Anais - Orientação Profissional e de...

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Anais Colóquio de Orientação Profissional, de Carreira e para a Aposentadoria

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Anais

Colóquio de Orientação

Profissional, de Carreira e para a

Aposentadoria

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Comissão de Avaliação

(por ordem alfabética)

Cláudia Basso

Dulce Helena Penna Soares

Iúri Novaes Luna

Marilu Diez Lisboa

Regina Célia P. Borges

Vanderlei Brasil

Vera Regina Roesler

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Palavras iniciais

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TRABALHOS APROVADOS

PÔSTER ...................................................................................................................... 9

A PRIMEIRA ESCOLHA PROFISSIONAL .............................................................. 9

PO1 - A MATURIDADE PARA A ESCOLHA PROFISSIONAL DE JOVENS DA

CIDADE DE MACEIÓ ........................................................................................ 10

PO2 - A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CURRÍCULO ESCOLAR: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA .............................................................................. 11

PO3 - AUXILIANDO ADOLESCENTES NO PROCESSO DE ESCOLHA

PROFISSIONAL ................................................................................................ 12

PO4 - OFICINAS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ESTUDANTES DE

ENSINO MÉDIO ................................................................................................ 13

PO5 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

NO TRABALHO: CONTRIBUIÇÕES DE UMA EMPRESA PÚBLICA ................ 14

PO6 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS APRENDIZES DE

BAIXA RENDA E INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO ........................ 15

PO7 - PENSANDO SOBRE A ESCOLHA PROFISSIONAL: RELATO DE UM

PROJETO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ................................................ 16

PO8 - PROJETO DE ORIENTAÇAO PROFISSIONAL – ABRINDO NOVOS

HORIZONTES ................................................................................................... 17

PO9 - REFLEXÕES SOBRE A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CONTEXTO

DO PROJETO DE VIDA COM ADOLESCENTES INDÍGENAS DA ALDEIA

KOPENOTI: CONTRIBUIÇÕES PARA A PSICOLOGIA .................................... 18

PO10 - RELATO DE EXPERIÊNCIA DA INSERÇÃO DA ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL NA UNIVERSIDADE. .............................................................. 19

PO11 - TRABALHO NA ADOLESCÊNCIA: BENEFÍCIOS E PREJUÍZOS ........ 20

ORIENTAÇÃO PARA A APOSENTADORIA ........................................................ 21

PO12 - APOSENTAR-ME PARA QUE, SE POSSO/QUERO CONTINUAR

TRABALHANDO?: DOCENTES APOSENTADOS E O EXERCÍCIO DO

TRABALHO VOLUNTÁRIO NA UFSC ............................................................... 22

PO13 - DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS NAS REPRESENTAÇÕES DE

APOSENTADORIA ENTRE HOMENS E MULHERES DE MEIA-IDADE. ......... 24

PO14 - EDUCAÇÃO PARA APOSENTADORIA - PROMOÇÃO DE SAÚDE E

DESENVOLVIMENTO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL ................. 25

PO15 - ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA ............................................ 26

PO16 - PREPARAÇÃO PARA A APOSENTADORIA E TEMPO LIVRE............ 27

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PO17 - REPRESENTAÇÕES SOBRE A APOSENTADORIA PARA

TRABALHADORES DE MEIA-IDADE................................................................ 28

PO18 - TRABALHO X APOSENTADORIA: UM OLHAR SOBRE A QUALIDADE

DE VIDA ............................................................................................................. 29

ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO ................................................................... 30

PO19 - A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA APROXIMAÇÃO À REALIDADE

OCUPACIONAL EM PARCERIA A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E DE CARREIRA - PROGRAMA BOM ALUNO

........................................................................................................................... 31

PO20 - DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA DE GERENCIAMENTO DE

CARREIRA PARA ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS ...................................... 32

PO21 - DESENVOLVIMENTO PESSOAL, ESCOLHA PROFISSIONAL E

ORIENTAÇÃO DE CARREIRA EM PROGRAMA SOCIAL – PROGRAMA BOM

ALUNO ............................................................................................................... 33

PO22 - ELABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE VÍDEOS SOBRE AS ÁREAS

PROFISSIONAIS DE TELECOMUNICAÇÕES E REFRIGERAÇÃO ................. 34

PO23 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA

........................................................................................................................... 35

PO24 - “EU APRENDIZ DA VIDA - OFICINA DE DESENVOLVIMENTO

HUMANO E PROFISSIONAL ............................................................................ 36

RE-ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA ..................................... 37

PO25 - A RELAÇÃO ENTRE A SATISFAÇÃO COM O TRABALHO, CARREIRA

PROFISSIONAL E ESTABILIDADE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE

SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS E COMISSIONADOS. .......................... 38

PO26 - CONTRIBUIÇÕES DE UMA DISCIPLINA SOBRE PLANEJAMENTO DE

CARREIRA PARA EGRESSOS DE PSICOLOGIA ............................................ 39

PO27 - IDENTIDADE PROFISSIONAL E A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS

PÓS-CARREIRA COM FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

SUPERIOR ........................................................................................................ 40

PO28 - INSTRUMENTOS QUANTITATIVOS SOBRE TRANSIÇÃO DE

CARREIRA: LEVANTAMENTO PELO PSYCINFO ........................................... 41

PO29 - ORIENTAÇÃO DE CARREIRA: UMA EXPERIÊNCIA COM

ACADÊMICOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO .......................................... 42

PO30 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E COACHING: DISCUTINDO INTER-

RELAÇÕES ....................................................................................................... 43

PO31 - OS SENTIDOS E OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO TRABALHO E

A APOSENTADORIA POR SUJEITOS DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS .. 44

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PO32 - PRÁTICA DOCENTE EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM

PSICOLOGIA E A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PROFISSIONAIS ............. 45

PO33 - PREDITORES DE ESTRATÉGIAS DE CARREIRA DIRIGIDA POR

VALORES INDIVIDUAIS .................................................................................... 46

PO34 - PREDITORES DE UMA CARREIRA AUTODIRIGIDA .......................... 47

PO35 - PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE O CONSTRUCTO

CARREIRA: UMA SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS ........................................... 48

PO37 - REESCOLHA PROFISSIONAL: FATORES QUE MOTIVAM ADULTOS

JOVENS ............................................................................................................. 49

PO38 - REORIENTACAO PROFISSIONAL: ALTERNATIVA PARA

REDIRECIONAR ESCOLHAS ........................................................................... 50

PO39 - REPERCUSSÕES DA APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA TRAJETÓRIA

SÓCIO-PROFISSIONAL EM ALUNOS DA DISCIPLINA DE ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL DE UM CURSO DE PSICOLOGIA ......................................... 51

Colóquio I - Pensando e vivendo a orientação profissional para a(s)

juventude(s) ............................................................................................................. 52

POC1 - JOVEM-APRENDIZ: PRIMEIRO EMPREGO E AS PRIMEIRAS

ESCOLHAS PROFISSIONAIS ........................................................................... 53

POC2 - O CURSO PRÉ-VESTIBULAR DA UFSC COMO OPORTUNIDADE

ESCOLAR PARA O INGRESSO EM CURSOS DE MAIOR DEMANDA ........... 62

POC3 - PRÁTICAS CARTOGRÁFICAS DE UM ORIENTADOR PROFISSIONAL

........................................................................................................................... 71

POC4 - UM WEBSITE CONECTANDO O REAL E O VIRTUAL PARA A

ESCOLHA DE UMA PROFISSÃO ..................................................................... 78

POC5 - UMA EXPERIÊNCIA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DENTRO DA

ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA NUMA ONG DA PERIFERIA DE

BLUMENAU/SC ................................................................................................. 86

POC6 - “DIRETRIZES DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CONTEXTO DA

DEFICIÊNCIA AUDITIVA - METODOLOGIA EPHETA.” .................................... 95

POC7 - “O PALHAÇO” ENQUANTO RECURSO DIDÁTICO-METAFÓRICO NO

PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ORIENTADORES PROFISSIONAIS E DE

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS ............................................ 103

RELATO DO COLÓQUIO ................................................................................ 111

Colóquio IV - Aposentadoria: fim de carreira? ................................................... 112

POC8 - APOSENTADORIA E CICLO DE VIDA FAMILIAR: CONSIDERAÇÕES A

PARTIR DA TEORIA SISTÊMICA ................................................................... 113

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POC9 - APOSENTAR, POR QUE E PARA QUÊ? ........................................... 121

POC10 - AS RELAÇÕES DE APOSENTADOS COM OS ESPAÇOS URBANOS

DO CENTRO DE FLORIANÓPOLIS ................................................................ 130

POC11 - O QUE É APOSENTADORIA? UM ESTUDO EXPLORATÓRIO COM

PROFISSIONAIS ............................................................................................. 140

POC12 - O TRABALHADOR COMO OBJETO NAS ORGANIZAÇÕES

CONTEMPORÂNEAS: O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ...................................................................... 147

POC13 - PERTINENCIA DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

PARA O ESTUDO DA APOSENTADORIA NO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL:

REFLEXÕES DE UM PROJETO DE PESQUISA. ........................................... 156

POC14 - PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA ....................................... 163

POC15 - PROCESSO DE APOSENTADORIA DE EXECUTIVOS DE BANCOS

BRASILEIROS: CONTRADIÇÕES E AMBIVALÊNCIAS. ................................ 168

POC16 - PROJETOS DE FUTURO NA APOSENTADORIA ........................... 177

POC17 - TEMPO LIVRE NA APOSENTADORIA ............................................ 184

RELATO DO COLÓQUIO ................................................................................ 193

Colóquio VI - Orientação para o trabalho, é possível? ...................................... 194

POC18 - A ESCOLHA PELO TRABALHO VOLUNTÁRIO: PERCEPÇÕES DE

UM GRUPO DE VOLUNTARIADOS ATUANTES EM HOSPITAIS DE

BLUMENAU ..................................................................................................... 195

POC19 - DIVULGAÇÃO DE TELE E RAC POR VÍDEOS ................................ 205

POC20 - MODELO PSICOSSOCIAL DE GERENCIAMENTO DE CARREIRA

(MPG-C) ........................................................................................................... 211

POC21 - PERCEPÇÃO DAS MÃES QUE TRABALHAM SOBRE O IMPACTO

DA SUA AUSÊNCIA NA RELAÇÃO COM O FILHO ........................................ 218

POC22 - REFLETINDO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO ATRAVÉS DOS

CÍRCULOS DE CULTURA: UMA EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES DE

CURSOS TÉCNICOS DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

......................................................................................................................... 227

RELATO DO COLÓQUIO ................................................................................ 234

Colóquio II - Orientação de carreira ou re-orientação profissional?

Permanência e crise .............................................................................................. 235

POC23 - OFICINAS DE PLANEJAMENTO DE CARREIRA COM ESTUDANTES

DO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR: RELATO DE EXPERIÊNCIA .................. 236

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POC24 - POSSIBILIDADES E LIMITES DE UM PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO

E PLANEJAMENTO DE CARREIRA EM UMA FACULDADE PARTICULAR: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................................ 245

POC25 - PROVE: UMA NOVA ABORDAGEM HOLÍSTICA PARA A

REORIENTAÇÃO OCUPACIONAL E DE CARREIRA..................................... 254

POC26 - VIVÊNCIAS ACADÊMICAS E A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES

RURAIS E NÃO RURAIS NO CURSO DE NÍVEL SUPERIOR ........................ 267

RELATO DO COLÓQUIO ................................................................................ 276

Colóquio III - O processo de escrita e publicação .............................................. 277

RELATO DO COLÓQUIO ................................................................................ 279

LANÇAMENTO DE LIVRO ..................................................................................... 280

O FUTURO PROFISSIONAL DO SEU FILHO: UMA CONVERSA COM OS PAIS

......................................................................................................................... 281

MESAS-REDONDAS .............................................................................................. 282

MESA-REDONDA I: ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO: O PRIMEIRO

EMPREGO É UMA ESCOLHA? ...................................................................... 283

MESA-REDONDA II: IDENTIDADE PROFISSIONAL E CARREIRA: LIMITES E

POSSIBILIDADES NAS ORGANIZAÇÕES ..................................................... 285

MESA-REDONDA III: A PRIMEIRA ESCOLHA: PROCURANDO CAMINHOS 287

MESA-REDONDA IV: ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NAS ESCOLAS ........ 289

MESA-REDONDA V: APOSENTADORIA: GOZO, PRODUÇÃO OU LUTO? .. 291

MESA-REDONDA VI: ORIENTAÇÃO DE CARREIRA NAS UNIVERSIDADES

......................................................................................................................... 291

LISTA DE EMAILS PARA CORRESPONDÊNCIA COM O AUTOR ...................... 294

PÔSTER .............................................................................................................. 295

PÔSTER COM COLÓQUIO ................................................................................. 299

LIVRO .................................................................................................................. 301

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PÔSTER A PRIMEIRA ESCOLHA PROFISSIONAL

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PO1 - A MATURIDADE PARA A ESCOLHA PROFISSIONAL DE JOVENS DA CIDADE DE MACEIÓ

Neiva, KMC 1; Cansação, AMC 2; Dias, LG 3; Konarzewski, DB 4. 1 - Consultório particular; 2 - Colégio Santa Madalena Sofia; 3 - Clinica Saúde Integrada; 4 - Faculdades Integradas Tiradentes. Compreender o comportamento dos jovens face à problemática da escolha profissional é fundamental para que se possam planejar devidamente intervenções que visem à facilitação desta decisão. O construto de maturidade para a escolha profissional, que se insere na abordagem do desenvolvimento vocacional, vem sendo amplamente estudado na realidade brasileira, em diferentes regiões e segmentos populacionais, principalmente por Neiva, que construiu a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional – EMEP. Segundo Neiva, a maturidade para a escolha profissional é composta de duas dimensões: Atitudes e Conhecimentos. A primeira compreende três subdimensões: Determinação, Responsabilidade e Independência, e a segunda, duas subdimensões: Autoconhecimento e Conhecimento da realidade educativa e socioprofissional. Esta pesquisa teve como objetivo estudar a maturidade para a escolha profissional de jovens da cidade de Maceió, utilizando a EMEP, escala já validada para a população brasileira. A amostra foi composta por 191 jovens, sendo 68,1% moças e 31,9% rapazes, cursando entre o nono ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio, provenientes de escolas públicas (42,9%) e privadas (57,1%), com idades entre 13 e 23 anos. Constatou-se uma diferença significativa em função do sexo na maturidade total (t= 2,52; p ≤ 0,01) e nas subescalas de Determinação (t= 2,00; p ≤ 0,05) e Responsabilidade (t= 4,95; p ≤ 0,0001), indicando uma maior maturidade das moças em comparação aos rapazes. Entretanto, não foram encontradas diferenças significativas entre alunos de escolas públicas e privadas. Os resultados da ANOVA apontaram uma diferença significativa em função do nível escolar, especificamente na Maturidade Total (F= 3,56; p ≤ 0,01) e nas subescalas de Determinação (F= 4,21; p ≤ 0,007) e Responsabilidade (F= 3,39; p ≤ 0,02). Comparando-se as séries, duas a duas, as diferenças significativas aparecem especificamente entre o 1º e 2º ano do ensino médio; os alunos mais avançados apresentando nitidamente uma maior maturidade. Tais resultados permitem compreender melhor o desenvolvimento vocacional dos jovens provenientes da realidade educacional e socioeconômica da cidade de Maceió. PALAVRAS-CHAVE: Maturidade para a escolha profissional; ensino fundamental e médio; escolha profissional.

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PO2 - A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CURRÍCULO ESCOLAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Segata, JB 1 1 - Sistema Energia de Ensino. O objetivo desse trabalho é apresentar o relato com uma experiência inovadora no campo da Orientação Profissional (OP): a sua inclusão como disciplina no currículo do Ensino Médio de uma escola privada do interior de Santa Catarina. A OP, apesar de ter a sua importância já firmada no universo da Psicologia, ainda não é uma prática comum nas escolas brasileiras, tampouco é trabalhada suficientemente nos cursos superiores (Soares, 2002). É nesse sentido que se toma esta iniciativa, de uma das unidades do Sistema de Ensino Energia, como sendo inovadora, pois ela passou a oferecer a OP não apenas como uma prática extraclasse, mas como uma disciplina, incorporada no currículo do Ensino Médio. Nesse trabalho, mostrar-se-á a maneira como é organizado o conteúdo de um plano de aulas anual (quatro bimestres) para uma turma de segunda série do Ensino Médio – quais as atividades, visitas, palestras, acompanhamento psicológico, encontros de grupos, dinâmicas e estratégias para o entendimento do que é uma profissão, uma carreira e de como é importante fazer com que os alunos se esforcem para pensar uma escolha certa para o seu futuro (Sores Lucchiari, 1993). Por fim, o que se quer mostrar, é que a escola não está apenas pensando em subsidiar o ingresso de alunos em vagas concorridas dos vestibulares de grandes universidades – mas sim, está preocupada com a permanência e a satisfação desse aluno a partir de uma escolha que ela ajudou a promover. Nesta escola, onde o indicador de qualidade é medido pelo índice de alunos aprovados nos concursos de vestibular, entendeu-se, que escolhas mais bem acertadas melhoram o foco do aluno em seus estudos preparatórios, e consequentemente, o desempenho da própria escola - o resultado, nesse caso, não é apenas um número imediato, mas o que se espera é poder acompanhar a permanência desses alunos nos cursos por eles escolhidos. Isso não se fez apenas com práticas isoladas de professores nas suas disciplinas e da OP de outro lado, mas como um esforço coletivo da escola em favor de um objetivo comum (Aued, 2005). PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; psicologia; ensino médio.

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PO3 - AUXILIANDO ADOLESCENTES NO PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL

França, MD 1; Padilha, AP 1; Santos, APSS 1; Tiecher, BR 1; Silva, LL 1; Zanatta, MP 1; Oliveira, M 1; Lombardi, P 1; Fermino, S 1. 1 - Universidade do Planalto Catarinense. A adolescência se constitui num período no qual o jovem vivencia uma diversidade de conflitos e centra sua problemática na busca de sua identidade. Nessa dinâmica, escolher uma profissão é, provavelmente, uma tarefa árdua, já que tal decisão prevê realizar um projeto profissional-ocupacional que condensa a história prévia da pessoas ao mesmo tempo que antecipa seu futuro. Estudos desenvolvidos por Lucchiari (1993) e Levenfus (1997) evidenciam que tomar uma decisão escolhendo dentre uma diversidade de profissões existentes é angustiante para o jovem, sendo que a realização de orientação profissional é fundamental neste processo. O projeto foi desenvolvido com alunos do 3º ano do Ensino Médio de escolas da rede pública da cidade de Lages – SC. É possível considerar que além de orientar os adolescentes em relação a escolha profissional o projeto também tem como objetivo minimizar a ansiedade dos mesmos diante do processo decisório. Em cada uma das escolas participantes, as atividades desenvolvidas com os alunos foram realizadas em quatro encontros grupais de duas horas cada encontro e um encontro individual. Foram utilizadas diversas técnicas, dinâmicas de grupo e atividades de representação, tais como, colagens e dramatização. Todas as atividades desenvolvidas visam promover o autoconhecimento e possibilitar aos jovens a reflexão sobre as diversas profissões. É possível perceber que a orientação profissional é um agente ‘potencializador’ de recursos internos desses adolescentes e contribui para a ampliação do conhecimento sbre o mercado do trabalho e os campos de atuação profissional, respectivamente. Cada nova etapa do projeto motiva a todos os envolvidos para o aprimoramento do que já foi construído até então e, neste sentido, as expectativas para a continuidade da orientação profissional são positivas na medida em que as escolas atendidas solicitam a continuidade do projeto e os objetivos propostos inicialmente pela equipe estão sendo alcançados. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; adolescentes; escolas públicas.

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PO4 - OFICINAS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO

Santos, AS 1; Oliveira, CT 1; Dias, ACG 1. 1 - Programa de Pós Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria. A escolha profissional é entendida como o modo que o sujeito opta para se inserir no mundo e, através da profissão escolhida, modificá-lo. Assim, a escolha por uma profissão define também quem se quer ser. O processo de escolha profissional é marcado por incertezas e dúvidas, no qual muitos jovens sentem dificuldades de estabelecer prioridades. Isso acontece porque escolher implica decidir por uma opção e abdicar várias alternativas. A fim de minimizar tais dificuldades, o projeto de extensão intitulado “Oficinas de Orientação Profissional e Planejamento de Carreira” visa auxiliar estudantes no processo de escolha profissional. Este estudo descreve a experiência de realização de três oficinas de Orientação Profissional propostas pelo projeto no ano de 2013. Participaram das atividades 28 estudantes de ensino médio de uma escola pública localizada no Rio Grande do Sul. Os encontros duraram duas horas e foram realizados em salas disponibilizadas pela escola, com o auxílio de recursos audiovisuais, incluindo apresentação de slides e vídeos interativos. Foram abordados quatro tópicos referentes a aspectos importantes para um processo de tomada de decisão informado: o que é escolha profissional, autoconhecimento, comportamentos de exploração vocacional e tomada de decisão. Além disso, foram propostas quatro atividades. Na primeira atividade, denominada estereótipos, os alunos formaram duplas e discutiram estereótipos sobre o mundo do trabalho. Inicialmente, um estudante da dupla deveria defender esse estereótipo e o outro argumentar contra. Em seguida, o grupo participava da discussão. A segunda atividade proposta foi o RIASEC, cuja finalidade é identificar os interesses profissionais dos alunos. Também foi utilizada a Escala de Exploração Vocacional, a fim de fornecer dicas aos participantes sobre onde buscar informações sobre si e sobre as profissões que despertam seu interesse. Por fim, propôs-se a balança decisional, na qual os alunos deveriam escrever os prós e contras das profissões que estavam pensando em seguir. De maneira geral, todos os participantes afirmaram que a participação nas oficinas foi válida. Ademais, a maioria dos estudantes referiu ter saído do encontro informado, otimista e decidido. Assim, percebe-se que o objetivo das oficinas foi contemplado com a realização das mesmas. Não se pretendia que os participantes saíssem decididos dos encontros, mas que pudessem refletir sobre questões importantes para decidir por uma ocupação. Os estudantes tiveram acesso a informações sobre escolha profissional que dificilmente são contempladas pela estrutura curricular básica das escolas, o que auxiliou no processo de tomada de decisão. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; oficinas; estudantes de ensino médio.

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PO5 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM NO TRABALHO: CONTRIBUIÇÕES DE UMA EMPRESA PÚBLICA

Lopes, APV 1 1 - EMBRAPA De acordo com a Lei de Estágio (Lei nº 11.788, de 25/09/2008), a condição precípua para a caracterização de uma atividade de estágio reside na sua efetividade quanto à contextualização curricular, ambientada em local de trabalho formal, devidamente orientada e supervisionada pela instituição de ensino e pela parte concedente, com o objetivo de preparar o estudante para o trabalho produtivo e a vida cidadã. Dessa forma, a responsabilidade de uma empresa pública voltada à pesquisa científica no quesito formação-de-profissionais-de-pesquisa-e-de-apoio-à-ela tem sentido de retorno de ativo à sociedade brasileira, e mesmo de formação da geração futura que ocupará os seus assentos. Abraçada a causa da formação profissional de estudantes nas modalidades estagiários, bolsistas e menores aprendizes, abraçou-se em seguida a sua orientação profissional, respeitando a heterogeneidade de suas etapas de formação educacional, uma vez que a empresa abriga situações de aprendizagem desde o ensino fundamental. O exercício de orientação profissional ora em relato tem envolvido atividades voltadas à integração dos estudantes ao ambiente de trabalho e às atividades profissionais que os aguardam, contribuindo para a construção de sentimentos de pertinência e de valorização pessoal, sem perder de vista a (re-)significação de suas expectativas sobre a prática profissional em relação às suas escolhas pessoais e a ponderação sobre seus ideais de mercado de trabalho e as possibilidades de atuação permitidas pela profissão escolhida (ou a escolher) ou por si mesmos. PALAVRAS-CHAVE: lei de estágio; formação profissional; prática profissional.

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PO6 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS APRENDIZES DE BAIXA RENDA E INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Campos, DC 1; Goulart Júnior, E. 1; Feijó, M. R. 1, Camargo, M. L. 1. 1 - Unesp - Universidade Estadual Paulista. O Projeto de Extensão ora apresentado, inscreve-se no eixo temático “Primeira escolha profissional” e consiste na realização de grupos de orientação profissional com alunos do CIPS – Consórcio Intermunicipal de Promoção Social, entidade sem fins lucrativos, localizada na cidade de Bauru-SP, que oferece programas de promoção social e educação profissional, portanto com jovens que buscam o primeiro emprego e jovens que foram recém inseridos no mercado de trabalho, conforme as regras estabelecidas pela Lei do Aprendiz. Os grupos foram planejados e são coordenados por duplas de extensionistas (alunos de terceiro e quarto anos do Curso de Psicologia), entre os meses março e novembro de 2013, sob orientação dos professores-supervisores responsáveis pela disciplina, com o objetivo de gerar reflexões sobre escolhas, dificuldades, desejos e possibilidades dos orientandos, que ao longo do trabalho em grupo encaminham-se para a construção de projetos de vida e profissionais. Foram propostos aproximadamente 12 encontros em 5 grupos, dos quais participam entre 10 a 15 alunos do CIPS interessados no projeto. Nos encontros, com duração de 2 horas, são realizadas palestras informativas sobre trabalho e escolha profissional, dinâmicas de grupo, oficinas de expressão e rodas de conversa e reflexão sobre assuntos pertinentes ao mundo do trabalho, ao jovem, sua família e seu contexto de vida. São realizadas reuniões trimestrais entre a coordenação do projeto e os responsáveis pelo mesmo na instituição. A supervisão dos extensionistas pelos professores da Unesp são feitas no CPA – Centro de Psicologia Aplicada, da Unesp, Campus de Bauru, e ocorrem semanalmente. O projeto tem proporcionado aos jovens/aprendizes provenientes de famílias com parcos recursos materiais, nas quais os adultos e cuidadores têm, em geral, poucos anos de escolaridade, ampliar o protagonismo, criar ambiente e estratégias propícias para reflexões sobre si mesmos, seus contextos de inserção (família, sociedade), suas condições de vida, o mundo do trabalho e suas transformações (passadas, futuras e em curso), seus desafios e possibilidades de escolha. Tais reflexões têm abarcado temas como as expectativas e pressões da família, mensagens midiáticas e as construções sociais sobre jovens, famílias, trabalho, possibilidades de transformação das condições sociais, estereótipos ligados às profissões e necessidade de ampliar informações sobre as mesmas, valores, habilidades, gostos e metas pessoais. Os extensionistas da Unesp, participantes do projeto, estão tendo a oportunidade de vivenciar a prática de orientação profissional em grupo, construída a partir de subsídios teóricos por eles estudados e a partir das demandas da população atendida. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; extensão universitária; jovens aprendizes.

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PO7 - PENSANDO SOBRE A ESCOLHA PROFISSIONAL: RELATO DE UM PROJETO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Zanata, C 1; Lucas, MG 2; Pereira, C 3. 1 - Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC XANXERÊ; 2 - Psicóloga. Universidade do Oeste de Santa Catarina; 3 - Universidade do Oeste de Santa Catarina. Este resumo apresenta o desenvolvimento e os resultados gerais de um projeto realizado por uma dupla de acadêmicas do curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina - Campus de Xanxerê, sobre o processo de orientação profissional que desenvolveram em uma escola estadual de um município do oeste de Santa Catarina. Este foi um projeto de extensão comunitária da Universidade que ocorreu devido ao cumprimento de horas necessárias para concessão de bolsa estudantil. A atividade foi proposta à escola, que aceitou a realização do trabalho. As intervenções foram realizadas por duas duplas de acadêmicas, porém aqui o relato é sobre as atividades desenvolvidas por uma dessas duplas. O objetivo geral foi contribuir para que os estudantes do ensino médio tivessem uma escolha profissional mais consciente e madura e os objetivos específicos foram proporcionar aos acadêmicos a experiência de ser o facilitador no processo de orientação profissional e colaborar para a visualização da importância do processo de orientação profissional para o futuro profissional psicólogo. As intervenções ocorreram com duas turmas do terceiro ano do ensino médio, uma turma do período vespertino e outra do período noturno. O projeto foi desenvolvido durante o horário de aula que era cedido pelos professores para a realização das atividades. Foram quatro encontros, de aproximadamente duas horas cada. Foram desenvolvidas atividades relacionadas aos temas: autoconhecimento, escolha profissional e mercado de trabalho, tais atividades eram realizadas individualmente, em duplas e em grupos. Também foram aplicadas técnicas de dinâmicas de grupo e foram utilizados alguns vídeos para aprofundamento dos assuntos. Tendo em vista que estes estudantes estão no último ano do ensino médio, poderão prestar vestibulares logo em seguida e ingressar no curso superior nos próximos meses, a idéia geral foi de proporcionar um espaço para debates e reflexões acerca desses temas. Foi válido também para esclarecimento de dúvidas em relação aos cursos, faculdades, mercado de trabalho e notou-se o interesse dos alunos nestes assuntos. O processo teve uma boa avaliação dos estudantes e da escola, acredita-se assim que o projeto teve êxito e conseguiu atingir seu objetivo de poder auxiliar os participantes nesse momento de escolha profissional. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; autoconhecimento; informação profissional.

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PO8 - PROJETO DE ORIENTAÇAO PROFISSIONAL – ABRINDO NOVOS HORIZONTES

Silva RA 1; Lucas MG 1; Santos EP 1; Tronco CM 1. 1 - Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Este resumo relata o trabalho de orientação profissional realizado por três acadêmicas do curso de psicologia da UNOESC campus de Xanxerê em uma escola particular do oeste catarinense. Trabalho este que está inserido em um projeto que foi realizado concomitantemente por 54 acadêmicos em 13 escolas da região oeste de Santa Catarina. O projeto englobou os acadêmicos de psicologia que foram contemplados com bolsas de estudos do Artigo 170 e Filantropia, onde esses acadêmicos para continuarem recebendo as bolsas de estudo precisam desenvolver atividades junto à comunidade local. Sendo que neste ano de 2013 o tema das atividades foi à orientação profissional. As intervenções realizadas nessa escola ocorreram com uma turma do terceiro ano do ensino médio em quatro dias diferentes, tendo duração de 2h/a cada encontro, no turno matutino. As atividades desenvolvidas tiveram o intuito de contribuir para que os estudantes pudessem refletir e debater temas pertinentes ao momento da escolha profissional, como autoconhecimento, mercado de trabalho, cursos superiores e técnicos, entre outros. As intervenções partiram de um roteiro previamente definido em supervisão com a professora responsável pelo projeto, porém dependendo da disponibilidade da turma de estudantes, as atividades poderiam ser modificadas ou acrescentadas, sem perder o objetivo maior daquele encontro. Técnicas de dinâmicas de grupo, textos e atividades foram as principais ferramentas utilizadas durante os encontros. De uma forma geral foi constatado que a intervenção transcorreu como o planejado e que os estudantes puderam tirar proveito positivo das atividades desenvolvidas. Cabe acrescentar que este projeto também foi muito útil para a formação das acadêmicas, pois com estas atividades foi possível ampliar o horizonte na medida em que percebeu-se outras inserções do profissional psicólogo. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; autoconhecimento; projeto.

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PO9 - REFLEXÕES SOBRE A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CONTEXTO DO PROJETO DE VIDA COM ADOLESCENTES INDÍGENAS DA ALDEIA

KOPENOTI: CONTRIBUIÇÕES PARA A PSICOLOGIA

Campos, DC 1; Adsuara, CHC 1. 1 - Universidade Estadual Paulista. RESUMO: Este trabalho de eixo “primeira escolha profissional”, trata-se da vivência de estágio em Orientação Profissional e Desenvolvimento de Projeto de Vida (OP/PV) na Aldeia Kopenoti (etnia predominantemente Terena), Terra Indígena Araribá, na cidade de Avaí, interior do estado de São Paulo, onde durante o primeiro semestre de 2013 foram desenvolvidas atividades com um grupo com adolescentes indígenas. A necessidade deste trabalho justifica-se pelo atual quadro de inserção de populações indígenas na luta de classes, por meio do arrendamento de terras indígenas e do trabalho assalariado a que muitos têm se submetido, o que pode representar a inserção da pessoa indígena no processo de adoecimento, próprio das relações sociais do modo de produção capitalista; isto é, por meio do arrendamento da terra, o indígena passa nela a trabalhar como assalariado, integrando a lógica do lucro. Ademais, muitas relações internas de reprodução da comunidade e a própria roça, que é um elemento da tradição Terena, passam por um processo muitas vezes irrefletido de transformação, sendo deixadas de lado. Na lógica do lucro, o trabalho pode tornar-se destituído de sentido e as possibilidades de lucro podem consolidar-se em detrimento das preocupações com a saúde do sujeito que trabalha. No caso do contexto da Orientação Profissional, a inserção do indígena no processo seletivo do vestibular – por exemplo -, também pode significar um adoecimento no que tange a participar da atmosfera competitiva que cerca o ambiente vestibular. É tentando contemplar o objetivo do trabalho em OP/PV – que as pessoas detenham possibilidades de intervenção em sua trajetória de vida -, é que tem se mostrado necessário tal prática de estágio supervisionado para que com isso, os participantes re-pensem em sua singularidade. PALAVRAS-CHAVE: adolescente indígena; orientação profissional; projeto de vida.

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PO10 - RELATO DE EXPERIÊNCIA DA INSERÇÃO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NA UNIVERSIDADE.

ANDRADE RG 1; MURGO CS 1. 1 – UNOESTE. A eficiência do processo da escolha profissional é assunto relevante, pois o homem passa grande parte de sua vida dedicando-se ao trabalho. Dessa forma, a escolha adequada é almejada pelas pessoas e promove benefícios no plano individual e coletivo. Neste contexto, o papel que a Universidade desempenha é fundamental, pois pode atuar como mediadora e facilitadora do processo de escolha profissional. Considerando as rápidas mudanças pelas quais passa o mercado de trabalho no que diz respeito às questões emprego, subemprego e desemprego, e o papel de formadoras de seus protagonistas, acredita-se na importância das Universidades constituírem-se em campo de desenvolvimento de programas de Orientação Profissional. Faz-se cada vez maior a necessidade de auxílio a jovens e adolescentes na construção de um projeto profissional que ultrapasse a preocupação inicial com a escolha do curso e da universidade. As propostas de intervenção da Psicologia para a comunidade devem visar, além da difusão da produção de conhecimento desta área, um compromisso com a saúde e o bem-estar das pessoas. A orientação profissional é uma das atribuições do psicólogo prevista na legislação que regulamenta o exercício da profissão constituindo-se como um campo de atividade no qual o psicólogo pode contribuir com uma intervenção de natureza psicoprofilática, configurando-se como um trabalho de saúde mental, pois tem como objetivo o bem-estar psicossocial do indivíduo. O cenário atual do mercado de trabalho mostra recorrentes mudanças, o que pode intensificar o conflito entre a expectativa do jovem quanto à ocupação que irá ter e como irá construir uma trajetória profissional que seja bem sucedida. Tendo em vista tais considerações, as atividades de OP têm como objetivos auxiliar o adolescente na escolha profissional a partir da identificação de interesses, habilidades cognitivas, e características de personalidade; e possibilitar ao adolescente a visualização de um projeto profissional a partir do conhecimento da realidade ocupacional na qual se insere. A intervenção acontece em três modalidades, a saber, workshops de informação e orientação para estudantes de ensino médio, atendimentos em grupos de orientação profissional e desenvolvimento de carreira para jovens e adolescentes estudantes ou já inseridos no mercado de trabalho e atendimentos individuais. A intenção maior do projeto em seu conjunto é amenizar os conflitos relacionados à escolha profissional e facilitar a escolha, promovendo no indivíduo uma reflexão sobre suas características pessoais e problemas que envolvem, e direcioná-los de forma mais acertada à escolha da profissão e desenvolvimento de carreira. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; escolha profissional; universidade.

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PO11 - TRABALHO NA ADOLESCÊNCIA: BENEFÍCIOS E PREJUÍZOS

Fortunatti, ZFS 1; Lucas, MG 1. 1 - Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Curso de Psicologia na Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina questionou sobre a influência do trabalho no desenvolvimento do adolescente, diante da existência da dicotomia relacionada aos benefícios e prejuízos ocasionados pela atividade profissional. A pesquisa objetivou compreender o sentido atribuído ao trabalho na vida dos adolescentes e como estes reagiram a esse processo, implicando em seu próprio saber quanto a essa realidade, ainda buscou conhecer como esta atividade laboral interfere no desenvolvimento, e no lazer destes jovens. Esta pesquisa foi desenvolvida no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) de uma cidade da região oeste de Santa Catarina. Tratou-se de uma Pesquisa Qualitativa Descritiva delineada pelo Estudo de Casos mediante Entrevistas Semi-Estruturadas com dois adolescentes que participaram do Programa Jovem Aprendiz, cada um com 16 anos que frequentaram escolas públicas deste Município no período de 2012. A análise dos dados obtidos pela entrevista foi realizada por meio da Análise do Conteúdo, através da Análise Categorial Temática. Concluiu-se nesta pesquisa que o sentido atribuído ao trabalho pelos adolescentes foi positivo, pois através dele, obtiveram independência financeira, adquiriram bens de consumo com seu próprio rendimento o que denotou um amadurecimento por parte dos adolescentes. A função desempenhada pelos entrevistados demonstrou auxiliar no seu desenvolvimento, pois proporcionou o contato com outras pessoas o que pode gerar novas oportunidades de emprego, assim como conhecer outros setores da própria organização podendo resultar em sua ascensão profissional. Ambos reservam um tempo para o lazer. PALAVRAS-CHAVE: adolescente; trabalho; desenvolvimento.

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PÔSTER ORIENTAÇÃO PARA A APOSENTADORIA

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PO12 - APOSENTAR-ME PARA QUE, SE POSSO/QUERO CONTINUAR TRABALHANDO?: DOCENTES APOSENTADOS E O EXERCÍCIO DO

TRABALHO VOLUNTÁRIO NA UFSC

Krawulski, E 1; Favretto, R. 1; Ribeiro, ACA 1. 1 – UFSC. O atual contexto social tem no trabalho uma de suas características fundamentais. Nesse contexto, os trabalhadores, por sua capacidade produtiva, geram valor para as organizações e, ao mesmo tempo, por meio da atividade laboral exercida, constroem sua identidade e trajetória profissional. À medida que essa trajetória se aproxima do seu desfecho, no entanto, configura-se um momento em que é necessário tomar decisões, como continuar trabalhando, aposentar-se ou redefinir suas atividades laborais (pós-carreira). No trabalho docente, especificamente, essas decisões possuem particularidades, em sua maioria, relativas às tarefas exercidas e à natureza do vínculo laboral estabelecido com as instituições. Assim, a aposentadoria de docentes nem sempre se efetiva quando o tempo de trabalho se completa, e muitos permanecem trabalhando em caráter voluntário. Considerando essas questões, encontra-se em curso pesquisa buscando compreender os motivos pelos quais docentes, após sua aposentadoria, mantêm atividades por meio do trabalho voluntario na Universidade Federal de Santa Catarina. Aposentar-se para que, se desejam e/ou podem continuar exercendo atividades junto à instituição? Uma primeira etapa da pesquisa já foi desenvolvida, via análise documental dos termos de adesão ao trabalho voluntário; os resultados possibilitaram mapear a incidência desse trabalho nas unidades acadêmicas e identificar as principais atividades desenvolvidas. Evidenciou-se que em todas as unidades há docentes aposentados trabalhando como voluntários, embora algumas delas concentrem maior incidência. Percebeu-se, assim, que aspectos das microculturas organizacionais influenciam na maior permanência em alguns setores. As atividades dizem respeito e se desenvolvem predominantemente em programas de pós-graduação, que necessitam dessa mão de obra superqualificada para manterem seu padrão. Muitos desses docentes mesmo aposentados mantêm bolsas de produtividade junto a agências de fomento, tornando essa permanência no trabalho, de certo modo, uma “troca de favores” entre instituição e docente. A segunda parte da pesquisa, por meio de entrevistas, focalizará os motivos para a permanência no trabalho após a aposentadoria, podendo fornecer subsídios a programas de preparação para a aposentadoria junto a essa categoria de trabalhadores. Referências bibliográficas: Guimarães, V. N.; Soares, S. V.& Casagrande, M. D. H. (2012). Trabalho docente voluntário em uma universidade federal: nova modalidade de trabalho precarizado? Educação em Revista, 28(3), pp. 77-101, set. Menezes, G. S.; França, L. H. (2012). Preditores da decisão da aposentadoria por servidores públicos federais. Revista Psicologia, Organizações e Trabalho, 12(3), pp. 315-328, set.-dez. Selig, G. A.; Valore, L. A. (2010). Imagens da aposentadoria no discurso de pré-aposentados: subsídios para a Orientação Profissional. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 13 (1), pp. 73-87.

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PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; trabalho docente; trabalho voluntário.

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PO13 - DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS NAS REPRESENTAÇÕES DE APOSENTADORIA ENTRE HOMENS E MULHERES DE MEIA-IDADE.

De Andrade, AL 1; Rafalski, JC 2. 1 - UFES - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica (AMP); 2 - UFES - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica. A crescente igualdade entre os papéis femininos e masculinos no ambiente de trabalho tem sido parte do desenvolvimento de perspectivas mais igualitárias para a aposentadoria. Preterida em relação ao estudo da aposentadoria masculina, a aposentadoria feminina era pouco frequente na década de 1980, principalmente devido ao menor número de mulheres que preenchiam os requisitos necessários para se aposentar (Talaga & Beehr, 1995). Não somente questões trabalhistas, mas também questões domésticas e de contexto influenciam esta decisão. A responsabilidade por papéis duplos de trabalho, dentro e fora de casa, e atividades de cuidado da família possuem influência na decisão de se aposentar para mulheres (Loretto & Vickerstaff, 2013). Tão fortemente quanto os fatores de trabalho, fatores biológicos, psicossociais e econômicos se somam e produzem impactos na vivência da aposentadoria (Beehr, 1986). Ainda que existam especulações sobre as diferenças de gênero no estudo da aposentadoria, poucas pesquisas se focam diretamente neste assunto e os resultados têm sido contraditórios. Este trabalho tem como objetivo apresentar aproximações e distanciamentos entre as representações de aposentadoria em homens e mulheres de meia-idade. Por meio de coleta online, os participantes foram convidados a relatar as primeiras palavras que surgissem a mente a partir do termo-indutor “Aposentadoria”, ofertando até 5 respostas. Participaram da pesquisa 52 mulheres (M=47,9 anos dp=6,17anos) e 56 homens (M=50,1 anos dp=7,6 anos), totalizando 108 trabalhadores. Como resultados, ambos os grupos de homens e mulheres apresentaram como principal representação da Aposentadoria o ‘descanso’, sendo este o único elemento central para as mulheres. Os homens consideraram que o ‘descanso’, o ‘lazer’, a ‘liberdade’ e a ‘velhice’ são as principais representações da aposentadoria. No núcleo periférico, homens e mulheres diferiram em suas evocações. Para mulheres, a aposentadoria seria um momento para o ‘lazer’, ‘liberdade’, ‘viagens’ e ‘vida’, possibilitando melhor qualidade na vivência e uma vida mais agradável. Para os homens, no núcleo periférico figuram as evocações ‘família’, ‘tranquilidade’ e ‘viagens’. Os resultados apontam perspectivas positivas para ambos os grupos, porém diferentes em essência. Homens, após os anos de dedicação ao trabalho, preferem se focar nos aspectos familiares e na vivência de novas experiências, por meio das viagens. Já o grupo de mulheres demonstrou prezar o cuidado de si e o aproveitamento da vida como mais importantes, que, hipotetiza-se, pode ser em consideração ao duplo investimento realizado na vida familiar e no trabalho. Pesquisas adicionais são necessárias para confirmar os dados e promover reflexões críticas sobre a temática. PALAVRAS-CHAVE: gênero; aposentadoria; representação social.

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PO14 - EDUCAÇÃO PARA APOSENTADORIA - PROMOÇÃO DE SAÚDE E DESENVOLVIMENTO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL

Murta, SG 1; Seidl, J 1; França, CL 1. 1 - Universidade de Brasília. Nos últimos anos, o Departamento de Políticas de Saúde, Previdência e Benefícios do Servidor (DESAP) da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) vem buscando implantar uma das normatizações estabelecidas na Política de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor Público Federal (PASS): a adoção de Programas de Preparação para Aposentadoria pelos órgãos vinculados ao Poder Executivo. Deste modo, o MPOG, em parceria com o Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção da Saúde no Ciclo de Vida (GEPPSVida) do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e o Centro de Educação a Distância da UnB (CEAD/UnB), estão oferecendo, no segundo semestre do corrente ano, o Curso: Educação Para Aposentadoria - Promoção de Saúde e Desenvolvimento na Administração Pública Federal. O curso tem como objetivo capacitar 350 servidores vinculados a diversos órgãos do serviço público federal sobre como planejar, executar e avaliar programas de Educação para Aposentadoria. O curso terá duração de 120 horas acontecerá à distância, via plataforma moodle, onde os 350 participantes serão divididos em 15 turmas de 25 alunos cada. Cada turma será conduzida por um tutor específico e os 15 tutores serão treinados e acompanhados por uma equipe composta por três psicólogas, sendo uma delas a coordenadora geral e outras duas, as supervisoras pedagógicas. O conteúdo programático será apresentado em 15 módulos, sendo os primeiros: (1) “Prevenção e Promoção da Saúde Mental e Políticas Públicas sobre Educação para Aposentadoria e Envelhecimento Ativo”, (2) “Modelos Teóricos que Fundamentam os Programas de Educação para Aposentadoria”, (3) “Aposentadoria: Crise ou Liberdade”, (4) “Formatos de Programas de Educação para a Aposentadoria” e (5) “Planejamento de Programas de Preparação para Aposentadoria”. Já os demais capítulos versarão sobre os temas que mais comumente compõem os Programas de Preparação para Aposentadoria, tais como: Identidade, Valores, Saúde, Família, Rede Social, Autonomia financeira, Espiritualidade, Ocupação, Pós-carreira, dentre outros. Como resultado, espera-se que a implantação desses programas pelos órgãos públicos federais traga benefícios às pessoas em transição para aposentadoria ou que desejem se preparar com antecedência para essa época da vida, independente da idade e tempo de serviço no órgão. Ademais, espera-se que os módulos do curso sejam transformados a posteriori em capítulos de um livro que será distribuído pelo CEAD/UnB aos alunos deste curso e aos próximos interessados em se capacitar sobre um tema que, a cada ano, é tratado com maior cuidado e atenção. PALAVRAS-CHAVE: educação para aposentadoria; formação de facilitadores; serviço público federal.

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PO15 - ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA

Rezende T 1 1 - Clínica Arte-Ser. Nos tempos atuais, diante de novas formas e sentidos do trabalho, organizar o tempo da aposentadoria torna-se essencial para que se tenha a oportunidade de resgatar sonhos perdidos e idealizados, por exemplo. É preciso refletir sobre perdas e ganhos neste momento de transição no qual nada é definitivo, exceto à mudança: angústia e hesitações da vida pós-trabalho podem ser superadas com programação adequada. A saúde mental se mantém por meio do autoconhecimento, da informação, da consciência e socialização. É vital compartilhar o que somos e o que buscamos ser; partilhando com os outros, trocando para aprender cada vez mais e melhor. O presente trabalho tem por objetivo sensibilizar o trabalhador para a relevância do planejamento prévio da aposentadoria, fornecer subsídios sobre as dimensões emocional, mental e social, bem como, propiciar vivências que contribuam para uma melhor qualidade de vida neste novo ciclo. É realizado em três módulos, cujos temas são: Qualidade de Vida; Relacionamentos Familiar e Social; e Identificação de Interesses e Alternativa de Atividades. No aprofundamento a esses aspectos, considerados essenciais, são trabalhadas questões relacionadas a mudanças e à disponibilização para aceitá-las como perspectivas positivas de futuro quanto a: necessidades e expectativas pessoais; mudança de hábitos; redefinição de prioridades na vida pessoal; valorização e enriquecimento do tempo livre; promoção de escolhas, de fato, importantes e essenciais. O trabalho constitui-se em explorar passo a passo a história de cada um, num contexto coletivo de reflexões, utilizando diferentes métodos e técnicas que possam facilitar a investigação dos aspectos pessoais, atividades ocupacionais e do ócio criativo num contexto de expectativas e perspectivas futuras. PALAVRAS-CHAVES: aposentadoria; preparação para aposentadoria; gestão de pessoas.

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PO16 - PREPARAÇÃO PARA A APOSENTADORIA E TEMPO LIVRE

Silva MLB 1; Bittencourt IG 1; Rosa CB 1; Wegner LF 1; Rapaport DM 1. 1 - Universidade Federal de Santa Catarina. A aposentadoria é mais do que isentar-se do trabalho; representa uma dimensão social. Estar aposentado também pode significar ter tempo livre e se relacionar com liberdade e qualidade de vida. Entretanto, essa liberdade, ocasionada pela ausência da rotina de trabalho, também pode transformar-se numa dificuldade na vivência diária. Nessa perspectiva, a aposentadoria pode ter um significativo impacto na identidade dos indivíduos, visto que o trabalhador muitas vezes se identifica, reconhece-se e se cria através do trabalho. Assim, a aposentadoria é um período que provoca transformações no indivíduo e que pode gerar uma ambiguidade nos sentimentos. Cada sujeito vive e interpreta os acontecimentos diários à sua maneira, portanto, a aposentadoria pode ou não ser um evento negativo. Dessa forma, a presente pesquisa teve como objetivo caracterizar as significações que determinadas pessoas próximas à aposentadoria, participantes do Programa de Preparação para Aposentadoria da UFSC – “Aposenta-ação”, têm acerca da aposentadoria e de seu tempo livre. A pesquisa foi realizada no Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Catarina, onde se desenvolve o Programa. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com quatro voluntários e os dados foram analisados por meio de uma análise de conteúdo. Nas entrevistas realizadas obtiveram-se discursos relacionados à importância da socialização no trabalho. Um dos participantes da pesquisa enfatizou a importância dos relacionamentos firmados no trabalho, considerando seus colegas como parte de sua família. Outro participante afirmou que todos seus amigos são do ambiente de trabalho e que todas as suas atividades estão associadas ao trabalho. Em relação ao lazer, percebeu-se a dificuldade dos participantes de se desassociarem do vínculo empregatício e do âmbito do trabalho. Um dos participantes comentou que seu problema é seu amor pelo trabalho que realiza, pois até no domingo realiza atividades como preparar a aulas. Além disso, há o medo do envelhecimento e da morte percebidos na fala de um entrevistado. Ele aponta que já poderia ter se aposentado, entretanto, ainda não o fez pelo medo da aposentadoria, visto que o participante a relaciona com a improdutividade e com a morte. Evidencia-se a possível influência positiva do programa de preparação para a aposentaria, pois a identificação dos medos e dos receios relacionados à aposentadoria, a externalização dos mesmos e a vivência de questões referentes ao tempo livre e à aposentadoria podem contribuir para uma melhor qualidade de vida. Destaca-se a necessidade de maiores contribuições científicas acerca do tema. PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; ciclo vital; tempo livre.

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PO17 - REPRESENTAÇÕES SOBRE A APOSENTADORIA PARA TRABALHADORES DE MEIA-IDADE

Pissaia AT 1; De Andrade A.L 1; Rafalski JC 1. 1 - Laboratório de Mensuração e Avaliação Psicológica.,Universidade Federal do Espírito Santo. A Aposentadoria é um tema que suscita discussões de elevada relevância para a população brasileira, devido principalmente à crescente expansão da faixa etária de idosos, composta por pessoas acima de 60 anos de idade segundo a legislação brasileira. Entendida como uma fase final da vida e do trabalho, a Aposentadoria tem sido estudada como um estado, sem muitas considerações sobre o processo de ingresso nesta categoria e as representações que possuem sobre ela relevantes para análise. Evans, Ekerdt e Bosse (1985) concluíram, por meio de pesquisa longitudinal, que comportamentos de preparo para a aposentadoria assumem um padrão crescente a partir de cerca de 15 anos antes da aposentadoria propriamente, ainda que a preparação ativa para a Aposentadoria aconteça no período de tempo entre 2 a 5 anos da Aposentadoria (Zanelli, Silva & Soares, 2010). Sabendo que fatores biológicos, psicossociais e econômicos se somam e produzem impactos na vivência deste momento (Beehr, 1986), este trabalho teve como objetivo acessar as representações sociais sobre a Aposentadoria em trabalhadores com idades acima de 40 anos. Por meio de coleta online, os participantes foram convidados a relatar as primeiras palavras que surgissem a mente a partir do termo-indutor “Aposentadoria”, ofertando até 5 respostas. Participaram da pesquisa 108 trabalhadores, sendo 56 homens e 52 mulheres, com média de idade de 49,1 anos (dp=7,04). Como resultados, obteve-se que para os participantes a Aposentadoria se configura como um momento de descanso, um mérito, a ocasião para fazer uso do tempo e, também, como velhice. Foram lembradas também evocações como instabilidade financeira e ilusão, alocadas no núcleo periférico. Pode-se concluir que, para os participantes, a Aposentadoria apresenta-se como um momento de descanso e folga merecido após os longos anos de dedicação ao trabalho. A possibilidade de administrar o tempo que possuem, bem como utilizar o tempo livre da maneira que os interessar, é muito atrativa, porém o espectro do envelhecimento se mantém presente, suscitando a representação geral de que ainda que possuam este tempo livre após o pagamento de anos de trabalho, a vida está se aproximando do fim. A lembrança da ilusão e da instabilidade financeira como elementos periféricos apresenta os elementos negativos, na forma da visão de que a Aposentadoria não vale a pena e se configura como um momento de dificuldade financeira. A ampliação da amostra populacional possibilitaria maior relevância dos dados, bem como pesquisas adicionais, a fim de confirmar a percepção positiva frente à Aposentadoria. PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; representação social; envelhecimento.

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PO18 - TRABALHO X APOSENTADORIA: UM OLHAR SOBRE A QUALIDADE DE VIDA

Zanata, C 1; Lucas, MG 2. 1 - Universidade do Oeste de Santa Catarina; 2 - Psicóloga. Universidade do Oeste de Santa Catarina. Este resumo apresenta dados de uma pesquisa de Conclusão de Curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina, a pesquisa será realizada num município do Oeste Catarinense. O objetivo geral é analisar a qualidade de vida das pessoas, após o desligamento do trabalho em decorrência da aposentadoria por tempo de serviço. E os objetivos específicos são avaliar qual era o papel do trabalho na vida dos sujeitos; identificar os fatores que interferem na qualidade de vida das pessoas após o desligamento do trabalho e aposentadoria; descrever o significado de qualidade de vida para os sujeitos pesquisados. Será relevante cientificamente possuir uma pesquisa científica a mais sobre este tema, tendo em vista os poucos estudos voltados para a qualidade de vida das pessoas após a aposentadoria e o desligamento do trabalho. Para os acadêmicos desta área será importante adquirirem conhecimentos sobre este assunto e conhecer os fatores que implicam na qualidade de vida nesta fase. Saber também qual será a contribuição dos psicólogos para estas pessoas que estão “acostumadas” com o trabalho diário e de repente se afastam dele, como lidar com este momento da vida, que é a aposentadoria, a redefinir seu cotidiano, seus afazeres para que o tempo, caso seja mal administrado, não cause danos psíquicos. Para a sociedade será relevante saber se há e quais são os fatores que interferem na qualidade de vida após o desligamento do trabalho em decorrência da aposentadoria. Como não adoecer sem o trabalho, e o que fazer para ocupar o tempo livre nessa etapa da vida. Devido à expectativa de vida das pessoas idosas e a longevidade ter aumentado nos últimos anos, tem-se uma preocupação com a qualidade de vida desses indivíduos que estão nesta fase e àqueles que ainda irão chegar nela. A população idosa será a maior população estimada para os próximos anos, por isso é evidente a importância de dispor métodos e estratégias para uma boa qualidade de vida neste período. O tipo de pesquisa será a qualitativa, pois será feito uma análise dos relatos realizados pelos sujeitos na tentativa de compreender a sua qualidade de vida. O delineamento utilizado será o descritivo e a análise dos dados será feita através da análise de conteúdo. O instrumento para a coleta de dados será a entrevista semi-estruturada que será realizada com três sujeitos. PALAVRAS-CHAVE: trabalho; aposentadoria; qualidade de vida.

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PÔSTER ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO

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PO19 - A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA APROXIMAÇÃO À REALIDADE OCUPACIONAL EM PARCERIA A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E DE CARREIRA - PROGRAMA BOM ALUNO

Proto, LM 1; Gouveia, LP 1; Dittert, M.I.G. 1. 1 - Instituto Bom Aluno do Brasil. O presente trabalho visa relatar a experiência da atuação do pedagogo em parceria com a intervenção do psicólogo em um projeto social na área de formação e orientação profissional, que inclui a informação profissional, o contato com a realidade acadêmica/profissional e a orientação de carreira. Espera-se que este relato de experiência sirva como contribuição não só para a área de conhecimento abordada, mas também como um modelo de intervenção e atuação preventiva nas áreas socioeducacional e profissional. O pedagogo contribui no planejamento e execução de atividades e ações que possibilitem aos jovens atendidos pelo Programa Bom Aluno (PBA) maior aproximação com a realidade profissional, de maneira gradativa, abrangendo desde o 7º e 8º anos do ensino fundamental até a formação no nível superior. Desta maneira, no ensino fundamental, são ofertadas atividades para formação de conceitos acerca de projeto de vida e trajetória acadêmica através de ações voltadas à ampliação da leitura de mundo, acoplando aspectos lúdicos, culturais e literários. Numa vivência mais concreta, são programadas visitas a universidades, visando à reflexão sobre o significado do mundo universitário e sua abrangência, o que possibilita sensibilizar e desmistificar fantasias e vagas ideias em relação à entrada no ensino superior. No ensino médio propicia-se maior contato com universitários e formados do Programa para entrevistas e palestras. Visitas a feiras de profissões externas são supervisionadas e oferta-se, pelo próprio Programa, uma Feira de Profissões em que formados e graduandos se reúnem em grupos de cursos da mesma área ou áreas afins, para oferecer informações e demonstrações da prática profissional, levando o jovem nesta etapa a definir ou fortalecer a escolha profissional. Para o Ensino Superior são oferecidos diferentes workshops e cursos (planejamento estratégico; processos trainees; preparação para processos seletivos; vivência internacional) que visam o favorecimento de contatos com experiências em diversas áreas e o desenvolvimento pessoal e de carreira. Estes são conduzidos por profissionais do Programa, jovens formados pelo PBA, bem como são convidados profissionais voluntários de referência com grande reconhecimento no mercado, oportunizando uma troca bastante promissora entre todos. Além dessa prática, oferta-se ainda consultoria individualizada a interessados (coaching). Somando-se estas práticas com a intervenção do psicólogo, constata-se, considerando os participantes do Programa, baixo número de evasão no ensino superior e/ou reorientação profissional, maior aproveitamento de práticas profissionais em estágios e processos trainees, e um baixo índice de desemprego após a graduação. PALAVRAS-CHAVE: informação ocupacional; desenvolvimento de carreira; projeto social.

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PO20 - DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA DE GERENCIAMENTO DE CARREIRA PARA ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

Borges LFL 1; De Andrade, AL 2; Pissaia, AT 2; Egert C 2; Netto, MT 2; Silva, CG 2. 1 - Instituto Federal do Espírito Santo; 2 - Lab. de Avaliação e Mensuração Psicológica (AMP) - Universidade Federal do Espírito Santo. Em relação ao mundo atual do trabalho observa-se que o processo de planejamento de carreira tem sido mais centrado nos indivíduos do que nas organizações. As mudanças no cenário socioeconômico e nas configurações de vínculo com o trabalho fazem com que o indivíduo seja o grande responsável por sua carreira, o que implica um maior engajamento na definição de metas e estratégias de gerenciamento da carreira. Além disso, existe uma maior preocupação dos profissionais quanto a se sentirem realizados na execução de suas atividades. O presente estudo teve por objetivo adaptar e validar a Escala de Gerenciamento de Carreira para amostra de universitários do contexto brasileiro. A escala original foi desenvolvida por Briscoe, Hall e DeMuth (2006) com objetivo de avaliar duas dimensões da teoria de carreira proteana: Autogerenciamento e Direcionamento para Valores. No Brasil, uma versão equivalente ao instrumento foi validada por Oliveira e outros (2010), utilizando uma amostra de 292 profissionais. No desenvolvimento do presente instrumento houve um processo de adaptação de alguns itens e manutenção de outros da versão brasileira, procedimentos de validade de face e conteúdo foram realizados antes do estudo empírico. No total, 380 estudantes de diferentes cursos de uma Universidade Federal do sudeste participaram da pesquisa, todos estavam na segunda metade do curso. Destes 76,2% tinham idade entre 19 e 24 anos (DP= 5,74 anos) e 51,8% eram homens. Os resultados a partir do procedimento de análise fatorial exploratória apontaram uma versão da escala com 15 itens, dispostos em uma estrutura de duas dimensões. O primeiro fator, nomeado nesta versão “autogerenciamento do processo de carreira”, obteve um coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach de 0,76, avaliando aspectos ligados ao engajamento dos alunos no planejamento de suas respectivas carreiras. O segundo fator da medida, chamado de “construção de uma carreira por valores”, obteve um coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach de 0,71. Conclui-se que a atual versão do instrumento apresenta indicadores de validade e confiabilidade que viabilizam seu uso em futuras pesquisas no campo de planejamento de carreira. PALAVRAS-CHAVE: escolha profissional; gerenciamento de carreira; medida psicológica.

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PO21 - DESENVOLVIMENTO PESSOAL, ESCOLHA PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO DE CARREIRA EM PROGRAMA SOCIAL – PROGRAMA BOM

ALUNO

Dittert, MIG 1; Diamante, G 1; Gouveia, LP 1. 1 - Instituto Bom Aluno do Brasil. O Programa Bom Aluno (PBA) atende estudantes com baixa renda da rede pública com bom rendimento acadêmico. Os jovens ingressam por meio de processo seletivo, em média no 7º ano do ensino fundamental, e são assistidos até o fim da graduação e pós-graduação. Uma vez admitidos, passam a estudar com bolsa de estudo integral nas escolas particulares conveniadas ao programa. Esse também oferece aos alunos e familiares assistência psicológica e pedagógica. Assim, após o ingresso dos estudantes, trabalham-se temas que atendam às necessidades de jovens dessa realidade em favor da ampliação da visão de mundo e futuro com atividades que favoreçam a autoestima, definição de sonhos e objetivos pessoais. Também se busca sensibilizar para a conquista profissional através do estudo, primeiro degrau do trabalho em orientação profissional. Para os alunos do 2º ano do ensino médio, visando à inserção no nível superior de ensino em instituições de qualidade, são realizados encontros a fim de desenvolvê-los em diversos aspectos como autoconhecimento e conhecimento da realidade profissional. Já no 3º ano do ensino médio, os alunos participam de atividades voltadas à administração do estresse e tensão pré-vestibular, com técnicas de meditação e, quando inseridos no ensino superior, a continuação do trabalho se dá através do desenvolvimento de carreira e bases para o desempenho do papel profissional. Uma vez solucionada a escolha profissional e empregabilidade, atua-se na complementação da formação, incentivando a busca contínua do desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos. Os resultados do PBA, alcançados ao longo dos anos, foram: baixo número de evasão no ensino superior e/ou reorientação profissional, baixo índice de desemprego após a graduação, maior aproveitamento de oportunidades na prática profissional em estágios e processos trainees, e rápida ascensão profissional. Espera-se que este relato sirva como contribuição não só para a área de conhecimento abordada, mas também para sociedade de um modo mais amplo, agregando igualmente, de maneira cumulativa, para maior compreensão do alcance e entraves de projetos sociais no âmbito educacional. PALAVRAS-CHAVE: projeto social; desenvolvimento de carreira; estudantes.

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PO22 - ELABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE VÍDEOS SOBRE AS ÁREAS PROFISSIONAIS DE TELECOMUNICAÇÕES E REFRIGERAÇÃO

Padoin, E. 1. 1 - Instituto Federal de Santa Catarina - Campus São José. OBJETIVO GERAL: Promover a construção de material didático sobre as áreas de profissionais de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, através de vídeos que subsidiem o processo ensino aprendizagem dos educandos e auxiliem na Orientação Profissional para o mundo do trabalho, contribuindo assim para a permanência e eficácia da oferta dos cursos. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA: A necessidade do referido projeto surgiu a partir dos Encontros Pedagógicos do Câmpus São José, nos relatos dos educandos do ensino médio integrado, ao apresentarem muitas angústias com relação às disciplinas da área técnica. Observou-se reclamações recorrentes quanto à falta de informações concretas sobre a atuação profissional nas áreas dos cursos que a Instituição oferece. Apesar da escola proporcionar “saídas técnicas” com as turmas, os educandos continuam verbalizando na preparação dos Encontros Pedagógicos a necessidade deles terem mais palestras e estímulo para gostarem do curso, aprofundamento sobre o conhecimento na área escolhida, vídeos, entrevistas informativas, visitas nas empresas da Grande Florianópolis, etc.. Neste sentido, o projeto tem uma proposta educativa, sobre as profissões das áreas de Telecomunicações e Refrigeração e Climatização, através da construção e elaboração de vídeos. METODOLOGIA:O processo de construção dos vídeos envolve inicialmente uma pesquisa com os educandos do Câmpus, do ensino médio técnico integrado, que subsidiará o roteiro das entrevistas com os profissionais das duas áreas. PRODUTO FINAL: Vários vídeos de curta duração e fotos sobre as possibilidades de atuação na área de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, requisitos e atribuições dos profissionais, mercado de trabalho, etc.; Um blog, com todos os vídeos produzidos e divulgação das empresas parceiras. RESULTADOS ESPERADOS: A divulgação dos vídeos na comunidade interna proporcionará informações concretas sobre o mundo do trabalho, aperfeiçoamento das informações disponíveis sobre as possibilidades de atuação e consequentemente ressignificado no processo ensino aprendizagem dos cursos técnicos ofertados no Câmpus São José, o que pode desencadear a diminuição da evasão e a melhoria no processo seletivo de ingresso. Considerando-se que estamos em uma era visual, os recursos visuais (vídeos) são ótimos instrumentos de aprendizagem e divulgação. O aprimoramento da divulgação institucional através dos vídeos poderá atingir o público-alvo do IFSC, que são alunos de escolas públicas, em vulnerabilidade social, que necessitam e desejam fazer um curso técnico para entrar no mercado de trabalho e obter uma formação de qualidade. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; mídias; permanência.

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PO23 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA

Branga, E 1; Nienkötter, S 1. 1 - Universidade do Sul de Santa Catarina. No primeiro ano de Ensino Médio, o estudante enfrenta um novo ciclo, em sua trajetória escolar, em um período da vida marcado por inúmeras mudanças: físicas, emocionais e sociais. Nesse momento começa a se esboçar para o estudante seu projeto de ser adulto: o que desejará ser. Nesse sentido, o processo de Orientação Profissional, nas escolas, torna-se relevante, pois tem como proposta a aproximação do adolescente com o sentido do trabalho na vida das pessoas, como também a criação de um espaço de discussões sobre a importância do autoconhecimento no processo de escolha por uma profissão, a fim de que este jovem desenvolva uma postura ativa na busca de informações e no estabelecimento de ideais e objetivos pessoais. O projeto tem como objetivo geral promover discussões acerca dos processos da escolha profissional e o planejamento de carreira dos jovens matriculados no primeiro ano do Ensino Médio de uma escola pública no município de Palhoça, SC. Propomos como objetivos específicos: a) Desenvolver atividades que promovam o autoconhecimento dos estudantes. b) Discutir o processo e os fatores que interferem no momento da escolha profissional. c) Capacitar, o estudante para busca e análise de informações acerca das profissões e mercado de trabalho. d) Instrumentalizar os estudantes para a busca de seu desenvolvimento pessoal, profissional e o planejamento de seu projeto de vida. Este projeto de intervenção é desenvolvido, desde 2013/1, pelo Programa de Orientação de Carreira da Universidade Sul de Santa Catarina, em uma instituição escolar da rede pública do município de Palhoça/SC. Participam deste trabalho 36 estudantes de uma turma do 1° ano do Ensino Médio. A turma foi dividida aleatoriamente no início do processo em dois grupos coordenados por uma dupla de estagiárias - em cada grupo - do Curso de Psicologia da UNISUL. Os encontros acontecem semanalmente na sala de aula, de vídeo ou biblioteca da própria escola, tendo duração de 1hora e 30 minutos cada encontro. Pôde-se observar, até o momento, que o processo de Orientação Profissional em escolas públicas pode contribuir com a oportunidade dos estudantes discutirem sobre além da sociedade, significados e aspectos que envolvem a escolha profissional, preparando-os para uma visão crítica e consciente no mundo do trabalho. Destaca-se necessidade e a presença efetiva de políticas públicas que englobem o momento da decisão profissional dos estudantes do Ensino Médio da rede pública e processos de capacitação para profissionais dispostos a estarem presentes e auxiliarem neste momento. PALAVRAS-CHAVE: escola pública; profissão; orientação para o trabalho.

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PO24 - “EU APRENDIZ DA VIDA - OFICINA DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E PROFISSIONAL

Klein, ET 1. 1 - CEMADE –Centro de Aprendizagem Profissional para Adolescentes Maria Adelaide – AEFSPR. Introdução: O protocolo das oficinas de desenvolvimento Humano e profissional: Eu aprendiz da Vida contempla 4 eixos semestrais de intervenção: 1)Pé na estrada na trilha do desnvolvimento do perfil profissional. 2) Ascendendo a chama do despertar profissional. 3)Navegando nas águas calmas e turbulentas do dia a dia no trabalho. 4) Dando assas aos meus sonhos e decolando para a vida-construindo meu perfil profissional com projetos e escolhas para a vida. Objetivos: Desenvolver o protocolo “Eu aprendiz da vida” através de oficinas temáticas e intervenções individuais e ou atividades complementares com intuito de promover a visão de totalidade do programa de aprendizagem profissional, integrar ações da família, escola, empresa e CEMADE, analisar de situações vivenciadas no cotidiano dos adolescentes. Despertar para o autoconhecimento e a orientação profissional e a elaboração de seu projeto de vida. Métodos: psicodinâmico, Psicologia Institucuional com interface da educação profissional e assistência social. Desenvolvimento: A metodologia de trabalho é composta por atividades grupais semestrais, aplicação de técnicas de orientação profissional elaboradas para o contexto do programa de aprendizagem profissional, intervenções individuais e encaminhamentos complementares dentro do módulo específico de Serviços administrativos. Conclusão: despertar da visão global da totalidade do projeto aprendiz – até 24 meses, ampliação do universo sócio cultural dos aprendizes, orientação quanto a inserção no mundo do trabalho e escolha de carreira, despertar para o projeto de vida. Este trabalho interliga a interface da educação profissional e assistência social, uma conquista e ao mesmo tempo desafio, exigindo articulação constante dos Centros de Referência da Assistência Social, educação regular, empresas contratantes, família e CEMADE. Referências: – klein,Elianes Terezinha; Rezende,Hugo Nascimento – Oficina de desenvolvimento Humano: Adolescência e Projeto de Vida. Autoconhecimento e insighs para a vida. Vol I – 1ª edição limitada -Cutitiba – Arte e Letra, 2010. - Klein, Elianes Terezinha; Rezende, Hugo Nascimento – Oficina de desenvolvimento Profissional: Eu aprendiz da vida. Vol II – 1ª edição limitada – Cutitiba – Arte e Letra, 2010. - Projeto político pedagógico do CEMADE – AEFS Pr. 2007 - Manual da aprendizagem: o que é preciso saber para contratar o jovem aprendiz.– Brasilia: MTP, SIT, SPPE, 2006. PALAVRAS-CHAVE: aprendizagem profissional; aprendiz; orientação profissional.

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PÔSTER RE-ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA

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PO25 - A RELAÇÃO ENTRE A SATISFAÇÃO COM O TRABALHO, CARREIRA PROFISSIONAL E ESTABILIDADE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE

SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS E COMISSIONADOS. Burin, GMS 1; 1 - Perspectivas RH. O tipo de vinculação de trabalho do servidor público efetivo assume características provenientes dessa modalidade empregatícia, e uma delas é o extenso tempo de serviços prestados a uma mesma instituição. Percebendo tal fator, pretendeu-se com o presente estudo, analisar como estava a satisfação desses servidores, além de comparar qual foi sua aspiração inicial pela carreira pública. Este trabalho visa compreender as implicações psicossociais do processo da escolha profissional e a satisfação da escolha aplicada ao trabalho para servidores públicos, efetivos e comissionados, pertencentes ao quadro de pessoal da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Deste modo, para que este objetivo pudesse ser alcançado, foram acessados servidores pertencentes a ambos os grupos. A presente pesquisa é classificada como levantamento em uma organização específica, na forma quantitativa, utilizando-se questionários para coleta dos dados. Com esse instrumento possibilitou-se a obtenção das informações sobre quais motivos os impeliram na escolha profissional, identificando diferenças e semelhanças nesse processo e analisando juntamente seus níveis de satisfação, após sua inserção nesse trabalho. Uma das categorias apresentadas na pesquisa, a estabilidade, torna-se fato relevante para a discussão desse processo de escolha, causando alterações na satisfação dos trabalhadores e em seus comportamentos, por conta das suas expectativas com a organização em questão. PALAVRAS-CHAVE: escolha profissional; carreira pública; estabilidade.

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PO26 - CONTRIBUIÇÕES DE UMA DISCIPLINA SOBRE PLANEJAMENTO DE CARREIRA PARA EGRESSOS DE PSICOLOGIA

Lima, FB 1; Gonçalves, DCM 2; Nunes, KESS 3; Silva, MP 3; Melo-Silva, LL 4. 1 - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); 2 - Autonôma; 3 - Autonômo; 4 - Universidade do Estado de São Paulo – USP. As vertiginosas mudanças no mundo do trabalho contemporâneo, decorrentes de avanços tecnológicos, evidenciam novas demandas da sociedade, impactando diretamente na política, na economia e nas relações de trabalho. Assim sendo, este estudo objetiva analisar os desdobramentos de uma disciplina intitulada “Orientação Profissional e Desenvolvimento de Carreira” em egressos de um curso de Psicologia. Trata-se de um estudo qualitativo, desenvolvido com psicólogos graduados em uma instituição de ensino superior privado do Alto Paranaíba, cidade de Pato de Minas, estado de Minas Gerais. Participaram deste estudo oito egressos, sendo seis (75%) do sexo feminino e dois (25%) do masculino. A média de idade foi de 28 anos com desvio padrão de 10,0. Com relação ao estado civil, 5 (62,5%) são solteiros e 3 (37,5%) são casados. Quanto ao turno do curso, todos estudaram em período integral. Com relação à formação universitária, além da Psicologia, um realizou curso Técnico em Contabilidade e outro ainda possui graduação em Letras. Quanto à escolha profissional, 100% tiveram como primeira escolha o curso de Psicologia. Os critérios de inclusão para participação na pesquisa foram: ter concluído a graduação entre 2010 e 2011 em Psicologia (período de implantação da disciplina), residir em Patos de Minas e atuar na área de Psicologia. Os dados foram sistematizados por meio de uma ficha de informações sociodemográficas e uma entrevista semiestruturada combinando perguntas abertas e fechadas , com base no estudo de Xikota (2004). Os dados foram sistematizados por meio de análise de conteúdo, de Bardin (2009), definindo-se os seguintes eixos temáticos: a contribuição da disciplina para o Planejamento de Carreira dos egressos, fontes de informações e estratégias desenvolvidas para o plano de carreira, e as contribuições da disciplina para a trajetória e a inserção no mercado de trabalho. Os resultados mostraram que os participantes possuem conhecimento sobre planejamento de carreira, explicitam que para planejar a carreira é necessário um entendimento do que se tem e do que é necessário adquirir, em termos de competências, traçando metas a serem seguidas e alcançadas em longo prazo. Conclui-se que as estratégias de informação e a disciplina “Orientação Profissional e Desenvolvimento de Carreira” oferecidas pelo curso de Psicologia da instituição contribuíram no delineamento de estratégias dos egressos para a inserção no mercado de trabalho, sendo de suma importância que as instituições de Ensino Superior possam oferecer disciplinas e atividades de extensão que visem à reflexão sobre o planejamento de carreira em diferentes momentos da trajetória. PALAVRAS-CHAVE: planejamento de carreira; egressos; psicologia.

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PO27 - IDENTIDADE PROFISSIONAL E A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PÓS-CARREIRA COM FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

SUPERIOR

Cardoso, RA 1; Lima, FB 2; Melo-Silva, LL 3. 1 - Autonôma; 2 - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); 3 - Universidade do Estado de São Paulo – USP. A elaboração do projeto de vida na aposentadoria leva o indivíduo a examinar as relações entre os desejos de tornar a ser e as competências técnicas e interpessoais que construiu durante a vida laboral. Nesse sentido, os Programas de Preparação para Aposentadoria (PPA) auxiliam na preparação para projetos de vida pós-carreira. Este estudo teve por objetivo identificar a relação entre identidade profissional e a construção de projetos pós-carreira. Participaram da pesquisa seis funcionários do setor administrativo de uma instituição privada de ensino superior do Alto Paranaíba. Trata-se de um estudo qualitativo, cujos dados foram obtidos por meio de uma ficha de informações sociodemográfica e o registro da entrevista semiestruturada. Cuidados éticos foram tomados para a obtenção e análise dos dados, incluindo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Realizou-se um levantamento junto à coordenadoria do Departamento de Pessoal da instituição, para a identificação dos funcionários que se enquadrassem nos critérios de inclusão neste estudo: exercer atividade profissional na Instituição no regime celetista, atuar no setor administrativo, ter idade acima de 40 (quarenta) anos, não atuar como docente, não trabalhar em outra instituição ou exercer outra atividade paralela e aceitar contribuir para o estudo, conforme cuidados éticos expressos no termo de consentimento livre e esclarecido. Inicialmente, fez-se contato com 22 profissionais que foram convidados a participar de uma palestra informativa intitulada “A arte de aposentar: programa de preparação pra a aposentadoria e pós- aposentadoria para funcionário”. Destes, 11 participaram da palestra e outros seis atenderam aos critérios de inclusão. Os dados foram analisados por meio de análise de conteúdo, definindo-se as categorias temáticas: significado do trabalho, tempo livre, significado de aposentadoria, projetos pós-carreira, participação no programa de preparação para a aposentadoria e planejamento financeiro pós-aposentadoria. Os resultados mostram que os entrevistados vêem o trabalho como primordial para a sobrevivência e a motivação para a vida e que o tempo livre será ocupado com atividades de lazer e hobby (cantar, tocar violão, ler, ficar com amigos e filhos). Os dados mostram que há dúvidas e desconhecimento sobre possíveis consequências a aposentadoria acarretará nessa nova etapa de vida no que se refere à perda da identidade profissional, da rotina e dos relacionamentos de trabalho. Observa-se ainda, ausência de qualquer projeto pós-carreira e planejamento financeiro pós-aposentadoria, mas existe o interesse em participar do programa de preparação para a aposentadoria. Concluiu-se que o PPA poderá contribuir para amenizar os impactos dessa nova fase da vida. PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; transição de carreira; projetos pós carreira.

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PO28 - INSTRUMENTOS QUANTITATIVOS SOBRE TRANSIÇÃO DE CARREIRA: LEVANTAMENTO PELO PSYCINFO

Silva, MP 1; Lima, FB 2; Nunes, KESS 1; Melo-Silva, LL3. 1 - Autonômo; 2 - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); 3 - Universidade do Estado de São Paulo. Estudiosos sobre o constructo carreira como Louis (1982), Nicholson & Waal-Andrews (2005) e Schlossberg (2001) convergem sobre como a globalização, a competição internacional e o ritmo acelerado das tecnologias trouxeram impactos significativos na organização de trabalho, caracterizada pela instabilidade e necessidade das pessoas serem adaptáveis com relação a suas trajetória de carreira. Este estudo objetiva apontar quais são os métodos quantitativos utilizados sobre transição de carreira, visto que poucos trabalhos sobre o tema tem se dirigido a essa abordagem metodológica. Na base indexadora PsycINFO, a busca foi no título pela palavra “career change”. Do total pesquisado, foram encontrados 102 artigos, destes 24 utilizaram metodologia quantitativa e apenas 12 citaram ou criaram os instrumentos de mensuração. Os instrumentos contemplados nos artigos foram: Future Career Autobiography (Rehfuss, 2009);AMO - Intenção de Mudança Comportamental (composto por Preocupações com a Carreira; Intenção de Mudança de Carreira; Adult Career Concerns Inventory (ACCI) de Super et al (1988); Comprometimento Organizacional de Allen and Meyer´s (1990); Intenção de Mudança do Empregador de Wayne, Shore e Liden (1997); CDMSE – SF (Carerr Decision-Making Self-/Efficacy Short Form) de Betz e Taylor (2001); Escala de Desenvolvimento Profissional de Bernaud et al (2009); Escala de Aliança de Trabalho de Massoudi et al (2008); Horizontes de Carreira de Bernaud (2007);Néo-PI-R de Holland (1998); Abertura para Experiências, Extroversão e Consciência de Saucier (1994) e Losoncz (2007);Auto Eficácia Geral de Pearlin e Schooler (1978);Inventário de Atitudes e Estratégias de Carreira de Holland e Gottefredson (1994); Inventário de Comportamento Planejado de Ajzen (1991); Self Direct Search de Holland (1995); Personalidade e Congruência de Brown e Gore (1994); Modelo de Mudança de Carreira de Rhodes e Doering (1983) e Latack (1984). Os resultados apontaram que as escalas desenvolvidas por Holland tem sido as mais utilizadas e que grande parte dos instrumentos datam de mais de 15 anos: 8,3% são de 2012; 25% de 2011; 58,3% do período compreendido entre 2004 a 2010 e apenas 8,4% de 1999. Outro fator relevante é a origem dos autores: 31,3% são da Austrália; 25% dos EUA; Alemanha, Canadá e Itália com 12,5% cada e França com 6,2%.. Os periódicos que mais publicaram artigos sobre o tema da pesquisa foram Journal of Vocational Behaviour e The Career Development International. De maneira geral,os autores dos artigos selecionados sugeriram mais estudos longitudinais, de abordagem quantitativa, e, especialmente, atentaram para a necessidade e validação de instrumentos de pesquisa de medidas sobre transição de carreira. PALAVRAS-CHAVE: carreira; transição de carreira; estudos quantitativos.

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PO29 - ORIENTAÇÃO DE CARREIRA: UMA EXPERIÊNCIA COM ACADÊMICOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

Antunes MH 1; Bardagi, MP 1. 1 - LIOP, UFSC. A carreira é um dos fatores centrais que influenciam o desenvolvimento do indivíduo e a sua organização de vida, sendo, portanto, objeto de reflexão nos diversos momentos que compõem a trajetória profissional e o ciclo vital. Nesse sentido, convém destacar que a construção da carreira constitui-se como um processo multideterminado, envolvendo diversos aspectos, tais como: o desenvolvimento da identidade profissional, a motivação e a decisão relacionadas ao curso escolhido, o rendimento acadêmico, os traços de personalidade, as características do mundo do trabalho e a elaboração de projetos profissionais face às perspectivas do mercado de trabalho. Tendo em vista tais apontamentos, o presente estudo visa relatar uma experiência de Orientação de Carreira, desenvolvida por meio de Oficinas e tendo como público-alvo os acadêmicos do Curso de Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina. As referidas Oficinas aconteceram no decorrer do primeiro semestre de 2013, sendo realizadas para um grupo de, aproximadamente, 13 alunos. Em relação aos procedimentos metodológicos, cabe mencionar que, as Oficinas foram desenvolvidas em 06 encontros, os quais tinham a duração de 02 horas cada, totalizando 12 horas de trabalho. Acerca das características dos participantes, cabe destacar que 05 eram do sexo masculino e 08 do sexo feminino, com idades que variam entre 18 e 26 anos. Sobre o período do curso que frequentavam, o grupo se constituiu heterogêneo, com alunos do segundo ao último (nono) semestre de formação. Buscando atingir aos objetivos propostos pelo Projeto ao qual a Oficina se vincula, foram abordados os seguintes temas: Autoconhecimento, Valores do Trabalho, Trajetória Acadêmica, Nuanças do Mercado de Trabalho na contemporaneidade, Reconhecimento de Habilidades e Competências para o Trabalho, Etapas do processo de Recrutamento e Seleção. Dentre os resultados evidenciados, é pertinente ressaltar que as atividades desenvolvidas durante as Oficinas, possibilitaram aos alunos perceber a carreira como um processo em constante desenvolvimento, o que favorece a reflexão e a revisão dos motivos pelos quais ocorreu a escolha inicial acerca do curso de graduação e das demandas de inserção na área de atuação escolhida. Nesses termos, observou-se que os participantes identificaram a importância das escolhas realizadas em suas trajetórias acadêmica e, especialmente, da qualidade do envolvimento em atividades curriculares e extracurriculares durante o período de formação. PALAVRAS-CHAVE: orientação de carreira; universidade; trabalho.

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PO30 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E COACHING: DISCUTINDO INTER-RELAÇÕES

Virginio, S R 1; Graf, LP 1. 1 - Universidade Federal Fluminense. A orientação profissional (OP) tem como definição um conjunto de atividades que permite uma pessoa identificar elementos que consolidem seu caminho profissional, investigando os fatores políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos que interferem na escolha. Segundo a Associação Internacional de Orientação Escolar e Profissional (AIOEP), a OP tem como função ajudar os sujeitos a compreender seus talentos e potenciais e habilitá-los a planejar ações, sendo necessária uma avaliação inicial do campo de interesse, investigação, diagnóstico e identificação de soluções sobre a questão vocacional. A demanda de OP cresce muito nas organizações e frequentemente essa demanda não é atendida por psicólogos do Trabalho, tampouco por Orientadores Profissionais. No mercado, vem crescendo o emprego do trabalho de consultores autônomos que oferecem serviços não clínicos que denominam como Coaching e Mentoring, com o objetivo de estruturar e planejar a carreira de profissionais de organizações e em colocação profissional. Em geral Coaching é definido com um acordo entre o Coach (profissional) e o Coachee (cliente) para atingir a um objetivo desejado pelo cliente, amparando o cliente por meio de feedbacks baseados em conhecimento da área em questão. Mentoring seria conceituado como a preparação do profissional de um sujeito mais jovem por um profissional sênior empregando conversas pontuais e periódicas. Diante destes aspectos assinalados, este trabalho tem o objetivo de efetuar uma análise da intersecção entre o trabalho de Orientação Profissional, Coaching e Mentoring no campo das organizações e de Gestão de Pessoas. Este estudo é exploratório, de caráter descritivo, no qual se utilizou o procedimento de estudo documental baseado em textos e artigos coletados sobre o tema. As informações foram analisadas de modo discursivo e em grupos temáticos. Salienta-se que este trabalho está em construção e essas são as suas reflexões iniciais, as quais indicam que as práticas de orientação de carreira são oriundas das práticas de orientação profissional da psicologia, que com o passar do tempo foram direcionadas para as organizações no sentido de potencializar o sujeito. A prática de Coaching, por outro lado, tem outros fundamentos e objetiva o desempenho, aparentemente de um modo mais específico e não tanto relacionado com os fatores circunstanciados que constituem o sujeito em movimento.

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PO31 - OS SENTIDOS E OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO TRABALHO E A APOSENTADORIA POR SUJEITOS DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS

Antunes MH 1; Marin C. 2; Soares DHP 1. 1 - LIOP, UFSC; 2 - Instituto do Ser.

O trabalho constitui-‐se como um dos principais meios pelo qual o homem organiza sua vida e estabelece sua participação na sociedade. Nesse sentido, é importante considerar que as relações sociais, responsáveis pela formação do “eu” e da concepção de mundo, ocorrem dialeticamente, por meio dos processos de significação. Assim sendo, o desenvolvimento de estudos que buscam compreender

o envolvimento profissional tornam-‐se especialmente relevantes, se consideradas suas implicações acerca da história pessoal e trajetória relacionada ao contexto laboral. Este estudo foi desenvolvido com vistas a identificar os sentidos e os significados atribuídos ao Trabalho e a Aposentadoria por sujeitos de diferentes faixas etárias. Para tanto, foi realizado um levantamento por meio dos alunos da disciplina de Orientação para Aposentadoria, oferecida no Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina., os quais foram orientados a realizar entrevistas sobre esta temática com seus familiares. Desse modo, participaram da pesquisa 45 sujeitos, com idade entre 18 e 80 anos. Para análise

das entrevistas, optou-‐se pela Técnica de Análise de Conteúdo. A apreensão dos

sentidos e significados, neste trabalho, fundamenta-‐se na teoria de Vigotsky. Os resultados obtidos evidenciam a centralidade do trabalho na vida humana, sendo que, os sentidos e os significados atribuídos à ele, denotam diferentes

compreensões, dentre as quais destacam-‐se: principal meio para obtenção de subsistência, possibilidade de desenvolvimento e realização pessoal e prazer. Em relação a aposentadoria, foi observado que os sentidos e significados se relacionam ao uso do tempo livre, liberdade, benefício e recompensa. Dentre as considerações a respeito deste estudo, é pertinente mencionar a importância de programas de Orientação Profissional e de Carreira, os quais visam atender sujeitos em diferentes momentos de vida, oportunizando a reflexão acerca do mundo do trabalho, assim como a apropriação de suas significações num processo constante de transformação. PALAVRAS-CHAVE: trabalho; aposentadoria; sentidos e significados.

