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AMBIETICA ASSESSORIA AMBIENTAL LTDA PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTENEGRO AVALIAÇÃO AMBIENTAL Estrada de Acesso MORRO SÃO JOÃO GEOLOGIA, GEOTECNIA E MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS Montenegro/RS, Dezembro, 2011.

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AMBIETICA ASSESSORIA AMBIENTAL LTDA

PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTENEGRO

AVALIAÇÃO AMBIENTAL Estrada de Acesso MORRO SÃO JOÃO

GEOLOGIA, GEOTECNIA E MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS

Montenegro/RS, Dezembro, 2011.

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AMBIÉTICA ASSESSORIA AMBIENTAL LTDA Rua Silveira Martins, 810 - sala 703 Centro - Novo Hamburgo/RS CEP: 93510-310 CNPJ nº 07.626.600/0001-09 FONE:(51) 3279-8161 E-mail: [email protected]

Equipe Técnica Biólogo Jackson Muller CRBio3 08484 E-mail: [email protected] Geólogo Vitório Orlandi Filho CREA/RS nº E-mail: [email protected] Luiz A. Bressani Eng. Civil - Geotécnico CREA/RS nº E-mail: [email protected] PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTENEGRO Rua João Pessoa, nº 1363 Bairro Centro - Montenegro/RS CEP: 95780-000 Prefeito Percival Souza de Oliveira FONE: 3649-8201 E-mail: [email protected] Vice-Prefeito Marcos Gilberto Leipnitz Griebeler FONE: 3649-8201 E-mail: [email protected] CONTRATO EMERGENCIAL DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Nº 1821/2011.

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SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO 4

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2.1 - SÍNTESE DA GEOLOGIA LOCAL 6 2.1.1 - FORMAÇÃO BOTUCATU 6 2.1.2- FORMAÇÃO SERRA GERAL 9 2.1.4 - COBERTURA PEDOLÓGICA 10 3- CARACTERIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE 11

3.1- SÍNTESE DA DIVERSIDADE DA COBERTURA VEGETAL REGIONAL E LOCAL 11 3.2-SÍNTESE DA DIVERSIDADE DA FAUNA 16 4-DESLIZAMENTOS E SITUAÇÃO ATUAL DA ESTRADA 18

5-EROSÃO SUPERFICIAL, DRENAGEM E TRILHAS EXISTENTES 22

6-UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MORRO SÃO JOÃO 25

7 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 29

REFERÊNCIAS 32

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1-INTRODUÇÃO O Morro São João situa-se na área urbana do Município de Montenegro, limitando-se ao norte pela RS-240, ao Sul pela Rua Bruno de Andrade, a Leste pela Rua Apolinário de Moraes e a Oeste pela Rua Balduino e Avenida Ernesto Popp. Com seus aproximadamente 160 metros de altura, constitui-se num marco paisagístico importante, intimamente relacionado ao contexto sócio-econômico da cidade e inspirou a própria designação de “ Montenegro” ao município ( Geolink – 1998). Em seu topo estão instaladas algumas torres de transmissão de telefonia e radio-difusão, além de equipamentos de manutenção, pertencentes a empresas privadas que prestam serviços ao município de Montenegro, municípios vizinhos e região. O acesso a estas torres é feito através de um caminho pavimentado com asfalto, com geometria bastante sinuosa e estreita, conduzindo desde o sopé do morro até o seu topo. Este caminho foi construído visando possibilitar a construção e manutenção da torres, sendo também utilizada para permitir o acesso da população a um dos locais com vista privilegiada da cidade e de toda a região circunvizinha. A expansão urbana da cidade envolveu o morro e as áreas do sopé, as quais já encontram-se bastante ocupadas por moradias e apresentam um grau considerável de urbanização (ruas e loteamentos), o que de certa forma é preocupante levando-se em consideração a fragilidade geológica-geotécnica da área e o seu importante potencial em biodiversidade.

Foto 01 - Vista geral do Morro São João (Fonte: http://www.cardona.com.br/ns/mont.html).

Em abril de 2011, durante um evento de chuvas de grande intensidade ocorreram deslizamentos de terra que causaram a obstrução do acesso de veículos ao topo do morro. Estes deslizamentos ocorreram no terço superior, junto a porção mais íngreme. A partir de estudos geológicos encomendados (Petry Carla, 2011), a Prefeitura Municipal interditou o acesso até que informações complementares viessem a ser efetivadas. A

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interdição vem provocado transtornos à cidade e às empresas usuárias do Morroem virtude das dificuldades nos trabalhos de manutenção das estruturas lá existentes. Por sua condição paisagística, sua biodiversidade e suas fragilidades geológico-geotécnicas o morro se constitui num importante patrimônio sócio-cultural-ambiental da cidade e deve ter seu uso e ocupação ampla e minuciosamente discutido por toda a comunidade, definindo-se critérios adequados de recuperação, proteção e preservação. A preservação deste patrimônio depende fundamentalmente do entendimento dos impactos decorrentes do usos inadequados e da falta de controle que conduziram ao estado atual. Sua preservação deverá contemplar efetivo controle dos usos futuros, devendo atender a critérios de sustentabilidade que envolvem aspectos econômicos (para sua efetiva proteção e recuperação), sócio-ambientais e culturais, de maneira viabilizar manejo adequado. Neste contexto o presente estudo teve por objetivo principal avaliar a possibilidade de reabertura da estrada que dá acesso ao topo do Morro São João após os deslizamento ocorridos em 2011. Paralelamente recomenda medidas para recuperação, preservação e conservação desse importante monumento natural.

Fig. 01 - Morro São João e acesso principal em Montenegro/RS (Fonte: Imagem Google Earth, 2011).

