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Anais da Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435 XXII Semana de Pedagogia X Encontro de Pesquisa em Educação 05 a 08 de Julho de 2016 Universidade Estadual de Maringá, 05 a 08 de julho de 2016. LITERATURA INFANTIL: POSSIBILIDADES DE ENCANTOS E DESENVOLVIMENTO NOS ANOS INICIAIS PASTRE, Cristiane Aparecida da Silva [email protected] NUNES, Heloísa Marques Cardoso [email protected] STEIN, Vinícius [email protected] CORRÊA, Valquíria da Silva Santos [email protected] SOUZA, Patrícia Laís de [email protected] CHAVES, Marta (orientadora) [email protected] Universidade Estadual de Maringá (UEM) Eixo Temático Formação de professores e intervenção pedagógica. Introdução Neste estudo apresentaremos algumas contribuições da Literatura Infantil para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças que estudam nos anos iniciais de escolarização, bem como refletiremos sobre práticas educativas humanizadoras com base nesse gênero literário. Para tanto, destacaremos alguns expoentes da Literatura Infantil, cujas produções nos permitem refletir sobre possibilidades de intervenções educativas que promovam o desenvolvimento das crianças pequenas, em especial no ambiente escolar. Assumiremos a perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, por considerar que esta nos permite lutar por uma prática educativa que apresente o que há de mais belo e mais elaborado pela humanidade, bem como nos apresenta embasamento para desenvolver recursos pedagógicos que venham de encontro a tal defesa. Esses pressupostos estão presentes nos escritos de autores clássicos como Leontiev (1979) e Vigostski (2009), e nos estudos de pesquisadores contemporâneos, tais como Chaves (2010; 2011a; 2011b); Duarte (2001); Lima (2005), Mukhina (1995) e outros. Diante do exposto, pensamos ser possível expressar por meio de ações educativas nossa compreensão de sociedade, homem e educação presente na Teoria citada, ainda que em

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Anais da

Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435

XXII Semana de Pedagogia X Encontro de Pesquisa em Educação

05 a 08 de Julho de 2016

Universidade Estadual de Maringá, 05 a 08 de julho de 2016.

LITERATURA INFANTIL: POSSIBILIDADES DE ENCANTOS E

DESENVOLVIMENTO NOS ANOS INICIAIS

PASTRE, Cristiane Aparecida da Silva

[email protected]

NUNES, Heloísa Marques Cardoso

[email protected]

STEIN, Vinícius

[email protected]

CORRÊA, Valquíria da Silva Santos

[email protected]

SOUZA, Patrícia Laís de

[email protected]

CHAVES, Marta (orientadora)

[email protected]

Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Eixo Temático

Formação de professores e intervenção pedagógica.

Introdução

Neste estudo apresentaremos algumas contribuições da Literatura Infantil para a

aprendizagem e desenvolvimento das crianças que estudam nos anos iniciais de escolarização,

bem como refletiremos sobre práticas educativas humanizadoras com base nesse gênero

literário. Para tanto, destacaremos alguns expoentes da Literatura Infantil, cujas produções

nos permitem refletir sobre possibilidades de intervenções educativas que promovam o

desenvolvimento das crianças pequenas, em especial no ambiente escolar.

Assumiremos a perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, por considerar que esta nos

permite lutar por uma prática educativa que apresente o que há de mais belo e mais elaborado

pela humanidade, bem como nos apresenta embasamento para desenvolver recursos

pedagógicos que venham de encontro a tal defesa. Esses pressupostos estão presentes nos

escritos de autores clássicos como Leontiev (1979) e Vigostski (2009), e nos estudos de

pesquisadores contemporâneos, tais como Chaves (2010; 2011a; 2011b); Duarte (2001); Lima

(2005), Mukhina (1995) e outros.

Diante do exposto, pensamos ser possível expressar por meio de ações educativas

nossa compreensão de sociedade, homem e educação presente na Teoria citada, ainda que em

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estudos iniciais, e assim proporcionar aos educandos condições de máximo desenvolvimento

humano.

Para tanto, nosso trabalho será organizado de forma que possamos discutir a respeito

da Literatura e Literatura Infantil; refletir brevemente sobre a Teoria Histórico-Cultural e

apresentar algumas possibilidades de trabalho com recursos didáticos que podem efetivar os

pressupostos teóricos estudados.

