Ana Catarina Afonso As interações de alunos do 3.º ano na ... · Apresentação e...
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Universidade de Aveiro
Ano 2013
Departamento de Educao
Ana Catarina Afonso Sousa
As interaes de alunos do 3. ano na produo de textos informativos
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Universidade de Aveiro
Ano 2013
Departamento de Educao
Ana Catarina Afonso Sousa
As interaes de alunos do 3. ano na produo de textos informativos
Relatrio de Estgio apresentado Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1. Ciclo do Ensino Bsico, realizado sob a orientao cientfica da Professora Doutora Maria Lusa lvares Pereira, Professora Auxiliar do Departamento de Educao da Universidade de Aveiro
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Dedico este trabalho aos meus pais, que em tudo me tm apoiado; minha
irm, que todos os dias me revela novos mundos e me envolve nas suas
conquistas; ao meu namorado, que aprendeu a superar as minhas ausncias e
que sempre me encoraja e motiva.
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o jri
Presidente Prof. Doutora Maria Gabriela Correia de Castro Portugal Professora Associada do Departamento de Educao da Universidade de Aveiro
Doutora Luciana Manuela de Almeida Graa Bolseira de Ps-Doutoramento do Departamento de Educao da Universidade de Aveiro (arguente)
Prof. Doutora Maria Lusa lvares Pereira Professora Auxiliar do Departamento de Educao da Universidade de Aveiro (orientadora).
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agradecimentos
Um especial obrigada aos principais atores deste estudo, os alunos do 3. ano, pelos desafios lanados, pelas aprendizagens alcanadas e pelas alegrias partilhadas. Professora Lusa lvares Pereira, pelo acompanhamento e estmulo, pelos dilogos ricos e reflexivos e pela partilha de recursos do longo de todo o processo. Professora Margarida Rodrigues, enquanto orientadora cooperante da Prtica Pedaggica Supervisionada, pela confiana, apoio e partilha da sua experincia. minha colega de Prtica Pedaggica, Alexandra Ramos, pelo apoio, por todas as palavras de incentivo, pelos longos momentos de reflexo e pela disponibilidade para ouvir os meus desabafos e relativizar situaes. A Educadora Laura Abade, por anteriores partilhas e conquistas, pela constante disponibilidade e ateno e pelas palavras de amizade e encorajamento. minha famlia e namorado, a quem dedico este trabalho.
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palavras-chave
Interao, colaborao, (re)escrita, reflexo.
resumo
O presente trabalho estudou a temtica da escrita colaborativa com alunos do
3. ano do 1. Ciclo do Ensino Bsico, focando a sua anlise nos dilogos
emergentes durante a reescrita de textos informativos.
Para tal estudo, foram recolhidos os dilogos desenvolvidos aquando da
execuo da tarefa, sendo atravs deles analisadas as dinmicas de dilogo,
tentando compreender em que reas lingusticas os alunos focam a sua
ateno assim como de que forma expem as suas propostas e opinies.
Atravs dos dilogos, analisou-se ainda o tipo de interao desenvolvida pelo
par, concluindo-se que, de forma geral, todos os pares apresentam
caractersticas referentes a dinmicas de colaborao, registando-se valores
de aceitao das propostas superiores aos de no-aceitao.
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Keywords
Interaction, collaboration, (re) writing, reflection.
Abstract
The present work studied the theme of collaborative writing with students from
the 3.rd year
of Primary School, paying attention to emerging dialogues during the
rewriting of informational texts.
For this study, we gathered dialogues developed during the execution of the task
and analysed the dynamics of dialogue, trying to understand which language
areas the students focus their attention on, as well as how they present their
proposals and opinions.
Through the dialogues, we also analysed the type of interaction developed by the pair, concluding that, in general, all pairs have characteristics for collaboration, registering values of acceptance of proposals superior to non-acceptance.
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viii
ndice
ndice de figuras ..................................................................................................................... x
ndice de grficos .................................................................................................................. xi
ndice de tabelas ................................................................................................................. xiii
Introduo geral ................................................................................................................... 16
Captulo I ............................................................................................................................. 20
Enquadramento terico ........................................................................................................ 20
1. Didtica da escrita ................................................................................................................ 22
1.1. Anterior perspetiva do ensino da escrita ............................................................ 22
1.2. A relao entre a leitura e a escrita .................................................................... 23
1.3. Complexidade da tarefa de escrita ..................................................................... 24
1.4. Socializao dos escritos ................................................................................... 26
2. Aprendizagem colaborativa ................................................................................................ 28
2.1. Aprender em interao ....................................................................................... 28
2.2. A importncia da linguagem na interao ......................................................... 30
2.3. Reviso e reescrita em colaborao ................................................................... 33
Captulo II ............................................................................................................................ 36
Orientaes metodolgicas .................................................................................................. 36
1. Tipo de investigao ............................................................................................................ 38
2. Objetivos do estudo ............................................................................................................. 40
3. Contexto do estudo .............................................................................................................. 41
4. Constituio e caracterizao dos pares ............................................................................ 43
5. Sequncia de ensino ............................................................................................................. 51
6. Estratgias e instrumentos de recolha de dados ............................................................... 60
7. Descrio das etapas de registo e anlise .......................................................................... 62
7.1. Tabela de anlise das situaes interaes ........................................................ 63
7.2. Dinmica de escrita ........................................................................................... 64
7.3. Tipos de interao .............................................................................................. 67
7.4. Reflexo durante o processo de escrita .............................................................. 70
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ix
Captulo III ........................................................................................................................... 74
Apresentao e interpretao dos dados .............................................................................. 74
1. Dinmica de escrita .............................................................................................................. 76
2. Tipo de interao .................................................................................................................. 90
3. Reflexo durante o processo de escrita ........................................................................... 112
Captulo IV......................................................................................................................... 132
Concluses finais ............................................................................................................... 132
Referncias bibliogrficas .................................................................................................. 142
Anexos ............................................................................................................................... 148
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x
ndice de figuras
Figura 1 Articulao entre o tipo de facilitao e o tipo de relao (Pontecorvo, 1988, in
Aleixo, 2001). ...................................................................................................................... 31
Figura 2 Sequncia de ensino. ............................................................................................ 51
Figura 3 Registo do esquema comparativo das caractersticas dos dois tipos de texto. ..... 52
Figura 4 Esquema sntese da categorizao da informao contida no texto As cegonhas.
.............................................................................................................................................. 53
Figura 5 Pargrafo analisado em grupo-turma. .................................................................. 57
Figura 6: Esquema representativo do desenrolar do processo de escrita do par S&B. ...... 79
Figura 7: Esquema representativo do desenrolar do processo de escrita do par L&P. ....... 82
Figura 8: Esquema representativo do desenrolar do processo de escrita do par M&AS. ... 84
Figura 9: Esquema representativo do desenrolar do processo de escrita do par F&R. ...... 87
file:///C:/Users/Sony/Desktop/dissertao%20de%20mestrado/RelatrioEstagio_Ana%20CatarinaSousa45912SemAnexos.docx%23_Toc372214966
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xi
ndice de grficos
Grfico 1: Distribuio do tempo de interao dos vrios pares em anlise. ..................... 76
Grfico 2: Distribuio do tempo de interao do par S&B. ............................................... 78
Grfico 3: Distribuio do tempo de interao do par L&P. ............................................... 81
Grfico 4: Distribuio do tempo de interao do par M&AS. ........................................... 83
Grfico 5: Distribuio do tempo de interao do par F&R. ............................................... 86
Grfico 6: Distribuio das intervenes dos vrios pares pelas categorias de anlise das
interaes. ........................................................................................................................... 90
Grfico 7: ndices de aceitao, recusa e ignorao presentes nas interaes dos vrios
grupos. ................................................................................................................................. 91
Grfico 8: Distribuio das intervenes dos elementos do par S&B pelas vrias categorias
de anlise da interao. ....................................................................................................... 93
Grfico 9: ndices de aceitao, recusa e ignorao presentes na interao do par S&B .. 96
Grfico 10: Distribuio das intervenes dos elementos do par L&P pelas vrias categorias
de anlise da interao. ....................................................................................................... 97
Grfico 11: ndices de aceitao, recusa e ignorao presentes na interao do par L&P100
Grfico 12: Distribuio das intervenes dos elementos do par M&AS pelas vrias
categorias de anlise da interao. ................................................................................... 102
Grfico 13: ndices de aceitao, recusa e ignorao presentes na interao do par M&AS
............................................................................................................................................ 105
Grfico 14: Distribuio das intervenes dos elementos do par F&R pelas vrias categorias
de anlise da interao. ..................................................................................................... 106
Grfico 15: ndices de aceitao, recusa e ignorao presentes na interao do par F&R110
Grfico 16 Nveis de reflexo dos vrios grupos em anlise. ............................................ 113
Grfico 17 Nveis de reflexo ao longo das vrias fases e momentos de produo escrita do
par S&B. ............................................................................................................................. 115
Grfico 18 reas lingusticas e nveis de reflexo presentes nas refleces relativas
formatao textual do par S&B. ........................................................................................ 116
Grfico 19 Nveis de reflexo ao longo das vrias fases e momentos de produo escrita do
par L&P. .............................................................................................................................. 118
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xii
Grfico 20 reas lingusticas e nveis de reflexo presentes nas refleces relativas
formatao textual do par L&P. ......................................................................................... 119
Grfico 21 Nveis de reflexo ao longo das vrias fases e momentos de produo escrita do
par M&AS. .......................................................................................................................... 122
Grfico 22 reas lingusticas e nveis de reflexo presentes nas refleces relativas
formatao textual do par M&AS. ..................................................................................... 123
Grfico 23 Nveis de reflexo ao longo das vrias fases e momentos de produo escrita do
par F&R. ............................................................................................................................. 126
Grfico 24 reas lingusticas e nveis de reflexo presentes nas refleces relativas
formatao textual do par F&R. ........................................................................................ 127
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xiii
ndice de tabelas
Tabela 1: Normas de transcrio das interaes ................................................................. 60
Tabela 2: Tabela ilustrativa da tabela de anlise ................................................................ 63
Tabela 3: Fases e momentos do processo de escrita ........................................................... 64
Tabela 4: Categorias de anlise da interao relativamente sua rentabilidade ................ 65
Tabela 5: Origem dos excertos propostos do par S&B. ...................................................... 95
Tabela 6: Origem dos excertos propostos do par L&P. ...................................................... 99
Tabela 7: Origem dos excertos propostos do par M&AS. ................................................ 104
Tabela 8: Origem dos excertos propostos do par F&R. .................................................... 109
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xiv
Lista de anexos
Anexo 1 Fabula A raposa e a cegonha
Anexo 2 Texto informativo As cegonhas
Anexo 3 Texto mentor do tipo informativo sobre Aveiro
Anexo 4 Tabela de sistematizao das informaes contidas no texto mentor
Anexo 5 Texto construdo com recurso a excertos dos textos individuais dos alunos
Anexo 6 Texto reescrito em grupo-turma na aula de 19 de novembro
Anexo 7 Tabela de conetores construda durante a aula de 19 de novembro
Anexo 8 Transcries integrais das interaes decorridas durante a reescrita do texto
informativo
Anexo 9 Tabela de anlise das situaes de interao
Anexo 10 Tabela de registo das categorias de anlise do tipo de interao
Anexo 11 Tabela de registo da reflexo durante o processo de escrita
Anexo 12 Tabela de anlise da reflexo relativa formatao textual
Anexo 13 Tabela de registo da reflexo relativa formatao textual
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16
Introduo geral
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17
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18
Desenvolvida no mbito da unidade curricular de Prtica Pedaggica Supervisionada
A2 (PPSA2), a interveno apresentada e analisada ao longo deste trabalho ocorreu no
contexto da aplicao de uma sequncia de ensino (SE) desenvolvida numa turma de 3. ano.
