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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X AMORES E LESBIANIDADES 1 Danielly Christina de Souza Mezzari 2 Leonardo Lemos de Souza 3 Resumo: Este trabalho é resultado de uma pesquisa de mestrado em andamento que se propõe a pensar acerca dos relacionamentos amorosos entre mulheres. Utilizamo-nos da metodologia de Produções Narrativas a qual tem como proposta a produção de narrativas conjuntas com xs participantes da pesquisa. Participaram cinco mulheres. Assumimos que há uma configuração amorosa dominante que atua na constituição de normas, leis e também na conformação de identidades. Mas nos perguntamos também, e nos interessamos, pelas rupturas desse sistema. Não procuramos produzir oposições entre aquelas histórias e corpos considerados subversivos e aqueles considerados normalizados. Butler nos explica que uma norma impõe, de certa maneira, um regime de legibilidade e define os parâmetros do que será reconhecível ou não dentro de um determinado contexto. Desta maneira, estar fora da norma implica em estar, ainda assim, definido por ela de alguma forma. Apostamos no amor entre mulheres como uma possibilidade de romper com a produção do mesmo, de uma repetição, e de extrapolar os limites estabelecidos pelas normas vigentes. Da mesma maneira que vespas e orquídeas em seus encontros se proliferam na potência de um tornar-se outro acreditamos na potência das lesbianidades em produzir outros desejos, outras performances, outros amores. Palavras-chave: Lesbianidades, Amores, Narrativas. Este trabalho pretende apresentar os resultados de uma dissertação de mestrado que teve como objetivo pensar acerca das lesbianidades e dos relacionamentos amorosos entre mulheres. Trabalhamos por meio dos pressupostos da metodologia das Produções Narrativas (Balasch, Montenegro, 2003). Conversamos com cinco mulheres lésbicas sobre suas experiências e concepções e produzimos conjuntamente narrativas sobre suas histórias. Cada uma das narrativas têm a potência de evocar não um sujeito, mas sim uma rede de relações. 1. Produções Narrativas Para começarmos a pensar acerca das Produções Narrativas é importante situarmos o que compreendemos por narrativas. Como afirmam Passos e Barros (2009), tanto na clínica quanto na pesquisa estamos sempre tratando de narrativas, de modo que podemos pensar na existência de uma política de narratividade, de uma determinada maneira de nos posicionarmos quando definimos formas de expressão com relação ao mundo e a nós mesmas/os. Para Walter Benjamin (1994) o narrado é aquele que retira de suas experiências, ou das experiências de outras pessoas, o material para produzir suas próprias narrativas. Nesse sentido, a narrativa pressupõe uma experiência com o 1 Processo FAPESP n: 2014/26841-4. 2 Doutoranda na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis/SP. 3 Professor Doutor na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis/SP.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

AMORES E LESBIANIDADES1

Danielly Christina de Souza Mezzari2

Leonardo Lemos de Souza3

Resumo: Este trabalho é resultado de uma pesquisa de mestrado em andamento que se propõe a

pensar acerca dos relacionamentos amorosos entre mulheres. Utilizamo-nos da metodologia de

Produções Narrativas a qual tem como proposta a produção de narrativas conjuntas com xs

participantes da pesquisa. Participaram cinco mulheres. Assumimos que há uma configuração

amorosa dominante que atua na constituição de normas, leis e também na conformação de

identidades. Mas nos perguntamos também, e nos interessamos, pelas rupturas desse sistema. Não

procuramos produzir oposições entre aquelas histórias e corpos considerados subversivos e aqueles

considerados normalizados. Butler nos explica que uma norma impõe, de certa maneira, um regime

de legibilidade e define os parâmetros do que será reconhecível ou não dentro de um determinado

contexto. Desta maneira, estar fora da norma implica em estar, ainda assim, definido por ela de

alguma forma. Apostamos no amor entre mulheres como uma possibilidade de romper com a

produção do mesmo, de uma repetição, e de extrapolar os limites estabelecidos pelas normas

vigentes. Da mesma maneira que vespas e orquídeas em seus encontros se proliferam na potência de

um tornar-se outro acreditamos na potência das lesbianidades em produzir outros desejos, outras

performances, outros amores.