Objetivos

Objetivo geral: apresentar algumas contribuições da Literatura Infantil para a

aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Objetivo específico: refletir sobre práticas educativas humanizadoras com base neste

gênero literário.

Metodologia

Em nosso texto discutiremos a respeito da Literatura e da Literatura Infantil,

refletiremos brevemente sobre a teoria na qual nos embasamos para as discussões (Histórico-

Cultural) e apresentaremos algumas possibilidades de trabalho com recursos didáticos que

podem efetivar os pressupostos teóricos estudados.

Literatura Infantil: possibilidades educativas de humanização com encantos para as

crianças

Os nossos estudos se fundamentaram nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural,

destacamos que este referencial teórico assume a perspectiva de que não nascemos humanos e

sim, nos tornamos humanos, ao passo que nos apropriamos dos conhecimentos e experiências

acumulados ao longo da história da humanidade humanos (LEONTIEV, 1979), ou seja, é por

meio da relação com os mais experientes que nos apropriamos de comportamentos

essencialmente.

Desse modo, compreendemos com o referido autor que a humanização ocorre ao passo

que o indivíduo se apropria de tudo aquilo que foi alcançado pelo conjunto da humanidade,

nas mais diversas áreas de saber e, desse modo, aprende a ser homem.

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Diante de tal afirmação, acreditamos na importância de proporcionar aos escolares as

máximas elaborações humanas, construídas e desenvolvidas no decorrer da história, visando o

pleno desenvolvimento dos educandos, como destaca Chaves (2011b, p.98) que assim

“atenderíamos a um dos preceitos da Teoria Histórico-Cultural e firmaríamos, em essência,

uma educação plena para quem ensina e para quem precisa aprender”.

Destacamos a relevância em proporcionar o acesso dos pequenos à Literatura Infantil,

seja por meio da arte, música, poemas, poesias ou em contos e histórias, porém, ressaltamos

que este trabalho deverá ser intencional e planejado pelos professores com o intuito de

desenvolver as habilidades humanas, bem como a promoção intelectual, emocional e afetiva

dos educandos.

Atribuímos que é dever da escola, caracterizada aqui como todo o corpo docente

envolvido no processo de ensino e aprendizagem, proporcionar às crianças o que há de

conhecimento mais avançado e elaborado historicamente pelos homens, bem como

potencializar as funções psíquicas superiores por meio de conteúdos, estratégias e recursos de

ensino adequados, especialmente por meio da Literatura Infantil.

No tocante a estas questões, sustentamos que não basta propiciar às crianças o acesso à

Literatura Infantil, se faz necessário que a escolha do material seja também intencional

(CHAVES, STEIN, SILVA, 2014). Salientamos o quão enriquecedoras podem ser as

experiências infantis com as histórias e poemas de Tatiana Belinky (2003; 2004; 2007; 2008);

passear pela rua do Marcelo e se encantar com outras histórias de Ruth Rocha (2013; 2010;

2012a; 2012b); mergulhar na “Aquarela” e em outras canções de Toquinho; conhecer animais

e a composição surpreendente dos poemas e canções do carioca Vinicius de Moraes (1996);

dançar com a “Ciranda da Bailarina” de Chico Buarque de Holanda; se regozijar com as rimas

e sonoridades dos poetas José Paulo Paes (2005), Cecília Meireles (2012), Olavo Bilac (1929)

e outros que fazem de suas produções obras aprimoradas e expressivas.

Assentados nos argumentos formulados acima, trataremos brevemente da definição de

Literatura, que consideramos ser peculiar à época em que é produzida, pois de acordo com

Coelho (2000), cada período da história produziu a sua Literatura, a seu próprio modo, e

conhecê-los nos leva a compreender a singularidade de cada momento do desenvolvimento

humano; tanto que conhecer historicamente a Literatura propicia o conhecimento dos ideais e

valores que as diferentes sociedades se fundamentaram e se fundamentam.

