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Ana Karla Guedes de Melo AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE INDIVIDUAL AOS GLICOCORTICOIDES E EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE GLICOCORTICOIDE EM PACIENTES COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina São Paulo 2011

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Ana Karla Guedes de Melo

AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE INDIVIDUAL AOS GLICOCORTICOIDES E

EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE GLICOCORTICOIDE EM PACIENTES COM

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

para obtenção do título de Mestre em Medicina

São Paulo – 2011

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Ana Karla Guedes de Melo

AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE INDIVIDUAL AOS GLICOCORTICOIDES E

EXPRESSÃO DO RECEPTOR DE GLICOCORTICOIDE EM PACIENTES COM

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

para obtenção do título de Mestre em Medicina

Área de concentração: Ciências da Saúde

Orientador: Dr. Murilo Rezende Melo

São Paulo - 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Melo, Ana Karla Guedes de Avaliação da sensibilidade individual aos glicorticoides e expressão do receptor de glicocorticoide em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico./ Ana Karla Guedes de Melo. São Paulo, 2011.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Medicina.

Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Murilo Rezende Melo 1. Lúpus eritematoso sistêmico 2. Glucocorticoides 3. Receptores

de glucocorticoides BC-FCMSCSP/27-11

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Dedico este trabalho aos meus pais e irmão, Antonio, Aidete e Aldson,

que iluminam o caminho da minha vida,

e à minha família, Eduardo e Carlos Eduardo,

motivo maior da minha vitória.

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“Nenhum trabalho de qualidade pode ser feito sem concentração e auto-sacrifício, esforço e

dúvida."

(Max Beerbohm)

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Agradecimentos

Ao Professor Adjunto do Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e meu orientador, Prof. Dr. Murilo Rezende

Melo, por ter me acolhido nesta etapa tão importante da minha carreira e ter me ajudado com

as suas precisas e incisivas pontuações.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irmandade da Santa

Casa de Misericórdia de São Paulo, pela receptividade na minha formação em Reumatologia e

no curso de Mestrado em Ciências da Saúde.

À Coordenadora do Programa de Pós-Graduação strictu sensu da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Profa. Dra. Carmen Lúcia Penteado

Lancellotti, pelo seu empenho e trabalho frente à direção deste Programa.

À amiga e reumatologista, Alessandra Barbosa Avelar Saramago, pelo

companheirismo e pelo imensurável auxílio no andamento deste trabalho.

À Professora Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São

Paulo e Coordenadora da Disciplina de Reumatologia do Departamento de Medicina Interna

da Santa Casa de São Paulo, Dra. Branca Dias Batista de Souza, pela credibilidade, amizade e

pelos ensinamentos que permitiram grande parte da fundamentação teórica desta dissertação.

Aos colegas do Laboratório de Medicina Molecular e aos funcionários do Laboratório

de Medicina Nuclear, em especial a Giovanni Dermartino e Flávio Richetti, sem os quais

muitos passos deste trabalho não seriam adequadamente realizados.

À equipe da Comissão de Pós-Graduação e da Biblioteca Central da Faculdade de

Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, especialmente à Sra. Mirtes Dias de Souza, por

sua presteza, dedicação e imensa capacidade de solucionar problemas.

À Dra. Roberta Borges Castro, endocrinologista e amiga, por sua paciência e

disponibilidade em dividir conhecimentos e experiências importantes para a execução dos

experimentos no Laboratório de Medicina Molecular da Santa Casa de São Paulo.

Aos pacientes que não hesitaram em participar deste estudo e aos controles, pela

confiança e credibilidade.

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Ao Professor Titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e

coordenador do Laboratório de Medicina Molecular, Prof. Dr. Carlos Alberto Longui, pelo

brilhantismo no esclarecimento de dúvidas e pela formulação de ideias para o enriquecimento

teórico deste trabalho.

Ao FAP da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São

Paulo, pelo apoio financeiro na execução deste estudo.

E a todas as outras pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para a

finalização desta etapa grandiosa da minha vida profissional.

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Abreviaturas e Símbolos

ACR: Colégio Americano de Reumatologia (―American College of Rheumatology‖)

ACTH: hormônio adrenocorticotrófico

Anti-dsDNA: anti-DNA dupla hélice

Anti-Sm: Smith (nome do primeiro paciente em que foi reconhecido)

AP-1: proteína ativadora 1

AR: artrite reumatóide

cFOS: oncogene cFos

COX-2: cicloxigenase tipo 2

DP: desvio-padrão

ELAM-1: ―endothelial-leukocyte adhesion molecule 1‖

ERK: ―extracellular signal-regulated kinase‖

FAN: fator antinuclear

F%: amplitude de supressão do cortisol após o teste intravenoso com dose muito baixa de

dexametasona

FOr%: amplitude de supressão do cortisol após o teste oral com dose baixa de dexametasona

GC: glicocorticoides

GM-CSF: fator estimulador da colônia de granulócitos e monócitos

GRE: elemento responsivo aos glicocorticoides

Hep-2: linhagem de células tumorais derivadas de carcinoma laríngeo humano

HHA: hipotalâmico-hipofisário-adrenal

hsp: proteína de choque térmico

ICAM-1: “Inter-Cellular Adhesion Molecule 1‖

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IFN: interferon

IkB ou IkappaB: inibidor do NF-kB

IkK ou IkappaK: inibidor da proteína cinase do NF-kB

IL-1: interleucina 1

IL-2: interleucina 2

IL-4: interleucina 4

IL-6: interleucina 6

IL-10: interleucina 10

IV-VLD-DST: ―Intravenous very-low dose dexamethasone suppresion test‖

JNK: ―c-Jun N-terminal kinase‖

LES: lúpus eritematoso sistêmico

MAPK: ―mitogen-activated protein kinase‖

MEK: MAPK/ERK kinase

MEKK3: MAPK/ERK kinase kinase 3

MSK1: mitogen- and stress-activated protein kinase

NF-kB: fator de transcrição nuclear kappa B

nGRE: elementos responsivos negativos aos glicocorticoides

NIK: “NF-kappaB-inducing kinase‖

OMIM: ―online mendelian inheritance in man‖

PKA: proteína cinase A

r: coeficiente de correlação

r2: coeficiente de determinação

RG: receptor(es) de glicocorticoide

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RGα: isoforma alfa do receptor de glicocorticoide

RGβ: isoforma beta do receptor de glicocorticoide

RIP1: proteína 1 de interação ao receptor

RQ-PCR: PCR em tempo real

SLEDAI: ―Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index‖

SLICC/ACR/DI: índice de dano do Systemic Lupus International Collaborating Clinics/

American College of Rheumatology

SNC: Sistema Nervoso Central

TAK1: proteína cinase ativada 1

TCR: receptor de célula T

TGF-β: fator transformador do crescimento β

TLR: ―toll-like receptors‖

TNFα: fator de necrose tumoral alfa

TNFR: receptor do fator de necrose tumoral

TRADD: ―death domain‖

TRAF2: fator 2 associado ao receptor do fator de necrose tumoral

3’UTR: ―the three prime untranslated region‖

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………….. 01

1.1 Revisão da literatura………………………………………………………… 02

1.1.1 Lúpus eritematoso sistêmico………………………………………………. 02

1.1.2 Fator de transcrição NF-kB e suas cinases.................................................... 05

1.1.3 Glicocorticoides no LES............................................................................... 08

2. OBJETIVOS........................................................................................................... 14

3. CASUÍSTICA E MÉTODO................................................................................... 15

3.1 Desenho do estudo........................................................................................... 15

3.1.1 Testes de supressão com doses muito baixa e baixa de dexametasona........ 17

3.1.2 Separação de células mononucleares............................................................ 17

3.1.3 Extração de RNA e obtenção do DNA complementar................................. 18

3.1.4 PCR em tempo-real (RQ-PCR)..................................................................... 19

3.2 Análise estatística............................................................................................. 22

4. RESULTADOS...................................................................................................... 24

4.1 Comparação da sensibilidade in vivo aos glicocorticoides nos dois grupos

estudados................................................................................................................

26

4.1.1 Comparação das condições basais e resposta ao IV-VLD-DST entre os

grupos.....................................................................................................................

26

4.1.2 Comparação da resposta ao teste oral com dose baixa de dexametasona

entre os grupos.......................................................................................................

28

4.2 Comparação da expressão gênica entre os grupos.......................................... 29

4.3 Correlação da sensibidade in vivo e expressão gênica.................................... 29

4.4 Avaliação dos achados laboratoriais em relação aos dados clínicos nas

pacientes com LES...............................................................................................

30

4.5 Avaliação do uso ou não de prednisona nas pacientes com LES, em relação

às variáveis estudadas............................................................................................

31

5. DISCUSSÃO.......................................................................................................... 32

6. CONCLUSÕES...................................................................................................... 40

7. ANEXOS................................................................................................................ 41

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 49

RESUMO............................................................................................................... 59

ABSTRACT........................................................................................................... 60

APÊNDICE............................................................................................................ 61

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1

1. INTRODUÇÃO

As respostas imunológicas e inflamatórias são processos fisiológicos complexos

importantes na homeostase e, consequentemente, na sobrevivência dos indivíduos. Os

mecanismos pró- e os anti-inflamatórios precisam atuar de forma equilibrada e coordenada,

para que as células respondam adequadamente aos vários estímulos ambientais que

desencadeiam as respostas imunes, evitando danos ao organismo humano(1)

.

Ao nível molecular, o aumento de mediadores inflamatórios, como fator de necrose

tumoral alfa (TNF), interleucina 1β (IL-1β), IL-6, fator estimulador da colônia de granulócitos

e monócitos (GM-CSF), fatores de crescimento, mediadores derivados dos lipídios

(prostanoides, leucotrienos), receptores do TNF e toll-like receptors, enzimas

(metaloproteinases, fosfolipase A2), moléculas de adesão e peptídeos (bradicininas,

endotelina) representa o ponto central para a propagação da inflamação. Por outro lado, para

controlar o processo inflamatório, são liberadas citocinas moduladoras e anti-inflamatórias,

como IL-4, IL-10 e TGF-β(2)

.

O fator de transcrição nuclear kB (NF-kB) desempenha uma importante função no

desenvolvimento e na regulação de respostas imunes através de interação com citocinas e

marcadores da superfície celular(3)

. Nos últimos anos, o NF-kB e a proteína ativadora 1 (AP-

1) têm sido apontados como essenciais na ativação de genes envolvidos na inflamação, além

de terem participação na origem de doenças em que há ativação crônica do sistema imune,

como asma, aterosclerose, doença inflamatória intestinal e doenças reumatológicas como a

artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico (LES)(4)

.

Os glicocorticoides (GC) são produzidos e secretados pelo córtex adrenal. Sua

concentração sérica é regulada pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA) e sofre a

influência de diversos fatores, como ritmo circadiano, stress e feedback negativo. A maioria

dos efeitos dos GC é mediada pela ativação dos seus receptores. Os receptores de

glicocorticoide (RG) atuam como fatores de transcrição, modificando a expressão de genes-

alvo. A sensibilidade aos GC é bastante variável entre os indivíduos, os tecidos, os sistemas

orgânicos e durante as fases do ciclo celular. Atualmente, estão disponíveis métodos de

avaliação in vivo e in vitro, os quais foram desenvolvidos com o intuito de correlacionar a

sensibilidade individual aos GC à expressão gênica do RG(5)

.

Este trabalho inédito se destina a estudar e avaliar a sensibilidade individual ao GC em

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pacientes portadores de lúpus eritematoso sistêmico em fase de remissão da doença,

comparando-a com a expressão do RNAm do RGα e do NF-kB.

1.1 Revisão da literatura

1.1.1 Lúpus eritematoso sistêmico (LES)

O LES é uma doença inflamatória sistêmica, crônica, de natureza auto-imune e de

etiologia desconhecida. Evolui em surtos, com períodos de exacerbação e remissão, e se

caracteriza pela deposição tecidual de imunocomplexos em qualquer órgão ou sistema(6)

.

Possui etiologia multifatorial e acomete indivíduos geneticamente predispostos,

caracterizando-se por perda de tolerância ao próprio e anormalidades na imunorregulação. É

mais prevalente em mulheres na fase estrogênica e apresenta pico de incidência em

adolescentes e adultos jovens (2ª a 4ª décadas de vida)(7)

. A resposta imune ocorre por

hiperativação das células B após exposição a um possível gatilho ambiental, sendo os mais

conhecidos os agentes infecciosos e a luz ultravioleta. Sucede-se a formação de auto-

anticorpos e complexos imunes, que se depositam na parede vascular, causando um processo

inflamatório em vasos de pequeno calibre (reação de hipersensibilidade tipo III) (6,8)

.

Anormalidades nas células T foram descritas em pacientes com LES. Estudos

anteriores identificaram defeitos moleculares que incluem: aumento do influxo intracelular de

cálcio em resposta à ligação ao receptor da célula T (TCR)(9)

, fosforilação anômala da

tirosina(10,11)

e alterações na síntese da interleucina 2 (IL-2)(12)

.

Sabe-se que a produção de IL-2 é regulada, predominantemente, pelo TCR e pela

molécula coestimuladora CD28. Fatores de transcrição que induzem a síntese de IL-2 são a

AP-1 e o NF-kB, sendo que este último participa ativamente na expressão de IL-2 e na

amplificação da resposta inflamatória(13)

.

O lúpus tem um amplo espectro de apresentações clínicas, desde a doença limitada à

pele até formas multissistêmicas graves.

As manifestações mais comuns são os sintomas constitucionais, como fadiga, perda

ponderal, mialgia e febre, presentes em até 95% dos pacientes(14)

. Seguem-se as manifestações

articulares, encontradas em aproximadamente 90% dos casos. Caracterizam-se por episódios

fugazes e recorrentes de poliartrite/poliartralgia em mãos e punhos, podendo comprometer

também grandes articulações(15)

.

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3

A pele é acometida em torno de 70% dos pacientes. As manifestações características

são o eritema malar em asa de borboleta, o lúpus cutâneo subagudo e a lesão discoide.

Fotossensibilidade ocorre em 30% e representa um achado característico da doença(16)

. Outras

possíveis apresentações clínicas são: alopécia frontal, fenômeno de Raynaud, púrpura,

vasculite cutânea e urticária. Úlcera oral ou nasofaríngea indolor pode estar presente em

12%–45% dos doentes(17)

.

O acometimento renal aparece clinicamente em mais de 50% dos casos. Pode-se

apresentar como síndrome nefrítica e/ou nefrótica, glomerulonefrite rapidamente progressiva

ou insuficiência renal. A glomerulonefrite proliferativa difusa (classe IV) consiste no subtipo

histológico mais comum e mais grave(18)

.