Palavras-chave: Lesbianidades, Amores, Narrativas.

Este trabalho pretende apresentar os resultados de uma dissertação de mestrado que teve

como objetivo pensar acerca das lesbianidades e dos relacionamentos amorosos entre mulheres.

Trabalhamos por meio dos pressupostos da metodologia das Produções Narrativas (Balasch,

Montenegro, 2003). Conversamos com cinco mulheres lésbicas sobre suas experiências e

concepções e produzimos conjuntamente narrativas sobre suas histórias. Cada uma das narrativas

têm a potência de evocar não um sujeito, mas sim uma rede de relações.

1. Produções Narrativas

Para começarmos a pensar acerca das Produções Narrativas é importante situarmos o que

compreendemos por narrativas. Como afirmam Passos e Barros (2009), tanto na clínica quanto na

pesquisa estamos sempre tratando de narrativas, de modo que podemos pensar na existência de uma

política de narratividade, de uma determinada maneira de nos posicionarmos quando definimos

formas de expressão com relação ao mundo e a nós mesmas/os. Para Walter Benjamin (1994) o

narrado é aquele que retira de suas experiências, ou das experiências de outras pessoas, o material

para produzir suas próprias narrativas. Nesse sentido, a narrativa pressupõe uma experiência com o

1 Processo FAPESP n: 2014/26841-4. 2 Doutoranda na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis/SP. 3 Professor Doutor na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis/SP.

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que seu narra. Quando contamos uma história estamos, ao mesmo tempo, apropriando-nos dela e a

impregnando com nossas experiências de modo que a história, em si, não é de ninguém, mas de

todas as pessoas que já a contaram. A experiência, nesta perspectiva, passa a ser concebida como

indissociável da produção de conhecimento. Viver é construir conhecimento, não simplesmente

armazenar, mas o incorporar no próprio ato de existir (Gonçalves, 2002). Os sujeitos não são meros

receptores, mas sim protagonistas de suas próprias realidades.

Dito isso, podemos nos debruçar sobre os pressupostos da metodologia de Produções

Narrativas. Na sua dimensão procedimental, ela consiste na realização de sessões de entrevistas

com as participantes e na posterior produção de narrativas conjuntas com a pesquisadora. Neste

trabalho optamos por produzir uma narrativa específica com cada uma das cinco participantes.

Realizamos sessões de entrevistas com cada uma delas para que pudessem falar acerca de suas

concepções sobre o amor e também sobre relacionamentos amorosos que já tiveram. Feito isso,

produzi uma narrativa acerca de cada uma das entrevistas e entreguei para que as participantes

pudessem ler, reescrever, questionar, retirar partes, enfim, para que pudessem reescrevê-las

conforme suas escolhas. Senti a necessidade, também, de entregar as narrativas com alguns

tensionamentos, perguntas, sobre questões que me surgiram ao ler esta primeira versão. As

participantes leram com interesse e curiosidade e alteraram o que acharam e incluíram o que

consideraram pertinente. Produzimos, então, uma versão final de cada uma destas narrativas. Elas

não são compreendidas como dados coletados, mas sim como uma maneira específica, singular, de

olhar para os fenômenos e estão suscetíveis de dialogar com outras narrativas da literatura

acadêmica (Fernandéz, Martínez, 2014).

