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Urbanização acelerada e as questões ambientais no Brasil: Uma relação de sucesso ou
fracasso?
Resumo
O processo de urbanização no país ocorreu de forma surpreendentemente rápida, descontrolada e sem o planejamento adequado, resultando em uma série de problemas socioeconômicos e ambientais, os quais trouxeram consequências irreversíveis ao ecossistema natural. O objetivo
deste estudo é compreender a relação entre a urbanização acelerada no país e as questões ambientais, evidenciando as consequências que este processo causou ao meio ambiente e a
sociedade como um todo, de modo a revelar se essa relação foi na verdade de sucesso ou de fracasso. Para isso, buscou-se utilizar como fonte de dados, as informações obtidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT). As informações analisadas neste estudo, evidenciaram as disparidades inter-regionais intensificadas pelo acelerado processo de urbanização do país, sendo as regiões
menos urbanizadas as detentoras dos piores indicadores socioeconômicos e consequentemente as que estão ainda mais expostas aos desequilíbrios ambientais. A poluição atmosférica mostrou-se crescente no país, de modo que nas últimas décadas verificou-se aumentos nas
emissões de gases de efeito estufa (GEE), sendo o setor de produção de energia o maior responsável por esses acréscimos, seguido pelo setor industrial. O planejamento
socioeconômico eficaz e a incorporação da questão ambiental nas políticas públicas, tomando-as como prioridade, tornam-se essenciais para a promoção do desenvolvimento sustentável do país, para que a urbanização deixe de ser um fracasso para o meio ambiente e possa gerar
externalidades positivas para toda a sociedade, garantindo a manutenção do ecossistema natural.
Palavras-chave: Urbanização acelerada, meio ambiente, planejamento socioeconômico,
desenvolvimento sustentável.
1. Introdução
A urbanização costuma ser definida como um processo de desenvolvimento
econômico e social resultante da transformação de uma economia rural para uma economia cuja
dinâmica é concentrada nas áreas urbanas (TUCCI, 2007). Sua origem foi possibilitada pela
regularidade da produção do excedente agrícola, dando um novo direcionamento para outros
tipos de atividades, como as artesanais, comerciais, administrativas, militares, política e
intelectuais. Esse fenômeno favoreceu a formação das cidades como sedes administrativas,
constituindo um núcleo populacional dependente dos alimentos que eram produzidos nas áreas
rurais (SANDRONI, 1999).
A urbanização passou portanto a ser entendida como a modernização da sociedade que
busca cada vez mais alcançar modificações nas suas formas produtivas, de maneira a melhorar
a sua qualidade de vida. Diniz (1997) caracteriza esse processo por meio da libertação da
sociedade das amarras campestres, transformando sua forma de trabalho e integralizando-se a
novas formas de vida condizentes com o meio urbano.
Entretanto por muito tempo a urbanização revelou-se bastante baixa e só foi se
intensificar na Europa a partir da revolução industrial, quando as atividades fabris,
tradicionalmente urbanas passaram a demandar mão-de-obra em massa para a produção,
aumentando-se a migração rural-urbana e a concentração nas cidades de toda a infra-estrutura
para a produção (FURTADO, 2003).
As cidades são portanto espaços onde se concentram o desenvolvimento das forças
produtivas. Neste contexto, Singer (1978) enfatiza que a existência do mundo urbano está
condicionada à existência da produção do excedente produtivo, de forma que a partir da
formação as cidades possam ser incorporadas as forças de reprodução do capital, produzindo o
progresso técnico e a concentração de capitais. Sendo a cidade portanto, o espaço onde ocorre
toda a dinâmica econômica de consumo, produção em massa e divisão social do trabalho.
O processo de urbanização no Brasil ocorreu de maneira relativamente rápida, embora
tardiamente em termos mundiais, tendo se iniciado somente a partir do final da Segunda Guerra
Mundial. Em poucas décadas o Brasil se transformou de um país predominantemente agrário
para um país urbanizado. A área urbana passou a ser palco das grandes transformações
socioeconômicas vigentes no país.
Entretanto esse processo, não ocorreu de maneira homogênea nos diferentes espaços
brasileiros. Diniz (2006) ressalta que esse processo de urbanização era bem mais estruturado e
concentrado nas regiões Sul e Sudeste, onde se direcionava o maior percentual populacional,
enquanto que nas região Norte e Centro-Oeste, o processo de urbanização foi mais retardatário,
de modo que no início do processo estas regiões apresentavam-se a margem dos seus efeitos
urbanos, permaneciam vazias e rarefeitas espacialmente e o Nordeste apresentava fraca
estrutura urbana.
De acordo com Menezes (1996), o desenvolvimento urbano no Brasil, foi realizado
pelo próprio Estado que criou condições para efetua-lo, já em meio ao descontrolado e
acelerado processo de urbanização que ocorria no país, ao contrário do que ocorreu na maior
parte dos países desenvolvidos, cuja infraestrutura para o desenvolvimento urbano foi
financiada previamente pela iniciativa privada.
O acelerado crescimento da urbanização do país, revelou-se associado a um forte
crescimento demográfico, resultante do aumento da natalidade e da queda na mortalidade
causada pela relativa melhoria na qualidade de vida da população. A industrialização é apontada
como um dos principais fatores para a intensificação da urbanização no país, vinculadas aos
processos de expansão e concentração do capitalismo (SANTOS, 1996).