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PO32 - PRÁTICA DOCENTE EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA E A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PROFISSIONAIS

Graf, LP 1; Campos, C 1; Marques, AB 1; Carmo, TF 1; Roxo, CS 1; Maciel, H 2; Leite, SC 1; Castro, TA 1; Costa, LSCCH 1; Camporez, GA 1; Novo, MMS 1; Assis, TO 1; Dagnino, J 1; 1 - Universidade Federal Fluminense; 2 - Universidade Federal Fluminense. Este estudo objetiva analisar uma prática docente de Orientação Profissional (OP), em um curso de Psicologia em uma universidade pública Federal da região metropolitana do Rio de Janeiro. Sampaio destaca as três faces da Psicologia do Trabalho, a OP inicialmente era vinculada a Psicologia Industrial nos anos de 1920, atrelada aos interesses da produtividade e efetuada junto com processos de recrutamento e seleção de pessoas, sendo baseada em testes. A segunda face foi a Psicologia Organizacional, que não rompe com o objetivo da produtividade da primeira e o foco de interesse dos psicólogos é voltado à motivação, processos de liderança e gerenciais no sentido de continuar o processo de adaptação do homem à atividade. Na terceira face, a Psicologia do Trabalho efetua uma nova compreensão da relação do ser com seus afazeres, mostrando a possibilidade construir sentido nessa relação, compreendendo o trabalho como uma categoria central na vida humana e como possibilidade de se construir e se relacionar com outras pessoas. Esta terceira face engloba diversas práticas além das tradicionais e, mesmo assim, com um novo significado, possibilitando um novo enfoque. A prática docente efetuada no curso citado buscou promover a Orientação Profissional envolvida no campo teórico e metodológico da Psicologia do Trabalho, onde além de gerar uma capacitação técnica em Orientação Profissional, em uma perspectiva de construção do ser no mundo, procurou relacionar os conhecimentos a uma efetiva inserção profissional por meio de projetos de atuação. Durante o curso, além das discussões referentes ao campo da Psicologia do Trabalho, com o auxílio do Planejamento das aulas de Orientação Profissional e Ocupacional, de Veriguine (2011), estudaram projetos Orientação Profissional (Lisboa & Soares, 2000), Soares (2002), Gênero e Orientação Profissional Juventudes e OP, elaboração e estudo das Trajetórias Sócio-Profissionais e o processo de elaboração de projetos em OP. Estes projetos tiveram distintos focos, como OP com jovens e adolescentes em uma abordagem clínica; Projetos de Reorientação Profissional com universitários, OP no planejamento e apoio de projeto profissional com estagiários em uma abordagem organizacional, Orientação para Aposentadoria. A construção destes projetos possibilitou um olhar para além da teoria, considerando uma estreita relação entre teoria e a transformação da realidade social e humana. O desenvolvimento de projetos em Orientação Profissional, bem como na Psicologia do Trabalho, possibilita a construção de uma atuação do profissional de psicologia para além das demandas tradicionais dirigidas ao profissional, promovendo a criatividade e a ocupação de espaços. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; psicologia; prática docente.

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PO33 - PREDITORES DE ESTRATÉGIAS DE CARREIRA DIRIGIDA POR VALORES INDIVIDUAIS

Borges, LFL 1; De Andrade, AL 2; Pissaia, AT 2; Silva CG 2; Egert, C 2; Netto, MT 2. 1 - Instituto Federal do Espírito Santo; 2 - Lab. Avaliação e Mensuração Psicológica (AMP) - Universidade Federal do Espírito Santo. As rápidas mudanças no cenário sócio-econômico mundial têm permitido novas formas de se gerenciar a carreira. Dentre as transformações ocorridas é possível observar indivíduos que ao tomarem decisões profissionais consideram prioritariamente seus valores pessoais. Para tais pessoas, é essencial estarem realizando uma atividade que lhes proporcione uma satisfação pessoal. O presente estudo teve por objetivo conhecer quais são os preditores de um gerenciamento de carreira dirigido por valores individuais entre universitários. Participaram da pesquisa 380 alunos de diferentes cursos de uma Universidade Federal do Sudeste. Todos os participantes estavam na segunda metade do curso, sendo a grande maioria dos alunos enquadrados no último ano da graduação. Quanto à caracterização da amostra, 76,2% tinha idade entre 19 e 24 anos (DP = 5,74 anos), e 51,8% eram homens. Na análise de dados foram empregados procedimentos de regressão múltipla. A primeira análise tomou o fator direcionamento de carreira por valores como variável dependente e as variáveis dos componentes de valores humanos básicos (QVB) como independentes. O modelo explicou 5,3% da estratégia de carreira dirigida por valores, sendo que o componente experimentação demonstrou ser, neste caso, o preditor mais eficaz. A segunda análise tomou os cinco traços de personalidade do modelo “big five" como variável independente e o modelo explicou 6,3%, sendo que neste caso os traços signitivamente preditivos foram Socialização e Abertura. A última proposta tomou as variáveis de Lócus de Controle como independentes, o que explicou 6,3% do gerenciamento de carreira por valores, tendo como variável preditiva o Lócus de Controle Interno. Conclui-se que, embora a contribuição isolada de cada componente não tenha sido tão alta, fatores como lócus de controle interno, personalidade mais sociável e com maior abertura, bem como um estilo de vida baseado em valores ligados à experimentação são fatores que podem predizer um estilo de carreira direcionado por valores pessoais. PALAVRAS-CHAVE: gerenciamento de carreira; valores; preditores.

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PO34 - PREDITORES DE UMA CARREIRA AUTODIRIGIDA

Pissaia AT 1; Liberato LFB 2; Andrade AL 3; Garcez C 3; Egert C 3; Tulli M 3. 1 - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica.,Universdade Federal do Espírito Santo; 2 - Laboratório de Avaliação e mensuração Psicológica., Universidade Federal do Espírito Santo; 3 - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica - AMP.,Universidade Federal do Espírito Santo. A definição de carreira profissional tem sofrido alterações ao longo do tempo. Considerando o que era disseminado em décadas anteriores, e que ainda pode ser observado em alguns espaços laborais, ter uma carreira remetia a ter empregos duradouros e com possibilidades de ascensão na hierarquia da empresa. Nesse caso, a responsabilidade pelo gerenciamento da carreira dos trabalhadores era da organização. Entretanto, face às diferentes mudanças no mercado de trabalho, o processo de gerenciamento da carreira descentralizou-se e passou a ser executado majoritariamente pelo próprio indivíduo, aspecto nomeado no contexto científico como Autogereciamento. Para alguns especialistas na área, ter uma carreira autodirigida significa ter possibilidades de redirecioná-la constantemente, visando o atendimento das próprias necessidades e, tendo-se assim, um maior desprendimento das organizações. Este trabalho teve por objetivo conhecer quais são os preditores de um Autogerenciamento de Carreira. Participaram da pesquisa 380 alunos de diferentes cursos de uma Universidade Federal do Sudeste. Todos os participantes estavam na segunda metade do curso, sendo a grande maioria dos alunos enquadrados no último ano da graduação. Quanto à caracterização da amostra, 76,2% tinha idade entre 19 e 24 anos (DP = 5,74 anos), e 51,8% eram homens. Para analisar os dados, foram realizadas regressões múltiplas nas quais se manteve o fator autogerenciamento como variável dependente. A primeira análise tomou as subdimensões de Lócus de Controle (interno, externo e acaso) como variáveis independentes, o modelo explicou 12,1% da estratégia de carreira autodirigida, tendo como única variável preditiva o Lócus de Controle Interno. Na segunda análise, as variáveis independentes foram os componentes dos valores básicos (QVB), obtendo-se com essa proposta uma explicação de 15,1%. Os componentes Realização (êxito, prestígio) e Suprapessoal (maturidade, conhecimento) evidenciaram ser os mais preditivos do modelo. Por último, tomou-se os cinco traços de personalidade do modelo “big Five” como variáveis independentes. Nessa configuração, o modelo explicou 19,9% da variável dependente, sendo significativamente preditivos os traços de conscienciosidade e abertura. Considerando as análises realizadas, observa-se que fatores como Lócus de Controle Interno, e as funções Realização e Suprapessoal, são possíveis preditores de uma estratégia de Carreira Autodirigida. Percebe-se ainda que os traços de personalidadede Conscienciosidade e Abertura são os preditores mais eficazes desse tipo de gerenciamento de carreira. PALAVRAS-CHAVE: planejamento carreira; autogerenciamento; orientação profissional.

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PO35 - PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE O CONSTRUCTO CARREIRA: UMA SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS

Nunes, KESS 1; Lima, FB 2; Silva, MP 1; Melo-Silva, LL 3. 1 - Autônoma; 2 - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); 3 - Universidade do Estado de São Paulo. A análise da produção científica permite conhecer a importância de determinadas temáticas, sua evolução e as discussões teóricas. Muitos estudos têm sido realizados analisando a produção científica de revistas especializadas. Este estudo objetiva sistematizar e analisar artigos publicados na Revista de Psicologia Organizacional e do Trabalho (RPOT), Revista de Administração Contemporânea (RAC) e Revista de Administração de Empresas (RAE) publicados entre 2001 a 2012 com foco no constructo carreira. Foram analisados 12 volumes e 175 artigos da RPOT, 12 volumes e 517 artigos da RAC e 12 volumes e 218 artigos da RAE. Procedeu-se a uma busca na base de dados eletrônicos das revistas utilizando-se a palavra-chave carreira, identificando-se 8 artigos na RPOT, 10 na RAC e 3 na RAE. Destes, classificou-se cada um dos trabalhos na unidade federativa das instituições envolvidas; número de autores de cada artigo; formação dos autores, tipo de instituição e buscou-se no título, no resumo e nas palavras chaves a existência de palavras associadas à carreira resultando em: comprometimento, entrincheiramento, aprimoramento, gestão, planejamento, vínculos, concepção, estágio, manifestação, modelo, orientação, oportunidade, perspectiva, possibilidade, projeto, sucesso e subsistema. Os resultados indicaram que entre 2009 e 2011 houve um aumento relativamente significativo da quantidade de artigos publicados relacionados à carreira, no entanto em 2012, ocorreu um decréscimo. Os dados mostraram que 38,1% dos artigos são de autoria da parceria entre instituições de várias regiões do país; 23,8% são da região Nordeste; 23,8% da região Sudeste; 9,5% da região Sul, 4,8% de autores portugueses, quanto as regiões Norte e Centro-Oeste não tiveram produção acadêmica sobre o tema carreira. Destes, 47,6% dos artigos foram realizados em dupla; 23,8% em trio; 23,8% individualmente e 4,8% em quarteto. Quanto à formação acadêmica dos autores 46,7% são psicólogos; 26,7% administradores; 10% são economistas; 10% são engenheiros da produção; 3,3% são cientistas sociais e 3,3% são engenheiros civis. Quanto à origem da instituição dos autores, 61,9% são oriundos de instituições públicas; 23,8% da parceria entre instituições privadas e públicas e 14,3% de instituições privadas. Conclui-se que a temática carreira teve uma quantidade significativa de publicações dos anos de 2009 a 2011, produzidos por duplas, em sua maioria por psicólogos, de todas as federações do país e de instituições públicas. PALAVRAS-CHAVE: carreira; produção do conhecimento.

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PO37 - REESCOLHA PROFISSIONAL: FATORES QUE MOTIVAM ADULTOS JOVENS

Bagatini, G 1; Lucas, MG. 1. 1 – UNOESC. Este resumo apresenta conclusões de um estudo de abordagem qualitativa, que investigou os fatores que motivam a reescolha profissional, em adultos jovens (20 a 40 anos) em cursos Técnicos na Área da Saúde de uma Instituição de Ensino do Oeste Catarinense. Para a seleção das cinco participantes da pesquisa, utilizou-se a técnica de amostragem não probabilística por conveniência, que consiste unicamente na escolha da amostra, a partir dos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos pela pesquisadora. O instrumento utilizado na coleta dos dados foi à técnica do grupo focal, ou seja, entrevista em grupo, com um roteiro de perguntas norteadoras semiestruturadas. As respostas foram gravadas e as informações coletadas transcritas e categorizadas. Aplicou-se análise de conteúdo como método de interpretação dos dados. As falas das participantes trouxeram várias contribuições dentre elas que as pesquisadas sofreram influências externas na nova escolha profissional, vistas pelas participantes como “incentivo”, seja da família, amigos, namorado e colegas de trabalho. Suas próprias influências e motivações internas surgiram na busca do autoconhecimento, dos próprios desejos tais como: reconhecimento, satisfação e recompensa financeira. A escolha por um curso técnico também surgiu como um ponto de extrema relevância para as pesquisadas.A partir dos dados obtidos, constatou-se que no processo de orientação e reorientação profissional, é necessário considerar o contexto biopsicossocial do sujeito que evidencia mudanças físicas, cognitivas e comportamentais. PALAVRAS-CHAVE: reescolha profissional; incentivo; adulto jovem.

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PO38 - REORIENTACAO PROFISSIONAL: ALTERNATIVA PARA REDIRECIONAR ESCOLHAS

Santos APSS 1; Silva LL 1; Franca MD 1. 1 - Universidade do Planalto Catarinense. O mundo atual oferece inúmeras oportunidades de trabalho, de estudos, de cursos, e isto, faz com que se tenham dúvidas referentes à escolha de uma profissão. Frente ao fato de se ter escolhido um curso e ingressado em uma universidade, não significa que se tenham esgotado os conflitos relacionados à escolha profissional, pois durante o percurso acadêmico muitos universitários passam por momentos de insegurança e dúvidas em relação ao curso escolhido. Diante desse contexto, a reorientação profissional pode facilitar ao discente a romper com o antigo curso para ir em busca da profissão que responda às suas reais necessidades. Neste sentido, este estudo buscou compreender a reorientação profissional como uma alternativa que possibilita ao jovem que está insatisfeito com sua escolha de curso a redirecionar a sua opção, bem como discutir os fatores que permeiam a escolha profissional, analisar os momentos em que a reorientação pode ser uma opção de escolha e investigar as perdas que ocorrem no processo de reescolha profissional. Para que estes objetivos fossem alcançados, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em bancos de dados científicos, sendo eles o Portal da Capes e Biblioteca Digital de Tese e Dissertações (Bvs-Psi), Google Acadêmico, Literatura Latino Americana de Ciências de Saúde (Lilacs), Revista de Iniciação Cientifica e Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Foram encontrados dois (02) artigos científicos, sendo um na base de dados do Google Acadêmico e outro na Revista de Iniciação Cientifica, oportunizando constatar que há uma deficiência de material publicado sobre esta temática. Para realizar a análise dos dados pesquisados foram estabelecidas seis (06) Categorias de Análises, tais como: População Alvo; Consequências de Uma Escolha Imprecisa; Enfrentando Obstáculos; A Reorientação no Ensino Superior; Toda Escolha Gera Perdas e Resultados Alcançados. Os resultados obtidos através deste estudo permitiram compreender que as iniciativas propostas aos seus discentes mostraram um comprometimento institucional de modo a facilitar a reavaliação da situação vivida pelo acadêmico, desmistificando que a escolha é única e para toda a vida. PALAVRAS-CHAVE: jovens; ensino superior; reorientação profissional.

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PO39 - REPERCUSSÕES DA APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA TRAJETÓRIA SÓCIO-PROFISSIONAL EM ALUNOS DA DISCIPLINA DE ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL DE UM CURSO DE PSICOLOGIA

Veriguine, NR 1; Pereira, PC 2; Gazola, MC 2; Elias, CJ 3. 1 - Psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia pela UFSC; 2 - Psicóloga formada pela Fameblu/Uniasselvi; 3 - Graduanda de psicologia pela Fameblu/Uniasselvi. Dentro da área da Orientação Profissional é fundamental a discussão sobre a relação que o sujeito estabelece com sua profissão e, consequentemente, como seu trabalho. A escolha profissional vai muito além da escolha de um curso, ela envolve a tomada das várias decisões que a carreira impõe. A disciplina de OP geralmente subsidia teoricamente a atuação nessa área, caso seja essa a escolha do futuro psicólogo. No entanto, poucas vezes, o acadêmico se coloque no lugar do orientando, refletindo sobre sua escolha profissional. Diante dessa realidade, este trabalho tem como objetivo apresentar as repercussões da aplicação da técnica da trajetória sócio-profissional em alunos da disciplina de OP de um curso de Psicologia. A principio, os alunos consideraram tranquila a realização da atividade e muitos se lembraram de tarefas de apresentação, solicitadas pelos professores nas primeiras fases. No entanto, à medida que o processo teve sequencia, alguns alunos se emocionaram profundamente enquanto que outros puderam de fato, observar o seu processo de transformação ao longo do curso: “ao me dar conta que era eu que estava ali, naquelas linhas, naqueles desenhos, olhei para mim mesma”. Ao ver sua trajetória, muitos perceberam quais os reais motivos que os levaram a escolher pelo curso de Psicologia: “Entendi que não se escolhe simplesmente por escolher, há um motivo, há um querer mais forte do que pode se supor”. Outros puderem compreender, a partir de sua própria história, a diferença entre a escolha idealizada do inicio da faculdade e a escolha mais consciente do fim do curso: “Escolhemos nossa profissão baseados na ideia que fazemos das mesmas, e à medida que estas ideias vão sendo desmistificadas, nossa atuação profissional encontra novas definições ou também pode esbarrar em desilusões”. E outros ainda, puderem fazer a escolha do campo de atuação profissional, identificando-se com a prática do orientador profissional: “O que ficou para mim é a certeza de que é com isto que quero trabalhar, quero seguir minha carreira orientando outros jovens.”. Referências: SOARES; SESTREN. A Trajetória sócio-profissional. In: BARROS, et. Al. (Org). Escolha e inserção profissionais. São Paulo: Vetor, 2007. SOARES. As diferentes Abordagens em Orientação Profissional In: LISBOA. SOARES. (Orgs.) Orientação Profissional em Ação. São Paulo: Summus, 2000. VERIGUINE, N. R. Autoconhecimento e informação profissional. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; trajetória sócio-profissional; escolha pelo curso de psicologia.

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Colóquio I - Pensando e vivendo a

orientação profissional para a(s)

juventude(s)

TEMA: A PRIMEIRA ESCOLHA PROFISSIONAL

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POC1 - JOVEM-APRENDIZ: PRIMEIRO EMPREGO E AS PRIMEIRAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS

Borges, RCP. 1 - Universidade Federal de Santa Catarina. A questão da juventude tem emergido como temática expressiva nas últimas décadas. Ao indagarmos o que é juventude, surgem muitas respostas numa abrangência que estende desde concepções do ponto de vista biológico (naturalizantes), até as de caráter mais social, compreendendo estes sujeitos em suas heterogeneidades. Nesta dinamicidade esse é um conceito em permanente transformação, heterogêneo a ser referido em sua pluralidade. De modo quantitativo, os jovens compõem quase 20% da população mundial e sofrem com as elevadas taxas de desemprego juvenil. Diante deste contexto e das mudanças ocorridas nas sociedades globalizadas, são recorrentes e oportunos os estudos voltados para as questões envolvendo a juventude, através de recortes que retratam o desemprego, especificamente, nesse grupo, suas formas de inserção profissional, primeiras escolhas profissionais e as políticas públicas nesse segmento. Assim sendo, esta investigação busco compreender como se dá os sentidos do primeiro emprego a jovens participantes do projeto da Lei da Aprendizagem. Numa abordagem qualitativa o estudo entrevistou nove jovens aprendizes, que também registraram fotografias que significassem seu cotidiano profissional. Por meio da análise dos Núcleos de Significação o resultado do núcleo intitulado: Projetos: eu quero ter outra história de vida, teve como destaque as considerações das primeiras escolhas profissionais e os projetos enunciados pelos jovens participantes. Os sentidos do trabalho proclamados nas falas e nas imagens auto produzidas trazem dialeticamente o trabalho em pólos de positividade, mas também de negatividade. Os pesquisados expressam possíveis escolhas profissionais e/ou suas dúvidas e incertezas da sua trajetória futura. Nota-se que fazem suas escolhas sem a possibilidade de participarem de programas de Orientação Profissional (OP), reiterando ainda um caráter elitista desses projetos que, normalmente, são realizados com jovens oriundos de camadas médias ou altas da população, denotando que os profissionais da OP, devem rever seus modos de trabalho e ampliar suas formas/fontes de atuação profissional. PALAVRAS-CHAVE: juventudes; primeiro emprego; orientação profissional. OBJETIVOS E RELEVÂNCIA:

A questão da juventude tem emergido como temática expressiva nas últimas décadas, seja para o propósito de discutir políticas públicas em diversas esferas sociais, seja para problematizar as temáticas trabalho/emprego para esse grupo, numa amplitude latino-americana. Ao indagarmos o que é juventude, surgem muitas respostas numa abrangência que estende desde concepções do ponto de vista biológico (naturalizantes), até as de caráter mais social, compreendendo estes sujeitos em suas heterogeneidades. Nesta dinamicidade esse é um conceito em permanente transformação, heterogêneo a ser referido em sua pluralidade (León, 2005).

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Neste panorama multifacetado de explicações e diferentes concepções sob a gênese da adolescência e juventude, o marcante é reconhecer o quanto estudos e pesquisas envolvendo os jovens, seus modos de vida, relações com o mercado de trabalho e com a educação, entre outros, vêm aumentando com maior ênfase nas últimas décadas em toda a América Latina (Abramo, 2005; León, 2005; Raitz, 2003; Raitz & Petters, 2008).

Diante do fato de os jovens formarem quase 20% da população mundial, é possível afirmar, como faz Pochmann (2007), que os jovens “tomam a cena atual”, de modo quantitativo no século XXI. O autor destaca o grande número de crianças e adolescentes trabalhando, e considera necessário desacelerar este processo, já que na realidade brasileira para cada dez jovens, sete já iniciaram uma atividade profissional.

Deste modo, são recorrentes e oportunos os estudos voltados para as questões envolvendo a juventude, através de recortes que retratam o desemprego, especificamente, nesse grupo, suas formas de inserção profissional, primeiras escolhas profissionais e as políticas públicas nesse segmento. Julguei, portanto, que diante do meu forte interesse também poderia trilhar esse percurso e contribuir com novos conhecimentos, investigando a construção e atribuição dos sentidos que o trabalho suscita no jovem trabalhador, diante da sua primeira experiência profissional, dentro de uma sociedade de mercado globalizado. Navarro e Padilha (2007), ao comentarem sob o atual mundo do trabalho e suas mutações, entendem a necessidade de buscar novas compreensões e rever os significados e transformações do trabalho, operadas sob a égide do sistema capitalista. Desse modo, por meio de uma dissertação de mestrado1, se propôs a seguinte questão geral: como se dá o processo de construção dos sentidos do trabalho para jovens em suas primeiras experiências profissionais?

Assim, será aqui apresentado um recorte desta pesquisa que teve como pressuposto teórico o referencial do materialismo histórico e dialético, concebendo tal categoria dentro de uma concepção de centralidade. Em seu sentido genérico, o trabalho foi concebido por Marx (1985/1818-1883) como um processo entre o homem e a natureza, ação essa exclusivamente humana, imaginada ou planejada com prévia intencionalidade. Tal processo transformador do homem e da natureza proporciona mudanças em ambos, num determinado tempo histórico.

Segundo Blanch Ribas (2003), o trabalho ao longo da história humana sofre inúmeras concepções e significados de acordo com o momento econômico, político

e cultural ao qual está submetido. Dentro dos diferentes modos de produção2 (a

escravidão, o feudalismo e o capitalismo) nota-se a existência do trabalho perpassando sempre uma relação de dominação/exploração, cada vez mais acentuada neste último.

No entender de G. Alves (2005), as mudanças ocorridas nos séculos XIX e XX, com a mundialização do capital, geraram um novo e precário mercado de trabalho. Além disso, um inovador contexto sócio-histórico para todos os

1 Dissertação de Mestrado defendida em 2010 pela autora no Programa de Pós-Graduação em

Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina intitulada: Jovem-Aprendiz: os sentidos do trabalho expressos na primeira experiência profissional. 2 De acordo com Netto e Braz (2008) os modos de produção são uma articulação entre as forças

produtivas e as relações de produção, sendo modificados ao longo da evolução humana e do desenvolvimento histórico-social, com peculiaridades distintas em cada época.

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trabalhadores, promovendo metamorfoses nos processos laborais, no sentido objetivo, quanto no subjetivo.

A concepção de juventude teve como orientação teórico-metodológica a abordagem da psicologia sócio-histórica. Desse modo, a compreensão da adolescência como etapa natural e inerente ao desenvolvimento humano é contestada; a abordagem sócio-histórica, na qual “o jovem não é algo por natureza” (Aguiar, Bock & Ozella, 2007, p.168), é corroborada nesta pesquisa.

Desta maneira, os sentidos do trabalho nesta pesquisa foram narrados através da experiência do primeiro emprego dos sujeitos participantes, por meio da

Lei da Aprendizagem. Guimarães (2005), ao analisar uma das etapas da pesquisa

intitulada Perfil da Juventude Brasileira3, foi buscar o sentido atribuído pelo jovem ao

trabalho. A autora verificou que, longe de apresentar um sentido uniforme, o trabalho traz uma gama de múltiplos sentidos/significados.

Nos últimos dez anos, tornou-se consensual que discussões/ações envolvendo as temáticas juventude e políticas públicas despontassem na realidade brasileira, tendo ainda como pressupostos iniciativas focalizadas e motivos emergenciais (Sposito & Carrano, 2003; Branco, 2005; Carvalho, 2006; IPEA, 2008). Contextualizando os programas e projetos públicos federais, Sposito e Carrano (2003) identificaram que além de recentes, os mesmos ainda apresentam “incipiente institucionalização e fragmentação”(p. 30).

Dentre os programas voltados à inserção de jovens no mercado de trabalho

encontra-se o Jovem Aprendiz, que faz parte da Lei da Aprendizagem4. De acordo

com Branco (2005), esta é uma das políticas públicas voltadas a minimizar o cenário desfavorável e reduzir os impactos sobre a procura de trabalho na juventude.

O lócus desta pesquisa foi uma instituição mantenedora de projetos sociais, dentre eles o Programa Jovem Trabalhador (PJT), conveniada com empresas da Grande Florianópolis, para encaminhamento de jovens, na condição de jovem aprendiz, por meio da Lei da Aprendizagem. Neste contexto, foram entrevistados nove jovens na condição de aprendizes inseridos no mercado de trabalho.

MÉTODO: A ESCOLHA DE UM CAMINHO

Utilizando como questionamento analisar os sentidos atribuídos ao trabalho por jovens na sua primeira experiência profissional esta investigação, caracterizada por uma abordagem qualitativa, trabalhou com os processos de significação produzidos pelos jovens aprendizes em sua primeira experiência profissional, ou seja, “olhou” os participantes em suas realidades sociais (Minayo, 2007).

Através das palavras/signos, ou seja, através da linguagem, é possível compreender a constituição da subjetividade, pois na fala dos sujeitos muito além de meras respostas, estão expressas significações cognitivas, afetivas e volitivas estabelecidas num processo social e histórico e, portanto, reveladores dos sentidos (Aguiar, 2007). Desta forma, a entrevista foi utilizada como instrumento principal, e

3 A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira de 2004, desenvolvida pelo Projeto Juventude/Instituto

Cidadania, com a parceria do Instituto de Hospitalidade e do Sebrae, foi um estudo realizado em áreas urbanas e rurais de todo o Brasil, com jovens de 15 a 24 anos, de todos os segmentos sociais. Os dados foram colhidos em novembro e dezembro de 2003. 4 Promulgada em 19 de dezembro de 2000 e regularmentada pelo Decreto nº. 5.598/2005, a Lei da

aprendizagem 4estabeleceu que todas as empresas de médio e grande porte estão obrigadas a

contratar adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, na condição jovem aprendiz.

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realizada a partir de um roteiro norteador, organizado em informações pessoais e familiares, sobre o primeiro emprego e a vida cotidiana, e seu futuro.

A fotografia, utilizada como instrumento complementar, foi concebida pela função autofotográfica, ou seja, cada sujeito produziu suas próprias fotografias. Assim, foram convidados a produzir, no mínimo seis e no máximo doze fotos, registrando cenas do seu cotidiano de trabalho. Corroboro com a opinião de Maheirie, Boeing e Pinto (2005, p. 215), quando consideram que “a fotografia é um recurso de conhecimento em marcante crescimento, expansão e importância”.

Tendo como pressuposto teórico a abordagem sócio-histórica, a análise dos dados foi realizada através dos Núcleos de Significação, conforme preconizados e utilizados por Aguiar e Ozella (2006). Deste modo, buscou-se conhecer a constituição do sujeito em sua processualidade histórico-dialética, na qual os sentidos e os significados são produzidos por complexas relações na sua trajetória. Dentre os resultados será aqui destacado e comentado o núcleo de significação intitulado: Projetos: eu quero ter outra história de vida. DISCUSSÕES E RESULTADOS: OS PROJETOS PROFISSIONAIS DOS JOVENS APRENDIZES

O núcleo: Projetos: eu quero ter outra história de vida, teve como destaque as considerações das primeiras escolhas profissionais e os projetos enunciados pelos jovens entrevistados, considerando uma temporalidade iniciada com as brincadeiras de criança, que numa construção histórica já ficam vinculados ao futuro profissional.

Soares (2002) aponta que a dimensão temporal da escolha é composta pelas influências da infância, fatos marcantes da vida presente e pela definição de um estilo de vida futuro. O projeto de futuro, de acordo com Bock e Liebesny (2003), é uma construção contínua, pertinente ao grupo social no qual o sujeito está inserido e, embora tenha referências a um porvir, tem seu feitio pautado nas relações passadas e presentes.

Desta forma, retomei o passado infantil de cada sujeito e suas relações do brincar com possíveis profissões/ocupações. O “ser quando crescer” aparece cedo nas nossas vidas, primeiramente pelo núcleo familiar e, posteriormente, por fatores sociais, educacionais e econômicos, com o avançar etário. As identificações com algumas pessoas ou profissionais próximos ao universo infantil, possivelmente, serão presentes nas suas brincadeiras e algumas escolhas podem persistir até a adolescência e/ou idade adulta, outras não (Lisboa, 1997; Soares, 2002), conforme podemos observar nas falas abaixo:

Eu gosto, eu penso que eu queria ser veterinária né, por que minha mãe também trabalhava numa clinica de faxina e eu ficava lá com o patrão dela, vendo ele fazer parto de cachorro (Viviana - sua mãe trabalhava como faxineira numa clínica veterinária). Brincava de bombeiro. Eu sempre falava pro meu pai quando eu crescer eu vou ser bombeiro. Tinha muitos amigos que eram bombeiros, mais velhos (Júnior).

Natividade (2007), ao pesquisar os sentidos do trabalho atribuídos por crianças, confirmou a influência familiar nesta constituição, ainda que, por vezes, pautada em informações restritas sobre as profissões. Assim, para a autora “os sentidos do trabalho não se constituem em um momento preciso da vida do sujeito, mas sim, são construídos dialeticamente ao longo de sua vida, a partir das relações que estabelece com a realidade” (p. 82). “A escolha profissional não é algo que acontece de instante para outro na vida das pessoas. Ela parte de todo um processo de crescimento e reflexão pessoal” (Soares, 2002 p. 92), sendo também influenciada

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por fatores sociais, econômicos, educacionais, além dos familiares, conforme podemos constatar nas falas abaixo:

Eu queria ser enfermeira ou médica, mas médica acho que não é pra mim... ver sangue, gente machucada, não é pra mim...e também enfermeira porque eu cuidava do meu bisavô, ele dizia que eu tinha jeito de enfermeira, mas não é pra mim não (Patrícia).

Do mesmo modo, entendo que o processo de escolha profissional também não é uma ação linear e se dá igualmente através das relações objetivo-subjetivas num “processo de crescimento e reflexão pessoal” (Soares, 2002, p. 92). Os jovens participantes foram elaborando, em suas falas, suas escolhas profissionais, ou suas pretensões de escolha, como também suas dúvidas e questionamentos entre uma não-escolha. Cabe destacar que os sujeitos pesquisados, seguindo a opinião de Ribeiro (2003), encontram-se excluídos das camadas socioeconômicas que, frequentemente, têm acesso aos modelos de Orientação Profissional (OP), sendo esta mais utilizada, na realidade brasileira, com as camadas médias e altas. Concordo com Lisboa (2000) e Ribeiro (2003) ao afirmarem que há uma necessidade de ampliação do foco da OP, deixando esta de ser unicamente de escolha para um curso universitário, mas, uma oportunidade de viabilizar habilidades alternativas na elaboração de projetos e outras probabilidades de carreiras, não necessariamente universitárias, atuando nas diversas realidades sociais.

A articulação escolha profissional e projeto possibilita ao sujeito estabelecer sua futura trajetória produtiva com o mundo (Coutinho, 1993). A idéia de projeto aqui apresentada segue a compreensão de Soares (1996), de construir um futuro desejado e esperado, numa dada temporalidade.

Nesses projetos a continuidade do trabalho/emprego em suas vidas foi recorrente, dados consonantes com os encontrados por Graf & Diogo (2009) em jovens que vivenciavam também um momento de escolha profissional. Na pesquisa aqui relatada foram acrescidos, além disso, desejos e aspirações de uma história de vida resignificada em relação à vivida pelos próprios pais.

Segundo Soares (2002), encontram-se ou desencontram-se, dialeticamente, os projetos dos pais e os projetos dos filhos. Os projetos dos pais, normalmente contraditórios entre si, vislumbram tanto uma perpetuação histórica familiar, como também que os filhos tenham sua própria vida, outra história mais individualizada. Ainda podem ser conflitantes diante de diferentes expectativas entre os projetos paternos e os maternos. Os relatos de Cristina e Giovana trazem certa “oposição”, um desejo de resignificação em relação ao passado familiar:

não pai, meu futuro, eu não quero ter este futuro que você teve, eu quero ter outra história de vida, porque eu não nasci pra ser empregada (Cristina). Então, eu tenho muito interesse em conhecer o mundo, acho que eu não quero ficar presa aqui na ilha como meus pais, meus avós.. eu acho que tem muita coisa pelo mundo que a gente tem que conhecer (Giovana).

“O que vai existir sempre é uma escolha possível, dentro de determinadas possibilidades e contingências” (Soares, 2002, p. 95). De acordo com Maheirie & Pretto (2007) o projeto não é um acontecimento inesperado, ele ocorre no plano do vivido em significações que são históricas, dialéticas e não excludentes.

Os projetos manifestados pelos jovens trouxeram a importância do estudo/educação, ou através do curso superior ou de especializações, como uma necessidade contínua. Identifiquei que as locuções faziam uma vinculação entre o nível de escolaridade, as futuras chances de inserção e suas expectativas de um possível sucesso profissional no mercado de trabalho. Ao questionar esse tipo de discurso, Sposito (2005), contrariamente a essa ideia, aponta uma relação não

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linear: nem mesmo com maior nível de escolaridade, a população juvenil fica excluída da “faixa” de difíceis oportunidades para sua inserção profissional. Ainda, deve ser ressaltado que, na contemporaneidade, nos deparamos com um mercado de trabalho extremamente heterogêneo e sem garantias de continuidade para toda a vida. Entretanto, no discurso dos jovens entrevistados, o estudo aparece como uma garantia de futuro:

Eu imagino que eu queria ser uma executiva... aí eu pretendo terminar os estudos sem parar (fala com ênfase)... já começar a fazer já alguma coisa, curso técnico, uma faculdade, depois uma pós-graduação, doutorado estas coisas todas (Carla). E daí eu sei que tenho que fazer vestibular, fazer advocacia, fazer promotoria, pra ti chegar lá, tem que escolher todo um caminho...eu vou estudar minha vida toda (Adriele).

Nas narrativas dos projetos, um fato constante, já acima comentado, foi o de terem sempre um trabalho, ao longo de suas vidas. Nessas expressões havia conotações emocionais, ou seja, o trabalho como lugar e/ou possibilidade de serem felizes. No entender de Maheirie (2002), as emoções têm significações próprias e se situam num “horizonte de uma racionalidade histórico e socialmente construída” (p. 38). Cada um desses sujeitos tem uma história singular mediada num contexto, além de histórico, social e político. Surgem, portanto, diferentes desejos, motivos e/os objetos afetivos que, num movimento inacabado, vão entrelaçando e concedendo importância ao trabalho a partir da primeira experiência profissional. Guimarães (2005), a partir de dados da pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, considera que a temática trabalho é um assunto de interesse para jovens que já atuam no mercado profissional e para os que pretendem ingressar. Continua a autora a compreender que há uma centralidade, um valor laboral, uma pluralidade de significados. Notemos os comentários:

É terminar meus estudos, fazer faculdade e ficar trabalhando (Patrícia). Eu quero fazer uma faculdade de Pedagogia e trabalhar com criança e mais pra frente fazer queria fazer uma faculdade de Fonoaudiologia. Porque eu gosto de criança, eu acho elas a coisa mais verdadeira do mundo (Camile).

CONCLUSÕES O objetivo desta pesquisa foi compreender quais os sentidos do trabalho em sua primeira experiência para jovens participantes do Programa Jovem Aprendiz. Os sentidos do trabalho proclamados nas falas trazem dialeticamente o trabalho em pólos de positividade, mas também de negatividade. Os jovens, estatisticamente, são apontados como um dos grupos mais vulneráveis para ingressarem no mercado de trabalho. No grupo pesquisado, partem em busca do primeiro emprego, quase que majoritariamente, por sua iniciativa própria. São movidos a buscarem experiência, uma espécie de “passaporte facilitador” para seu futuro profissional, prioritariamente, “perseguindo” uma atividade empregatícia com vínculo formal. Diante desta conquista vislumbram ter sua própria remuneração, sendo frequentes alusões a questões consumistas. Os pesquisados expressam possíveis escolhas profissionais e/ou suas dúvidas e incertezas sobre sua trajetória futura. Nota-se que fazem suas escolhas sem a possibilidade de participarem de programas de Orientação Profissional, reiterando ainda um caráter elitista desses projetos que, normalmente, são realizados com jovens oriundos de camadas médias ou altas da população. Assim sendo, cabe a nós, enquanto profissionais da Psicologia, a ampliação dessa realidade e discussões que tragam tal temática a um cenário de destaque e mudanças/questionamentos na atuação profissional. Além disso, observei que há o

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cerceamento do valor de uso e uma predominância do valor de troca, reafirmando hábitos culturalmente produzidos e reproduzidos nas sociedades capitalistas. Os sentidos do trabalho são associados a ter um salário, em prejuízo ao ser trabalhador, considerações estas que também podem ser discutidas dentro de um Programa de Orientação Profissional.

No coletivo pesquisado alguns vivem em conformidade com sua história de vida, outros contrariamente, buscam resignificações, fatores que reiteram, conforme a concepção sócio-histórica, que os projetos são construções dialéticas, singulares e não hegemônicos. Considerando a abordagem qualitativa e sócio-histórica utilizada, os resultados desta pesquisa são compreendidos em seu caráter único, singular; mas sendo também de ordem constitutiva dos processos vivenciados trazem contribuições que poderão ser generalizadas pela capacidade explicativa alcançada de mediações de uma dada realidade concreta e, então, somadas aos estudos das juventudes/adolescências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abramo, H. W. (2005). Condição juvenil no Brasil contemporâneo. In H. W. Abramo & P. P. M. Branco (Orgs.), Retratos da juventude brasileira (pp. 37-72). São Paulo: Fundação Perseu Abramo. Aguiar, W. M. J. (2007). A pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica: Contribuições para o debate metodológico. In A. M. B. Bock, M. G. M. Gonçalves & O. Furtado (Orgs.), Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia (pp. 129-140). (3a ed.). São Paulo: Cortez Aguiar, W. M. J., Bock, A. M. M. & Ozella, S. (2007). A orientação profissional com adolescentes: um exemplo de prática na abordagem sócio-histórica. In A. M. B. Bock, M. G. M. Gonçalves & O. Furtado (Orgs.), Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia (p. 163-178). (3a ed.). São Paulo: Cortez. Aguiar, W. M. J. & Ozella, S. (2006). Núcleos de significação como instrumento para a apreensão da constituição dos sentidos. Psicologia Ciência e Profissão, 26 (2), 222-245. Alves, G. (2005). O Novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo Bock, A. M. B. & Liebesny, B. (2003). Quem eu quero ser quando crescer: um estudo sobre o projeto de vida de jovens em São Paulo. In S. Ozella (Org.), Adolescências construídas: a visão da psicologia sócio-histórica (pp. 203-222). São Paulo: Cortez. Borges, R. C. P. (2010). Jovem-aprendiz: Os sentidos do trabalho expressos na primeira experiência profissional. Dissertação de mestrado em Psicologia. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. Branco, P. P. M. (2005). Juventude e trabalho: desafios e perspectivas para as políticas públicas. In H. W. Abramo, & P. P. M. Branco, (Orgs.), Retratos da juventude brasileira (pp. 129-148). São Paulo: Fundação Perseu Abramo. Carvalho, G. C. A. (2006). Juventude e políticas públicas: dos impasses às necessidades práticas. In K. S. L. Matos, S. J. H. C. Adad, & M. D. M. Ferreira (Orgs.), Jovens e Crianças: outras imagens (pp. 62- 74). Fortaleza: Edições UFC Coutinho, M. C. (1993). Subjetividade e trabalho. In D. H. P. S. Lucchiari (Org.), Pensando e vivendo a orientação profissional (pp. 117-122). (5a ed.). São Paulo: Summus.

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POC2 - O CURSO PRÉ-VESTIBULAR DA UFSC COMO OPORTUNIDADE ESCOLAR PARA O INGRESSO EM CURSOS DE MAIOR DEMANDA

Martins FS 1; Lisboa MD 2. 1 - Universidade Federal de Santa Catarina; 2 - Universidade do Planalto Catarinense. O presente estudo apresenta resultados de pesquisa realizada junto a jovens egressos do Curso Pré-Vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina, ingressos em cursos superiores de maior demanda, a saber, Direito, Engenharias e Medicina, nesta universidade, por meio do “dispositivo meritocrático” vestibular. A pesquisa apresentada inspira-se em um movimento das investigações sociológicas, nas quais as análises voltam-se para o perfil socioeconômico dos estudantes que frequentam as universidades públicas brasileiras, pertencentes às classes sociais desfavorecidas. Esta abordagem encontra justificativa no fato de que apesar da expansão sofrida pela Educação Superior nas últimas décadas no Brasil, que vem possibilitando a um número maior desses jovens que ingressem nesse nível de ensino, estes grupos representam, ainda, um baixo volume destes estudantes e, sobretudo, em cursos de alta procura, evidenciando as desigualdades educacionais face à diferenciação e hierarquização entre o poder socioeconômico a as carreiras universitárias. São muitas as dificuldades encontradas na tentativa de romper com este modelo historicamente construído, no qual a pobreza e a escolaridade de curta duração se constituem em sinônimos. Neste sentido, ainda pairam sobre o imaginário social a ideia de que o acesso ao ensino superior está intimamente ligado à melhores condições de empregabilidade e, consequentemente à mobilidade social. A partir dos relatos dos nove jovens, matéria prima deste estudo, foi possível realizar análise das trajetórias escolares intentando identificar os significados do prolongamento da escolarização e as “causas do improvável”. Isto porque os dados evidenciam um conjunto de condições capazes de explicar os percursos inesperados de longevidade escolar nas camadas menos favorecidas socioeconomicamente. PALAVRAS-CHAVE: acesso à educação superior; pré-vestibular da UFSC; trajetórias improváveis. INTRODUÇÃO

A educação superior pública brasileira conquistou um espaço de discussão amplo, permeando os debates relacionados ao desenvolvimento do País. Isto porque, apesar de sua importância na implementação das políticas governamentais das últimas décadas, este nível de ensino se caracteriza, sobretudo, pela seletividade e desigualdade de seu acesso. Mesmo não se podendo negligenciar o crescimento da educação superior no Brasil, o contingente de jovens entre 18 e 24

anos, que cursavam o ensino superior em 2011, era de 14,6% (BRASIL - INEP5,

1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Catarina, com habitação em

Orientação Educacional Mestranda na linha de Sociologia e História da Educação do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista ANPEd/IPEA – Florianópolis/SC – Brasil. E-mail: [email protected]. Atua como Orientadora Educacional.

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2012b); ademais, apenas 7,9% da população brasileira possuía formação educacional de nível superior (BRASIL - IBGE, 2010). Chamam a atenção as análises realizadas sobre o perfil socioeconômico dos estudantes que frequentam as universidades públicas brasileiras, uma vez que determinados setores - populares, pobres e negros - representam um pequeno percentual, evidenciando as desigualdades educacionais face à diferenciação e à hierarquização entre as carreiras universitárias (ZAGO, 2006).

Nesse sentido, a busca por ensino de nível superior, concretizada pelo acesso à universidade, faz-se cada vez mais importante no contexto contemporâneo. É crescente o contingente de jovens, homens e mulheres, que pretendem uma qualificação pessoal e profissional que lhes garanta uma vida cidadã, que propicie melhores chances quanto ao ingresso e à permanência no mundo do trabalho. Observa-se que os jovens brasileiros pertencentes às classes sociais mais favorecidas socioeconomicamente e culturalmente, os estudantes de escolas particulares, constituem a maioria dos que ingressam nas universidades,

vencendo a seleção acirrada do “dispositivo meritocrático”6 vestibular e também

obtendo uma boa classificação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Na realidade, são raros os alunos pertencentes ao sistema público de ensino, os de classes sociais de baixa renda, que conseguem ter acesso ao ensino superior, sobretudo aos cursos seletos.

No que concerne aos cursos de maior prestígio acadêmico, profissional e social, Direito, Engenharias e Medicina, poucas vagas, ainda, são ocupadas por jovens dos meios populares. A alta seletividade dos referidos cursos são medidas tanto pela relação candidato/vaga, quanto pelas notas de corte, que são superiores às alcançadas nos demais cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Historicamente, o ingresso nos cursos de Direito, Engenharias e Medicina é mais provável às classes favorecidas socioeconomicamente. Segundo Bourdieu (1998), essa corrente acontece devido à rentabilidade do capital cultural nos processos de escolarização. As diferentes bagagens sociais e culturais são herdadas de suas famílias pelos estudantes e são mais ou menos rentáveis no mercado escolar, figurando uma relação direta entre o capital cultural acumulado

2 Psicóloga (PUCRS); orientadora profissional; mestre e doutora em Psicologia Social (PUCSP); pós-

doutora com pesquisa sobre juventude e desemprego (UNESP com subsídio FAPESP); Pós-doutora em Educação (UFSC com subsídio REUNI); professora do Mestrado em Educação da UNIPLAC; fundadora e membro do Instituto do Ser – Orientação Profissional e de Carreira – Florianópolis-SC. 5 O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia

federal. Foi criado em 13 de janeiro de 1937. Inicialmente era chamado de Instituto Nacional de Pedagogia; no ano seguinte, iniciou os trabalhos com a publicação do Decreto-lei n° 580, que regulamentou sua estrutura. Ligado ao Ministério da Educação, realiza estudos, pesquisas e avaliações sobre o sistema educacional. O material produzido por meio de seus estudos serve de subsídio para que os agentes do governo elaborem e apliquem políticas públicas na área da educação. Os dados que constam em seus estudos são obtidos pelas provas e programas nacionais que abrangem todos os níveis educacionais, como, por exemplo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). 6 Para melhor conhecimento sobre a questão do vestibular como “dispositivo meritocrático” ver a

dissertação de Sato, Silvana Rodrigues de Souza, intitulada: Concurso Vestibular: um dispositivo meritocrático de seleção para ingressar na Universidade Federal de Santa Catarina defendida em 2011 e disponível em <http://www.tede.ufsc.br/teses/PEED0888-D.pdf>.

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pela família e o desempenho escolar dos filhos. Sendo os estudantes dos cursos de maior demanda historicamente considerados herdeiros (BOURDIEU, 1998).

Nos últimos anos, os estudos têm levantado algumas razões para a desigualdade frente ao acesso à universidade pública, as quais, vale destacar:

ineficiência e ineficácia da escola pública brasileira7, que não lhes confere os

conhecimentos exigidos pelo exame vestibular necessários à sua aprovação, ou mesmo para frequentarem com base efetiva de conhecimento o ensino superior mesmo que privado; necessidade de manutenção econômica, que garanta o próprio sustento e em muitos casos da família desses jovens, o que os obriga a ingressarem

no mundo do trabalho precocemente e, como consequência, a se evadirem8 da

escola ou estudarem com maior limitação de tempo e aproveitamento. Tendo em vista o fosso existente entre a escola pública e a universidade

pública, e consequentemente a concorrência acirrada quanto ao ingresso às universidades brasileiras, cabe assinalar a importância da frequência dos candidatos à uma vaga nas universidades aos cursos pré-vestibulares, sendo eles em maioria alunos de escolas particulares.

No âmbito da educação superior constituiu-se ao longo dos anos um circulo vicioso, no qual a pobreza e a escolaridade de curta duração são sinônimas. Entretanto, é crescente o número de jovens das classes desfavorecidas socioeconomicamente que conseguem transpor as barreiras impostas pelo “dispositivo meritocrático” vestibular e chegar às portas da universidade pública. De outro modo, superam as condições que os cercam desde o seu nascimento alcançando o êxito escolar mesmo com condições adversas à escolarização. O olhar interessado lança-se sobre a presença dos referidos jovens nos cursos seletos, uma vez que a desigualdade social e educacional evidencia-se nos cursos frequentados, reforçando, frente ao crescente acesso desses estudantes a esse nível de ensino, que a desigualdade está colocada sobre os cursos os quais conseguem acessar (FERRARO, 2004).

O estudo ora proposto realiza analise de trajetórias9 escolares de jovens

egressos do curso Pré-vestibular da UFSC - Inclusão para a vida10 que ingressaram

em cursos de graduação de maior demanda na UFSC, a saber, Direito, Engenharias e Medicina. As trajetórias aqui analisadas, que superam as condições socioeconômicas e culturais pré-estabelecidas, são apontadas pelos estudos

7 Temos ciência que esta é uma questão complexa e que é temerário fazer afirmações desse teor

sem entrar no mérito do problema apontado. Contudo, devido à limitação de tempo e de espaço, esta discussão não será objeto de nossas preocupações neste momento. Apenas alertamos que temos presente que é um assunto polêmico e que mereceria tratamento cuidadoso para não sucumbir a estereótipos e polarizações. 8 Durante décadas os estudos de cunho sociológico cujo objeto de estudo era escolarização nas

camadas populares empreendiam esforços sobre a evasão e reprovação escolar, elementos entendidos como fracasso escolar. 9 Entende-se por trajetória, na presente pesquisa, a “relação permanente e recíproca entre biografia e

contexto, [sendo] a mudança decorrente precisamente da soma infinita destas inter-relações” (LEVI, 1996, p. 180). 10

O título do projeto “Pré-vestibular da Ufsc – Inclusão para a vida” foi criado para expressar a

perspectiva de seu coordenador, Otávio Auler, que pensa ser importante expressar no nome do projeto seu caráter de inclusão, pois, segundo ele, os jovens que frequentam o pré-vestibular da UFSC têm a possibilidade de mudar seu destino social.

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sociológicos como trajetórias escolares “improváveis” (LAHIRE, 1997) e “trajetórias excepcionais” (ZAGO, 2006). RECORTE METODOLÓGICO E SUJEITOS DA PESQUISA

As análises ora realizadas centram-se nas trajetórias escolares de estudantes dos meios populares, egressos do Curso Pré-vestibular da UFSC, que ingressaram em cursos de maior demanda na UFSC. O objetivo circunda a relevância do Curso Pré-vestibular da UFSC para o ingresso na universidade e consequentemente à aquisição do título escolar, bem como o significado do sucesso escolar, de “contrariar seu destino social”. Para tanto, optamos por um viés essencialmente de cunho qualitativo.

O instrumento de pesquisa utilizado para coletar os dados, entrevistas semi-estruturadas, os quais assumem a condição de matéria prima deste estudo na tentativa de desvelar o papel do Curso Pré-vestibular da UFSC na busca por uma vaga em um curso seleto na UFSC. Nos termos de Lahire (1997) estamos investigando se o referido Curso se constitui como umas das “razões do improvável”.

Para analisar os dados coletados utilizamos como método a análise de conteúdo, proposta por Bardin (1977) sendo os achados agrupados em categorias.

Integram essa análise, nove jovens ingressos nos cursos de Direito, Engenharia e Medicina na UFSC entre os anos de 2010 e 2012. Objetivando preservar a identidade dos sujeitos pesquisados os nomes verdadeiros não foram utilizados, mas, sim, foi adotado o nome do curso, seguido do número que compõe a ordem da concessão da entrevista, a título de exemplo: o primeiro estudante a ser entrevistado que cursa Medicina – “Medicina 1”.

O CURSO PRÉ-VESTIBULAR DA UFSC: BREVE HISTÓRICO

A fim de caracterizar o locus de desenvolvimento da pesquisa e situar os relatos construídos pelos estudantes, sujeitos deste estudo, apresentaremos um breve histórico do Curso Pré-vestibular da UFSC. A escolha do Curso Pré-vestibular da UFSC deveu-se as características gerais e abrangência estadual do mesmo.

O programa Pré-vestibular da UFSC – Inclusão para a vida -, idealizado por seu coordenador, Otávio Auler, e fundado em 2003, oferecido pela Pró-Reitoria de Extensão em parceria com a Secretaria de Estado da Educação (SED), visa à inclusão de jovens e adultos das classes populares na universidade pública. O projeto nasceu com duas turmas de 60 alunos, selecionados entre os 2.700 estudantes contemplados com a isenção da taxa de inscrição no vestibular da UFSC. Vale assinalar que o benefício da isenção é dado mediante a comprovação da baixa renda familiar. No referido ano, 14% dos matriculados (12% na UFSC e 2% na Udesc) conseguiram ingressar na graduação.

Ao longo dos anos, esse projeto foi modificando a forma de seleção de seus

estudantes, sendo feita atualmente por meio de um cadastro socioeconômico11, que

possibilita conceder a vaga aos jovens com menor renda familiar e que comprovem uma maior vulnerabilidade social. No ano de 2011, o pré-vestibular da UFSC

11

Para melhor compreender o cadastro socioeconômico utilizado pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UFSC – PRAE, pode-se acessar: <www.prae.ufsc.br/arquivos/Cadastro_socio_economico_servico_social.doc>

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alcançou o índice de 58% de aprovação em universidades públicas do estado12.

Assim, a cada dois alunos oriundos de escolas públicas aprovados na UFSC, um cursou o pré-vestibular.

Este projeto de inclusão social atende como vimos, a estudantes que não dispõem de recursos financeiros para frequentar cursos preparatórios para vestibulares de universidades públicas. Até 2008, o cursinho restringiu-se ao Campus da UFSC em Florianópolis; em meados do ano, porém, expandiu-se graças à implantação da primeira unidade externa a Florianópolis. Em abril de 2009, firmou uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina (SED), com o propósito de abranger estudantes de outros municípios do estado. Com tal parceria, o curso passou a denominar-se Pré-vestibular da UFSC/SED. Dos 2.500 alunos atendidos em 2009, mais da metade obteve aprovação em universidades públicas.

A expansão do pré-vestibular estendeu-se, em 2010, a um total de 19 cidades catarinenses. A aprovação no referido ano chegou a 64%. Contudo, foi em 2011 que ocorreu a maior expansão do projeto: 31 unidades em 29 cidades, com um total de 3.100 alunos inscritos e um índice de aprovação de 72% em vestibulares de instituições públicas de ensino superior. Em 2012, o Pré-vestibular da UFSC atendeu a 3.200 alunos em 29 cidades e conta com 30 unidades de ensino, envolvendo 120 professores, 30 bolsistas, 30 assessores pedagógicos e 10 outros profissionais na coordenação geral e suporte administrativo. O curso oferece gratuitamente aulas, apostilas e materiais didáticos, aulões, aulas de reforço, além de suporte profissional de apoio pedagógico. Esta é uma iniciativa que vem consolidando-se como o curso pré-vestibular público e gratuito que mais aprova estudantes das camadas populares no Brasil. O CURSO PRÉ-VESTIBULAR DA UFSC COMO OPORTUNIDADE ESCOLAR PARA JOVENS DOS MEIOS POPULARES

Buscando desvelar o significado e o lugar que ocupa o Curso Pré-vestibular da UFSC na caminhada rumo à universidade pública vem sendo realizados estudos pela autora (MARTINS e CAMPOS, 2011) com os sujeitos da presente pesquisa, neles são descritas as percepções sobre a importância do referido Curso, que para a quase totalidade dos estudantes é considerado como determinante ao ingresso na universidade.

No que concerne à escolha pelo Curso Pré-vestibular da UFSC foi realizada, segundo os entrevistados, por questões ligadas ao fato de ser gratuito, uma vez que não teriam possibilidades de custear um Curso Pré-vestibular privado. Outro aspecto importante reside na qualidade do curso visto estar funcionando em parceria com uma universidade pública federal prestigiada, o que lhe dá, a princípio, credibilidade.

Vale lembrar que as aulas do Pré-vestibular ministradas na unidade localizada no campus da UFSC acontecem no mesmo espaço físico em que são ministradas, diurnamente, as aulas para o curso de Medicina. Inevitavelmente faz-se a reflexão acerca da mística que este lugar possui enquanto espaço dos “favoritos” ou privilegiados. O fato desses jovens adentrarem às portas da universidade pública e em seus bancos escolares sentarem, mesmo que não na posição de universitários,

12

São consideradas pelo Pré-vestibular da UFSC a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade do Estado de Santa Catarina e o Instituto Federal de Santa Catarina.

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transcende-os para um mundo que não os pertence, ou pelo menos não pertencia até aquele momento.

Dentre os jovens oriundos dos meios populares que ingressam na UFSC, um contingente bastante significativo se constitui como o primeiro sujeito do seu grupo familiar a frequentar a educação superior. Nesse sentido, o olhar interassado lança-se sobre os dados analisados, que evidenciam um conjunto de condições capazes de explicar os percursos inesperados de longevidade escolar dos jovens pesquisados. De outro modo, buscou-se desvelar as “razões do improvável”.

Em seus relatos, os entrevistados destacam os fatores considerados como determinantes para o ingresso no ensino superior, os quais: a preparação por meio dos estudos terem frequentado o Curso Pré-vestibular da UFSC; esforço próprio, entendido como uma díade: mérito e igualdade de oportunidades; o compromisso, capacidade empática e o apoio dos professores; contarem com o apoio da família.

Considerando os limites, temporal e espacial, impostos pelo trabalho ora proposto interessa-nos tomar para análise mais pormenorizada um dos elementos pelos entrevistados destacado como determinante ao ingresso na educação superior e, sobretudo, em um curso seleto. Para tanto, faz-se necessário diligenciar as motivações que levaram esses estudantes a procurar o Curso Pré-vestibular da UFSC.

A relação causa e consequência deflagra-se no momento em que começamos a constituir as trajetórias escolares aqui analisadas. Uma das motivações que levaram os entrevistados a procurarem uma formação complementar que os preparasse para o exame vestibular centra-se na formação oferecida pela educação básica. Os relatos dos entrevistados que frequentaram escolas por eles consideradas e legitimadas pelo sistema de avaliação do MEC como de qualidade superior evidenciam uma contribuição na preparação para o vestibular. Entretanto, fica claro que estas não propiciam os conhecimentos necessários para a aprovação no vestibular, tanto que se fez necessária a busca pelo Curso Pré-vestibular da UFSC. As falas dos estudantes demonstram: “A preparação além de tudo, desde o Colégio Militar que também é muito bom”. (“Engenharia 1”)

Sempre estudei em colégio na área central e sempre foi um ensino de qualidade. Apesar de ser uma escola pública os professores dessa escola estavam ali há muito tempo, então eram professores com dez, quinze anos de casa, formados em federais. Então eu acho que foi um diferencial também, ter uma escola pública com qualidade, tinham as dificuldades é claro, que são inerentes, mas foi relativamente bom o ensino médio e ensino fundamental em colégio público. (“Medicina 1”) Eu conheci mais (a universidade) pela escola mesmo né, conversando com os colegas e tal, alguns queriam fazer o curso. Mas começou a se tornar plausível mesmo essa possibilidade na passagem de 2008 para 2009, que foi quando eu mudei para o Colégio de Aplicação. Era fevereiro ou março de 2009 e eu nem conhecia o Aplicação e, do nada, eu vi que estavam abertas as inscrições e daí me inscrevi. Aí eu já estava inserido na universidade e comecei a ver o pessoal e conhecer, e foi nesse ano que eu conheci de verdade a UFSC e vi que dava para entrar tranquilo, que o ambiente era legal e que valia a pena. Foi por estar inserido em um colégio que está dentro da universidade que eu realmente percebi que dava para fazer. (“Medicina 2”)

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A frequência ao Curso Pré-vestibular da UFSC é apontada como fator determinante para o ingresso ao ensino superior, uma vez que foram considerados vários aspectos. Dentre eles, a possibilidade de retomar os conhecimentos por defasagem dos conteúdos ministrados em escola pública em comparação com o exigido no exame vestibular. Assim manifesta o entrevistado Engenharia 1: “O cursinho também ajudou bastante porque tinham umas matérias que estavam meio defasadas no colégio”. E, também, os entrevistados “Direito 1” e “Direito 2”, respectivamente: “o cursinho é super importante, é muito importante, pelos menos pra gente que vem de escola pública”. “O cursinho que é muito bom por sinal. Os professores são muito bons e a grande maioria deles dá aula nos cursinhos particulares, hoje em dia, de Florianópolis.

Dentre outros fatores considerados como de importância foi o diferencial que o Curso representa, como trazem os entrevistados:

Acho que o acompanhamento completo do cursinho, né, porque tem a questão de que, primeiro ele é focado para federal, então tem um (diferencial). É diferente sabe, porque os professores conhecem muito bem o estilo da prova, eles conhecem o que estão fazendo. [...] A preparação, porque o cursinho, pelo menos aqui em Joinville, é uma espécie de família (destaque nosso), não era aquela coisa de o professor e o aluno, não. Eles realmente, eu (para mim) principalmente, eles davam muito espaço e eu aproveitava muito esse espaço: tirar dúvida antes da aula, intervalo, depois da aula, eles realmente tentavam trazer proximidade. (“Medicina 1”) o cursinho foi bom, ajudou muito a revisar e me acalmar também. E também para poder encontrar outras pessoas porque eu ficava sozinha o dia inteiro estudando. Eu sei que os primeiros meses de 2010 foram ruins porque o meu rendimento era menor e eu ficava sozinha, eu acho que não falava com ninguém. [...] Eles (o cursinho) ajudaram muito, (me) deixaram mais calma, eu sempre ficava muito nervosa em provas, trabalhos e coisas assim. Acho que se não tivesse cursinho não teria passado, teria tido mais dificuldade, teria ficado sozinha. (“Medicina 3”)

Concomitante à frequência ao Curso Pré-vestibular da UFSC, os entrevistados em seus relatos reconhecem que os esforços por eles empreendidos se constituem, também, como um dos fatores determinantes para o ingresso na educação superior. Analisando suas trajetórias nota-se que se constituem em pessoas com alta capacidade de traçar e cumprir com seus objetivos e, portanto despenderem de esforços quase sobre humanos para chegarem onde se propuseram. Apesar das dificuldades que vão desde a questão socioeconômica e consequentemente a defasagem cultural, incluindo-se aí o hiato entre o seu nível de conhecimentos escolares e o que é exigido para transposição da barreira do vestibular os entrevistados mostram condições de superação conforme se pode observar nos relatos:

a carga horária de estudos (necessária para vencer o vestibular), por que medicina é um curso que a concorrência é muito elevada, então tem que estudar muitas horas fora e correr atrás. (Medicina 1) o meu esforço também foi grande, mas é o que eu sempre falo, a meritocracia só vem quando você tem uma estrutura por traz, quando você tem alguma coisa que ampare, uma estrutura que te erga, uma estrutura

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que te edifica que te possa levar a frente para que você conquiste o teu objetivo. (Direito 3) As horas de estudos foram determinantes porque na época eu tinha a tarde livre a partir das três horas eu saia do trabalho e vinha caminhando do centro até a UFSC, daí ficava estudando a tarde toda e depois eu ingressava no cursinho. (Direito 2) Eu acho que tudo se decidiu praticamente no terceirão mesmo em 2009 que foi o ano que eu me dediquei mesmo para estudar. Um ano antes em 2008 tinha trabalhado meio período e estudado outro meio e tinha sido bem corrido, um ano que eu não tinha aproveitado muito dos estudos, aí no terceiro que eu consegui me dedicar exclusivamente a estudar, foi um ano que serviu para aprender tudo que eu usei no vestibular então foi fundamental assim. (Medicina 2)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A juventude estudada pertence a um contexto socioeconômico que vive o cotidiano trabalhando para manter o sustento, sendo classificada como de classes baixa e média baixa, ou seja, classes sociais presentes no capitalismo moderno que mantém um padrão de vida e de consumo baixo em relação às demais camadas mais privilegiadas da população. Assim, consegue suprir as suas necessidades de sobrevivência com dificuldades e vê-se impossibilitada de vivenciar formas variadas de aquisição de conhecimento, tendo dificuldades para ampliar seu capital social, que propiciaria um maior acesso para formação do seu capital cultural restringindo suas oportunidades de mobilidade social.

Com relação ao Curso Pré-vestibular da UFSC, representa um mecanismo facilitador no processo de busca por uma vaga na universidade pública por jovens que não possuem condições financeiras para custear uma preparação para o exame vestibular, uma vez que este “dispositivo meritocrático” exige conhecimentos que as escolas frequentadas, segundo os estudantes pesquisados, não confere.

Para obtenção de um trabalho qualificado o acesso à formação superior se faz fundamental em se tratando da sociedade atual, propiciando que o jovem possa assumir a responsabilidade por sua própria trajetória em termos de independência e autonomia, obtidas pelo rumo que dará à sua vida profissional e a possibilidade de gerar o seu sustento. A impossibilidade de muitos e a quase impossibilidade de alguns – no caso dos sujeitos dessa pesquisa – de acessar o ensino superior poderia determinar o “destino social”, que caso assim não se cumprisse levaria à sobrevivência com base em sacrifícios e poucas chances de bem-estar em suas vidas privadas e em sociedade.

A preparação para os exames vestibulares é entendida pelos estudantes entrevistados, como fundamentalmente necessária, uma vez que julgam esse dispositivo como excludente e essencialmente meritocrático que só faz reproduzir, do ponto de vista da escolarização, o sistema socioeconômico vigente. As contundentes críticas apontam para a necessidade de uma efetiva transformação do sistema público educacional brasileiro no que tange à educação básica, e da extinção do exame vestibular. Assim, o processo educacional se tornaria mais igualitário e justo na medida em que todo cidadão tem o direito ao acesso a uma educação de qualidade e que possibilite uma democratização do ensino superior.

O Curso Pré-vestibular da UFSC, colocado como elemento de maior importância na preparação para o exame vestibular e figurando como um dos

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fatores determinantes para o ingresso no curso superior, uma vez que no presente caso os estudantes não possuem ou possuem insuficientes oportunidades para alcançarem o sucesso escolar, pelas condições de vida que os cercam desde o seu nascimento. Gravitam como elementos centrais desta questão a capacidade empática e o apoio dos professores do referido Curso.

O ingresso à universidade representa para os jovens entrevistados pertencentes aos meios populares, uma superação da sua condição pessoal e familiar. Nesse sentido, passar pelo “funil do vestibular”, ingressar e permanecer na universidade significa, para eles, ir muito além de transpor barreiras, representando, isto sim, “contrariar” o “destino” “reservado” socialmente, legitimado por uma divisão socioeconômica em classes. Agrava-se esta questão ao tratar-se da realidade historicamente constituída como desigual existente no caso brasileiro, que se reflete no seu sistema público educacional. Consequentemente, construindo historicamente um circulo vicioso, no qual pobreza e escolaridade de curta duração são sinônimos. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins fontes, 1977. BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. NOGUEIRA, M.A.; CATANI, A. (Org.). Petrópolis: Vozes, 1998. BRASIL. INEP. Censo da Educação Superior de 2010. FERRARO, Alceu Ravanello. Escolarização no Brasil na ótica da exclusão. In: MARCHESI, A. & HERNÁNDEZ, C. (orgs). Fracasso escolar: uma pesquisa multicultural. Porto Alegre: Artmed, 2004. LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997. Tradução de Ramon Américo Vasques e Sonia Goldefeder. LEVI, Giovanni. Usos da Biografia. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. (Orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. P. 167-181. MARTINS, Francini Scheid. e CAMPOS, Iara Steiner. Egressos do Curso Pré-vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina – contextualização, organização de dados e documentação. Florianópolis, 2011.1. Relatório de Estágio de Conclusão de Curso em Pedagogia – UFSC. NOGUEIRA, Maria Alice; ROMANELLI, Geraldo; ZAGO, Nadir (Orgs.). Família e Escola: trajetórias de escolarização em camadas médias e populares. Petrópolis: Vozes, 2000. ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, v. 11, n. 32, mai./ago. 2006b. p. 226-237.

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POC3 - PRÁTICAS CARTOGRÁFICAS DE UM ORIENTADOR PROFISSIONAL

Silva, AMC 1. 1 - Programa Avançado de Cultura-UFRJ. O método cartográfico tem demonstrado ser um importante analisador para acompanhar os processos de orientação profissional, da produção de subjetividades, e as articulações com o mundo do trabalho na cena contemporânea. A cartografia é um método que permite acompanhar processos. Tem seus fundamentos filosóficos na obra de Deleuze e Guattari (1995), que convoca a caminhar entre planos de composição de elementos heterogêneos e no qual o pensamento atento segue seus rastros interessado em seus percursos mais do que suas representações. A Cartografia visa os processos de produção de subjetividade em seu caráter de operacionalidade e processualidade, portanto aberto para o presente, construído através de relações afetivas e efetivas de maneira singular e local. A cartografia é efeito dos deslocamentos e caracteriza-se por não ser não um método pronto, pede uma atenção aberta ao inesperado, trabalha com o outro e não sobre o outro e acompanha processos. Exemplificaremos a sua aplicação em duas situações. A primeira, em uma escola pública na cidade do Rio de Janeiro e a segunda, numa escola pública da cidade de Lisboa (Portugal). Nos dois caso a Cartografia mostrou-se uma ferramenta poderosa que catalizou as potencialidades dos jovens em inventar caminhos possíveis diante de um momento de escolha profissional de forma mais rica e interessante. Um trabalho que contagiou e pôs em questão o nosso próprio trabalho ao trazer para o centro de nossas investigações os múltiplos atravessamentos do campo social na atualidade.

PALAVRAS-CHAVE: escolha profissional; cartografia; produção de subjetividades

O método cartográfico tem demonstrado ser uma importante ferramenta para a orientação profissional. Inspirado na Filosofia da Diferença (DELEUZE; GUATTARI, 1995, 1996), tem recebido contribuições de vários pesquisadores brasileiros (e.g., KASTRUP; PASSOS; ESCÓSSIA, 2009) e se disseminado no Brasil. É uma valiosa ferramenta para acompanhar os processos e as problematizações da orientação profissional, como a produção de subjetividades, os processos de escolha e a análise do mundo do trabalho na cena contemporânea. Exemplificaremos a sua aplicação em duas situações. A primeira, em uma escola pública na cidade do Rio de Janeiro e a segunda, numa escola pública da cidade de Lisboa (Portugal).

Nosso ponto de partida foi a questão surgida na primeira entrevista para orientação profissional de um jovem, da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, que dispara: “Agora está na hora de saber o que eu vou ser, vamos ver se você vai acertar”. Espantosas a naturalidade, a fragmentação e a não implicação. Ele espera que alguém lhe garanta a escolha certa. Ou seja, a expectativa é da orientação profissional como um caminho pronto, que está nas mãos de um especialista. O jovem, apartado do processo de produção da própria vida, passa a ter suas respostas dadas por um outro. Diante da percepção do jovem quanto à orientação profissional, nos perguntamos o que o faz precisar de um intérprete para seus

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caminhos. Onde ele perdeu a capacidade de se questionar e de se implicar com a sua própria vida? De que forma os processos de formação, a convivência na escola, os usos de recursos tecnológicos contribuem para essa posição diante de si e diante do outro? Como essa fala se produz, quais as forças que a atravessam? O que ela carrega de questões que podem nos ajudar a pensar as práticas de orientação profissional na contemporaneidade?

Diante dessas questões procuramos acompanhar os modos de vida que entram em cena quando os jovens nos colocam suas dúvidas e mostram que os caminhos não são tão óbvios e naturais. Isso por que:

[...] é no modo de vida que está o segredo de qualquer coisa. A pedra de toque da liberdade, da escravidão, do pensamento, da submissão à sabedoria, está sempre no modo de vida. O modo de viver é simultaneamente ético e estético. Ele cria regras éticas, que podem até ser regras morais, e ao mesmo tempo ele expressa um modo da energia ou do desejo atravessar o corpo que faz do corpo e da alma uma expressão estética, uma obra de arte. Ou um trapo. (FUGANTI, 2001, p. 2).

Essas questões começaram a ganhar corpo nas nossas leituras de Baumam (1998), Sennett (2006), Ehrenberg (2000) e Bezerra (2010), que têm em comum as transformações do mundo contemporâneo e os seus efeitos nos processos de subjetividade. Vivemos em tempos acelerados, milimetricamente mensurados. A fórmula time is money é expandida para espaços inimagináveis de produção e precariedade, a ponto de caber a pergunta: “Será útil viver quando não se é útil ao capital?” (FORRESTER, 1997, p.16).

Se somos feitos de tempo (MACIEL JÚNIOR, 2007), o capitalismo, em suas novas lógicas e modos de relações sociais, faz do projeto de tornar-se a si mesmo uma meta geral, global e constante. A iniciativa individual adquire um estatuto de valor, “o direito de escolher sua vida e a injunção de tornar-se a si mesmo investe a individualidade num movimento permanente” (EHRENBERG, 2000, p.15). A responsabilidade de se produzir a qualquer preço faz do homem contemporâneo o empreendedor e o gerente de seus recursos e conflitos, contra a insuficiência que tem na depressão o seu maior fantasma:

A cultura hoje não é mais regulada pela repressão do gozo excessivo, mas sim por uma espécie de incitação ao gozo constante. Porque essa é a base do consumismo e do que poderíamos chamar de ideologia da autonomia: a crença difundida e a percepção compartilhada de que somos mais autônomos do que nunca, justo numa época em que nos tornamos cada vez mais dependentes de artefatos tecnológicos e discursos que se dizem científicos para nos guiar no cotidiano. (BEZERRA, 2010, p. 42).

Nesse caldeirão de produções, os efeitos de uma escolha cada vez mais se enredam:

Não é uma questão de saber a profissão, acho que sei o que eu gosto, mas como fazer meus pais entenderem que eu não quero? Uma correria, um mau humor, a gente não consegue ficar junto, porque eles estão sempre reclamando, chateados. Entendo a lenha que eles passam – contas, compromissos –, mas não quero ficar assim, isso me grila. Afinal tudo isso... cara, minha mãe fica louca quando eu digo... tá mãe trabalhar é pra quê? (Paula, 18 anos).

A dúvida da jovem coloca em questão um modo de vida, mas também um modo de trabalho. Abre a possibilidade de problematizar a vida e suas articulações com uma outra concepção de trabalho, que forja, para além da técnica, competências e procedimentos prescritivos, outros modos de fazer e de se fazer. Uma concepção de trabalho como elemento de conexões das relações sociais e a

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articulação com a orientação profissional como uma maneira de inserção e invenção de mundo.

Nossa primeira proposta é nos deslocarmos de uma concepção de uma orientação profissional como um caminho linear, resultado de um desenvolvimento, para a concepção de uma orientação como processo. Um percurso, que está em acontecimento atravessado por uma série de componentes históricos, econômicos, culturais.

As pressões do mercado, que pede produção, exatidão, flexibilidade, competitividade, transformam o tempo no cobrador, em que a entrada e a saída da universidade, quanto mais lineares, mais teriam um bom prognóstico. O que acontece é que os percursos pela vida acadêmica tornam-se cada vez mais labirínticos, com mudanças de cursos e desistências. Tomar uma decisão transforma-se na decisão eficiente e eficaz e que tem um tempo de validade.

Na urgência de uma resposta, busca-se uma orientação vocacional que dê garantias, aplaque angústias e garanta um futuro. São expectativas que crescem dentro de uma concepção de que a vida se faz por etapas, na conquista de uma passagem bem sucedida da adolescência para a vida adulta e, nessa premência, achar a resposta é urgente. Por isso, numa outra direção, fazer contratempo e seguir os não sei dos jovens pode nos abrir a questões potentes e expansivas pelas conexões que produzem um campo de múltiplas relações. Uma proposta de fazer um contratempo diante de uma série de coisas colocadas muito naturalmente. Sair de uma acomodada posição do conhecido e experimentar a vida como crise, numa aventura singular e radical de invenção de mundos. Já que a vida, como muitas vezes tem sido tratada, vai se constrangendo, ficando pouca, pouquinha, a dos jovens, a nossa, do entorno, pois, parodiando o próprio Deleuze, trata-se não da experiência pessoal de juventude, pois a vida é mais que pessoal, mas da juventude do mundo. Então, buscamos processos que, apesar de não terem visibilidade, estão presentes.

O que a cartografia pode fazer por nós? A cartografia é um método que permite acompanhar processos. Tem seus

fundamentos filosóficos na obra de Deleuze e Guattari (1995), que convoca a caminhar entre planos de composição de elementos heterogêneos e no qual o pensamento atento segue seus rastros interessado em seus percursos do que suas representações. A Cartografia visa os processos de produção de subjetividade em seu caráter de operacionalidade e processualidade, portanto aberto para o presente, construído através de relações afetivas e efetivas de maneira singular e local. A cartografia é efeito dos deslocamentos.

A cartografia é fruto de um desvio da tradição do pensamento hegemônico ocidental que busca desvelar a verdade do mundo, a cartografia é construção numa constante busca de invenção de sentidos. Para nós, isso é fundamental, já que o fascinante e desafiador é manter as passagens livres para que novos possíveis aconteçam. Não tão leves e soltos assim. Diante dos tristes encontros na vida, em que murcham as intensidades, a cartografia busca as bifurcações que potencializam novas rotas. Assumir a posição de cartógrafo diante da fala do jovem que nos transfere a sua vida como um problema em busca de uma solução é colocar em questão a sua própria questão.

Cartografar é andar num campo de forças que é mais que mapear, pois cartografar é acompanhar os movimentos não só do que está consolidado, mas o

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que está por vir, do que se anuncia, num contínuo acontecer. O cartógrafo aproveita tudo e de tudo faz linha para enredar as intensidades que o atravessam. Por isso, o seu corpo é corda que vibra com o mundo e, nos bafejos da vida, se inventa em universos singulares. Sua língua é ferramenta de intensidades que pedem passagem nos limites do seu tempo.

O cartógrafo busca o plano intensivo e nunca esquece que as formas sempre são forças em composição. Numa atenta vigília, num macro e micro indissociáveis da feitura dos mundos, o cartógrafo vive da invenção de sentidos, um aventureiro por terras desconhecidas. Numa sociedade em que a segurança é colocada como um valor, estamos a falar de uma profissão de risco.

O cartógrafo carrega em sua mochila recomendações que o mantêm atento e disponível aos ruídos e silêncios do campo. Se há um compromisso de compartilhar os achados e transfigurá-los com outros, então temos a cartografia num coletivo de forças, que se dá em dois planos: o das formas e o das forças. Cartografar é acompanhar esses fluxos e marcar as diferenças como efeitos, nas novas formas que ganham realidade (ESCÓSSIA; TEDESCO, 2010).

Há que se ter algumas ferramentas e cuidados para fazer o traçado cartográfico, ter ferramentas que lhe permitam acompanhar processos de modo de produção subjetiva e cognitiva. Assim, algumas indicações:

1. A cartografia não é um método pronto. Ela traça o caminho que emerge das linhas que vão se compondo. 2. A atenção do cartógrafo não busca um foco, é abertura ao inesperado, não à toa, mas atento. 3. A cartografia é um acompanhamento de processos, e não uma representação de objetos. 4. A cartografia transita por movimentos-funções: de referência (a repetição abre a possibilidade para o novo, no ritmo que se estabelece pela passagem do tempo, que marca em sua passagem os deslocamentos); de explicitação (a percepção sutil que leva ao coengendramento, que a realidade se produz na invenção constante, num espaço entre você e o objeto, entre você e o mundo); e de transformação-produção (invenção de novos modos); 5. A cartografia é a construção de um plano coletivo de forças, uma maneira de sair da dicotomia indivíduo – sociedade; 6. A cartografia trabalha com a dissolução do ponto de vista do observador, transita num plano de ação que evidencia a transversalidade, as implicações; 7. Cartografar é habitar um território existencial, dar expressão a esse, fazer diferença que constituirá outras formas. Isso significa fazer tempo, deixar que o tempo trabalhe, habitar um território se faz nas tranças com o tempo; (oh! Dificuldade maior na velocidade da vida de nossos dias em que você já chega se despedindo!) 8. Cartografar implica uma política de narratividade, efeito de uma tomada de posição diante de si mesmo e do mundo, um falar “com” e não “sobre” os acontecimentos. Se a cartografia é puro processo, sem início nem fim, então ela segue e se

desenvolve por conexões, explodindo em variações, quebrando em certos pontos e conectando em outros (DELEUZE; GUATTARI, 1995). Como método de investigação, faculta que, de tempos em tempos, mapas sejam traçados e contornos definidos, porém sempre parciais e provisórios. Retrata a dinâmica de um momento,

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gera uma versão para o mundo a partir dos encontros, mas, como os encontros estão sempre a acontecer, a cartografia tem sua atenção nessas transformações.

Vamos às situações concretas. A primeira uma oficina de orientação profissional realizada num colégio estadual, numa zona rural no Rio de Janeiro e outra, uma intervenção, numa escola técnica, de formação artística em Lisboa.

O que colocamos em análise são as contribuições da cartografia como uma ferramenta que nos permitiu acompanhar processos que pediam passagem, e que corriam o risco de se imobilizarem. Torna-se necessário afirmar que trabalhamos num campo de relações de saber e de poder que tornaram possível certa prática, num campo múltiplo de forças e numa construção histórica.

Ao acompanharmos os movimentos feitos pelo grupo de jovens do Rio de Janeiro isso nos permitiu marcar o deslocamento de uma identidade enclausurada, marcada pela insuficiência, desmotivação, falta de perspectiva de futuro, ou de um futuro regido pela precariedade, sentimento de fracasso, ausência de uma reflexão crítica que se desdobra em vários adjetivos como delinquente, burro, repetente, reforçada por uma cultura escolar que diagnostica, classifica e aparta, e que se espraia para fora dos muros confirmando na família, no trabalho, um destino. Na medida em que esses movimentos ganharam visibilidade um campo coletivo de forças se institui na produção de um outro olhar e de uma nova posição dos alunos, dos professores, dos pais e do próprio orientador.

Usamos fotografias como um dispositivo que estabeleceu uma outra relação com o tempo e o lugar a partir de um outro olhar. As fotos desencadearam uma série de questões e percepções sobre mudanças do lugar, das pessoas, das marcas das perdas e das consequências da passagem do tempo. O acaso, os desvios e nossas implicações com essas passagens, a vida como um contínuo de consequências de escolhas, o que insiste em permanecer o mesmo, e a dificuldade de romper quando a vida pede mudanças necessárias e urgentes, a ausência do poder público e a necessidade de se ter voz. Discussões importantes sobre o trabalho precário, a manutenção de certos modos de vida. Tudo isso colocou em questão o modo como nos construímos com o mundo e as condições de produção do mundo. A escolha de uma profissão adquire a marca de uma intervenção política e que é feita de um processo que se constrói com escolhas, valores e se atualiza num modo de vida. Em que, mais do que “quem sou”, o que vai interessar é que “eu não sou qualquer coisa”, “ não quero qualquer vida, qualquer fazer”.

Perguntar, abre à possibilidade de se imaginar outros possíveis de si. E colocou em questão o nosso lugar de orientador. Porque fomos deslocados do lugar do especialista para o profissional que entrou na roda, ao ser afetado por tantas intensidades que nos causaram uma transformação, de um trabalho feito com o outro e não mais sobre o outro.

A cartografia permitiu, portanto fazer o registro de movimentos visíveis, dados concretos da região, carências, recursos, possibilidades, mas também uma série de aspectos invisíveis, mas não menos existentes. As formas como as pessoas inventam caminhos de sobrevivência e compõem saídas onde parece que nada acontece.

O segundo relato é sobre uma experiência numa escola profissionalizante em Lisboa, em que uma turma de jovens terminava o primeiro ano do ensino médio e tinham que decidir qual curso seguir. O primeiro ano era uma apresentação de todos os cursos e oficinas para o aluno conhecer as técnicas, usos e possibilidades de

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materiais para depois se especializar. Cerâmica, desenho, ourivesaria, tecelagem, indumentária, adereços, artes gráficas, fotografia, filme, além do currículo básico das disciplinas como Português, Matemática e outras que formavam a grade curricular.

A turma foi descrita pela coordenação como um grupo de alunos com muitas dificuldades, com desempenho abaixo das expectativas, com alunos do interior e de condição social precária. A preocupação da escola era com esse momento de decisão. O nosso trabalho é convocado para intervir nessa situação. Nossa proposta foi construir com o grupo, pontos significativos de suas experiências, que desenhassem o percurso e possibilidades até aquele momento. O resgate de um processo que já se iniciara e os levara até ali.

Com a concordância da turma refizemos a história do ano, marcando no quadro diversas experiências que se tornaram acontecimentos na vida do grupo. E as ligações entre elas produziu uma narrativa que ganhou muitos sentidos: a saída do lugar de origem, a distância da família e amigos, morar na cidade grande, as dificuldades com dinheiro, com a cultura, os novos hábitos, o encantamento com a escola, a camaradagem, a exigência do estudo, os novos professores, a linguagem, o contato com os materiais, as técnicas, as surpresas. E o desejo ganhou uma visibilidade por tantas conexões e conquistas feitas, como também os novos desafios que precisavam ser atravessados.

A cartografia foi se constituindo num painel dos múltiplos atravessamentos daquele momento chave para os jovens, e principalmente porque ao trabalharem com os materiais, a cerâmica, fotografias, contas, linhas, tecidos foram se construindo mutuamente, adquirindo novos conhecimentos e sensibilidades. Moldar a cerâmica, dobrar o aço, combinar tramas exigia tempo, paciência para muitas feituras de si.

A escolha torna-se um efeito dos processos no qual estavam implicados e no modo como concebem o trabalho. Uma discussão que pensa o trabalho para além das competências técnicas, mas dos usos de si em que entram em questão valores, interesses, ética.

A devolução do material trabalhado com os alunos ao ser compartilhado com os professores contribuiu para se reposicionarem e potencializar outras formas de abordagem.

A cartografia, portanto nos levou a expansão do trabalho do orientador como um lugar fundamental para experimentar os processos que atravessam o jovem na relação com o mundo. E para tanto, sair do perímetro, experimentar, ir para fora do conhecido e inventar junto com os jovens, modos de colocar em questão o mundo em que vivemos, as formas de trabalho e dar visibilidades as forças que pedem passagem na direção de invenção de um mundo quiçá mais digno e solidário.

BIBLIOGRAFIA BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. BENJAMIN, Walter. O narrador, considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 197-221. (Obras escolhidas: v.1) BEZERRA, Benilton. A medicalização dos sentimentos. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, v.46, n.276, 18 nov. 2010. p. 6-9. Entrevista concedida a Isabela Fraga.

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DELEUZE Gilles; GUATTARI Felix. Introdução. Mil Platôs - capitalismo e esquizofrenia. v.1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. ______. Micropolítica e segmentaridade. Mil Platôs - capitalismo e esquizofrenia. v.3. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996, p.83-116. EHRENBERG, Alain. La fatigue d'être soi – depression et société. Paris: Odile Jacob, 2000. ESCÓSSIA, Liliana da; TEDESCO, Silvia. O coletivo de forças como plano de experiência cartográfica. In: PASSOS, Eduardo, KASTRUP, Virgínia, ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009. p.92-108. FORRESTER, Viviane. O horror econômico. São Paulo: Ed. Unesp, 1997. FUGANTI, Luiz. A formação do pensamento ocidental – registro da aula n.1, p.2, 29/03/01(Xerox). 2001. Notas de aula. ______. Saúde, desejo e pensamento. São Paulo: Hucitec; Linha de Fuga, 2008. TEDESCO, Silvia. O coletivo de forças como plano de experiência cartográfica. In: PASSOS, Eduardo, KASTRUP, Virgínia, ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 92-108. MACIEL JÚNIOR, Auterives. Clínica, indeterminação e biopoder. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DO RIO DE JANEIRO. Comissão de Direitos Humanos. Direitos Humanos? O que temos a ver com isso? Rio de Janeiro: CRP-RJ, 2007, p. 55-62. ______. O problema da escolha e os impasses da clínica na era do biopoder. In: MACIEL JUNIOR, Auterives; KUPERMANN, Daniel; TEDESCO, Silvia (Orgs.). Polifonias: clínica, política e criação. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2005. p. 51-62 PASSOS, Eduardo, KASTRUP, Virgínia, ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 2001. ______. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006.

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POC4 - UM WEBSITE CONECTANDO O REAL E O VIRTUAL PARA A ESCOLHA DE UMA PROFISSÃO

Queiroz RCC 1. 1 - Instituto do SER. A convivência diária com adolescentes cursando o Ensino Médio que experienciam a tensão de um vestibular associado à escolha de uma profissão, justo no momento em que tantas mudanças acontecem em suas vidas, me fez perceber o quanto estas questões geram conflitos e inseguranças que podem interferir na já difícil tarefa de fazer a primeira escolha profissional. Fundamentada pela leitura de autores como Aberastury & Nobel, Ariés, Freud, Bleger, Soares e outros que muito nos enriquecem com seus trabalhos sobre a adolescência e a escolha de uma profissão, surgiu o desejo deste trabalho que tem como objetivo inicial a criação e apresentação de um web site como uma ferramenta de conexão entre os mundos virtual e real cuja finalidade é, além de fornecer informações, abrir um canal de comunicação propiciando a chance destes adolescentes se expressarem utilizando o veículo que está mais próximo deles neste momento que é a comunicação via rede. A metodologia aplicada foi, a princípio, a criação de um blog que logo a seguir virou um website, onde ficam disponibilizadas informações sobre os cursos universitários e profissões que estão surgindo neste novo século, sobre as diferenças entre os inúmeros cursos universitários e tecnológicos, entre ser um técnico ou ser um tecnólogo, além de mostrar o que é um fluxograma de um curso universitário, dentre outras informações. Mas nada disso adiantaria sem uma divulgação do mesmo, então foi criada uma página no face book que é uma rede social de grande abrangência entre os adolescentes para que, através dela, o site fosse divulgado e direcionado ao público alvo. Até o momento, não houve muitas visualizações, visto que esta página foi criada recentemente e ainda sem tempo para um resultado que possa permitir uma avaliação e aceitação do mesmo visando que mudanças sejam feitas, visto que o mesmo é primordialmente um canal de informação e interação voltado única e exclusivamente para as necessidades destes adolescentes no momento de sua primeira escolha profissional. PALAVRAS-CHAVE: adolescência; escolha profissional; web site. INTRODUÇÃO

Fala 1: Aluno do Ensino Médio: Professora, qual o curso dentro das exatas que dá mais dinheiro? Fala 2: Aluno do Ensino Médio: Eu quero ser empresário. Vou montar uma empresa e vou ter os empregados trabalhando prá mim e eu vou ficar na boa vida. Fala 3: Aluna do Ensino Médio: Quero passar para qualquer faculdade. O negócio é entrar. Fala 4: Aluno do Ensino Médio: Vou escolher Oceanografia porque tem muitas vagas e poucos candidatos.

