Anais do Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina

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Anais do Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina ANAISPrograma de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São PauloPROLAM-USP

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ANAIS ii Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina; Simpsio Internacional Pensar y Repensar la Amrica Latina; International Symposium Thinking and Rethinking Latinamerica / Vivian Grace Fernndez-Dvila Urquidi, Maria Margarida Nepomuceno, MayraCoan Lago, Thas de Oliveira (Organizadoras) ; traduo de Thas de Oliveira So Paulo :ECA/USP, 2015. 1251 p. ISBN 978-85-7205-133-01 1.RelaesinternacionaisAmricaLatina-Congressos2.IntegraoAmrica Latina-CongressosI.Urquidi,VivianGraceFernndez-DvilaII.Nepomuceno, Maria Margarida III. Lago, Mayra Coan IV. Oliveira, Thas de. iii Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica LatinaSimpsio Internacional Pensar y Repensar la Amrica LatinaInternational Symposium Thinking and Rethinking Latinamerica ANAIS Comisso Organizadora Vivian Grace Fernndez -Dvila Urquidi Maria Margarida Nepomuceno Mayra Coan Lago Thas de Oliveira ISBN 978-85-7205-133-01 2015 iv Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina Simpsio Internacional Pe nsar y Repensar la Amrica Latina International Symposium Thinking and Rethinking Latinamerica Todos os textos so de responsabilidade dos autores e no refletem necessariamente a posio da instituio responsvel por esta publicao. Realizao Programa de Ps-Graduao Interunidades em Integrao da Amrica Latina da Universidade de So Paulo-PROLAM/USP Comisso Organizadora Profa.Dra. Vivian Grace Fernndez-Dvila Urquidi Maria Margarida Cintra Nepomuceno Mayra Coan Lago Thas de Oliveira Comisso Cientfica Prof. Dr. Amaury Patrick Gremaud Prof. Dr Andr Martin Prof.Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho Prof. Dr. Dennis Oliveira Profa. Dra. Dilma de Melo Silva Profa. Dra.Flvio Rocha de Oliveira Prof.Dr. Jean Cesar Ditzz Profa.Dra Joana de Ftima Rodrigues Profa. Dra. Lisbeth Ruth Rebollo Gonalves Profa. Dra. Lucia Emilia Nuevo Barreto Bruno Prof.Dr. Luiz Antonio Dias Prof. Dr. Luiz Antnio Lindo Prof.Dr Marco Chanda Araya Profa. Dra. Maria Cristina Cacciamali Profa.Dra. Marilene Proena Rebello de Souza Profa.Dra. RaquelPaz Profa.Dra.Regiane Nitsch Bressan Prof.Dr. Renato Braz Oliveira de Seixas Prof. Dr. Ricardo Luis Chaves Feij Prof. Dr Salvador Andrs Schavelzon Profa.Dra. Simone Rocha de Abreu Profa. Dra. Sueli Gandolfi Dallari Prof.Dr Wagner de Melo Romo Prof.Dr. Wagner Menezes Comisso de Apoio Claudia Marcela Blanco Tifaro Eric Tigre Hector Louzada Marcelo Kaique de Oliveira Alves Marcos Antnio Fvaro Martins Paula Andrea Rodriguez Alvarado Ricardo Gustavo Garcia de Mello Wilbert Villca Lopez Designer Grfica Marina Jungue Tradutora Thas de Oliveira So Paulo PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 v APRESENTAO ALIANADOPACFICO:ANLISEDAESTRATGIADE INTEGRAO REGIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO 14 Alessandra Cavalcante de Oliveira

SOPAULOEBUENOSAIRES:CIDADES-SUPORTE PARA A NOVA ARTE URBANA28 Alessandra Mello Simes Paiva

INSULARIDADESLATINOAMERICANAS:JOGOSDE SOCIABILIDADEEMORADASDAARTENASFAVELAS CARIOCAS42 Alexandre Guimares e Isabela Frade APERMANNCIADEJULIOCORTZAR: APROXIMAES PARA UMA LEITURA DE RAYUELA58 Amanda Luzia da Silva VISESEREPRESENTAESDAMARGINALIDADENO TERRITRIO:DELIMAMETRPOLELATINO-AMERICANA (1950-1970) 73 Ana Claudia Veiga de Castro e Nilce Aravecchia Botas

COOPERAOINTERNACIONALESEGURANA PBLICA NA AMRICA LATINA88 Ana Maura Tomesani Marques

COMUNISTAS E NACIONALISTAS NO BRASIL E NO PERU: REPENSANDO UM VELHO PROBLEMA 105 Andr Kaysel Velasco e Cruz ORECONHECIMENTONAEXPANSODOSDIREITOSNA BOLVIA PELOS MOVIMENTOS INDGENAS 122 Andrey Borges Pimentel Ribeiro Sumrio vi OESTADOPLURINACIONALNABOLVIACOMO POSSIBILIDADE DE SUPERAO DAS REPRESENTAES TRADICIONAL E MULTICULTURAL 138 Andrey Borges Pimentel Ribeiro AGENCIAMENTOSANTROPODIGITAISEMULTIDES AUTO-ORGANIZADAS:TENDNCIASDESUBJETIVAO EMERSASNOSPROTESTOSDE2011NOCHILEEDE2013 NO BRASIL 153 Antonino Condorelli AMEMRIADAGUERRILHANOMXICOENOBRASIL: AVELHAESQUERDAEOPROCESSODERETIFICAO NASAUTOBIOGRAFIASDEGUSTAVOHIRALESE FERNANDO GABEIRA165 Azucena Citlalli Jaso Galvn

JORGEAMADOEDONAFLORESEUSDOI SMARI DOS: UMAREDISCUSSODOHIBRIDISMOCULTURALNA AMRICA LATINA 179 Benedito Jos de Arajo Veiga CAPACITAOPROFISSIONALPARAIMIGRANTESDA BOLVIAEMSOPAULO:PERSPECTIVASSOBRE TRABALHODECENTE,DIVISODOTRABALHOE INTEGRAO REGIONAL 193 Bianca Carolina Pereira da Silva SADEMENTALDOCENTE:REPENSANDO TEORICAMENTEOSDESAFIOSDAAMRICALATINAA PARTIR DE ESTUDOS BRASILEIROS 208 Cristina Miyuki Hashizume ASCONTRIBUIESTERICASPARAAINTEGRAO LATINOAMERICANA 218 Daniela Andreia Schlogel PETRLEOYRENTISMOENLAPOLTICA INTERNACIONALDEVENEZUELA.BREVERESEA HISTRICA (1958-2012) 228 Daniele Benzi ORDENMULTIPOLARVS.INTEGRACINREGIONAL? AMRICALATINAENLAGEOPOLTICAMUNDIALA PRINCIPIOS DEL SIGLO XXI242 vii Daniele Benzi eRubn Haro R QUALIDADEREGULATRIAEINVESTIMENTOSEM INFRAESTRUTURA NA AMRICA LATINA257 Eduardo Augusto do Rosrio Contani e Jos Roberto Ferreira Savoia

PRTICASCULTURAISNASASSOCIAES LATINOAMERICANASDEDOZEPASSOS:OCASODOS ALCOLICOS ANNIMOS 267 Eliane Ganev MSICAPOPULAR,MEMRIA,REGIOEIDENTIDADE: APRODUODESENTIDOSNAMSICAPOPULAR REGIONAL ARGENTINA (1960-2010) 279 Emilio Gonzalez TEORIADOPOPULISMO:ASUBSUNOTERICAAO IDERIO LIBERAL 291 Eribelto Peres Castilho

DIPLOMACIAPBLICAYAMRICADELSUR;DELOS CONCEPTOS A LA PRCTICA. 301 rico Sousa Matos AFORMAODACOLEOLATINO-AMERICANANO MoMa ENTRE 1931-1943: ARTE, POLTICA E CULTURA 318 Eustquio Ornelas Cota Jr NEOLIBERALISMONAVENEZUELA:DASPOLTICAS COMPENSATRIASDECARLOSANDRSPEREZAO SOCIALISMO DO SCULO XXI 328 Fabiana de Oliveira e Vitor Stuart Gabriel de Pieri NEODESENVOLVIMENTISMOOUNEOLIBERALISMO: INTEGRAOREGIONALSUL-AMERICANAE IDEOLOGIA348 Fabio Luis Barbosa dos Santos ENTREAIVREPBLICAEOESTADOCOMUNAL: DILEMAS DA REVOLUO BOLIVARIANA363 Fabio Luis Barbosa dos Santos viii LATINAMERICANREGIONALISMTOWARDTHESECOND DECADEOFTHE21STCENTURY:REFRAININGFROM INTEGRATION AND REVISITING POWER COALITIONS 377 Fabrcio H. Chagas Bastos AFORMAODOCAMPONAREGIODATRPLICE FRONTEIRA: ASPECTOS SOCIAIS POLTICOS 390 Felipe Cordeiro da Rocha e Renata Peixoto de Oliveira HISPANO-AMERICANISMOEANTECEDENTESHISTRICOSDA ALBA-TCP 402 Felipe Freitas GargiuloPERFORMANCESCULTURAISARTE/EDUCATIVASNOS ESPAOSDAUNIVERSIDADEFEDERALDEGOIS-UFG FernandaPereiradaCunha,JooMarcosdeSouzaeYasminGonalvese Lyra 419 APOLTICAEXTERNADOGOVERNOEVOMORALES: PARADIGMA DO VIVIR BIEN 435 Flavia Loss de Araujo GOVERNOS DE ESQUERDA E POLTICAS SOCIAIS NA AMRICA LATINA:UMAEXPLORAOANALTICASOBREOSATUAIS REGIMES NA BOLVIA E NA VENEZUELA 451 Francesca Baggia e Nathlia Frana Figuerdo Porto DUAS VOZES DO SUBRBIO: BUENOS AIRES E RIO DE JANEIRO NO LIMIAR DO SCULO XX 470 Gabriela Cassilda Hardtke Bhm REAVALIZAROSESPAOSDEEXPOSIONOCONTEXTO DIGITAL:POSSIBILIDADESARTSTICASATRAVSDA REALIDADE AUMENTADA 486 Giovanna Graziosi Casimiro J OAQUI M E O I NVENCI ONI SMO: NOTASENTREAPROVNCIAE A AMRICA LATINA 498 Helena de Oliveira Andrade