Tal sequncia, planeada e concebida em colaborao com a minha colega de dade,
Alexandra Ramos (2013), incidiu sobre a rea da lngua portuguesa especificamente, sobre
o estudo do texto informativo -, ao mesmo tempo que promoveu a aquisio de
conhecimentos de estudo do meio, relativos temtica em estudo, O Patrimnio local. No
decorrer de tal sequncia, foram recolhidos dados que permitiram o desenvolvimento de dois
estudos de cariz complementar, concretizando-se o presente relatrio no estudo e na anlise
das interaes emergentes durante a reescrita colaborativa dos textos informativos, ocorrida
na ltima fase da SE.
Deste modo, o presente relatrio organiza-se em quatro captulos, sendo o primeiro
referente ao enquadramento terico, que suporta as anlises e as concluses apresentadas em
captulo posterior. Este mesmo captulo encontra-se dividido em dois pontos, abordando o
primeiro a didtica da escrita e os princpios que norteiam atualmente o ensino da escrita;
enquanto o segundo se centra na aprendizagem colaborativa e nos seus benefcios no s
sociais e de apoio na aquisio de conhecimentos como tambm na reviso textual.
Posteriormente, o captulo dois debrua-se sobre a metodologia de anlise dos dados
recolhidos, apresentando o contexto de implementao da interveno, descrevendo a SE
concretizada e os instrumentos de recolha de dados, durante a sua implementao. Neste
captulo, apresentam-se tambm os objetivos que orientaram a anlise de dados bem como os
vrios instrumentos de anlise utilizados. Assim, no captulo seguinte, desenvolve-se a
anlise dos dados recolhidos, tecendo-se algumas consideraes retomadas posteriormente,
aquando da apresentao das concluses do estudo desenvolvido. A anlise, com vista a dar
resposta aos objetivos definidos, subdivide-se em trs pontos contidos neste captulo do
relatrio. Por fim, no captulo quatro, e retomando alguns fundamentos tericos e as
consideraes tecidas ao longo da anlise de dados, so apresentadas as concluses do estudo
realizado. Estas encontram-se organizadas em grandes concluses, transversais a todos os
grupos, e em concluses mais especficas, referentes s particularidades de cada grupo,
tentando deste modo retratar a realidade geral, mas tambm evidenciando os vrios grupos
inseridos nessa realidade. De uma forma sucinta, neste captulo, so tambm abordadas
possveis intervenes pedaggicas futuras, que, embora se dirijam s particularidades do
contexto de estudo e s dificuldades observadas durante a tarefa de reviso e reescrita destes
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alunos em especfico, podero, com as devidas adequaes, serem executadas noutros
contextos, promovendo o desenvolvimento de capacidades de escrita nos alunos.
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Captulo I
Enquadramento terico
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1. Didtica da escrita
1.1. Anterior perspetiva do ensino da escrita
Considerada at dcada de 70 do sculo XX como uma competncia estilstico-
literria, a produo escrita era entendida, sobretudo, como uma atividade decorrente da
leitura - especialmente, de textos literrios - e da prtica de exerccios parcelares de
gramtica. Assim sendo, a iniciao escrita decorria muitas vezes de exerccios de ditado e
cpia, garantindo a aquisio e interiorizao dos aspetos ortogrficos da lngua. Da mesma
forma, esperava-se que, ensinando-se a correta estrutura frsica, os alunos conseguissem
utilizar os conectores e a pontuao adequados estrutura do texto, produzindo, deste modo,
textos coesos, que exteriorizassem o discurso interno atravs das convenes da escrita (Niza,
Segura & Mota, 2011; Niza, 2005).
De acordo com Niza et al. (2011) e com Niza (2005), os professores de Lngua
Portuguesa entendiam que o seu contributo no processo de desenvolvimento da escrita
resultava das correes escritas dos textos dos alunos. Desta forma, e negligenciando o
processo de produo escrita, os docentes limitavam-se a corrigir o produto, muitas vezes de
forma superficial, descurando as grandes questes de estruturao textual comandadas e
moldadas, fundamentalmente, pela intencionalidade comunicativa (2011: 7). Este processo
de correo , no entanto, moroso e pesado, pelo que, muitas vezes, ocorria esporadicamente,
restringindo-se aos momentos de avaliao, ou seja, existiam poucas oportunidades de o
aluno contactar de uma forma refletida com os comentrios corretivos e normativos do
professor, melhorando atravs da reescrita o seu texto, antes de este ser avaliado.
Nas ltimas dcadas, porm, com o surgimento de perspetivas pedaggicas
fundamentadas em estudos da psicologia da escrita, ligadas ao construtivismo, e s
aprendizagens sociais da escrita, os processos de ensino-aprendizagem tm sido revistos,
passando a dar-se especial nfase forte interao vinculativa da escrita com a leitura, no
mbito das actividades que utilizam a lngua escrita, e [] relevncia da dimenso social da
actividade de escrever como construo partilhada por uma comunidade de linguagem
(Niza, 2005: 109). Segundo Vygotsky, Luria e Leontiev (citados em Niza et al., 2011), a
escrita emerge do discurso interior, gerador de pensamento verbal, incorporado pela criana
atravs de interaes sociais estabelecidas com o contexto em que est inserida. No sendo
uma representao direta do mundo, a escrita constitui-se, deste modo, como uma
representao da fala, podendo ser entendida como um dispositivo complementar da
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oralidade, enquanto ato de comunicao. A escrita apresenta-se, assim, como transformadora
da conscincia humana, permitindo novas realizaes lingusticas e cognitivas, [o que]
transforma a fala e a linguagem em objetos de reflexo e anlise (Niza et al., 2011: 12).
As autoras do Guio de Implementao do Programa de Portugus no Ensino Bsico,
referente escrita (Niza et al., 2011), reconhecem, por sua vez, que, desde os Programas de
Lngua Portuguesa de 1991, para a escolaridade obrigatria, se observaram diversas
mudanas, no sentido de se desenvolver a produo escrita, enquanto geradora de
conhecimento. Para alm da j referida interao com a leitura e da dimenso social da
escrita, ainda assinalada a necessidade da adoo de prticas cooperativas de correo e de
melhoria dos textos em ambiente facilitadores de produo escrita. Niza (2005) alega,
contudo, que o tempo decorrido desde as primeiras investigaes relativas aos processos de
ensino-aprendizagem da escrita no ter sido o suficiente para alterar as prticas de ensino
tanto nas escolas como nas instituies de formao de docentes, continuando a observar-se o
uso de tarefas redutoras da aprendizagem da escrita, como a cpia e o ditado, que
dificilmente ajudam as crianas a adquirir competncias reflexivas e a entender a escrita
como um complexo ato comunicacional, que necessita de se adequar ao contexto e aos
possveis destinatrios.
1.2. A relao entre a leitura e a escrita
Tradicionalmente, o ensino da escrita advinha do ensino da leitura; contudo, Pereira e
Azevedo (2005: 13) afirmam que a escrita se aprende com passos prprios e com exerccios
e metodologias especficos. A aprendizagem da leitura est, no entanto, diretamente ligada
escrita, pois, segundo Niza (2005), ocorre muitas vezes durante a produo escrita, atravs de
processos de segmentao e anlise que conduzem apreenso do sentido fontico e
contribuem para a construo da significao da linguagem escrita, ou seja, a produo
escrita constri a compreenso da escrita: a leitura (Niza, 2005: 118). Rijlaarsdam afirma
mesmo que h mais transfer da escrita para a leitura do que o contrrio (como citado em
Niza et al., 2011: 13), uma vez que a leitura integra todas as atividades de produo escrita
com propsito comunicacional, atravs da reviso e reescrita, mas o inverso no se verifica
(Pereira, 2008).