As Produções Narrativas têm como fundamento a proposta de conhecimentos situados, de

Donna Haraway (1995), a qual assevera que o conhecimento se produz por meio de conexões

parciais, localizadas e encarnadas. A objetividade tem a ver com o reconhecimento da dimensão

corporificada e situada do conhecimento o que produz necessidade de se pensar na criação de redes

de conexões para a produção de conhecimento. O reconhecimento da parcialidade da perspectiva

que adotamos cria a possibilidade de se produzir conexões e articulações com outros pontos de

partida mediante os quais o conhecimento é possível (Balasch, Montenegro, 2003). No contexto das

Produções Narrativas, de acordo com Balasch e Montenegro (2003), os conhecimentos situados se

traduzem nas conexões parciais entre pesquisadora e participantes. Para além disso, as articulações

que se produzem neste processo não têm a pretensão de se configurar em uma representação da

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realidade, mas apostam na difração enquanto uma abertura para outros espaços de produção de

significados. A ênfase se concentra, deste modo, nos efeitos políticos do conhecimento produzido.

Um ponto importante destacado pelas autoras diz respeito à participação efetiva na pesquisa.

Para que uma pesquisa participante, de fato, se efetive, não basta o desejo de quem a propõe, é

preciso que haja um desejo e um engajamento também de quem participará. Balasch e Montenegro

(2003) nos advertem sobre o perigo de se partir do pressuposto de “dar voz” às participantes. A

ideia de que pesquisadoras/es possuem o poder de dar voz às pessoas que participarão de uma

pesquisa estabelece, de acordo ainda com as autoras, uma relação baseada na compreensão de que

são as/os pesquisadoras/es que possuem a legitimidade para dar ou não a palavra. Uma solução

encontrada para esta problemática, nas Produções Narrativas, é justamente a possibilidade de se

estabelecer conexões parciais com pessoas que se aproximam de alguma maneira dos fenômenos

que pretendemos pesquisar.

As narrativas produzidas não são reflexos do mundo interior das participantes e nem

reproduções de narrativas sociais hegemônicas. As entrevistas não são simplesmente momentos de

coletar dados, como se eles estivessem lá apenas à nossa espera. Os dados de uma pesquisa são,

pelo contrário, produzidos, inventados mesmo por meio da relação que se estabelece com cada

participante. Cada uma delas é produto da interação de uma infinidade de forças que remetem tanto

a estilos pessoais de cada pessoa envolvida quanto a contextos particulares e compartilhados.

Não tivemos como objetivo inserir os discursos das participantes em categorias que reflitam

supostos graus de subversão ou reprodução de normas vigentes. Fazê-lo seria pressupor que temos o

poder de decidir o que é válido e o que não é em experiências alheias. Acreditamos, na direção do

que propõe Suely Rolnik (2011) que não existe uma forma de expressão do desejo que seja, em si

mesma, libertária ou aprisionadora. O que nos interessa é, sobretudo, saber se uma determinada

configuração serve ou não de passagem para a expressão dos desejos. As narrativas não foram

trabalhadas, portanto, enquanto materiais a serem analisados, mas sim enquanto teorias situadas

(Guzmán, Montenegro, 2009). A legitimidade de cada uma delas, de acordo com as autoras, não se

dá por meio de critérios de coerência e rigor acadêmico, mas sim pelos conhecimentos e

experiências que cada participante vive e produz no seu cotidiano.

2. Pensando sobre o amor

Para Moreno e Sastre (2010) a dificuldade em definir o amor está ligada não só ao fato de

que ele não se refere unicamente a uma coisa, mas sim a um conglomerado de emoções e

sentimentos, mas também porque o amor varia de acordo com circunstâncias, tais como: o objeto a

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que se direciona, contextos e situações particulares em que a pessoa se encontra. Nesse sentido, para

estas pesquisadoras, não devemos pensar o amor como um sentimento, mas sim como um complexo

de sentimentos tanto tendo em vista a variedade que contempla quanto por nunca aparecer isolado

de outros sentimentos. Já o amor entre casais parece ser organizado por normas que divergem

sensivelmente (Moreno, Sastre, 2010). Para as autoras as principais características do amor

romântico se fundamentam nas crenças de que: se apaixonar é algo involuntário e que, portanto, não

depende de uma vontade própria; o amor pode tudo e justifica tudo; é suficiente e incondicional;

exclusivo e excludente.