DIREITOCIDADEEAPARTICIPAOPOPULARNAGESTO URBANA: UMA ANLISE DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA EM SO PAULO, MEDELLN E BOGOT 509 Heliete Rodrigues Viana e Patrcia Brasil ix ALBERTOKORDA:AFOTOGRAFIACOMO TESTEMUNHA 537 Isa Bandeira HORIZONTALIDADESDOOLHARFOTOGRFICONAS FORMULAESPOTICASDEROSANAPAULINO, WALTER FIRMINO E MARTA MARIA PREZ 548 Janaina Barros Silva Viana AS VOZES FEMININAS NA LITERATURA MARGINAL562 Jssica Balbino DITADURA,IMPRENSAEABERTURAPOLTICANO CEAR:AATUAODOSJORNAISCORREIODA SEMANAEOPOVOEOFIMDADITADURACIVIL-MILITAR (1974-1985)588 Joo Batista Tefilo Silva ADITADURAMILITARNOBRASILENOCHILE:UM ESTUDOCOMPARTIVODAPARTICIPAODOS MILITARES E CIVIS NA TRAMA GOLPISTA600 Jorge Nelson Cceres Olave Junior O VALOR ECONMICO E EDUCACIONAL DO CAPITAL COGNITIVO NA AMRICA LATINA E NO MUNDO614 Jos Aparecido Da Silva e Rosemary Conceio dos Santos HLIO OITICICA E O SALTO DA SUPERFCIE629 Julio Meiron OCONTROLEDECONVENCIONALIDADENA AMRICALATINAEMRELAOAPRESERVAO DOS DIREITOS HUMANOS E NA PUNIO DOS CRIMES OCORRIDOS NAS DITADURAS MILITARES 642 Kelly Pereira Prata CULTURACOMOUMRECURSOPOLTICODOS ESTADOS: O CASO DO MERCOSUL657 Lucas Belmino Freitas ACONSTRUODOPARLASULEOPROCESSODE REPRESENTAO DIRETA677 Lucas Bispo dos Santos LUTASSOCIAISEGOVERNOSSUL-AMERICANOS: CONFIGURAOPOLTICA,PERSPECTIVASE IMPASSES 702 Luiz Fernando da Silva x O SISTEMA DE COTAS TNICAS NAS UNIVERSIDADES PBLICASBRASILEIRAS:REPARAOHISTRICA OU MERITOCRACIA? 718 Magaly Corra Lazzoli OSMINISTROSDEXANG:UMAANLISESOBREA FORMAODOCORPODEOBSDEXANGDOI L AX OP AFONJ 729 Marcelo Mendes Chaves LIBERALISMOECONSERVADORISMONOURUGUAI DOSNOVOCENTOS:BATLLISMOEARIELISMONO PROCESSO DE FORMAO DE IDENTIDADE POLTICA URUGUAIA741 Marcos Alves de Souza IDENTIDADEECOSMOPOLITISMONOCINEMA ARGENTINO757 Maria Alzuguir Gutierrez e Estevo de Pinho Garcia QUAIS AGENDAS DE AES POLTICAS DE COMBATE POBREZASUGEREMOSRDHS(PNUD/ONU)PARAA AMRICA LATINA? 769 Maria Jos de Rezende OS DISCURSOS PARLAMENTARES DE ROD 779 Maria Margarida Cintra Nepomuceno DIPLOMACIACULTURAL:OBRASILNAAMRICA LATINA A PARTIR DE GETLIO793 Maria Margarida Cintra Nepomuceno JUVENTUDEEESCOLARIZAO:CONTRIBUIES PARA PRTICAS PEDAGGICAS805 Mariana Cunha Bhering ASPECTOSDAPOLTICAHABITACIONAL BRASILEIRA,COLOMBIANAECHILENA.UMA ANLISEDAIMPLEMENTAODAMORADIA ADEQUADA EM PASES DA AMRICA LATINA814 MarianaDiasRibeiro,EleonoraFreireBourdetteFerreiraeLuiz Cludio Deulefeu xi DAS MADRES DE LA PLAZA DE MAYO CONVENO CONTRAODESAPARECIMENTOFORADODE PESSOASDASNAESUNIDAS:COMO REIVINDICAESLOCAISPODEMREQUALIFICARO DISCURSO INTERNACIONAL DOS DIREITOS UMANOS 829 Marina Figueiredo SI ,SOMOSLATI NOAMERI CANOS:OPAPELDOS SEMANRIOSERCI LLAEMARCHAPARAA CONSTRUODOCONCEITODEAMRICALATINA NO CHILE E NO URUGUAI (1939-1974)846 Mateus Fvaro Reis CULTURAPOPULAREMEMRIANAS MANIFESTAES DO CONGO E DO MOAMBIQUE NA CIDADEDESOTOMSDEAQUINO,EMMINAS GERAIS860 Maurcio de Mello CANTANDOANAO:ASREPRESENTAES NACIONAISNASLETRASDECARLOSGARDELE CARMEN MIRANDA872 Mayra Coan Lago OSTRABALHADORESNOTRABALHISMODE GETLIOVARGASENOJUSTICIALISMODEJUAN DOMINGO PERN890 Mayra Coan Lago JUSTIADETRANSIONAAMRICALATINA:UMA COMPARAO BRASIL E ARGENTINA904 Milene Cristina Santos e Tharsila Helena Paladini Augusto AALIANADOPACFICOCOMORETOMADADO REGIONALISMOBASEADOEMACORDOSDE COMRCIO 918 Paulo Roberto Silva ALBA:ALTERNATIVALATINO-AMERICANADE INTEGRAO ANTI-IMPERIALISTA?927 Rassa Teixeira Almeida de Souza MERCOSULEDUCACIONALEA INTERNACIONALIZAO DO ENSINO SUPERIOR938 RaquelHeleneSalvatoDelatorre,BrunoCsarSilvaePaula Regina de Jesus Pinsetta Pavarina xii EMBUSCADACONSTRUODEUMREFERENCIAL PARAUMAOUTRAI NTEGRAODOMERCOSUL: DILOGOSCOMONOVOREGI ONALI SMODAS RELAES INTERNACIONAIS 952 Regina Laisner ASPERSPECTIVASEDESAFIOSDASPOLTICAS CULTURAISNOMERCOSUL:OCASODOMERCOSUL CULTURAL967 Regina Laisner, Gabriela Scarpari de Giacomo e Renata Porto Bugni ARELIGIOCATLICACOMOLEGITIMADORADO DISCURSO POLTICO NO BRASIL COLONIAL 983 Renata Ferreira Munhoz OGOVERNOMENEMEAREFORMADOESTADONA ARGENTINA994 Reynaldo Zorzi Neto ATRAJETRIAPOLTICO-IDEOLGICADETRISTN MAROF1008 Ricardo Neves Streich HISTRIA E DRAMATURGIA NO MXICO1022 Robson Batista dos Santos Hasmann RIOS DE TEMPO, RIOS DE SANGUE! A CONTENDA POR PERN NO ROMANCE DE TOMS ELOY MARTINEZ1037 Rodrigo Medina Zagni A PRTICA DA TRADIO EM TEMPOS DE CULTURA-MUNDO E DEMOCRATIZAO1052 Rosemary Conceio dos Santos e Jos Aparecido Da Silva IDENTIDADYTRADUCCINENMACUNAMA.DE MRIO DE ANDRADE1065 Roxana Calvo IDENTIDADENACIONALNACONCEPODEJOS INGENIEROS E MANOEL BOMFIM 1080 Ruth Cavalcante Neiva AUTONOMIAECOLONIALISMONAVISODE INTELECTUAIS MAPUCHE DO CHILE1091 Sebastio Leal Ferreira Vargas Netto 1104 xiii MEMRIADADISPORAARMNIANAAMRICADO SUL NOS RELATOS DE SEUS DESCENTESSilvia Regina Paverchi ARTISTASCONTRAOSMODELOSHEGEMNICOSDA ARTE1119 Simone Rocha de Abreu ESCOLASDEFRONTEIRA:EDUCAOEDEMANDA SOCIALNAFRONTEIRACORUMBEPUERTO QUIJARRO1134 Suzana Vinicia Mancilla Barreda PAISAGEM, ARTE E MEMRIA1151 Sylvia A. Dobry-Pronsato CONHECENDO OS VIZINHOS1160 Sylvia Werneck QU HAY POR DETRS DEL GAUCHO MALO?1172 Thas de Oliveira INTEGRAIFSICAESUAIMPORTNCIAPARAA AMRICA DO SUL: OLHARES DA GEOPOLTICA1182 Thas Virga Passos e Maria Cristina Cacciamali ARTE,POLTICAERESISTNCIA:ANLISEDA FORMAOEATUAODAREDELATINO-AMERICANA DE TEATRO EM COMUNIDADE1206 Valria Teixeira Graziano e Eduardo Salles Ulian ESTAMOS EN EL SI GLO XXI : APROXIMAO ENTRE AS OBRAS DE LUI S FELIPE NO E MEDI ANERAS1221 Vinicius Custodio de Lima Silva e Simone Rocha de Abreu OEMPODERAMENTODASMARGENSATRAVSDOS DISCURSOSCINEMATOGRFICOSE CARTOGRFICOS1235 Vincius Wingler Borba Santiago xiv OProgramadePs-GraduaoInterunidadesemIntegraodaAmrica LatinadaUniversidadedeSoPaulo(PROLAM/USP)completou25anosno anode2013.Paracelebraradata,discenteseprofessoresdoPrograma organizaram o Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina. O eventoprocuroureunirestudantes,professores,pesquisadoresedemais interessadosnatemticalatinoamericana,comoobjetivodecontribuirparao conhecimentodaregioedaspesquisasproduzidas,talcomoincentivara importncia de se repensar e refletir a Amrica Latina.Destemodo,oSimpsiofoicompostopordozeSeminriosdePesquisa, emqueforamapresentadostrabalhosdepesquisadoreseestudantesde GraduaoePs-Graduao,queabordaramtemticasdeAmricaLatina,e Palestras com pesquisadores da regio.Gostaramos de agradecer Biblioteca Brasiliana Guita e Jos Mindlin, CoordenaodeAperfeioamentodePessoaldeNvelSuperior-CAPES, Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo, Fundao deAmparoPesquisadoEstadodeSoPaulo-FAPESP,Pr-Reitoriade CulturaeExtensoUniversitria,aoSistemaintegradodeBibliotecasda UniversidadedeSoPaulo,ComissodeApoioeatodosaquelesque contriburamdiretaouindiretamenteparaqueoeventoacontecesse,poissem eles, este no seria possvel. Comisso Organizadora Apresentao Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 14 Aliana do Pacfico: anlise da estratgia de integrao regional para o desenvolvimento Alessandra Cavalcante de Oliveira Mestre pelo PROLAM/USP Doutoranda pelo PROLAM/USP e-mail: [email protected] Resumo AAlianadoPacficovisapromoverodesenvolvimentodospasesintegrantesapartirda transformaoprodutiva.Paratalfeito,oblocobuscaincentivaraintegraoprodutivapara criarcadeiasregionaisdevalor,quecontribuiriaparadiversificaraproduo,intensificaro comrcio na regio e se tornar menos dependente da exportao de bens primrios. A partir da literaturasobreotema,opresenteartigoanalisaemqualmedidatalpolticacontribuiriade fatoparapromoverodesenvolvimentoeconmicoesocialeseaAlianadoPacficotem condiesparatalempreendimento.Aoanalisaraevoluodobloco,observa-sequeexiste vontade poltica para estimular a integrao. Porm, para ser uma iniciativa exitosa depender doempenhodaAlianadoPacficoemdarcontinuidadeaoprocesso,poisosresultados somente podero ser alcanados a longo prazo.Palavras-chave Integrao Regional; Integrao Produtiva; Aliana do Pacfico; Regionalismo Aberto Resumen La Alianza del Pacfico tiene como objetivo promover el desarrollo de los pases miembros a partirdelatransformacinproductiva.Paragarantizaresto,elbloquebuscafomentarla integracinproductivaparacrearcadenasregionalesdevalor,queayudaraadiversificarla produccin, incrementar el comercio en la regin y ser menos dependientes de la exportacin debienesprimarios.Apartirdelaliteraturasobreeltema,esteartculoexaminaenqu medida tal poltica promueve, en realidad, el desarrollo econmico y social y si la Alianza del Pacfico tiene condiciones para tal proyecto. Mediante el anlisis de la evolucin del bloque, se observa que existe la voluntad poltica para fomentar la integracin. Sin embargo, para ser unainiciativaexitosadependerdelcompromisodelaAlianzadelPacficodemantenerel proceso, porque los resultados slo se pueden lograr en el largo plazo. Palabras clave Integracin Regional; Integracin Productiva; Alianza del Pacfico; Regionalismo Abiert Introduo AAlianadoPacfico,formadaporChile,Colmbia,MxicoePeru,foicriada oficialmenteem2012,comaassinaturadoAcordoMarco.Consideradoumainiciativade regionalismo aberto, o bloco visa promover uma integrao profunda entre os seus membros paraalcanaralivrecirculaodebens,servios,capitaisepessoas.Almdisso,oprojeto Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 15 integracionista pretende tornar-se uma plataforma de projeo ao mundo, com destaque para a regiodasia-Pacfico.Comissotudo,aAlianadoPacficoesperapromoverummaior crescimento e desenvolvimento socioeconmico de seus pases. Aoanalisaraevoluodoprocessodeconsolidaodoblocoeosdiscursosdos presidentesdosquatropases,contata-sequeaestratgiaprincipaldoblocopromovero desenvolvimentodaregioapartirdatransformaoprodutiva.Paratalfeito,oblocobusca incentivaraintegraoprodutivaparacriarcadeiasregionaisdevalor,quecontribuiriapara diversificaraproduo,intensificarocomrcionaregioesetornarmenosdependenteda exportao de bens primrios. Alm disso, a Aliana do Pacfico pretende promover polticas que possibilitem que seus pases ascendam a melhores posies nas cadeias globais de valor. Apartirdaliteraturasobreintegraoprodutiva,opresenteartigobuscaanalisarem qualmedidatalpolticacontribuiriadefatoparapromoverodesenvolvimentoeconmicoe social e se a Aliana do Pacfico tem condies para tal empreendimento. Para tanto, o estudo apresenta a evoluo das aes que tm sido empreendidas pelo bloco para criar as condies necessrias para o desenvolvimento das cadeias de valor. Otemaserdiscutidoemtrssees,almdestaIntroduoedasConsideraes Finais.AprimeiraparteapresentaumbrevehistricodaAlianadoPacfico,sobreasua criao, objetivos e evoluo. Na seo seguinte, tratado sobre a contribuio da integrao produtiva para promover o desenvolvimento econmico regional. Em seguida, analisam-se as aes empreendidas pela Aliana do Pacfico para criar as cadeias regionais de valor. Por fim, so tecidas as consideraes finais. Aliana do Pacfico: nascimento e evoluo do processo integracionista OblocoAlianadoPacfico,compostoincialmenteporMxico,Colmbia,Chilee Peru,maisumainiciativadeintegraoregionalnaAmricaLatinaquevisa,pormeiode polticas conjuntas coordenadas, promover um maior desenvolvimento econmico e social de seusintegrantes.Edestemodo,poderavanaremumespaoamploqueostornemmais atrativos para investimentos e comrcio de bens e servios a fim de se projetarem com maior competitividade especialmente regio da sia Pacfico (DECLARACIN PRESIDENCIAL SOBRE LA ALIANZA DEL PACFICO, 2011). Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 16 Ainiciativafoicriadaoficialmenteemjunhode2012,comaassinaturadoAcordo Marco,noObservatrioParanal,nacidadedeAutofagasta,noChile,apsumanode negociaes entre as quatro naes a fim de se formatar o documento que oficializaria a unio eoinciodoprocessodenegociaesdediversostemas,almdaliberalizaocomercial, paraacriaodeumaintegraoprofundaentreeles.(DECLARACINDEPARANAL, 2012). A Aliana do Pacfico foi o resultado da evoluo dos fruns de discusses do Arco do Pacfico,grupoinformalcriado,em2007,compostopor11pasesdostrscontinentes americanos1,banhadospeloOceanoPacfico.Estegrupofoiiniciativadoentopresidente peruanoAlanGarciaPerez,comorespostaaonovocenriocomercialmundial,voltado crescente importncia dos pases da sia e do Pacfico, como parceiros comerciais potenciais das naes da Amrica Latina.OArcodoPacficobuscava,portanto,orientarocomrciodospaseslatino-americanosparaaprofundaraarticulaodoespaoeconmicodoPacfico.Ametadeste frum consistia em promover um conjunto de vnculos comerciais, polticos e de cooperao, que compreendesse toda a costa do Pacfico da Amrica Latina, partindo do Mxico ao Chile (MXICO, 2011).Porm,paraumavanomaiornasnegociaesenaconcretizaodasmetas apresentadas,pelosseusmembros,eranecessriaumamaiorinstitucionalizao,queseria alcanada somente com a criao de um bloco formal, que fosse alm de apenas um frum de discusses. Entendendo desta maneira, o ento governo peruano, novamente tomou a frente e props a criao de um bloco formal que se chamaria Aliana do Pacfico. Alan Garcia Perez conseguiu o apoio do Mxico, Colmbia e Chile para esta nova iniciativa. E em uma reunio entreosquatromandatrios,duranteaXXCpulaIbero-Americana,emMarDelPlata,na Argentina,decidiramavanarnaconformaodeumareadeIntegraoProfundaentreos quatro pases (COLMBIA, 2014).Destaforma,em28deabrilde2011,ospresidentesdeChile,Colmbia,Mxicoe PeruassinaramaDeclaraoPresidencialsobreaAlianadoPacfico,queficoumais conhecidacomoDeclaraodeLima,portersidofirmadaemLima,noPeru.Neste documento,constamosobjetivosdonovobloco,quealmdacriaodareadeLivre