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Fala 5: Aluno do Ensino Médio: Minha mãe disse que se eu não passar para uma Universidade pública, ela paga a que eu quiser. Assim, eu não preciso estudar para passar para as públicas. Fala 6: Aluna do Ensino Médio: Para as universidades particulares eu não preciso estudar, não é? É só pagar que entra. Quero gastronomia. Fala 7: Orientanda em atendimento: Minha mãe diz que me dá um carro se eu fizer medicina, mas o que eu quero mesmo é ser Aeromoça. Fala 8: Orientando em atendimento: Meu pai é advogado e minha mãe é médica e eles tentam me convencer a seguir a carreira de um dos dois. Fala 9: Orientando em atendimento: Meus pais são advogados muito bem sucedidos e eles não aceitam que eu faça nenhum curso que não seja Direito. Fala 10: Enfermeira: Se eu fosse fazer vestibular novamente eu não faria enfermagem. Eu: E o que você faria?

Enfermeira: Não sei! As falas um, dois, três, quatro, cinco e seis são pequenos trechos de diálogos informais acontecidos no cotidiano de sala de aula entre os meus alunos do terceiro ano do Ensino Médio de uma escola da rede particular de ensino situada no bairro de Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Escuto falas como essas no exercício da minha função de professora de inglês, que é a minha primeira formação, mas por ser também psicóloga interessada na área de Orientação Profissional esses comentários acabam por surgir naturalmente, uma vez que estes alunos sabem de minha atuação nessa área também. As falas sete, oito e nove aconteceram nos atendimentos a grupos de jovens adolescentes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro quando eu ainda era estagiária em Orientação Vocacional do curso de Psicologia da referida Universidade. A última fala é a reprodução de um pequeno diálogo que tive com uma pessoa de minhas relações que é uma enfermeira aparentemente bem sucedida em sua carreira e que perguntava sobre a minha atuação como Psicóloga e, naturalmente, sem que eu nada lhe perguntasse, me diz de sua interrogação em relação a uma outra profissão que não a de enfermeira, ao mesmo tempo em que afirma não saber que outra profissão escolher. Essas falas, ouvidas ao longo de muitos anos de vida docente, aliadas as que adquiri durante os estágios do curso de Psicologia levaram-me a uma profunda identificação com a problemática da escolha profissional, fazendo-me perceber sua importância não só no momento da escolha em si, mas tudo o que uma escolha aparentemente tão simples pode acarretar na vida de uma pessoa. Somadas a estas falas existem algumas informações que obtive de maneira informal durante a minha graduação em Psicologia sobre o grande número de vagas ociosas, em muitos dos cursos oferecidos nessa renomada Universidade, gerando uma alta incidência de abandono de cursos durante a graduação. Um Estudo

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Preliminar sobre Evasão nos Cursos de Estatística e Ciências Atuariais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro realizado por Horácio dos Santos Ribeiro13 confirma o alto índice de evasão. Comecei, então, a me questionar: Por que alguém abandona um curso escolhido, depois de tanta dificuldade em conseguir uma vaga? Por que abandona um curso estando ele numa Universidade Pública de reconhecida qualidade? Como será que esse adolescente escolheu seu curso? Será que ele ou ela tinham todas as informações necessárias para efetuarem suas escolhas? Se tinham, então, por que abandonaram e se, não as tinham, por que não as obtiveram? Onde está a falha, se é que existe alguma? O que fazer para solucionar a questão do abandono?. Pergunto-me mais ainda: Há um culpado? Passei, então, a conviver com essas problemáticas e com elas vieram novas preocupações: Esses adolescentes que hoje fazem suas escolhas ao longo do terceiro ano de Ensino Médio será que também vão abandonar seus cursos mais lá na frente? Como prever? É possível evitar?. Começo, então a pensar em onde estaria o início da questão e chego às escolas e a família. Pergunto-me: Como as escolas estão atuando nesse sentido? Como as famílias estão agindo nesse momento aparentemente comum, banal, mas que na verdade é um momento de grandes inquietações, dúvidas e incertezas? Como os jovens estão utilizando seu tempo quando não estão em suas escolas? Que fenômenos podem estar contribuindo ou interferindo nesse processo de escolha? Como as Universidades recebem esses seus novos alunos?. Todas essas inquietudes e indagações reportaram à minha adolescência e ao meu próprio processo de escolha profissional motivando-me a pesquisar este tema uma vez que eu mesma busquei uma nova escolha no decorrer de minha vida profissional e é através desta minha segunda escolha que pretendo atuar de forma ativa e comprometida a fim de contribuir para que, com mais informações, esses adolescentes possuam mais uma ferramenta para ajudá-los no momento da escolha profissional. Uma acertada escolha profissional contribui para a saúde física e mental. Vários estudos comprovam que a satisfação e a realização profissional são fatores de grande relevância e que podem interferir de forma negativa ou positiva na saúde física e mental das pessoas, podendo até gerar a já conhecida Síndrome de Burnout, que está relacionada ao estresse ou a estafa no trabalho. Em função de minha convivência diária e de minha grande afinidade com os adolescentes, que tem sido meu foco de estudo, dedicarei a eles uma parte deste meu trabalho. Um website é um espaço na web cuja estrutura permite, de forma simples e direta, o registro cronológico, frequente e imediato de informações. Neste caso são informações consideradas importantes para os adolescentes e jovens, neste momento de tantas dúvidas em relação à escolha profissional, além de permitir uma forma bem atual de comunicação e interação com este público. Considero importante ressaltar que este website não tem fim lucrativo. A ideia de construir um website, como veículo de comunicação entre o jovem e eu, surgiu por perceber o quanto estes jovens estão envolvidos com toda essa

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Horácio dos Santos Ribeiro.

http://www.sr1.uerj.br/dep/files/Estudo_Estatistica_Ciencias_Atuariais.pdf

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nova tecnologia que dispomos atualmente, além de crer que talvez seja essa a melhor forma de atuação e interação. Nesse momento, o intuito é fornecer um serviço de utilidade pública, sendo que mais adiante saberei se meus objetivos foram atingidos. Para a criação e realização deste website, optou-se por usar o WIX como ferramenta de criação por este propiciar um domínio grátis, por ser de fácil acesso e utilização, por permitir divulgá-lo em redes sociais como o facebook, além de poder torná-lo, caso deseje mais adiante, num domínio “.com”. O mesmo é também compatível com os domínios de busca o que vem a ser mais um dado importante a ser considerado.

Dedico uma parte deste trabalho para falar sobre a fase da adolescência por ser o público alvo a quem destino a ferramenta criada, seguido de algumas definições do que vem a ser interatividade, mundo virtual, para finalmente apresentar via internet o website criado com o propósito de fornecer informação e poder interagir com os adolescentes que estejam vivenciando o momento da escolha profissional.

Finalizo ressaltando que o objetivo deste trabalho é inicialmente a criação e apresentação deste website como uma ferramenta de conexão entre os mundos virtual e real cuja finalidade é, além de fornecer informações, abrir um canal de comunicação dando-lhes a chance de se expressar utilizando o veículo que está mais próximo deles neste momento que é a comunicação via rede. A partir do resultado que eu venha a obter, modificações no website estão previstas a fim de atender a demanda que venha daqueles que o visitarem. A ideia é ter um website dinâmico, informativo e interativo para o jovem. ADOLESCÊNCIA, o que é? Abordar o tema adolescência neste mundo pós-moderno em que vivemos, não é uma tarefa fácil. Para tal, é necessário buscar diferentes definições sobre adolescência, sem deixar de citar que para Ariès (1981) a mesma não é natural, foi inventada pela cultura, tendo acontecido por um conjunto de fatores econômicos e sociais.

Este conceito surgiu ao final do século XIX e início do século XX. A maioria dos autores a trata como um período específico psiquicamente, um período de transição entre a puberdade (mudanças biológicas) e o estado adulto de desenvolvimento. É a partir do incremento das instituições escolares e com a industrialização que se começará a categorizar o adolescente. Philippe Ariès e Michel Foucault concordam que a adolescência é uma construção discursiva, mas para a Psicanálise, no entanto, a tônica é colocada nas repercussões psíquicas geradas pela chegada do sujeito a essa etapa de sua vida.

Vale ressaltar que, embora sem fazer uso do termo adolescência, Freud pôde abordar esse período (primeira etapa normal do desenvolvimento), designado como puberdade, particularmente nos Três Ensaios sobre a Sexualidade (1905/1976a), dedicando-se a explorar os pontos fundamentais envolvidos, processo que, ainda que ancorado nas transformações corporais, é analisado por Freud enquanto experiência subjetiva de ruptura com a vida infantil e travessia rumo à vida adulta. No terceiro ensaio, dedicado especialmente à puberdade, são colocadas em relevo as complexas determinações e implicações inconscientes dessa experiência na dinâmica pulsional. A pulsão está entre o psíquico e o somático.

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O adolescente, além de ter que lidar com as transformações biológicas, de seu corpo, deixando para trás o corpo infantil, também vive o luto da infância perdida, como também a perda dos pais infantis. Nesse processo de subjetivação abandona o desejo do outro para dar lugar ao seu, ou não. Esse luto é definido por Freud em seu texto Luto e Melancolia (Vol. XIV – 1917 [1915]) como: “O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como os pais, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante”. E é neste momento, já fragilizado pelo luto que vivenciam e por tantas mudanças que acontecem em sua vidas que estes adolescentes se deparam com a escolha de uma profissão. Soares ( 2009, p.15) nos diz que "escolher um trabalho, uma profissão, é escolher a forma pela qual queremos participar do mundo no qual vivemos e é, sem dúvida, uma forma de ser responsável também pelas escolhas dos outros." Esta fala retrata o quanto que a escolha profissional pode ser assustadora, visto que num primeiro momento pode parecer uma sentença, definitiva, embora não o seja, uma vez que sempre é possível mudar, escolher novamente, mas o que é escolher? Ainda segundo Soares (2009, p.16) "escolher é decidir entre ume série de opções aquela que nos parece a melhor". Do ponto de vista cronológico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a adolescência como sendo a faixa etária de 10 a 20 anos (Coli, 1994). Erikson (1987) chama de crise ao processo evolutivo do indivíduo e fala de três estágios que sintetiza em: criança, adolescente e adulto. O adolescente tem necessidade de questionar valores, fazer conflito, e seu primeiro alvo é a família onde ele está inserido e a autoridade presente a ser confrontada é representada muitas vezes por figuras de autoridade como pais e professores. Ao se deparar com figuras de autoridade como os já citados o adolescente vive um conflito e é a partir desse conflito que poderá encontrar-se a si mesmo. E assim, quando repleto de mudanças e questionamentos, surge a necessidade de se fazer uma escolha profissional, o que, em nosso país acontece muito cedo quando ainda não sabem ao certo do que gostam. Soares (2009) afirma que ao escolher uma profissão é preciso estar atento, pois estará deixando de escolher todas as outras que, de alguma maneira, também interessariam.

Escolher uma profissão significa entrar no mundo adulto. É apenas o início de uma série de outras escolhas que virão ao longo de suas vidas, como por exemplo seguir a carreira acadêmica ou fluir para o mercado de trabalho? Escolher ser um profissional liberal ou se preparar para um concurso que lhe dê estabilidade profissional e financeira? Ser um empreendedor, arriscando-se no mercado por acreditar em suas idéias ou preferir seguir um caminho previamente traçado e sem muitos riscos? Pode parecer assustador e na verdade é porque cada um será responsável por sua escolha, mas como saber qual a melhor escolha, qual a escolha mais acertada? Para tal, segundo Soares ( 2002 ) faz-se necessário uma escolha consciente (p.40). Assim, obter informações sobre as várias e inúmeras possibilidades de escolha é fundamental, principalmente neste mundo pós-moderno, onde, a cada dia surgem novas opções de atuação. Soares ( 2002) afirma que neste universo capitalista dos dias atuais, a classe social na qual estamos inseridos, já é determinante visto que esta transmite uma série de expectativas e padrões de comportamento e de consumo(p. 41).

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VIRTUAL

“O virtual possui uma plena realidade, enquanto virtual” Gilles Deleuze, Différence et Répétition (1968)

Denomino esta parte deste trabalho de Virtual uma vez que é impossível desconsiderarmos a invasão do mundo virtual na vida dos indivíduos desta nossa sociedade pós-moderna e o quanto já se é dependente desta tecnologia, quer para comprar ingressos para um cinema ou teatro, para pagar contas, para buscas de qualquer que seja o assunto de interesse, enfim, no trabalho, em casa, nas compras, nas viagens, nas redes sociais. É inegável a importância destas tecnologias na vida diária de cada indivíduo e da sociedade de um modo geral. A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Segundo Levy (1996) a virtualização é um dos principais vetores da criação de realidade. O virtual é aquilo que tem potência de ser, enquanto o real é o possível realizado. É através deste mundo virtual que a grande maioria dos indivíduos interage atualmente. Esta virtualidade propicia uma maior interação entre seus receptores, que podem ser internautas, alunos, o público em geral ou um público específico para o qual a mensagem ou o meio virtual de comunicação é direcionado.

Segundo o Dicionário Aurélio (2004 ) interativo é relativo a interação. É um recurso, meio ou processo de comunicação que permite ao receptor interagir ativamente com o emissor. O termo “interatividade” ressalta a participação ativa entre duas partes, uma nova forma de comunicação homem-máquina, homem-máquina-homem. A televisão, o rádio, o cinema, são, ainda segundo Levy (2008), meios de interação com características de mensagem linear, um meio de comunicação passivo, já o telefone, que permite reciprocidade através do diálogo, é um meio de comunicação efetiva, porém, a forma escolhida de interatividade foi a da criação de um website considerando sua fácil visualização e acesso por meio de computadores como também nos atuais celulares e em outros aparelhos de tecnologia elevada com acesso à internet, como Ipads, Ipods e Tablets dentre tantos outros.

Website vem do Inglês, onde web é teia e site é lugar, sítio. Um website permite uma maior interação entre seus interlocutores visto que possibilita uma interação de imagens, além de poder atingir um grande público uma vez que estará disponibilizado na rede. A opção pela criação de um website para jovens em processo de escolha profissional foi à forma encontrada para atingir o objetivo de oferecer informação, ao mesmo tempo interage, atrai por conter imagens e por estar na rede, como também possibilita uma abrangência sem limites, uma vez que os jovens da atualidade estão em sua grande maioria conectados.

Mesmo o jovem que não possui estes dispositivos tecnológicos mais modernos, já pode acessar a rede através de computadores comunitários, de “lan-houses” e mesmo, em suas escolas.

Baseada em todas essas considerações e pela própria vivência e convívio com estes adolescentes, público ao qual este website é destinado, a autora reafirma que considera o website como a melhor forma, não só de comunicação e interação com este público, mas que espera que, através dele, estes mesmos jovens percebam e passem a utilizar o computador, ou qualquer outro veículo de interação

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com o mundo virtual, como um caminho não só de interação e diversão, mas também de informação para uma melhor qualidade de vida no mundo real. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde a ideia inicial de criação deste website, a princípio era um blog, muitos foram os questionamentos e muitas as dificuldades encontradas. Começarei pelas dificuldades práticas, visto que minha cabeça fervilhava de ideias e entre as ideias e a colocação das mesmas em um blog totalmente construído por mim, uma pessoa sem grandes habilidades tecnológicas, foram dias e dias de tentativas e experimentações. Sei perfeitamente que poderia contratar um profissional para tal, mas não era isso o que eu queria, pois criar esse blog era como gerar um filho, essa criação era minha e tive, o que não é comum em mim, um sentimento de posse do qual não queria abrir mão. Queria ter o prazer de construir esse website sozinha, querendo que o mesmo tivesse a minha cara, como se diz no português coloquial. Foram semanas em que cada momento livre que eu tinha era dedicado a acrescentar algum dado novo ao até então, blog. De tanto mexer acabei de desconfigurando-o de modo que não consegui mais arrumá-lo. Veio, então, um período de frustração, de desânimo e de total abandono à ideia do blog ao mesmo tempo em que minha mente não conseguia se desligar daquele sonho. Cheguei a pedir ajuda a alguns amigos mais bem informados nas questões de internet, mas sem muito sucesso. Finalmente, concluo de que era eu quem teria que resolver esta questão. Assim decidi fazer com que este blog fosse o meu trabalho de final de curso para que, desta forma, eu tivesse uma “deadline” para solução desta questão que já perdura há mais de ano. Impossível seria essa construção sem a preciosa ajuda de uma universitária Paula Mendes Corado da Silva, ex-aluna, filha de uma grande amiga que gentilmente prontificou-se a me ajudar sugerindo que eu abandonasse a ideia de blog e incentivando-me na criação de um website.

Outro ponto a me inquietar e ao mesmo tempo motivar, estimular e desafiar é a aceitação ou não do mesmo. Logo de início, recebi dos meus amigos da orientação profissional um incentivo muito grande, além de alguns comentários altamente motivadores.

Mas, alguns meses após tê-lo disponibilizado na rede, confesso que fiquei um pouco desanimada por ter tido tão poucos acessos, embora recebesse um feedback bem positivo daqueles que o acessaram. Assim, resolvi utilizar a própria internet para aumentar a visibilidade do meu site, e, a partir da minha página do face book (Rita Queiroz ) que é considerada a maior rede social do momento, passei a divulgar meu site ( http://ritacqueiroz.wix.com/escolhas) para os meus contatos que são, em sua maioria, adolescentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência Normal. 10ª ed. Porto Alegre. Artes Médicas, 1992. ARIÉS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. ALBARNOZ, S. O que é trabalho. 3ªed. São Paulo. Brasiliense, 1988.

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BLEGER, J. psico-higiene e psicologia institucional. 3ªed. Porto Alegre. Artes Médicas, 1992. ERIKSON, E. Identidade: juventude e crise. Rio de Janeiro. Guanabara, 1987. FERREIRA, A. B. H. mini Aurélio Século XXI. 5ª ed. ver.ampliada -Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2001. FREIRE, P. Educação e mudança. 14ªed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988. FREUD, S. A Dissolução do complexo de Édipo. In: FREUD, S. Edição Eletrônica Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1995. 1CD-ROM, Windows 98. Originalmente publicado em 1924. FREUD, S. (1986). Luto e melancolia. In Obras Completas. Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1917). LUCCHIARI, D. H. S.(org). Pensando e vivendo a Orientação Profissional. 7ª ed. São Paulo, Summus editorial, 1992. PIAGET, J. Biologia e Conhecimento. 2. Ed. São Paulo: Vozes, 1996. SOARES, D. H. A escolha profissional: do jovem ao adulto. 2ª ed. São Paulo. Summus editorial, 2002. SOARES, D. H. O que é escolha profissional. 4ª ed. São Paulo, Brasiliense 2009. http://pt.wikipedia.org/wiki/Site e, 05 de novembro de 2012. http://www.iweb.com.br/iweb/pdfs/20031008-webservices-01.pdf em 05 de novembro de 2012. http://conceitosvisuais.blogspot.com.br/2008/11/interatividade-pierre-lvy.html em 19 de agosto de 2013.

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POC5 - UMA EXPERIÊNCIA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DENTRO DA ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA NUMA ONG DA PERIFERIA DE

BLUMENAU/SC

Neuwiem, CS 1; Veriguine, NR 2. 1 - Fameblu/Uniasselvi; 2 - Instituto Federal Catarinense. Muitos estudos na Psicologia compreendem a adolescência como uma fase da vida do ser humano natural, cristalizada e permeada por patologias. Diferentemente, a visão da Psicologia Sócio-Histórica alega que esta fase nem sempre existiu e, sim, se constituiu na história a partir de necessidades da sociedade moderna. Este estudo tem como objetivo apresentar as intervenções realizadas no âmbito da Orientação Profissional dentro da abordagem sócio-histórica, junto a um grupo de oito adolescentes com idades entre 12 à 14 anos, participantes de uma ONG da periferia de Blumenau/SC. As intervenções tiveram como objetivos promover a reflexão sobre o futuro profissional, disponibilizar conhecimento sobre as áreas de trabalho, cursos profissionalizantes e superiores, dicas sobre a construção do currículo profissional, além de comportamentos esperados em uma entrevista de emprego. Os resultados apontam que através das intervenções propostas, os jovens conseguiram refletir sobre seus projetos de vida, identificando alguns de seus interesses e preferências. PALAVRAS-CHAVE: adolescência; orientação profissional; abordagem sócio-histórica. INTRODUÇÃO

De acordo com Bock (2003), a Orientação Profissional (OP) é entendida como um instrumento de síntese e reflexão do vivido para a elaboração de projetos. Sendo assim, o projeto profissional está intimamente relacionado com o projeto de vida, pois escolhendo a profissão, escolhe-se também com quais pessoas deseja conviver, quais os dias disponíveis para o lazer e que lugares serão frequentados. Por isso, escolher uma profissão é, para a maioria dos jovens, um momento de muitas dúvidas, ansiedade e medos.

Mansão (2000) relata a importância da Orientação Profissional com adolescentes do ensino fundamental, ressaltando a importância desta na promoção da autonomia. A autora afirma que na medida em que o jovem se conhece e exercita sua liberdade, tanto para expressar-se como para escolher, conquista sua autonomia e obtém recursos necessários para traçar metas, inclusive na área profissional.

Este projeto foi elaborado a partir de uma demanda que surgiu no Serviço-Escola de Psicologia do Centro Universitário Leonardo da Vinci - FAMEBLU, com seis encontros de duas horas, dentro do contexto da Orientação Profissional na abordagem sócio-histórica. Esse estudo se insere no eixo temático da primeira escolha profissional e tem como objetivo apresentar e discutir as intervenções realizadas junto a um grupo de oito adolescentes, com idades entre 12 à 14 anos, de uma ONG da periferia de Blumenau/SC. O trabalho se justifica diante do fato de que há a necessidade de se realizar intervenções de OP com públicos de diferentes

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realidades sociais, para além do modelo clássico destinado para a classe média, no qual o jovem escolhe um curso superior e adentra à Universidade.

O FENÔMENO DA ADOLESCÊNCIA/JUVENTUDE

Muitos psicólogos e autores da área das Ciências Humanas estudam e trabalham com o fenômeno adolescência por meio de uma naturalização, universalização e patologização que permeiam os significados compartilhados. Esta cristalização de significados presentes na Psicologia do século XX se mantém até hoje nos discursos na maioria dos profissionais (OZELLA, 2003). Nesta visão liberal, o homem é concebido a partir da ideia de natureza humana, dotado de potencialidades naturais. A sociedade é algo externo e independe do ser humano, vista como algo contrário às tendências naturais do homem (OZELLA, 2003).

Sendo a transição da vida infantil para a vida adulta, a adolescência pode ser considerada, em si mesma, uma "situação fronteiriça". Trata-se de uma experiência permeada pela questão dos espaços psíquicos, dos limites externos e internos. Nela vislumbramos, dentre outros aspectos, a intricada e complexa relação entre corpo e psiquismo, assim como a que se estabelece entre o eu e o outro (CARDOSO, 2011, p. 22).

De acordo com Bock (2004), na visão liberal, a adolescência está pensada como algo que faz parte da natureza humana e algo que surge ao final da infância e antes da vida adulta. É apresentada com características que são vistas como naturais e que todos os indivíduos normais passam por essa fase do desenvolvimento. Muitos estudos dedicaram-se à caracterização dessa fase e a sociedade apropriou-se desses conhecimentos, tornando a adolescência algo natural e esperado. Juntamente com os primeiros pêlos no corpo, com o crescimento repentino e o desenvolvimento das características sexuais, aparecem às rebeldias, as insatisfações, as crises geracionais, ou seja, tudo aquilo que a psicologia, tão cuidadosamente, registrou e denominou de adolescência.

Diferentemente, na visão sócio-histórica, o homem é um ser que constrói suas formas de satisfação das necessidades e faz isso com outros seres humanos. Sua relação com a sociedade é concebida como uma relação dialética (BOCK, 2004). De acordo com a Psicologia Sócio-histórica, é necessário superar estas visões naturalizantes e compreender a adolescência como um processo de construção sob condições histórico-culturais sociais específicas (OZELLA, 2003). Isto é, um ser constituído no seu movimento, ao longo do tempo, pelas relações sociais e pelas condições sociais e culturais engendradas pela humanidade. O homem não é dotado de uma natureza humana, pois o desenvolvimento da humanidade já permitiu que o homem se libertasse e ultrapassasse as condições e limitações biológicas que possui (BOCK e LIEBESNY, 2003, p. 207).

A adolescência, para a Psicologia Sócio-Histórica, constitui-se a partir das relações sociais e históricas com o mundo adulto. Sendo assim, a adolescência é uma fase de desenvolvimento na sociedade moderna ocidental. Ou seja, não universal, não natural e sim histórica (BOCK e LIEBESNY, 2003). Desta forma, a adolescência pode existir hoje e não existir mais outro dia, em uma nova formação social; pode existir aqui e não existir ali; pode estar mais presente em um determinado grupo social, em uma mesma sociedade (aquele grupo que está mais afastado do trabalho), e não tão clara em outros grupos (os que se iniciam no trabalho desde cedo e adquirem autonomia financeira). Não existe uma

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adolescência como possibilidade de ser. Há na verdade, uma adolescência como significado social e muitas são as possibilidades de sua expressão. ORIENTAÇÃO E ESCOLHA PROFISSIONAL

Segundo Lima (2007) a Orientação Profissional consiste em facilitar o momento da escolha profissional, auxiliando o jovem ou o adulto a compreender sua situação específica de vida, na qual estão incluídos os aspectos pessoais, familiares e sociais. “Compreende a elaboração de um projeto de vida, na busca de uma escolha que seja a melhor para o momento, dentro de determinadas condições” (LIMA, 2007, p. 16).

A Orientação profissional pode ser realizada tendo como base teórica e prática em diversos referenciais teóricos da Psicologia. Soares (2000) cita três abordagens: Educacional, Clínica e Organizacional, sendo que todas podem ser realizadas tanto individualmente como em grupos. Cada uma possui suas características próprias, ou seja, apoia-se em teorias e utiliza-se de procedimentos técnicos diferentes. Porém, tem em comum o fato de priorizar a relação homem-trabalho, seja na escolha de estudos, dos conflitos que surgem no desempenho profissional, ou então, no que diz respeito sobre a Re-orientação Profissional ou o Planejamento de Carreira. A OP pode ser realizada em diferentes lugares, com diferentes objetivos, para diferentes populações. Mas, o que ela sempre deve ter em comum são os pressupostos básicos: o homem é sujeito de sua própria vida, é capaz de fazer escolhas mesmo em condições limitadas e, muitas vezes, determinantes. (SOARES, 2000, p.45)

Bock (2003) propõe que a Orientação Profissional deveria anteceder a inscrição de cursos de formação profissional de todos os níveis. Não porque está se supondo que as pessoas escolhem mal, porém, entende essa oportunidade como uma possibilidade de reflexão sobre o que está acontecendo com a pessoa, para discutir possibilidades, ajudar na busca de soluções coletivas e participativas.

Segundo Veriguine (2008), a escolha profissional se constitui num exercício constante de posicionamento perante uma realidade e de um número de alternativas profissionais. As mesmas são delimitadas pelo contexto social no qual o indivíduo está inserido, baseando-se nas informações objetivas que ele detém sobre si e sobre o mundo do trabalho.

O que ser? Eis a questão! A escolha profissional é uma das maiores causadoras de angústia nos jovens. Quando o ser humano escolhe uma profissão ele também, de alguma forma, está escolhendo que tipo de vida levará, que relação estabelecerá com a sociedade por meio de seu trabalho, com que pessoas e profissionais mais provável irá se contatar (Lima; 2007, p 30).

De acordo com Bock (2002), quando um indivíduo pensa em seu futuro faz de uma forma personificada. Ou seja, ao escolher uma forma de se inserir no mundo do trabalho e que a atividade que vai desenvolver, o indivíduo mobiliza imagens que adquiriu em sua vida por meio de sua vivência através de contatos pessoais, exposição à mídia, leituras e informações diversas. Portanto, quando uma pessoa diz que almeja ser tal ou qual profissional, existe um modelo que dá forma a esta pretensão e esta imagem gera uma identificação ou um afastamento da profissão.

MÉTODO

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A partir da demanda de uma ONG da cidade da periferia de Blumenau/SC, que procurou o Serviço-Escola de Psicologia da FAMEBLU, foi elaborado um projeto de Orientação Profissional com adolescentes de baixa renda, com seis encontros de duas horas de duração cada. O grupo atendido era formado por oito jovens, sendo quatro do sexo masculino e quatro do sexo feminino. As idades variavam de 12 à 14 anos, todos frequentadores do ensino fundamental de uma escola pública.

A proposta do projeto foi promover reflexão no jovem a respeito do seu futuro profissional, do mundo das profissões, dos cursos superiores e/ou profissionalizantes e do mercado de trabalho, incentivando-os a pensarem e se prepararem para o futuro profissional.

A abordagem para realizar a pesquisa foi focada na Orientação Profissional Educacional, na perspectiva Sócio-Histórica. A abordagem Educacional caracteriza-se por ser um trabalho realizado com crianças e adolescentes que estão vinculados ao ensino fundamental e médio. Os valores, os estereótipos, o significado e a importância dada às diferentes profissões influem no desenvolvimento da futura identidade profissional. É necessário valorizar todos os tipos de trabalhos e mostrar que todos estão a serviço do bem-estar do homem (SOARES, 2000).

Neste projeto, foi adotada a modalidade grupal de atendimento em Orientação Profissional. Segundo Soares e Krawulski (2002, p.293), “a demanda do grupo como um todo é o que baliza o processo de trabalho, o que requer uma constante leitura das necessidades trazidas pelos componentes, que se referenciam uns aos outros, em um trabalho horizontalizado das escolhas”. De acordo com Bock (2002), a Orientação Profissional em grupo é privilegiava em relação ao atendimento individual, pois a dinâmica proposta enriquece o processo, permitindo observar as dificuldades, as opiniões, os valores, interesses e projetos de vida da outra pessoa. Cada indivíduo possui um ponto de vista diferente e, num ambiente democrático, todos podem aprender entre si; percebe-se que não existe uma só verdade e um único caminho, apesar de todos terem em comum a exposição frequente à ideologia da classe dominante. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro encontro foi dedicado ao autoconhecimento. Ao iniciar a primeira intervenção, a facilitadora solicitou que os jovens desenhassem alguma coisa que os representassem e se apresentassem mostrando o desenho, nome, idade e qual ano de escola estavam cursando. De acordo com Mansão (2000), coincide a adolescência com a fase da escolha profissional, surgindo assim, a importância do trabalho de orientação ainda no término do ensino fundamental. “Os conflitos da adolescência já existem, porém conta-se com um fator favorável: a ansiedade pelo vestibular ainda não chegou” (MANSÃO, 2000, p. 88). Os jovens se identificavam com objetos ou imagens de seu cotidiano, como por exemplo, a jovem K. de 13 anos que se identificou com o símbolo da paz e o jovem F. de 13 anos que desenhou um jogador de futebol. Em seguida, foi solicitado aos jovens que respondessem ao Curtigrama, que consiste nas seguintes perguntas: O que gosta e faz; O que gosta e não faz; O que não gosta e faz e O que não gosta e não faz. O objetivo neste momento foi identificar ações que estão presentes em suas vidas e as suas preferências em atividades do cotidiano. Aqui, pode-se observar que os jovens relacionam atividades escolares como algo negativo, pois este item apareceu em sua maioria em atividades que eles não gostam. Encerrando o primeiro dia de

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intervenção, foi aplicado o instrumento, “Identifique seus Interesses”, encontrado no Almanaque do Estudante 2006 onde os jovens tiveram que responder, dentro de cada grupo, um item que mais os interessava. Neste momento, era perceptível que os jovens apresentavam diversas área de interesses, demonstrando a falta de orientação em relação a seus interesses. Segundo Bohoslavsky (2007) a situação em que os jovens não dão conta do que escolher é conhecida como predilemática. “A ansiedade é confusa, baixa; a conduta manifestada é de extrema dependência” (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 84).

A atividade do segundo encontro consistia em uma projeção ocupacional sugerida por Bock e Liebesny (2003). A mesma consiste em em redigir um pequeno texto a partir de tal afirmação: “Hoje é um dia do mês de... do ano.... Você está pensando no que foi e o que tem sido a sua vida nesses últimos... anos. Coloque-se nesta situação e escreva seus pensamentos.” Foi solicitado que eles preenchessem os campos com “Setembro; 2021 e 10”, para ser uma projeção de 10 anos. Neste dia, apenas seis jovens estavam presentes e 50% deste não conseguiram desenvolver o texto, afirmando que “É muito tempo, não consigo me imaginar assim!” (L., sexo masculino, 12 anos). Para dar continuidade na atividade, foram questionados sobre o que eles fariam para conseguir realizar todos esses projetos. Os jovens falaram sobre estudar, ter um emprego e serem independentes. Em seguida foi solicitado aos adolescentes que buscassem em revistas imagens que representassem este período de vida.

Para a terceira intervenção, foi escolhido o Profissiogame, que é um jogo de tabuleiro criado com o objetivo de auxiliar os jovens a conhecer melhor o mundo universitário e profissional, apresentando diversas possibilidades do mercado de trabalho. Segundo o manual de instruções (NETO, SOARES e SPERB, 2010), o Profissiogame tem por objetivo proporcionar aos jovens um contato com o mundo do trabalho por meio de uma inserção lúdica nesse universo laborial. Durante o jogo, o jovem se vê diante de situações inusitadas. Ele deve conhecer o que fazem os profissionais, sentir-se no lugar deles e ainda imaginar-se sendo este profissional. Este foi o método escolhido para introduzir o tema estudos e profissões com os adolescentes. Mansão (2000), afirma que a Orientação Profissional deve ocupar-se e informar e sensibilizar para questões relacionais e sociais. Em seu processo, deve enfocar a realidade do mercado de trabalho, permitindo que o adolescente o perceba de modo crítico e com intensa vontade de mudanças, de compromisso com o outro e ética.

Para facilitar a mediação, foi solicitado que os jovens formassem duplas para iniciar a partida. Após a escolha, a dupla teria que optar por um boneco que os representassem, sendo que este boneco representa também uma profissão. Os jovens participaram ativamente do jogo, trocando ideias entre si e ajudando os outros. Através das cartas amarelas, conheciam diversas profissões, assim como a área de atuação. Com as cartas azuis, enfrentavam situações profissionais onde tiveram que optar por uma alternativa que achavam corretas ou justas, sendo que poderiam avançar casas, ficar no lugar ou recuar. Ao caírem em casas verdes, deparavam com situações cotidianas, como pagar impostos ou ganhar na loteria.

Os jovens demonstraram muitas dúvidas sobre as profissões e cursos, sendo que os mesmos foram auxiliados pela facilitadora sobre as diferenças entre os cursos técnicos e superiores. Moreira (2000) relata a importância de ressaltar que não são somente os cursos universitários podem oferecer um futuro promissor aos

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jovens. Existem diversos cursos profissionalizantes que pode oferecer uma boa formação e colocação no mercado.

O momento de frustração durante o jogo surgiu nas duas duplas que lideravam a partida; estas caíram na casa “Volte ao início”. A jovem B. de 12 anos relatou “Ai, não acredito! Estávamos quase ganhando, não quero mais jogar!”. A facilitadora explicou que frustrações acontecem na vida profissional também e que é necessário aprender com situações negativas. Ao final da partida, foram disponibilizados para os jovens folders de cursos técnicos e superiores da cidade, para mostrar as possibilidades de se especializar em uma profissão.

No quarto encontro, a proposta foi assistir ao filme “O Céu de Outubro”. Este conta a história real de quatro jovens que moravam em uma pequena cidade dos EUA, na qual a maior fonte de renda vinha de uma mina de carvão. Porém, estes jovens sonhavam em ir para Universidade. Então decidiram construir um foguete, com o apoio de sua professora e alguns moradores locais. Mesmo diante da reprovação do pai de um dos jovens, que queria que seu filho trabalhasse na mina, estes adolescentes, conseguiram expor sua criação numa feira de ciências, ganhando bolsas de estudos para o curso superior. “Claramente, as diferenças de ordem sócio-econômica explicam esta divergência: para sujeitos oriundos de classes menos favorecidas, o alcance de um mínimo de estabilidade econômica pode ser o principal indicador de suas buscas no plano profissional.” (D’ÁVILA, KRAWULSKI, VERIGUINE e SOARES, 2011, p. 356). Ou seja, para sair da atual situação em que viviam estes jovens tiveram que buscar alternativas, como por exemplo, conseguir uma bolsa na Universidade para estudar e ter um futuro diferente do qual seus pais tiveram. O principal objetivo da atividade proposta de assistir ao filme foi mostrar a importância da escolha e as possibilidades futuras advindas de um objetivo. Os jovens assistiram ao filme com atenção e, ao final, foi aberto um espaço para debates. Relataram a importância de ir atrás da realização de seus sonhos e, mesmo que algumas pessoas não acreditam, com vontade é possível alcançar seu ideal.

O quinto encontro destinou-se à apresentação de dicas para a formulação de um currículo e de como se comportar em uma entrevista de emprego. Assim, os jovens encenaram o que não deve ser feito em uma entrevista. Esta atividade foi elaborada com o intuito de preparar, de uma forma lúdica os jovens que antecipam sua inserção profissional. Nas encenações, os jovens mostraram comportamentos considerados negativos em uma entrevista, como por exemplo, não levar o currículo impresso, passar informações erradas e mascar chiclete. Para finalizar, o grupo assistiu a um vídeo sobre o livro “Quem mexeu no meu queijo”. Com esse vídeo, foi proposta uma reflexão sobre o medo de enfrentar mudanças de uma forma lúdica.

No último encontro, a facilitadora realizou entrevistas individuais com cada jovem, a fim de perguntar sobre dúvidas, do que gostou, do que não gostou e o que gostaria de saber mais. O feedback foi bastante positivo, pois os jovens falaram sobre o que tinham aprendido e comunicaram que gostaram de participar do grupo. Um dos principais objetivos desta entrevista foi, perguntar aos jovens como se imaginam daqui a dez anos, depois de todo o processo de orientação profissional. As duas jovens que não estavam presentes no dia desta intervenção, falaram sobre o desejo de seguir uma profissão, uma relacionada à fotografia e outra, ainda não tinha definido, porém, continuaria a estudar atrás de seus interesses. Os outros jovens que responderam no dia que foi aplicado a projeção ocupacional,

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continuaram com seus desejos descritos e, falaram da importância dos estudos e cursos para alcançar seus objetivos. Somente um, dos três adolescentes que não responderam a pergunta no dia, continuou afirmando que não definiu um objetivo e não se imagina daqui a dez anos. O jovem L. de 12 anos mudou seu discurso comentando: “Eu gosto de mexer no computador, acho que farei um curso na área da computação”. De acordo com Bohoslavsky (2007, p. 103) “os objetivos da entrevista influem no acontecer da mesma, pois expõem aos participantes níveis de aspirações conscientes ou inconscientes (interagentes) que determinam seu comportamento.” Este momento, foi fundamental para concluir o projeto, pois mostrou que houve uma reflexão, da maioria dos jovens, sobre seu projeto de vida, intimamente vinculado com o futuro profissional.

É fundamental ressaltar que fazer OP na 8ª série não significa que o adolescente deve fazer escolhas neste momento, mas, sim, que obtenha conhecimento sobre profissões, sobre quem é e o que deseja, podendo formular suas dificuldades e então fazer a melhor opção possível para seu projeto de vida, no instante em que isso se fizer necessário. Não queremos desabrochar flores à força, apenas regá-las à medida que desabrocham por si mesmas. (MANSÃO, 2000, p. 86)

Este fechamento mostrou como o trabalho de Orientação Profissional para jovens é abrangente e que seriam necessários mais encontros para abordar outros temas importantes para o conhecimento sobre o mundo do trabalho. Apesar disso, a intervenção foi fundamental para apresentar aos jovens cursos, profissões e outras possibilidades.

Através destes encontros, foi percebido gradativamente o interesse dos jovens em refletir sobre temas relevantes que enfrentarão em sua trajetória profissional. Além disso, foi um momento importante para identificar seus interesses e elaborar um projeto de vida de acordo com suas preferências. Promover um espaço de debates, para estes jovens, mostrou a importância para os mesmos de poderem trocar experiências e conhecimentos, enriquecendo/reiterando o trabalho de Orientação Profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível perceber que a cristalização, a naturalização e a patologização do fenômeno adolescência é equivocada no sentido de igualar todos os indivíduos num mesmo processo de comportamentos e sentimentos vividos. A Psicologia Sócio-Histórica mostra que a adolescência é, na verdade, uma fase do desenvolvimento na sociedade moderna ocidental, ou seja, nem sempre existiu. Sendo assim, não é um processo universal e natural do homem e sim, histórica.

A principal proposta desta Orientação Profissional com jovens foi promover uma reflexão sobre o futuro, mostrando as possibilidades de escolhas e o mercado de trabalho atual. Trazer estas informações para quem está se preparando para enfrentar um novo desafio, que é o primeiro emprego, diminui a ansiedade, proporciona subsídios fundamentais para um papel profissional e aumenta a visão do adolescente sobre suas preferências e interesses. Os seis encontros na ONG foram importantes para estes jovens no sentido de “educá-los profissionalmente” e promover a reflexão sobre seus projetos de vida. Desta maneira, considera-se que o objetivo proposto foi atingido. REFERÊNCIAS

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BOCK, Ana Mercês Bahia; LIEBESNY, Brônia. Quem eu quero ser quando crescer: um estudo sobre o projeto de vida de jovens em São Paulo. In: OZELLA, Sérgio. (org). Adolescências Construídas: a visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2003. BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano: a adolescência em questão. Caderno CEDES, 2004, vol. 24, n. 62, p. 26-43. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n62/20090.pdf. Acessado em: 16 de maio de 2011. BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2002. BOCK, Silvio Duarte. O neoriberalismo, as políticas públicas e a orientação profissional. Em: BOCK, Ana mercês Bahia. (org). Psicologia e o Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003. BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional: A estratégia clínica. São Paulo: Martins Fonte, 2007. CARDOSO, Marta Rezende. Recusa ao ato na adolescência: uma "reação subjetiva negativa"?. Rio de Janeiro: Ágora, Jun 2011, vol.14, no.1, p.21-33. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/agora/v14n1/a02v14n1.pdf Acessado em: 16 de maio de 2011. D’AVILA, G. T., KRAWULSKI, E, VERIGUINE, N. R., SOARES, D. H. P. Acesso ao ensino superior e o projeto de “ser alguém” para vestibulandos de um cursinho popular. Psicologia e Sociedade, Florianópolis, n 23, vol 2, p. 350-358, 2011. LIMA, Maria Tavares. Orientação profissional: princípios teóricos, práticas e textos para psicólogos e educadores. São Paulo: Vetor, 2007. MANSÃO, Camélia S. Ampliando os rumos da orientação profissional no novo século: uma experiência na 8ª série do ensino fundamental. In:.LISBOA, Marilú;. SOARES Dulce. Helena Penna. (orgs.) Orientação Profissional em Ação – Formação e Prática de Orientadores. São Paulo: Summus, 2000. NETO, Eliseu de Oliveira; SOARES, Dulce Helena Penna; SPERB, Caroline Steffens. Profissiogame. São Paulo: vetor, 2010. MOREIRA, Fábio Coelho da Silva. Orientação profissional: Uma visão multidisciplinar. In: LISBOA, Marilu. Diaz. SOARES Dulce. Helena Penna. (Orgs.) Orientação Profissional em Ação: formação e prática de orientadores. São Paulo: Summus, 2000. OZELLA, Sérgio. A adolescência e os psicólogos: A concepção e a prática dos profissionais. Em: OZELLA, Sérgio. (Org.) Adolescências Construídas: a visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2003, p. 17-40. SOARES, Dulce Helena Penna. As diferentes Abordagens em Orientação Profissional In: LISBOA, Marilu. Diaz. SOARES Dulce. Helena Penna. (Orgs.) Orientação Profissional em Ação: formação e prática de orientadores. São Paulo: Summus, 2000. SOARES, Dulce Helena Penna. KRAWULSKI, Edite. Modalidades de Trabalho e Utilização de Técnicas em Orientação Profissional. In: LEFENFUS, Rosana, SOARES Dulce. Helena. Penna. (Orgs.) Orientação Vocacional Ocupacional: novos achados teóricos, técnicos e instrumentais para a clínica, a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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VERIGUINE, Nadia Rocha. Autoconhecimento e informação profissional: implicações para o processo de planejar a carreira de jovens universitários. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

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POC6 - “DIRETRIZES DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CONTEXTO DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA - METODOLOGIA EPHETA.”

Klein, ET 1. 1 - EPHETA – Instituição especializada na área da Surdez/deficiência auditiva – AEFSPR. Introdução: A orientação Profissional no contexto da deficiência auditiva finaliza o processo de permanência na escola especial e insere no contexto social produtivo do mundo de trabalho conforme a lei de cotas para Pcds. Objetivos: oportunizar o processo de escolha profissional do adolescente com deficiência auditiva ,seu auto conhecimento,a informação profissional ,escolha da área profissional e legislação vigente para Pcds. Contextualizar a informação profissional com vivências “in loco” possibilitando a escolha de áreas de interesses profissionais , habilidades e competências. Métodos: psicodinâmico no contexto educacional inserido na Metodologia Epheta – ensino da língua portuguêsa para deficintes auditivos. Conteúdos: O POP - Divide-se para fins didáticos em três níveis: NÍVEL I :Conhecimento de si mesmo ,Aspectos Internos: auto e hetero imagem- sou surdo e daí? .NÍVEL II: Informação Profissional Conhecimento das Profissões Aspectos Externos,Visita a locais de trabalho, a cursos profissionalizantes e laboratórios de pesquisa das universidades;Vagas para Pessoas com deficiência .NÍVEL III Legislação trabalhista das PCDS; Elaboração do curriculum vitae e fichas de emprego;Pesquisa de emprego;Entrevista para o emprego;Definição da escolha da vaga para encaminhamento ao trabalho ;O Funcionamento do programa está integrado á Oficina de linguagem VI da proposta pedagógica da Metodologia EPHETA de ensino da língua portuguesa para a pessoa com deficiência auditiva em 2 eixos: audição voz e fala, leitura produção e análise lingüística , dentro de uma abordagem de atuação com Equipe Interdisciplinar..Os resultados de inserção dos alunos no Mundo do trabalho é através da Lei de cotas /Lei da Aprendizagem ocorrendo de forma satisfatória e efetiva . Pontos a observar nos resultados: oportunidades vivenciadas, experiências , Processo de (Re) habilitação na área da Surdez/DA,nível de escolaridade atingido,qualificação profissional,aspectos psicológicos da adolescência e expectativas familiares frente ao trabalho. Conclusão: O presente programa de oreintação profissional para deficientes auditivos tem possibilitado nesta década a inserção em postos no mercado de trabalho de 130 alunos que concluiram os três níveis com escolhas de diferentes áreas de atuação :serviços gerais,área de produção, ensino médio /técnico e superior.Referências bibliográficas – Orientação Profissional no contexto da dificiência auditiva , Pigato carmem sueli, Klein Terezinha Elianes, wisnevzki Rejane , editora juruá ,2000,Curitiba Pr. Diversos somos todos - valorização, promoção e gestão da diversidade nas organizações - Bulgarelli Reinaldo, São Paulo Editora de cultura, 2008 - Proposta Pedagógica da Metodologia Epheta para deficientes auditivos. PALAVRAS-CHAVE: deficiência auditiva; inclusão; orientação profissional. Introdução: Diante das demandas atuais no mundo cooporativo a respeito da diversidade na gestão de pessoas na vida laboral se faz necessário entender as

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especificidades de determinados contextos e lugares. De que população estamos falando e qual é o conceito quando abordamos a deficiência auditiva? Qualquer distúrbio no processo de transmissão e recepção do som pelo sistema auditivo ,seja qual for sua causa,tipou severidade constitui uma alteração auditiva .Essa alteração denomina-se deficiência auditiva.Para a organização Mundial da Saúde (OMS) a deficiência auditiva é incapacitante quando o grau de perda auditiva é maior que 41 dB para o adulto e 31 dB para a criança. Não é conhecido o numero exato de pessoas com perda auditiva no mundo . A OMS estima que em 2015 mais de 700 milhôes de pessoas no mundo terão a deficiência auditiva . Em 2025 este numero será de 900 millhões . O aumento nas estimativas é devido a melhora no diagnóstico, a detecção precoce , maior sobrevida de pessoas idosas e aumento da incidência de perda auditiva induzida por ruído e ototóxico . A importância de estimar a perda auditiva no mundo está além do efeito no individuo , a consequência direta no desenvovimento social e econômico em comunidades e países. A orientação Profissional neste contexto da deficiência auditiva finaliza o processo de permanência na Metodologia EPHETA e insere a pessoa com deficiência auditiva no mundo do trabalho e no social produtivo conforme a lei de cotas para Pcds. Objetivos: oportunizar o processo de escolha profissional do adolescente com deficiência auditiva ,seu auto conhecimento,a informação profissional ,escolha da área profissional e legislação vigente para Pcds. Contextualizar a informação profissional com vivências “in loco” possibilitando a escolha de áreas de interesses profissionais , habilidades e competências. Métodos: psicodinâmico de orientação profissional no contexto educacional inserido na Metodologia Epheta – ensino da língua portuguêsa para pessoa com deficiência auditiva que contempla dois eixos: audição,voz e fala e leitura produção e análise linguística. Conteúdos: O POP - Programa de Orientação Profissional na EPHETA - Instituição especializada na área da surdez /deficiência auditiva.segue a Proposta – “Facilitação da Escolha”(soares 88) Processo que permite o sujeito refletir sua relação com o mundo do trabalho, fazendo opções por caminhos que o levem ao seu encontro pessoal e profissional ; Escolha é subjetiva singular depende da Situação específica de vida e dos Aspectos pessoais / Familiares / Sociais Educacionais / Políticas / Psicológicas /Econômicas e da questões referentes a deficiência em seu processo de escolarização e profissionalização. Divide-se para fins didáticos em três níveis: NÍVEL I: Conhecimento de si mesmo mobilizando a análise do perfil pessoal, Aspectos Internos: auto e hetero imagem. As Técnicas de autoconhecimento utilizadas e adaptadas ao contexto da deficiência auditiva são: Quem sou eu? Como eu sou? Diferenças e semelhanças – Se eu fosse: uma fruta, uma flor, uma música, um animal? , EU e a minha família, a família que eu gostaria de ter, Autobiografia, Eu adolescente, minha autoestima, o que passa na cabeça do adolescente, adolescência tempo de ganhos e perdas, gosto e faço – curti grama, sou único minha digital, minha identidade, meu jeito de ser, baralho do comportamento ,Branca de Neve e os sete anões, Qualidades e dificuldades, sou surdo e daí?

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Minha comunicação, histórias de vida- filme filhos do silêncio, árvore dos sentimentos, linha do tempo, escolher é fácil ou difícil, entrevista sobre mim mesmo com meus familiares, sondagem de interesses, habilidades e aptidões, competências e valores para o trabalho, Síntese do meu perfil pessoal. NÍVEL II: Informação Profissional e Conhecimento das Profissões considera os aspectos Externos, por meio de fichas profissiográficas , Visita a locais de trabalho, a cursos profissionalizantes e laboratórios de pesquisa das universidades; Vagas para Pessoas com deficiência. A informação contextualizada considera 17 áreas de Interesses profissionais e as oportunidades do mundo do trabalho na realidade local com atualizações permanentes: informática, mecânica, escritório, musical, persuasiva, científica, ar livre, literária, numérica, artística, serviço social, dramática, serviço pessoal, gráfica, fotografia, saúde, construção civil. NÍVEL III Legislação trabalhista das PCDS (Pessoas com deficiências); Elaboração do CURRICULUM VITAE e fichas de cadastro para emprego; Pesquisa de emprego; Entrevista para o emprego; Definição da escolha da vaga para encaminhamento ao trabalho; Avaliação e desligamento do POP. Para os alunos que já concluíram o POP e aguardam a conclusão de cursos e a elaboração dos pré requisitos e competências necessárias para a colocação em vagas e finalização do Processo e posterior permanência no trabalho. O grupo de Formação Profissional e execução do projeto de vida acontece semanalmente sendo trabalhado nestes encontros temas complementares aos três níveis anteriores: Empregabilidade, Empreendedorismo, Bulliyng e assédio no trabalho, convivendo com as diferenças ,inteligência emocional e auto controle, comportamento e comunicação no relacionamento interpessoal ,Espiritualidade e trabalho,saúde do adolescente e a CIPA nas empresas, a surdez pelo mundo e a convivência entre os iguais e diferentes,atualizações permanentes das demandas do Mundo do trabalho para as Pessoas com deficiências,estruturação do Projeto de vida incluindo as várias dimensões e etapas do desenvolvimento humano. O Funcionamento do programa está integrado á Oficina de linguagem VI da proposta pedagógica da Metodologia EPHETA de ensino da língua portuguesa para a pessoa com deficiência auditiva em 2 eixos: audição voz e fala, leitura produção e análise lingüística , dentro de uma abordagem com atuação da Equipe Interdisciplinar.Os temas transversais de sexualidade , prevenção ao uso indevido de drogas e Ética e cidadania:hábitos ,atitudes e valores para a vida transpassam todos os conteúdos envolvidos. Toda escolha para as vagas de emprego tem o acompanhamento da família, da Supervisão do POP e Equipe Interdisciplinar, que encaminha os alunos para as mais diversas áreas de interesse profissional conforme o perfil pessoal e área de interesse (informática, mecânica, escritório, musical, persuasiva, científica, ar livre, literária, numérica, artística, serviço social, dramática, serviço pessoal, gráfica, fotografia, saúde, construção civil). O compromisso final assumido pela EPHETA neste processo é oportunizar a primeira escolha e colocação no trabalho. “O momento da escolha é quando se pode olhar para trás e para frente ao mesmo tempo, decidindo o caminho a seguir” (Soares 88) Consideramos a Sua realidade de vida como o agente demarcador dos limites da escolha. (Realidade concreta / situações reais e limitadas). Nas questões referentes

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a Temporalidade – Integração do passado e presente para projetar um futuro e executar o seu “Projeto de Vida” a Filosofia do POP é : “Parte da concepção do homem como ser livre para escolher, livre em sua situação específica de vida que se configura como limite”. (Soares 93); A participação da família e constante em intervenções individuais ou em grupo. Durante todo o processo semestralmente ocorrem reuniões de grupos de pais com temas específicos em cada nível em conformidade com o que está acontecendo com o aluno para definição dos passos a serem seguidos em seu processo de escolha profissional. Os resultados O canal de inserção dos alunos no Mundo do trabalho é através da Lei de cotas /Lei da Aprendizagem ocorrendo de forma satisfatória e efetiva dentro dos objetivos propostos a esta clientela. Pontos a observar nos resultados: Quais foram as oportunidades vivenciadas, as experiências familiares e sociais diante da deficiência, o Processo de (Re) habilitação na área da Surdez/Deficiência Auditiva, nível de escolaridade atingido, nível de qualificação profissional, aspectos psicológicos da adolescência e expectativas familiares frente ao trabalho.

Para visualizar o resultado do trabalho realizado pela Metodologia Epheta que é finalizado com o POP, utilizou-se de dois critérios para análise do perfil do aluno que concluiu o programa: nível de escolaridade e inserção no mercado de trabalho. Estes dois critérios foram aplicados a dois grupos de alunos em dois períodos distintos: 1990 a 2000 e 2001 a 2012. Estes períodos foram escolhidos para verificar se há reflexo das ações realizadas no PEAER (Programa de encaminhamento e acompanhamento do aluno da Epheta no Ensino Regular), que iniciou em 1994, no nível de escolaridade dos usuários da Epheta e sua consequente qualificação e inserção no Mundo do Trabalho. Gráfico 1- Nível de Escolaridade dos alunos do POP entre 1990-2000

Fonte: Banco de Dados do POP

Gráfico 2 - Nível de Escolaridade dos alunos do POP entre 2001-2012.

11%

30%

27%

2%

19%

11%

Ensino Superior

Ensino Medio Completo

Ensino FundamentalCompleto

Ensino FundamentalIncompleto

Ensino Medio Incompleto

Supletivo CEAD

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Fonte: Banco de Dados do POP.

Observamos no contexto escolar no período de 2000 a 2012, significativa

evolução na conclusão do ensino fundamental e médio, bem como no Ensino superior em diversas áreas: Administração, Psicologia, Fisioterapia, Sistema de Informação, Informática, Engenharia da Produção, Design Gráfico - Artes Visuais, Fotografia, Farmácia, Pedagogia.

Quanto maior a escolaridade melhor o nível de qualificação e colocação profissional dos alunos com Surdez/Deficiência Auditiva no mundo do trabalho. Isto pode ser verificado nos dois gráficos a seguir. Gráfico 3 - Distribuição dos alunos do POP de 1990-2000 de acordo com as Áreas de Inserção no Mercado de Trabalho.

Fonte: Banco de Dados do POP

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Gráfico 4 - Distribuição dos alunos do POP entre 2001-2012 de acordo com as Áreas de Inserção no Mercado de Trabalho.

Fonte: Banco de Dados do POP. Gráfico 5- Resultados Efetivos do POP entre 2000-2012

Fonte: Banco de Dados do POP

Conforme demonstração do gráfico acima os resultados efetivos do

programa contemplam 70% de efetivação em vagas no mercado de trabalho formal dentre das áreas escolhidas pelos alunos, com retorno avaliativo das empresas positivo e de pleno exercício de suas funções. Os desligamentos solicitados pela família foram motivados por mudança de domicílio, opção por casamento, necessidade de renda e por encaminhamento imediato em colocações sem muita exigência de qualificação e escolaridade, prioridade e necessidade de atendimentos clínicos complementares antes do encaminhamento profissional. No momento estamos com 13 alunos iniciando o Programa e 22 alunos em formação e processo de conclusão e execução de seu projeto de vida e desligamento do POP. Conclusão: O presente programa de Orientação Profissional para Pessoa com deficiencia auditiva tem possibilitado nesta década a inserção em postos no mercado de trabalho de 130 alunos que concluiram os três níveis com escolhas de

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diferentes áreas de atuação :serviços gerais,área de produção, ensino médio , técnico e superior. Desafios permanentes da inclusão na escola e no mundo do trabalho neste contexto:

Abordagem pedagógica adequada dentro das necessidades lingüísticas do aluno com Surdez/deficiência auditiva. Considerar a diversidade de repostas na área: Libras /Oralidade;

Significação do vocabulário para entendimento das ordens e enunciados das informações garantindo a compreensão;

Qualificação compatível com a área de interesses e habilidades demonstradas na sondagem de interesses e autoconhecimento;

Garantia de acesso a cursos qualificação profissional por meio de políticas públicas de educação;

Comunicação assertiva e favorável para a integração da pessoa com surdez/Deficiência auditiva no circuito de informações da empresa;

Tecnologias Assistivas: Implante Coclear, Aparelho de Amplificação Sonora Individual e Sistema FM;

Capacitação permanente dos profissionais da educação dentro das diferentes abordagens de trabalho na área da Surdez/Deficiência auditiva;

Políticas Públicas que favoreçam a assistência permanente das necessidades educacionais das pessoas com Surdez/Deficiência auditiva;

O nível de escolaridade garante vagas de emprego e qualificação mas a abordagem efetiva de (re)habilitação é que garante a permanência no mundo produtivo do trabalho. Diretrizes para se comunicar melhor com a pessoa com deficiência auditiva no ambiente escolar e de trabalho:

1. Com a Pessoa com deficiência auditiva: Fale de frente, nunca de costas nem de lado; Fale claramente distinguindo palavra por palavra, mas não exagere; Fale com velocidade normal salvo que lhe seja pedido para falar mais devagar; Fale com tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para levantar a voz; Gritar nunca adianta; Ao falar, não fique com cigarro, cachimbo em sua boca, nem ponha a mão diante dos lábios. 2. Freqüentemente falta vocabulário a Pessoa com deficiência auditiva. Construa frases simples, corretas e curtas; não de modo vulgar sem gírias. Se não compreender, repita-lhe. Se for necessário, procure outra palavra que tenha o mesmo sentido, ou dê outra forma à frase. Verifique a mensagem compreendida. 3. Cuide para que a Pessoa com deficiência auditiva enxergue a sua boca. A leitura de lábios fica impossível se você gesticula, ou segura alguma coisa na frente de seus próprios lábios. 4. Como a Pessoa com deficiência auditiva não pode ouvir as mudanças sutis do tom de sua voz indicando sarcasmo ou seriedade, a maioria deles lerá suas expressões faciais, seus gestos ou movimentos de seu corpo para entender o que você quer comunicar. 5. Quando você quer falar com a Pessoa com deficiência auditiva, chame sua atenção, seja sinalizando com a mão ou delicadamente tocando em seu braço.

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Enquanto estiverem conversando, mantenha contato visual; se você olhar para outro lado enquanto está conversando, a pessoa com deficiência Auditiva pode pensar que a conversa terminou. 6. Se você tiver dificuldade para entender o que a Pessoa com deficiência auditiva falou, na dúvida sinta-se à vontade para pedir que ele repita o que falou. Se você ainda não entender, então use papel e lápis. 7. A Pessoa com deficiência auditiva que usa AASI (aparelho de amplificação sonora individual )não é como um ouvinte. O aparelho não faz milagres, auxilia na compreensão da linguagem (após uma longa e difícil reeducação) A leitura labial é muitas vezes um complemento necessário para pessoas com perdas auditivas profundas. 8. Se a pessoa surda usa libras e está acompanhado por um intérprete, fale diretamente com ele, e não com o intérprete. 9. A pessoa com deficiência auditiva acha-se facilmente isolado entre os ouvintes. Com frequência tem a sensação de estar marginalizado. Faça-o tomar parte da vida e do mundo do trabalho, informando-o do que se passa ou se diz ao seu redor, incluindo os avisos importantes dados pela empresa aos colaboradores. 10. Não devemos ser paternalistas, as pessoas com deficiência auditiva deverão ter os mesmos direitos, mas também os mesmos deveres de qualquer colaborador da empresa. 11. Comunique oral, por escrito e todas as formas de registro possível (cartaz, folder, flyer ,...) a rotina e sequência de trabalho exigido pela empresa. 12. Em semana de treinamento e dias de integração comunique por escrito ou em power point , todas as informações necessárias para boa integração no local de trabalho. “NÃO EXISTEM BARREIRAS PARA QUEM TEM VONTADE DE VENCER” (anônimo) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – Pigato carmem sueli, Klein Terezinha Elianes, wisnevzki Rejane - Orientação Profissional no contexto da dificiência auditiva , editora juruá , 2000,Curitiba Pr. Bulgarelli Reinaldo - Diversos somos todos - valorização, promoção e gestão da diversidade nas organizações, São Paulo Editora de cultura, 2008 Proposta Pedagógica da Metodologia Epheta para deficientes auditivos.

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POC7 - “O PALHAÇO” ENQUANTO RECURSO DIDÁTICO-METAFÓRICO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ORIENTADORES PROFISSIONAIS E DE

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS

Campos, DC 1; Camargo, ML 1. 1 - Unesp - Universidade Estadual Paulista. Apresentação de uma experiência de utilização do filme “O Palhaço” (MELLO, 2011), enquanto recurso didático-metafórico aplicado a duas situações distintas: na disciplina de “Orientação Profissional I” e na prática do “Estágio Supervisionado em Psicologia e Trabalho: Orientação Profissional e para o Trabalho”. Na disciplina objetivou-se fomentar um debate sobre o processo da escolha profissional e de formação da identidade ocupacional à luz do texto “Ser quando crescer … a formação da identidade ocupacional” (LISBOA, 1997); na prática do estágio supervisionado, foi utilizado como tema de cine-fórum em vários grupos de orientação profissional com adolescentes entre 15 e 17 anos, vinculados às instituições de ensino médio e profissionalizantes. Em ambas as situações observou-se resultados extremamente positivos, visto que seu conteúdo apresenta ocorrências típicas dos processos de formação da identidade ocupacional e da escolha profissional vividos pelo jovem brasileiro, além do que permitiu uma ampla discussão e aprofundamento teórico por parte dos estudantes de Psicologia, já que muitos dos conceitos estudados na disciplina puderam ser verificados na vivência do seu personagem central, sobretudo em sua relação com o trabalho e contexto familiar. Portanto, a utilização do filme como recurso possui vantagens que convém valorizar e descrever: do ponto de vista didático dinamiza a discussão do tema em questão e permite uma amplitude de reflexão favorecendo a compreensão dos conceitos teóricos por meio dos exemplos advindos tanto das falas, comportamentos, atitudes e expressões corpóreo-faciais dos personagens do filme, quanto das participações em debate advindas dos estudantes de Psicologia e seus orientandos; do ponto de vista metafórico, permite a realização de inúmeras interpretações projetivas, uma vez que cada telespectador pode, a seu modo, se ver no lugar do personagem principal (Benjamin/Palhaço Pangaré), ver seus pais e família no lugar dos personagens secundários (em especial Valdemar/Palhaço Puro Sangue), assim como analisar, também a partir dos efeitos da projeção, seu contexto de vida atual em função dos conteúdos trazidos pelo filme, ou seja, um exercício profissional “X”, num momento histórico-social “Y”. Entendemos como de especial relevância científica e social – com foco na cidadã responsabilidade de contribuição à qualitativa formação das futuras gerações e para o desenvolvimento da área/atividade Orientação Profissional – um olhar cuidadoso para o filme ora apresentado; ele é, aos olhos dos autores desse trabalho, um excelente recurso para o desenvolvimento de atividades de formação de futuros orientadores profissionais, bem como em processos individuais e/ou grupais de orientação profissional já em andamento. PALAVRAS-CHAVE: orientação profissional; identidade ocupacional; recurso didático-metafórico.

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INTRODUÇÃO

No curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru, contamos com: duas disciplinas teóricas de Orientação Profissional, intituladas OP I e OP II, cada uma contando com dois créditos semanais por semestre (60h ao todo) e oferecidas ao longo do quarto ano do curso; um estágio de formação profissional, no ano seguinte, com duração de 210h, e que se estende por dois semestres, intitulado Estágio Supervisionado em Psicologia e Trabalho: Orientação Profissional e para o Trabalho.

O texto que ora apresentamos refere-se ao relato de experiência, bem como as reflexões geradas pela mesma, de utilização do filme “O Palhaço” (MELLO, 2011) tanto na prática docente de atuação no processo de formação de psicólogos, e quiçá, futuros orientadores profissionais, bem como nos grupos de orientação profissional conduzidos pelos estagiários quintoanistas, nas instituições de ensino conveniadas à Unesp.

Após termos desenvolvido boa parte do programa (mais ou menos dois terços) das disciplinas teóricas, apresentamos aos alunos o desafio de assistir e debater o filme “O Palhaço” (MELLO, 2011) à luz do referencial teórico apresentado por Lisboa (1997) em seu texto “Ser quando crescer ... a formação da identidade ocupacional”, oferecido aos mesmos como material de leitura prévia. Para tanto, foi criado um roteiro mínimo que conduziu o trabalho de aprofundamento dos estudantes, e que assim se constituiu na ocasião:

1) Dados a serem obtidos via pesquisa (internet, videolocadora ou revendo o filme): a) título original; b) gênero; c) tempo de duração; d) roteirista; e) direção; f) elenco principal; g) ano de produção e lançamento; h) demais créditos ou curiosidades acerca do processo de construção da obra.

2) Dados a serem obtidos após a exibição do filme e por meio de discussões no grupo de trabalho: a) construção da sinopse do filme; b) produção de uma resenha crítica do filme; c) identificação do objetivo do filme; d) considerações do grupo acerca do que faltou no filme (falas, cenas, cenários, etc.); e) registros das falas, comportamentos, atitudes, etc. mais significativas do filme e que se relacionam à temática da Orientação Profissional.

3) Dados a serem obtidos após a exibição do filme, leitura do texto “Ser quando crescer ... a formação da identidade ocupacional” (LISBOA, 1997), apresentado como fonte de informações teóricas e por meio da discussão dos grupos de trabalho: a) correlacione esses dois conceitos apresentados por Lisboa (1997) com o conteúdo do filme, em especial o vivido por Benjamin – o Palhaço Pangaré, a saber: socialização primária e socialização secundária; b) como é possível, a partir do lido no texto e do visto no filme, pensar o processo de formação da identidade ocupacional? Tomem como referência o personagem principal do filme: Benjamin – o Palhaço Pangaré.

4) Produza um texto “breve” a título de considerações finais do grupo de trabalho, correlacionando o filme, o texto e demonstrando a importância dos mesmos para o estudo e o aprendizado de conceitos nesta disciplina de Orientação Profissional.

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Os resultados obtidos com este trabalho em sala de aula na disciplina de Orientação Profissional, levaram-nos a crer que a atividade, obviamente que passiva de aprimoramento, pode ser replicada para outras turmas, haja visto o êxito observado no processo de construção de conhecimento dos estudantes envolvidos.

Já a utilização do filme nos grupos de Orientação Profissional conduzidos por estagiários quintoanistas, seguiu o tradicional modelo de cine-fórum, realizado a partir da exibição da obra cinematográfica, seguida de livre debate sobre a mesma, com a participação dos orientandos sendo estimulada pelos, então, orientadores. Neste contexto de utilização do recurso, também se verificou êxito, uma vez que os orientandos conseguiram fazer críticas interessantes às duas condições básicas de quem vive um contexto de escolha profissional: a passiva, quando o sujeito não exerce consciente e livremente seu potencial de escolha e a ativa, quando o sujeito toma a questão da escolha profissional como objeto de estudo e reflexão e é assessorado por um orientador profissional que o acompanhará no processo. Para além disso, conseguiram identificar vários elementos que influenciam no processo de construção da identidade ocupacional, por eles assim elencados: família, amizades, sociedade, cultura, contexto social-geográfico, contexto socioeconômico, acesso ou não a serviços de orientação profissional, mídia, governo/política, marketing das instituições de formação profissional, etc.

A seguir apresentamos de forma sintética alguns dos elementos constituintes das práticas de utilização do recurso didático-metafórico em questão.

REFLEXÕES EM TORNO DA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE, IDENTIDADE OCUPACIONAL E ESCOLHA PROFISSIONAL

A construção de uma identidade profissional ocorre através de um longo processo de reflexão e aprimoramento de vivências. Como na construção de um texto (como esse que está lendo), várias exigências, orientações, pressupostos são utilizados para que o mesmo esteja a contento de todos: dos escritores, avaliadores e leitores; daí resultar num “produto”, daí darmos forma a um pensamento, um desejo, uma maneira de “ser” e expressar.

Assim também, acreditamos, ocorrer com a construção de uma identidade ocupacional e a orientação para o trabalho, não só de adolescentes e jovens para a escolha de um primeiro emprego, mas também de adultos que possam ou necessitem re-pensar suas opções de carreira.

Na sociedade contemporânea em que vivemos, onde as opções se apresentam de múltiplas formas, escolher vem se configurando um grande desafio e verdadeiro “drama” para muitas pessoas, pois, culturalmente, se pressupõe que toda escolha tem que ser acertada e para sempre (e de preferência rápida). Por vezes se escolhe tão apressadamente que se esquece do principal ingrediente para essa escolha: a pessoa, com suas características, história e desejos.

A intenção desse trabalho é apresentarmos o processo de “decisão” de uma escolha para uma identidade profissional, através da livre análise o filme “O Palhaço”, refletindo como tal processo ocorreu e como o entendimento do mesmo pode nos auxiliar no trabalho e orientação com adolescentes e jovens. Optamos por essa estratégia apoiados nas palavras de Loizos (2000, p. 137) que expõe:

[...] a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro restrito, mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais. Isto é verdade tanto sendo uma fotografia produzida

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quimicamente ou eletronicamente, uma fotografia única, ou imagens em movimento. [...] embora a pesquisa social esteja tipicamente a serviço de complexas questões teóricas e abstratas, ela pode empregar, como dados primários, informações visuais que não necessita ser nem em forma de palavras escritas, nem em forma de números [...] (e) o mundo em que vivemos é crescentemente influenciado pelos meios de comunicação, cujos resultados, muitas vezes, dependem de elementos visuais. Consequentemente, “o visual” e “a mídia” desempenham papéis importantes na vida social, política e econômica. Eles se tronaram “fatos sociais”, no sentido de Durkheim. Eles não podem ser ignorados.

Como também não pode ser ignorado o processo do “tornar-se”, é importante

ressaltarmos que a construção da identidade ocupacional está diretamente vinculada à identidade pessoal, como afirma Lisboa (1997). Por vezes, sabemos que, tanto a construção do que chamamos identidade pessoal, quanto a identidade ocupacional, não é fácil de “construirmos”, afinal, diversos atores se fazem presentes para que possamos então, escolher o queremos ser quando crescer (família, amigos, escola, comunidade local, a sociedade como um todo e seu contexto político, econômico, científico-tecnológico, cultural, etc.).

Outro fator que também devemos levar em consideração é o lado afetivo que esses “cresceres” implica, pois a decisão profissional se configura sim como uma fase importante do desenvolvimento humano, do sentir-se humano, na medida em que nos tornamos produtivos e nos sentimos úteis para a sociedade a qual pertencemos. Não há como considerar o desenvolvimento de qualquer ser humano sem “passar” pelo desenvolvimento de sua personalidade e da escolha de sua profissão. Talvez tenhamos que nos “debruçarmos” no como esse desenvolvimento tem sido praticado – e mesmo oferecido – a esses adolescente e jovens.

No sentido exposto anteriormente, o papel dos pais se configura como um importante referencial para a escolha futura, tanto de nossa construção de “personalidade” como de identidade profissional, pois “o desenvolvimento dos indivíduos se dá através das identificações, ou seja, a partir da imitação dos modelos que possuem um significado, o de ideal de realização, o de ideal de ego”, como nos expõe Lisboa (1997).

Queremos apontar aqui um primeiro pensar sobre o tomar da decisão e da construção da identidade: o ideal de ego. Na concepção do conceito, Freud (1914) nos coloca que o sujeito fica submetido às aspirações dos outros e é exatamente nessa submissão aos outros, ao desejo do outro, que não pode ocorrer a escolha profissional porque o que resulta dessa submissão é o que nos aponta Zimerman (2001): se seu estado mental prevalente é o de um permanente sobressalto e o fácil acometimento do sentimento de vergonha, quando não consegue corresponder às expectativas dos outros, estas expectativas passam a ser também suas, ou seja, qualquer indivíduo nessa condição psíquica faz de si o que o outro deseja e, portanto, está correndo o grande risco de não-ser si mesmo (não ser quem realmente se é). Podemos dizer que esta é a condição de maior vulnerabilidade em que se pode encontrar um indivíduo em franco processo de ingresso no mercado de trabalho ou escolha profissional, pois aliada às forças de influência externa, presentes no contexto social contemporâneo, está a fragilidade interna, psíquica, que pode levar o sujeito à condição de “capturado” pelo sistema produtivo e não de “protagonista” de sua escolha e história profissional e de vida.

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SER PALHAÇO OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO Pois bem, tendo esses conceitos, e sabendo-os orbitando o pano de fundo de

uma sociedade pós-moderna (LYOTARD, 1979; LYON, 1994), de consumo (BAUDRILLARD, 1991), do espetáculo (DEBORD, 1997), que resulta na era do vazio (LIPOVETSKY, 1983), ou mesmo na corrosão do caráter (SENNETT, 1999), observamos, a partir do filme “O Palhaço”, um jovem tendo que escolher, definir(se) por uma profissão para adquirir, aprimorar, demonstrar e manter sua performance. Explicando:

A ideia de performance implica a de sistema com estabilidade firme, porque repousa sobre o princípio de uma relação, a relação sempre calculável em princípio entre calor e trabalho, entre fonte quente e fonte fria, entre input e output. É uma ideia que vem da termodinâmica. Ela está associada à representação de uma evolução previsível das performances do sistema, sob a condição que se lhe conheçam todas as variáveis (LYOTARD, 1979, p. 37).

Parece-nos injusto para com as pessoas que têm que escolher, devido ao fato

que nossa sociedade está cada vez mais em constante “ebulição”, ou utilizando-nos da expressão de Bauman (2000), cada vez mais “líquida”, mais apressada, e as relações sofrem com tantas turbulências; se, como afirma Berger e Luckmann (1991), “a sociedade é uma realidade”, é nessa realidade que aí está que temos que escolher, temos que acertar, temos que contentar (o outro), temos que demonstrar, temos que..., temos que..., temos que... crescer..., e crescemos, mas a que custo? O processo é respeitado? Há tempo para “elaborarmos” nossas perdas, ou tudo é tratado como normal? Em que base(s) as escolhas dos adolescentes e jovens estão sendo utilizadas?

É esse processo de busca, de querer se encontrar, que observamos no filme “O Palhaço” (MELLO, 2011). Nele, Benjamim e Valdemar formam a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Eles vivem pelas estradas na companhia da divertida trupe do Circo Esperança. Mas Benjamin acha que perdeu a graça e, depois de muito tentar se “ajustar” ao contexto de sua inserção familiar e profissional – o circo – parte em uma aventura atrás de um sonho. Mais que partir atrás de um sonho, temos um Benjamin (que pode ser qualquer adolescente ou jovem de nossa sociedade atual), em busca de sua identidade ocupacional, ou em busca de sua re-orientação profissional, em busca de respostas para a sua carreira, vivenciando com isso seus conflitos. O que presenciamos enquanto espectadores que somos (às vezes não só em frente de uma tela de cinema ou TV, mas em nosso dia-a-dia), é o desenrolar de um processo de construção/busca: primeiro de uma resposta simples, depois de respostas mais complexas que envolvem personalidade, o “ser-no-mundo”, uma identidade ocupacional para sentir-se, não diríamos útil, mas sim, feliz com suas escolhas.

A primeira resposta que Benjamin busca é: “quem sou?”. A resposta de seu pai é um convite para que Benjamin continue a se fazer a mesma pergunta, afinal, conjectura diante da expressão de angústia do filho: “o gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço”, porque afinal, “cada um deve fazer o que sabe”.

O fato é que tanto adolescentes, como muitos jovens, ainda não sabem o que fazer, o que ser quando crescer. Essa é a dúvida de Benjamin, que se “veste” de uma personagem – o Palhaço Pangaré, em contraponto à personagem de seu pai, o adulto, Puro Sangue. Na primeira entrada de Pangaré/Benjamin no picadeiro, para o

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exercício de sua performance, se vê, nitidamente em seu rosto, o peso do que se vê alguém obrigado a fazer (fazer-dever e não fazer-querer); poderíamos até dizer que nesse momento, Benjamin está correspondendo ao ego ideal a que já nos referimos. Mas será que é isso mesmo o que Benjamin quer ser? Não seria melhor ser outra coisa, que lhe possibilitasse comprar/ter um “ventilador” (objeto que se configura como importante elemento metafórico do enredo e que parece impulsionar Benjamin à busca de algo – em termos de condições de vida – que signifique uma superação de sua situação atual), como sugere a companheira de circo (a sociedade talvez)?

O fato é que na formação de nossa identidade ocupacional, todos trazemos o modelo de trabalhador protagonizado por nossos pais (socialização primária). Como nos afirma Lisboa (1997): “esta figura já se fazia presente e foi introjetada a partir da identidade infantil. Agora trata-se da necessidade do adolescente assumir e projetar este papel para si.” É pois na adolescência o período privilegiado dos questionamentos, das opções a serem escolhidas, do vivenciar o período apontado por Bonelli (1995, apud LISBOA, 1997) como de “tentativas ou de projetos”, tendo deixado para trás o “período de escolhas com base nas fantasias.”

O privilégio de Benjamin é que, ao contrário das vivências cotidianas, não há a oportunidade, para muitos, do experienciar para depois escolher. Nossa sociedade está baseada primeiro na escolha e depois na vivência. Por exemplo: primeiro a maioria dos adolescentes e jovens brasileiros escolhe um curso universitário (muitas vezes, inclusive, entendendo que a isso se resume o ato de escolher uma profissão) e, depois de concluído tal curso, ingressa no mercado de trabalho para experimentar o primeiro contato com o exercício profissional (para além daquilo que fez na condição de estagiário durante o processo de graduação universitária). Noutro contexto, e aí poderíamos dizer que é o que ocorre com adolescentes e jovens da classe social menos privilegiada, o processo de inserção no mercado de trabalho se dá de forma não refletida e completamente alijada do direito de escolha, visto que muitos assumem para si – na oportunidade do primeiro emprego – fazeres profissionais que se cristalizam como profissão e que são assim tratadas pelo resto da vida.

Seria salutar que nossos adolescentes e jovens pudessem ter a oportunidade de uma vivência para depois uma escolha (tal prática pode ser observada nos projetos trainees desenvolvidos em muitas empresas onde ao escolhido – o trainee – é oferecida a oportunidade de várias experiências para depois exercer cargos definitivos ou de chefia). Mas a realidade não é de oportunidades como esta e muitos adolescentes têm sim que construir sua identidade ocupacional concomitante à sua identidade pessoal.

É nesse sentido que mudanças de paradigmas são bem vindas, porque como nos afirma Lehman (2010, p. 20):

[...] atualmente é necessário orientar adultos empregados, desempregados, aposentados, entre outros. A desconstrução do mercado de trabalho, fruto das grandes mudanças ocorridas nas organizações do trabalho e da mecanização, altera profundamente a relação do homem com o próprio trabalho, e com seu projeto de vida.

É então nesse campo privilegiado do que denominamos Projeto de Vida, que

a Orientação Profissional pode e deve se fazer cada vez mais presente, e

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indistintamente. É conveniente o pensamento de James Joyce (apud SERRÃO; BALEEIRO, 1999):

Quando olhamos por alto as pessoas, ressaltam suas diferenças: negros e brancos, homens e mulheres, seres agressivos e passivos, intelectuais e emocionais, alegres e tristes, radicais e reacionários. Mas, à medida que compreendemos os demais as diferenças desaparecem e em seu lugar surge a unicidade humana: as mesmas necessidades, os mesmos temores, as mesmas lutas e desejos. Todos somos um.

Eis o desafio que se nos apresenta a todos que pensam e repensam a Orientação Profissional para o trabalho: tornar o aprendizado, a escolha, o processo como algo prazeroso e não algo penoso, punitivo. A orientação para o trabalho há de ser uma opção, orientação para o que é significativo para quem escolhe, não apenas se limitando a corresponder ao que o outro, a sociedade, deseja.

O contraponto do que vivemos em sociedade se nos apresenta, em nosso país, pelo que nos chega da Europa: se lá pela primeira vez após a II Guerra, os filhos vivem pior do que os pais e os sonhos tropeçam na realidade, temos a oportunidade de vivermos exatamente o oposto, uma oferta de trabalhos e de profissões em condições diferentes de nossos pais: não mais para sobrevivermos, mas sim, vivermos daquilo que nos faz bem. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quisemos, no decorrer destas páginas, compartilhar de nossas experiências e reflexões realizadas a partir da prática docente, do estudo pessoal, do contato com os estudantes de Psicologia interessados na área da Orientação Profissional e dos encontros com os adolescentes que participaram dos grupos de Orientação Profissional atendidos por nossos estagiários; e tudo isso fizemos inspirados no contexto de uma história que “parece” ser encenada na ficção por Benjamin, do filme “O Palhaço” (Mello, 2011), mas que na realidade, tem “relação direta” com muitas das histórias que escutamos, acolhemos e tentamos compreender no dia-a-dia de nosso exercício profissional, além de se misturar um pouco com as nossas próprias.

Utilizamos a expressão “recurso didático-metafórico” para referirmo-nos ao filme, porque é assim mesmo que o entendemos: um tanto de recurso didático, no sentido que nos ajuda no processo de ensinar (e é isso que escolhemos como profissão – somos psicólogos e somos professores!); um tanto de recurso metafórico, já que o drama de Benjamin retrata ou relembra muitos “dramas” vividos por jovens que em seu processo de construção de identidade, e identidade ocupacional, vivenciam como fruto da dificuldade de fazer escolhas uma angústia, ora porque são muitas as opções, ora porque as influências externas tentam direcionar, ora simples e tristemente porque são alijados do direito de escolher e forçados a assumir como profissão o que não desejam, ou seja, o que o “mercado” oferece.

O Benjamin em/de todos nós busca constantemente respostas para o que deseja ser enquanto crescido, pois “se o gato bebe leite, o rato come queijo”, devemos simplesmente ter coragem de Ser; esse Ser adquirido através de um processo de autoconhecimento e descoberta de nossos valores, atrelado a um Projeto de Vida, pois como bem sabemos, a formação da identidade ocupacional pertence a cada indivíduo, que com suas opções e escolhas se torna cada vez mais indiviso.

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REFERÊNCIAS BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Trad. de Artur Morão. Portugal, Lisboa: Edições 70, 1991. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1991. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. de Estela dos Santos Abreu. 3. reimpressão. Rio de Janeiro: Contraponto, 1992. FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo. Trad. de Paulo César de Souza. Vol. 12 (1914-1916). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. (Coleção Sigmund Freud – Obras Completas). LEHMAN, Yvette Piha. Orientação Profissional na Pós-modernidade. In: LEVENFUS, Rosane Schotgues; SOARES, Dulce Helena Penna. Orientação Vocacional Ocupacional. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 19-30. LISBOA, Marilú Diez. Ser quando crescer... a formação da identidade ocupacional. In: LEVENFUS, Rosane S. et al. Psicodinâmica da escolha profissional. Porto Alegre: Artmed, 1997. p. 108-122. LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio – ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Trad. de Miguel Serras Pereira e Ana Luísa Faria. Lisboa: Relógio D’Água, 1983. LOIZOS, Peter.Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa. EM: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som - um manual. 3. ed. Trad. de Pedrinho A. Guareschi. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Trad. de Ricardo Corrêa Barbosa. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. MELLO, Selton. O Palhaço. Direção: Selton Mello. Produção: Vania Catani Bananeira Filmes. Intérpretes: Selton Mello; Paulo José; Larissa Manoela; Tonico Pereira; Giselle Mota; Fabiana Karla. Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicatto. Rio de Janeiro: Globo Filmes, c2011. 1 DVD (90 min), Widescreen, Color. Produzido por Globo Filmes, Distribuído por Imagem Filmes. 2011. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter – consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 5. ed. Trad. de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 1999. SERRÃO, M.; BALLEIRO, M. C. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD: Fundação Odebrecht, 1999. ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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RELATO DO COLÓQUIO

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Colóquio IV - Aposentadoria: fim de

carreira?

ORIENTAÇÃO PARA A APOSENTADORIA

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POC8 - APOSENTADORIA E CICLO DE VIDA FAMILIAR: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA TEORIA SISTÊMICA

Antunes MH 1; Soares DHP 1. 1 - LIOP, UFSC. A aposentadoria se constitui uma das principais transições da vida adulta, acarretando diversas modificações na vida do indivíduo e no contexto no qual ele se encontra inserido. A família é um dos principais espaços que serão habitados pelo indivíduo aposentado e, com frequência, motivo de apreensão acerca dos desdobramentos nos padrões relacionais após a efetivação da aposentadoria. Nesse sentido, cabe destacar que as investigações que se detém a compreender o processo de desligamento laboral, tradicionalmente, concentram sua discussão na perspectiva individual do aposentado, enfatizando questões como satisfação, saúde, bem-estar, características das relações laborais e renda. O presente trabalho, do tipo ensaio teórico, pretende abordar a interface aposentadoria e família, e, para tanto, serão apresentadas algumas contribuições fundamentadas na Teoria Sistêmica. Nas limitações deste trabalho e com objetivo de contribuir para a apreensão desta temática, será explorada, especialmente, a perspectiva do Ciclo de Vida Familiar, uma vez que tal sistematização possibilita considerar os diferentes momentos que compõe o desenvolvimento individual correlacionado ao desenvolvimento da família. Dentre os aspectos discutidos, destaca-se as mudanças normativas que envolvem a família neste período: a saída dos filhos de casa para casar e a possibilidade de viver o “ninho vazio”; a entrada de novos membros para integrar o sistema, tais como noras, genros, netos; alteração dos papeis, de modo a agregar novas funções de avós e sogros; cuidados para com a terceira geração, que está envelhecendo. Ademais, alguns fenômenos da contemporaneidade também pode influenciar a vivência deste período, por exemplo, a dificuldade dos filhos em tornarem-se independentes, de modo que a assistência financeira oferecida pelos pais é prolongada, o que pode dificultar a sobrevivência com os recursos oriundos do benefício da aposentadoria. Nesse contexto, cabe salientar também que, devido às mudanças demográficas da população mundial transcorridas nos últimos anos e com o aumento da longevidade, houve uma intensificação na convivência entre diferentes gerações, as quais, por vezes, convivem no mesmo lar. Correlacionado a este aspecto que trata da ampliação do ciclo de vida, é pertinente salientar que, aos casais, emerge uma nova demanda a ser administrada: repensar e avaliar a sua conjugalidade, definindo pela permanência ou não. Por fim, considera-se que compreender a aposentadoria por meio da perspectiva do Ciclo de Vida Familiar possibilita atentar para a complexidade do fenômeno em questão, assim como considerar fatores que podem influenciar significativamente na decisão e na efetiva experiência do desligamento laboral. PALAVRAS-CHAVE: família; aposentadoria; ciclo de vida familiar. INTRODUÇÃO

A família é o lócus onde ocorrem as experiências mais significativas associadas ao ser humano, especialmente no que tange ao seu desenvolvimento

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(MINUCHIN, COLAPINTO, MINUCHIN, 2011). Na perspectiva sistêmica, a família, é compreendida como um sistema ativo, um conjunto ou um todo integrado, com regras e funções dinâmicas, no qual as partes estão em constante relação e se transformam com o decorrer do tempo. O comportamento entre os membros do sistema familiar é interdependente, de modo que a compreensão de um fenômeno não pode ocorrer unicamente pelo entendimento de questões individuais de seus membros, e sim pensada em um contexto, no qual há uma rede de relações que se afetam mutuamente (ANDOLFI, 1980; CARTER, MCGOLDRICK, 1995; CERVENY, 2001).

Fundamentadas nessa perspectiva, Carter e McGoldrick (1995) propõe a compreensão do desenvolvimento humano por meio de ciclos de vida, os quais se desdobram ao longo dos diferentes eventos e estágios que são apresentados de maneira particular a cada família. Por meio dessa apreensão, o desenvolvimento de cada indivíduo é pensado de maneira integrada e concomitante ao processo evolutivo da família, cuja ênfase está na dimensão relacional e associa condições que ultrapassam os limites geracionais, envolvendo os membros da família extensa e ampliada.

Em relação à aposentadoria, Friedman (1995) assinala que, devido à função e relevância da família no processo evolutivo do ser humano, esta se relaciona diretamente com a vivência desse fenômeno. De acordo com o autor, a aposentadoria se caracteriza como um ‘ponto nodal’ do ciclo de vida familiar, de modo que é possível inferir acerca do impacto e as decorrências causadas por este evento.

