudelaire, Shakespeare ou mesmochegar ao amor como objecto de cincia inaugurado porFreud, desenvolvido pelos psicanalistas e, hoje analisadoao microscpio por neurobilogos. No entanto, destesamores, fica-nos s vezes a ideia de que no amor, comodiz Boris Cyrulnik, "os amantes deitam-se para morrer.Terminam assim as histrias de amor". Realmente foiassim com Romeu e Julieta, mas ser este o destino dosamantes?

    ... claro que no. Nas relaes amorosas bem con-seguidas em que amamos e somos realmente amados,sobressaem os sentimentos positivos como a segurana aconfiana a curiosidade, o desejo, a ternura que traduzem

    o bem-estar interior e relacional. Estes so sentimentosque traduzem uma experincia profundamente rica detroca, prazer, gratificao entre outros. A exaltaodramtica ou teatral destas grandes obras em que osamantes morrem pelo seu amor, traduzem antes a incom-petncia, a inferioridade, o medo, a insatisfao e a culpa.

    Como nos diz mais uma vez Coimbra de Matos da segu-rana, intimidade, conforto e satisfao na vinculaoinfantil que deriva a qualidade do novo dilogo de amor, e, por extenso de todas as relaes sociais e afectivas, que

    vamos estabelecendo ao longo da nossa vida.Penso, logo existo, por demais conhecido, mas tambm fundamental: Sinto, logo conheo - o outro- e nestebinmio que nos definimos enquanto ser humanosamantes e amados.

    Por vezes o objecto de amor um ser humano, outrasvezes uma montanha e tornamo-nos alpinistas ou um

    instrumento musical..., esse impulso que nos impele parao outro fonte de vida, porque a vida sem o outro nomerece a pena ser vivida. Descobrir o outro continuar adescobrirmo-nos e, por isso, urgente sair do cais e ini-ciar (para uns) ou continuar (para outros) esta viagem.

    Bibliografia:1. Matos, A. Coimbra de (2001) A Depresso. Ed. Climepsi,Lisboa.

    2. Matos, A. Coimbra de (2002) A Adolescncia. Ed.Climepsi, Lisboa

    3. Matos, A. Coimbra de (2002) Psicanlise e PsicoterapiaPsicanaltica. Ed. Climepsi, Lisboa.

    4. Mijolla, A.; Mijolla, S. (1999) Psicanlise. Trad. Fr., Ed.Climepsi, Lisboa, (2002)