América do Sul - Site oficial do Secretário do Meio...

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1 América do Sul (Equador, Peru, Bolívia e Chile) 1. A SOCIEDADE INCA A civilização inca desenvolveu-se na América do Sul, ao longo da Cordilheira dos Andes, em terras dos atuais Equador, Peru, parte do Chile e Bolívia, que se estendiam por 4 000 quilômetros, com 650 de largura. Duas estradas, uma no litoral e outra nas montanhas, cortavam o território de norte a sul, interligadas por transversais de leste a oeste. A palavra inca pode ser traduzida por chefe, soberano ou nobre. Em 1200 a.C., populações andinas já plantavam milho, faziam roupas e cerâmica. Várias civilizações foram se desenvolven-do, como a chavin, a tiahuanaco, a mochica. Até 1000 d.C. o Peru era habitado por tribos guerreiras. A lenda mais conhecida sobre as origens dos incas conta que eles se estabeleceram em Cuzco no século XII, chefiados por Manco Capac, o primeiro inca (imperador). No século XV, Roca passou a ser o Sapa Inca (Inca Supremo). Pachacuti Inca Yupanqui (1438-1471) conquistou toda a zona montanhosa e Topa Inca Yupanqui (1471¬1493) conquistou o litoral e ilhas do Pacífico. Atahualpa estava no poder quando os espanhóis derrotaram os incas: foi executado em 1533. a) As Classes sociais e a lei Cada um tinha seu lugar na sociedade. O Sapa Inca, o rei, era adorado como um deus, descendente do Sol. A seu lado ficava a rainha, Coya. Abaixo, vinham os nobres, parentes do rei e os escolhidos por ele para postos de comando, como governadores de províncias, chefes militares, sábios, juízes e sacerdotes. A camada seguinte incluía funcionários públicos e trabalhadores especializados, marceneiros, ourives, pedreiros. Por último, os agricultores. As escolas recebiam apenas filhos da nobreza, que aprendiam leis, religião, arte da guerra e outros conhecimentos. As crianças pobres eram educadas pelos pais. Sapa Inca tinha poder absoluto sobre a vida dos habitantes, mas não deixava faltar comida, atendia a necessidades urgentes e controlava o trabalho. Dava atenção especial a velhos, doentes e viúvas. O palácio principal, com grande salões e pátios internos, ficava em Cuzco. Ao lado ficava a casa das Virgens do Sol, escolhidas para trabalhar nos rituais. Cada grupo de dez pessoas tinha um chefe; dez chefes, um capataz; dez capatazes, um supervisor; e dez supervisares se subordinavam ao curaca (o mais velho), geralmente nobre, que obedecia ao governador. Havia leis que controlavam o tempo de semear, colher e até os dias de ir ao mercado ou divertir-se. Um grupo de famílias os mesmos antepassados se chamava ayllu. Elas mantinham vínculos: totêmico (antepassado comum), sanguíneo (eram parentes), territorial (mesma terra) e econômico (trabalhavam coletivamente). Dividiam as terras em três partes: a do Sol, a da Lua e a do povo. O governo recolhia dois terços da produção e estocava para os períodos de escassez.

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América do Sul

(Equador, Peru, Bolívia e Chile)

1. A SOCIEDADE INCA

A civilização inca desenvolveu-se na América do Sul, ao longo da Cordilheira dos Andes, em

terras dos atuais Equador, Peru, parte do Chile e Bolívia, que se estendiam por 4 000

quilômetros, com 650 de largura. Duas estradas, uma no litoral e outra nas montanhas,

cortavam o território de norte a sul, interligadas por transversais de leste a oeste.

A palavra inca pode ser traduzida por chefe, soberano ou nobre. Em 1200 a.C., populações

andinas já plantavam milho, faziam roupas e cerâmica. Várias civilizações foram se

desenvolven-do, como a chavin, a tiahuanaco, a mochica. Até 1000 d.C. o Peru era habitado

por tribos guerreiras. A lenda mais conhecida sobre as origens dos incas conta que eles se

estabeleceram em Cuzco no século XII, chefiados por Manco Capac, o primeiro inca

(imperador). No século XV, Roca passou a ser o Sapa Inca (Inca Supremo). Pachacuti Inca

Yupanqui (1438-1471) conquistou toda a zona montanhosa e Topa Inca Yupanqui (1471¬1493)

conquistou o litoral e ilhas do Pacífico. Atahualpa estava no poder quando os espanhóis

derrotaram os incas: foi executado em 1533.

a) As Classes sociais e a lei

Cada um tinha seu lugar na sociedade. O Sapa Inca, o rei, era adorado como um deus,

descendente do Sol. A seu lado ficava a rainha, Coya. Abaixo, vinham os nobres, parentes do

rei e os escolhidos por ele para postos de comando, como governadores de províncias, chefes

militares, sábios, juízes e sacerdotes. A camada seguinte incluía funcionários públicos e

trabalhadores especializados, marceneiros, ourives, pedreiros. Por último, os agricultores.

As escolas recebiam apenas filhos da nobreza, que aprendiam leis, religião, arte da guerra e

outros conhecimentos. As crianças pobres eram educadas pelos pais.

Sapa Inca tinha poder absoluto sobre a vida dos habitantes, mas não deixava faltar comida,

atendia a necessidades urgentes e controlava o trabalho. Dava atenção especial a velhos,

doentes e viúvas. O palácio principal, com grande salões e pátios internos, ficava em Cuzco. Ao

lado ficava a casa das Virgens do Sol, escolhidas para trabalhar nos rituais.

Cada grupo de dez pessoas tinha um chefe; dez chefes, um capataz; dez capatazes, um

supervisor; e dez supervisares se subordinavam ao curaca (o mais velho), geralmente nobre,

que obedecia ao governador. Havia leis que controlavam o tempo de semear, colher e até os

dias de ir ao mercado ou divertir-se.

Um grupo de famílias os mesmos antepassados se chamava ayllu. Elas mantinham vínculos:

totêmico (antepassado comum), sanguíneo (eram parentes), territorial (mesma terra) e

econômico (trabalhavam coletivamente). Dividiam as terras em três partes: a do Sol, a da Lua e

a do povo. O governo recolhia dois terços da produção e estocava para os períodos de

escassez.

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O ayllu sustentou o desenvolvimento do império. Responsabilizava-se pelo trabalho nas três

terras, obras públicas, serviço militar e previdência social, através de grandes armazéns onde

guardavam roupas e gêneros para qualquer eventualidade.

Os incas baseavam suas atividades no trabalho coletivo. Toda pessoa válida trabalhava. O

governo assegurava terra para todos.

b) A agricultura e as técnicas

A economia inca baseava-se na agricultura, desenvolvida especialmente na zona montanhosa

dos Andes. Nas florestas, colhiam frutos e caçavam animais, cujas peles curtiam. No litoral,

viviam mais da pesca.

Calcula-se que a população inca fosse mais numerosa que a do atual Peru, isto é, mais de 20

milhões de habitantes. Todo pedaço de terra era cultivado, para não faltar alimento. Lavouras

estendiam-se até pelas encostas, com o sistema de terraços andinos: degraus com paredes de

pedra com patamares de terra vegetal. A montanha parecia uma grande escada de patamares

verdes quando as plantas cresciam. Na parte alta, cultivavam batata, coca e outros produtos

resistentes ao frio; nas zonas intermediárias, feijão e milho; na parte baixa, pimenta e frutas,

como o abacate. Também selecionavam os melhores produtos. Cultivavam cerca de vinte

espécies de milho e quarenta variedades de batata. Adaptaram a agricultura às estações, que

determinavam observando os astros.

Os incas usavam ainda dois recursos para melhorar a produtividade da terra: a irrigação, com

tanques e canais; e a adubação, com esterco de lhama e de pássaros. Os incas foram o único

povo pré-colombiano a criar gado. Domesticaram a lhama, que servia para o transporte,

fornecia couro, carne e esterco. Criavam a alpaca e a vicunha, das quais obtinham lã de ótima

qualidade.

Para atravessar rios, construíam balsas; jangadas e barcos de junco cruzavam lagos e a costa

marítima. Na beira das estradas, que contavam com pontes, erguiam albergues para guardar

alimentos, roupas, armas, para os viajantes. Um correio levava mensagens a toda parte: o

chasqui (mensageiro) percorria um trecho, entregava a mensagem ao colega seguinte e

descansava numa cabana, esperando a próxima encomenda.