O comprometimento do Sistema Nervoso Central (SNC) é definido como um preditor

de maior gravidade do LES. Acomete cerca de 25% dos pacientes e pode manifestar-se como

distúrbio cognitivo, cefaleia, psicose, convulsão, neuropatias cranianas ou periféricas e mielite

transversa. A psicose e a convulsão constituem as manifestações neurológicas mais

específicas do LES(19)

.

Em relação ao aparelho cardiopulmonar, as manifestações mais frequentes são a

pleurite e a pericardite. São descritas menos comumente: hipertensão pulmonar, endocardite

não-infecciosa e miocardite(20)

.

O diagnóstico de LES é feito mediante um quadro clínico sugestivo e na presença do

fator anti-nuclear (FAN por imunofluorescência indireta em células Hep-2). Outros

marcadores característicos que auxiliam na confirmação diagnóstica são o anticorpo anti-

DNA dupla-hélice (anti-dsDNA) e o anti-Sm (ELISA), os quais estão presentes em 50% e

30% dos casos, respectivamente. Outros achados laboratoriais contribuem para o diagnóstico,

tais como: anemia de doença crônica ou hemolítica, leucopenia, linfopenia, plaquetopenia,

hipocomplementenemia e alterações do sedimento urinário, como hematúria, leucocitúria,

cilindrúria e proteinúria(21)

.

O American College of Rheumatology (ACR) definiu critérios classificatórios para o

LES(22)

, utilizando dados clínicos e laboratoriais para auxiliar o diagnóstico e com o intuito de

homogeneizar a definição da doença para estudos científicos (Anexo 1).

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4

O tratamento do LES consiste no uso de corticosteroides em praticamente todas as

formas de apresentação da doença, sendo a dose variável de acordo com o sistema acometido

e com a gravidade do quadro. Formas mais graves, especialmente a renal e a

neuropsiquiátrica, são usualmente tratadas com o uso concomitante de imunossupressores,

como ciclofosfamida, azatioprina ou micofenolato mofetil(23)

.

Durante os períodos de atividade da doença (flares), as doses dos glicocorticoides são

comumente aumentadas, e isso ocorre de forma variável para cada paciente, dependendo da

gravidade do seu quadro clínico. Por outro lado, após atingida a remissão ou melhora clínica,

procura-se, gradualmente, reduzir a dose, ou suspender o uso do corticosteroide, com o

objetivo de reduzir os efeitos adversos relacionados ao uso prolongado de altas doses desse

medicamento. Geralmente, quando o doente entra na fase de remissão do LES, a dose

prescrita de prednisona que mantém a doença clinicamente estável é igual ou inferior a

5mg/dia, minimizando-se, dessa forma, eventos indesejáveis, como Síndrome de Cushing,

hipertensão arterial, catarata, intolerância à glicose, glaucoma, entre outros(24)

.

Não há, na literatura, estudos controlados e comparativos para determinar o melhor

esquema de redução da dose do GC no LES. Sabe-se que esse processo depende de vários

fatores, como atividade da doença, dose e duração da terapia, resposta clínica e sensibilidade

individual ao glicocorticoide(25)

.

Os experts em reumatologia recomendam a diminuição gradual do GC para permitir a

recuperação funcional da adrenal. Um dos esquemas de redução da dose de GC mais utilizado

é: decréscimo de 5 a 10mg a cada 1 ou 2 semanas, para doses de prednisona maiores de

40mg/dia, seguido por redução de 5mg a cada semana até a dose de 20mg/dia e, finalmente,

redução de 2,5mg a 5mg a cada 2 semanas até 10mg/dia. Na sequência, a dose é reduzida

2,5mg a cada 4 semanas até uma dose média de manutenção de 5mg/dia. A maioria dos

autores acredita que a dose e a duração da corticoterapia para que ocorra supressão do eixo

HHA são variáveis entre os indivíduos(26)

.

A dose de manutenção do corticoide considerada ideal no LES também é alvo de

discussões. Geralmente os pacientes utilizam drogas poupadoras de GC, como, por exemplo,

os antimaláricos, que são capazes de diminuir o número e a gravidade dos flares da doença e

garantir doses menores de GC(25)

. Medicamentos imunossupressores também podem ser

usados com a finalidade de manter a doença em remissão, diminuindo a morbimortalidade dos

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5

doentes e permitindo o uso de baixas doses de prednisona ou equivalente ou até a sua

suspensão(27)

.

Diversos aspectos estão envolvidos na sensibilidade ao GC em doenças reumáticas,

incluindo o LES. A resistência hereditária aos GC é rara, e o aumento da sensibilidade ao GC

tem sido ligado a polimorfismos específicos do gene do RG(28)

. Sabe-se que apenas a

isoforma alfa do RG se liga ao GC. A isoforma β funciona como um inibidor endógeno do

GC e é expressa em vários tecidos. A resistência aos GC e, possivelmente, a necessidade de

dose de manutenção de prednisona ou equivalente na terapêutica do LES em remissão pode,

portanto, estar associada ao aumento da expressão do receptor β do RG(29)

em alguns tecidos

orgânicos nessa população.

Uma outra possibilidade discutida é o fato de que os GC parecem estimular a síntese

da proteína lipocortina 1 (ou anexina 1) que, por sua vez, inibe a síntese de eicosanoides.

Sabe-se que o gene da anexina 1 pode ter a sua ação regulada pela interação GC/RG. Foi

demonstrado que, em pacientes com artrite reumatoide e possivelmente em outras desordens

auto-imunes, anticorpos anti-lipocortina 1 são produzidos em títulos elevados(30)

. Esse fato

pode correlacionar-se, portanto, com a resistência periférica aos GC e com a necessidade de

doses de manutenção maiores de GC para garantir remissão da doença e eficácia terapêutica.

Portanto, como existem controvérsias na literatura sobre a melhor dose do GC capaz

de manter o LES fora de atividade e ainda permitir um menor risco de dano orgânico

relacionado ao uso de doses maiores desse fármaco, assim como há escassez de dados

publicados sobre a sensibilidade ao GC nessa fase do LES, foi estudado este grupo de

pacientes para avaliar a sensibilidade in vivo ao GC, utilizando o teste com dose muito baixa

de dexametasona e o teste oral com dose baixa de dexametasona.

1.1.2 Fator de transcrição NF-kB e suas cinases

O fator de transcrição NF-kB pode ser um dos grandes alvos terapêuticos do LES, pois

atua como ―chave-mestra‖ de uma cascata inflamatória que inclui muitos dos principais genes

envolvidos na inflamação, como citocinas, metaloproteinases e reguladores de mediadores de

pequenas moléculas. Caracteriza-se por um complexo grupo de fatores de transcrição homo e

heterodiméricos. Os principais membros da família são: NF-kB1 (p50/p105), NF-kB2

(p52/p100), RelA (p65), RelB e c-Rel. Heterodímeros contendo p65 e também p50 ou p52

estão entre os mais frequentemente observados em várias linhagens de células(31)

.

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6

O fator nuclear kappa B se mantém na evolução do ser humano e tem ação descrita em

diversas células que compõem os organismos complexos. Possui um espectro de ação

superior a todos os fatores de transcrição descritos até o momento. Essa superioridade deve-se

aos variados estímulos que o ativam, bem como aos inúmeros genes e fenômenos que o NF-

kB regula(32)

.

Dentre os estímulos ativadores do NF-kB destacam-se os neurotransmissores (como o

glutamato, por exemplo), as neurotrofinas, proteínas neurotóxicas (como a beta-amiloide),

citocinas (interleucina-1 e fator de necrose tumoral), glicocorticoides, ésteres de forbol,

peptídeo natriurético atrial, ceramidas, produtos provenientes de vírus e bactérias, irradiação

ultravioleta, produtos de reações de enzimas como a óxido nítrico sintase induzível e a

cicloxigenase tipo 2 (COX-2). Paralelamente, parece haver participação de espécies reativas

de oxigênio (estresse oxidativo) e aumento de cálcio intracelular para a ativação do NF-kB

(32,33).

Quando não estimulado, o fator NF-kB é encontrado no citoplasma ligado a uma

proteína inibitória: o IkB. O complexo NF-kB/IkB impede a translocação do NF-kB para o

núcleo, mantendo o primeiro inativado. Portanto, a fosforilação e a degradação do IkB são

necessárias para que ocorra a translocação nuclear do NF-kB (34,35)

. (Fig. 1)

Vários estímulos podem levar à fosforilação do IkB, etapa fundamental para a sua

degradação. A fosforilação do IkB ocorre pela ação de proteínas cinases específicas, como o

complexo IkB quinase (IkK), que contém duas subunidades com propriedades de quinase:

IkKα e IkKβ(36)

. A proteína IkB fosforilada recebe a adição de ubiquitina, pela ação da

ubiquitina ligase, sendo, em seguida, degradada pelo complexo proteossoma 26S. Esse

processo resulta na liberação do NF-kB (Fig. 1). As duas subunidades do IkB (IkBα e IkBβ)

ligam-se ao p50, tornando a sequência de localização nuclear inacessível e impedindo a sua

translocação(37)

.

O complexo IkK é capaz de discernir entre o IkB já ligado ao IkK e o IkB livre,

explicando o fato de que o IkB pode acumular-se nas células onde o IkK permanece

ativado(36)

. É importante afirmar que muitas proteínas cinases estão envolvidas no processo de

fosforilação descrito e que esse mecanismo completo não está totalmente esclarecido.

O desmembramento do complexo IkB/NF-kB permite o transporte do NF-kB para o

núcleo, como já descrito, resultando em sua ligação aos genes que apresentam a sequência

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regulatória GGGACTTTCC, junto à região promotora. Isso ocasiona um aumento na

expressão dos ―genes-alvo‖ do NF-kB, os quais agem em elementos envolvidos na resposta

inflamatória e imune, estimulando a transcrição(38)

. (Fig.1)

A ativação do NF-kB também pode ser mediada pela via do receptor do TNF (TNFR),

através de uma cascata sinalizadora de fatores intermediários e cinases. O TNF solúvel ao se

ligar ao seu receptor de membrana específico promove uma homodimerização do TNFR e

subsequente recrutamento de domínios específicos (―death domain‖ – TRADD)(39)

. Em

seguida, ocorre aderência de proteínas adaptadoras ao complexo TNFR/TRADD, como RIP1

(proteína 1 de interação ao receptor) e TRAF2 (fator 2 associado ao TNFR) (40-42)

. Por fim,

proteínas cinases específicas como TAK1, NIK e MEKK3 fosforilam o IkB e induzem sua

dissociação ao NF-kB. Esse processo leva à ativação da via do IKK-NF-kB e aumento da

inflamação tecidual (41,43-46)

.

Adicionalmente, a ligação do TNF ao seu receptor de membrana promove ativação da

família de proteínas cinases (MAPK), como ERK, p38 MAPK e JNK, as quais estão

envolvidas no controle pós-translacional do NF-kB e na ativação da AP-1 (47-49)

. Portanto,

após a ativação do NF-kB, sua atividade é modulada pela fosforilação do segmento p65S276

pela p38 MAPK, ERK, MSK1 ou proteína cinase A (PKA), com subsequente indução da

expressão de genes-alvo envolvidos na inflamação (50-52)

.

Figura 1: Via de sinalização do NF-kB (1)

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8

Consequentemente, esses genes ativados promovem o aumento da expressão de

citocinas pró-inflamatórias, fatores de crescimento, COX-2, proteínas de fase aguda,

moléculas de adesão e outros elementos envolvidos na amplificação da resposta inflamatória

(53-55). Já foram determinados sítios de ligação do NF-kB aos genes do TNF-α

(56), IL-2

(57) e

ELAM-1(58)

.

Em contrapartida, alguns mecanismos reguladores da inflamação envolvendo o NF-kB

foram descritos. A ativação do NF-kB está sujeita a um mecanismo autorregulatório de

feedback negativo, pois o NF-kB pode estimular a transcrição do gene do IkBα. Logo, o novo

IkBα formado pode ligar-se ao NF-kB ativado no interior do núcleo, enfraquecendo a

interação NF-kB/DNA e promovendo o transporte do NF-kB para o citoplasma (59-61)

.

1.1.3 Glicocorticoides no LES

Os glicocorticoides (GC) são substâncias sintéticas, com potente ação anti-

inflamatória e imunossupressora e têm sido amplamente utilizados no LES e em outras

doenças auto-imunes, como a artrite reumatoide, desde 1949(62)

.

Os efeitos terapêuticos desses fármacos são mediados por receptores nucleares

específicos, denominados receptores de glicocorticoides (RG), que inibem ou estimulam a

transcrição de genes específicos, ocasionando diminuição da produção e da liberação de

citocinas pró-inflamatórias, principalmente TNF-α, IL-1, IL-2, IL-6(63-65)

. Os GC também

diminuem a expressão das moléculas de adesão E-selectina, ICAM-1 e ELAM-1, importantes

para o acesso das células inflamatórias ao local da inflamação(66)

.

O complexo (RG-GC) é capaz de inibir a expressão de genes responsáveis pela

transcrição do RNAm de citocinas, fatores de crescimento, moléculas de adesão e também a

transcrição do RNAm dos fatores de transcrição pró-inflamatórios como o NF-kB e a proteína

AP-1 (67-70)

.

Alguns autores sugerem a existência de um controle molecular da resposta

inflamatória e da resposta imune, exercido, principalmente, pela interação entre os seguintes

fatores de transcrição: o receptor de glicocorticoide, o NF-kB e a proteína AP-1. Foi

observada uma inibição mútua das atividades transcricionais entre NF-kB e RG (71,72)

e

também entre a proteína AP-1 e RG(73)

, através de interação física e funcional, sendo esse um

dos mais importantes mecanismos moleculares do efeito anti-inflamatório dos GC(74)

.

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9

Como descrito acima, a ação dos GC é mediada por um receptor proteico intracelular,

o receptor de GC (RG), que pertence à superfamília dos receptores nucleares e age como um

fator de transcrição ativado pelo hormônio, regulando a expressão dos genes responsivos aos

GC. O gene do RG humano (OMIM #138040,GenBank NR3C1) encontra-se na porção distal

do cromossomo 5, sendo composto por 9 exons. Várias isoformas do receptor são produzidas

por splicing alternativo de um único gene (75,76)

. A isoforma α, a forma clássica do RG, é o

mediador primário da ação dos GC; a isoforma β não se liga ao GC e age como um inibidor

dominante negativo da isoforma α (77,78)

.