Nesse sentido, é oportuno destacar que as investigações com vistas a compreender o processo de desligamento laboral, tradicionalmente, concentram sua discussão na perspectiva individual do aposentado, enfatizando questões como satisfação, saúde, bem-estar, características das relações laborais e renda. A preocupação em explorar o contexto da aposentadoria interligada a outras esferas da vida, dentre as quais se situa a família, é recente e pode ser encontrada, preponderantemente, na literatura internacional. Desse modo, a lacuna na produção científica que visa aprofundar as implicações que ocorrem sobre este domínio pode ser particularmente problemática, uma vez que a família é um dos principais espaços que serão habitados pelo indivíduo aposentado e, com frequência, motivo de apreensão acerca dos desdobramentos nos padrões relacionais após a efetivação da aposentadoria (Szinovacz, 2003).

A partir destes delineamentos, o presente trabalho, do tipo ensaio teórico, pretende abordar a interface aposentadoria e família, e, para tanto, serão apresentadas algumas contribuições fundamentadas na Teoria Sistêmica. Nas limitações deste trabalho e com objetivo de contribuir para a apreensão desta temática, será explorada, especialmente, a perspectiva do Ciclo de Vida Familiar, uma vez que tal sistematização possibilita considerar os diferentes momentos que compõe o desenvolvimento individual correlacionado ao desenvolvimento da família.

O CICLO DE VIDA FAMILIAR E A APOSENTADORIA

Estudos realizados com famílias americanas de classe média possibilitaram a Carter e McGoldrick (1995) compor a sistematização do processo desenvolvimental da família em seis estágios: 1) Saindo de casa: Jovens solteiros; 2) O novo casal; 3) Famílias com filhos pequenos; 4) Famílias com filhos adolescentes; 5) Lançando os

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filhos e seguindo em frente; 6) Famílias no estágio tardio da vida. Essa perspectiva permite ainda observar variações maiores, as quais envolvem questões que, embora específicas a alguns contextos familiares, causam impacto no ciclo de vida. Tais situações se referem aos casos de divórcio e recasamento, as peculiaridades do ciclo de vida em famílias pobres, a ocorrência de mortes precoces, a casos de doenças crônicas e acidentes, e ainda, a aspectos da história particular daquela família, tais como a cultura, etnicidade e religiosidade.

Proposta semelhante e que se atém a discutir elementos do ciclo vital das famílias face ao contexto brasileiro foi desenvolvida por Cerveny e Berthoud (1997; 2002; 2011). Para estas autoras, o processo desenvolvimental familiar ocorre em quatro fases: 1) Fase de aquisição, 2) Fase adolescente, 3) Fase madura, 4) Fase última. Nessa direção, é igualmente possível observar crises comuns e previsíveis ao longo do ciclo vital da família, como também as imprevisíveis, sendo importante destacar que as fases não são rigidamente determinadas e, em muitos momentos, uma se sobrepõe à outra.

As propostas de compreensão do Ciclo de Vida Familiar de Carter e McGoldrick (1995), assim como de Cerveny e Berthoud (2011), demonstram que a família é um sistema vivo e complexo que se desenvolve ao longo do tempo e, sendo norteado por códigos próprios, precisa evoluir para permitir o desenvolvimento de seus membros. Essa perspectiva teórica, demonstra-se fundamental para o entendimento das transições que ocorrem com a família e atingem todos os componentes do sistema. Em cada estágio ou fase do seu ciclo de vida, o funcionamento familiar precisa ser reestruturado, o que implica na modificação de padrões tradicionais de interação que se constituem a partir das regras, crenças, valores, papéis e segredos inerentes a cada família.

Em relação à aposentadoria, tal perspectiva se torna especialmente válida, na medida em que conduz a discussão desse fenômeno considerando fatores de cunho relacional. Por exemplo, ao se aposentar, o indivíduo avança para um novo estágio de seu curso de vida individual, e inevitavelmente deverá fazer adaptações de sua rotina e atividades. O mesmo ocorre com sua família, a qual precisará se ajustar ao novo estágio, que inclui a aposentadoria de um de seus componentes, e ocasionará alterações nos padrões tradicionais de funcionamento do sistema familiar.

A perspectiva do ciclo de vida familiar permite identificar a aposentadoria como um evento que pode ocorrer em dois diferentes momentos do ciclo de vida da família, quais sejam: “Lançando os filhos e seguindo em frente” e “Famílias no estágio tardio da vida”, conforme a sistematização de Carter e McGoldrick (1995), e “Fase madura” e “Fase última”, de acordo com a proposta de Cerveny e Berthoud (1997; 2011). Uma vez que ambas as autoras apresentam similaridades em seu entendimento e contribuições significativas acerca do impacto da aposentadoria no ciclo de vida, pretende-se aprofundar alguns elementos que compõem os referidos estágios, e para tanto, julga-se pertinente a utilização das duas perspectivas: a americana e a brasileira.

O período do ciclo vital familiar no qual a aposentadoria se inscreve, geralmente está relacionado a intensas mudanças na estrutura da família, as quais envolvem a vivência do “ninho vazio” em virtude da saída dos filhos de casa para casar, ou, quando isso já ocorreu, é necessária a abertura e aceitação de novos membros, tais como genros, noras e netos, e o desempenho dos novos papéis, respectivamente, de sogro/sogra e avô/avó. É um período em que os filhos estão

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crescidos, adquirem maior autonomia e isso demanda o estabelecimento de um relacionamento maduro com seus progenitores. Aos pais, cabe rever seu papel parental e favorecer, por meio da liberdade e da orientação, que os filhos possam estabelecer seus objetivos e estilos de vida (MCCULLOUGH, RUTENBERG, 1995; CERVENY, BERTHOUD, 1997; OLIVEIRA, CERVENY, 2011).

No entanto, é interessante observar a existência de um fenômeno comum na contemporaneidade, ao qual Cerveny e Berthoud (1997) denominam de “pais estendidos”. Sua ocorrência está relacionada aos casos nos quais os filhos, embora estejam criados, retornam a receber cuidados e assistência dos seus pais idosos ou aposentados. Dentre as situações nas quais esse contexto pode ser evidenciado, estão o apoio ou o amparo oferecido pelos pais às necessidades financeiras ou emocionais dos seus filhos e ainda o auxílio no cuidado e na educação dos netos por parte dos avós.

É oportuno esclarecer ainda que, face à existência de múltiplas configurações de relacionamentos familiares na contemporaneidade, as quais incluem, por exemplo, a escolha por casar e ter filhos em um período mais tardio do desenvolvimento, a aposentadoria e o envelhecimento podem culminar com o período de ingresso dos filhos no Ensino Superior e exigir a permanência dos pais em seu trabalho para atender às necessidades financeiras da família. Contudo, os desafios econômicos que se apresentam na atualidade, tais como a precarização do trabalho e o desemprego, têm feito com que os pais se preocupem com a estabilidade econômica dos filhos, de modo que estes podem postergar sua aposentadoria para manterem-se ativos, evitando ou adiando que seus filhos tenham que enfrentar as dificuldades oriundas da falta de autonomia financeira (OLIVEIRA, CERVENY, 2011; WALSH, 2005; BORGES, MAGALHÃES, 2009; SILVEIRA, WAGNER, 2006).

Conforme esclarece Coelho (2011), na realidade brasileira existem outros dois motivos que tornam comum a permanência de indivíduos no trabalho, embora tenham conquistado o direito a aposentar-se. O primeiro deles diz respeito à necessidade de complementação de renda, na medida em que o valor do benefício não é capaz de atender às demandas financeiras da família. Por conseguinte, o segundo motivo deflagra a dificuldade de perda do papel funcional e de principal provedor familiar que se refere, especialmente, aos homens, e pode ocasionar depressão e o sentimento de inutilidade.

Em relação ao casal, as últimas fases do ciclo de vida familiar impõem o desafio de repensar sua conjugalidade. É comum nessa fase o surgimento, de sentimentos ambivalentes de continuidade e finitude no casal, de modo que este precisa avaliar e renovar seu laço conjugal, encontrando o prazer de estarem juntos, haja vista que estão mais liberados das obrigações de educação e cuidado com os filhos e podem investir em novos espaços de vida. As negociações devem ocorrer tanto no sentido de abarcar a nova realidade do sistema conjugal, por exemplo, de ambos estarem residindo sozinhos, sem os filhos, assim como de avaliar a permanência da relação entre marido e esposa (NICHOLS, SCHWARTZ, 2007; MARQUES, SOUZA, 2012; OLIVEIRA, CERVENY, 2011).

Por conseguinte, o elevado índice de expectativa de vida tem ampliado o curso do ciclo de vida e, aumentado, sobretudo, o tempo para os casais conviverem após criarem seus filhos, estarem aposentados ou idosos. Este fato impõe amplas consequências aos relacionamentos, haja vista que os parceiros, inevitavelmente,

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precisarão pensar e avaliar sua conjugalidade para permanecerem ou não, unidos por mais 20 ou 30 anos (WALSH, 2005).

Ao casal, soma-se ainda outro desafio: neste período é comum que, devido ao envelhecimento ou adoecimento da terceira geração, sejam agregadas responsabilidades e cuidados dos filhos para com estes. Especialmente no estágio tardio da vida ou fase última há, concomitantemente, a ocorrência de perdas e morte, quer seja da geração mais velha, de amigos ou do próprio cônjuge. Em virtude dos novos papéis e necessidades, a flexibilidade na estrutura da família torna-se fator fundamental para o seu bom funcionamento, sendo necessário inclusive explorar e aceitar novas opções e os estilos de vida comuns à contemporaneidade, dentre eles, o recasamento (CARTER, MCGOLDRICK, 1995; WALSH, 1995; WALSH, 2005)

Diante desse conjunto de mudanças, o trabalho, por vezes, pode conferir certo equilíbrio à relação conjugal, na medida em que ambos os cônjuges estão ocupados com seus compromissos, quer sejam estes de cunho laboral ou nas funções que ambos exercem no ambiente familiar. Nesse sentido, a aposentadoria significa muito mais que uma súbita perda da profissão, uma vez que implica no repentino aumento da proximidade para o casal. Com ambos os parceiros em casa todo o dia, a casa pode parecer menor e o relacionamento sofrer um desequilíbrio, seja pela intensificação da convivência, seja por uma possível tentativa de exclusão do componente da família aposentado, seja por conflitos conjugais que foram silenciados anteriormente, ou ainda em tentativas de substituição de fontes de prazer por meio de relacionamentos extraconjugais (CARTER, MCGOLDRICK, 1995; FRIEDMAN, 1995; NICHOLS, SCHWARTZ, 2007).

Os aspectos econômicos influenciam diretamente a qualidade de vida na aposentadoria. Se o casal consegue, por exemplo, ter uma renda adequada às suas demandas de saúde e lazer, é possível que essas fases ou estágios do ciclo vital transcorrem com maior tranquilidade. Paralelamente, ao receber a pensão, o aposentado pode resgatar seu papel de provedor e novamente contribuir com seus filhos e netos nas dificuldades financeiras que estes possam vivenciar (CERVENY, BERTHOUD; 1997; SANTOS, DIAS, 2008; COELHO, 2011).

Outro aspecto a ser considerado diz respeito à aposentadoria enquanto demarcador do afastamento do indivíduo de sua atividade laboral formal, a partir do qual o aposentado dispõe de maior tempo livre para exercer outras atividades; seus familiares podem delegar a ele o papel de solucionador dos possíveis conflitos e crises que emergem no contexto familiar. Ele pode tornar-se sucessivamente mais lembrado, na medida em que possui maior autonomia para tratar de certas questões, e assim, passar a superfuncionar, tratando dos compromissos e responsabilidades que, a princípio, eram desempenhados por outros membros da família (CARTER, MCGOLDRICK, 1995; SANTOS, DIAS, 2008).

Concomitantemente, ou nos anos subsequentes à consolidação da aposentadoria, podem ocorrer mudanças nos papéis diante do processo de envelhecimento, o qual pode se relacionar também às questões do declínio fisiológico, adoecimento e morte.

Tendo em vista o índice de longevidade, é comum que ocorra o contato direto e o prolongamento da convivência com os membros mais idosos da família. Tal acontecimento, per si, ocasiona diversos desafios aos relacionamentos familiares, uma vez que a interação envolve indivíduos de gerações com experiências distintas

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e contrastantes, de modo que a geração mais velha pode se perceber inadequada ou sem espaço mediante as significativas transformações societárias (WALSH, 2005; FIGUEIREDO, MARTINS, SILVA, OLIVEIRA, 2011).

Sobre o processo de envelhecimento, convêm destacar que este demanda do indivíduo sua adaptação a uma nova rotina de vida, com mudanças nas atividades que eram desenvolvidas, podendo somar-se ainda, a necessidade de cuidado sobre si e a dependência de outras pessoas para cumprir tarefas, desse modo, agregando a seus parentes o papel de cuidadores. No entanto, os membros mais jovens da família, os quais geralmente se tornam os cuidadores, devem permanecer valorizando os relacionamentos familiares, proporcionando espaço para que seus pais possam contribuir por meio da sua sabedoria e experiência, todavia, sem inverter os papéis ou superfuncionar por eles (CARTER, MCGOLDRICK, 1995; WALSH, 1995; HENRIQUES, FÉRES-CARNEIRO, RAMOS, 2011).

A partir dos aspectos discutidos, é possível observar que o fenômeno da aposentadoria se apresenta a partir de diversas facetas frente à dinâmica das relações familiares, na qual estão envolvidos os diferentes componentes que constituem o sistema familiar. Nesse sentido, cabe retomar a concepção de Friedman (1995), o qual distingue a aposentadoria de outros eventos que também atingem ao sistema familiar, tais como o casamento, a puberdade e os funerais, e a caracteriza como um ‘ponto nodal’ no ciclo de vida familiar. Isso significa que a aposentadoria é um evento de grande impacto sobre o contexto da família, haja vista que a mesma ocasiona intensa transformação da estrutura familiar, fazendo que seus membros assumam, por exemplo, papéis distintos aos desempenhados habitualmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vivência da aposentadoria, via de regra, ocasiona diversas modificações na vida do indivíduo, as quais se estendem também ao contexto no qual se encontra inserido, abrangendo diretamente o âmbito familiar. Tendo em vista os aspectos discutidos, é possível considerar que a aposentadoria, enquanto parte do ciclo vital da família, representa a passagem para uma nova organização e estrutura que a própria família desconhece. Isto é, há uma multiplicidade de tarefas desenvolvimentais relacionadas a este estágio que ocasionarão a reestruturação do contexto familiar, e isso exige que seus componentes se atenham tanto à manutenção do seu funcionamento, quanto à exploração de novos papéis familiares e sociais.

Observa-se que a perspectiva do Ciclo de Vida Familiar, ao enfatizar o viés relacional do desenvolvimento humano, permite a apreensão de diferentes processos que permeiam o pós-carreira, denotando a complexidade na qual este fenômeno se constitui. Por sua vez, tal sistematização possibilita ainda, atentar para a variedade de configurações e dinâmicas familiares existentes na contemporaneidade, assim como identificar fatores igualmente significativos e que podem influenciar a decisão e a efetivação do desligamento laboral.

REFERÊNCIAS ANDOLFI, M. A terapia familiar. Lisboa: Vega, 1980. BORGES, C. C.; MAGALHÃES, A. S. Transição para a vida adulta: autonomia e dependência na família. Psico, 40 (1), 42-49, 2009.

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______. Fortalecendo a resiliência familiar. São Paulo: Roca, 2005.

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POC9 - APOSENTAR, POR QUE E PARA QUÊ?

Lima, TAP 1; Helal, DH 1. 1 - Universidade Federal da Paraíba. O trabalho exerce centralidade na vida das pessoas e interfe na decisão de aposentar ou retornar a trabalhar após a aposentadoria. A preparação para a aposentadoria pode minimizar os efeitos negativos sentidos na vida social e profissional do trabalhador. O objetivo deve ensaio teórico é refletir sobre os antecedentes e os consequentes da aposentadoria, bem como sobre o significado do trabalho na vida das pessoas, na construção identitária e as mudanças geracionais que o modificam. Infere-se que os trabalhadores se aposentam porque não estão satisfeitos com o trabalho, por problemas de saúde e por não ter tempo; e se aposentam para ter mais liberdade, começar novos projetos, mais tempo para relacionamentos, lazer, investimentos e para cuidar de si e dos outros. PALAVRAS-CHAVE: trabalho; idoso; aposentadoria. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

“Quem trabalha na juventude, repousa na velhice”. Será que o ditado popular é verdadeiro? Pessoas da geração passada vivenciavam o diferimento das recompensas (LECCARDI, 2005) na vida profissional e pessoal, ou seja, trabalhavam arduamente para aproveitar depois na “sonhada aposentadoria”. Mas, ao chegar à data tão esperada, o dia da aposentadoria, muitos não se sentem preparados ou não querem. Por que será?

Refletir sobre qual é o momento mais adequado para se aposentar e o que fazer depois, inicialmente, pode parecer uma indagação apenas de pessoas mais velhas, as quais já trabalharam muito na vida. Tal questionamento, contudo, parece ser de suma importância a trabalhadores de todas as idades.

Certamente, muitos já se visualizaram aposentados, descansando ou curtindo as “férias prolongadas”. Todavia, imaginar como será o dia após a aposentadoria, sem ir ao trabalho, não encontrar os colegas, sem atividades e desafios, e ainda, ao final do mês receber uma remuneração menor, em virtude das perdas salariais decorrentes da inatividade, talvez poucos tenham idealizado.

Neste debate questões como os motivos para se aposentar, o retorno ao trabalho, e o após aposentadoria, passam a ter destacada relevância.

A aposentadoria é um direito ou benefício decorrente de invalidez, idade e/ou tempo de contribuição para a previdência social. Tal direito envolve o governo, as organizações e a sociedade.

No entanto, apesar de ser um tema de repercussão social, não há muitos sobre ele no país na área de Administração. Observa-se em pesquisa realizada em 05 de julho de 2013 em portais e diretórios nacionais de impacto na área de administração como Spell, Scielo e Anais do Enanpad com a palavra aposentadoria, a existência de 112 artigos, sendo apenas 25 referentes aos antecedentes e/ou consequentes da aposentadoria.

Assim, a fim de compreender o sentido de estar e permanecer aposentado e demais questões ligadas ao tema, faz-se necessário, por exemplo discutir o significado do trabalho na vida das pessoas, da influencia na construção identitária,

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das mudanças geracionais, legais e contextuais que o modificam. Desta maneira, esse ensaio teórico tem como objetivo refletir acerca dos

antecedentes e consequentes da aposentadoria. Em particular, para compreender o fenômeno aposentadoria, analisaram-se como antecedentes: o trabalho, o velho/idoso, o abono de permanência e o processo de aposentadoria; e como consequentes: o “sem trabalho”, o “não trabalho”, a terceira idade, o pós-aposentadoria e o retorno ao trabalho. 2 TRABALHO VERSUS O “NÃO TRABALHO” VERSUS O “SEM TRABALHO”

A definição do que é trabalho não é consensual, em virtude da complexidade por englobar diversos objetos, eventos e situações. O significado atribuído ao trabalho foi modificado pelo contexto histórico, dependendo também do grau de institucionalidade e da valoração dada pelas pessoas e pelos grupos sociais (PICCININI; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011).

É possível constatar a construção e modificação de acepção da palavra trabalho ao longo do tempo e em diferentes línguas. A palavra trabalho e labor, em algumas línguas possuem significado distinto, mas em português é possível observar que ambas podem demonstrar prazer (reconhecimento) ou sofrimento (esforço), conforme dispõe Albornoz (2008, p. 8-9):

O grego tem uma palavra para fabricação e outra para esforço, oposto a ócio; por outro lado, também apresenta pena, que é próximo a fadiga. O latim distingue entre laborare, a ação de labor e operare, o verbo que corresponde a opus, obra. Em francês, é possível reconhecer pelo menos a diferença entre travailler e ouvrer, sobrando ainda o conteúdo de tâche, tarefa. Assim também lavorare e operare em italiano; e trabajar e obrar em espanhol. No inglês, salta aos olhos a distinção entre labour e work, como no alemão, entre Arbeit e Werk. Work, como Werk, contém a ativa criação da obra, que está também em Schaffen, criar, enquanto em labour e Arbeit se acentuam os conteúdos de esforço e cansaço. Em português, apesar de haver labor e trabalho é possível achar na mesma palavra trabalho ambas as significações: a de realizar uma obra que te expresse, que dê reconhecimento social e permaneça além da tua vida, e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo inevitável.

Outra forma de entender a constituição da palavra trabalho é por meio da

análise das épocas. Na concepção clássica, o trabalho era visto como algo degradante e torturante. Com o crescimento da religião, foi considerado como esforço para um fim, mas condenado por visar o lucro. Já a Reforma Protestante destacou a vida em atividade e o ascetismo. O lucro deixou de ser pecado e os ganhos advindos do labor passaram a ser considerados bênçãos divinas (PICCININI; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011).

No primeiro período da Revolução Industrial se observa a valoração do dinheiro e do trabalho como liberdade de modificar a natureza. Posteriormente com o surgimento de mercadorias, o trabalho também foi considerado forçado, explorador e repetitivo, gerador de alienação. Com o crescimento do capitalismo, o trabalho passou a ser sustentação do sistema produtivo, permitindo a criação ou rompimento de laços sociais. Mais adiante, no Século XX, o trabalho passa a ser considerado como contrato social, por meio do emprego regulado, buscando resguardar o bem estar social (PICCININI; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011).

Neste Século, com o grande número de desemprego, enfraquecimento da

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influência sindical e a flexibilização das relações trabalhistas, o trabalho tem sido considerado muitas vezes precário e anômalo (TOLEDO, 2002). Questões ligadas à tese do fim do trabalho passam a ganhar força.

Estudiosos questionam sobre o futuro do que denominamos trabalho e defendem a tese da fragmentação de identidades dos trabalhadores, dificultando os movimentos coletivos e a formação de identidades coletivas por meio do local de trabalho, sendo considerado mais importante o mundo extra trabalho (PICCININI; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011; TOLEDO, 2002). Tais debates passam a questionar o trabalho como elemento central na construção identitária. Cumpre lembrar que na Era Moderna, o trabalho é visto como

locus do estabelecimento de relações em que as dimensões cognitivas e afetivas do sujeito são postas à prova, desenvolvidas e intensamente vivenciadas nas múltiplas experiências que o contexto laboral proporciona. Na esfera da intersubjetividade produzida pelo trabalho, vivências e aprendizagens incorporam-se à dimensão identitária dos sujeitos em interação, de tal modo que formas de trabalhar pautadas na cooperação e solidariedade possam ter um impacto significativo sobre a identidade dos trabalhadores associados (VERONESE; ESTEVES, 2009, p. 219-220).

De outra parte, na sociedade pós- moderna, o trabalho se torna menos

central, e passa a ser meio para conseguir satisfazer a necessidade de consumir (PICCININI ; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011; TOLEDO, 2002). Neste cenário, em que o trabalho deixa de ser o único elemento central na vida dos indivíduos, marcada também pela crise do capitalismo, com a ampliação do trabalho informal e precário, surge a questão: como pensar em uma aposentadoria?

A crise da pós-modernidade é acompanhada da crise do trabalho, quebra da noção de unicidade, desemprego estrutural, subempregos e organizações sem fronteiras (VERONESE; ESTEVES, 2009). Essas mudanças significativas da natureza do trabalho interferem na maneira como as organizações estão estruturadas e como as pessoas vivenciam o trabalho no dia a dia, principalmente por alterarem relações entre os atores, modificando as redes sociais (BARLEY; KUNDA, 2001).

A falta de trabalho afeta tanto os jovens e adultos que estão aptos a trabalhar, quanto os aposentados que desejam retornar ao emprego. Esse desemprego é um fenômeno “transitório e involuntário”, podendo também ser expresso pelo “trânsito à inatividade de indivíduos no auge da sua vida ativa, as formas precárias e/ou atípicas dos chamados postos de baixa qualidade, além do desemprego de longa duração” (GUIMARÃES, 2002, p.107).

Também esse desemprego é denominado “seletivo, visto que as chances de emprego estão desigualmente distribuídas entre os diferentes grupos sociais” (GUIMARÃES, 2002, p.108). Ademais, o retorno ou não do aposentado ao trabalho dependerá do seu passado, suas condições de saúde prévias ao processo e as circunstâncias envolvendo a aposentadoria em si (BITENCOURT, et al., 2011).

Cabe ressaltar que muitos trabalhadores, hoje aposentados, não tiveram a chance de escolher a profissão. Muitos foram influenciados por amigos, familiares ou até por necessidade de sobrevivência; alguns não tiveram recursos financeiros para uma educação melhor, refletindo na redução das oportunidades no mercado de trabalho. Assim, muitos satisfeitos ou não com o trabalho, tiveram apenas um único emprego na vida, no mesmo papel por vários anos, sem conhecer outras experiências, o que também pode dificultar o retorno ao trabalho ou mudança de

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carreira (FRANÇA, 2009). Alguns trabalhadores retornam ao trabalho por questão de sobrevivência, pois

precisam manter sua família, seus filhos e muitas vezes até os netos. Outros retornam e buscam um trabalho que seja realizado em regime de meio-período, equilíbrio no trabalho e vida pessoal (work-life balance), possibilitando o equilíbrio entre tempo livre, lazer, voluntariado e outras atividades que lhes proporcione prazer (FRANÇA, 2009; FRANÇA; SOARES, 2009). E existem ainda os que não se reinserem ao mercado de trabalho, pois apresentam situação financeira favorável e vão apenas aproveitar a denominada “terceira idade”.

3 VELHICE VERSUS IDOSO VERSUS TERCEIRA IDADE

Os termos velhice, idoso e terceira idade são comumente usados para definir uma fase da vida com sessenta anos ou mais. Todavia essas nomenclaturas foram construídas a partir de contextos históricos e mudanças sociais, bem como influenciadas pela institucionalização da aposentadoria e por estratégias de mercado.

Nas sociedades pré- industriais, o velho, ancião, era visto como alguém com acúmulo de conhecimento e experiência, consultado nos processos de decisão (SOUZA, 2010). Naquele tempo, o trabalho não tinha tempo específico, regulado. Era realizado no ambiente familiar, o que não favorecia a fragmentação do curso da vida em etapas estabelecidas. A partir do século XIX, inicia-se a fragmentação entre trabalho e família, maior controle do tempo e estabelecimento de categorias etárias (SILVA, 2008).

Ao longo do Século XX, consolidaram-se os grupos etários, com “transição entre diferentes idades e institucionalização de ritos de passagem, como o ingresso na escola e na universidade e a aposentadoria” (SILVA, 2008, p. 157).

Pode-se adotar que o surgimento da velhice está atrelado ao processo de modernização das sociedades ocidentais, possivelmente pela periodização da vida culminando com uma mudança de cultura, na qual a idade passa a ser considerada importante para distinção social, apresentando-se como categoria e como modelo de identidade para os sujeitos (SILVA, 2008).

A concepção da velhice foi modificada pela formação de novos saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das aposentadorias. Ela passa a ser entendida como um estado fisiológico específico, corpo doente, inatividade e incapacidade para o trabalho, gerando o isolamento social e a senescência. Essa mudança de concepção possibilitou ao velho o reconhecimento de direitos e de reivindicação de uma categoria sob o status de idoso (SILVA, 2008).

Mas, em virtude da terminologia “velho” estar associada à incapacidade e à indigência, a partir da década de 1960, observou-se a modificação de velho para “idoso”. Com os avanços da tecnologia médica, a imagem da velhice começou a ser associada à longevidade e a qualidade de vida.urge, assim, um novo estilo de vida, denominado de “terceira idade”, voltado para o consumismo (SILVA, 2008).

Com o surgimento da terceira idade e do crescimento populacional desta categoria em todo o mundo (SOUZA, 2012), o envelhecimento passa a ser visto como qualidade de vida à medida que a população envelhece, se estimula a independência, se busca a dignidade e o direito a oportunidades dos idosos (FRANÇA, 2009).

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Os estrategistas de marketing perceberam rapidamente o potencial de consumo desta categoria e criaram novos hábitos e hobbies, alterando a imagem do aposentado. Mas o estágio de empoderamento da nova velhice é para todos?

Observa-se que, no período compreendido de 2001 a 2011 no Brasil, a população idosa trabalhando (economicamente ativa) cresceu 31,52 %,, exceto nos anos de 2009 e 2011 que se constatou leve queda (IPEA, 2013).

Nota-se também que a taxa de desemprego de idosos neste período diminuiu de 2,6% para 1,7%, bem como a informalidade de 41,9% para 40,5%. Observou-se, ainda, que os rendimentos médios reais recebidos foram reduzidos em 31,04% (R$ 907,23 para R$ 625,54), demonstrando que os idosos continuam trabalhando mais tempo e com uma remuneração média menor.

Esse contexto é preocupante, tendo em vista que ao se aposentar, esses idosos irão perceber remuneração ainda menor por causa dos cálculos previdenciários pela média das contribuições. Assim, possivelmente por questões de ordem financeira as “sonhadas férias prolongadas” vivenciadas na aposentadoria não serão possíveis.

Desta forma, observa-se que para vivenciar essa “terceira idade”, o aposentado necessita de uma situação financeira, física e mental satisfatória, condição que também irá influenciar o trabalhador na decisão de continuar em atividade ou se aposentar. 4 ABONO DE PERMANÊNCIA VERSUS APOSENTADORIA VERSUS RETORNO AO TRABALHO

O trabalho é alienante e centralizador, engaja toda a subjetividade do trabalhador (VIANA; MACHADO, 2011), é composto pela identificação psicológica, pela participação ativa e pelo próprio desempenho, gerando uma correlação entre as identidades profissionais e pessoais com o compromisso organizacional (FRANÇA, 2009).

Para Morin, Tonelli e Pliopas (2007, p 54) “a própria identidade das pessoas muitas vezes se confunde com seu trabalho”. O medo deste rompimento pode favorecer as pessoas a adiarem a data da aposentadoria (FRANÇA, 2009). Isso pode gerar nos trabalhadores da iniciativa privada o retardamento da aposentadoria ao máximo. Na esfera pública essa prorrogação é denominada como abono de permanência, que é o reembolso do valor da contribuição previdenciária mensal ao servidor que optar por permanecer em atividade.

Esse retardamento ou o abono de permanência pode ser considerado como uma transição, uma pré-aposentadoria, vivenciada como prazer para quem está preparado ou como sofrimento pela ansiedade, incertezas e visão negativas dos dias que estão por vir (BITENCOURT et al., 2011)

As pessoas que não se preparam psicológica e financeiramente para o após aposentadoria, podem se limitar a viver a realidade presente, evitando imaginar o sofrimento que terão com essa mudança. No entanto, o planejamento pode reduzir os efeitos negativos que a aposentadoria possa causar no indivíduo (CAMBOIM et al., 2011).

Uma possibilidade de preparação seria a autogestão, com uso de técnica que favorecem o controle dos comportamentos individuais e organizacionais. Todavia, fatores como a família, a remuneração, a satisfação com a equipe e a satisfação com a atividade pode influenciá-la, pois a preparação para a aposentadoria muitas

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vezes é realizada de forma não sistemática, através de reuniões com familiares (CAMBOIM et al., 2011).

Outra maneira seria participar de programa de preparação para a aposentadoria, geralmente promovido pelas organizações, no qual o planejamento para a aposentadoria pode ser realizado por meio de debates sobre as pressões do processo de aposentadoria, muitas vezes com a participação dos companheiros que passaram pelo processo juntamente com o aposentado, para que eles também sejam agentes de promoção do bem-estar e apoio no momento da transição para a aposentadoria (BITENCOURT et al., 2011).

O programa de preparação para aposentadoria pode ser composto também de um módulo informativo (legislação) e/ou módulo experiencial ou formativo (qualidade de vida), o qual geralmente mantém o acompanhamento do trabalhador até cinco anos após a aposentadoria (FRANÇA, SOARES, 2009).

Nota-se em estudo realizado por Bitencourt et al. (2011) que os aposentados, responderam mais positivamente à ausência de trabalho, tanto por participar de programas de preparação para aposentadoria, quanto por perceberem bons benefícios.

As pessoas decidem se aposentar não só porque cumpriram os requisitos legais para a concessão deste benefício, mas diversos fatores podem gerar efeitos push/pull (expulsão/ atração) no processo de decisão de aposentadoria (MOREIRA, 2011). Tratam-se dos denominados preditores individuais ou sociais (FRANÇA, 2009; FRANÇA; SOARES, 2009).

Os preditores individuais, segundo França e Soares (2009, p. 743), dizem “respeito ao salário, ao percentual de perda esperada na aposentadoria, à saúde e à proximidade de aposentadoria”. Os sociais, por sua vez, estariam relacionados à percepção do trabalho (envolvimento e satisfação com o trabalho), alocação de tempo para atividades e relacionamentos, influência da família e dos amigos na tomada de decisão, percepção da qualidade de vida do país e atitudes em face da aposentadoria (crenças e cognição) (FRANÇA, 2009; FRANÇA; SOARES, 2009).

Souza (2012) define como preditores para o trabalhador não se aposentar a manutenção das condições de vida (recompensa financeira como fator preponderante para a continuidade; a satisfação com a atividade ocupacional; evitar baixos aumentos salariais e perdas salariais; manter padrão de vida e retardar o envelhecimento); e a preservação da solidariedade familiar, pois os filhos saíram da adolescência e ficaram jovens adultos, estudantes universitários sem emprego, ocasionando um conflito de gerações (MANNHEIM, 1993).

Essa geração de idosos e aposentados de hoje é considera espremida e enfrentam um dilema, pois possuem a responsabilidade de cuidar dos pais, sogros ou parentes mais velhos, precisando tempo disponível ou trabalhar em horários flexíveis; , ao mesmo tempo em que ajudam aos filhos, mantendo-os financeiramente ou auxiliando na criação dos netos (FRANÇA, 2009). Esta pode ser uma das razões pelas quais alguns trabalhadores adiam a aposentadoria ou decidem retornar ao trabalho.

A decisão de se aposentar não é fácil, pois algumas pessoas percebem a velhice com a chegada da aposentadoria, consideram que o trabalho mantém o cérebro funcionando, e o “não trabalho” os tornará velhos, não associando a velhice ao desgaste natural do corpo (SOUZA; MATIAS; BRETAS, 2010; SOUZA, 2012). Tal decisão também pode gerar problemas conjugais, caso um dos cônjuges esteja

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aposentado e o outro continuar trabalhando (FRANÇA, 2009). Mas, o que fazer após a aposentadoria? Muitas pessoas não sabem

responder, pois o tempo delas estava atrelado apenas ao trabalho, no qual o lazer era pouco praticado ao longo da vida (FRANÇA, 2009). A geração passada compreendia o trabalho como meio para prazer futuro na aposentadoria. Entende-se assim que essa mudança de vida de trabalho para uma vida de lazer seja tão difícil. Diferentemente, os jovens da geração atual vislumbram a junção entre trabalho e prazer concomitantemente (LECCARDI, 2005).

Após se aposentar, o indivíduo pode sentir sofrimento ou prazer. O sofrimento gerado após a aposentadoria pode considerar as perdas pela ausência do trabalho no que tange aos aspectos emocionais (ausência do senso de fazer parte da organização, das responsabilidades e de enfrentar desafios no trabalho); aspectos tangíveis (status do cargo, não participação em eventos e reuniões da empresa); relacionamento com colegas de trabalho; redução de salários e benefícios (FRANÇA, 2009; FRANCA, SOARES, 2009; SOUZA, 2012).

Todavia, observam-se sensações de prazer e ganhos após se aposentar, tais como: liberdade do trabalho (ausência de pressão do trabalho, das responsabilidades de gestão, cumprimento de prazos e horários); mais tempo para relacionamentos; possibilidade de novo começo (trabalhos diferentes e tempo para estudar); mais tempo para atividades de lazer e culturais, bem como para realizar investimentos (FRANÇA, 2009; FRANÇA, SOARES, 2009; SOUZA, 2012).

Em virtude de vivenciar alguns sofrimentos, muitos aposentados buscam reinserção no mercado de trabalho. Desta forma, a aposentadoria hoje não representa a saída dos trabalhadores do mercado de trabalho, visto que muitos retornam e desejam continuar a ter uma atividade remunerada (FRANÇA; SOUZA, 2009).

O retorno ao trabalho, também denominado de bridge employment (Bitencourt et al. , 2011), pode ser o caminho para preencher o vazio social e “ocupar a cabeça” (SOUZA, 2013). Para Chanlat (2011, p. 123) “o lugar de trabalho é um lugar de socialização e de encontros: quando abolido, isso reenvia as pessoas a si mesmas, isolando-as”.

Algumas pessoas após se aposentar conseguem suprir esse vazio social com a substituição do grupo social do ambiente profissional por outros grupos sociais, como aqueles formados em atividades de artesanato, trabalho voluntário, ou de esporte (BITENCOURT et al., 2011). Outros retornam ao trabalho por problemas financeiros, para preservar padrão de vida e da solidariedade familiar como antes da aposentadoria (SOUZA, 2012).

Outra possibilidade de retorno é daquelas pessoas que associam a velhice a perda e a incapacidade, não encarando a aposentadoria como o fim das atividades profissionais, como por exemplo, professores universitários que se aposentam em instituições públicas e continuam a lecionar em instituições privadas (MOREIRA, 2011).

Um grande desafio é as pessoas se prepararem para a aposentadoria ao longo da vida, possibilitando a saída satisfatória do mercado de trabalho, ou um retorno e uma mudança de carreira. Sabe-se, contudo que esse processo que engloba o aprendizado formal, não-formal e informal, estende-se da infância à aposentadoria (FRANÇA; SOARES, 2009).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o envelhecimento da população houve o aumento no número de

pessoas com requisitos para se aposentar a qualquer momento. Assim, muitos idosos continuam trabalhando e adiando a aposentadoria. Essa decisão pode ser afetada pelo conjunto de preditores individuais e/ou sociais e pela centralidade do trabalho na vida das pessoas.

Ficar sem trabalhar para alguns é um sofrimento; para outros um prazer. A centralidade do trabalho interfere na aposentadoria e após aposentadoria, devido à construção identitária estabelecida ao longo da vida do trabalhador.

A aposentadoria pode ter significados diferentes para cada pessoa, pois depende do contexto histórico, da preparação psicológica, física e financeira. Essa preparação é necessária para tentar reduzir os efeitos negativos na vida social, financeira e profissional do aposentado.

Os trabalhadores se aposentam porque não estão satisfeitos com o trabalho, por problemas de saúde e por não terem tempo. Buscam mais liberdade, começar novos projetos de trabalho ou estudo, mais tempo para relacionamentos, para atividades de lazer e culturais, para realizar investimentos e para cuidar de si e dos outros.

De outra parte, sabe-se que outros trabalhadores não se aposentam para manter as condições de vida e a preservação da solidariedade familiar, pois são os responsáveis financeiros pelos filhos e muitas vezes pelos netos, refletindo um problema geracional da pós-modernidade. Diante deste contexto, é salutar a criação e manutenção de políticas públicas que resguardem serviços de saúde à de atenção aos idosos e aposentados, assegurando também recursos suficientes para o pagamento de aposentadorias e pensões dignas (SOUZA; FRANÇA, 2009). Espera-se que outros estudos possam fomentar o debate acerca do sentido da aposentadoria, observado a partir da perspectiva dos trabalhadores precários, dos jovens da pós-modernidade e dos aposentáveis, com vistas a possibilitar a melhor compreensão deste fenômeno social. REFERÊNCIAS ALBORNOZ, S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 2008. BARLEY, S. KUNDA, G. Bringing work back in. Organization Science, Jan/Feb 2001, v. 12 no.1, 76-95. BITENCOURT, B. M.; GALLON, S.; BATISTA, M. K.; PICCININI, V. C. Para Além do Tempo de Emprego: o Sentido do Trabalho no Processo de Aposentadoria. Revista de Ciências da Administração, v. 13, n. 31, p. 30-57, 2011. CAMBOIM, V. S. C.; QUEIROZ, J. V.; VASCONCELOS, N. V. C.; QUEIROZ, F. C. B. P. Aposentadoria, o desafio da segunda metade da vida: estudo de caso em uma agência bancária. Revista Gestão Organizacional, v. 4, n. 1, art. 3, p. 49-70, 2011. CHANLAT, J. O desafio social da gestão: a contribuição das ciências sociais. In.: P. Bendassolli e L. Soboll (orgs.). Clínicas do Trabalho. São Paulo: Atlas: 2011 (Cap. 07, pp. 110-131). FRANÇA, L. H. de F. P.; SOARES, D. H. P. Preparação para a aposentadoria como parte da educação ao longo da vida. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 29, n. 4, 2009 . FRANÇA, L. H. de F. P. Influências sociais nas atitudes dos 'Top' executivos em face da aposentadoria: um estudo transcultural. Rev. adm. contemp., Curitiba, v. 13, n. 1, mar. 2009

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POC10 - AS RELAÇÕES DE APOSENTADOS COM OS ESPAÇOS URBANOS DO CENTRO DE FLORIANÓPOLIS

Costa, AB 1; Soares, DHP 1. 1 - Universidade Federal de Santa Catarina. Este estudo objetivou-se investigar as relações estabelecidas por aposentados com o espaço urbano central de Florianópolis, tendo por base a leitura de Henri Lefebvre. O direcionamento teórico e o objetivo deste estudo orientaram a escolha metodológica pela pesquisa qualitativa. As informações aqui apresentadas foram coletadas, organizadas e apresentadas durante o curso da disciplina Cidades Polifônicas, ministrada pelo Professor Massimo Canevacci em 2011, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Para esta exposição técnica, as análises foram retomadas e aprofundadas. Os sujeitos da pesquisa foram sete pessoas aposentadas por idade ou por tempo de contribuição, que buscavam os espaços urbanos do Centro de Florianópolis para ocupar seu tempo livre ou realizar alguma atividade planejada. Para a coleta de informações realizou-se incursões com duração de cerca de quatro horas diárias pelo centro de Florianópolis, em três dias diferentes. Os instrumentos de coleta de informações foram: a) a observação de campo com elaboração de registros fotográficos e b) entrevistas abertas, com o objetivo de conhecer um pouco sobre a vida dos pesquisados e as relações que estabelecem com o espaço em questão. Houve registro das informações em diário de campo. A análise das informações coletadas ocorreu por meio de leituras das entrevistas, seguindo-se pela identificação e marcação dos núcleos de sentido, bem como pela interpretação das imagens registradas, visto se tratar de locais conhecidos e históricos do Centro de Florianópolis. Adotou-se o método regressivo-progressivo (conforme Lefebvre), entre o tempo histórico, a descrição do espaço e a vida cotidiana. Destacaram-se três núcleos de sentidos a partir das informações coletadas, indicando que as relações dos aposentados pesquisados com o centro de Florianópolis: a) o centro de Florianópolis como atrator; b) o centro como lugar de encontros e desencontros; c) o centro como lugar para produzir e consumir. Os resultados da incursão permitiram algumas conclusões: a) as relações dos pesquisados com o Centro de Florianópolis estão atreladas aos seus cotidianos, imersas no real e no imaginário, e engendradas ao momento de vida atual dessas pessoas; b) as referências com os espaços urbanos em estudo constituem-se associadas às histórias de vida e a percepção do coletivo; c) os sujeitos encontram contradições entre o espaço abstrato e a realidade prática e sensível. PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; relações; Centro de Florianópolis. 1. OBJETIVO

Objetivou-se investigar as relações estabelecidas por aposentados com o espaço urbano central de Florianópolis, tendo por base a leitura de Henri Lefebvre. 2. JUSTIFICATIVA DA RELEVÂNCIA CIENTÍFICA E SOCIAL

A dinâmica das relações e as mudanças que se apresentam nas formas de trabalho, considerando o seu caráter polissêmico e multifacetado, e a conformação

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da “classe-que-vive-do-trabalho” (Antunes, 2005) como sendo mais complexa, heterogênea e fragmentada, configuram-se em desafio para os sujeitos. A conformação do trabalho está em frequente mutação e as identificações estabelecidas pelas pessoas com o seu trabalho também passam por transformações, algumas vezes abruptas e transitórias. Entretanto, mesmo com essa nova conformação do mundo do trabalho, entende-se que seu lugar continua a ser central na vida dos sujeitos e na constituição identitária (Antunes, 2005).

As relações de trabalho orientam os movimentos do espaço urbano. De certa forma, a cidade é o palco onde são apresentados aos sujeitos os meios de produção e de consumo. Aparece como o local de produção capitalista, como o “meio ambiente”, uma “mediação”, um “meio” por onde ocorrem as modificações da produção. É o cenário onde aparece a mais-valia, a mercantilização e o fetichismo, especialmente no trabalho excedente. O urbano é entendido como condição geral de realização do processo de reprodução do capital, além de produto desse processo que comporta contradições emergentes do conflito entre as necessidades da reprodução do capital e as necessidades da sociedade como um todo (Lefebvre, 2008).

Enquanto construção humana, a cidade é a expressão concreta dos tempos e dos modos de vida, um produto histórico-social que se apresenta como trabalho materializado acumulado ao longo das gerações. É, ao mesmo tempo, obra e produto. Obra: quando a cidade projeta-se para o tempo futuro, que se constrói nas tramas do presente, colocando os sujeitos diante da impossibilidade de pensá-la de forma separada da sociedade e do momento histórico em que se vive. Produto: pela cidade conter e revelar ações passadas em seu processo histórico cumulativo (Lefebvre, 2008).

Cidade e urbano são conceitos correlatos, mas não sinônimos. Cidade remete a à organização espacial, a forma, um conjunto de elementos ordenados. Urbano tem origem no Latim “urbanus” que significa “pertencente à cidade”, por isso, entende-se por urbano aquilo que está relacionado com a vida na cidade e com as pessoas a habitam. Assim, o urbano relaciona-se ao tipo de sociedade, à expressão de ideias, éticas, valores, estética; se realiza como práxis na cidade, através das atividades políticas econômicas e culturais, reunindo todos os elementos da vida social (Lefebvre, 1991).

Nesse contexto, os processos de produção e reprodução da forma urbana não são estáticos, estão em constante movimento alterando formas, funções, representações e sentidos. Assim, o espaço urbano como produto social assume uma realidade própria de acordo com o modo de produção e a sociedade presente, consistindo em mediador para a ação e para o pensamento, funcionando como um meio de produção, de controle e de dominação (Lefebvre, 2008).

Verifica-se que, anteriormente ao capitalismo, a cidade era muito mais obra do que produto, isso porque nem a cidade, nem a terra (tanto urbana como rural) haviam se transformado em mercadoria. Antes da industrialização, a cidade era o centro não só da vida social e política, não só um centro de acumulação de riquezas, mas um lugar de produção de conhecimento, técnicas e obras. Em outras palavras, a própria cidade era muito mais um valor de uso do que de troca. Por isso as classes ricas justificavam seu privilégio ante a comunidade em festas, embelezamentos, palácios, fundações, etc., o que não era feito com o objetivo de valorização

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monetária, lucro ou troca, mas sim, com o objetivo de angariar prestígio (Lefebvre, 1991).

A generalização da mercadoria e do valor de troca a partir da industrialização vai subordinando as estruturas sociais existentes, sendo que o espaço urbano, construído primordialmente como valor de uso, passa a representar mais intensamente a contradição entre o uso e a troca. Igualmente, o sentimento de pertencer à cidade, comum a todas as classes foi, aos poucos, sendo suplantado com o desenvolvimento do capitalismo e a contradição da mercadoria (valor de uso e valor de troca) originalmente produzidas nas fábricas, extrapola seu lugar de origem e passa a ser também uma característica do espaço, tanto quanto as coisas e as relações sociais (Lefebvre, 1991).

Em meio a estas contradições, construíram-se questionamentos, tais como: ao se considerar que a cidade e os espaços urbanos movem-se em função do trabalhar e do capital, qual o lugar do aposentado? O aposentado insere-se como ator na construção dos espaços urbanos, ou passa a estar como expectador apenas? Quais os sentidos que os sujeitos encontram quando aposentados para o mesmo urbano que habitavam quando o trabalho lhes era central? Há direito à cidade14 e ao habitar?

O direito à cidade não pode ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno às cidades tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada. Pouco importa que o tecido urbano encerre em si o campo e aquilo que sobrevive da vida camponesa conquanto que “o urbano”, lugar de encontro, prioridade do valor de uso, inscrição no espaço de um tempo promovido à posição de supremo bem entre os bens, encontre sua base morfológica, sua realização prático-sensível (Lefebvre, 1991, p. 108).

O momento da aposentadoria na vida do trabalhador geralmente traz mudanças em seu cotidiano e nas relações estabelecidas socialmente. O afastamento do trabalho pode representar uma perda do lugar, o que faz muitas pessoas buscarem a reorganização dos espaços e do tempo. Certas rotinas e comportamentos habituais necessitam ser reestabelecidos ou ressignificados, para que a pessoa se reconheça e reencontre novos lugares (Soares & Costa, 2011).

O sentimento de perda de lugar e a busca pela “reorganização” dos espaços pessoais se combinam às percepções do aposentado sobre os movimentos da cidade, visto que as relações de produção integram-se à realidade urbana e, de certa forma, o aposentado não está mais inserido como ator nesse contexto. Esse processo, normalmente, é conflituoso. Por um lado, a cidade continua a “andar” em um ritmo forte, sendo transformada pela necessidade de produção e (re)construindo espaços que suportam e fomentam a mercadoria, a mais valia e o fetichismo. De outro lado, a realidade urbana do aposentado gera segregações, pois o seu ritmo de vida é outro, estando na contramão do fluxo que move a cidade e os espaços urbanos.

Ao mesmo tempo em que as cidades se transformam, se recriam e se reinventam em curtos períodos de tempo, também ocorrem mudanças demográficas significativas, a exemplo do aumento da expectativa de vida mundial. A inversão das pirâmides etárias populacionais que, há alguns séculos seguia composta predominantemente de jovens e adultos, terá em cerca de 50 anos, a predominância de pessoas acima de 50 anos, a quem não será possível ainda descrever como

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Refere-se à obra O Direito à Cidade, de Henri Lefebvre.

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idoso, pois a longevidade naturalmente levará a uma revisão de padrões. Estudos demonstram que a população idosa mundial apresenta um crescimento nunca antes visto na história, ; estima-se haver 476 milhões de pessoas com 65 anos ou mais de idade (Lima-Costa, Matos & Camarano, 2006).

Conforme relatório da ONU de 2012, em 2050, os idosos serão dois bilhões de pessoas, o que representará 20% da população mundial. A tendência é que os idosos se tornem cada vez mais numerosos em relação às pessoas mais jovens. Em 2000, a população idosa do planeta superou pela primeira vez o número de crianças com menos de cinco anos; em 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos supere também a população de jovens com menos de 15 anos. O envelhecimento da população será mais perceptível em países emergentes. Hoje, cerca de 66% da população acima de 60 anos vivem em países em desenvolvimento. Em 2050, essa proporção subirá para quase 80%. No Brasil, a previsão é que o número de idosos triplique de 2012 até 2050, passando de 21 milhões para 64 milhões. Por essas previsões, a proporção de pessoas mais velhas no total da população brasileira passaria de 10%, em 2012, para 29%, em 2050. Ainda, o número de centenários, pessoas que atingem um século de vida e que tanto instigam profissionais da área da saúde em estudos sobre longevidade, tem crescido em grande escala nos últimos anos (BBC, 2012).

Diante ao exposto, construiu-se o interesse por estudar as relações estabelecidas por aposentados com o espaço urbano central de Florianópolis. A relevância social do estudo amalgama-se na discussão e entendimento dos comportamentos dos sujeitos frente a uma nova realidade social que se constrói: as cidades capitalistas e comunicacionais, moldando-se, idealizando-se e transformando-se a partir do valor de troca e o aposentado, que deixa de participar diretamente da produção, buscando novos lugares. Ainda, ampara-se no cenário de crescimento da população estudada (aposentados) que ocorrerá em curto espaço de tempo e o planejamento urbano continua a ser pensado da mesma forma. Também almejou-se com a pesquisa promover reflexões no campo acadêmico, tendo em vista que o tema aposentadoria ainda é carente de atenção em pesquisa e extensão, talvez porque a necessidade mais imediata seja pensar nos contextos de trabalho e/ou produção.

3. MÉTODO: O direcionamento teórico e os propósitos deste estudo permearam a escolha metodológica pela pesquisa qualitativa. a. Contexto da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada na região central (coração) da cidade de Florianópolis, compreendendo os espaços:

a) da Praça XV, conhecida como Praça da Figueira – a Praça XV de Novembro foi fundada em 1662, por Francisco Dias Velho. Foi daí que a cidade começou a expandir-se, com suas pequenas ruelas, que até hoje estão conservadas em seu estilo viário original. Esta área abriga prédios importantes daquele período, como: Palácio do Governo (Museu Cruz e Souza), Casa de Câmara e Cadeia, Catedral Metropolitana, e uma grande quantidade de construções históricas. Há, nesta praça, uma enorme e famosa Figueira centenária. O local é muito frequentado por turistas,

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porém são os moradores locais e nativos que passam horas jogando dominó ou lendo no local.

b) do calçadão da Rua Felipe Schmidt, tendo como referência o ponto de encontro conhecido como Senadinho – local de movimento intenso de pessoas, com presença de vendedores ambulantes e com comércio desenvolvido caracterizam esta rua de prédios antigos e arquitetura preservada. Um dos lugares mais interessantes é o bar Ponto Chic ou Senadinho, como é conhecido na cidade. Neste local, reúnem-se frequentadores assíduos que conversam sobre todos os assuntos. O destaque fica para o desenho em petit pavê no chão, que representa um plenário com sete cadeiras, a mesa do presidente e a inscrição SPQF - Senado Para Qualquer Fofoca.

c) da Alfândega - a primeira alfândega da cidade incendiou-se em 1866. Para substituí-la, foi construído este prédio de estilo neoclássico em 1876. No piso térreo funcionam uma galeria de artes, uma feira de artesanato e um bar. À sua frente fica o Largo da Alfândega, local de manifestações populares e shows. Ali funcionam bancas de louças de barro e um Posto de Informações Turísticas.

d) do Mercado Público de Florianópolis – ponto de referência da cidade, com valorização da cultura local e do comércio de venda de peixe fresco, lojas de artesanato, bares e restaurantes típicos.

A escolha da cidade de Florianópolis para local da pesquisa deveu-se, especialmente, ao reconhecimento nacional pelo número de aposentados que atrai, sendo tratada como a “capital do descanso” e como a “Flórida brasileira”. Uma reportagem da Revista Veja do ano de 2003, informou que em 10 anos o número de aposentados que saíram de suas cidades para residir em Florianópolis, aumentou 55%, sendo que a cada 100 habitantes, 12 eram aposentados (Souza, 2003). Em 2012, o número de aposentados em Florianópolis representa 17% da população (IBGE, 2012).

A cidade de Florianópolis também é marcada pelo expressivo crescimento demográfico em curto espaço de tempo. Sua população, em 1970, era 115.547 habitantes, e em 2010, o último censo registrou 421.240, representando um aumento de 365%. A cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles mundiais, que atrai migrantes de todo o país cresceu 87% em igual período. Com esse crescimento, Florianópolis passa a requerer maior atenção quanto aos fatores vinculados à urbanidade (IBGE, 2012). b. Participantes

Os sujeitos deste estudo foram sete aposentados, sendo cinco homens e duas mulheres, convidados a participar da pesquisa pela pesquisadora, durante três incursões ao centro da Cidade de Florianópolis. Devido ao fato da abordagem ocorrer sem qualquer contato prévio, a pesquisadora esclareceu os objetivos da pesquisa, deixando livre o aceite em participar da mesma ou não. c. Procedimentos para coleta de informações

A adoção de procedimentos nesta pesquisa decorre dos fundamentos epistemológicos que a embasam, utilizando-se da matriz dialética em Henri

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Lefebvre. Para a coleta de informações realizou-se incursões com duração de cerca de quatro horas diárias pelo centro de Florianópolis, em três dias diferentes.

Os instrumentos de coleta de informações foram: a) a observação de campo com elaboração de registros fotográficos dos espaços urbanos selecionados para a pesquisa (mencionados no item “a”, contexto da pesquisa) e, b) entrevistas abertas, com o objetivo de conhecer alguns aspectos da vida dos pesquisados e as relações que estabelecem com o espaço urbano do centro de Florianópolis.

A entrevista aberta é utilizada quando o pesquisador deseja obter o maior número possível de informações sobre determinado tema, segundo a visão do entrevistado, e também para obter um maior detalhamento do assunto em questão. Ela é utilizada geralmente na descrição de casos individuais, na compreensão de especificidades culturais para determinados grupos e para comparabilidade de diversos casos (Minayo, 1993).

Houve registro das informações em diário de campo.

d. Análise das informações A análise das informações coletadas ocorreu por meio de diversas leituras

das entrevistas, seguindo-se pela identificação de núcleos de sentido, bem como pela interpretação das imagens registradas adotando-se o método regressivo-progressivo (conforme Lefebvre), entre o tempo histórico, o espaço e a vida cotidiana.

4. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Os núcleos de sentido identificados a partir das informações coletadas foram os seguintes:

a) o centro de Florianópolis como atrator15: “Sou aposentado há quatro anos e não dá pra ficar em casa, a gente fica doente. Por isso, venho pra cá quase todas as tardes... E, não tem lugar melhor aqui na cidade, porque estou entre amigos. Um monte de aposentados sem nada pra fazer (risos). Até porque Florianópolis não têm coisas para quem é aposentado, a não ser que se pague muito para isso ... Estou esperando minha vez para entrar no jogo...” (João – no Senadinho)

A fala de João traz elementos importantes. Sobre o contexto desta entrevista, o jogo de dominó está presente nos locais onde ocorreu esta pesquisa, sendo uma forma de estabelecer vínculo com o espaço urbano e de reunir pessoas, ainda uma característica de referência destes espaços.

A contradição está em que, mesmo fazendo algo agradável, o aposentado menciona não se sentir participante da cidade, pois esta não lhe oferece outras atividades sem mercadoria. Então, “esperar a vez de jogar” tem sentido de “esperar a vez de participar da construção da cidade” enquanto aposentado, afastado da lógica produção-consumo. A perda de lugar e reorganização dos espaços para o aposentado é dificultada pelos movimentos que percebe da cidade, para os quais nem sempre está inserido e consegue identificar-se.

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Atrator, conforme Canevacci (1993), é um elemento que mobiliza e prende a atenção, que captura o olhar e os sentidos.

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Ao formular sua teoria, Lefebvre afirma que o espaço urbano envolve as contradições da realidade à medida que é um produto social. Em sendo um produto, o espaço torna-se uma mercadoria, ao mesmo tempo, que traduz as diferenças e as particularidades contextuais, os movimentos de opressão ou de emancipação do homem por meio da dialética. A cotidianidade moderna se resume a uma constante programação de hábitos sempre direcionados para a produção e o consumo, produzindo uma “sociedade burocrática de consumo dirigido” (Lefebvre, 1991, p. 47). Dessa forma, os espaços construídos dentro da lógica capitalista seguem a padronização e o individualismo desta racionalidade, são, portanto, espaços abstratos, primados pela razão estética e pela força das imagens (Souza, 2009).

b) o Centro de Florianópolis como lugar de encontros e desencontros:

“Peço sempre pra fazer o almoço bem cedo, perto das 11 e 30. Depois de almoçar, venho reservar um lugar aqui para o dominó e cartas. Aposentado não pode ficar em casa, se não a gente briga com a mulher e não tem nada para ver na TV... Hoje em dia todo mundo tem compromisso, então a gente precisa ter também... Este lugarzinho eu gosto, faz parte da minha pessoa. Quando meu pai era vivo, vinha pra cá debater política com os amigos e jogar conversa fora. Só que muita coisa tá ficando diferente aqui. Cada vez diminui mais os amigos, quem se aposenta hoje quer ficar na internet... que já não era coisa do meu tempo. Há 10 anos atrás a gente ficava rodeado aqui e hoje isso acontece de vez em quando só. As pessoas passam apressadas aqui e nem percebem que estamos no meio de um lugar que tem história... Sinto que minha relação com o centro de Florianópolis pode se romper quando percebo que a importância daqui tá diminuindo, porque se não tiver os amigos, acaba meu interesse de vir aqui.” (Manoel – no Senadinho)

A cidade de Florianópolis tem passado por mudanças expressivas, tanto em termos populacionais, como nos espaços urbanos. Os aposentados pesquisados têm certa dificuldade de se perceber como atores nestas transformações e nos novos lugares constituídos. A fala de Manoel marca este aspecto, ao mencionar que o lugar (Senadinho) faz parte de sua vida e fez parte da vida do seu pai. Contudo, não percebe a continuidade desta relação. É como se estivesse questionando até quando haverá esta referência, pois está diminuindo as pessoas que participam dos seus momentos e a produção e consumo parecem se apossar do seu lugar.

Florianópolis é uma cidade maravilhosa, porém tem muita coisa para melhorar ainda, porque só a beleza natural não pode ser a diferença. É preciso ter paz nesta cidade, eu percebo que está dificil de encontrar paz aqui, pela muvuca que tá ficando... A cidade precisa ser melhor pensada, senão até as belezas naturais vão se esgotar se não for cuidada. [...] Florianópolis é engraçada. É grande, mas as pessoas se conhecem, porque não é tão grande assim. É diferente. Então, tem que fazer

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coisas diferentes, para continuar atraindo as pessoas aqui. Por que eu não posso ter as mesmas coisas desta viagem internacional aqui em Florianópolis? Sei que muitas pessoas aqui estão dispostas a ter estes lugares de diversão, descontração, energização... encontros! Mas parece que falta algo, porque são poucas as possibilidades... não se tem comunicação... não se promove o encontro das pessoas. Sabe... não acho que o aposentado tenha que ter um lugar só dele em Florianópolis,.... a gente continua sendo da ilha depois de se aposentar, certo? Então, eu acho que a gente deve ter espaços no tumulto de quem ainda trabalha... que a gente se veja como dono depois de aposentar.... É isso! É isso! A cidade precisa ser nossa antes e depois de se aposentar. Acho que isso não é só de Florianópolis, precisa ser em todas as cidades (Ana – no Mercado Público).

Nas falas dos pesquisados ficou marcante a ambiguidade com relação à continuidade destes espaços, bem como das relações estabelecidas individual e coletivamente com o urbano. Desta forma, parece ao mesmo tempo haver encontros e desencontros na relação do aposentado com o espaço central de Florianópolis.

c) o Centro de Florianópolis para produzir e consumir

“Tenho 73 anos de idade e muita historia pra contar (risos). Me aposentei com 64, trabalhava com serviços gerais. Eu venho pro Centro porque não gosto de ficar em casa. Sou uma velha que gosta de alegria e de movimento, de escola de samba também [...] Como a aposentadoria é pequena, aproveito para vender umas coisinhas de crochê por aqui, têm duas lojas que compram e revendem. Assim, eu venho duas vezes na semana aqui no mercado público, que é meu lugar preferido.” (Maria – no Mercado Público)

A este núcleo de sentido, três pesquisados fizeram referência. Maria, que contou buscar o centro e o mercado público para sentir-se ativa e vender seu artesanato.

Moacir, outro entrevistado, engraxate nas proximidades da Praça XV, menciona necessitar do trabalho para a garantia do sustento da família, porém afirma que estar no centro de Florianópolis é importante para si mesmo, em suas palavras “Aqui é meu segundo lar, porque além de trabalhar, eu tenho amigos e me sinto bem”.

José, que passava pela Alfândega, que vai ao centro fazer atividades de cartório para os filhos advogados e os auxilia, também, em compras diversas. Afima: “Eu sempre trabalhei em um banco aqui no Centro. Agora, continuo a andar por aqui quase todos os dias e faço isso com prazer, porque sempre tive muito amor por Florianópolis... assim, acho que estou ajudando a fazê-la crescer”.

Esta breve incursão, permitiu algumas conclusões. Uma delas é de que as relações dos pesquisados com o Centro de Florianópolis estão atreladas aos seus cotidianos, imersas no real e no imaginário, e engendradas ao momento de vida atual dessas pessoas.

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Também, identificou-se que as referências com os espaços urbanos constituem-se associadas às histórias de vida e a percepção do coletivo.

“Quando eu era criança, vinha a este local com meus pais e irmãos, para assistir os desfiles militares e também participar de celebrações da igreja. Era muito bom, porque aqui a gente encontrava amigos e todos se conheciam. As pessoas diziam que era ‘o dia de’ para o local onde iam... dia da praça, dia de ir para o mercado público. Entende? Eu cresci e mudei junto com estes lugares, eles fazem parte da minha história. A gente apreciava os locais e queria fazer eles ficarem melhores. Um tio meu ajudou a cuidar por anos dos canteiros da praça XV... porque é um lugar nosso, entende?” Jorge, na Praça XV de Florianópolis.

A fala de Jorge inicialmente não traz componentes sobre o trabalho, antes de se tornar aposentado. A seu modo, ele constrói relações com o espaço da Praça XV e Centro de Florianópolis como valor de uso, percebendo os espaços urbanos enquanto fruição e beleza (Lefebvre, 1991). Entretanto, ao final de sua fala a questão do trabalho se mistura aos espaços urbanos, quando diz:

“Fico chateado às vezes, porque hoje em dia as pessoas não têm mais tempo de conviver na cidade. Pouco antes de me aposentar já estava ficando assim. Acho que não consegui passar para meus dois filhos a importância de fazer história no local onde moramos, porque eles simplesmente passam por aqui. Estes dias, perguntei pra um deles o que achou das melhorias de um prédio antigo da Felipe Schmidt, que demorou 2 anos para restaurar... e ele me disse que não tinha percebido, sendo que passa na frente todos os dias. Hoje em dia as pessoas estão com a cabeça cheia por querer mais e mais, e as coisas que chamam atenção tem haver com o dinheiro mesmo... é uma pena.” (Jorge, na Praça XV de Florianópolis)

Certa nostalgia, o sentimento de descontinuidade e inconstância quanto às

referências dos espaços urbanos para as próximas gerações, se fez presente nas falas de todos os pesquisados. Da mesma forma, foi comum a percepção de que os espaços urbanos estão sendo “consumidos”, apropriados de outros interesses, seja quando mencionaram a falta de tempo para conversas, ou as pessoas se esbarrando nas ruas sem um olhar, a sujeira jogada no chão e, ainda, ao entendimento de que o Centro de Florianópolis está se tornando um espaço de pouca cultura, por falta de incentivo. Assim, a cidade é transformada em mercadoria, produto com valor de troca, espaço privado para realização do lucro. Neste processo, a realidade urbana da cidade perde os traços anteriores de totalidade orgânica, sentido de pertencimento e de espaço demarcado (Lefebvre, 1991).

Conclui-se também que os sujeitos encontram contradições entre o espaço abstrato e a realidade prática e sensível. Ou seja, a análise da dialética do espaço urbano significa ponderar sobre as contradições presentes no espaço-mercadoria, visto que os sujeitos usam o espaço e o trabalho como valor de troca.

A compreensão da aposentadoria como uma nova etapa de vida do sujeito, dependente e consequente do passado, tão importante quanto às demais vivências da trajetória pessoal, traz um novo viés para o momento e ajuda as pessoas a terem

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sentimentos positivos, estabelecerem novos projetos e sentidos para a vida. Não obstante, para isso acontecer, os lugares sociais e os espaços habitados passam a ser (re)significados, para além dos vínculos estabelecidos anteriormente com o trabalho. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Antunes, Ricardo (2005). O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo. BBC Brasil (2012). Em dez anos, mundo terá mais de 1 bilhão de idosos, diz ONU. Revista eletrônica de 01 de outubro de 2012. Recuperado em 15 de outubro de 2012 em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/10/121001_ populacao_idosa_dg.shtml Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Banco de Dados Agregados – Censo 2010. Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA. Recuperado em 14 de novembro, 2012: www.ibge.gov.br. Lefebvre, Henri (1991). O Direito à Cidade. São Paulo: Ed. Moraes. _____________ (2008). A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora da UFMG. Lima-Costa, Maria Fernanda; Matos, Divane Leite; Camarano, Ana Amélia. (2006). Evolução das desigualdades sociais em saúde entre idosos e adultos brasileiros: um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 1998, 2003). Ciência & Saúde Coletiva, 11(2). Rio de Janeiro, p.941-950. Soares, Dulce Helena Penna; Costa, Aline Bogoni (2011). Aposent-Ação: Aposentadoria para Ação (1ª ed). São Paulo: Vetor Editora. Souza, Adriana (2003). A Flórida brasileira: O número de aposentados com dinheiro em Florianópolis muda a vida econômica da cidade. Revista Veja, ed. 1.805. São Paulo: 4 de junho de 2003.

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POC11 - O QUE É APOSENTADORIA? UM ESTUDO EXPLORATÓRIO COM PROFISSIONAIS

Schwam, PC 1; Soares, DHP 2. 1 - Consultora em Gestão de Pessoas em Instituição Pública; 2 - Instituto do Ser e UFSC. Esse trabalho apresenta os resultados de numa pesquisa que teve como objetivo compreender o significado da aposentadoria para profissionais de diferentes idades e tempo de trabalho. Os dados foram obtidos por meio da aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas, respondido a distância, por meio de um link encaminhado por e-mail e disponibilizado em rede social. O estudo contou com a participação de 88 profissionais dos setores público e privado, com idade variando entre 20 e 64 anos e tempo de trabalho de zero a 41 anos, distribuídos em 10 Estados Brasileiros, com predomínio do Distrito Federal. Participaram também da pesquisa, 16 aposentados, totalizando 104 respondentes. Nos resultados, verifica-se que a maioria dos profissionais participantes do estudo já pensou em sua aposentadoria e tem se preparado de alguma forma para esse momento, mas não possui um planejamento estruturado. A maior parte dos respondentes pretende continuar trabalhando após a aposentadoria, não associando esse momento à inatividade. No conceito de aposentadoria apresentado pelos participantes, foram identificados oito temas principais, considerando o número de citações: 1) Direito adquirido, conquista; 2) Prazer – atividades prazerosas e de lazer; 3) Término de contrato ou de vínculo com aspectos relacionados ao trabalho; 4) Segurança, estabilidade financeira; 5) Liberdade de tempo; 6) Descanso ou diminuição do ritmo de trabalho; 7) Trabalhar por prazer e 8) Fazer o que não podia fazer antes (os dois últimos com a mesma quantidade de citações). Os resultados apontam a predominância de significados positivos para a aposentadoria, e como significado mais citado, o direito a receber um benefício pelos anos de contribuição, se configurando também como uma conquista, um prêmio, podendo-se associar, também à independência financeira. Por outro lado, a associação da aposentadoria com a possibilidade de priorizar a realização de atividades prazerosas traz a reflexão sobre o significado do trabalho, e da existência de equilíbrio entre as demandas de trabalho e as demais dimensões de vida, variáveis que podem ser inseridas em próximos estudos, verificando se interferem na percepção do significado da aposentadoria. Para muitos participantes, a pesquisa foi uma oportunidade positiva, pois propiciou a reflexão sobre o tema. Junto ao fato de a maioria não ter um planejamento estruturado para a aposentadoria, os resultados também reforçam a importância desse campo de atuação da Orientação Profissional, de modo a estimular e a auxiliar a reflexão e a preparação para essa etapa de vida.

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PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; planejamento; pré-aposentadoria.

Ao estudar o tema aposentadoria, observam-se algumas contradições existentes em relação ao significado do aposentar-se, trazida por alguns autores, como Rodrigues (2000, p.28, em Soares e Costa, 2011, p. 37): “Se, de um lado, alguns a vivem como um tempo de “liberdade”, de “desengajamento profissional”, de “possibilidade de realizações”, de “fazer aquilo que não teve tempo de fazer” durante a vida ativa, de “aproveitar a vida”, de “não ter mais patrão, horários obrigatórios” etc, de outro, outros a consideram como um “tempo de nostalgia”, de “enfado”, etc.”

Refletindo sobre essa contradição, Soares e Costa (2011) apontam ainda a dificuldade de enfrentamento encontrada por profissionais quando estão próximos à aposentadoria ou recém-aposentados, principalmente quando, em sua trajetória profissional, não se refletiu e se preparou para essa etapa da vida. Se buscarmos o conceito de aposentadoria no dicionário Aurélio, por exemplo, vê-se que está atrelada ao “estado do empregado ou funcionário (civil ou militar) que, tendo atingido certa idade, certo tempo de serviço ou por motivo de saúde, é posto em inatividade e passa a receber uma pensão; reforma (para militares). / Pensão recebida por quem se aposentou: ir ao banco receber a aposentadoria.” (Dicionário Aurélio). O dicionário traz, assim, a associação com a inatividade e como uma condição que parece sem escolha “posto em inatividade”, por ter atingido uma certa idade, tempo de serviço ou por motivo de saúde. Está vinculado também a um valor que é recebido em decorrência desse estado.

Com o aumento da expectativa de vida e com as mudanças da relação com o trabalho, o que pensam os atuais trabalhadores, que estão iniciando suas trajetórias profissionais ou atuando no mercado de trabalho há um tempo, sobre o significado da aposentadoria? Quantos a percebem ainda como inatividade? Quantos planejam e se preparam para essa etapa? Ao trabalhar com a preparação para a aposentadoria ou auxiliar os profissionais a refletir sobre o tema, de que ponto precisamos partir? Essas foram algumas perguntas feitas e que buscamos respostas por meio desse estudo. Seu objetivo principal era compreender: qual o significado de aposentadoria para profissionais que estão no mercado de trabalho e ainda não se aposentaram? Eles também vivenciam as contradições apontadas? Ou a contradição advém da vivência mais próxima da aposentadoria, quando refletimos mais sobre o tema e desejamos viver essa etapa de transição?

Para alcançar esse objetivo, realizou-se um estudo exploratório por meio da elaboração e aplicação de um questionário com questões abertas e fechadas sobre o tema. O instrumento foi digitalizado por meio de ferramenta da internet (docs.google) e encaminhada por e-mail à lista de contato dos pesquisadores, além de publicação em uma rede social. A pesquisa foi realizada em julho de 2013 e esteve disponível para resposta por sete dias. Os dados foram compilados em um banco de dados e realizadas análises descritivas das questões objetivas, e de conteúdo das questões abertas.

Participantes da pesquisa: o estudo contou a participação de 88 profissionais distribuídos em 10 Estados Brasileiros, com diferentes idades (entre 20 a 64 anos) e tempo de trabalho (de poucos meses a 41 anos). Houve representantes do setor público e privado e de 23 profissões distintas. Embora a amostra tenha sido bastante

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diversificada houve predomínio de participantes do Distrito Federal (62,1%), seguido de Santa Catarina (11,5%) e São Paulo (8%), e um participante da Austrália. A maioria dos respondentes trabalha no setor público (56,5%), sendo metade servidor público e metade empregado público. O setor privado foi representado por 31,7% dos participantes, sendo 17,6% empregados e 14,1% empresários. A idade média dos participantes foi de 39 anos e o tempo de trabalho médio, de 16. A maioria (67,8%) possui pós-graduação completa, dentre lato sensu, mestrado e doutorado, sendo que 93,1% dos respondentes tem, pelo menos, o nível superior de escolaridade. As profissões citadas pelos respondentes com maior representação foram: Psicólogo (20,2%), Bancário ou Economiário (19%), Servidor Público (16,7%), Professor (7,1%), Administrador (4,8%), Empresário (4,8%), Analista de Sistemas (3,6%). As demais profissões somam 23,8% e é interessante notar que, na questão sobre o tipo de instituição a qual está vinculado, 14% dos participantes mencionaram ser empresário. A maioria (92%), ainda, estava trabalhando em alguma instituição – pública ou privada durante o estudo. Houve também a participação de 16 profissionais aposentados, totalizando 104 respondentes. Embora o enfoque do estudo fosse compreender o significado da aposentadoria para profissionais não aposentados, as respostas desses 16 participantes foram aproveitadas, como forma de comparar o significado que traziam com as respostas dos não aposentados, e serão apresentados somente em momentos de comparação. Os demais dados se referem sempre ao grupo de 88 profissionais ainda não aposentados. Você já pensou em sua aposentadoria? Possui um planejamento? Tem se preparado? Com que idade gostaria de se aposentar? Deseja se aposentar na Instituição atual? Em quanto tempo adquire direito de se aposentar?

Essas foram as principais perguntas objetivas feitas aos participantes. Os resultados demonstram que a maioria dos participantes (86,4%) já pensou em sua aposentadoria e informa estar se preparando, de alguma forma, para esse momento (62,1%), e quase metade (45,5%) informa ter um planejamento para essa etapa. É interessante observar aqui a distinção entre ter alguma ação de preparação para a aposentadoria e ter um planejamento estruturado, pois enquanto 62,1% informa se preparar de alguma forma para esse momento, a maioria não possui um planejamento para essa etapa - seja porque nunca pensou, ou porque pensou mas não chegou a estruturar um plano. Nesse ponto também foi interessante observar diferenças nos percentual de profissionais que informam ter um planejamento para a aposentadoria, de acordo com sua atuação no serviço público ou privado e na condição de empregado ou empresário: enquanto a maioria dos empregados públicos e dos empresários do setor privado informam ter um planejamento, esse resultado se inverte para os servidores públicos e os empregados vinculados às instituições privadas. Esse resultado permite supor a existência de mais incentivos ao planejamento da aposentadoria em empresas públicas, em comparação às demais, configurando-se como uma hipótese a ser investigada: qual a relação entre planejamento individual da aposentadoria com a existência de incentivos institucionais para esse planejamento?

Em relação aos planos de previdência, 79,5% informou contribuir para o INSS, percentual que cai para 42% em relação aos planos de previdência privada, e 37,5% para outros planos. Esse resultado também varia de acordo com o setor privado ou público ou entre servidores, empresários e empregados: no caso da

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previdência privada, a maioria dos empregados públicos e metade dos empresários contribui para um plano de previdência privada, enquanto a minoria dos servidores públicos e empregados de empresa privada informa contribuir para esse tipo de plano. Nenhum dos três autônomos possui plano de previdência privada também. Em relação ao INSS, apenas 46,7% dos empregados do setor privado afirma contribuir para o INSS, enquanto nas outras categorias é a maioria.

Quando questionados sobre a intenção de se aposentar, 84,1% afirmam ter a pretensão de se aposentar, e 5,7% ainda não sabem. A maioria (71,2%) deseja se aposentar a partir dos 55 anos de idade, e em torno de 47% deseja se aposentar entre 50 e 58 anos. Mais da metade dos participantes precisa ainda de pelo menos 22 anos de trabalho para adquirir o direito à aposentadoria, e aproximadamente 30% adquirirá em até 10 anos. Interessante observar também que 53,4% dos participantes informaram ter a intenção de permanecer na instituição em que trabalham atualmente até a aposentadoria, com exceção dos empregados das empresas privadas, em que apenas 26,7% pretendem trabalhar na empresa atual até a aposentadoria. Esse resultado pode ter relação com o tipo de vínculo que é estabelecido com as instituições públicas.

A maioria dos profissionais participantes desse estudo trabalha em atividade relacionada à sua formação profissional (84,9%) e indicou se sentir realizado profissionalmente, numa escala de zero a 10, entre os níveis 7 e 10 (53,5%).

Em relação a projetos futuros, 85,3% pretendem continuar trabalhando após a aposentadoria: trabalhos voluntários e semelhantes aos que realizam atualmente foram citados por 32,9%; outros 35,2% informaram ter a pretensão de continuar trabalhando, mas em atividades bem diferentes das atuais. Alguns participantes (4,5%) afirmaram não ter a intenção de continuar trabalhando após a aposentadoria e 10,2 ainda não sabem.

As questões objetivas não indicaram o significado de aposentadoria como sinônimo de parar de trabalhar ou de inatividade: a maioria dos respondentes afirma ter a intenção de se aposentar e, ao mesmo tempo, desejam continuar trabalhando após sua aposentadoria, não se restringindo ao trabalho voluntário. O que é aposentadoria, para os participantes da pesquisa?

A distinção entre aposentadoria e parar de trabalhar apontada nas questões objetivas foi corroborada na análise de conteúdo da primeira pergunta aberta feita aos participantes, quando eles poderiam escrever livremente sobre a pergunta: O que é aposentadoria para você?

A análise de conteúdo identificou oito temas principais indicados pelos participantes. Esses oito temas representam conteúdos ou temáticas mencionadas por pelo menos 10% dos respondentes:

1) Direito adquirido, conquista: mencionado por 27% dos participantes, este foi o significado da aposentadoria mais citado pelos 88 respondentes. Traz o significado da aposentadoria como uma conquista pelos anos de trabalho, pela dedicação e contribuição dada, passando então a receber uma renda como resultado desses anos de trabalho e contribuição. Visto por muitos como uma conquista, um reconhecimento, um prêmio.

2) Prazer – atividades prazerosas e de lazer: apontado por 23% dos participantes, vincula a aposentadoria à possibilidade de realizar atividades prazerosas, ligadas ao desejo do indivíduo, quando podem focar naquilo que

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dá prazer, na possibilidade de curtir a vida, curtir a si, viajar, passear, ter mais qualidade de vida, ser feliz.

3) Término de um contrato ou de vínculo com aspectos relacionados ao trabalho: tema citado por 18% dos respondentes, ao relacionarem a aposentadoria com a finalização de um projeto, término de um contrato, de um vínculo fixo, do trabalho assalariado, ou de desligamento de aspectos relacionados ao trabalho como não ter mais de cumprir metas, não ter chefe, não ter mais preocupação, pressão, e nem mais a necessidade de trabalhar.

4) Segurança, estabilidade financeira: quarto tema mais citado (15%), traz para a aposentadoria o sentido de segurança, estabilidade financeira, garantia de uma renda, relacionado por alguns como tranquilidade futura ou velhice digna. Tem relação com o primeiro significado, mas aqui mais no sentido de segurança e estabilidade que de direito a um benefício e conquista.

5) Liberdade de tempo: apontado na descrição de 14% dos participantes, quando associam a aposentadoria à liberdade de uso do tempo, de poder escolher o que fazer e quando quiser, de usar o tempo da maneira que desejar, e sem necessidade de cumprir horários fixos.

6) Descanso ou diminuição do ritmo de trabalho: a associação da aposentadoria com descanso foi citada por 13% dos participantes.

7) Trabalhar por prazer e 8) fazer o que não podia fazer antes: representando o sétimo e oitavo temas mais citados, com 10% cada um. Significam a oportunidade de fazer o que não se podia fazer antes em virtude do trabalho, inclusive a realização de sonhos adiados, bem como a possibilidade de trabalhar por prazer, em virtude de não terem mais a necessidade de ter o salário, a remuneração, como principal fator. Os resultados dessa questão apontam como principal significado da

aposentadoria o direito a receber um benefício – uma renda – pelos anos de contribuição previdenciária e como uma conquista pelos anos de contribuição dada por meio do trabalho à(s) instituição(ões); a segurança e estabilidade financeira, a quebra de vínculo com um contrato ou com aspectos considerados “ruins” do trabalho, e como oportunidade para o prazer, para usufruir do tempo da forma como desejarem, realizar o que não avaliam não terem condições de realizar durante a trajetória profissional.

É interessante notar que o prazer esteja em segundo lugar, mesmo quando a maioria dos participantes demonstrou se sentir com bom nível de realização profissional – esse resultado pode indicar que mesmo com a realização profissional, permanece o desejo de realizar outras atividades prazerosas. Isso pode estar relacionado com um possível desequilíbrio entre as demandas profissionais com outros papéis ou dimensões de vida, trazendo, para a aposentadoria, a possibilidade de realizar o que não foi priorizado em virtude do trabalho. Como forma de não adiar indefinidamente as possibilidades de realização, Zanelli, Silva e Soares (2010) sugerem a reflexão sobre o que é essencial em nossas vidas para que se dedique tempo e disposição para o que for essencial, rompendo com o constante adiar do importante. O equilíbrio entre os diferentes papéis pode ser uma variável a ser inserida em futuros estudos.

No estudo também se verifica, por outro lado, o conceito de aposentadoria associado à independência financeira, estando mais ligado a essa independência, que ao momento de parar de trabalhar, à inatividade, corroborando o resultado das

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questões objetivas. Nesse sentido, se aposentadoria está ligada ao ter um benefício sem precisar trabalhar por necessidade ou dinheiro, talvez um aspecto a se trabalhar com os profissionais é: como lidar com o dinheiro, de forma a alcançar mais rapidamente a independência financeira?

Outro ponto observado nos resultados, e presente nos oito temas destacados, é a associação da aposentadoria com aspectos positivos: o sentido negativo apareceu apenas na fala de um participante e de dois respondentes já aposentados, referindo-se à preocupação com o valor da renda da aposentadoria, considerada como insuficiente e não permitindo, por consequência, parar de trabalhar e usufruir de todos os aspectos positivos mencionados:

“Para quem, como eu, contribui pelo teto máximo há mais de 30 anos e tem como perspectiva de recebimento um valor de aposentadoria ridículo, fica difícil entender a aposentadoria com o significado próprio da palavra; assim, resta-me a idéia de que terei um dinheiro extra para contribuir na minha renda mensal, já que é impossível parar de trabalhar com o que irei receber.” A contradição percebida na vivência da aposentadoria por profissionais que

estão próximos a essa etapa ou recém-aposentados, não apareceu nos resultados. Estaria o conceito de aposentadoria mudando e essas pessoas viverão de forma mais tranquila esse momento de transição, ou a percepção positiva muda e gera contradição quando essa etapa se aproxima e o indivíduo precisa vivenciá-la? Essa é a contradição apontada por alguns autores, como Soares e Costa (2011). Para muitos participantes, a pesquisa foi uma oportunidade positiva, pois propiciou a reflexão sobre o tema. Junto ao fato de a maioria não ter um planejamento estruturado para a aposentadoria, os resultados também podem reforçar a importância desse campo de atuação da Orientação Profissional, de modo a incentivar e auxiliar na reflexão e na preparação para esse momento de vida, considerando os aspectos positivos percebidos atualmente, e também outros sentimentos que podem advir quando não há uma reflexão e preparação para viver essa etapa da vida profissional.

O setor privado indicou uma maior carência de planejamento e preparação para a aposentadoria, com maior número de respondentes indicando nunca ter pensado no tema, ou já ter pensado, mas ainda não ter estruturado um plano, assim como foram os que tiveram maior percentual de profissionais sem um plano de previdência privado ou do INSS. Teria o setor público investido mais no incentivo ao planejamento da aposentadoria, ou ao buscar maior estabilidade financeira, no setor público, a aposentadoria já seria um tema “natural” para esses profissionais? Abre-se aqui outro campo para investigação.

Comparando-se os resultados dos 88 participantes com a percepção dos 16 aposentados que responderam a pesquisa, nota-se uma diferença na ordem dos temas mais citados: o prazer foi o mais mencionado pelos aposentados (N=6), seguido da liberdade de tempo (N=4) e do parar de trabalhar, do momento de transição, fazer o que não podia fazer antes, e a liberdade, no sentido de ser “dono do nariz”, como um deles comentou. Esses últimos temas foram indicados por três participantes. Esses resultados indicam a participação de aposentados que passaram pela fase de transição de maneira tranquila e, se já vivenciaram o momento de contradição, ele aparenta ter sido superado de maneira positiva. Os temas ligados à renda e ao benefício adquirido não estão entre os mais citados.

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Salienta-se que a maioria dos participantes desse estudo (grupo dos 88 profissionais) possui trabalho remunerado, alto nível de escolaridade, a maioria é do Distrito Federal e do setor público, trabalha em sua área de formação e percebe-se com um bom nível de realização profissional. A renda não foi estudada nessa pesquisa e pode ser uma variável a ser incluída em estudos futuros, bem como com outros públicos, de modo a se verificar se os resultados se repetem ou que variáveis interferem no conceito de aposentadoria.

Outros resultados da pesquisa ainda estão em análise e poderão ser apresentados, complementando os dados compartilhados. Referências Bibliográficas: SOARES, D. H. P. & COSTA, A. B. (2011) AposentAÇÃO aposentadoria para ação. São Paulo: Vetor. Dicionário do Aurélio. Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/Aposentadoria.html. Consulta em 4 de agosto de 2013. ZANELLI, J.C., SILVA, N., e SOARES, D.H.P. (2010). Significados da Aposentadoria. In: Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho. São Paulo: Armed.

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POC12 - O TRABALHADOR COMO OBJETO NAS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Lima, TFO1 1 LUDUS - Desenvolvimento de Pessoas Este trabalho tem como foco de estudo a subjetividade do trabalhador no contexto da hipermodernidade, com o objetivo de verificar se as relações que o homem estabelece com o seu trabalho, no âmbito das organizações contemporâneas, especificamente no setor bancário, o tornam objeto, deteriorando a sua inteireza enquanto sujeito. Considerando que o trabalhador inserido numa organização encontra-se também vinculado a grupos sociais não apenas pertencentes ao universo laboral, mas também a outras searas, este trabalho não poderia deixar de abordar as questões relacionadas a sua formação enquanto sujeito, aqui entendido como produto e, ao mesmo tempo, produtor de sua realidade. O contexto hipermoderno possui estreita relação com o não reconhecimento da subjetividade do trabalhador contemporâneo e essa anulação provoca sofrimento físico, psíquico e emocional nestes sujeitos. A orientação profissional acena com possibilidades de resgate da subjetividade do trabalhador, através do despertar da consciência do sujeito sobre sua trajetória pessoal, profissional e o contexto social, econômico e político que está no seu entorno. PALAVRAS-CHAVE: hipermodernidade; subjetividade; orientação profissional. INTRODUÇÃO

As últimas décadas têm sido palco de profundas transformações no mundo do trabalho e os estudiosos organizacionais têm se inquietado sobremaneira com questões alusivas à subjetividade dos trabalhadores. Diante da queda do paradigma da racionalidade científica, as organizações contemporâneas têm sido objeto de diversas investigações no meio acadêmico, numa busca incessante do estabelecimento de analogias entre a subjetividade humana e o comportamento do trabalhador no lócus do seu labor diário (ANTUNES, 2000).

O objetivo geral deste estudo é verificar se as relações que o homem estabelece com o seu trabalho, no âmbito das organizações contemporâneas, o tornam objeto, desconstruindo a sua inteireza enquanto sujeito, limitando as suas possibilidades de escolha profissional ou reconstrução da sua trajetória, e, se este encontra-se consciente desta anulação.

A inquietação da pesquisadora teve origem em dois artigos: “Dono de minha alma: o exercício do poder disciplinar nas sociedades industriais modernas, sob a ótica de Foucault” da autoria de João Nunes Cerqueira e “O seqüestro da subjetividade e as novas formas de controle psicológico no trabalho: uma abordagem crítica ao modelo Toyotista de produção” cujos autores são José Henrique de Faria e Francis Kanashiro Meneghetti.

A partir da análise dos artigos, aguçou-se o interesse em estabelecer elos de ligação com o ambiente de trabalho existente nas instituições, principalmente no período posterior à invasão da tecnologia e consequente automação de processos,

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que promoveu mudanças drásticas na estrutura dessas organizações, bem como na vida daqueles que as compunham.

