AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O MENINO DAS ESTRELAS

    Enrique Barrios

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    difcil aos dez anos de idade escrever um livro. Nesta idade ningum entende muito de literatura... nemse interessa demais; mas eu vou ter que fazer isso, porque Ami disse que se eu o quisesse ver novamentedeveria relatar em um livro o que eu vivi a seu lado.

    Ele me advertiu que entre os adultos, muito poucos me entenderiam, porque para eles era mais fcil

    acreditar no terrvel do que no maravilhoso.Para evitar problemas ele me recomendou que dissesse que tudo era uma fantasia, uma histria para

    crianas.

    Eu vou obedecer-lhe ISTO UMA HISTRIA.

    Advertncia(destinada somente para adultos)

    No continue lendo, voc no vai gostar, daqui em diante maravilhoso

    Destinado s crianas de qualquer nao desta redonda e bela ptria, esses futuros herdeiros e construtores de uma nova Terra sem divisesentre irmos.

    Quando juntos se ho de reunir os povos,e os reinos para servir ao Senhor.(Salmo 101:23)

    ...e das suas espadas forjaro relhas de arados,

    e das suas lanas, foices.No levantar a espada uma nao contra outra nao,Nem da por diante se adestraro mais para a guerra.(Isaas 2:4)

    ...e os meus escolhidos herdaroesta terra, e os meus servos habitaro nela.(Isaas 65:9)

    Primeira Parte

    Captulo 1 - O primeiro encontro

    Tudo comeou numa tarde do vero passado, numa praia que vou quase todos os anos com a minha av.

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    Desta vez conseguimos uma casinha de madeira. Havia muitos pinheiros e boldos do Chile no quintal e, nafrente, um jardim cheio de flores. Estava perto do mar, num caminho que leva at a praia.

    Iam ficando poucas pessoas porque o vero j estava terminando. Minha av gosta de tirar frias nosprimeiros dias de maro; ela diz que mais tranquilo e mais barato.

    Comeou a escurecer; eu estava sentado numas pedras altas perto de uma praia solitria, contemplando o

    mar. De repente, vi no cu uma luz vermelha em cima de mim. Pensei que eram fogos de artifcio, desses que sesoltam no ano novo. Vinha descendo, mudando de cores e largando fascas. Quando chegou mais perto percebique no eram fogos de artifcio, porque ao crescer chegou a ter o tamanho de um ultraleve ou at maior...

    Caiu no mar a uns cinquenta metros da beira, na minha frente, sem fazer nenhum barulho. Pensei quetinha sido testemunha de um acidente areo. Olhei procurando algum paraquedista no cu, no encontreinenhum. Nada alterava o silncio e a tranquilidade da praia.

    Tive muito medo e senti vontade de sair correndo para contar minha vov; mas esperei um pouco paraver se via alguma outra coisa. Quando j estava indo embora, apareceu alguma coisa branca boiando no pontoonde eu tinha visto cair o avio, ou o que quer que fosse: alguem vinha nadando para as pedras. Imaginei queera o piloto, que tinha conseguido se salvar do acidente. Esperei que se aproximasse, para tentar ajuda-lo.

    Como nadava com agilidade, compreendi que no estava ferido.

    Quando chegou mais perto, percebi que se tratava de um menino. Chegou at as pedras e antes decomear a subir me olhou amigavelmente. Pensei que ele estava contente por ter se salvado; a situao noparecia dramtica para ele, e isso me acalmou um pouco. Veio at onde eu estava, sacudiu a gua dos cabelos esorriu; a eu me tranquilizei definitivamente; ele tinha cara de ser um menino bom. Sentou-se ao meu lado,suspirou com resignao e ficou olhando as estrelas que comeavam a brilhar no cu.

    Parecia mais ou menos da minha idade, um pouco menor e mais baixinho; usava uma espcie de uniformebranco como de piloto, feito com algum material impermevel, pois no estava molha; sua roupa terminava comum par de botas brancas com solas grossas. Levava ao peito um escudo dourado: um corao alado dentro deum crculo.

    Seu cinto, tambm dourado, tinha de cada lado algo parecido a rdios portteis, e no centro, uma grandefivela muito bonita.

    Sentei-me a seu lado. Ficamos um momento em silncio; como ele no dizia nada, perguntei o que tinhaacontecido.

    - Uma aterrizagem forada respondeu, rindo.

    Era simptico, e como tinha um sotaque bastante estranho, imaginei que viesse de outro pas no avio.Seus olhos eram grandes e bondosos.

    - Que aconteceu com o piloto? perguntei. Como ele era um menino, achei que o piloto devia ser umapessoa adulta.

    - Nada. Ele est aqui, sentado com voc respondeu.

    - Ah! fiquei maravilhado. Esse menino era um prodgio! Na minha idade j dirigia avio! Imaginei queseus pais fossem ricos.

    Foi ficando noite e tive frio. Ele percebeu, pois me perguntou:

    - Voc est com frio?

    - Estou.

    - A temperatura agradvel disse-me, sorrindo. Senti que realmente no estava fazendo frio.

    - verdade respondi.

    Depois de alguns minutos perguntei o que ele ia fazer.

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    - Realizar a misso respondeu, sem deixar de olhar para o cu.

    Pensei que estava diante de um menino importante, no como eu, um simples estudante em frias. Eletinha uma misso... talvez algo secreto... No me atrevi a perguntar de que se tratava.

    - No lhe d pena ter perdido o avio?

    - No se perdeu respondeu, deixando-me sem compreender.- No se destruiu por completo?

    - No.

    - Como voc vai tira-lo da gua para consertar... ou no vai poder?

    - Oh! sim, vou poder tira-lo da gua. Observando-me com simpatia perguntou: como voc se chama?

    - Pedro respondi, mas eu comeava a no gostar disso: ele no respondia a minha pergunta. Parece queele percebeu meu desagrado e achou graa.

    - No se zangue, Pedrinho, no se zangue... Quanto anos voc tem?

    - Dez... quase. E voc?

    Riu com suavidade, com o riso de um nenen quando a gente faz ccegas nele. Senti que ele estavaquerendo se mostrar mais importante do que eu, porque ele dirigia avio e eu no; isso no me agradava.Contudo, ele era simptico, agradvel, e eu no consegui me zangar realmente com ele.

    - Tenho mais anos do que voc seria capaz de acreditar respondeu, sorrindo. Tirou do seu cinto umaespcie de calculadora de bolso, que ele ligou e onde apareceu uns sinais desconhecidos para mim. Fez clculose quando viu a resposta me disse sorrindo:

    - No, no... se eu disser voc no vai acreditar...

    Ficou noite e apareceu uma bela lua cheia que iluminava a praia toda. Olhei para o seu rosto com ateno.Ele no podia ter mais que uns oito anos, e apesar disso j era piloto de avio... Ser que era mais velho?... Noseria um ano?

    - Voc acredita nos extraterrestres? perguntou-me para surpresa minha. Demorei um bom tempo emresponder. Ele me observava com os olhos cheios de luz, dando a impresso que as estrelas da noite serefletiam nas suas pupilas. Era realmente muito bonito para ser normal. Lembrei do avio em chamas, suaapario, sua calculadora com estranhos sinais, seu sotaque, sua roupa... alm disso, era um menino, e ns,meninos, no pilotamos avies...

    - Voc um extraterrestre? perguntei, com um pouco de medo.

    - E se fosse... Voc teria medo?

    Foi ento que eu soube que ele vinha, mesmo, de outro planeta.

    Fiquei um pouco assustado, mas seu olhar estava cheio de bondade.

    - Voc malvado? perguntei, um pouco tmido. Ele deu risada, divertido.

    - Quem sabe voc at um pouco mais malvadinho do que eu...

    - Por que?

    - Porque voc um terrcola.- Voc de verdade um extraterrestre?

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    - No precisa se assustar consolou-me sorrindo e apontou para as estrelas enquanto dizia: esteuniversso esta cheio de vida... milhes e milhes de planetas so habitados... tem muita gente boa ali em cima...

    Suas palavras produziam um estranho efeito em mim. Quando ele dizia essas coisas eu podia ver essesmilhes de mundos habitados por pessoas bondosas. Perdi o medo. Decidi aceitar sem me surpreender que eleera de outro planeta. Parecia amigvel e inofensivo.

    - Por que voc diz que os terrcolas so malvados? perguntei. Ele continuou olhando para o cu e disse:- Que belo ver-se o firmamento daqui da Terra... Esta atmosfera lhe d um brilho... uma cor...

    No estava me respondendo outra vez. Novamente me aborreci; alm disso eu no gosto que pensem queeu sou malvado, no sou mesmo, ao contrrio: queria ser explorador quando fosse grande e caar gente malvadanos momentos livres...

    - L nas Pliades, h uma civilizao maravilhosa...

    - No somos todos malvados aqui...

    - Veja essa estrela... ela era assim h um milho de anos... j no existe...

    - Eu disse que no somos todos malvados aqui. Por que voc disse que todos os terrcolas so malvados?Ein?

    - No foi isso o que eu disse respondeu sem deixar de olhar ao cu; seu olhar brilhava- um milagre...

    - Voc disse!

    Como levantei a voz, consegui tir-lo dos seus sonhos; estava igual a uma prima minha quando ficaolhando a foto de seu cantor preferido; ela est louquinha por ele.

    Olhou-me com ateno; no parecia estar zangado comigo.

    - Quis dizer que os terrcolas no so to bons como os habitantes de outros mundos do espao.

    - Esta vendo? Voc est dizendo que somos os mais malvados de Universo.

    Ele riu de novo e me acariciou os cabelos.

    - Tambm no foi isso o que eu quis dizer.

    A eu no gostei nada. Puxei a cabea para trs. Se tem algo que eu no gosto de que me tratem comoum bobo, porque sou um dos primeiros da minha turma, alm disso vou fazer DEZ ANOS.

    - Se este planeta to ruim, o que que voc est fazendo aqui?

    - Voc j reparou como a lua se reflete no mar?

    Ele continuava a me ignorar e a mudar de assunto.

    - Voc disse para reparar no reflexo da lua?

    - Talvez... Voc j percebeu que ns estamos flutuando no universo?

    Quando ele disse isso, achei que tinha entendido a verdade: esse menino estava louco. Claro! Pensavaque era um extraterrestre, por isso dizia coisas to estranhas. Eu quis voltar para casa, de novo me sentia mal,mas agora, por ter acreditado em suas histrias fantsticas. Ele estava caoando de mim... extraterrestre... e euacreditei!. Senti vergonha, raiva de mim mesmo e dele. Tive vontade de dar-lhe um murro no nariz.

    - Por qu? O meu nariz muito feio?

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    Fiquei paralisado. Tive medo. Ele tinha lido o meu pensamento! Olhei para ele. Sorria vitorioso. No quisme render, preferi pensar que isso foi por pura casualidade, uma coincidncia entre o que eu pensei e o que eledisse. No demonstrei surpresa, quem sabe era verdade, mas eu tinha que comprovar... talvez estivesse diantede um ser de outro mundo, um extraterrestre que podia ler o pensamento.

    Decidi coloc-lo prova.

    - Que estou pensando agora? disse isso e fiquei pensamdo num bolo de aniversrio.- No so suficientes as provas que voc j tem? perguntou. Mas eu no estava disposto a ceder nem um

    milmetro.

    - Que provas?