É válido destacar que essa dinâmica capitalista motivou a formação de loteamentos
sem qualquer preocupação com o meio ambiente, gerando uma série de problemas
socioambientais. Entre esses problemas Silva (1997) aponta os relacionados à desorganização
social, à carência de habitação, ao desemprego, às carências no saneamento básico, à poluição
das águas e dos solos, à modificação na paisagem natural, entre muitos outros, os quais têm
contribuído fortemente para a deterioração de todo o meio ambiente natural e para a ampliação
as disparidades sociais
Para Borelli (2007) houve na verdade um gigante descompasso entre o crescimento
urbano e o desenvolvimento econômico, uma vez que tal crescimento se deu sem o
planejamento adequado, havendo insuficiência estrutural na produção de bens de consumo
coletivo, o que contribuiu significativamente para a intensificação da degradação ambiental no
país e para a redução da qualidade de vida da população.
Neste contexto ambiental, é válido enfatizar a definição da formação do espaço urbano,
que corresponde a fragmentação e invisibilidade de elementos característicos da urbanização,
ou seja, a presença de cursos d`água poluídos no meio urbano, a ocupação indevida de áreas de
risco, obras construídas em áreas de proteção ambiental, são alguns desses exemplos (COSTA,
2012).
Nesta perspectiva, frente a todos esses impactos adversos causados pelo processo de
urbanização vigente é inquestionável a importância de estudos dessa natureza, pois fornecem
subsídios para que as autoridades competentes possam propor políticas públicas eficazes,
regulando, mitigando e garantindo a conservação do meio ambiente e ao mesmo tempo
reduzindo as disparidades socioambientais entre os diferentes espaços brasileiros.
O objetivo deste estudo é compreender essa relação entre a urbanização acelerada no
país e as questões ambientais, evidenciando as consequências socioambientais deste processo,
de modo a revelar se essa relação é na verdade de sucesso ou de fracasso.
Desse modo, para a realização das análises sobre os níveis e tendências da urbanização
do país e sobre os aspectos socioeconômicos urbanos foram utilizadas as informações dos
Censos Demográficos (IBGE) e da Pesquisa por Amostra de Domicílio. Quanto as análises
socioambientais utilizou-se os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) referentes
as informações sobre a poluição do ar e o efeito estufa decorrentes do acelerado processo de
urbanização do país.
2. Algumas considerações sobre a acelerada urbanização no Brasil e as questões
ambientais
A intensificação do processo de urbanização que ocorreu no país ao longo do século
XX, trouxe uma série de consequências negativas ao meio ambiente. Segundo Souza et al.
(2003) esse fenômeno decorreu da dinâmica gerada pela evolução das cidades a qual
proporcionou uma forte pressão sobre o território, por meio da grande concentração de pessoas
e atividades econômicas nos centros urbanos.
Tucci (2007), enfatiza que essa dinâmica gerada pela evolução das cidades, provocou
um conjunto de efeitos interligados, de modo que se não houver um controle dos mesmos, a
situação das cidades estará destinada seriamente ao caos.
No Brasil o processo de urbanização ocorreu de forma relativamente acelerada, sendo
motivado por uma série de fatores, os quais correspondem prioritariamente a industrialização,
seguida pela desruralização, a concentração da renda nas cidades, a adoção de um padrão de
transporte baseado na rodovia e por fim, a concentração de serviços no meio urbano, como a
saúde, a educação, entre outros (Diniz, 2007).
Muitos são os impactos negativos que o processo de urbanização pode causar ao meio
ambiente. Haughton e Hunter (1994) destacam a poluição e a contaminação ocasionadas pelas
atividades humanas, relacionadas a queima de combustíveis fosseis e ao uso de automóveis, a
destruição de habitats e paisagens naturais, a incoerência entre a limitação dos recursos
energéticos e os modelos de transportes urbanos adotados, as crescentes demandas
habitacionais, etc.
Entretanto tais efeitos oriundos desses processo de urbanização não se restringem
apenas ao âmbito local, mas podem colocar em risco a existência de toda a humanidade. Além
disso, seus efeitos poderão ser sentidos tanto a curto quanto a longo prazo.
Para Neto, et. al. (2007), os impactos de curto prazo estão relacionados às alterações
físicas na paisagem natural, no contexto do capital, descaracterizando e tornando o espaço
meramente funcional. Enquanto que os impactos de longo prazo referem-se à saúde da
população, como é o caso da poluição do ar, fenômeno que expõe constantemente a inúmeros
poluentes danosos ao seu bem estar.
Desse modo, a intensificação do efeito estufa, o aquecimento global, a escassez dos
recursos naturais apresentam-se como risco iminente para continuidade da existência humana.
Barret (2009) também alerta sobre as mudanças climáticas que correspondem a um grave
impacto da urbanização ao meio ambiente, o que impõe sérias limitações ao funcionamento do
mercado.
Tais problemas ambientais não atingem igualmente todo o espaço urbano, sendo os
espaços ocupados por populações menos favorecidas os mais atingidos por tais impactos
negativos (COELHO, 2011).