Porm, a leitura promove tambm o desenvolvimento da escrita. Contribuindo para o
enriquecimento cultural do aluno e fornecendo modelos de escrita, a leitura encarrada como
verdadeiro instrumento de escrita, apenas quando desconstri os textos, pondo em evidncia a
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sua organizao e composio e quando promove a diversidade discursiva, alargando os
conhecimentos relativos aos tipos de texto e permitindo ao aluno diversificar as suas
produes, adequando-as aos objetivos e aos possveis destinatrios (Pereira & Azevedo,
2005).
Como parte integrante do processo de escrita, a leitura desempenha igualmente o papel
de avaliadora dos escritos, implicando no s a compreenso do texto e a sua significao
mas tambm identificando falhas ou incongruncias que este possa conter - nomeadamente,
aspetos ortogrfico e estilsticos, como a adequao ao gnero de texto e ao possvel
destinatrio. Cumpre, deste modo, uma tarefa fundamental na reviso e na reescrita textuais,
antecipando possveis dificuldades que a leitura do seu texto por outros possa desencadear
(Niza et al., 2011; Pereira, 2008).
A leitura promove, ainda, o enriquecimento do capital lexical dos leitores bem como o
desenvolvimento da sua conscincia lexical. Por conseguinte, e uma vez que as crianas,
entrada na escola, ainda no possuem um conjunto alargado de palavras que conhecem e
utilizam frequentemente, necessrio incentivar a leitura, de forma a promover ao mximo o
enriquecimento do seu capital lexical. Esta deve, porm, assumir duas vertentes principais: as
leituras de textos simples, que no colocam problemas de compreenso e desenvolvem o
gosto pela leitura, e as leituras de textos mais complexos. Estas ltimas, devido sua
complexidade, devem ser devidamente acompanhadas e auxiliadas pelo professor ou por
instrumentos de apoio compreenso da leitura (Duarte, 2011).
Compreende-se, portanto, que, contrariamente ao defendido em prticas anteriores de
ensino da lngua onde existia uma relao unidirecional entre os dois domnios, sendo a
escrita desenvolvida e adquirida atravs da leitura , a dinmica relao entre estes dois
sistemas mostra-se muito rica, enquanto geradora de competncias em ambos os domnios,
permitindo a complexificao da compreenso leitora bem como o progressivo
desenvolvimento e aperfeioamento da competncia de escrita. Pereira (2008: 51) defende,
mesmo, que, quando ativamos a relao hipertextual leitura-escrita, potenciamos uma
verdadeira transferncia de saberes de uma atividade cognitiva para outra.
1.3. Complexidade da tarefa de escrita
Implicando diversos subprocessos, a tarefa de escrita complexa e difcil, mas
absolutamente fundamental para a apropriao de conhecimentos em diversas reas. Para que
seja desenvolvida de forma proveitosa, necessrio que o aluno crie uma relao de
intimidade com os textos, geradora de confiana na sua competncia de produo, e que
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compreenda a diversidade de textos existente, apreendendo as suas particularidades,
nomeadamente, em relao ao contedo e forma (Barbeiro & Pereira, 2007; Pereira &
Azevedo, 2005). Segundo Pereira e Azevedo (2005), ao iniciar a aprendizagem da lngua
escrita, a criana apoia-se na linguagem oral, ou seja, numa aprendizagem anterior,
usufruindo da segurana do conhecido. Assim, a escrita inicial apenas uma projeo do
oral, que, com o decorrer da aprendizagem e com a aquisio das caratersticas formais, se
vai tornando mais independente, chegando mesmo a originar transformaes na oralidade.
De um nvel de complexidade superior, a escrita implica a gesto de contedos e de
linguagem de acordo com um determinado destinatrio sem dele obter uma resposta imediata
- como ocorre na oralidade -, isto , sem a possibilidade de se ir adequando o discurso de
acordo com as reaes do interlocutor. Da que seja necessrio o contacto com uma grande
variedade de textos que permita aos alunos compreenderem a escrita como ato de
comunicao, adequando, assim, a linguagem utilizada intencionalidade dos textos
produzidos. Esta adequao decorre, segundo Cots, Armengol, Arn, Irn e Llurna (2007),
das questes que as pessoas colocam, quando iniciam a escrita de um texto e, perante uma
folha em branco, se interrogam sobre Qu pongo? e Cmo lo pongo? (p. 89).
Deste modo, o questionamento referido pelos autores anteriormente referidos incita a
uma constante reflexo ao longo do processo de escrita, ou seja, ao longo da planificao, da
textualizao e da reviso dos escritos, com o intuito de selecionar no s os contedos mais
adequados como tambm a melhor forma de os mobilizar na produo de uma mensagem
escrita. Estas trs etapas da produo textual no ocorrem de forma linear ou sequencial; pelo
contrrio, vo ocorrendo de forma recursiva, ao longo da construo do texto, gerando
reformulaes constantes, no sentido de adequar as ideias aos possveis leitores e estrutura
do texto a produzir, gerando alteraes to profundas, que, por vezes, alteram,
completamente, a planificao inicial ou, mesmo, a sua inteno comunicativa (Niza et al.,
2011; Pereira, 2008).
Sendo a planificao um elemento diferenciador no domnio da escrita, pois contribui
para a melhoria e coeso dos escritos, demonstrando maturidade escritural, necessrio
promover o desenvolvimento de competncias ligadas planificao desde cedo. Atravs
dela, so identificados objetivos de escrita, selecionados contedos a integrar o texto, assim
como o lxico e as formas gramaticais e sintticas mais adequadas. Nela cabem ainda a
organizao das ideias, relativamente estrutura do texto, sua adequao ao possvel
pblico e s expectativas do mesmo (Barbeiro & Pereira, 2007; Cots et al., 2007; Pereira &
Azevedo, 2005).
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Para Aleixo e Pereira (2008), Barbeiro e Pereira (2007) e Pereira (2008), to importante
como a ao que precede a escrita dos textos fundamental a sua reviso, no sentido de os
aperfeioar e melhorar, com base na leitura e na reflexo crtica, e segundo a tica dos
possveis leitores, tentando adequar o texto s suas expectativas. Esta no deve, contudo, ser
uma tarefa superficial focando apenas aspetos grficos e ortogrficos; pelo contrrio, deve
incidir sobre dimenses mais profundas, contribuindo para a coerncia da produo textual.
A ao de reviso pode funcionar como um verdadeiro motor de desenvolvimento da
escrita (Niza et al., 2011: 37), pois, para uma rigorosa e atenta apreciao do texto produzido,
necessrio dar ateno s suas propriedades lingusticas, sua forma e estrutura lgica
que deve conter. Desta forma, rev-se, no s porque se descobre um erro, mas porque se
encontra uma maneira de dizer melhor o que j se disse (Niza et al., 2011: 37), evidenciando,
assim, o carcter comunicacional dos textos.
Todavia, numa primeira fase da aprendizagem da escrita, a reviso global dos textos
poder representar um esforo demasiado complexo, devendo deste modo optar-se por
exerccios mais especficos e parcelares que contribuam para a representao da coerncia
dos textos bem como para a compreenso do discurso global latente em cada um. Assim,
libertando o aluno da enorme carga cognitiva implicada na redao integral de um texto,
possibilita-se a focalizao da sua ateno em determinados aspetos da lngua. Estes no
devem ser, porm, confundidos com o treino de mecanismos referentes aos subsistemas da
escrita, como a gramtica ou a ortografia, uma vez que, ao invs de exercitarem a lngua de
forma mecnica, promovem uma atividade efetiva de interao e implicao no trabalho com
a linguagem atravs da aquisio de uma postura reflexiva em relao escrita (Pereira &
Azevedo, 2005; Pereira, 2008).
A aprendizagem da escrita deve, portanto, ser entendida como a apropriao de um
instrumento de comunicao complexo, com o qual desde o incio se estabelece relao
pessoal de significao com o mundo. Este traduz muito mais do que um cdigo de
associaes sonoro-visuais e grfico-auditivas, implicando, verdadeiramente, a construo
de um sistema de representao (Pereira, 2008:11).
1.4. Socializao dos escritos
Pereira (2008: 96) afirma que o uso da lngua (escrita) , ao mesmo tempo, social e
pessoal; ele advm tanto de exigncias escolares e sociais, como, ainda, de uma necessidade
pessoal de comunicar. Assim, na aprendizagem da escrita, deve existir lugar tanto para a
escrita pessoal como para uma escrita de caris mais social, cumprindo diversas funes
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comunicativas. Depreende-se, assim, a necessidade de direcionar o ensino da escrita para a
preparao dos usos sociais e democrticos, ao invs dos geralmente vinculados s funes
restritamente escolares.
A autora refere que o contexto social em que a criana est inserida pode promover ou
dificultar a introduo escrita, pois, muitas vezes, a entrada na escola significa uma
mudana abrupta da realidade lingustica que esta conhece, passando a dominar uma
linguagem desconhecida que no consegue interpretar e que no tem para o aluno qualquer
sentido comunicacional. Assim sendo, fundamental construir uma relao de afeto e de
funcionalidade com a lngua escrita ao longo da sua aprendizagem, desenvolvendo um clima
de superao de dificuldades atravs do apoio e incentivo do professor e dos colegas
(Barbeiro & Pereira, 2007; Pereira, 2008).
neste sentido que surgem as comunidades de leitura e escrita, em que leitores e
escritores - em contnuo desenvolvimento -, com interesses comuns, tm oportunidade de
partilhar impresses de leitura e os seus textos, discutindo-os em grupo e enriquecendo, deste
modo, a compreenso leitora e cooperando na melhoria da capacidade de escrita. As
comunidades de leitura, enquanto estratgia didtica, necessitam, no entanto, do
acompanhamento do professor, incitando as crianas a progredir, no s na forma de trocar
informao mas tambm nos instrumentos que favorecem a aprendizagem (Pereira, 2008:
55). J as comunidades de escrita, tambm entendidas como verdadeiros instrumentos
didticos, permitem a interao entre escritos, tanto a nvel presencial como atravs de
relao virtual, contribuindo para o desenvolvimento da perceo da produo escrita
enquanto uma actividade social de participao escrita, promovida pela interao oral-
escrita (Niza, 2005: 119).