1 Fazia parte do Arco do Pacfico, onze pases dos trs continentes americanos. So eles, Colmbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Mxico, Nicargua, Panam e Peru. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 17 Comrcio de bens, busca ainda a livre circulao de servios, de capitais, de investimentos e de pessoas (DECLARACIN PRESIDENCIAL ALIANZA DEL PACFICO, 2011).Almdosquatropasessignatrios,osrepresentantesdaCostaRicaedoPanam, acompanharam todo o processo como observadores. Essas duas naes esto em processo de negociaesparaintegraraAlianadoPacfico,quedependedaimplantaodeTratadode LivreComrciocomtodosospasesmembrosrequisitoobrigatrioparafazerpartedo bloco.ACostaRicajestemprocessodeadesoeoPanam,porsuavez,aguardaa aprovao de suaentrada no bloco.A Aliana do Pacfico possui tambm mais de 30 pases observadores de diversos continentes.Comaconclusodasnegociaesdosdiversostemasdiscutidosaolongodedois anos,osresultadosforamincludosnoProtocoloAdicionaldoAcordoMarco,aprovadoem fevereirode2014,duranteaVIIIreuniodecpula,realizadaemCartagena.Odocumento ainda precisa ser submetido votao nos congressos dos pases-membros (DECLARACIN DE CARTAGENA DE INDIAS, 2014).Um dos temas de maior destaque presente neste protocolo o Acordo Comercial, que define a desgravao imediata de 92% do universo tarifrio assim que o documento entrar em vigor.Orestantedeaproximadamente8%serrealizadodeformagradual,comum cronogramaqueseestendeat2030paraosprodutosmaissensveis.Existetambmuma categoriacompoucosprodutosquenosofreroeliminaodetarifas(PROTOCOLO ADICIONAL AL ACUERDO MARCO DE ALIANZA DEL PACFICO, 2014). Apesardoacordocomercialalcanadoparecerserumagrandeconquista,poisfoi negociadoemapenasdoisanos,emverdade,estefeitorepresentaapenasumareduo tarifriamarginal,umavezqueospasesintegrantesjpossuamacordosbilateraisdelivre comrcio2, que abarcava em torno de 90% de seus produtos. Tabela 1 Acordos comerciais entre os integrantes da Aliana do Pacfico em vigor e percentual de livre comrcio (2012)3

2 Importante ressaltar que todos os acordos de livre comrcio j estavam em vigor antes da criao do bloco. A nica exceo diz respeito ao Acordo de Integrao Comercial entre o Mxico e o Peru, que entrou em vigor apenas em fevereiro de 2012, com desgravao tarifria imediata de 87%. 3ACE:AcordodeComplementaoEconmica,firmadanombitodaAssociaoLatino-americanode Integrao(ALADI);CAN:acordofirmadonombitodaComunidadeAndina,AIC(AcordodeIntegracin Comercial) fora do mbito da ALADI. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 18 ChileColmbiaMxicoPeru Chile------ ACE 24 97% ACE 41 98% ACE 38 95% Colmbia ACE 24 97% ------ ACE 33 92% CAN 100% Mxico ACE 41 98% ACE 33 92% ------- AIC 87% Peru ACE 38 95% CAN 100% AIC 87% ----- Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da CAN, ALADI, Secretara de Economia de Mxico, de Ministrio do Comrcio, Indstria e Turismo da Colmbia Portanto, apesar do grande dinamismo que o bloco apresentou em seus primeiros anos de vida, o acordo comercial alcanado e que ainda precisa ser ratificado no seria o principal destaque da Aliana do Pacfico. Ao analisar os demais temas negociados possvel observar queumadasfinalidadesmaisimportantedainiciativa,naverdade,criarcondiespara promoveraintegraoprodutiva,ouseja,fragmentaraproduoentreospases-membros. Deste modo, possvel dizer que o estabelecimento da rea de Livre Comrcio seria, ento, apenas um dos instrumentos necessrios para facilitar a criao de encadeamentos produtivos entre as empresas de diversos setores dos pases integrantes.Ointeressedoblocoempromoveraintegraoprodutiva,comoserexplicadomais detalhadamentenaprximaseo,estariarelacionadoaosbenefciosgeradospela fragmentaodoprocessodeproduo,taiscomo:oaumentodocomrciointrabloco,a possibilidade de diversificar a produo e exportao, e assim, tornar-se menos dependente da venda de poucos bens primrios. A Integrao Produtiva como instrumento para o desenvolvimento regional Apesardenoserumprocessorecente,nosltimosanos,tem-sedebatidocommais intensidade na rea acadmica e no meio poltico a importncia de a Amrica Latina se inserir nas cadeias globais de valor4 e, principalmente, estimular a integrao produtiva regional5. O

4 As cadeias de valores, que podem ser regionais ou globais, dependendo de sua abrangncia, entendida como umconjuntodeatividadesqueasempresasseengajamparalevarumprodutoouservioaomercado,desdea suaconcepoaousofinal.Taisatividadescompreendemsdiferentesfasesdeproduo(odesenho,a transformao fsica e diversos servios) at chegar ao consumidor final (CEPAL, 2013; OECD, 2013). Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 19 aumentodointeressesobreotemaestariarelacionadosexperinciasbem-sucedidas ocorridasnaEuropae,principalmente,nasiadepasesqueconseguirammelhorarseus indicadores econmicos e sociais ao participar de cadeias produtivas regionais.Inmerosestudosdemonstram,aoanalisarasexperinciasbemsucedidas,quepor meiodaintegraoprodutiva,aregioteriaaoportunidadedediversificarasuaproduo paraexportao,aumentarofluxodecomrciointra-regional,teracessoinovao tecnolgica,criarnovascadeiasregionaisdevalor,eporfim,ascenderamelhoresposies nascadeiasglobaisdevalor,nosendoapenasfornecedoresdematrias-primas(CEPAL, 2013, p. 164).O avano deste processo levaria tambm consolidao de fluxos comerciais dotipointraindustrial,ouseja,domesmosetor,principalmentedemanufaturados,emque ocorremaimportaodepartesecomponentes,processamentoindustrialeexportaode componentes mais complexos ou de produtos finais (MACHADO, 2010, p. 123). Aintegraoprodutivapodeocorrerpormeiodainstalaodefiliaisde multinacionais em outros pases, que ficaro responsveis pela produo de um determinado estgio da cadeia da produtiva. Outro caso que pode ocorrer tambm a integrao produtiva quandoasgrandesempresaspassamaadquirirbensintermediriosdeumaredede fornecedores.Estes,porsuavez,podemsuprirvriaslinhasdeprodutosdedistintas empresas. Alm disso, o mesmo fornecedor pode adquirir partes e componentes de uma ampla rede de fornecedores subsidirios os quais,possuem tambm contratos de fornecimento com outros fabricantes de partes ou componentes (MACHADO, 2010, p. 121; DULLIEN, 2010, p. 163).Participardascadeiasdevalorpodeserumagrandeoportunidadeparaa internacionalizaodaspequenasemediasempresas,quepassamaserexportadorasdiretas ouindiretas,ouseja,comofornecedorasdeprodutosintermediriossempresasdemaior tamanho.Aparticipaonestascadeias,buscandoascenderasegmentosdemaiorvalor agregadopodefacilitaroacessoatecnologiasdeponta,melhoresprticasprodutivas internacionais,abrindooportunidadesparaumincrementoindustrialalongoprazo(CEPAL, 2013, p. 184; CEPAL, 2014, p. 73; UNCTAD, 2013b, p. 24,). Estas conquistas podem levar a melhores qualidades de emprego e consequente, maiores salrios. 5 Esta entendida como o processo de fragmentao da produo, ou seja, os estgios de produo dos produtos passam a ocorrer em diferentes pases, o que pode implicar na criao de uma diviso internacionalvertical do trabalho no mbito de uma cadeia produtiva. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 20 As multinacionais instalam filiais ou se associam aos fornecedores de outros pases em buscadereduziroscustosdesuaproduo.Destemodo,umaempresapodeestabelecerum processodeproduoqueempascommo-de-obramaisbarataedesqualificada,porm, abundante. E medida que necessite de profissionais com nveis de educao mais elevados, a multinacional pode optar por outro pas para a instalao de sua filial ou a aquisio de bens comosfornecedores(HAMAGUCHI,2010,p.312).Oautorexplicatambmqueocusto mdio de fragmentao ser menor na medida em que o total da operao aumente em razo daeconomiadeescala.Portanto,umaregiocomamplomercadodeconsumooucomuma capacidadegrande deexportao para o mercado externo, apresenta umacondio favorvel para a integrao produtiva regional. Medeiros(2010,p.260),porsuavez,alertaqueadivisoverticaldetrabalhopode gerar importantes assimetrias entre os pasesconforme a sua especializao na cadeiaglobal devalor.Portanto,aintegraoprodutivapodetantocontribuirparaodesenvolvimentodos pasesmaisatrasadostecnologicamentequantoserumaarmadilhaparaquelesqueestona base da cadeia. Deste modo, para que os pases possam ascender a etapas de produtos de maior valor na cadeia produtiva, necessria a implementao de diversas medidas. A UNCTAD (2013b, p. 196) indica como fatores primordiais: a adoo de polticas de desenvolvimento industrial, criarumambientepropcioparaocomrcioeoinvestimento,colocaremprticapr-requisitos de infraestrutura; melhorar a capacidade produtiva de empresas locais e habilidade da fora de trabalho. Para mitigar os riscos envolvidos na participao das cadeias globais de valor,essesesforosdevemocorrerdentrodeumaforteestruturadegovernana,com regulao reforada e fiscalizao e de capacitao de apoio s empresas locais. Aliado a estas aes, Medeiros (2010, p.284), ao analisar a experincia chinesa, defende a necessidade de o pas tambm se esforar para absorver progresso tcnico, por meio do investimento em P&D. Contudo que foi apresentado nesta seo, portanto, o interesse da Aliana do Pacfico empromoveraintegraoprodutivaentreospasesintegrantesestarialigadoaosinmeros efeitospositivosqueesteprocessopodepropiciarlevandoaummaiordesenvolvimento econmicoesocialdesuaspopulaes.Destemodo,oblocotempromovidodiversas iniciativasquevisamcriarascondiesnecessriasparafacilitarodesenvolvimentodas cadeiasregionaiseglobaisdevalor.Asaesempreendidaspeloblocoseroanalisadasna seo seguinte.Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 21 A Aliana do Pacfico e a integrao produtiva OblocoAlianadoPacfico,apesardenopossuirumprogramaespecficode integraoprodutiva,temexecutado,desdeasuacriao,inmerasaesquevisamcriar cadeiasregionaisdevalor6etambmmelhorarasuainseronascadeiasglobaisdevalor. Porm,essesobjetivossopossveisdeseremalcanadossomenteemumperodomaiorde tempodevidocomplexidadedemedidasnecessriasaserempreendidasparacriaras condiesnecessriasparaosurgimentodessascadeias.Porestarazo,apesardosesforos conjuntosdospasesintegrantesnoestareminseridosemumprogramadeplanificaode poltica industrial, mesmo assim, necessrio um planejamento para definir as aes a serem implementadas para criar e fortalecer essas cadeias produtivas.O interesse do bloco em participar das cadeias de valor est relacionado aos benefcios queestaspodemtrazerparaospasesemdesenvolvimento.Umdelesaoportunidadede internacionalizaraspequenasemediasempresas,quepassamaserexportadorasdiretasou indiretas,ouseja,comofornecedorasdeprodutosintermediriossempresasdemaior tamanho.Aparticipaonestascadeias,buscandoascenderasegmentosdemaiorvalor agregado,podefacilitaroacessoatecnologiasdeponta,melhoresprticasprodutivas internacionais,abrindooportunidadesparaumincrementoindustrialalongoprazo.Estas conquistaspodemlevaramelhoresqualidadesdeempregoeconsequentemente,amaiores salrios(CEPAL,2013,p.92;CEPAL,2014,p.43;UNCTAD,2013a,p.25).Acriaode cadeias regionais de valor, alm de intensificar as trocas comerciais intra-regional, favorece o comrciointraindustrial,proporcionandoadiversificaoprodutivaparaaexportao.Alm disso,contribuiparaaatraodeInvestimentoEstrangeiroDireto(IED)eofortalecimento das empresas translatinas (CEPAL, 2013, p. 165). UmadasmedidasimplementadapelaAlianadoPacficoafimdecriarcondies paraaimplantaodascadeiasregionaisdevalorfoiacriaodoConselhoEmpresarialda AlianadoPacfico(CEAP),em2012,compostoporlderesempresariais,quediscuteme apresentampropostasparaafacilitaodecomrcio,medidasparamelhorarosfluxos