A história dos incas chegou até nós através de testemunhos orais de poetas e sacerdotes, pois

eles não desenvolveram nenhuma escrita. Mas as técnicas que desenvolveram para suprir suas

necessidades ainda hoje são consideradas avançadas. Para contar, elaboraram um sistema de

numeração decimal chamado quipu. As informações eram registradas em cordões de formas

diferentes e com diversos nós, presos a um cordão principal. Identificavam a informação pela

cor do cordão, número e posição dos nós.

Trabalharam barro, pedra, madeira, tecido, cobre, prata e ouro, que moldavam pelo método

da cera perdida, como os astecas. No campo da medicina, usavam ervas e a sangria. Há

informações de que faziam trepanação, cirurgia com perfuração do crânio.

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As obras arquitetônicas deixadas pelos incas causam admiração: os terraços para plantio; os

palácios, templos e fortalezas, construídos em cidades como Machu Picchu. Eram todas

construções adequadas a uma região sujeita a terremotos. Os incas trabalhavam os blocos de

pedra, às vezes enormes, de duas maneiras: ajustando um a um os irregulares ou usando

blocos retangulares ajustados e encaixados. Milhares de pessoas deviam trabalhar nas grandes

obras. Calcula-se que 20.000 operários ergueram a fortaleza de Sacsahuamán, com blocos de

pedra da altura de dois ou mais homens. Em Ollantaytambo, podem-se admirar os paredões

de pedras maciças de 3 metros de altura.

Para alguns, os incas foram socialistas, pois a propriedade era comum, todos produziam e

todos consumiam. Para outros, era um povo controlado por um governo despótico, com uma

sociedade dividida em classes rigidamente separadas, em que uns poucos mandavam e a

maioria obedecia.

c) fim dos incas

Dominando América Central e México, os espanhóis se voltaram para a América do Sul. Na

empreitada, destacou-se Francisco Pizarro, militar de ascendência nobre. Ele submeteu o

poderoso império inca depois de duas tentativas fracassadas (1524 e 1526). A disputa entre os

irmãos Huáscare Atahualpa pelo trono facilitou sua ação.

Quando Pizarro chegou à região, em 1532, Atahualpa já havia derrotado o irmão. Instalado em

Cajamarca, tentava controlar o império. Informado da chegada dos invasores, saiu com a corte

e cerca de 30 000 soldados, aceitando encontrar-se com Pizarro. Mas este, seguindo o

exemplo de Cortez, planejava capturar o imperador para dominar seu povo mais facilmente.

Distribuiu soldados pela cidade a fim de pegar de surpresa o imperador, que vinha em missão

de paz.

Atahualpa chegou à praça principal com a coroa e jóias de ouro e prata, para aguardar o

encontro com os filhos dos deuses. Apareceu, junto com um intérprete, o padre Valverde, er-

guendo a Bíblia numa das mãos e o crucifixo na outra. Apresentando a Bíblia, ordenou ao Sapa

Inca que reconhecesse o deus dos espanhóis como único e verdadeiro Deus; e que obedecesse

ao papa e ao rei de Espanha. Atahualpapegou a Bíblia e a deixou cair.

A um grito de Pizarro, os espanhóis atiraram-se sobre a multidão. Prenderam o imperador e

mataram quase todos os acompanhantes. Em troca da libertação de Atahualpa, Pizarro exigiu

um quarto cheio de ouro e dois cheios de prata.

O império se mobilizou. Estatuetas de deuses e adornos foram derretidos. De Cuzco veio o

maior tesouro: um jardim com árvores, flores e pássaros em tamanho natural, tudo de ouro e

prata. Emalguns meses, os aposentos estavam cheios. Pizarro separou as partes do rei, da

Igreja, dos soldados e a maior, para si. Só a liteira de Inca, seu troféu de general, pesava 83

quilos de ouro puro.

Depois da partilha, Atahualpa foi condenado à morte. Antes, foi batizado com o nome de

Francisco, o mesmo do conquistador. Teve a cabeça estraçalhada por um torniquete de ferro.

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Pizarro nomeou vários incas ligados a Huáscar, sem nenhum poder, a fim de dominar mais

facilmente o império dividido. A conquista final veio logo. Em 1533, os espanhóis tomaram

Cuzco e Quito; em 1535, fundaram Lima, nova capital das terras conquistadas. Os domínios se

estenderiam até o interior e o sul do continente nos anos seguintes.

2. EQUADOR

a) Aspectos Gerais

República do Equador tem seu território (de 256.368 km² de área) situado no noroeste da

América do Sul, é cortado por duas cadeias montanhosas da cordilheira dos Andes. Entre elas

há um planalto central (altiplano), onde fica Quito, a capital. No litoral desenvolvem-se as

culturas de café, cacau e, em especial, banana, produto do qual o Equador é um dos grandes

exportadores mundiais. Coberta pela selva amazônica, a região leste possui importantes

reservas de petróleo. Na zona litorânea tem clima equatorial e no interior equatorial de

altitude. Com 15,7 milhões de habitantes, suas principais cidades, são a capital Quito e

Guayaquil. Sua população é composta de 55% de eurameríndios, 25% de ameríndios, 10% de

europeus ibéricos e 10% de afroamericanos. Tem como língua oficial o espanhol, porém o

quínchua e outras línguas regionais tem uma boa representatividade. A religião preponderante

é o cristianismo onde 97,1% são de católicos. Governado por uma República presidencialista,

encabeçada pelo Presidente Rafael Correa (desde 2007). O PIB equatoriano é de US$ 84,5

bilhões, desde a crise de 2000 adotou o dólar americano como moeda.

b) Desenvolvimento histórico

Quando chegam à região, em 1526, os espanhóis se aproveitam de uma luta sucessória entre

os herdeiros do império inca para anexar sua região norte ao Vice-Reino do Peru e, mais tarde,

a Nova Granada. Após várias tentativas autonomistas, o general Antonio José de Sucre,

enviado de Simón Bolívar, derrota os espanhóis em 1822. O país integra a Federação da Grã-

Colômbia até 1830, quando se torna independente.

Entre o fim do século XIX e o início do XX, conservadores e liberais se alternam no poder. A

partir de 1932, o cenário político é dominado pelo líder populista José Maria Velasco Ibarra,

eleito cinco vezes presidente. Em 1972, um golpe militar coloca no poder o general Rodriguez

Lara. A redemocratização começa em 1978.

O centro-esquerdista Lucio Gutiérrez do Partido Sociedade Patriótica 21 Janeiro (PSP), vence a

eleição presidencial de 2002. No ano seguinte, Gutiérrez, que liderara a rebelião de 2000

contra Mahuad, retoma as negociações com Fundo Monetário Internacional (FMI) anuncia

corte de salários e redução de gastos públicos. Essa política de austeridade faz sua

popularidade desabar. Em dezembro de 2004, Gutiérrez destitui 27 dos 31 juízes da Suprema

Corte e substituí por simpatizantes do governo, o que provoca protestos da oposição (em

2000) que toma as ruas e pede o impeachment de Gutiérrez, que suspende a Suprema Corte,

mas a situação já é insustentável. No dia 19, de abril, mais de 30 mil pessoas cercam o palácio

do governo exigindo sua renúncia. Gutiérrez o foge para o Brasil e, no dia seguinte, o

Congresso decide pela sua destituição por "abandono de cargo". Ao retornar ao Equador, em

outubro, é preso.

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c) Correa é eleito

Em novembro de 2006, o esquerdista Rafael Correa, da Aliança País (AP), elege-se o novo

presidente equatoriano em segundo turno com 57% dos votos. Durante o processo eleitoral, a

AP se recusa a indicar candidatos aos cargos legislativos, com o argumento de que as

estruturas políticas do país devem ser redefinidas por uma Assembléia Constituinte a ser

convocada depois das eleições. O Partido renovador Institucional de Ação Nacional (Prian) é o

partido mais votado para o Congresso, elegendo 27 deputados, seguido pelo PSP, com 21

deputados.