    Esticou as pernas e apoiou os cotovelos nas pedras.

    - Veja, Pedrinho, existem outros tipos de realidades, outros mundos mais sutis, com portas sutis parainteligncias sutis...

    - Que significa sutis?

    - Com quantas velinhas?... disse sorrindo.

    Foi como um soco no estmago. Tive vontade de chorar, senti-me tonto e fraco. Pedi que me desculpasse,mas ele no se incomodou por aquilo, no prestou ateno e deu risada.

    Decidi no duvidar mais dele.

    Captulo 2 - Pedrinho voador

    - Venha, fique na minha casa ofereci, pois j era tarde.

    - Melhor no incluirmos adultos na nossa amizade disse, franzindo o nariz enquanto sorria.

    - Mas eu tenho que ir...

    - Sua av dorme profundamente, no vai sentir sua falta se a qente conversar um pouco.

    De novo senti surpresa e admirao. Como que ele sabia da minha av?... Lembrei que ele era umextraterrestre.

    - Voc pode ver a vov?

    - Da minha nave vi que ela j estava quase dormindo respondeu com malcia. Depois, exclamouentusiasmado:

    - Vamos passear pela praia! Levantou-se e deu um salto, correu at a beira da pedra que era altssima e selanou areia.

    Descia lentamente, planando como uma gaivota!

    Lembrei que no devia surpeender-me demais por nada que viesse daquele alegre menino das estrelas.

    Desci da pedra como pudi, com muito cuidado.

    - Como voc faz? perguntei, referindo-me a seu incrvel planar.

    - Sinto-me como uma ave respondeu, e saiu correndo alegremente entre o mar e a areia, sem ter motivoespecial para fazer isso. Teria gostado de poder atuar como ele, mas no podia.

    - Claro que pode!

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    - Por que... um segredo?

    - Que nada; no existem segredos! Somente que no existem em seu idioma esses sons.

    - Que sons?

    - Os do meu nome.

    Isso me surpreendeu, porque eu tinha pensado que ele falava meu idioma, apenas com outro sotaque.

    - Ento, como voc aprendeu a falar a minha lngua?

    Nem a falo, nem a compreendo... Somente tenho isto respondeu, divertido, enquanto pegava umaparelho do seu cinto.

    Isto um tradutor. Esta caixinha explora o seu crebro na velocidade da luz e me transmite o que vocquer dizer, assim eu posso compreender, e quando vou dizer alguma coisa ela me faz mover os lbios e a lnguacomo voc o faria... bom... quase como voc. Nada perfeito.

    Guardou o tradutor e ficou contemplando o mar, enquanto segurava os joelhos, sentado na areia.

    - Ento, como posso cham-lo? perguntei.

    - Voc pode me chamar Amigo, porque isso o que eu sou: um amigo de todos.

    - Vou chama-lo Ami. mais curto e parece um nome. ele gostou do seu apelido novo.

    - perfeito, Pedrinho! demos um aperto de mos. Senti que selava uma nova e grande amizade. E assimseria...

    - Como se chama o seu planeta?

    - Puf!... tambm no d. No existe equivalncia dos sons, mas est por ali, apontou sorrindo para umas

    estrelas.

    Enquanto Ami observava o cu, eu fiquei pensando nos filmes de invasores extraterrestres que tinha vistotantas vezes pela televiso.

    - Quando vo nos invadir?

    Achou engraada a minha pergunta.

    - Por que voc pensa que ns vamos invadir a Terra?

    - N sei... nos filmes, todos os extraterrestres invadem a Terra... ou quase todos...

    Desta vez sua risada foi to alegre que me contagiou. Depois tentei me justificar:

    - ... que na televiso...

    - Claro, a televiso!... Vamos ver uma de invasores disse, entusiasmado, enquanto da fivela de seu cintotirava outro aparelho. Apertou um boto e apareceu uma tela acesa. Era uma pequena televiso em cores,sumamente ntida. Mudava os canais rapidamente. O mais surpreendente era que nessa regio s se podiamsintonizar dois canai, mas no aparelho ia aparecendo uma infinidade: filmes, programas ao vivo, noticirios,comerciais, tudo em diferentes idiomas e por pessoas de diversas nacionalidades.

    - Os de invasores so ridculos dizia Ami.

    - Quantos canais voc pode sintonizar a?- Todos os que esto transmitindo neste momento no seu planeta... Este aparelho recebe os sinais que os

    nossos satlitas captam e os amplifica. Aqui tem um, na Austrlia, veja!

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    Apareciam uns seres com cabea de polvo e um monto de olhos saltados cheios de veias vermelhas.Disparavam raios verdes contra uma multido de aterrorizados seres humanos. Meu amigo parecia divertir-secom esse filme.

    - Que barbaridade! Voc no acha cmico, Pedrinho?

    - No, por qu?

    - Porque esses monstros no existem. Somente nas monstruosas imaginaes dos que invento essesfilmes...

    No me convenceu. Tinha estado anos vendo todo tipo de seres espaciais perversos e espantosos,impossveis de serem apagados de uma vez.

    - Mas se aqui mesmo na Terra tem iguanas, crocodilos, polvos, por que no vo existir em outros mundos?

    - Ah, isso. Claro que tem, mas no constroem pistolas de raios, so como os daqui: animais. No sointeligentes.

    - Mas talvez existam mundos com seres inteligentes e malvados...

    - Inteligentes e malvados! Ami dava risada Isso como dizer bons-maus.

    Eu no conseguia compreender. E esses cientistas loucos e perversos que inventam armas para destruir omundo, contra os quais Batman e Superman lutam? Ami captou meu pensamento e explicou rindo:

    - Esses no so inteligentes; so loucos.

    - Bom, ento possvel que exista um mundo de cientistas loucos que poderiam nos destruir...

    - Alm dos daqui da Terra, impossvel...

    - Por qu?

    - Porque se so loucos, destroem-se a si mesmos primeiro. No conseguem obter o nvel cientficonecessrio para poder abandonar seus planetas e partir para invadir outros mundos. mais fcil construirbombas do que naves intergalticas, e se uma civilizaso no tem bondade e alcana um alto nvel cientfico,mais cedo ou mais tarde vai utilizar seu poder cientfico contra si mesma, muito antes de poder partir para outrosmundos.

    - Mas em algum planeta poderiam sobreviver, por casualidade...

    - Casualidade? No meu idioma no existe essa palavra. Que significa casualidade?

    Tive que dar vrios exemplos para que ele compreendesse. Quando consegui, ele achou engraado. Disseque tudo est relacionado, mas que ns no compreendemos a lei que une todas as coisas, ou no a queremos

    ver.

    - que se so tantos os milhes de mundos, como voc diz, poderiam sobreviver alguns malvados sem sedestruir. Eu continuava pensando na possibilidade de invasores. Ami tentou fazer-me entender:

    - Imagine que muitas pessoas tm que pegar uma barra de ferro quente, uma a uma, com as mos nuas.Qual a possibilidade de que alguma no se queime?

    - Nenhuma; todas se queimam respondi.

    - assim mesmo, todos os malvados se autodestroem se no conseguem superar sua maldade. Ningumescapa da lei que rege esse assunto.

    - Que lei?

    - Quando o nvel cientfico de um mundo supera em muito o nvel de amor, esse mundo se autodestri...

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    - Nvel de amor?

    Podia entender com clareza o que o nvel cientfico de um planeta, mas no compreendia o que era onvel de amor.

    - A coisa mais simples , para alguns, a mais difcil de compreender... o amor uma fora, uma vibrao,uma energia cujos efeitos podem ser medidos por nossos instrumentos. Se o nvel de amor de um mundo baixo,

    existe infelicidade coletiva, dio, violncia, separatismo, guerras e... com um nvel perigosamente alto decapacidade destrutiva... compreende-me, Pedrinho?

    - Em geral, no. O que voc quer dizer?

    - DEVO lhe dizer muitas coisas, mas vamos aos poucos. Comecemos por suas dvidas.

    Ainda no podia acreditar que no existissem monstros invasores. Contei-lhe um filme no qualextraterrestres lagartos dominavo muitos planetas porque estavam muito bem organizados. Ele disse:

    - Sem amor no pode existir uma organizao duradoura. Nesse caso preciso obrigar, forar. Ao final,aparece a rebeldia, a diviso e a destruio.

    Captulo 3 - No se preocupe

    - Que smbolo esse que voc usa no peito? -perguntei.

    - o emblema do meu trabalho -respondeu, enquanto apontava para cima- Sabe? aqui "pertinho", numplaneta de Srio, existem praias cor violeta... so esplndidas. Se voc visse o que um entardecer com essesdois sis gigantes...

    - Voc viaja na velocidade da luz?

    Minha pergunta pareceu cmica.

    - Se eu viajasse to "devagar" teria ficado velho antes de chegar aqui.

    - Com que velocidade voc viaja, ento?

    - Em geral ns no "viajamos"; mais exatamente nos "situamos", mas de uma ponta a outra da galxiademoraria... -pegou sua calculadora do cinto e fez umas contas- usando suas medidas de tempo... hummmm...uma hora e meia, e de uma galxia a outra demoraria vrias horas.

    - Que brbaro! Como voc consegue?

    - Voc pode explicar para um nenen porque dois mais dois so quatro?

    - No -respondi- nem eu mesmo sei.

    - Eu tambm no posso lhe explicar algumas coisas relacionadas com a contrao e a curvatura doespao-tempo... nem precisa... Veja como deslizam essas aves pela areia, como se patinassem... que maravilha!

    Ami estava contemplando umas avesque corriam em grupo pela praia, colhendo algum alimento que asondas depositavam na areia. Lembrei que era tarde.

    - Tenho que ir embora... minha vov...

    - Ainda est dormindo.

    - Estou preocupado.

    - Preocupado? Que bobagem.

    - Por qu?

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - "Pr" significa "antes de". Eu no me "pr-ocupo"; ocupo-me.

    - No o entendi, Ami.

    - No passe a vida imaginando problemas que no aconteceram nem vo acontecer. Desfrute o presente.A vida curta. Quando aparece um problema real, ento voc se "ocupa" dele. Voc acharia correto que nsestivssemos preocupados imaginando que podia aparecer uma onda gigante e nos devorar? Seria uma

    bobagem no desfrutar este momento, nesta noite to linda... observe essas aves que correm sem preocupao...por que perder este momento por algo que no existe?

    - Mas a minha vov existe...

    - Claro, mas no existe nenhum problema com isto... E este momento, no existe?

    - Estou preocupado...

    - Ah terrcola, terrcola... Est bem, vamos ver a sua vov.

    Pegou seu aparelho de televiso e comeou a sintonizar. Na tela apareceu o caminho que leva at a minhacasa. A "cmara" ia avanando entre as rvores e as pedras do caminho. Aparecia tudo em cores e iluminado

    como se fosse dia. Penetramos atravs de uma janla da casa, apareceu a vov dormindo profundamente na suacama, dava at para escutar sua respirao. Aquele aparelho era incrvel!

    - Dorme como um anjinho -comentou Ami, rindo.

    - No um filme?

    - No. "ao vivo e direto"... vamos at a copa.

    A "cmara" atravessou a parede do dormitrio e apareceu na copa. Ali estava a mesa, com sua toalha dequadrados grandes, e no meu lugar havia um prato coberto por outro, virado.