Já para Martínez e Fernández (2014) o amor deve ser situado enquanto um fenômeno

histórico social, uma ideologia cultural que se realiza por meio de “experiências semiótico-materiais

encarnadas”, relacionando aspectos materiais, simbólicos e afetivos que atravessam o corpo. Pensar

o amor como, ao mesmo tempo, ação, emoção e sentimento, conforme assevera Esteban (2005),

possibilita pensar a análise do amor romântico, mais especificamente, como uma peça chave para

trazer à tona mecanismos presentes na subordinação das mulheres e também no funcionamento dos

sistemas de gêneros.

Uma proposta ainda mais potente, do nosso ponto de vista, é a de bell hooks4 (2012). Para a

autora, o fato de que todas as pessoas tenham um saber sobre o amor e, ainda assim, não haja o

menor consenso sobre o que ele significa é crucial na produção de violências em seu nome.

Precisamos pensar no amor mais enquanto uma ação na qual investimos do que como um

sentimento que nos acomete e que, portanto não temos nenhum controle sobre (hooks, 2012). Ao

partir desta premissa, precisamos assumir a responsabilidade pelo amor que praticamos, o que não

significa afirmar que temos como controlar nossos desejos ou escolher, de fato, para onde eles se

direcionam. Como nos explica Butler (2015), não podemos fazer um relato de nós mesmas/os fora

de uma estrutura de interpelação, de maneira que um relato de si nunca é capaz de expressar a

totalidade de um sujeito, já que sua história está sempre atrelada à história de um conjunto de

normas. Há sempre uma dimensão inenarrável na produção de um “eu”, como nos diz ainda Butler,

e estamos sempre, nesse sentido, vulneráveis, expostos ao “Outro”. Mas ao sugerir que o amor seja

pensado como uma ação e não como um sentimento hooks propõe que ele não é algo dado e

inevitável, é dependente também de um investimento e uma vontade de amar, de certa forma. E

4 bell hooks assina suas obras em minúsculo e faz questão de ser citada da mesma maneira. A autora acredita que seus

textos precisam ter mais destaque do que seu nome.

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também de um contexto social que produz e impõe, em grande medida, normas de como devem se

organizar as relações amorosas entre as pessoas e quais serão aquelas que terão mais legitimidade.

Com a intenção de pensar sobre as relações de gênero nos contextos amorosos Esteban

(2011), por meio do conceito de “pensamento heterossexual” de Monique Wittig, denomina de

pensamento amoroso a configuração específica de práticas amorosas que surge na modernidade e

vem se transformando até os dias atuais. Para a autora o pensamento amoroso é uma configuração

simbólica e prática que influencia diretamente na produção de normas, leis e também na

conformação de identidades sociais. Para além disso, por meio deste modelo se produz uma

expressão cultural das emoções que procura se converter em uma forma dominante de representar o

humano e se aplica de modos diferentes a homens e mulheres. A autora sublinha o fato de que o

pensamento amoroso é embasado em uma ordem heterossexual, a qual tem como consequência não

apenas privilegiar uma forma de expressão do desejo, mas também compreender as relações entre

masculino e feminino como dicotômicos e complementares.

O pensamento amoroso sentimentaliza as mulheres, que são pensadas como seres

incompletos e dependentes e, ao mesmo tempo, cria uma imagem de homens completos e

independentes (Esteban, 2011). Estas diferenças, como explica a autora, passam a ser justificadas

por meio de argumentos com bases na biologia e na fisiologia, de modo que o amor passa a ocupar

a posição central no que se convencionou chamar de subjetividade feminina. Este regime emocional

atravessa e, de fato, produz os corpos. A centralidade do romântico é fomentada nas mulheres por

meio da manipulação de seus organismos, organizando para determinadas direções nossa

capacidade tanto sensorial quanto cognitiva, ressaltando determinados órgãos e não outros,

determinadas habilidades ao invés de outras (Esteban, 2011). Trata-se da produção de um trabalho

físico que cria um tipo de consciência de si e do mundo tendo como parâmetro uma dada modelação

física e emocional.