Ao tomar posse, em janeiro de 2007,Correa anuncia a intenção de submeter a um referendo

popular sua proposta de eleição de uma Constituinte. O novo presidente afirma que vai

renegociar a dívida externa, rever os contratos com as multinacionais do petróleo e não

renovará a permissão para permanência da base norte-americana de Manta, cujo contrato

expira em 2009. Anuncia também que interromperá as conversações para um tratado de livre-

comércio com os EUA.

d) Nova Constituinte (a exemplo da Venezuela e Bolívia)

Abre-se um conflito entre o presidente e o Congresso, cuja maioria é contrária à convocação

da Constituinte e, portanto, à proposta de referendo.

Na eleição da Assembleia Constituinte, em setembro de 2007, os partidários do presidente

Rafael Correa obtêm 89,8% dos votos e conquistam 80 das 130 cadeiras. A maioria absoluta

abre caminho para que a nova Carta inclua as propostas defendidas por Correa, como o

aumento do papel do Estado na economia e mais limites à exploração do petróleo por

empresas estrangeiras.

Correa propõe também a dissolução do Congresso, como meio de evitar que dois poderes

legislativos entrem em conflito e emperrem o processo político. Antecipa as eleições de

presidente, governadores e prefeitos para 2008, com direito a reeleição. Ao ser instalada, a

Constituinte decide suspender o Congresso e assumir os poderes legislativos, o que abre novos

choques com os congressistas. Correa coloca seu cargo à disposição da Constituinte, que

ratifica o mandato do presidente. Com a Constituinte, o Equador segue a trilha das

transformações políticas em curso na Venezuela, presidida por Hugo Chávez, e na Bolívia, do

presidente Evo Morales.

Crise com a Colômbia

Em março de 2008, o Exército colombiano realiza uma ofensiva militar contra membros das

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano. O Equador

condena a violação de sua soberania nacional, enquanto a Colômbia insinua que as Farc

mantêm acordos com Quito. As relações diplomáticas são rompidas, sendo reatadas apenas

em 2010.

Litígio com o Brasil

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O governo do Equador suspende, em novembro de 2008, o pagamento de empréstimo

contraído com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Brasil,

em decorrência de falhas em uma hidrelétrica equatoriana atribuídas à empresa brasileira

Odebrecht. Os pagamentos são retomados em janeiro de 2009.

Moratória

Em dezembro de 2008 e março de 2009, o Equador anuncia moratória de parte da dívida

externa os valores chegam a 165 milhões de dólares. Correa alega que o débito é “imoral e

ilegítimo” e pede revisão dos valores. O presidente é reeleito em 2009, e a ala governista

conquista maioria na Assembleia. No mesmo ano, o comando da base militar de Manta volta

para o Equador, após dez anos sob o controle dos EUA.

Nacionalização

Em julho de 2010, Correa nacionaliza o setor de hidrocarbonetos. Pela nova lei, as empresas de

petróleo e gás se tornam prestadoras de serviços e devem vender toda a produção de gás e

petróleo ao Estado.

Revolta

Em setembro, parte da Polícia Nacional toma quartéis, aeroportos e a Assembleia Nacional,

em protesto contra o corte de seus benefícios. Correa decreta estado de exceção e alega ter

sido vítima de sequestro e de uma tentativa de golpe.

Fatos Recentes

Um referendo realizado em 2011 aprova nove das dez propostas de reforma no sistema

judiciário e na regulação da mídia. Entre elas está a criação de um conselho para controlar

conteúdos violentos ou discriminatórios na imprensa. Em agosto de 2012, o australiano Julian

Assange, fundador do site Wikileaks, obtém asilo do Equador.

REELEIÇÃO Correa é reeleito em fevereiro de 2013, com 57,2% dos votos, contra 22,7% para

Guillermo Lasso, do Criando Oportunidades (Creo). A Aliança País elege a ampla maioria dos

deputados (veja a composição parlamentar em Dados Gerais). A vitória governista é atribuída

à boa situação econômica e às políticas sociais, que nos últimos anos reduzem o desemprego e

o índice de pobreza.

Lei de Comunicação

Em junho, a Assembleia Nacional aprova polêmica lei sobre os meios de comunicação. Entre

outras medidas, a nova lei prevê uma distribuição igualitária das futuras frequências de rádio e

TV entre emissoras estatais, privadas e a comunidade indígena, sem mexer nas concessões

atuais. Além disso, estabelece a criação de uma agência para supervisionar o conteúdo

midiático. Para o governo, a legislação democratiza o acesso à informação e evita abusos da

imprensa. A oposição e as empresas jornalísticas, porém, afirmam que se trata de uma

tentativa de controlar a imprensa e cercear a liberdade de expressão.

Petróleo

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Correa anuncia em agosto que o país passará a explorar petróleo no Parque Yasuní, ampla área

protegida na Amazônia equatoriana. Apesar da crítica de ambientalistas e comunidades locais,

a Assembleia aprova a proposta que permite a exploração em outubro.

3. PERU

a) Aspectos Gerais

Com uma área de 1.285.216 km², o Peru terceiro maior país da América do Sul, foi sede do

Império Inca até a chegada dos espanhóis, no século XVI. Vestígios dessa civilização estão em

Machu Picchu e na cidade de Cuzco, considerados patrimônios da humanidade. O território

peruano, banhado pelo oceano Pacífico, é dividido em três regiões pela cordilheira dos Andes.

O litoral, desértico, concentra as maiores cidades e a capital, Lima. O altiplano andino é

povoado por indígenas. Ao leste da cordilheira fica a Amazônia peruana, onde estão as

nascentes do rio Amazonas. Seu clima no litoral é árido tropical, nas regiões das cordilheiras é

de montanha e equatorial na Amazônia Peruana. O país tem uma população total de 30,4

milhões de habitantes, suas principais cidades são a capital Lima, Arequipa e Trujillo. A

composição étnica é de 45% de quíchuas e aimarás, 37% de ameríndios e 15% de europeus

ibéricos. O país tem três idiomas oficiais: espanhol, quíchua e aimará. O cristianismo

predomina com 96,5%. O país exporta ouro, cobre e pesca. Estima-se, porém, que o comércio

ilegal de coca supere todos os recursos obtidos com as exportações legais. Sua moeda é o sol

novo. O PIB do país é de US$ US$ 197,1 bilhões. O governo é República presidencialista.

b) Desenvolvimento histórico

Região habitada há cerca de 15 mil anos, o atual Peru foi o centro do Império Inca, que começa

a unificar culturas diversas por volta do século XII da Era Cristã. Em 1532, o espanhol Francisco

Pizarro destrói a capital sul do império, atual Cuzco. Três anos depois funda Ciudad de los

Reyes, hoje Lima. Rica em prata, ouro e mercúrio, a colônia é elevada a vice-reinado do Peru,

tendo o vice-rei aportado na região em 1544. Tupac Amaru II lidera, entre 1780 e 1783, uma

revolta contra a escravidão que se estende até a Bolívia. Em 1820, o argentino José de San

Martín inicia a luta contra os espanhóis, derrotados em 1824 pelas tropas de Antonio José

Sucre. O desfecho militar assegura a independência peruana, já declarada por San Martin em

1821.

Independente, o país adota uma Constituição liberal em 1828, e o governo do mestiço Ramón

Castilla (1845-1851 e 1855-1862) liberta os indígenas do pagamento de tributos e os negros da

escravidão. Na Guerra do Pacífico (1879¬1884), o Peru perde para o Chile o controle das

jazidas de nitrato no deserto de Atacama e na província de Tarapacá. Haya de Ia Torre funda,

em 1924, a nacionalista Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra). Em 1963, o

presidente Fernando Belaúnde Terry, da Ação Popular (AP), inicia a reforma agrária. Em 1968,

Belaúnde é deposto pelo general nacionalista Juan Velasco Alvarado, que expropria empresas

petrolíferas dos Estados Unidos (EUA).

Em 1975, Alvarado é deposto pelo general conservador Morales Bermúdez, que devolve o

poder aos civis I em 1979, Belaúnde reelege-se presidente em 1980, No mesmo ano, o grupo

Sendero Luminosoirúcia atividades terroristas em Ayacucho. Alan García (Apra) torna-se

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presidente em 1985 e decreta moratória da dívida externa. A tentativa de estatizar o sistema

bancário leva à formação de uma frente oposicionista liderada pelo escritor Mario Vargas

Llosa. A inflação chega a 7.600% em 1990, e aumentam as greves e o terror senderista. Nesse

ano, Vargas Llosa perde as eleições presidenciais para o independente Alberto Fujimori.