    - Isto se parece ao meu "ovni"! -brincou Ami- Vamos ver o que voc tem para jantar -mexeu alguma coisa

    no aparelho e o prato de cima ficou transparente como vidro. Apareceu um pedao de carne assada, com batatafrita e salada de tomate.

    - Ui! -exclamou Ami, com nojo- como vocs conseguem comer cadver...

    - Cadver?

    Cadver de vaca... vaca morta. Um pedao de vaca morta.

    - Assim como ele descrevia, eu tambm senti nojo.

    - Como funciona esse aparelho, onde est a cmara? -perguntei, bastante intrigado.

    - No necessita cmara. Este aparelho focaliza, capta, filtra, seleciona, amplia e projeta... simples, no?

    Parecia que ele estava caoando de mim.

    - Por que se v de dia, se de noite?

    - Existem outras "luzes" que seu olho no pode ver e que este aparelho pode captar.

    - Que complicado!

    - Nada disso. Eu mesmo fiz este cacareco...

    - Voc mesmo!- muitssimo antigo, mas eu sinto carinho por ele. uma lembrana, um trabalho da escola primria...

    - Vocs so uns gnios!

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    - Claro que no. Voc sabe multiplicar?

    - Claro -respondi.

    - Ento voc um gnio... para quem no sabe multiplicar. Tudo uma questo de nveis. Um rdiotransistorizado um milagre para os ndios das selvas.

    - verdade. Voc acha que algum dia vamos poder ter aqui na Terra invenes como a sua?Ele ficou srio pela primeira vez. Olhou-me, e seu olhar denotava certa tristeza.

    - No sei.

    - Como que voc no sabe; voc sabe tudo!

    - Tudo no. O futuro ninguem conhece... felizmente.

    - Por que voc diz "felizmente"?

    - Imagine, a vida no teria nenhum sentido se a gente conhecesse o futuro. Voc gosta de saber de

    antemo o final de um filme que est vendo?

    - No. Irrita-me -respondi.

    - Gosta de ouvir uma piada que j conhece?

    - Tambm no. chatssimo.

    - Gostaria de saber que presente voc vai receber no seu aniversrio?

    - Isso ainda menos.

    Seu modo de ensinar era ameno, com exemplos claros.

    - A vida perderia todo o seu sentido se a gente conhecesse o futuro. S podemos calcular aspossibilidades.

    - Como isso?

    - Por exemplo, calcular as possibilidades ou probabilidades que a Terra tem de se salvar...

    - Salvar-se, salvar-se de que?

    - Como de qu!... Voc no ouviu falar da contaminao das guerras, das bombas?

    - Ah, sim! Voc quer dizer que aqui tambm estamos correndo perigo, como nos mundos dos malvados?

    - Existem muitas possibilidades. A relao entre a cincia e o amor est terrivelmente inclinada para o ladoda cincia; milhes de civilizaes como esta se autodestruram. um ponto de mudana... perigoso.

    Assustei-me. Nunca tinha pensado seriamente na possibilidade de uma terceira guerra mundial ou de umacatstrofe. Fiquei um bom tempo meditando. De repente, tive uma idia maravilhosa:

    - Faam alguma coisa!

    - Alguma coisa como qu?

    - No sei... aterrizar mil naves e dizer aos presidentes que no faam a guerra... alguma coisa assim -Ami

    riu.

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    - Se fizssemos algo assim, a primeira coisa que conseguiramos seriam milhes de infartos cardacos, porculpa justamente desses filmes de invasores, e ns no somos desumanos, no podemos provocar algo assim.Em segundo lugar, se dissssemos, por exemplo: transformem suas armas em instrumentos de trabalho, vocspensariam ser uma estratgia extraterrestre para os debilitar e depois dominar o planeta. Terceiro, vamos suporque cheguem a compreender que somos inofensvos, tambm no abandonariam as armas.

    - Por qu?

    - Porque teriam medo dos outros pases. Quem vai se desarmar primeiro? Nenhum.

    - Mas eles devem ter confiana...

    - As crianas podem ter confiana, os adultos no... e menos ainda os presidentes, e com razo, porquealguns sentem vontade de dominar tudo o que podem...

    Eu estava realmente nervoso.Comecei a procurar uma soluo para evitar a guerra e a possvel destruioda humanidade. Pensei que os extraterrestres poderiam tomar o poder pela fora na Terra, destruir as bombas enos obrigar a viver em paz. Disse isso a ele. Quando parou de rir, afirmou que eu no conseguia deixar de serterrcola ao pensar.

    - Por qu?

    - "Pela fora, destruir, obrigar", tudo isso terrcola, incivilizado, violncia. A liberdade humana algosagrado, tanto a nossa como a alheia. "Obrigar" no existe em nossos mundos; cada pessoa valiosa erespeitada. "Pela fora e destruio" violncia, o que vem de "violar"; violar a Lei do universo...

    - Ento vocs no fazem a guerra? -Ainda no tinha terminado de fazer esta pergunta quando me sentiestpido por t-la feito.

    Olhou-me com carinho e colocando a mo no meu ombro, disse:

    - Ns no fazemos a guerra, porque acreditamos em Deus.

    Sua resposta surpreendeu-me muito. Eu tambm acreditava em Deus, mas ultimamente estava pensandoque somente os padres do meu colgio acreditavam Nele, e tambm as pessoas com pouca cultura, porque tenhoum tio que fsico nuclear da Universidade e ele diz que "a inteligncia matou Deus".

    - Seu tio um tolo -afirmou Ami, depois de ler meus pensamentos.

    - No acho; ele considerado um dos homens mais inteligntes do meu pas.

    - um tolo -Ami insistia- a ma pode matar a macieira? A onda pode matar o mar?...

    - Pensei que...

    - Enganou-se. Deus existe.

    Fiquei pensando em Deus, um pouco arrependido por ter duvidado da sua existncia.

    - Ei, tira essa barba e essa tnica!

    Ami ria, porque tinha visto minhas imagens mentais de Deus.

    - Ento... no tem barba, Deus raspa a barba?

    Meu amigo espacial se divertia com minha confuso.

    - Esse um deus terrestre demais -comentou.

    - Por qu?

    - Porque tem a aparncia de um terrestre.

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  • 8/9/2019 AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    O que ele estava querendo me dizer? Que os extraterrestres no tm aparncia humana?

    - Mas, como?... Voc disse que os seres humanos de outros planetas no tm forma estranha oumonstruosa, apesar disso, voc mesmo parece um terrestre...

    Ami, rindo, pegou um graveto e desenhou uma figura humana na areia.

    - O modelo humano universal: cabea, tronco e membros, mas existem pequenas variaes em cadamundo: altura, cor da pele, forma das orelhas; pequenas diferenas. Sou parecido a um terrestre porque aspessoas do meu planeta so iguais s crianas da Terra, mas Deus no tem forma de homem. Venha, vamospassear.

    Comeamos a andar pelo caminho que vai ao povoado. Colocou seu brao no meu ombro e senti nele oirmo que nunca tive.

    De longe se escutavam algumas aves noturnas a grasnar. Ami parecia deleitar-se com esses sons; inspirouo ar martimo e disse:

    - Deus no tem aparncia humana -seu rosto brilhava na noite ao falar do Criador- no tem forma alguma,no uma pessoa como voc ou como eu. um Ser infinito, pura energia criadora... puro amor...

    - Ah!

    Ele dizia isso de uma maneira to bela, que conseguia que eu me emocionasse.

    - Por isso, o universo lindo e bom... maravilhoso.

    Pensei nos habitantes desses mundos primitivos que ele tinha mencionado, e tambm nas pessoasmalvadas deste mesmo planeta.

    - E os maus?

    - Eles chegaro a ser bons algum dia...

    - Era melhor se eles tivessem nascido bons logo do comeo, assim no haveria nada ruim em nenhumlugar.

    - Se no se conhecesse o mal, como se poderia desfrutar o bem, como se poderia dar-lhe valor?-perguntou Ami.

    - No entendo direito.

    - Voc no acha maravilhoso poder olhar, ver?

    - No sei. Nunca tinha pensado nisso... acho que sim.

    - Se voc tivesse nascido cego e de repente adquirisse a viso, ento voc acharia maravilhoso poderver...

    - Ah, sim!

    - Aqueles que viveram existncias difceis, violentas, quando conseguem atingir uma vida mais humana avalorizam como ningum... Se nunca existisse noite, no poderamos desfrutar o amanhecer...

    - amos caminhando pela ruazinha iluminada pela lua e ladeada de rvores. Passamos pela frente daminha casa, entrei silenciosamente para pegar um suter e voltei ao lado de Ami. Continuamos caminhando econversando. Ele contemplava tudo enquanto falava. Ainda no apareciam as primeiras ruas do povoado nem asluzes dos postes da cidadezinha.

    - Voc percebe o que est fazendo? -perguntou-me de surpresa.

    - No... o qu?

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Voc est caminhando, voc pode caminhar...

    - Ah, sim; claro... o que tem isso de extraordinrio?

    - Existem pessoas que ficaram paralticas, e depois de meses ou anos de exerccios conseguiram voltar acaminhar; para elas sim, extraordinrio poder caminhar, agradecem e desfrutam isso; no entanto, voc caminhasem perceber, sem encontrar nada de especial nisso...

    - Tem razo, Ami. Voc me diz muitas coisas novas...

    Captulo 4 - A polcia!

    Chegamos at a primeira rua iluminada pelos postes de luz. Deviam ser onze e meia da noite. Parecia uma

    aventura andar sem minha vov, to tarde pelo povoado, mas eu me sentia protegido ao lado de Ami.

    Enquanto caminhvamos, ele se detinha para olhar a lua entre as folhas dos eucaliptos, s vezes me diziaque ficssemos a ouvir o coaxar das rs, o canto dos grilos noturnos, o longnquo rudo das ondas. Detinha-se arespirar o aroma dos pinheiros, do crtex das rvores, da terra, a observar uma casa que ele achava bonita, umarua ou um cantinho em uma esquina.

    - Veja que lindos esses candeeiros... parecem um quadro... observe como cai a luz sobre essa trepadeira...e essas anteninhas recortadas contra as estrelas... A vida no tem outro propsito que o de se desfrut-la de umamaneira s, Pedrinho.

    Procure colocar sua ateno em tudo o que a vida lhe proporciona... A maravilha est em cada instante...Tente sentir, perceber, em lugar de pensar. O sentido profundo da vida est alm do pensamento... Sabe,Pedrinho, a vida um conto de fadas feito realidade... um dom maravilhoso que Deus lhe brinda... porque Deuso ama...

    Suas palavras me faziam ver as coisas de um novo ponto de vista. Parecia-me incrvel que esse mundofosse o habitual, o de todos os dias, ao qual eu jamais prestava ateno... agora percebia que vivia no Paraso,sem nunca ter percebido antes...

    Caminhando chegamos at a praa do balnerio. Alguns jovens estavam na porta de uma discoteca, outrosconversavam no centro da praa. O lugar estava tranquilo, especialmente agora que a temporada estava no fim.

    Ningum prestava ateno em ns, apesar da roupa de Ami; talvez pensassem que era uma simplesfantasia...

    Imaginei o que aconteceria se soubessem que espcie de menino estava passeando por aquela praa;eles nos rodeariam, viriam os jornalistas e a televiso...

    - No, obrigado -disse Ami, lendo meu pensamento- no quero que me crucifiquem...