Considerando os pilares que nortearam este trabalho e a suposição de perda de inteireza dos sujeitos bem como a suposta ausência de consciência deste mecanismo chegou-se à seguinte problematização: Em que medida o contexto hipermoderno favorece a emergência de não-sujeitos / objetos nas organizações contemporâneas? A HIPERMODERNIDADE E AS NOVAS EXIGÊNCIAS NO TRABALHO

A hipermodernidade é considerada por Lipovetsky (2004) a era da fragilidade do indivíduo frente às múltiplas facetas apresentadas pela consolidação da sociedade de consumo e seu hedonismo implícito. Trazido pelo filósofo e sociólogo francês Lipovetsky (2004), o termo traduz-se, segundo ele, na convivência dos extremos, em exceder o que já é excessivo, no culto ao presente. Para este autor, a sociedade vive de tal forma bombardeada por estímulos vindos de toda parte, numa dinâmica de acontecimentos tão veloz, que os homens perderam o equilíbrio enquanto pessoas.

Para Forbes (2004), hipermodernidade significa uma modernidade ilimitada, extensa a todos os domínios da experiência humana, ancorada em três fatores: na tecnologia, na individualidade e na economia. Lipovetsky (2004) sustenta que a hipermodernidade não significa a superação da modernidade, mas a amplificação radical de seus três eixos fundadores: o indivíduo, o mercado e a eficiência tecno-científica. Afirma ainda que o resultado da ligação entre esses três pilares tem produzido uma sociedade rica em tensões e paradoxos.

Estes autores acreditam que as sociedades contemporâneas, dominadas pela temporalidade do precário e do efêmero, além do impulso ao consumismo e à comunicação de massa, vivem o “tempo do desencanto”, caracterizado por um crescimento vertiginoso da insegurança e o medo do futuro em geral.

Aktouf (2004, p.57) posiciona-se em relação ao imediatismo das sociedades modernas, afirmando que a ideologia de fazer o máximo de dinheiro o mais rápido possível está presente em todas as nações que se debruçaram sobre a financeirização do capital numa “espécie de colonização de todas as esferas da atividade humana”.

Para Filgueiras (1997), o neoliberalismo emerge nos anos 70, na busca de redirecionar a intervenção do Estado na sociedade, em decorrência do enfraquecimento daquilo que ele chama de “rede de proteção ao trabalho e segurança social ao cidadão”, ou seja, do seu papel assistencialista instalado no período posterior à Segunda Guerra Mundial. Segundo o autor, este novo sistema, atrelado a mais dois fenômenos, a globalização e a reestruturação produtiva, apontam na mesma direção e revolucionam o modo de vida das pessoas, culminando numa total degenerescência dos valores até então cultivados no mundo do trabalho.

A grande diferença entre o liberalismo e o neoliberalismo é vista por Filgueiras (1997) nas circunstâncias históricas. Para ele o liberalismo surge para impulsionar o capitalismo, numa fase de crescimento da economia mundial, ao passo que o neoliberalismo aparece num momento de crise do capitalismo, com o esgotamento do modelo fordista e se contrapõe a uma ordem social, econômica e política

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estabelecida no período pós-guerra. De acordo com a reflexão deste autor, na era fordista, se perpetuou o fortalecimento das bases coletivas através do pacto firmado entre a classe trabalhadora e a burguesia, em que a primeira reconhecia a segunda como dona do capital e se submetia ao regime trabalhista que lhe era imposto. Havia produção em massa que era alimentada pelo consumo em massa. O papel do Estado neste pacto que perdurou até os anos 70, era de um forte provedor de assistência social.

A queda do Estado Social Democrata, na percepção de Filgueiras (1997), se deu em virtude de um conjunto de fatores. No plano microeconômico houve uma queda da atividade e do emprego, decorrente do envelhecimento do paradigma tecnológico dominante e da insatisfação dos trabalhadores com relação ao modelo fordista de produção. No âmbito macroeconômico ocorreu a aceleração da inflação causada pelo aumento dos custos e queda dos mercados consumidores. Na órbita fiscal e de amparo do Estado, como houve a queda do crescimento econômico, revelou-se uma concomitante redução na capacidade de arrecadação do Estado que também teve seus gastos aumentados com a função social, tendo em vista a quantidade de desempregados. Por fim, eclodiu na década de 70 a crise do petróleo, força motriz da industrialização dos países centrais.

O neoliberalismo mostra-se contra o Estado Social Democrata e o seu elemento central é a concorrência. Para que ele exista, o pressuposto básico é a predominância da desigualdade, vista pelos neoliberais como fomentadora do crescimento. Passa então a vigorar a idéia do Estado mínimo e este sai, cada vez mais, dos serviços sociais, incorrendo numa privatização em massa. O impacto da flexibilidade ganha força, destruindo a capacidade de se criar vínculos de qualquer natureza.

Transportando para o ambiente organizacional, Bourdieu (2001), assim como Aktouf (2004) e Sennett (2003), acreditam que se vive hoje a era da “precariedade institucional”, ou seja, mergulhou-se numa instabilidade crônica, em que a massa de trabalhadores está exposta ao risco contínuo, absorvendo a crença no mito da transformação de assalariados em empreendedores e, concomitantemente, é tolhida a inteireza dos sujeitos, de forma despercebida.

Vale ressaltar que essa flexibilização do capital só se tornou possível graças ao desenvolvimento tecnológico ocorrido na época. Em função deste advento, decorreu da flexibilização do capital, a flexibilização da sociedade, das relações de trabalho e, conseqüentemente, do indivíduo. Novos símbolos de dominação como o poder disciplinar e o consumo aparecem de forma sutil, com a anuência dos trabalhadores, mesmo que de forma inconsciente.

Foucault (1987) percebe uma nova concepção de poder nas organizações modernas e, segundo ele, esta nova roupagem não estaria unicamente vinculada ao valor negativo do poder, até então tido como essencial para a sua existência. Para ele, o poder na sociedade pós-capitalista é possuidor de uma “eficácia produtiva” com uma abrangência muito maior no campo conceitual até hoje definido. A sutileza aparece como característica marcante desta nova concepção, atrelada a uma capacidade de penetração em todos os níveis hierárquicos, e o poder disciplinar é absorvido integralmente pelos indivíduos. O discurso utilizado para cooptar adeptos para a nova estrutura baseava-se na valorização da subjetividade humana como diferencial competitivo. Entra em cena a figura do “parceiro”, do “colaborador”, do “associado”, como forma de fazer o

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trabalhador sentir-se um igual e acreditar na possibilidade de passar do status de assalariado a empreendedor, conforme percebido por Enriquez (1997) e Bordieu (2001). Este discurso mascara o intento subjacente de alcançar a “eficácia produtiva”, como definida por Foucault (apud CERQUEIRA, 1999), e destrói toda e qualquer forma de resistência.

Por que o trabalhador se deixa envolver pelo discurso de liberdade, propalado nas organizações hipermodernas? Para que? Para consumir, para atender passiva e ativamente aos anseios do capital impaciente, exercendo aí o papel de algoz e, ao mesmo tempo, vítima de sua realidade. Arendt (2001) afirma que o trabalho e o consumo são dois lados de uma mesma moeda, ou seja, que a existência de um está intimamente relacionada à existência do outro. Ocorre que, nos primórdios da humanidade, o trabalho se fez presente na vida dos homens única e simplesmente para prover o seu sustento e por isso o termo esteve sempre vinculado a um viés de seriedade, estando o lazer e o prazer no lado oposto. De acordo com Arendt (2001), nas sociedades modernas há uma relação simbiótica entre trabalho e consumo, fugindo da lógica original. Segundo esta autora, o progresso das sociedades aprisiona o homem pelo consumo, ao invés de libertá-lo do trabalho. Os trecho a seguir ratifica esta afirmação:

O fato de que estes apetites se tornam mais refinados, de modo que o consumo já não se restringe às necessidades da vida, mas ao contrário, visa principalmente as superfluidades da vida, não altera o caráter desta sociedade; acarreta o grave perigo de que chegará o momento em que nenhum objeto do mundo estará a salvo do consumo e da aniquilação através do consumo. (ARENDT, 2001, p. 146).

Tomando-se por base a sustentação de Arendt (2001), infere-se que o homem é produto e produtor de sua própria realidade, sendo, portanto, também responsável pela anulação da sua subjetividade, quando se torna partícipe e alimenta o processo de acumulação de capital, no papel de consumidor daquilo que não atende apenas as suas necessidades de sustento para a sobrevivência, ou seja, torna-se objeto do próprio capitalismo, instrumento das organizações. O TRABALHO COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE DO SUJEITO

Tomando a noção de trabalho como energia empreendida pelo homem sobre a natureza com o objetivo de transformá-la produzindo bens e serviços necessários a sua sobrevivência, tem-se a acepção de sua dimensão física (LIEDKE, 2002). As contribuições dos teóricos da economia trouxeram uma nova concepção para o conceito de trabalho, estando aí inserido o seu duplo caráter: o valor de uso da mercadoria e o seu valor de troca, este último tendo suas raízes no surgimento do excedente de produção, que posteriormente culminaria no sistema capitalista.

Com o advento da Revolução industrial, fez-se presente a divisão técnica do trabalho, separando o trabalho operacional do intelectual, advindo daí a divisão entre as classes sociais, a burguesia, detentora do capital e a classe trabalhadora. Constituem-se, desta forma, as relações de produção capitalistas, cuja substância é a acumulação de capital através da expropriação do excedente de produção, mais conhecida como mais-valia, gerada pelo trabalhador, que não detém os meios de produção e para sobreviver precisa vender a força de trabalho em troca de um salário. Para Liedke (2002), a noção de trabalho humano se apresenta na percepção do trabalhador, desde a mais tenra idade do sistema capitalista, numa dualidade de

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sentimentos, envolvendo dor e prazer de forma simultânea. Posteriormente, a interpretação weberiana faz emergir através do asceticismo, o sentimento de sacrifício pela recompensa.

Os dois pólos de sentimento em relação ao trabalho, portanto, mostram-se inerentes ao sistema capitalista e há neles uma evidente oposição entre o que Liedke (2002) chama de trabalho e não-trabalho, fato que não acontecia nas sociedades pré-industriais, como afirma a autora:

[...] As atividades de trabalho constituíam parte indissociável das demais atividades da vida social, como lazer, família e comunidade (KUMAR, 1985; FREYSSENET, 1994). A noção burguesa opõe trabalho a não-trabalho ou lazer, separando as esferas doméstica e pública da vida social. (LIEDKE, 2002, p. 344-345).

Apropriando-se da etimologia da palavra trabalho, chega-se a sua origem, que vem do termo em latim: tripalium, ou seja, “três paus”, instrumento de tortura usado na antiguidade, o que confere ao vocábulo um sentido de castigo, sofrimento, constrangimento. Lhuilier (2005) acredita que mesmo considerando a evolução do seu sentido, a sensação de constrangimento permanece, construindo-se então uma “aversão natural pelo trabalho”, em ambientes que cerceiam a capacidade criativa do sujeito.

Após as profundas transformações sofridas no universo laboral, muitos teóricos da comunidade científica se dividem em relação às concepções acerca do papel do trabalho, seu significado, importância e finalidade nas sociedades contemporâneas. Muitos, principalmente os apologistas do capital, apontam para o fim da centralidade trabalho, considerando as profundas transformações ocorridas na práxis laborativa, decorrentes dos avanços tecnológicos de base microeletrônica e consequente reestruturação produtiva, culminando em transformações de dimensões incalculáveis. Outra corrente de teóricos acredita que o trabalho permanece como elemento de vínculo entre o homem e a sociedade, entendendo este como um ser gregário, e, portanto com permanente necessidade de coesão social (LHUILIER, 2005).

Sobre este aspecto, Antunes (2002) se remete à ontologia do ser social de Lukács para explicar a relação estreita entre trabalho e interação social, servindo assim, como rati ficador da existência humana, conforme se constata a seguir:

Embora seu aparecimento seja simultâneo ao trabalho, a sociabilidade, a primeira divisão do trabalho, a linguagem, etc. encontram sua origem a partir do próprio ato laborativo. O trabalho constitui-se como categoria intermediária que possibilita o salto ontológico das formas pré-humanas para o ser social. Ele está no centro do processo de humanização do homem. Para apreender a sua essencialidade é preciso, pois, vê-lo tanto como momento de surgimento do pôr teleológico quanto como protoforma da práxis social. (ANTUNES, 2002, p.136).

Para Lhuilier (2005), as visões diferenciadas acerca do conceito de trabalho decorrem de uma centralidade que lhe é historicamente atribuída, em que este se mostra exclusivamente voltado para o mercado, ou seja, uma concepção de trabalho como mercadoria de troca pelo salário que, segundo ele, lhe imputa um caráter abstrato, contrariando a sua finalidade original que se constituía no dispêndio de energia para buscar na natureza elementos que lhe garantissem a sobrevivência, numa perspectiva muito mais abrangente.

A energia mobilizada para a execução de um trabalho, se propõe para Lhuilier (2005), não apenas no atendimento de uma necessidade individual, mas também ao

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atendimento de uma finalidade eminentemente social, do que decorrem os conflitos que lhe são inerentes, porque é nesta esfera que o sujeito se confronta com os antagonismos entre a representação do trabalho e a realidade que se lhe apresenta, possibilitando uma interação consigo, com o outro e com a própria realidade, construindo-se assim um caminho dialético de produção do coletivo.

Ao tratar a relação consigo, Lhuilier (2005, p.211) entende “o trabalho como utilização de si”, trazendo as duas possibilidades de “utilização” que conduzem à construção ou desconstrução do sujeito, conforme sustenta na passagem abaixo:

Se num primeiro sentido, a utilização é em primeiro lugar aquilo que os outros querem fazer de nós, sublinhando as dimensões sócio-históricas do trabalho, o segundo sentido remete para a utilização que cada um faz de si próprio, numa busca de realização pessoal. (LHUILIER, 2005, p.211).

A pluralidade de concepções acerca do labor torna o seu conceito fragmentado e isto faz com que o “trabalho como utilização de si” apresente duas vertentes interpretativas: uma positiva, vista como vital para o homem, dado que constrói o sujeito e uma negativa, em que a sua “dimensão emancipadora” mostra-se anulada frente ao que a autora chama de “dominação social”, num contexto de constrangimento e exploração do sujeito. Desta forma, “o lugar que o trabalho ocupa para cada sujeito depende dos resultados favoráveis que possa encontrar, criar para o seu desejo, a sua história, a sua personalidade” (LHUILIER, 2005, p.211). Assim, para que o trabalhador perceba o trabalho como estruturante de sua subjetividade, deve perceber um sentido na atividade que exerce com relação a sua história de vida, ou ao menos se encontrar com o que Lhuilier (2005) chama de “satisfações substitutivas”. Deste modo, pode-se inferir que a organização pode se constituir num campo fértil para a emergência da subjetividade do trabalhador, sendo neste caso o trabalho o seu elemento estruturante, ou, ao contrário, para a sua anulação, minando o desenvolvimento de si.

Quando o vínculo com a história do sujeito não se mostra presente no desenvolvimento de sua atividade Lhuilier (2005) afirma que a “utilização de si” é substituída pela “luta contra si”, viabilizando a desconstrução do sujeito, como se pode observar a seguir:

Trata-se ainda de luta contra si quando o trabalho se faz não sem o desejo mas contra o desejo, quando o peso dos constrangimentos é tal que não há qualquer espaço para o jogo da sublimação. A repressão leva a uma espécie de anestesia do funcionamento psíquico e a um empobrecimento vivido como despersonalização por instrumentalização. Assim, podemos entender a questão do sofrimento ou do prazer no trabalho como a de uma má utilização de si ou, inversamente, como uma utilização que satisfaz as exigências de afirmação de um Eu, de uma identidade. (LHUILIER, 2005, p.212).

A atividade desenvolvida no lócus laborativo se traduz na ação em que o trabalhador procura reconhecer-se e ser reconhecido pelo outro enquanto sujeito. Neste sentido, os “coletivos de trabalho” plasmam o espaço tido como ideal para a emergência da subjetividade, considerando aí as semelhanças e diferenças entre os elementos formadores de um conjunto, como essenciais para a elaboração coletiva (LHUILIER, 2005). A afirmação a seguir faz considerações acerca do reconhecimento social no ambiente de trabalho, como legitimador da participação do trabalhador no alcance de um objetivo comum:

A inscrição social num grupo de pertença é a condição do reconhecimento social e da validação das práticas. O efeito deste reconhecimento é duplo,

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ao mesmo tempo social e pessoal: é porque o grupo social oferece e reconhece um lugar aos seus membros que legitima a sua contribuição para o objecto do trabalho, que estes em retorno podem investir esse lugar e a sua comunidade de pertença. Esta formação contratual remete aqui para o contrato narcísico (AULAGNIER, 1975), que é o suporte da construção identitária no trabalho assim como da manutenção do ser conjunto.

O trabalho se constitui na relação com o outro e, o que cada um realiza,

obedece a uma forma prescrita, normatizada. Entretanto, o sentido dado ao trabalho, Lhuilier (2005) vê como desvinculado da estrutura burocrática da organização e aflora através da linguagem, que implica no vetor de interação com o outro. A autora afirma que quando há limitações a esta troca, há também uma perda de sentido do trabalho, porque passam a vigorar relações isoladas, num culto ao individualismo. Analogamente, considerando a nova formatação assumida pelo mundo do trabalho, com forte tendência a reduzir o indivíduo a sua individualidade, ao que Antunes (2002) chama de “subjetividade inautêntica”, observa-se uma “confrontação solitária com o real” (LHUILIER, 2005), em que não há a concepção do trabalho como uma ação conjunta, coordenada, fértil em trocas intersubjetivas.

Percebe-se então que ao longo da história da humanidade, e chegando aos dias atuais, o homem deixou de trabalhar unicamente para o provimento das necessidades que lhe garantissem a sobrevivência física, incorporando a esta uma segunda necessidade: a de sobrevivência social.

Retomando a questão da hipermodernidade, confirma-se aqui o posicionamento dos teóricos já abordados neste estudo, de que este contexto não propicia a emergência da subjetividade do trabalhador, ao contrário, lhe extrai o sentido, reduzindo-lhe à condição de objeto, de instrumento das organizações. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As facetas da hipermodernidade produzem impactos sobre as relações de trabalho contemporâneas e, conseqüentemente, sobre a vida profissional e pessoal dos trabalhadores partícipes deste contexto, de proporções gigantescas e irreversíveis. Os discursos da nova era carregam a ilusão de alcance de um mundo melhor e mais humano para se trabalhar, impregnado no imaginário coletivo, o que facilita o acesso dos modelos de gestão que dão sustentação à ordem instalada.

Depreende-se ainda que há um ciclo de retroalimentação entre trabalho e consumo, mediado pelo trabalhador que apresenta um maior ou menor grau de anulação de sua subjetividade a depender do seu posicionamento frente a este ciclo, ou seja verificou-se que a submissão do trabalhador contemporâneo às novas regras vigentes no mercado de trabalho guarda estreita relação com os seus anseios de consumo, visto que para atendê-los precisa entregar-se à forma prescrita do trabalho.

Mergulhar no universo da subjetividade humana, à luz da reflexão acima, não apenas propicia um melhor entendimento da realidade como viabiliza a oportunidade de intervenções ou mesmo mudança de atitude das partes envolvidas: sociedades, organizações e indivíduos.

Neste sentido, infere-se que a reorientação profissional e de carreira apresenta-se como um caminho para o resgate da subjetividade do trabalhador, considerando que a escolha profissional é um processo perene de construção e reconstrução de si. Soares (2009) entende que a nova formatação do mundo tornou

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imprescindível para aqueles que estão ingressando ou já estão no mercado de trabalho, o planejamento de sua carreira, como se constata a seguir: “O planejamento de carreira torna-se, então, uma nova “filosofia” para escolha da trajetória profissional dos profissionais da atualidade que pretendem inserção e manutenção no mundo do trabalho” (SOARES, 2009, p. 41).

Segundo Soares (2009), o sujeito da reorientação profissional busca aprofundar o conhecimento de si, a fim de estabelecer analogias entre a sua subjetividade e o contexto social, político e econômico que o cerca. Através da utilização de diversas técnicas, respaldadas num aporte teórico que lhe dê sustentação é possível ao orientador estabelecer estratégias de ação que permitam ao orientando dar-se conta do seu contexto e, no papel de sujeito da sua escolha, ser o agente transformador da sua realidade. Soares (2000) confirma este posicionamento, como se observa a seguir:

Uma pessoa procura orientação quando as ações indicam que o transcorrer da vida já foi ou está se processando fora do curso esperado, indicando uma distância entre “o que é” e “o que deveria ser” ou “gostaria que fosse”. O objetivo da orientação de carreira é habilitar o indivíduo para viver o melhor caminho. Em todos os problemas de carreira o indivíduo é visto como paciente ou como vítima da situação. O objetivo da orientação é fazer com que ele seja o agente capaz de tomar as ações efetivas e significativas para obter os seus objetivos de vida. A vida só tem um sentido quando podemos nos ver como atores no contexto de uma história. (LISBOA, SOARES, 2000, p.37)

A reorientação profissional é vista por Lisboa e Soares (2000) como uma possibilidade de ação e intervenção cujo objetivo é melhorar a relação homem/trabalho. A autora entende que, no contexto contemporâneo a reorientação se propõe a auxiliar o indivíduo a perceber o mundo do trabalho sob novas perspectivas, considerando todos os aspectos nele inseridos, de forma amadurecida, refletida, a fim de proporcionar escolhas acertadas e mais ajustadas à realidade vigente, como se confirma a seguir:

O objetivo principal da re-orientação profissional é oermitir ao indivíduo progredir em suas sucessivas “escolhas”, auxiliando-o a ver a relação existente entre as diversas decisões que vai tomando ao longo de sua vida profissional e sua história de vida pessoal e familiar. (LISBOA, SOARES, 2000, p.42)

A orientação / reorientação profissional e de carreira descortina-se no contexto hipermoderno, como possibilidade de resgate da subjetividade do trabalhador, contemplando o sentido de inteireza para o sujeito, no resultado de suas escolhas.

Ressalta-se ainda que este trabalho não tem a pretensão de encerrar os estudos acerca das possibilidades da orientação profissional, frente às necessidades do trabalhador. Ao contrário, possui a intenção de fomentar discussões e reflexões, com vistas a contribuir para a existência de ambientes de trabalho salutares, que proporcionem melhoria na qualidade de vida dos indivíduos concomitante à sustentabilidade do mundo organizacional.

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POC13 - PERTINENCIA DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS PARA O ESTUDO DA APOSENTADORIA NO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL:

REFLEXÕES DE UM PROJETO DE PESQUISA. Costa, FJFNC 1; Aléssio, RLS 1. 1 - Laboratório de Interação Humana, Universidade Federal de Pernambuco. O presente trabalho consta de reflexões geradas por um projeto de pesquisa de mestrado que se propõe a investigar as representações sociais acerca da aposentadoria construídas e compartilhadas por servidores da Administração Pública Federal (APF). Em evento ocorrido em Brasília para tratar da homologação de práticas de intervenção no campo da Saúde Mental, em agosto de 2009, observou-se grande demanda dos representantes de diversos órgãos da APF para incluir Programas de Preparação para a Aposentadoria como estratégia de promoção de saúde dos servidores públicos (no quadro da Política de Atenção à Saúde do Servidor). Na ocasião, foram narrados episódios de adoecimento de pessoas prestes a se aposentarem ou quando de sua aposentadoria. A mobilização dos profissionais garantiu a entrada do referido programa no âmbito dos “Princípios, Diretrizes e Ações em Saúde Mental na Administração Pública Federal”, documento que estipula política pública de saúde voltada para o servidor e que foi publicado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Federal. Faz-se assim necessário compreender os efeitos da aposentadoria na identidade pessoal e no processo de saúde/doença do trabalhador. Para a realização do presente estudo, o referencial utilizado será a Teoria das Representações Sociais. As representações sociais configuram uma modalidade de saber socialmente partilhada. Trata-se de um conjunto organizado e estruturado de informações, crenças, imagens, normas, atitudes e valores sobre um determinado objeto social. Assim, cabe pesquisar como são construídas as representações sociais sobre aposentadoria por pessoas que estão prestes a vivenciarem este período de suas vidas. A população desta pesquisa será composta de funcionário/a do Serviço Público federal em vias de aposentar-se. Optou-se por eleger servidores/as de uma Universidade Federal em virtude de maior proximidade com este universo por parte do pesquisador. O recurso metodológico será a entrevista. Através de entrevistas semi-estruturadas, objetiva-se investigar de forma aprofundada os saberes, valores, crenças, imagens que os servidores públicos federais elaboram acerca da aposentadoria. Após transcrição e leitura de imersão, o processamento das informações obtidas nas entrevistas será realizado através do software ALCESTE. Trata-se de um software para tratamento de texto que possibilita um tratamento quantitativo do material, destacando as palavras cuja presença significativa no texto indica a construção de um sentido/representação. Espera-se assim contribuir para reflexão acerca do impacto da aposentadoria para saúde do servidor publico, bem como, para reflexão sobre o Programa de Preparação para Aposentadoria, no quadro da Política de Atenção à Saúde do Servidor.

PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; serviço público federal; representações sociais. 1 – INTRODUÇÃO

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Atualmente observa-se um aumento considerável dos chamados Programas de Preparação para a Aposentadoria ou PPAs, como são conhecidos. O referido PPA tem como objetivo promover um espaço de reflexão sobre a aposentadoria e as questões que esta etapa do desenvolvimento humano costuma trazer. Todavia, observa-se também a venda da ideia de que este “Programa” poderia ser executado como um programa de computador, por exemplo. Com pouca reflexão prévia sobre o público alvo. Vale ressaltar que a maior parte da literatura propõe um levantamento das demandas e expectativas do grupo a ser trabalhado e aponta a necessidade do mesmo.

A prática profissional no campo da Saúde do Trabalhador mostra que é inviável planejar, desenvolver e executar atividades sem a escuta prévia dos trabalhadores. Torna-se, inclusive, uma premissa básica da área trabalhar com e a partir do conhecimento prático do trabalhador sobre seu cotidiano de trabalho.

Em evento promovido pela ABRAPSO, Leny Sato (2011) chama atenção para as chamadas “profissões ignoradas” (segundo expressão do cronista João do Rio). A autora fazia referencia a profissionais que operam com pouca ou nenhuma visibilidade social; mas a reflexão posterior acerca da expressão utilizada, “profissões ignoradas”, lançou a dúvida sobre como os trabalhadores do Serviço Público Federal são representados no âmbito científico. Seria um exemplo das “profissões ignoradas” na produção de pesquisas acadêmicas? Associado ao desejo de estudar o tema da aposentadoria foi construído o presente projeto de pesquisa.

Assim, o objetivo desta pesquisa é compreender quais os significados construídos e compartilhados sobre aposentadoria no Serviço Público Federal para servidores em vias de aposentadoria. Considerando a necessidade de partir do conhecimento prático dos servidores, elegeu-se a Teoria das Representações Sociais como norteadora da pesquisa.

2 – JUSTIFICATIVA

O presente projeto propõe compreender a construção e compartilhamento das representações sociais acerca da aposentadoria por servidores da Administração Pública Federal em vias de aposentar-se. Em evento ocorrido em Brasília–DF para tratar da homologação de práticas de intervenção no campo da Saúde Mental, em agosto de 2009, observou-se grande demanda dos representantes de diversos órgãos da APF para incluir Programas de Preparação para a Aposentadoria como estratégia de promoção de saúde dos servidores públicos. Na ocasião, foram narrados episódios de adoecimento de pessoas prestes a se aposentarem ou quando de sua aposentadoria. A mobilização dos profissionais garantiu a entrada do referido programa no documento elaborado e publicado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Federal. (BRASIL, 2009).

A literatura mostra interesse acadêmico recente por questões relacionadas a esta temática tais como atitudes frente à aposentadoria (França, 2008), avaliação de qualidade de vida (Pimenta e cols., 2008), uso do tempo livre (Costa, 2009) e estudos focalizados em determinadas populações de aposentados (Lima, 2010). Constatou-se que poucos estudos são desenvolvidos no nordeste brasileiro, o que por si só configura uma questão de pesquisa.

Embora os estudos acima mencionados apresentem relevância e coerência metodológica (afinal, é preciso delimitar o problema de pesquisa e amostra participante do estudo), parece ser necessário investigar a forma como os

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significados do fenômeno aposentadoria são construídos e partilhados por pessoas que vivenciam ou estão prestes a vivenciar esta etapa do desenvolvimento humano. Recentemente (2008), por iniciativa do Conselho Federal de Psicologia, ocorreu o “Seminário Nacional de Envelhecimento e Subjetividade: desafios para uma cultura de compromisso social”.

No que diz respeito aos temas abordados, a aposentadoria e suas consequências e impactos foram temas mencionados, mas não foi apresentado nenhum trabalho tendo esta temática como ponto de partida. Segundo Santos, faz-se necessário “compreender como a perda do papel profissional pode ter consequências sobre o sistema de representações e de valores relativos a si mesmo” (1990, p.03), considerando os efeitos da aposentadoria na identidade pessoal.

Para a realização do presente estudo, o referencial utilizado será a Teoria das Representações Sociais. Embora haja consenso entre os autores da Teoria das representações Sociais sobre a dificuldade em definir “representação social”, Moscovici (2010) esclarece que o conceito corresponde “(...) a certo modelo recorrente e compreensivo de imagens, crenças e comportamentos simbólicos. Vistas desse modo, estaticamente [grifo do autor], as representações se mostram semelhantes a teorias [grifo do autor] que ordenam ao redor de um tema (...) do ponto de vista dinâmico, as representações sociais se apresentam como uma “rede” de ideias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por isso, mais móveis e fluidas que teorias” (2010: 209-210).

Em artigo recente, Santos, Morais e Acioli Neto (2012) chamam a atenção para como se desenvolvem trabalhos com o uso da Teoria das Representações Sociais. Os autores relatam a ênfase excessiva apenas nas descrições das representações sociais de temas diversos por parte de pesquisadores, sem maiores detalhamento da construção de tais representações. Neste sentido, o presente trabalho inscreve-se numa abordagem culturalista da teoria das representações sociais. Esta abordagem visa compreender de forma holística e aprofundada, os sentidos produzidos acerca da aposentadoria.

Pode-se considerar como caracteres ‘culturalistas’ do objeto: A aposentadoria, neste contexto, pode ser pensada como uma modalidade de conhecimento; Busca-se verificar o estado atual em que este objeto se encontra, dado grande mobilização em 2009 para incluir estratégia de cuidados com pessoas prestes a se aposentar em evento promovido pelo Ministério do Planejamento (BRASIL, 2009); Neste enfoque, pensa-se a representação social como guia de interpretação e guia de conduta. Assim, cabe investigar esta inter-relação, visto que produções nacionais e internacionais apontam um nexo causal entre aposentadoria e depressão (NERI,YASSUDA, CACHIONI, 2004 e SAHLGREN, 2013); Predomina a abordagem qualitativa na pesquisa; Maior ênfase no estudo do conteúdo e da ancoragem, como estratégia de análise do saber dos participantes, visando identificação da representação social da aposentadoria no serviço público federal; Realização de maior observação do e no universo estudado (abordagem de cunho etnográfico).

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Considerando o aumento da longevidade humana, representado pelas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a previsão é de que em 2050 a idade do/a brasileiro/a seja de 81,29 anos. (IBGE,2009). Por sua vez, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que o Brasil seja o sexto país do mundo com maior população idosa em 2025 (apud Araújo, Coutinho e Santos, 2006). Tais dados nos fazem pensar e nos interrogarmos sobre como os/as trabalhadores/as se veem aposentados/as, uma vez que se aposentam, em média, no período entre 65 e 70 anos de idade (período limite de permanência do/a trabalhador/a nas instituições, ao atingir esta idade ocorre a aposentadoria compulsória). Logo, torna-se válido investir em uma pesquisa que tenha como objetivo compreender como ocorre a construção das representações sociais da aposentadoria. Notadamente porque, uma vez identificados elementos desencadeadores ou mantenedores de quadros de sofrimento psíquico dentre os elementos representacionais, os comumente chamados Programas de Preparação para a Aposentadoria (PPAs), poderão ser melhor desenvolvidos e executados, visto que terão como ponto de partida informações decorrentes de estudo científico. No mais, a realização da presente pesquisa poderá contribuir para a consolidação de práticas neste sentido em diferentes órgãos da Administração Pública Federal. Considerando que a Política de Atenção à Saúde do Servidor, através de suas práticas vem consolidando-se como política pública, os achados desta pesquisa poderão reforçar a importância de estudos referentes à Política Nacional do Idoso, por exemplo.

3 – MÉTODO

A população desta pesquisa será composta de funcionário/a do Serviço Público federal em vias de aposentar-se. O objeto de pesquisa, por sua vez, diz respeito à construção da representação social da aposentadoria. Tal esclarecimento inicial mostra-se necessário, uma vez que, segundo Sá (1998) “o par sujeito-objeto deve estar ligado por um saber efetivamente praticado, que não deve ser apenas suposto, mas sim detectado em comportamento e comunicações”. É necessário delimitar o universo dos participantes do estudo em virtude da amplitude do serviço público e das diferenças legais acerca da condução do processo de aposentadoria. Assim, optou-se por eleger servidores/as de uma Universidade Federal em virtude de maior proximidade com este universo por parte do pesquisador. O acesso aos participantes do estudo se dará por meio do contato com o setor responsável pela gestão de Recursos Humanos da instituição para localizar servidores/as que estejam próximos à aposentadoria por tempo de serviço ou por idade (aposentadoria compulsória). Instituições sindicais também poderão ser utilizadas como fonte de informações, no sentido de informar existência de movimentos, grupos ou associações existentes. Não serão incluídos participantes que estejam se aposentando por invalidez, por tratar-se de questão específica, remetendo assim a outro estudo.

Considerando as especificidades deste projeto, considera-se o enfoque qualitativo devido à consonância com o objetivo do mesmo, uma vez que, segundo Minayo (2010:57), “o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os seres humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam”. Será realizada assim uma entrevista semi-estruturada.

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Através de entrevistas semi-estruturadas, objetiva-se investigar de forma aprofundada os saberes, valores, crenças, imagens que os servidores públicos federais elaboram acerca da aposentadoria. O critério numérico para determinar população será o ponto de saturação - estratégia metodológica proposta por Bauer & Gaskell, para quem “saturação é o critério de finalização: investigam-se diferentes representações, apenas até que a inclusão de novos estratos não acrescente mais nada de novo. Assume-se que a variedade representacional é limitada no tempo e no espaço social” (2008: 59). Após transcrição e leitura de imersão, o processamento das informações obtidas nas entrevistas será feito através do software ALCESTE. Trata-se de um software para tratamento de texto que possibilita uma análise quantitativa do material, destacando as palavras cuja presença significativa no texto indica a construção de um sentido/representação.

Vale ressaltar que antes de sua execução, o projeto necessita ser submetido – e aprovado – pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da instituição. Também se deve registrar que sujeitos deverão assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participarem desta pesquisa.

Ainda sobre as implicações dos dispositivos ‘éticos’ na construção do objeto de pesquisa, “(...) o TCLE [Termo de Consentimento Livre e Esclarecido] seria adequado, no caso de se entrevistar trabalhadores sobre as relações de trabalho no ambiente das organizações? Em temas como esses, da Psicologia do trabalho e das organizações, tradicionalmente, os psicólogos/pesquisadores, por seus compromissos éticos de proteger os participantes, adotam o procedimento de não identificar os participantes. A não identificação e a assinatura do TCLE, nesses casos, são contraditórias. Membros de CEPs [Comitês de Ética em Pesquisa] têm argumentado que, para superar essa contradição, basta que o TCLE esteja separado do questionário que o indivíduo responderá. A prática em pesquisa tem, no entanto, revelado que aqueles que se encontram no contexto do emprego não se sentem seguros para expor seus pontos de vista se assinam o TCLE, pois entendem que estão se identificando.” (BORGES; BARROS; LEITE, 2013:155).

As autoras fazem referencia a outra situação, “(...) em uma pesquisa em que petroleiros eram sujeitos-participantes, o comitê de ética não dispensou o TCLE, sob o argumento que os petroleiros da pesquisa tinham estabilidade no emprego. Entretanto, a não identificação era valorizada por aqueles petroleiros, porque independentemente da estabilidade legal, sentiam-se ameaçados por outras especificidades da gestão que lhes podia aplicar outros tipos de penalidades, como transferências indesejadas, mudanças nas tarefas, na organização dos dias de trabalho e de folga, etc, além do fato de aquela categoria ocupacional ter uma história em que, a despeito da estabilidade legal do emprego, colegas passaram pelo constrangimento da demissão e demoraram a recuperar o emprego, tendo que enfrentar desgastante processo judicial. Aquele CEP, provavelmente, não atentou suficientemente para as peculiaridades das relações de trabalho e exigiu o TCLE. A pesquisa foi realizada sem a aprovação do CEP, mas os seus resultados nunca foram encaminhados a qualquer revista científica.” (BORGES; BARROS; LEITE, 2013:155-156).

Por fim, a carta de anuência e a inserção se apresentam como duas faces de uma mesma moeda: como psicólogo da instituição pretendida, acredita-se que haverá liberdade para desenvolvimento do estudo. A inserção no papel de pesquisador é que pode vir a ser problemática. Os/as servidores irão se sentir à

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vontade para expressar suas opiniões e percepções a um pesquisador que também é servidor da mesma instituição? São elementos que constituem o objeto estruturado mas cujas soluções só poderão ser informadas a posteriori na dissertação. 4– REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, L. F. ; COUTINHO, M. P. L. ; SANTOS, M. F. S. O idoso nas instituições gerontológicas: Um estudo na perspectiva das Representações Sociais. Psicologia e Sociedade, [S.l.] v. 18, n.2, p. 89-98, mai./ago, 2006. BORGES, Livia de O.; BARROS, Sabrina C.; LEITE, Clara P. do R. L. A.. Ética na pesquisa em Psicologia: princípios, aplicações e contradições normativas. Psicologia Ciência e Profissão. [online]. 2013, vol.33, n.1, pp. 146-161. Acesso em 06 de julho de 2013. BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa Tábuas de Mortalidade - 2008. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Brasília, DF, 2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1507&id_pagina=1. Acesso em: 16/12/2012. BRASIL. Princípios, Diretrizes e Ações em Saúde Mental na Administração Pública Federal. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2009. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Edição revista e actualizada. Lisboa: Edição 70. BAUER, M. W. & GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som, um manual prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. 7ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2008 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Envelhecimento e Subjetividade: desafios para uma cultura de compromisso social. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, DF, 2008. COSTA, Aline B. Projetos de futuro na aposentadoria. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, 2009 FRANÇA, Lucia. O desafio da aposentadoria. Rio de Janeiro: Rocco, 2008 JODELET, Denise. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (org.) As representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p.17-44. LIMA, Marilaine B. F. Aposentadoria e tempo livre: um estudo com policiais federais. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2010 MINAYO, Maria Cecilia de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2010 MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 7ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2010 NERI, A. L. ; YASSUDA, M. S. ; CACHIONI, Meire . Saúde mental após a aposentadoria. In NERI, A. L. (org). Velhice bem-sucedida. Aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus, 2004, p. 200-224 PIMENTA, F. A. P. et al. Avaliação da qualidade de vida de aposentados com a utilização do questionário SF-36. Ver AssocMedBras2008;54(1):55-60 SÁ, Celso P. de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998

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SAHLGREN, Gabriel. Work Longer, Live Healthier: The relationship between economic activity, health and government policy. IEA DiscussionPaper No. 46, May, 2013. SANTOS, Maria de Fátima S. Identidade e aposentadoria. São Paulo: E.P.U.: 1990 SANTOS, Maria de Fátima S.; MORAIS, Edclécia R. C.; ACIOLI NETO, Manoel de L. A produção científica em representações sociais: análise de dissertações e teses produzidas em Pernambuco. Psico (PUCRS. Impresso), v. 43, p. 200-207, 2012. SATO, Leny. Psicologia e Trabalho: focalizando as 'profissões ignoradas'. In: Benedito Medrado e Wedna Galindo. (Org.). Psicologia Social e seus movimentos: 30 anos de ABRAPSO. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2011, p. 233-250.

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POC14 - PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA

Fernandes, LG 1; Guimarães, MB 1; Reis, CS 1; Rodrigues, JPC 1. 1 - Ministério da Saúde, Núcleo Estadual do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro, Divisão de Gestão de Pessoas, Programa de Melhoria de Qualidade de Vida O presente resumo trata da Preparação para Aposentadoria, ação vinculada ao Programa de Melhoria de Qualidade de Vida no Trabalho, implementada no Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, sob a orientação da Coordenação Geral de Gestão de Pessoas, com o intuito de atender ao artigo 28, inciso II do Estatuto do Idoso. Tal ação visa atingir os servidores do mencionado núcleo com antecedência de até dois anos para a aposentadoria. Esta ação tem como objetivo fomentar a reflexão sobre o que fazer na aposentadoria, através de dinâmicas vivenciais que levem aos participantes a experimentarem de que forma podem administrar sua vida. Esta ação constitui um processo de formação e informação, que compreende várias etapas: idealização do projeto, sensibilização, oficinas de vivências (com abordagem dos seguintes temas: aspectos biológicos, sociais, psicológicos, legislação, planejamento orçamentário, espiritualidade, empreendedorismo e “descoberta de talentos”) e avaliação dos resultados obtidos nos encontros. A seleção do público alvo é feita, observando-se a proximidade da aposentadoria. Este levantamento é feito a partir de sensibilizações - encontros pré-agendados e um contato mais direto, indo até os setores que os servidores estão lotados - que tem por objetivo apresentar a Ação PPA, com alguns aspectos que seriam trabalhados nas Oficinas. Posteriormente ocorrem as oficinas com grupos de até 30 participantes e as avaliações consequentes. De 2010, ano de implementação da ação, até julho de 2013 foram realizadas oito oficinas, todas fora do set de trabalho, num processo de imersão com a duração de três dias, o que estimula o contato entre os participantes e uma maior integração. Pode-se observar o aumento gradativo no interesse em participar desta ação, considerando-se a busca pela participação nas oficinas. Como resultados, podemos citar a diminuição do número de aposentadorias por idade (compulsória aos 70 anos) e a diminuição das revisões de aposentadoria com intuito de retorno a atividade. PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria, reflexão e preparação. OBJETIVOS: Possibilitar aos servidores do Ministério Saúde, mais precisamente aos vinculados ao Núcleo Regional do Ministério no Rio de Janeiro, um espaço de reflexão acerca de problemáticas que se apresentam quando da sua aposentação. Promover, através de discussão, o aparecimento de caminhos a serem percorridos a partir da aposentadoria e buscar o entendimento de relações que poderiam passar relegadas a um segundo plano enquanto o trabalho se apresentava como escudo para não pensá-las. Justificativa da relevância científica e social:

Diversos estudos têm apontado para um envelhecimento da população mundial. Dados de grande relevância vêm desenhando no cenário mundial uma

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sociedade formada por idosos, com capacidade produtiva, porém relegados a “peso morto”, sem expectativa ou inserção na sociedade. Idosos sem voz e sem vez.

O trabalho institucionalizado inscreve o cidadão na sociedade e sair deste mercado traz implicações diversas para um número cada vez maior de pessoas.

O Brasil, juntamente com os outros países do BRICs (Rússia, India e China) já respondem por 40,6% da população mundial de idosos.

Hoje contamos com mais de 20 milhões de idosos, que representam 10,5% da população brasileira.

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer atingiu 72,7 anos, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 1992, a população até 15 anos somava 33,8% dos brasileiros; Em 2007, o percentual dos jovens caiu para 25,2%.

Em 1992, as pessoas com mais de 60 anos eram 7,9% do total; Em 2007, o percentual de idosos subiu para 10,6%.

Os brasileiros com mais de 80 anos são 1,6 milhão, o equivalente a 1,4% da população.

“O mundo está se aproximando de uma crise do

envelhecimento. Como a esperança de vida

aumenta e as taxas de natalidade diminuem, a

proporção da população idosa está se expandindo

rapidamente, aumentando o peso econômico sobre

a população jovem.” (Banco Mundial, 1994)

Deve se assumir que o envelhecimento é uma conquista social e reconhecer

que as experiências, capacidades e recursos das pessoas de idades mais elevadas constituem um patrimônio para a construção de uma sociedade madura, plenamente integrada e humana. (art. 6º da Declaração Política do Plano Mundial de Ação).

Se adequar à nova realidade se faz urgente. Mudanças devem e precisam ser propostas com este fim.

Instituições sérias vêm se preocupando com a questão do idoso e adotando medidas importantes nesse sentido.

Nesse condão, mediante a cena mundial apresentada, tornou-se imperioso se pensar uma estratégia de atuação para permitir ao servidor público, que tem sua data de aposentadoria limitada aos 70 (setenta) anos, o entendimento de que há outras formas de produção que não somente a Institucional. A possibilidade de integrá-lo em outras relações que não somente as do trabalho é um foco que se tenta ampliar com o Programa de Preparação para Aposentadoria.

Portanto, o trabalho ora apresentado, tem uma inscrição social, na medida em que pretende aquecer as relações dos pré-aposentados para além do trabalho e insere-se ainda numa perspectiva mundial de entender o envelhecimento como uma forma natural e fática de vida. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS: Como o convite é à reflexão, a metodologia aplicada é a de diferentes dinâmicas para abordar aspectos diretamente ligados à aposentadoria. Dinâmicas

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estas, apresentadas em dupla, pelos facilitadores, onde o servidor é estimulado a trabalhar diversas questões levantadas pelo grupo acerca dos assuntos apontados. A utilização das dinâmicas foi escolhida por acreditarmos que este MEIO possa conduzir os participantes a se redescobrir, como propõe Mayer (2007):

“Adota e desenvolvem dinâmicas não como meras técnicas aplicáveis a determinados públicos, mas como meios referenciais e instrumentais de ajuda capazes de levar – pessoas e grupos – a um novo jeito de ver, pensar, compreender, encarar a vida, Isto é, a um novo jeito de ser e proceder.” (MAYER, 2007 p.17)

A intervenção do facilitador na execução das dinâmicas ocorre do modo mais

isento possível, ficando a cargo do servidor o levantamento das diferentes questões e sua relevância, bem como as conclusões tiradas a partir das diversas abordagens.

É uma preocupação dos facilitadores esclarecer que o PPA (Programa de Preparação para Aposentadoria) não trata de um estímulo à aposentadoria, mas de um olhar sobre ela e suas implicações. O servidor que se inscreve para participar dos encontros não está fadado à aposentadoria imediata, mas a refletir e se preparar para ela.

É sabido que, seja por força de disposição legal (artigo 28, inciso II do Estatuto do Idoso), seja para adequação de uma nova realidade social, a Preparação para Aposentadoria, vem se tornando tema frequente de inúmeros trabalhos institucionais. O diferencial apresentado em nossa formulação recai justamente na metodologia aplicada. Nossa principal linha de atuação consiste num processo de formação, a partir de experiências relatadas pelos próprios “aposentandos” e não de informação, o que implicaria em elaboração de material técnico, palestras e pontos de vistas definidos acerca de assuntos pertinentes ao processo de aposentação.

As dinâmicas sugeridas objetivam trabalhar os aspectos social, familiar, psicológico, biológico, orçamentário, espiritual, empreendedor, e ainda a legislação pertinente à aposentadoria, sempre a partir de relatos dos próprios participantes. Vale destacar ainda, que é fundamental para o êxito das dinâmicas o afastamento do set de trabalho para sua realização. Assim, num processo de imersão, durante 03 (três) dias o servidor é convidado a refletir sobre várias questões que permeiam seu processo de aposentadoria.

Aproveitando-nos da metodologia difundida por Paulo Freire, no que concerne ao Construtivismo, buscamos ajustar as dinâmicas a este entendimento. Partindo da premissa de que a resposta esta dentro de cada um; bastando somente encontrá-la, lançamo-nos na tarefa de clarear as diversas possibilidades de essas respostas aflorarem. Enquanto facilitadores, nos dispomos a fomentar, através das dinâmicas, o despertar dessas respostas.

Ainda sobre a metodologia, cumpre ressaltar que excepcionalmente a parte relativa à legislação, que é discutida de modo técnico, todos os demais temas não são apresentados com qualquer conceituação prévia e que, a partir da fala dos participantes, é que tal conceituação passa a existir.

PRINCIPAIS RESULTADOS E CONCLUSÕES:

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A implementação do PPA no Núcleo RJ do Ministério da Saúde, tal como hoje é apresentado, iniciou-se em 2010. De modo tímido, com reuniões que visavam sensibilizar servidores e autoridades sobre a importância deste trabalho e sua necessidade frente à sociedade em mudança, iniciamos nossos encontros – as chamadas Oficinas. A principal argumentação era de que evidente estava o descontentamento dos aposentados com sua nova situação; a queixa se refletia no grande número de solicitações de revisões de aposentadorias e de retorno à atividade.

De maneira direta transpor esse descontentamento era urgente e o PPA se apresentava como uma possibilidade para tal fim.

A partir dos encontros – Oficinas – algumas questões de importância extrema foram transpostas:

A aposentadoria compulsória (70 anos) causava, com frequência um prejuízo financeiro para o servidor, além de um sentimento de exclusão, o que era evidenciado não apenas pelo seu relato como também pelas solicitações de alteração de fundamento de aposentadoria; a partir da 1ª Oficina o número de aposentadoria caiu de 43 (quarenta e três) em 2010, para 03 (três) em 2011 , chegando a 0 (zero) na última Oficina realizada em 2012. Há que se destacar que tais dados foram obtidos junto ao Setor de Concessão de Aposentadorias e Pensões do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro.

Além da resposta institucional, também apontada com a diminuição dos pedidos de retorno à atividade, pós PPA, recolhemos também resposta dos participantes acerca do grau de satisfação com o programa.

A partir de questionários respondidos pelos participantes das Oficinas, tivemos como feedback uma aceitação quase unânime, o que pode ser ratificado pelo número de inscrições para participação das Oficinas.

Como já mencionado anteriormente, o Programa se iniciou de maneira tímida, onde realizamos uma única Oficina no ano de 2010, com apenas 27 (vinte e sete) inscritos, dentre os quais apenas 20 (vinte) efetivamente estiveram presentes, tendo hoje saltado para 04 (quatro) Oficinas anuais para atender um total de 100 (cem) servidores com presença quase total 05 (cinco) faltosos. Sabemos ainda que o número de servidores atendidos está longe do ideal – que corresponderia a 100% dos servidores em vias se aposentarem, vinculados ao Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro que somam aproximadamente 1.500; todavia atingir 16,8% destes servidores já aponta um número bastante significativo.

Em que pesem as dificuldades para atuar nessa área, considerando, mormente a dificuldade de se obter os insumos necessários para implementação do Programa dentro do Serviço Público, o retorno positivo trazido pela redução das revisões de aposentadorias (que hão de se mostrar maior em longo prazo) e o grau de satisfação dos servidores atendidos pelo PPA (Programa de Preparação para Aposentadoria) já constituem razões tangíveis para continuidade do Programa e difusão do mesmo por diferentes Unidades no âmbito do Serviço Público, o que se pode comprovar pela Capacitação de novos facilitadores, que buscaram orientação a partir do conhecimento de nossas práticas.

Finalmente, como resultado de maior importância, podemos apontar o resgate da alta estima do servidor que ao passar 30 ou 35 anos numa mesma casa (condição comum no Serviço Público) se sentia desprezado pela Instituição na qual, durante todos aqueles anos, foi peça de engrenagem.

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REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS: BRASIL. Estatuto do Idoso. Brasília, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde Portaria nº365/09. Brasília, 2009. BULGACOV, Yara Lucia Mazziotti, et al. Programa de Preparação para a Aposentadoria: uma política de desenvolvimento humano. Curitiba In: Interação, 1999. BURGOS, Carlos Crespo. Paulo Freire e as Teorias da Comunicação. 2007 Disponível em <www.acervo.paulofreire.org> Acesso em 17/05/2012. FRANÇA, Lucia. Envelhecimento dos trabalhadores nas organizações: estamos preparados? In: Propostas multidisciplinares para o bem-estar na aposentadoria. Orgs. Lucia França e Daizy Stepansky. Rio de Janeiro: Quartet: FAPERJ, 2012. MAYER, Canísio. O poder da transformação: dinâmicas de grupo. Campinas-SP: Papirus, 2007. MORAGAS, Ricardo Moragas. Aposentadoria: uma oportunidade de vida. São Paulo: Paulinas, 2009. NERI, Anita Liberalesso (org). Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Perseu Abramo, Edições SESC-SP, 2007. SOARES, Dulce Helena Penna, COSTA, Aline Bogoni. Aposent-Ação: aposentadoria para ação. São Paulo: Vetor, 2011. Site utilizado: www.ibge.com.br

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POC15 - PROCESSO DE APOSENTADORIA DE EXECUTIVOS DE BANCOS BRASILEIROS: CONTRADIÇÕES E AMBIVALÊNCIAS.

Roesler, VR 1; Soares, DHP 2; Schneider, DR 2. 1 - UNIPLAC; 2 – UFSC. Sob aporte epistemológico da Sociologia Clínica, apresentamos parte de uma pesquisa concluída em 2012, na qual analisamos os fatores psicossociais que levam trabalhadores bancários em condições econômico-financeiras estáveis a viverem contradições e ambivalências em seu processo de aposentadoria. Empregando metodologia qualitativa, verificamos o sentido atribuído às categorias trabalho, aposentadoria e envelhecimento por quinze sujeitos já aposentados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social; realizamos reconstituição de suas trajetórias socioprofissionais, árvore genealógica e projeto parental. Cinco participantes deixaram seus empregos em organizações bancárias e onze permanecem na área financeira. Suas idades variam entre 51 e 79 anos e a maioria apresenta nível superior. Grande parte dos bancos onde estes sujeitos construíram suas trajetórias profissionais são públicos. A quase totalidade dos pesquisados encontra em seu trabalho a estratégia para realizar seu projeto de ser, forjado no conjunto de sua história, a partir de influências culturais, sociais, econômicas, políticas e familiares. O perfil profissional é o aspecto fundamental no conjunto de sua personalidade, deixando em segundo plano as demais dimensões existenciais. É no trabalho que estes sujeitos encontram sua segurança ontológica, se reconhecem, constroem suas identidades e definem seu ser, passando este a constituir-se como a área hegemônica de suas vidas, implicando em dificuldades em se desvincular de seus empregos. Assim, a aposentadoria pode se apresentar como uma ruptura com o projeto de ser para os sujeitos que tem no trabalho o foco central de suas vidas. A organização de trabalho funciona como um sistema de mediações, fornecendo a estes sujeitos uma estrutura de normas e valores calcados na lógica produtivista (exigência de alta performance, competitividade, desafios constantes, superação dos limites) que vem ao encontro de suas necessidades psicológicas e sociais. Nesta perspectiva, o trabalho é vivido como uma fuga ou estratégia para evitar o vazio existencial. Assim, deixar o ambiente organizacional adquire o sentido de morte. PALAVRAS-CHAVE: trabalho; aposentadoria; trajetória socioprofissional. Os impasses e as expectativas vividas por sujeitos contemporâneos diante da ruptura com suas atividades laborais são objeto de inúmeras pesquisas nas ciências humanas, sociais e econômicas, dentre outras, nos cenários nacional e internacional (Blanché & Rhéaume, 2010; Borland, 2005; Costa, 2009; Denton & Spencer, 2009; Fontaine & Gendron, 2012; França, 2008; Guillemard, 2010; Soares & Costa, 2008; Thierry, 2006; Zanelli, Silva & Soares, 2010). Os questionamentos dizem respeito à manutenção das relações sociais - destacando-se as familiares, à temporalidade e ao envelhecimento, aos rearranjos identitários, às questões financeiras, ao tempo livre e realização de projetos do passado, etc. Paradoxalmente, em alguns casos, apresenta-se como espaço de liberdade e de exclusão ou morte social.

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Em pesquisa concluída em 2012 para uma tese de doutorado em Psicologia16, objetivamos identificar contradições e ambivalências vividas por bancários em condições econômico-financeiras estáveis, em seu processo de aposentadoria. Salientamos que a escolha dessa categoria profissional não limita os achados da pesquisa a trabalhadores bancários, pois se a atividade na área financeira apresenta características que a diferenciam de outras, ao mesmo tempo encontra-se inserida em um contexto histórico-social demarcado por relações dialéticas que expressam as contradições de nossa época.

Empregando metodologia qualitativa, realizamos uma pesquisa do tipo descritivo exploratório, na qual estudamos quinze casos singulares, utilizando entrevistas clínicas biográficas, por meio das “narrativas de vida”. Os sujeitos foram quinze bancários já aposentados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, com idades entre 51 a 79 anos: seis têm entre 51 e 60 anos e nove têm 61 ou mais. Destes, cinco desligaram-se de seus empregos nos bancos e dez permanecem em atividade laboral com vínculo empregatício; a maioria apresenta as condições legais para romper os vínculos empregatícios com as instituições financeiras onde exercem suas atividades profissionais e não necessitam mais, em termos econômico-financeiros, “ir ao mercado vender sua força de trabalho”, como diria Marx (1983).

Situamo-nos na vertente epistemológica da Sociologia Clínica, posicionada na fronteira entre a Psicologia e a Sociologia, com a utilização de “múltiplos referenciais teóricos” situados entre a Psicossociologia, a Psicanálise, a Psicologia Social, o Existencialismo Sartriano, a Sociologia e a Antropologia em sua abordagem clínica dos fenômenos psíquicos e sociais (Gaulejac, 2007, p. 53).

Por meio do método biográfico (Bertaux, 2010; Legrand, 1993) e da clínica narrativa (Gaulejac, 1987, 2009, 2010; Niewiadomski, 2010; 2012), inscritos na temática “romance familiar e trajetória social” (Gaulejac, 2009), buscamos na articulação dos registros psicológico e social, compreender a partir da relação do sujeito com seu trabalho, a experiência diante do processo de aposentadoria, considerando sua implicação com as questões sócio-organizacionais características do sistema bancário.

Embora autores como Habermas (1990), Gorz (1982) e Offe (1989) dentre outros tenham anunciado o fim da centralidade do trabalho na vida humana, assumimos o posicionamento contrário, de que esta categoria, do ponto de vista ontológico, se constitui um atributo fundante do ser social. Compartilhamos a posição de Rhéaume (2001), para quem o trabalho, além de participar do processo de construção identitária, possibilita a produção da sociedade.

Ao iniciarmos esta pesquisa nosso olhar se deteve sobre a aposentadoria. No entanto, rapidamente percebemos que não existe “aposentadoria” como um fenômeno isolado; trata-se de um processo em que o sujeito experimenta uma diversidade de sentimentos. Por fim, verificamos que a aposentadoria só pode ser estudada no conjunto das relações do sujeito com o seu trabalho e em sua trajetória sócio-histórica. Assim, as respostas para nossos questionamentos foram

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Tese de doutorado defendida em 29/10/2012, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC, com o título “Posso me aposentar ‘de verdade’. E agora? Contradições e ambivalências vividas por bancários no processo de aposentadoria”, sob orientação das Profas. Dras. Dulce H.P.Soares e Daniela R. Schneider. Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/teses/PPSI0531-T.pdf>.

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encontradas a partir da historicidade do sujeito, com a compreensão dos sentidos atribuídos por ele ao seu trabalho.

Nestes termos, analisamos dois conjuntos de categorias. O primeiro envolve a temporalidade dos sujeitos: a trajetória socioprofissional (o passado), a situação atual (o presente) e o projeto (o futuro). O segundo trata dos sentidos atribuídos pelos participantes às categorias “trabalho”, “aposentadoria” e “envelhecimento”. Em função dos limites deste texto, apresentamos somente os resultados relativos aos sentidos do trabalho e da aposentadoria para os sujeitos pesquisados.

Obedecendo ao previsto na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da UFSC.

As informações obtidas foram analisadas por meio de um um “modelo” de análise elaborado progressivamente (Bertaux 2010, p. 95). Este “modelo” baseou-se nas prerrogativas metodológicas propostas por Pagès et al (1987, p. 188-207), em direção ao objetivo de analisar as condições psicossociais que levam bancários em condições econômico-financeiras estável a viverem contradições e ambiguidades em seus processos de aposentadoria. Nesta proposta de estudo, a organização bancária é compreendida como mediadora entre o sujeito e seu projeto de ascensão social e busca de reconhecimento, assim como origem de contradições.

Utilizamos como recursos para recolher informações, a reconstituição de trajetórias socioprofissionais, árvore genealógica e projeto parental (Gaulejac, 1987). AS FACES DO TRABALHO

Quando pensam e falam sobre o trabalho, a maioria de nossos sujeitos de pesquisa se refere a seu sentido positivo. Utilizam palavras e expressões tais como: “é diversão”, “é vida”, “é a atividade que preenche parte do meu ser”, “é prazeroso”, “é uma forma de participar do mundo e da vida”, “é uma necessidade humana”, “dignifica o homem”, “é desafio”, “é aprendizado”, denotando o que Gaulejac (2011) denomina de “registro do ser” ou, em outros termos, da realização de si, do reconhecimento como autor de uma “obra”, o que para Marx & Engels (1987), constitui-se o processo de humanização. O trabalho é referenciado como fonte de satisfação, de reconhecimento e de realização.

Um segundo sentido atribuído à atividade laboral diz respeito à sua função no preenchimento de “espaços vazios da vida”. Três sujeitos fazem alusão ao trabalho como uma “fuga”, algo para “preencher o tempo”, e “exercício de alguma atividade”. Há casos em que a situação vivida nos remete à função do trabalho como “solução” para os problemas existenciais difíceis de afrontar pelo sujeito. Para Flávia17, trabalhar é um valor moral arraigado nas tradições familiares, contrário ao ócio (a que chama de preguiça). Sem trabalhar – algo impossível para Flávia (“não consigo ficar a toa; eu jamais ficaria a toa”), diz que ficaria excluída e perderia as referências do mercado, além de “emburrecer”, sentir falta da “interação intelectual” com os colegas e clientes e ficar com “um sentimento de vazio”. Ao mesmo tempo em que transcendeu as condições socioeconômicas de sua família de origem, Flávia se mantém fiel aos valores herdados das gerações precedentes e ao projeto da mãe: estudar e fazer-se independente por meio do trabalho. Para ser amada e corresponder às expectativas familiares, cumpriu o que foi estipulado; estudou,

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Todos os nomes citados são fictícios.

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tornou-se independente economicamente. No entanto, vive um conflito: suas atividades no banco não lhe permitem se realizar como profissional (estão aquém de suas capacidades intelectuais), mas, assim como sua mãe, precisa manter-se sempre ativa, não vislumbrando a possibilidade de parar de trabalhar e usufruir suas conquistas. O trabalho deixou de ser um meio para realização de um projeto, tornando-se um fim em si mesmo, no sentido weberiano da “ética protestante” cujo papel foi mostrado pelo autor no desenvolvimento do “espírito do capitalismo” (Weber, 1999).

Uma terceira categoria de respostas diz respeito à face econômica do trabalho, como fonte de recursos para a sobrevivência, no sentido marxista - vender sua força de trabalho para a produção de sua existência e de sua família-, e ainda, como meio de ascensão social, conforme observamos nos exemplos a seguir, retirados de fragmentos das narrativas de Júlio (“trabalho para mim sempre foi um meio para subsistência, para poder viver”), de Helena (“um meio de ganhar dinheiro e pagar os livros que eu precisava para estudar e sair da roça.”) e de Ulisses (“trabalho é aquele ato que te dá retorno financeiro em relação ao que tu produzes”).

Outro sentido revelado nas narrativas dos participantes desta pesquisa é a face penosa, difícil, fonte de sofrimento e de esgotamento do indivíduo. Para alguns, as atividades realizadas na ausência de tais características não são reconhecidas como trabalho. Para exemplificar, trazemos mais um fragmento da narrativa de Flávia, que compara suas atividades atuais com as anteriores, em outro banco: “O trabalho que eu faço agora não é trabalho! A atividade que eu desenvolvo hoje é uma atividade operacional e tranquila, não me exige esforço, não gera desgaste físico e emocional.” Helena apresenta queixas contundentes acerca das condições de seu trabalho e lamenta as transformações ocorridas nos últimos anos; sente falta do trabalho em seu modelo anterior à reestruturação produtiva, no qual encontrava prazer e se realizava. Para ela, antes era bom e depois [dos anos de 1990] tornou-se “infernal”. Sofre em decorrência de problemas de saúde e está esgotada pela pressão das exigências organizacionais; no entanto, não se julga capaz de deixar seu emprego na organização bancária, por medo da solidão e do vazio existencial. Helena vive esta contradição.

Outro sentido atribuído ao trabalho encontrado em nossa pesquisa revela a concepção de atividade contrária à fruição – lazer ou ócio -, como diz Maria: “trabalhar é você exercer alguma atividade. Pode ser remunerada ou não. (...) que não seja lazer, assim, [o lazer é] fazer algo simplesmente por prazer”. Esta ex-bancária relata que poucas vezes em sua trajetória profissional obteve prazer em suas atividades no banco; só encontrou sua face negativa e por esse motivo, ao adquirir o direito à aposentadoria não teve dúvidas: deixou o banco.

De maneira geral, os sentidos atribuídos pelos sujeitos de nossa pesquisa ao seu trabalho nos remetem à existência de um “contrato narcísico” (Aubert & Gaulejac, 2007), em que a organização “promete” a satisfação dos desejos de poder e realização de si, em troca da adesão incondicional a seus ideais e normas. No entanto, nesse percurso, os traços de personalidade dos sujeitos que abraçaram a profissão de bancários, não saem de cena, permitindo, no caso de alguns de nossos entrevistados, a adesão total aos preceitos organizacionais e, no caso de outros, ações que os permitem transitar entre a adesão e a resistência.

Podemos ver também que a atividade constante, sem tempo para refletir acerca dos conflitos e contradições, esse “acting out permanente”, é uma das

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maneiras encontradas por estes sujeitos para “evitar as questões angustiantes sobre o sentido da vida” (Gaulejac, 2011, p. 305). Na absorção desmedida nas tarefas e diante de seu acúmulo (quanto mais o sujeito trabalha, mais trabalho há para ocupá-lo), da urgência sempre “urgentíssima” dos problemas organizacionais a resolver, a pessoa sente-se presa em um ciclo ao mesmo tempo terrível e tranqüilizador, cujo fim não se consegue vislumbrar, mas que cumpre sua função de preencher o vazio existencial decorrente da fragilidade ou da escassez de outras relações.

OS SENTIDOS DA APOSENTADORIA

Este tema, mesmo quando colocado na forma generalizada, mostrou-se difícil de ser abordado pelos participantes desta pesquisa. A maioria fez silêncio, pensou e apresentou respostas ora de senso comum, ora relacionadas à sua situação particular. Alguns utilizaram a situação de amigos, ex-colegas ou de parentes próximos para exemplificar como gostariam que fosse a sua aposentadoria ou exatamente seus temores em relação a esse evento em suas vidas.

Heitor inicialmente afirma que aposentadoria é “começar a morrer” e “atrofiar”. Após longo silêncio, manifesta sua dificuldade em encontrar uma resposta que lhe soe adequada e manifesta sua irritação diante do questionamento: “Agora, para ser objetivo, o que é aposentar? É o quê? Não sei! É parar? Eu devolvo a pergunta para ti: o que é aposentar?” Sua expressão denota mal-estar ao deparar-se com o assunto; apresenta dificuldade em se denominar aposentado, contrariando o que fez no início da entrevista: “sou funcionário aposentado do Banco do Brasil”. Heitor está formalmente desligado da organização bancária desde 2000 e atualmente realiza investimentos imobiliários.

Uma das ideias bastante encontrada no senso comum é a aposentadoria como ruptura com as atividades profissionais remuneradas. Embora não compartilhada por todos os nossos entrevistados, encontramos esta afirmação no fragmento de discurso de Léo, 46 anos de serviço na mesma organização financeira, aposentado desde 2007 pelo INSS: “aposentadoria é o dia em que eu parar de trabalhar. Na minha cabeça eu não estou aposentado”. Léo é executivo de um banco privado e sua rotina está subsumida às necessidades do banco; sua maneira de se vestir, sua linguagem, enfim seus habitus (Bourdieu, 2007) seguem o padrão convencionado para as instituições financeiras no qual ingressou aos dezessete anos de idade.

Ao acompanharmos as narrativas de Léo e de outros sujeitos, não podemos afirmar que são aposentados, apesar do registro desse evento em suas Carteiras de Trabalho e Previdência Social – CTPS - junto ao INSS; são situações absolutamente legais, de acordo com as normas vigentes no Brasil. Estamos diante de uma contradição? Ou de uma situação paradoxal? Nem uma e nem outra. Nossos sujeitos de pesquisa fazem parte de um grupo de muitos brasileiros que vivem a situação de aposentados pelo INSS e em atividade profissional, seja como empregados de uma organização, ou como autônomos.

Dentre nossos pesquisados, alguns são céticos quanto à aposentadoria, como é o caso de Agnelo. Embora tenha dito que “um dia” precisará se afastar de seus negócios, ele afirma: “Para mim aposentadoria é uma busca que não existe. (...) Ficar em casa lendo jornal e matando moscas não dá certo!”. Outros negam sua condição de aposentados, como Mário: “Para mim não mudou nada; para mim a aposentadoria foi receber o que recebo do Estado sem ir lá”. Flávia, Mário e Paulo

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relatam que imediatamente após formalizar sua aposentadoria pelo INSS e deixar a organização bancária na qual construíram suas carreiras, ingressaram em outro banco.

Nossos pesquisados mostram que o status legal de aposentado pelo INSS não caracteriza a condição de “ser um aposentado”. Dos quinze participantes deste estudo, dez continuam em atividades laborais remuneradas e cinco afirmaram estar aposentados e não trabalhar. Destes últimos, somente quatro se identificam efetivamente como aposentados: Maria, Isabel, Júlio e Ulisses. Este último deixou seu emprego no banco em 2010, afirma que está bem, mas as contradições encontradas em seu relato nos indicam o contrário. A passagem do mundo do trabalho para o espaço do não-trabalho está sendo difícil – gerador de angústias e de adoecimento:

“Aposentadoria... [silêncio]... é um monte de questionamentos e... [silêncio]... a gente pensa que será o caminho da liberdade. Mas aí tu ficas pensando: muita responsabilidade, né? Muita incerteza, né? Às vezes chega a passar pela cabeça que é o caminho... [silêncio]... do fim” (Ulisses).

De maneira geral, podemos classificar as informações obtidas em diversas

subcategorias e, dentre elas, sobressaem os aspectos negativos, contraditórios e ambivalentes da aposentadoria. Na visão dessas pessoas, deixar um trabalho, um grupo social no qual exerceram suas atividades profissionais durante longos períodos se apresenta, ao mesmo tempo carregado de receios/incertezas/expectativas/euforia. Em seus discursos expressam que esse evento “deve” trazer maior número de problemas do que de soluções. Em outras palavras, manifestam a certeza da não realização das expectativas anteriores à aposentadoria.

ASPECTOS CONTRADITÓRIOS E AMBIVALENTES DA APOSENTADORIA

Enquanto oito participantes de nossa pesquisa relacionaram aposentadoria com liberdade ou liberação das atividades formais do trabalho, apenas três sujeitos referiram-se explicitamente à morte. No entanto, doze, de uma maneira ou de outra, apresentam discursos impregnados da idéia de fim, de parar tudo, de inatividade e de perdas (do reconhecimento, do espaço e do valor social). É interessante observar essa relação, considerando as contradições como característica constante do processo de aposentadoria, conforme apontam França (2008); Guillemard (2010); Mercier (1998, 2000); Santos (1990); Soares & Costa (2008); Thierry (2006); Zanelli, Silva & Soares (2010); dentre outros autores. Observamos nas narrativas diversos exemplos de sentimentos contraditórios/ambivalentes em relação ao advento da aposentadoria. Vejamos alguns:

O fragmento seguinte, retirado da narrativa de José, expõe a contradição e a ambivalência desse processo. A imagem evocada é forte: “O dia em que ficar doente em uma cadeira de rodas ou inválido, para mim seria aposentar, porque não poderia fazer mais nada.” Sem trabalho será seu fim – a morte. Este homem lembra que “o bom da aposentadoria é que você pode viajar para onde você quer”. Em momento posterior nos informa que faz poucas viagens. Acrescenta ainda que a “aposentadoria é dar liberdade de você viver a vida da melhor maneira que você quiser”. Podemos pensar que “da melhor maneira que você quiser”, para ele, é

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continuar trabalhando, se dedicando às suas atividades fora do espaço doméstico. Ou então, que a liberação das convenções do espaço organizacional, a fruição, as viagens são para outros aposentados e não para ele, que trabalha desde a infância e só se reconhece nesse movimento. Refere-se à liberdade (no sentido de se liberar dos compromissos formais do trabalho) como algo esperado, benéfico, que lhe traria satisfação; no entanto, ao mesmo tempo apresenta sua face sombria – a invalidez e a morte. Como conciliar esses dois aspectos irreconciliáveis? Na dúvida, permanece trabalhando.

O cotidiano de Mário é semelhante. Questionado sobre sua rotina – idêntica à anterior à sua aposentadoria pelo INSS –, nos conta: “Às vezes eu mesmo paro para pensar nisso: Cara! Por que estou correndo? Por que estou me arrumando para sair daqui [de sua casa] agora?” Sem respostas às suas indagações/reflexões, ele acrescenta:“isso também faz parte da minha programação de vida; quando saí do banco [do anterior] e me aposente; na minha cabeça já foi essa decisão: horário não!” Podemos pensar que Mário encontra-se subsumido à rotina de trabalho, a qual define as regras de sua vida. Embora afirme “horário não!”, não vislumbra seu cotidiano configurado de maneira diferente da atual. “Eu não parei. Eu não fiquei nem quinze dias parado e também não tirei férias; aposentei e quinze dias depois estava no banco em que estou hoje. Faz vinte anos”. Trabalhar, em seu caso, nos parece ser compulsório, talvez por não encontrar nas demais relações o mesmo reconhecimento ou as mediações das quais necessita. O trabalho é a mediação principal entre ele e o mundo. Em outras palavras, para sentir-se vivo e participar de outras relações (familiares e sociais), necessita, em termos psíquicos, estar em atividade constante, sempre correndo para cumprir os inúmeros compromissos assumidos. Esta autoexigência é vivida pelo sujeito como uma “urgência interior” Aubert (2003), engendrada pelas condições materiais do ambiente organizacional, provocando “a supervalorização da ação, concebida como antídoto à incerteza” (p. 102, grifos da autora), uma maneira de combater o vazio existencial e a proximidade da morte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos o período anterior ao rompimento formal de um contrato de trabalho ou o encerramento de uma carreira como um espaço-tempo impregnado - em termos sociais e psicológicos - por uma carga de expectativas, de dúvidas, de angústias e de medos (Santos, 1990; Soares & Costa, 2008; Thierry, 2006; Zanelli, Silva & Soares, 2010). Nestes termos, os programas de preparação para a aposentadoria, nos moldes conhecidos na atualidade18, embora propiciem a reflexão e facilitem a transição do espaço do trabalho para o do não-trabalho, dificilmente trarão a solução esperada pela maioria dos participantes: algo ou alguém que lhes dê um sinal revelador e indique o que fazer ou antecipe como serão seus dias na condição de aposentado(a).

Em diversos fragmentos de discursos nos deparamos com inúmeras referências da aposentadoria como “início do fim”, “morte”, “parar tudo” e “inatividade”. Encontramos também, em menor número de citações, a noção de um momento esperado desde o início de suas vidas profissionais e que lhes traria a

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Embora se trate de uma discussão interessante, não nos deteremos neste estudo à análise de programas de preparação para aposentadoria – PPA´s.

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tranquilidade financeira e a liberação dos compromissos formais com a organização empregadora. Esta constatação nos leva a questionar os estereótipos e os conceitos atribuídos à aposentadoria por pessoas que vivem oficialmente nesta condição.

A quase totalidade dos pesquisados encontra em seu trabalho a estratégia para realizar seu projeto de ser, forjado no conjunto de sua história, a partir de influências culturais, sociais, econômicas, políticas e familiares. O perfil profissional é o aspecto fundamental no conjunto de sua personalidade, deixando em segundo plano as demais dimensões existenciais. É no trabalho que estes sujeitos encontram sua segurança ontológica, se reconhecem, constroem suas identidades e definem seu ser, passando este a constituir-se como a área hegemônica de suas vidas, implicando em dificuldades em se desvincular de seus empregos. Assim, a aposentadoria pode se apresentar como uma ruptura com o projeto de ser para os sujeitos que tem no trabalho o foco central de suas vidas. A organização de trabalho funciona como um sistema de mediações, fornecendo a estes sujeitos uma estrutura de normas e valores calcados na lógica produtivista (exigência de alta performance, competitividade, desafios constantes, superação dos limites) que vem ao encontro de suas necessidades psicológicas e sociais. Nesta perspectiva, o trabalho é vivido como uma fuga ou estratégia para evitar o vazio existencial. Assim, deixar o ambiente organizacional adquire o sentido de morte. REFERÊNCIAS: Aubert, N. (2003). Le culte de l´urgence. La societé malade du temps. Paris: Flamarion. Aubert, N., Gaulejac, V. de. (2007). Le coût de l´excellence. Paris: Éditions du Seuil. Beauvoir, S. de. (1990). A velhice. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Bertaux, D. (2010). L´enquête et ses méthodes. Le récit de vie. (3. ed.). Paris: Armand Colin. Blanché, A., Rhéaume, J. (2010, mars). Séminaire “La retraite et histoires de vie”. Institut de Sociologie Clinique. Paris. Borland, J. (2005). Transitions to Retirement: A Review. Melbourne Institute Working Paper Series. Working Paper No. 3/05. Bourdieu, P. (2007). A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk. Costa, A. B. (2009). Projetos de futuro na aposentadoria. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Fontaine, J; Gendron, B. (2012). La retraite. Au miroir du genre. Paris: L´Harmattan. França, L (2008). O desafio da aposentadoria: o exemplo dos executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco. GAULEJAC, Vincent de. (1987). La névrose de classe: trajectoire sociale et conflits d’identtité. Paris: Hommes & Groupes. Gaulejac, V. de. (2007). Aux sources de la sociologie clinique. In.: Gaulejac, V. de, Hanique, F., Roche, P. La sociologie clinique. Enjeux théoriques et méthodologiques. Paris: Érès. Coll. Sociologie Clinique. Gaulejac, V. de. (2009). L´histoire em héritage. Roman familial et trajectoire sociale. Paris: Desclée De Brouwer. Gaulejac, V. de. (2010). Introduction. L´histoire de vie a-t-elle en sens? In.: Gaulejac, V. de; Legrand, M. Intervenir par le récit de vie. Entre histoire collective et histoire individuelle. Toulouse: Érès. Coll. Sociologie Clinique.

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POC16 - PROJETOS DE FUTURO NA APOSENTADORIA

Costa, AB 1; Soares DHP 2. 1 - Universidade Federal de Santa Catarina; 2 - UFSC – Psicologia. Esta pesquisa teve por objetivo investigar os projetos de futuro de pré-aposentados e recém-aposentados, participantes do Programa de Preparação para Aposentadoria Aposenta-Ação, oferecido pelo Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP), da Universidade Federal de Santa Catarina. Estudou-se as trajetórias pessoais e profissionais, a forma como lidam com a desvinculação do trabalho na aposentadoria e os depoimentos com relação ao futuro. Os sujeitos foram participantes do Aposenta-Ação, sendo 8 homens e 7 mulheres, na faixa etária entre 47 e 66 anos de idade, 11 pré-aposentados e 4 recém-aposentados, de diversas formações e atuações profissionais. A pesquisa foi realizada considerando a abordagem qualitativa e os procedimentos para a coleta de dados foram a realização de uma entrevista semi-estruturada e a elaboração de uma redação sobre o futuro dos pesquisados. A análise dos dados baseou-se na análise de conteúdo e nos depoimentos dos participantes da pesquisa. O estudo das trajetórias pessoais e profissionais dos pesquisados possibilitou algumas conclusões acerca da relação que estabelecem com a aposentadoria: para se compreender o processo de aposentadoria de um sujeito faz-se necessário dialogar com sua trajetória de vida e com o espaço destinado ao trabalhar na vida de cada um; vivências individuais e sociais influenciam na forma como os pesquisados lidam com a aposentadoria; a aposentadoria é entendida pelos pesquisados como uma nova escolha, interdependente e consequente do passado e tão importante quanto às demais realizadas da trajetória pessoal; e, a forma como os sujeitos se experimentaram em suas escolhas ao longo da vida, facilitam (se bem sucedidas) ou dificultam (se mal sucedidas) as novas escolhas quando da aposentadoria. Os achados da pesquisa permitiram identificar seis grandes categorias de análise de projetos de futuro, a saber: (a) projetos de desenvolvimento pessoal; (b) projetos relacionados ao lazer; (c) projetos relacionados à saúde; (d) projetos financeiros; (e) projetos relacionados a atividades prazerosas diversas; e (f) projetos caracterizados pela busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria. Verificou-se, entretanto, que nem todos os sujeitos possuem ações claramente definidas para colocar em prática seus projetos, sendo alguns dos projetos identificados irrealizáveis e vagos, o que pode ser justificado pela centralidade do trabalho na vida humana e pelas dificuldades resultantes da ruptura com suas identificações. Esta constatação aponta para a necessidade da atuação mais efetiva da Psicologia na aposentadoria, não somente quando ela ocorre, mas como preparação ao longo da vida dos sujeitos. PALAVRAS-CHAVE: identidade; aposentadoria; projetos de futuro. 1. OBJETIVOS

O objetivo principal do estudo foi investigar os projetos de futuro de pré-aposentados e recém-aposentados participantes do Programa de Preparação para

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Aposentadoria Aposenta-Ação19. Para tanto, definiu-se os objetivos específicos seguintes:

a) pesquisar as trajetórias pessoais e profissionais dos sujeitos; b) verificar como os pesquisados lidam com o processo de desvinculação de suas atividades laborativas devido à aposentadoria; c) identificar as categorias de projetos de futuro para a aposentadoria dos sujeitos.

2. JUSTIFICATIVA DA RELEVÂNCIA CIENTÍFICA E SOCIAL

A abordagem teórica deste estudo se amparou na concordância de que o trabalho ocupa lugar de centralidade na vida humana, permitindo aos sujeitos aprimorar a sua capacidade de criar, de construir-se em lugar social como trabalhador, de descrever-se por meio de sua ação (Castel, 1998; Antunes, 2005; Harvey, 2005). Ao se admitir o trabalho como uma das principais fontes de significados para os sujeitos, a identidade é também por ele constituída, tanto na gênese do ser social quanto no seu desenvolvimento.

Durante vários anos, aprende-se a dividir o tempo entre o trabalho e o não trabalho (descanso, lazer, esportes,...). Porém, de um momento para outro, resta somente o tempo livre de aposentado. A saída do mundo do trabalho quando da aposentadoria normalmente vem acompanhada de diversas mudanças, pois representa a perda do lugar no sistema de produção, a necessidade de reorganização espacial e temporal (tempo e lugar de trabalho/tempo e lugar não-trabalho) e de reestruturação da identidade (Santos, 1990; Costa & Soares, 2009).

É comum que, ao se aposentar, as pessoas não saibam o que fazer com o tempo livre e, até mesmo para aqueles mais favorecidos economicamente, torna-se difícil descobrir novos interesses. É raro alguém se preparar para o futuro na aposentadoria e, no caso dos brasileiros, ainda é pior, devido à cultura do imediatismo (França, 2008).

Nesse contexto, o estudo dos projetos de futuro de aposentados justifica-se em termos científicos pela possibilidade de produção de conhecimento sobre o ser humano, suas relações com o trabalho e com o não-trabalho quando da aposentadoria. A relevância social amalgama-se na busca por entendimento dos comportamentos dos sujeitos aposentados, tendo em vista as mudanças demográficas e o aumento da expectativa de vida populacional. Também, almeja-se promover reflexões no campo acadêmico, tendo em vista que o tema aposentadoria ainda é carente de atenção em pesquisa e extensão, talvez porque a necessidade mais imediata seja pensar nos contextos de trabalho e/ou produção.

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O Programa APOSENT-AÇÃO é um método de orientação psicológica para a aposentadoria em grupos, direcionado às pessoas que estão próximas da data de aposentadoria e recém-aposentadas, com objetivo de promover reflexões acerca do afastamento da profissão, compartilhar informações e experiências e, principalmente, trabalhar os projetos de futuro dos participantes na aposentadoria (Soares e Bogoni, 2011). Foi programa de extensão universitária, oferecido gratuitamente à comunidade pelo Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP), do Departamento de Psicologia, da Universidade Federal de Santa Catarina.

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3. MÉTODO O direcionamento teórico e os propósitos deste estudo permearam a escolha metodológica pela pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa, conforme Biasoli-Alves (1998), favorece a compreensão de processos pelos quais as pessoas constroem sentidos e significados, permitindo ao pesquisador uma imersão nas vivências, nos modos de pensar e de agir dos sujeitos em relação ao tema pesquisado. a. Contexto da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada no Serviço de Atendimento Psicológico (SAPSI), da Universidade Federal de Santa Catarina, onde eram desenvolvidas as atividades do Programa de Preparação para a Aposentadoria Aposenta-Ação, coordenado pelo Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP). b. Participantes

Os sujeitos deste estudo foram 15 participantes do Programa Aposenta-Ação, com faixa etária entre 47 e 66 anos de idade, sendo 8 homens e 7 mulheres, 11 pré-aposentados e 4 recém-aposentados, de diversas formações e atuações profissionais, que estivessem há cerca de três anos da data de aposentadoria, tanto para quem está por se aposentar (pré-aposentado), quanto para quem já se aposentou (recém-aposentado). c. Procedimentos para coleta de informações

A coleta de dados aconteceu no período de maio a junho de 2008, no Serviço de Atendimento Psicológico (SAPSI), da Universidade Federal de Santa Catarina. Os procedimentos para a coleta de dados foram divididos em duas etapas:

- na primeira, realizou-se entrevista semiestruturada individualmente e objetivou-se conhecer alguns aspectos da história pessoal, da trajetória profissional dos sujeitos e verificar como estes lidam com o processo de desvinculação de suas atividades laborativas devido à aposentadoria. - na segunda etapa, os participantes da pesquisa foram convidados a confeccionar uma redação com o tema “Eu e meu futuro”, objetivando que expressassem seus projetos para a aposentadoria.

d. Análise de conteúdo

Os procedimentos seguidos para a análise do conteúdo desta pesquisa foram os seguintes:

- pré-análise: foi escolhido, fotocopiado e organizado o material coletado nas entrevistas e nas redações produzidas. Após, realizou-se a leitura inicial (primeiras leituras e contatos com os textos) onde surgiram algumas questões norteadoras (Bardin, 1979); - exploração do material: realizou-se nova leitura e, com a utilização de pincéis coloridos, foram sublinhadas palavras e expressões vinculadas aos projetos de futuro dos participantes na aposentadoria. Por exemplo, se o participante A descreve a realização de trabalhos voluntários na aposentadoria e o participante B também aponta para o voluntariado, ambas as palavras/expressões foram sublinhadas com a mesma cor de pincel. Este processo é o desmembramento do texto em unidades de registro, onde foram

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encontrados os diferentes núcleos de sentido que constituíam a comunicação. Na sequencia, escreveu-se todas unidades de registro identificadas em uma folha. Em seguida, realizou-se o reagrupamento dos núcleos de sentido em subcategorias e grandes classes ou categorias e, conforme Bardin (1979), os novos agregados em unidades, permitem uma descrição das características pertinentes ao conteúdo estudado. Por fim, as informações foram digitadas em planilhas do programa de informática Microft Office Excel e foram analisadas individualmente por sujeito pesquisado. - tratamento dos resultados: momento em que se realizou a interpretação dos conteúdos encontrados em análises reflexivas. Por ser este estudo qualitativo, cabe esclarecer que não se pretendeu realizar

somente a categorização/quantificação dos conteúdos sobre os projetos de futuro apresentados pelos pesquisados nas entrevistas e nas redações, mas sim, foram analisadas as falas dos pesquisados, as relações destas falas com as trajetórias profissionais e com o processo de desvinculação de suas atividades laborativas.

4. RESULTADOS E CONCLUSÕES

O estudo das trajetórias pessoais e profissionais dos pesquisados possibilitou identificar que:

- para se compreender o processo de aposentadoria de um sujeito faz-se necessário dialogar com sua trajetória de vida e com o espaço destinado ao trabalhar na vida de cada um; - vivências individuais e sociais influenciam na forma como os pesquisados lidam com a aposentadoria; - a aposentadoria é entendida pelos pesquisados como uma nova escolha, interdependente e consequente do passado e tão importante quanto às demais realizadas da trajetória pessoal; - a forma como os sujeitos se experimentaram em suas escolhas ao longo da vida, facilitam (se bem sucedidas) ou dificultam (se mal sucedidas) as novas escolhas quando da aposentadoria. Os achados da pesquisa permitiram identificar seis categorias de análise de

projetos de futuro, a saber: a) projetos de desenvolvimento pessoal: as manifestações para busca de desenvolvimento intelectual, autoconhecimento e estabelecimento de vínculos afetivos. b) projetos relacionados ao lazer: o planejamento pessoal ou familiar para a realização de viagens, participação em atividades artísticas, promoção de encontros sociais, prática de esportes e hobbys. c) projetos relacionados à saúde: prevenir o envelhecimento, melhorar as condições de saúde e praticar esportes para garantir longevidade. d) projetos financeiros: relacionam-se com a organização das finanças pessoais e familiares para alcançar nova estabilidade. e) projetos relacionados a atividades prazerosas diversas: expressão de sentimentos positivos quanto a aposentadoria (vista como uma fase de prazer e felicidade) e depoimentos onde os sujeitos buscam retomar sonhos do passado e concretizá-los. f) projetos caracterizados pela busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria: aparecem em depoimentos relacionados a

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aprender a lidar com mudanças e incertezas, romper paradigmas, buscar segurança, superar o sentimento de velhice associado à aposentadoria, a ser ativo ou não ser, bem como expressão de sentimentos negativos.

