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Anais da Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435 XXII Semana de Pedagogia X Encontro de Pesquisa em Educação 05 a 08 de Julho de 2016 ¹ Relato de experiência apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para aprovação na disciplina Formação e Ação Docente e Estágio Supervisionado nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ambas ministradas pela professora Silvia Pereira Gonzaga de Moraes. RELATO DE EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL¹ SILVA, Daniela Azarias Ferreira da [email protected] MORAES, Silvia Pereira Gonzaga de (professora) [email protected] Universidade Estadual de Maringá (UEM) Formação de professores e intervenção pedagógica INTRODUÇÃO O presente relato busca registrar as experiências vivenciadas nas disciplinas de Formação e Ação Docente e de Estágio Curricular Supervisionado nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O estágio supervisionado foi desenvolvido de maneira interdisciplinar buscando contemplar diferentes disciplinas no decorrer da intervenção realizada, como Língua Portuguesa, Ciências Naturais, Matemática e Geografia sendo subsidiada pelo embasamento teórico recebido na disciplina de Formação Docente. É possível compreender o ambiente escolar e suas ações relacionados à teoria e à prática da educação. A teoria relaciona-se com os conhecimentos historicamente construídos e que nos servem de orientação à prática, constituindo as diferentes vozes dos sujeitos históricos que aprofundam o nosso conhecimento e a nossa reflexão acerca da problemática da educação. Na disciplina de Formação e Ação Docente essas vozes se encontram, seja por meio de textos que são trabalhados durante a aula ou até mesmo por meio de discussões em grupo sobre as experiências de observação e prática nas escolas. Compreendemos que a prática desprovida de embasamento teórico não alcançará de maneira eficaz os objetivos almejados para a aprendizagem dos estudantes. De acordo com Sforni (2015, p. 2) Nosso pressuposto é o de que a educação, em sentido amplo, é o processo de humanização caracterizado pela apropriação dos bens culturais produzidos pela humanidade no decorrer da história. Parte dessa apropriação é direta: ocorre por meio da participação dos sujeitos na cultura. Outra, porém, não pode ser captada diretamente pelos sujeitos em sua interação com o mundo; trata-se do conhecimento teórico. Propiciar o acesso a esse bem cultural específico, que

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Anais da

Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435

XXII Semana de Pedagogia X Encontro de Pesquisa em Educação

05 a 08 de Julho de 2016

¹ Relato de experiência apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, como requisito

parcial para aprovação na disciplina Formação e Ação Docente e Estágio Supervisionado nos anos iniciais do

Ensino Fundamental, ambas ministradas pela professora Silvia Pereira Gonzaga de Moraes.

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL¹

SILVA, Daniela Azarias Ferreira da

[email protected]

MORAES, Silvia Pereira Gonzaga de (professora)

[email protected]

Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Formação de professores e intervenção pedagógica

INTRODUÇÃO

O presente relato busca registrar as experiências vivenciadas nas disciplinas de

Formação e Ação Docente e de Estágio Curricular Supervisionado nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. O estágio supervisionado foi desenvolvido de maneira interdisciplinar buscando

contemplar diferentes disciplinas no decorrer da intervenção realizada, como Língua

Portuguesa, Ciências Naturais, Matemática e Geografia sendo subsidiada pelo embasamento

teórico recebido na disciplina de Formação Docente.

É possível compreender o ambiente escolar e suas ações relacionados à teoria e à prática

da educação. A teoria relaciona-se com os conhecimentos historicamente construídos e que nos

servem de orientação à prática, constituindo as diferentes vozes dos sujeitos históricos que

aprofundam o nosso conhecimento e a nossa reflexão acerca da problemática da educação. Na

disciplina de Formação e Ação Docente essas vozes se encontram, seja por meio de textos que

são trabalhados durante a aula ou até mesmo por meio de discussões em grupo sobre as

experiências de observação e prática nas escolas. Compreendemos que a prática desprovida de

embasamento teórico não alcançará de maneira eficaz os objetivos almejados para a

aprendizagem dos estudantes. De acordo com Sforni (2015, p. 2)