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    No compreendi o que ele quis dizer.

    - Em primeiro lugar, no acreditariam; mas se por fim o fizessem, me levariam preso por ter ingressado"ilegalmente" no pas. Depois pensariam que eu sou um espio e me torturariam para obter informao... E a, osmdicos iam querer ver o meu corpinho por dentro... -Ami ria enquanto relatava possibilidades to negras.

    Sentamo-nos num barco, num lugar um pouco afastado. Pensei que os extraterrestres deveriam ir se

    mostrando aos poucos, para que as pessoas fossem se acostumando a eles, para depois, um dia, apresentar-seabertamente.

    - mais ou menos o que estamos fazendo, mas mostrar-nos abertamente... j lhe dei trs razes pelasquais intil fazer isso. Agora vou lhe dar mais uma, a principal: est proibido pelas leis.

    - Por quais leis?

    - As leis universais. Em seu mundo existem leis, no ? Nos mundos civilizados tambm existem normasgerais que todos devem respeitar; uma delas no interfirir no desenvolvimento evolutivo dos mundosincivilizados.

    - Incivilizados?

    - Chamamos incivilizados aos mundos que no respeitam os trs requisitos bsicos...

    - Quais so?

    - Os trs requisitos bsicos que um mundo deve respeitar para ser considerado civilizado so: primeiro,conhecer a Lei fundamental do universo; uma vez que se conhece e se pratica essa Lei, muito fcil cumprir osoutros dois. Segundo, constituir uma unidade: devem ter um s Governo Mundial. Terceiro, devem organizar-sede acordo com a Lei fundamental do universo.

    - No entendo muito. Qual essa lei do fundamento... de qu?

    - Voc v? Voc no a conhece -caoava de mim-, voc no civilizado.

    - Mas eu sou uma criana... Acho que os adultos sim a conhecem, os cientstas, os presidentes...

    Ami riu com vontade.

    - Adultos... cientstas... presidentes! Esses menos que ningum, salvo raras excees.

    - Qual essa lei?

    - Vou lhe dizer mais adiante.

    - De verdade? -fiquei entusiasmado ao pensar que ia conhecer algo que quase ningum sabia.

    - Se voc se comportar direitinho -brincou.

    Comecei a meditar essa proibio de interferir nos planetas incivilizados.

    - Ento voc est violando essa lei! -expressei com surpresa.

    - Bravo! Voc no passou por alto esse detalhe.

    - Claro que no. Primeiro voc diz que proibdo interferir; apesar disso voc est falando comigo...

    - Isto no interferncia no desenvolvimento evolutivo da Terra. Mostrar-se abertamente, comunicar-semassivamente sim, seria. Isto parte de um "plano de ajuda".

    - Explique melhor, por favor.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - um tema complicado. No posso lhe explicar tudo, porque voc no entenderia. Talvez o faa maisadiante; por enquanto s vou lhe dizer que o "plano de ajuda" uma espcie de "remdio", que devemos ir dandoem forma dosificada, suave, sutilmente...bem sutilmente...

    - Qual esse remdio?

    - Informao.

    - Informao? Que informao?

    - Bem, depois da bomba atmica comearam os avistamentos de nossas naves. Fizemos isso para quevocs comeassem a ter evidncias de que no so os nicos seres inteligentes do universo; isso informao.Depois fomos aumentando a frequencia desses avistamentos, isso mais informao. Depois vamos deixar quenos filmem. Ao mesmo tempo, estabelecemos pequenos contatos com algumas pessoas, como voc, e tambmenviamos "mensagens" em frequncias mentais. Essas "mensagens" esto no ar, como as ondas de rdio,chegam a todas as pessoas; algumas tm os "receptores" adequados para capt-las, outras no. Os que asrecebem podem pensar que so suas prprias idias; outros que uma inspirao divina; e ainda outros, que soenviados por ns. Alguns expresso essas "mensagens" bastante distorcidas por suas prprias idias oucrenas; mas existem aqueles que as expressam quase puras.

    - E depois, vo aparecer na frente de todo mundo?

    - Se vocs no se autodestrurem, e sempre que sejam respeitados os trs requisitos bsicos. No podeser antes.

    - Acho que egoismo que vocs no intervenham para evitar a destruio -disse, um pouco aborrecido.

    Ami sorriu e olhou para as estrelas.

    - Nosso respeito pela liberdade alheia implica deix-los alcanar o destino que merecem. A evoluo umacoisa muito delicada, no se pode interfirir, s podemos "sugerir" coisas, muito sutilmente, e atravs de pessoas"especiais", como voc...

    - Como eu? Que tenho eu de especial?

    - Talvez eu lhe diga mais adiante, por enquanto voc s precisa saber que tem certa "condio", e nonecessariamente "qualidade"... Devo ir-me rpido, Pedrinho. Voc gostaria de me ver de novo?

    - Claro que sim, cheguei a estim-lo neste curto tempo.

    - Eu tambm a voc, mas se voc quer que eu volte, vai ter que escrever um livro relatando o que viveu aomeu lado; para isso foi que eu vim, parte do "plano de ajuda".

    - Que eu escreva um livro? Mas eu no sei escrever livros!

    Faa como se fosse um conto infantil, uma fantasia... se no, vo pensar que voc um mentiroso ou

    louco; alm disso, escreva para as crianas. Pea ajuda a esse primo seu, que gosta de escrever. Voc relata eele escreve.

    Ami parecia saber mais de mim, do que eu mesmo...

    - Esse livro vai ser informao tambm. Mais do que fazemos, no nos permitido. Voc gostaria que noexistisse a menor possibilidade de que uma civilizao de malvados venha invadir a Terra?

    - Sim.

    - Est vendo? Mas se vocs no deixam de lado a sua maldade e ns os ajudamos a sobreviver,rapidamente estariam tentando dominar, explorar e conquistar outras civilizaes do espao... mas o universocivilizado um lugar de paz e de amor, de confraternizao. Alm disso, existem outras qualidades de energiasmuito poderosas. A energia atmica ao lado delas como um fsforo ao lado do sol... No podemos correr orisco de que uma espcie violenta chegue a controlar essa energia e colocar em perigo a paz dos mundosevoludos, e, muito menos, que chegue a produzir um descalabro csmico.

    - Estou realmente nervoso, Ami.17/68/

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Pelo perigo de um descalabro csmico?

    - No. Porque penso que j muito tarde...

    - Tarde para salvar a humanidade, Pedrinho?

    - No. Para me deitar.

    Ami se dobrava de tanto rir.

    - Calma, Pedrinho. Vamos ver a sua vov.

    Pegou a pequena televiso da fivela do seu cinto. Apareceu minha vov dormindo com a boca entreaberta.

    - Desfruta realmente o sono -brincou.

    - Estou cansado. Gostaria de dormir, eu tambm.

    - Bem, vamos.

    Caminhvamos para minha casa quando encontramos um veculo policial. Os agentes, vendo dois meninossozinhos a essas horas da noite, pararam o automvel, desceram e vieram at ns. Fiquei com medo.

    - Que vocs esto fazendo a estas horas por aqui?

    - Caminhando, desfrutando a vida -respondeu Ami muito tranquilo- E vocs? Trabalhando? Caandomalandros? -E riu como sempre. Assustei-me ainda mais do que j estava, quando vi a liberdade que Ami estavatomando com a polcia; apesar disso eles tambm acharam engraada a atitude de meu amigo, riram com ele.Tentei rir tambm, mas por causa do meu nervosismo no consegui.

    - De onde voc tirou essa roupa?

    - De meu planeta -respondeu com total ousadia.

    - Ah, voc um marciano.

    - Marciano, exatamente, no; mas sou extraterrestre.

    Ami respondia com alegria e despreocupao, em troca eu estava cada vez mais nervoso.

    - Onde est o seu "ovni"? -Perguntou um deles observando Ami, com ar paternal. Pensava que era umabrincadeira de crianas; apesar disso, ele s dizia toda a verdade.

    - Ele est estacionado na praia, debaixo do mar. No verdade, Pedrinho?

    Eu no sabia o que fazer. Tentei sorrir e s consegui fazer uma careta bastante idiota, no me atrevi adizer a verdade.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - E voc no tem uma pistola de rios? -Os guardas se divertiam com o dilogo. Ami tambm, mas euestava cada vez mais confuso e preocupado.

    - No preciso. Ns no atacamos ningum Somos bons.

    - E se aparecer um malvado com um revlver como esse? -ele mostrou a arma fingindo ser ameaador.

    - Se vai me atacar, eu o paraliso com a minha fora mental.- Deixe eu ver. Paralise-nos!

    - timo. O efeito vai durar dez minutos.

    Os trs riam muito divertidos mesmo. De repente, Ami ficou quieto, srio e olhou fixo para eles. Com umavz muito estranha e autoritria lhes ordenou:

    - Fiquem imveis durante dez minutos. No podem, NO PODEM MOVER-SE... j -E eles ficaramparalisados com um sorriso, na posio em que estavam.

    - Voc v, Pedrinho? Assim voc tem que dizer a verdade, como se fosse uma brincadeira ou uma fantasia

    -explicou-me, enquanto tocava o nariz ou puxava suavemente os bigodes dos guardas petrificados com umsorriso, que comeava a me parecer trgico, por causa das circunstncias. Tudo aumentava meu medo.

    - Vamos fugir daqui, bem longe, eles podem acordar -expressei, tentando no falar muito alto.

    - No precisa se preocupar, ainda tem tempo para que se completem os dez minutos -e comeou a mexerem seus bons. Eu s queria era estar bem longe dali.

    - Vamos, vamos!

    - J est pre-ocupado de novo, em vez de desfrutar o momento... est bem, vamos -disse resignado.Aproximou-se aos sorridentes guardas e com a mesma voz anterio lhes ordenou:

    - Quando acordarem, tero esquecido para sempre esses dois meninos.

    Quando chegamos primeira esquina dobramos para o lado da praia e nos afastamos do lugar. Senti-memais tranquilo.

    - Como voc fez isso?

    - Hipnose, qualquer um pode.

    - Eu acho que no se pode hipnotizar qualquer pessoa. Eles podiam ter sido uma dessas.

    - Todas as pessoas podem ser hipnotizadas -disse Ami- alm disso, todas esto hipnotizadas.

    - O que voc quer dizer?... Eu no estou hipnotizado... estou acordado.

    Ami riu muito da minha afirmao.

    - Voc se lembra quando vnhamos pelo caminho?

    - Sim, lembro-me.

    - Ali tudo lhe pareceu diferente, tudo lhe pareceu lindo, no verdade...?

    - Ah, sim... parece que era como se eu estivesse hipnotizado... Talvez voc tenha me hipnotizado!

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Estava acordado! Agora est adormecido, pensando que a vida no tem nenhuma maravilha, que tudo perigoso. Voc est hipnotizado, no escuta o mar, no percebe os aromas da noite, no toma conscincia deseu caminhar nem de sua vista, no desfruta sua respirao. Voc est hipnotizado com hipnose negativa, estcomo essas pessoas que pensam que a guerra tem algum sentido "glorioso", como os que supem que quem nocompartilha sua prpria hipnose seu inimigo, todos esto hipnotizados, adormecidos. Cada vez que algumcomea a sentir que a vida ou um monemto so lindos, ento este algum est comeando a acordar. Umapessoa desperta sabe que a vida um paraso maravilhoso e o desfruta instante a instante... mas no vamospedir tanto a um mundo incivilizado... Imagine que tem pessoas que se suicidam... j pensou que loucura?Suicidam-se!