Entendidas como um bom exemplo de atividades promotoras de motivao no processo
de aprendizagem da escrita, as comunidades de leitura e escrita providenciam oportunidades
de escrita com sentido e direcionadas a uma audincia real, o que facilita a ativao dos
conhecimentos relativos aos tipos de texto adequado, de forma a produzir um verdadeiro e
correto ato de comunicao (Pereira & Azevedo, 2005).
-
28
2. Aprendizagem colaborativa
2.1. Aprender em interao
Durante o perodo inicial de adaptao ao meio escolar, o professor, enquanto
responsvel pela integrao das crianas, que deve proporcionar-lhes um ambiente agradvel,
rico em estmulos e que promova o gosto pela aprendizagem. Embora no se preconize que
este ensine criana tudo o que esta deve saber, o professor tambm no pode esperar que
esta trilhe o caminho da aprendizagem sozinha, fruto do seu prprio desejo de aprender;
antes, deve dividir com a criana a responsabilidade de adquirir conhecimentos, respeitando a
sua individualidade e tentando apoi-la, ao longo da sua aprendizagem.
Verdadeiramente, importa pensar o processo educativo como a sucesso de vrias
aprendizagens que a criana vai alcanando, guiada pelo seu professor, que, ao invs de uma
atitude normativa, adota uma atitude explicativa, entendendo os erros como inerentes ao
processo de aprendizagem e utilizando-os como fontes de informao, relativamente,
evoluo de cada criana, indicando as suas fragilidades e dando pistas dos raciocnios
adotados na resoluo de determinadas tarefas. A par dos desenvolvimentos pessoal, social e
intelectual, resultantes da promoo da autonomia, o professor deve ainda valorizar o
trabalho cooperativo e colaborativo, como forma de enriquecer a aquisio de competncias
pelo aluno, atravs da confrontao de opinies, raciocnios e da partilha de estratgias
(Gomes, 2006; Pereira & Azevedo, 2005).
Baseando-se em vrias pesquisas, Susan Hill e Tim Hill (1993) referem que a
aprendizagem cooperativa tem vantagens significativas, tanto a nvel do desenvolvimento
intelectual como social, superiores a aprendizagens desenvolvidas em ambientes de
aprendizagem individualistas e competitivos.
Tambm Alves (2005) indica que o trabalho colaborativo, para alm das melhorias de
aproveitamento escolar, tambm promotor de atitudes positivas entre os alunos.
Suportando-se em Pavn Redondo e Serrano Hidalgo (2001), a autora afirma mesmo que, ao
trabalhar em grupo, o aluno desenvolve a tolerncia e a flexibilidade, aprendendo a dividir
responsabilidades, a organizar e dividir tarefas e potencializando as suas capacidades (p.
32).
Vygotsky (1999), na sua teoria da Zona de Desenvolvimento Prximo, explica o
desenvolvimento humano como produto das interaes sociais que vo ocorrendo ao longo da
vida nos vrios contextos onde o indivduo est inserido. Esta teoria encara o
-
29
desenvolvimento segundo uma perspetiva evolutiva, uma vez que, segundo o autor, o
desenvolvimento s ocorre quando o indivduo progride do nvel de desenvolvimento atual
caracterizado pela soluo independente de problemas -, para a zona de desenvolvimento
prximo, em que, atravs de interaes com indivduos mais experientes - em contexto
educativo, professores ou alunos mais competentes -, ocorre a modificao de funes ainda
em maturao e o desenvolvimento de novas competncias fundamentais resoluo de
tarefas, ou seja, o indivduo consegue solucionar problemas com auxlio de um outro mais
experiente.
Martins (1997) acrescenta ainda que, ao longo do desenvolvimento, ocorre o processo
de internalizao baseado na reconstruo interna de uma operao externa, ou seja, na
transformao de um processo interpessoal num processo intrapessoal (in Gomes, 2006: 55),
o que significa que, atravs da interao com o contexto, o indivduo inicia uma interao
consigo prprio, alterando e interiorizando estratgias e competncias. Este processo
contribui, deste modo, para o desenvolvimento de uma crescente autonomia das crianas que,
inicialmente acompanhadas, vo gradualmente conseguindo desenvolver atividades de forma
independente.
Deste modo, so claros os benefcios do trabalho colaborativo, no desenvolvimento
eficaz dos alunos, atravs da sua interao no s com o professor, enquanto orientador e
guia do processo de aprendizagem, mas tambm com outros alunos, resultante da formao
de grupos de trabalho funcionais e dinmicos, geradores de verdadeiras aprendizagens em
colaborao.
Para que tais grupos de trabalho sejam realmente eficazes e geradores de reais
aprendizagens, Slavin (1990) defende ser necessrio que os alunos direcionem os seus
esforos em prol de um objetivo comum, embora cada membro possa contribuir de formas
diferentes para o seu alcance, existindo deste modo, no s uma responsabilidade coletiva
para com o trabalho mas tambm uma responsabilidade individual, desenvolvendo
simultaneamente uma interdependncia entre os membros de um grupo que trabalha em
conjunto e a autonomia de cada elemento que, atravs da execuo das suas tarefas
especficas contribui para a obteno dos objetivos do grupo.
Complementarmente, baseando-se na perspetiva de Johnson, Johnson e Holubec
(1984), Alves (2005) afirma que o trabalho colaborativo que se desenvolve atravs das
interaes entre elementos que compem o grupo promove o desenvolvimento de
competncias sociais, essenciais ao trabalho de equipa, pois permitem verdadeiras
negociaes e discusses, em prol da efetiva melhoria do seu trabalho. Alm disso, os alunos
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30
tendem a ajudar-se mutuamente, trabalhando em equipa, complementando os conhecimentos
uns dos outros e gerando novos conhecimentos, atravs da partilha de recursos e das
reflexes crticas conjuntas, relativamente ao trabalho j realizado, com vista melhoria do
mesmo e de trabalhos posteriores.
Verifica-se ento que os alunos aprendem uns com os outros e que os conhecimentos de
cada um potenciam o desenvolvimento dos restantes, observando-se efetivas vantagens no
s para crianas menos competentes mas tambm para as restantes que, em cooperao,
aprendem a aprender e a verbalizar os seus conhecimentos, problemas ou dvidas de forma
explcita.
2.2. A importncia da linguagem na interao
Segundo Cassany (1999), el dilogo es el instrumento ms eficaz para regular los
procesos de composicin del aprendiz y para desplegar los procesos de anlisis, reflexin y
valoracin que requiere (in Gomes, 2006: 61). Na verdade, este impulsiona o
desenvolvimento de competncias que permitem falar sobre a lngua, ou especificamente
sobre a escrita, utilizando vocabulrio adequado e evidenciando conhecimentos de
metalinguagem. tambm uma importante ajuda na produo textual, uma vez que permite
que os alunos dividam e distribuam entre si a carga cognitiva inerente ao processo de
produo escrita atravs da utilizao de diversas estratgias e aproveitando as capacidades
de cada um na obteno um texto coeso e coerente, que v ao encontro dos objetivos
definidos inicialmente e que satisfaa a funo comunicacional a que se destina.
Por outro lado, o dilogo permite a discusso em grupo ou em turma e a explorao de
diferentes ideias e propostas, desenvolvendo a capacidade de argumentao atravs do
confronto de opinies e da necessidade de defender ou recusar uma ideia, necessitando para
isso de apresentar ideias alternativas e de as suportar atravs de argumentos que motivem a
sua escolha e que necessrio ir alterando ou adaptando, de acordo com as reaes dos
colegas. Este processo torna-se motivador para os alunos, que tendem a esforar-se mais na
obteno de bons resultados, em funo do maior apoio sentido, comparativamente s
dinmicas de trabalho individual, adotando um papel ativo na sua prpria aprendizagem
(Barbeiro & Pereira, 2007; Gomes, 2006; Barbeiro, 2003).
Na perspetiva de Barbeiro (2003: 27), ainda que a trabalhar colaborativamente em
grupo, os alunos no anulam as suas caractersticas individuais, fundindo-se numa massa
homogenia; contrariamente, o texto comum resultante [do trabalho colaborativo] ser
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31
reflexo da gesto dessa complexidade de relaes. Do ponto de vista individual, o confronto
com outras perspetivas poder ser enriquecedora e desencadear o alargamento do
relacionamento com a linguagem.
As dinmicas ocorridas em sala de aula potenciam o desenvolvimento de dois tipos de
interao distintos, denominados por Gilly (1995), como interaes simtricas e assimtricas.
Tais interaes, adequando-se a diferentes grupos, distinguem-se atravs dos estatutos
atribudos aos alunos que desenvolvem essa mesma interao (Gomes, 2006; Santana, 2003;
Aleixo, 2001). Por interaes simtricas entende-se aquelas que se desenvolvem entre
elementos do mesmo nvel, no que diz respeito ao domnio de competncias, estatuto social e
papel desempenhado ao longo da tarefa. Opostamente, as interaes assimtricas ocorrem
entre indivduos de nveis - de conhecimento e de domnio de competncias- diferenciados,
nomeadamente, entre alunos e professores ou entre alunos menos competentes e alunos mais
competentes. Ambas podero ser promotoras de desenvolvimento, quando no existe
aceitao passiva de solues por um dos elementos, ocorrendo o contacto com diferentes
hipteses de resoluo, que destabilizam as estruturas cognitivas do indivduo e provocam
um conflito cognitivo que s poder ser resolvido atravs da procura de uma forma comum
de soluo (Santana, 2003).
Os estudos desenvolvidos por Pontecorvo (1988) refletem a importncia das interaes
enquanto facilitao social das aprendizagens (Aleixo, 2001: 45). E, neles, observvel a
mudana de posio e de postura assumida pelos alunos durante uma atividade de
colaborao com um objetivo comum; e com base neles que a autora prope um esquema
que esclarece os quatro tipos de interao registados.