6 A cadeia de valor entendida com um conjunto de atividades necessrias para levar um produto ou servio desde a sua concepo por meio de diferentes etapas de produo at chegar ao consumidor final.Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 22 comerciais,investimentos,entreoutrostemasdeinteresse.Estetrabalhotemsidorealizado com o apoio tcnico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).Umadasaes,emandamento,coordenadapeloBID,queteveincioem2014,a elaboraodeumestudoparaidentificaodeencadeamentosprodutivosentreosquatro pases, principalmente entre as micro, pequenas e mdias empresas. A finalidade aprofundar o comrcio na regio e promover a projeo a outros mercados, em particular a sia. O CEAP tambm solicitou ao BID um estudo sobre competitividade logstica (DECLARACIN DEL CONSEJO EMPRESARIAL DE LA ALIANZA DEL PACFICO, 2014).Comojmencionadoanteriormente,noinciode2014,foifirmadooProtocolo Adicional ao Acordo Marco, que ainda precisa ser aprovado pelo congresso dos quatro pases membrosparaentraremvigor.Nestedocumento,almdalistadeprodutosaserem desgravados, constam captulos importantes para a explorao de encadeamentos produtivos, como:medidasparafacilitaodecomrcioecooperaoaduaneira,medidassanitriase fitossanitrias,normastcnicaseasregrasdeorigem.DostemasincludosnoProtocolo Adicional, um dos mais importantes que oferece as condies para se iniciar a explorao de encadeamentosprodutivossoasregrasdeacumulaodeorigem.Pormeiodestasregras ser possvel que bens intermedirios e insumos provenientes de outros pases do bloco sejam incorporadosaumproduto,queporsuavez,serconsideradooriginriodesteltimopas, responsvelpelaetapafinaldaproduo.Emoutraspalavras,aacumulaopermitequeas etapasparaaproduodeumamercadoriasejamdistribudasentredoispases-membrose exportadaparaumterceirointegrantedobloco,desfrutandodomesmobenefciotarifrio. Esta medida possibilitar, portanto, o aumento de encadeamentos produtivos entre os pases-membros ea produo de bens mais competitivos para serem exportadospara o mercado da sia-Pacfico,queumdosprincipaisobjetivosdaAlianadoPacfico(DECLARACIN DE SANTIAGO, 2014).Visandotambmofomentocompetitividadedasempresas,aAlianadoPacfico implantouoprojetoSinergiaentreospasesdaAlianadoPacfico-paraomelhoramento dacompetitividadedasmicro,pequenasemdiasempresas.Ainiciativavisapromovera troca de conhecimentos e experincias em cada um dos pases mediante oficinas nas reas de: competividadeempresarial;desenvolvimentoempresarial;monitoramentoeevoluodo impactodeprogramas;eprojetosquecontemplemessasempresas(ALIANZADEL PACFICO, 2013). E no incio de 2014, foram iniciados os trabalhos com a Organizao para Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 23 Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), que em uma primeira etapa, auxiliar os membrosdaAlianadoPacficonaadoodepolticasqueimpulsemacompetitividadee internacionalizao das Pequenas e Mdias Empresas, assim como, de suas exportaes e sua incorporao nas cadeias globais de valor (DECLARACIN DE PUNTA MITA, 2014). Oblococontaaindacomapoiodasagnciaspromotorasdeexportao:ProExport Colombia,ProChile,PromPer,ProinversineProMxico.Ascincoagnciastm promovido,desde2011,umamplotrabalhodedivulgaoafimdepromoverosbense servios dos pases da Aliana do Pacfico nos mercados internacionais. A iniciativa consiste ematrairinvestimentosestrangeiros,aumentaratrocascomerciaisentreospases,almde instalarrepresentaesdepromooconjuntaparachegaranovosmercados (DECLARAO DE MRIDA, 2012). OsesforosempreendidospelospasesdaAlianadoPacficoparagerarcadeias regionais de valor, por meio da integrao produtiva, so ainda muito incipientes para que se possarealizarumaanliseaprofundadasobreotema.Masporsetratardeumainiciativa muito recente, criada em 2012, com a assinatura do Acordo Marco, o bloco se encontra ainda em um estgio inicial, com a elaborao de estudos, como por exemplo, para a identificao depossveisencadeamentosprodutivos.EcomooProtocoloAdicionalaindanoentrouem vigor,osprazosparaadesgravaotarifrianotiveramincio,talcomotodososcaptulos negociados.Outrotemamuitoimportanteparafacilitaracriaodascadeiasprodutivasa disponibilidade de infraestrutura de qualidade, que alm de melhorar a conectividade, reduz o custocomtransporteelogsticae,comisso,aumentaaprodutividadedosfatoresea competividade.DeacordocomaCEPAL(2013,p.171)parasuperarodficitde infraestrutura na AmricaLatina ser necessrio volumosos investimentos. Para satisfazer as necessidades da regio, referente a um crescimento anual de 4% do PIBe 1% da populao, at o ano 2020, os pases deveriam investir anualmente uma mdia de 5%. Em relao a este tema, somente em fevereiro de 2014, os presidentes dos quatros pases autorizaram que fosse avaliadaacriaodeumFundodeCooperaoparaInfraestrutura,queinclussea possibilidadedecaptaraportesdefundosestrangeiros(DECLARACINDE CARTAGENAS, 2014).Destemodo,aobservaopossveldefazersobreainiciativa,aoanalisarasua evoluo,nota-sequeaAlianadoPacficotembuscadoagiremconsonnciacomas Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 24 orientaes presentes nos diversos estudos elaborados pela CEPAL, nos ltimos anos, sobre o caminhoqueaAmricaLatinadevetrilharparaseinserirnascadeiasglobaisdevalor.Porm, os desafios so grandes para o bloco conseguir criar as cadeias regionais de valor, uma vezquearegiocarecedeinfraestruturaeonveldeintegraoentreospases-membros muito baixo. As trocas comerciais realizadas entre eles, ao somar exportaes e importaes, chegaramaomximode10,84%dototalcomercializadocomomundo,quefoiocasoda Colmbia,em2012(COMTRADE,2012).Almdisso,hinmerasaesaserem empreendidas para que o bloco possa conseguir transformar a estrutura produtiva da regio e, assim, alcanar um desenvolvimento econmico e social desejado. Consideraes Finais Oartigobuscouanalisaremqualmedidapolticasvoltadasparadesenvolvera integraoprodutivadentrodaAlianadoPacficopodecontribuirparapromovero desenvolvimento econmico e social de seus integrantes e se o bloco tem condies para tal empreendimento.AAlianadoPacficocompostaporquatropasescomorientaopoltica semelhante, que compartilham da mesma viso como promover o desenvolvimento regional e ainserointernacional.Obloco,emboranotenhaumprogramaespecficodeintegrao produtiva,desdeasuacriao,temrealizadoumtrabalhointegradodeplanejamentoentre seus quatro membros para criar as condies necessrias para a gerao de cadeias regionais de valor.Contudo,comotratadonoartigo,existemobstculosquedevemserremovidospara que a integrao produtiva consiga se desenvolver plenamente no bloco e obter os resultados almejados.Destemodo,haindainmerasaesaseremempreendidasparaqueobloco consigatransformaraestruturaprodutivadospases-membrose,assim,alcanaro desenvolvimento econmico e social como se almeja.Enfim,apartirdaanlisedainiciativaobserva-sequeexistevontadepolticaem avanaremumplanejamentoconjuntoafimdepromoverodesenvolvimentoparaaregio. Porm, para ser uma iniciativa exitosa depender do empenho do bloco em dar continuidade ao processo, que implica uma complexidade de tarefas a serem executadas. E por se tratar de aescomresultadosaseremobtidossomentealongoprazo,necessrioqueosesforos sejamtratadoscompolticaspblicasdeestado,noserestringidoduraodeumnico mandato de governo. Desta forma, o bloco ter condies de empreender as polticas pblicas Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 25 necessrias visando alcanar o futuro desejado para seus pases.Alm disso, medida que a AlianadoPacficoevolua,deve-sepensaremformasdepromoveraconvergnciacom outros blocos da regio para que Amrica Latina no fique ainda mais fragmentada. Tal efeito levaria a regio a enfraquecer sua influncia no sistema multilateral.Referncias Bibliogrficas ACUERDOMARCOALIANZADELPACFICO.2012.Disponvelem: .Acessoem:10de jul. 2013. ALIANZA. 2013c. Disponvel em: . Acesso em: 10 de jul. 2013. 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Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 26 DECLARAOPRESIDENCIALSOBREALIANZADELPACFICO.2011.Disponvel em:.Acesso: em 10 de jul. 2013. DECLARACINDELCONSEJOEMPRESARIALDELAALIANZADELPACFICO, 2014.Disponvelem: . Acesso em 10 de julho 2014. DULLIEN,S.IntegraoprodutivanaUnioEuropeia:umaperspectivaalem.In: ALVAREZ,R.;BAUMANN,R.;WOLHERS,M(orgs).IntegraoProdutiva:caminhos paraoMercosul.SrieCadernosdaIndstriaABDI,Braslia,VolumeXVI,pp.156-219, 2010.Disponvelem:. Acesso em: 30 agosto, 2014. HAMAGUCHI,N.Integraoprodutivaregionalnolestedasia.In:ALVAREZ,R.; BAUMANN,R.;WOLHERS,M(orgs).IntegraoProdutiva:caminhosparaoMercosul. SrieCadernosdaIndstriaABDI,Braslia,VolumeXVI,pp.307-343,2010.Disponvel em:. Acesso em: 30 agosto, 2014. MACHADO,J.B.Integraoprodutiva:referencialanaltico,experinciaeuropeiaelies paraoMercosulIn:ALVAREZ,R.;BAUMANN,R.;WOLHERS,M(orgs).Integrao Produtiva: caminhos para o Mercosul. 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Utilizando o conceito de cidades-suporte, que remonta origem do termo suporte nasartese sua ligao com a materialidade da obra, a pesquisa est ancorada em um corpus terico multidisciplinar. A proposta analisar o carter simblico da cidade e a relao da nova arte urbana com os campos da Histria, da Teoria e daCrticadaArte,esuacondiofrentesproblemticasapresentadaspelaarte contempornea.Sobretudo,procura-seenfatizarqueaarterealizadanosuportedacidade reafirma o carter presencial e transformador da experincia esttica. Palavras-chave: Arte Contempornea, Arte Urbana, Grafite, Teoria da Arte, Crtica de Arte. Resumen Estetrabajoabordalosinmerosaspectosdelnuevoarteurbanoapartirdeunestudio comparativoentreSoPauloyBuenosAires.Utilizandoelconceptodeciudad-soporte, que remonta al origen del trmino soporte en las artes y su relacin con la materialidad de la obra,lainvestigacinestancladaenuncorpustericomultidisciplinario.Lapropuestaes analizar el carcter simblico de la ciudad y la relacin del nuevo arte urbano con los campos delaHistoria,delaTeoraydelaCrticadelArteysucondicinantelosproblemas presentadosporelartecontemporneo.Antesquenada,sebuscasealarqueelartehecho sobre el soporte de la ciudad reafirma el carcter presencial y transformador de la experiencia esttica. Palabras clave: Arte Contemporneo, Arte Urbano, Graffiti, Teora del Arte, Crtica de Arte. Apresenadasartesvisuais-entreoutrosgnerosartsticos-noespaodacidade favoreceumcampoativodeconscientizao.Aarteoterritrioporexcelnciaparaa Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 29 prtica de um Olhar-Cidado 1, isto , o olhar que se apropria de seu meio a partir de uma posio esttica e poltica; o olhar que sabe situar-se nas entrelinhas do bombardeio imagtico urbano;oolharquesabeidentificarasmensagenssubliminaresdepoderveiculadasnas imagens dos espaos pblicos; e, por fim, o olhar que se apropria de seu entorno visual para criarumalinguagemdedilogoeresistncia.Nestecenrio,autilizaodoespaourbano comosuporteparaamanifestaoartsticavemsetornando,nasltimasdcadas,um fenmeno cada vez mais recorrente nas grandes cidades. Diante deste panorama, fazemos as seguintes perguntas: Quais as relaes entre arte e cidade?ComoistoocorreespecialmentenaAmricaLatina?Comopodemossituarolugar destefenmenoartsticonopanoramageraldaartecontempornea?Estassoquestes basilaresdestetrabalho,cujoobjetivofoiinvestigarascaractersticashistricaseatuaisdas relaesentrearteecidade,pormeiodoestudocomparadoentreascidadesdeSoPauloe BuenosAires.TendocomoresultadoTesedeDoutoradorealizadajuntoaoProgramade IntegraodaAmricaLatina(PROLAM/USP)(comconclusoprevistaparadezembrode 2014),apesquisaseapoiouemumcorpustericomultidisciplinar.Almdeapresentaruma visogeralarespeitodocartersubjetivoesimblicodacidade,apropostafoirelacionar estasquestescomoscamposdaHistria,daTeoriaedaCrticadaArte.Porisso,tambm optamosporutilizaroconceitodecidades-suporte,queremontaorigemdotermo suportenasartesesualigaocomamaterialidadedaobra.Buscamos,sobretudo,um entendimentoepistemolgicodaarteurbana,considerandoosdomniosdopopulareseu papelfrentestradieselitistas,abrindopossibilidadesdiversasarespeitodainterpretao das artes visuais, abarcando principalmente o imaginrio visual do cotidiano.Oentendimentodacidadedeixoudesertarefaexclusivadearquitetoseurbanistas; nas ltimas dcadas, a discusso sobre o fenmeno urbano espraiou-se para as mais variadas reas do conhecimento. Silva (2011, p. XXVI) sinaliza que a Psicanlise e a Semitica podem propor uma recategorizao do urbano, situando-o como sujeito real e imaginrio: A cidade possuimotivossuficientesparaquedelaseocupemascinciasdosimblicoqueaparecem emcenacomoaorganizaodeumsaber[...].Acidadepassouasercompreendidacomo dimensosempreabertaconstruodesentidos,metforaque[...]insinua-seassimno textoclarodacidadeplanejadaevisvel(CERTEAU,1994,p.172).SegundoCanevacci