    - Pensando assim, como voc diz, tem razo... Como foi que esses guardas no se zangaram com as suasbrincadeiras?

    - Porque eu toquei o seu lado bom, infantil.

    - Mas eles so policiais!

    Olhou-me, como se eu acabasse de dizer uma estupidez.

    - Veja, Pedrinho, todas as pessoas tm um lado bom, um lado infantil. Quase ningum completamente

    mau. Se voc quiser, vamos a uma priso e procuramos o pior criminoso.

    - No, obrigado.

    - Em geral, as pessoas no so mais bondosas do que malvadas, inclusive neste planeta. Todos pensamque esto fazendo um bem com o que fazem. Alguns se enganam, mas no maldade, erro. certo quequando esto adormecidos ficam srios e at perigosos, mas se voc os toca pelo lado bom, eles vo lhedevolver o que h de bom neles; se voc os toca pelo lado negativo, eles vo lhe devolver o que h de negativoneles; apesar disso, todo mundo gosta de brincar de vez em quando.

    - Ento por que neste mundo existe mais infelicidade do que felicidade?

    - No que as pessoas sejam malvadas, so os sistemas que utilizam para se organizar que so velhos.

    As pessoas evoluram, os sistemas ficaram atrasados. Sistemas ruins fazem as pessoas sofrer, vo fazendo aspessoas ficar infelizes, e no final as levam a cometer erros. Mas um bom sistema de organizao mundial capazde transformar os maus em bons.

    No compreendi muito bem suas explicaes.

    Captulo 5 - Raptado pelos extraterrestres!

    - J chegamos a sua casa. J vai dormir?

    - Sim. Estou realmente cansado, no aguento mais. E voc, que vai fazer?

    - Voltar para a nave. Vou dar uma volta pelas estrelas... Queria convid-lo, mas se voc est to cansado...

    - Agora j no!... de verdade?... Voc me levaria a dar uma volta no seu "ovni"?

    - Claro, mas e sua vov?...

    Diante de uma possibilidade to extraordin ria como a de passear num "disco voador" foi embora todo omeu cansao, estava como novo e cheio de vitalidade; pensei imediatamente na forma de sair sem que sentissema minha ausncia.

    - Vou jantar, deixo o prato vazio em cima da mesa, depois coloco o meu travesseiro debaixo da roupa decama, porque se minha av se levantar vai pensar que eu estou dormindo em casa, deixo esta roupa por a evisto outra. Farei isso com muito cuidado e em silncio.

    - Perfeito, vamos estar de volta antes que ela se acorde. No se preocupe com nada.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Fiz tudo de acordo ao calculado, mas quando quis comer a carne tive nojo e no pude comer. Algunsminutos mais tarde caminhvamos para a praia.

    - Como vou subir na nave?

    - Vou entrar nadando, pela gua, depois levo o veculo at a praia.

    - No vai lhe dar frio entrar no mar?- No. Esta roupa resiste muito mais ao frio e calor do que voc imagina... Bem, vou pegar a nave. Espere-

    me aqui e quando eu aparecer no se assuste.

    - Oh, no; j no tenho mais medo dos extraterrestres -achei graa de sua recomendao desnecessria...

    Ami se dirigiu at as suaves ondas, entrou no mar e comeou a nadar. Logo se perdeu de vista, naescurido, pois a lua tinha desaparecido detrs de umas nuvens bem tenebrosas...

    Pela primeira vez, desde que Ami apareceu, tive tempo de pensar a ss... Ami?... um extraterrestre!... Eraverdade ou tinha sido um sonho?

    Esperei um bom tempo e comecei a me sentir nervoso. No me senti muito seguro... estava sozinho, numapraia escura e terrivelmente solitria...

    Ia enfrentar-me com uma nave extraterrestre... minha imaginao me fazia ver estranhas sombras semexendo entre as pedras, na areia, surgindo das guas. E se Ami fosse malvado disfarado de menino, falandode bondade para conseguir minha confiana... ... ... No, no pode ser!... ... ... Raptado por uma naveextraterrestre?...

    Neste momento apareceu diante dos meus olhos um espet culo apavorante: debaixo da gua um resplendoramarelo esverdeado comeava a subir lentamente, depois apareceu uma cpula que girava, com muitas luzescoloridas... Era verdade! Eu estava contemplando uma nave de outro mundo! Depois apareceu o corpo do veculoespacial, ovalado, com janlas iluminadas. Emitia uma luz entre prateada e verde. Foi uma viso que eu noesperava, senti verdadeiro terror. Uma coisa era falar com um menino... menino?... com cara de bonzinho...

    mscara?... e outra coisa era estar a, quieto, sozinho, numa praia, na escurido da noite e ver aparecer umanave de outro mundo... um "ovni" que vem nos pegar para nos levar para longe... Esqueci do "menino" e de tudoo que ele me tinha dito. Para mim aquilo se transformou numa mquina infernal, vinda de quem sabe de quesombrio mundo do espao, cheia de seres monstruosos e cruis que vinham me raptar. Pareceu-me que era deum tamanho muito maior do que o objeto que eu tinha visto cair no mar umas horas antes.

    Comeou a aproximar-se de mim, flutuando a uns trs metros por cima das guas.No emitia nenhum som,o silncio era horrvel e se aproximava, se aproximava irremediavelmente. Quis fugir. Desejei no ter conhecidonunca nenhum extraterrestre, queria fazer o tempo voltar para trs, estar dormindo tranquilamente perto de minhaav, a salvo, na minha caminha, ser um menino normal e com uma vida normal. Isso era um pesadelo; noconseguia sair correndo, no podia deixar de olhar para esse monstro luminoso que vinha me levar... quem sabea um zoolgico espacial...

    Quando chegou em cima da minha cabea, eu me senti perdido. Apareceu uma luz amarela no ventre danave, depois um reflexo me ofuscou e a eu soube que j estava morto. Encomendei minha alma a Deus e decidiabandonar-me a sua Suprema Vontade...

    Senti que me elevavam, que eu ia numa espcie de elevador, mas meus ps no estavam apoiados emnada. Esperei ver aparecer aqueles seres com cabea de polvo e olhos sanguin rios e sangrentos...

    De repente, meus ps pousaram sobre uma superfcie acolchoada e me vi de p num recinto luminoso eagradvel, carpetado e com paredes atapetadas. Ami estava na minha frente, sorrindo com seus grandes olhosde menino bom. Seu olhar conseguiu me acalmar, fazendo-me voltar realidade, essa maravilhosa realidade queele tinha me ensinado a conhacer. Colocou a mo no meu ombro.

    - Calma, calma; no tem nada de mal.

    Quando consegui falar, sorri e lhe disse:

    - Deu-me muito medo.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - sua imaginao desenfreada. A imaginao sem controle pode matar de terror, capaz de inventar umdemnio onde s existe um bom amigo, mas so somente nossos monstros internos, porque a realidade simples e maravilhosa, fcil...

    - Ento... estou num "ovni"?

    Bem, "ovni" um objeto voador no identificado. Isto est plenamente identificado: uma nave espacial;

    mas podemos lhe chamar "ovni" se voc quiser, e tambm pode me chamar "marciano".Relaxei completamente a tenso quando rimos.

    - Venha, vamos para a sala de comandos -convidou-me.

    Por uma porta muito pequena e em forma de arco passamos a outro recinto, de teto to baixo como o doque acabvamos de abandonar. Diante de mim apareceu uma sala semicircular rodeada de janelas ovais. Nocentro havia trs poltronas reclinveis na frente dos controles, e vrias telas quase apoiadas do cho. Aquilo eracomo se fosse para crianas! Tanto as poltronas como a altura da sala. Ali no caberia um adulto de nenhumamaneira... Eu podia tocar o teto levantando o brao.

    - Isto fabuloso! -exclamei entusiasmado. Aproximei-me das janelas enquanto Ami se acomodava na

    poltrona central, na frente dos controles. Detrs dos vidros pude ver a distncia o reflexo das luzes do balnerio.Senti uma suave vibrao no cho e o povoado desapareceu. Agora s via estrelas...

    - Ei, o que voc fez com o balnerio?

    - Olhe para baixo -respondeu Ami. Quase desmaiei: estvamos a milhares de metros de altitude sobre abaa. Podamos ver todos os povoados da costa que havia nessa regio; o meu estava l embaixo, bem embaixo.Tnhamos nos elevado quilmetros num instante e eu no tive nenhuma sensao de movimento!

    - Super, super, timo! -meu entusiasmo crecia, mas logo a altura me deu vertigem.

    - Ami...

    - Diga.

    - ... Isso no cai?

    - Bem, se a bordo houvesse uma pessoa que tivesse dito mentiras, ento os mecanismos poderiam falhar...

    - Desa, ento, desa!

    Por suas gargalhadas soube que ele estava brincando.

    - Podem nos ver l de baixo?

    - Quando esta luz se acende -disse apontando um sinal ovalado nos comandos- quer dizer que somos

    visveis. Quando est apagada, como agora, somos invisveis.

    - Invisveis?

    - Do mesmo jeito que este senhor que est sentado do meu lado -mostrou a poltrona vazia a seu lado.Alarmei-me, mas suas risadas me fizeram compreender que era outra de suas brincadeiras.

    - Como voc faz para que no sermos vistos?

    - Se uma roda de bicicleta est girando rpido, seus raios no so vistos. Ns fazemos que as molculasdesta nave se movimentem rpido...

    - Engenhoso, mas eu gostaria que nos vissem l de baixo.

    - No posso fazer isso. A visibilidade ou invisibilidade de nossas naves, quando esto em mundosincivilizados, efetua-se de acordo ao "plano de ajuda". Isso decidido por um "computador" gigante situado nocentro desta galxia...

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - No entendo direito.

    - Esta nave esta conectada a este "super-computador" que decide quando podemos ou quando nopodemos ser vistos.

    - E como que esse "computador" sabe quando...?

    - Esse "computador" sabe tudo... Voc quer que a gente v at algum lugar em especial?- At a capital! Gostaria de ver a minha casa daqui do ar...

    - Vamos! -Ami mexeu uns controles e disse, "j". Preparei-me para desfrutar a viajem olhando pela janela...mas j tnhamos chegado!... Cem quilmetros em uma frao de segundo!

    Eu estava maravilhado.

    - Isto sim que viajar rpido!

    - J lhe expliquei que em geral no "viajamos", seno que nos "situamos"... uma questo decoordenadas, mas tambm podemos "viajar".

    Olhei as grandes avenidas iluminadas. Era impressionante ver a cidade, de noite, de cima. Localizei meubairro e pedi a Ami que nos dirigssemos para l.

    - Mas "viajando" devagar, por favor. Quero desfrutar o passeio.

    A luz dos comandos estava apagada. Ningum nos via.

    Fomos avanando suave e silenciosamente entre as estrelas e as luzes da cidade.

    Apareceu a minha casa. Foi extraordinrio v-la das alturas.

    - Quer comprovar se est tudo bem l dentro?

    - Como?

    - Vamos ver por esta tela.