Em abril de 1992, Fujimori fecha o Congresso e suspende as garantias constitucíonais, no

episódio conhecido como autogolpe. Em setembro, o líder máximo do Sendero, Abimael

Guzmán, é capturado, julgado e condenado à prisão perpétua. Em 1993, nova Constituição

prevê a reeleição presidencial e a pena de morte para terroristas. Surgem denúncias de

violação de direitos humanos, Fujimori é reeleito.

Em dezembro de 1996, visando a libertar líderes presos, o Movimento Revolucionário Tupac

Amaru (MRTA) invade a embaixada do Japão durante uma festa e faz mais de 500 reféns. Em

abril de 1997, o local é invadido por militares, que libertam 72 reféns remanescentes e matam

os 14 sequestradores.

Fujimori usa artifícios legais e registra sua candidatura para um terceiro mandato no pleito de

2000. O economista indígena Alejandro Toledo, do partido Peru Possível (PP), atrai os votos

anti-Fujimori, mas o presidente fica a apenas 0,13 ponto percentual da vitória no primeiro

turno, em abril. Toledo denuncia fraude e boicota o segundo turno, em maio, vencido por

Fujimori como candidato único.

Em setembro de 2000, um vídeo mostra o chefe de inteligência, Vladimiro Montesinos,

subornando um deputado, Fujimori afasta Montesinos seu braço direito e anuncia a redução

de seu mandato para um ano. Montesinos foge para o Panamá. Em viagem à Ásia, Fujimori

desembarca no Japão e renuncía, Descobre-se que ele tinha cidadania japonesa, além da

peruana. O Congresso não aceita a renúncia e destitui Fujimori em 22 de novembro por

"incapacidade moral". O presidente do Congresso, Valentin Paniagua, assume um governo de

transição até 2001.

c) Atualidade

Alejandro Toledo vence o ex-presidente Alan García no segundo turno das eleições de 2001 e

elege-se presidente. No mesmo ano, Montesinos é preso em Caracas e retoma detido ao Peru,

onde enfrenta acusações por enriquecimento ilícito. Em 2004, Montesinos é condenado a 15

anos de prisão por peculato, corrupção e associação ilícita.

Ao fracassar na promessa de criar empregos, Toledo perde o apoio da população. Em 2002

ocorrem manifestações violentas contra a privatização das estatais de energia elétrica. Novo

foco de tensão surge em 2003, com protestos dos plantadores de coca (cocaleiros) contra a

erradicação daquele cultivo. Em maio de 2004, 3 mil cocaleiros fazem uma marcha de 500

quilômetros até Lima.

A violência senderista volta, em 2004, como assassinato de políticos na região de Ayacucho.

Em novembro, abre-se o novo julgamento do líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán;

sua condenação à prisão perpétua, decidida sob a ditadura de Fujimori, é considerada ilegal.

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Em novembro de 2005, Fujimori é preso no Chile, após desembarcar vindo do Japão. O

governo do Peru pede a sua extradição, pelos crimes de corrupção e de violação aos direitos

humanos. O pedido começa a ser analisado pela Justiça chilena. Fujimori obtém liberdade

condicional em 2006, mas é proibido de sair do Chile. Finalmente, em setembro de 2007, o ex-

presidente é extraditado e levado ao Peru. Cumprindo pena de 25 anos de prisão, Fujimori

hoje se recupera de um câncer na língua.

Uma crise diplomática com a Venezuela eclode durante a campanha para as eleições

presidenciais de 2006, em virtude das declarações do presidente venezuelano Hugo Chávez em

apoio ao candidato oposicionista Ollanta Humala, do partido recém fundado União pelo Peru

(UPP). Toledo ameaça expulsar o embaixador venezuelano em protesto contra o que qualifica

de "interferência" nos assuntos internos peruanos. Em junho, às vésperas do segundo turno

das eleições, o Congresso ratifica o tratado de livre-comércio com os EUA, que Toledo havia

assinado em dezembro de 2005. O ex-presidente Alan García (Apra) vence as eleições. Na

posse, em julho, García anuncia apoio ao tratado de livre-comércio com os EUA.

Em 2007, o Congresso rejeita projeto de García que introduzia a pena de morte no país. Em

julho, uma onda de protestos culmina com greve geral que paralisa atividades no país inteiro.

Quatro pessoas morrem em virtude da repressão às manifestações.

Em 2010, um relatório da ONU aponta o Peru como o maior produtor mundial de folha de

coca, matéria-prima da cocaína. O narcotráfico, apoiado pelo Sendero Luminoso, cresce com a

migração do refino da coca da Colômbia para o Peru que já produz mais de um terço da droga

no mundo.

Nas eleições gerais em 2011, Ollanta Humala sai vitorioso no segundo turno, com 51,4% dos

votos, em disputa com a Filha do ex-presidente Alberto Fujimori, Keiko Fujimori.

Humala é empossado em 28 de julho de 2011, já em 6 de setembro, ele promulga lei

obrigando o Estado a consultar as comunidades nativas em caso de medidas que afetem seu

território e sua tradição mas sem direito de veto ser acusado de corrupção.

O narcotráfico, apoiado por facções remanescentes do Sendero Luminoso, cresce com a

migração do refino da coca da Colômbia para o Peru. Em setembro, Humala decreta estado de

emergência por 60 dias em três departamentos do noroeste, após uma morte e três dias de

bloqueio de estradas por cocaleiros contrários à erradicação do cultivo da coca.

Em agosto de 2012, depois de intensa pressão, o governo suspende temporariamente o

projeto de expansão da mina de ouro de Conga, na região de Cajamarca, no norte do país,

orçado em 5 bilhões de dólares. A população indígena teme que a obra possa contaminar as

reservas de água. Os protestos contra o projeto, desde o ano anterior, causam conflitos que

provocam dezenas de mortes e milhares de feridos.

Sendero

Em 2012, o governo lança a maior ofensiva militar contra o Sendero desde os anos 1990. Em

fevereiro, três importantes membros senderistas são presos. Em abril, confrontos entre

soldados e o Sendero na região de Cuzco deixam nove militares mortos. Em junho de 2013, a

10

Justiça condena à prisão perpétua o último dos dirigentes históricos do grupo armado,

Florindo Flores. Dois meses depois, outro líder, Alejandro Borda Casa franca, é morto em

confronto com as forças de segurança.

Fujimori

Humala rejeita, em junho de 2013, a concessão de indulto humanitário a Fujimori. O pedido

havia sido feito pelos filhos do ex-presidente, em virtude de seu precário estado de saúde.

Protestos

Em julho, estudantes e funcionários públicos protestam em várias cidades contra a nova

legislação que introduz avaliações anuais de servidores e docentes universitários. Há choques

com a polícia. Em um momento de crescimento mais lento da economia e de queda da

popularidade do presidente, ocorrem outros protestos, no mesmo mês, reunindo setores

sociais diversos.

Coca

Relatório de organismo especializado da ONU, divulgado em setembro, indica que o Peru

continua sendo o maior produtor mundial de folha de coca, com uma área de 60,4 mil

hectares destinada ao cultivo da planta no país.

Fronteiras Marítimas

Em janeiro de 2014, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) redefine as fronteiras marítimas

acertadas por dois tratados em 1952 e 1954 e concede ao Peru 21 mil quilômetros quadrados

do Oceano Pacífico que pertenciam ao Chile. É menos do que os 35 mil reivindicados pelo

governo de Lima, quando entrou com o processo na CIJ em 2009. No entanto, o Peru ainda

ganhou mais 28,7 mil quilômetros quadrados referentes à expansão do limite de 200 milhas

náuticas. A redefinição das fronteiras marítimas não envolve importante áreas de pesca, que

continuam sob domínio do Chile.