1AlusoaotermoCidado-Danante,docoregrafoeeducadorcorporalIvaldoBertazzo,cujosespetculos exprimem uma metodologia que discute a apropriao do corpo por aquele que o habita, a relao entre corpo e cidadania,assupostasdivisesentreculturapopulareerudita,astransformaesdocorponotrabalho,enfim, todo um suporte conceitual e prtico cujos princpios buscam a autonomia do corpo.Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 30 (2004, p. 43): A cidade o lugar do olhar. Por este motivo, a comunicao visual se torna o seu trao caracterstico.Otermocondiourbana(MONGIN,2009)-sistematizadopelofilsofoe historiadorfrancsOlivierMongin-torna-seaquiextremamenteadequadoparadefiniruma ideiadecidadepermeadadefraturas,contrastes,isto,acidadeenquantopossibilidadee experincia. Segundo o autor, esta definio diferencia a cidade-objeto (aquela que parte do ponto de vista de arquitetos e urbanistas que a descrevem por fora) e a cidade-mercadoria (a serviodosinteressescorporativos)dacidade-sujeito,aurbesdoescritor,quevacidade de dentro. Portanto,acidadefsicaserelacionacomacidadesubjetivadeformaintrnseca,da mesma forma como a produoe a circulao de bens vinculam-seaos sistemas de signos e discursos.Umolharparaestasrelaesrevelaqueascaractersticasdaarteurbanano contextolatino-americanosopeculiaresedenotamforteacentopoltico.SegundoPallamin (2000,p.46):Enquantoespaoderepresentao,aobradeartetambmumagentena produo do espao, adentrando-se nas contradies e conflitos a presentes.Especialmenteapartirdasneo-vanguardas,nops-guerra,osartistasinauguraram novasrelaesentreestticaecidadequefornecemchavesprecisasparaoentendimentodo ato de fruir a cidade. Certeau (1994, ps. 178-179) fala em uma retrica da caminhada como uma arte de moldar percursos, que combina estilos e usos. Estas ideias podem ser adaptadas concepodestepresentetrabalho,umavezquecaminhadasalheatriasfeitasporesta pesquisadora nas cidades de So Paulo e Buenos Aires, entre os anos de 2011 e 2014, foram CentrodeSoPaulo,2014. Dilogoentreaimagem,quefala deumacidadevoraz,eadura realidade da cidade-mercadoria, representada,aofundo,poruma pessoa dormindo ao relento. Fonte: Alessandra Simes Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 31 fundamentais para oentendimento destas cidades enquanto constituies retricas, moldadas aosolhosdostranseuntes,quepodemsetornarfruidoresdacidade-suporte.Umdetalhe interessante apontadopor Mongin(2009, p. 65): A experincia dacaminhada, aquela que levaaoencontroinesperado,hojesimbolizadapelaarquiteturadapassagem.Durante minhascaminhadaspelascidadesdeBuenosAireseSoPaulo,essasarquiteturasde passagemforaminterpretadascomoescadarias,tneis,passarelas,corredoressubterrneos, becos,ondeforamencontradosmuitosregistrosvisuais.Haviasemprealgoachamara ateno, uma seduo pelo inesperado nestes locais que se assemelham a respiros, intervalos no caos ordinrio da cidade. Interessantecitartambmoquantoautilizaodonibuscomomeiodetransporte duranteestapesquisafoitilparaaconstruodecidadesmetafricas.Certeau(1994, p.199)lembraquenaAtenascontemporneaostransportescoletivossechamam metaphorai(dogregomoderno).Isto,parairevirnacidadedeve-setomaruma metfora,umnibusouumtrem.Assimcomonacaminhada,nessestransportespodemos criarpercursossubjetivos,marcadospelatravessiaeorganizaodelugares,montando-se frases-itinerrios. Mais uma vez, as narrativas evocam um valor de sintaxe espacial, como defineoautor.CirculardetransportepblicoemSoPauloeBuenosAiresabriutambm inmeras possibilidades para a fruio visual dessas cidades-suporte. De nibus, as paradas significampausaparaalgumasurpresavisual,comonocasodoMuseuaCuAberto,na Avenida Cruzeiro do Sul, em So Paulo. Em Buenos Aires, os espaos subterrneos do metr remontam s origens do grafite nova iorquino, quando as superfcies dos trens eram tomadas por assinaturas e imagens com estilos influenciados pela cultura hip-hop. Assim,estapesquisadora-caminhantepassouadesenharcidadesparasi;nocaso Arquitetura da passagem, So Paulo, 2013. Fonte: Alessandra Simes Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 32 desteestudo,ascidadesdeSoPauloeBuenosAiresinseridasemumcontextopolticoe culturallatino-americano,comsuaspeculiaridades,histrias,memriaseaspiraes.Afinal: Criaracidadeconstitu-la,inscrev-lanumaduraosingular,mastambmreliga-laa outrascidades[...],afirmouMongin(2009).Nestecontexto,aarteurbana-comopodeser atestadopormeiodesuasignificativapresenaemSoPauloeBuenosAires-setornou protagonistanoprocessodeconstruodaidentidadedessascidades,queestoentreas maioresmetrpoleslatino-americanaseapresentamumarealidadeibero-americanacomum. Ambasencerram-sesobosignodaimagem.Percorrersuasruassignificaadentraremuma arenaurbanamarcadaporsignosembaralhados,emprofuso,queassaltamotranseuntea cada instante, atordoado com a coexistncia de monumentos histricos e aparatos imagticos contemporneos. Canevacci (2004) partiu de pesquisa etnogrfica feita nas ruas de So Paulo econstatouque:Nossaculturaumaculturafeitaedescritacomsuper-signos,enaquala assimchamadasign-flation-ouseja,ainflaodossignos-produzumreembaralhamento comunicativo, aps o colapso do poder dos smbolos (CANEVACCI, 2004, p. 185). So Paulo e Buenos Aires se tornaram cidades-suporte, labirintos de imagens e signos, com grafiasprprias,escritascadaumaasuamaneira,pormcomhistrias,estiloselinguagensem comum.Acapitalportenha,porexemplo,apresentaumapeculiaridadeinteressante:ofileteado. Produzidooriginalmenteporimigrantesitalianosnofinaldosculo19,esteestilodepintura publicitria/decorativa,comespiraisdecoresintensas,motivosfloraisecaligrafiarebuscada (umalinguagemprximadaArtNouveau),foiaplicadoinicialmenteemnibus,carrinhosde mo e furges de entrega. Porm, foi proibido pela ditadura. Atualmente, h uma verdadeira febre desteestilo,estampadoemvitrinesdelojas,edifciosresidenciaiseinstitucionais,emdiversos bairros da cidade, inclusive, em contraste com poluidores visuais como placas e lixeiras. Em Buenos Aires, tambm h presena significativa de letras e imagens feitas coma tcnicadoestncil.Cominmerasvariaesdimensionaisecromticas,oestncilsetornou umaalternativaartstica,aosmoldesdofaavocmesmo,jquedeconfecobastante Em Buenos Aires (2012), a memria viva se revela na tradio do fileteado. Fonte: Sandro Monari. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 33 simples,usabilidadeeportabilidade.ComoafirmaIndij(2011,p.9,traduonossa),esta linguagemumaformade[...]chamaratenodoleitor-pedestre,intervindono automatismoenacirculaocotidiana.Setratamdegritos,deonomatopeiasvisuaisque pretendemprovocarumareaoespontneaemformaderiso,dereflexo[...].Oautor lembra ainda que a palavra estncil vem do latim scintilla, que significa centelha, fagulha. Assim, associa esta ideia ao fato de esta arte ser uma provocao, que muitas vezes se d entre os prprios artistas, quando estes se comunicam por meio de palavras e imagens fixadas nos muros da cidade, respondendo uns aos outros, em um ciclo entrpico. Haindaumapeculiaridadelatino-americanaarespeitodopapeldaescrituraurbana nas cidades latino-americanas, como aponta Rama (1984) ao enfatizar a importncia da letra e dosatoresletradosnaformaodeumaculturaurbananosprimrdiosdaAmricaLatina. Segundoele,apalavraescritaseriaanicavlida,emoposiopalavrafalada,que pertenciaaoreinodoprecrio.Assim,ografitepoderiaserinterpretadocomoumatentativa decontestaodavalnciadaescrita,mesmoqueclandestina,[...]umaapropriao depredatria da escritura [...] (RAMA, 1984, p. 64) Ascidades-suportetmtraosemcomum,porexemplo,espaosdedicadosexclusivamente ao grafite, como determinados locais no bairro La Boca, na capital portenha, e no bairro da Vila Madalena,emSoPaulo.Porsuaspeculiaridadesurbansticas,SoPauloapresentamaior nmerodeobrasdegrandedimenso,emlocaisdecirculaoviriaintensa,comotneise viadutos(porexemplo:viadutodaavenidapaulista,partesdasavenidasnovedejulhoe23de maio).AsobrasdeBuenosAiresestolocalizadas,emgrandeparte,emlocalidadesdemenor circulao viria, como fachadas de edifcios e muros, e muitas em espaos acessados a p, como praas. Tcnica do estncil em pardia aos cones do capitalismo (o cdigo de barras). Buenos Aires, 2012. Fonte: Alessandra Simes. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 34 Outra peculiaridade: Buenos Aires, em comparao com So Paulo, tem um nmero maior de obras compostas apenasde palavras,geralmente,feitas em pequenos formatos com a tcnica do estncil(omesmoocorrenacapitalparaguaia,Assuno2).Geralmente,sofrasescriticandoa imprensaegrandescorporaesprivadas,reflexodasdiferenasentreosavanoseretrocessos polticosdospasesna AmricaLatina.Como afirmaKozak(2004,p.98,traduonossa):No caso da Argentina, a afirmao poltica dografite no alheatria nem circunstancial. Portanto, [...] muitas vezes associada a frentes de resistncia poltica tem larga tradio autctone. possvelafirmarqueSoPauloeBuenosAiresapresentamasmesmasdivises relativas s tipologias da nova arte urbana em escala mundial, divididas basicamente em dois eixos:a)Umvoltadoparaaideiadearteativista,naqualosartistastrabalhamcom linguagensaltamenteexperimentaisesistematicamenteconceitualizadas,colocando-asde formadiretamentecrticaemrelaosociedadecapitalistaecujasrazesremontamaos movimentos artsticos modernistas e s neovanguardas. b) Outro em que possvel delinear a configuraodonovografite(commaioroumenornfaseemsualigaocomasrazes urbanasdografiteligadoaomovimentoHipHopecomrazeshistricasnopanoramadas grandespinturasgestuaisdosanos1980),ecujosartistasestopredominantementefocados no desenvolvimento plstico e material de suas obras. Emrelaoaoprimeirocaso,podemoslocalizar,entrefinaldosanos1990einciode2000, uminteressantefenmenoqueocorrenasduascapitais:osurgimentodecoletivosdejovens