Neste texto, em específico, não nos estenderemos muito a este respeito, mas tal

consideração inicial se faz necessária para lembrarmos que a produção literária, seja para o

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público infantil ou para os demais públicos, é uma produção humana e histórica, pois os seus

autores se amparam em tudo aquilo que a humanidade já elaborou no decorrer do tempo e da

história para compor seus escritos. Com esta afirmação, cabe exemplificar que provavelmente

não seria possível ao homem primitivo imaginar que o homem chegaria à lua e tentaria uma

aproximação com outros planetas, se utilizando de naves espaciais e outros recursos

tecnológicos elaborados nos últimos séculos, portanto, argumentos e citações desse nível não

poderiam estar presentes em uma de suas narrativas orais.

Em se tratando mais especificamente da conceituação de Literatura Infantil, podemos

nos pautar no argumento de que se faz necessário haver a concepção de criança para que se

pense em uma Literatura voltada para esse público, como escreve Carvalho (1982, p. 75):

Para haver Literatura Infantil é necessário que haja Criança e Escola. Sem

Escola não há livros ao alcance de todas as classes. E, por isso, ambas,

Criança e Escola, começaram a dar seus primeiros passos no século XVII,

quando se inicia a Literatura da criança, embora esta só viesse encontrar o

seu verdadeiro lugar com o advento da burguesia, entre os bem-nascidos, nos

fins do século XVIII e início do século XIX. Se, para que haja Literatura

escrita, são necessárias duas condições básicas: livro e Escola; para que haja

Literatura Infantil, acrescenta-se mais uma: o apelo da criança. E é nesse fato

que se baseia a história da Literatura Infantil, para assinalar seu início no

século XVII [...].

A respeito da afirmação supracitada, podemos compreender o que a autora caracteriza

como “o apelo da criança” como especificamente a compreensão da necessidade em se

produzir literaturas com termos, linguagem e temáticas acessíveis ao entendimento infantil e

que chamassem a atenção e interesse desse público.

A referida autora registra ainda que mesmo com a possibilidade de ter a Literatura

escrita, as histórias se repetiam na tradição oral, com os contos de fadas, o folclore, as

cantigas populares, adivinhas e outras manifestações, sendo estas as primeiras expressões da

Literatura Infantil. À medida que se rompe a tradição oral de as pessoas se reunirem em

grupos para contar histórias, se estabelece o hábito de leitura; a família assume o costume de

ler para as crianças, “Mas, infelizmente, isso é um privilégio das crianças bem-nascidas, [...]

as pobres crianças malnascidas exibiam a sua miséria, como limpador ou faxineiro, nos

empregos que lhes eram impostos” (CARVALHO, 1982, p. 87).

Feitas as breves considerações anteriores a respeito da trajetória do desenvolvimento

da Literatura e da Literatura Infantil em aspectos gerais, faremos algumas ponderações sobre

a trajetória da Literatura Infantil no Brasil, visto que não poderia ter acontecido em nosso país

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a mesma correspondência entre a cronologia mundial desse desenvolvimento pelo fato de sua

própria constituição ser mais tardia em relação aos países da Europa que tiveram destaque

como sendo o berço da Literatura Infantil mundial (SILVA, 2012).

O século XIX, no Brasil, oferece um panorama variado de leituras infantis. Mas o

mesmo não se pode dizer dos séculos anteriores. A incipiente instrução dos tempos coloniais

era impedimento natural ao uso de livros, principalmente os infantis, pelo menos do seu uso

generalizado. A leitura não era uma conquista popular (MEIRELES, 1984, p. 37). A História

pode nos provar que, diferentemente do Brasil, na mesma época a Europa já possuía livros

que só mais tarde viríamos a conhecer. Os escritos de Andersen, por exemplo, eram

fabulosos, como indica Cecília Meireles (1984), mas só tinham acesso a eles aqueles que

faziam parte de uma cultura letrada, o que não era o caso do Brasil à época.

Com a chegada da família real houve várias mudanças no contexto político,

econômico e cultural da colônia. A partir de 1808, criam-se Colégios em todo o país, bem

como se cuida da instrução pública, e a Constituição de 1824 declarava a gratuidade da

instrução primária; a partir de 1811 temos a primeira tipografia, seguida pela criação do

primeiro jornal infanto-juvenil em 1831, em Salvador, e assim se seguem outros progressos de

mesma natureza.