O receptor inativo, não-ligado ao hormônio, encontra-se no citoplasma associado a um

complexo multiproteico formado por uma molécula do receptor, duas moléculas da proteína

de choque térmico (hsp) 90, uma molécula de hsp 70, uma de hsp 56, hsp 40, p23 e p60. As

principais funções do complexo RG/hsp são: manter o receptor no citoplasma das células,

estabilizando-o em sua forma inativa e facilitar a ligação do hormônio ao RG(79)

.

Após a ligação ao hormônio, o RG é dissociado do complexo e ocorrem alterações na

conformação da molécula do receptor, levando à homodimerização de isoformas alfa do RG,

as quais entram no núcleo da célula(80)

.

O mecanismo de trans-ativação gênica é a forma clássica de ação dos GC e se

caracteriza pela interação direta de dímeros do receptor do RG com uma sequência

palindrômica específica no DNA, chamada elemento responsivo aos glicocorticoides (GRE),

presente geralmente na região promotora dos genes-alvo. A ligação do dímero do RG

diretamente ao GRE estimula a transcrição de genes responsivos aos GC, com envolvimento

de componentes básicos da maquinaria de transcrição gênica, como a RNA polimerase II e

fatores gerais da transcrição, além de fatores co-ativadores e co-repressores da trans-ativação

(80,81). (Fig. 2)

Além da propriedade de ativar a transcrição gênica, o RG pode também reprimi-la. A

trans-repressão pode ocorrer pela ligação do RG aos elementos responsivos negativos aos

glicocorticoides (nGRE), localizados na região promotora de genes específicos, como o

promotor do gene da proopiomelanocortina(82)

. Um segundo mecanismo de regulação da

trans-repressão gênica mediada pelos GC não envolve processos dependentes de nGRE,

porém interações do RG com outros fatores de transcrição, por meio de um antagonismo

inibitório dependente de interação proteína-proteína. Os efeitos anti-inflamatórios e

imunossupressores dos GC envolvem esta regulação negativa da transcrição gênica. A AP-1 e

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10

o NF-kB são os fatores mais extensivamente estudados, os quais interferem negativamente

com a trans-ativação mediada pelo RG(83)

. Existe um crosstalk negativo entre RG e NF-kB.

(Fig.2)

Figura 2: Modulação da expressão gênica pelo complexo hormônio-receptor-elemento responsivo. Após a

ativação do receptor glicocorticoide pelo cortisol, ocorre a dissociação do complexo com as hsp, dimerização,

translocação nuclear, interação com o elemento responsivo ao glicocorticoide e trans-ativação gênica. A trans-

repressão depende da interação com NF-kB/AP-1. A ativação pelo agonista resulta em redução da expressão do

receptor de glicocorticoide pelo mecanismo de down-regulation homólogo. GR: receptor glicocorticoide;

mRNA: RNA mensageiro; hsp: proteína do choque térmico; GRE: elemento responsivo ao glicocorticoide; NF-

kB: fator nuclear kB; AP-1: proteína ativadora de transcrição 1; , isoforma alfa do receptor glicocorticoide

(GRa); : isoforma beta do receptor glicocorticoide (GRβ) (84)

Deroo e Archer(85)

propuseram que os GC são necessários para a trans-ativação do

gene promotor do IkBα. Logo, níveis aumentados de IkBα podem bloquear a ativação do NF-

kB, reduzindo o processo inflamatório local.

Estudo publicado em 2006 (86)

sugere um distúrbio na sinalização do RG, NF-kB, AP-1

e JNK em pacientes com LES, caracterizado pela redução da ligação RG e NF-kB/DNA e

uma significativa correlação entre JNK e AP-1. Essas alterações podem contribuir para uma

produção anômala de citocinas e, portanto, para a etiopatogenia do LES.

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11

Adicionalmente, sabe-se que o RG é alvo de fosforregulação. Neste processo,

participam as proteínas cinases que são enzimas responsáveis pela fosforilação rápida e

reversível de certos resíduos proteicos, alterando sua estrutura, função, localização e

metabolismo. Já as fosfatases são enzimas que revertem a ação das cinases e ocasionam a

desfosforilação de resíduos celulares(87)

. Portanto, a fosforilação do RG é regulada por um

balanço entre cinases e fosfatases. O desequilíbrio desse mecanismo pode afetar a estrutura do

RG, a sua localização e translocação, bem como a sua interação com o DNA e com sítios de

trans-ativação e de trans-repressão gênica(88)

.

No RG humano, foram identificados seis sítios de fosforilação compostos por resíduos

de serina: S113, S141, S203, S211, S226, S404(89)

. A fosforilação do RG humano mediada

por p38 MAPK está associada à redução da ligação do RG ao seu ligante hormonal e à

diminuição da repressão do gene GM-CSF. Além disso, o aumento da expressão de p38

MAPK via IL-1 resulta em menor trans-ativação gênica mediada por RGα e menor ligação ao

GRE(90)

.

Recentemente, foi descrita uma inibição pelos GC da via de sinalização utilizada pelos

toll-like receptors (TLRs), que têm um papel crucial na indução da resposta imunológica inata

por reconhecer patógenos e promover a expressão de moléculas co-estimuladoras, comuns na

transdução dos sinais e na expressão de genes pró-inflamatórios(91)

.

Considerando-se que praticamente todos os efeitos dos GC são mediados pela ativação

de seus receptores, um dos principais determinantes da responsividade a esses hormônios é a

concentração intracelular da proteína RG(84)

. Entretanto, a quantificação laboratorial desta

proteína é difícil, pela ausência de anticorpos monoclonais de boa qualidade. Assim, percebe-

se, na literatura, um gradual abandono das técnicas de western blot que foram substituídas por

avaliações da expressão do RNAm do gene do RG.

Em 2004, Melo et al(92)

, em um trabalho desenvolvido no Laboratório de Medicina

Molecular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, descreveu uma

nova técnica de quantificação absoluta do RNAm da isoforma alfa do receptor de

glicocorticoide (RG) utilizando a metodologia do PCR em Tempo Real. Este mesmo grupo

estudou formas de avaliação in vivo da sensibilidade aos GC.

Longui et al(93)

, em 2003, descreveram que a dose de 75µg/m2 de prednisona por via

oral era capaz de identificar diferentes graus de sensibilidade aos GC. Posteriormente,

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12

procurou-se eliminar os interferentes de absorção e distribuição dos GC com a padronização

de um teste de supressão com dose muito baixa de GC pela via intravenosa (IV-VLD-DST–

―Intravenous very-low dose dexamethasone suppresion test‖), com a utilização de apenas

20µg/m2 de dexametasona, in bolus

(94).

Esta avaliação simultânea, in vivo e in vitro, foi realizada pela primeira vez por Cobra

et al, no mesmo laboratório, com pacientes portadores de artrite reumatoide (AR) (95)

. Como

resultado do estudo, demonstrou-se que a expressão do RG no grupo AR foi semelhante à

encontrada no grupo controle. Entretanto, a sensibilidade ao glicocorticoide foi menor nos

doentes, sugerindo um mecanismo de resistência pós-receptor de glicocorticoide por possível

aumento da expressão de fatores de transcrição como o NF-KB.

A correlação entre a quantificação da expressão do gene do RG e o espectro de

redução dos níveis de cortisol observado por meio do teste de supressão com doses muito

baixas de dexametasona torna-se importante para a identificação de estados de

hipossensibilidade ou hipersensibilidade aos GC e apresenta ampla aplicabilidade na prática

clínica.

Na reumatologia, não é incomum a administração de corticosteroides em altas doses.

Sabe-se que a saturação de praticamente todos os receptores de glicocorticoides é atingida

com a dose de 100 mg/dia de prednisona ou equivalente(96)

. Além dos mecanismos

genômicos, doses crescentes de corticoides podem promover ações não-genômicas,

contribuindo para a redução do processo inflamatório através de alterações no transporte de

cátions na membrana plasmática em células imunes(97)

. Os GC também atuam na função

linfocitária e foi demonstrada uma indução de apoptose de linfócitos, mediada,

exclusivamente, pelo receptor de glicocorticoide intracelular(77)

.

O uso de altas doses de prednisona tem sido alvo de discussões entre diversos

especialistas como nefrologistas, reumatologistas e endocrinologistas. A principal indagação

gira em torno da dose ideal de corticoide considerada eficaz para garantir o sucesso

terapêutico com ação anti-inflamatória e/ou imunossupressora e que leve ao menor número de

efeitos colaterais(98)

. Esse tema permanece controverso, uma vez que não há estudos

controlados e randomizados para uma resposta conclusiva e baseada em evidência. Até o

momento, não encontramos estudos na literatura que correlacionem a necessidade de GC nas

diferentes fases do LES com a expressão gênica do RG e/ou avaliações da sua sensibilidade in

vivo.

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13

Portanto, este estudo inédito tem por objetivo determinar a sensibilidade individual aos

GC, utilizando o teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona e o teste oral com

dose baixa de dexametasona, em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico em remissão

(fora de atividade) e confrontar essa sensibilidade com a expressão da isoforma alfa do gene

do RG e do NF-kB.

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14

2. OBJETIVOS

1) Comparar a expressão do RNAm do RGα e do NF-kB em células mononucleares

periféricas, em pacientes portadores de LES em remissão em relação a controles saudáveis,

utilizando a técnica de PCR em Tempo Real.

2) Correlacionar a expressão desses genes com a sensibilidade aos glicocorticoides

reconhecida pelo teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona nos pacientes e

nos controles estudados.

3) Comparar a capacidade dos testes de supressão com dose muito baixa e baixa de

dexametasona em identificar um espectro individual de supressão e casos com menor

sensibilidade aos GC.

4) Estabelecer correlações entre variáveis clínicas e laboratoriais e a sensibilidade, in vivo, aos

GC, em pacientes com LES fora de atividade.

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15

3. CASUÍSTICA E MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, com uma abordagem quantitativa, que foi

desenvolvido no Laboratório de Medicina Molecular da Faculdade de Ciências Médicas da

Santa Casa de São Paulo, no período de março de 2008 a março de 2010. O projeto de

pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo (Apêndice). Todos os participantes leram e assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido antes de iniciar a coleta dos dados.

3.1 Desenho do estudo:

Foram incluídos nove portadores de lúpus eritematoso sistêmico acompanhados no

ambulatório de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica da Santa Casa de São

Paulo, os quais preenchiam os critérios de classificação do Colégio Americano de

Reumatologia (ACR-1997, Anexo 1)(22)

. Todos os pacientes lúpicos se encontravam em fase

de remissão da doença, segundo constatado durante consulta médica por meio de anamnese,

exame físico minucioso e exames complementares recentes.

Os pacientes selecionados faziam uso de, no máximo, 5mg de prednisona por dia

como terapia de manutenção para a sua doença. Foram escolhidos aqueles que estavam fora

de atividade clínica e/ou laboratorial, determinada pelo SLEDAI (Systemic Lupus

Erythematosus Disease Activity Index)(99)

(Anexo 2). Devido à falta de consenso para a

definição de doença em atividade ou em remissão por esse escore, foi estabelecido que apenas

os lúpicos com SLEDAI igual a zero seriam incluídos no estudo.

Foram excluídos os doentes que já tinham apresentado, durante a evolução da sua

doença, manifestações graves do LES, como envolvimento neuropsiquiátrico caracterizado

por convulsão, psicose, doença cerebrovascular ou mielite transversa; plaquetopenia grave

(<50.000 plaquetas/mm3); glomerulonefrite proliferativa ou rapidamente progressiva;

pneumonite ou miocardite, com o intuito de evitar uma amostra de pacientes com

características heterôgeneas entre si e com necessidade de uso de doses maiores de prednisona

em sua terapia de manutenção do LES. Foram igualmente excluídos os indivíduos portadores

de endocrinopatia, asma, doença inflamatória intestinal, infecções agudas, menores de 18 anos

de idade, os que não assinaram o termo de consentimento e aqueles que fizeram uso prévio de

medicamentos que aceleram a metabolização da dexametasona, como fenitoína e barbitúricos,

bem como os que apresentaram cortisol basal <7µg/dL(100)

.

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16

Foi estabelecido um grupo controle com 11 indivíduos saudáveis, pareados por sexo e

idade aos doentes com LES, para comparação e análise dos resultados. Um participante do

grupo controle foi excluído por apresentar cortisol basal igual a 3,0µg/dL, indicando

supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA). Em entrevista subsequente, o

indivíduo relatou que fez uso de corticoide inalatório no dia anterior à coleta.

Na primeira visita, foram determinados: características clínicas do LES, verificação do

peso e da superfície corpórea, revisão das medicações utilizadas, SLEDAI, expressão do RGα

e NF-kB em células mononucleares do sangue periférico e concentração do ACTH e do

cortisol basais, ou seja, no tempo 0 do teste de supressão com dose muito baixa de

dexametasona. Foi enfocada a dose de prednisona utilizada para o tratamento de manutenção

do LES. Os participantes realizaram as coletas de sangue para ACTH e cortisol no serviço de

Medicina Nuclear (Nuclimagem), que presta assistência terceirizada à Irmandade da Santa

Casa de São Paulo-SP. Para o resultado do ACTH hipersensível foi utilizado o método de

quimioluminescência (―IMMULITE® 2000 ACTH, Siemens Healthcare, Llanberis, United

Kingdom‖) com valor de referência inferior a 46 pg/mL, segundo o fornecedor. O cortisol

sérico foi mensurado por quimioluminescência (―Cortisol Immulite 2000‖, DPC, Los

Angeles, CA, EUA), com coeficiente de variação inter-ensaio <10% e limite de detecção de

5µg/dL, pela manhã.

A segunda visita ocorreu 2 horas após o teste de supressão com dose muito baixa de

dexametasona (20µg/m2) por via intravenosa. Nessa ocasião, foram avaliados: ACTH e

cortisol séricos. Ao término das coletas, os participantes receberam uma prescrição de

decadron® elixir 0,5mg/5ml (Prodome Química e Farmacêutica Ltda - Indústria Brasileira),

contendo a dose do GC baseada no cálculo de 20µg/Kg/dia, dividida a cada 6 horas (dose

máxima de 2mg/dia). Os participantes foram orientados a iniciar a dose oral de dexametasona

às 12:00h do mesmo dia.

Na terceira visita, isto é, após 48 horas da coleta basal, os casos e controles foram

direcionados à nova coleta de ACTH e cortisol séricos e amostra de sangue periférico para

determinação da expressão do RGα e NF-kB (às 8:00h), após o teste oral de supressão com

dose baixa de dexametasona.

Durante o período do estudo, todos os participantes foram orientados a não utilizar

qualquer medicação sem o prévio conhecimento do pesquisador, especialmente

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17

glicocorticoide por via oral, parenteral e/ou inalatória, inclusive os pacientes com LES, para

não interferir na interpretação dos testes com dexametasona.