2Duranteoprogramadedoutorado,estapesquisadoratambmesteveemAssuno,ondeproduziuuma pesquisabaseadanaarteurbanalocal,resultandoempublicao.SIMES,A.M.P.ArteurbananaAmrica LatinaeocasodeAssuno.SoPaulo:RevistaArteeCulturadaAmericaLatina,SociedadeCientficade Estudos de Arte (CESA), v. XXVI, 2012, ps. 101-112. So Paulo (2012): Vila Madalena, Beco do Batman.Fonte: Alessandra Simes Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 35 artistas, cujo trabalho voltado para a arte ativista, seja no sentido poltico direto como indireto, e a partir de poticas estruturadas em aes realizadas na cidade e envolvendo o pblico transeunte. Estesgruposutilizamestratgiascomoousodeimagenssintticasesimblicas,aocupaodo espaopblicoparaalterarseuscdigoshegemnicos,otrabalhocoletivoemparceriascom outrosgrupos,aatuaodoprpriocorponasaes.Algunsexemplos:a)Ogrupoargentino Escombros,criadoem1988,equeutilizainstalaes,manifestos,murais,objetos,cartazes, grafites,cartespostais,etc.,paraabordararealidadesociopolticaargentina.b)OG.A.C.- Grupo de Arte Callejero, formado em 1997, por iniciativa de estudantes da Escuela Nacional de BellasArtesPrilidianoPueyrredn(amaioriamulheres)que,aonosesentiremrepresentados pelos espaos tradicionais do circuito artstico, acabaram decidindo fazer arte de rua. c)O Contra Fil, surgido em So Paulo, em 2000, tendo como ponto de partida ampliar o direito produo criativa do espao urbano, a partir da mistura de tcnicas de performance, instalao, escultura e narrativas poticas. d) BijaRi, fundado em So Paulo, em 2000, e que se intitula como um grupo de criao em artes visuais e multimdia. Apesardenosereminiciativascoletivas,doisartistasdeSoPaulo,EduardoSrureMnica Nador,devemserlembradosemfunodoparalelismodeseutrabalhocomodoscoletivos citados aqui, j que a cidade e as problemticas urbanas esto entre os principais objetivos destes artistas, cuja obra tambm est voltada para a ao. interessante notar que, a exemplo do grupo BijaRi, o artista Eduardo Srur3 tambm mantm atividades no exclusivamente artsticas. Em seu site,possvelacessaraempresaAttack,intituladaaprimeiraempresabrasileiraespecializada em intervenes urbanas e por meio da qual o artista realiza diversas aes de marketing.

3 Informaes disponveis em www.eduardosrur.com.br. Acesso em: 10 fev. 2014. O grupo GAC em ao, 2002. Fonte: BOSSI, Lorena; et. al.. Pensamientos, prcticas y acciones del GAC. Buenos Aires: Tinta Limn, 2009. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 36 Em2004,Nadorcriou,juntamentecomoutrosartistas,o JardimMiriam ArteClube(Jamac), ponto de inflexo em sua trajetria. O projeto envolve oficinas de estncil e ocupao de espaos desvalorizados do bairro, promovendo seu uso intenso pela comunidade. Prticas de arte ativista como essas desfazem as fronteiras preestabelecidas entre militncia e arte. a que este legado crticosereativamaneiradeumreservatriopblicoderecursoseexperinciassocialmente disponveisparaconverteroprotestoemumatocriativo,afirmaLongoni4,aoexplicarqueo objetivo de artistas como esses no tratar a poltica como tema, nem estetizar a poltica, e sim promover uma profunda integrao entre as duas esferas. Jemrelaoaonovografiteportenhoepaulistano,podemosatestarumaconsidervel diversidadedetcnicaseestilos.Depainisgigantescosaimagensfeitascomestncilque medempoucoscentmetros,asobrasexprimemtemticasvariadas.Algumaspeculiaridades diferemonovografiteargentinodonovografitepaulistano.Acomearpeladatao.Emsua grandemaioria,ageraoportenhamaisnovadoqueapaulistana;muitosartistas,inclusive, comearam a pintar no incio dos anos 2000, o que se costuma atrelar crise econmica de 2001 (RUIZ,2011)/(FOX-TUCKER,2010).Tambmseestabeleceuqueainflunciadografitehip hop nova iorquino na Argentina ocorreu apenas a partir da dcada de 1990, o que em So Paulo se deu no final dos anos 1970 (a exemplo do consagrado artista Alex Vallauri). Umapeculiaridadedonovografiteportenhoautilizaorecorrentedatcnicado estncil para a criao de formas mais sofisticadas. Artista de destaque o Stencil Land, que