    Na frente dele, numa espcie de televiso grande, apareceu a rua focalizada de cima; era o mesmosistema pelo qual vimos minha av dormir, mas com uma grande diferena: aqui a imagem aparecia em alto-relevo, com profundidade. Parecia que se podia meter a mo pela tela e tocar as coisas. Tentei fazer isso, mas ovidro invisvel me impediu. Ami se divertia comigo.

    - Todos fazem a mesma coisa...

    - Todos, quem so todos?

    - Voc no vai pensar que o primeiro incivilizado que sai a passeio numa nave extraterrestre?

    - Tinha pensado que era -disse, um pouco decepcionado.

    - Pois se enganou.

    A lente da cmara, ou o que quer que fosse, pareceu atravessar o teto da minha casa, percorrendo cadacantinho. Estava tudo em ordem.

    - Por que na sua televiso porttil no se pode ver em alto-relevo, como nessa tela?

    - J lhe disse, um sistema antigo...Pedi que fssemos dar uma volta pela cidade. Passamos pelo meu colgio. Vi o ptio, o campo de futebol,

    os arcos, minha classe. Pensei em mim mesmo contando mais tarde a aventura aos meus colegas: "Vi o colgiode uma nave espacial"... Estaria orgulhoso.

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  • 8/9/2019 AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Fomos passando pela cidade toda.

    - uma pena que no seja de dia -disse.

    - Por qu?

    - Teria gostado de passear na sua nave tambm de dia... ver cidades, paisagens com a luz do sol...-como

    de costume, Ami estava rindo de mim.- Voc quer que seja dia? -perguntou.

    - No acredito que os seus poderes sejam suficientes para mover o sol... ou so?

    - O sol no, mas ns sim...

    Conectou os controles e comeamos a nos mover tremendamente rpido; subimos a cordilheira dos Andese a atravessamos em uns trs segundos, depois apareceram vrias cidades que se viam como umas manchinhasluminosas, devido grande altitude que tinhamos atingido; imediatamente depois apareceu o enorme oceanoAtlntico, banhado pela lua. Tambm havia muitas nuvens enormes que limitavam minha visibilidade. O cu foi seaclarando no horizonte, viajvamos em direo ao leste. Chegamos terra e aconteceu algo extraordinrio: o sol

    comeou a subir rapidamente! Para mim aquilo foi algo incrvel. Ami tinha movido o sol! Em apenas unsmomentos se fez dia.

    - Por que voc disse que no podia mover o sol?

    Ami se deleitava observando minha ignorncia.

    - O sol no se moveu fomos ns que nos movemos rapidamente.

    Compreendi meu erro imediatamente, mas tinha sua justificao: preciso ver o que comtemplar o sol seelevar pelo horizonte a uma velocidade imprecionante...

    - Em que lugar estamos?

    - frica.

    - frica? Mas se faz s um minuto ns estvamos na Amrica do Sul!

    - Como voc queria viajar de dia nessa nave, viemos para um lugar que fosse de dia: "se a montanha novem a Mahom, Mahom vai montanha"...

    - Que pas da frica voc gostaria de visitar?

    - Deixa eu ver... a ndia.

    Sua risada me mostrou que meus conhecimentos de geografia no eram muito exatos...

    - Ento vamos Asia, para a ndia... A qual cidade da ndia voc quer ir?

    - ... D no mesmo... escolhe voc...

    - Bombaim est bem?

    - Sim, timo Ami...

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  • 8/9/2019 AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Passamos em grande velocidade e altitude por cima do continente africano. Mais tarde, na minha casa,com um mapa-mndi pude reconstruir minha viagem. Chegamos ao oceano ndico, e o atravessamos enquanto osol subia e subia vertiginosamente. De repente estvamos na ndia. A nave freou bruscamente e ficou imvel...

    - Como foi que ns no nos batemos contra as janelas com essa freada? -perguntei muito surpreendido.

    - uma questo de anular a incia...

    Ah, que fcil...

    Captulo 6 - Uma questo de medidas

    Descemos sobre a cidade, at chegar a uns cem metros de altura e comeamos nosso passeio pelos cusde Bombaim.

    Parecia-me estar sonhando ou vendo um filme. Homens com turbantes brancos, casas muito diferentes dasdo meu pas. Chamou minha ateno a enorme quantidade de pessoas nas ruas. No era como na minha cidade.

    L, nem mesmo no centro, na hora de sada dos escritrios v-se essa multido. Aqui estavam em todos oslugares. Para mim, aquilo era outro mundo.

    Ningum nos via; a luz indicativa estava apagada.

    De repente, voltei "realidade".

    - Nossa, minha vov.

    - O que que h com a sua av?

    - J dia, ela j deve ter se levantado, e vai se preocupar com a minha ausncia... vamos voltar!

    Para Ami, eu era um permanente motivo de riso.

    - Pedrinho, sua av dorme profundamente. L meia noite neste momento, do outro lado do mundo; aquiso dez da manh.

    - De ontem ou de hoje? -perguntei, confundido com o tempo.

    - De amanh -respondeu, morto de rir-. No se preocupe. A que horas ela se levanta?

    - Mais ou menos s oito e meia.

    - Ento ainda temos oito horas e meia pela frente... sem contar que podemos esticaaaar o tempo...

    - Estou preocupado... Por que no vamos ver?

    - O que voc quer ver?

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Ela pode ter acordado...

    - Melhor vermos daqui mesmo.

    Pegou os controles de uma tela e apareceu a costa da Amrica do Sul vista de muita altura, depois aimagem mostrou uma queda em direo terra a uma velocidade fantstica. Logo pude distinguir a baa, obalnerio, a casa da praia, o teto e a minha av. Era incrvel, parecia que estava ali; dormindo, com a boca

    entreaberta, na mesma posio anterior.- No se pode dizer que ela dorme mal, ein? -observou Ami com malcia, depois acrecentou- Vamos fazer

    algo para que voc fique tranquilo.

    Pegou uma espcie de microfone e me indicou que ficasse em silncio. Apertou um boto e disse "psiu".Minha vov escutou aquilo; acordou, levantou-se e foi at a copa. Ns podamos escutar os seus passos e suarespirao. Viu meu prato meio vazio sobre a mesa, pegou-o e deixou-o na cozinha, depois foi at o meudormitrio, abriu a porta, acendeu a luz e olhou para minha cama. Estava perfeita, parecia que eu dormia l,contudo, alguma coisa lhe chamuo a ateno, no soube o que era, mas Ami sim.

    Pegou o microfone e respirou perto dele. Minha av escutou essa respirao e pensou que era a minha,apagou a luz, fechou a porta e foi para o seu dormitrio.

    - Est tranquilo agora?

    - Sim, agora sim... mas no d para acreditar; ela dormindo l e ns aqui de dia...

    - Vocs vivem condicionados demais pelas distncias e pelo tempo...

    - No compreendo.

    - O que voc pensaria de sair de viagem hoje e voltar ontem?

    - Voc quer me deixar maluco. No poderamos visitar a China?

    - Claro, que cidade voc gostaria conhecer?

    Desta vez no ia passar vergonha. Respondi com segurana e orgulho:

    - Tquio.

    - Ento vamos conhecer Tquio... a capital do Japo -disse tentando dissimular a vontade de rir.

    Passamos por todo o territrio da ndia, de Oeste a Leste. Chegamos aos Himalaias, ali a nave parou.

    - Temos ordens -disse Ami. Numa tela apareceram estranhos sinais- Vamos deixar um testemunho. O"computador" gigante indica que devemos ser vistos por algum em algum lugar.

    - Que divertido! Onde e por quem?

    - No sei. Vamos ser guiados pelo "computador". J chegamos...

    Havamos utilizado o sistema de translado instantneo. Estvamos sobre um bosque, suspensos no ar auns cinqenta metros de altura. A luz dos controles mostrava que ramos visveis. Havia muita neve por ali.

    - Isto o Alaska -disse Ami reconhecendo o lugar. O sol comeava a se ocultar no mar prximo dali.

    A nave comeou a se mover no cu, desenhando um enorme tringulo com sua trajetria, enquantomudava suas cores.

    - Para que fazemos isso?- Para impressionar. Devemos chamar a ateno desse amigo que vem ali.

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  • 8/9/2019 AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Ami observava pela tela, e eu o procurei atravz dos vidros das janelas e o encontrei. Ao longe, entre asrvores, havia um homem com um casaco de pele de cor marrom; tinha uma espingarda, parecia muitoassustado. Apontou-nos sua arma. Agachei-me, com medo, para evitar ser atingido pelo possvel disparo. Ami sedivertia com minhas inquietudes.

    - No tenha medo, este "ovni" prova de balas... e de muito mais...

    Elevamo-nos at ficarmos bem alto, sempre emitindo uma cintilao colorida.- preciso que este homem no esquea jamais esta viso.

    Eu pensei que, para que ele nunca mais esquecesse o espetculo, era suficiente ter passado pelo ar, semnecessidade de o assustar tanto. Disse isto a Ami.

    - Voc se engana. Milhares de pessoas j viram passar nossas naves, mas hoje em dia no se lembram.Se no momento em que nos viram estavam muito pre-ocupadas com seus assuntos corriqueiros, olhavam-nosquase sem nos ver, depois, esqueceram. Temos estatsticas impressionantes a esse respeito.

    - Por que preciso que esse homem nos veja?

    - No sei exatamente, talvez seu testemunho seja importante para alguma outra pessoa interessante,especial; ou talvez, ele mesmo o seja. Vou focaliz-lo com o "sensmetro".

    Em outra das telas apareceu o homem, mas estava quase transparente. No centro do seu peito brilhavauma luz dourada muito linda.

    - Que luz essa?

    - Podemos dizer que a quantidade de amor que existe nele, mas no seria to exato; mais certo dizerque o efeito que a fora do amor exerce sobre a sua alma. E tambm seu nvel de evoluo. Ele tem setecentase cinquenta medidas.

    - E isso o que significa?

    - Que ele interessante.

    - Interessante por qu?

    - Porque seu nvel de evoluo realmente bom... para ser um terrcola.

    - Nvel de evoluo?

    - Seu grau de aproximao com o animal ou com o "anjo".

    Ami focalizou um urso na tela, tambm transparente, mas a luz no seu peito brilhava muito menos do que ado homem.

    - Duzentas medidas -precisou Ami. Depois focalizou um peixe. Desta vez a luz era mnima.

    - Cinqenta medidas. A mdia dos seres humanos da Terra de quinhentas e cinqenta medidas.

    - E voc, quantas medidas tem, Ami?

    - Setecentas e sessenta medidas -respondeu.

    - S dez a mais do que o caador! -surpreendi-me pela pouca diferena entre um terrcola e ele.

    - Claro. Temos um nvel parecido.

    - Mas se supe que voc deva ser muito mais evoludo do que os terrcolas.

    - Na Terra as pessoas variam entre trezentas e vinte e oitocentas medidas.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Algumas mais do que voc!

    - Claro que sim. A vantagem que eu tenho consiste no fato de que eu conheo certas coisas que elesignoram, mas aqui existem pessoas muito valiosas: mestres, artistas, enfermeiras, bombeiros...

    - Bombeiros!?

    - Voc no acha nobre arriscar a prpria vida pelos demais?- Voc tem razo, mas meu tio, o que fsico nuclear, tambm deve ser muito valioso...

    - Famoso talvez... A que se dedica seu tio, dentro da fsica?

    - Est desenvolvendo uma nova arma, um raio ultra-snico.