Enfatizamos que a arte de escrever para a criança é complexa e difícil, pois as crianças

são muito exigentes. “A imaginação, a extratemporalidade, as metamorfoses, o maravilhoso, a

intenção recreativa por excelência e, sobretudo, a dramaticidade são caracteres literários que

mais agradam às crianças” (CARVALHO, 1982, p. 127), e conseguir transportar para os

livros, em palavras e imagens, tais requisitos que atendam a estas necessidades da criança não

é tarefa fácil para os escritores, portanto, afirmamos que escrever uma obra de Literatura

Infantil é tão trabalhoso, complexo e ilustre quanto a produção literária em outras áreas.

Coelho (2000, p.27) nos ajuda na compreensão da Literatura Infantil, a definindo

como “antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o

mundo, o homem, e a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário

e o real, os ideais e sua possível/impossível realização”. E para complementar esta definição,

encontramos nos escritos de Meireles (1984), a alegação que existem livros para crianças, e o

trabalho árduo reside em classificá-los como livros infantis devido à forma como alguns estão

escritos. Em suas próprias palavras, “[...] evidentemente, tudo é uma Literatura só. A

dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil. São

as crianças, na verdade, que o delimitam, com a sua preferência” (MEIRELES, 1984, p. 20).

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E, talvez, devido à delicadeza do assunto e não havendo grande preocupação dirigida

realmente à educação e à cultura infanto-juvenil, a Literatura Infantil no Brasil só começou a

se esboçar nos fins do século passado, quando a preocupação educacional se tornou uma

realidade. Conforme as palavras de Coelho (2000, p.138), “foi Monteiro Lobato que abriu

caminho para que as inovações que começavam a se processar no âmbito da literatura adulta

(com o Modernismo) atingissem também a infantil”. Ao contrário dos clássicos estrangeiros,

Lobato não recriou seus contos de outros, e sim os criou; embora se utilizasse do rico acervo

da Literatura Clássica Infantil de todo o mundo, a inspiração maior e básica de Lobato foi a

própria criança, os motivos e os ingredientes de sua vivência.

Podemos constatar com as mencionadas afirmações e posicionamentos que,

independentemente do local geográfico em que se dá a produção da Literatura, esta é

composta em consonância com o contexto histórico, social, político e econômico vivenciado

pelos homens (SILVA, 2012). Reafirmamos que a Literatura é produzida pelo homem, e,

portanto, dinâmica como a própria humanidade, se remodelando de acordo com o período

histórico e a sociedade em que é concebida.

Em se tratando da essência da Literatura, Cecília Meireles (1984) escreve que esta

precede o alfabeto, cada povo, mesmo os primitivos, possui a sua forma de memória dos

fatos, que primeiramente eram narrados de boca em boca. Essa literatura oral é considerada

folclórica. Nos fundamentando nesta afirmação, podemos depreender que aí está uma das

justificativas em se utilizar do recurso da Literatura Infantil nos anos iniciais de escolarização,

pois mesmo sem ter ainda o domínio do código alfabético e da sistematização da escrita, as

crianças em processo de alfabetização podem se beneficiar dos recursos lúdicos e agradáveis

que a Literatura Infantil é capaz de oferecer, e assim acumular experiências necessárias para

um melhor aproveitamento do processo de ensino da alfabetização.

A respeito dos educandos que estão em séries posteriores ao período de alfabetização,

aqueles que estão consolidando os conhecimentos a respeito da língua, da escrita e dos demais

conteúdos escolares, esses também encontrarão na Literatura Infantil algumas respostas para

seus anseios de criança, ideias para formular melhor a consolidação de seus conhecimentos,

contato com diferentes formulações da língua escrita, ampliação lexical, possibilidades para a

imaginação e criação, além de tê-la como uma possibilidade lúdica e agradável em meio a

conhecimentos científicos mais densos.

Afirmamos ainda que a Literatura, com seus elementos, propicia a aquisição das

percepções do mundo, nova ordenação das experiências existenciais da criança, além da

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formação de novos padrões e aprimoramento do senso crítico. Nesse sentido, defendemos a

importância em proporcionar às crianças o contato com materiais que possibilitem tais

experiências, que agucem e promovam seu desenvolvimento autônomo, crítico e reflexivo.

Percebemos assim a contribuição de todos os elementos da Literatura Infantil para o

desenvolvimento da criança na música, nos poemas e poesias, nas histórias e na arte. Pois

trabalhar o encanto da imaginação, a criatividade, a sensibilidade, a memória, os conceitos

científicos e familiares, as relações afetivas, sua constituição como atuante na sociedade

influencia o processo de formação humanizadora da criança (CORRÊA, 2012).