4. BOLÍVIA

a) Aspectos Gerais

A Bolívia é uma das nações mais pobres do continente americano, com alta taxa de

analfabetismo e o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da América do Sul. Situada

no centro-oeste do continente, não tem saída para o mar. Em seu território de 1.098.581 km²,

a cordilheira dos Andes atinge a largura máxima (650 Km). É onde se localizam o árido

altiplano andino, de clima de montanha, e as principais cidades, como La Paz (835.361

habitantes), a capital mais alta do mundo (3.636 m). No norte e no leste, as montanhas dão

lugar a planícies cobertas pela floresta Amazônica, de clima equatorial e, no sudeste, à

pantanosa região do Chaco. Tem uma população de 10,7 milhões de habitantes distribuídos

entre as etnias quíchuas (30%), aimarás (25%), eurameríndios (15%) e europeus ibéricos (15%).

Suas principais cidades além da capital são: Santa Cruz de La Sierra, Alto, Cochabamba e Sucre

capital legal do país. Os católicos formam a maioria (86,6%) dos 93,4 % de cristãos. As línguas

oficialmente faladas são o espanhol, quínchua e aimará.

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Os indígenas bolivianos têm a tradição de mascar a folha de coca, também usada em chás e

medicamentos. Na segunda metade do século XX, a Bolívia passa a ocupar lugar central no

tráfico mundial de cocaína, reduzido nos últimos anos com o programa de erradicação das

plantações ilícitas. Há uma histórica disputa com o Chile pelo acesso ao mar, pois perdeu parte

do território para a nação vizinha na Guerra do Pacifico, no fim do século XIX.

A Bolívia detém um PIB de US$ 27 bilhões, sua moeda oficial é o boliviano. Abriga a segunda

maior reserva conhecida de gás natural da América do Sul, atrás da Venezuela. Nos últimos

anos, um grande movimento popular pela estatização do gás e do petróleo causa a queda de

dois presidentes e a eleição de Evo Morales, primeiro indígena a presio país. O governo é uma

república presidencialista.

b) Desenvolvimento histórico

Os índios quíchuas e aimarãs, que habitam o altiplano, são dominados no século IV pelo

Império Inca. Com a conquista espanhola, nas primeiras décadas do século XVI, são

escravizados para trabalhar nas minas de prata, o que dá espaço para revoltas, como a de

TupacAmaru II, noséculo XVIII, que se inicia na região do atual Peru. Em 1809, o Alto Peru,

como a região era conhecida, é uma das primeiras colônias espanholas a se rebelar,

conquistando a independência em 1825, sob liderança de Simón Bolívar e Antonio José de

Sucre. Bolívar é o primeiro presidente do país, cujo nome, Bolívia, é dado em sua homenagem.

Na Guerra do Pacífico (1879/1884), o país perde para o Chile seu acesso ao oceano Pacífico.

Em 1903 encerra o conflito com seringueiros brasileiros ao vender ao Brasil o atual estado do

Acre. A descoberta de petróleo no sudeste provoca a Guerra do Chaco (1932-1935), e a Bolívia

perde o território para o Paraguai.

Um levante revolucionário em 1952 coloca no poder o presidente eleito no ano anterior,

Víctor Paz Estenssoro, cuja posse havia sido impedida pelos militares. A reforma agrária e a

nacionalização das minas, decididas em seu governo, provocam boicote internacional ao

estanho boliviano. É instituído o sufrágio universal, o que possibilita aos indígenas votar pela

primeira vez no país. Sindicatos se organizam na poderosa Central Operária Boliviana (COB).

Sucessão de Golpes de Estado

Um golpe militar em 1964 leva à Presidência o general René Barrientos. Após a morte de

Barrientos, em 1969, o país mergulha na instabilidade. Em 1971, o general Hugo Bánzer Suárez

assume o governo, suspende as eleições e bane os sindicatos e os partidos políticos. Sua

renúncia, em 1978, abre novo período de golpes. Em 1980, Hemán Siles Zuazo, de centro-

esquerda, elege-se presidente, mas um golpe instala no poder o general Luis García Meza.

Acusado de ligações com o narcotráfico, Meza é deposto em 1981. Em 1982, os generais

entregam o poder a Siles Zuazo.

As eleições de 1985 trazem de volta Paz Estenssoro, que enfrenta os sindicatos e adota um

pacote recessivo. O plano, imposto pelo FMI, derruba a if1ação. Nas eleições de 1989, nenhum

candidato obtém maioria, e o Congresso escolhe como presidente Jaime Paz Zamora. O autor

do plano contra a inflação, Gonzalo Sánchez de Lozada, do Movimento Nacionalista

Revolucionário (MNR), chega à Presidência em 1993. Seu governo é marcado por conflitos com

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os camponeses, em virtude da política de erradicação do cultivo da coca, e com a COB, por

causa das privatizações. Em 1996, a Bolívia acerta a construção de um gasoduto para

transportar gás natural ao Brasil. A nação torna-se membro associado do Mercosul em 1996.

Hugo Bánzer retoma ao poder no pleito de 1997 e prossegue com a política de austeridade,

contra a qual ocorrem greves e manifestações em 1998 e 1999.

Durante o governo de Bánzer, o cultivo ilegal da folha de coca é erradicado. Mas a economia

entra em crise sem o dinheiro do narcotráfico. O governo enfrenta protestos violentos dos

camponeses que plantam a coca, os cocaleiros eles resistem à política de substituição de

culturas. A petrolífera espanhola YPF, descobre, em 2000, um dos maiores depósitos de gás

natural da América do Sul, com 380 milhões de metros cúbicos. A reserva fica em Tarija, no sul

do país.

c) Atualidades

Em dezembro de 2005, Evo Morales (MAS) é eleito presidente. O novo governo propõe

mudança radical da política com relação ao cultivo de coca. Defende uma campanha

internacional para descriminalizar a folha de coca para uso medicinal e tradicional. Sua

argumentação principal é a de que essa planta não pode ser confundida com a cocaína, droga

da qual a coca é apenas um pequeno componente.

Morales adota suas medidas de maior impacto em 1° de maio de 2006, quando anuncia a

nacionalização e (estatização) da exploração do gás e do petróleo no país. As repercussões

internas e externas são enormes. Um decreto presidencial estabelece a recuperação da posse

da propriedade, posse e controle dos recursos do gás e petróleo para a Bolívia. A YPFB, estatal

que havia sido quase extinta nos governos anteriores, passa a desempenhar papel relevante,

pois todas as empresas petrolíferas estrangeiras são obrigadas a entregar asua produção. Em

outubro, o governo fecha acordos com essas empresas, definindo um repasse das receitas

para a YPFB.

Em julho as ocorrem as eleições para a Assembléia Constituinte, juntamente com um

referendo a respeito da autonomia dos departamentos. Há anos existe um movimento nos

departamentos mais ricos, situados no leste do país, que reivindica maior autonomia em

relação ao governo central. Os movimentos indígenas e os sindicatos combatem essa posição,

chamando seus defensores de separatistas.

No referendo, o "não" à autonomia, defendido pelo governo, é vitorioso, com 57,5% dos

votos. A posição favorável à autonomia, porém, vence nos quatro departamentos doleste

(Santa Cruz de Ia Sierra, Tarija, Pando e Beni), conhecidos em conjunto como Meia Lua. Na

eleição para a Constituinte, o MAS elege 137 dos 255 integrantes. O Podemos conquista 60

cadeiras.

As discussões na Constituinte abrem uma crise política. Os governistas propõem que a

assembléia tenha caráter "originário", ou seja, inaugure nova ordem no país, e que as decisões

sejam tomadas por maioria simples. A oposição quer que as aprovações se dêem por dois

terços dos votos, como previa a convocatória da Constituinte. Em novembro, a posição do

MAS é aprovada. Os oposicionistas organizam paralisações, atos de protesto e greves de fome

13

contra o que consideram um ataque à democracia. Em fevereiro de 2007, governo e oposição

chegam a um acordo, segundo o qual os artigos da Constituição devem ser aprovados por dois

terços dos constituintes. Os que não obtiverem essa votação serão submetidos a referendo

popular.

Em janeiro de 2007, o governo estatiza o serviço de abastecimento de água, que desde 1997

estava nas mãos da companhia francesa Suez Lyonnaise. A metalúrgica Vinto, do grupo suíço

Glencore, é nacionalizada no mês seguinte. A empresa é o maior complexo privado de

fundição de estanho do país. Em abril, o Estado boliviano retoma o controle da Entel, a maior

empresa de telecomunicação do país, que pertencia à TelecomItália. Em maio, o governo

anuncia a compra de duas refinarias da Petrobras (a maior companhia petrolífera instalada no

país) por 112 milhões de dólares.