Negri e Hardt (2016) asseveram que o amor tem a ver com a produção do comum e também

com a produção de subjetividade. Semelhante à proposta de hooks (2012), os autores afirmam que o

amor não acontece espontaneamente, mas é uma ação, um acontecimento biopolítico. É, portanto,

produtivo. Produz subjetividades ao criar novos sujeitos, mas também novos mundos. No entanto,

se o amor tem a ver com a constituição do comum, conforme acreditam os autores, ele é também

suscetível à corrupção, que se dá por meio da mudança do foco do comum para a produção do igual,

de uma repetição do mesmo (Negri, Hardt, 2016). O amor identitário é uma das formas corrompidas

do amor e se baseia na ideia de que devemos amar ao próximo, compreendido como aquele mais

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próximo de nós mesmas/os. Como exemplo de amor identitário os autores citam o amor familiar.

As identidades podem ser utilizadas, e frequentemente são, como mecanismos de opressão,

principalmente quando não problematizadas. Neste contexto é muito fácil que o “mais próximo” se

torne o “mesmo”, de modo que qualquer disparidade, qualquer diferença, seja compreendida como

uma ameaça. Nesse sentido, esta configuração não dá conta de se articular com a diferença.

Uma proposta dada pelos autores para se combater essa configuração do amor é justamente

subverter a interpretação acerca do “amor ao próximo” compreendendo-a como amar o mais

distante, como amar o outro. Nesse sentido o amor ao outro, ao estranho, à alteridade, pode

funcionar como uma solução ao amor identitário. O amor pode funcionar tanto como um modo de

resistir ao que está preso quanto como uma possibilidade de criar novos laços (Trindade, 2016). Ele

pode funcionar como potência de abertura para o novo. Negri e Hardt (2016) nos falam sobre a

fábula das vespas e orquídeas. As flores de algumas orquídeas possuem o formato de órgãos

genitais de vespas fêmeas e liberam o feromônio sexual delas. A polinização se dá pela introdução

do membro genital da vespa macho em cada flor e também pelo transporte do pólen que fica em seu

corpo.

Poderia se afirmar que a orquídea imita a vespa, no entanto, isso só se dá em um nível de

organização vegetal de um que imita a organização animal do outro (Deleuze, Guattari, 1995).

Trata-se, no entanto, conforme explicam os autores, de um devir-vespa da orquídea e de um devir-

orquídea da vespa. A fábula tem a ver com uma história de amor vespa-orquídea, como concluem

Negri e Hardt (2016) que se fundamenta em um encontro de alteridades e em um tornar-se outra

coisa. Acreditamos nos encontros, no amor entre mulheres, como uma potência de romper com a

produção do mesmo, de subverter as normas vigentes. Assim como vespas e orquídeas se

disseminam em um tornar-se outro, apostamos na potência das lesbianidades em produzir outros

desejos, outros amores.

3. Dialogando

3.1 Identidades

Podemos perceber, nas narrativas criadas com as participantes desta pesquisa, pontos de

resistência à fixidez de normas de gênero e sexualidade, mas também, por outro lado, momentos em

que é justamente por meio destas normas que elas atribuem sentido e legitimidade para suas

experiências. Por meio de um trecho da narrativa de Manoela podemos pensar sobre a relevância de

se flexibilizar a atribuição de rótulos para a produção de alternativas aos modelos de existência:

Não gosto muito de rótulos como lésbica, hetero, bi. Posso ser cada um

deles ou nenhum. Posso ser várias coisas. Identidade é uma palavra que não

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gosto. Essa ideia de ter que se ser fixo em relação ao sexo biológico ou aos

aspectos sociais e culturais me incomoda. Penso em um mundo em que as

pessoas deveriam nascer sem rótulos: HOMEM? MULHER? GAY?