Verificou-se que os projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria foram os mais mencionados (43%), seguindo-se dos projetos relacionados com atividades prazerosas diversas (24%) e lazer (12%). O gráfico seguinte demonstra a distribuição percentual dos seis projetos identificados:

Dentre os núcleos de sentidos, que permitiram identificar as categorias de

projetos acima, o mais mencionados pelos participantes nas entrevistas e na redação foram:

NUCLEOS DE SENTIDOS MAIS MENCIONADOS Unidades de

registro

Expressão de sentimentos positivos quanto à aposentadoria: renovação, esperança, felicidade - Projetos relacionados à atividades prazerosas diversas

52

Aprender a lidar com mudanças e incertezas - Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria

49

Expressão de sentimentos negativos: falta de entusiasmo, medo, estar sem objetivos - Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria

38

Fazer coisas novas e prazerosas - Projetos relacionados à 33

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atividades prazerosas diversas

Superar a falta de controle da vida devido a perda da referencia do trabalho - Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria

31

Aprender o que realizar com tempo disponível - Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria

29

Desenvolvimento intelectual (participação em cursos, iniciar novos estudos e leituras) – Projetos de desenvolvimento pessoal

28

Conviver mais com a família e amigos (resgatar afetos) - Projetos relacionados à atividades prazerosas diversas

25

Necessidade de sentir-se ativo (superar o vazio causado pelo não-trabalho) -Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria

23

Romper com paradigmas (Projetos relacionados à busca por adaptação e superação das dificuldades na aposentadoria)

20

A análise das categorias de projetos permitiu identificar os seguintes tipos de

projetos futuros na aposentadoria: a) projetos realizáveis: sujeitos com projetos possíveis de realizar e com algumas ações definidas para implementá-los após a aposentadoria. b) projetos irrealizáveis: sujeitos com projetos inviáveis (ao menos pelo que foi percebido na pesquisa) e sem qualquer planejamento de ações para concretização. c) projetos vagos: sujeitos com projetos pouco definidos, guiando-se pelo senso comum; ou com pouco conhecimento sobre si próprio e seus desejos; ou que querem realizar muitas coisas, mas não conseguem articular em ações. d) projetos indefinidos: sujeitos que ainda não conseguem estabelecer projetos; ou que mencionam interesse em permanecer ou retornar ao trabalho, devido a não terem projetos. Verificou-se que a maioria dos sujeitos não possuem ações claramente

definidas para colocar em prática seus projetos, sendo alguns projetos percebidos como irrealizáveis e vagos, o que pode ser justificado pela centralidade do trabalho na vida humana e pelas dificuldades resultantes da ruptura com suas identificações. Esta constatação aponta para a necessidade da atuação mais efetiva da Psicologia na aposentadoria, não somente quando ela ocorre, mas como preparação ao longo da vida dos sujeitos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Antunes, Ricardo (2005). O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo. Bardin, Laurence (1979). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. Biasoli-Alves, Zélia Maria Mentes (1998). A pesquisa em psicologia – Análise de métodos e estratégias na construção de um conhecimento que se pretende científico. In G. Romanelli & Z. M. M. Alves (Orgs.), Diálogos metodológicos sobre prática de pesquisa (pp. 135-157). Ribeirão Preto: Legis Summa.

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Castel, Robert (1998). As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes. Costa, Aline Bogoni; Soares, Dulce Helena Penna (2009). Orientação Psicológica para a Aposentadoria. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 9, p. 97-108. França, Lúcia (2008). O desafio da aposentadoria: o exemplo de executivos do Brasil e da Nova Zelândia. Rio de Janeiro: Rocco. Harvey, David. (2005) Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural (14ª ed.) São Paulo: Loyola. Santos, Maria de Fátima de Souza (1990). Identidade e Aposentadoria. São Paulo: EPU. Soares, Dulce Helena Penna; Costa, Aline Bogoni (2011). Aposent-Ação: Aposentadoria para Ação (1ª ed). São Paulo: Vetor Editora.

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POC17 - TEMPO LIVRE NA APOSENTADORIA

Soares, DHP 1; Sarriera, JC 2. 1 – LIOP, UFSC, INSTSEROP; 2 – UFRGS. Neste trabalho discutiremos as temáticas aposentadoria e tempo livre em aposentados e pré-aposentados, a fim de oferecer subsidios às ações desenvolvidas pelos profissionais da Orientação para Aposentadoria. O objetivo foi investigar como os participantes conceituam e quais as relações estabelecidas entre tempo livre e aposentadoria em diferentes grupos de aposentados e pré-aposentados. Realizamos 10 entrevistas onde perguntamos sobre seu tempo livre, sua vida no trabalho, como foi a decisão de aposentar-se, como foi a vivencia do não trabalho e de sua saída do mundo do trabalho e seus projetos de vida futura. Os sujeitos foram profissionais, na sua maioria funcionários públicos que participavam de programas de preparação para aposentadoria (n=5), ou programas para funcionários já aposentados (n=5), em suas instituições de origem. Foi ministrada uma palestra sobre a aposentadoria e trajetória de vida profissional e ao final se convidou quem gostaria de participar da pesquisa. Os interessados eram solicitados a comparecerem na entrevista com data e hora marcadas, geralmente no local onde acontecia o programa, ou em outro definido pelo participante. A abordagem para o estudo das entrevistas foi qualitativa e os resultados analisados a partir da análise de conteúdo e de discurso. Como resultado encontramos a importância da identificação com a instituição, muitas vezes considerada como uma “família” onde o valor e admiração em relação à mesma aparecem na continuidade da utilização do “nome da instituição” como sobrenome. Outra categoria é a ocupação do tempo livre para si próprio, para atividades que tragam prazer, sentindo-se no comando de sua própria agenda, sem obrigadoriedades e cobranças. Outros ainda relatam que no seu tempo livre pretendem “desacelerar”, isto é, utilizar o tempo de forma mais tranquila. A maioria concorda com a importância de se ter projetos para realizarem no futuro e da preparação para esta decisão.

PALAVRAS-CHAVE: aposentadoria; tempo livre; aposentado; pré-aposentado.

A questão da aposentadoria e a vida futura dos aposentados tem sido um tema relevante a ser estudado, pois teremos no Brasil um número cada vez maior de aposentados, que viverão ainda muitos anos devido aos avanços da medicina e da farmacologia. A aposentadoria, em geral, “vem permeada de conflitos, em função da centralidade do trabalho na constituição identitária dos trabalhadores, em especial, na sociedade como a nossa, que supervaloriza o ter e a produtividade” (ZANELLI, SILVA E SOARES, 2010, p. 44). Estes fatos anunciam a urgência de conhecermos melhor como as pessoas encaram este momento, quais são suas expectativas de vida para o tempo livre do trabalho.

Um número crescente de aposentados, homens e mulheres, que já trabalharam por 30 ou até 40 anos de sua vida, em um emprego formal, muitas vezes em um cotidiano repetitivo e estruturado, de repente se vê frente à possibilidade de usufruir o tempo livre. A partir deste acontecimento, podem sentir o preconceito e a culpa de não ter mais seu tempo ocupado no trabalho, como as outras pessoas, e ainda, de não saber o que fazer com seu tempo desocupado.

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Estudar o que é o tempo livre, como utilizar esse tempo para o desenvolvimento pessoal, criar novas possibilidades de existência sem o cotidiano formal do trabalho, é um tema importante de ser pesquisado pela psicologia.

Nos últimos anos a nossa sociedade tem tomado consciência de que o problema do tempo livre para as pessoas aposentadas, não é um problema qualquer, mas algo que deve ser levado em conta dentro de seus aspectos econômicos, sociais e políticos e ser estudado com seriedade.

Com o objetivo de contribuir para a compreensão desta temática, discutiremos brevemente algumas questões sobre este tema, onde apresentaremos alguns fragmentos de relatos de participantes. Nosso foco são os significados atribuídos ao tempo livre para aposentados e pré-aposentados. As informações foram obtidas a partir de entrevistas semi-estruturadas onde lhes perguntamos sobre sua vida no trabalho, momentos marcantes desta vida e como foi a decisão de aposentar-se, ou de permanecer no trabalho. Em qual momento de sua vida a aposentadoria aconteceu e como foi (ou será) a vivencia do não trabalho, ou seja, como usufruir o seu tempo livre, ou como projeta fazê-lo. Optamos por relatar trechos de entrevistas já realizadas, por entendermos que ilustram as situações e confirmam achados teóricos de outros pesquisadores.

Os sujeitos da pesquisa foram profissionais, na sua maioria funcionários públicos que participavam de um programa de preparação para aposentadoria, ou de programas para aposentados nas suas instituições de origem. Era ministrada uma palestra sobre a aposentadoria e a trajetória de vida e profissional e ao final era feito o convite para quem gostaria de participar da pesquisa, através de uma entrevista com data e hora marcadas, geralmente no local ondo acontecia o programa, ou em outro local definido pelo participante. Estes foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o TCLE. APOSENTADORIA E O TEMPO LIVRE DO TRABALHO Com a aposentadoria e a vida cotidiana sem trabalho, o tempo livre pode ser utilizado de múltiplas formas, mas como vivenciá-lo? O que fazer com tanto tempo livre? Denton e Spencer (2009) afirmam que não há nenhuma definição única sobre o que é aposentadoria. Uma alternativa seria colocar mais ênfase no que as pessoas estão fazendo, que podem ser ou não classificadas como "aposentadas". A partir do estudo do tempo gasto pelas pessoas, não somente em atividade que receberiam algum pagamento, mas também as horas envolvidas em atividades produtivas das famílias, como cuidar de outros, cuidar da casa e assim por diante, poderíamos compreender o significado da aposentadoria.

Gaullier (1990) investigou pessoas que tinham em torno de 55 anos. Estando livres das obrigações familiares ou profissionais, com todo tempo livre pela frente, elas se consideravam jovens para serem rotulados como pertencentes à “terceira idade”. No entanto eram rotuladas como velhas para o trabalho, estando muitas vezes no ápice de sua capacidade de produção. Aliado a certos avanços da medicina social com a erradicação e controle de certas doenças, diminuição das taxas de fertilidade e da mortalidade infantil, a expectativa de vida e a longevidade não param de aumentar, assim, elas têm pela frente um longo período de tempo livre. Gaullier procurou caracterizar estas pessoas como pertencentes a uma “nova idade”.

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(...) estes dias eu comecei a pensar, e deu uma pontinha de ciúme, lá no fundo. Tava me avaliando, pena, eu não vou ser mais, eu não vou poder mais estar participando das coisas, me deu assim uma pontinha de ciúmes do futuro. Eu não vou estar mais participando disto. Mas daí eu pensei assim, eu também vou estar em outra etapa da minha vida, não da para ser assim tão egoísta de querer ter sempre tudo. (VIRGINIA, pré-aposentada faltando dois anos para se aposentar). Virgínia já está vendo este tempo como uma nova etapa da vida, onde ela

poderá desenvolver outras atividades, embora reconheça que não poderá mais participar do seu trabalho atual. Segundo Sarriera e outros (2007a), o tempo livre, comprendido como um espaço temporal no qual o indivíduo pode dar vazão às suas expectativas, realizar determinadas atividades e não outras, pode também ser uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e social. Este tempo, apesar de ser livre, muitas vezes não é fácil de ser vivenciado.

Soares e Roesler20 (2009) estudaram funcionários de empresas públicas, que tendo adquirido o direito a aposentar-se não se sentiam preparados, eles afirmaram não suportar o novo espaço do “fazer nada”, ou a dificuldade de usufruir a liberdade, o tempo livre do trabalho.

Os colegas que já se aposentaram depois de 6 meses eles estão lá no fórum para saber das novidades. Mas estes colegas, que nos antecederam na aposentadoria, não tiveram esta preparação, não tiveram. Se aposentar, por se aposentar, mas sem nenhum projeto, sem nenhuma preparação. Aí fica 6 meses, aí eles fizeram o quê? Eles viajam, fazem isto ou aquilo. E acabam não sabendo mais o que fazer da vida, por isto volta ao fórum. (ROBERTO, pré-aposentado, faltando 3 anos para se aposentar). Lima e Soares (2010) estudaram o tempo livre de policiais aposentados e os

resultados indicaram que em relação às experiências vivenciadas no tempo livre enquanto estavam na ativa, apesar da fundamental importância do trabalho nas suas vidas, eles estabeleceram outras fontes de satisfação. Já no que se refere ao tempo livre como aposentados, destacam-se um maior convívio com a família, práticas esportivas e lazer. Quanto ao tempo livre, houve uma mudança significativa na forma de vivenciar esta nova fase, pois antes o dia-a-dia era emocionante, sem rotina, e hoje todos levam uma vida mais calma, estando muito unidos à família, desenvolvendo algumas atividades físicas. Afirmam que o tempo livre é um dos benefícios da aposentadoria.

Zamora e outros (1995, apud Sarriera et al, 2007), dividem o tempo em três categorias: (a) tempo obrigatório, envolvendo as necessidades fisiológicas, profissionais, escolares e familiares; (b) tempo comprometido, constituído pelas atividades de ordem religiosa, política e social; (c) tempo livre, utilizado com atividades recreativas, intelectuais, físicas e sociais. Apresentamos a seguir o relato de Maria, uma aposentada, 52 anos, que trabalhou durante 30 anos em atividades burocráticas junto ao setor de fiscalização financeira estadual. Ela divide seu tempo como se fossem fatias de pizza e nos diz o seguinte:

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Congresso de Psicologia Social em Tarragona, Espanha, setembro 2009.

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Assim, depois da embriaguês inicial de liberdade, quase nas raias da overdose, hoje me divido entre em 4 grandes fatias, como se fosse uma pizza:*fatia do trabalho onde há uma atividade voluntária que absorve grande parte do meu tempo e que desenvolvo com muito prazer e dedicação porque acredito nela e sempre foi um projeto para o dia em que a aposentadoria chegasse. *fatia das artes onde ficam minhas tardes de oficina no laboratório de criação no Atelier, (...) meus trabalhos com tercidos (patchwork) (...) meus queridos tapetes, (...) e ainda pretendo fazer fotografia e sujar muito as mãos com barro fazendo cerâmica. Sempre disse que no dia em que me aposentasse, iria trabalhar muito com as mãos! *fatia da casa e da família Minha casa é meu castelo: adoro estar nela e curtir cada cantinho, que parece ter encanto e vida própria.*fatia da MARIA, Ahh, essa fatia é impotantíssima. Cuida da jovialidade do espírito e da sensualidade da alma. (...) nela abrigo tudo que é importante para a minha porção individual, social e feminina. Minhas danças, leituras, teatros, cinema. (MARIA, 52 anos, aposentada há dois anos).

Podemos observar que Maria, mesmo tendo todo o tempo livre, precisa organizar-se em “fatias de pizza” para explicar sua vida, para sentir-se fazendo algo com o seu tempo livre. Estudar como os aposentados usufruem o tempo livre depois de toda uma vida de trabalho oportuniza uma melhor compreensão deste momento da vida em seus aspectos culturais e socioeconômicos.

O tempo livre reflete as vivências culturais, os hábitos adquiridos, o processo de socialização, as predisposições psíquicas e as experiências profissionais. Então, ele pode ser desfrutado de diferentes maneiras, de acordo com o lugar social onde esta pessoa viveu, e está subordinado a uma situação social, política, cultural, econômica, e ideológica.

Ao me aposentar, arroz e feijão estão garantidos na mesa. Os luxos nunca foram sedutores ou necessários. Dos confortos e da alegria de viver, não abro mão. (MARIA, 52 anos, aposentada há dois anos).

Segundo Codina (1999, 2002, 2004, apud Sarriera et al., 2007a, p.721), “pode-se investigar como o desejo ou necessidade de auto-realização pode incidir sobre o ócio. Ao usufruir o tempo livre enquanto tempo de ócio, o indivíduo pode expandir a capacidade de auto-realização, autoestima, autoconceito e auto-imagem. Com isso, enfatiza-se a perspectiva do sujeito como alguém que potencialmente se pensa, se vê, se sente e se satisfaz através do seu comportamento durante o tempo livre”.

Meu projeto após aposentadoria, primeiro a minha prioridade será me voltar mais para minha pessoa, o José, cuidar mais da minha saúde, ter mais qualidade de vida. O que é qualidade de vida? É ter tempo para mim, ter minhas atividades e físicas, em primeiro lugar vai estar eu, eu quero estar bem física e mentalmente. Primeiro quero cuidar da minha saúde fisica. (JOSÉ, pré-aposentado, faltando dois anos para se aposentar). O tempo livre, de “nada fazer”, é o tempo verdadeiramente livre que a pessoa

pode dispor para escolher o que fazer, isto é, fazer o que quiser, vivenciando sem pressão, nem condicionamento ou compromisso com produzir algo. É um tempo de

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compromisso consigo mesmo ou com alguém, e com o prazer e a realização pessoal, de pura satisfação.

Ainda estou experimentando as sensações do “dolce far niente”. Como ouvi de muitos colegas aposentados em outras épocas, não me sobra tempo para nada. Sempre tenho algo novo para fazer embora não tenha assumido nenhum compromisso regular. (MARIA, 52 anos, aposentada há dois anos). Outros ainda relatam a necessidade de “desacelerar”, isto é, utilizar o tempo

de forma mais tranquila. O tempo do trabalho geralmente é regulado por horários, obrigações, agendas para cumprir, metas a alcançar. Uma das primerias prioridades dos entrevistados é poder ter este tempo para se reorganizar a partir de um tempo interno, um tempo mais pessoal.

Tenho chamado essa proposta de iniciar um novo empreendimento de “fase de despressurização”, momento de quebrar o automatismo de ir todo o dia, oito horas sequentes, por 35 anos, ao meu trabalho. É o me reencontrar com o tempo e resignificá-lo num novo contexto, de forma generosa. (CASSIO, pré-aposentado, 51 anos faltando 4 anos para se aposentar).

Quais as mudanças que eu vou ter? Vou dar uma desacelerada, não ter hora para acordar, vou curtir um ociozinho, que faz parte da lua de mel. Depois aos poucos eu vou ir colocando em prática os meus projetos. Eu não vou me aposentar hoje e amanhã já ir atrás disto ou daquilo, não! Acho que primeiro a gente te que dar uma respirada, o corpo, e começar como eu já tenho isto mentalizado, é a hora de colocar em prática. (JOSÉ, pré-aposentado, 52 anos faltando 2 anos para se aposentar). Existe uma preocupação com a utilização do tempo livre para si próprio, para

atividades que tragam prazer, sentindo-se no comando de sua própria agenda, sem obrigatoriedades e cobranças. Sem o sentimento de culpa existente quando estas atividades são realizadas no tempo do trabalho.

Se eu quiser fazer academia de ginástica, três meses por ano e desistir no quarto mês porque está muito frio, pronto, desisto sem culpas. Vou ocupar o tempo com outras coisas dentro de um leque ou menu de opções de atividades que me interessam: gastronomia – fazer o almoço diário, ir na feira -, andar de moto, fazer trilhas, ir ao clube, ler um livro, explorar a internet, ir ao sítio, viajar no mundo, quem sabe, voltar a estudar, tentar me incluir em grupos de interesse, fazer artesanato (?) - já fiz um curso de cerâmica e achei legal. Preciso lembrar que a esposa também tem ideias do que fazer. (CASSIO pré-aposentado, 51 anos faltando 4 anos para se aposentar).

Esse era o meu grande sonho de consumo para quando me aposentasse. Eu refletia o seguinte: - até então havia dedicado a maior parte da minha vida: primeiro aos estudos, depois ao marido, filho e trabalho. Não sobrava tempo para muita coisa. Nada mais justo, então, que ao me aposentar pudesse dedicar um tempo maior para mim, para me autorreconhecer, para ler mais. Estudar mais. Eu sentia essa lacuna. Eu sentia essa necessidade. (NILCÉIA, 58 anos, aposentada há 12 anos,).

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Segundo Teixeira (2007 p.182) “uma vida cheia de sentido no tempo livre, na velhice, pressupõe uma trajetória de vida dotada de dignidade e sentido”. Quem passa a vida só trabalhando, com a atuação laboral como central na sua vida, porém muitas vezes sem sentido e sem dar-se o tempo para usufruir outras atividades, pode não saber como se inserir na sociedade a partir da aposentadoria. Uma vida laboral sem sentido pode levar a uma aposentadoria vazia, e quando a vida é usufruída em todas suas dimensões, a aposentadoria terá mais dignidade.

Estou observando, ao começar a pensar sobre o meu futuro, que o fator “o que fazer com o tempo livre” não ficou tão estranho e parece que preciso organizar uma agenda por conta da diversidade de atividades possíveis que me atraem. Isso que ainda não explorei todas possíveis. Entendo que seja possível ampliar esse mundinho de possibilidades. (CASSIO, pré-aposentado, 52 anos, faltam 4 anos para se aposentar).

Bacal (1988) trabalha com a variável “tempo”, e denomina “tempo necessário”

aquele despendido para a execução das tarefas de trabalho; “tempo liberado” o tempo de que o homem dispõe após o tempo necessário e “tempo livre” como uma parcela do tempo liberado pressupondo a liberdade de escolha do que fazer ou não fazer, compreendendo tanto o lazer como o ócio.

Quero que seja o início de um novo ciclo na minha vida. Quero me desprender das amarras do eu devo! Eu preciso! Eu tenho! Eu quero poder ocupar meu tempo fazendo coisas que eu realize porque as quero fazer naquele instante, sem obrigatoriedades, cobranças das partes para que eu possa me sentir incluído e adequado. Eu quero estar no comando da minha agenda. (CLAUDIO, pré-aposentado, 56 anos faltando 3 anos para se aposentar). O debate sobre as definições de tempo livre, lazer e ócio são frequentes na

literatura (AQUINO e MARTINS, 2007). Neste paper não diferenciamos estes conceitos, apenas ilustraremos algumas possíveis nuances como apresentaram nossos entrevistados.

Para muitos, ter um tempo livre não é uma dádiva, mas sim um problema, de tédio e aborrecimento, de não saber o que fazer. Segundo Cabeza (2009, p. 17), “quem não sabe o que fazer no seu tempo livre pretende preenche-lo de qualquer jeito, para distrair-se em algo `para matar o tempo`”. O ócio é algo diferente, é fazer o que não é obrigatório, porque você gosta, pois faz sentido. Se o tempo livre se opõe ao tempo de trabalho, ócio é identificado com atividade deliciosa que se está disposto a fazer sem que nos paguem por isto, porque é um modo de expressão e desenvolvimento coerente com o ser pessoal de cada um. Por esse motivo, aquele que tem claro o que fazer de seu ócio, e o coloca em prática, não quer simplesmente "matar o tempo", mas para vivê-lo.

Cabeza (2009, p. 20) nos fala ainda da “importância de praticar ócios valiosos e significativos”. Considera que o ócio é fonte de desenvolvimento pessoal e qualidade de vida, e não está associado a “matar o tempo” ou “passar um tempo alegremente”, mas sim a um ócio cultivado, desejado, querido no tempo e consolidado através do esforço.

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Eu já fiquei muito tempo no trabalho, sem fazer outras coisas. Eu nunca tive a oportunidade de não trabalhar, nunca tive, eu sempre trabalhei. Agora quero usufruir, na legislação poderia ficar mais, até 70 anos, mas eu não tenho esta visão, eu penso assim, eu tenho que me aposentar com saúde física e mental para poder desfrutar da aposentadoria, o que é desfrutar? Não é ficar no boteco bebendo cachaça, nem em casa vendo televisão ou dormindo, é colocar os projetos em ação, fazer o que eu gosto, algo que seja importante para mim. (JOÃO, pré-aposentado, 52 anos, faltam 3 anos para se aposentar). Gaelzer (1986) trabalha com a dimensão atitude, e explica, “costuma-se

pensar que lazer e tempo livre são a mesma coisa, mas todo mundo pode ter tempo livre e nem todos podem ter lazer. [...] o tempo livre é uma ideia de democracia realizável. O lazer não é por todos realizável por tratar-se de uma atitude e não só de uma ideia. [...] lazer é a harmonia individual entre a atitude, disponibilidade de si mesmo e o desenvolvimento integral” (p. 49).

Tempo Livre e lazer, mais ou menos se confundem, não sei até que ponto a gente pode desmembrar do ócio. Posso estar no ócio e tendo um lazer, vendo televisão, dormindo. Ou simplesmente olhando o mar, ou vendo TV. Eu entendo o ócio, não é fazer nada, mas é estar fazendo alguma coisa. Lazer é fazer aquilo que gosta no tempo livre. Tempo livre é fazer o que a gente quer. O tempo livre eu posso usar para fazer o ócio ou o lazer. O lazer é fazer aquilo que a gente gosta. (PEDRO, pré-aposentado, 53 anos, faltando um ano para se aposentar). Ao deixar de trabalhar ocorre a perda do vínculo, daquilo que representa

“estar trabalhando”, influenciando a identidade pessoal, pois a aposentadoria muda as possibilidades das relações estabelecidas entre o indivíduo e o sistema social. A aposentadoria traz para os indivíduos um conjunto de perdas importantes, como a convivência diária com os colegas, o “status” social de pertencer a uma organização, o poder de exercer influência sobre os outros, assim como a própria rotina enquanto referencial de projeto de vida.

Salientamos a importância da identificação com a instituição, muitas vezes considerada como uma “família”, onde o valor e admiração em relação à mesma aparecem na continuidade da utilização do “nome da instituição” como sobrenome após a aposentadoria.

Meu sogro que trabalhou a vida toda na Petrobras, ele ainda se apresenta como “Jurandir Silva, engenheiro aposentado da Petrobras”. (NEIDE, pré-aposentada 40 anos, faltam 5 anos para se aposentar).

Eu nunca disse, “eu sou fulana do fórum”, eu acho que sou muito modesta, eu não gosto disto, mas as pessoas me veem assim, e às vezes vem alguém, e diz: ah! Tu trabalhas lá no fórum podes resolver isto para mim. A gente até pode dar uma ajuda, mas não pode resolver. O processo tem muitos pareceres, pode até atrapalhar. E disto eu acho que vou sentir falta, pois as pessoas não vão mais me olhar como a “fulana do fórum”, não vai mais me pedir para olhar os seus processos. (ANA, 49 anos, faltando 2 anos para se aposentar).

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A identificação com a instituição pode ser decisiva no momento de decisão pela aposentadoria. Como será o sentimento de identidade do aposentado na medida em que ele não tem mais o trabalho como referência subjetiva? Como ele se sente ao não poder mais afirmar que ele é “Fulano de Tal”, da empresa “X”? A maioria concorda com a importância de se ter projetos para realizar no futuro e da preparação para esta decisão.

Quais são os meus projetos de futuro? Eu não penso de ficar de pijama em casa, eu não penso assim porque eu tenho uma casa, um jardim eu tenho bastante serviço para fazer. Eu penso em fazer serviços voluntários, porque eu sempre fiz, eu participava da APP, eu fui presidente, eu fui tesoureira, eu sempre participei e este ano eu parei, agora eu sou secretária da Igreja. Eu penso em participar, para ajudar. (ANA, pré-aposentada, 49 anos, faltam 2 anos para se aposentar).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Pessoas mais velhas que passam de uma atividade produtiva à

aposentadoria vivem uma mudança existencial de grande importância. Se nada for feito, o abandono do mercado de trabalho significa passar de um estilo de vida ativo para uma situação de passividade. Conforme França e Soares (2009, p. 741) “a aposentadoria deve ser uma livre escolha, embora o planejamento seja fundamental para a adaptação nessa transição”. Somente através da escolha do melhor momento para a aposentadoria, é que a pessoa poderá melhor vivenciar e organizar o seu tempo livre do trabalho.

Ao realizar-se esta pesquisa, entrar em contato e conhecer melhor os participantes, através das entrevistas, constatou-se a existência de motivação, interesse no tema e vontade de dar a sua contribuição. Como pesquisadores, muitas vezes ficamos em dúvida, se existe realmente uma demanda, ou se é apenas um interesse científico pesquisar sobre determinado assunto. Podemos pensar que é somente uma necessidade e um interesse nosso, mas nesta hora foi possível confirmar o quanto a pesquisa está dentro da necessidade das pessoas também, de serem mais bem compreendidas e de poderem falar de si mesmas. Observou-se também que as pessoas ao se autorizarem a participar, comparecem às palestras e frequentam os programas oferecidos por suas empresas, se sentem melhor preparadas para esta nova etapa; também parecem estar mais bem adaptadas a esta nova situação de vida, usufruindo e discutindo com interesse o seu “tempo livre”.

Observamos neste número restrito de participantes, o quanto vivenciar a aposentadoria inclui o paradoxo de ao mesmo tempo deixar algo que foi sentido como bom, o tempo do trabalho e seus vínculos socias, e a necessidade de se desligar deste tempo/lugar: a instituição que o abrigou durante os anos do trabalho formal. Pudemos encontrar também uma infinidade de saídas e opções, através da diversidade dos discursos e das propostas de atividades para o tempo livre; os contrastes, as formas criativas e originais de fazer frente à aposentadoria. Estes elementos são importantes de serem considerados quando pensamos nos novos sentidos e significados da aposentadoria para esta faixa etária, dos pré aposentados e aposentados jovens (entre 55 e 60 anos).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RELATO DO COLÓQUIO

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Colóquio VI - Orientação para o

trabalho, é possível?

ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO

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POC18 - A ESCOLHA PELO TRABALHO VOLUNTÁRIO: PERCEPÇÕES DE UM GRUPO DE VOLUNTARIADOS ATUANTES EM HOSPITAIS DE BLUMENAU

Pereira, PC 1; Gazola, MC 1; Benevenuti, J 2; Veriguine, NR 3. 1 - Fameblu/Uniasselvi; 2 - Univalle; 3 - Instituto Federal Catarinense. O trabalho voluntário atravessou transformações significativas ao longo de sua existência, em diferentes contextos e se mantêm como temática atual. O objetivo dessa pesquisa foi identificar os motivos que levam os indivíduos a escolherem pela atuação em um grupo de voluntários atuantes em hospitais de Blumenau, bem como a percepção desses sujeitos a respeito de seu trabalho, em seus aspectos positivos e negativos. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um questionário contendo cinco perguntas abertas. Essas perguntas investigaram os motivos pela escolha de atuar como voluntario, o significado do trabalho e aspectos positivos e negativos do trabalho. Os resultados obtidos revelam que a atuação do voluntariado afeta positivamente seu desenvolvimento, pois ao ajudarem os outros são também beneficiados, assim como desejam influenciar outras pessoas a realizarem esse trabalho. Ainda com base nos resultados, surgiram algumas necessidades mencionadas pelos participantes, que gestores desses grupos podem trabalhá-las com a finalidade de que a atuação do voluntariado seja consciente e de qualidade, a fim de lhes proporcionar bem-estar e também a quem os voluntários ajudam. O presente estudo pontuou aspectos acerca das percepções dos voluntariados, que futuras pesquisas e estudos podem aprofundar-se, visto que a discussão acerca do trabalho voluntário é ampla e remete a novas e contínuas reflexões. PALAVRAS-CHAVE: escolha; voluntariado; trabalho.

INTRODUÇÃO

Para falar sobre trabalho é essencial apropriar-se de uma lógica dialética entre o trabalho e o indivíduo, estendendo-se à evolução desse conceito no decorrer da história da humanidade. As diferentes especificidades do trabalho transformaram-se em decorrência das mudanças no mundo do trabalho, que por consequência, afetaram o comportamento dos indivíduos em sociedade. É nesse cenário dinâmico e de profundas mudanças, que uma das formas de trabalho - o Terceiro Setor - expande-se assinalado pela notoriedade que o trabalho voluntário vem obtendo. Ao longo desse período e historicamente, o trabalho voluntário vem assumindo novas configurações e paralelo aos novos modelos de trabalho, os indivíduos constroem sua identidade ao mesmo tempo em que são atores dessas mudanças.

Portanto, olhar para o trabalho voluntário como um fenômeno que veio incorporando-se às formas de trabalho dos indivíduos na sociedade, implica em ampliá-lo à sua especificidade e aspectos que o compõem. “Em 2001, a Organização das Nações Unidas (ONU), ao instituir o Ano Internacional do Voluntariado, ampliou a discussão sobre o tema [...]” e essa discussão favoreceu os estudos sobre o voluntariado, mas que por sua complexidade, demanda por mais pesquisas na área (NOGUEIRA-MARTINS; BERSUSA; SIQUEIRA, 2010, p. 944). Sendo assim, cabe investigar aspectos relacionados a essa forma de

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trabalho e caracterizar de que forma este fenômeno ocorre. Afinal, o que leva esses indivíduos a escolherem atuar no voluntariado?

A relevância científica de desenvolver esse estudo reflete a atualidade dessa temática, visto que, os indivíduos continuam interessando-se em voluntariarem-se e as mídias sociais demonstram essa realidade, o que instigou as autoras a investigarem as percepções desses indivíduos, o que entendem por trabalho voluntário, quais os aspectos positivos e negativos e suas motivações para exercer o voluntariado.

Em termos de relevância social, essa pesquisa pode contribuem para delimitar estratégias a fim de promover uma gestão eficaz no Terceiro Setor, como aborda Matsuda (2002, p. 15), “As organizações prestam serviço à comunidade e pretende-se que os resultados sejam alcançados por meio de uma atuação cada vez mais consciente e profissional”. Portanto, gestores desses grupos, com base nas percepções desses indivíduos, podem sensibilizar-se com maior frequência quanto às características, aspectos e necessidades do voluntariado.

A palavra “voluntário”, como adjetivo foi encontrada pela primeira vez na língua portuguesa, no século XV, com o significado de “espontâneo” (Cunha, 2001 apud ORTIZ, 2007). Com o passar do tempo, o trabalho voluntário veio assumindo novas definições. “Atualmente ela é usada, por extensão, também como substantivo [voluntariado], para se referir a “aquele que se oferece para uma tarefa a que não estava obrigado [...]” (LAROUSSE CULTURAL, 1992, p. 453 apud ORTIZ, 2007, p. 29).

De acordo com Silva (2006, p. 50), o voluntariado estabelece uma relação de troca em sua atuação, pois ao mesmo tempo em que busca beneficiar os outros, através de suas ações, beneficiam-se, atendendo às suas próprias motivações pessoais. E dependendo desses benefícios, maior pode ser a permanência do voluntariado no trabalho voluntário, segundo Moniz e Araújo (2008, p. 150). Pois os voluntários esperam “recompensas” diferentes em relação ao trabalho voluntário, sendo algumas dessas recompensas, compartilhadas pelos mesmos voluntariados.

O trabalho voluntário surgiu no Brasil no século XVI, a partir de iniciativas de organizações religiosas. Em 1908 chega ao Brasil a Cruz Vermelha seguida pelo surgimento do Escotismo, no início do século XX. O Escotismo estruturava-se a partir da solidariedade, amor ao próximo e bem comum (FERRARI, 2008).

Na década de 30, o Estado desenvolveu políticas públicas destinadas à assistência social e na década de 90, o trabalho voluntário cresce e ganha mais notoriedade, tornando-se um forte movimento na sociedade. Nesse momento, também são criadas organizações voltadas a mobilizar pessoas para essas ações, assim como para divulgar e gerenciar programas de voluntariados (TRIGUEIRO, 2010).

Com base nesse novo movimento acerca do trabalho voluntário, a partir de 1998 é promulgada Lei nº 9.608 do voluntariado, pelo decreto do Congresso Nacional e a sanção do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Dispondo que:

Art. 1º. – Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais,

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educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.

Parágrafo único – O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Art. 2º. – O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições do seu serviço.

Art. 3º. – O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias (BRASIL, 1998).

A promulgação da Lei do Voluntariado traz maior notoriedade ao trabalho voluntário e no ano de 2001 é instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) o Ano Internacional do Voluntariado. Ainda em 2011, cria-se o Dia Internacional do Voluntariado comemorado em 05 de dezembro, estimulando assim, o crescimento das práticas voluntárias (OKABAYASHI, 2007).

Dentro desse contexto, o objetivo dessa pesquisa foi identificar os motivos que levam os indivíduos a escolherem pela atuação em um grupo de voluntários atuantes em hospitais de Blumenau, bem como a percepção desses sujeitos a respeito de seu trabalho, em seus aspectos positivos e negativos.

MÉTODO

Esta é uma pesquisa qualitativa, na qual para a coleta de informações foi aplicado um questionário contendo cinco (5) perguntas abertas. Participaram da pesquisa sete (7) sujeitos, sendo seis (6) do sexo feminino e um (1) do sexo masculino, com idades entre vinte e seis e cinquenta anos.Os sujeitos fazem parte de um grupo de voluntários e são atuantes nesse grupo por períodos diferentes, alguns com mais anos de atuação e outros com atuação mais recente. Esse grupo atua desde 2006 em hospitais de Blumenau e é reconhecido com uma denominação própria e organizado por intermédio de uma pessoa que coordena o mesmo.

Inicialmente, as pesquisadoras entraram em contato com a pessoa que é responsável por coordenar o grupo de voluntariados, explanaram sobre o desenvolvimento da pesquisa e foi concedida a autorização, para que a pesquisa se realizasse com o grupo, sendo a participação na mesma, ocorrida de forma voluntária. Em seguida, desenvolveu-se o projeto de pesquisa e sua aplicação ocorreu após a aprovação desse projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa – Grupo Uniasselvi- FAMEBLU com o número do Processo: 055/2012, considerando-se os aspectos éticos e metodológicos.

Foi enviada aos voluntariados a carta de apresentação da pesquisa, contendo informações sobre os objetivos, instrumentos de coleta de dados e tratamento dos dados na pesquisa, considerando-se os aspectos éticos da mesma.

Para a análise das informações coletadas foi utilizada a técnica de análise de conteúdo de Bardin (1979), sendo a organização da análise feita a partir da pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados e interpretação. Com base nisso, estabeleceu-se categorias a partir de análise temática (BARDIN, 1979).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Com base nas informações coletadas a partir do questionário de pesquisa, apresenta-se a seguir os resultados obtidos. Em relação ao processo de escolha pelo trabalho voluntario todos os sete participantes da pesquisa consideram que a escolha por essa atuação envolve a possibilidade de “Influenciar outras pessoas a realizarem trabalho voluntário”. Para seis (6) participantes, a escolha está direcionada para a ideia do “Voluntário como beneficiário do trabalho”. Observa-se que para quatro (4) participantes, é a “Reação positiva das pessoas”. Ainda para quatro (4) participantes a escolha envolve o processo de “Ajudar outras pessoas” e para um (1) participante refere-se a “Princípios religiosos”. As categorias “Influenciar outras pessoas a realizarem o trabalho voluntário” e “ajudar outras pessoas”, vem ao encontro da pesquisa de Silva (2006, p. 109) que também encontrou esse resultado: “Quando eu falo do meu trabalho voluntário eu posso tocar as pessoas a se motivarem a fazer algo também”, “Sentir que a doação de tempo e energia faz diferença na vida de outras pessoas”.

E a categoria “Princípios religiosos”: “Deus nos amou primeiro. Com o nosso coração repleto de amor, estaremos prontos para doar-se aos outros”, reflete a afirmação de Oliveira (2007, p. 02), na qual a autora lembra que a religião por muito tempo foi a principal estimuladora do trabalho voluntário.

Com as categorias identificadas, têm-se dados importantes para conhecer melhor os voluntariados, a partir de seus processos de escolha, para poder entender as necessidades e expectativas desses indivíduos, conforme sugerem Ferreira; Proença; Proença (2008, p. 43).

Percepção, de acordo com Kotler (2000. p. 195), trata-se do “[...] processo por meio do qual uma pessoa seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas para criar uma imagem significativa do mundo [...]”. A partir dos aspectos investigados e discutidos até o momento objetiva-se a seguir, identificar quais são as percepções acerca do trabalho voluntário.

Em relação á percepção sobre o trabalho voluntário, seis (6) participantes do total de sete (7), percebem o significado do trabalho voluntário como “não visar benefícios financeiros/materiais”, o que se atrela à própria Lei do Voluntariado, número 9.608, de 19 de fevereiro de 1998, onde define o voluntariado como sendo uma atividade não remunerada (BRASIL, 1998).

Para seis (6) participantes, o significado do trabalho voluntário é “ajudar outras pessoas”: “realizar uma ação transformadora na vida de pessoas desconhecidas”. Os indivíduos que percebem o significado do trabalho voluntário como sendo uma “Forma de trabalho” correspondem a três (3) do total de sete (7) participantes. Outros dois (2) participantes percebem o significado do trabalho voluntário como sendo o “voluntário o beneficiário desse trabalho”: “faz parte da minha vida e não sei mais viver sem esse trabalho”.

Os dados obtidos referentes à percepção do significado do trabalho para quem exerce o voluntariado indicam que as categorias “não visar benefícios financeiros/materiais” e “ajudar outras pessoas”, estão relacionados ao conceito do trabalho voluntário. Já a categoria “Forma de trabalho”, conforme resposta de um dos participantes da pesquisa: “O voluntariado também é um trabalho, porém sem remuneração”, indica aspectos que corroboram com a pesquisa de Trigueiro (2010, p. 52). A autora aborda que o trabalho não está ligado somente aos indivíduos o realizarem por dinheiro, mas também ao valor que essa atividade produz para outras pessoas. Dessa forma, pode-se considerar essa categoria como algo significativo na

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utilização de um modelo social, onde o trabalho voluntário seja representado de modo a ultrapassar as características abordadas na Lei do Voluntariado.

Com base nisso, pode se desenvolver com os voluntariados as interfaces desse trabalho, valorizando aspectos que contribuam para o comprometimento e permanência dos indivíduos no trabalho voluntário, pois como um participante relata quanto à atuação: “Há exigências, como comprometimento, cumprimento de obrigações, trabalho em grupo”. Dessa forma é possível investir em uma nova gestão do voluntariado, entendendo-se a importância de investigar as percepções acerca do trabalho voluntário e com base nisso, tornar sua atuação cada vez mais consciente e profissional, conforme defende Matsuda (2002).

Para a atuação do voluntariado se tornar cada vez mais consciente e profissional, cabe investigar os aspectos pessoais que surgem acerca do trabalho voluntário, pois esses podem agregar-se à construção da subjetividade desses indivíduos. Questão essa discutida por Ortiz (2007) em sua pesquisa, sobre a produção da subjetividade do voluntariado em hospitais.

A subjetividade de quem pratica o voluntariado foi mencionada a partir da resposta de dois (2) participantes, sendo que essas respostas, não se mostraram explícitas, mas atreladas a emoções e sentimentos decorrentes desse trabalho: “É extremamente gratificante”, “Faz parte da minha vida e não sei mais viver sem esse trabalho”. Logo, Corullón (1996, p. 03 apud SILVA, 2006, p. 50) afirma que de acordo com a Fundação ABRINQ21, que a atuação do voluntariado atende “[...] tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional.”.

Identificar quais são os aspectos positivos desse trabalho para o voluntariado é importante para discutir à que esses aspectos referem-se. Com isso, pode-se discorrer sobre o impacto desses na atuação e resultados das atividades voluntárias. Sobre esse aspecto, sete (7) participantes, percebem como aspecto positivo do trabalho voluntário, o “Voluntário como beneficiário do trabalho”: “Desenvolvimento pessoal”, “Autorrealização”. Para cinco (5) participantes, a percepção acerca dos aspectos positivos do trabalho voluntário caracteriza-se por “Ajudar outras pessoas”: “O voluntariado ajuda o próximo”. Esses sentimento também podem ser observados pelas falas: “Alegrias”, “Divertir-se e sentir-se “mais leve” depois do trabalho voluntário”.

Com isso, deve-se uma atenção a esses aspectos emocionais relacionados à percepção acerca dos aspectos positivos do trabalho voluntário, pois eles indicam, como em outras formas de trabalho e relações sociais, um envolvimento do voluntariado com indivíduos onde atuam. Moniz e Araujo (2006, p. 236) abordam em sua pesquisa sobre “Trabalho voluntário em saúde: autopercepção, estresse e Burnout” que “[...] muitas vezes sem dispor de preparo ou treinamento adequado, o agente voluntário pode se ver exposto a condições inadequadas, comprometendo a si próprio e aqueles a quem deseja ajudar.”.

E dessa forma, as emoções e sentimentos positivos decorridos do envolvimento com o trabalho podem acarretar se não forem bem administrados, em dificuldades para o voluntariado, comprometendo sua atuação e bem-estar no

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ABRINQ: Organização social criada em 1990 com o objetivo de garantir que os direitos de crianças e adolescentes sejam respeitados.

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grupo. Essa conclusão se dá, partindo do pressuposto que, conscientemente ou não, as relações estabelecidas entre os indivíduos compreendem-se em uma relação de troca.

Assim como os aspectos positivos, Trigueiro (2010, p. 82) afirma que “como em qualquer atividade, existem aspectos do trabalho voluntário que podem ser considerados negativos [...]”. Foi possível verificar que quatro (4) participantes da amostra de sete (7), percebem como aspecto negativo “Situações no trabalho que não sabem como agir”. Para três (3) participantes do total de sete (7) é considerado aspecto negativo a “Reação das pessoas que não sabem o que é trabalho voluntário” e para também três (3) participantes são aspectos negativos as “Diferenças entre os voluntariados/falta de comprometimento”. Para dois (2) participantes, a percepção acerca dos aspectos negativos do trabalho voluntário refere-se a “Compromissos com o trabalho voluntário X compromissos pessoais”.

Com base nesses resultados, observa-se a resposta “Situações no trabalho que não sabem como agir”, aponta a importância da atuação da gestão, a qual tem a responsabilidade de capacitar e orientar os indivíduos que fazem parte da equipe de trabalhadores voluntários. Este resultado é corroborado pelas pesquisas de Matsuda (2002) e Okabayashi, (2007), nas quais as autoras defendem uma gestão do voluntariado eficiente, sendo que gestão refere-se à “[...] intervenção e organização das ações em diferentes áreas do campo social e em diferentes esferas

- Estado, mercado e sociedade civil” (MAIA, apud OKABAYASHI 2007, p. 47). Ações essas, que podem ser desenvolvidas com os voluntariados, como treinamentos, realizados periodicamente, avaliados e aperfeiçoados de acordo com as novas necessidades dos voluntariados, como observadas, segundo o relato de um participante da presente pesquisa: “Falta de preparo, formação para lidar com situações delicadas”.

Há ainda outro aspecto que influencia na dinâmica de atuação do voluntariado, podendo se tornar um aspecto negativo para o trabalho voluntário. Trata-se da categoria “Diferenças entre os voluntariados/falta de comprometimento”. Essa categoria reflete uma característica do trabalho voluntário apresentada nessa pesquisa, que é a formação de um grupo para a atuação.

Essa categoria, considerada como aspecto negativo pode ser entendido sob a colocação de Bock, Furtado e Teixeira (2005, p. 222). Estes enfatizam que os grupos possuem objetivos que prevalecem aos motivos individuais dos participantes e dependendo desses objetivos, o grupo poderá ou não admitir as diferenças individuais. A partir disso é possível notar que o grupo de voluntariados da presente pesquisa possui algum grau de coesão grupal, baseada em princípios. Esses princípios favorecem o compartilhamento de que o trabalho voluntário deve ser realizado com comprometimento e onde as diferenças individuais que não condizem com os objetivos do grupo não são admitidas.

E o comprometimento pode ser observado na categoria “Compromissos com o trabalho voluntário X compromissos pessoais”. Nessa categoria, o comprometimento com o trabalho voluntário envolve a: “Necessidade de comprometimento e organização prévia da agenda pessoal com bastante antecedência”, “É um compromisso - muitas vezes já comprometendo horários e datas já envolvidas com compromissos da família”.

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Nesse caso, o destaque foi para o comprometimento, no qual mesmo sendo considerado como aspecto negativo, o compromisso com a atividade voluntária torna-se mais evidente, segundo esses relatos dos participantes. Sugerindo assim, que esses participantes, em questão, organizam-se de forma a priorizar o voluntariado. Porém, outros voluntariados podem não conseguir organizar-se de forma a conciliar compromissos com o trabalho voluntário X compromissos pessoais, observado que essa categoria apresentou-se como aspecto negativo. Assim, essas questões podem vir a favorecer o absenteísmo e desistência e relacionar-se ao tempo de permanência do voluntário no trabalho voluntariado.

Investigar as percepções dos voluntariados possibilitou de forma geral, perceber como o trabalho voluntário é algo positivo para o voluntariado e beneficia-o, assim como pode beneficiar a quem recebe, e ir além, influenciar outras pessoas a voluntariarem-se. Em contrapartida, foram pertinentes os aspectos negativos e as necessidades, relatadas pelos voluntariados. Dessa forma, é possível colaborar para o constante aperfeiçoamento da gestão do voluntariado e para a própria conscientização nos grupos de voluntariados, sobre a importância de sua postura no grupo.

A fim de que o trabalho realizado esteja cada vez mais atendendo as necessidades das pessoas para as quais, essas instituições e organizações foram criadas e contribuindo para o desenvolvimento de quem realiza esse trabalho, valorizando-se essa relação de troca. Pois, “(...) O gratuito não existe... senão para certas almas piedosas ou militantes que são vítimas de um engodo. (...) Há sempre uma troca. Há sempre alguma coisa que é dada, contra outra que é recebida. (...) [...]” (DOLTO in SÉVÉRIN, 1979, p. 152 apud ORTIZ, 2007, p. 213).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visando os objetivos propostos com a presente pesquisa e com a discussão dos dados obtidos foi possível identificar o processo de escolha e as percepções dos voluntariados acerca do trabalho voluntário.

Com base nos objetivos da pesquisa, buscou-se inclusive contribuir com a gestão do voluntariado, nas organizações que fazem parte do Terceiro Setor. A ideia é a de favorecer uma atuação consciente e profissional, que colabore com o bem-estar do voluntariado e demais indivíduos envolvidos nesse trabalho. As indagações, feitas a partir das percepções dos voluntariados investigaram diferentes aspectos, acerca do trabalho voluntário. A intenção, é que com base nessas percepções, fosse possível chegar a novas possibilidades de reflexão.

Sobre o processo de escolha em exercer o trabalho voluntário, observou-se uma evolução quanto à atuação no trabalho voluntário, referente ao voluntariado influenciar, a partir de sua atuação, outras pessoas a realizarem esse trabalho, conforme relato dos participantes. Com isso, essa forma de trabalho, pode ir além da relação de troca, estabelecida entre voluntariado e a quem está envolvido, demonstrando que esse busca atingir também a sociedade.

Sendo assim, quanto ao significado do trabalho voluntário, pode-se discutir como a Lei do Voluntariado norteou algumas das percepções dos voluntariados. Outras questões surgiram e foram discutidas com base nas percepções que se apresentaram, entre essas, - como essa forma de trabalho pode interferir na subjetividade do voluntariado? De que forma essas percepções, podem colaborar

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com uma gestão do voluntariado, voltada para uma atuação consciente e profissional? De que forma as emoções e sentimentos dos voluntariados podem estar atrelados à permanência desses no trabalho voluntário? Essas questões são aspectos importantes de serem aprofundados em novos estudos.

E ao investigar os aspectos positivos do trabalho voluntário, com base nas percepções dos voluntariados, foi possível verificar os benefícios desse trabalho para quem exerce, devido a uma relação de troca que há em sua atuação. As emoções e sentimentos ficaram mais evidentes nas respostas dos voluntariados e demonstraram que estão envolvidos com esse trabalho, e como esse trabalho os afeta, sendo também pontos a serem investigados em novas pesquisas.

Já referente aos aspectos negativos, verifica-se que estão relacionados a situações pontuais, como reação de pessoas que não sabem o que é trabalho voluntário. Também se observou como aspectos negativos, as diferenças existentes dentro do próprio grupo de voluntariados, a falta de comprometimento por parte de alguns integrantes e a conciliação de compromissos pessoais com o trabalho voluntário.

Esses aspectos considerados negativos permitiram a discussão sobre o papel da gestão do voluntariado, indicando sugestões para trabalhar algumas questões que surgiram como necessidades do voluntariado, em sua atuação, quanto a situações onde não sabem como agir. As reações de pessoas que não sabem o que é trabalho voluntário abrem indagações sobre quem seriam essas pessoas e como se caracteriza sua reação. Indagações essas, que podem ser feitas e investigadas pela gestão do voluntariado, para procurar compreender como ocorrem essas reações negativas e como afetam os voluntariados.

Foi possível observar que o comprometimento do grupo em relação ao trabalho, pode ser um aspecto negativo assim como, o compromisso com o trabalho voluntário em equivalência aos compromissos pessoais. Essas questões podem estar relacionadas ao absenteísmo, desistência e relacionar-se ao tempo de permanência do voluntariado no grupo. Ficam perguntas para futuros estudos, relativas à quais são os objetivos de um indivíduo a atuar como voluntariado e como se caracteriza o comprometimento do voluntariado com o trabalho voluntário?

Portanto, com as percepções discutidas no decorrer desse trabalho e as sugestões de aprofundamento de algumas questões encontradas, foi possível contribuir para o estudo das interfaces do trabalho voluntário e propor novos estudos. Essa temática mostrou-se ampla e específica ao mesmo tempo, contemplando diferentes grupos sociais e gêneros, em sua construção histórica. Atualmente, ainda apresenta-se como objeto de estudo e investigação e mesmo com uma sociedade em constante transformação, o trabalho voluntário continua atraindo indivíduos a serem voluntariados. É uma temática atual, discutida sob diferentes olhares, de distintas áreas do conhecimento.

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POC19 - DIVULGAÇÃO DE TELE E RAC POR VÍDEOS

Padoin, E1; Sá, AC2; Tutui, AP3; Mello, E4; Weiss, E5 1IF-SC/Departamento de Ensino/Câmpus São José/[email protected] 2,3,4,5IF-SC/Departamento de Ensino/Câmpus São José/[email protected] INTRODUÇÃO: O presente projeto de extensão surgiu a partir dos Encontros Pedagógicos do IF-SC Câmpus São José, nos relatos dos educandos do ensino médio integrado, ao apresentarem muitas dúvidas com relação às disciplinas da área técnica. Observou-se reclamações recorrentes, quanto à falta de informações concretas sobre a atuação profissional nas áreas dos cursos que a Instituição oferece. Neste sentido, o projeto tem uma proposta educativa, sobre as profissões das áreas de Telecomunicações e Refrigeração e Climatização, através da construção e elaboração de vídeos. O produto final (vídeos) subsidiará o processo ensino aprendizagem dos alunos do Câmpus São José, bem como auxiliará a divulgação da Instituição na comunidade externa, nas escolas públicas da Grande Florianópolis, no que se refere aos cursos oferecidos e as possibilidades de atuação futura. METODOLOGIA: O processo de construção dos vídeos envolve primeiramente uma pesquisa com todos os educandos, professores e profissionais da área.que já atuam no mercado de trabalho, na área de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, das empresas da Grande Florianópolis e divulgação nas escolas Públicas e comunidade interna. Portanto o projeto envolve uma pesquisa quantitativa com os educandos e qualitativa com os profissionais. OBJETIVOS: Promover a construção de material didático sobre as áreas de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, através de vídeos, que subsidie o processo ensino aprendizagem dos educandos e auxilie na divulgação Institucional. CONCLUSÃO: A pesquisa com os educandos possibilitou confirmar que a maior parte dos alunos que ingressam no ensino médio integrado é primeiramente para completar um ensino médio gratuito e de qualidade. No entanto, a permanência e continuidade na área está diretamente relacionada às informações disponíveis sobre o mundo do trabalho dos cursos e oportunidades do mercado de trabalho. Portanto, a divulgação dos vídeos poderá contribuir na escolha dos futuros estudantes da comunidade externa e interna do IF-SC de São José e permanência dos mesmos. PALAVRAS-CHAVE: permanência e êxito; informação profissional; divulgação, vídeos. INTRODUÇÃO

O presente projeto de extensão surgiu a partir dos Encontros Pedagógicos do IF-SC Campus São José, nos relatos dos educandos do ensino médio integrado, ao apresentarem muitas dúvidas com relação às disciplinas da área técnica. Observou-se reclamações recorrentes, quanto à falta de informações concretas sobre a atuação profissional nas áreas dos cursos que a Instituição oferece. Apesar da escola proporcionar “saídas técnicas” com as turmas, os educandos continuam verbalizando na preparação dos Encontros Pedagógicos a necessidade deles terem mais palestras e estímulo para gostarem do curso, aprofundamento sobre o

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conhecimento na área escolhida, vídeos, entrevistas informativas, visitas nas empresas da Grande Florianópolis, etc. Neste sentido, o projeto tem uma proposta educativa, sobre as profissões das áreas de Telecomunicações e Refrigeração e Climatização, através da construção e elaboração de vídeos. O produto final (vídeos) subsidiará o processo ensino aprendizagem dos alunos do Campus São José, bem como auxiliará a divulgação da Instituição na comunidade externa, nas escolas públicas da Grande Florianópolis, no que se refere aos cursos oferecidos e as possibilidades de atuação futura. Desta forma, será possível corrigir distorções no processo de divulgação, atraindo para a Instiuição o público que realmente deseja atuar nas áreas dos cursos técnicos ofertados. O objetivo é promover a construção de vídeos sobre as áreas de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização. Em uma pesquisa realizada nos Encontros Pedagógicos (2012.1) no curso integrado de Telecomunicações, nas 5ª fases questionou-se se eles se identificavam com a área escolhida. Dos 45 educandos presentes, 16 responderam que sim, 17 pouco e 12 não, ou seja, 64% não tinham certeza que gostavam ou se identificavam-se com a área escolhida. Este resultado mostrou a importância da Instituição realizar ações para atrair o público que realmente tem interesse em atuar na área, considerando-se também o investimento que o Governo Federal faz em cada aluno que entra no Instituto Federal. METODOLOGIA

O processo de construção dos vídeos envolve primeiramente uma pesquisa com todos os educandos, professores e profissionais da área que já atuam no mercado de trabalho, na área de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, das empresas da Grande Florianópolis e divulgação nas escolas Públicas e comunidade interna. Portanto o projeto envolve uma pesquisa quantitativa com os educandos e qualitativa com os profissionais, dividida nos seguintes momentos: 1º Momento Pesquisa com os educandos do ensino médio integrado em Telecomunicações e Refrigeração. Até o presente momento foi aplicado um questionário para o curso de Telecomunicações e outro para Refrigeração. (Anexo 1 e 2) Ao total foram respondidos 222 questionários de Telecomunicações e 227 de Refrigeração. A partir das resposta abertas respondidas pelos educandos, sobre as curiosidades sobre as áreas profissionais de cada curso, foi possível construir um roteiro de perguntas para os profissionais entrevistados. 2º Momento Contato com as empresas de Telecomunicações e Refrigeração da Grande Florianópolis para firmar uma parceria com o projeto. 3º Momento As empresas que interessaram-se pelo projeto, disponibilizaram os profissionais da área para realizar uma entrevista e mostrar nos vídeos as suas rotinas de trabalho e responder principalmente, as dúvidas dos educandos que responderam inicialmente os questionários. Os entrevistados tem sido escolhidos a partir dos seguintes critérios: ex-alunos do Instituto Federal, alunos e estagiários. 4º Momento Elaboração e edição dos vídeos 5º Momento

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Divulgação na comunidade interna da escola e, posteriormente,e na comunidade externa. A divulgação na comunidade externa,consiste na apresentação da escola e vídeos propostos, nas principais escolas públicas da Grande Florianópolis, pois conforme a pesquisa realizada, a inserção dos candidatos no Instituto Federal, no ensino médio integrado, não tem sido realizada com muitas informações claras sobre os cursos técnicos oferecidos. OBJETIVOS

Promover a construção de material didático sobre as áreas de Telecomunicações e Refrigeração/Climatização, através de vídeos, que subsidie o processo ensino aprendizagem dos educandos e auxilie na divulgação Institucional. 1- Investigar os questionamentos e dúvidas dos educandos do Campus São José, referente à área profissional dos cursos oferecidos; 2- Elaborar roteiro e instrumentos de entrevistas para aplicação com os profissionais da área; 3- Congregar profissionais que atuam na área para participarem das entrevistas e construção dos vídeos; 4- Elaborar vídeos, a partir das entrevistas com os profissionais; 5- Promover divulgação dos cursos ofertados no Campus São José, na comunidade externa, com o material produzido; 6- Construir um blog com a divulgação de todos os vídeos e empresas parceiras do Projeto RESULTADOS PARCIAIS – Pesquisa com educandos Figura 01 – Conhecimento sobre a área técnica ao ingressar no IF-SC – curso de telecomunicações

FONTE: Questionário aplicado com educandos Figura 02 – Conhecimento sobre a área técnica ao ingressar no IF-SC – curso de refrigeração

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FONTE: Questionário aplicado com educandos

Tabela 01 – Como o educando avalia as informações sobre a profissão do seu curso

IMPORTÃNCIA TELE RAC

ÓTIMAS SUFICIENTES PÉSSIMAS

11%

71%

18%

19%

68%

13%

FONTE: Questionário aplicado com educandos ÓTIMAS. (Tenho todas a informações necessárias ).

SUFICIENTES. (Tenho informações suficientes, mas ainda sinto necessidade de saber mais).

PÉSSIMAS. (As informações disponíveis estão confusas).

Tabela 02 – Sugestões para melhorar o curso: Entrevistas com profissionais da área

importância Respostas %

1( importantissimos) 2 (importante) 3 (mediano) 4(pouco) 5( pouquíssimo)

58 60 48 17 25

28 29 23 8

12

Fonte: Questionário aplicado com 222 educandos/Tele

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Não. Sim. Pouco.

21%29%

50%

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Tabela 02 – Vídeos produzidos

Empresas Área vídeos

Pontual Refrisul ENTRAC MIGRARE INTELBRÁS DÍGITRO

Tele RAC RAC RAC TELE TELE

3 3 3 1

Andamento Andamento

Fonte: Vídeos produzidos RESULTADOS ESPERADOS/IMPACTO SOCIAL A divulgação dos vídeos na comunidade interna proporcionará informações concretas sobre o mundo do trabalho, aperfeiçoamento das informações disponíveis sobre as possibilidades de atuação e conseqüentemente ressignificado no processo ensino aprendizagem dos cursos técnicos ofertados no Câmpus São José, o que pode desencadear a diminuição da evasão e a melhoria no processo seletivo de ingresso. Considerando-se que estamos em uma era visual, os recursos visuais (vídeos) são ótimos instrumentos de aprendizagem e divulgação. O aprimoramento da divulgação institucional através dos vídeos poderá atingir o público-alvo do IFSC, que são alunos de escolas públicas, em vulnerabilidade social, que necessitam e desejam fazer um curso técnico para entrar no mercado de trabalho e obter uma formação de qualidade.

1- PRODUTOS - Vários vídeos de curta duração e fotos sobre as possibilidades de atuação na área de Telecomunicações e , requisitos, atribuições dos profissionais, mercado de trabalho, etc. - Vários vídeos de curta duração e fotos sobre as possibilidades de atuação na área de Refrigeração/Climatização, requisitos e atribuições dos profissionais, mercado de trabalho, etc. - Um blog, com todos os vídeos produzidos e divulgação das empresas parceiras

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa com os educandos possibilitou confirmar que a maior parte dos alunos que ingressam no ensino médio integrado é primeiramente para completar um ensino médio gratuito e de qualidade. No entanto, a permanência e continuidade na área está diretamente relacionada às informações disponíveis sobre o mundo do trabalho dos cursos e oportunidades do mercado de trabalho. Portanto, a divulgação dos vídeos poderá contribuir na escolha dos futuros estudantes da comunidade externa e interna do IF-SC de São José e permanência dos mesmos. Conforme SOARES (2012), a vocação não existe. O ser humano não nasce para uma profissão, porém sofre influência de toda sua história pessoal, onde nasceu, como viveu, as oportunidades na vida para experimentar e possibilidades futuras. Partindo-se desse pressuposto, os alunos do ensino médio integrado do Instituto Federal, Campus São José, ao concluírem o curso podem ter todas as ferramentas necessárias para continuar na área, especialmente os alunos de telecomunicações.

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Porém, a falta de informações sobre as profissões das áreas de cada curso, pode levar esses adolescentes a mudarem suas opções para outras áreas, ao término dos cursos, pois as opções no mundo do trabalho são muitas. O ensino médio integrado é um curso de quatro anos, onde as matérias técnicas diluem-se ao longo deste período. No entanto, para que os educandos permaneçam ou sigam na área, é fundamental o aprimoramento das informações sobre a profissão e possibilidades de atuação no mundo do trabalho. REFERÊNCIAS DORE.R.;LUSCHER, A.Educação profissional e evasão escolar. In;Encontro Internacional de Pesquisadores.3.Anais.UFRGS,2008.v1p.197-203 LUCCHIARI, DULCE HELENA PENNA SOARES. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993 SOARES, DULCE HELENA PENNA. A escolha profissional: do jovem ao adulto.São Paulo:Summus, 2002.

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POC20 - MODELO PSICOSSOCIAL DE GERENCIAMENTO DE CARREIRA (MPG-C)

De Andrade, AL 1; Borges, LFB 2; Pissaia, AT 3; 1 - Universidade Federal do Espírito Santo - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica - AMP; 2 - Instituto Federal do Espírito Santo; 3 - Universidade Federal do Espírito Santo - Laboratório de Avaliação e Mensuração Psicológica; Enquanto as vinculações com o trabalho antigamente prezavam pela dependência do trabalhador à Organização, as novas formas de relação entre indivíduo e trabalho nutrem a possibilidade de caminhos de independência e prezam por valores menos paternalistas e mais autônomos. Observa-se uma forma de construção da carreira com maior flexibilidade da empresa e da capacidade de adaptação, mudança e planejamento por parte do empregado. De maneira geral, a formação de graduação permeia diferentes atitudes e percepções quanto ao futuro profissional e gerenciamento dos estudantes sobre suas respectivas carreiras. Esta pesquisa possui por objetivo descrever um modelo de gerenciamento de carreira tomando como base os seguintes fenômenos: gerenciamento de carreira, personalidade, lócus de controle e valores. Participaram deste estudo 356 alunos de diferentes cursos de uma Universidade Federal do Sudeste, destes 180 eram do sexo masculino e 176 do feminino. A média de idade dos participantes foi de 23,61 anos (desvio padrão 1,50 anos). Os resultados do modelo foram obtidos a partir de procedimentos de equações estruturais e revelaram a relação entre personalidade, lócus de controle e valores com aspectos de gerenciamento de carreira e expectativa de mercado. Aspectos específicos de neurotiscimo e lócus de controle externo do modelo associaram-se com um perfil de não gerenciamento de carreira. Traços de consciensiosidade, lócus interno e valores de realização, por sua vez associaram-se como perfil de gerenciamento e expectativas positivas de mercado. PALAVRAS-CHAVE: planejamento de carreira; equações estruturais; expectativa de mercado.

Segundo o dicionário Houaiss (2012), a palavra carreira possui diversos significados, no entanto, quando atrelada ao quesito trabalho, depreende-se a seguinte ideia: “profissão que oferece oportunidades de progresso ou em que há promoção”. Essa ideia, entretanto, reflete o modo tradicional de se conceber carreira, que vigorou até os anos 70, cujas principais características são: empregos duradouros, estabilidade e possibilidades de ascensão dentro da Organização (Chanlat, 1995).

Com relação aos novos padrões de carreira, Campos (2006) enfatiza que enquanto os contratos de trabalho antigos prezavam pela dependência do trabalhador à Organização, os novos nutrem a independência desse e prezam por valores menos paternalistas e mais autônomos. Esboçam, assim, a necessidade de flexibilidade da empresa e da capacidade de adaptação, mudança e planejamento por parte do empregado.

Em se tratando de futuros profissionais, provenientes de uma formação de nível superior, Teixeira e Gomes (2005) expõem que estes terminam a graduação com diferentes atitudes e percepções quanto ao futuro profissional e gerenciamento

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de suas respectivas carreiras. Para os autores, alguns se apresentam confiantes, traçam metas e procuram alcançá-las. Outros, por sua vez, concluem o curso sem saber o que fazer. Além disso, conforme Balassiano, Ventura e Fontes Filho (2004), embora existam jovens que expressem o desejo de se alinhar às novas mudanças e autogerirem suas carreiras, existem aqueles que sonham com a possibilidade de fazer carreira nos moldes do conceito tradicional, transferindo as responsabilidades de seu desenvolvimento para a empresa.

Considerando a nova demanda quanto ao gerenciamento de carreira, o presente estudo tomará por base a Carreira Proteana, teoria introduzida por Douglas T. Hall e que tem inspiração no mito de Proteus, um deus do mar que tinha o dom da profecia e valia-se da metamorfose para poder esconder dos outros seus conhecimentos (Volmer & Spurk, 2011). A carreira proteana, atualmente, assenta-se sobre dois pilares denominados “values-driven” e “self-directed” ou “direcionamento para valores” e “autogerenciamento”, respectivamente. Segundo Hall e Moss (1998), o sucesso neste caso é mensurado por critérios internos ao indivíduo, e não, necessariamente, por referências externas como salário, promoções e status da profissão.

Em relação ao direcionamento para valores, o termo faz referência à ideia de que os valores internos do indivíduo é que orientam sua carreira, bem como o auxiliam na mensuração do sucesso. Desse modo, indivíduos com atitudes de carreira proteana guiam suas carreiras de acordo com seus valores pessoais e não conforme os valores organizacionais. Em relação ao autogerenciamento, tem-se a ideia de uma independência na forma de conduzir a carreira (Briscoe et al., 2006), a carreira nesta perspectiva passa a ser desenhada mais pelo indivíduo do que pela Organização e tem a possibilidade de ser redirecionada, constantemente, para atender às necessidades da pessoa.

Os autores apresentam, ainda, outras características do contrato da carreira proteana, que são: 1) A carreira é gerenciada pelo indivíduo e não pela organização; 2) A carreira é uma série de experiências, habilidades, aprendizados, transições e mudanças de identidade; 3) O desenvolvimento é baseado num aprendizado contínuo, é autodirigido, relacional e atrelado a desafios no trabalho. Assim, o desenvolvimento não é, necessariamente, baseado em treinamentos formais, em processos de reciclagem ou numa mobilidade ascendente; 4) Os ingredientes para o sucesso mudam de perspectiva do “saber-como” para o “aprender-como”, do emprego seguro para a empregabilidade e da carreira organizacional para a carreira proteana; 5) Cabem às Organizações fornecerem: tarefas desafiadoras, informações e relações de desenvolvimento.

Considerando a importância dada ao indivíduo no processo de gerenciamento de sua carreira, são abordadas, também neste estudo, outras três variáveis: Lócus de controle, Valores Humanos e Personalidade. A primeira embasar-se-á na Teoria de Levenson (1974). Enquanto construto psicológico, o fenômeno Lócus de Controle foi inicialmente trabalhado por Rotter (1966) e pode ser entendido como a percepção do sujeito quanto à fonte de controle de eventos em sua vida. Levenson (1974), aprimorando o conceito de Lócus de Controle, propôs três dimensões de lócus: a dimensão pessoal (controle do próprio indivíduo), a dimensão social (terceiros controlando a vida do sujeito) e a dimensão impessoal (relacionada à sorte, ao acaso ou ao destino).

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Em relação aos valores humanos, diferentes são as contribuições teóricas para entendimento do construto, sendo que nesta pesquisa optou-se pela Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (Gouveia, 2003). Conforme Gouveia (2003) são quatro as suposições gerais sobre a teorias de valores, a saber: 1) A natureza humana benevolente do ser humano – de acordo com esta suposição, aceita-se somente a existência de valores positivos; 2) o funcionamento dos valores como princípios-guia individuais; 3) a concepção dos valores como representações cognitivas das necessidades humanas e 4) o caráter terminal dos valores. Rokeach (1973) dividia os valores em instrumentais e terminais, entretanto, considera-se, na teoria em questão, apenas esses últimos (Gouveia, 2008). Neste modelo teórico os valores são entendidos como expressões das necessidades humanas, ordenados conforme o nível de importância para o indivíduo e com função de princípios-guia na vida da pessoa.

Por fim, o construto personalidade abarca diferentes definições, no entanto, o modelo dos cinco grandes fatores tem ganhado expressão e respaldo na última década. Em 1949, Donald Fisk, por meio de Análises Fatoriais, verificou serem necessárias apenas cinco variáveis para descrever tal conceito, propondo assim o modelo mundialmente conhecido como os Cinco Grandes Fatores da Personalidade – “big five” (Goldberg, 1993). De acordo com essa proposta, têm-se os seguintes fatores: 1) Extroversão – refere-se ao quanto o indivíduo é ativo socialmente, ao exercício de um alto nível de atividade e a uma necessidade de estimulação; 2) Socialização – caracteriza-se por tendências pró-sociais, de lealdade ao próximo; 3) Conscienciosidade – representa níveis de organização, persistência e motivação para alcançar objetivos; 4) Neuroticismo – relaciona-se a características como ansiedade e afetos negativos; 5) Abertura – abrange comportamentos exploratórios com valorização de novas experiências (Costa &Mc Crae 2007); Nunes & Hutz, 2002).

OBJETIVOS

Considerando todos os aspectos anteriormente mencionados, o presente trabalho possui por objetivo compreender os diferentes aspectos de gerenciamento de carreira de universitários, bem como compreender a relação existente entre lócus de controle, valores humanos, personalidade e estratégias de autogerenciamento de carreira entre os estudantes. MÉTODO Participantes

Participaram da pesquisa 359 alunos de diferentes cursos de uma Universidade Federal do Sudeste, destes 180 eram do sexo masculino e 176 do feminino. Todos os participantes estavam matriculados na metade final do curso, sendo a grande maioria dos participantes enquadrados no último ano da graduação. A média de idade dos participantes foi de 23,61 anos (desvio padrão 1,50 anos). Instrumentos

a) Questionário Sócio Demográfico – O questionário sociodemográfico possuiu 10 questões que tinha por objetivo caracterizar os participantes com levantamento de informações sobre o sexo, o estado civil, profissão dos pais, renda familiar e o curso. b) Escala Gerenciamento de Carreira para Estudantes – Tal

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medida foi desenvolvida com base na escala de Atitudes de Carreira Proteana de Briscoe, Hall e DeMuth (2006) com 15 itens e a finalidade de mensurar as dimensões de “autogerenciamento do processo de carreira” e “construção de uma carreira por valores”, a confiabilidade alfa de Cronbach do instrumento variou de 0,76 a 0,71. c) Escala de Lócus de Controle de Levenson – Instrumento validado no Brasil por Dela Coleta (1987), a medida apresenta duas dimensões: interna (I) e Externa, sendo esta última dividida em Acaso (C) e Outros Poderosos (P). Cada uma dessas subescalas apresentou os seguintes alfas de Cronbach: 0,50; 0,63 e 0,62. d) Questionário dos Valores Básicos – QVB – Esse questionário foi proposto por Gouveia (2003) e é composto por 18 itens, que estão distribuídos de forma igualitária, entre as 6 funções psicossociais descritas no modelo teórico. Os índices de confiabilidadedas funções psicossociais, baseados no alfa de Cronbach, variaram entre 0,41 e 0,59 (Gouveia, 2003). e) Marcadores reduzidos de personalidade no modelo dos cinco grandes fatores – Instrumento de 25 itens que caracteriza os Cinco Grandes Fatores da Personalidade.

Procedimentos

Seguindo as normas do Conselho Nacional de Saúde (CNS 196/96), a proposta de pesquisa foi inicialmente analisada em termos de sua viabilidade pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal do Espírito Santo (248.810). A coleta de dados foi realizada de forma coletiva nas salas de aula de uma universidade do sudeste brasileiro. Inicialmente contatos foram feitos com professores e coordenadores, ao se constatar disponível, o pesquisador instruia os alunos sobre os objetivos da pesquisa e realizava o convite de participação. Com a aceitação, o questionário era entregue ao participante e no processo de preenchimento o pesquisador ficava à disposição para quaisquer dúvidas que os participantes tivessem. Concluído o processo, o termo de consentimento livre e esclarecido era entregue em duas cópias e assinado pelo participante, atendendo assim as normas vigentes.

Para análise dos dados utilizou-se o auxílio do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0 e Amos (Analysis of Moment Structures) versão 7.0. Inicialmente, realizaram-se cálculos de estatística descritiva com todos os itens da escala. Partindo de um pressuposto analítico-quantitativo a técnica de análise base para esta parte do estudo foi a modelagem de equações estruturais (Kline, 2005; Byrne, 2010). O objetivo da análise empregada foi testar modelos explicativos determinantes do gerenciamento de carreira. Para construção dos modelos foi utilizada uma análise de parcela dos itens (Coelho, 2009), foram computadas as médias de cada um dos fatores, obtendo assim um valor representante de cada dimensão das medidas utilizadas, sendo este tomado como a variável observada na condução da construção dos modelos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O modelo resultante de melhor ajuste é apresentado na Figura 1. Os indicadores de ajuste foram todos adequados: [χ2 = 108,360, g.l. = 40 (p < 0,001), χ2 /gl = 2,709, RMR = 0,035, GFI = 0,95, AGFI = 0,92, CFI = 0,90, RMSEA (90%CI) = 0,06 (0,054 – 0,085)].

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Figura 1. Modelo psicossocial de gerenciamento de carreira.

Com base no modelo, percebe-se dois perfis de base associados a aspectos

de gerenciamento de carreira. O primeiro perfil, chamado proteano, configura-se por traços de personalidade de conscieciosidade, valores de realização e lócus de controle interno. Tal perfil prediz significativamente aspectos de gerenciamento de carreira entre universitários. Este por sua vez associado tanto ao autogerenciamento do processo de carreira quanto à construção de uma carreira por valores. Tal perfil possui por consequência uma relação também positiva de predição de expectativas de trabalho, envolvendo níveis elevados de satisfação com o mercado e o investimento no curso de formação.

Conforme dados de diferentes pesquisas, o traço de realização associa-se comumente com aspectos positivos de desempenho no trabalho e cumprimento de tarefa (Nunes & Hutz, 2002). Nesta mesma orientação, o lócus de controle interno,

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centralizando ações e consequências dos mais diferentes eventos no próprio indivíduo, direciona maior responsabilidade pessoal para as decisões e eventos da vida. Estes aspectos, somados aos valores de realização (êxito, prestígio) do modelo de valores básico, estruturam um perfil de indivíduo de maior propensão ao engajamento gerencial de carreira e futuro comportamento proteano de trabalho.

O segundo perfil, chamado de não-proteano, equaciona características profissionais do tipo desistente frente ao processo de carreira. Tal perfil elenca traços de neuroticismo e lócus de controle externo. O traço de neuroticismo associa-se com aspectos emocionais da personalidade, pessoas com pontuações elevadas neste traço são normalmente mais sensíveis e instáveis do ponto de vista emocional (Costa & Mc Crae 2007). O lócus de controle externo, por sua vez, caracteriza indivíduos que atribuem demasiadamente os eventos e consequências das suas vidas a elementos de causalidade externa, por exemplo, sorte e acaso. Pessoas com essa característica não se colocam no papel central das decisões sobre a vida.

O perfil não proteano, conforme o modelo, associa-se com aspectos negativos de saúde, compreendidos no modelo por indicadores de ansiedade e depressão. Do ponto de vista de gerenciamento de carreira, indivíduos com este perfil não possuem gerenciamento adequado segundo o modelo bidimensional. O perfil não proteano possui ainda relação negativa com expectativa de trabalho, pessoas com estas características percebem de forma mais negativa sua inserção profissional.

Observa-se a partir dos resultados apresentados um modelo individual de carreira parcimonioso, porém explicativo de aspectos centrais de gerenciamento, saúde e percepção futuras de trabalho. Os dados ainda são exploratórios e aspectos associados a curso, inserção profissional devem fazer parte de futuras pesquisas. Quanto ao emprego de técnicas de modelagem de equações estruturais, tais procedimentos mostram-se válidos para compreensão de fenômenos psicossociais, como o caso do gerenciamento e planejamento de carreira. REFERÊNCIAS Balassiano, M., Ventura, E. C. F., & Fontes Filho, J. R. (2004). Carreiras e cidades: existiria um melhor lugar para se fazer carreira? Revista de Administração Contemporânea, 8, 99-116. Recuperado de http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552004000300006 . Briscoe, J. P., Hall, D. T., & DeMuth, R. L. F. (2006). Protean and boundaryless careers: An empiricalexploration. Journal of Vocational Behavior, 69, 30-47.Recuperado de http://dx.doi.org.ez120.periodicos.capes.gov.br/10.1016/ j.jvb. 2005.09.003. Campos, K. C. d. L. (2006). Construção de uma Escala de Empregabilidade:competências e habilidades pessoais, escolares e organizacionais. (Doutorado), Universidade de São Paulo, São Paulo. Chanlat, J.F. (1995). Quais carreiras e para qual sociedade? . Revista da Administração de Empresas, 35 (6),67-75. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n6/a08v35n6.pdf. Costa, P. T., Jr., & McCrae, R. R. (2007). NEO PI-R: Inventário de personalidade NEO revisado e inventário de cinco fatores NEO revisado NEO-FFI-R [Versão curta]. São Paulo: Vetor Editora Psico-Pedagócica.

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Dela Coleta, M. F. (1987). Escala multidimensional de locus de controle de Levenson. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 39, 79-97. Goldberg, L. R. (1992). The development of markers for the Big-Five factor structure. Psychological Assessment, 4, 26-42. Gouveia, V. V. (2003). A natureza motivacional dos valores humanos: evidências acerca de uma nova tipologia Estudos de Psicologia, 8, 431-443. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n3/19965.pdf Gouveia, V. V. Milfont, T. L. Fisher, R.& Santos, W. S. (2008). Teoria Funcionalista dos Valores. In. Teixeira, M. L. M. (Eds), Valores Humanos e Gestão: Novas Perspectiva(pp. 47-80). São Paulo: SENAC Editora. Hall, D. T., & Moss, J. E. (1998). The New Protean Career Contract: Helping Organizations and Employees Adapt. Organizational Dynamics. Houaiss, A. (Ed.) (2012) Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. Recuperado de http://houaiss.uol.com.br/ Levenson, H. (1974). Activism and powerfui others: Distinctions within the concept of internal versus external control. Journal of Personality Assessment, 38, 377-383. Nunes, C. H. S. S. & Hutz, C. S. (2002). O modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade. Em R. Primi (Org.), Temas em avaliação psicológica (pp. 40-49). São Paulo: Casa do Psicólogo. Oliveira, M. Z. d., Zanon, C., Silva, I. S. d., PinhattiI, M. M., Gomes, W. B., & Gauer, G. (2010). Validação da Versão Brasileira da Escala de Atitudes de CarreiraSem-Fronteiras. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62, 106-114. Recuperado de http://146.164.3.26/index.php/abp/article/view/680/476 Rotter, J. B. (1966). Generalized expectancies for internal versus external control of reinforcement. Psychological Monographs 80. Volmer, J., & Spurk, D. (2011). Protean and boundaryless career attitudes: relationships with subjectiveand objective career success. ZAF, 43, 207-218. DOI 10.1007/s12651-010-0037-3 Teixeira, M. A. P., & Gomes, W. B. (2005). Decisão de Carreira entre Estudantes em Fim de Curso Universitário. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21, 327-334. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/ptp/v21n3/a09v21n3.pdf

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POC21 - PERCEPÇÃO DAS MÃES QUE TRABALHAM SOBRE O IMPACTO DA SUA AUSÊNCIA NA RELAÇÃO COM O FILHO

Pimentel LCF 1; Stolaruk EP 1; 1 - Faculdade Metropolitana de Blumenau/Uniasselvi; Este trabalho se insere nas discussões sobre as transformações que o mundo do trabalho vem atravessando nos últimos anos e como estas repercutem na subjetividade dos indivíduos. Seu objetivo foi investigar a percepção das mães que trabalham sobre o impacto da sua ausência na relação com o filho, quais seus sentimentos e alternativas para lidar com o distanciamento do filho enquanto trabalha. A pesquisa se justifica pela entrada da mulher no mercado de trabalho, de onde emergiu a necessidade de conciliação da maternidade com as atividades profissionais. Na literatura cientifica, são escassos os trabalhos realizados visando à tríade mulher, trabalho e maternidade, embora se encontre trabalhos direcionados especificadamente ou para o trabalho feminino ou para a maternidade. Participaram da pesquisa 11 mães que exerciam atividade remunerada fora do ambiente doméstico. A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada e de um questionário. Os instrumentos foram aplicados no próprio local de trabalho das mulheres. Os resultados revelaram que algumas mulheres sentiam culpa e ansiedade em função do pouco tempo que passavam com os filhos, enquanto outras relataram mais facilidade para lidar com a sua ausência. Sendo comum a mãe que trabalha ter sentimentos de que passa pouco tempo com o filho ou que perde etapas do seu desenvolvimento. Mesmo considerando que era difícil ficar longe do filho, a maioria das mães não se dedicaria somente a maternidade, caso pudesse fazer essa opção. Embora algumas mães tenham expressado que trabalhar era uma necessidade, também foi relatado que do trabalho emergia sentimentos de autonomia e independência. Essas mulheres tentavam conciliar as demandas dos filhos com as da profissão e tanto a maternidade como o trabalho se configuravam como campos centrais na vida dessas mulheres.

PALAVRAS-CHAVE: mulher; maternidade; trabalho.

Este trabalho se insere nas discussões a respeito das transformações que o mundo do trabalho vem atravessando nos últimos anos e como estas repercutem na subjetividade dos indivíduos. Seu objetivo foi investigar a percepção das mães que trabalham sobre o impacto da sua ausência na relação com o filho, quais seus sentimentos, crenças e alternativas para lidar com o distanciamento do filho enquanto estão no local de trabalho. A pesquisa se justifica pela entrada da mulher no mercado de trabalho, de onde emergiu a necessidade de conciliação da maternidade com as atividades profissionais, gerando a ausência da mãe da rotina do filho.

Na literatura cientifica, são escassos os trabalhos realizados visando à tríade mulher, trabalho e maternidade, embora se encontrem trabalhos direcionados especificamente para o trabalho feminino ou para a maternidade.

A pesquisa foi realizada na cidade de Blumenau (SC) entre o fim do mês de agosto e inicio de setembro de 2012. Participaram da pesquisa 11 mães que

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exerciam atividade remunerada fora do ambiente doméstico e que possuíam vínculo empregatício com o empregador. A faixa etária das mulheres variava entre 20 e 45 anos. Todas as participantes tinham pelo menos um filho na faixa etária de 0 a 17 anos de idade. A idade das mulheres foi definida em função da idade dos filhos, ou seja, as mães deveriam ter filhos com menos de 18 anos de idade, supondo-se que devido a baixa idade são mais dependentes da mãe.

Desse modo, como método de inclusão/exclusão na pesquisa adotou-se a faixa de idade dos filhos das participantes e o fato das mulheres possuírem vínculo com o local de trabalho, fosse com carteira assinada ou contrato de trabalho. A participação dos filhos foi vetada, pois a temática era voltada total e exclusivamente para as mães. Importante esclarecer que não foram considerados como parâmetros para a participação ou exclusão na pesquisa a cor de pele, etnia, estado de saúde, classe ou grupo social e posição dentro da empresa. No entanto, das 11 mulheres pesquisadas, 5 trabalhavam no setor administrativo, 3 se revezavam como auxiliar médico e atendimento ao público e 3 possuíam cargo de liderança.

Quanto aos filhos, como complemento aos resultados obtidos com a pesquisa junto as mães, vale citar que 3 crianças possuíam entre 0 e 5 anos de idade, 4 crianças tinham entre 6 e 11 anos e 5 adolescentes entre 12 e 17 anos. Referente aos cuidados com os filhos, segundo relatado pelas mães, 2 crianças alternavam os horários entre escola/creche e babá, 5 crianças escola/creche/ família, 1 dos filhos se dividia entre os cuidados de familiares (avó, tia, etc.) e 3 adolescentes estudavam meio período e no período seguinte ficavam em casa sozinhos mas recebiam assistência da avó ou tia.

A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada e de um questionário. O objetivo de utilizar esses dois instrumentos era de verificar se as informações obtidas com apenas um deles se confirmavam com o outro. Anteriormente, os instrumentos foram submetidos e aprovados por um Comitê de Ética em Pesquisa com Pessoas, tendo recebido, por isso, um número de protocolo. A entrevista semiestruturada foi realizada individualmente com cada participante, tendo o tempo de 1 hora para cada entrevista e de um questionário aplicado coletivamente. Os instrumentos foram aplicados no próprio local de trabalho das mulheres com data previamente definida com a gestão local, tendo uma sala reservada para essas atividades.

Contudo, antes das mulheres participarem da pesquisa, elas foram convidadas e receberam explicação sobre como seria o processo, a confidencialidade de suas identidades e também sobre a possibilidade de desistência a qualquer momento, caso não se sentissem mais a vontade para participar. As participantes foram informadas ainda, que a pesquisa era um trabalho acadêmico e que, portanto, não haveria qualquer tipo de bonificação ou remuneração por terem aceito participar. Sendo assim, de livre e espontânea vontade as mulheres assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Esse trabalho configura-se como exploratório e qualitativo. Os dados resultantes da entrevista foram transcritos em relatório com nomes fictícios para cada participante, as falas das mulheres foram divididas em categorias conforme a pergunta realizada. Os dados do questionário foram transformados em percentual e dispostos numa tabela. Em seguida, os dados das entrevistas foram mesclados com os dados dos questionários visando melhor análise e compreensão do tema.

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Os resultados encontrados revelaram que 7 mulheres sentiam culpa e ansiedade em função do pouco tempo que passavam com os filhos, enquanto 4 relataram mais facilidade para lidar com a sua ausência. No entanto, é comum a mãe que trabalha ter sentimentos de que passa pouco tempo com o filho ou que perde etapas do seu desenvolvimento.

Entretanto, mesmo considerando que era difícil ficar longe do filho, 8 mães não se dedicariam somente a maternidade, caso pudessem fazer essa opção. Embora 7 mães tenham expressado que trabalhar era uma necessidade, também foi relatado que do trabalho emergiam sentimentos de autonomia e independência. Ou seja, as mulheres tentavam conciliar as demandas dos filhos com as da profissão e, tanto a maternidade como o trabalho se configuravam como campos centrais na vida dessas mulheres, podendo gerar prazer e realização.

A percepção das mães em relação ao fato de se ausentarem do convívio com o filho para 7 das entrevistadas, foi de sentimentos ruins, tendo sido demonstrado que se sentiam mal com a situação. Outras 4, referiram lidar bem com o fato, sem culpa ou transtornos maiores e acreditavam que filho não era empecilho para o trabalho. Como alternativa para estar mais próximas dos filhos, foi referenciado por 4 mães o desejo de trabalhar meio período, porém, há que se considerar que em alguns momentos, existe uma cobrança do filho para que a mãe seja mais presente, nesses casos, havia uma tendência para que os sentimentos ambíguos fossem mais exacerbados, principalmente quando o filho estava doente ou até mesmo quando ele cobrava a mãe pela ausência. Como nem sempre há possibilidade de trabalhar meio período nos empregos atuais, uma alternativa encontrada por 8 mães para manter contato com o filho no decorrer do expediente de trabalho foi o uso de telefone. Sendo que 10 consideraram que nunca ou raramente a maternidade interferia no trabalho, mesmo precisando telefonar para o filho no horário de expediente.

Percebeu-se ainda, que o fato da mãe trabalhar e com isso perder algumas etapas de desenvolvimento do filho, afetava negativamente o sentimento de mãe. Entretanto, na população estudada não houve relação de angústia por trabalhar e idade dos filhos, o que não pode ser relacionado com maior ou menor autonomia dos filhos. Deste modo, é possível que o sentimento estivesse mais atrelado a questões individuais das mães como, sentimentos com relação ao filho e ao trabalho, traços de personalidade da mãe (mais ou menos ansiosa), a estabilidade que essa mulher tem na relação com o filho, a forma como ela se percebe nas relações.