A proposta da oposição de transferir os poderes Executivo e Legislativo de La paz para Sucre

(capital legal do país, mas onde funciona apenas a sede do Poder Judiciário) acirra os ânimos

no país. Em La Paz, um ato contra essa proposta reúne, em julho, pelo menos um do milhão de

pessoas, na maior manifestação da história da Bolívia. Sucre, situada na região centro-sul do

país, foi capital plena até 1899. Os movimentos por autonomia nos departamentos da Meia

Lua defendem a mudança da capital, o que é o estopim para novos conflitos.

Morales promulga, em agosto, a legislação da reforma agrária, que prevê a distribuição de até

30 milhões de hectares de terras aos indígenas e camponeses pobres. No mesmo mês o MAS

consegue retirar a proposta de transferência da capital das discussões da Constituinte, o que

provoca novos choques. Em Sucre, onde a Constituinte está instalada, há inúmeras

manifestações de protesto e greves de fome, que exigem a transformação da cidade em

capital plena do país. Os protestos degeneram em confrontos, que obrigam a Constituinte a

suspender suas atividades.

Após mais de três meses de paralisação dos trabalhos, a Constituinte volta a se reunir em

novembro, numa academia militar. Mas a oposição como bloco não participa: dos 255

constituintes estão presentes 145, quase todos governistas. O texto global da nova

Constituição é aprovado, para ser posteriormente analisado artigo por artigo. Os

oposicionistas não reconhecem a Carta, dizendo que a votação foi ilegítima.

Ameaça de divisão

Os dirigentes dos quatro departamentos mais ricos da Bolívia (Santa Cruz de Ia Sierra, Tarija,

Pando e Beni), chamados de Meia Lua, impulsionam amplo movimento de oposição ao

governo de Evo Morales. Essa região ostenta diferenças étnicas, culturais e econômicas em

relação ao restante do país. Seus habitantes são brancos ou mestiços, em sua maioria,

enquanto no altiplano predomina a população indígena.

A partir da eleição da Constituinte, em 2006, ocorrem nesses departamentos diversas

paralisações, passeatas e greves de fome contra o governo central e em defesa de maior

autonomia regional. Os movimentos são dirigidos pelos governadores e pelos comitês cívicos,

agrupamentos que reúnem empresários, comerciantes e políticos da região. Morales mantém,

no entanto grande popularidade, tendo o apoio de movimentos populares e indígenas.

14

Quando a proposta de transferência c capital para Sucre se torna uma questão explosiva na

Constituinte, esse movimento ganha envergadura. Os partidários da autonomia defendem a

mudança, que governo de Morales rejeita. Outros dois departamentos, Cochabamba e

Chuquisaca juntam-se às manifestações da oposição.

Em novembro de 2007, após a contestada aprovação do texto geral da nova Constituição, os

governadores dos departamentos da Mei Lua anunciam sua autonomia em relação ao governo

central e convocam uma greve geral. O país vive enorme crise, com a ameaça de divisão

pairando sobre seu futuro.

No dia 4 de maio de 2008, o referendo sobre os Estatutos Autonômicos do departamento

(estado) de Santa Cruz provocou fortes mobilizações dos trabalhadores bolivianos nas cidades

de La Paz, El Alto, Cochabamba, Oruro e Potosí. Enquanto ocorria a votação em Santa Cruz,

organizações como a COB, a COR de El Alto, a CSUTCB (Confederação dos Camponeses), as

juntas vecinales (associações de moradores) e os indígenas encabeçaram mobilizações

gigantescas contra os estatutos. As mobilizações começaram em 1° de maio e continuaram no

dia 2, com uma mobilização no município de San Julián, em Santa Cruz. Contudo, o auge dos

protestos foi no domingo, dia 4. Por volta de 1,5 milhão de pessoas em protesto em todo o

país.

Morales convoca referendo, para dezembro, com o objetivo de ratificar a nova Constituição. A

oposição, com forte apoio dos prefeitos, protesta e, em setembro, os confrontos chegam à

beira de uma guerra civil. No incidente mais grave, pelo menos 18 camponeses são mortos em

Pando por forças ligadas ao prefeito local. Um acordo entre o governo e os prefeitos põe fim

aos conflitos. Sindicatos e entidades camponesas que apoiam Morales organizam gigantesca

marcha até La paz para pressionar pela realização do referendo. Um acordo entre governo e

oposição faz com que mais de 100 artigos da Constituição, de um total de 411, sejam alterados

para atender às propostas da oposição.

A Constituição é aprovada por 61,4% dos eleitores em referendo, em 2009. A nova Carta

amplia os direitos das populações indígenas, que passam a ter mais controle sobre seus

territórios e podem manter sistemas judiciários próprios, paralelamente à Justiça comum. Há

um novo sistema de autonomias no país, em quatro níveis: departamental, regional, municipal

e indígena. Cada um pode eleger seus dirigentes e administrar seus recursos. Outras

modificações são o controle nacional sobre petróleo, gás e recursos hídricos e o direito de uma

reeleição para o presidente da República.

Em 2010, governo anuncia o fim do subsídio para combustíveis. O aumento de até 83% do

preço da gasolina provoca protestos de cocaleiros e sindicatos, bases sociais de Evo. O governo

recua na proposta. Em agosto de 2010, indígenas da Amazônia boliviana iniciam marcha de

600 quilômetros para a capital, La Paz. Eles protestam contra a construção de estrada

financiada pelo Brasil no meio de uma reserva indígena na Amazônia para criar uma via de

acesso brasileira ao oceano Pacífico. A COB organiza greve geral de apoio de duas semanas. Os

indígenas chegam à capital no fim de outubro e são recebidos com festa. Evo recua e assina

decreto proibindo que a estrada passe pela reserva.

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A Bolívia e o Acesso ao Mar: Durante a Guerra do Pacífico (1879-1884), a Bolívia perde seu

litoral no Pacífico. Desde então, o país tenta conseguir acesso soberano ao mar por vias

diplomáticas. Em 1979, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprova documento em

que defende o direito boliviano a esse acesso. Após a guerra, as relações Chile-Bolívia

mantêm-se quase sempre tensas. Em dezembro de 2010, o novo presidente chileno, o liberal

Sebastián Piñera, declara que não cederá acesso ao mar Bolívia. Evo Morales ameaça retomar

a questão na OEA, e os dois governos tentam estabelecer uma agenda de negociações desde

então. Em 1993, o Peru, que também perdeu territórios para o Chile na Guerra do Pacífico,

assina um tratado com a intenção de ceder um acesso ao mar para a Bolívia. Em outubro de

2010,os presidentes Alan Garcia (Peru) e Evo Morales (Bolívia) assinam um acordo que

concede à Bolívia o direito de construir docas e operar no. porto deIlo, no Peru, até 2091.

A Bolívia esteve no centro de algumas tensões diplomáticas. Ao retornar da Rússia, em 2013, o

presidente boliviano foi impedido de pousar ou entrar no espaço aéreo de Portugal, Espanha,

França e Itália. Os países suspeitavam que no avião estaria a bordo Edward Snowden, o

foragido americano que tornou público casos de espionagem do governo estadunidense.

Outra crise diplomática foi a fuga do senador Roger Pinto Molina. O parlamentar que responde

a cerca de 20 ações judiciais fugiu para o Brasil com ajuda de um diplomata brasileiro. Molina

já havia pedido asilo político, mas havia sido impedido de viajar pela justiça boliviana.

O senador passou 15 meses na embaixada brasileira em La Paz (capital da Bolívia).

Posteriormente, em agosto de 2013, ingressou de carro em terras brasileiras. O governo

boliviano protestou contra tal fato e cobra explicações do Brasil, que se exime da culpa pela

fuga, nega a extradição e garante o asilo político de Molina.

Chile

01. ASPECTOS GEOGRÁFICOS

A República do Chile é um país do Cone Sul americano, encravado entre a cordilheira dos

Andes e o oceano Pacífico. Seu território abrange numerosos arquipélagos no sul do país, uma

parte da região antártica e a Ilha de Páscoa, localizada 3.760 km a oeste do litoral. Possui o

território mais estreito do mundo, levando-se em conta seu comprimento. O país perfaz um

total de 756.102 km².