    - Se ele no acredita em Deus, e alm disso se dedica fabricao de armas... penso que tem um nvelbem baixo.

    - O qu?! Mas ele um sbio! -protestei.

    - Voc est confundindo as coisas de novo. Seu tio tem muita informao, mas ter informao no significanecessariamente ser inteligente, e muito menos um sbio. Um computador pode ter armazenado muitainformao, mas nem por isso inteligente. Voc acha muito sbio um homem que cava uma fossa, ignorandoque ele mesmo vai cair nela?

    - No, mas...

    - As armas se voltam contra aqueles que as apiam...

    No me pareceu muito evidente essa afirmao de Ami, mas decidi acreditar nele. Quem era eu paraduvidar de sua palavra? Apesar disso, estava confuso... meu tio era meu heri... um homem to inteligente...

    - Tem um bom computador na cabea, isto tudo. Aqui existe um problema de terminologia: na Terra

    dizem inteligentes ou sbios aos que tm uma boa capacidade cerebral em s um dos crebros, mas temosdois...

    - O qu!

    - Um na cabea. Esse o "computador", o nico que vocs conhecem. O outro est no peito, no visvel,mas existe. o mais importante, essa luz que voc viu pela tela no peito do homem. Para ns, inteligente ousbio aquele que tem ambos os crebros em harmonia, mas isso quer dizer que o crebro da cabea, est aservio do crebro do peito, e no ao contrrio, como na maioria dos "inteligentes".

    - Tudo isso me surpreende, mas agora entendo melhor. O que acontece com aqueles que tem maisdesenvolvido o crebro do peito do que o da cabea? -perguntei.

    - Esses so os "tolos bons". So fceis de enganar, simples para os outros, os "inteligentes maus", comovoc dizia, coloc-los a fazer o mal enquanto pensam que esto fazendo o bem... o desenvolvimento intelectualdeve estar em harmonia com o desenvolvimento emocional, s assim se produz um verdadeiro inteligente ousbio. S assim a luz pode crescer.

    - E eu, Ami, quantas medidas tenho?

    - No posso lhe dizer.

    - Por qu?

    - Porque se teu nvel for alto, voc vai ficar vaidoso...

    - AH!! compreendo...

    - Mas se for baixo... voc vai se sentir muuuuito mal...

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Ah...

    - O orgulho apaga a luz... a semente da maldade.

    - No entendo.

    - Devemos tentar ser humildes... Veja, j estamos indo.

    Instantaneamente estvamos de volta cordilheira, aos Himalaias, situados do outro lado do planeta.

    Captulo 7 - Os avistamentos

    Avanamos at um mar longnquo, ao qual chegamos em segundos e o atravessamos; apareceram umasilhas, descemos sobre a cidade de Tquio. Pensei que ia encontrar casas com telhados com as pontas para cima,mas o que mais havia era arranha-cus, modernas avenidas, parques, automveis.

    - Estamos sendo vistos -disse Ami, apontando a luz dos controles acesa.

    Na rua, as pessoas comeavam a amontoar-se, apontavam-nos com a mo. Novamente se acenderam as

    luzes exteriores de vrias cores. Estvamos realmente alto, ficamos uns dois minutos ali.

    - Outro avistamento -disse Ami, observando os sinai que apareciam na tela- Vamos ser transladados.

    Subitamente, a luz do dia se apagou. S ficaram as estrelas cintilando detrs dos vidros.

    Embaixo no se viam grandes coisas. Uma pequena cidade, longe, algumas poucas luzes, um caminhopelo qual vinha um automvel. Fui at a tela que estava na frente de Ami. Ali aparecia o panorama perfeitamenteiluminado. O que simples vista no se distinguia, devido escurido, no monitor era perfeitamente claro; assimpercebi que o automvel era verde e que nele viajava um casal.

    Estvamos a uns vinte metros de altura, ramos visveis, segundo indicavam os controles.

    Decidi da em diante aproveitar essa tela. Era mais ntida do que a prpria realidade.

    Quando o veculo se aproximou de ns, parou, estacionou ao lado do caminho e seus ocupantesdesceram, comearam a gesticular e a gritar enquanto nos olhavam com os olhos arregalados.

    - O que esto dizendo? -perguntei.

    - Esto pedindo comunicao, contato. So um casal de estudiosos dos "ovnis", ou melhor, "adoradores deextraterrestres".

    - Ento, comunique-se -disse eu, preocupado pelo nervosismo dessas pessoas. Ajoelharam e rezavam, oualgo assim.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - No posso, tenho que obedecer s ordens estritas do "plano de ajuda". A comunicao no se produzquando qualquer um deseja, seno quando se decide do "alto"; alm disso, tambm no posso ser cmplice deuma idolatria.

    - O que idolatria?

    - Uma violao a uma lei universal -respondeu Ami, muito srio.

    - Em que consiste? -perguntei, intrigado.

    - Somos considerados deuses.

    - O que isso tem de mal?

    - S se deve venerar a Deus, o resto idolatria. Seria muita falta de respeito de nossa parte seusurpssemos o lugar de Deus, frente distorcida religiosidade dessas pessoas. Se fssemos consideradoscomo irmos, seria outra coisa.

    Pensei que Ami pudesse ensinar a verdade ao casal.

    - Pedrinho -respondeu a meus pensamentos-, nos mundos incivilizados do universo se cometem aes quenos parecem terrveis. Neste preciso momento, esto queimando vivas muitas pessoas, porque outros pensamque elas so "hereges"; isso est acontecendo em muitos planetas, como aconteceu aqui na Terra, h centenasde anos. Neste mesmo momento, debaixo do mar, os peixes esto comendo-se vivos uns aos outros. Esteplaneta no muito evoludo. Assim como as pessoas tm diferentes nveis evolutivos, tambm os planetas. Asleis que regem a vida nos mundos inferiores nos parecem brutais. A Terra a milhes de anos, estava regida poroutros tipos de leis, tudo era agressivo, venenoso, tudo tinha garras e presas; hoje, que se atingiu um nvel deevoluo mais avanado, existe mais amor, mas ainda no se pode dizer que este seja um mundo evoludo.Ainda existe muito brutalidade.

    Ami sintonizou uma tela e apareceram algumas cenas de guerra. De uns tanques, os soldados lanavammsseis contra alguns edifcios, destrundo-os, junto com as crianas, mulheres e homens que os habitavam.

    Isto est acontecendo agora mesmo num pas da terra, mas no podemos fazer nada. Na evoluo de cadaplaneta, pas ou pessoas, no podemos interferir. No fundo, tudo aprendizagem. Fui uma fera e morridestroado por outras feras; fui um ser humano de baixo nvel, matei e me mataram, fui cruel, recebi crueldade.Morri muitas vezes; fui aprendendo aos poucos a viver de acordo Lei fundamental do universo. Agora minhavida melhor, mas no posso ir contra o sistema de evoluo que Deus criou. Esse casal est violando uma leiuniversal, ao comparar-nos com algum to grande e majestoso como Deus. Retiram seus sentimentos devenerao e amor ao Criador e os dirigem para ns... Os soldados que vimos, tambm violam uma lei universal:"no mataras".Eles devero pagar por seus erros e, assim, pouco a pouco iro aprendendo. Somente quandouma pessoa ou um mundo conseguiu atingir certo nvel evolutivo, pode receber nossa ajuda, sem que seja umaviolao ao sistema evolutivo geral.

    Na verdade, no compreendi nem meia palavra do que Ami disse, somente mais tarde, pensando, foi quepercebi tudo com mais clareza, muito depois de sua partida; foi ento que pude escrever mais ou menos como ele

    disse.

    Enquanto espervamos que o "super-computador" nos retirase dali, Ami sintonizou a televiso japonesa.Com o seu bom humor abitual observava um programa de notcias. Aparecia um reporter que entrevistava,microfone na mo, as pessoas na rua. Uma senhora falava gesticulando e apontava para o cu. No entendinada, mas percebi que relatava seu encontro com o "ovni"... o nosso. Outras pessoas tambm comentavam suaverso do fenmeno.

    - O que esto dizendo? -perguntei.

    - Que viro um "ovni"... tem cada louco... -opinou sorrindo.

    Depois apareceu um senhor com culos que fazia desenhos num quadro-negro enquanto dava explies.

    Representava o sistema solar, a Terra e os demais planetas. Ficou falando muito tempo. Soube que era umcientista especialista em astronomia. Parecia que Ami entendia essa lngua, porque estava muito distradoolhando o programa, talvez utilizando o "tradutor".

    - O que est dizendo? -voltei a perguntar.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Que em funo de tudo o que explicou, est "cientificamente demonstrado" que no existe vida inteligentena galxia inteira, excetuando a Terra... Tambm disse que as pessoas que viram o suposto "ovni" sofreram umaalucinao coletiva, e lhes recomendou uma visita ao psiquiatra...

    - De verdade? -perguntei.

    - De verdade -respondeu rindo.

    O cientista continuava falando.

    - O que ele est dizendo agora?

    - Que possivelmente exista uma civilizao "to avanada" como esta, mas uma a cada duas mil galxias,segundo os clculos.

    - E isso que significa?

    - Que quando ele souber que somente nesta galxia existem milhes de civelizaes, o coitado vai ficarlouco, pior do que j est...

    Rimos um bom tempo. Para mim foi muito cmico, escutar um cientista dizendo que os "ovnis" noexistem... e eu olhando o programa de dentro de um "ovni".

    Ficamos aproximadamente uma hora naquele lugar, at que a luz da invisibilidade se apagou.

    - Estamos livres.

    - Ento podemos continuar passeando? -perguntei.

    - Claro. Aonde voc gostaria de ir agora?

    - Hummm... deixa eu ver... ilha de Pscoa!

    - L noite... veja -j tnhamos chegado.

    - Ilha da Pscoa?

    - Exatamente.

    - Que rpido!

    - Voc acha rpido? Espere... agora olhe pela janela.

    Estvamos sobre um deserto muito estranho. O cu estava muito escuro, quase negro, exceto pelo brilhoazulado da lua.

    - O que isto, Arizona?

    - Isto a lua.

    - A lua?

    - A lua.

    Olhei para o que pensei que fosse a lua.

    - ... Ento isso...

    - Isso a Terra.

    - A Terra!

    - A Terra. L dorme a sua vov...

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  • 8/9/2019 AMI o Menino Das Estrelas

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Estava fascinado. Era na realidade a Terra, tinha uma cor azul claro. Pareceu-me incrvel que uma coisato pequena pudesse conter tantas coisas grandes, montanhas, oceanos. Sem saber o porqu, apareciamimgens arquivadas em minha memria; recordei um riacho da minha infncia, uma parede coberta de musgo,umas abelhas num jardim, um carro de boi numa tarde de vero... tudo isso estava l, nesse pequeno globo azulque flutuava entre as estrelas.

    De repente vi o sol, um astro longnquo, mas bem mais incandescente do que na Terra.

    - Por que se v tudo pequeno?

    - Porque aqui no existe uma atmosfera que atue como lente de aumento, como lupa; por isso, na Terra sev maior do que aqui, mas se no fosse pelos vidros especiais desta nave, esse pequeno sol o queimaria,justamente porque no tem uma atmosfera que filtre certos raios que so nocivos para voc.

    No gostei dessa viso da lua. Vista da Terra parecia mais linda. Era um mundo solitrio, tenebroso.