F
A
C
I
L
I
T
A
O
Relao
Assimtrica Simtrica
Ap
oio
Tutoria Co-construo
Opo
si
o Conflito
intencional Argumentao
Figura 1 Articulao entre o tipo de facilitao e o tipo de relao (Pontecorvo, 1988, in Aleixo, 2001).
-
32
Explicitando os tipos de interao expostos:
a tutoria ocorre quando um aluno mais competente presta ajuda a outro menos
competente com vista execuo da tarefa;
o conflito intencional tem lugar, quando o aluno mais competente tenta, atravs
da argumentao, mudar o ponto de vista do colega;
a coconstruo existe no esforo conjunto na construo de conhecimentos
atravs do dilogo;
a argumentao representa a situao de oposio de pontos de vista dos
elementos, marcada pela apresentao, fundamentada, de argumentos e contra
argumentos.
Segundo a perspetiva de Gilly (1988, in Gomes, 2006: 65) as interaes contribuem
para o desenvolvimento cognitivo, atravs da aquisio de procedimentos de resoluo mais
fortes. Excluindo a conceo de que a situao de conflito a nica promotora de
desenvolvimento, Gilly et al. (1989), com base nos seus estudos, apresentam e explicitam
quatro tipos de dinmicas de coelaborao:
colaboraes concordantes, se, perante a proposta de um dos
elementos, o outro a aceita, em resultado de um acordo cognitivo posterior
reflexo;
coconstruo, quando um dos elementos inicia uma ao que
continuada pelo outro, construindo, colaborativamente, um soluo que
individualmente no conseguiriam desenvolver;
confrontaes com desacordo, se um dos elementos prope uma
soluo que imediatamente recusada pelo outro, sem que este indique outra
soluo alternativa, levando a que o elemento que apresentou a soluo tente
explicar a proposta, no sentido de ser aceite, ou abandone a mesma, encetando um
trabalho individual com o objetivo de resolver a questo inicial;
confrontaes iniciais, quando ambos os elementos do grupo
apresentam propostas contraditrias, provocando um confronto de pontos de vista e
de solues para a resoluo da tarefa, com vista superao do impasse.
-
33
Atravs da anlise destes quatro diferentes tipos de dinmica, percetvel que as
interaes contribuem para a melhoria do nvel de desempenho dos alunos, para a aquisio
de procedimentos mais eficazes na resoluo de tarefas, bem como para progressos
cognitivos efetivos, em ambos os elementos da dade (Gomes, 2006; Santana, 2003).
2.3. Reviso e reescrita em colaborao
Como j anteriormente mencionado (no ponto 1 deste captulo), a reviso e a reescrita
textual so atividades muito complexas e implicam uma grande carga cognitiva, devido s
vrias tarefas simultaneamente realizadas, com o intuito de detetar e corrigir falhas no s
superficiais (ligadas, por exemplo, ortografia) mas tambm profundas relativas,
nomeadamente, coerncia e coeso textuais (Pereira & Barbeiro, 2010; Aleixo & Pereira,
n.d.). Fitzgerald (1987), citado por Niza et al. (2011: 38), refere, a propsito, que:
Rever significa fazer qualquer mudana em qualquer momento do processo de
escrita. Implica a identificao de discrepncias entre o texto pretendido e o texto
conseguido, a deciso quanto ao que pode ser mudado no texto, a clarificao das
mudanas a fazer e o acto de as fazer. As mudanas podem ou no afectar o
significado do texto e podem ser maiores ou menores.
Por outras palavras, os processos de reviso e reescrita requerem uma constante
reflexo relativa s possveis alteraes a efetuar no texto, podendo estas situar-se mais a
nvel superficial ou operando a nveis mais profundos e com um maior impacto na reescrita
do texto. Tal reflexo e a sua profundidade dependem, contudo, das capacidades de escrita do
autor do texto. Negro, Louis-Sydney e Chanquoy (2006: 2) identificaram algumas limitaes
relativas s competncias de reviso dos escritores menos experientes:
1) incapacidade em definir claramente seus objetivos e intenes;
2) dificuldade de avaliar os seus textos;
3) problemas em determinar o que deve ser modificado e como modific-lo;
4) falta de controle na coordenao dos diferentes objetivos de reviso e no tipo de
conhecimento necessrio para esta atividade.1
Como forma de colmatar tais dificuldades, tornando o processo de reviso mais
acessvel, ainda que no descurando a reviso inerente a tal processo, o professor pode
acompanhar as crianas na reviso, incentivando-as a falar, a pensar em voz alta,
1 Traduo prpria.
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34
conduzindo os alunos a comentar aspetos concretos presentes nos seus textos ou adequando e
regulando as tarefas de reviso propostas aos alunos (Aleixo & Pereira,2008).
Por outro lado, o professor pode promover a colaborao entre os alunos, durante as
atividades de reviso e reescrita. Este tipo de interao, para alm de potenciar um clima de
entreajuda entre os alunos - que podero estar at mais disponveis para ouvir os colegas que
apresentam um discurso semelhante ao seu, ao invs do professor, que detm um outro
estatuto junto dos alunos , contribui tambm para o desenvolvimento da verbalizao e do
dilogo relativo aos processos implicados na reviso. Deste modo, em interao, os alunos
repartem a carga cognitiva inerente aos processos de reviso e reescrita, facilitando o
desenvolvimento de tais atividades, e desenvolvem a capacidade de falar sobre a lngua, ou
seja, observa-se a emergncia de atividades metalingusticas (Pereira & Barbeiro, 2010)
O estudo realizado por Gomes (2006) refora o impacto da interao no
desenvolvimento das capacidades de escrita/reescrita, valorizando, principalmente, o
desenvolvimento de competncias sociais de trabalho colaborativo, verificando que, ao longo
do processo, os alunos desenvolveram atitudes de respeito e valorizao pelas ideias do outro.
Conclui tambm que a interao colaborativa permite realizar esses procedimentos [de
reviso] de forma apoiada, como mostra a colaborao encontrada entre os elementos dos
pares, neste estudo (Gomes, 2006: 136). Outro estudo, realizado por Santana (2003: 205),
tambm comprovativo das vantagens do trabalho colaborativo, pois, do incio para o final do
ano, a conscincia da tarefa de reviso aumentou significativamente, sendo mais evidente
nas crianas que trabalharam em dades. Para alm disso, os processos interativos
mostraram-se eficazes, uma vez que promoveram verdadeiras evolues nos alunos menos
competentes e com mais dificuldades; tais alunos evidenciaram mesmo competncias
metalingusticas e metatextuais superiores s desenvolvidas pelos alunos que trabalharam
individualmente. Estando a tnica deste estudo na reviso textual e no impacto que as
interaes poderiam ter na aprendizagem dos processos que lhe so inerentes, concluiu-se
tambm que a aquisio das competncias de reviso beneficia dos confrontos de pontos de
vista ou de diferentes solues, bem como da reflexo por estes despoletada, uma vez que se
verificou que no s as modificaes do texto sofreram um aumento significativo como
tambm estas se tornaram mais profundas, no sentido de atender a questes como a coeso e
coerncia, ao invs de aspetos mais superficiais (tambm importantes), como a ortografia e a
pontuao.
De facto, segundo Aleixo e Pereira (2008: 3), a reviso que resulta de uma apreciao
do texto j produzido a que, eventualmente, podem seguir-se aces de correco ou
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35
reformulao, deve ser preferencialmente realizada com apoio, pois, quando realizada
individualmente, torna-se muito difcil para o aluno que, no encontrando solues para as
suas dificuldades, pode desistir e perder a confiana em comunicar atravs da escrita. Para
alm disso, durante os processos de reviso dos textos, as crianas demonstram ter mais
dificuldades em descrever os processos a utilizar para melhorar os textos do que em produzir
indicaes ou conselhos que auxiliem um colega durante o processo de reviso. Assim, a
ajuda do professor ou de colegas muito importante ao longo da reviso textual, fornecendo
outros pontos de vista e diferente estratgias que permitem clarificar as dvidas,
relativamente ao que deve ser alterado ou melhorado no texto (Aleixo & Pereira, 2008; Niza
et al., 2005).
A reviso, entendida como uma das competncias mais complexas da escrita, implica o
conhecimento e o domnio de diversas competncias da lngua ligadas no s produo
escrita mas tambm decorrentes da componente comunicacional dos textos. Assim, est
inserida num longo e complexo processo de aprendizagem que poder ser potenciado em
ambiente colaborativo, uma vez que o trabalho partilhado obriga a uma tomada de
conscincia dos processos lingusticos envolvidos na escrita dada a necessidade de estes
serem explicados ao colega (Gomes, 2006: 69). Por outro lado, em ambiente colaborativo de
discusso e troca de opinies e ideias, os alunos tendem a perceber mais facilmente que um
texto pode ser objeto de mltiplas reformulaes, com o objetivo de melhorar a sua qualidade
enquanto instrumento de comunicao.
Tendo em conta o acima explanado, torna-se evidente a necessidade da criao de
ambientes que promovam a reviso enquanto atividade reflexiva que fomenta a anlise
profunda dos textos com vista sua melhoria, recorrendo para isso a interaes dinmicas e
ricas, propiciadoras de verdadeiros conflitos cognitivos promotores de novas perspetivas da
escrita e geradores de verdadeiro desenvolvimento de competncias lingusticas.
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Captulo II
Orientaes metodolgicas
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37
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38
1. Tipo de investigao
A interveno desenvolvida em sala de aula, e cujos resultados foram, posteriormente,
analisados e interpretados ao longo deste trabalho, ocorreu no seio de um projeto de
desenvolvimento da escrita, especificamente, da escrita de saberes. Tal projeto, com vista ao
incremento e aperfeioamento das competncias de escrita dos alunos, apoiou-se na
metodologia de investigao-ao, permitindo, deste modo, dar respostas mais adequadas,
pertinentes e oportunas s questes e problemas surgidos ao longo do processo, tal como se
procura clarificar em seguida.