A porção continental do Chile ocupa uma faixa com mais de 4,2 mil quilômetros de

comprimento, de norte a sul, e largura máxima de apenas 360 km. A cordilheira dos Andes,

que percorre o leste da nação de norte a sul e forma a fronteira com a Argentina, é o principal

elemento de seu relevo. No norte se localizam as montanhas mais altas, como o Nevado

Ojosdel Salada (6.893 m), ponto culminante do território. A zona ocidental é ocupada pela

cordilheira da Costa, com altitudes que não ultrapassam os 2 mil metros.

O centro do país é uma depressão que, ao norte, inclui o deserto do Atacama uma das regiões

mais áridas do mundo e, ao sul, o vale Central a zona mais fértil da nação, na qual se concentra

a maioria da população.

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A belíssima região no sul chileno se caracteriza pela presença de inúmeras ilhas, fiordes e

lagos, entre os quais se destaca o Llanquihue. Os principais rios são o Loa, o Aconcágua, o

Maipó, o Maule e o Biobío.

Suas principais cidades são: Santiago, a capital, Antofagasta, Viña dei Mar, Valparaíso,

Talcahuano.

a) Vegetação e clima

Por se estender desde o Trópico de Capricórnio até a Antártica, o Chile possui vegetação e

clima bastante variados. No deserto do norte há cactos e outras plantas adaptadas ao

ambiente árido. Mais a sul, no vale Central, prosperam os prados e as florestas caducifólias e

perenifólias, com espécies de grandes dimensões, como a araucária. No sul há pastagens e

florestas com eucaliptos e coníferas em grande quantidade, o que torna o Chile uma potência

madeireira. O clima é seco no norte e influenciado termicamente pela corrente fria de

Humboldt. No centro do país, o ambiente é temperado, com temperaturas que diminuem

conforme a altitude e as precipitações de pouco volume. O sul, por causa da proximidade do

pólo e dos ventos do Pacífico, se caracteriza pelo frio e pelas chuvas abundantes.

b) Agricultura

A agricultura chilena não satisfaz as necessidades da população local no que se refere a alguns

alimentos, mas, em contrapartida, especializou-se na exportação de legumes e frutos de alta

qualidade para a contra estação do Hemisfério Norte. A pecuária - principalmente a criação de

ovinos - é importante no sul. A pesca também tem participação relevante na economia do

país, já que no Chile se encontram variedades de peixes e mariscos muito valorizadas no

mercado internacional. Destaca-se ainda, no setor primário, a extração de madeira das

florestas.

c) Indústria

O Chile é o principal produtor mundial de cobre, mas seu subsolo também guarda muitos

outros recursos minerais que serviram de base para a montagem de importante indústria

metalúrgica. Outros ramos, como o de bens duráveis, o de alimentos e o madeireiro, também

são bem desenvolvidos, fazendo do Chile uma das nações mais industrializadas da América

Latina. Quanto à matriz energética, mais da metade é composta pelo setor hidrelétrico.

d) População

A grande maioria da população chilena é formada por mestiços de europeus e indígenas.

Talvez por causa do isolamento imposto pela cordilheira dos Andes, a nação não recebeu

grandes fluxos migratórios de povos europeus, ao contrário dos demais países do continente.

A exceção são os alemães, que constituíram uma significativa comunidade na região sul do

território chileno. A composição é de 95% de europeus ibéricos e ameríndios, e de 3% de

aruacãs e aimarás. Dos países latino-americanos, o Chile é um dos que apresentam os

melhores índices de bem estar social (segundo mais alto IDH, atrás somente da Argentina).

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Mesmo assim, ainda sustenta níveis perceptíveis de concentração de renda. No total são 17,1

milhões de habitantes. O cristianismo tem a maioria de adeptos (76,4% de católicos). O idioma

oficial é o espanhol.

O Chile é uma república presidencialista, com um legislativo bicameral. Encontra-se dividido

em 12 regiões que se subdividem em províncias. A moeda oficial é o peso chileno. Seu PIB é de

US$ 163,7 bilhões.

02. ASPECTOS HISTÓRICOS

O norte é ocupado pelos ataca masaté o século XV, quando passa ao domínio dos incas. O sul é

controlado pelos araucanos e no extremo sul vivem os fueguinos e os patagões. A conquista da

região, chamada de o Outro Peru, é iniciada pelo espanhol Diego de Almagro, entre 1536 e

1537. O também espanhol Pedro de Valdivia conquista, em 1541, o Vale Central e funda

Santiago. No início do século XIX, Bernardo OHiggins começa a luta pela independência, obtida

com o apoio do general argentino José de San Martín - que cruza os Andes com seu exército e

derrota os espanhóis na Batalha de Maipú, em 1818. OHiggins governa ditatorialmente até

1823, quando renuncia. Diego Portales promulga nova Constituição em 1833. Vitorioso na

Guerra do Pacífico (1879/1884), o Chile recebe do Peru a região de Atacama, rica em minérios,

e a Bolívia perde sua única saída para o mar.

De 1964 a 1970, Eduardo Frei, do Partido Democrata-Cristão (PDC), dá inícioà reforma agrária

e à nacionalização da indústria do cobre.

Salvador Allende, da Unidade Popular (aliança de socialistas, comunistas e cristãos de

esquerda), elege-se presidente em 1970, com 34% dos votos. Seu governo nacionaliza

mineradoras norte-americanas e é alvo de uma campanha de desestabilização promovida

pelos Estados Unidos (EUA). Um golpe militar, em 1973, depõe Allende, que se suicida no

palácio presidencial de La Moneda. O general Augusto Pinochet assume o poder, chefiando

uma junta militar que dissolve os partidos políticos e inicia um período de censura à imprensa

e de repressão a oposicionistas. A violência da ditadura deixa milhares de mortos,

desaparecidos e exilados.

Em 1988, Pinochet é derrotado em plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito

anos, e começa a transição para a democracia. O democrata-cristão Patricio Aylwin é eleito

presidente em 1989. A Constituição de 1981, entretanto, permite a Pinochet manter-se até

1998 à frente das Forças Armadas. Em 1993, o democrata-cristão Eduardo Frei Ruiz-Tagle

elege-se presidente.

Em março de 1998, Pinochet deixa o comando do Exército e assume uma cadeira vitalícia no

Senado prerrogativa garantida na Constituição de 1981, em meio a protestos. Em outubro, o

ex-ditador é preso em Londres, onde estava em tratamento médico. A detenção se dá em

cumprimento a um pedido da Justiça espanhola, que pretende julgá-Io por crimes contra a

humanidade. O governo chileno protesta, alegando que o general possui imunidade

diplomática, ou seja, não pode ser processado fora do Chile. No país, registram-se conflitos

entre partidários e opositores de Pinochet.

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Após mais de 500 dias de prisão domiciliar em Londres, o ex-ditador, então com 84 anos, é

considerado incapaz fisicamente de enfrentar um julgamento e libertado por "razões

humanitárias". É autorizado, em março de 2000, a voltar ao Chile.

Ricardo Lagos elege-se presidente em 2000 e torna-se o primeiro socialista a governar o país

desde o golpe de 1973.

03. ATUALIDADES

Nas eleições de 2001, aaliança governista Coalizão de Partidos pela Democracia (CPD) mantém

o controle das duas Casas do Congresso. Em 2003, o general da reserva, Manuel Contreras,

chefe da repressão durante a ditadura, é condenado a 15 anos de prisão pela morte de um

oposicionista, em 1975. Em 2003, Chíle e EUA assinam acordo de livre-comércio. Os dois países

acertam a retirada, a partir de 2004, das tarifas alfandegárias de 85% dos produtos

comercializados entre si e a eliminação das demais em até 12 anos.

Agosto de 2004, a Suprema Corte revoga a imunidade de Pinochet, permitindo que ele seja

julgado pelos crimes cometidos na Operação Condor, ação conjunta das ditaduras do Cone Sul

para perseguir opositores nas décadas de 1970 e 1980. Em dezembro do mesmo ano, a Justiça

determina a prisão domiciliar do general, que é revogada após o pagamento de fiança.

