Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira

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Textos > Temas Livres Temas Livres * Dra. Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira (Médica Psiquiatra, CREMESP 119824) Todos conhecem a história: eles se conhecem e rapidamente se apaixonam. Vivem um perı́odo intenso em que aquele amor parece tudo e a sensação completude, eterna. As diferenças de comportamento e valores não importam, são detalhes frente a tanta sorte. Até que, com a passagem do tempo e o amadurecimento da relação, as diferenças começam a icar mais acentuadas. A novidade já não é mais tão surpreendente assim, o frio na barriga se dissipa: chegou o cotidiano. E com ele aqueles "detalhes" que pareciam irrelevantes tomam um grande vulto. Esse parece ser o caminhar de qualquer parceria afetiva iniciada com um belo encontro romântico, correto? Mas e os desfechos possı́veis? Bom, são o motivo de inú meras das mais lindas obras de arte, mas na prática são apenas dois: icam juntos ou não. Se o casal aqui descrito for composto de duas pessoas adultas e relativamente saudáveis, espera-se que eles sejam capazes de fazer os ajustes necessários para que a relação perdure, negociando seus termos para que possam, ambos, viver de maneira satisfatória. No entanto, se no casal houver um dependente afetivo, a chance de o inal ser esse é bem menor. A dependência afetiva (ou Love Addiction em inglês) é caracterizada pela dependência em estar apaixonado. Sendo assim, é bem provável que o relacionamento acabe, pois o dependente afetivo não consegue estar vinculado ao outro de maneira menos intensa. Como ele sente que não consegue viver sem o outro, pode icar patologicamente ciumento, ter oscilações de humor frente a ausências breves do companheiro e sente-se vazio quando o outro nã o está . Tal comportamento acaba gerando muitos desentendimentos, que, dependendo de sua intensidade, podem envolver agressõ es verbais e/ou fı́sicas. Todos nós fomos absolutamente dependentes de outro ser humano na primeira infância. Na maioria dos casos, das nossas mã es. Elas foram absolutamente necessárias para alimentar-nos, limpar-nos e apresentar-nos ao mundo e às nossas próprias sensações através de sua presença tã o importante. No entanto, na medida em que crescemos, elas nos encorajam a levar uma vida independente e nós nos alegramos com cada etapa vencida rumo autonomia. O dependente afetivo, no entanto, parece ter icado parcialmente enredado nessa etapa do desenvolvimento, e ainda espera que uma ú nica pessoa satisfaça suas necessidades de afeto e completude, tal qual a mãe o fazia quando pequeno. Anáclise é o nome técnico desta vinculação patológica entre duas pessoas adultas. Assim, o dependente afetivo pode viver a ausência da pessoa amada com uma reação muito intensa, como se fosse uma abstinê ncia. Tal reaçã o pode até ser violenta, dependendo do seu temperamento. Esta não é uma patologia descrita em manuais diagnósticos, mas podemos observá -la com alguma frequência em pacientes portadores de algumas patologias psiquiátricas, tais como os Transtornos de Personalidade Histriô nica, Borderline, Dependente e também entre dependentes quı́micos. Em nossa cultura latina essa intensidade de afetos pode, para muitos, signiicar um grande amor. São muitos os homens que falam orgulhosos: "Minha mulher é ciumenta demais, me ligou trinta vezes ontem porque atrasei para chegar em casa". Muitas mulheres se envaidecem quando seus antigos parceiros as procuram em LIVROS MENTES INQUIETAS - TDAH: Desatenção, hiperatividade e impulsividade Revisto e ampliado MENTES E MANIAS: TOC: Transtorno Obsessivo- compulsivo Revisto e ampliado Sorria, você está sendo ilmado (em parceria com o publicitário Eduardo Mello) MENTES INSACIAVEIS: Anorexia, bulimia e compulsão alimentar MENTES INQUIETAS: Compreender o distúrbio do déice de atenção (DDA) Editado em Portugal MENTES ANSIOSAS: Medo e ansiedade além dos limites Revisto e ampliado do "Mentes com Medo MENTES PERIGOSAS: O psicopata mora ao lado BULLYING: Mentes perigosas nas escolas MENTES PELIGROSAS: Un psicópata vive al lado Editado na Argentina ANÁCLISE E DEPENDÊNCIA AFETIVA Categoria: Anáclise // Autoria: Dra. Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira

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TemasLivres

*Dra.AnaCarolinaBarcelosCavalcanteVieira(MedicaPsiquiatra,CREMESP119824) Todosconhecemahistoria:elesseconhecemerapidamenteseapaixonam.Vivemumperıodointensoemqueaqueleamorparecetudoeasensaçaocompletude,eterna.Asdiferençasdecomportamentoevaloresnaoimportam,saodetalhesfrenteatantasorte.Ateque,comapassagemdotempoeo amadurecimentodarelaçao, as diferençascomeçama 2icar maisacentuadas.Anovidadejanaoemaistaosurpreendenteassim,ofrionabarrigasedissipa:chegouocotidiano.Ecomeleaqueles"detalhes"quepareciamirrelevantestomamumgrandevulto.

Esse parece ser o caminhar de qualquer parceria afetiva iniciada com um belo encontroromantico,correto?Maseosdesfechospossıveis?Bom,saoomotivodeinumerasdasmaislindasobrasdearte,masnapraticasaoapenasdois:2icamjuntosounao.Seocasalaquidescritoforcompostodeduaspessoasadultaserelativamentesaudaveis,espera-sequeelessejamcapazesdefazerosajustesnecessariosparaquearelaçaoperdure,negociandoseustermosparaquepossam,ambos,viverdemaneirasatisfatoria.