Realizada esta parcela do trabalho, trataremos a seguir dos recursos e estratégias

didáticas aliadas à Literatura Infantil. De acordo com o referencial teórico que nos

embasamos, a Teoria Histórico-Cultural, é por meio das relações e experiências humanas que

nos apropriamos dos conhecimentos humanos. Diante disso, acreditamos que quanto mais

constantes forem as vivências educativas com as crianças, maior será o desenvolvimento das

funções psíquicas superiores, tais como: a memória, percepção, atenção, linguagem,

pensamento, imaginação, as emoções, entre outras capacidades intrinsecamente humanas.

Segundo Vigotski,

Quanto mais a criança viu, ouviu e vivenciou, mais ela sabe e assimilou;

quando maior a quantidade de elementos da realidade de que ela dispõe em

sua experiência – sendo as demais circunstâncias as mesmas –, mais

significativa e produtiva será a atividade de sua imaginação (VIGOTSKI,

2009, p. 23).

Diante de tal afirmação, acreditamos essencial pensarmos em estratégias didáticas,

tendo como referência a Teoria Histórico-Cultural, o qual possibilitará o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores dos educandos. Para tanto, apresentaremos algumas propostas

de recursos didáticos, tais como o dicionário Letras vivas, Caixa de Encantos e Vida e Caixa

que conta histórias.

O dicionário Letras Vivas constitui-se em um recurso didático, desenvolvido pela Dra.

Marta Chaves, o qual poderá ser trabalhado durante o ano letivo com a participação coletiva

dos educandos:

A escolha das palavras que comporão o dicionário é realizada a partir de

histórias, poemas, músicas, passeios, termos que os educandos manifestam

interesse em conhecer ou, ainda, uma palavra que o professor tenha

desafiado a sala a aprender o significado. Inicialmente, a palavra é

registrada, o professor apresenta a definição extraída de um dicionário de

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uso didático na instituição; as crianças ouvem, leem ou registram por meio

da escrita ou desenhos o significado do termo; em momento posterior,

devidamente planejado e organizado pelo professor, as crianças atribuem

coletivamente significado à palavra escolhida, tendo como ponto de partida a

conceituação do dicionário. Esse recurso didático objetiva mobilizar a

criança a ampliar seu vocabulário” (CHAVES, 2011a, p.54).

Destacamos que a composição deste material pode também ter seu ponto de partida de

uma Literatura Infantil trabalhada anteriormente e Vivenciada pelos alunos como uma

experiência significativa. Diante disso, consideramos que o recurso intitulado dicionário

Letras Vivas, potencializará o desenvolvimento do vocabulário da criança, bem como o

aprimoramento da aquisição lexical, além de outras contribuições para o desenvolvimento do

educando. Nesse sentido, citamos também outra estratégia didática que poderá auxiliar neste

aprimoramento, a Caixa de Encantos e Vida, idealizado pela Dra. Marta Chaves:

O recurso didático denominado Caixas de Encantos e Vida é elaborado

coletivamente, o grupo realiza a escolha de um expoente da literatura, da

poesia, da música ou das artes plásticas a ser estudado. A Caixa contempla

os “encantos” que, em geral, é representado por cinco temáticas, quais

sejam: infância, amigos, obra, viagens e realizações que dizem respeito ao

reconhecimento ou premiações que tenha obtido ao longo de sua trajetória

profissional. O objetivo é representar a “vida” de um determinado expoente

a partir de material escrito, fotos e objetos que caracterizem os diferentes

momentos de sua história (CHAVES, 2011a, p.55).