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2- CARACTERIZAÇÃO DA GEODIVERSIDADE 2.1 - SÍNTESE DA GEOLOGIA LOCAL O Morro São João é um “morro testemunho” constituído por litologias pertencentes a três unidades geológicas: - FORMAÇÃO BOTUCATU – Arenito - FORMAÇÃO SERRA GERAL - Basalto - DEPÓSITO DE TÁLUS E COLÚVIOS – Formação Superficial Além desses elementos geológicos, distribuídos heterogeneamente por toda a área do morro, ocorre uma cobertura pedológica representada por argilo-solos. A estrada do Morro São João corta estas litologias, de maneira irregular, desde a base até o topo do morro. 2.1.1 - FORMAÇÃO BOTUCATU A s rochas da Formação Botucatu constituem o arcabouço rochoso sobre o qual foi esculpido o Morro São João. Esta Formação ocorre principalmente sob a forma de paredões e lajes (Foto 02 e 03), distribuídos principalmente na base e topo do morro. Ocorrem, também, como blocos isolados desprendidos de cotas superiores e encontrados nas encostas íngremes, constituindo a maioria dos blocos encontrados nos depósitos de tálus. Litologicamente são representadas por arenitos de coloração rósea- avermelhada, granulação média a fina, mineralogicamente constituídos por grãos de quartzo e feldspatos imersos em uma matriz argilosa com minerais de hidróxido de ferro. Apresentam estratificação cruzada acanalada de grande porte, característica dos depósitos eólicos desta formação. São maciços, homogêneos, bem consolidados e apresentam uma alta porosidade, o que lhes permite armazenar água subterrânea.

Foto 02 - Afloramento do arenito Botucatu, em forma de lajedo na base do morro.

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Esta porosidade primária é potencializada pela presença de um sistema de fraturas abertas, verticais que permitem uma percolação rápida da água da chuva em direção as partes mais profundas do maciço, onde pode ocorrer a presença de aqüíferos. No topo do morro, constituído quase que exclusivamente por lajes de arenito, observa-se um poço escavado com aproximadamente 15 metros de profundidade , com água acumulada.

Foto 03 - Afloramento de arenito Botucatu em forma de paredão na base do morro.

Este sistema de fraturas verticalizadas, associado aos planos da estratificação, induz à formação de blocos isolados que vão naturalmente se desprendendo do maciço, muitas vezes formando blocos de grandes dimensões, especialmente nas partes mais declivosas do morro (Foto 04). Estes grandes blocos tem a tendência natural de abertura

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das fraturas, e eventualmente se desequilibram e rolam em direção a sua base, podendo acarretar sérios danos ambientais e sociais. Alguns destes blocos estão escondidos pela vegetação, que fornece uma proteção contra a erosão e movimentos locais que, embora pequena, caracteriza-se como fundamental. Por outro lado a vegetação também esconde o perigo de eventuais rolamentos. A vegetação deve ser mantida no seu entorno, mas estes blocos devem ser monitorados de forma adequada, através de seu georeferenciamento e controle permanente. A análise de imagens de satélite disponíveis no software livre Google Earth permite visualizar um alinhamento do Morro São João com outros morros existentes na região, por uma distância superior a 15 km, sugerindo a existência de uma falha geológica regional. Possivelmente este falhamento explique, pelo menos parcialmente, as faces abruptas dos paredões presentes no morro e a conseqüente presença de blocos soltos nas suas partes mais declivosas. Estes arenitos expostos durante milhares de anos a ação do intemperismo, desagregam-se originando, blocos de arenito e solo arenoso que vão se depositando por gravidade nas encostas e sopés do morro, dando origem às Formações Superficiais: Tálus e Colúvio.

Foto 04 – Bloco de Arenito Botucatu presente dentro da mata do Morro São João. A estabilidade caracteriza-se como satisfatória, mas necessita acompanhamento e monitoramento continuados.

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2.1.2- FORMAÇÃO SERRA GERAL A presença de rochas desta Formação no âmbito do Morro São João é secundária, restringindo-se apenas a pequenos vestígios no topo do morro. Estas rochas, são geralmente muito resistentes à erosão e é comum constituírem o topo dos morros da região. Observa-se, próximo das torres, pequeno afloramento de rocha vulcânica basáltica amigdaloidal, com alteração esferoidal típica, representando parte de derrame basáltico que deve ter ali existido e que foi erodido ao longo de milhares de anos. Além desta área de afloramento, pequenos blocos arredondados e angulosos de basalto amigdaloidal são encontrados nos depósitos de tálus que ocorrem associados às encostas declivosas do morro. Nos tálus, blocos basálticos ocorrem de forma esporádica e muito subordinadamente aos blocos de arenito da Formação Botucatu. 2.1.3- DEPÓSITOS DE TÁLUS E COLÚVIOS São depósitos inconsolidados e heterogêneos com formato de cunha, constituídos por uma mistura de blocos e matacões, que contem quantidades pequenas de material fino (TALUS), ou onde os blocos estão imersos em uma matriz fina formada por intemperismo local ou transporte (COLÚVIOS). Estes materiais são formados por transporte por gravidade dos blocos que se desprendem de áreas com declives acentuados e se depositam nas partes menos íngremes dos morros e áreas montanhosas. No Morro São João estes depósitos são muito porosos, podendo percolar e acumular águas subterrâneas, dando origem nas suas porções inferiores a fontes. A composição desses depósitos depende essencialmente da constituição litológica das áreas fontes dos detritos, neste caso principalmente blocos de arenito, seixos arredondados de basalto amigdaloide e pequenos blocos irregulares de basalto maciço (Foto 05). Os matacões e blocos podem atingir até 1,5 de comprimento, mas a grande maioria tem até 0,50 cm (Foto 06). Os seixos de basalto são pequenos, normalmente de aproximadamente 20 cm de diâmetro.

Foto 05 e 06 - Depósito de tálus na encosta declivosa na parte superior do morro.

Observa-se as diferentes formas e tamanhos dos blocos irregulares de arenito.

Do ponto de vista geológico-geotécnico estes depósitos são considerados instáveis, muitas vezes apresentando movimentos lentos recorrentes (rastejos), mas podendo ter uma súbita aceleração durante períodos chuvosos. Podem ocorrer deslizamentos rasos ou fluxo de detritos dependendo das condições locais.