Noentanto,senocasalhouverumdependenteafetivo,achancedeo2inalseresseebemmenor.Adependenciaafetiva(ouLoveAddictionemingles)ecaracterizadapeladependenciaem estar apaixonado. Sendo assim, e bem provavel que o relacionamento acabe, pois odependenteafetivonaoconsegueestarvinculadoaooutrodemaneiramenosintensa.Comoele sente que nao consegue viver sem o outro, pode 2icar patologicamente ciumento, teroscilaçoesdehumorfrenteaausenciasbrevesdocompanheiroesente-sevazioquandoooutro nao esta. Tal comportamento acaba gerando muitos desentendimentos, que,dependendodesuaintensidade,podemenvolveragressoesverbaise/oufısicas.

Todosnosfomosabsolutamentedependentesdeoutroserhumanonaprimeirainfancia.Namaioria dos casos, das nossas maes. Elas foram absolutamente necessarias paraalimentar-nos,limpar-noseapresentar-nosaomundoeasnossaspropriassensaçoesatravesde sua presença tao importante. No entanto, na medida em que crescemos, elas nosencorajamalevarumavidaindependenteenosnosalegramoscomcadaetapavencidarumoa autonomia. O dependente afetivo, no entanto, parece ter 2icado parcialmente enredadonessa etapa do desenvolvimento, e ainda espera que uma unica pessoa satisfaça suasnecessidadesdeafetoecompletude,talqualamaeofaziaquandopequeno.

Anacliseeonometecnicodestavinculaçaopatologicaentreduaspessoasadultas.Assim,odependenteafetivopodeviveraausenciadapessoaamadacomumareaçaomuitointensa,como se fosse uma abstinencia. Tal reaçao pode ate ser violenta, dependendo do seutemperamento.Estanao eumapatologiadescritaemmanuaisdiagnosticos,maspodemosobserva-la com alguma frequencia em pacientes portadores de algumas patologiaspsiquiatricas,taiscomoosTranstornosdePersonalidadeHistrionica,Borderline,Dependenteetambementredependentesquımicos.Emnossaculturalatinaessaintensidadedeafetospode,paramuitos,signi2icarumgrandeamor.Saomuitososhomensquefalamorgulhosos:"Minhamulhereciumentademais,meligoutrintavezesontemporqueatraseiparachegaremcasa".Muitasmulheresseenvaidecemquandoseusantigosparceirosasprocuramem

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MENTESINQUIETAS-TDAH:Desatençao,hiperatividadeeimpulsividade

Revistoeampliado

MENTESEMANIAS:TOC:TranstornoObsessivo-compulsivo

Revistoeampliado

Sorria,voceestasendo2ilmado(emparceriacomopublicitarioEduardoMello)

MENTESINSACIABVEIS:Anorexia,bulimiaecompulsaoalimentar

MENTESINQUIETAS:Compreenderodisturbiodode2icedeatençao(DDA)

EditadoemPortugal

MENTESANSIOSAS:Medoeansiedadealemdoslimites

Revistoeampliadodo"MentescomMedo

MENTESPERIGOSAS:Opsicopatamoraaolado

BULLYING:Mentesperigosasnasescolas

MENTESPELIGROSAS:Unpsicopataviveallado

EditadonaArgentina

ANÁCLISEEDEPENDÊNCIAAFETIVACategoria:Anaclise//Autoria:Dra.AnaCarolinaBarcelosCavalcanteVieira

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ocasioesimpropriasecominsistenciapararetomararelaçaofracassada.Ocontrolequeessaspessoasexercemsobreooutropodesermaltraduzidocomocuidado.

Porissoouvimosfalartantonessesdesfechostragicosderelaçoesamorosasmuitointensas.Entre tantos turbilhoes 2ica difıcil estabelecer dialogo para aparar as arestas, semprepresentes emqualquer relaçao humana. Naoha espaçoparameio-termo, para falacalmaentreduaspessoasadultasquesequerembem.Sobramacusaçoes,cadaumculpandoooutropela morte daquela fase tao bela do encontro. A2inal, a paixao e um estado de espıritoinconfundıvelesinonimodefelicidadenanossaculturaocidental.Lindodemaisparaacabaremtragedia.

Dra. Ana Carolina Barcelos CavalcanteVieira(MedicaPsiquiatra,CREMESP119824)

Medica pela Universidade de Brasılia, em 2003. Residencia em Psiquiatria peloHospital de Base do DF, em 2005. Estagio de Complementaçao Especializada emPsicoterapianoIPq-HCFMUSP,em2006.MedicaAssistentedoAmbulatorioIntegradodosTranstornosdePersonalidadedoImpulso(AITP)doIPq-HCFMUSPdesde2007.Medica Clınica da Fundaçao Casa desde 2007. Medica Diarista e Coordenadora daUnidadedePsiquiatradoHospitalMunicipaldeBarueridesde2008.MembrodaISSPDInternationalSocietyfortheStudyofPersonalityDisordersdesde2009.EstudantedocursoCon2litoeSintomadoInstitutoSedesSapientiaedesde2009.Cursopreparatorioe supervisao com a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva para atendimento clınico depacientes com TDAH, TOC, Transtornos Alimentares e Transtornos de Ansiedade(2009-2010).MedicapsiquiatradaclınicaMedicinadoComportamento–SaoPaulo-,sobadireçaotecnicadaDra.AnaBeatrizBarbosaSilva.

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