    - No poderamos ir a um lugar mais bonito?

    - Habitado? -perguntou Ami.

    - Claro!... Mas sem monstros...

    - Para isso temos que ir bem longe.

    Mexeu nos controles, a nave vibrou suavemente, as estrelas se esticaram, transformando-se em linhasluminosas; depois, pelas janela apareceu uma neblina branca e brilhante que reverberava.

    - O que est acontecendo? -perguntei um pouco assustado.

    - Estamo-nos situando...

    - Situando onde?

    - Em um longnquo planeta. Temos que esperar uns minutos. Por enquanto, vamos escutar um pouco demsica.

    Ami tocou um pouco nos controles. Suaves e estranhos sons encheram o recinto. Meu amigo fechou osolhos e se disps a escutar com prazer.

    Eram todas bem diferentes das que eu havia conhecido at ento. De repente, uma vibrao muito baixa esustentada chegava a fazer vibrar a sala de comandos, depois uma nota agudssima soou, o silncio durava

    alguns segundos. Depois se escutavam notas rpidas que subiam e baixavam, outra vez a mais grave que seagudizava aos poucos, enquanto uma espcie de rugidos e alguns sininhos mantinham um rtmo variado.

    Ami parecia em xtase. Imaginei que conhecia muito bem aquela "melodia", porque com os lbios ou levesmovimentos de sua mo se adiantava o que escutaramos logo.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    Lamentei interromp-lo, mas no gostei nada daquela "msica".

    - Ami -chamei. No respondeu; estava muito concentrado nessa espcie de interferncia eltrica de umrdio de onda curta...

    - Ami -insisti.

    - Oh, desculpe!... sim?- Desculpe-me, mas eu no gosto.

    - Claro, natural; o desfrutar essa msica requer uma "iniciao" prvia... Vou procurar algo que lheparea mais conhecido. Tocou outro ponto dos controles. Surgiu uma melodia que me agradou imediatamente,tinha um ritmo muito alegre. O instrumento principal tinha o som parecido ao da chamin de um trem a vapor atoda velocidade.

    - Que agradvel!... Que instrumento esse que se parece a um trem?

    - Meu Deus! -exclamou Ami fingindo horror-, voc acaba de ofender a garganta mais privilegiada do meuplaneta, confundindo sua voz com o barulho de um trem!

    - Desculpe-me, por favor... no sabia... mas sopra mesmo bem! -disse, procurando consertar a situao.

    - Blasfemo! Herege! -fingia, puxando os cabelos- dizer que a glria do meu mundo... sopra!

    Terminamos explodindo em gargalhadas...

    Aquela msica animava a gente a danar.

    - Para isso foi feita -disse Ami- Dancemos! -levantou-se de um salto e comeiou a danar batendo palmas.

    - Dance, dance -animva-me- solte-se. Voc quer danar, mas aquilo que voc no , no lhe permite...aprenda a conquistar a liberdade de ser voc mesmo, libere-se...

    Deixei de lado a minha timidez natural e comecei a danar com grande entusiasmo.

    - Bravo! -felicitava-me.

    Danamos um bom tempo. Sentia-me alegre, foi como quando corremos e saltamos na praia. Depois amsica terminou.

    - Agora algo para nos relaxar -disse Ami, dirigindo-se para os controles. Apertou outro ponto e se escutouuma msica clssica. Pareceu-me familiar.

    - Ei, isso terrcola.

    - Claro, Bach, fabuloso, voc no gosta?

    - Acho que... sim. Voc tambm gosta?

    - Obviamente, ou no o teria na nave.

    - Pensava que tudo o que ns temos era "incivilizado" para os extraterrestres...

    - Voc est muito enganado -tocou outro ponto dos controles.

    "... imagine there's no countries it isn't hard to do..."

    - Mas esse John Lennon... Os Beatles...!

    Estava muito surpreso, porque comeava a pensar que na Terra no existia nada de bom.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Pedrinho, quando a msica boa, ela o universalmente. A boa msica da Terra colecionada emvrias galxias, assim como a de qualquer mundo e de qualquer poca. A mesma coisa acontece com todas asartes. Ns guardamos filmes e gravaes de tudo quanto se realiza no seu planeta... A arte uma linguagem deamor, e o amor universal... escutemos.

    "imagine all the people living life in peace..."

    Ami, com os olhos fechados, parecia desfrutar cada nota.

    Quando John Lennon terminou de cantar, j tnhamos chegado por fim a outro mundo habitado

    Segunda Parte

    Captulo 8 - Ofir!

    A neblina branca se evaporou. Uma atmosfera azul-celeste, de um tom forte, parecia flutuar ao redor, emvez de estar em cima, no cu, como na Terra; senti-me submerso em um azul quase fosforescente que nodificultava a visibilidade.

    Das janelas vi pradarias banhadas por um alaranjado suave. Fomos descendo pouco a pouco; parecia umamaravilhosa paisagem de outono.

    - Veja o sol -recomendou Ami. Um enorme crculo avermelhado se destacava no cu, tenuemente cobertopela atmosfera desse mundo. Formavam-se vrios crculos ao redor daquele sol descomunal. Era umascinqenta vezes maior do que o da Terra.

    - Quatrocentas vezes maior -corrigiu Ami.

    - No parece que to grande...

    - Porque est muito longe.

    - Que mundo este?

    - o planeta Ofir... Seus habitantes so originrios da Terra...

    - O qu! -surpreendeu-me tremendamente essa afirmao.

    - Existem tantas coisas que so desconhecidas no seu planeta, Pedrinho. Houve uma vez na Terra, h

    milhes de anos, uma civilizao semelhante sua. O nvel cientfico daquela humanidade tinha ultrapassadomuito o seu nvel de amor, e como alm disso eles estavam divididos, ocorreu o que era de se esperar...

    - Se autodestruram?

    - Completamente... Unicamente sobreviveram alguns indivduos que foram advertidos do que ia suceder efugiram para outros continentes; mas foram muito afetados pelas conseqncias daquela guerra, tiveram querecomear quase do princpio. Voc o resultado de tudo isso; voc descendente dos que sobreviveram.

    - incrvel; eu pensava que tudo tinha comeado como dizem os livros de histria, do zero, das cavernas,dos trogloditas... E as pessoas de Ofir, como chegaram at este planeta?

    - Ns as trouxemos. Salvamos todos aqueles que tinham setecentas medidas ou mais, as boas sementes...

    foram resgatadas um pouco antes que se produzisse o desastre. Salvaram-se muito poucos, a mdia evolutivadaquele tempo era de quatrocentas medidas, cem menos que hoje em dia. A Terra evoluiu.

    - E se acontecesse um desastre na Terra, vocs resgatariam alguns?

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    - Todos aqueles que superem as setecentas medidas. Desta vez h muito mais pessoas com esse nvel.

    - E eu, Ami, tenho setecentas medidas?

    Ele deu risada da minha preocupao.

    - Estava esperando a pergunta, mas j lhe disse que no posso responder isso.

    - Como se pode saber quem tem setecentas medidas ou mais?

    - muito fcil. Todos aqueles que trabalham desinteressadamente pelo bem do prximo, tm acima desetecentas medidas.

    - Voc disse que todos procuram fazer o bem...

    - Quando digo "o prximo", no quero dizer somente a prpria famlia, o clube, o prprio grupo. E quandodigo "bem", estou me referindo a tudo o que no vai contra a Lei fundamental do universo...

    - Outra vez essa famosa lei; voc pode me explicar agora qual essa lei?

    - Ainda no. Pacincia.

    - E por que to importante?

    - Porque quem no conhece essa Lei, no pode saber a diferena entre o bem e o mal. Muitos matamacreditando que estam fazendo o bem. Ignoram a Lei. Outros torturam, colocam bombas, criam armas, destroema natureza pensando que fazem um bem. O resultado que todos eles esto fazendo um grande mal, mas nosabem, porque desconhecem a Lei fundamental do universo... por isso, deveram pagar por suas violaes Lei.

    - Nossa! No teria imaginado nunca que fosse to importante...

    - Claro que importante. suficiente que as pessoas de seu planeta conheam e pratiquem a Lei, paraque seu mundo se transforme em um verdadeiro paraso...

    - Quando voc vai me dizer qual ?

    - Por enquanto, contemple o mundo de Ofir; tem muito para ensin-lo, porque aqui todos praticam essa Lei.

    Sentei-me numa poltrona perto dele para observar pela tela aquele maravilhoso planeta. Estava impacientepor ver os seus habitantes.

    amos lentamente, a uns trezentos metros de altura. Observei muitos objetos voadores semelhantes aonosso; quando se aproximaram, comprovei que tinham formas e tamanhos muito diferentes.

    No vi grandes montanhas naquele planeta, tambm no vi zonas desrticas. Tudo estava forrado devegetao em vrios tons, com diferentes matizes de verde, marrom e alaranjado em diferentes graus. Haviamuitas colinas, lagos rios e lagos de guas de um azul-celeste muito luminoso. Aquela natureza tinha algo deparadisaco.

    Comecei a distinguir edificaes que formavam crculos ao redor de uma construo principal. Havia muitaspirmides, algumas com escadas, outras lisas; com bases triangulares ou quadradas, mas o que mais havia erauma espcie de casas semicirculares de diversas cores claras, com predominncia do branco.

    Depois apareceram os habitantes daquele mundo. De cima eu os via transitar os caminhos, nadar nos riose lagoas, tinham aparncia humana, pelo menos vistos a distncia; todos vestiam tnicas brancas, somentecertos detalhes eram de outras cores: as franjas das bainhas ou os cintos.

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    AMI - O Menino das EstrelasEnrique Barrios

    No se via nenhuma cidade.

    - No existem cidades em Ofir nem em nenhum outro planeta civilizado. As cidades so formas pr-

    histricas de convivncia -disse Ami.

    - Por qu?

    - Porque elas tm muitos defeitos; um deles que muitas pessoas em um mesmo ponto produzem umdesequilbrio que afeta tanto a elas como ao planeta.

    - Ao planeta?

    - Os planetas so seres vivos, com maior ou menor evoluo. Somente vida produz vida. Tudo inter-dependente, e tudo est inter-relacionado. O que ocorre Terra afeta as pessoas que a habitam, e vice-versa.

    - Por que muitas pessoas em um mesmo ponto produzem um desiquilbrio?

    - Porque no so felizes, e isso a Terra percebe. As pessoas precisam de espao, rvores, flores, ar livre...

    - As pessoas mais evoluidas tambm? -perguntei confuso, porque Ami estava insinuando que associedades futuras viveriam em ambientes parecidos a "granjas", e eu pensava que ia ser exatamente o contrrio:cidades artificiais em rbita, enormes edifcios-cidades, metrpoles subterrneas, plstico por todos os lados;igual que nos filmes...

    - Sobretudo pessoas mais evoludas -respondeu.

    - Pensava que era o contrrio.

    - Se na Terra no pensassem tudo ao contrrio, no estariam a ponto de se destruir novamente...- E estas pessoas de Ofir, no querem voltar Terra?

    - No.

    - E por qu?

    - Ao deixar o ninho, os adultos no voltam ao bero, pequeno para eles...

    Quando nos aproximamos a umas construes de pouca altura e de estilo muito moderno, comeamos adescer.

    - Isto o que mais se parece a uma cidade em um pl