Apesar de 4 mães lidarem bem com a ausência, vale ressaltar que a maioria, 6 mulheres, gostariam de estar mais presente e, se pudessem, 4 trabalhariam meio período. Esses dados corroboram os dados descritos na revisão de literatura de Oliveira et al. (2011) onde são mencionadas pesquisas feitas com mães de várias nacionalidades como, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, Suécia, entre outros. Os resultados do trabalho citado são comparáveis com as informações obtidas pelas mães participantes desta pesquisa, já que é encontrada uma relação entre o fato de as mães terem uma preferência por realizar atividades remuneradas em regime de tempo parcial em ambos os casos.

Para Pinto e Garcia (2011) é comum a mãe que trabalha ter sentimentos de que passa pouco tempo com o filho ou de que perde etapas do seu desenvolvimento. Essa informação pode ser pareada com o fato de 10 mulheres considerarem que sempre ou quase sempre acreditavam que o filho estivesse se

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desenvolvendo bem, mas que seria melhor se estivessem mais presentes na rotina deles. Em contrapartida, quando questionadas sobre o quanto acreditavam que acompanhavam o desenvolvimento do filho, 5 mães concordaram que mesmo com a rotina de trabalho acompanhavam o desenvolvimento do filho de perto. Talvez tivessem perdido uma ou outra fase, mas isso não influenciou o desenvolvimento do filho e nem a relação entre ambos, sendo que 6 mães concordaram em partes com a mesma afirmação.

Desse modo, percebeu-se que as mães tinham o desejo de compartilhar mais momentos com o filho na rotina diária, entretanto entendiam que a sua ausência não influenciava diretamente na sua relação com o mesmo. Aqui, é possível fazer uma relação com a idéia de “igualdade materna” citada por Moreira e Nardi (2010) pois foi instituído e naturalizado, nas últimas décadas, um modo ideal de exercer a maternidade, sendo que esse modo diz mais respeito a um tipo idealizado de maternidade do que ao real. Isso pode ser evidenciado na população estudada, ao verificar-se que paralela à satisfação e ao sentimento de realização por exercer uma atividade remunerada, essas mães relataram sentimentos de culpa e desconforto com a situação; desejo de ter mais tempo para ficar com o filho; embora tenham afirmado que não deixariam de trabalhar para se dedicar somente a maternidade. É possível considerar ainda que o trabalho era, em alguns momentos, o meio pelo qual as mães poderiam comprar coisas que o filho gostasse e/ou precisasse.

Quando questionadas sobre como se sentiam ao deixar o filho aos cuidados de escola/creche ou não poder acompanhar seu desenvolvimento mais de perto, as mães comentaram que mesmo sabendo que o filho estava bem cuidado, fato relatado por 10 das mães, 4 delas sentiam-se culpadas por deixar o filho aos cuidados de terceiros, em prol da profissão. Em contrapartida, a maioria, representada por 6 mães, relataram que lidavam de forma tranqüila ou sem culpa com o fato. Embora 4 mães lidassem bem com não poder acompanhar a rotina do filho, 7 mulheres, considerava difícil estar ausente. Há que se considerar ainda, 8 das mães terem relatado que pensavam muito no filho enquanto estavam no trabalho.

Vale comentar que, quanto aos cuidadores, foi relatado preocupação por 4 mães, com relação ao vínculo do filho com o cuidador, sendo que 7 mulheres comentaram estar satisfeitas nesse quesito. Outro fator importante verificado na população estudada foi a presença masculina nos cuidados com os filhos, tanto nos casos de pai quanto de padrasto da criança/adolescente. Esse fator vem corroborar Losada e Rocha-Coutinho (2007); Moreira e Nardi (2010) sobre a maior flexibilidade que há atualmente entre os papéis exercidos por homens e mulheres. No entanto, vale salientar que, de um modo geral, a maioria das participantes, 6, relataram estar satisfeitas com relação ao vínculo que o filho tinha com as pessoas responsáveis por eles. Esses dados ajudam a compreender o fato de todas as mães terem confirmado que geralmente priorizavam as tarefas do trabalho; isso porque sabiam que o filho estava bem cuidado. Ainda assim, declararam sentir dificuldades em ficar longe do filho e pensar muito nele.

Algumas citações das mães evidenciaram que, embora 7 tenham citado trabalhar por necessidade, em alguns momentos da entrevista surgiram afirmações que remeteram a uma concepção de trabalho não apenas por necessidade financeira, mas também como um símbolo de independência, autonomia, satisfação, prazer e até mesmo, como um meio para preencher o vazio deixado pelo filho

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crescido que já não necessita mais de tantos cuidados. A fala de algumas mães foi ao encontro de Moreira e Nardi (2010), de que o trabalho agrega um valor significativo ao assumir na vida dessas mulheres uma função tanto de se manter financeiramente quanto de ter uma atividade que lhes confere utilidade. A essa informação pode-se complementar a ideia de Knebel e Munhoz (2009) de que no caso de algumas mulheres, estar no mercado de trabalho não é apenas uma necessidade financeira, mas a crença da independência e autonomia. Losada e Rocha-Coutinho (2007) colaboram ao afirmar que o trabalho pode cumprir a função de suprir um vazio deixado pelo espaço que era dedicado unicamente ao filho quando este era pequeno, mas que ao crescer e começar a freqüentar a escola, a mão precisaria refletir sobre sua rotina e ir em busca de novos meios para preencher essa lacuna deixada pela autonomia desse filho que outrora ocupava boa parte do seu tempo.

É necessário considerar a ambigüidade de sentimentos vivenciados por essas mulheres que, de um lado, tem o desejo de ocupar o espaço público, mas de outro, tem o receio de perder o espaço privado, espaços respectivamente compreendidos como o trabalho e o lar, conforme cita Mattos (2006); Arrazola; Rocha (apud SOUZA; BALDWIN; ROSA, 2000). Visto que, as participantes da pesquisa esforçavam-se na tentativa de dar conta do trabalho e também para lidar com a maternidade e o desejo de ficar com o filho juntamente com o desejo de estar no trabalho.

Esses sentimentos ambíguos poderiam ser agravados por preocupações com relação ao vínculo que o filho estabelecia com os cuidadores. De acordo com Pinto e Garcia (2011, p. 49) “Ao ter que encontrar alguém que assuma o cuidado com os filhos novos arranjos diários precisam ser feitos, e, muitas vezes, essas novas modificações nem sempre são favorecedores de bem-estar para todos os indivíduos. A dualidade dos papéis de mãe e de profissional fica clara, quando compara-se os dados citados anteriormente (priorização das mães pelo trabalho) com o número de mães que consideraram que sempre ou quase sempre priorizavam o papel de mãe, no total, 10 mulheres. Desta forma, percebeu-se o esforço das mães que trabalham por corresponder às demandas tanto da empresa como da maternidade.

Segundo Moreira e Nardi (2010, p. 193) “Pensar a articulação entre maternidade e trabalho é também pensar os enunciados que definem o que é ser mulher [...]”. Assim, é possível considerar que o ser mulher, mãe e trabalhadora implica em ter uma identidade que permita a articulação desses papéis, considerando que um papel não exclui o outro, mas que há uma complementariedade em todas essas vivencias.

No entanto, na percepção dessas mães sobre os momentos em que estavam com o filho; era de que se tratavam de momentos definidos como bom ou ótimo; 10 delas referiram que quando estavam com o filho preferiam realizar atividades em conjunto dando preferência por atividades que o filho gostasse. Nesse cenário, eram realizadas inclusive atividades domésticas, além das de lazer e dos exercícios rotineiros de escola, como tarefas escolares. Verificou-se também que havia alguns hábitos que eram seguidos pela família visando um entrosamento maior entre os membros desta como, refeições em conjunto e passeios priorizando principalmente a vontade do filho.

Na população estudada, 9 das participantes concordaram em partes que percebiam que seria melhor se pudessem estar mais próximas ao filho, pois realmente precisavam de mais tempo juntos. Visto que, esses momentos de

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confraternização em família eram formas de lidar com a ausência e se fazer presente no cotidiano dos filhos, o que corrobora com a necessidade da mulher conciliar as duas esferas, podendo esse fato ser visto como dificuldade em concentrar-se exclusivamente na família ou no trabalho.

No entanto, ao fazer uma análise mais detalhada revela-se “[...] a coexistência de necessidades diversas e, muitas vezes, contraditórias” (LOSADA; ROCHA-COUTINHO, 2007, p. 501). Mas que tem a função de agregar valores e sentidos para uma mesma existência. Pinto e Garcia (2011) colaboram com essa informação citando que em realidades distintas, quando a mulher se coloca como mãe, percebe-se numa redoma de sentimentos desejando se dedicar ao filho e manter-se no trabalho, fazendo um movimento nesse sentido para dar conta dos dois contextos.

Ao serem questionadas sobre como percebiam que o filho lidava com a sua ausência e o que sentiam com relação a isso, 9 mães relataram ter a percepção de que o filho lidava bem com a situação; mas 10 percebiam que o filho sentia a falta da mãe, fosse de forma verbalizada ou através de comportamentos. A ausência da mãe foi menos sentida quando o filho era maior, tendo sido ainda relatado pelas mães a percepção de expressões de mais ou menos alegria dos filhos em início e término de finais de semana. Foi citado também, a percepção por parte das mães de que muitas vezes a cobrança por estar mais presente na rotina do filho era mais da própria mãe que do filho.

Pôde-se verificar uma relação entre a tranqüilidade da mãe e o modo do filho lidar com a situação de ausência; pois o fato de saber que a ausência não causava sofrimento para o filho deixava as mães mais tranqüilas em relação as suas atividades de trabalho. Entretanto, não houve relação entre a forma como o filho lidava com a ausência materna e a idade dos mesmos. 5 Mães com filhos adolescentes (acima de 12 anos) relataram facilidade do filho em lidar com a situação de ausência, assim como mães de crianças menores de 11 anos fizeram relatos semelhantes. O discurso dessas mulheres colaborou com o anunciado por Pinto e Garcia (2011, p. 21) “[...] As experiências se encontram em movimento e, em sua interrelação com as circunstâncias nas quais estão inseridos os indivíduos [...]”. Deste modo, percebe-se que essas mulheres vão aprendendo a lidar com a maternidade e o trabalho conforme o contexto no qual se encontram permite, o que significa que por vezes oscilam mais em direção ao filho e em outros momentos na direção das atividades do trabalho, sempre buscando equilibrar as duas funções.

Porém, ao serem questionadas se perceberam diferenças no comportamento ou rendimento profissional após a maternidade, 3 mães responderam que sim, tendo essa diferença sido avaliada como positiva por 4 das respondentes, que mencionaram mudanças de comportamento como: mais facilidade para se colocar no lugar do outro e mais dedicação ao trabalho por ter um dependente, o filho. Tendo sido ainda mencionado por 4 mães que após a maternidade houve um amadurecimento que impactou de forma positiva na sua vida como mulher. Prosseguindo sobre a questão, 2 mães não perceberam diferença e 2 consideraram que o seu rendimento não foi afetado. Sendo citado também por 4 mães, que ter um filho não impedia que a mulher realizasse suas atividades profissionais e uma ou outra mencionou que antes da maternidade era mais focada no trabalho.

Foi mencionado ainda por uma participante da pesquisa estratégias como, fazer horário de almoço reduzido para render mais e poder sair logo ao fim do expediente para pegar o filho, ter levado o filho em um ou outro momento para a

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empresa após o expediente para resolver alguma pendência e poder aproveitar melhor o tempo juntos. Deste modo, 7 mães perceberam diferenças no rendimento e comportamento profissional, sendo diferenças avaliadas como positivas, que impactavam de forma a produzir nessas mulheres novas formas de lidar com as questões relacionadas ao trabalho e a maternidade. Entretanto, as informações citadas podem ser analisadas junto aos dados das 9 mães que consideraram que raramente ou nunca o trabalho interferia no exercício da maternidade, já que tinham que se privar de estar mais perto do filho.

Assim sendo, as divergências quanto a forma como cada mãe percebe o impacto da maternidade no trabalho apontam para formas distintas de conceber essas duas esferas e lidar com as mesmas. O exercício da maternidade colabora para que as mulheres trabalhem de modos diferentes, percebendo-se agindo diferentemente das demais num cenário onde algumas mudanças podem ser vistas, como melhora do seu desempenho (MOREIRA; NARDI, 2010).

Vale citar que outros dados relevantes colhidos na população estudada estão relacionados com os benefícios oferecidos pela empresa onde a mãe trabalhava, como a flexibilidade na rotina de trabalho envolvendo o horário de expediente, a posição da liderança quanto a contratação e manutenção de funcionárias mulheres. Para Probst e Ramos [entre 2005 e 2012] a mulher naturalmente consegue lidar com diversidades e multifunções, é sensível, mais receptiva as diferenças presentes numa equipe, trabalha sinergicamente resolvendo de várias e criativas formas os problemas que a principio pareciam sem solução. Para Pinto e Garcia (2011, p. 32) “Atualmente, o sinônimo de mulher pode estar facilmente relacionado a dinamismo, flexibilidade, competência, entre outros adjetivos [...]”. Esses enunciados colaboram para uma melhor compreensão do modo como a mulher é percebida no ambiente de trabalho podendo ser enriquecidos com a percepção de uma das gestoras da empresa em que a pesquisa foi realizada.

A gestora das mulheres que participaram da pesquisa, afirmou que trabalhar com mulheres favorecia a integração da equipe, a resolução de pendências; tendo as mulheres mais habilidades para lidar com as demais pessoas por serem mais tolerantes, empenhadas, compromissadas, flexíveis e dinâmicas. Esses fatores inclusive compensavam as questões relacionadas com algumas faltas, saídas mais cedo do trabalho ou chegada mais tarde em prol da maternidade.

O conjunto de dados apresentados nos permitiu compreender que a percepção das mães que trabalham sobre a sua ausência na relação com os filhos, apresentou-se para 7 mulheres, através do sentimento de culpa. Entretanto, este sentimento não foi encontrado em 4 das mães participantes da pesquisa (embora não a maioria, mas um percentual representativo) referiram lidar com facilidade com este sentimento. Estes dados nos mostraram que a forma de equilibrar trabalho e filhos para as mulheres está relacionada a diversos fatores referentes a aspectos individuais de cada mãe. Constatou-se ainda que a idade dos filhos não influenciava neste sentimento e na forma de lidar com a ausência materna. Os resultados desta população oscilou independente desta variável. Ficou evidente a preocupação das mães em relação à crença de estar perdendo etapas no desenvolvimento do filho e maior preocupação quando o filho passava a cobrar a presença da mãe. Em contrapartida, a ausência de cobrança do filho gerava na mãe sentimentos de tranquilidade para lidar com a situação e o entendimento das mães de que se cobravam mais do que os próprios filhos.

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Quanto a percepção da mulher em relação à maternidade e ao trabalho, verificou-se que a mulher busca articular as funções de mãe e de profissional, não estando uma função em vias de anular a outra, pois há uma complementariedade na conciliação dessas duas esferas. De forma geral, pôde-se constatar que as mães pesquisadas percebiam um nível muito baixo de interferência do trabalho na maternidade, ou da maternidade no trabalho.

Para ter maior disponibilidade para o filho, 4 mães citaram o desejo de trabalhar meio período para estar mais presente na rotina do mesmo. Percebeu-se também, que 5 mães concordavam totalmente com o fato de mesmo trabalhando acompanhar a rotina do filho de perto e que o trabalho não impactava negativamente no desenvolvimento dele (segundo percepção das mães) e nem na relação entre ambos, enquanto 6 mães concordaram parcialmente com essa questão. Esses dados corroboraram o fato de a maioria das mães, 8, terem mencionado que não deixariam de trabalhar para se dedicar somente a maternidade, pois com o trabalho adquiriram autonomia e independência.

Os impactos da maternidade no trabalho foram percebidos por 4 mães como positivo sendo citado mudanças de comportamento e atitudes como, maior facilidade para se colocar no lugar do outro, otimização do tempo, maior maturidade e flexibilidade. No que diz respeito ao equilíbrio entre os papéis de mãe e profissional, apesar de 10 mulheres concluírem que conseguiam equilibrar sempre ou quase sempre essas duas funções, os dados relacionados às prioridades das mães demonstraram alto percentual tanto no que diz respeito à prioridade no papel de mãe como de profissional, ou seja, das 11 mulheres pesquisadas, 10 priorizavam o papel de mãe sempre ou quase sempre e 11 o lado profissional sempre ou quase sempre.

Embora a pesquisa tenha sido realizada com um número restrito de mães, 11 no total, e os resultados não devam ser generalizados para grandes populações, estes dados podem estar demonstrando a busca da mulher da atualidade pela excelência profissional, aliado ao exercício da maternidade, e supõe o desafio para estas mulheres em conseguir cumprir esta tão elevada expectativa. Ao considerarmos não apenas o sentimento das mães pesquisadas, mas os dados como um todo, envolvendo formas de lidar com ausência, relação com o filho, relação com o trabalho, satisfação com sua condição atual, e todos os demais resultados, pôde-se constatar que 5 mães lidavam bem com a sua ausência e buscavam equilibrar maternidade e trabalho utilizando alternativas como manter contato com o filho ao longo do dia, realização de atividades em conjunto e refeições em família. Por fim, o fato de manter um trabalho remunerado não justificava, para essas mulheres, deixar de exercer a maternidade, reforçando que as duas esferas são complementares. REFERENCIAS KNEBEL, Rosemeri Leane; MUNHOZ, Divanir Eulália Naréssi.Trabalho e Maternidade: Desafios para a mulher na contemporaneidade. Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2009. Disponivel em:<http://www.bicen-tede.uepg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=307>. Acesso em: 24 ago. 2012.

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LOSADA, Beatriz Lucas; ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Redefinindo o significado da atividade profissional para as mulheres: o caso das pequenas empresárias. Psicologia em Estudo, Maringá, vol. 12, n. 3, 2007, p. 493-502. MOREIRA, Lisandra Espíndula; NARDI, Henrique Caetano. Vida de Equilibrista? Modos de Ser Mãe e Trabalhadora: Trajetórias de Mulheres em Diferentes Contextos Sociais. Interamerican Journal of Psychology. vol. 44, n. 1, 2010, p. 187-198. Disponivel em: <http://www.redalyc.org/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=28420640020>. Acesso em: 23 maio 2012. OLIVEIRA, Silvana Corrêa; et al. Maternidade e Trabalho: Uma revisão de literatura. Redalyc: Sistema de Informação Cientifica. Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology. Rio Grande do Sul, v. 45, n. 2, p. 271-280, 2011. Disponivel em: <http://www.redalyc.org/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=284227741018>. Acesso em: 25 ago. 2012. PINTO, Greyce Priscila da Silva; GARCIA, Queila Soares Santos. A experiência da Mulher em retornar ao Trabalho após a Licença Maternidade. Trabalho de Conclusão de Curso (Para obtenção do título de Psicólogo) – Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru, 2011. Disponível em: <http://repositorio.favip.edu.br:8080/bitstream/123456789/499/1/A+EXPERI%C3%8ANCIA+DA+MULHER+EM+RETORNAR+AO+TRABALHO+AP%C3%93S+A+LICEN%C3%87A+MATERNIDADE.pdf>. Acesso em: 4 set. 2012. PROBST, Elisiana Renata, RAMOS, Paulo. A evolução da Mulher no Mercado de Trabalho. ICPG: Instituto Catarinense de Pós-Graduação, [entre 2005 e 2012]. Disponivel em: <http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev02-05.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2012. SOUZA, Eros de; BALDWIN, John R; ROSA, Francisco Heitor da. A construção social dos papéis sexuais feminino. Psicologia: Reflexão e Critica.2000, p. 485-496. Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v13n3/v13n3a16.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2012.

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POC22 - REFLETINDO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO ATRAVÉS DOS CÍRCULOS DE CULTURA: UMA EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES DE

CURSOS TÉCNICOS DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

Fernandes Cruvinel, E 1. 1 - Instituto Federal de Brasília-IFB/Campus Gama. Este trabalho é um relato de experiência de uma ação realizada em outubro de 2010 durante a III Jornada da Produção Científica da Educação Profissional e Tecnológica da Região Centro-Oeste em Brasília-DF, com 13 estudantes de idades variando entre 16 e 27 anos, matriculados em diferentes cursos técnicos (integrados e subsequentes) de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia-IFEs de diferentes estados. A ação ocorreu no formato oficina com carga horária de três horas onde se utilizou o Circulo de Cultura que foi escolhido por possibilitar o desenvolvimento de uma consciência crítica, o fortalecimento da identidade e a elevação da autoestima, autoconfiança, criatividade, escuta afetiva e sensibilidade às ideias do outro. O Círculo aconteceu em três momentos. No primeiro momento, aqui denominado de pessoal-subjetivo, foi aplicada a Técnica de Associação Livre de Palavras-TALP1 a partir de palavra geradora. PROFISSÃO. No segundo momento, aqui denominado de reflexivo-dialógico, foi utilizado Círculo de Cultura e construção textual. No terceiro momento, aqui denominado de coletivo, ocorreu a socialização dos textos e a discussão dos temas abordados nos grupos, permitindo aos participantes tirarem suas conclusões. PALAVRAS-CHAVE: mundo do trabalho; círculos de cultura; educação profissional. OBJETIVO:

O objetivo deste trabalho é relatar a utilização dos Círculos de Cultura como metodologia para fomentar a reflexão de jovens estudantes de cursos técnicos da Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia sobre o mundo do trabalho. JUSTIFICATIVA

A globalização cultural, econômica e social ocorrida nas três ultimas décadas modificou em muito o comportamento das pessoas. A nova realidade apresenta novos desafios, novos problemas, novas demandas, e exige novas competências. BENFICA (2006: 161) discute a empregabilidade e chama a atenção para o fato de que, estando as tecnologias igualmente disponíveis para a maioria das empresas, a nova realidade histórica impõe como diferencial para a competitividade o fator humano ou capital intelectual. Por isso as empresas passaram a exigir competências como autoestima, motivação, capacidade de aprender a aprender, criatividade, iniciativa, autoconfiança, espírito de colaboração. Segundo GUICHARD (2012), particularmente nas sociedades ocidentais ricas, os indivíduos são agora considerados responsáveis pelo governo de seus percursos profissionais e, de forma mais ampla, os de vida também. Jeremy Rifkin, em seu livro O Fim dos Empregos: O Declínio Inevitável dos Empregos e a Redução da Força Global de Trabalho, afirma que a economia social está centralizada nas relações humanas, em sentimentos de intimidade, em companheirismo, em

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vínculos fraternais (RIFKIN, 1995). Se assim o for, e creio que o seja, devemos pensar em que modelo de educação será o mais adequado para a formação dos profissionais que se ocuparão nesta conformação econômica e social na atualidade e no futuro? Como devem ser as escolas e os métodos de ensino-aprendizagem para atender às novas realidades? Estas são questões iniciais, aparentemente simples e que não devem ser respondidas com verdades pré-concebidas, muito menos neste espaço.

Se hoje os jovens são responsabilizados por suas trajetórias profissionais, se as competências técnicas já não são suficientes para inserir estes jovens no universo do trabalho, se o capital intelectual e emocional está cada dia mais valorizado, o mínimo que a escola deve fazer, especialmente quando se trata da formação profissional, é criar espaços de reflexão para desenvolver uma consciência crítica e instrumentalizar os jovens para a sua inserção no mundo do trabalho.

Neste contexto, utilizamos os Círculos de Cultura como metodologia para fomentar a reflexão de jovens estudantes de cursos técnicos sobre o mundo do trabalho. Os Círculos de Cultura foram criados pelo educador Paulo Freire na década de 60, quando concretizou uma ação educativa libertadora (Educação Libertadora), dialógica (Educação Dialógica) e conectada com as necessidades de cada pessoa. Os Círculos de Cultura originaram-se no Movimento de Cultura Popular do Recife, na coordenação do Projeto de Educação de Adultos. Freire trabalhou ao lado de outros intelectuais e do povo, valorizando a cultura popular, propondo e proporcionando a participação de todos na vida sócio-politico-cultural da sociedade brasileira. Com os Círculos de Cultura o objetivo de Freire foi instituir reflexões em grupo, aclaramento de situações e a busca de ação.

Os Círculos de Cultura são rituais de troca, onde educadores e educandos ensinam e aprendem mutuamente. São espaços onde a palavra gira e cada pessoa fortalece sua identidade expressando o que pensa e sente acerca de um tema específico. Através do saber e da própria vivência dá-se o processo de aprendizagem. O Círculo de Cultura parte de algo que é concreto no cotidiano de um determinado grupo, ou seja, da realidade deste grupo e propõe o respeito ao fortalecimento dos vínculos e a conexão da teia de relações. A base do Círculo de Cultura é o diálogo mediado pela realidade para dar sentido à realidade. Através do diálogo as pessoas passam a atuar, sentir e pensar como sujeitos e permitir que outras pessoas que os rodeiam também sejam sujeitos críticos de sua própria história. A aplicação dessa metodologia implica mudanças de atitudes e de comportamento tanto consigo mesmo, como para com o outro e o mundo.

Os Círculos de Cultura podem ser utilizados de diversas formas, em qualquer espaço, com qualquer grupo de pessoas, tanto nos processos de educação formal quanto não formal. Para acontecer o diálogo no Círculo de Cultura, confiança, respeito mútuo e descontração são necessários.

Metodologicamente, o primeiro passo dos Círculos de Cultura é o levantamento do universo vocabular do grupo participante, ou seja, detectar as palavras que são a síntese da realidade. Em cada palavra há um universo de pensamento simbólico que estão contidos em código que deverá ser decodificado, descoberto traduzido. Desse universo vocabular retira-se as palavras geradoras, aquelas que vão além das falas cotidianas das pessoas. São as mais carregadas

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de expressão sócio- político, cultural e emocional. São as palavras geradoras de crescimento, provocadoras de reflexão, geradoras de ideias. Na escolha das palavras já vai acontecendo a formação da consciência crítica, já está implícito um processo de descoberta do pensamento e de leitura do mundo que traz um significado real da existência do ser. Elas codificam as situações mais significativas da vida coletiva onde se dá ênfase à emoção nela contida. Elas traduzem o mundo vivido do educando. São palavras que multiplicam, porque estando plenas de sentido têm forte significação do ponto de vista da emocionalidade.

A forma original dos Círculos de Cultura de Paulo Freire acontece com um só círculo dialogando sobre palavras ou temas geradores que surgem na forma verbal, de imagens ou escrita. No entanto, algumas variações foram

adaptadas a partir da Educação Biocêntrica1 e outras abordagens. O Círculo de Cultura é coordenado por um agente externo ou interno à comunidade, denominado por Freire de "animador". Caberá ao animador motivar a reflexão, criando um clima de confiança, espontaneidade, respeito mútuo, construção coletiva e valorização dos conceitos apresentados. Como fechamento da atividade do Circulo de Cultura é realizada uma síntese, que deverá ter desdobramentos para a vida de cada um no seu cotidiano, possibilitando uma coerência existencial entre o seu pensar, sentir e agir. A síntese, mais uma vez, evoca a criatividade do grupo no sentido de buscar uma representação simbólica para a exposição das palavras geradoras. A experiência mostra que nos Círculos de Cultura surgem os mais diferentes formatos como espiral, sol, estrela, árvore, figura humana. Um grupo em Bilbao-Espanha, após estudar a teoria da Complexidade, quis levar a ideia de caos lançando as palavras para o alto e observando a forma que elas caíram no chão criando uma ordem vinda ao acaso (CAVALCANTE,1997:12). PROCEDIMENTOS

Este trabalho é um relato de experiência de uma ação realizada em outubro de 2010 durante a III Jornada da Produção Científica da Educação Profissional e Tecnológica da Região Centro-Oeste em Brasília-DF, com 13 estudantes de idades variando entre 16 e 27 anos, matriculados em diferentes cursos técnicos (integrados e subsequentes) de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia-IFEs de diferentes estados. A ação ocorreu no formato oficina com carga horária de três horas onde se utilizou o Circulo de Cultura que foi escolhido por possibilitar o desenvolvimento de uma consciência crítica, o fortalecimento da identidade e a elevação da autoestima, autoconfiança, criatividade, escuta afetiva e sensibilidade às ideias do outro. O Círculo aconteceu em três momentos.

No primeiro momento, aqui denominado de pessoal-subjetivo, foi

aplicada a Técnica de Associação Livre de Palavras-TALP1 a partir de palavra geradora. Os estudantes individualmente receberam três targetas e foram orientados a escreverem, de forma clara e centralizada, uma palavra em cada targeta, as primeiras palavras que lhes surgissem à mente após ouvirem a palavra geradora. Os estudantes foram alertados de que quanto mais rápida e impulsiva fossem as respostas maior seria o seu efeito de validade. Após dirimir

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as dúvidas dos estudantes a cerca da dinâmica da metodologia, o facilitador falou de forma enfática a palavra geradora PROFISSÃO e os estudantes, livremente, escreveram nas targetas as três palavras associadas.

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No segundo momento, aqui denominado de reflexivo-dialógico, foi utilizado Círculo de Cultura e construção textual. Após a realização da TALP os estudantes se organizaram em três círculos colocando o conjunto de targetas aleatoriamente no centro. Os estudantes foram orientados a refletirem individualmente sobre a relação das palavras com o universo do trabalho. Em seguida, cada grupo definiu uma ordem de participação no Círculo de Cultura. O primeiro estudante, então, iniciou o círculo organizando as targetas no espaço de modo a conferir um sentido para as palavras de acordo com suas experiências e percepção através de uma forma gráfica, geométrica ou um símbolo utilizando todas as palavras (sol, estrela, árvore, oito-infinito, espiral etc.). Em seguida o segundo estudante repetiu a dinâmica conferindo outro sentido às palavras e reconstruindo a forma gráfica construída por seu antecessor. Desta forma o Círculo de Cultura girou até que todos os estudantes tivessem a possibilidade de defender suas ideias a respeito dos temas produzidos a partir da palavra geradora PROFISSÃO. Para a síntese, os estudantes de cada grupo elaboraram um breve texto, sem preocupação de chegar a conclusões ou estabelecer verdades.

No terceiro momento, aqui denominado de coletivo, ocorreu a socialização dos textos e a discussão dos temas abordados nos grupos, permitindo aos participantes tirarem suas conclusões e verdades individuais bem como instigando o levantamento de questões para reflexões futuras. Após o encerramento da oficina procedemos a categorização das palavras associadas à palavra geradora para entender, de forma subjetiva, de que forma aqueles estudantes percebiam as questões relacionadas ao mundo do trabalho. Em seguida realizamos uma avaliação dos conteúdos contidos nas produções textuais elaboradas a partir de reflexões nos Círculos de Cultura. RESULTADOS

A seguir apresentamos os textos produzidos pelos três grupos (Grupo I, Grupo II e Grupo III) após reflexões no Círculo de Cultura. As palavras que se encontram destacadas em caixa alta são aquelas produzidas com a Técnica de Associação Livre de Palavras-TALP a partir da palavra geradora PROFISSÃO.

Grupo I: Um indivíduo quando pretende escolher sua PROFISSÃO deve primeiramente analisar a REALIDADE em que vive, optando em escolher um caminho que o faça ter GOSTO PELO QUE FAZ. Feita a escolha ele deve buscar QUALIFICAÇÃO e obter diploma na sua área, por exemplo ENGENHARIA e AERONÁUTICA. A partir daí, o trabalho em grupo será a via de acesso para que esse indivíduo obtenha DINHEIRO e consequentemente REALIZAÇÃO e SUCESSO.

Grupo II: A princípio, antes de se pensar em uma profissão é preciso ter VONTADE e ser COMPETENTE. O APRENDIZADO e a CAPACITAÇÃO são o primeiro passo, RESPONSABILIDADE e COMPROMISSO são primordiais para se obter O SUCESSO em um curso de ENGENHARIA ou JORNALISMO, por exemplo. Apesar de ser importante, o DINHEIRO vem depois de tudo, e nos garante uma boa vida SOCIAL.

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Grupo III: Para exercer uma profissão é preciso ter AMOR e DOM pela escolha, que por sua vez deve ser INTELIGENTE. Para isso, o indivíduo necessita de DEDICAÇÃO para realizar um bom TRABALHO, CONSTRUÍNDO assim uma VERSATILIDADE dentro do MERCADO de trabalho. Na vida a CONQUISTA de uma GRADUAÇÃO traz SATISFAÇÃO, DINHEIRO e, consequentemente, FELICIDADE.

Na categorização das 39 palavras geradas por associação livre foram produzidas oito categorias, atributo pessoal (26,3% das palavras), vinculação afetiva (21,1%), formação (18,4%), área de atuação (13,2%), remuneração (7,9%), sociedade (5,3%), ocupação (5,3%) e mercado (2,6%).

As categorias relacionadas ao indivíduo, atributo pessoal e vinculação afetiva, foram as mais frequentes. Isto mostra que subjetivamente os jovens atribuem importância às características pessoais que são traduzidas em motivações internas para as escolhas no mundo do trabalho. Não só a escolha por uma profissão, mas todas as escolhas que definem as condutas, relações e atitudes profissionais no decorrer da carreira. Isto é particularmente importante no mundo globalizado onde os valores mercadológicos, traduzidos por motivações externas, têm definido as condutas, relações e atitudes.

Estas categorias construídas a partir das palavras geradas por associação livre corroboraram, em parte, com a análise dos conteúdos apresentados nos textos elaborados como síntese dos Círculos de Cultura. Nos três grupos foi possível identificar uma preocupação em colocar o indivíduo, com seus atributos pessoais, como protagonista da escolha por uma profissão. No entanto, no que se refere à questão da remuneração financeira, os três grupos apresentam pensamentos bastante semelhantes e colocam a realização, o sucesso, a boa vida social e a felicidade como consequência do dinheiro, numa perspectiva mercadológica que, cada vez mais, reforça apenas as motivações externas para as escolhas profissionais. CONCLUSÃO:

Considerando a necessidade dos indivíduos em desenvolver e utilizar um conjunto de capacidades e de competências para enfrentarem a responsabilidade que lhes é atribuída pela condução de suas vida e suas carreiras profissionais, a definição por uma metodologia que fomente a reflexão sobre o mundo do trabalho deve ter também como objetivo o desenvolvimento destas competências. Assim, entendemos que os Círculos de Cultura são ferramentas que podem ser usadas com sucesso em processos de orientação vocacional/profissional em grupos, podendo ser utilizados em diferentes contextos e em repetidos momentos inclusive promovendo uma abordagem afetiva e divertida à discussões sobre o mundo do trabalho e o aprofundamento de temas que muitas vezes são a origem de angústias e medos nos jovens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CAVALCANTE, Ruth. 2008. A Educação Biocêntrica dialogando no Círculo de Cultura. Revista Eletrônica Pensamento Biocêntrico. 10ª Edição. Pelotas. 2008.

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BENFICA, Gregório. Globalização, empregabilidade e Educação Biocêntrica. In: Educação Biocêntrica: aprendizagem visceral e integração afetiva. Porto Alegre: Evangraf. 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 41ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2005. GUICHARD, Jean. Quais os desafios para o aconselhamento em orientação no início do século 21? Rev. Brasileira de Orientação Profissional. Jul-dez. 2012 v. 13. N. 2, 139-152. RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos empregos e a redução da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books. 1995. COUTINHO, M. P. L.; LIMA, A. S.; OLIVEIRA, F. B.; FORTUNATO, M. L. (ORGS.). Representações social: abordagem interdisciplinar. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 2003. 348p. NOBREGA, S. M. Sobre a teoria das representações sociais. In: MOREIRA, A.S. P.; JESUINO, J.C. (Org.). Representação social: teoria e prática. 2. ed. João Pessoa: Ed. Universitária, 2003. p. 51-80. OLIVEIRA, D. C. et al. Análise das evocações livres: uma técnica de análise estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P. et al. Perspectivo teórico metodológicas. João Pessoa: Ed. Universitária, 2005. p. 573-603. SÁ, C. P. de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro. EdUERJ. 1998. SÁ, C. P. de. Núcleo central das representações sociais. 2ª. ed. Petrópolis: Vozes. 2002. Nota: 1 A Técnica de Associação Livre de Palavras-TALP é largamente empregada nos estudos de representação social, pois dá condições ao pesquisador de apreender a percepção da realidade de um grupo social, com base em uma estrutura semântica já existente. O caráter espontâneo, menos controlador, da associação livre permite a atualização de elementos implícitos ou latentes que podem ser perdidos ou mascarados nas produções reflexivas. Sobre representação social e uso da TALP recomendamos a leitura das seguintes referências:

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RELATO DO COLÓQUIO

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Colóquio II - Orientação de carreira ou

re-orientação profissional?

Permanência e crise

RE-ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA

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POC23 - OFICINAS DE PLANEJAMENTO DE CARREIRA COM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Oliveira CT 1; Santos AS 1; Dias ACG 1. 1 - Universidade Federal de Santa Maria. O suporte oferecido aos estudantes pelo currículo dos cursos de graduação, em geral, mostra-se insuficiente para preparação ocupacional adequada, pois há uma lacuna na união da vida acadêmica dos discentes com a experiência profissional destes para prepará-los comportamentalmente para o mercado de trabalho. Diante disso, torna-se imprescindível que a universidade ofereça aos estudantes acompanhamento para o planejamento de carreira e para o preparo para o trabalho, alertando os acadêmicos a respeito das alternativas de formação complementares à estrutura curricular básica. Assim, o projeto de extensão intitulado “Oficinas de orientação profissional e planejamento de carreira” surgiu em 2011 com o objetivo de desenvolver habilidades relevantes para o planejamento de carreira em estudantes de ensino médio de escolas públicas de Santa Maria e em universitários da mesma cidade através de oficinas. O objetivo deste trabalho consiste em relatar a experiência das oficinas de planejamento de carreira realizadas com alunos de ensino médio e com discentes da UFSM no ano de 2013. As oficinas de Orientação Profissional são destinadas a alunos de escolas públicas. As outras oficinas (gestão do tempo, estratégias de estudo, elaboração de trabalhos científicos, apresentação oral de trabalhos, elaboração de currículo e comportamento em entrevistas, e planejamento de carreira) foram oferecidas para, no máximo, 20 participantes. No primeiro semestre de 2013, foram realizadas 14 oficinas (três de orientação profissional, três de gestão do tempo, uma de estratégias de estudo, três de elaboração de trabalhos científicos, duas de apresentação oral de trabalhos, uma de elaboração de currículo e comportamento em entrevistas e uma de planejamento de carreira), atingindo 126 estudantes no total. As oficinas realizadas no primeiro semestre de 2013 obtiveram grande aceitação por parte dos acadêmicos. Acredita-se que a busca e a participação dos estudantes se devem pela percepção dos mesmos sobre a necessidade de estar preparado para conciliar inúmeras atividades, para lidar com as exigências do próprio meio acadêmico, para realizar a transição para o mercado de trabalho e, também, pelo desconhecimento de outros programas ou espaços dentro da universidade com o propósito de desenvolver habilidades relevantes para o planejamento de carreira. Assim, observa-se a importância de propor atividades direcionadas às dificuldades dos acadêmicos e de dar continuidade ao projeto. PALAVRAS-CHAVE: planejamento de carreira; oficinas; estudantes. JUSTIFICATIVA

Sabe-se que o objetivo da educação é preparar os estudantes para a atividade laboral. Essa preparação envolve a formação de cidadãos mais conscientes e com capacidade de gerar transformações científicas, tecnológicas e econômicas. Assim, o mercado de trabalho espera que as universidades formem profissionais mais generalistas e que tenham vivenciado a prática profissional durante a graduação (Gondim, 2002).

Entretanto, o suporte oferecido aos estudantes pelo currículo dos cursos de graduação, em geral, mostra-se insuficiente para preparação ocupacional adequada

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(Teixeira & Gomes, 2004). Embora o currículo dos cursos ofereça conhecimentos teóricos e técnicos específicos da profissão, observa-se uma lacuna na união da vida acadêmica dos discentes com a experiência profissional destes para prepará-los comportamentalmente para o mercado de trabalho (Borges & Melo, 2007). A respeito disso, especialistas afirmam que há uma lacuna entre os conhecimentos ensinados nas universidades brasileiras e o que o mercado de trabalho exige para o crescimento na carreira. Há um desenvolvimento deficitário das competências que levam a um melhor desempenho, como comunicação interpessoal, entendimento das diversidades culturais, trabalho em equipe, estabelecimento de networking, liderança e gestão de pessoas, negociação e comportamento em reuniões (Abrantes, 2013). No entanto, observa-se que isso não é um problema apenas do Brasil. A pesquisa “Educação para o Trabalho: Desenhando um Sistema que Funcione”, sobre educação para o mercado de trabalho, analisou as questões de trabalho da Alemanha, da Arábia Saudita, do Brasil, dos Estados Unidos, da Índia, do Marrocos, do México, do Reino Unido e da Turquia. Os resultados indicam que quase metade dos empregadores entrevistados aponta a falta de competência como principal motivo para o não preenchimento das vagas destinadas a recém-formados. De fato, apenas 45% dos estudantes concluintes acreditam que estão adequadamente preparados. Por outro lado, 72% das instituições de ensino acreditam que os recém-formados estão prontos para trabalhar. O relatório da McKinsey & Company, consultoria responsável pela pesquisa, explica que as diferenças nas percepções são decorrentes da falta de integração entre os envolvidos (McKinsey & Company, 2013).

Percebe-se que a realização de um curso de graduação não é suficiente para qualificar e diferenciar a formação acadêmica. Não se envolver em atividades extracurriculares pode resultar em sérias consequências para os discentes, como critérios insuficientes para estabelecer prioridades de carreira, habilidades básicas deficitárias para a realização da tarefa de transição para o mercado de trabalho, além de não saber elaborar um currículo, buscar emprego ou mesmo quanto solicitar por um serviço prestado. Assim, faz-se necessário que os jovens aprendam a planejar a sua vida profissional de acordo com as tendências do mercado de trabalho para que reduzam as suas incertezas e se tornem mais proativos no desenvolvimento de suas carreiras (Teixeira & Gomes, 2004).

Diante disso, torna-se imprescindível que a universidade ofereça aos estudantes acompanhamento para o planejamento de carreira e para o preparo para o trabalho, alertando os acadêmicos a respeito das alternativas de formação complementares à estrutura curricular básica (Knabem, 2013; Teixeira & Gomes, 2004). Diversas instituições possuem setores ou projetos com esse propósito, como o Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP) na UFSC (Bardagi, 2013), o serviço de aconselhamento de carreira na Faculdade de Jornalismo da ESPM (Ferrentini, 2013), o PROJECTA da UNICAMP (Brissac, 2013), o Núcleo de Orientação Profissional para Alunos USP (Audi, 2013), o programa de Orientação Profissional da Mackenzie (Silva, 2013) e o Núcleo de Apoio ao Estudante da UFRGS (Silva, 2013). Contudo, não foi identificada uma iniciativa por parte da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) de oferecer aos discentes oportunidades para a aquisição de habilidades que possam contribuir para seu desenvolvimento profissional e facilitar a transição para o mercado de trabalho. Assim, o projeto de extensão intitulado “Oficinas de orientação profissional e planejamento de carreira”, vinculado ao curso de Psicologia, surgiu em 2011 com o objetivo de desenvolver habilidades relevantes para o planejamento de carreira em

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estudantes de ensino médio de escolas públicas de Santa Maria e em universitários da mesma cidade através de oficinas. São oferecidas sete oficinas: orientação profissional (direcionada para alunos do ensino médio), gestão do tempo, estratégias de estudo, elaboração de trabalhos científicos, apresentação oral de trabalhos, elaboração de currículo e comportamento em entrevistas, e planejamento de carreira (destinadas a estudantes universitários). OBJETIVO

O objetivo deste trabalho consiste em relatar a experiência das oficinas de planejamento de carreira realizadas com alunos de ensino médio e com discentes da UFSM no ano de 2013. PROCEDIMENTOS

As oficinas de Orientação Profissional são destinadas a alunos de escolas públicas. Inicialmente, foi realizado contato com a escola a fim de apresentar o projeto e propor a realização de oficinas de Orientação Profissional junto aos alunos de terceiro ano. Após, as oficinas foram divulgadas nas turmas pela equipe do próprio projeto. Os jovens interessados preencheram uma ficha de inscrição na coordenação da instituição. O número de oficinas foi estabelecido conforme a demanda da escola. Cada oficina comporta, no máximo, 15 participantes e possui duração de aproximadamente duas horas. A escola disponibilizou sala, computador e data-show para a realização da atividade e o projeto foi responsável pelos materiais didáticos utilizados.

As outras oficinas (gestão do tempo, estratégias de estudo, elaboração de trabalhos científicos, apresentação oral de trabalhos, elaboração de currículo e comportamento em entrevistas, e planejamento de carreira) foram oferecidas quinzenalmente na própria universidade para, no máximo, 20 participantes. Optou-se por trabalhar com esses assuntos porque a literatura os cita como dificuldades comumente encontradas por indivíduos para sua adaptação à universidade e para a transição ao mercado de trabalho (Teixeira & Gomes, 2004; Teixeira, Dias, Wottrich & Oliveira, 2008). Outro motivo corresponde à importância desses fatores para o desenvolvimento de carreira, uma vez que muitos universitários estão envolvidos com pesquisa e, invariavelmente, passarão por processos seletivos para estágio de final de curso. Além disso, os tópicos trabalhados correspondem às principais dificuldades apresentadas pelos estudantes nos atendimentos realizados pelo setor psicossocial do Serviço de Atenção Integral ao Estudante (SAtIE) da universidade. O projeto conta com o apoio e o suporte do SAtIE para o desenvolvimento dessas atividades, que é responsável pela divulgação, pela lista de inscrição, pelo fornecimento do local onde as oficinas são realizadas e materiais necessários (como data-show, lista de mapeamento e demais instrumentos característicos a cada oficina). A divulgação das oficinas foi realizada através do site da universidade e da fanpage do serviço no Facebook. Os universitários interessados em participar entraram em contato através do correio eletrônico indicado na notícia para ter o seu nome na lista de participantes. Em geral, as oficinas foram realizadas com os 20 primeiros estudantes que manifestaram interesse no momento de divulgação e inscrição das mesmas. Os encontros aconteceram nas dependências da própria universidade em horário que possibilitasse a participação de alunos com aulas diurnas e noturnas.

Durante todas as oficinas, os participantes preencheram uma ficha informando o sexo, a idade e, no caso dos universitários, o curso e o semestre em

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que se encontram para o mapeamento do perfil do grupo de trabalho. O material foi recolhido e acondicionado de modo a manter o sigilo sobre a identidade de cada participante. Ao final das atividades desenvolvidas, os participantes responderam uma ficha de avaliação com o objetivo de promover melhorias para os próximos trabalhos a serem desenvolvidos no projeto.

As oficinas foram estruturadas com o objetivo de tornar o encontro o mais interativo possível, de forma que os jovens pudessem expressar suas dúvidas e dificuldades sobre o tema perante o grupo. Optou-se por um número reduzido de participantes a fim de facilitar a interação entre as pessoas, possibilitar maior atenção aos indivíduos e evitar que a oficina se transformasse em uma palestra expositiva. Os tópicos trabalhados foram guiados por uma apresentação de PowerPoint, integrada com atividades baseadas no assunto trabalhado. RESULTADOS E CONCLUSÕES

No primeiro semestre de 2013, foram realizadas 14 oficinas. A tabela 1 apresenta quantas edições ocorreram de cada oficina e o número total de participantes atingidos.

Tabela 1 Oficinas realizadas no primeiro semestre de 2013

Oficina Ediçõe

s Participante

s

Orientação Profissional 3 28 Gestão do tempo 3 17 Estratégias de estudo 1 5 Elaboração de trabalhos científicos 3 38 Apresentação oral de trabalhos 2 14 Elaboração de currículo e comportamento em entrevista

1 18

Planejamento de carreira 1 6

Total 14 126

Orientação profissional

Foram realizadas três oficinas com 28 estudantes de ensino médio de uma escola pública localizada no Rio Grande do Sul. O objetivo da oficina foi auxiliar os participantes no planejamento de suas carreiras, pois se entende que é inviável a definição de uma escolha em apenas um encontro de duas horas. Assim, foram abordados três tópicos: autoconhecimento, comportamentos de exploração vocacional e o processo de tomada de decisão. Após apresentação dos participantes e explicação do funcionamento da oficina, os alunos formaram duplas para indicar motivos para concordar e discordar de estereótipos sobre o mundo do trabalho, tais como “as carreiras tradicionais dão mais dinheiro e trazem mais felicidade”, “se fizer o que gosto, o retorno financeiro será garantido, “escolhe-se apenas uma ocupação. Se a pessoa errar, deverá permanecer na sua primeira escolha”, “a formação universitária é suficiente para garantir emprego”, “uma forma de escolher bem a profissão é basear-se nas matérias que tiro boas notas no colégio” e “só escolherei uma profissão aprovada por meus pais”. Em seguida, o restante do grupo expressava o que pensava a respeito daquela afirmação. Observou-se que os participantes discordavam dos estereótipos, mas relatavam situações de suas vidas que os confirmavam. Por exemplo, uma menina afirmou que

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a aprovação dos pais não deve interferir na escolha profissional, embora estivesse considerando optar pelo curso de Direito em vez de Fisioterapia porque a mãe lhe dizia “faz Direito para não perder tempo fazendo outra coisa e ter que fazer outro curso depois de velha”. Assim, essa atividade parece ter estimulado a reflexão sobre alguns critérios considerados pelos estudantes para a tomada de decisão. A segunda atividade foi a aplicação do instrumento RIASEC, cuja finalidade é identificar alguns interesses profissionais dos alunos. O resultado do instrumento possibilitou que os alunos considerassem outras profissões que se encaixam nos seus interesses além das que já tinham em mente, ampliando as opções. Também foi utilizada a Escala de Exploração Vocacional, a fim de fornecer dicas aos participantes sobre onde buscar informações sobre si (seus interesses, habilidades e critérios utilizados para tomada de decisão) e sobre as profissões que despertam seu interesse (mercado de trabalho, crescimento profissional, remuneração, áreas de atuação). As opções consideradas pelos participantes eram, em geral, influenciadas por familiares e amigos, que expressavam os benefícios de determinada profissão e as supostas habilidades do aluno que combinam com a mesma. Após o preenchimento da escala, os estudantes perceberam a necessidade de buscar mais informações sobre as profissões que lhes despertavam interesse. As atividades de autoconhecimento e de comportamentos exploratórios visavam levantar informações para facilitar a tomada de decisão. Foi apresentada a balança decisional, técnica em que os alunos deveriam escrever os prós e contras das profissões que estavam pensando em seguir. De maneira geral, os participantes afirmaram que a participação nas oficinas foi válida e que saíram do encontro informados, otimistas e decididos. Gestão do tempo

Foram realizadas três oficinas com um total de 17 estudantes universitários. Os encontros tinham o intuito de promover a reflexão sobre as dificuldades identificadas na administração do tempo, incentivando mudanças comportamentais para conseguir gerenciá-lo com maior qualidade. Foram propostas duas atividades. A primeira consistia em identificar suas principais dificuldades dentre uma lista de obstáculos comuns na gestão do tempo, tais como: deixo para realizar minhas atividades “na última hora”, adio as tarefas de hoje para o dia seguinte, demoro a iniciar minhas tarefas, interrompo com frequência o que estou fazendo, desisto de tarefas pouco agradáveis depois de iniciá-las, chego atrasado(a) aos meus compromissos, faço tarefas secundárias antes das mais urgentes, planejo muitas tarefas e acabo não dando conta. A segunda atividade foi a construção de uma agenda semanal personalizada para que os jovens pudessem identificar seus compromissos, bem como organizar os mesmos no papel. Essa atividade tinha a finalidade de proporcionar a visualização do tempo livre dos participantes para que eles pudessem refletir se não estavam dando conta de suas tarefas devido ao excesso delas ou pela falta de organização. Nesse momento, trabalhou-se a questão da necessidade de “abrir mão” de algumas coisas, pois nem tudo que se tem vontade é passível de ser cumprido em tempo hábil. Além disso, buscou-se diferenciar compromissos considerados importantes e urgentes de forma a auxiliar no estabelecimento de prioridades. A maioria dos participantes estava frequentando os semestres iniciais de seus cursos, indicando que os estudantes estão sendo cada vez mais exigidos, gerando a necessidade de uma boa administração do tempo logo no início da graduação. De maneira geral, as dificuldades relatadas pelos estudantes estavam relacionadas aos estudos e compromissos acadêmicos, devido à carga

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horária e à necessidade de conciliar estudo e lazer. Os discentes mostraram-se interessados nas dicas apresentadas e relataram estratégias pessoais que utilizam para administrar o tempo, promovendo uma troca rica de informações entre os participantes. Estratégias de estudo

Foi realizada uma oficina com 5 estudantes. O encontro tinha o intuito de identificar estilos de aprendizagem e sugerir estratégias de estudo alternativas. Para tanto, os participantes foram convidados a refletir sobre alguns aspectos relacionados aos hábitos de estudo, por exemplo: se preferem organizar o conteúdo ou receber um esquema pronto, se são automotivados ou se precisam de motivação externa, se preferem estudar em grupo ou individualmente, se tendem a responder às questões de forma impulsiva ou se refletem antes de responder. Também foram apresentadas diversas modalidades de estudo, como estratégias cognitivas (ensaio, colaboração, organização) e organização de recursos (ambiente, tempo, ajuda de terceiros). Ao final, foram oferecidas dicas que podem ser adotadas pelos estudantes, como: o estabelecimento de metas realistas de estudo, importância de organizar o horário do sono e utilização da música. Salientou-se a importância de cada um procurar uma forma que considere mais adequada e eficiente de acordo com as próprias necessidades. Assim como a gestão do tempo, a forma de estudar também é particular de cada pessoa. Por essa razão, a interação do grupo permitiu que um participante ajudasse o outro através da troca de dicas, de forma que os estudantes pudessem tentar por em prática o método de estudo sugerido pelo colega. Elaboração de trabalhos científicos

Foram realizadas três oficinas, que atingiram um total de 38 estudantes. O encontro pretendia diferenciar e caracterizar as diversas modalidades de trabalhos científicos, como resumo simples, resumo expandido, trabalho completo e artigo. Além da apresentação de slides sobre esses tipos de trabalho e sobre como organizar as informações de um estudo (em introdução, método, resultados, discussão, conclusão e referências), foi proposto um estudo de caso. Havia dois resumos simples para serem analisados individualmente e, posteriormente, discutidos em conjunto, a fim de exemplificar como as informações podem ser organizadas em um trabalho. A explicitação de critérios de análise buscou gerar uma reflexão sobre os fatores a serem considerados durante a elaboração e submissão de trabalhos acadêmicos. De maneira geral, os discentes demonstraram-se interessados nas explicações e dicas concedidas. Estavam presentes tanto estudantes de pós-graduação quanto de graduação (iniciantes e concluintes), cujo principal interesse pela oficina foi decorrente da aproximação do final do período de inscrição para trabalhos na Jornada Acadêmica Integrada da UFSM. Alguns nunca haviam elaborado um trabalho científico antes e acharam as dicas complexas, enquanto os outros estudantes, mais familiarizados com a escrita científica, identificaram semelhanças e diferenças na elaboração de trabalho entre áreas diferentes e contaram da sua experiência.

Apresentação oral de trabalhos

Foram realizadas duas oficinas, atingindo um total de 14 estudantes. O encontro visava desenvolver competências no que se refere à apresentação oral de trabalhos. Discutiu-se sobre experiências anteriores e os universitários manifestaram

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suas dúvidas e dificuldades. Os tópicos trabalhados foram: a ansiedade, o medo de falar em público, aspectos associados ao planejamento, preparação e ao momento da apresentação oral. Também foi realizada uma dinâmica em que os participantes que se sentissem confortáveis deveriam falar por poucos minutos sobre um assunto que dominassem, com o objetivo de organizar o conteúdo expressado em início, meio e fim. A maioria dos participantes estava frequentando os semestres iniciais do curso de graduação. As principais dificuldades estavam relacionadas à apresentação de trabalhos em grupo em sala de aula, como o que fazer quando um colega fala mal e o outro fala bem pra não ter a nota e a apresentação prejudicadas. Supõe-se que essas preocupações sejam típicas de alunos iniciantes que ainda não se envolveram em atividades de pesquisa e extensão. Elaboração de currículo e comportamento em entrevistas de seleção

Foi realizada uma oficina com 18 estudantes. Os objetivos deste encontro consistiam em explicar como funciona uma seleção, mostrar o papel do currículo e da entrevista, ensinar a elaborar um currículo e oferecer dicas sobre como se portar em uma entrevista de seleção. Após explicar quais elementos devem e não devem constar no currículo, foi solicitado que os participantes elaborassem o seu. Tal atividade gerou dúvidas, como quais informações priorizar em detrimento de outras, necessidade de informar a instituição que frequentaram o ensino médio, de inserir foto e número de documentos de identidade e CPF. Em seguida, foram explicados os objetivos de uma entrevista de seleção e os tópicos abordados com maior frequência. Também foram apresentadas perguntas comuns em entrevistas (quais são seus objetivos para este cargo? Que qualificações o(a) tornam capaz de ser bem-sucedido(a) no cargo e na organização? Quais suas realizações mais importante como estudante e/ou profissional? Do que você mais e menos gostou em suas experiências anteriores?). O objetivo desta atividade não era treinar respostas prontas com os estudantes, mas mostrar a importância de responder de forma honesta e de refletir sobre o cargo ao qual se está concorrendo. Observou-se que a maioria dos participantes estava frequentando os semestres finais da graduação, indicando a necessidade de saber se portar em processos seletivos para estágios e para os primeiros empregos. Os alunos expressaram fantasias sobre a forma como são avaliados em tais processos e questionaram o que falar e o que fazer nessas situações. Entretanto, a oficina pode ter frustrado essas expectativas já que o objetivo da mesma não era dar respostas “coringa”, mas estimular comportamentos mais adequados e menos estereotipados nas seleções.

Planejamento de carreira

Foi realizada uma oficina com 6 participantes. O encontro pretendia auxiliar os estudantes universitários no planejamento de carreira, através do estabelecimento de metas e de planos de ação para alcançá-las. Para tanto, foram trabalhados o autoconhecimento para identificação de interesses e definição de objetivos profissionais, comportamentos de exploração para conhecer o que as opções de interesse de fato podem oferecer aos profissionais e, por fim, o processo de tomada de decisão. Verificou-se que a maioria dos discentes estava no início da faculdade e ainda não participava de atividades extracurriculares, indicando comportamento exploratório limitado. Além disso, poucas pessoas tinham clareza sobre o estilo de vida que queriam levar no futuro e, consequentemente, a área de atuação na qual iriam trabalhar. De maneira geral, a oficina trabalhou aspectos que podem facilitar a tomada de decisão de carreira no final da graduação, como a importância de buscar

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informações sobre os próprios objetivos e sobre as possibilidades oferecidas pelas diferentes áreas da profissão.

De maneira geral, os resultados obtidos pelo preenchimento das fichas de avaliação indicaram que as oficinas contemplaram as expectativas dos estudantes universitários. No entanto, alguns discentes sugeriram que as oficinas possuíssem maior tempo de duração, que alguns temas fossem mais aprofundados e que o projeto fornecesse certificado de participação.

As oficinas realizadas no primeiro semestre de 2013 obtiveram grande aceitação por parte dos acadêmicos. Acredita-se que a busca e a participação dos estudantes se devem pela percepção dos mesmos sobre a necessidade de estar preparado para conciliar inúmeras atividades, para lidar com as exigências do próprio meio acadêmico, para realizar a transição para o mercado de trabalho e, também, pelo desconhecimento de outros programas ou espaços dentro da universidade com o propósito de desenvolver habilidades relevantes para o planejamento de carreira. Além disso, a oferta de atendimento de discentes e a promoção de atividades para alunos constituem práticas importantes de reconhecimento e facilitadores da relação aluno-instituição (Bardagi & Hutz, 2009). Assim, observa-se a importância de propor atividades direcionadas às dificuldades dos acadêmicos e de dar continuidade ao projeto.

REFERÊNCIAS Abrantes, T. (2013, 8 de janeiro). 11 habilidades que o mercado exige e a faculdade não ensina. Revista Alfa, disponível em: http://revistaalfa.abril.com.br/estilo-de-vida/carreira/11-habilidades-que-o-mercado-exige-e-a-faculdade-nao-ensina Bardagi, M. P. (2013). Planejamento de carreira com graduandos finalistas: Modelos de intervenções implementadas na UFSC. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 101-102. Bardagi, M. P., & Hutz, C. S. (2009). “Não havia outra saída”: percepções de alunos evadidos sobre o abandono do curso superior. Psico – USF, 14 (1), p. 95 – 105. Borges, L. O. & Melo, S. L. (2007). A transição da universidade ao mercado de trabalho na ótica do jovem. Psicologia: Ciência e Profissão, 27(3), 376-395. Brissac, R. M. S. (2013). Da necessidade à viabilização de um programa de orientação de carreira no ensino superior: a experiência do Projecta (SAE – Unicamp). Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 102-103. Ferrentini, T. (2013). Primeiras Intervenções em Um Curso Superior Recém-Criado em uma IES Privada. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 102. Gondim, S. M. G. (2002). Perfil profissional e Mercado de trabalho: relação com a formação acadêmica pela perspective de estudantes universitários. Revista Estudos de Psicologia, 7(2), 299-309. Knabem, A. (2013). Orientação profissional e de carreira: um levantamento de projetos e ações nas universidades brasileiras. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 101. Lehman, Y. P. (2013). NOP – Núcleo de Orientação Profissional para Alunos USP. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 103. McKinsey & Company. (2013). Educação para o trabalho: Desenhando um sistema que funcione. Disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br//arquivos/biblioteca/educacao_para_o_mundo_do_trabalho_mckinsey.pdf

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Silva, C. S. C. (2013). Intervenções de aconselhamento de carreira no ensino superior: a experiência do Núcleo de Apoio ao Estudante da UFRGS. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 103-104. Silva, F. F. (2013). Orientação e planejamento de carreira na Universidade Mackenzie: contribuições para gestão universitária. Anais do Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional, 11, 104. Teixeira, M. A. P., & Gomes, W. B. (2004). Estou me formando... e agora?: Reflexões e perspectivas de jovens formandos universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(1), 47-62. Teixeira, M. A. P., Dias, A. C. G., Wottrich, S., H., & Oliveira, A. M. (2008). Adaptação à universidade em jovens calouros. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 12(1), 185-202.

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POC24 - POSSIBILIDADES E LIMITES DE UM PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA EM UMA FACULDADE PARTICULAR: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Veriguine NR 1; Pereira PC 2. 1 - Instituto Federal Catarinense - Campus Camboriú; 2 - Fameblu/Uniasselvi. Com as transformações do mundo do trabalho, tem sido cada vez mais necessário o processo de planejamento de carreira, especialmente para os jovens que estão saindo do curso superior sem saber como enfrentar as exigências de um mercado seletivo. Dentro dessa realidade, algumas instituições de ensino têm dirigido esforços para criar serviços de orientação de carreira para seus alunos. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo apresentar as possibilidades e os limites de um programa de orientação dentro de uma faculdade particular do município de Blumenau/SC. O programa foi viabilizado por meio da criação de um projeto de extensão, no qual as acadêmicas das últimas fases do curso de Psicologia ministravam oficinas sobre a temática para alunos de toda a instituição, sob a supervisão de uma professora especializada. O trabalho foi realizado na modalidade grupal, com até 25 participantes. Para a viabilidade do programa foi necessária a autorização da direção geral da instituição, a qual concedeu a carga horária de 8 horas aula. Em função do fato dos cursos serem predominantemente noturnos e direcionados a alunos trabalhadores, foi necessário realizar as atividades no próprio horário de aula, mediante aceite da coordenação do curso e dos alunos. Desta forma, a participação dos alunos foi voluntária. As intervenções tiveram como principal objetivo a criação de um espaço de reflexão sobre o futuro profissional e as possíveis estratégias de inserção no mercado de trabalho. A metodologia empregada envolveu a realização de palestras, dinâmicas de grupo e discussões. Os conteúdos abordados foram: a satisfação ou frustração com o curso escolhido, as possibilidades de atuação profissional na área, a entrevista de seleção, a elaboração do currículo profissional, as condições do mercado de trabalho, o perfil do profissional na atualidade e a elaboração de um planejamento profissional. Durante todo o ano de 2011, participaram em torno de 200 alunos dos diversos cursos da instituição, dos quais a grande maioria aprovou o trabalho, ressaltando que este espaço se configurou num dos únicos momentos para a reflexão sobre o projeto de futuro profissional dos mesmos. As intervenções também foram gratificantes para as estagiárias que participaram. No entanto, o pouco tempo disponibilizado resultou na falta de aprofundamento de algumas questões. Além disso, para que o trabalho fosse mais eficaz seria necessário acompanhar os jovens com grandes dilemas profissionais num processo individual de orientação, o que não foi possível em função da falta de infraestrutura da instituição. PALAVRAS-CHAVE: orientação de carreira; juventude; trabalho. INTRODUÇÃO

Historicamente, a Orientação Profissional ou OP, como geralmente é designada, surgiu atrelada aos processos de seleção de pessoal e aplicação de testes psicológicos relacionados à avaliação do desempenho profissional (MELO-SILVA & JACQUEMIN, 2001). Desde seu nascimento no Brasil em 1924, a área tem sofrido modificações, expandindo sua atuação.

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Atualmente, a OP é um campo de conhecimento científico e prático, com enfoque interdisciplinar e dirigida para a compreensão da relação homem/trabalho. Ela se direciona para a complexidade da organização social no que tange à inserção, satisfação e permanência dos sujeitos no mercado de trabalho. Seu objetivo é facilitar as escolhas da profissão, permitindo um trabalho relacionado às dificuldades singulares dos sujeitos em qualquer momento da vida: desde a escolha em cursar ou não o nível superior, o ingresso no mercado de trabalho, a construção da carreira até o desligamento e a aposentadoria. Ela pode ser realizada nos mais diversos contextos sociais e com populações de diferentes faixas etárias, dependendo da situação (SOARES, 1987, 2000, 2002).

Grande parte da organização da vida social baseia-se na preparação para a entrada no mundo do trabalho e na posterior atuação como profissional. Desde muito cedo, as crianças são estimuladas a estudarem e tirarem boas notas, a fim de que o conhecimento adquirido lhes garanta uma atividade laboral e um sustento financeiro. Ao crescerem e se tornarem jovens, espera-se que escolham uma profissão e uma área de trabalho, nas quais devam atuar e se desenvolver como profissionais.

No entanto, as metamorfoses do mundo do trabalho ocorridas nas últimas décadas têm modificado sensivelmente a relação das pessoas com seu trabalho. A reestruturação produtiva, a flexibilização das relações trabalhistas e a intensificação e precarização do trabalho criaram um novo contexto bastante paradoxal: ao mesmo tempo em que há menos ofertas de trabalho nos modelos formais com carteira assinada (especialmente para os graduados), aqueles que conseguem um trabalho sofrem com a alta carga de atividades. Não tem sido fácil se inserir no mercado, e mais difícil ainda é manter o trabalho que se tem.

Uma vez que o planejamento de carreira demanda a escolha pela forma como o indivíduo quer atuar profissionalmente, a situação de complexidade do mercado de trabalho surge como uma variável importante que pode dificultar a reflexão sobre o futuro. Ao perceber a dificuldade de inserção, o jovem aluno do ensino superior pode abandonar seu sonho profissional para se adaptar às exigências mercantis. Como explicam Dias e Soares (2007), muitas vezes a realidade é tão complexa que o jovem, por mais que tenha feito uma escolha por determinado campo de atuação, acaba trabalhando em outra área diferente daquela que escolheu.

Nesse contexto de transição e inserção profissional, a OP pode contribuir para que esses sujeitos possam integrar seus sonhos e desejos de futuro às condições de mercado, por meio do processo de orientação e planejamento de carreira. Para Soares (2000), a orientação de carreira diz respeito ao processo de reflexão que envolve todo o desenvolvimento profissional, desde as escolhas até o estabelecimento de metas profissionais. Segundo a autora:

Uma pessoa procura orientação quando as ações indicam que o transcorrer da vida já foi ou está se processando fora do curso esperado, indicando uma distância entre “o que é” e “o que deveria ser” ou “gostaria que fosse”. O objetivo da orientação de carreira é habilitar o indivíduo para viver o melhor caminho. Em todos os problemas de carreira o indivíduo é visto como paciente ou como vítima de uma situação. O objetivo do orientador é fazer com que ele possa ser o agente capaz de tomar as ações efetivas e significativas para obter os seus objetivos na vida (SOARES, 2000, pp. 37-38).

De acordo com Veriguine (2008) e Veriguine, D’avila, Tolfo e Soares (2010) a

saída do curso superior gera nos jovens uma mistura de sentimentos de otimismo, medo, apreensão e idealização. Se por um lado eles não sabem como exatamente

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será a entrada no mundo do trabalho e se angustiam por isso; por outro, eles se agarram àquilo que conhecem, imaginando que suas mínimas estratégias de busca pelo primeiro emprego serão positivas.

Visando auxiliar os jovens a enfrentarem essa realidade e a criar estratégias para a inserção profissional, algumas instituições de ensino no Brasil têm dirigido esforços para criar serviços de orientação de carreira para seus alunos (DIAS & SOARES, 2009; VERIGUINE; KRAWULSKI; D’AVILA; SOARES, 2010, SILVA, BARDAGI, LASSANCE & PERREIRA, 2010).

Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo apresentar as possibilidades e os limites de um programa de orientação e planejamento de carreira dentro de uma faculdade particular do município de Blumenau/SC.

A relevância social deste trabalho está relacionada ao fato de que as mudanças no mundo do trabalho têm afetado consideravelmente a população jovem em todo o mundo. Diferentes autores têm apontado esse público como um dos grupos mais vulneráveis ao desemprego, a contratos precários de trabalho e faixas salariais inferiores aos trabalhadores adultos (POCHMANN, 2007). Embora o Brasil atravesse índices de relativo crescimento com a abertura de novos postos de trabalho, a maioria dos empregos criados nos últimos anos se insere no quadro de trabalhos precários e apresenta baixa remuneração e qualificação, segundo os critérios da Organização Mundial do Trabalho.

Desta forma, a demanda por um tipo de trabalho de orientação e planejamento de carreira destinado especialmente aos jovens graduandos é crescente e necessária. Segundo Teixeira (2002), o fim do curso universitário representa para muitos jovens o marco de passagem entre a juventude e a vida adulta. Receber um diploma universitário significa a possibilidade de exercer uma profissão e por meio do trabalho ter autonomia e independência em relação à família. Com a conclusão da graduação, o jovem precisa reavaliar sua trajetória até o momento, estabelecer objetivos e projetar suas expectativas em relação ao seu futuro.

Por todas as questões levantadas acima, e tendo claro que durante grande parte da formação escolar o aluno recebe pouquíssima informação acerca do mundo do trabalho; é bastante relevante que o jovem concluinte do ensino superior recebe apoio e orientação antes de se graduar e se inserir no mercado. O que mais uma vez aponta a relevância social da realização desse tipo de projeto. Além disso, a discussão da experiência aqui relatada pode contribuir para a construção de outras intervenções no âmbito do planejamento de carreira, permitindo aos interessados na área de OP a reflexão sobre as diferentes possibilidades de ações do orientador profissional.

O PROJETO E SEUS PROCEDIMENTOS

O programa foi viabilizado por meio da criação de um projeto de extensão e de estágio, no qual as acadêmicas do curso de Psicologia ministravam oficinas sobre a temática planejamento de carreira para alunos de toda a instituição de ensino, sob a supervisão de uma professora especializada em Orientação Profissional. As supervisões eram realizadas semanalmente e todas as estagiárias eram convidadas a participarem, tendo realizado ou não intervenções até o presente momento. A coordenação dos trabalhos era realizada em duplas, de forma que uma estagiária com mais experiência coordenava o trabalho enquanto a outra dava suporte.

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Vale a pena ressaltar que as estagiárias que participaram do projeto foram aquelas que estavam na 9 e 10 fase do curso e que escolheram a ênfase em Psicologia Organizacional e do Trabalho como temática para seus estágios de conclusão de curso. Como muitas delas trabalhavam durante o dia e, portanto, tinham possibilidades restritas de realizar estágio em organizações, a experiência de participar do projeto também lhes permitiu cumprir carga horária em horários compatíveis com seus empregos.

As intervenções tiveram como principal objetivo a criação de um espaço de reflexão sobre o futuro profissional e as possíveis estratégias de inserção no mercado de trabalho dos jovens alunos da instituição de ensino. Foram também objetivos do projeto: promover reflexão no participante a respeito da sua escolha e trajetória profissional; apresentar informações relevantes sobre o mundo do trabalho e sobre o funcionamento das organizações; discutir as características do profissional da atualidade; apontar informações sobre a construção de currículos e sobre os processos seletivos nas organizações; desenvolver habilidades e competências necessárias para a inserção profissional e auxiliar o aluno a montar seu plano de carreira.

O trabalho foi realizado por meio da modalidade grupal, proposta por Soares- Lucchiari (1993), denominada de “planejamento por encontros” e divididas em três temáticas principais o processo de conhecimento de si mesmo, de compartilhar informações profissionais e do estabelecimento de um projeto profissional de vida futura.

Eram permitidos até 25 participantes em cada oficina. Para a viabilidade do programa foi necessária a autorização da direção geral da instituição, a qual concedeu a carga horária de 8 horas aula, divididas em dois grupos de 4 horas aula. Em função do fato dos cursos serem predominantemente noturnos e direcionados a alunos trabalhadores, foi necessário realizar as atividades no próprio horário de aula, mediante aceite da coordenação do curso, dos alunos envolvidos e do professor daquele horário de aula. Desta forma, após a institucionalização do projeto de extensão junto à Coordenação do curso de Psicologia e junto à Direção da Instituição, a professora responsável buscou as coordenações dos cursos superiores e realizou as negociações necessárias para utilização dos horários de aula disponíveis para a atividade. Cada curso disponibilizou os dias e horários conforme suas atividades, sendo que algumas oficinas foram realizadas aos sábados para não prejudicar o andamento das matérias. A participação do aluno na oficina foi voluntária e ao final do processo o mesmo foi convidado a preencher um formulário de avaliação do trabalho, com perguntas fechadas. As atividades foram realizadas nas próprias salas de aula dos alunos.

A metodologia empregada envolveu a realização de oficinas com palestras, dinâmicas de grupo, vídeos e discussões. Os conteúdos abordados foram: a satisfação ou frustração com o curso escolhido, as possibilidades de atuação profissional na área, a entrevista de seleção, a elaboração do currículo profissional, as condições do mercado de trabalho, o perfil do profissional na atualidade e a elaboração de um planejamento profissional.

POSSIBILIDADES E LIMITES DA EXPERIÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA

As intervenções ocorreram na instituição durante todo o ano de 2011. Participaram das oficinas mais de 200 alunos dos diferentes cursos da Faculdade, sendo que geralmente o grupo de participantes era formado por alunos do mesmo

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curso e fase. Foi dada prioridade na participação das oficinas para as turmas que estavam no último ano do curso superior.

O trabalho tinha inicio por meio de uma discussão sobre o processo de escolha profissional e as áreas de atuação do curso. Os participantes eram convidados a preencherem um quadro com as atividades que gostam e gostariam de fazer no futuro; as atividades que gostavam, mas não fariam em função de alguma limitação; as atividades que não gostavam mais aceitariam fazer por algum motivo; e as atividades que não gostavam e não aceitariam fazer de jeito nenhum (curtigrama adaptado de SOARES, 2010). Depois era mostrado um vídeo sobre as transformações no mundo do trabalho e era realizada uma discussão sobre o perfil profissional esperado pelas organizações nos dias de hoje. O primeiro conjunto de 4 horas aula de intervenção terminava com uma explicação sobre a importância do currículo e o processo de elaboração do mesmo. O segundo conjunto de 4 horas aula era destinado à dramatização de uma entrevista de processo seletivo, na qual as estagiárias que conheciam a área de Recursos Humanos enfatizavam de forma lúdica os principais erros dos candidatos à uma vaga de emprego. Depois, os alunos deveriam preencher um quadro com suas principais metas profissionais e estratégias para alcançar tal desejo (adaptado de DIAS & SOARES, 2009)., sendo que as coordenadoras auxiliavam na reflexão, passando de carteira em carteira e atendendo aluno por aluno. Por fim, os participantes tinham tempo para o esclarecimento de dúvidas e era mostrado um vídeo motivacional sobre o planejamento de carreira.

Antes de iniciar a reflexão sobre a prática, é necessário descrever um pouco da realidade da instituição e de seu alunato para que se compreenda o que impulsionou a forma como o projeto foi realizado e as limitações que ele apresentou. A Faculdade na qual o projeto foi realizado é nova, apresenta menos de 15 anos, cresceu, sobretudo, pelo ensino à distância, e nos últimos 8 anos tem investido gradualmente nos cursos de graduação presencial na região do Médio Vale do Itajaí. Em sua cultura organizacional estão valores como: ênfase na relação com o aluno, o processo de negociação com o cliente e o estímulo ao empreendedorismo.

De acordo com pesquisa institucional, quase 75% dos alunos frequentadores da instituição de ensino são trabalhadores e, a maioria, trabalha especialmente para pagar a mensalidade da faculdade. Esses jovens são provenientes principalmente das classes C e D e se apresentam como a primeira geração da família a chegar ao ensino superior. Seus pais e avós exerceram, em grande maioria, ocupações técnicas industriais e tinham como sonho ver um filho com um diploma de ensino superior.

Fazer um curso de graduação para o qual se tem habilidade e interesse era o grande desejo dos jovens participantes do projeto. Suas escolhas profissionais foram baseadas principalmente em sonhos e inspirações: “escolhi administração para saber ter meu próprio negócio”, “fiz nutrição para ajudar as pessoas”, “eu queria trabalhar com atendimento ao público e não mais no chão de fábrica”. Poucos tinham informações sobre o mercado de trabalho e sabiam que tipos de empregos poderiam ter com a formação que buscavam. Essa falta de informação sobre a realidade laboral é encontrada em várias pesquisas sobre orientação de carreira (FELISBERTO, 2001; PIMENTEL, 2007; VERIGUINE; KRAWULSKI; D’AVILA; SOARES, 2010). De acordo com Silva, Bardagi, Lassance & Perreira (2010) a combinação da desinformação com a competitividade do mercado de trabalho tem gerado ansiedade generalizada pela busca por emprego e qualificação. O que também esteve presente nos participantes do projeto, os quais, em alguns casos,

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evidenciaram que um “bom curso de pós-graduação seria a solução para conseguir um emprego”.

Ao serem questionados sobre as estratégias de enfrentamento de processos seletivos para cargos na área da graduação que escolheram, esses jovens demonstraram certo desajustamento profissional, não conseguindo identificar quais conhecimentos e competências eram necessárias para o campo profissional. Em muitos casos, para que ficasse mais claro para os participantes que habilidades deveriam desenvolver e demonstrar num processo seletivo foi necessário que as próprias estagiárias listassem e relacionassem as competências exigidas pelos empregadores com as atividades do trabalho atual dos participantes. O desajustamento profissional encontrado nos jovens participantes desse projeto vai ao encontro da pesquisa de Gondin (2002), na qual os estudantes entrevistados universitários demonstraram falta de clareza sobre suas habilidades e não conseguiram relacionar as habilidades que possuem ao perfil da profissão que escolheram.

Em relação aos aspectos positivos do projeto, pode-se citar o fato de que foram vários os depoimentos dos participantes que elogiaram as intervenções, ressaltando que o espaço se configurou num dos únicos momentos durante a graduação para a reflexão sobre o projeto de futuro profissional dos mesmos. Entre as opções, ótimo, bom, regular e ruim, 90% dos participantes que responderam o questionário facultativo de avaliação do projeto, responderam ótimo e os outro 10% responderam bom. Houve inclusive quem afirmasse que as oficias foram a melhor atividade que a instituição disponibilizou para seus alunos ao longo do ano. O que pode indicar que ações no âmbito da orientação e planejamento de carreira podem em instituições particulares significar ganhos na imagem institucional. Vale ainda lembrar que diante do fato de que todo o projeto foi criado e executado por uma professora e por suas estagiárias, ele não apresentou custos extras para a Faculdade, o que foi visto como positivo pela direção da Instituição.

O projeto contou com a participação de 5 estagiárias do curso de Psicologia, as quais realizaram ali seus estágios de conclusão de curso. Duas delas optaram por realizar também a pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso sobre o projeto, resultando nos trabalhos: Dallabrida (2011) e Gonçalves (2011), além de outros trabalhos que foram apresentados em congresso (GONCALVES, WESTARB e VERIGUINE, 2012). Para as estagiárias, a participação no projeto gerou benefícios e certa realização. Algumas não imaginavam que conhecimentos da Psicologia a respeito de temáticas como seleção e treinamento pudessem beneficiar outras pessoas, ao serem aplicados na orientação de carreira. Havia também por parte das estagiárias, certo desconhecimento a respeito das possibilidades de atuação do orientador profissional, sendo a prática atrelada ao uso de testes vocacionais ou às intervenções no ensino médio. “É gratificante estar ligada a um projeto que está atendendo as necessidades dos participantes. Além de nos agregar muito conhecimento, possibilita a nós acadêmicos, atuar no campo da Psicologia Organizacional e também Orientação Profissional. Esta experiência tem contribuído muito, tanto para o meu desenvolvimento acadêmico, quanto para o planejamento de minha carreira como uma futura psicóloga”: são as falas de uma das estagiárias que atuou no projeto.

Houve também certas limitações na execução do projeto. Uma delas foi o pouco tempo disponibilizado para a realização das oficinas, apenas 8 horas aula. De acordo com Soares (2000), o tempo mínimo para a realização de um trabalho em grupo de orientação profissional é 20 horas. No entanto, em função dos participantes

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serem trabalhadores durante o dia, só poderiam participar das atividades no período noturno e/ou finais de semana e a direção da instituição não quis disponibilizar um número maior de horas. Além disso, o número de participantes foi grande e inviabilizou a realização de entrevistas individuais ao final do processo, como sugere Soares (2000).

Também não foi possível oferecer um serviço de orientação profissional individualizado para aqueles que estavam com dúvidas sobre a continuidade dos estudos em seu curso ou para aqueles que apresentavam muitas dificuldades na inserção laboral. A instituição não oferecia um serviço de orientação profissional dentro da abordagem clínica (BOHOSLAVSKY, 2007) e a professora coordenadora deste projeto não tinha carga horária para orientar atendimentos clínicos em orientação profissional, embora esse fosse o próximo passo a ser pensado para o projeto caso o mesmo tivesse continuidade. Aliás, esse item foi justamente um dos aspectos levantados como sugestões de melhoria. Para 17% dos participantes, a modalidade de atendimento individual possibilitaria um aprofundamento no processo de orientação.

Na mesma direção, uma outra contribuição dos participantes do projeto foi a possibilidade de oferecer as oficinas ao longo de toda a graduação, de forma que os acadêmicos das primeiras fases também pudessem participar. Em função da falta de infraestrutura e de investimento da Instituição, o projeto não teve continuidade no ano seguinte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste texto relatou-se a experiência de um programa de orientação de carreira dentro de uma faculdade particular do município de Blumenau/SC. Embora as intervenções tenham apresentado limitações, de forma geral pode-se afirmar que o projeto atendeu seu objetivo principal de permitir a criação de um espaço de reflexão sobre o futuro profissional e as possíveis estratégias de inserção no mercado de trabalho dos alunos participantes. No curto espaço de tempo disponível, 8 horas aula, foi possível provocar esses jovens a refletirem sobre seus projetos de futuro profissional, mesmo sem muito aprofundamento.

Em tempos de mudanças no mundo do trabalho, é preciso repensar a atuação do orientador profissional, que muitas vezes também é um profissional contratado por uma organização para realizar uma atividade com “alta eficiência e baixo custo”.

Atuar no âmbito da orientação profissional é equilibra-se numa corda bamba. É preciso realizar com competência o trabalho, é preciso auxiliar os orientados a criarem estratégias alternativas de inserção e permanência no campo laboral. Mas é preciso também resistir a adesão à ideologia neoliberal. O orientador profissional precisa compreender que os discursos da empregabilidade e da qualificação são falaciosos e representam engrenagens do sistema capitalista para manter a exploração do capital. Ao mesmo tempo que tem a função de favorecer o desenvolvimento profissional de seus clientes, não pode simplesmente reforçar as injustiças do sistema capitalista. Para Lisboa (2000, p. 15), o orientador profissional tem um compromisso social:

Não sermos reprodutores de modelos de uma sociedade que não privilegia o humano, mas sim o capital; significa sermos comprometidos e criativos; comprometidos conosco e com os outros; não vermos somente a parte, mas o todo; não olharmos somente para nós mesmos, mas olharmos para o outro com todas as suas possibilidades e diferenças; não agirmos visando somente a nós, mas também aos outros; compartilhar, interessando-nos,

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interagindo, comprometendo-nos. O orientador profissional, hoje mais do que nunca, precisa comprometer-se. Precisa mergulhar no caldo social ao qual pertence e dele emergir impregnado da cor que lhe for dada, como sujeito reflexivo, não somente alguém que pensa a realidade, mas o faz criticamente.

REFERÊNCIAS BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. 12ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. DALLABRIDA, C. L. Concepções de Carreira e de Planejamento de Carreira em Universitários. Trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia não publicado. Faculdade Metropolitana de Blumenau/Uniasselvi, 2011. DIAS, M. S. de L. & SOARES, D. H. P. Orientação e planejamento de carreira: uma experiência na universidade. PSI. Revista de Psicologia Social e Institucional, 4, 1-24, 2007. DIAS, M. S. L.; SOARES, D. H. P. Planejamento de Carreira: uma orientação para estudantes universitários. São Paulo: Vetor, 2009. FELISBERTO, R. de F. T. Tenho um diploma universitário, mas não tenho emprego: histórias de vida de pessoas que vivem a experiência do desemprego. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. GONCALVES, R; WESTARB, D; VERIGUINE, N. R. A percepção de alunos a respeito de um projeto de orientação de carreira dentro de uma faculdade particular. In: V Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho, 2012, Rio de Janeiro. Anais do V congresso brasileiro de psicologia organizacional e do trabalho, Rio de Janeiro, 2012. GONÇALVES, R. Projeto de extensão pro-carreira. Trabalho de conclusão de curso em Psicologia não publicado. Faculdade Metropolitana de Blumenau. Orientador/Uniasselvi, 2011. GONDIM, S. M. G. Perfil profissional e mercado de trabalho. Estudos de Psicologia, Natal, v. 7, n. 2. pp 299 -309, 2002. LISBOA, M. D. A formação de orientadores profissionais: um compromisso social multiplicador. In SOARES, D, H. P. & LISBOA, M. D. (Orgs.). Orientação Profissional em Ação: formação e prática de orientadores. São Paulo: Summus, 2000. MELO-SILVA, L. L. & JACQUEMIN, A. Intervenção em Orientação Vocacional/Profissional: avaliando resultados e processos. São Paulo: Vetor, 2001. PIMENTEL. R. Q. E agora José? Jovens psicólogos recém-graduados no processo de inserção no mercado de trabalho na Grande Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. POCHMANN, M. A batalha pelo primeiro emprego: a situação e as perspectivas do jovem no mercado de trabalho brasileiro. (2a ed.). São Paulo: Publisher, 2007. TEIXEIRA, M. A. P. A experiência de transição entre a universidade e o mercado de trabalho na adultez jovem. Tese de Doutorado em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. SILVA, C. B. da; BARDAGI, M. P; LASSANCE, M. C. P; PEREIRA, D. F. Intervenções com universitários: uma proposta de disciplina de Planejamento de

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Carreira na graduação. In: M. C. LASSANCE, Técnicas para o trabalho de orientação profissional em grupos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010. SOARES, D. H. (1987). O jovem e a escolha da profissão. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987. SOARES-LUCCHIARI, D. H. P. Pensando e vivendo a orientação profissional (2a ed.). São Paulo: Summus, 1993. SOARES, D. H. P. As diferentes abordagens em orientação profissional. In Soares, D. H. P. & Lisboa, M. D. (Orgs.). Orientação profissional em ação: formação e prática de orientadores. São Paulo: Summus, 2000. SOARES, D. H. P. A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus, 2002. SOARES, D. H. P. Técnicas e jogos para utilização em grupos de orientação. In R. S. Levenfus & D. H. P. Soares (Cols). Orientação vocacional ocupacional. (2ª ed). Porto Alegre: Artmed, 2010. VERIGUINE, N. R. Autoconhecimento e Informação Profissional: implicações para o processo de planejar a carreira de jovens universitários. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. VERIGUINE, N. R.; D’AVILA, G. T.; TOLFO, S. DA R.; E SOARES, D. H. P. Como vai ser a minha entrada no mercado de trabalho? Um estudo com jovens no final do curso universitário. Anais da I Jornada Internacional de Práticas Clínicas no Campo Social, Maringá, Universidade Estadual de Maringá, 2010. VERIGUINE, N. R.; KRAWULSKI, E.; D’AVILA, G.,T.; SOARES, D. H. P. Da formação superior ao mercado de trabalho: percepções de alunos sobre a disciplina de orientação e planejamento de carreira em uma universidade federal. Revista Electrónica de Investigación y Docência (REID), nº 4/julho, p 79-96, 2010.