4 In: BOSSI, Lorena (et. al.). Prlogo. Pensamientos, prcticas y acciones del GAC. Buenos Aires: Tinta Limn, 2009, ps. 9-16. Touro Bandido (2010), de Eduardo Srur. Esculturas de touros foram colocadas sorrateiramente, durante a madrugada, sobre algumas vacas do evento Cow Parade, nas avenidas Paulista e Faria Lima, em So Paulo, para questionar o conceito da exposio que se dizia ser o maior evento de arte urbana no mundo. Fonte: acervo do artista. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 37 comeou suas atividades com publicidade em 1997. No incio dos anos 2000, o artista passou a investigar mais a fundo as possibilidades da tcnica, caminho ao qual se mantm fiel at os dias de hoje. cones nacionais, como o David de Michelangelo tomando chimarro e gachos tocando guitarra, podem ser visto por toda a cidade. Tambm encontramos um maior nmero de coletivos atuantes nacapital portenha, o queem So Paulo mais raro. A maioria desses grupostambmtrabalhacomatcnicadoestncil,comooRundontwalk,criadoem2002, comobrasque,aolongodotempo,tornaram-secadavezmaisambiciosasemtermosde complexidade e escala. Algunsartistas,atuandoindividualmente,vmsedestacandoporsuamarcante plasticidade,comoJAZ,quecomeousuacarreiracriativanasruascomografiteiro,e GrupoRundontwalk,Buenos Aires,2012.Fonte:Alessandra Simes Stencil Land, Buenos Aires, 2012. Fonte: Alessandra Simes Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 38 reconhecido como um dos primeiros artistas a trabalhar nas ruas de Buenos Aires, em meados dadcadade1990.OestilodeJAZsetransformouaolongodosanos.Eleafastou-sedo grafiteecomeouaexperimentarimagensfigurativasinspiradasnaculturaargentinaeem grandesformatos.Tendodominadoatcnicadoaerosol,oartistapassouaexperimentar outras possibilidades inspiradas em seu prprio trabalho na cenografia, tonando suas imagens cadavezmaisrebuscadasemescalaecomplexidadecromtica.Misturandomateriaisno convencionais, como pintura asfltica e gasolina, JAZ desenvolveu tcnicas artsticas que lhe permitiram pintar enormes murais que se assemelham a delicadas aquarelas. EmSoPaulo,encontramosummaiornmerodeartistasquetrabalhamsozinhos,enoem coletivos.Halgunsgrupos,comoo6emeia,fundadoem2006,cujaproduomarcadapela pinturasobreequipamentosurbanos,comobueiros,postes,tampasdeesgotosecaladas. Recentemente, ogrupo passou afazergravura urbana utilizando uma tcnica que consisteem fazerdoasfaltoamatriz,cujodesenhofeitocomferramentasparasulcarasuperfcie,que recebe uma camada de tinta sobre a qual colocado o tecido para ser imprensa a imagem final. JAZ, Buenos Aires, 2012. Fonte: Alessandra Simes Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 39 Hduascorrentesbemdelineadasnonovografitepaulistano;uma,deartistasautodidatas provenientesdainflunciadografitedeperiferiadeestilohip-hop;eoutra,deartistascom formaouniversitria(artesoudesenhogrfico,principalmente)quefazemdacidadeseu suporte.Noprimeirocaso,vamosenfocarosartistasqueconseguiramdecertaformasuperaro carter normativo da linguagem hip-hop para criar uma potica prpria, de forte vigor plstico. ocasodoartistaStephanDoitschinoff,conhecidocomoCalma,autodidataquenoincioda carreira trabalhou como designer grfico. A herana do punk rock e da cultura do skate, alm do intensivo contato com prticas religiosas na famlia, fazem parte das influncias em seu trabalho, marcadoporumaiconografiamuitopeculiar,quemesclaosimbolismocristocrticascio cultural. Reconhecidosinternacionalmente,OsGmeos,dupladeirmosautodidatas,realizaram inmeras mostras individuais e coletivas em museus e galerias de diversos pases. Suas imagens socompostasporgrandesarranjosonricoscomvigorosotrabalhocromticoetratamento grfico.Personagensmticosincluempeixesgigantes,gatos,sereshbridos,sereias,figuras femininasdeolhosgigantesesereshumanoscomapeleamareladaerostoscaricaturais.Em Artista Calma, Agricultura Celeste, Acrilica sobre tela - 200 x 150cm/2010.Fonte: Agncia Cartaz Assessoria de Imprensa Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 40 fundoscompostosporpaisagenspermeadasdereferncias,comocasas,barcosetrilhos flutuantes,almdepadresgeomtricosrtmicosecoloridos,geralmenteestesconjuntos provocam grande impacto visual, o que faz o espectador se deter durante longo tempo em busca dedetalhesnacomposio.Dorepertriosurrealista,aparecemasgavetasqueseabrempara expulsaralgumserestranho,abasedeumrelgioqueviraumrosto,etc.Emmontagenspara exposies,osartistaspreparamambientesquesoverdadeirasinstalaes,promovendouma sensaodequeoespectadorestentrandoemumdeseusquadros.Souniversos caleidoscpicos, onde paredes, cho e teto se integram obra. Esgotarosexemplosnestebrevetextoimpossvel.Citamosapenasalgunsparamostrar, sobretudo, que nossa reflexo est centrada no fenmeno artstico em si, no caso da arte urbana, quesetratadeumaexpressolegtimanoporserumalinguagemlegitimadapelosistema artstico (o que j ocorreu, visto o crescente nmero de galerias especializadas), e sim por ser um gnerocomespecificidadesdelimitadaspelaprprianaturezadesualinguagem,dotadade cdigosecaractersticasprprias.Propusemosqueaarteurbana,sobretudo,umprocesso histrico, cujas particularidades latino-americanas tambm so identificveis e conclumos que a arteurbanacontemporneasetornouumaexpressoestticaautntica,cujapresenacadavez maissignificativanascidadeslatino-americanasrevelaaforadesualinguagem.Comesta pesquisa,procuramosfazerumexerccioepistemolgicoarespeitodasproblemticas conjunturais da arte contempornea, identificando as mesmas relaes na arte urbana. Bourriaud(2009)apontaqueomalentendidogeralsobreoestatutodaartecontempornea hoje (e destacamos aqui, o da arte urbana tambm) se deve a uma falha do discurso terico; e que asprticascontemporneassemantmilegveisporseremanalisadasapartirdeproblemas colocados pelas geraes anteriores, especialmente aqueles colocados pelas neovanguardas. por essemotivoquetentamosestabeleceralgumasdessasdiferenas,comofizemosentreas neovanguardas e a nova arte ativista portenha e paulistana.Esseesforoemiluminarasparticularidadesdanovaarteurbanavaiaoencontrodoque declarou Bourriaud (2009, p. 19): Nada mais absurdo do que afirmar que a arte contempornea noapresentanenhumprojetoculturaloupoltico[...].Portanto,descobrirosverdadeiros interessesdaartecontempornea,suasrelaescomasociedade,histriaecultura,tarefa primordialparacriarmosumpontodeapoioconceitualnestemomentops-histricodaarte (DANTO,1997,p.7,traduonossa),emqueapluralidadeealiberdadeenvolvem-seemum movimento entrpico. E foi essa a nossa tentativa em relao nova arte urbana. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 41 Referncias BOURRIAUD, Nicolas. Esttica Relacional. So Paulo: Martins Fontes, 2009. CANEVACCI,Massimo.ACidadePolifnica:ensaiosobreaantropologiadacomunicao urbana. So Paulo: Studio Nobel, 2004. CERTEAU, Michel de. A inveno do cotidiano 1. Artes de fazer. Petrpolis: Vozes, 1994. DANTO,ArthurC..Aftertheendofart:contemporaryartandthepaleofhistory.Princeton: Princeton University Press, 1997.FOX-TUCKER,Matt;ZAUITH,Guilherme.TexturaDos:BuenosAiresstreetart.NovaYork: Mark Batty, 2010. INDIJ, Guido. 1000 Stenil Argentina Graffiti. Buenos Aires: La Marca, 2011. KOZAK, Claudia. Contra La pared: sobre graffitis, pintadas y otras intervenciones urbanas. Buenos Aires: Libros del Rojas, 2004. MONGIN,Olivier.Acondiourbana:acidadenaeradaglobalizao.SoPaulo:Estao Liberdade, 2009. PALLAMIN,Vera.ArteUrbana-SoPauloRegioCentral(1945-1998):obrasdecarter temporrio e permanente. So Paulo: Fapesp, 2000. RAMA, Angel. A Cidade das Letras. So Paulo: Brasiliense, 1984. RUIZ, Maximiliano (org.). Nuevo Mundo: latin american street art. Bertlin: Gestalten, 2011. SILVA, Armando (org.). Imaginrios urbanos. So Paulo: Perspectiva, 2011. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 42 INSULARIDADES LATINO AMERICANAS - jogos de sociabilidade e moradas da arte nas favelas cariocas Alexandre GuimaresDoutorando em Artes pelo PPGARTES/UERJ Isabela FradeDoutora em Comunicao pela ECA/USPdocente PPGARTES/UERJ apoio FAPERJ Resumo DiscutimosasdiferenasentreosmodosdemorarnacidadedoRiodeJaneiroeemseus espaos de excluso. Favela e cidade se confrontam, em alteridades gritantes. Na observao de coletivos de artistas que criam sobre suas prprias conformaes, as favelas se apresentam comoobrasdearte.Consideramososecosdasrecentesinvestidasdopoderpblicona tentativadeurbaniz-lasoumesmo,emdeterminadaszonas,deerradic-las.Tratamosdas formas estticas das moradas nos morros cariocas da Mangueira, na Zona Norte e do Pereiro, naZonaSul,coletandotraosdesuahistria.Analisamososmodosdeintervenooficial nesses quatro ltimos anos em que a cidade seguiu um plano de desenvolvimento econmico para se ajustar imagem de mercadoria turstica total.Palavras-chave:favelascariocas,formasrelacionais,polticadeocupao,arte contempornea. Resumen SediscutenlasdiferenciasentrelosmodosdevidaenlaciudaddeRodeJaneiroysus espaciosdeexclusin.Favelayciudadseenfrentanenalteridadesflagrantes.Enla observacindecolectivosdeartistasquecreanapartirdesuspropiasconformaciones,los barriosmarginalessepresentancomoobrasdearte.Consideramoslosecosdelasrecientes polticasdelgobiernoenunintentodeurbanizacinoincluso,comoenciertasreas,de erradicarlas.TratamosdelasformasestticasdelasviviendasenloscierrosdeRode Janeiro, como Mangueira, en la Zona Norte de la cuidad, y Pereiro, en el sur, por la recogida de huellas de su historia. Se analizaron los medios oficiales de intervencin en estos ltimos cuatroaosenquelaciudadsiguiunplandedesarrolloeconmicoparaadaptarseala imagen de "mercanca turstica total. Palabras clave: favela, formas relacionales, poltica de ocupacin, arte contemporneo. 1. INTRODUO: a esttica de favela Afavelacomoobjetodeapreciaoestticatemsuaestreianasegundadcadado Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 43 sculoXX,quandodoencontrocomosambacantadonomorro,naromantizaodosseus traos de simplicidade e pelo interesse extico que, cada vez mais explorado como forma de deleite,chegahojeatomaraspectosgrotescos,comoturistasfazendoumaespciedesafari nosmorroscariocas(FREIRE-MEDEIROS,2009).Asformas,coresematerialidades presentes nos morros, cenrio de espetculos pelo menos desde 1940[1] -, representam um aspecto significativo e marcante da paisagem carioca. NaMangueira,vriossubprodutosseguiramseessamarcafavelaeaescolade samba, Estao Mangueira, o seu carto de visitas. Assim, tambm as sonoridades se fazem elementodestaseduonomodelorealitytours. ARocinha,primeirafavelaaentraremum circuito oficial do turismo (FREIRE-MEDEIROS, Op. cit.) possui hoje pequenos circuitos de visita e alguns hostels que recebem visitantes do mundo inteiro. Esse movimento do turismo internacionaltorna-seativodesde2006,quandooficialmentesetratadesuaespeculao comopotencialmarcotursticocarioca.Desdeseusaspectosmaisgerais,tambmseus pequenosdetalhesseintegramaessavontadedeconsumo:Aondaatualdefavelachic tornouatamaishumildemercadoriabrasileira,asandliadeborracha,emumobjetode fetiche. (LEU apud FREIRE-MEDEIROS, Op. cit., p 25). Essesmovimentosmaisrecentesdeorientaotursticaparaasfavelascariocashoje adquiremtraosmaisfortes,emuitasintervenesnogovernamentaiscuidamdesua integrao,especialmenteaquelasdaZonaSuldacidade,comobrasdemoradias, pavimentaoepinturadasfachadasdascasas.AscoresdoprojetoCoral,queiniciouo coloridofavelanoMorroSantaMarta,estendeu-separaaRocinhaeoutrosmorrosda cidade.Entreosprojetosquecuidamdessaestticadafavela,amaisrecenteinterveno oficial so as obras do PAC do governo federal e que tratam, de um modo diferenciado, novas configuraesaseimplementar:articuladoscomestratgiasdeseguranapblica,como alargamentos das vias de circulao, do desmonte de ncleos de edificaes para implantao de conjuntos habitacionais uniformes, as obras do PAC I e PAC II tem descaracterizado essa forma-favelaeintroduzidoaregularvisualidademoderna.Deacordocomas transformaesqueobservamosnosmorros,nosperguntamossobreapossveleliminao dessaestticamaislivreecaticanacidadeou,oquenosparecemaisplausvel,emsua pacificao eliminao de sua forma mais agressiva dostraos de pobreza e precariedade extremadospedaosdemadeiraemetal,dasfachadasquebradasesinuosasesua domesticaopelacorepelauniformidadedasnovasconfiguraesdoPAC,quese apresentam aos moradores como obras de implantao de condomnios, dando dignidade aos Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 44 moradores,comopudemosouviremnossasentrevistascomacomunidadelocal.[2]sobre essaquestoquenosdebruamosnesseestudo,aopensarmosdequemodoasvisualidades das favelas cariocas esto se tornando elementos de identidade ora negados, ora afirmados eemsuaspossveisarticulaescomoutrosncleosnasdemaiscidadeslatino-americanas, como as villas de Buenos Aires, ou nas encostas de Medelln e em todas as grandes cidades de Nuestra Amrica. As favelas so concebidas como problemas centrais tambm nos discursos da esquerda regionalista: AmricaLatinayelCaribeeslasegundareginenelmundoconmayor deniveldeurbanizacinenelmundo,elmismoquealcanzael75%,las concentracionesurbanasgeneralmentesehandesarrolladodemanera improvisada,porelloesimportanteanalizarelproblemade las favelas, puessinduda,sonlosespaciosurbanosmspobladosenlas ciudades de Amrica Latina, problemtica que viene extendindose en gran partedelplaneta,enespecial,enlosllamadospasesdelTercerMundo. (NOVA DEMOCRACIA, 2014) improvisaodasmoradiaspopularesimplicadaaosub-desenvolvimento,anlise doproblemadapobrezaextremaqueseaprofundanaAmricaLatinaeaoclamorpela urbanizaodasfavelassecontrapemosdiscursossobreasformasdeconvivnciaede beleza que se fazem presentes em muitos nichos dessas configuraes ameaadas pela lgica modernaedoideriodesenvolvimentista.Deixa-sedeladooolharmaisacuradoquepode perceber,emseusmnimoscontornos,formasdevidaparticularmentesignificativas.Por outro lado, aos que estetizam as favelas se fazem cegos, por sua vez, aos horrores da misria em que vivem sua populao. No consideramos as favelas como arte,mas como reserva de arte, como potencial artsticoquesomenteoartistapodetornarvisvel.(JACQUES,2011).SegundoPaola Jacques,arquiteta,oartista-reveladorquemosujeitodaevocaodaestticadas favelas.E,aindaqueemcertamedidaconcordemoscomessaperspectiva,umavezquea favela vem sendo matria prima de muitas criaes em arte, nos perguntamos sobre esse trao imaginante da arquitetura da precariedade e de seu aspecto buclico, obra cantada por muitos, sejaemmsica,emimagem,ouemobjetos.Entenderaartecomoespaodaesttica hegemnica se aliena dessa abrangncia que designa esses outros espaos como produtores de arte.No entanto, a anti-arte pensaa produo atual e rev seus estatutos:Noexiste pois o problemadesabersearteistoouaquilooudeixadesernohadefiniodoqueseja arte. (OITICICA, 1986, p. 77). Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 45 Nosanos60,oartistacariocaHlioOiticicacriavaemimersonocontextoda Mangueira, nosso lcus de pesquisa. Frequentou o lugar durante anos e onde chegou a morar, experimentando, na comunidade, novos modos de viver e de criar. Por isso a obra de Oiticica emblemtica: fala de um espao outro que ainda no se havia sentido: o espao de estar em sintoniacommodosdevidaparticipativos,formadesolidariedadepraticantequea comunidadedafavelavivecotidianamente.Essaformadeconvivnciaumdosfocosque alimentamaproposiodoCRELAZERolazercriativousadocomoativanteno repressivo (Op. cit., p.120) assim como a sua prpriaarquitetura.No dizer do crtico Guy Brett (apud. OITICICA, Op. cit.), essas relaes esto claras. Oiticica,emlugardevisitante,passouaserumhabitantedel,(...)e creioqueexistemtrsaspectosquevieraminfluenciarsuaarteeseu pensamento.Primeiroosamba,(...);arelaosocialdopovoda Mangueira entre eles mesmos e com a sociedade l fora; e a arquitetura da Mangueira,ascasasqueaspessoasconstroemparaelasmesmas,feitas comsobrasdematerialindustrialrecolhido(...)aosquaiselasadaptam livremente suas necessidades e imaginao. (p. 124). Falardessasconfiguraescomoartepopularpens-lasemseuconjunto,sentira pulsaodeumacondioquenoseretmemalgoouemalgum,masqueseproduzem associao.AabordagemdePaolaJacquestocanessatotalidade-favela,sentindoseuritmo visual rizomtico. O que cada morada produz, no entanto, a um olhar mais aproximado revela um delicado cuidado e o investimento de uma afetividade intensa. Seus encaixes dos degraus esuaspequenasreentrnciasestosemprecuidados,aindaqueoesgotoescorra,emfiletes, acompanhando o declive, e o lixo se acumule como elemento comum neste quadro. A obra de Hlio percebe, por sua vez, essas acomodaes singulares, refletindo e exaltando as coisas da Mangueira (BRETT, Op. cit., p 125). A circunstncia atual na qual esse trabalho vem se desenvolvendo parte significativa do prprio processo investigativo: o contexto dessa pesquisa se reflete diretamente em nossas reflexes e aes, uma vez que se trata de um estado de exceo no qual estamos inseridos equenopodemosignorarouneutralizar.Naverdade,aexposioeoestudodessas condies se inscrevem em nossas aes de pesquisa. Se as favelas cariocas so reconhecidas comoredutosdeviolnciaecrime,decertamaneira,asociedadebrasileira,aoentendera realidade de comunidades urbanas em risco social, naturaliza esse estado de coisas. Elas esto representadascomosuaformaintrnseca:algoasereliminadonoprocessode desenvolvimentosocial.Domesmomodo,assim,comoissosedemescalamundialna construoexteriorizadadaidentidadelocaldasfavelasportodooplaneta.Emmuitos Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 46 discursosoficiais,emescalaglobal,essacondionaturalizadaediscutidacomosendo originria:asfavelas,segundoessaverso,nasceriamcomoespaosdegenerativos,sendo necessrio ao bem estar social que sejam radicalmente transformadas ou mesmo erradicadas. Segundoafrmulanodalcomaqualessesdiscursospoderiamserresumidamente apresentados,ascondiesinsalubres,aviolnciaeapobrezasoexplicitadascomoformas endmicas.Estamosseguindoadireocontrriaaessemovimentoassimcomoadeinmeros sujeitossociais,estudiosos,ativistassociais,agentesdoserviosocialemuitosmoradores dessasmesmasfavelas,quebuscamreverteressaimagemnegativaemostrar,demuitas formas, a sociabilidade positiva que vigora em seu interior. Destacamos os elementos bsicos das formas-favela: as casas produzidas com refugo ou material barato, a falta de saneamento emfiosdeesgoto,osespaosdiminutos,asruelasestreitasesuasinuosidadelabirntica,o comrciodasvendinhasebibocas,ascasas-complexosfamiliares,emseucrescimento verticalizadoaolongodotempo,aspressespolticas,avigilnciapolicialnosespaos limtrofesessascaractersticasqueatornamtodesagradvelaoolhararquitetnico dominante que as significam como lixo, matria a ser eliminada ou reciclada. preciso buscar entender e observar que a favela, em funo da sua condio de no-arquitetura1 (JACQUES, 2011), torna-se possvel pensar em um mundo de modo diferente da concepodacidadeditaformal,jquesuanaturezadesviantenosrevelaumconjuntode caractersticasquecasamcomaatividadedobricoleur,irmanando-seaopensamento selvagemdeClaude-Levi-Strauss.Nesteregimeconstrutivo,nohpreocupaodese cumprir prazos de obras, e nem interesse de seguir normas ditadas pelo relgio opressivo da indstria e da vigilncia do poder pblico. O engendramento paulatino das favelas acompanha oritmodavidae,nisso,atemporalidadedilatadadoarteso,quenasuainteligncia,sabe criar sem pressa, permitindo-se ao dilogo mais estreito com a realidade que o acolhe. Neste exercciodearranjos,aconsiderarograudeenvolvimentoentrecorpo,espaoematria, torna-seinevitvelosurgimentodeterritorialidadesafetivas,potencialmenteplsticas. Negando e desconstruindo o rigor dos princpios projetivos, cada favela surge contendo uma infinidadededobras,dedesenhosearranjosmuitoparticulares,jamaisconcludos. Coletivamente,somampaisagensabsolutamentenicas,enriquecendosobremaneiraos cenrios urbanos. So, portanto, moldadas e no projetadas; so sentidas e no logicamente erguidasouexecutadas;estoisentas,portanto,deseguirumamatemticaordenadora,