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Os movimentos lentos, denominados de rastejos, são mais comuns nas porções mais argilosas dos depósitos (corpos de colúvios ou rampas de colúvio). Como é comum, no Morro São João estes depósitos estão contíguos aos talus, tendo a mesma origem, e existe uma transição suave entre os dois materiais. Os corpos de colúvios mais finos se depositam em formas de leques ou rampas sobre as partes menos declivosas do morro, situadas da metade até o sopé do morro, interdigitando-se com os depósitos bastante planos pertencentes às planícies aluvionares. Estes corpos de colúvios distribuem-se heterogeneamente ao longo de toda a extensão do morro e, por serem depósitos inconsolidados de material francamente arenoso, são bastante suscetíveis à erosão superficial, principalmente nas áreas onde as declividades podem ser acentuadas. A retirada da cobertura vegetal destas áreas, seja arbórea ou gramínea, pode provocar o agravamento da erosão superficial destes depósitos, podendo dar origem a ravinamentos e valas com sérios danos a utilização de terrenos e transporte de material e assoreamento de bueiros das vias públicas próximas.

Foto 07 - Agravamento de processos erosivos devido as características geológicas do morro.

2.1.4 - COBERTURA PEDOLÓGICA Recobrindo, de forma irregular, todas as unidades geológicas que compõem o Morro São João, ocorre uma camada de solo que pode ter uma espessura de alguns centímetros (topo do morro), até alguns metros nas partes próximas de sua base. Este solo, denominado de argilo-solo, é predominantemente areno-argiloso, com marcante gradiente textural entre os horizontes A e B, sendo que o horizonte A é essencialmente arenoso, facilmente desagregável e permeável e o horizontes B é argilo-arenoso. Como o horizonte A é arenoso e desagrega com facilidade ele se torna bastante suscetível à erosão superficial, podendo apresentar sulcos ou ravinas se não tiver proteção adequada.

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3- CARACTERIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE 3.1- SÍNTESE DA DIVERSIDADE DA COBERTURA VEGETAL REGIONAL E LOCAL Segundo RADAMBRASIL (1986) a vegetação original do município é classificada como Floresta Estacional Decidual, onde cerca de 80% das árvores emergentes perdem suas folhas durante o inverno. A origem e distribuição das florestas estacionais relacionam-se principalmente com as condições climáticas caracterizadas por duas estações definidas pelos índices pluviométricos regionais e pela extrema amplitude térmica. Estes fatores provocam a chamada estacionalidade foliar dos elementos arbóreos do estrato emergente com adaptação à deficiência hídrica na estação seca ou às baixas temperaturas do inverno que atuam como seca fisiológica para os elementos de origem tropical (Klein, 1985).

Fig. 02 - Vegetação regional característica (Carta SH22VD IBGE/SAA, 2003).

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De maneira geral pode-se dizer que os terrenos suavemente ondulados são ocupados predominantemente pelos campos, enquanto nos contrafortes da Serra Geral desenvolve-se uma floresta constituída por árvores características da floresta do Alto Uruguai. O adensamento das formações da cobertura vegetal é determinado pela presença da guajuvira (Patagonula americana), do viraru (Ruprecthia laxiflora) e da batinga-vermelha (Eugenia rostrifolia). Na bacia hidrográfica desenvolveu-se também a Floresta Estacional Semidecidual, com a ocorrência de elementos arbóreos perenefoliados da Floresta Atlântica, como o mata-olho (Pachystroma longifolium), a figueira (Ficus organensis), a bracatinga (Mimosa scrabella) e o guapuruvu (Schizolobium parahybum), características de clima tipicamente ombrófilo. No entanto, os limites das formações não são claramente definidos, havendo interpenetrações entre elas e os elementos considerados típicos e exclusivos por diversos autores. As formações secundárias são influenciadas pelo tipo de terreno, de determinadas condições climáticas, principalmente luminosidade, e da idade da formação em questão. No entanto, um grande número de espécies é comum a este tipo de formação, predominando as POACEAE, como o capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis) e capim-gafanhoto (Rhynchelytrum repens); a vassourinha (Baccharis dracunculifolia) e outras Asteraceae, como o fumo-bravo (Solanum eriathum), a pata-de-vaca (Bauhinia candicans), a canela-guaicá (Ocotea puberula), o angico-vermelho, o catiguá, o açoita-cavalo (Luehea divaricata), o chá-de-bugre (Casearia sylvestris) e a capororoca do gênero Rapanea sp. Grandes extensões de florestas nativas foram sendo ocupadas pelo crescente desenvolvimento econômico que o município apresentou nos últimos anos, onde inclui-se principalmente os setores industrial e agropecuário. O município apresenta grande alteração na composição da vegetação original cedendo lugar as extensas áreas de reflorestamento de acácias e eucaliptos, atividades agropecuárias e plantio de citrus. A atividade industrial também resultou na eliminação das áreas nativas, substituindo estas por áreas de reflorestamento (utilizadas como matéria-prima para a indústria), que aparecem nos mais diferentes locais, desde que não hajam fatores limitantes, como solo e umidade. Encontram-se dois gêneros que são utilizados para o reflorestamento o Eucalyptus sp e a Acacia sp., esta última é a mais comercializada, para fabricação de tanino, produto extraído da acácia negra, utilizado no processo de curtimento de couros e peles. O Morro São João se caracteriza como um dos últimos pontos de ocorrência de mata nativa original do município, além de ser o morro de maior altitude, constituindo-se num patrimônio cultural e natural da região. No topo do morro, em área adjacente a uma torre, ocorre basicamente vegetação herbáceo-arbustivo secundária, em um perímetro de pelo menos 300 m, incluindo os

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afloramentos rochosos e o mirador na encosta Leste. Alguns elementos arbóreos foram mantidos ou replantados posteriormente para fornecimento de sombra em área de lazer, como Casearia sylvestris, Luehea divaricata e Trichilia claussenii. Diversas essências frutíferas formam um pomar sem limites definidos, ao Norte das instalações: cítricas, goiabeiras, abacateiros, bananeiras e ameixeiras, incluindo alguns exemplares de Araucaria angustifolia (GEOSANA, 2004; Geolinks, 1998). Nas cotas superiores a 130 m a encosta do morro é íngreme, com extensos afloramentos de rocha. Além destes aspectos geológicos, outros fatores antrópicos contribuem para a alteração das condições ambientais atuais, como corte da cobertura nativa original na base do morro e o constante uso do fogo, reprimindo o desenvolvimento das espécies pioneiras. A característica principal deste tipo de formação vegetal é a sua extrema agressividade e alta resistência a condições adversas.