3.1.1 Testes de supressão com doses muito baixa e baixa de dexametasona

Todos os sujeitos da pesquisa foram submetidos ao teste de supressão intravenosa com

fosfato dissódico de dexametasona (DECADRON

2mg/ml - Prodome Química e

Farmacêutica Ltda - Indústria Brasileira), utilizando-se a dose de 20 µg/m2 IV em bolus. Foi

determinada a expressão da isoforma alfa do receptor de glicocorticoide e do gene NF-kB, a

partir do RNA extraído de células mononucleares periféricas.

Após um período de jejum de 10-12 horas, os indivíduos foram admitidos às 6:45h, no

Laboratório de Medicina Nuclear da Santa Casa de São Paulo, onde foi estabelecido o acesso

venoso e mantido por solução fisiológica 0,9%. Sucedeu-se um intervalo de 15 minutos de

repouso. Neste momento (tempo 0), foram colhidas as amostras de sangue para quantificação

do cortisol basal e do ACTH e para obtenção das células mononucleares. Imediatamente antes

do início do teste, foi diluída 1mL da solução-mãe de dexametasona (2mg/ml) em 19mL de

solução fisiológica 0,9%, obtendo-se uma concentração final de 100µg/mL e calculado o

volume a ser infundido em cada paciente na dose de 20µg/m2.

Após o repouso de 15 minutos e consequente coleta da amostra basal (tempo 0),

procedeu-se à administração IV em bolus da dexametasona. A coleta seguinte de sangue foi

feita após 120 minutos, para a mensuração do cortisol e do ACTH séricos. A redução

percentual de cortisol aos 120 minutos, em relação à quantificação basal, foi chamada de F%

e expressa a sensibilidade individual ao glicocorticoide.

Para verificar a existência de hipercortisolismo e com o objetivo principal de analisar

o eixo HHA, foi realizado o teste de supressão com dose baixa de dexametasona por via oral.

O objetivo desse teste é inibir a secreção hipofisária do ACTH. O procedimento consistiu em

administrar dexametasona na dose de 20µg/Kg/dia (máximo de 2,0mg/dia), dividida de 6/6

horas por dois dias consecutivos. Em indivíduos normais, o teste resulta na supressão dos

valores do ACTH e do cortisol com a dose descrita de dexametasona. Considerou-se como

resposta esperada ao teste: cortisol <1,8µg/dL e ACTH <20pg/mL. A redução percentual de

cortisol após 48h do teste oral, em relação à quantificação basal, foi chamada de FOr%.

3.1.2 Separação de células mononucleares

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18

Antes da administração IV da dexametasona 20µg/m2, foi colhido sangue venoso de

cada paciente em dois tubos de 10mL com heparina sódica (―Vacutainer, Becton-Dickinson‖).

O volume de 20mL de sangue heparinizado foi mantido em temperatura ambiente por, no

máximo, 2 horas até o início do procedimento de separação das células mononucleares, o qual

foi realizado através de centrifugação a 1750rpm por 30 minutos em temperatura ambiente.

As células mononucleares, separadas pelo gradiente de densidade, foram aspiradas

com pipeta estéril tipo Pasteur e transferidas para tubo cônico estéril de 15mL. Após adição

de 10mL de tampão fosfato-salina (PBS; Isotonic Phosphate Buffered Saline Solution;

Phosphate Buffered saline tablets, Cat. Nº P4417, Sigma), o tubo foi centrifugado a 1750rpm,

por 10 minutos. O sobrenadante foi aspirado e descartado, obtendo-se o precipitado celular.

Em seguida, esse procedimento foi repetido e, posteriormente, o precipitado celular resultante

foi diluído em 1mL de PBS, aspirado cuidadosamente com pipeta Eppendorf e transferido

para tubo estéril de 2mL, ao qual foi adicionado 100µL de dimetil-sulfóxido (DMSO, Sigma)

para armazenamento em temperatura ultra-baixa (-80ºC) pelo tempo máximo de 15 dias.

A seguir, as células mononucleares foram descongeladas e o DMSO removido através

da transferência da suspensão celular para tubo cônico estéril de 15mL, adição de 10mL de

PBS estéril e centrifugação a 1000rpm, por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado, e o

precipitado, diluído e homogeneizado em 1mL de PBS.

3.1.3 Extração de RNA e obtenção do DNA complementar

Para a extração de RNA, foi utilizado um reagente baseado no tiocianato de guanidina

(TRIZOL, GIBCO BRL Cat Nº 15596), adicionado à suspensão celular na proporção de 1mL

para cada um milhão de células mononucleares viáveis. Realizou-se a centrifugação do

material para a obtenção da fase aquosa.

Na etapa de precipitação do RNA, foi adicionado, à fase aquosa, 500µL de

isopropanol a 100% para cada 1mL de reagente TRIZOL usado. Após uma fase de repouso de

10 minutos, o material foi novamente centrifugado e, em seguida, descartado o sobrenadante,

sendo o precipitado lavado com etanol 85% gelado (-20ºC), com posterior agitação do tubo e

centrifugação a 7000rpm por 8 minutos, a 4ºC, para completa remoção do etanol. O

precipitado de RNA, algumas vezes invisível antes desta centrifugação, forma um pellet

semelhante a um gel na porção inferior do tubo. Após ser diluído em 40µL de água livre de

DNase e RNase (DNase/ RNase-free water, GIBCO BRL Cat. Nº 10977-23), determinou-se a

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19

concentração de RNA por meio de espectrofotometria nos comprimentos de onda de 260 e

280nm, contra um branco de água, sendo o resultado desejável, acima de 1.4, indicativo de

pureza do RNA.

Ao RNA ressuspenso, foi adicionado 1µL de enzima inibidora de RNase (RNase

Inhibitor,1U/µL,Applied Biosystems) e, em seguida, armazenou-se o tubo, devidamente

identificado, em temperatura ultra-baixa (-80ºC) por um período de, no máximo, 2 semanas.

Após a obtenção do RNA, este foi submetido à reação enzimática modulada por uma

transcriptase reversa, permitindo a síntese do DNA complementar ao RNA extraído (cDNA).

A reação foi preparada conforme a orientação do fabricante (TaqMan Reverse Transcription

Reagents, Cat Nº N808-0234, Applied Biosystems).

O cDNA obtido foi posteriormente refrigerado a -20ºC até que todas as amostras do

estudo estivessem armazenadas para a etapa seguinte, ou seja, para realização da reação de

PCR em tempo-real (RQ-PCR) e para quantificação da expressão da isoforma alfa do gene do

receptor de glicocorticoide e do gene NF-kB.

3.1.4 PCR em tempo-real (RQ-PCR)

No preparo das reações de RQ-PCR, foi utilizada uma solução-mãe para cada gene.

Esta solução foi preparada de acordo com o número de amostras e em duplicata. Em cada

corrida analítica, foi utilizada uma curva-padrão previamente estabelecida, constituída por

diluições seriadas de cDNA de células Jurkat (clone E6-1, ATCC).

Para a isoforma alfa do RG, utilizamos os mesmos primers e sonda previamente

validados por Melo et al. (2004)(92)

(sequência de orientação 5' 3'):

Iniciador Sense: G A A G G A A A C T C C A G C C A G A A

Iniciador Anti-sense: C C T A A C A T C T C G G G G A A T

Sonda: 6-FAM-GCTTCCAAACATTTTTGGATAAGACCAT-TAMRA

Tamanho do produto: 151pb

Uma das principais etapas para a análise da expressão gênica por meio de PCR em

tempo real envolve a escolha de um gene controle, cuja expressão não tenha variação entre as

amostras analisadas. Embora não exista consenso quanto aos melhores genes para

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20

normalização, diversos genes podem ser utilizados para este fim, como o GAPDH, o G6PD e

o ABL.

Em nosso estudo, o gene BCR foi escolhido como normalizador, pois sua expressão é

praticamente constante ao longo do tempo, além de ser expresso em quantidade semelhante ao

RGα(92)

. O gene BCR (Breakpoint Cluster Region) está localizado no braço longo do

cromossomo 22 (22q11.21), possui 23 exons e codifica uma proteína com atividade serina ou

treonina quinase(101)

. A sonda e os iniciadores para esse gene normalizador foram os mesmos

utilizados por Branford et al (1999)(102)

e depois por Melo et al(92)

(2004), sendo as sequências

e tamanho do produto:

Iniciador Sense: C C T T C G A C G T C A A T A A C A A G G A T

Iniciador Anti-sense: C C T G C G A T G G C G T T C A C

Sonda: 6-FAM-TCCATCTCGCTCATCATCACCGACA-TAMRA

Tamanho do Produto: 67 pb

As reações de RQ-PCR para RGα e BCR foram padronizadas de forma a ocorrerem

com concentrações e condições de temperatura idênticas. O preparo da solução-mãe é descrito

na Tab. 2.

Tabela 2: Preparo das soluções-mãe utilizadas na PCR em tempo real (RGα e BCR)

Componente Volume (µL) por reação Concentração final após

adição de 2µL de cDNA

TaqMan Buffer A 10X 2,5 1X

25 mM MgCl2 4,5 4,5mm

DeoxyNTP 2,0 500µM/cada

Primer sense 0,5 200nM

Primer anti-sense 0,5 200nM

Sonda 0,5 100nM

AmpliTaq Gold 5U/µL 0,13 0,025u/µL

Água livre de RNase 12,37 -----

Total 23 -----

TaqMan™ PCR Core Kit, N808-0228, Applied Biosystems

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21

Foram adicionados 23µL da solução-mãe aos tubos de 0,2mL especiais para RQ-PCR

(Optical Tubes, Applied Biosystems) e 2µL da solução com cDNA, colocando tampa de alta

transparência (Optical Caps, Applied Biosystems) para vedá-los efetivamente. Uma vez que a

quantificação é baseada na emissão de luz monocromática através do tubo e na captação da

fluorescência gerada por uma sonda, torna-se essencial a utilização de tubos e tampas de alta

transparência.

Os tubos foram então posicionados no termociclador de tempo real (ABI 7500,

Applied Biosystems), sendo realizada a programação dos parâmetros em software dedicado

(SDS-Sequence Detection System v. 1.2, Applied Biosystems) em ambiente operacional

Windows (Microsoft Co.).

A programação da temperatura compreendeu uma ativação inicial da Taq Gold, uma

modificação da enzima polimerase obtida a partir do bacilo Thermus aquaticus que não

apresenta atividade à temperatura ambiente antes de sua ativação, garantindo maior

especificidade à reação(103)

. Essa ativação enzimática ocorre a 95ºC por 10 minutos, seguida

pela amplificação da sequência em 40 ciclos de dois estágios: 15 segundos a 95ºC, para

desnaturação das fitas de cDNA e 90 segundos a 60ºC, para anelamento e extensão dos

primers. Na fase de extensão, a Taq Gold, por meio de sua atividade 5' -exonuclease, desloca

a sonda que, excitada por um feixe de raios de luz de comprimento de onda específico, emite

fluorescência quando o fluorocromo inibidor (TAMRA) se afasta do emissor (6-FAM).

O programa computacional controla a captação dos sinais luminosos por células

fotoelétricas, correlacionando a fluorescência medida com o ciclo da programação da

temperatura. Ao término da reação (duração de 120 minutos), o programa calcula o ciclo

limite (Ct, cycle threshold) e mostra o gráfico das reações, com representação colorida

diferenciando os tubos.

Para evitar falsos resultados positivos resultantes de quebra da sonda não relacionada à

amplificação, foi examinada, visualmente, a representação gráfica de cada uma das reações,

garantindo haver elevação exponencial da fluorescência com o decorrer dos ciclos. A

ocorrência de resultados falso-positivos causados por contaminação das reações com cDNA

de origem desconhecida foi controlada pela utilização dos controles negativos em cada

análise.

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22

A quantificação do RNAm do NF-kB foi semelhante, utilizando a padronização da

reação previamente realizada por Cavalcante et al(104)

:

Iniciador sense: AAACACTGTGAGGATGGGATCTG (23bp, Tm 59oC)

Iniciador anti-sense: CGAAGCCGACCACCATGT (18bp, Tm 59oC)

Produto: 64bp

Nessa reação, utilizou-se a detecção por SYBR-green, um agente intercalador de

dupla-fita de DNA, que dispensa a utilização de sondas (Tab. 3). Para garantir a

especificidade da amplificação, além da programação mencionada anteriormente, foi

introduzido um ciclo de dissociação onde há captação de fluorescência durante o aquecimento

e resfriamento demorado do produto de amplificação, com posterior determinação da

temperatura de dissociação do mesmo (Tm). Para o NF-kB, foi padronizado um pico de

dissociação único, com Tm de 79,9oC (±1

oC).

Tabela 3: Preparo da solução-mãe utilizada na PCR em tempo real para o gene NF-kB

Componente Volume/Tubo (µL) Concentração final após

adição de 2µL de cDNA

Platinum SYBR mix 2X 12,5 1X

Primer sense 0,4 160nM

Primer anti-sense 0,4 160nM

Água livre de RNase 9,7 ------

Total 23 -----

SYBR: qPCR SuperMix-UDG with ROX 2X (Invitrogen, Carlsbad, Calif., USA)

3.2 Análise estatística

A normalização da expressão de RGα e NF-kB por BCR e o cálculo da percentagem

de supressão de cortisol após IV-VLD-DST foram realizados com auxílio do programa

computacional MS-EXCEL (Microsoft, Redmond, EUA).

A análise estatística foi elaborada com auxílio dos programas Minitab 15 (Minitab,

State College, PA, EUA) e SigmaStat v3.5 (SPSS, Chicago, Il, EUA), considerando nível de

significância p < 0,05. Para as comparações de variáveis categóricas ou qualitativas,

utilizamos o teste de qui-quadrado. Para comparações de variáveis contínuas entre os grupos,

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23

usamos o teste-t ou Kruskal-Wallis, conforme a normalidade da distribuição, avaliada pelo

teste de Kolmogorov-Smirnov.

Utilizamos o teste de regressão linear para avaliar a relação entre duas variáveis

contínuas (como dias desde o último surto de LES e F%). Quando analisamos uma variável

contínua em dois momentos distintos no mesmo indivíduo (como unidades de expressão do

RGα), utilizamos o teste-t pareado ou o Wilcoxon Signed Rank Test, conforme a distribuição

da mesma. A avaliação das variáveis que estão associadas à sensibilidade individual in vivo

aos glicocorticoides (F%) foi demonstrada através de regressão linear multivariada tipo

―Backward Stepwise Linear Regression‖, com F-para-remover de 3,9, no grupo LES.