Acreditamos que possibilitar o acesso das crianças aos recursos citados neste estudo,

enriquecerá suas experiências, como destaca Vigotski (2009, p. 22): “[...] quanto mais rica a

experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela. Eis por que a

imaginação da criança é mais pobre que a do adulto, o que se explica pela maior pobreza de

sua experiência”. Este é um dos recursos que oferece a possibilidade de contribuições para

aprendizagens e encantos para todas as crianças, além de outros como a Caixa que conta

histórias, que podem ser definidas como:

uma alternativa metodológica para que a criança seja efetivamente envolvida

nessa atividade e, sobretudo, por buscar mobilizar o uso de capacidades

mentais essenciais ao seu desenvolvimento cultural: a memória, a atenção e

a percepção voluntárias, a imaginação, a linguagem oral, o pensamento, as

emoções, a função simbólica da consciência, a vontade. Vale mencionar que

a “Caixa que conta Histórias” caracteriza-se por materiais reciclados [...]

contendo histórias que as crianças gostam, objetos e imagens que retratem o

texto escolhido ou mesmo fantoches e “dedoches”. Além disso, pode

contemplar as histórias produzidas pelas crianças, cantigas preferidas e

cantadas com o uso da caixa. Em suma, na “caixa” cabe a imaginação, a

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criação, a reciclagem, a arte manual, as palavras registradas nos livros (agora

recontadas) dos adultos e das crianças e permite a mediação e a criação de

mediações pedagógicas primordiais à educação potenciadora da

humanização na infância (LIMA; GIROTTO, 2007, p.7).

Assim, acreditamos que a experiência precedente da criança poderá ser ampliada no

contato com as máximas elaborações humanas, dentre elas destacamos os recursos didáticos,

como os supracitados ou outros que poderão ser desenvolvidos, os quais apresentem

possibilidades para um pleno desenvolvimento das crianças.

Diante do exposto, podemos inferir que nos espaços educativos é importante que haja

formação dos profissionais da educação que atuam diretamente com o ensino nos anos

iniciais, de modo que estes reconheçam a Literatura Infantil como possibilidade de encantos e

desenvolvimento a serem proporcionados aos educandos. Acreditamos que a utilização de

recursos didáticos como os nomeados neste estudo potencializarão as contribuições da

Literatura para a humanização das crianças, bem como poderá efetivar na prática parte dos

estudos presentes na Teoria Histórico-Cultural.

Considerações finais

Em suma, consideramos que a Literatura Infantil, com base nos pressupostos da Teoria

Histórico-Cultural, é uma elaboração humana resultante do contexto histórico e social de seus

autores, diante disso, podemos compreender que é parte do conhecimento historicamente

acumulado pelos homens e uma das expressões da arte.

Nessa perspectiva, enfatizamos a importância em proporcionar o acesso dos

educandos às máximas elaborações humanas, com o intuito de potencializar suas funções

psicológicas superiores, tais como a imaginação, criatividade, capacidade de realizar

deduções, inferências e comparações, bem como senso estético, ampliação do vocabulário,

entre outras. Esta afirmação se dá por acreditarmos, com base na teoria, que tais funções não

são natas, mas sim precisam ser desenvolvidas e intensificadas em cada ser humano para que

realmente se humanize.

O referido acesso às máximas elaborações humanas pode ser proporcionado às

crianças por meio da Literatura Infantil desenvolvida com o comprometimento dos autores

mencionados, com obras que primam pela beleza, riqueza e relevância em seus personagens e

temáticas escolhidos, e com o comprometimento em saber que as elaborações voltadas ao

público infantil precisam de seu esforço e estudo para atenderem às necessidades da criança.

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Assim destacamos que, ao escolher um dos recursos da Literatura Infantil para apresentar aos

pequenos, seja uma história, um personagem do folclore, uma poesia ou uma música, esta

escolha precisa ser intencional e sistematizada, a fim de que seu conteúdo venha a contribuir

para o desenvolvimento das características intrinsecamente humanas.

Vale destacar também a relevância de os profissionais que atuam diretamente com

crianças terem sua formação aprimorada nesta perspectiva. O conhecimento e a utilização de

estratégias e recursos didáticos como os que mencionamos, aliados à Literatura Infantil e seus

autores, só tem a contribuir com o aperfeiçoamento de aprendizagem infantil, em especial nos

anos iniciais de escolarização. Consideramos a Literatura Infantil como sendo fundamental na

formação das crianças.

Defendemos um processo educativo que se utiliza de variados recursos e estratégias

didáticas aprimoradas, assumimos o posicionamento de que este acesso precisa ser planejado

sistematicamente com embasamento teórico, e acreditamos que as crianças somente

alcançarão os conhecimentos elaborados pela humanidade no decorrer da história se os

profissionais da educação disponibilizarem o que há de mais belo, sistematizado e pleno, no

tocante aos clássicos da arte, música, literatura e da ciência.

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