Nesta perspectiva, é válido destacar que estes impactos ambientais não são causados
por ações isoladas contra o ecossistema natural, mas resultam das relações entre as mudanças
socioambientais que o país vem experimentado ao longo dos anos, sendo estas heterogêneas
entre os diferentes espaços do país. Desse modo, para que se compreenda as causas desses
impactos ambientais é fundamental que se conheçam os processos que os geram.
Neste sentido, a questão ambiental tem ganhado crescente importância nos estudos do
desenvolvimento urbano, dada a gravidade dos seus impactos, sendo inquestionável a
necessidade da atuação do poder público, que por meio de políticas urbanas podem mitigar e
controlar tais externalidades geradas, contribuindo significativamente para a manutenção do
meio ambiente e do bem-estar social.
A preocupação com a questão ambiental obteve relevante evolução a partir de 1960,
por meio das conferências e movimentos internacionais sobre o meio ambiente (GORSKI,
2010). A criação da Secretaria de Estado do meio ambiente (SEMA) em 1973, revela os
esforços do Brasil em mitigar e controlar os impactos ambientais, mas Menezes (1996) ressalta
que a subordinação a outros ministérios, acentua as suas dificuldades em operar suas ações
mitigatórias e preventivas.
Outro passo importante foi direcionado para o planejamento urbano das cidades, com
a constitucionalização e obrigatoriedade do Plano Diretor em 1988. Entretanto, Maglio (2005)
ressalta que a maior parte do municípios brasileiros não utiliza instrumentos de gestão urbana
ambiental como aperfeiçoamento do planejamento.
Em 2003 foi criado no Brasil o Ministério das Cidades, com o objetivo de combater as
desigualdades sociais e transformar as cidades em espaços mais humanizados, na tentativa de
garantir a isonomia social, por meio da ampliação do acesso à moradia, ao saneamento e ao
serviços de transporte coletivo (BRASIL, 2003).
O Brasil tem buscado por meio de políticas públicas caminhos para a resolução de tais
problemas ambientais, decorrentes do acelerado processo de urbanização. Entretanto, observa-
se que que tais ações são insuficientes, representando um descompasso entre o crescimento e a
sua degradação.
De acordo com Menezes (1996), essas ações públicas são na verdade corretivas, em
vez de preventivas, deixando transparecer a incapacidade administrativa em resolver tais
problemas ambientais. Moura (2004) enfatiza o papel das agências multilaterais como
potenciais financiadores de políticas urbanas para mitigar tais problemas ambientais.
A necessidade de um planejamento urbano eficaz, o qual leve em conta
heterogeneidade dos espaços brasileiros e inclua as dimensões sociais, políticas e urbanas a seus
planos e projetos são considerados mecanismos essenciais na mitigação dos impactos da
urbanização ao meio ambiente e na promoção do bem-estar social.
Além disso, deve haver mudanças estruturais de comportamentos e de políticas.
Entretanto Martine et. al. (2012) alerta que diante do perfil capitalista da sociedade atual, tais
mudanças são muito difíceis de serem adotadas.
3. Relação entre a urbanização e as questões ambientais no Brasil
3.1 Processo de Urbanização no país entre 1940-2010.
Conforme foi abordado anteriormente a urbanização no país ocorreu de maneira
surpreendentemente rápida, tendo se intensificado na segunda metade do século XX, período
em que o Brasil passou a ter forte um dinamismo industrial, modificando toda a estrutura
econômica e as condições de vida da população.
De acordo com Brito (2006) a grande novidade quando se analisa o caso brasileiro, foi
a velocidade do processo de urbanização, bastante superior ao verificado nos países capitalistas
mais avançados.
O gráfico 1 evidencia esse rápido processo de urbanização, revelando que na década
1940 a taxa de urbanização2 do país era de apenas 31%, apresentando-se a partir daí tendência
de crescimento em seus níveis, de modo em 1970 já alcançava o percentual de 56%.
Gráfico 1 – Evolução da taxa de urbanização do Brasil, 1940-2010.
Fonte: IBGE, Censo demográfico 1940-2010.
Segundo Monte-Mór (2006) foi justamente na década de 1970 que ocorreu a
consolidação das grandes cidades industriais, as quais transformaram-se em verdadeiros polos
de dinamização e transformações do espaço urbano e da sociedade. A partir daí, o processo de
urbanização se estendeu significativamente, integrando os seus diversos espaços regionais do
país à essa centralidade urbano-industrial.
2 Porcentagem da população da área urbana em relação a população total.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Reconhecidamente tal fenômeno ocorreu como resultado das modificações na economia
brasileira, que passou de agroexportadora para uma economia centrada no modelo de
substituição de importações. Nas décadas seguintes a taxa urbanização do país continuou com
a sua tendência de crescimento, alcançando percentuais de 76% em 1991, ou seja, bem mais da
metade do que foi verificado em apenas cinco décadas anteriores. Ao final do século XX, o
espaço urbano já compreendia todo o território nacional.
Atualmente a tendência crescente da urbanização ainda persiste, só que em ritmos mais
lentos. De modo que no período de 2000 a 2010, a taxa de urbanização apresentou um
crescimento de apenas 3%.