Em outro processo, Pinochet é acusado pelo assassinato de 119 militantes de vários partidos

de esquerda, entre 1974 e 1975. O massacre é conhecido entre os militares como Operação

Colombo. Em 2005, o ex-ditador é destituído de sua imunidade também nesse caso. Decisão

semelhante é tomada em 2006, quando a Suprema Corte obriga Pinochet a responder

processo por dezenas de casos de tortura, sequestro e desaparecimento de presos políticos.

A Justiça abre ainda um inquérito por corrupção, em 2005, a partir da descoberta de que

Pinochet e seus familiares transferiram cerca de 27 milhões de dólares para contas em bancos

estrangeiros, principalmente nos EUA, durante a ditadura militar.

Em 2005, emendas constitucionais eliminam o legado autoritário da ditadura: o presidente

recupera o direito de destituir os chefes das Forças Armadas e são extintos o cargo de senador

vitalício para ex-presidentes e as vagas de senadores indicados pelo Executivo.

A socialista Michelle Bachelet elege-se presidente em segundo turno, em janeiro de 2006, com

53,5% dos votos, vencendo Sebastián Piñera, do partido Renovação Nacional, de centro-

direita, que fica com 46,5%. Nas eleições para a Câmara dos Deputados, a CPD conquista uma

estreita maioria de 65 cadeiras, enquanto a Aliança pelo Chile obtém 54 assentos.

Em 10 de dezembro de 2006, o ex-ditador Augusto Pinochet morre, aos 91 anos, em

decorrência de crise cardíaca múltipla. A Justiça mantém os processos contra os seus

familiares. Em outubro de 2007, a viúva de Pinochet, Lucía Hiriart, seus cinco filhos e mais 17

antigos colaboradores do ditador são presos pelo envio ilegal de altas remessas de dinheiro

para contas bancárias no exterior. Esse dinheiro, segundo o responsável pelas investigações,

19

teria sido desviado de fundos públicos. Os 23 detidos são libertados mediante fiança e

respondem a processo em liberdade condicional.

Em dezembro de 2009, como Bachelet não pode concorrer a novo mandato, o partido indica o

ex-presidente Eduardo Frei. Sebastián Pifieraé o candidato da oposição e vence, em segundo

turno, em janeiro de 2010, com 51,6% dos votos, tornando-se o primeiro presidente de direita

desde o fim da era Pinochet.

No fim de fevereiro de 2010, o centro-sul do país é atingido por um terremoto devastador de

8,8 pontos na escala Richter, o sexto maior já registrado no mundo. O tremor provoca um

tsunami, que atinge o litoral central. A catástrofe deixa 500 mortos e mais de 1milhão de

desabrigados.

Em 2011a Justiça autoriza a exumação dos restos do ex-presidente Salvador Allende, morto

em 1973, a pedido da família. A exumação ocorre em maio e busca definir se Allende foi

assassinado no palácio presidencial ou se cometeu suicídio, a versão oficial.

De maio a novembro de 2011, estudantes secundaristas entram em greve e tomam as ruas de

Santiago. Eles reivindicam uma educação de qualidade e gratuita. As mobilizações quase

diárias sãoreprimidas com violência e ganham apoio da população. Em julho, Pifiera promove

uma rigorosa reforma ministerial e lança um plano para o setor, com mais verbas, mas ele não

é bem recebido. Em 26 de agosto, um estudante de 16 anos morre. Em setembro, os dois

lados aceitam dialogar,mas os manifestantes encerram o diálogo em 5de outubro e voltam às

ruas. Novos protestos e confrontos em Santiago são registrados em novembro.

Atualmente o Chile vive sob o governo de Michelle Bachelet. A presidente de 62 anos venceu a

disputa presidencial em dezembro de 2013. Ela recebeu 62,2% dos votos: a maior

porcentagem registrada para um candidato desde a redemocratização do país, em 1969.

A ascensão de Bachelet ao poder marca o retorno de um governo de esquerda após um

período de quatro anos em que o Chile foi administrado por presidente de orientação política

de direita, Sebastián Piñera.

Parte da zona marinha do Oceano Pacífico que estava sob o domínio chileno passou para o

controle do Peru em 2014. Em 27 de janeiro, a Corte Internacional de Justiça de Haia

determinou a cessão.

A decisão encerrou um dos maiores litígios territoriais da América do Sul. O Chile lamentou a

perda dos direitos sobre uma área de 20.000 a 22.000 km², mas o governo alega que a decisão

não foi pior graças à defesa mediante o tribunal da ONU.

O governo peruano comemorou a decisão e informou que o resultado do julgamento atendeu

a 70% da demanda do país. A leitura da decisão foi feita pelo presidente do tribunal, Peter

Tomka, durou duas horas e foi acompanhada pelo povo na Praça das Armas. O povo estava

pintado de vermelho e branco e comemorava a decisão sob o bordão “justiça foi feita”. O

pedido de revisão de fronteiras foi feito pelo Peru em janeiro de 2008. O governo peruano

alegava que não existia uma fronteira bem delimitada entre as costas dos dois países.

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A decisão afetará os dois países por retirar de um e acrescentar ao outro um território

importante para a atividade da pesca.

4. DISPUTA COM O PERU E BOLÍVIA

As velhas feridas deixadas pela Guerra do Pacífico (1879/1884), quando o Chile conquistou

vastos territórios que pertenciam ao Peru e à Bolívia, foram reabertas em agosto de 2007, com

a divulgação de um mapa oficial peruano que incorpora às águas territoriais do Peru uma área

de 35 mil km² do oceano Pacífico atualmente sob o domínio chileno.

O governo do Chile protestou e chamou de volta seu embaixador em Lima. De acordo com o

chanceler chileno Alejandro Foxley, o mapa não tem validade jurídica e viola acordos entre os

dois países assinados na década de 1950. O então presidente peruano, Alan García, mantém a

reivindicação sobre aquele trecho de oceano e apresenta em corte internacional um processo

contra Chile em março de 2009.

Em agosto de 2010, o presidente chileno Sebastián Pinera anuncia ter o respaldo do Equador

no argumento de que dois tratados assinados pelos três países na década de 1950 garantem as

fronteiras marítimas favoráveis ao Chile. O Peru, no entanto, alega que os acordos versam

apenas sobre a pesca e não abrangem limites marítimos.

A Bolívia também reivindica parte de seu território perdido para o Chile na Guerra do Pacífico,

que corresponde a uma saída para o mar. Santiago se diz disposto a negociar uma faixa de

passagem até o mar, mas se nega a ceder parte do território ao vizinho. Em outubro de 2010.

O governo peruano se solidariza com a Bolívia e concede-lhe acesso permanente ao oceano

Pacífico e a um terminal no porto deIlo, no sul do Peru. Em julho de 2011, La Pazpede à corte

de Justiça a inclusão de sua causa na disputa em curso entre Chile e Peru.

O país tem vivido momentos de tensão no início do século XXI. Em 2002, o então presidente

Sanchez de Lozada, tentou construir um gasoduto e a Bolívia passaria a exportar gás natural

para Estados Unidos e México. O movimento popular exigia a nacionalização do gás natural e

tinha como líder Evo Morales, que se elegeu presidente em 2005 com discurso nacionalista.

Ganhou o pleito eleitoral com 53,7% dos votos contra 28,6 % de Jorge Quiroga Ramírez,

tornando-se o primeiro presidente de origem indígena.

Em maio de 2006, Evo Morales nacionalizou as jazidas de exploração de gás e petróleo. O

governo é marcado pela estatização de empresas, entre elas a brasileira Petrobras, que teve

duas refinarias estatizadas em solo boliviano em 2007.

Nos últimos anos, há uma aproximação clara do discurso chavista venezuelano. A reeleição de

Evo Morales em 2009 foi de 64% dos votos contra 27% do segundo candidato, Manfred Reyes

Villa.

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Compilação Feita a partir de:

- Almanaque Abril 2014, 40ª ed. São Paulo: Ed. Abril, 2014.

- ARRUDA e PILETTI. Toda a História, 4ª ed. São Paulo: Ática, 1996.

- AQUINO, JESUS e OSCAR.História das Sociedades: das comunidades primitivas às sociedades

medievais. São Paulo: Ao Livro Técnico.

- Atlas NationalGeografic, livro 01 – América do Sul, São Paulo: Ed. Abril, 2008.

- http://www.wikipedia.org