A mata secundária ocupa cotas intermediárias e superiores da encosta sudoeste,

formando, lateralmente, um gradiente entre fases sucessionais iniciais (capoeira) e finais

(mata secundária pré-clímax). Também ocorre nas cotas superiores das encostas norte e

nordeste, intercaladas por vegetação secundária inicial e mata secundária em estágio

médio e avançado de regeneração.

O estrato emergente deste tipo fisionômico é baixo, geralmente não

ultrapassando cinco a sete metros de altura, constituído predominantemente por

espécies pioneiras heliófitas como o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), o chá-de-

bugre (Casearia silvestris), o catiguá (Trichilia cleussenii), o ipê-da-várzea (Tabebuia

pulcherrima), a canjerana (Cabralea canjerana), o camboatá-vermelho

(Cupania vernalis), as capororocas (Rapanea spp.), a canela-mole (Banara parviflora), o

rabo-de-bugio (Dalbergia variabilis), a aroeira-braba (Lithraea brasiliensis), a aroeira-

vermelha (Schinus terebinthifolius), o camboatá-branco (Matayba elaeagnoides), o

açoita-cavalo (Luehea divaricata), o chal-chal (Allophylus edulis), o tarumã (Vitex

megapotamica), o esporão-de-galo (Celtis tala), a timbaúva (Enterobium

contortisiliquum). Os estratos inferiores são ocupados sobretudo pelo pau-

d'arco (Guarea macrophylla), embira (Daphnopsis racemosa), o topete-de-cardeal

(Calliandra tweediei), a pitangueira (Eugenia uniflora), entre outras.

Porções remanescente da mata nativa original e que foram parcialmente

removidas ocupam regiões importantes do morro. Se interrompidas as influências

antrópicas negativas a mata tende a atingir rapidamente o seu estágio de estabilidade

ou clímax, o que revela a importância da proteção e conservação ambiental da área.

A mata secundária em estágio avançado de desenvolvimento é representada por

uma grande mancha contínua que se estende desde a face oeste até a face sul do

Morro, recobrindo, inclusive, as encostas do morrote, a sudoeste. Nas cotas inferiores o

solo é mais profundo, devido ao acúmulo de sedimentos oriundos das cotas superiores e

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mais úmido devido, sobretudo, à serapilheira que retém parte da água que desce pelas

encostas. Nestes locais a mata apresenta dossel mais alto, em torno de vinte metros para

aquelas espécies emergentes como a guajuvira (Patagonula americana), o angico-

vermelho (Parapiptadenia rigida), o mata-olho (Pachystroma longifolium), o cedro

(Cedrela fissilis), o ipê-da-várzea (Tabebuia pulcherrima), a caxeta (Didymopanax

morototonii). o camboatá-vermelho (Cupania vernalis), o camboatá-branco (Matayba

elaeagnoides), a canela-guaicá (Ocotea puberula), a canela sassafrás (Ocotea pretiosa), o

guatambu (Baufourodendron riedelianum), a canjerana (Cabralea canjerana), a cabreúva

(Myrocarpus frondosus), a timbaúva (Enterolobium contortisiliquum), entre outras. No

segundo estrato, predominam a murta (Blepharocalix salicifolius), o carvalho-brasileiro

(Roupala brasiliensis), a canela amarela (Nectandra lanceolata) e a canela preta

(Nectandra megapotamica), enquanto, no estrato das arvoretas, observa-se, sobretudo,

o cincho (Sorocea bonplandil), a laranjeira-do-mato (Actinostemon concolor), o catiguá

(Trichilia claussenii, a guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa), o guamirim (Eugenia

schüchiana), o mata-olho (Pouteria gardneriana), o bacopari (Rheedia gardneriana), o

pau-leiteiro (Sebastiania brasiliensis) e a maria-preta (Diospyrus inconstans). Em algumas

áreas verifica-se densos agrupamentos homogêneos no interior da mata, principalmente

o camboatá vermelho (Cupania vernalis), o camboatá-branco (Matayba elaeagnoides) e

o mata-olho (Pachystroma longifolium).

Nas partes mais elevadas e mais íngremes do Morro, a mata apresenta um dossel

mais baixo, em torno de seis a sete metros, com predominância de arvoretas e

arbustos, principalmente Myrtaceae, caxeta (Didymopanax morototoniii, louro-pardo

(Cordia trichotoma), cabreúva (Myrocarpus frondosus) e ipê-da-várzea (Tabebuia

pulcherrima).

O epifitismo encontra-se bastante desenvolvido nesta mata, com alta riqueza

específica das famílias Bromeliaceae, principalmente os gêneros Tillandsia e Vriesia,

Cactaceae, representada por Rhipsalis, Polypodiaceae, com espécies dos gêneros

Microgramma e Polypodium, bem como de Orchidaceae, com diversos gêneros.

Observou-se hemiepífitas da família Araceae, como Philodendron selloum, que inicia seu

ciclo como epífita e lança raízes para o solo, principalmente nos ambientes mais úmidos

da mata.

No estrato herbáceo também encontrou-se alta riqueza de espécies típicas de

clima úmido e quente, desenvolvendo-se à sombra, com exemplares da família Araceae,

em especial Spaticarpa hastifolia e diversas Pteridophyta, pertencentes principalmente

às famílias Polypodiaceae, Pteridaceae, Blechaneceae, Schizaeaceae e Aspleniaceae.

As lianas ocorrem de forma abundante na mata, destacando-se a parreira-brava

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(Cissampelos pareira), a urtiguinha (Tragia volubilis), o cipó-de-leite (Forsteronia

glabrescens), o cipó-mil-homens (Aristolochia triangularis), Metastelma difusum,

Cayaponia martiana, Cuspidaria pterocarpa, o guaco (Mikania cynanchifolia), o cipó-são-

joão (Pyrostegia venusta), o pente-de-macaco (Pithecoctenium echinatum), o cipó-unha-

de-gato (Macfadiena unquis-cetis e o cipó-d'alho (Clytostoma callistegioides), entre

outras.