Nosso pressuposto é o de que a educação, em sentido amplo, é o processo de

humanização caracterizado pela apropriação dos bens culturais produzidos pela

humanidade no decorrer da história. Parte dessa apropriação é direta: ocorre por

meio da participação dos sujeitos na cultura. Outra, porém, não pode ser captada

diretamente pelos sujeitos em sua interação com o mundo; trata-se do

conhecimento teórico. Propiciar o acesso a esse bem cultural específico, que

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não está garantido aos sujeitos por outras práticas culturais, que não se adquire

por meio da vivencia e da empiria, é o papel que cabe às instituições de ensino.

É por essa especificidade da instituição escolar que se valorizam os

conhecimentos sistematizados pelas diferentes ciências – os conhecimentos

teóricos – como conteúdos centrais da atividade pedagógica.

A teoria esclarece dúvidas, aponta sugestões e nos conduz a uma melhor reflexão acerca

das nossas ações educativas. Moura (MOURA, apud MORAES, 2008, p.97) apoiado na teoria

histórico-cultural, em especial, a teoria da atividade, define uma forma de organizar o ensino

por meio da base teórico- metodológica denominada de Atividade Orientadora de Ensino

(AOE).

A atividade orientadora de ensino tem uma necessidade: ensinar; tem ações:

define o modo ou procedimento de como colocar os conhecimentos em jogo no

espaço educativo; e elege instrumentos auxiliares de ensino: os recursos

metodológicos adequados a cada objetivo e ação (livro, giz, computador, ábaco,

etc.). E, por fim, os processos de análise e síntese, ao longo da atividade, são

momentos de avaliação permanente para quem ensina e aprende.

A AOE tem como objetivo fundamentar o professor sobre como deve ensinar o seu

aluno, desde a o aparato teórico até os recursos e procedimentos adequados para que os

escolares apropriem dos conhecimentos científicos.

Nos estudos que realizamos para compreender quem são os alunos que frequentam os

primeiros anos do Ensino fundamental, observamos que a passagem da infância para a idade

pré-escolar, é o período da vida em que a criança começa a se “abrir” pouco a pouco para o

mundo da atividade humana que a rodeia. A criança precisa estar em constante atividade,

principalmente pelos jogos. Leontiev (2004) denomina essa atividade como sendo a atividade

dominante

A característica da atividade dominante não se reduz de modo algum a índices

puramente quantitativos. A atividade dominante não é aquela em que se

encontra o mais das vezes numa dada etapa do desenvolvimento, aquela à qual

a criança consagra maior parte do tempo (LEONTIEV, 2004, p. 311).

De acordo com a citação, o desenvolvimento do psiquismo da criança depende da

atividade dominante, que são atividades significativas que independem da quantidade de vezes

que são praticadas. No Ensino Fundamental a atividade dominante é o estudo, por isso devemos

nos atentar às atividades para que nelas sejam incorporados os instrumentos históricos mais

elaborados.

Destacamos a relevância da disciplina de Estágio estar ligada à disciplina de Formação

e Ação Docente e organizadas de acordo com a necessidade da realização de um estágio que

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possibilite aos acadêmicos de Pedagogia se apropriarem dos conhecimentos sobre a docência,

oferecendo tanto embasamentos teórico-metodológicos quanto ações práticas.

O presente relato divide-se entre: introdução, com a apresentação do texto;

desenvolvimento, com as considerações acerca das etapas do estágio: observação-participativa,

elaboração do planejamento e da intervenção; considerações finais, com reflexões acerca do

estágio desenvolvido; referências.