Conforme foi visto na seção anterior, esse fenômeno acelerado da urbanização não
ocorreu de maneira uniforme entre os seus diferentes espaços regionais. Neste sentido, Diniz
(2007) ressalta que o processo se deu no Brasil de maneira desigual, sendo mais intenso nas
metrópoles localizadas nas regiões Sul e Sudeste do país, e retardatário nas regiões Norte e
Centro-Oeste, as quais apresentavam baixo percentual populacional urbano. O mesmo ocorria
no Nordeste, onde era evidente a sua fraca estrutura urbana.
O gráfico 2 revela a superioridade da região sudeste quanto ao seu grau de urbanização,
apresentando percentuais acima dos nacionais desde o início desse processo. Em 1970 foram
observadas as maiores disparidades entre a região Sudeste e o conjunto do país, de modo que
nesta época o seu grau de urbanização revelava-se 17% acima da média nacional. Nesse mesmo
período, as regiões Norte e Nordeste apresentavam as menores taxas de urbanização,
correspondendo a 54% e 52% respectivamente.
Gráfico 2. Grau de urbanização. Brasil e Grandes Regiões – 1940 a 2010.
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1940-2010.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Esse alto grau de urbanização verificado na região Sudeste pode ser explicado pelos
processos econômicos vivenciados por ela, como a expansão cafeeira e por seu papel
fundamental na Industrialização do país, nas suas principais capitais: São Paulo e Rio de
Janeiro, as quais apresentavam-se entre as metrópoles mais urbanizadas e industrializadas do
Brasil (BRITO, 2012).
Além disso, Caiado (1997), ressalta a soberania de São Paulo, revelando seus
significativos impactos econômicos desde a economia cafeeira, onde já se observavam efeitos
geradores da economia de escala e de economias externas, proporcionando ampla acumulação
de capital, além da formação de toda uma infra-estrutura produtiva, o que contribuiu fortemente
para intensa urbanização que este estado experimentou.
Essas características econômicas e industriais, refletem no desigual processo de
urbanização que o país viveu ao longo do século XX, de modo que os seus efeitos podem ser
sentidos até os dias atuais. Como consequência disso, pode-se verificar que todo o padrão de
urbanização nacional é em grande parte reflexo do verificado na região Sudeste.
A figura 1 demonstra esse fenômeno de desigual urbanização entre as regiões
brasileiras, considerando o percentual de população urbana. Desse modo, observou-se que em
1960, período em que o país já apresentava altas taxas de crescimento urbano, resultantes de
ações como o Plano de Metas no governo de Juscelino Kubtschek (1956-1951), as regiões
Norte, Centro-Oeste e partes da região Nordeste, ainda apresentavam-se relativamente vazias,
frente a forte concentração populacional urbana verificada nas regiões Sul e Sudeste, as quais
revelavam superior tendência de crescimento urbano.
Figura 1 – Concentração da população urbana entre as regiões Brasileiras: 1960
Fonte: IBGE. Séries históricas Estatísticas, 2010
Para Brito (2006) essa grande concentração espacial do desenvolvimento da economia
Brasileira, principalmente nas regiões mais desenvolvidas do país, ampliou os desequilíbrios
regionais e sociais, impulsionando as migrações internas, que transferiram sua população do
campo para as cidades e as redistribuíram entre os diferentes estados e regiões do país.
Desse modo, as regiões mais desenvolvida, receberam os maiores contingentes
populacionais, que migravam em busca de melhores condições de vida e novas oportunidade
de emprego.
No final no século XX a população urbana já apresentava a sua predominância em todo
o território nacional, alcançando também as regiões Norte e Centro-Oeste, que passaram a ser
incorporadas pelo modelo econômico urbano-industrial vigentes. Monte-Mór (2006) define
esse fenômeno com o termo “urbanização extensiva”, que se estende e integra todos os espaços
do país, modernizando a sociedade e modificando estruturalmente todo o espaço urbano.
Entretanto a figura 2 revela que embora a urbanização tenha se expandido em todo o
território brasileiro, alcançando até as regiões mais isoladas do país, as disparidades
interespaciais permanecem, mesmo em níveis relativamente menores, de modo que em 2010,
as regiões Sul e Sudeste, reconhecidamente as mais desenvolvidas do país, permaneceram as
detentoras dos maiores percentuais de população urbana. Enquanto as demais regiões
brasileiras apresentavam percentuais inferiores de população urbana.
Figura 2 - Concentração da população urbana entre as regiões Brasileiras: 2010
Fonte: IBGE. Séries históricas Estatísticas, 2010.
Esses resultados obtidos, demonstram claramente que o acelerado processo de
urbanização do país, ocorreu de maneira desigual entre os seus diferentes espaços,
manifestando-se de forma excludente e segregadora, devido as prioridades monopolistas do
sistema capitalista, cujo objetivo principal é a acumulação de capital (RODRIGUES, 1996).
3.2 Questões ambientais x Urbanização
O meio ambiente é tradicionalmente entendido como como um sistema físico e
biológico global, no qual vivem o homem e outros organismos, sendo desse modo, um
complexo com muitos componentes interagindo no seu interior (MEDRONHO, 1995).
Entretanto, conforme foi visto nas seções anteriores, o aumento da urbanização contribui
significativamente para a geração de desequilíbrios irreversíveis neste sistema.