Foto 08 - Mata ainda preservada do morro constitui importante patrimônio cultural e natural a ser preservado.

A vegetação e diversos ecossistemas presentes, o valor cênico e cultural, o aproveitamento econômico para as antenas, bem como os aspectos arqueológicos e educacionais presentes caracterizam o Morro São João como uma importante Unidade de Conservação inserida no meio urbano de Montenegro, condição singular que corrobora com a necessidade de mudança na estrutura administrativo-gerencial da área para evitar episódios como os verificados em abril/2011.

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3.2-SÍNTESE DA DIVERSIDADE DA FAUNA A área do Morro São João encontra-se inserida num contexto fortemente urbanizado, o que amplia sua importante conservacionista. A ocupação antrópica do morro e entorno, com a implantação de trilhas que permitem a circulação humana, tem contribuído para a diminuição gradativa da fauna da área. Apesar disto, o morro ainda possui uma fauna diversificada, representada principalmente por significativa diversidade de aves, répteis, mamíferos, entre outros, que encontram abrigo e alimentaçào no morro. Tabela 01 – Listagem de espécies de aves descritas e/ou observadas na área do morro.

Nome Comum Nome Científico Família

Gavião-carijó Rupornis magnirostris Acciptridae

Maria-faceira Syrigma sibilatrix Ardeidae

Garça-vaqueira Bubulcus ibis Ardeidae

Urubu-de-cabeça-preta Coragyps atratus Cathartidae

Quero-quero Vanellus chilensis Charadriidae

Rolinha picui Columbina picui Columbidae

Rolinha-roxa Columbina talpacoti Columbidae

Juriti-pupu Leptotila verreauxi Columbidae

Pomba-de-bando Zenaida auriculata Columbidae

Anu-preto Crotophaga ani Cuculidae

Alma-de-gato Piaya cayana Cuculidae

Anu-branco Guira-guira Cuculidae

Sanhaçu-cinzento Thraupis sayaca Emberizidae

Pula-pula-assobiador Basileuterus leucoblepharus Emberizidae

Cambacica Coereba flaveola Emberizidae

Tico-tico-rei Coryphospingus cucullatus Emberizidae

Fim-fim Euphonia chlorotica Emberizidae

Quem-te-vestiu Poospiza nigrorufa Emberizidae

Canário-da-terra-verdadeiro Sicalis flaveola Emberizidae

Tisiu Volatinia jacarina Emberizidae

Coleirinho Sporophila caerulescens Emberizidae

Tico-tico Zonotrichia capensis Emberizidae

Chimango Milvago chimango Falconidae

Quiri-quiri Falco sparverius Falconidae

João-de-barro Furnarius rufus Furnariidae

João-teneném Synallaxis spixi Furnariidae

Andorinha-pequena-das-casas Notiochelidon cyanoleuca Hirundinidae

Andorinha-doméstica-grande Progne chalybea Hirundinidae

Garibaldi Agelaius ruficapillus Icteridae

Asa-de-telha Molothrus badius Icteridae

Sabiá-do-campo Mimus saturninus Mimidae

Sabiá-coleira Turdus albicollis Muscicapidae

Sabiá-poca Turdus amaurochalinus Muscicapidae

Sabiá-laranjeira Turdus rufiventris Muscicapidae

Pardal Passer domesticus Passeridae

Pica-pau-branco Melanerpes candidus Picidae

Caturrita Myiopsitta monachus Psittacidae

Narceja Gallinago gallinago Scolopacidae

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Nome Comum Nome Científico Família

Perdiz Nothura maculosa Tinamidae

Beija-flor-dourado Hylocharis chrysura Trochilidae

Beija-flor-de-papo-branco Leucochloris albicolis Trochilidae

Corruíra Troglodytes aedon Troglodytidae

Suiriri-cavaleiro Machetornis rixosus Tyrannidae

Irré Myiarchus swainsoni Tyrannidae

Bem-te-vi Pitangus sulphuratus Tyrannidae

Alegrinho Serpophaga subcristata Tyrannidae

Príncipe Pyrocephalus rubinus Tyrannidae

Tesourinha Tyrannus savanna Tyrannidae

Pitiguari Cichlaris gujanensis Vireonidae

Tabela 02 – Listagem de algumas espécies de mamíferos observadas na área do morro.

Nome Comum Nome Científico Família

Tatú-mulita Dasypus hybridus Dasypodidae

Graxaim-do-campo Lycalopex gymnocercus Canidae

Mão pelada Procyon cancrivorus Procyanidae

Ouriço caixeiro Sphiggurus villosus Erethizontidae

Morcego-fruteiro Sturnira lilium Phyllostomidae

Gambá Didelphis albiventris Didelphidae

Preá Cavia aperea Caviidae

Lebre Lepus capensis Leporidae

Ratazana Rattus norvegicus Muridae

Rato Silvestre Delomys sp Cricetidae

Tabela 03 – Répteis com possível ocorrência no morro.

Nome Comum Nome Científico Família

Lagarto-do-papo-amarelo Tupinambis maerianae Teiidae

Lagartixa-das-casas Hemidactylus mabouia Gekkonidae

Boipeva Waglerophis merrenii Colibridae

Coral-verdadeira Micrurus frontalis Elapidae

Jararaca Bothrops jararaca Viperidae

Cruzeira Bothrops alternatus Viperidae

Parelheira Philodryas patagoniensis Colibridae

Falsa-coral Phalostris lemniscatus Colibridae

cobra-verde Liophis jaegeri Colibridae

A biodiversidade do Morro São João constitui um dos importantes aspectos que caracterizam esse local como de importância ecológica e ambiental, servindo como refúgio de significativa variedade de espécies. As formações vegetais oferecem alimentação, abrigo e atuam na regulação do micro-clima local. Atua ainda como corredor ecológico entre as formações geológicas associadas e o próprio Rio Caí, constituindo patrimônio sócio-cultural singular.