DESENVOLVIMENTO

Ao desenvolvermos nosso planejamento de aula percorremos alguns passos importantes

para que o aproveitamento dos alunos e professores em relação as atividades propostas fosse o

maior possível. Ao se trabalhar com base em uma pedagogia histórico cultural que contempla

a produção e a reflexão humana como princípios da educação, compreendemos que as

intervenções colaboram para o desenvolvimento dos professores e alunos, por estas permitirem

que os sujeitos estejam em constante atividade de ensino e aprendizagem. De acordo com

Leontiev (2004) apoiado nos estudos de Vygotsky

A primeira condição de toda atividade é uma necessidade. Todavia, em si, a necessidade

não pode determinar a orientação concreta de uma atividade pois é apenas no objeto da

atividade que ela encontra a sua determinação: deve, por assim dizer, encontrar-se nele.

Uma vez que a necessidade encontra sua determinação no objeto (se “objetiva” nele), o

dito objeto torna-se motivo da atividade, aquilo que o estimula (LEONTIEV,2004,

p.115).

A humanidade durante milhões de anos tem se apoderado de instrumentos em busca da

transformação do meio em que vive, desenvolvendo os conceitos referentes a cada prática social

existente e que, portanto, também são produto do desenvolvimento humano. Dessa forma, ao

trabalharmos cada atividade de ensino, tivemos que refletir sobre os conceitos que estaríamos

transmitindo aos alunos, o conhecimento prévio que eles possuíam sobre cada tema e a troca de

ideias e percepções entre os seus pares bem como com as estagiárias.

Assim, o desenrolar da experiência de estágio perpassou seis etapas que foram:

observação participativa; reflexão dos conceitos a serem ensinados; reformulação do

planejamento; definição das atividades a serem desenvolvidas; intervenção e reflexão.

OBSERVAÇÃO PARTICIPATIVA

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A observação participativa ocorreu na turma do 2°A pertencente ao Colégio de

Aplicação Pedagógica (C.A.P). Este colégio encontra-se localizado dentro da Universidade

Estadual de Maringá – UEM na cidade de Maringá, Paraná. Atualmente o colégio conta com

mais de 1.000 alunos matriculados, sendo a maioria proveniente das classes média e baixa. Há

uma extensa lista de espera por vagas principalmente de alunos advindos de escolas privadas e

que buscam no C.A.P. a capacitação necessária para a admissão em universidades públicas,

como a própria UEM por exemplo.

As crianças podem ingressar na instituição a partir dos 6 anos de idade e a média por

turma é de 25 alunos. A expectativa para se alfabetizar as crianças é de três anos e após esse

período, caso a criança não atinja as metas de leitura e escrita, ela é retida e terá de cursar o

mesmo ano novamente.

O projeto político pedagógico é elaborado pela comunidade escolar anualmente,

incluindo a proposta curricular dos anos iniciais. A avaliação do processo de aprendizagem-

desenvolvimento é feita semestralmente e baseia-se na pauta de avaliação que é constituída por

objetivos a serem alcançados. O espaço escolar é adaptado para receber alunos com

necessidades especiais, possuindo, inclusive, elevador.

A teoria que orienta os trabalhos é a histórico-cultural e a expectativa dos coordenadores

quanto presença dos estagiários na escola era a maior possível, se esperando que os futuros

professores pudessem contribuir com a melhoria do ensino na escola.

Pelo fato de termos desenvolvido uma intervenção no 2°A durante o primeiro semestre

de 2015, estávamos familiarizadas com o ritmo da turma e da professora regente. Entre um

semestre e o outro notamos que os alunos haviam desenvolvido novas habilidades, como

escrever em letra cursiva, respeitar a margem, dar o espaço necessário entre palavras e frases.

Os erros gramaticais ainda eram muitos, mas a cada observação notávamos uma melhoria

desses erros. Apesar de todos os progressos observados, alguns alunos ainda apresentavam

dificuldades para acompanhar a professora na lousa ou no ditado, usando somente caixa alta

para ler e escrever e solicitando auxílio frequente para compor as palavras. Por essa razão, a

professora dividia a lousa ao meio, escrevendo o cabeçalho e as demais atividades em letra

cursiva e caixa alta para que pudesse atender a todos, e ao ditar palavras, pedia que os alunos

se sentassem em pares ou pedisse às estagiárias.

ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO

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O planejamento de aula a ser realizado no segundo semestre deveria ter ações para

quatro dias, ao invés de apenas um como foi no estágio do primeiro semestre e por isso, as

atividades a serem elaboradas deveriam contemplar diferentes disciplinas. Dessa forma, o

planejamento interdisciplinar deveria abranger as disciplinas de Língua Portuguesa,

Matemática, Ciências e Geografia.

Após fazermos o esboço do planejamento que iríamos desenvolver, nossa orientadora

nos chamou a atenção para um ponto muito importante e para o qual não havíamos atentado.

Tratava-se da importância histórica que cada item a ser trabalhado possuía, ou seja, o seu

conceito, com essa ação foi possível articular com a teoria que subsidiava o estágio, ou seja, a

AOE (Atividade Orientadora de Ensino). Ao ensinarmos sobre a divisão, por exemplo,

deveríamos refletir em como essa operação matemática está presente no nosso dia-a-dia e desde

quando ela é usada pelo homem e para qual finalidade. Sabe-se que a divisão, como atividade

humana, teve seu início a partir da necessidade de se organizar objetos e animais. Não bastava

ensinar os alunos a dividir um pacote de balas em partes iguais. Era necessário que eles

aprendessem a organizar em colunas e fileiras, que foi a primeira necessidade humana relativa

a divisão, quando ainda não existiam as operações matemáticas que conhecemos.

Para as acadêmicas, pensar sobre o uso social de um determinado objeto, operação ou

atividade, não foi uma tarefa fácil. Destacamos que no ensino contemporâneo estamos

acostumados a trabalhar com as ações e necessidades humanas de forma objetiva, pois na

atualidade os problemas outrora existentes há muito foram superados pelos métodos

desenvolvidos e que hoje utilizamos sem perceber que representam o pensamento materializado

daqueles que vieram ante de nós.

Após muito refletir, um novo esboço de planejamento foi delineado com o auxílio da

nossa orientadora, que pacientemente nos conduziu à compreensão do que se fazia necessário.

Com a aprovação da nossa professora, o novo planejamento ficou pronto e desta vez de forma

definitiva e com essa ação foi possível articular com a teoria que subsidiava o estágio. Nos

restou apenas agradecê-la pela demonstração de profissionalismo e cuidado que teve para com

a nossa formação e a educação pública.

Com o planejamento pronto, ficaram estabelecidos os conceitos e o objetivo geral de

cada disciplina. Na disciplina de Língua Portuguesa o objetivo foi trabalhar o gênero textual

narrativo, as habilidades de inferência e compreensão textual. Em matemática trabalhamos as

operações aritméticas e a divisão a fim de que os alunos entendessem a necessidade humana de

divisão a partir de uma perspectiva histórica. Na disciplina de Ciências destacamos a

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importância do solo para a vida do planeta e os cuidados que devemos ter com esse elemento

natural. Em Geografia buscou-se ensinar sobre a coleta seletiva do lixo e as funções dos meios

de transporte na sociedade.

INTERVENÇÃO

Iniciamos a intervenção na segunda-feira, dia 23 de novembro, com a mesma rotina da

professora da sala, intencionalmente, a fim de que pudéssemos ir encaminhando as atividades

da mesma forma que os alunos faziam cotidianamente. Por se tratar de uma sala com 25 alunos,

trabalhar na mesma rotina não somente evitaria dispersões como diminuiria a ansiedade dos

discentes. Naquele dia as disciplinas eram Língua Portuguesa e Ciências.

Para esse primeiro dia organizamos as carteiras da sala em roda para facilitar a contação

de história e para que as crianças pudessem interagir com os seus pares e suas professoras. No

meio da sala colocamos algumas carteiras para o nosso apoio. Iniciamos com as mensagens

implícitas em um discurso por meio do uso de tirinhas com falas curtas para que os alunos

pudessem inferir o que os personagens queriam comunicar, sem que isto estivesse escrito no

papel. Foi uma atividade muito produtiva e divertida. Os alunos participaram e conseguiram

levantar muitas hipóteses sobre a mensagem transmitida pelos personagens.