Na seção 2 verificou-se que entre os principais impactos gerados pela urbanização
destacam-se: a produção de resíduos sólidos, a contaminação dos rios e bacias hidrográficas, a
poluição do ar, a destruição ecossistêmica e sobretudo as mudanças climáticas, o aumento do
efeito estufa e do aquecimento global, que tanto colocam em riso a vida de toda a humanidade.
Nos parágrafos a seguir serão analisados alguns problemas socioambientais decorrentes da
rápida urbanização do país.
3.2.1 Problemas socioambientais oriundos das precárias condições de saneamento no país
O desenvolvimento urbano tem produzido uma série de desequilíbrios socioambientais,
que tem comprometido e colocado em risco todo o ciclo natural do planeta. Nesta perspectiva
Tucci (2008) alerta sobre o ciclo de contaminação gerado pelos dejetos lançados pela população
urbana, que corresponde ao esgoto doméstico, industrial e pluvial.
De acordo com Tucci (2008), esse processo ocorre por uma série de atividades humanas
as quais pode-se citar: 1) Despejo dos esgotos sanitários nos rios, sem nenhum tratamento,
contaminando o sistema hídrico. 2) Contaminação das águas subterrâneas por dejetos
industriais e domésticos, através do uso de fossas sépticas, vazamento do sistema de esgoto
sanitários, pluvial e etc. 3) Depósitos de resíduos sólidos urbanos, como fonte permanente de
contaminação das águas superficiais e subterrâneas. 4) Ocupação desordenada do solo urbano,
sem controle sobre o impacto hídrico.
Tais problemas ambientais decorrentes da forte urbanização do país, podem ser
evidenciados espacialmente quando se analisa as condições de saneamento da população
residente nas diferentes regiões, ou seja, o destino do lixo, as condições sanitárias e a
proveniência da água consumida nessas áreas. Os Gráficos 3, 4, 5 apresentam as informações
quanto ao saneamento básico no país e nas suas grande grandes regiões, considerando o período
de 2011.
O acesso a coleta de lixo nas áreas urbanas do país apresentou-se predominante nas
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, alcançando toda população urbana das regiões Sul, e 99%
nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (Gráfico 3). Enquanto que nas regiões Norte e Nordeste
ainda foi verificado um percentual de 5% da população urbana sem acesso a esse serviço em
seu domicílio, depositando seus dejetos em rios/mares e terrenos baldios, onde os queimam.
Gráfico 3 – Destino do lixo. Brasil e Grandes Regiões. Área urbana, 2011.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por amostra de domicílio, 2011
Apesar do serviço de coleta do lixo ter alcançado cerca de 98% da população de todo o
país, Fandini (2001) alerta sobre os perigos relacionados ao seu destino, pois na maioria das
vezes ele é descartado de maneira incorreta, o que torna esse fenômeno ainda mais preocupante.
Entre as principais consequências do destino inadequado do lixo, destacam-se o
assoreamento dos rios, o entupimento de bueiros, o aumento das enchentes nas épocas de chuva,
a destruição de áreas verdes, o mau-cheiro, a proliferação de moscas, baratas e ratos, que
prejudicam direta e indiretamente a saúde da população (GOUVEIA, 1999).
Além disso, a falta de tratamento adequado dos aterros sanitários, gera contaminação
dos solos e fontes subterrâneas de água, sendo que os gases produzidos no processo de
decomposição também são liberados no meio ambientes de maneira descontrolada (GOUVEIA,
1999).
Tais prejuízos causados pela ausência de um serviço de coleta de lixo, assim como a
ineficácia do tratamento dos aterros sanitários, costumam gerar impactos negativos não apenas
ao ecossistema natural, mas à saúde pública da população, principalmente naquelas que vivem
em regiões menos urbanizadas, cujo acesso a esse serviço é ainda menor.
Quanto as condições sanitárias, a região Sudeste apresentou-se como a maior detentora
do acesso a rede coletora do país (86%), de modo que apenas 8% dos seus domicílios urbanos
0%20%40%60%80%
100%
98% 95% 95% 99% 100% 99%
1% 4% 3% 0% 0% 1%1%
1% 2% 0% 0% 0%
Coletado Queimado ou enterrado na propriedade Jogado em terreno baldio ou Mar/rio
possuíam esgotamento sanitários inadequados. A região Sul, apresentou-se em segundo lugar
neste quesito, com apenas 11% de domicílios com esgotamento inadequado.
O Norte apresentou-se em pior situação ente as demais regiões do país, de modo que
apenas 17% dos seus domicílios tinham rede coletora de esgoto, verificando-se ainda um 4%
de domicílios urbanos sem nenhum tipo de esgotamento sanitário (Gráfico 4). Entretanto é
válido destacar que é na região Centro-Oeste onde se encontram os mais elevados percentuais
de esgotamento sanitário inadequado (37%), superando a média nacional que é de 15%.
Gráfico 4 – Tipo de esgotamento sanitário nas áreas urbanas. Brasil e Regiões, 2011.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por amostra de domicílio, 2011
Os dados revelaram que o país apresenta significativo percentual de esgotamento
inadequado e ausência de serviços de rede coletora de esgoto. Esse fenômeno constitui um
grave de risco para a saúde da população e para o meio ambiente, além de intensificar a ação
danosa da população, que busca outras maneiras de suprir a falta deste serviço.