A metodologia de investigao-ao, dotada de um carcter interativo e com foco num
problema especfico, implica procedimentos que pressupem mudana e compreenso nas
intervenes pedaggicas, sendo estes usados em espiral, uma vez que procuram aperfeioar
as prticas e os mtodos atravs dos conhecimentos e resultados obtidos no ciclo anterior. Por
outras palavras, podemos afirmar que a investigao-ao pressupe o aperfeioamento da
prtica atravs de uma contnua procura de uma melhoria de resultados (Dick, 1999, in
Coutinho et al., 2009). Esta metodologia promove, tambm, uma melhoria e transformao
da prtica educativa por meio de uma reflexo sistemtica, baseada na anlise da realidade no
decurso da recolha de dados obtidos atravs de tcnicas e instrumentos apropriados (Quintas,
1998, in Fernandes, 2006).
No caso deste estudo, os dados recolhidos ao longo da implementao do projeto
serviram no s para o desenvolvimento e reformulao com o objetivo de melhorar o
prprio projeto, mas tambm como fonte de informao e base para a investigao
desenvolvida no presente trabalho.
Aps a implementao do projeto idealizado e implementado de acordo com a
metodologia de investigao-ao - e simultnea recolha de dados, concluiu-se que devido
tipologia dos dados (sobretudo qualitativos) e ao seu carcter singular - gerador de
concluses que, maioritariamente, no so passiveis de serem generalizadas, pois decorrem
de um conjunto de variveis prprias do contexto em que o estudo foi realizado -, sentiu-se a
necessidade de recorrer a uma metodologia que melhor apoiasse o desenvolvimento deste
estudo e a anlise dos dados recolhidos. Deste modo, foi escolhido o estudo de caso, que,
segundo Yin (2010: 39), uma investigao emprica que investiga um fenmeno
contemporneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o
fenmeno e o contexto no so claramente definidos.
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39
Devido ao seu carater descritivo e interpretativo, em que as concluses dependem
muito da anlise do investigador, esta metodologia de investigao implica um desenho
metodolgico rigoroso, partindo de um problema iniciado com o porqu ou como e onde
sejam claros os objetivos e o enquadramento terico (Meirinhos & Osrio, 2010: 64). E, com
efeito, s desta forma sero permitidas extrapolaes e comparaes com outros fenmenos
semelhantes, tendo sempre em conta as condies particulares e o contexto de cada situao.
Neste estudo, e partindo-se do pressuposto - apresentado noutros estudos j publicados,
nomeadamente, em Gomes (2006), Santana (2003) e Aleixo (2001) - de que a escrita
colaborativa permite uma repartio do esforo cognitivo implicado na tarefa de produo de
textos, pretende-se penetrar no processo de escrita colaborativa atravs da anlise das
interaes a decorridas e perceber o que, de facto, ocorre durante tal tarefa e quais as suas
influncias nas prprias produes dos alunos.
Estamos, deste modo, perante um caso singular a ser analisado, tendo em conta as
variveis do contexto e as circunstncias em que decorreu (inserido, como j referido, numa
sequncia de ensino). Contudo, segundo Yin (2010:76), apesar de ser considerado um caso
nico, podem ser integradas subunidades de anlise, para que seja desenvolvido um projeto
mais complexo ou integrado. As subunidades podem acrescentar, muitas vezes,
oportunidades significativas para a anlise extensiva, favorecendo os insights ao caso nico.
Neste caso concreto, as subunidades a que se refere Yin so os quatro pares de alunos cujas
interaes foram recolhidas atravs de gravao udio. Estes, apesar de estarem integrados no
mesmo contexto e terem desenvolvido a tarefa nas mesmas circunstncias, tm caractersticas
prprias que os tornam individuais, desenvolvendo processos de escrita distintos, o que
tambm tem diferentes implicaes na qualidade das produes escritas. Assim, ser possvel
observar e compreender o processo de reescrita colaborativa de diferentes ngulos que,
quando interligados, promovero uma compreenso mais completa do fenmeno em estudo.
-
40
2. Objetivos do estudo
O estudo agora apresentado o resultado de um projeto de interveno partilhado
com a minha colega de dade pedaggica, Alexandra Ramos (2013). Este projeto implicou
a realizao de uma sequncia de ensino, construda e implementada de forma
colaborativa pela dade e que permitiu, na verdade, uma recolha de dados essencial ao
desenvolvimento de duas investigaes distintas, mas complementares, com enfoque, por
um lado, no processo de reescrita colaborativa e, por outro, nos textos produzidos pelos
alunos em tal contexto.
Segundo Martins (2006), um estudo de caso desenvolve-se em conformidade com
um seguimento prprio, de acordo com a especificidade do caso em anlise. Mais
especificamente, a investigao inicia-se atravs de uma questo ou de um aspeto que se
queira perceber mais aprofundadamente, procurando suporte terico que ajude a perceber
e analisar os dados recolhidos. Aps esta primeira fase de orientao da investigao, a
prpria dinmica de anlise de dados que vai fazendo emergir objetivos mais especficos
aos quais a investigao dever dar resposta, em virtude de um conhecimento mais
profundo do caso em estudo.
Atendendo ao referido por Martins (2006), este estudo iniciou-se tendo como base
no s dois pilares tericos importantes - sendo eles a escrita colaborativa e a reviso
textual (j desenvolvidos no captulo relativo ao enquadramento terico, anteriormente
apresentado) como tambm o interesse em compreender as interaes ocorridas durante
o processo de reescrita colaborativa de um texto e qual a sua influncia na qualidade do
mesmo. Deste modo, foram definidos os seguintes objetivos que nortearam esta
investigao:
compreender as dinmicas internas das interaes durante o processo de
reescrita colaborativa;
analisar as competncias e o nvel de reflexo sobre a escrita evidenciadas
durante a interao;
compreender a emergncia de reflexo correspondente ao domnio do
contedo e da formatao textual - durante o processo de escrita.
-
41
Com base nos objetivos agora expostos, espera-se compreender, de uma forma mais
profunda, as interaes decorridas durante o processo de reescrita textual, percebendo que
fatores intrnsecos so possveis influenciadores da qualidade dos textos.
3. Contexto do estudo
O estudo de caso, metodologia eleita para o desenvolvimento deste trabalho, debrua-
se, como se viu, sobre uma realidade especfica e nica, dotada de caractersticas prprias e
de atores que importa conhecer. Assim, torna-se necessrio proceder apresentao de uma
breve caracterizao do contexto onde decorreu a investigao, salientando aspetos e
especificidades de relevo para o presente estudo.
A investigao foi desenvolvida com uma turma de 3. ano do 1. Ciclo do Ensino
Bsico (CEB), pertencente a um agrupamento de escolas inserido numa zona semiurbana
afeta a trs freguesias do conselho de Aveiro. Devido sua localizao perifrica,
relativamente cidade de Aveiro, o agrupamento acolhe, para alm de crianas residentes nas
trs freguesias que assiste, crianas de freguesias vizinhas cujos pais trabalham em Aveiro,
maioritariamente, na rea dos servios. Segundo a documentao a que tivemos acessos, a
heterogeneidade evidenciada na comunidade escolar deve-se no s aos quatro nveis de
ensino (Educao Pr-escolar, 1., 2. e 3. CEB) que a compem mas tambm ao facto de o
agrupamento acolher crianas de comunidades ciganas prximas, detentoras de uma
identidade cultural prpria, o que proporciona uma importante e riqussima oportunidade para
a incluso social e a educao multicultural. Alm da referida documentao, os dilogos
com a professora titular da turma permitem-nos ainda afirmar que a turma formada por 19
crianas com idades que variam entre os 8 e os 9 anos, provenientes essencialmente de
famlias ditas tradicionais, constitudas por pai, me e irmo(s), embora existam tambm
alguns casos de famlias monoparentais. Do mesmo modo, estes alunos e respetivas famlias
pertencem, de uma forma geral, classe mdia alta, existindo alguns casos pertencentes
classe mdia e mdia baixa ou baixa.
Integrados na turma esto tambm dois alunos que, sinalizados, se encontram sob o
regime de Adequaes Curriculares Individuais, contando com o apoio da docente titular de
uma forma continuada. Acrescendo a esta ajuda, um dos alunos dispe tambm de apoio
educativo especial prestado por uma professora de educao especial, cerca de 3 horas por
semana, em sala de aula. Os pais e encarregados de educao possuem, maioritariamente,
estudos de nvel superior, conseguindo, por norma, acompanhar e apoiar a aprendizagem dos
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42
filhos. Este estmulo parece promover, de uma forma geral, o gosto das crianas pela
aprendizagem e a curiosidade pela maioria dos contedos abordados em sala de aula.
A dinmica de sala de aula, percecionada durante o perodo de observao precedente
prtica pedaggica - e mantido durante a mesma -, alterna entre o trabalho em grupo-turma e
o trabalho em grupo ou a pares, sem no entanto descurar o trabalho individual. Esta dinmica
e, em especial, a eleio do trabalho de grupo como estratgia preferencial de consolidao
de conhecimentos e de desenvolvimento de competncias passvel de ser percebida atravs
da observao da disposio das mesas na sala de aula, que se organizam de modo a
formarem grupos de trs alunos. Tais grupos so mantidos durante trs semanas, ao fim das
quais so alterados de forma a permitir o contacto de todas as crianas com diferentes
personalidades e mtodos de trabalho, contribuindo assim para o desenvolvimento de
competncias fundamentais para um funcionamento produtivo dos grupos de trabalho, como
sendo a adaptabilidade e tolerncia perante opinies distintas.