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24

4. RESULTADOS

O grupo de pacientes com LES apresentou média de idade (DP) na coleta de 30,6 (2,4)

anos, e o grupo controle, 34 (3,5) anos (p=0,436). Quanto à cor da pele, os pacientes lúpicos

foram constituídos por três brancos, dois negros e quatro pardos, ao passo que o grupo

controle foi representado igualmente por indivíduos de cor branca e parda. Todos os doentes e

controles eram do sexo feminino. Não houve diferença entre pacientes e controles no que se

refere à superfície corporal e ao peso verificado no momento da coleta basal, conforme pode

ser visto na tab. 4.

Tabela 4: Características gerais do grupo com Lúpus Eritematoso Sistêmico e controle

LES Controle p

Idade (anos) * 30,6 + 2,4 34 + 3,5 0,436

Peso (kg) * 69 + 4,5 63,87 + 3,0 0,356

Superfície Corporal (m2)* 1,761 + 0,064 1,692 + 0,041 0,378

*Teste-t – dados como média + DP; p: nível de significância

Todas as lúpicas encontravam-se com doença em remissão no momento da seleção,

definida por SLEDAI de zero. A média (DP) de idade ao diagnóstico de LES foi de 26,7 (8)

anos. A média (DP) de duração da doença, desde o diagnóstico de LES até o momento da

coleta laboratorial basal foi de 7,3 (5,1) anos. O tempo médio (DP) decorrido desde o último

surto de atividade da doença até o dia da coleta foi de 840,8 (572,4) dias.

Todas as pacientes apresentavam FAN positivo em altos títulos e manifestaram o

critério articular do LES pelo ACR – 1997(6)

na apresentação de sua doença, conforme

descrição encontrada no prontuário. Quatro lúpicas tinham história de acometimento cutâneo,

definido por eritema malar em asa de borboleta e/ou lúpus discoide e/ou fotossensibilidade.

Quatro pacientes preencheram o critério renal do LES e, pela avaliação dos exames clínicos e

laboratoriais do prontuário, foi dado o diagnóstico de glomerulonefrite mesangial, por

correlação clínico-histológica segundo Esdaile, 1991(105)

. O anticorpo anti-dsDNA foi

encontrado em quatro participantes do grupo LES. Todos os dados referentes aos critérios

classificatórios do LES em cada paciente encontram-se discriminados na tabela a seguir.

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25

Tabela 5: Características de cada paciente do grupo LES estudado de acordo com os

critérios do American College of Rheumatology-1997(6)

Paciente Critérios classificatórios do ACR-1997 preenchidos para o diagnóstico

1 Artrite, Comprometimento renal, Anticorpo antinuclear, Alteração imunológica

(anti-dsDNA)

2 Fotossensibilidade, Úlcera oral, Artrite, Comprometimento renal,

Leucopenia/linfopenia, Anticorpo antinuclear, Alteração imunológica (anti-

dsDNA)

3 Artrite, Serosite, Linfopenia, Anticorpo antinuclear

4 Fotossensibilidade, Artrite, Leucopenia, Anticorpo antinuclear

5 Úlcera oral, Artrite, Alteração hematológica (plaquetopenia), Anticorpo

antinuclear

6 Úlcera oral, Artrite, Comprometimento renal, Anticorpo antinuclear

7 Rash malar, Artrite, Leucopenia/linfopenia, Anticorpo antinuclear

8 Úlcera oral, Artrite, Leucopenia/linfopenia, Anticorpo antinuclear, Alterações

imunológicas (anti-dsDNA, anti-Sm)

9 Lesão discoide, Fotossensibilidade, Artrite, Comprometimento renal,

Leucopenia/linfopenia, Anticorpo antinuclear, Alteração imunológica (anti-

dsDNA)

Em todas as pacientes, foi aplicado o índice de dano do Systemic Lupus International

Collaborating Clinics/ American College of Rheumatology (SLICC/ACR/DI-1996)(106)

(Anexo 3). Foi demonstrado algum dano orgânico em quatro casos, sendo um deles por

diabetes melito; um, relacionado ao sistema vascular periférico; um, por dano

musculoesquelético (osteonecrose do fêmur esquerdo) e o último, por lesão cutânea.

Seis das nove pacientes lúpicas utilizavam prednisona por via oral na dose de 5mg/dia

em única tomada pela manhã, associada ao antimalárico (difosfato de cloroquina 250mg/dia

ou hidroxicloroquina 400mg/dia). Das três pacientes lúpicas que não utilizavam prednisona,

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26

duas faziam uso isolado de difosfato de cloroquina 250mg/dia, e uma paciente usava apenas

enalapril 10mg/dia para tratamento de hipertensão arterial sistêmica.

4.1 Comparação da sensibilidade in vivo aos glicocorticoides nos dois grupos

estudados

4.1.1 Comparação das condições basais e resposta ao IV-VLD-DST entre os

grupos

A quantificação do cortisol e do ACTH no tempo 0 (valor basal) foi semelhante entre

os grupos. Após 120 minutos da administração de dexametasona 20µg/m2 (IV-VLD-DST), a

concentração de ACTH, mas não a de cortisol, foi maior no grupo LES em relação aos

controles (tab. 6). Avaliando conjuntamente as pacientes com LES e os controles, observa-se

que, com o IV-VLD-DST, ocorreu uma redução da mediana de ACTH de 18pg/mL para

10pg/mL (p<0,001, Wilcoxon Signed Rank Test) e da média (DP) de cortisol de 16,1µg/dL

(7,5) para 9,6µg/dL (4,3), com p<0,001 (teste-t pareado).

Após realizar o teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona intravenosa

(IV-VLD-DST), observou-se que a amplitude de supressão do cortisol aos 120 minutos (F%)

foi mais intensa nos controles (mediana = 53,2% de redução) que nas pacientes com LES,

com mediana de 23,48% (p=0,014).

Utilizando o nível de corte arbitrário de 50% de redução do cortisol após o IV-VLD-

DST, encontramos 6/10 controles com essa proporção de supressão versus 0/9 das pacientes

com LES (p=0,001, qui-quadrado).

Tabela 6: Resultados do ACTH e do cortisol nos tempos 0 e 120 minutos no grupo de

pacientes com LES fora de atividade e controles saudáveis

Tempo Dado laboratorial LES Controles p

Tempo 0

ACTH (pg/mL)1 24,11 + 9,93 17,7 + 17,3 0,332

Cortisol (µg/dL)2 11,7 19,4 0,253

Tempo 120

minutos

ACTH (pg/mL)2 20 6,5 0,048*

Cortisol (µg/dL)1 10,34 + 4,91 8,96 + 3,86 0,508

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27

Continuação:

Tempo Dado laboratorial LES Controles p

Relação

entre os

tempos

F%2 23,48% 53,2% 0,014*

% de casos com

supressão do

cortisol acima de

50% 3

0% 60% 0,001*

1)Teste-t - dados como média + DP ; * p< 0,05 ; 2) Kruskal-Wallis - dados como mediana. 3) Qui-quadrado

Ao avaliarmos o nível de corte de F% na discriminação entre os grupos, com a

utilização de uma curva ROC (receiver operator characteristics), também obtivemos a

melhor separação com F% = 50%, com 100% de sensibilidade e 60% de especificidade, sendo

a área sob a curva de 83,3% (IC 95%= 61,9% - 100%), com p=0,014 (fig. 3).

Figura 3: Curva ROC (receiver operator characteristics) da supressão de cortisol após

IV-VLD-DST entre os grupos controle e pacientes com LES. A linha azul mostra a variação de

sensibilidade e 1-especificidade com níveis de corte variados. A linha diagonal (verde) ilustra a nulidade de

efeito discriminante. Área sob a curva = 83,3% (IC 95%= 61,9% - 100%), com p=0,014.

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28

4.1.2 Comparação da resposta ao teste oral com dose baixa de dexametasona

entre os grupos

Ao término do teste oral com dose baixa de dexametasona (48horas), verificou-se que

a amplitude de supressão do cortisol com este teste (FOr%) foi semelhante entre os grupos

LES e controle, com mediana de supressão de 94,79% e 93,9%, respectivamente (p=0,414).

Quatorze indivíduos (73,7% do total) apresentaram resposta esperada ao teste, com cortisol

<1,8µg/dL e ACTH <20pg/mL, sendo que os outros cinco apresentaram cortisol entre

2,1µg/dL e 3,68µg/dL. Destes, quatro apresentaram ACTH <20pg/mL.

Para verificar a capacidade discriminatória de FOr%, calculamos a mediana dos

valores de supressão no grupo como um todo (supressão de 94,4%) e comparamos quantos

casos suprimiram mais do que a mediana em cada um dos grupos: 5/10 nos controles e 5/9

nas pacientes com LES (p=0,809, qui-quadrado). Mesmo com a utilização da curva ROC, não

foi possível determinar um ponto de corte na supressão: área sob a curva = 38,9% (IC 95% =

12,1% - 65,7%), p=0,414.

Procuramos, então, determinar se havia concordância entre maior resposta ao IV-

VLD-DST e ao teste oral com dexametasona, avaliando os dois grupos conjuntamente. Dos

10 indivíduos que suprimiram mais do que a mediana no teste de 48hs, apenas três também

tiveram supressão maior que 50% no IV-VLD-DST (tab. 7).

Tabela 7: Distribuição cruzada entre a supressão no IV-VLD-DST (F%) e no teste oral

com dexametasona após 48hs (FOr%), avaliando-se conjuntamente pacientes com LES e

controles

F% até 50% F% acima de 50% TOTAL

FOr% até mediana (< ou = 94,4%) 6 3 9

FOr% acima da mediana (>94,4%) 7 3 10

TOTAL 13 6 19

Teste Qui-quadrado, p=0,876

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29

4.2 Comparação da expressão gênica entre os grupos

As medianas da expressão gênica do RGα e NF-kB mostraram-se semelhantes em

ambos os grupos (Tab. 8).

Tabela 8: Comparação das medianas da expressão gênica do RGα e NF-kB entre os

grupos de pacientes com LES e controles

N (LES/C) LES CONTROLES p

RGα tempo 0 13 (7/6) 21,55 8,606 0,317

RGα tempo 48h 12 (9/3) 19,54 20,24 0,926

NF-kB tempo 0 13 (7/6) 29,164 3,999 0,253

NF-kB tempo 48h 12 (9/3) 30,93 31,97 0,782

N(LES/C): número total de casos analisados com sucesso em cada teste (no grupo LES / no grupo controle); p:

nível de significância; Teste Kruskal-Wallis

Foi possível avaliar o efeito do teste oral com dexametasona na expressão do RGα e

NF-kB, de forma pareada, em 10 e 9 indivíduos, respectivamente, nos quais não se observou

diferença da expressão gênica entre os tempos 0 e 48 horas (Tab. 9). Os dados não

apresentados resultaram de falha na amplificação gênica.

Tabela 9: Avaliação da expressão gênica do RGα e NF-kB de forma pareada, nos

indivíduos que apresentaram expressão no tempo basal (tempo 0) e após o teste oral de

supressão com dose baixa de dexametasona (tempo 48 horas)

Tempo 0 Tempo 48 horas p

RGα (n=10) 11,575 (7,7 - 27,6) 19,892 (8,5 - 28,6) 1,00

NF-kB (n=9) 18,272 (11,7 - 141,2) 40,213 (6,5 - 311,4) 0,250

n: número de amostras analisadas; p: nível de significância; Wilcoxon Signed Rank Test

4.3 Correlação da sensibilidade in vivo e expressão gênica

Ao avaliarmos conjuntamente as pacientes e controles, não observamos correlação

entre a expressão do RGα ou NF-kB em função da supressão de cortisol ao IV-VLD-DST:

r=8,8%, p=0,324 e r=5,7%, p=0,462, respectivamente. Semelhantemente, não houve

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30

correlação entre a amplitude de supressão do cortisol obtida pelo teste oral (FOr%) e a

expressão do RGα e do NF-kB (r=7,9%, p=0,796; r=0,9%, p=0,766, respectivamente).

4.4 Avaliação dos achados laboratoriais em relação aos dados clínicos nas

pacientes com LES

Analisando os dados referentes ao tempo decorrido desde o último surto de atividade

da doença, caracterizado por SLEDAI > 6, em nove pacientes lúpicas, verificamos que a

amplitude de supressão ao IV-VLD-DST foi estatisticamente maior nas pacientes com doença

em remissão há mais tempo (r=75,6%, r2=57,1%, p=0,019) (Fig. 4).

Figura 4: Correlação entre a amplitude de supressão do cortisol obtida pelo IV-VLD-

DST e o número de dias desde o último surto de LES, definido como SLEDAI acima de

6. Os círculos representam os dados de cada paciente com LES e as linhas, a regressão linear com seus

intervalos de confiança (r=75,6%, r2=57,1%, p=0,019).

Em sete casos de pacientes com LES, foi analisada a relação entre a unidade de

expressão do gene NF-kB e RGα e o tempo transcorrido desde o último surto de atividade da

doença, por teste de regressão linear, constatando-se que não houve diferença estatística entre

os parâmetros analisados (r=8% e p=0,540 para o NF-kB e r=0,1% e p=0,948, para o RGα).

Buscando verificar quais as variáveis poderiam influir de forma complementar na

identificação da sensibilidade ao IV-VLD-DST, utilizamos uma regressão linear multivariada

do tipo "Backward Stepwise". A variável de interesse (dependente) foi F%. Incluímos, no

modelo inicial, as seguintes variáveis independentes: RGα, NF-kB, ACTH basal, cortisol

Regression, Conf. & Pred.

dias desde ultimo surto

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200

F%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

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31

basal e dias desde o último surto de atividade do LES. Todas as variáveis analisadas foram

excluídas do modelo, por apresentarem F-para-remover menor que 3,9, exceto dias desde o

último surto de LES, com r=75,6% e p=0,019.

4.5 Avaliação do uso ou não de prednisona nas pacientes com LES, em relação às

variáveis estudadas

O cortisol e o ACTH basais, a amplitude de supressão do cortisol ao IV-VLD-DST

(F%) e a expressão de RGα e NF-kB foram semelhantes entre as seis pacientes com LES que

estavam em uso de prednisona e as três que estavam sem prednisona há, pelo menos, quatro

meses (Tab. 10).

Tabela 10: Comparação das variáveis estudadas nas pacientes lúpicas, com e sem uso de

prednisona para manutenção da remissão do LES, em doses de até 5mg/dia.