Após o registro no caderno sobre a inferência, iniciamos o trabalho com o livro “O

menino que aprendeu a ver”. No primeiro momento da leitura, chovia muito na cidade de

Maringá e por isso, a eletricidade foi interrompida. Não tínhamos iluminação na sala de aula,

mas fomos incentivadas a continuar a contação e pedimos para os alunos fecharem os olhos e

imaginarem como se passava a história que estava sendo contada. Conforme íamos lendo a

história, fazíamos pequenos questionamentos para nos assegurar de que os alunos estavam

atentos. Logo após, os alunos trocaram impressões acerca do texto, para que a atividade de

escrita pudesse começar. Ficamos surpresos em constatar que mesmo sem o auxílio das

ilustrações, pela falta de energia, os alunos conseguiram compreender a história e perceber a

ideia principal da autora. Com a volta da eletricidade, solicitamos que cada aluno contasse o

que haviam entendido sobre a história. Após os registros, recolhemos as folhas para a correção,

pois a elaboração do livreto continuaria no dia seguinte.

Para dar continuidade à aula iniciamos o conteúdo de Ciências. A partir da história

“Cuidando do Solo” desenvolvida pelas acadêmicas, iniciamos um experimento da disciplina

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de ciências, no qual, buscávamos mostrar a diferença de um solo limpo e bem cuidado para um

solo sujo e poluído. Os alunos se interessaram muito pelas personagens Joana e Maria, vizinhas

muito diferentes na hora de cuidar do jardim, pois a primeira jogava lixo na terra enquanto a

outra era cuidadosa. Para o experimento tínhamos uma vasilha com o jardim da Joana e outra

para o da Maria. As duas vasilhas possuíam terra, porém uma estava muito suja e com corante

azul, para que no momento que colocássemos a água os alunos pudessem notar a poluição que

o lixo provocara.

Após o experimento, solicitamos que os alunos registrassem por meio de desenho o que

haviam visto, recontando a história das duas vizinhas. Ao final da aula, passamos a lição de

casa e liberamos os alunos para a saída.

No segundo dia, iniciamos com o calendário, o desenho do tempo na cidade e corrigindo

a lição de casa. Logo após, entregamos as folhas do dia anterior com as produções corrigidas.

Notamos que a maioria dos alunos possuíam dificuldades em respeitar a margem, com a relação

grafema e fonema, separação de sílabas, entre outras situações, que ainda assim denotavam um

progresso comparado ao semestre anterior apesar dos erros ortográficos. Segundo Lemle

(1988), o alfabetizando precisa atingir algumas capacidades para aprender a ler e a escrever: a

primeira é a capacidade de compreender a ligação simbólica entre letras e sons da fala; a

segunda capacidade é a de enxergar as distinções entre as letras, a fim de que deixem de ser

meros “risquinhos” pretos na página branca; a terceira é a capacidade de ouvir e ter consciência

dos sons da fala; a quarta é captar o conceito de palavra.

A maioria dos erros estavam relacionados com a relação grafema e fonema, com o a

troca do ç pelo s, do s pelo z e com as terminações, como por exemplo, na palavra gente, a qual

foi escrita com a última vogal e faltando, gent, por acreditarem que a letra t já fazia a sílaba te,

por causa do seu som.

Alguns alunos haviam faltado no dia anterior e por isso uma das estagiárias se reuniu

em grupo com estes alunos e juntos leram a história e fizeram a redação. Houve uma

preocupação das estagiárias em atender a todos os alunos e enquanto uma professora atendia os

alunos individualmente a outra ensinava o conteúdo para a sala ou escrevia no quadro. Quanto

aos textos corrigidos, solicitamos que cada aluno reescrevesse a sua história com base nas

correções que foram feitas. Alguns alunos além de corrigirem a sua história, também a

completaram com fatos que foram lembrando. Pelo fato de ser trabalhoso, nos preocupamos

muito com a questão o tempo e dispersões, pois ainda teríamos que criar o livreto. Cada aluno

que terminava a reescrita recebia cinco folhas, nas quais ele escreveria partes da história a fim

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de se fazer um livro. Página por página foi preenchida e as ilustrações já eram desenvolvidas.