No geral, verifica-se um clima de vontade dentro da sala de aula, embora existam
algumas crianas que, tendo registado uma evoluo positiva ao longo da prtica pedaggica,
aquando da implementao do projeto, ainda apresentavam indicadores preocupantes, no que
respeita ao nvel de bem-estar emocional e de implicao, nomeadamente, nas atividades em
grande grupo, precisamente, por demonstrarem insegurana e mesmo algum desconforto na
participao e na resoluo de tarefas mais trabalhosas.
Esta preocupao (partilhada com a minha colega de dade pedaggica - Alexandra
Ramos, 2013) acentua-se perante a tarefa de lecionar programas to extensos como so os do
3. ano do 1. CEB para as reas do Estudo do Meio, da Lngua Portuguesa e da Matemtica
que, abrangendo muitos contedos, necessitam de um aprofundamento e sistematizao
consistentes e permanentes, sem, ainda assim, deixar de atender aos diferentes ritmos de
aprendizagem presentes em sala de aula. Alm disso, o horrio semanal das diferentes reas
curriculares determinado em funo desta condio dificulta a concretizao de um trabalho
mais aprofundado ao nvel das diferentes dimenses da rea das expresses, embora a
UNESCO (2006: 6) defenda que a educao na arte e pela arte estimula o desenvolvimento
cognitivo e pode tornar aquilo que os educandos aprendem e a forma como aprendem, mais
relevante face s necessidades das sociedades modernas em que vivem. Deste modo, alm de
motivadora e capaz de captar o interesse das crianas, a explorao da rea das expresses
permite tambm desenvolver o esprito crtico e a concentrao.
Apesar dos constrangimentos, foi possvel dade pedaggica desenvolver um trabalho
mais coeso e equilibrado, atravs de uma dinmica de transversalidade de reas, integrando
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atividades ligadas s diversas dimenses da rea das expresses em Lngua Portuguesa,
Matemtica e Estudo do Meio, despertando, assim, o interesse e a curiosidade dos vrios
alunos para as mais variadas temticas afetas a estas trs principais reas curriculares.
De facto, a turma, ao longo da nossa presena no contexto, revelou ser empenhada e
interessada no processo de aprendizagem, mostrando-se sempre vida no desenvolvimento de
novas competncias e na aquisio de novos saberes.
Relativamente rea da Lngua Portuguesa, rea de eleio para o desenvolvimento do
projeto (apresentado adiante, no ponto 5 deste captulo), durante a observao prvia ao
desenvolvimento da prtica pedaggica, foi possvel perceber o predomnio do trabalho, por
parte da professora titular, relativo aos textos narrativo e potico, realizando-se uma anlise
mais aprofundada e sistematizada das suas caractersticas, especialmente macrotextuais,
fazendo-se, at, a distino destes dois textos. Esta anlise efetuada, de forma geral em
grupo-turma, proporcionou, no raras vezes, o mote para a produo textual, tendo em conta
os aspetos analisados, ou simplesmente a temtica abordada, podendo o texto ser
desenvolvido de acordo com as vrias dinmicas de aula j referidas, ou seja, em grupo-
turma, em grupo ou de forma individual.
A reviso das produes textuais era efetuada grande parte das vezes pelos autores dos
textos, atravs de uma tabela de verificao retirada do manual de Lngua Portuguesa adotado
e que correspondia s caractersticas do texto em estudo. Os alunos focavam-se, ento, nos
aspetos formais, no que respeita s correes gramatical e ortogrfica, pontuao e
caligrafia, bem como estrutura do texto. A correo dos textos era efetuada posteriormente
pela professora titular, atendendo aos mesmos aspetos tidos em conta na reviso dos alunos.
As circunstncias agora apresentadas serviram de base ao delineamento da sequncia de
ensino implementada durante a prtica pedaggica, em colaborao com a minha colega
Alexandra Ramos (2013), e durante a qual foram recolhidos os dados analisados no presente
trabalho assim como no trabalho da minha colega.
4. Constituio e caracterizao dos pares
Apresentado o contexto em que decorreu o estudo, torna-se fundamental apresentar,
agora, os seus participantes, de uma forma mais particular e especfica, relevando dados que,
mais tarde, contribuam para uma melhor compreenso dos resultados obtidos com o projeto.
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Na sequncia de ensino, participaram 17 dos 19 alunos da turma, uma vez que os dois
alunos com Necessidades Educativas Especiais, beneficirios de um Currculo Individual
Adaptado, no foram elementos ativos no projeto. A deciso, no da sua excluso, mas de
uma participao adaptada s suas capacidades e interesses, foi tomada juntamente com a
docente titular, por se considerar que as atividades a desenvolver durante a sequncia de
ensino no se enquadravam no seu currculo individual.
Assim, numa primeira fase, foram recolhidas 17 produes textuais individuais. Num
segundo momento, com base na anlise dessas mesmas produes, bem como em
caractersticas dos alunos - recolhidas ao longo das observaes efetuadas durante a prtica -,
relativas sua personalidade, sua participao em sala de aula e em trabalho colaborativo e,
ainda, ao seu desempenho escolar, especialmente na rea da Lngua Portuguesa, foram
constitudos os pares para o desenvolvimento de uma tarefa de reescrita colaborativa, cuja
interao iria ser gravada e alvo de anlise posterior.
Foram, deste modo, constitudos grupos heterogneos organizados em sete pares e um
trio. A preferncia pela heterogeneidade dos grupos deveu-se s vantagens registadas noutros
estudos (Aleixo 2001; Gomes, 2006; Santana, 2003), nomeadamente, em relao
cooperao e construo de conhecimento de forma colaborativa e apoiada, e nos quais se
registaram francos progressos no desenvolvimento das competncias de produo escrita, no
s nos alunos ditos menos competentes mas tambm nos mais competentes.
Devido falta de recursos materiais, no foi possvel gravar as interaes de todos os
grupos, pois apenas dispnhamos de 5 aparelhos de gravao audiovisual. Deste modo, foi
necessrio selecionar 5 dos 8 grupos formados que, devido s suas caractersticas, poderiam
ter mais interesse para o estudo. Esta escolha baseou-se, de uma forma particular, na
qualidade dos textos individuais cruzada com as caractersticas dos elementos dos pares,
procurando-se selecionar pares com textos interessantes e, ao mesmo tempo, cujos autores
demonstrassem personalidades propcias para uma interao rica.
Por uma falha tcnica, aps a gravao das 5 interaes durante a produo do texto
reescrito, constatou-se que o udio de uma das gravaes no era ntido, sendo, deste modo,
impossvel transcrev-lo e, consequentemente, analis-lo. Assim, ainda que de uma forma
involuntria, foram selecionados os quatro pares sob os quais se debrua a presente
investigao, que passo a apresentar de forma mais detalhada.
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- Par S & B
O aluno B integrou a turma no incio do ano letivo, tendo sido transferido de outro
agrupamento e estando, no perodo de observao, ainda em adaptao ao novo contexto,
colegas, professora e mtodos de trabalho.
Revelando-se um pouco reservado no que diz respeito participao oral nas aulas,
participando, essencialmente, apenas quando interpelado, o aluno demonstra ser muito
organizado e zeloso na apresentao dos trabalhos, cadernos e materiais. Alm disso,
relativamente expresso escrita, prima pela utilizao de uma caligrafia cuidada e pela
quase inexistncia de falhas ortogrficas, optando tambm por frases curtas e de estrutura
simples, evitando assim problemas de coeso. Os seus textos revelam-se criativos, estando a
informao organizada, mas nem sempre de forma clara.
Durante as aulas, se a tarefa em desenvolvimento no do seu interesse, ou se de um
nvel cognitivo ao qual ainda no consegue aceder, tende a desmotivar-se e distrair-se sem,
no entanto, distrair os colegas. Esta caracterstica persiste nos trabalhos de grupo j que,
perante colegas mais competentes, tende a no se mostrar to participativo e empenhado. Por
outro lado, mostra absorver as caractersticas do grupo e adaptar-se ao mesmo, ou seja,
integrado num grupo trabalhador e produtivo, tende a empenhar-se nas tarefas, pelo contrrio,
num grupo pouco empenhado, tende a distrair-se brincando, ao invs de desenvolver a tarefa
proposta.
O aluno S demonstra alguma timidez e insegurana, pelo que a sua participao na
aula, em grande grupo, no muito visvel. Contudo, quando, no decorrer das atividades, tem
alguma dvida, tenta esclarec-la, requerendo uma ateno mais individualizada da
professora, ou junto de um colega. Ainda que registando uma baixa participao oral e
exposio das suas opinies, tende a manter-se interessado e atento, acompanhando as
atividades desenvolvidas.
Relativamente expresso escrita, o aluno evidencia alguns problemas relativos
construo frsica, particularmente, problemas sintticos e de coeso. Os seus textos revelam,
ainda, algumas falhas ortogrficas; porm, demostram tambm criatividade e uma boa
articulao das ideias, evidenciando uma boa estrutura macrotextual.
Contrariamente participao oral na aula, nos trabalhos de grupo, este aluno revela-se
muito participativo, colaborando, partilhando ideias e dando sugestes, sem, no entanto,
dirigir os trabalhos.
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A constituio deste par para a escrita colaborativa deveu-se aparente compatibilidade
de personalidades, demonstrada durante as semanas precedentes recolha de dados, atravs
da partilha de brincadeiras e atividades durante os intervalos bem como da entreajuda
observada nas aulas. Alm do mais, tendo em conta os textos individuais relativos ao mesmo
assunto, as suas dificuldades e foras pareciam completar-se, dominando um o macrotexto
mas revelando dificuldades na construo frsica, enquanto o outro aluno mostrava uma
maior competncia na construo frsica, respeitando regras de ortografia e sintaxe, mas com
algumas incorrees ao nvel macrotextual.