TRANS? LES? BI? CIS? TRAVESTI? Acredito que deveríamos educar as

crianças desde seu nascimento sem essas categorias. Seja quem desejar ser,

se relacione com quem quiser, faça sexualmente o que aguentar....

Sinceramente desejo um mundo mais livre. (Manoela)

Manoela afirma também que pode deslizar pelos rótulos existentes, assumindo-os em

determinados momentos e negando-os em outros. Um grupo de ativistas lésbicas denominado

“LSD” mudava constantemente o nome do grupo justamente como uma estratégia para

problematizar os limites da identidade (Trujillo, 2008). Ao fazê-lo, como nos explica a autora, o

grupo produzia uma crítica às identidades, mas também possibilidades de negociações com estas. A

utilização de estratégias hiperidentitárias é um modo de reivindicar a diferença enquanto forma de

protesto.

Uma das problemáticas levantadas pelas participantes com relação às identidades foi a

dificuldade em ser lésbica e não se encaixar nos estereótipos existentes sobre o que é sê-lo. Ana,

uma das participantes, alega que encontra dificuldades nos seus relacionamentos pessoais e

profissionais justamente por não ser lida como lésbica e, por conta disso, precisar marcar

constantemente o fato de que se relaciona com mulheres e não com homens:

Pra mim, sinto essa dificuldade maior, por cansaço de discurso mesmo.

Ouvir ‘mas será? Você nem parece’ e além disso, a visão do homem acaba

sendo muito cheia de fetiches. Esse é o real motivo pelo qual não exponho

minha sexualidade, pois ela vem embutida com o próprio machismo e

também o racismo. Falar que se tem uma relação com uma mulher,

contendo atributos tão femininos me abriram para assédios de homens, e

para as mulheres, um distanciamento, uma falta de confiança, sobretudo,

mulheres casadas. (Ana)

Uma das premissas aceitas sobre as lésbicas é a de que desde que não rompamos com

modelos de feminilidade hegemônicos seremos aceitas. Ana aponta para o engodo que pode rondar

esse pressuposto ao nos falar sobre o que chama de uma visão cheia de fetiches por parte dos

homens. Na mesma direção Raquel Platero (2008) alega que a representação de lésbicas em meios

de comunicação estão comumente assentadas sobre imagens estereotipadas, pensadas para um

público heterossexual e que têm como característica fundamental uma ênfase na feminilidades

destes corpos que devem servir ou como objeto de desejo masculino ou como atendendo a padrões

estipulados para as mulheres: serem esposas e mães.

3.2 Discriminação

Normas sexuais e de gênero operam conformando todos os corpos em um padrão, não

apenas aqueles que não apresentam uma linearidade entre sexo-gênero-desejo. Nesse sentido, a

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heteronormatividade tem a ver com imposições e expectativas, provenientes do pressuposto da

naturalidade da heterossexualidade, de que as pessoas, independentemente de suas orientações

sexuais, organizem suas vidas por meio de um modelo específico. Dessa maneira, sabemos que

pessoas que não são heterossexuais são coagidas a, ao menos, parecerem sê-lo. Malu, uma das

participantes, aponta para essa problemática ao situar a maneira como é tratada em diferentes

espaços:

É diferente a maneira como me tratam aqui na Universidade e no parque

onde corro todos os dias, por exemplo. Sinto que as pessoas me olham com

curiosidade, até porque tenho o cabelo curto, não uso roupas consideradas

femininas. Mas sinto também um olhar de repreensão. Já quando estou com

a minha namorada é bem pior, olham para nós duas com desprezo. (Malu).