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4-DESLIZAMENTOS E SITUAÇÃO ATUAL DA ESTRADA Escorregamentos (ou deslizamentos) são movimentos de massa que ocorrem em aterros ou encostas de morros com declividades acentuadas, sob a ação direta da gravidade. Há vários mecanismos de escorregamentos dependendo da geometria, materiais envolvidos e do clima, o que influi nos seus volumes e velocidades. Os deslizamentos são classificados quanto a cinemática do movimento (velocidade e direção), tipo de material (rocha, solo, detritos etc.), geometria (tamanho e forma). Quanto à cinemática destacam-se quatro tipos de movimentos básicos: os rastejos, os escorregamentos, as corridas de material e queda de blocos. O rastejo é um fenômeno lento e que, embora possa causar danos consideráveis, apresenta pouco risco à vida humana. Pode ser facilmente identificado pela mudança na verticalidade das árvores, poste e muros. Os escorregamentos apresentam diversas velocidades, mas geralmente maiores do que 50 cm/dia, podendo alcançar alguns metros/h. Quando envolvem grandes volumes de material, tem alto poder destrutivo, em função do material transportado encosta abaixo. As corridas são movimentos geralmente iniciado por escorregamentos, com a característica de serem muito rápidos, devido às características do material transportado, o qual se comporta como fluido viscoso. A inércia do movimento e a capacidade erosiva ampliam a capacidade destrutiva dos escorregamentos. As quedas de blocos ocorrem pelo desprendimento de rocha das encostas extremamente íngremes, num movimento tipo queda livre de alta velocidade. Nesses fenômenos a maior preocupação é com a trajetória do rolamento dos blocos, encosta abaixo. Seu poder de destruição depende da energia do deslocamento e tamanho dos blocos. De acordo com Petry (2011), e como verificado nas visitas a campo realizadas pela equipe do presente estudo, ocorreram duas grande movimentações de massa, situadas na parte superior do morro. “As cabeceiras destes deslizamentos representam pontos de ruptura circular, com cerca de três a cinco metros de largura, aumentando em direção à base. A massa que se deslocou a partir destes pontos percorreu cerca de 65 metros no caso do menor deslizamento, mais ao norte, com amplitude vertical de algumas dezenas de metros, e mais de 120 metros no maior deslizamento, ao sul, que apresenta amplitude vertical de mais de 50 metros.” No caso dos dois escorregamentos que ocorreram em abril 2011 no morro São João, foram de corpos de aterro e/ou colúvio, os quais foram instabilizados durante chuvas torrenciais com algumas horas de duração. A medição feita no Corpo de Bombeiros de Montenegro (muito próximo ao local dos escorregamentos) foi de 226mm/12h, o que é uma precipitação muito intensa. Nas duas rupturas a chuva provocou a instabilização de uma massa de solo de talus/colúvio que, após a ruptura, se comportou como uma corrida de detritos. No primeiro caso a ruptura ocorreu em um alinhamento natural de drenagem de enxurrada, sem qualquer interferência antrópica recente.

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Na foto 08 é identificado o ponto onde a ruptura se originou e o tipo de material envolvido (talus/colúvio). O material rompido escorreu por sobre o leito da estrada, carregando blocos de rocha e vegetação, inclusive grandes árvores. Durante as inspeções ainda era possível ver claramente os blocos de rocha depositados por sobre o corpo estradal (Foto 09). Os escorregamentos de formato translacional-circular deram origem aos fluxos de rochas que deslizaram encosta abaixo, levando consigo blocos de material mineral, solo e árvores, aproveitando parcialmente o leito da estrada como se fosse um canal de transporte.

Foto 08 – Ponto de origem da ruptura coincidente com um alinhamento de drenagem natural (talvegue).

Foto 09 – Deslizamento associado ao depósito de tálus ocorrido nas encostas declivosas da parte superior do morro. Árvores de grande porte foram derrubadas e arrastadas pelo deslizamento.

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Foto 10 - O fluxo de rocha gerando no deslizamento, utiliza a estrada como se fosse um grande canal e recobre o asfalto da estrada com blocos, sem no entanto destruí-lo.

Foto 11 – Além de rocha, o deslizamento derruba árvores que se depositam no leito da estrada obstruindo-a parcial ou totalmente.

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O segundo escorregamento que ocorreu no morro foi também causado por concentração de água superficial, mas neste caso ocorreu junto a um aterro da estrada de acesso, diminuindo grandemente sua seção transversal (Foto 12). Em semelhança ao anterior, também causou escorregamento de detritos que atingiu a estrada nas porções imediatamente abaixo da ruptura, cobrindo-a com blocos. Neste caso, entretanto a recuperação será mais onerosa, já que se fará necessário reconstruir o corpo da estrada utilizando algum tipo de estrutura de contenção (muro de arrimo convencional, solo reforçado ou solo grampeado).

Foto 12– Foto da segunda ruptura que atingiu o corpo da estrada.

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5-EROSÃO SUPERFICIAL, DRENAGEM E TRILHAS EXISTENTES Durante as inspeções foram observados diversas fragilidades nas drenagem superficiais causando ravinamentos no corpo estradal, bueiros não funcionais, valetas obstruídas por vegetação e pedras roladas. Percebe-se com clareza as deficiências na manutençãos dessas estruturas e sua importância para a ampliação dos problemas constatados. Também foi observado que as encostas mais declivosas, principalmente nas áreas situadas na parte superior do morro, são utilizadas para a prática de trilha com uso de bicicleta. Esta atividade criou uma rede de trilhas na porção Leste e Sul do morro, principalmente nas áreas mais íngremes, onde o esporte torna-se mais atrativo. Estas trilhas removem a vegetação existente e transformam-se em caminhos preferenciais das águas da chuva, aumentando seu poder erosivo (ladeira abaixo), provocando o aparecimento de ravinamentos nas encostas (Fotos 13 e 14), que podem, a longo prazo, funcionarem como elementos desestabilizadores do equilíbrio ambiental da área.

Foto 13 – Ravinamento na lateral da estrada ocasionado por falta de canaletas

condutoras das águas superficiais.