Aos poucos vimos que o trabalho valera a pena e que os livretos ficaram prontos com sucesso.

Figura n° 01 - Livretos prontos.

Fonte: Arquivo das autoras.

Iniciamos a disciplina de Matemática logo após o recreio. Estávamos ansiosas por

explicar a divisão a partir de uma concepção histórica. Começamos por contar sobre o uso que

o homem fez da divisão há tempos atrás e como poderíamos utilizá-la nos dias de hoje para as

nossas necessidades. Pedimos que dois alunos viessem e separassem objetos em fileiras e

colunas de acordo com a quantidade que possuíam. Eles o fizeram, porém, sob a nossa

orientação. Percebemos então, que não havíamos permitido que os alunos chegassem as suas

conclusões sobre o conceito de divisão e solução para situação problema sozinhos e que

havíamos perdido a chance de estimulá-los a chegarem à uma saída para o problema sem que

interrompêssemos. Como tentativa de “remediar” a situação, propomos problemas práticos de

divisão, para que os alunos os solucionassem sozinhos, ou seja, de sua maneira. Os alunos que

vieram à lousa resolver os problemas o faziam da mesma forma que os demais da sala, com um

ou dois alunos fazendo de forma diferente mas atingindo o mesmo objetivo. Não foi possível

desenvolver a dinâmica em círculo proposta pelas estagiárias no planejamento devido a falta de

tempo, porém ao final da aula usamos as folhas com os múltiplos de 2 ou de 4 para alguns

exercícios antes da saída dos alunos. Terminamos a aula com atividades para a casa.

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Figura n° 02 - Divisão com o uso de caixas.

Fonte: Arquivo das autoras.

No terceiro dia, fizemos a correção das tarefas de Matemática do dia anterior e iniciamos

a disciplina de Geografia. O conteúdo do dia tratava-se dos meios de transporte e coleta seletiva

do livro. Começamos questionando os alunos sobre como eles pensavam que os produtos das

fábricas chegavam até nós. Foram elaboradas muitas ideias, que se confirmavam ou não por

meio da exposição de ilustrações e da própria reflexão da sala. Na lousa, ilustrações

demonstravam o processo de produção, embalagem e distribuição das mercadorias por

diferentes meios de transporte. Muitos questionamentos foram feitos por parte das estagiárias

aos alunos, quanto ao que caracterizava um meio de transporte. Os alunos descobriram que um

meio de transporte não estava limitado a um avião, trem, caminhão ou carro, mas que pássaros

também eram meios de transporte ao transportar consigo sementes. Finalizamos essa atividade

com recortes dos meios de transporte feitos pelos alunos em uma folha separada que depois foi

entregue à professora regente.

Figura n° 03-Cartaz dos meios de transporte.

Fonte: Arquivo das autoras.

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Iniciamos o conteúdo “Coleta seletiva do lixo” dando continuidade as ilustrações que

estavam na lousa. Agora, além das ilustrações das mercadorias chegando nas lojas, afixamos

ilustrações sobre o descarte das embalagens pelos consumidores e depois a separação do lixo

pelas cooperativas. Com uma lixeira da coleta seletiva adquirida pelas estagiárias, pois no

colégio não havia cestos para a separação seletiva do lixo, os alunos iam descartando o material

separado pelas estagiárias nos locais apropriados. Após essa atividade, os alunos coloriram um

o desenho de cestos de lixo da coleta seletiva de acordo com o tipo material descartado em cada

uma.

Figura n°04-Coleta Seletiva.

Fonte: Arquivo das autoras.