A apropriação de modelos de masculinidade por corpos marcados como femininos é

considerada uma ameaça em sociedades nas quais a diferença de gênero é uma norma fundamental

(Platero, 2009). A autora nos explica que as mulheres que se apropriam de masculinidades acabam

por romper ou questionar esquemas binários, o pressuposto da diferença sexual e também da

heterossexualidade e, por esse motivo, encontram resistências às suas existências por aquelas e

aqueles que se pretendem guardiãs e guardiões das fronteiras destas normas.

Bruna Andrade Irineu (2015) relata um episódio em que sofreu lesbofobia:

Recordo de uma discente do curso em que leciono que, demasiadamente

incomodada, me interpela: ‘professora, eu queria te fazer uma pergunta,

sem querer ofender você.’. Antes que eu respondesse, olhando-me dos pés à

cabeça, ela continua: ‘você não tem vergonha de ser assim? Eu gosto muito

do seu trabalho e da sua aula mas, assim, eu acho que você deveria vir para

universidade vestida de outro jeito, não tão diferente das nossas

professoras?’. Eu – a Outra - vestia-me de camiseta, bermudas e sandálias

sem salto, enquanto elas – as nossas professoras – vestem-se com saias,

vestidos e sapatos de saltos. (Pág. 240).

Irineu nos diz que este episódio é representativo de uma estratégia de humilhação que tem

como objetivo constranger e aterrorizar um Outro socialmente produzido. Na mesma direção

Berenice Bento (2011) nos explica que “as reiterações que produzem os gêneros e a

heterossexualidade são marcadas por um terrorismo contínuo. Há um heteroterrorismo a cada

enunciado que incentiva ou inibe comportamentos, a cada insulto ou piada homofóbica” (pág. 552).

Tendo em vista que as práticas sexuais se dão comumente em espaços privados, Bento afirma que o

controle da heterossexualidade acabar por se localizar no gênero. Se nos dias atuais boa parte das

pessoas não se sente autorizada a assumir, mesmo para si próprias, que odeiam alguém por não ser

heterossexual, ainda assim elas acabam encontrando subterfúgios para exercer o ódio (Schulman,

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2009). A autora nos conta que, certa vez, uma colega hetero lhe disse que não odiava sua

lesbianidade, mas sim suas roupas.

Um outro tipo de manifestação da lesbofobia é a que relata Noeli:

Mas no ambiente de trabalho, por exemplo, percebia que as

pessoas ignoravam meu relacionamento, não perguntavam

absolutamente nada sobre minha namorada, enquanto para uma

outra colega de trabalho que namorava um homem sempre

perguntavam sobre seu relacionamento, faziam brincadeiras sobre

quando iriam se casar e coisas do tipo. (Noeli).

Podemos pensar que para além da invisibilização dos relacionamentos não heterossexuais há

também a produção de uma vulnerabilidade em diversos contextos. Quando tornamos um

determinado assunto ou fenômeno um tabu, as pessoas que o vivenciam acabam por ter que lidar

com situações de sofrimento muitas vezes sem nenhum amparo social. Para além disso, como nos

diz Platero (2009) este silenciamento gera também um afastamento das pessoas LGBTs de suas

famílias e também de outros vínculos pessoais que se transformam em modos de legitimar a

heteronormatividade.

3.3 Amor

Aquilo que entendemos por amor está atravessado também pela produção de discursos

hegemônicos e também por experiências as mais diversas. Como afirma Butler (2006) o “eu” é

dependente das normas que o constituem mas, para além disso, opera uma relação crítica e

transformadora com essas normas.

De acordo com a participante Marta:

O amor para mim é um sentimento de carinho com outra pessoa. Mais

especificamente em relacionamentos, é algo que só vem a somar na nossa

vida e não ser algo imposto e que nos faça mal. Acredito que quando duas

pessoas se amam elas fazem tudo o que é possível para não magoar o/a

parceiro/a, pois não há como ficar feliz vendo a pessoa que você ama

triste... (Marta).