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Foto 14 – Falta de manutenção em caixas de coleta de água e encanamento, provocam erosão acelerada nas margens da estrada.

Foto 15– Falta de manutenção nos equipamentos da coleta de água e falta de caneletas para a adequada condução da água superficial provoca o aparecimento de ravinamentos na lateral do leito da estrada.

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Foto 16 – Trilhas produzidas pelo tráfico de bicicletas no morro. As áreas declivosas do morro são utilizadas para a prática de esporte. As trilhas se transformam em caminhos preferenciais para a água da chuva, podendo agravar os processos erosivos e gerar ravinamentos.

Foto 17 - Vista das atividades de construção de travessias para a prática de trilhas com bicicleta.

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6-UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MORRO SÃO JOÃO Devido ao rápido crescimento da população humana e do uso desordenado dos recursos naturais vários ambientes importantes foram modificados pelas atividades humanas.

Foto 18 - A transformação do Morro São João em uma unidade de conservação integra diversos aspectos importantes para o município de Montenegro. Essas modificações foram tão impactantes que várias espécies de organismos entraram no caminho da extinção. A espécie humana tem utilizado várias espécies de organismos para garantir a sua sobrevivência. A espécie humana também deve a sua sobrevivência a inúmeros serviços ambientais prestados pela natureza. Estes serviços incluem, por exemplo, a manutenção da qualidade da atmosfera, a reciclagem natural de materiais utilizados pelo homem, o controle do ciclo hidrológico, a geração e conservação de solos férteis, que são essenciais à agricultura e ao manejo de florestas, o controle de pragas para a agricultura e de vetores de doenças, entre outros. Em 18 de julho de 2000 foi sancionada a Lei nº. 9.985 com o objetivo de regulamentar o artigo 225 da Constituição Brasileira, e instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.

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Regulamentada pelo Decreto nº 4.340 de 22 de agosto de 2002 é o instrumento legal que visa possibilitar os objetivos de proteção da natureza no Brasil. De acordo como o disposto na Lei, os objetivos do SNUC, são: - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; - Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; - Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; - Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; - Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; - Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; - Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; - Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; - Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; - Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; - Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; - Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; - Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. Assim, o SNUC busca organizar as áreas naturais protegidas, em categorias, e definir os meios de planejamento e gestão adequados para cada. Dessa forma, foram definidas diversas categorias de UC de uso sustentável ou de proteção integral, de acordo com suas possibilidades de manejo: a) Proteção integral: o objetivo básico é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Compreende as seguintes categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre; b) Uso sustentável: o objetivo básico é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Compreende as seguintes categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva da Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Devido as características do Morro São João, o que integra aspectos fundiários, econômicos e ambientais verifica-se sua viabilidade para transformação numa Área de Proteção Ambiental - APA. As Área de Proteção Ambiental (APA) são unidades de conservação compostas por áreas públicas e/ou privadas e têm o objetivo de disciplinar o processo de ocupação das terras e promover a proteção dos recursos abióticos e bióticos dentro de seus limites, de

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modo a assegurar o bem-estar das populações humanas que ali vivem, resguardar ou incrementar as condições ecológicas locais e manter paisagens e atributos culturais relevantes. De outra forma o SNUC determina que, para implantar as Unidades de Conservação se faz necessária a elaboração do "Plano de Manejo", para que possam atingir seus objetivos, e se obtenham resultados definidos por indicadores e metas, e estabelecem atividades (programas e projetos) a serem implementados de forma gradual.

Foto 19 - Vista da porção Sul de Montenegro vista do Morro São João. Por sua vez o Plano de Manejo é definido como "o documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade". Esse documento técnico contempla o zoneamento ambiental, o estabelecimento de diretrizes de uso e ocupação do solo e os programas de ação. A Convenção para a Diversidade Biológica foi assinada por vários países, incluindo o Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Esta convenção estabeleceu um conjunto de medidas a serem adotadas para conservar a diversidade biológica de cada nação, conferindo especial destaque à conservação in situ, ou seja, a proteção da biodiversidade no próprio local de ocorrência natural, cujo sistema de unidades de conservação é um dos instrumentos essenciais.

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Portanto, uma das formas de garantir a conservação da diversidade biológica é o estabelecimento de um sistema de áreas protegidas, o que condiz com as características do Morro São João e a vontade da comunidade local em usufruir dos diversos aspectos que ele propicia, porém de forma sustentável, economicamente viável e socialmente adequada.

Foto 20 - Vista geral do Morro São João e das antenas situadas no topo.

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7 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As inspeções e levantamentos realizados possibilitaram identificar um conjunto de medidas adequadas para administração dos problemas constatados no Morro São João, decorrentes do estado de degradação dos aspectos geológicos e ambientais. A utilização da estrada de acesso apresenta-se viável mediante a implantação de obras de recuperação e contenção geotécnica, acompanhado da necessária mudança da estrutura administrativa do Morro, desenvolvendo mecanismos participativos e sustentáveis de uso e controle da área. Dentre elas destacamos:

7.1-O Morro São João é uma área com características paisagísticas e ambientais muito marcantes e de grande interesse para a comunidade local e regional. Sua imponência na paisagem e seu intrínseco valor estético e cultural fazem dele um monumento natural que merece mais atenção e cuidado por parte da administração municipal, empresas usuárias das instalações e da comunidade como um todo; 7.2-O Morro São João representa um morro-testemunho, isto é, um remanescente dos processos naturais de erosão e denudação geológica. Como tal apresenta sinais claros dos processos de evolução, como uma linha de escarpa provocada por falhamento regional e sinais de escorregamentos pretéritos; 7.3-O Morro tem uma grande área com declividades variáveis e é galgado por uma estrada de acesso aos equipamentos de transmissão (torres) existentes no seu topo. Esta estrada corta, na sua porção superior, áreas de grande declividade cobertas por depósitos de tálus, os quais se distribuem de maneira irregular por todo o morro. Esta estrada modificou a drenagem natural mas sua implantação não foi excessivamente danosa, não havendo cortes ou aterros de grande importância (altura/volume). O traçado sinuoso com rampas fortes e curvas acentuadas não deve ser modificado. Entretanto isto significa que este acesso é adequado apenas para trânsito restrito a passagem de veículos operacionais e em baixa velocidade, não recomendando-se o trânsito de caminhões; 7.4-Os dois escorregamentos que ocorreram em abril de 2011 foram do tipo translacional raso, envolvendo materiais rochosos (blocos) e pouco solo na sua origem (depósitos de tálus/colúvios). Como os movimentos ocorreram durante chuvas muito intensas (foram medidos 226mm em 12h) e em áreas com altas declividades, eles apresentaram elevadas velocidades de movimento. Isto levou à erosão parcial de outros materiais criando um movimento do tipo corrida de detritos, que é um fluxo viscoso de alta energia; 7.5-Tendo em vista que os volumes das rupturas foram relativamente modestas, os danos causados foram relativamente limitados. A primeira ruptura causou como danos apenas o soterramento parcial e danificação do pavimento da estrada. A segunda ruptura, embora de magnitude semelhante, afetou diretamente o corpo da estrada, deixando-o em situação crítica a médio prazo e exigindo obras de contenção do local antes da liberação do acesso para tráfego de veículos;