Giesta, et. al. (2005), destaca as ligações clandestinas feitas pela população, o
lançamento a céu aberto do esgoto doméstico, entre outras alternativas que a população urbana
encontra para compensar esses problemas.
Neste sentido, Rebouças et. al. (2006), alerta que o aumento do consumo e a deterioração
dos mananciais existentes, causados pelas contaminações oriundas do meio urbano e pelo
despejo indevido de efluentes domésticos, industriais e dos esgotos pluviais, podem levar a uma
provável crise da água no planeta.
Quanto ao acesso a água através da rede geral de fornecimento, quase todas as regiões
do país revelaram-se beneficiadas por esse serviço, apresentando taxas acima de 90%. Os
61%
17%44%
86%
41% 46% 49%
22%
51%29%
8%
48%17%
29%
15%29% 25%
6% 11%37% 20%
1%4% 2%
0% 1%0% 1%
0%20%40%60%80%
100%120%
Rede coletora Fossa séptica Inadequadas Não tinham
maiores percentuais de acesso foram encontrados nas regiões Sudeste e Sul (96%) e os mais
baixos pertenciam a região Norte (69%).
Nessa última região, verificou-se que cerca de 31% da água utilizada pela sua população
urbana, era oriunda de poços ou nascentes, superando expressivamente a média nacional, que
era de apenas 7%.
Gráfico 5 – Tipo de abastecimento de água. Área urbana. Brasil e Regiões, 2011.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por amostra de domicílio, 2011
A falta de acesso a rede de fornecimento de água nas áreas urbanas é um fenômeno
extremamente preocupante, pois a prática de se obter a água através de poços clandestinos,
expõe a saúde da população a graves doenças, uma vez que os rios urbanos estão cada vez mais
poluídos, devido ao predatório processo de urbanização do país.
Os dados analisados referentes ao saneamento, revelam portanto, que as regiões mais
pobres e menos urbanizadas como o Norte e o Nordeste, despontam com os piores percentuais,
sendo que o Norte encontra-se em situação ainda mais precária, pois em todos os quesitos
analisados, apresentou índices inferiores aos das demais regiões do país.
Esse fenômeno confirma a afirmativa de Coelho (2009), de que os problemas
socioambientais atingem muito mais os espaços urbanos das regiões menos favorecidas, do que
os daquelas em estágio mais avançado de urbanização.
Essa situação pode ser também evidenciada ao considerarmos a incidência de doenças
relacionadas ao saneamento ambiental inadequado nas áreas urbanas. O Gráfico 6 revela que é
no Norte onde ocorre a maior incidência de internações oriundas dessas doenças (25%),
superando todas as demais regiões do país, seguido pelo Nordeste (19%), regiões estas que
despontam com os menores graus de urbanização, conforme foi analisado anteriormente.
93%69%
94% 96% 96% 93%
7%31%
6% 4% 4% 7%
0%20%40%60%80%
100%120%
Rede geral Poço ou nascente
Enquanto que nas regiões Sul e Sudeste, regiões com maior grau de urbanização, a
ocorrência de internações por conta de doenças relacionadas ao saneamento ambiental
inadequado mostrou-se consideravelmente inferior, correspondendo a apenas 5% e 8%,
respectivamente.
Gráfico 6 – Internações hospitalares por doenças relacionadas ao saneamento
ambiental. Brasil e Regiões, 2010.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por amostra de domicílio, 2010
Essas informações comprovam que a ausência do saneamento básico nas cidades
acarreta sérias consequências à saúde da população. Além disso, Bay e Silva (2011), alertam
sobre os riscos de óbitos e despesas com hospitalizações, medicamentos e a proliferação de
vetores ou insetos indesejados, como consequências da ausência do saneamento ambiental
adequado. Sendo as populações residentes nas regiões menos urbanizadas as mais afetadas por
esses problemas ambientais.
O acesso a moradia adequada mostrou-se também bastante precário nas regiões menos
urbanizadas, Norte e Nordeste, de modo que em 2011, no Norte apenas 8% dos domicílios eram
adequados para a moradia, e no Nordeste esse percentual era de 14%, níveis inferiores à média
nacional, que era de 19%. Já as regiões mais urbanizadas Sudeste e Sul, despontavam com
percentuais relativamente superiores, sendo de 23% e 21% respectivamente (Gráfico 7).
Gráfico 7 - Percentual de domicílios particulares permanentes adequados para moradia. Brasil e Regiões, 2011.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por amostra de domicílio, 2011
27% 25%19%
5%8%
16%
0%5%
10%15%20%25%30%
0%5%
10%15%20%25% 19%
8%14%
23% 21%16%
Segundo Harpham et. al (1998) essas populações que residem em áreas com condições
inadequadas de moradia, sem acesso a serviços básicos de saneamento, são as mais expostas a
diversos contaminantes ambientais, ou seja, estas enfrentam o pior dos dois mundos, tanto os
problemas associados à ausência de saneamento adequado, quanto os problemas típicos do
desenvolvimento, como a poluição por produtos químicos e a poluição atmosférica.