LES em uso de prednisona

(n= 6)

LES sem prednisona

(n= 3)

p

Cortisol basal

(µg/dL) 10,45 13,2 0,121

ACTH basal

(pg/mL) 23 18 0,606

F% 19,2% 34,6% 0,439

RGα 14,67 23,3 0,439

NF-kB 22,35 606,1 0,197

n: número de casos analisados; dados como mediana; p: nível de significância; Teste Kruskal-Wallis

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32

5. DISCUSSÃO

Os pacientes portadores de LES com doença fora de atividade foram selecionados por

terem preenchido, em algum momento na evolução de sua doença, pelo menos quatro dos

onze critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia de 1997(6)

(Anexo 1).

Os casos não tiveram restrição à participação no estudo, em relação ao sexo, tempo de doença

e dias transcorridos desde o último surto de atividade do LES, mas deveriam,

obrigatoriamente, apresentar SLEDAI igual a zero no momento da coleta inicial.

Todos os pacientes eram do sexo feminino e tiveram média de idade ao diagnóstico de

LES de 26,7 anos, com uma variação de 18 anos a 42 anos. Como está bem definido na

literatura, o LES é mais prevalente em mulheres, com razão entre os sexos

feminino:masculino de 9:1 em adultos, mas pode chegar a 4:3, em crianças na primeira

década de vida e 5:1, em maiores de 50 anos. Geralmente, a idade ao diagnóstico de LES é de

15 anos a 40 anos(107)

. Logo, as características demográficas descritas no presente estudo são

semelhantes às encontradas na casuística brasileira. Quanto à cor da pele, o percentual de

pardos e brancos foi semelhante, porém vale ressaltar que é difícil a correta classificação

racial no nosso país, devido ao alto grau de miscigenação.

Em relação às manifestações clínicas do LES, todas as pacientes tinham antecedente

de artrite e a maioria delas já havia apresentado alguma manifestação cutâneo-mucosa. O

fator antinuclear (por imunofluorescência indireta em células Hep-2) estava presente em altos

títulos e com padrão nuclear. Nenhuma paciente tinha história pregressa de alteração

neuropsiquiátrica grave do LES. Quatro pacientes apresentaram manifestações renais do LES

ao diagnóstico da doença, as quais foram tratadas apenas com prednisona em altas doses

(1mg/Kg/dia), por provável correlação clínico-histológica compatível com glomerulonefrite

mesangial, segundo Esdaile et al(105)

. Pela descrição dos prontuários, houve adequada resposta

à medicação, caracterizada por redução da proteinúria de 24 horas, normalização do

sedimento urinário e da concentração das frações do complemento (C3 e C4). Não houve

necessidade de realizar biópsia renal em nenhum dos casos, como não foi necessária a

utilização de drogas imunossupressoras. Nenhuma das pacientes apresentava alterações do

sedimento urinário ou da função renal no momento da coleta das amostras. Portanto, para o

estudo, foram escolhidas doentes com LES de baixa agressividade e, portanto, em uso de

baixas doses de prednisona (< ou igual a 5mg/dia) para manutenção de remissão clínica.

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33

Dano orgânico em portadores de LES está associado a aspectos sócio-econômicos,

duração da doença e mau prognóstico(108,109)

. Em nosso estudo, observamos que a presença

de dano em algum sistema orgânico foi de 44,4%. Rahman et al(109)

encontraram 28% de dano

orgânico em pacientes com um ano de doença e este dado se correlacionou com aumento da

mortalidade após dez anos, quando comparado a pacientes sem nenhum dano. Em um recente

estudo brasileiro, dano orgânico precoce foi visto em 37% dos pacientes com até três anos de

doença, sendo o dano neurológico o mais frequente(106)

. Em outro estudo nacional, Guarize et

al(110)

encontraram 68,3% de danos permanentes, sendo a maioria relacionada à pele (35%),

porém o grupo de pacientes avaliados tinha um tempo médio de doença superior (80 meses,

com DP de 23,2 meses). Na nossa casuística, a média de tempo de doença foi de 7,3 anos (DP

de 5,08 anos e variação de 2 anos a 18 anos), sendo o acometimento da pele, dos sistemas

vascular periférico e musculoesquelético e o diabetes melito os responsáveis pelo dano

permanente (SLICC/ACR), nas pacientes com mais de quatro anos de diagnóstico de LES.

Os controles mantiveram paridade segundo idade, sexo, cor da pele, peso e superfície

corporal, permitindo uma comparação adequada entre os grupos, mesmo com um pequeno

número de amostras, sobretudo no que se refere à sensibilidade aos glicocorticoides. Em

estudo anterior(94)

, nosso grupo demonstrou variabilidade da sensibilidade aos GC em função

da idade, com uma maior sensibilidade na infância, a qual diminui na adolescência e volta a

subir na idade adulta. Assim, o adequado pareamento da idade é essencial para

comparabilidade da sensibilidade aos GC avaliada pelo IV-VLD-DST.

As concentrações do cortisol basal maiores que 7µg/dL sugerem que o eixo HHA

estava normofuncionante(100)

, tanto no grupo LES quanto no controle, no momento da coleta

basal das amostras. Portanto, pode-se considerar que a concentração dos RG e os resultados

dos testes de supressão do cortisol não foram influenciados por mecanismo de

retroalimentação ou down-regulation.

Os valores basais do cortisol e do ACTH nas pacientes com LES e nos controles

mostraram resultados semelhantes. Após 120 minutos da administração de dexametasona

20µg/m2

(IV-VLD-DST), a concentração de ACTH, mas não a de cortisol, foi maior no grupo

LES em relação aos controles. A quantificação de ACTH é caracterizada por dificuldades

metodológicas importantes, já que se trata de uma proteína de peso molecular maior que o dos

esteroides (4,5kDa e 250-350Da, respectivamente), sensível ao calor e instável no plasma(111)

,

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34

e a diferença observada pode ser efeito tanto da dificuldade técnica, quanto de uma

variabilidade amostral, pelo número relativamente pequeno de casos em cada grupo.

Quando analisamos a resposta ao teste intravenoso com dose muito baixa de

dexametasona de forma pareada, em pacientes e controles, houve redução de ambos os

parâmetros após o teste, indicando que este foi eficaz em estabelecer um espectro de

sensibilidade aos glicocorticoides in vivo, conforme anteriormente demonstrado pelo nosso

grupo (95,104)

. A amplitude de supressão (F%) foi menor nas pacientes com LES que nos

controles (23,5% versus 53,2%, respectivamente). Definindo um nível de corte arbitrário de

50% de redução do cortisol após 120 minutos do IV-VLD-DST, notou-se que nenhuma das

nove pacientes respondeu ao teste, ao passo que 60% dos controles apresentaram resposta.

Uma possível justificativa para a menor supressão do cortisol após o teste intravenoso

nas pacientes com LES seria o efeito residual do uso crônico e diário de GC pelas lúpicas no

eixo HHA e, portanto, uma baixa sensibilidade do RG ao uso, in bolus, de dose muito baixa

de dexametasona. Entretanto, quando comparamos a concentração de cortisol basal e a

supressão de cortisol pelo IV-VLD-DST em pacientes com LES em uso de prednisona em

relação àquelas sem o uso desta medicação, não observamos diferenças entre os grupos.

Todavia, deve-se ressaltar que apenas três pacientes não faziam uso desse fármaco, limitando

o poder dos testes estatísticos. Já foi demonstrado na literatura que um dos determinantes da

responsividade do RG são os próprios glicocorticoides, que promovem uma redução na

concentração de RG intracelular, conhecido como processo de down-regulation

homólogo(112)

. Esse achado poderia justificar a concentração de cortisol basal acima de

7µg/dL nas pacientes com LES.

Sabe-se que a regulação do eixo HHA é um mecanismo complexo e dependente de

vários fatores, como genéticos, psicopatológicos, metabólicos e imunológicos(113)

. A

dexametasona na dose de 0,25mg a 1mg já foi usada para testar a resposta inibitória que

exerce ao nível da hipófise em estudos anteriores. Demonstrou-se maior supressão do cortisol

matinal em indivíduos portadores de polimorfismo do gene do RG(28)

. Em outro trabalho,

verificou-se que mutação no gene do RG pode ser causa de resistência inata aos GC, com

alteração da concentração do RG intracelular e da sua afinidade ao ligante hormonal, baixa

estabilidade do RG, translocação nuclear anômala ou variações na sua interação com co-

fatores(114)

.

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35

Estudo prévio realizado em nosso serviço(95)

, no qual se usou o IV-VLD-DST pela

primeira vez em pacientes com artrite reumatoide (AR) para avaliar a integridade do eixo

HHA e determinar a sensibilidade aos GC, constatou uma diferença significativa entre os

resultados da concentração basal do cortisol do grupo AR com moderada atividade de doença

e controle (a concentração basal do cortisol estava 58% maior no grupo controle).

Demonstrou-se ainda uma menor supressão do cortisol após o teste com dose muito baixa de

dexametasona no grupo AR, representando, possivelmente, uma resistência parcial do

feedback negativo do GC ao nível central, encontrada em indivíduos com doenças

reumatológicas que utilizam GC por tempo prolongado, como AR ou LES. Entretanto,

posteriormente, comparando um novo grupo de pacientes com AR de menor gravidade e sem

uso de GC por, pelo menos, quatro meses e controles, verificamos que não houve diferença

entre os grupos, nem da concentração de cortisol basal, nem da sensibilidade in vivo aos GC

demonstrada pela supressão do cortisol pelo IV-VLD-DST(104)

.

A adequada reprodutibilidade do IV-VLD-DST pode ser observada quando avaliamos

a série histórica das medianas de F% em controles adultos submetidos ao teste por nosso

grupo: em 2008, Faria et al(94)

demonstraram F% de 61,6% em adultos de 21-56 anos e, em

2010, Cavalcante et al(104)

obtiveram F% de 38,4% em controles com mediana de 61,5 anos.

Estes dados são semelhantes aos obtidos com o presente grupo controle: F% de 53,2%, sendo

a média de idade deste grupo de 30,6 anos.

Comparando pacientes e controles quanto à sensibilidade in vivo aos GC após o teste

oral com dose baixa de dexametasona, determinada por FOr%, observou-se que não houve

diferença entre os grupos e não foi possível identificar um grau de supressão que diferenciasse

controles de pacientes com LES. Ao analisarmos conjuntamente casos e controles para

verificar a existência de concordância entre os resultados de supressão do cortisol no teste

intravenoso e no teste oral com dexametasona, constatou-se que não existiu correlação entre

os dois testes. Esse resultado possivelmente indica que a mediana de supressão do teste oral

com dexametasona em dose baixa foi muito alta (94,4% de supressão), não permitindo a

criação de um espectro adequado de resposta que permitisse a distinção de resistência parcial

aos GC. O propósito inicial do teste (detectar hipercortisolismo por Síndrome de Cushing,

diferenciando os casos de pseudo-Cushing), reflete esta idéia de detectar apenas graus mais

importantes de resistência aos GC.

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36

Pelos resultados do presente estudo, verificamos que algumas pacientes com LES

apenas responderam ao teste de supressão do eixo HHA, com redução da concentração do

cortisol sérico, quando se utilizou a dexametasona em doses mais altas que as empregadas no

teste de supressão IV. Esses achados sugerem que, neste grupo de LES, exista certo grau de

resistência aos GC. A menor sensibilidade aos GC, observada nas pacientes com LES, não foi

relacionada à menor expressão de RGα, como se poderia esperar. Igualmente, a expressão de

NF-kB, que poderia indicar um maior componente inflamatório, também não se relacionou à

sensibilidade aos GC pelo IV-VLD-DST. A expressão desses genes foi semelhante entre os

grupos estudados.

Observamos ainda que pacientes com menor tempo desde o último surto de atividade

do LES apresentavam menor sensibilidade in vivo aos GC e que o tempo transcorrido desde o

último surto de LES foi a única variável estudada que se correlacionou com a sensibilidade

aos GC, mesmo com a análise multivariada. Uma possibilidade seria a existência de efeito

pós-receptor, como, por exemplo, processo inflamatório residual após o surto de doença, não

mediado por NF-kB, que pudesse causar a resistência parcial aos GC. Translocação anômala

do RGα, co-inativação do RGα por AP-1 e/ou expressão alterada de co-ativadores poderiam

também interferir na sensibilidade do RG ao GC(115)

. Adicionalmente, alterações na

fosforilação do RG também podem associar-se à resistência aos GC, exemplificadas por

aumento da atividade de proteínas cinases como JNK, ERK e p38 MAPK(89)

. A fosforilação

do RG mediada por p38 MAPK está ligada a uma redução da atividade de transcrição gênica

do RGα. Desse modo, a resistência aos GC encontrada em alguns pacientes poderia ser

revertida pela adição de inibidores de MAPKs (como o IFN)(116)

.

Outra possibilidade é a maior expressão da isoforma beta do RG nas fases iniciais após

o surto de LES, causando a maior resistência relativa. Piotrowski et al(117)

demonstraram

maior expressão relativa do RNAm de RGβ em relação ao RGα em pacientes com LES em

alta atividade (2 casos, com SLEDAI de 17 e 30), comparada aos pacientes com

baixa/moderada atividade (média de SLEDAI de 6, com variação de 2 a 9).

A associação entre doenças auto-imunes e aumento da expressão do RGβ já foi

estudada. Publicações anteriores evidenciaram um aumento da expressão do RGβ em células

mononucleares circulantes de pacientes com asma corticorresistente, quando comparado a

controles saudáveis e pacientes responsivos ao GC (29,118)

. Também foi demonstrado que o

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37

polimorfismo da porção 3’UTR do RNAm do RGβ se associou à artrite reumatoide por

aumento da expressão do RGβ nesses pacientes, in vitro(119)

.

Dados da literatura afirmam que o RGβ não possui sítio de ligação para GC e não

promove transcrição ou trans-repressão gênica(120)

. Bamberger et al(77)

demonstraram pela

primeira vez que o RGβ pode atuar como um inibidor do RGα in vitro. Oakley et al(121)

também constataram que o RGβ pode inibir a transcrição gênica induzida pelo RG alfa em

células ―HeLa‖ (―human epithelial cells from a fatal cervical carcinoma transformed

by human papillomavirus 18‖). O RNAm do RGβ foi identificado por RT-PCR em vários

tecidos, como cérebro, pulmão, fígado, músculo e medula óssea, assim como a sua proteína

foi detectada por western blot, nos mesmos órgãos ou tecidos e a expressão do gene do RGβ

não é homogênea entre eles. Foi observado que células epiteliais do pulmão, timo e ducto

biliar hepático apresentam elevada expressão do RGβ (122)

. A razão entre RGα e RGβ também

é variável. Em células mononucleares do sangue periférico é de 600:1, enquanto na hipófise é

de 30:1. Adicionalmente, algumas citocinas pró-inflamatórias como IL-2, IL-4 e TNFα

demonstraram, in vitro, aumento da expressão do RGβ em células mononucleares

periféricas(123)

.