1 JACQUES, Paola Berenstein. A esttica da ginga: a arquitetura das favelas atravs da obra de Hlio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. (p.24). Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 47 preferindo,aocontrrio,assumirumaliberdadeinerenteaosfazereseaosdiversosusosque lhedoexistnciaepersonalidade.Comefeito,balizadanoimprovisoenassoluesque tornamassubjetivaesdeseusmoradoresefrequentadoresextremamentelatentes,no podem absorver regramentos impositivos de uma racionalizao do espao sem que uma forte contradio se estabelea, ou sem que haja, evidentemente, a destruio violenta dos espaos e lugares indentitrios, legitimados pelos modos de vida comuns a cada lugar de convivncia. Assim,iniciativasdeforaparadentrodequalquerportejamaispodemconviverbemcomo discurso da no-arquitetura, pois os aspectos singulares, desenhados informalmente, seriam inapelavelmentesacrificados. Aricaconvivnciacomosespaosinventadosereinventados pelasprticascotidianassedissolveria.Nasfavelas,osmateriaisdisponveistornam-se integrados aos aspectos da prpria vida, onde as questes culturais e estticas se confundem, e neste labirinto, que este texto deseja percorrer, na tentativa de redimensionar a leitura desses espaos, onde a arte encontra terreno frtil para se constituir. Aconstruoquasecotidiana:continua,semtrminoprevisto,pois sempre haver melhorias ou ampliaes a fazer. A maneira de construir, ao contrriodaconstruoconvencional,implicitamentefragmentria,em funodessecontnuoestadodeincompletude.Umaconstruo convencional, ou seja, uma arquitetura feita por arquitetos, tem um projeto, eesseprojetoquedeterminaofim,omomentodeparar,aconclusoda obra.Quandonohprojeto,aconstruonotemumaformafinal preestabelecida e, por isso, nunca termina. 2 Identificamoscomomoradasdaarteecomojogosdesociabilidade,tantoasaes desenvolvidasnoMorrinhonoPeireiro,comooartivismoldiconotrabalhodesenvolvido na Mangueira. Guardam, portanto, essas duas favelas, inmeras vivncias de valorizao dos discursos que defendem os modos de vida nos morros cariocas. 2. MORRINHO brinquedo e arte: [re]configuraes da favela OMorrinhoinauguranomorroPereiradaSilvaumnovodesenho,umanova cartografia.Estende-separaalmdareadestacomunidadeenoapenasnosentido geogrfico, mas tambm no mbito estticoe poltico, reverberando eprojetando o nome da comunidadedoPereiroparainmeroslugaresdoglobo.Jestiverampresentesemmuitas mostras,apresentando-seemdiversospases,tendoparticipando,inclusive,daBienalde

2 JACQUES, Paola Berenstein. A esttica da ginga: a arquitetura das favelas atravs da obra de Hlio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. (p.24). Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 48 Venezaemediorecente. AtualmentepodemservistostambmnoMuseude ArtedoRio, integrandooacervoapresentadosobreacidade,cujaaidentidadevemsendocadavezmais associada vida dos morros. Um caso muito especial entre tantas favelas da AmricaLatina que,aospoucosvaichamandoatenodepesquisadores,curadoresedograndepblico, justamente por abrigar prodigioso feito artstico cujo anncio mudou o cotidiano da favela em que se situa. Assim, sem possuir a mesma fama e grandeza da Mangueira, comea a adquirir prestgio internacional por intermdio de uma ao coletiva que hoje representa a comunidade emmuitossentidos.OprpriolivroUmafaveladiferentedasoutras?deLiadeMattos Rochatraztonaestareflexo,semesconderinmerosdepoimentosdemoradoresedos prpriosintegrantesdestaobraempermanentetrnsito,quesurge,inicialmente,emreade proteoambientalcomoumnovoevigorosoecossistemaesttico.Assim,sentidadeum mododiferente,reconfigurandonoapenasafavelanaqualestinserida,mastambm diversas outras comunidades cariocas retratadas subjetivamente pelos seus autores, inclusive a Mangueira a Pequena Revoluo segue seu curso, sobrevivendo ora como brincadeira, ora como obra dentro de museus e espaos expositivos. Neste cenrio em miniatura, que j possui dezessete anos de existncia e onde residem no propriamente moradores reais, mas sim uma populaodepersonagensfictcios,umaamplaeoriginalvisosobreafavelaemerge, reforando o carter orgnico, ldico e rizomtico dessas formas de moradia. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 49 BastaobservarocroquidemapadesenhadopelosintegrantesdoMorrinho, reproduzido em um de seus catlogos, para constarmos o considervel impacto desta potica naregioemqueseencontra:nosfundosdaondeestdemarcadaoslimitesda comunidade,emreadeslocada,percebemosumanovaocupao,ampliandoavistaarea desta favela, queavanou em direo mata vizinha desta estaregio. Embora instalada em rea de proteo ambiental, o Morrinho conseguiu se firmar como ponto de cultura da cidade eque,portanto,segundoseusautores,possuilicenadaprefeituraparaexistirnesteterreno. Cumpreobservar,aindanestecroquidotadodemuitasrefernciasecaminhos,quenocanto inferiordireito,existeumacuriosarosadosventos.Nelapodemosler,nosentidoNorte/Sul, PAZ-SIMe,nosentidoLeste/Oeste,GUERRANO.Almdisso,soexplcitasnas demaisdirees,asseguintesmensagens:AMIZADE,CARINHO,RESPEITOeAMOR. Praticamente,umsugestivoapanhadodepalavras,quevonosorientandoparaosdiversos valoresdefendidosporestecoletivodoPereiro.Umpequenoensaio,naverdade,daviso apoteticadoque podeencontrarem diversas mensagens pintadasna maquete-brinquedono Peireiro.Amaquete originaldo Morrinhono Pereiro,Riode Janeiro: inegvel condio artesanal. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 50 ApoticadaPequenaRevoluo,portanto,umaexalaodaestticadefavela, casando-seinclusivecomaforaldicaquelhepeculiar,desenvolvidademodoespecial pelascrianasdestacomunidade.Diantedarotinadeviolnciaentreotrficoeapolcia, encontraram uma maneira de lidar com a realidade e ao mesmo tempo, passaram protagonizar uma rica brincadeira. Seus autores, assim, ao mesmo tempo, que se divertiam se apropriam do prpriocotidiano,evidenciaramdiversoscontextosdefavelascariocasque,emseus respectivos mbitos, configuram e compartilham da vida em um cenrio de violncia. Assim, paulatinamente,umgrandeecomplexoRPGinventado,comcentenasecentenasde avatares,feitosdepeasdeLEGOeincrementadosporumacriativacustomizaoartstica, simulando a vida nos morros do Rio de Janeiro. Segundo um de seus fundadores (...), a maquete comeou a ser construda porelenoquintaldasuacasaparamatarotempo,apssuamudana paraafavela.Apartirdessainiciativa,outrossetemeninospassarama brincarnamesmamaquete,cadaumconstruindoasuafavela,e representando o papel de chefe, responsvel pela construo, manuteno eaodeseushabitantes.Cadaparticipante,portanto,aumentoua dimensodamaqueteoriginal,incorporandooutrasfavelas.Essas representamfavelasreais,comoasdoFogueteiro,Prazeres,Borel,Grota, Turano, Querosene, Falet, encontro, entre outras. 3 Assim,nessasmoradasdaarte,temosapresenasingulardeumacoleode geografias,formandoespciederetratodasfavelasecomplexosacostumadosaonoticirio em que se percebe o choque do real (JAGUARIBE, 2007). Com efeito, a maior maquete do Morrinhotorna-seopalcoeocenriodeinmerasnarrativas,convertidasemumasegunda etapaemfilmes:curtas-metragensondeasmosdesfilamjuntocomospersonagensque, animados tambm pelas falas emprestadas pelos meninos que se divertem como dubladores ,produzemefeitoirnicosobreoreal.Ocotidianodeviolnciaestexpressoemdiversas produes, como o Fim do mundo no Morrinho, de 2012. J no documentrio Deus sabe tudo,masnoX-9,curiosaapassagememquepoliciaisconfundemabrincadeiracom planos de alguma faco do crime organizado e resolvem intimidar as crianas e destruir tudo. AexperinciadeestarnoMorrinho,nosfazrepensarsobreaspalavrasdeCanclini

3ROCHA,LiadeMattos.Umafaveladiferentedasoutras?Rotina,silenciamentoeaocoletivana favela do Peireiro.Rio de Janeiro: Quarter: Faperj, 2013. Simpsio Internacional Pensar e Repensar a Amrica Latina- PROLAM/USP ISBN 978-85-7205-133-01 51 sobreaSocializaodaArte.Marcadopelascoresvibrantesdostijolosconvertidosem casas, pintados de amarelo, azul, verde e vermelho, o Morrinho tambm acumula uma srie de inscries, configurando assim uma viso totalizante sobre a imagem-favela.. (...)aartenopodesubstituirapolticacomomeiodetransformao social. Mas o fato de ser uma atividade diferente no quer dizer separada: a servio de uma