No último dia, iniciamos a intervenção após o recreio devido a aula de educação física

dos alunos. Montaríamos o jardim do 2° ano A, dentro de um pneu colorido, em um espaço

separado no gramado da escola. Para essa atividade recontamos a história das duas vizinhas,

Joana e Maria, e a importância dos cuidados com o solo, Um a um cada aluno ia se aproximando

e cavando, plantando ou regando a terra. As flores escolhidas foram Beijinhos devido a sua

durabilidade. Os alunos ficaram muito felizes com esse plantio e entusiasmados de que agora

teriam um jardim da sua própria sala. Apesar de termos finalizado os nossos dias de intervenção

com essa atividade, dias depois fomos informadas de que os alunos continuavam a regar o

jardim durante a semana e que os conteúdos ensinados ainda faziam parte do dia-a-dia deles.

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Figura n°05 - Plantio das flores.

Fonte: Arquivo das autoras.

Compreendemos que sem o ensino sistematizado e o auxílio do professor-pedagogo

como mediador, não teríamos percebido o crescimento intelectual dos alunos na escola como

se verificou tão claramente, o que confirma uma vez mais a importância de termos profissionais

qualificados para o trabalho com a educação. Cada turma possui uma especificidade, com

alunos que são diferentes entre si e que formam um conjunto, sala de aula, que terá uma

característica marcante.

Segundo Berrutti (1997, p. 73) “[...] torna-se necessário a adequação dos conteúdos à

realidade presente em sala de aula”, o que nos permite compreender essa adequação não como

uma exclusão de conteúdos historicamente construídos para uma turma e a aplicação destes

para a outra, mas como uma flexibilidade de encaminhamento metodológico visando a melhor

compreensão dos conteúdos pelos alunos ao se respeitar as suas especificidades como grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que o estágio supervisionado nos anos iniciais do ensino fundamental, nos

possibilitou perceber como se organiza o espaço e a rotina escolar dos alunos do ensino

fundamental do Colégio de Aplicação Pedagógica – CAP/UEM. Refletem neste nível de

escolarização a importância das interações sociais no desenvolvimento dos alunos como

sujeitos históricos, possibilitando assim seu crescimento intelectual.

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Compreendemos que a sala, na qual foi feita a intervenção, era composta por alunos

com diferentes níveis de aprendizagem e comportamento, sendo possível observar o

desenvolvimento de cada um por meio das observações realizadas e intervenções.

O estágio contribuiu para um melhor aperfeiçoamento das estagiárias referente as aulas

aplicadas e segundo Sforni e Vieira (2008, p. 240)

[...] a experiência vivenciada pode, também, tornar-se um momento privilegiado de

desconstrução de visões idealizadas e de busca de uma melhor atuação, tendo como

referência condições concretas do trabalho escolar. Adentrar em uma sala de aula na

condição de estagiário é sempre uma experiência diferente, porque, por mais que se

julgue conhecer o contexto escolar, sempre há elementos surpresa, atitudes inesperadas

e situações inusitadas.

É de grande importância que o professor esteja em contínua formação para que possa

ensinar e que durante o ensino também possa aprender. Os conteúdos a serem desenvolvidos

devem preparar os alunos fisicamente, moralmente e intelectualmente para os próximos

estágios da sua formação.

Assim, exaltamos a importância do estágio nos anos iniciais do ensino fundamental para

compreendermos as relações de ensino e aprendizagem nos ambientes escolares.

REFERÊNCIAS

LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 13° ed. São Paulo: Editora Ática, 1998.

LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo na criança. 2° ed. São Paulo:

Centauro, 2004, p. 311.

MORAES, Silvia P. G de. Avaliação do processo de ensino e aprendizagem em matemática:

contribuições da teoria histórico-cultural. 2008, p. 97.

SFORNI, M. S. de F. Interação entre didática e Teoria Histórico-Cultural. Revista

Educação & Realidade, v.40, n.2, 2015, p. 02.

SFORNI, M. S. de F.; VIEIRA, R. de A. Ensinar e aprender: o acadêmico em atividade

docente. Revista Educação, Porto Alegre, v. 31, n°3, 2008, p. 240.