Apesar das associações entre aumento da expressão do RGβ e doenças

imunomediadas, como asma e AR, ainda não está completamente elucidado o papel do RGβ

na patogênese de outras doenças auto-imunes, como o LES, bem como a sua real participação

na resistência ao GC, que ocorre em um subgrupo de doentes com essas patologias.

Uma vez que a nossa casuística é pequena, a eventual ocorrência de mutações no RGα,

com consequente resistência aos GC em alguns pacientes, poderia causar dificuldade na

interpretação dos dados. Fujiwara et al(124)

encontraram mutação silenciosa no codon 766

(exon 9) do RGα em 8,3% dos pacientes com LES. Este polimorfismo havia sido descrito por

Koper (1997)(125)

em idosos e foi relacionado à menor resposta ao teste oral com

dexametasona. Um outro estudo publicado por Wüst et al(126)

descreveu um polimorfismo do

gene do RG, especialmente a homozigoze do Bcl1, que resultou em menores respostas do

cortisol comparadas a controles, após a administração de ACTH ou em situações de estresse

psicossocial.

Outro mecanismo de resistência aos GC foi recentemente relatado na literatura.

Demonstrou-se que, em um subgrupo de pacientes com asma corticorresistente e

corticodependente, havia uma falha no fenômeno de translocação nuclear do RGα e posterior

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38

acetilação da histona em resposta à dexametasona(127)

. A redução da acetilação de resíduos de

histona estão associados à interrupção da trancrição de genes-alvo do NF-kB (128,129)

. Os GC

podem ainda provocar modificações na fosforilação da histona, influenciando na

acessibilidade do RGα à cromatina e na transcrição dos genes-alvo(130)

.

Estudos anteriores demonstraram que a atividade do NF-kB está significantemente

aumentada em pacientes com LES versus controles saudáveis e essa é uma característica

permanente e estável do LES e não apenas um achado transitório de alguma fase da

doença(131)

. Sabe-se que os GC podem suprimir a atividade do NF-kB por aumentar os níveis

de IkB(132)

. Este mantém o NF-kB no citoplasma, em estado inativo, impedindo a sua

translocação nuclear. Um trabalho anterior pesquisou a influência de corticosteroides e/ou

outras drogas, usadas no tratamento do LES, sobre a atividade do NF-kB nesse grupo. Foram

incluídos pacientes com doença em diferentes estágios de atividade, segundo o SLEDAI, e

com doses variáveis de GC. Foi demonstrado, pelo estudo, que não houve diferença entre a

atividade do NF-kB, fase clínica da doença e terapêutica utilizada. Essa mesma publicação

sugeriu que os lúpicos apresentam um defeito na ativação do NF-kB mediada pelo TCR

(―receptor T cell‖) de células T do sangue periférico, quando comparados a pacientes

portadores de AR e controles. Ao avaliar a família do NF-kB, constatou-se uma redução da

subunidade p65/RelA por imunoblot no grupo LES e uma concentração do p50 normal nos

grupos avaliados(133)

.

Apesar de o NF-kB ser um fator importante na transcrição de muitos genes envolvidos

na resposta imune, incluindo IL-2(134)

, há dificuldades, até o presente, de estipular o impacto

da alteração de sua atividade no LES e de explicar as inúmeras anormalidades imunológicas

envolvidas nessa doença pleomórfica. Uma possibilidade para os achados encontrados neste

estudo é que o grau de inflamação sistêmica das pacientes era baixo e, portanto, insuficiente

para apresentar elevação da expressão de NF-kB, a partir de células mononucleares

periféricas.

Estudos futuros podem avaliar a expressão de cFos e Jun (proteína AP-1) e RGβ (e da

relação RGalfa/beta), bem como a identificação dos principais polimorfismos do RG, para

elucidar os mecanismos de resistência parcial aos GC existentes em alguns portadores de

LES. A ampliação da casuística pode ser de auxílio nestes estudos, inclusive podendo inserir

pacientes em diferentes estágios inflamatórios da sua doença e testar a sensibilidade ao GC, in

vivo, nesse contexto.

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39

Por fim, de modo prático, resta ainda verificar se os pacientes com LES em remissão

prolongada e que apresentam maior sensibilidade aos GC pelo IV-VLD-DST podem ter as

suas doses de prednisona diminuídas em relação aos com maior resistência ao teste. Desse

modo, seria possível prevenir a ocorrência de efeitos adversos aos GC sem, entretanto,

aumentar a possibilidade de recidiva da doença, garantindo menores doses do medicamento (e

até a sua suspensão) e aumento da aderência à terapêutica.

Em resumo, este estudo inédito permitiu a verificação de que pacientes portadores de

LES em remissão clínica e em uso de baixas doses de prednisona apresentaram resistência

parcial ao teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona, apesar da expressão do

RGα ser semelhante entre o grupo LES e controle. Demonstrou-se ainda que a maior

sensibilidade ao GC, no LES, correlacionou-se com maior tempo transcorrido desde o último

surto de atividade da doença, ou seja, com remissão clínica há mais tempo.

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40

6. CONCLUSÕES

A expressão do RNAm do RGα e do NF-kB nas pacientes portadoras de LES em

remissão foi semelhante à encontrada em controles saudáveis.

Não houve correlação entre a expressão desses genes com a resposta ao teste de

supressão com dexametasona nas pacientes e controles estudados.

O teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona foi eficaz em estabelecer

um espectro de sensibilidade aos glicocorticoides in vivo, identificando casos de pacientes

lúpicos com menor sensibilidade aos GC. A resposta ao teste de supressão com dose baixa de

dexametasona por via oral foi semelhante entre os grupos avaliados e não apresentou

concordância com o IV-VLD-DST.

A única variável que se correlacionou com maior sensibilidade, in vivo, aos GC em

pacientes com LES em remissão foi o maior tempo transcorrido desde o último surto de

atividade da doença.

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41

7. ANEXOS

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42

Anexo 1

1997 Update of the 1982 American College of Rheumatology Revised Criteria for Classification of

Systemic Lupus Erythematosus Criterion

Definition

1. Malar Rash Fixed erythema, flat or raised, over the malar

eminences, tending to spare the nasolabial folds

2. Discoid rash Erythematous raised patches with adherent keratotic

scaling and follicular plugging; atrophic scarring may

occur in older lesions

3. Photosensitivity Skin rash as a result of unusual reaction to sunlight,

by patient history or physician observation

4. Oral ulcers Oral or nasopharyngeal ulceration, usually painless,

observed by physician

5. Nonerosive Arthritis Involving 2 or more peripheral joints, characterized

by tenderness, swelling, or effusion

6. Pleuritis or Pericarditis 1. Pleuritis--convincing history of pleuritic pain or

rubbing heard by a physician or evidence of pleural

effusion OR 2. Pericarditis--documented by

electrocardigram or rub or evidence of pericardial

effusion

7. Renal Disorder 1. Persistent proteinuria > 0.5 grams per day or > than

3+ if quantitation not performed OR 2. Cellular casts-

-may be red cell, hemoglobin, granular, tubular, or

mixed

8. Neurologic Disorder 1. Seizures--in the absence of offending drugs or

known metabolic derangements; e.g., uremia,

ketoacidosis, or electrolyte imbalance OR 2.

Psychosis--in the absence of offending drugs or

known metabolic derangements, e.g., uremia,

ketoacidosis, or electrolyte imbalance

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43

9. Hematologic Disorder 1. Hemolytic anemia--with reticulocytosis OR 2.

Leukopenia< 4,000/mm3 on ≥ 2 occasions OR 3.

Lyphopenia< 1,500/ mm3 on ≥ 2 occasions OR 4.

Thrombocytopenia<100,000/ mm3 in the absence of

offending drugs

10. Immunologic Disorder

1. Anti-DNA: antibody to native DNA in abnormal

titer OR 2. Anti-Sm: presence of antibody to Sm

nuclear antigen OR 3. Positive finding of

antiphospholipid antibodies on: an abnormal serum

level of IgG or IgM anticardiolipin antibodies and/or

a positive test result for lupus anticoagulant using a

standard method, or a false-positive test result for at

least 6 months confirmed by Treponema pallidum

immobilization or fluorescent treponemal antibody

absorption test

11. Positive Antinuclear Antibody An abnormal titer of antinuclear antibody by

immunofluorescence or an equivalent assay at any

point in time and in the absence of drugs

Fonte:www.rheumatology.org

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44

Anexo 2

SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS DISEASE ACTIVITY INDEX

SELENA MODIFICATION

Physicians Global Assessment

0 1 2 3

None Mild Med Severe

SLEDAI SCORE

Check box: If descriptor is present at the time of visit or in the proceeding 10 days

Wt. Present. Descriptor. Definition

8 □ Seizure. Recent onset. Exclude metabolic, infectious or drug cause.

8 □ Psychosis. Altered ability to function in normal activity due to severe disturbance in the perception of

reality. Include hallucinations, incoherence, marked loose associations, impoverished thought content, marked

illogical thinking, bizarre, disorganized, or catatonic behavior. Excluded uremia and drug causes.

8 □ Organic Brain Syndrome. Altered mental function with impaired orientation, memory or other intelligent

function, with rapid onset fluctuating clinical features. Include clouding of consciousness with reduced capacity

to focus, and inability to sustain attention to environment, plus at least two of the following: perceptual

disturbance, incoherent speech, insomnia or daytime drowsiness, or increased or decreased psychomotor activity.

Exclude metabolic, infectious or drug causes.

8 □ Visual Disturbance. Retinal changes of SLE. Include cytoid bodies, retinal hemorrhages, serious exodate or

hemorrhages in the choroids, or optic neuritis. Exclude hypertension, infection, or drug causes.

8 □ Cranial Nerve Disorder. New onset of sensory or motor neuropathy involving cranial nerves.

8 □ Lupus Headache. Severe persistent headache: may be migrainous, but must be nonresponsive to narcotic

analgesia.

8 □ CVA. New onset of cerebrovascular accident(s). Exclude arteriosclerosis.

8 □ Vasculitis. Ulceration, gangrene, tender finger nodules, periungual, infarction, splinter hemorrhages, or

biopsy or angiogram proof of vasculitis

4 □ Arthritis. More than 2 joints with pain and signs of inflammation (i.e. tenderness, swelling, or effusion).

4 □ Myositis. Proximal muscle aching/weakness, associated with elevated creatine phosphokinase/adolase or

electromyogram changes or a biopsy showing myositis.

4 □ Urinary Casts. Heme-granular or red blood cell casts

4 □ Hematuria. >5 red blood cells/high power field. Exclude stone, infection or other cause.

4 □ Proteinuria. >0.5 gm/24 hours. New onset or recent increase of more than 0.5gm/24 hours.

4 □ Pyuria. >5 white blood cells/high power field. Exclude infection.

2 □ New Rash. New onset or recurrence of inflammatory type rash.

2 □ Alopecia. New onset or recurrence of abnormal, patchy or diffuse loss of hair.

2 □ Mucosal Ulcers. New onset or recurrence of oral or nasal ulcerations.

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45

2 □ Pleurisy. Pleuritic chest pain with pleural rub or effusion, or pleural thickening.

2 □ Pericarditis. Pericardial pain with at least 1 of the following: rub, effusion, or electrocardiogram

confirmation.

2 □ Low Complement. Decrease in CH50, C3, or C4 below the lower limit of normal for testing laboratory.

2 □ Increased DNA binding. >25% binding by Farr assay or above normal range for testing laboratory.

1 □ Fever. >38˚C. Exclude infectious cause

1 □ Thrombocytopenia. <100,000 platelets/mm3

1 □ Leukopenia. <3,000 White blood cell/mm3. Exclude drug causes.

_____ TOTAL SCORE (Sum of weights next to descriptors marked present)

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46

Anexo 3

System Lupus International Collaborating Clinics/ACR Damage Index for Systemic

Lupus Erythematosus*

Item Score

Ocular (either eye, by clinical assessment)

Any cataract ever 1

Retinal change or optic atrophy 1

Neuropsychiatric

Cognitive impairment (e.g. memory deficit, difficulty with

calculation, poor concentration, difficulty in spoken or written

language, impaired performance levels) or major psychosis

1

Seizures requiring therapy for 6 months 1

Cerebrovascular accident ever (score 2 > 1) 1 (2)

Cranial or peripheral neuropathy (excluding optic) 1

Transverse myelitis 1

Renal

Estimated or measured glomerular filtration rate<50% 1

Proteinuria ≥3.5 gm/24hours 1

or

End-stage renal disease (regardless of dialysis or transplantation) 3

Pulmonary

Pulmonary hypertension (right ventricular prominence, or loud P2) 1

Pulmonary fibrosis (physical and radiograph) 1

Shrinking lung (radiograph) 1

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Item Score

Pleural fibrosis (radiograph) 1

Pulmonary infarction (radiograph) 1

Cardiovascular

Angina or coronary artery bypass 1

Myocardial infarction ever (score 2 if > 1) 1 (2)

Cardiomyopathy (ventricular dysfunction) 1

Valvular disease (diastolic murmur, or systolic murmur >3/6) 1

Pericarditis for 6 months, or pericardiectomy 1

Peripheral vascular

Claudication for 6 months 1

Minor tissue loss (pulp space) 1

Significant tissue loss ever (e.g. loss of digit or limb)(score 2 if > 1

site) 1 (2)

Venous thrombosis with swelling, ulceration, or venous stasis 1

Gastrointestinal

Infarction or resection of bowel below duodenum spleen, liver, or

gall bladder ever, for cause any (score 2 if > 1 site) 1 (2)

Mesenteric insufficiency 1

Chronic peritonitis 1

Stricture or upper gastrointestinal tract surgery ever 1

Musculoskeletal

Muscle atrophy or weakness 1

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Item Score

Deforming or erosive arthritis (including reducible deformities,

excluding avascular necrosis) 1

Osteoporosis with fracture or vertebral collapse (excluding avascular

necrosis) 1

Avascular necrosis (score 2 if > 1) 1 (2)

Osteomyelitis 1

Skin

Scarring chronic alopecia 1

Extensive scarring or panniculum other than scalp and pulp space 1

Skin ulceration (excluding thrombosis) for > 6 months 1

Premature gonadal failure 1

Diabetes (regardless of treatment) 1

Malignancy (exclude dysplasia) (score 2 if > 1 site) 1 (2)

* Damage (nonreversible change, not related to active inflammation) occurring since onset of lupus, ascertained

by clinical assessment and present for at least 6 months unless otherwise stated. Repeat episodes must occur 6

months apart to score 2. The same lesion cannot be scored twice.