Para bell hooks (2012), conforme já dito neste trabalho, é preciso conceituar o amor para

evitar a perpetuação de violências em seu nome. A autora nos explica que é mais cômodo partirmos

do pressuposto de que cada pessoa cria sua própria definição acerca do amor porque assim não

precisamos ter que lidar com nossas próprias carências e com o fato de que podemos não ter sido

amadas nos mais diversos contextos, tais quais a família, por exemplo.

As cinco participantes desta pesquisa alegam que o amor entre mulheres é sempre mais

cuidadoso, mais afetuoso e, por isso, mais livre. Podemos perceber que as concepções de gêneros

atravessam as formas como elas experienciam e significam seus relacionamentos amorosos. Apesar

de todas concordarem nesse ponto, elas criam explicações diferentes para isso:

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[...] percebo que o respeito entre duas mulheres é maior. Por sentirem as

mesmas opressões e por compreenderem melhor o corpo uma da outra.

Coisas do tipo que me fazem crer que, por se parecerem e por passarem por

situações parecidas, as mulheres se relacionam melhor. (Malu).

Dos meninos que já namorei nenhum se compara a pior das minhas

namoradas no aspecto de carinho e companheirismo. Vejo meus amigos

gays transando casualmente com uma facilidade e naturalidade que não

vejo acontecer entre as lésbicas. Acredito que deva haver uma explicação

biológica para isso, mas vejo que os gays se importam menos em conhecer

com quem vão transar e a transa se torna o objetivo do contato. (Noeli).

Apesar de Malu e Noeli concordarem que em um relacionamento entre mulheres há mais

companheirismo, respeito, Malu atribui essa diferença à existência de sistemas de opressão que

criam determinados modos de estar no mundo para homens e mulheres. Já Noeli relaciona esse

fenômeno a aspectos biológicos, essenciais das mulheres.

4. Conclusões

Pensar sobre os gêneros e as sexualidades implica necessariamente em aceitar o desafio de

rever nosso próprio lugar nas relações, bem como resistir a processos de opressão cotidianos que

insistem em nos capturar. Estudar sobre o amor nos leva a perceber o quanto ele pode atuar, e

muitas vezes atua, de maneira a aprisionar principalmente as mulheres na produção de um desejo

compulsório por uma configuração específica de relacionamentos e também de modos de viver. Ao

perceber isso, podemos começar a nos engajar em práticas amorosas que desconstruam esses

moldes aprisionadores.

Tivemos a oportunidade, com as participantes desta pesquisa, de criar e vislumbrar

experiências e produções singulares. Percebemos que, se em alguns momentos elas se organizaram

em torno de práticas já bem estabelecidas também pudemos encontrar movimentos de

questionamentos e resistências à processos de opressão e violência. Todas essas experiências se

atravessam e produzem corpos também singulares que não se fazem unicamente por meio dos

gêneros e das sexualidades.

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Loves and Lesbianities

Astract: This work is the result of a master's degree research in progress that aims to think about

the relationships between women. We use the Narrative Productions methodology which proposes

the production of joint narratives with participants of the research. Five women participated. We

assume that there is a dominant love configuration that acts in the constitution of norms, laws and

also in the conformation of identities. But we also ask, and we care, about the ruptures of this

system. We do not try to produce oppositions between the histories and bodies considered

subversive and those considered normalized. Butler explains that a rule imposes, in a certain way, a

readability regime and defines the parameters of what will be recognizable or not within a given

context. In this way, to be outside the norm, for the author, implies to be, nonetheless, defined by

her in some way. We bet on the love between women as a possibility to break with the production

of the same, a repetition, and to extrapolate the limits established by the norms in force. In the same

way that wasps and orchids in their encounters proliferate in the power of one becoming another we

believe in the power of lesbianities in producing other desires, other performances, other loves.

Keywords: Lesbianities, Love, Narratives.