3.2.2 - Problemas Socioambientais causados pela poluição atmosférica
A poluição atmosférica resultante do acelerado e desigual processo de urbanização do
país, tem trazido sérias consequências ao meio ambiente e a sociedade como um todo. Segundo
Leal et. al. (2008) a concentração de poluentes na atmosfera e a sua deposição no solo, nos
vegetais e nos materiais é responsável pela redução da produção agrícola, danos nas florestas,
resultando em desequilíbrios em todo o ecossistema natural, tendo caráter transfronteira, cujas
alteração podem afetar todo o planeta.
O Gráfico 8 apresenta os diferenciais nas emissões de gases na atmosfera, decorrentes
do acelerado processo de urbanização vivido pelo país, considerando o período de 1990 e 2005.
Verificou-se significativos aumentos nas emissões dos principais gases, sendo que o maior
acréscimo foi verificado para o dióxido de carbono (CO2), correspondendo 65%, seguido pelo
óxido nitroso (N2O) com 45%, metano (CH4) com 37% e óxidos de nitrogênio (NOx) com
36%. Gases esses potencialmente geradores do efeito estufa.
Gráfico 8 – Variação percentual das emissões de gases na atmosfera, 1990 e 2005.
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, 2010
Esses aumentos na emissão de gases de efeito estufa (GEE), principalmente o CO2,
N2O, CH4, geram consequentemente uma intensificação do seu efeito, podendo provocar
modificações climáticas globais, causar alterações na produtividade do solo, nos oceanos, nos
recursos hídricos, na química da atmosfera e nos sistemas ecológicos (SOARES, 2003). As
rápidas modificações no clima impedem que os ecossistemas possam se adaptar à nova situação.
65%
45%
37%
36%
27%
17%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
CO2 - dióxido de carbono
N2O - óxido nitroso
CH4 - metano
NOx - óxidos de nitrogênio
NMVOC - outros compostos orgânicos voláteis…
CO - monóxido de carbono
A tabela 1 apresenta as estimativas das emissões líquidas de gases de efeito estufa,
quanto ao tipo de gás e ao setor de emissão, neste caso, considerou-se aqueles presentes
principalmente nas áreas urbanas. Nesta perspectiva, pode-se observar que a produção de
energia tem sido a grande responsável pelas emissões de quase todos os gases considerados
potencialmente perigosos para a intensificação do efeito estufa, com exceção do N2O cujo
percentual de emissões mostrou-se um pouco mais elevado para o setor industrial.
O CO2 apresentou-se como o mais poluente dos gases, nos dois períodos em estudo,
sendo que entre os setores considerados, cerca de 80% de suas emissões provinham do setor de
produção de energia, enquanto que apenas 20% delas eram oriundas dos processos industriais.
Tabela 1 - Estimativas das emissões de gases de efeito estufa, segundo tipo de gás e o setor de
emissão, 1991-2005.
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, 2010
Em segundo lugar encontrou-se o CO, que em 1991 era responsável por apenas 8% da
emissão de gases de efeito estufa, em 2005 esse percentual caiu pela metade (4%), entretanto,
entre os setores considerados, mais de 90% das emissões de CO eram oriundas de produção de
energia, enquanto que para o setor industrial, esse percentual não ultrapassou a 5% nesse mesmo
período.
Os demais gases considerados apresentaram estimativas de emissões relativamente
inferiores. Entretanto é válido destacar que o setor de tratamento de resíduos mostrou
estimativas significativas de emissões de CH4 e N2O, gases potencialmente prejudiciais a
atmosfera ambiental.
Essas informações revelam que os GEE tem apresentado tendência de crescimento ao
longo das últimas décadas, revelando a necessidades do enfrentamento dessas questões através
de acordos de reduções das emissões, por parte das nações e também através do planejamento
das cidades, prevenindo e adaptando-as aos seus prováveis impactos sobre o meio ambiente.
Produção de energia Processos industriais Uso de solventes e outros produtos
Tratamento de resíduos
Gases 1991 2005 1991 2005 1991 2005 1991 2005
CO 2 179.948.000 313.695.000 45.265.000 65.474.000 0 0 24.000 110.000
CO 14.919.000 11.282.000 365.000 626.000 0 0 0 0
CH4 427.000 541.000 5.100 9.200 0 0 1.227.000 1.743.000
NO x 1.781.000 2.388.000 8.000 18.000 0 0 0 0
NMVO C 1.022.000 958.000 322.000 599.000 350.000 595.000 0 0
N2O 8.500 12.100 10.700 22.800 0 0 9.000 14.000
Os dados apresentados pelo IPCC (2007) sobre os níveis de emissões já apontam
tendência irreversível dos seus impactos ao meio ambiente, mesmo se as nações passassem a
reduzir as emissões mundiais nos prazos determinados (IPCC, 2007)
4. Considerações finais
A urbanização acelerada do país ocorrida ao longo do século XX, modificou toda a sua
estrutura produtiva, as condições de vida da população e do meio ambiente. Entretanto esse
fenômeno não se manifestou de maneira homogênea entre os seus diferentes espaços, mas ao
longo de todo o processo, verificou-se fortes disparidades inter-regionais, sendo as regiões
Sudeste e Sul, as detentoras do maiores graus de urbanização no país.