Por outro lado, ao constituir os pares, pareceu-nos que, mostrando-se estes alunos
tmidos e inseguros, poderiam no tirar o mximo partido de uma interao com um elemento
que fosse notoriamente mais competente, podendo mesmo sentir-se inferiores,
negligenciando as suas prprias opinies e submetendo-se s indicaes do colega. Deste
modo, tendo um nvel de competncias semelhante, embora em reas distintas, ser-lhes-ia
mais fcil sentirem-se vontade para expor os seus pontos de vista e desenvolverem uma
interao mais profcua.
- Par L & P
O aluno L revela-se muito empenhado na grande maioria das atividades; contudo,
tende a participar oralmente apenas quando se sente seguro da sua opinio ou resposta,
demostrando, nessas ocasies, um raciocnio organizado e coerente.
As suas produes textuais revelam algumas falhas a nvel da ortografia e sintaxe;
contudo, alm de criativas e claras, primam pela coerncia, detendo uma boa organizao
macrotextual.
A nvel do trabalho de grupo, o aluno mostra-se colaborativo, escutando as opinies dos
restantes elementos, dando a sua prpria opinio e, no raras vezes, conciliando as opinies e
estratgias de ao de todos, propiciando um bom ambiente de trabalho e resultados finais
ricos e interessantes.
O aluno P evidencia-se em sala de aula devido sua participao nas vrias atividades
desenvolvidas, mostrando-se sempre empenhado em partilhar as suas opinies, em responder
a questes colocadas ou expressando as suas dvidas e questes. Alm de abundante, a sua
participao espelha ainda um raciocnio organizado, ainda que prejudicado por algumas
participaes irrefletidas em tom de brincadeira.
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Mostra-se muito exigente consigo mesmo, esperando sempre alcanar os melhores
resultados e conseguir resolver as tarefas de forma clere e eficaz, ficando por vezes
frustrado, quando tal no ocorre. Todavia, perante as falhas ortogrficas constantemente
assinaladas nos seus textos, tende a demonstrar uma certa indiferena. Estas falhas parecem,
alis, dever-se a uma certa distrao ou celeridade, nem sempre favorvel, com que tende a
executar todas as tarefas, inclusive as de escrita, pois, quando levado a rever com calma as
suas produes textuais, capaz de detetar e corrigir algumas das falhas comummente
presentes nos seus textos. Estes, contudo, traduzem o raciocnio estruturado e a criatividade
presente nas suas participaes orais, contendo uma estrutura bem organizada e definida,
informao bem encadeada e pertinente para o texto a desenvolver e frases simples, mas bem
construdas.
Relativamente aos trabalhos de grupo, aparenta ser um elemento estabilizador,
apresentando as suas opinies sem desprezar as dos colegas, sendo capaz de conjugar vrias
estratgias e opinies diferentes, orientando, por vezes, o desenvolvimento dos trabalhos.
Decidiu-se que estes dois alunos formariam um par adequado e interessante, devido, em
parte, s suas caractersticas pessoais. Sendo L mais calmo e reservado e P mais expansivo e
participativo, seria possvel encontrar algum equilbrio. Para alm disso, os alunos, em
momentos anteriores, j haviam demonstrado trabalhar bem em conjunto, desenvolvendo
interaes profcuas.
Por outro lado, os seus textos individuais focavam, maioritariamente, as mesmas
temticas e contedos, embora de formas distintas. Deste modo, ser-lhes ia mais fcil analisar
ambos os textos e, conjugando ideias e opinies, reescrever o texto colaborativamente.
Por fim, pareceu-nos que, sendo L to atento escrita, tentando constantemente corrigir
as suas falhas e melhorar os seus textos, poderia auxiliar P na deteo de falhas ortogrficas
(e/ou outras) e, juntos, encontrarem solues adequadas resoluo desses problemas.
- Par M & AS
O aluno M integrou a turma no incio do ano letivo, tendo sido transferido de outra
turma da mesma escola e estando, no perodo de observao, ainda em adaptao aos colegas,
professora e mtodos de trabalho.
Destacando-se da restante turma devido sua personalidade extrovertida e
participativa, o aluno tende a distrair-se facilmente, perdendo-se no desenvolvimento das
atividades, o que, por vezes, causa algumas dificuldades na compreenso de alguns conceitos,
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especialmente os mais abstratos. Contudo, quando atento, demonstra empenho e participao
na aula, embora nem sempre a participao seja a mais adequada, potenciando, por vezes
alguns focos de distrao para toda a turma.
Os seus textos evidenciam muitas dificuldades ao nvel ortogrfico; dificuldades essas
de que est consciente e que, em certas situaes, tende a desvalorizar, focando a sua ateno
e o seu esforo noutras reas. De facto, as suas produes textuais so reveladoras de muita
criatividade, especialmente ao nvel do contedo, uma vez que a sua construo frsica se
revela ainda, muito prxima da expresso oral, contendo, portanto, muitas marcas de
oralidade e algumas incorrees sintticas.
Relativamente ao trabalho de grupo, tem tendncia a ser um elemento que distrai os
colegas, podendo perturbar a execuo dos trabalhos ou a qualidade dos mesmos. Contudo,
em grupos em que existe um elemento mais calmo que lidera a interao e a realizao dos
trabalhos, tende a cooperar dando ideias, apesar de nem sempre aceitar as opinies dos
colegas, tendendo a impor a sua.
O aluno AS demostra ser calmo, reservado e muito inseguro, especialmente em
situaes de maior stress, em que evidencia um grande nervosismo. Durante as aulas, mostra-
se muito interessado e empenhado, embora nem sempre tenha uma participao oral muito
ativa. Esta parece aumentar quando a dinmica da aula o motiva, revelando capacidade
reflexiva e bom raciocnio.
Os seus textos refletem o seu raciocnio, evidenciando um bom encadeamento das
temticas desenvolvidas, conferindo-lhe coerncia e sequencialidade de acontecimentos.
Revelam, no entanto, algumas dificuldades na construo frsica e algumas falhas na
ortografia, das quais, alis, o aluno est consciente e tenta corrigir.
Nos trabalhos de grupo, revela-se muito participativo, embora perante colegas mais
expansivos aparente passar despercebido, no impondo o seu direito de opinar e estabelecer
estratgias. Porm, quando se sente vontade, capaz de justificar e defender ideias
divergentes.
Perante a tarefa de constituir as dades, pareceu-nos que, conjugando duas
personalidades to distintas (AS mais tmido e metdico e M mais extrovertido e distrado),
seria possvel encontrar um meio-termo e propiciar um bom ambiente colaborativo.
Por outro lado, o aluno M, embora muito criativo, necessitava de algum que, com uma
postura mais calma, concentrada e focada na tarefa, o ajudasse a detetar, corrigir e interiorizar
as suas falhas ortogrficas, bem como, a melhorar o seu texto. J o aluno AS teria a
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oportunidade de comparar o seu texto com o do colega, onde, por uma ordem similar, se
apresentavam as mesmas informaes, inseridas, todavia, em frases mais complexas, para
alm de simples enumeraes de informao.
- Par F & R
O aluno F mostra ser muito participativo e empenhado, revelando um raciocnio
organizado e uma boa capacidade de reflexo, expondo de forma clara as suas dvidas e
opinies e dando, no raras vezes apoio aos colegas durante a realizao de tarefas.
Demostrando -vontade nas diversas reas curriculares, revela especial interesse pela LP.
As suas produes escritas refletem as suas capacidades de raciocnio e reflexo,
revelando ser coerentes e claras, com um bom encadeamento das vrias temticas
desenvolvidas. So compostas por frases complexas e, maioritariamente, bem construdas,
respeitando as regras de sintaxe e coeso, possuindo por vezes algumas falhas ortogrficas
concentradas maioritariamente em vocbulos pouco utilizados ou com construes
irregulares ainda no consolidadas.
Relativamente sua postura perante os trabalhos de grupo, o aluno parece ser um
elemento estabilizador, justificando e defendendo a sua opinio, sem, no entanto, deixar de
ouvir as sugestes e opinies dos colegas. Devido sua personalidade calma, mas
participativa, e sua capacidade para ouvindo os outros, tomar decises e orientar a execuo
das tarefas, tende a liderar os trabalhos de grupo.
O aluno R integrou a turma no incio do ano letivo, tendo sido transferido de outra
escola e estando, no perodo observao, ainda em adaptao ao contexto, aos colegas,
professora e mtodos de trabalho.
Revela-se um aluno muito tmido, com pouca autoconfiana, evidenciando mesmo mau
estar perante situaes onde no domine determinada competncia ou conhecimento, ou com
o qual no se sinta vontade. Para que desenvolva as tarefas ao ritmo da restante turma, com
resultados satisfatrios, necessita de um acompanhamento sistematizado e de motivao
constante, auxiliando deste modo a superao de dificuldades e trabalhando a progressiva
autonomia na aprendizagem.
Quando se sente motivado e capaz, empenha-se verdadeiramente na tarefa, alcanando
resultados satisfatrios e evidenciando capacidade de raciocnio, especialmente matemtico.
Aparenta uma motivao um pouco diminuda para LP, desistindo facilmente das tarefas
perante pequenos obstculos, prestando pouca ateno nos momentos de exposio oral e
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debate de ideias e demorando muito tempos nas tarefas de escrita e de cpia de enunciados
transcritos do quadro. Para alm disso, as suas produes escritas evidenciam ainda muitas
falhas ortogrficas, muitas dificuldades na construo frsica e na organizao macrotextual.
Relativamente aos trabalhos de grupo, a sua prestao varivel, dependendo da
constituio do grupo em que est inserido, podendo demostrar-se participativo, se os colegas
o implicam, pedindo a sua opinio e ajuda, ou alheando-se do trabalho desenvolvido,
ocupando uma posio de mero espetador, quando se sente inferior aos restantes elementos
do grupo e estes no o motivam a participar e a colaborar nas atividades.
Durante as semanas precedentes ao projeto, ambos os elementos pertenceram ao
mesmo grupo