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49

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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59

RESUMO

Melo AKG. Avaliação da sensibilidade individual aos glicocorticoides e expressão do

receptor de glicocorticoide em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Dissertação de

Mestrado – 2011.

Os glicocorticoides (GC) são amplamente utilizados no tratamento do lúpus eritematoso

sistêmico (LES), e a maioria dos seus efeitos é mediada pelo receptor de glicocorticoide (RG),

modificando a expressão de genes-alvo. A sensibilidade individual aos GC é variável e pode

ser avaliada pelo teste de supressão com dose muito baixa de dexametasona (IV-VLD-DST).

O fator de transcrição nuclear kB (NF-kB) participa da regulação de genes envolvidos na

cascata inflamatória e desempenha um papel importante na etiopatogenia de doenças

imunomediadas, como o LES. Objetivos: comparar a expressão do RNAm da isoforma α do

RG e do NF-kB em células mononucleares periféricas, nos pacientes portadores de LES em

remissão em relação a controles saudáveis, utilizando a técnica de PCR em Tempo Real;

correlacionar a expressão desses genes com a sensibilidade aos glicocorticoides pelo teste IV-

VLD-DST nos pacientes e nos controles; comparar a capacidade dos testes de supressão com

dose muito baixa e baixa de dexametasona em identificar um espectro individual de supressão

e casos com menor sensibilidade aos GC; estabelecer correlações entre variáveis clínicas e

laboratoriais e a sensibilidade, in vivo, aos GC, em pacientes com LES fora de atividade.

Casuística e Método: estudo transversal com pacientes portadores de LES e SLEDAI igual a

zero, em uso de prednisona na dose menor ou igual a 5mg/dia e controles saudáveis pareados

por idade e sexo. Foram excluídos os indivíduos com cortisol basal menor que 7µg/dL. Foram

aplicados os testes de supressão com dose muito baixa de dexametasona (20µg/m2) e o teste

oral com dose baixa de dexametasona (dose de 20µg/Kg/dia, dividida de 6/6horas, por 2 dias).

Resultados: A média de idade, na coleta basal, do grupo LES foi semelhante ao grupo

controle (30,6 + 2,4 anos versus 34 + 3,5 anos, p=0,436). Todos os indivíduos eram do sexo

feminino. Não houve diferença entre os grupos em relação às medianas do ACTH e do

cortisol basais. Após 120 minutos do IV-VLD-DST, a amplitude de supressão do cortisol

(F%) foi menor no grupo LES em relação aos controles (23,48% e 53,2%, respectivamente,

p=0,014). Após 48 horas do teste oral com dose baixa de dexametasona, a amplitude de

supressão do cortisol (FOr%) foi semelhante entre os grupos LES e controle (mediana de

94,79% e 93,9%, respectivamente, p=0,414). As medianas da expressão gênica do RGα e NF-

kB no tempo 0 e após 48 horas foram semelhantes entre os grupos e não houve correlação

entre a amplitude de supressão do cortisol pelos testes com dexametasona e a expressão dos

genes estudados. A única variável analisada que se correlacionou com maior amplitude de

supressão do cortisol ao teste IV-VLD-DST foi o maior número de dias transcorridos desde o

último surto de atividade do LES definido por SLEDAI > 6 (r=75,6%, r2=57,1%,p=0,019).

Conclusões: A expressão do RNAm do RGα e do NF-kB nos pacientes com LES em

remissão foi semelhante à encontrada em controles saudáveis. Não houve correlação entre a

expressão desses genes e a resposta ao teste de supressão com dexametasona nos pacientes e

controles. O teste IV-VLD-DST foi eficaz em estabelecer um espectro de sensibilidade in vivo

ao GC. A resposta ao teste oral de supressão com dose baixa de dexametasona foi semelhante

entre os grupos e não apresentou concordância com o IV-VLD-DST. O número de dias

decorridos desde o último surto de atividade do LES se correlacionou com maior

sensibilidade in vivo ao GC.

Palavras-chave: Lúpus Eritematoso Sistêmico, glicocorticoides, receptor de glicocorticoide.

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60

ABSTRACT

Melo AKG. Assessment of individual sensitivity to glucocorticoids and glucocorticoid

receptor expression in patients with systemic lupus erythematosus. Master Dissertation

– 2011.

Glucocorticoids (GC) are widely used in systemic lupus erythematosus (SLE) treatment and

most of its effects are mediated by glucocorticoid receptor (GR), which modifies the

expression of target genes. The individual sensitivity to GC is variable and can be assessed by

VLD-IV-DST (very low dose intravenous dexamethasone suppression test). The nuclear

factor kappaB (NF-kB) participates in the regulation of genes involved in inflammatory

cascade and plays an important role in the pathogenesis of immune-mediated diseases such as

SLE. Objectives: to compare the mRNA expression of GRα and NF-kB in peripheral blood

mononuclear cells in SLE patients in clinical remission compared with healthy controls, using

real time PCR; to correlate the expression of these genes with sensitivity to glucocorticoids by

VLD-IV-DST in patients and controls; to compare the ability of the suppression tests with

low and very low dose of dexamethasone in identify a spectrum of sensitivity and cases less

sensitive to GC; to establish correlations between clinical and laboratory variables and

sensitivity to GC, in vivo, in SLE patients in clinical remission. Material and Methods:

Cross-sectional study of patients with SLE and zero SLEDAI, taking prednisone at a dose less

than or equal to 5 mg daily and healthy controls matched by age and sex. We excluded

individuals with basal cortisol less than 7μg/dL. We performed very low dose intravenous

dexamethasone suppression test (20μg/m2) and oral low-dose dexamethasone test

(20μg/Kg/daily, divided every 6 hours for 2 days). Results: The mean age at baseline

collection of blood in SLE group was similar to the control group (30.6 + 2.4 years versus 34

+ 3.5 years, p = 0.436). All subjects were female. There was no difference between the groups

regarding median basal ACTH and cortisol. After 120 minutes of VLD-IV-DST, the extent of

cortisol suppression (F%) was lower in the SLE group compared to controls (23.48% and

53.2% respectively, p = 0.014). After 48 hours of oral low-dose dexamethasone test, the

extent of cortisol suppression (FOr%) was similar between the SLE patients and controls

(median of 94.79% and 93.9% respectively, p = 0.414). The medians of GRα and NF-kB

expression at time 0 and after 48 hours were similar between the groups and there was no

correlation between the extent of cortisol suppression and expression of the genes studied.

The only variable that correlated with greater extent of cortisol suppression after VLD-IV-

DST was the highest number of days elapsed since the last period of SLE activity defined by

SLEDAI > 6 (r = 75.6% r2 = 57.1%, p = 0.019). Conclusions: The mRNA expression of GRα

and NF-kB in SLE patients in remission was similar to that found in healthy controls. There

was no correlation between the expression of these genes and the response to dexamethasone

suppression test in patients and controls. The VLD-IV-DST was effective in establishing a

spectrum of sensitivity to GC in vivo. The response to the oral test suppression with low dose

of dexamethasone was similar between groups and showed no correlation with the VLD-IV-

DST. The number of days elapsed since the last period of SLE activity was correlated with

higher sensitivity to GC in vivo.

Key-words: Systemic lupus erythematosus, glucocorticoids, glucocorticoid receptor

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APÊNDICE

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62

Apêndice 1

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63

Apêndice 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome:________________________________________________Idade:________

Sexo: M( ) F( ) RG:___________________ Nascimento:____/____/_________

Endereço:__________________________________________________________

Telefone:___________________________________

Este texto tem por objetivo informar ao senhor(a) sobre o estudo científico ―Avaliação

da sensibilidade individual aos glicocorticóides e expressão das isoformas alfa e beta do

receptor de glicocorticóide no acompanhamento de pacientes com lúpus eritematoso

sistêmico” e saber se o(a) senhor(a) aceita participar voluntariamente deste estudo, o qual

visa aumentar o conhecimento dos médicos sobre uma doença chamada LÚPUS

ERITEMATOSO SISTÊMICO e sobre os mecanismos de sensibilidade e resistência a um dos

medicamentos mais usados no seu tratamento, os corticóides. Você pode ter sido

convidado(a) a participar do estudo por ter lúpus ou por ser saudável e ter a mesma idade e

sexo de um dos pacientes com lúpus incluído no estudo, para que os pesquisadores possam

comparar os resultados obtidos na presença e na ausência da doença.

Se consentir em participar, o(a) senhor(a) será submetido à retirada de 20 ml de

sangue, como nos exames de rotina, para realizar testes específicos deste estudo. É necessário

também fazer o ―teste de supressão do cortisol‖, onde será injetada uma dose mínima de

dexametasona (dose vinte vezes menor em relação a que se utiliza para tratamento do lúpus).

Não existe nenhum risco grave, mas poderá ocorrer dor no local da punção com agulha e

poderão ocorrer pequenos hematomas após a punção da veia, isto é, o local pode ficar roxo,

mas isso se resolverá em alguns dias. Além disso, o teste de supressão do cortisol é um

exame que demora aproximadamente 2 horas para a coleta de sangue. Para tanto, será

necessário que o(a) senhor(a) fique em repouso durante esse período. O cortisol será

administrado em um dos braços, com uma picada, como a da coleta de sangue, e não causa

nenhuma reação adicional. No outro braço, será colocado um acesso à sua veia para a coleta

de sangue nos diferentes tempos, do mesmo modo que fazemos para dar soro no hospital. A

quantidade de sangue retirada é muito pequena e não vai lhe causar nenhum prejuízo.

Serão necessárias três visitas para a realização do presente estudo. Na visita inicial,

o(a) senhor(a) fará uma avaliação iinicial, com a determinação do seu peso e altura e será

submetido(a) à coleta de sangue como descrito acima. Na segunda visita (após 2 horas do

―teste de supressão‖), o senhor(a) receberá a presecrição de dexametasona na dose de 20

mg/Kg/dia de dexametasona por via oral, dividida de 6/6 horas, a qual deverá ser utilizada

durante 2 dias seguidos, para avaliar se existe uma condição denominada ―hipercortisolismo‖

(aumento de cortisol no sangue). Durante o período de uso do medicamento, poderá haver um

discreto aumento de apetite.

Após dois dias da visita inicial, quando será feita uma nova consulta médica, o(a)

senhor(a) deverá realizar nova coleta de sangue para a determinação do cortisol e do ACTH

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64

após 2 horas da última dose de dexametasona oral. Não haverá, nesse momento, a necessidade

de usar a dexametasona intravenosa.

Dependendo dos resultados deste estudo, poderemos contribuir com ampliação do

conhecimento do lúpus, da melhoria do tratamento, além de servir como base para outros

estudos.

Após ter lido essas observações, o(a) senhor(a) deve se sentir livre para decidir se irá

ou não participar do estudo, sabendo que, independente da sua decisão, receberá a mesma

assistência médica. Além disso, é garantido ao senhor(a) o direito de retirar seu consentimento

em qualquer tempo, podendo deixar de participar do estudo mesmo após o seu início, por

qualquer motivo, sem que isso traga qualquer prejuízo à continuidade do seu tratamento nesta

instituição.

O pesquisador médico, Dra. Ana Karla Guedes de Melo, estará sempre disponível para

esclarecer qualquer dúvida que possa surgir, pessoalmente, ou pelo telefone (11) 2176- 7281.

Neste estudo, as informações obtidas de todos os pacientes e pessoas saudáveis que

aceitarem participar serão analisadas em conjunto, não sendo assim divulgados nomes ou

respostas pessoais, as quais serão mantidos em segredo pelos pesquisadores.

Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador através deste texto e

ainda verbalmente sobre os detalhes deste estudo e ter entendido o que me foi explicado,

consinto em participar da presente pesquisa.

São Paulo, ________de ________________de __________

_____________________________ ______________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa ou Assinatura do Pesquisador

Responsável legal

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Quadro 1: Dados laboratoriais e dados brutos da expressão gênica do RGα e NF-kB de pacientes

com LES e controles

BASAL

120min (IV-

VLD-DST)

48h

GRU

PO

ACTH

1*

CORTISOL

1**

ACTH

2*

CORTISOL

2**

ACTH

3*

CORTISOL

3**

F% FOr%

UE_

RGα1

UE_

RGα3

UE_NF-

kB1

UE_NF-

kB3

L 22 9,6 16 5 2,8 <1,0 47,92% 94,7% 7,900 5,202 18,272 3,624

L 34 13,2 26 10,1 24,9 3,6 23,48% 72,7% 21,550 12,215 283,425 606,063

L 24 10,2 20 14 11,4 <1,0 37,25% 95,1% 9,170 8,537 29,164 51,329

L 16 30,3 6 19,8 4,1 1,4 34,65% 95,3% 27,606 35,271 120,548 1247,934

L 31 10,7 23 8,2 2 2,1 23,36% 80,3% 3,483 28,584 18,139 40,213

L 18 11,7 12 6,1 5,3 <1,0 47,86% 95,7% 34,649 23,322 14,633 7,402

L 20 11,8 21 15 15,4 1,1 27,12% 90,6% 50,698 19,543 203,016 30,931

L 10 9,3 5 7,9 5 2,1 15,05% 77,4%

53,835

13,777

L 42 13,5 36 7 30,4 <1,0 48,15% 96,3%

9,803

6,077

C 5 10,3 7 4,3 5 <1,0 58,25% 95,1% 7,718 20,240

31,970

C 5 26,4 5 14,6 5 <1,0 44,70% 98,1% 13,981 0,112 2,920 0,641

C 5 20,5 5 12 5 2,8 41,46% 86,3% 1,580 470,76 0,295 213,150

C 5 16,7 5 7,4 5 1,3 55,69% 92,2% 2,770

0,377

C 25 29,9 6 14,6 5,3 <1,0 51,17% 98,3% 9,495

227,885

C 14 18,3 7 5,5 9,9 3 69,95% 83,6%

C 40 7,2 26 6,1 5 <1,0 15,28% 93,0% 128,08

811,111

C 12 9 10 5,2 5,6 <1,0 42,22% 94,4%

5,078

C 55 26,1 14 10,5 9,3 <1,0 59,77%

98,08

%

C 11 21 6 9,4 5,5 1,4 55,24% 93,3%

L: paciente com LES; C: controle saudável; *: pg/mL; **:µg/dL; F%: amplitude de supressão do cortisol

após IV-VLD-DST; FOr%: amplitude de supressão do cortisol após o teste oral com dexametasona; UE:

unidades de expressão

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