Esse acelerado e desigual processo de urbanização trouxe sérias consequências ao meio
ambiente e à saúde da população. Este trabalho revelou por meio dos dados de saneamento,
moradia e da poluição do ar, os efeitos causados ao meio ambiente e à sociedade como um todo,
decorrentes da acelerada urbanização do país.
Desse modo verificou-se que as regiões menos urbanizadas, apresentam os piores
indicadores de saneamento e moradia, sendo o Norte o campeão dos piores índices nestes
quesitos, seguidos pelo Nordeste. Como consequência disso, foram essas regiões as que
apresentaram os maiores percentuais de internações hospitalares, decorrentes de doenças
relacionadas ao saneamento inadequado.
Enquanto que o Sudeste, o Sul e o Cento-Oeste, regiões mais urbanizadas, apresentaram
indicadores superiores, e por conseguinte, uma menor proporção de doenças decorrentes do
saneamento.
A poluição, que no passado era sinônimo de desenvolvimento industrial e poderio
econômico, atualmente está cada vez mais associada com a pobreza e com o
subdesenvolvimento, de modo que os benefícios das inovações tecnológicas limitam-se às
regiões mais urbanizadas do país, enquanto que os efeitos negativos da urbanização e
industrialização é em grande parte dividido por todos, sendo os mais pobres e politicamente
mais fracos, os mais prejudicados (GOUVEIA, 1999).
A rápida urbanização no país também intensificou a poluição atmosférica, com o
aumento na emissão de gases de efeito estufa (GEE), principalmente o CO2, N2O e o CH4,
sendo a produção de energia a grande responsável pelas emissões de quase todos os gases
considerados potencialmente perigosos para a intensificação do efeito estufa, enquanto que o
setor industrial apresentou-se em segundo lugar, como potencial poluidor urbano.
As informações analisadas neste estudo, revelaram a necessidade de enfrentamento
dessas questões que envolvem não apenas as escalas locais, mas globais, colocando em risco a
manutenção de todo o ecossistema natural e a existência humana.
A situação é ainda mais preocupante, quando se verifica as informações do IPCC (2007)
as quais revelam o quadro irreversível causado pela intensificação das emissões dos gases ao
meio ambiente, de modo que mesmo se as nações decidirem cumprir as metas de redução das
emissões nos prazos determinados, os impactos ambientais já são inevitáveis.
Nesta perspectiva, é inviável se falar em relação de sucesso entre o processo de
urbanização do país e o meio ambiente, com todas tantas consequências danosas e irreversíveis
ao ecossistema natural e a população como um todo. Na verdade a maneira rápida e desordenada
em que este processo ocorreu, estava fadada a ser um grande desastre socioambiental.
Apesar disso, Queiroz e Barbieri (2012) afirmam que as políticas direcionadas a
sustentabilidade ambiental em uma perspectiva urbana são atualmente elementares. A carência
de políticas direcionadas a sustentabilidade representa um significativo paradoxo, frente a
grande importância do debate urbano-ambiental dentro do processo de acumulação capitalista.
Neste sentido, torna-se inquestionável a necessidade de se modificar esse quadro, de
modo que as políticas de sustentabilidade ambiental deixem de ser elementares e passem a ser
prioritárias pelas autoridades públicas.
Nesta perspectiva não se pode deixar de se enfatizar o importante papel do consumo
sustentável3 como propulsor da mudança desse paradigma de poluição urbana. Jackson (2005),
evidencia a grande importância de se considerar o consumo sustentável nas políticas nacionais
e internacionais, uma vez que mesmo sendo difícil mudar o comportamento do consumidor, é
evidente a forte influência que o governo pode ter sobre a mudança de comportamento da
sociedade. Um exemplo disso, é a mudança nos serviços de coleta de lixo, que indiretamente
3 Consumo que inclui práticas sustentáveis, como por exemplo, reciclagem de resíduos domésticos, compra de
produtos com características energeticamente eficientes, investimentos em fundos de conservação da água ou
energia, compra de alimentos orgânicos, reutilização ou reciclagem dos produtos, etc . (JACKSON, 2005).
influenciarão nas atitudes das pessoas, as quais poderão reciclar, sem nunca ter decidido que
reciclar é uma coisa boa.
Jackson (2005) também alerta que os governos não são apenas simples espectadores
da escolha do consumidor, mas influenciam fortemente a cultura de consumo de várias
maneiras, garantindo que as estruturas de incentivos e as regras institucionais favoreçam o
comportamento sustentável, permitindo o acesso a escolhas sustentáveis, envolvendo pessoas
e empresas em iniciativas de consciência ambiental e incorporando essas mudanças dentro das
suas políticas e práticas.
Somente com um planejamento socioeconômico eficaz, por meio da formulação de
políticas públicas que incorporem as questões ambientais como prioritárias, a nível global,
nacional e local, considerando as especificidades de cada localidade, envolvendo sérias
mudanças tecnológicas, além de uma modificação da mentalidade da sociedade, de modo a ter
um maior comprometimento com as questões ambientais, a urbanização no país poderá deixar
de ser um desastre socioambiental e gerar externalidades positivas a todo a sociedade,
possibilitando a promoção do desenvolvimento sustentável.
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