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7.6-Não há escorregamentos lentos importantes na área e não foram detectados quaisquer indício importante de movimentação posterior nas áreas próximas das rupturas descritas; 7.7-Considerando o tipo das rupturas que ocorreram e a geometria sinuosa do acesso, recomenda-se a implantação de obras para recuperação do trecho da estrada parcialmente rompido, através a contratação de um projeto geotécnico de estabilização (estudo de alternativas, projeto executivo e execução). Os demais trechos de estrada devem ter limpeza efetuada com transporte do material para áreas adequadas e reconstituição do pavimento nos pontos danificados. É fundamental revisar e manter toda a rede de drenagem superficial da estrada, com cuidados para os pontos de desaceleração e deságüe. Com as obras de recuperação a estrada poderá ser reaberta para veículos de pequeno porte objetivando a manutenção das torres instaladas no topo. Recomendando-se fortemente que o trânsito de outros tipos de veículos não seja permitido. O trânsito eventual de veículos de maior peso deverá ser monitorado e somente poderá ser executado em períodos não-chuvosos. Durante os períodos mais chuvosos o trânsito de veículos deverá ser restrito ao mínimo necessário, sendo impedido durante e logo após chuvas intensas, por período de pelo menos por 2 a 3 dias; 7.8-Escorregamentos similares aos que ocorreram em abril de 2011 muito provavelmente voltarão a ocorrer durante novos episódios de chuvas de grande intensidade (maior do que 100mm/dia, como referência), por serem fenômenos naturais e esperados nesta condição geomorfológica. Por outro lado, o risco de utilização do morro para visitação, passeios ecológicos e para acesso às torres em períodos normais não é alto, podendo ser liberado após a execução das obras de recuperação indicadas. Essas obras devem estar associadas a transformação do Morro São João numa unidade de conservação municipal adequada às suas características e vocação, estabelecendo adequado Plano de Manejo, contemplando zona de amortecimento, zona de recuperação, de uso intensivo, de uso restrito, entre outras, integrando ainda programas e projetos de uso sustentável; 7.9-Nas encostas superiores do Morro São João existem blocos de rocha de grande dimensões que apresentam um risco potencial importante. Eles devem ser identificados, cartografados e monitorados de forma sistemática e rotineira, mantidas as condições atuais de vegetação e efetivo controle dos processos erosivos no seu entorno. Este monitoramento deve ser permanente, atentando-se para os episódio de chuva torrencial, alteração da vegetação adjacente (por queima, queda ou corte) ou escorregamento ou erosão nas áreas próximas; 7.10-As torres de transmissão existentes estão posicionadas em área estável do topo do morro, sendo que elas não representam qualquer risco geotécnico, podendo ser mantidas e adequadamente conservadas. Sua permanência no morro deve estar vinculada a necessária regularização, licenciamento e efetivo controle. Não se recomenda ampliar os usos para novas torres, estimulando-se o compartilhamento mediante análise e aprovação prévia do Conselho Municipal de Meio Ambiente e do Plano Diretor; 7.11-Tendo em vista a importância da área, sua beleza cênica, valor cultural, ambiental e paisagístico, recomenda-se que o Morro São João seja protegido por um Plano de Manejo

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economicamente sustentável. Para isto sugere-se a criação, mediante ato do Poder Executivo de Comissão Técnica formado por entidades com acento no Conselho Municipal de Meio Ambiente para elaboração de proposta de criação de unidade de conservação na modalidade de uso sustentável. Essa comissão multidisciplinar deverá acompanhar todas as atividades de recuperação da estrada de acesso e do plano de monitoramento do morro; 7.12-Recomenda-se que as obras referidas como necessárias para devolver segurança de uso do acesso principal (limpeza, construção de canaletas, caixas de redução de velocidade, projeto geotécnico de estabilização, contemplando estudo de alternativas técnicas, projeto executivo e execução) tenha seus custos compartilhados pelas empresas proprietárias das torres, mediante supervisão da Comissão Técnica a ser criada; 7.13-Aspectos restritivos de ocupação da base do morro devem ser implementados, uma vez as características geológicas e geotécnicas descritas no presente estudo, definindo-se critérios econômicos e ambientais para evitar o uso da zona de amortecimento a ser estabelecida, contemplando rigorosa fiscalização de novas construções;

7.14-Estabelecimento de programas de Educação Ambiental integrado destacando a importância de preservação do Morro como patrimônio econômico - sócio-cultural-ambiental do município e região; 7.15-Uma vez estabelecido o Plano de Manejo para o Morro seu uso deve ser estimulado garantindo a correta gestão dos resíduos sólidos, acessos secundários, atividades educativas e importância arqueológica; Este é o relatório, em 27/12/2011.

Jackson Muller Biólogo

CRBio3 08484

Vitório Orlandi Filho Geólogo

CREA/RS nº

Luiz A. Bressani Eng. Civil - Geotécnico

CREA/RS nº

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ESTRADA DE ACESSO MORRO SÃO JOÃO GEOLOGIA, GEOTECNIA E CONTROLE AMBIENTAL

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