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POC25 - PROVE: UMA NOVA ABORDAGEM HOLÍSTICA PARA A REORIENTAÇÃO OCUPACIONAL E DE CARREIRA

Pfeifer, A. 1. 1 – Serpro. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma nova abordagem holística para a reorientação ocupacional de jovens e adultos em fase de redefinição de carreira ou de aposentadoria. Relata a experiência do Programa de Reorientação Ocupacional Vocacionada Holístico Existencial (PROVE). Este tipo de orientação ocupacional e de carreira interessa principalmente às pessoas que possuem uma visão holística e transcendente da vida e do mundo. São pessoas que embora encontrem expressão dessa abordagem nas outras dimensões pessoais, se sentem fragmentadas internamente em relação à sua profissão, por não conseguirem obter a coerência externa no trabalho em relação à essa visão de consciência ampliada. O Programa possibilita uma orientação vocacionada ao propiciar um maior autoconhecimento baseado na troca em dinâmicas de grupo e por meio de exercícios individuais, desde os comumente utilizados pela Orientação Profissional (OP) até aqueles que derivam das antigas tradições espirituais, segundo Blavatsky (1981), trazidas pela Tradição-Sabedoria. Busca, ao elaborar um Planejamento Existencial, proposto por Lindemann (2005), estabelecer um compromisso pessoal de esforço de aprofundamento na nova área de interesse profissional (ou na antiga, mas com um novo foco), sustentado pelas afinidades e interesses (re)descobertos, e que portanto persistentes e duradouros. Ao iniciar um realinhamento de carreira, possibilita realizar, com o devido tempo, o que Krishnamurti (1999) assegura quando menciona que “os meios determinam os fins”, ao contrário da lógica de mercado, limitadora e redutora, de que “os fins justificam os meios”. Elaborado como trabalho de conclusão do Curso de Formação em OP do Instituto do Ser da turma de 2007 de Florianópolis, o PROVE foi apresentado no "Congreso Internacional de Orientación Vocacional" (AIOSP/IAEVG) em Buenos Aires/Argentina em 2008. Com a transferência da sede do Instituto do Ser para Florianópolis em 2011, foi oportunizado o ambiente para que fossem realizadas duas turmas com nove participantes cada. “Entusiasmo, contribuição significativa, alinhamento dos valores pessoais com os profissionais, clareza de visão, autoconfiança”, foram algumas das declarações das participantes. Recentemente, a nova abordagem holística tem sido apresentada como uma aula do Curso de Formação em OP, com grande aceitação pelos alunos. O PROVE oportuniza a integração desse ser, que se percebe holístico ou espiritualizado, com um fazer profissional investido de significado, ao mesmo tempo, de autorrealização e de serviço altruísta. Ao proporcionar uma abordagem complementar para a OP, essa proposta holística atende aos “trabalhadores com uma visão transcendente da vida”, e que sentem necessidade de perceber essa dimensão contemplada no seu processo de orientação profissional, de carreira ou para aposentadoria. PALAVRAS-CHAVE: reorientação ocupacional vocacionada holística; tradição-sabedoria; planejamento existencial. 1) INTRODUÇÃO

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A atual crise social, caracterizada pela precariedade dos empregos, elevação dos índices de violência urbana e do terrorismo internacional, somada à crise ecológica, onde se destacam o aquecimento global, a grande extinção de espécies e a futura escassez de água, tem levado boa parte da sociedade ocidental a um sentimento de desesperança com relação ao futuro da humanidade. Por exemplo, nos últimos trinta anos, o desenvolvimento da economia não veio acompanhado da geração de novos postos de trabalho e de empregos “com carteira”. Este fato é historicamente novo. Até o início da década de 60 do século XX, o crescimento econômico estava associado com aumento da massa salarial. O fato é que o trabalho humano na sua configuração “emprego+salário” entrou em crise. Em consequência, a própria cidadania entrou em crise, pois empregos e salários sempre se constituíram, nas formações socioeconômicas capitalistas, em modo dominante de inserção e de reconhecimento social (Hobsbawn; Castel apud Ferreira, 2008). Neste contexto, Albuquerque (2004) apresenta, para reflexão, um aparente paradoxo: embora a maioria das organizações estejam amplamente envolvidas na busca da produtividade e em processos de mudanças com vistas a melhorar seu posicionamento competitivo no mercado, o bem estar e a motivação dos empregados vem ganhando espaço nas discussões acadêmicas e empresariais. É nesse cenário de mudanças organizacionais significativas, desencadeadas por fatores complexos (históricos, sociais, econômicos, tecnológicos, culturais, políticos), que a natureza do trabalho humano e o perfil esperado do trabalhador vêm se alterando rapidamente em função, principalmente, da introdução de novas tecnologias de produção e gestão. Pois uma tensão permanente e crescente tem se manifestado: garantir padrão de excelência em produtos e serviços requer dispor de pessoas motivadas e comprometidas com o trabalho (Ferreira, 2008). Então nos perguntamos: o que está sendo oferecido de novo, como caminhos alternativos à sociedade? Quais são as soluções apontadas pelas lideranças sociais, acadêmicas, políticas ou empresarias, os formadores de opinião, que terminam por direcionar os caminhos do grande contingente de pessoas? De modo semelhante, mesmo aquelas pessoas que possuem uma visão holística, transcendente da vida e do mundo, e que encontra expressão em diversas dimensões do seu viver, também se sentem reféns de um mercado de trabalho que funciona com uma lógica redutora e limitadora, sintetizada pela afirmativa de que “os fins justificam os meios”. Por que estas pessoas, que podem ser chamadas como os integrantes da “Nova Era”, da “Era de Aquário”, e que à princípio possuem uma consciência ampliada, uma capacidade real para transformações pessoais segundo suas crenças, evidenciadas por mudanças de comportamento significativas em relação à maioria das pessoas, também não conseguem usar este potencial para redirecionar suas carreiras num sentido de maior realização pessoal e contribuição social? Neste contexto podemos apresentar a pergunta que sintetiza o objetivo deste trabalho: “Qual a contribuição de um programa de reorientação ocupacional e de carreira, baseado numa abordagem holística da vida, e que utiliza instrumentos de autoconhecimento das antigas tradições espirituais e o planejamento existencial, visando a integração do “ser” com o “fazer” profissional, para as pessoas que possuem uma visão transcendente da vida?” Cabe lembrar que essa é uma proposta de orientação para as pessoas que acreditam na existência de uma força maior, transcendente e de nossa inter-relação

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com todos os seres vivos e com o cosmos. Entendemos que isso é algo que brota naturalmente do coração de cada um, como uma intuição crescente, ao longo da vida da alma. Caso contrário, talvez caiba o alerta de um Mestre de Sabedoria: “Não degradeis a verdade, impondo-a a mentes que não a desejam” (Beechey, 2003). A história até o momento do PROVE - Programa de Reorientação Ocupacional Vocacionada Holístico Existencial, como uma nova abordagem holística para a reorientação profissional, de carreira e para a aposentadoria, é recente e pode ser sintetizada no quadro abaixo.

Evento Desenvolvimento

Curso de Formação em OP - Instituto do Ser - Turma de 2007 - Florianópolis

Foi primeiramente elaborado como trabalho de conclusão (TCC) do Curso de Formação em Orientação Profissional e de Carreira, com a participação voluntária de duas psicólogas, colegas de turma.

"Congreso Internacional de Orientación Vocacional" - AIOSP/IAEVG - Buenos Aires/ Argentina - 2008

Como um artigo de doze páginas, traduzido para o espanhol, o trabalho teve sua Apresentação Oral no Congresso da Associação Internacional de Orientação Escolar e Profissional / Associação Internacional para Orientação Escolar e Vocacional.

Turmas do PROVE - 2011 Com a transferência da sede do Instituto do Ser de São Paulo para Florianópolis, foi oportunizado o ambiente para que fossem realizadas duas turmas do PROVE com nove participantes cada.

Aulas da nova Abordagem Holística na OPCA - Curso de Formação em OP - Instituto do Ser - Turmas de 2012 e de 2013 - Florianópolis

O PROVE tem sido apresentado como uma aula de quatro horas no curso de Formação em Orientação Profissional e de Carreira, com grande aceitação e entusiasmo pelas alunas.

2) MARCO TEÓRICO 2.1) A “nova” Abordagem Holística de perceber o mundo

O filósofo e estadista sul-africano Jan Smuts pode ser considerado, pela sua obra pioneira, em 1926, o pai da “visão holística”. Na sua visão unitiva, Smuts afirma que a matéria possui o potencial da vida e da mente, postulando um “continuum” evolutivo entre matéria, vida e mente. Ele cunhou o termo “holismo”, significando um princípio único organizador de totalidade e gerador de conjuntos, uma tendência sintética universal. A proposta de Smut aponta para um impulso natural de síntese que tudo permeia, sendo que a Vida é o Todo em expansão evolutiva na direção da inteireza e plenitude (Weil em Crema, D' Ambrósio e Weil, 1993).

Essa nova visão de mundo pressupõe uma “mudança de paradigma”. Conforme Capra (1989), geralmente não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua própria base e força motriz:

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Durante a revolução científica no século XVII, os valores eram separados dos fatos, e desde essa época tendemos a acreditar que os fatos científicos são independentes daquilo que fazemos, e são, portanto, independentes dos nossos valores. Porém, os fatos científicos emergem de toda uma gama de percepções - de um paradigma - dos quais não podem ser separados. Embora grande parte das pesquisas detalhadas possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma mais amplo, em cujo âmbito essa pesquisa é desenvolvida, nunca será livre de valores.

A noção de paradigma científico foi definida por Kuhn (apud Capra, 1989) como uma constelação de realizações - concepções, valores e técnicas - compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos. Para o autor, as mudanças de paradigma são as transformações significativas que ocorrem sob a forma de rupturas descontínuas e revolucionárias.

Para Capra, o novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas:

Essa percepção reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos). Esse conceito de paradigma, emergiu como resultado das discussões dos filósofos em função das grandes mudanças de pensamento que ocorreram na física no princípio do século XX. Em especial, a teoria da relatividade e a física quântica. A abordagem holística pressupõe um “olhar quântico” da realidade.

Nessa abordagem, pensar holístico é pensar transdisciplinar (Crema, D’Ambrósio e Weil, 1993). Representa a convocação para a mesa de reflexão e sinergia, ao lado dos cientistas e técnicos, dos exilados do “império da razão”: os artistas, os poetas, os filósofos e os místicos. Pensar holístico significa o retorno à qualificação desses navegantes da subjetividade, da alma e do absoluto. Estamos falando de razão e sensibilidade se complementando, através das interações transpessoais e transculturais.

2.2) Contribuições da Tradição-Sabedoria para o Autoconhecimento Holístico A psicologia torna-se cada vez mais um campo de estudo internacional, menos amarrado aos pressupostos intelectuais e filosóficos da América e da Europa Ocidental (Fadiman e Frager, 1986). Segundo os autores, há ampla evidência do interesse que as pessoas e os estudantes de psicologia têm pelas Teorias Orientais da Personalidade, por exemplo, as relacionadas às religiões como o Zen do Budismo, o Yoga do Hinduísmo e o Sufismo. E que se originaram de uma necessidade de compreender a relação entre a prática religiosa e a vida cotidiana. Essas tradições enfatizam a futilidade e a insensatez da valorização de padrões externos (mais comum na sociedade ocidental) em detrimento de um desenvolvimento interior. O principal enfoque dessas doutrinas é o crescimento transpessoal: a tendência de cada pessoa a relacionar-se mais intimamente com algo maior do que o self individual, ao contrário dos teóricos ocidentais que discutiram mais o crescimento em termos do fortalecimento do self. Segundo os autores, para um estudante da personalidade seria tão insensato negligenciar este setor da consciência como o seria ignorar a psicopatologia. Para eles, é mais um reflexo da imaturidade da psicologia, e não de sua sofisticação, o fato dela ter dedicado maior esforço à compreensão da doença humana do que à transcendência humana. As teorias orientais adquiriram lentamente os instrumentos

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e conceitos necessários à investigação desse aspecto mais subjetivo da consciência. Neste contexto, Lindemann e Oliveira (2004) relatam que grandes sábios da antiguidade, Patañjali e Sankara, consideravam que a causa dos males humanos não era a falta de conhecimento sobre o mundo externo, mas a ignorância sobre a nossa verdadeira natureza. Por isso homens como Sócrates e Buda já há tanto tempo consideravam o autoconhecimento como de fundamental importância. Para Blavatsky (1981), fundadora da Sociedade Teosófica moderna, a “Tradição-Sabedoria” não se refere a uma nova religião ou filosofia, mas a reafirmação de antigos princípios que podem ser encontrados no coração de várias tradições filosófico-religiosas, tais como o Hinduísmo, o Budismo, o Taoísmo, a antiga religião egípcia, o Cristianismo primitivo, entre outras. A autora comenta:

Também conhecida como “Teosofia”, é um vínculo através dos tempos que traz até o mundo de hoje os antigos ideários acerca da natureza humana e sua constituição, da origem e destino do homem, como também das leis que regulam o funcionamento dos vastos processos da vida. É o resultado direto das investigações de inúmeras gerações de sábios, videntes e místicos sobre realidades interiores da existência, profundos estados de consciência, e que, por sua natureza, estão além do intelecto discursivo. Está fundamentada em princípios universais: Unidade, Polaridade, Ciclos, Ordem e Evolução. Lançou as bases do Holismo, do movimento Transpessoal, da Ecologia Profunda, etc. Objetiva a Fraternidade Universal baseada na Unidade da Vida. Trabalha com a Liberdade de Pensamento e encoraja o estudo comparado das religiões, filosofia e ciências. Alerta para a Responsabilidade Universal do Indivíduo e a Ética. Incentiva o Autoconhecimento baseado na Unidade fundamental do Ser Humano e do Universo, e esclarece sobre o Propósito Humano.

Conforme Platão (apud Lindemann e Oliveira, 2004), a natureza evolui se desdobrando na diversidade em formas cada vez mais perfeitas, para exprimir a perfeição divina, a partir de arquétipos fundamentais. A divindade estaria representada nas três virtudes: sabedoria, amor e beleza. Por consequência, o ser humano como parte da natureza teria três arquétipos básicos por inspiração: os governantes dos homens; os santos de compaixão; e os instrutores da verdade. A Tradição-Sabedoria relata que, por combinação três a três, dariam origem a outros quatro, correspondendo à característica sétupla de manifestação do nosso universo. De acordo com Hodson (2012), a natureza setenária do universo e do ser humano possibilita entender cada ser humano como pertencendo a um dos sete temperamentos humanos básicos, cada qual com seus atributos naturais, poderes e qualidades característicos:

Essas características podem ser identificadas por meio das virtudes especiais do ser humano influenciado por determinado padrão vibratório de energia, bem como pelos vícios, o pólo oposto do mesmo padrão energético. Ou seja, a alma de cada ser humano seria a expressão de um desses sete padrões energéticos. Através da sua qualidade, esse padrão energético afetaria a natureza da mente, das emoções e do corpo físico, nos predispondo a certas forças e fraquezas, e influenciando o modo como nos relacionamos. À medida que o ser humano evoluísse ao longo do caminho espiritual, essa energia superior nos predisporia a certas atividades. O trabalho a ser feito portanto seria a integração da personalidade com o padrão energético da alma. Os sete tipos de padrões energéticos da alma são: vontade (poder); amor (sabedoria); inteligência (atividade); harmonia (beleza); conhecimento concreto (científico); devoção (idealismo); ordem (cerimonial e magia).

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Aprofundando a discussão sobre a unidade das Escolas de Mistérios, Lindemann (2006) afirma, ao discutir sobre a astrologia, que:

o conhecimento que os Hierofantes dos Mistérios possuíam a respeito da vida póstuma, da reencarnação, da influência dos astros, etc., não era devido a mera especulação filosófica, mas era um conhecimento direto oriundo de uma percepção extras-sensorial rigorosamente treinada, segundo as disciplinas milenares das Tradições de Mistérios. Uma das mais interessantes evidências da unidade das Religiões de Mistérios é a astrologia. Como explicar que, mesmo entre os Maias e os Astecas, o sistema de valorização dos ângulos entre os planetas ( 0

o , 60

o , 120

o

considerados harmônicos e 90º , 180o considerados desarmônicos) fosse o

mesmo dos Egípcios, Gregos, Romanos, Persas, Árabes, Hindus e Caldeus, numa época em que nem havia sido descoberto o telescópio?

Para Arroyo (1985), a astrologia revela o plano global de simplicidade, ordem, elegância e forma que opera no universo inteiro e, em particular, em cada indivíduo:

Há várias maneiras de abordar a astrologia e revelar sua utilidade prática, especialmente nos processos diretamente relacionados com o campo da psicologia. A astrologia é o meio mais exato e abrangente de compreender a personalidade, o comportamento, a mudança e o desenvolvimento do ser humano. A fim de estabelecer um tipo de psicologia (e de astrologia) focalizada na saúde e na realização individual, podemos começar a desenvolver uma verdadeira ciência da vida, voltada para o ser psicofísico total, cuja principal característica é a própria consciência. Mas, para isto, temos que nos libertar da predisposição superada do pensamento materialista, e reconhecer que diferentes tipos de estudo exigem diferentes abordagens. Nesse aspecto, o que a astrologia pode fornecer ao homem é a compreensão dos princípios universais, da harmonia do todo e dos planos ocultos da natureza. Até porque, o lado espiritual do homem é inseparável da vida psicológica.

Dentre os valores que Arroyo cita que a astrologia pode oferecer à orientação, destacamos: - a astrologia habilita a pessoa a entrar em sintonia com os seus próprios poderes e a usar a força do pensamento, da vontade e da vitalidade criativa, para moldar uma maneira melhor de ser; - a astrologia capacita a pessoa a determinar o tipo de atividade na qual as suas energias vitais podem fluir com maior facilidade e satisfação. Conforme Muller (2005), o uso da astrologia na área de orientação vocacional/profissional vem sendo largamente aplicado em países como a Alemanha, Japão, Itália, Inglaterra, França e outros, onde existem empresas especializadas em darem assessoria para recrutamento de pessoal, assim como para realizarem remanejamentos ou promoções nos quadros funcionais das empresas. 2.3) A Função do Trabalho no Desenvolvimento do Ser Compreender as implicações do trabalho na vida das pessoas pressupõe entender o significado do trabalho para o homem na sociedade ocidental. Há que se considerar a preponderância econômica na maneira de olhar o mundo da maioria das pessoas e a centralidade do trabalho na nossa sociedade como produtora e distribuidora de riqueza (Rolle apud Krawulski, 1991).

Em outro de seus aspectos, Schumacher (apud Krawulski, 1991) afirma estar subjacente ao sistema de trabalho do homem, seu sistema de valores: o trabalho de uma pessoa é uma das mais decisivas influências formativas de seu caráter e de

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sua personalidade, tendo em vista o lugar central que ocupa na vida humana. E ele identifica três objetivos para o trabalho humano: produzir bens e serviços necessários e úteis; permitir a utilização e o aperfeiçoamento dos talentos naturais e habilidades; e servir aos demais, colaborando com eles, para a libertação do egocentrismo inato.

Para Dejours (1988) trata-se da vivência qualitativa da tarefa: é o sentido, a significação do trabalho que importa. Não é mais questão de necessidade, como no caso do corpo, mas dos desejos e motivações. Isto depende do que a tarefa veicula do ponto de vista simbólico. Especificamente falando da profissão, é importante resgatar a “função espiritual do trabalho”, conforme desenvolvida por Fioravanti (2000):

Há no trabalho do homem um propósito muito maior que o material. Algumas pessoas são capazes de perceber isso, enquanto outras apenas conseguem ver nele uma obrigação à qual estão submetidas por questões de sobrevivência. Quando percebe as implicações espirituais do trabalho, o homem adquire maior capacidade para se realizar por meio dele.

Aqui cabe resgatar um termo sânscrito – Dharma: “caracteriza-se em cada indivíduo pelo seu grau de desenvolvimento interno, mais a lei que determina o seu desenvolvimento no período evolutivo posterior.” Cada indivíduo tem o seu Dharma específico, inerente à sua natureza interna e, portanto, inalienável. Por isso, no Bhagavad-Gita, proclama Shri Krishna a seu discípulo Arjuna, num dos momentos cruciais de sua vida: “Mais vale cumprir o próprio dever (Dharma), embora sem mérito, do que o alheio com toda a perfeição”. É tornar-se o indivíduo externamente o que ele realmente é internamente (Besant, 1995). 2.4) O Planejamento Existencial focado no projeto ocupacional Um dos maiores desafios da vida comum, e particularmente do trilhar o caminho espiritual, é o despertar do discernimento, “usualmente tomado no sentido da distinção entre o real e o irreal” (Krishnamurti apud Lindemann, 2005). Portanto, o discernimento é a capacidade de distinguir e escolher entre o duradouro e o transitório, entre nossas necessidades reais e nossas fantasias, entre a essência e a aparência. Sêneca dizia “para aquele navegador que não sabe a que porto se dirige, todos os ventos parecem desfavoráveis”. Se uma pessoa não sabe para onde quer ir, provavelmente ela reclamará de tudo e talvez nem saiba aproveitar os períodos favoráveis. O mesmo acontece com os pensamentos dispersos de uma mente sem ideais elevados ou, pelo menos, objetivos práticos. A mente fica sem foco, dispersa e entra em confusão (Lindemann, 2005). Dessa forma fica claro a importância de um ideal: fixar e concentrar a mente em algo que seja construtivo e dê rumo para a vida. O Chandogyopanishad (Besant apud Lindemann, 2005) diz que “o homem é uma criatura de reflexão; naquilo que ele pensa, ele se transforma.” Nesse sentido, para o autor:

O exercício de Planejamento Existencial é tentar objetivar, ou seja, trazer o subjetivo para o objetivo, o inconsciente para o consciente: escrever os objetivos, as aspirações e ideais da pessoa, de modo que adquiram, no papel, um grau mínimo de expressão material. São aqueles sonhos que a pessoa leva no seu coração, aquelas aspirações mais profundas da sua alma, aquelas vocações ou chamados à vida, razões de viver. Esses objetivos, aspirações, ideais deveriam ser classificados em pelo menos cinco áreas: o físico, o emocional, o mental, o espiritual e o profissional. Entende-se assim que se faltar um desses cinco, a vida corre o risco de

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certo desequilíbrio, porque existem necessidades existenciais em todas essas áreas.

O planejamento existencial pode ser feito a qualquer momento, mas o autor alerta que não se recomenda que a pessoa faça somente uma vez: “a revisão do exercício, ou seja, fazê-lo mais de uma vez, sempre garante um caráter mais reflexivo e menos impulsivo em sua prática, acrescido do efeito retrospectivo de reavaliação do que foi realmente executado em relação à vez anterior. No PROVE reforçamos isso por meio do “Balanço Existencial” anual. 3) O PROGRAMA DE REORIENTAÇÃO OCUPACIONAL VOCACIONADA HOLÍSTICO EXISTENCIAL O Programa de Reorientação Ocupacional Vocacionada Holístico Existencial (PROVE) é uma oficina pedagógica desenvolvida com turmas de no máximo 10 participantes, em 4 encontros semanais de 3 horas cada, que pode ser entendida como três grandes módulos que são realizados paralelamente: 1- Apresentação dos Princípios Universais da Tradição-Sabedoria

2- Desenvolvimento do Autoconhecimento Holístico dos participantes 3- Elaboração do Planejamento Existencial focado na profissão

3.1) Apresentação dos Princípios Universais Apoiado por gráficos e imagens retirados da literatura que trata do tema, são discutidos assuntos como holística, a consciência e seus veículos, as energias nos vários planos de manifestação, a importância da atenção ao presente para o exercício do livre-arbítrio, os ciclos e as forças evolutivas da natureza, a vida espiritualmente orientada, as oportunidades de crescimento nesse momento da sociedade planetária, e outros assuntos apresentados de forma introdutória no marco teórico deste artigo:

O objetivo é o emponderamento dos participantes, pelo resgate, de forma estruturada e sistematizada, de um conhecimento que as pessoas já possuem por seus estudos anteriores e participações nos diversos grupos holísticos e espiritualistas existentes. Como anteriormente mencionado, o Programa não se propõe a fazer com que os participantes obtenham essa visão de mundo. Pelo contrário, para participação no PROVE este é um pré-requisito, sem o qual boa parte dos resultados da oficina pedagógica fica comprometida.

3.2) Desenvolvimento do Autoconhecimento Holístico Entre os instrumentos do PROVE, apresentamos os principais na sequência em que são utilizados, sempre buscando partir do mais conhecido pelos participantes, iniciando com o uso de alguns instrumentos utilizados comumente pela OP, e avançando com exercícios que buscam as percepções mais interiores, com instrumentos baseados nas antigas tradições espirituais:

Exercício de Autoconhecimento

Breve Descrição do Exercício

Autobiografia Holística Antes de iniciar os encontros, o participante é convidado a escrever uma pequena autobiografia sobre os fatos, e seus significados, que marcaram a trajetória do desenvolvimento da abordagem holística ou espiritual em sua vida, desde os momentos da

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infância e da adolescência, até o dia de hoje, quando ele já se percebe com uma visão mais holística do mundo e mais espiritualizada da vida. O importante é a experiência de resgatar os momentos significativos. É um exercício individual que não precisa ser apresentado. Entretanto, o exercício é usado para integração dos participantes no primeiro encontro, quando em duplas trocam impressões sobre suas reflexões.

Valores Pessoais O participante identifica, numa tabela de dezoito valores, quais os Valores com que mais se identifica, reduzindo até priorizar os seus três Valores Pessoais fundamentais (exercício adaptado, Garcia apud Lisboa, 2007).

Âncoras de Carreira Conforme Schein (apud Soares, 2002), a âncora é uma combinação das áreas de competência, motivações e valores que a pessoa não abandonaria; poderia se dizer que representa o verdadeiro “eu”. Com o conhecimento de sua principal âncora, a pessoa poderá buscar um trabalho capaz de satisfazer suas necessidades.

Profissão Sonhada Para a mudança de paradigma de uma sociedade competitiva para uma sociedade de cooperação, os participantes são “deslocados” para o futuro por um exercício de meditação, de modo que a cultura competitiva é percebida como algo de um passado bem distante. Então as pessoas se imaginam realizando um trabalho num mundo de cooperação, onde cada um faz a sua parte e todos participam. Por fim, é solicitado ao participante que registre uma breve descrição dessa profissão sonhada, com suas caraterísticas de contexto profissional.

Orientação Vocacional Astrológica

Numa consulta astrológica, com um profissional com muitos anos de experiência na área, é feito um diagnóstico das características do orientando em sua relação profissional e de trabalho no dia a dia, comparando-se as características do mapa natal da pessoa com as do perfil profissiográfico da profissão pretendida.

Temperamentos Humanos

Os participantes assinalam individualmente o conjunto de virtudes especiais e, depois o conjunto de vícios com que mais se identificam, buscando então o temperamento humano correspondente.

Classificação Brasileira de Ocupações

O participante é orientado a procurar na CBO (2012), nas ocupações semelhantes à profissão pretendida, informações como: descrição da ocupação; características de trabalho; formação e experiência;

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áreas de atividade; competências pessoais requeridas; entre outras.

3.3) Planejamento Existencial focado na Profissão Antes da elaboração do Planejamento Existencial, os participantes realizam os exercícios preparatórios da Identidade Existencial e do Balanço Existencial para ganhar mais foco.

Exercícios Preparatórios

Breve Descrição do Exercício

Identidade Existencial

É uma espécie de síntese das descobertas de autoconhecimento realizadas ao longo dos encontros, onde são agrupados os resultados das percepções em relação ao momento atual de sua existência: valores pessoais; âncoras de carreira; características astrológicas do trabalho e do contexto profissional; temperamento humano; informações da CBO, entre outras.

Balanço Existencial O participante escreve um pequeno balanço dos últimos doze meses, nas dimensões Profissional, Espiritual, Mental, Emocional e Física. Citando de forma breve as suas principais realizações pessoais, é ressaltado que todos os processos são importantes, e não apenas as conquistas. Mais tarde, essa lista pode ser mais detalhada, buscando dar a maior concretude possível. Daqui há um ano, um exercício semelhante possibilitará comparar com o Planejamento Existencial e verificar eventuais processos não realizados, embora somente dependessem da própria pessoa, podendo demonstrar alguma espécie de “boicote” psicológico, ou recomendando uma reavaliação do Planejamento.

Planejamento Existencial

O participante elabora o seu Plano de Ações Existencial/Profissional focado nos próximos doze meses. Uma lista de ações que serão iniciadas ou darão continuidade ao que já vem sendo feito (vide Balanço Existencial), nas dimensões Profissional, Espiritual, Mental, Emocional e Física. Inicia listando o que pode começar a realizar nos próximos três meses, desde a simples leitura de um livro até iniciar um curso. O importante é que as ações previstas dependam somente da própria pessoa para que sejam realizadas. Posteriormente detalhará cada ação de modo o mais objetivo possível, permitindo verificação futura, quando do Balanço Existencial anual. É ressaltado que as ações devem ser focadas mais em processos do que em metas, pois são “os meios que determinam os fins!”

3.4) Resultados do PROVE

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Do questionário entregue aos participantes ao final dos encontros, numa pequena amostra das respostas, podemos destacar em relação a cada uma das perguntas:

Pergunta do Questionário Respostas dos Participantes

1) Antes de iniciar o PROVE, em relação à minha Profissão/Carreira, eu me sentia...

Sem foco. Pouco seguro. Me conhecendo menos. Desconfortável.

2) Agora estou me sentindo... Mais decidida ainda; Segura com relação à busca da excelência no meu trabalho; Mais seguro; Interessada em me conhecer ainda melhor; Otimista.

3) O PROVE me auxiliou nos seguintes pontos...

Ampliação de conhecimento; Ampliar os horizontes; A me conhecer um pouco mais e afirmar outras coisas que eu sabia, porém tinha dúvidas; Trabalhar minha auto-confiança; Ampliar conhecimentos a outras vivências e estudos da multi-dimensionalidade.

4) Se alguém lhe perguntasse sobre o PROVE, o que você comentaria?

Faça; O Curso é ótimo; Vale a pena; Eu recomendo; Que é uma ferramenta para se conhecer bem interessante; Recomendaria; Oportunidade para crescimento evolutivo.

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS Em seu estudo sobre a evolução do conceito de trabalho, Krawulski (1991) afirma que a verificação das formas predominantes pelas quais o trabalho se processou, nos diferentes momentos históricos, permitiu constatar o quanto elas identificam e sedimentam a ordem social vigente. Mais importante porém é verificar que a historicidade na evolução do trabalho humano mostra que as manifestações atuais do trabalho decorrem de formas anteriores e remetem a novas tendências. Ou seja, nós, como trabalhadores, em nosso “fazer cotidiano”, estamos a todo momento construindo novas possibilidades de trabalhar. Foi isso que Pfeifer (2003) buscou investigar ao pesquisar pessoas que tinham uma abordagem holística tão forte em suas vidas, que se imaginava deveria ter consequências no ambiente de trabalho, no sentido de compreender a repercussão na qualidade de vida individual e coletiva, dessa atitude holística do trabalhador. E se surpreendeu ao constatar que este trabalhador holístico, a despeito dos inúmeros relatos de uma percepção de maior plenitude pessoal, derivada dessa atitude, também sofria no seu contexto laboral. Neste sentido, o PROVE oportuniza a integração deste ser, que se percebe holístico ou espiritualizado, com um fazer profissional investido de significado, ao mesmo tempo, de autorrealização e de serviço altruísta. E possibilita, por meio do Planejamento Existencial, estabelecer um compromisso pessoal de esforço de aprofundamento na nova área de interesse profissional (ou na antiga, mas com um

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novo foco), sustentado pelas afinidades e interesses (re)descobertos, e que portanto persistentes e duradouros. Ao iniciar um realinhamento de carreira na abordagem holística, possibilita realizar, com o devido tempo, o que Krishnamurti (2001) assegura quando menciona que “os meios determinam os fins”. De acordo com Fergunson (1994), vivemos uma “revolução da consciência” que parece mover-se “na direção de uma síntese histórica: a transformação social como resultante da transformação pessoal – a mudança de dentro para fora.” A autora alerta que “as primeiras gotas da grande chuva que virá” já estão caindo em todos as áreas do conhecimento, em todas as nações e em todos os meios sociais. Com o Programa de Reorientação Ocupacional Vocacionada Holístico Existencial (PROVE) estamos contribuindo com “uma pequena gota da nova abordagem holística” no campo da Orientação Profissional, de Carreira e para Aposentadoria. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, René. Anais do VI Fórum Internacional QVT, ISMA/BR, Porto Alegre, 2004. ARROYO, Stephen. Astrologia, Psicologia e os Quatro Elementos. Ed. Pensamento. São Paulo, 1985. BEECHEY, Katherine. Meditações: excertos das Cartas dos Mestres. Ed. Teosófica, Brasília, 2003. BESANT, Annie. Dharma. Ed. Pensamento. São Paulo/SP, 1995. BLAVATSKY, Helena P. A Doutrina Secreta. Ed. Pensamento-Cultrix, São Paulo/SP, 1981. CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. Ed. Cultrix, São Paulo/SP, 1989. CBO – Em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/ home.jsf . Consulta em 15/08/2012. CREMA, Roberto; D’AMBRÓSIO, Ubiratan; WEIL, Pierre; Rumo à nova transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. Ed. Summus, São Paulo,1993. DEJOURS, Christophe. A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez/Oboré, 1988. FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. Editora Harbra, São Paulo/SP, 1986. FERGUSON, Marilyn. A Conspiração Aquariana: transformações pessoais e sociais nos anos 80. Ed. Record, Rio de Janeiro, 1994. FERREIRA, Mário C. Chegar Feliz e Sair Feliz do Trabalho: aportes do reconhecimento no trabalho para uma ergonomia aplicada à qualidade de vida no trabalho. In: Anais do III Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Florianópolis/SC, 2008. FIORAVANTI, Celina. A Função Espiritual do Trabalho. Ed. Pensamento. São Paulo, 2000. HODSON, Geoffrey. Os Sete Temperamentos Humanos. Ed. Teosófica. Brasília/DF, 2012. KRAWULSKI, Edith. Evolução do Conceito de Trabalho através da História e sua Percepção pelos Trabalhadores. Dissertação de Mestrado – Administração/UFSC – Florianópolis/SC, 1991. KRISHNAMURTI, J. Aos Pés do Mestre. Ed. Teosófica. Brasília/DF, 1999 LINDEMANN, Ricardo; OLIVEIRA, Pedro. A Tradição-Sabedoria: uma introdução à filosofia esotérica. Ed. Teosófica. Brasília/DF, 2004.

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LINDEMANN, Ricardo. Discernimento e Planejamento Existencial. Em Revista TheoSophia. Sociedade Teosófica no Brasil, Edição Outubro/2005 __________________. A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Ed. Teosófica, Brasília/DF, 2006. LISBOA, Marilu D. Técnica adaptada do trabalho de Job Link, a partir de instruções adaptadas por Misgley de P. B. Garcia. São Paulo/SP, 2007. MULLER, Gerson T. Plano de Orientação Vocacional Astrológico. Ed. do Autor. Florianópolis/SC, 2005. PFEIFER, Adolfo K. A Atitude Holística do Trabalhador no Ambiente de Trabalho e sua Qualidade de Vida. Dissertação de Mestrado - Ergonomia, UFSC. Florianópolis/SC, 2003. SOARES, Dulce H. P. A Escolha Profissional do Jovem ao Adulto. Summus Editorial. São Paulo, 2002

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POC26 - VIVÊNCIAS ACADÊMICAS E A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES RURAIS E NÃO RURAIS NO CURSO DE NÍVEL SUPERIOR

Basso, C 1; Soares, DHP 1. 1 – UFSC. O presente estudo trata de uma pesquisa que buscou compreender as vivências acadêmicas e suas implicações na permanência/evasão do curso, sob a ótica de estudantes universitários rurais e não rurais. Os participantes são 126 estudantes universitários de quatro cursos de graduação de uma Universidade pública e uma privada, localizadas na região Noroeste do Rio Grande do Sul. O estudo ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa foi aplicado o Questionário de Vivências Acadêmicas versão reduzida (QVA-r) e um questionário demográfico com duas perguntas adicionais sobre os fatores de evasão e de permanência no curso; a segunda etapa compreendeu a realização de cinco entrevistas semiestruturadas com estudantes rurais. Os resultados do QVA-r apontaram correlações positivas entre as dimensões carreira e institucional e entre as dimensões carreira e interpessoal. Houve correlação negativa entre as dimensões estudo e pessoal. Os níveis mais elevados de satisfação estão nas dimensões pessoal, interpessoal e de carreira tanto na comparação entre gêneros quanto nos tipos de instituição. Os níveis de satisfação na dimensão pessoal são maiores nos estudantes que moram no meio rural. Na análise de frequência dos fatores de evasão e permanência no segundo questionário e na análise de conteúdo das entrevistas, foram apontados pelos estudantes alguns aspectos considerados positivos e associados à permanência quanto negativos que levavam à insatisfação, os quais dizem respeito ao processo de adaptação e identificação com o curso, as relações afetivas no contexto acadêmico, o envolvimento e a satisfação com o curso/instituição, o interesse próprio, o apoio familiar/institucional e o incentivo municipal, bem como as perspectivas satisfatórias posteriores à saída do ensino superior. Enfim, os resultados desse estudo mostraram que a permanência no ensino superior de estudantes rurais e não rurais perpassa pela identificação e satisfação com a escolha profissional, com o curso e com a instituição. Além disso, o apoio familiar, social e institucional e os sentimentos de autoconfiança, pertencimento e satisfação durante o período acadêmico tem sido importantes para sua permanência.

PALAVRAS-CHAVE: adaptação acadêmica; identificação; permanência. INTRODUÇÃO

Nas duas últimas décadas tem se intensificado a expansão do ensino superior no Brasil, em termo do número de vagas e de instituições públicas e privadas. A implantação de diversos programas pelo Ministério da Educação (MEC), tais como o ProUni (Programa Universidade para Todos), o SiSu (Sistema de Seleção Unificada), o Programa reserva de vagas ou Política das Ações Afirmativas (PAAs - étnico, oriundos do ensino público, social/renda familiar, pessoa com deficiências e outros) nas instituições de ensino públicas e privadas, têm contribuído para o aumento de múltiplos públicos no ensino superior (MEC, 2013).

Segundo Censo da Educação de 2011 cerca de 27,1% frequentam o ensino superior, cujo percentual maior está entre os 18 e 24 anos (14,6%). No entanto, menos de 2% desse contingente são do meio rural (INEP, 2013).

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Outro aspecto relevante e que preocupa o governo são os índices de abandono dos cursos superiores. A evasão tem girado em torno de 15,6% nas IES privadas e 13,2% nas IES públicas, segundo o Censo 2010 divulgado pelo MEC, sendo mais elevado nos cursos da área de exatas (MEC, 2013).

A pesquisa sobre a evasão no ensino superior brasileiro realizada pelo Instituto Lobo aponta que há múltiplas causas para a evasão, que vão desde a decepção com a carreira escolhida, a falta de condições financeiras ou acadêmicas para acompanhar o curso entre outras (SILVA FILHO; MOTEJUNAS; HIPÓLITO; LOBO, 2007).

O ingresso ao ensino superior é caracterizado como um período de transição, o qual envolve muitas mudanças, tais como: afastamento de grupos de referência; processos de aprendizagem auto-dirigidos/auto-regulados; a superação de déficits de habilidades básicas devem ser sinalizadas pelo próprio estudante; novas condições de estudo (“irregulares”); a autogestão do tempo de estudo; aumento da autoconfiança, autoconceito, autonomia e envolvimento; docentes mais distantes e “inacessíveis”; universidade com vários espaços físicos; conciliação de trabalho, estudo e vida pessoal; desenvolvimento de relações interpessoais mais maduras (com pares, professores e família); exploração de novos papeis e relações sociais e sexuais; e comprometimento com objetivos pessoais e vocacionais (maturidade) (POLYDORO; PRIMI, 2003; ALMEIDA; SOARES, 2003).

Essas mudanças ao ingressar no ensino superior provocam um impacto no desenvolvimento psicossocial do estudante, refletindo no ajustamento à instituição, no rendimento acadêmico e cognitivo e no contexto psicossocial (FERREIRA; ALMEIDA; SOARES, 2001). De modo geral, o ambiente acadêmico é multifacetado e singular, caracterizado pelas trocas entre as expectativas, características e habilidades dos estudantes e a estrutura, normas e a comunidade que compõem a universidade (POLYDORO e Cols, 2001).

De acordo com Tinto (1997), uma série de fatores interfere na decisão da permanência ou evasão, sendo central o compromisso com a instituição (expectativas sobre a instituição) e o compromisso com o objetivo de graduar-se (expectativa em relação à formação ou obtenção do diploma). Alguns estudos realizados no Brasil apontam uma multiplicidade de fatores que determinam a permanência dos estudantes no ensino superior, os quais envolvem fatores internos e externos ao estudante e a instituição. Esses fatores dizem respeito à segurança quanto à escolha do curso (adequação do curso às aptidões e interesses pessoais) e a segurança profissional (condições do campo de trabalho assegurados pelo curso de ingresso), ao quais determinam o compromisso com o curso (MERCURI; POLYDORO, 2003; MERCURI; BRIDI, 2001; AZZI; MERCURI; MORAN, 1996; MERCURI; GRANDIN, 2002). O MÉTODO DE PESQUISA

A pesquisa realizada foi de caráter quanti-qualitativo. A parte quantitativa compreendeu a aplicação do Questionário de Vivências Acadêmicas versão reduzida (QVA- r), elaborado e validado em Portugal por Almeida, Soares e Ferreira (1999), e adaptado e validado no Brasil por Granado (2004) e Santos, Noronha, Amaro e Villar (2005). O QVA-r trata-se de um instrumento de auto-relato que procura avaliar o modo como os estudantes percebem suas experiências acadêmicas na instituição de ensino superior que frequentam. Essa versão do QVA-r é composta por 55 itens distribuídos em uma escala Likert com cinco possibilidades

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de resposta que variam de 1 (nada a ver comigo) a 5 (tudo a ver comigo) em 5 dimensões: pessoal, interpessoal, carreira, estudo e institucional.

Anexo ao QVA-r, os estudantes responderam a um questionário demográfico e um inventário de fatores de permanência e de abandono, com um total de 21 e 11 itens respectivamente. Os participantes foram convidados a pensar sobre quais os fatores que contribuem para a sua permanência e evasão na universidade, respondendo as questões: Qual(is) fator(es) contribui(em) para sua permanência no ensino superior? Qual(is) fator(es) levaria você a desistir de seu curso de graduação antes de sua conclusão?.

A parte qualitativa compreendeu em entrevistas semiestruturadas, realizadas com estudantes oriundos do meio rural. Alguns estudantes que responderam aos questionários se dispuseram, espontaneamente a participar da entrevista.

APRESENTAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

A amostra da parte quantitativa é constituída por 126 estudantes, 71,4% dos quais são do sexo masculino (N=90) e 29,6% (N=36) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos (M=23,1). No que diz respeito à instituição de ensino, 50,8% (N=64) dos estudantes eram da Universidade privada e 49,2% (N=62) da Universidade pública, ambas localizadas na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Destes estudantes, 27% (N=34) frequentam o curso de Administração e 23,8% (N=30) o curso de Tecnologia em Agronegócio, ambos da Universidade Privada; 11,1% (N=14) o curso de Engenharia Ambiental e 38,1% (N=48) o curso de Agronomia, ambos da Universidade pública. Esses estudantes se encontravam nas fases finais do curso de graduação.

Dos estudantes que responderam à questão relacionada com o seu local de nascimento (N=119), 54% são oriundos do meio rural (N=68) e 40,5% do meio urbano (N=51), e desses, 32,5% moram no meio rural (N=41) e 61,9% no meio urbano (N=78). Destes estudantes, a grande maioria (98,4%) pretende seguir a graduação. Em relação a exercer uma atividade remunerada, 57,1% dos estudantes declararam que trabalham (31% no meio rural, 37,3% no meio urbano e 4,8% em ambos os meios).

A maioria dos estudantes (74%) está frequentando um curso de primeira escolha. Quanto à forma de ingresso, os estudantes informaram: 72% por exame vestibular; 10% por transferência de outro curso de graduação; 9% pelo sistema de cotas; 6% pelo ProUni - Programa Universidade para Todos; 3% pelo PEIES - Programa de Admissão Superior de Educação da Universidade Federal de Santa Maria e 0,8% pelo SiSu - Sistema de Seleção Unificada. Na entrevista semiestruturada participaram cinco estudantes oriundos do meio rural, os quais ainda exerciam atividades de trabalho nesse meio, sendo que dois deles (C.D. e B.R.) exerciam somente aos finais de semana. No quadro abaixo, podemos visualizar com mais detalhes alguns aspectos como idade, curso atual e anterior, semestre, universidade e auxílio financeiro, de cada participante.

Quadro 1. Descrição dos participantes da entrevista.

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* A identificação dos participantes foi definida pelos mesmos e com o consentimento. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A aplicação do QVA-r permitiu analisar as vivências acadêmicas dos estudantes universitários buscando fazer correlações entre as dimensões e realizar comparações entre sexo, tipo de instituição e entre estudantes rurais e não rurais.

Testes de associação Qui-quadrado não apontaram associação entre sexo e querer permanecer ou desistir do curso (X2 (1)= .81, p= .37) ou entre o curso e querer permanecer ou desistir (X2 (3)= 1.43, p= .69). Houve associação entre o curso e exercer atividade remunerada (X2 (3)= 67.53, p< .001), onde os alunos dos cursos de Tecnologia em Agronegócio (N=26) e Administração (N=33) com maior frequência exercem atividades remuneradas, em comparação aos demais.

Análises de correlação de Pearson apontaram correlações positivas de maior magnitude entre as dimensões carreira e institucional do QVA-r (r= .44, p= .001), bem como entre a dimensão carreira e a dimensão interpessoal dos estudantes (r= .29, p= .001). Houve correlação negativa entre as dimensões estudo e pessoal (r= -.36, p= .001). Testes t de comparação de médias indicaram que apenas a dimensão Estudo do QVA-r apresentou diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres, sendo estas aquelas que apresentam valores de média mais elevadas naquela dimensão (t (124) = -2.08, p= .039). Quando comparadas instituições de ensino superior pública e privada, verifica-se a existência de diferenças estatisticamente significativas na dimensão Estudo (t (124) = -2.94, p= .004), sendo os alunos que frequentam instituições privadas aqueles que apresentam valores de média mais elevados naquela dimensão .

Quando comparados os locais onde moram, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o meio rural e urbano na dimensão Pessoal, sendo que os alunos que moram no meio rural apresentam valores de média mais elevados nessa dimensão (t (117) = 2,43, p= .017).

Análises de variância realizadas a partir dos quatro cursos superiores distintos que os alunos da amostra frequentam indicam a existência de diferenças estatisticamente significativas na dimensão Estudo, sendo os alunos que frequentam o curso de Tecnologia em Agronegócio aqueles que apresentam valores de média mais elevados nesta dimensão (F 3, 122) = 3.99, p= .009).

Do inventário sobre os fatores de permanência e evasão obtivemos os seguintes resultados: As 123 respostas sobre os fatores de permanência indicam que os estudantes consideram o apoio dos pais, a identificação com o curso de

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graduação e o desejo de alcançar um diploma universitário como importantes fatores de permanência.

Dentre os fatores de evasão, os itens com maior frequência apontados pelos estudantes são a doença pessoal e falta de recursos financeiros, bem como doença na família, a falta de identificação com o curso de graduação e falta de motivação em relação ao futuro profissional.

Os resultados obtidos nas entrevistas foram analisados com base na técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2010; TRIVIÑOS, 1987). Podemos perceber que a permanência no curso está intrinsecamente relacionada à identificação com a profissão “agricultor”. O gosto em trabalhar com atividades relacionadas à agricultura desde criança e o desejo de prosseguir em atividades envolvendo o meio rural foi decisivo para a escolha do curso na área de agrárias, influenciando sua permanência. Como podemos observar no relato abaixo.

“Tô fazendo o que eu gosto de fazer, eu não tô aqui na Universidade, no curso, por vim aqui, porque ganha 50%, porque alguém foi lá e me falou que era bom, estou aqui, porque é uma escolha minha, uma escolha que eu tive desde que eu me lembro por gente, era nessa área, de agrárias, uma opção que eu sempre tive, que me acompanha desde gurizinho, e hoje eu consegui, estou concretizando... nem por pressão, nem por favorecimento, foi por escolha mesmo. Sou apaixonado pela lavoura. Me criei na lavoura.” (C.D. 44 anos, Téc. Agronegócio)

Os estudantes entrevistados mencionaram que os objetivos pela busca do

ensino superior foram em prol da aquisição de conhecimento para aprimorar e organizar a propriedade/atividade rural, por meio de novas técnicas e atividades produtivas para melhorar de vida. Conforme o estudante B.R. (33 anos, Agronomia) “ficar na agricultura sem um ensino técnico, alguma coisa é complicado”. Para os entrevistados, as razões que determinam a escolha profissional e que levam a busca pelo ensino superior interferem na permanência no curso, afinal alguns objetivos e projetos de carreira já começam a ser visualizados, e que poderão ser mais bem concretizados e alcançados com uma formação de nível superior. Quanto ao percurso acadêmico, o primeiro ano do curso foi o mais difícil para os estudantes entrevistados. As dificuldades enfrentadas quanto à adequação aos horários de estudo e trabalho, a mudança de rotina, ao ritmo de estudo e às novas amizades levou estes estudantes a pensar em desistência. Outros aspectos como relacionamentos interpessoais com colegas e professores, a didática do professor, o pouco interesse da instituição e as disciplinas de cálculos e muito teóricas nos primeiros semestres são apontadas como dificultadores e desmotivadores podendo levar a evasão do curso.

Assim como foi apontado nos resultados obtidos no questionário, os estudantes entrevistados também mencionaram o crescimento profissional, o apoio familiar, social e institucional, a auto-motivação para os estudos, as perspectivas satisfatórias sob o futuro profissional, bem como os sentimentos de bem-estar no envolvimento com o curso. Estes aspectos também podem contribuir ou não para a permanência no curso, segundo os estudantes entrevistados. Ao final, os entrevistados mencionaram alguns fatores que podem contribuir para o estudante ingressar e permanecer no curso de graduação, os quais referem: o interesse próprio, a identificação com a área, o apoio da família, o apoio institucional oferecendo mais bolsas de pesquisa, o incentivo municipal, a reformulação da educação (descentralizar as escolas da cidade), a mudança do padrão financeiro das famílias, as oportunidades do governo - ProUni e Enem, a

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variedade de opções de curso, a universidade mais próxima (descentralizada), a possibilidade de aumento financeiro e a qualificação profissional e oportunidade de estágios importantes para a formação profissional. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao olharmos para os resultados apresentados percebemos a multiplicidade de fatores internos e externos que envolvem a evasão ou permanência do estudante em um curso superior. A capacidade do estudante universitário para se adaptar ao contexto universitário parece ser um fator importante para a permanência ou para a decisão de abandono nos cursos de graduação.

De um modo geral, os estudantes sentem-se satisfeitos com o curso, com a instituição de ensino, com as relações interpessoais no ambiente acadêmico e com as expectativas pessoais em relação à carreira profissional. Ainda, apontam para a importância do apoio psicológico, financeiro e informacional dos contextos familiar, acadêmico e social. As vivências satisfatórias nesses âmbitos são importantes para a permanência dos estudantes, sejam estes oriundos do meio rural ou não, no curso superior.

O sucesso na adaptação e integração acadêmica reflete as percepções de segurança, conforto, pertença, autoconfiança em suas capacidades, cooperação, aquisição de conhecimento, desenvolvimento cognitivo, físico, social e psicológico, autonomia, identidade, decisão vocacional dos estudantes vivenciadas no decorrer do percurso universitário, desejo de mudanças e das competências para organizar estratégias de ação. As relações interpessoais, as expectativas e a preparação pedagógica dos professores são importantes, pois elas refletem na aprendizagem, no rendimento acadêmico e na interação dos estudantes com o curso e com a instituição (ALMEIDA; SOARES, 2003; POLYDORO; PRIMI, 2003).

À medida que os estudantes vão adentrando no curso, entre meio e final, vão experienciando práticas nos estágios e/ou no emprego, se envolvendo e participando das atividades acadêmicas, se envolvendo e se organizando nos estudos, estabelecendo relações mais próximas e de apoio com colegas e professores, bem como visualizando mais realística e concretamente sua carreira profissional de maneira satisfatória, tendem a identificar-se mais com a profissão, ter mais segurança na escolha feita e a permanecer no curso.

A satisfação com a carreira profissional envolve aspectos externos ao aluno, como mercado de trabalho favorável, boa estrutura do curso universitário e aspectos socioeconômicos relevantes. Mas o grande motivo para a satisfação profissional é a identificação pessoal com a área (BARDAGI; LASSANCE; PARADISO, 2003).

O fato dos estudantes estarem menos satisfeitos em relação aos estudos, aponta para um ponto importante que é a organização do tempo, uma vez que muitos exercem atividades profissionais, e/ou precisam ajudar a família nos afazeres em casa, principalmente os estudantes oriundos do meio rural, e ainda se envolvem em diversas atividades na universidade, não podendo assim, se dedicar o suficiente para os estudos. Para Carelli e Santos (1998), a garantia de estratégias adequadas de estudo e de condições pessoais favoráveis é fundamental para o bom desempenho dos estudantes. Portanto, nessa etapa de formação acadêmica, multifacetada por mudanças, a universidade precisa estar atenta e garantir as condições mínimas necessárias para o equacionamento das dificuldades que possam ser encontradas, visando possibilitar a formação humana e profissional pretendida pelo estudante.

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Não podemos desconsiderar o fato da obtenção de um diploma de nível superior, como um fator que contribui tanto para a busca quanto na permanência no curso, em alguns casos, até mesmo de estudantes que não estão no curso que gostariam. A concorrência no mercado de trabalho e a demanda por conhecimento como agregador de valor, bem como a possibilidade de ascensão profissional com melhor remuneração, faz com que a cada ano aumente o número de jovens e adultos ingressarem no ensino superior, inclusive dos jovens rurais, como possibilidade de permanência no meio rural em virtude, principalmente do agronegócio.

Podemos notar que os estudantes oriundos do meio rural oscilam entre o projeto de construírem vidas mais individualizadas onde o estudo tem destaque e importância como uma forma de “melhorar de vida”, ter um “bom emprego” ou abrir o próprio negócio (saída), e, entre o projeto familiar e/ou pessoal de permanência na agricultura. Esse projeto envolve a constituição da identidade profissional, interfere no processo de escolha e projetos de futuro e reflete na adaptação, permanência e sucesso acadêmico. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse estudo podemos inferir que o contexto acadêmico impacta no desenvolvimento psicossocial, reflete no ajustamento à instituição, na vivência de satisfação, autoconfiança e identificação com a escolha profissional, no rendimento acadêmico e cognitivo e no contexto psicossocial. Nesse sentido, os Programas de intervenção devem ser diferentes em sua estrutura e objetivos, uma vez que nem todos os alunos ingressantes têm as mesmas dificuldades e preocupações. Essa intervenção diferenciada também deve ocorrer aos alunos que frequentam o meio e final do curso de graduação. É necessário que os profissionais, por exemplo, pedagogos, psicólogos e orientadores profissionais possam reconhecer as diferentes dificuldades e preocupações que os estudantes universitários relatam e possam ser capazes de ajudá-los efetivamente.

Ainda podemos inferir que a nova conjuntura social e econômica, marcada por rápidas e intensas mudanças no mundo do trabalho, no emprego e nas tecnologias, tem-se refletido na vida social, nas visões de futuro e de desenvolvimento de carreira profissional. Decorrente disso, cada vez mais jovens do meio rural têm buscado a profissionalização, em cursos de nível técnico e superior, seja para permanecer atuando na atividade rural em virtude da modernização agrícola (demanda), seja para contribuir na área das agrárias. Anterior a isso, ou melhor, articulada a essas mudanças no atual cenário do mundo do trabalho, há a identificação com a profissão, que fundamentalmente determina a escolha profissional a ser feita. Sendo assim, estes resultados apontam para a necessidade de uma discussão e estudos, em especial na área da orientação profissional, com os “novos” públicos que estão adentrando as universidades, acerca da identidade e formação profissional e o desenvolvimento de trajetórias pessoais e de carreiras dos jovens rurais na atualidade. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Leandro S.; SOARES, Ana Paula. Os estudantes universitários: sucesso escolar e desenvolvimento psicossocial. In: MERCURI, Elizabeth; POLYDORO, Soely A. J. (Org.). Estudante universitário: características e experiências de formação. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, p. 15-40, 2003.

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ALMEIDA, Leandro S.; SOARES, Ana Paula; FERREIRA, Joaquim Armando. Adaptação, rendimento e desenvolvimento dos estudantes no Ensino Superior: Construção/validação do Questionário de Vivências Acadêmicas. Braga: Centro de Estudos em Educação e Psicologia (CEEP), Universidade do Minho, 1999. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/12082>. Acesso em: 06 nov. 2011. AZZI, R. G., MERCURI, E.; MORAN, R. Fatores que interferem na decisão de desistência de curso no primeiro ano de graduação. Anais do III Congresso Nacional de Psicologia Escolar. SBPE/UERJ. Rio de Janeiro, p. 144-146, 1996. BARDAGI, Marucia Patta; LASSANCE, Maria Célia Pacheco; PARADISO, Ângela Carina. Trajetória acadêmica e satisfação com a escolha profissional de universitários em meio de curso. Revista Brasileira de Orientação Profissional. São Paulo: Vetor, v.4, n. 1/2, 2003. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Ed. revisada e atualizada. Lisboa: Edições 70, 2010. CARELLI, M. J. G.; SANTOS, A. A. A. Condições temporais e pessoais de estudo em universitários. Revista Psicologia Escolar e Educacional, n.2, v.3, p. 265-278, 1998. FERREIRA, Joaquim Armando; ALMEIDA, Leandro S.; SOARES, Ana Paula C. Adaptação acadêmica em estudantes do 1º ano: diferenças de gênero, situação de estudante e curso. Revista Psico. USF, n. 1, v.6, p. 01-10, jan./jun., 2001. GRANADO, J. I. F. Vivência acadêmica de universitários brasileiros: estudo de validade e precisão do QVA-R. Dissertação de Mestrado. Itatiba: Universidade São Francisco, 2004. INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da educação superior: 2011 – resumo técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior>. Acesso em: 03 maio 2013. MEC. Ministério da Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 2013. MERCURI, Elizabeth; POLYDORO, Soely A. J. O compromisso com o curso no processo de permanência/evasão no ensino superior: algumas contribuições. In: MERCURI, Elizabeth; POLYDORO, Soely A. J. (Org.). Estudante universitário: características e experiências de formação. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, p. 219-236, 2003. MERCURI, E.; GRANDIN, L. Condições de integração acadêmico-social ao longo do primeiro ano de graduação. Anais do I Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão. São Paulo, 2002. MERCURI, E.; BRIDI, J. C. A. O desenvolvimento do compromisso com o curso como fator de permanência na universidade. Anais da Reunião Anual de Psicologia, XXXI. Rio de Janeiro, 2001. POLYDORO, S. A. J.; PRIMI, R. Integração ao ensino superior: explorando sua relação com características de personalidade e envolvimento acadêmico. In: MERCURI, E.; POLYDORO, S. A. J. (Org.). Estudante universitário: características e experiências de formação. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, p. 41-66, 2003. POLYDORO, Soely A. J.; PRIMI, Ricardo; SERPA, Maria de Nazaré da F.; ZARONI, Margarida M. Hoeppner; POMBAL, Kelly Cristina Pereira. Desenvolvimento de uma Escala de Integração ao Ensino Superior. Revista Psico. USF, v.6, n.1, p. 11-17, jan./jun., 2001.

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SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos; NORONHA, Ana Paula Porto; AMARO, Carina Budin; VILLAR, Jorge. Questionário de vivência acadêmica: estudo da consistência interna do instrumento no contexto brasileiro. In: JOLY, Maria Cristina Rodrigues Azevedo; SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos; SISTO, Fermino Fernandes (Orgs.). Questões do cotidiano universitário. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 159-177, 2005. SILVA FILHO, Roberto Leal Lobo e; MOTEJUNAS, Paulo Roberto; HIPÓLITO, Oscar; LOBO; Maria Beatriz de Carvalho Melo. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, n. 132, v. 37, set./dez., 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v37n132/a0737132.pdf>. Acesso em: 04 jul. 2011. TINTO, Vicent. Classrooms as communities. Exploring the educational character of student persistence. Journal of Higher Education. Ohio, n. 6, v. 68, p. 599-623, 1997. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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RELATO DO COLÓQUIO

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Colóquio III - O processo de escrita e

publicação

LIVROS E ARTIGOS

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Coordenadora: Dulce Helena Penna Soares (SC) Relatora: Vera Regina Roesler (SC) Palestrantes: Clarissa Stefani Teixeira (SC) Ana Maria Netto Machado (SC) O processo de escrita e publicações: livros e artigos Clarissa Stefani Teixeira (SC) É evidente a preocupação com os investimentos, qualidade e quantidade da produção científica internacional e, no Brasil, isso não é diferente. Mesmo que a quantidade de trabalhos publicados em periódicos venha aumentando, o número de vezes que os artigos brasileiros são citados por outros estudiosos diminui. Nas áreas de psicologia e orientação profissional os números científicos ainda se mostram abrandados quando comparados a outras áreas da ciência da saúde. Vencer esses desafios e se inserir efetivamente na economia do conhecimento ainda são desafios mesmo para as áreas mais avançadas da ciência. Por isso, no Colóquio de Orientação Profissional, de Carreira e Aposentadoria trataremos das problemáticas, das formas de ultrapassar barreiras e de como nos posicionarmos enquanto detentores do conhecimento. O processo de escrita e publicações: livros e artigos Ana Maria Netto Machado (SC) Desafio cada vez mais universal para cidadãos de qualquer idade, o processo de escrever se distingue de seu resultado, o escrito, e representa um modo de existência no espaço público. Está cada vez mais presente nas diversas esferas da vida contemporânea, seja pessoal ou profissional. Na breve exposição explicitaremos um conjunto de elementos envolvidos nesse movimento de inserção do singular no público; desconstruindo mitos e falácias firmemente ancorados no imaginário geral, que funcionam como obstáculos que mantém considerável contingente de pessoas excluídas do usufruto desta arma/ferramenta.

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RELATO DO COLÓQUIO

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LANÇAMENTO DE LIVRO

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O FUTURO PROFISSIONAL DO SEU FILHO: UMA CONVERSA COM OS PAIS Ramos, SG1 1 Trajeto Consultoria/PE Este livro materializa o desejo de compartilhar com os pais nossa experiência na Trajeto, ressaltando o lugar essencial que exercem na orientação profissional dos filhos. Somos testemunhas dos efeitos prejudiciais que as escolhas profissionais equivocadas produzem na vida dos jovens. Efeitos que atingem seus futuros e suas famílias. Aprendemos que a disposição do jovem para assumir e comprometer-se com seu projeto profissional adquire outra dimensão quando seus questionamentos podem ser discutidos com a família. Essa questão ainda é mais imperativa no cenário da economia do conhecimento e da competividade do mercado de trabalho, em que as exigências aumentaram para todos os profissionais. O papel dos pais e da escola na tarefa de convocá-los a pensar no futuro é insubstituível. Mas, os pais subestimam o valor de sua participação. Imaginam que é melhor não opinar, como se não tivessem o direito de falar ou influenciar. Essa influência é inevitável e, por isso, em nossa abordagem, os pais têm um espaço privilegiado. Participam de alguns encontros, explicitam o que pensam sobre o filho, expectativas e preocupações. Essa conduta os legitima a falar e a assumir o lugar de figura de referência, sem culpa. A influência deles não pode ser desconsiderada porque suas expectativas são determinantes do lugar que o filho ocupa na família e, portanto, da maneira como se veem, podendo fazer parte de projetos grandiosos ou ocupar uma posição de menos-valia. Obviamente, o envolvimento emocional impede a distância necessária para ajudar o filho a distinguir o que deseja daquilo que a família espera dele, gerando conflitos passíveis de serem solucionados quando mediados por um terceiro. Nossa metodologia não utiliza testes psicométricos nem dá respostas prontas. O cliente tem participação ativa nos três módulos do programa, que se desenvolve em seis encontros. O primeiro tem como objetivo assessorá-lo a construir o seu perfil: reconhecer suas habilidades, interesses e dificuldades, para que seja possível discriminar aquilo que deseja das identificações alienantes. Nos módulos subsequentes, esses dados são articulados a informações acerca das profissões que estiverem sendo analisadas e das condições do mercado de trabalho. Fazer escolhas profissionais sintonizadas ao próprio desejo produz mudanças de postura. Pesquisas de avaliação e depoimentos dos pais e dos jovens atestam maior dedicação aos estudos, compromisso com a carreira e forças para enfrentar adversidades. É sobre essas e outras questões relacionadas à educação, ao mercado e à carreira que tratamos nesta coletânea de artigos que compõe o livro. PALAVRAS-CHAVE: pais; orientação profissional; metodologia.

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MESAS-REDONDAS

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MESA-REDONDA I: ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO: O PRIMEIRO EMPREGO É UMA ESCOLHA?

Coordenadora: Cláudia Basso (SC) Palestrantes: Mariza Tavares Lima (MG)

Edite Krawulski (SC) Cláudia Basso (SC)

Orientação para o trabalho: O primeiro emprego é uma escolha? Mariza Tavares Lima (MG) O processo de escolha profissional se configura como um desafio, especialmente para os jovens, uma vez que ele compreende um conjunto de aspectos que perpassam o indivíduo tanto do ponto de vista intra quanto interpessoal. Destacam-se aqueles relativos às influências familiares e sociais, os fatores cognitivos e afetivos, assim como questões relacionadas a valores, a estereótipos e preconceitos. Na breve exposição serão citados alguns teóricos, de correntes diversas, os quais apontam fatores intervenientes no processo de escolha profissional. A reflexão se ampliará na direção da realidade da escolha no contexto atual, segundo base de dados da OIT. A partir dessa abordagem se apresentará relato sucinto de uma experiência prática de trabalho com jovens provenientes de uma classe social menos privilegiada – considerados em risco social – na experiência do primeiro emprego. Primeiro emprego de graduados no contexto da contemporaneidade Edite Krawulski (SC) A contemporaneidade possui características próprias, as quais distinguem esse momento histórico daqueles que o antecederam. Essas características afetam diretamente os contextos produtivos e o denominado “mundo do trabalho” e, particularmente, os processos de inserção laboral de profissionais recém-graduados. Os múltiplos “movimentos” na busca de trabalho/emprego, por parte de profissionais que concluíram sua formação acadêmica de graduação, nesses contextos, possuem estratégias peculiares, uma vez que tanto os contextos quanto os indivíduos reúnem e expressam as características do momento. Algumas iniciativas, inclusive, são aparentemente paradoxais, como a busca por empregos públicos caracterizados por estabilidade e segurança no cargo, mediante a prestação de concursos, em um cenário marcado, ao contrário, pela instabilidade e pela incerteza. Não obstante esses movimentos sejam moldados e/ou afetados pelas peculiaridades do cenário contemporâneo, constata-se que não há muita margem de escolha para a busca do primeiro emprego, haja vista a centralidade do trabalho em nosso atual arranjo societário. As condições de escolha ao primeiro emprego para os jovens de ensino técnico Cláudia Basso (SC)

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O crescente processo de crescimento econômico e tecnológico do Brasil, considerado como país emergente em termos de desenvolvimento, vem demandando um fluxo cada vez maior de profissionais qualificados para atuar nas mais diversas áreas profissionais. Decorrente disso, a expansão e a valorização do ensino técnico com a criação do Programa Pronatec, tem sido uma tentativa de impulsionar os jovens, principalmente, os de classe social menos favorecida socioeconomicamente, a prosseguirem os estudos e obterem uma qualificação profissional, atendendo a demanda do mercado de trabalho. No entanto, diante das necessidades pessoais e familiares e da possibilidade do desemprego, para essa população jovem as possibilidades de escolha de uma profissão com formação técnica e suas perspectivas de futuro articulada às condições de obtenção de um trabalho/emprego é dilemática e, por vezes, desarticulada, influenciando inclusive na conclusão do curso. Nesse âmbito que a discussão será traçada, buscando por meio da teoria e de um estudo empírico com jovens do ensino técnico do Programa Pronatec compreender esse cenário da escolha para o primeiro emprego.

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MESA-REDONDA II: IDENTIDADE PROFISSIONAL E CARREIRA: LIMITES E POSSIBILIDADES NAS ORGANIZAÇÕES

Coordenadora: Marilaine Bittencourt Freitas Lima (SC) Palestrantes: Milta Costa da Silva Rocha (MG) Giselle Mueller Roger Welter (SP) Marilaine Bittencourt Freitas Lima (SC) Carreira e possibilidades nas organizações Milta Costa da Silva Rocha (MG) Para que empresas e profissionais sejam bem sucedidos dois fatores são essenciais: 1) A identificação entre projeto de vida e trabalho, pois quando há alinhamento dos projetos organizacionais e pessoais o comportamento leva ao foco em resultados, principal objetivo de qualquer instituição. 2) A valorização das pessoas com investimento genuíno em treinamento e desenvolvimento. Nesse caso as oportunidades são compartilhadas e as necessidades de treinamento de cada profissional são levadas em conta de acordo com seu perfil profissional, com sua área de atuação e seu desempenho pessoal. As empresas devem valorizar o SER, que determina o comportamento para se conseguir, como consequência e não exigência, o resultado esperado: o sucesso o negócio. SER > FAZER > TER SER = valores, crenças e emoções FAZER = atitude, comportamento (sempre baseados no SER) TER = entrega de resultados. Nessas condições, não é necessário ter um bem elaborado projeto de cargos e salários na empresa, para se conseguir crescer na carreira. Seres Humanos ou Bonsai Humanos? - A busca de significado no trabalho em tempos de mudança Giselle Mueller Roger Welter (SP) Em tempos de mudanças aceleradas, economias até recentemente tidas como sólidas e estáveis hoje enfrentam um período de crise. As mudanças demográficas, devidas ao envelhecimento populacional, e a mobilidade geográfica, resultante do processo de globalização e da crise econômica, entre outros fatores, criaram novos desafios para os profissionais. Estes devem aprender a ser mais flexíveis, desenvolver habilidades para lidar com mudanças, adquirir novos conhecimentos por meio da atualização constante, aprender a trabalhar colaborativamente e com autonomia, agenciar e apropriar-se do próprio tempo e esforço, ter um perfil mulitarefa e saber lidar com diferentes culturas. Esse cenário exerce forte impacto sobre a empregabilidade do indivíduo, que agora deve buscar uma forma de adaptabilidade ativa, identificando oportunidades para sua carreira. Essa adaptabilidade depende não só da sua identidade profissional, mas da sua capacidade de adaptação a esse cenário mutável e cheio de incertezas. Depende, também, do seu capital humano e social. No mundo corporativo é uma prática comum analisar cenários, considerando tanto elementos externos como internos. A

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mesma estratégia deve ser adotada pelo indivíduo para que ele possa estabelecer objetivos profissionais e elaborar as estratégias mais adequadas para garantir a empregabilidade. Ele deve buscar o alinhamento de objetivos pessoais aos objetivos organizacionais. Estabelecendo um paralelo com a análise do 'cenário interno' o indivíduo deverá identificar suas forças e fraquezas por meio do autoconhecimento e autoavaliação. A avaliação das oportunidades e ameaças que fazem parte do cenário externo permite que ele se situe com mais segurança. Considerando estes aspectos, pretende-se discutir a adaptabilidade do profissional e sua empregabilidade, as quais representam um desafio para a formação da sua identidade profissional, agora não mais alicerçada no emprego ou em uma carreira claramente delineada. Planejamento de vida: crescimento e qualidade de vida Marilaine Bittencourt Freitas Lima (SC) O tema “qualidade de vida” tem cada vez mais ocupado espaço em círculos de discussão tão diversos como o mundo acadêmico, a mídia ou até mesmo bate-papos informais. Um número crescente de pessoas procura o equilíbrio entre realização profissional e pessoal como forma de viver melhor, e o Planejamento de Carreira é ferramenta importante nessa busca, na medida em que auxilia o sujeito a tornar-se o gestor da própria vida, responsabilizando-se pela promoção de suas mudanças. O foco passa a ser a melhoria contínua, permitindo que cada um explore ao máximo suas potencialidades.

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MESA-REDONDA III: A PRIMEIRA ESCOLHA: PROCURANDO CAMINHOS Coordenadora: Marilu Diez Lisboa (SC) Palestrantes: Roberta Maria Fernandes Cavalcante (CE) Christina Yara Rodrigues (SP) Marilu Diez Lisboa (SC) A primeira escolha: procurando caminhos Roberta Maria Fernandes Cavalcante (CE) O presente trabalho tem como ponto de partida o interesse pelo tema da orientação profissional em jovens de classes sociais desfavorecidas economicamente, pois atualmente um número cada vez mais crescente vem procurando uma ajuda na escolha por uma profissão, por um trabalho, por um futuro. Pensar na escolha profissional junto a essa clientela é necessário compreender as condições educacionais precárias e a dificuldade de acesso à informação fazem com que os alunos de classe social baixa apresentem dificuldades em fazer uma escolha profissional responsável, optando por uma escolha pela subsistência, no sentido de existir uma necessidade direta, ou seja, uma necessidade de trabalhar, principalmente para a sua sobrevivência.Levando em conta que a possibilidade das escolhas profissionais desses jovens são realizadas de maneira pouco conscientes, a pressão dos determinantes econômicos e culturais a que estão submetidos, é que se pensa na orientação profissional como um espaço de reflexão, em que pode propor novas formas de pensar e de desconstruir, reconstruir e/ou construir praticas e propostas de intervenção.Espera-se que esse estudo possa proporcionar de alguma forma, trazendo elementos e embasamentos para que os profissionais possam lidar melhor com essa realidade e ajudar aos jovens em suas escolhas profissionais. A primeira escolha: procurando caminhos Christina Yara Rodrigues (SP) O jovem sente uma dificuldade muito grande em fazer a sua primeira escolha. Essa escolha depende de alguns fatores que acredito serem fundamentais para que ele se sinta seguro para tomar uma decisão e fazer sua primeira escolha. É alta a evasão nas universidades. Explicitarei alguns caminhos que acredito que “ajudarão” o jovem a fazer a sua escolha de forma madura e consciente. A primeira “escolha” de um trabalho: em busca de caminhos Marilu Diez Lisboa (SC) A presente apresentação em Mesa Redonda se propõe discutir se há, e em que medida, a possibilidade de escolha da profissão, e que caminhos seguir, para jovens em idade de ingresso no mundo laboral ou a ele já pertencentes, não necessariamente vinculando educação e trabalho. A questão sobre o que significa “estudar e trabalhar”, que fundamenta uma escolha profissional tendo como base o prolongamento dos estudos, constitui-se fundamentada em uma das questões

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norteadoras complementares de pesquisa realizada por esta autora, concernente à importância do estudo para a juventude menos privilegiada socioeconomicamente e que frequenta ou frequentou o sistema público de ensino. E tem igualmente o objetivo de complementar as concepções sobre a importância de estudar, agora trazidas por meio de um estudo de caso junto ao Curso Pré-vestibular da UFSC, realizado igualmente por esta autora. Ambos se constituíram como pesquisas que propiciaram o título de pós-doutoramento, realizadas na UNESP e na UFSC, respectivamente, concluídos em 2010 e em 2012. A primeira investigação teve como público estudantes de escolas públicas de centro e de periferia de uma sub-região do Sudeste do Brasil. Seu foco constituiu-se em compreender de que modo o desemprego é percebido pelos jovens, população que se encontra em um momento de vida em que o trabalho passa a ter um significado central, contemplando também a questão complementar descrita acima. A segunda pesquisa procurou verificar a como os jovens egressos do Curso Pré-vestibular da UFSC percebem as formas atuais de ingresso no ensino superior e quais estratégias estão utilizando com vistas à permanência na universidade. Ambas investigações enfocam a relevância dos estudos para a juventude menos privilegiada socioeconomicamente, independentemente de alcançarem ou não o “destino improvável” de ingressar no ensino superior público, via Ações (AA) ou Políticas de Ações Afirmativas (PAA). Partiu-se da concepção de que existem diferentes juventudes, segundo autores de referência em Educação e Sociologia da Juventude.

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MESA-REDONDA IV: ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NAS ESCOLAS Coordenador: Iúri Novaes Luna (SC) Palestrantes: Kathia Maria Costa Neiva (SP) Ana Marcia Lopes Diniz (SP) Iúri Novaes Luna (SC) O diagnóstico da maturidade para a escolha profissional como subsídio para programas de educação para a carreira Kathia Maria Costa Neiva (SP) As instituições de ensino de ensino fundamental e médio têm se preocupado cada vez mais em desenvolverem ações e programas que visem facilitar a construção do projeto profissional de seus alunos. Na atualidade, alguns autores ressaltam a importância da Educação para a Carreira que tem como base a teoria do Desenvolvimento Vocacional e situa os serviços de orientação no interior da própria escola, abrangendo todo o sistema escolar: alunos, família e professores, assim como a relação da comunidade escolar com o meio envolvente. A Maturidade para a Escolha Profissional é um construto proposto por teóricos desenvolvimentistas que corresponde à prontidão do jovem para a tomada desta decisão. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma experiência de diagnóstico da Maturidade para a Escolha Profissional realizada em um colégio particular da cidade de São Paulo visando subsidiar a elaboração de um programa de Educação para a Carreira. Para tal diagnóstico foi utilizada a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional – EMEP, instrumento que permite avaliar, além da Maturidade total, cinco componentes: Determinação, Responsabilidade, Independência, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional. A escala foi aplicada em uma amostra de 234 alunos cursando o ensino médio: 1º ano (26,9%), 2º ano (31,6%) e 3º ano (41,5%). Ao analisarmos a média obtida pelos alunos por série, identificamos quais os aspectos mais e menos desenvolvidos em cada série. Os alunos do 1º ano obtiveram uma classificação média em todas as subescalas e na escala de Maturidade Total. Já os alunos do 2º ano só obtiveram classificação média na subescala de Responsabilidade; em todas as demais subescalas e na escala total obtiveram classificação médio inferior. Os alunos do 3º ano alcançaram classificação média nas subescalas Responsabilidade, Independência e Conhecimento da Realidade, mas obtiveram classificação média inferior nas subescalas Determinação e Autoconhecimento e na escala de Maturidade total. Estes resultados serviram de subsídio para que o colégio reestruturasse o trabalho de Orientação Profissional e iniciasse a elaboração de um Programa de Educação para a Carreira contemplando, em seus objetivos, o desenvolvimento da maturidade, especialmente dos aspectos deficientes em cada nível escolar. Orientação profissional na escola Ana Marcia Lopes Diniz (SP) Decidir o que escolher neste mundo globalizado em que vivemos vem se tornando cada vez mais difícil, pois amplia-se cada vez mais as opções de trabalho. Preparar os adolescentes para conhecer a realidade do mundo do trabalho e a realidade que

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desejam viver, é hoje, um desafio para as instituições educacionais que não podem fechar seus olhos a esta questão e se preocuparem apenas em preparar os alunos para o vestibular, mas fundamentalmente para refletirem sobre o projeto de vida profissional. Através de projetos de orientação profissional desenvolvidos nas escolas, podemos auxiliar na escolha destes jovens, ajudando-os a pensar sobre si mesmo e sobre o mundo do trabalho, promovendo dessa forma uma escolha consciente por meio do autoconhecimento acerca da identidade pessoal e do conhecimento acerca do mundo profissional. Para desenvolvermos estes projetos, temos que considerar o perfil da escola, demandas do público alvo, disponibilidades de espaço físico da escola, tempo, conteúdos e metodologias adequados à idade e realidade de vida dos estudantes, dentre outros aspectos necessários para implantação da OP na escola. Orientação Profissional com jovens de escolas públicas: por que ser diferente? Iúri Novaes Luna (SC) Considerando as teorias, métodos e técnicas de Orientação Profissional (OP) presentes na literatura especializada, assim como a experiência adquirida por meio de intervenções em OP desenvolvidas em grupos e de forma individual em escolas públicas da Grande Florianópolis, a prática tradicional e corrente na área é problematizada e são discutidas questões teóricas que possam subsidiar formas alternativas de atuação em OP com diferentes públicos. Os métodos e as técnicas utilizados tradicionalmente na prática da OP encontram-se fortemente orientados para sujeitos que possuem possibilidades razoavelmente amplas no que se refere à escolha profissional e sua operacionalização, tanto do ponto de vista do capital financeiro, quanto do capital cultural. Não obstante, tratando-se de alunos provenientes de escolas públicas brasileiras, a realidade mostra-se significativamente diferente. Muitos abandonam a escola no decorrer da educação básica e outros, após a conclusão do ensino médio, não dão continuidade aos estudos e terminam por desenvolver trabalhos de baixa complexidade e baixos salários. Assim, emerge a questão: como contribuir com jovens de escolas públicas que se encontram no Ensino Médio, no sentido da formação de atitudes que viabilizem a construção de trajetórias profissionais mais autônomas, críticas e psicologicamente significativas?

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MESA-REDONDA V: APOSENTADORIA: GOZO, PRODUÇÃO OU LUTO? Coordenadora: Dulce Helena Penna Soares (SC) Palestrantes: José Carlos Zanelli (SC) Vera Regina Roesler (SC) Dulce Helena Penna Soares (SC) Aposentadoria: gozo, produção ou luto? José Carlos Zanelli (SC) A complexa interação de variáveis que influencia o bem-estar na aposentadoria, que demanda continuada orientação e cuidados nas organizações de trabalho, a favor do desenvolvimento individual e redução de danos coletivos. Características psicossociais que facilitam o enfrentamento adequado dos estressores na transição para aposentadoria. Eventos contingentes ao afastamento das atividades usuais de trabalho. Mudanças interpessoais e outras mudanças relevantes na transição para aposentadoria. Ambiguidades e contradições no processo de aposentadoria, na perspectiva da Sociologia Clínica Vera Regina Roesler (SC) De acordo com a configuração do projeto de ser de cada sujeito e o espaço ocupado pelo trabalho na produção de sua existência, o processo de transição entre o espaço laboral e a aposentadoria pode ocasionar ou não dificuldades psicossociais. Expectativas, desejo de libertação dos compromissos formais do trabalho, sonhos a realizar e, ao mesmo tempo, o medo do envelhecimento, das doenças e de possíveis dificuldades financeiras, assim como a perda de vínculos e espaços sociais são algumas das contradições e ambiguidades encontradas nesse processo, sobre o qual provocaremos algumas reflexões à luz da Sociologia Clínica. Aposentadoria: gozo, produção ou luto? Dulce Helena Penna Soares (SC) Ao pensarmos Aposentadoria, uma das primeiras ideias que nos vem à cabeça é a inatividade, o não fazer nada, não produzir mais. E por outro lado a ideia sempre presente de usufruir o tempo livre, de poder gozar plenamente do seu direito a preguiça, ao não fazer nada. Mas para alcançar esta meta, é preciso se desapegar da forma como sempre nos relacionamos com a vida, isto é, utilizando o trabalho como o mediador. É necessário elaborar o luto do trabalho deixado para trás, e perceber as muitas atividades que poderão ser encontradas no futuro. Nesta mesa pretendo discutir a possibilidade de encontrar um meio termo entre estes dois lados da moeda e poder pensar uma nova maneira de se relacionar com a produção, o gozo, a novas formas de atividade.

MESA-REDONDA VI: ORIENTAÇÃO DE CARREIRA NAS UNIVERSIDADES

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Coordenador: Vanderlei Brasil (SC) Palestrantes: Marucia Patta Bardagi (SC) Michele Gaboardi Lucas (SC) Vanderlei Brasil (SC) LIOP UFSC: Um serviço à serviço da formação e do atendimento em Orientação Profissional Marucia Patta Bardagi (SC) Este trabalho apresenta o funcionamento do LIOP UFSC, tendo como foco seu objetivo de servir como espaço de formação de orientadores profissionais e também como serviço de atendimento à comunidade em orientação de carreira. O campo de formação em OP na UFSC conta com uma disciplina teórica optativa e por estágio ou prática de extensão no LIOP. A disciplina temdois créditos e está no núcleo comum de formação, sendo acessível sem pré-requisitos a alunos desde a primeira fase do curso. Os estágios e práticas inserem-se no Programa LIOP – “Projetos de vida e trabalho”, cujas linhas (“Processos de escolha, formação e inserção profissional” e “Processos de desenvolvimento de carreira e aposentadoria”) acolhem as demandas de adolescentes, universitários, adultos e aposentados e pressupõe a circulação do aluno entre as diferentes demandas, públicos e formatos de atendimento (individual e grupos). Desde 2010, conta-se com cerca de 10 alunos por semestre envolvidos no LIOP e presta-se atendimento a cerca de 80 clientes por ano, fora as atividades externas ao serviço. O autoconhecimento como eixo norteador do processo de orientação de carreira Michele Gaboardi Lucas (SC) O autoconhecimento é um dos temas centrais no decorrer do processo de escolha profissional. Passado alguns anos após a efetivação dessa escolha esse tema vem à tona novamente na medida em que surge a necessidade de pensar sobre uma etapa que vem durante ou logo após o período da universidade, a inserção profissional. Sendo assim, um processo de orientação de carreira pode colaborar para a reflexão e ampliação do autoconhecimento, contribuindo assim para uma inserção profissional mais consciente e madura. Programa de Orientação de Carreira – POC/UNISUL: possíveis articulações entre ensino, pesquisa e extensão Vanderlei Brasil (SC) O Programa de Orientação de Carreira (POC/UNISUL) nasceu a partir das experiências na realização de atividades de pesquisa e intervenção na área de Orientação Profissional e Planejamento de Carreira. Seus principais objetivos são: criar condições para que alunos do Ensino Médio e da Educação Superior ingressem e se desenvolvam de forma efetiva nos cursos universitários e no mercado de trabalho; auxiliar os estudantes universitários no processo de

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construção de suas identidades profissionais, no planejamento de suas carreiras e nas possíveis redefinições de suas escolhas profissionais; fornecer instrumentos aos alunos para o desenvolvimento de ações facilitadoras no que se refere à inserção no mercado de trabalho e à elaboração de projetos profissionais; orientar alunos do Ensino Médio para o desenvolvimento de atitudes que favoreçam escolhas profissionais críticas, criativas e contextualizadas; desenvolver ações que favoreçam o desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal dos alunos no que se refere à evasão universitária, troca de cursos e falta de motivação para os estudos. As ações propostas pelo POC são realizadas por alunos do Curso de Psicologia e atendem demandas dos acadêmicos da UNISUL e dos estudantes das escolas de Ensino Médio das regiões onde a universidade atua.

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LISTA DE EMAILS PARA CORRESPONDÊNCIA COM O AUTOR

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PÔSTER

Código

(anais) Título

E-mail da Inscrição

responsável

PO1 A MATURIDADE PARA A ESCOLHA PROFISSIONAL

DE JOVENS DA CIDADE DE MACEIÓ

[email protected]

PO2 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CURRÍCULO

ESCOLAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

[email protected]

PO3 AUXILIANDO ADOLESCENTES NO PROCESSO DE

ESCOLHA PROFISSIONAL

[email protected]

PO4 OFICINAS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM

ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO

[email protected]

PO5 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM SITUAÇÃO DE

APRENDIZAGEM NO TRABALHO: CONTRIBUIÇÕES

DE UMA EMPRESA PÚBLICA

[email protected]

PO6 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS

APRENDIZES DE BAIXA RENDA E INSERÇÃO NO

MERCADO DE TRABALHO

[email protected]

PO7 PENSANDO SOBRE A ESCOLHA PROFISSIONAL:

RELATO DE UM PROJETO DE ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL

[email protected]

PO8 PROJETO DE ORIENTAÇAO PROFISSIONAL –

ABRINDO NOVOS HORIZONTES

[email protected]

PO9 REFLEXÕES SOBRE A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

NO CONTEXTO DO PROJETO DE VIDA COM

ADOLESCENTES INDÍGENAS DA ALDEIA KOPENOTI:

CONTRIBUIÇÕES PARA A PSICOLOGIA

[email protected]

PO10 RELATO DE EXPERIÊNCIA DA INSERÇÃO DA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NA UNIVERSIDADE.

[email protected]

PO11 TRABALHO NA ADOLESCÊNCIA: BENEFÍCIOS E

PREJUÍZOS

[email protected]

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Código

(anais) Título E-mail da Inscrição responsável

PO12 APOSENTAR-ME PARA QUE, SE POSSO/QUERO

CONTINUAR TRABALHANDO?: DOCENTES

APOSENTADOS E O EXERCÍCIO DO TRABALHO

VOLUNTÁRIO NA UFSC

[email protected]

PO13 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS NAS

REPRESENTAÇÕES DE APOSENTADORIA

ENTRE HOMENS E MULHERES DE MEIA-IDADE.

[email protected]

PO14 EDUCAÇÃO PARA APOSENTADORIA -

PROMOÇÃO DE SAÚDE E DESENVOLVIMENTO

NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL

[email protected]

PO15 ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA [email protected]

PO16 PREPARAÇÃO PARA A APOSENTADORIA E

TEMPO LIVRE

[email protected]

PO17 REPRESENTAÇÕES SOBRE A APOSENTADORIA

PARA TRABALHADORES DE MEIA-IDADE

[email protected]

PO18 TRABALHO X APOSENTADORIA: UM OLHAR

SOBRE A QUALIDADE DE VIDA

[email protected]

PO19 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA APROXIMAÇÃO À

REALIDADE OCUPACIONAL EM PARCERIA A

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL E DE CARREIRA - PROGRAMA

BOM ALUNO

[email protected]

PO20 DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA DE

GERENCIAMENTO DE CARREIRA PARA

ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

[email protected]

PO21 DESENVOLVIMENTO PESSOAL, ESCOLHA

PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO DE CARREIRA

EM PROGRAMA SOCIAL – PROGRAMA BOM

ALUNO

[email protected]

PO22 ELABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE VÍDEOS

SOBRE AS ÁREAS PROFISSIONAIS DE

TELECOMUNICAÇÕES E REFRIGERAÇÃO

[email protected]

PO23 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ALUNOS DE

ESCOLA PÚBLICA

[email protected]

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Código

(anais) Título E-mail da Inscrição responsável

PO24 “EU APRENDIZ DA VIDA - OFICINA DE

DESENVOLVIMENTO HUMANO E

PROFISSIONAL

[email protected]

PO25 A RELAÇÃO ENTRE A SATISFAÇÃO COM O

TRABALHO, CARREIRA PROFISSIONAL E

ESTABILIDADE: UM ESTUDO COMPARATIVO

ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS E

COMISSIONADOS.

[email protected]

PO26 CONTRIBUIÇÕES DE UMA DISCIPLINA SOBRE

PLANEJAMENTO DE CARREIRA PARA

EGRESSOS DE PSICOLOGIA

[email protected]

PO27 IDENTIDADE PROFISSIONAL E A

CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PÓS-CARREIRA

COM FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE

ENSINO SUPERIOR

[email protected]

PO28 INSTRUMENTOS QUANTITATIVOS SOBRE

TRANSIÇÃO DE CARREIRA: LEVANTAMENTO

PELO PSYCINFO

[email protected]

PO29 ORIENTAÇÃO DE CARREIRA: UMA

EXPERIÊNCIA COM ACADÊMICOS DO CURSO

DE ADMINISTRAÇÃO

[email protected]

PO30 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E COACHING:

DISCUTINDO INTER-RELAÇÕES

[email protected]

PO31 OS SENTIDOS E OS SIGNIFICADOS

ATRIBUÍDOS AO TRABALHO E A

APOSENTADORIA POR SUJEITOS DE

DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS

[email protected]

PO32 PRÁTICA DOCENTE EM ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA E A

CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PROFISSIONAIS

[email protected]

PO33 PREDITORES DE ESTRATÉGIAS DE CARREIRA

DIRIGIDA POR VALORES INDIVIDUAIS

[email protected]

PO34 PREDITORES DE UMA CARREIRA

AUTODIRIGIDA

[email protected]

Código Título E-mail da Inscrição

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(anais) responsável

PO35 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE O

CONSTRUCTO CARREIRA: UMA SISTEMATIZAÇÃO

DE DADOS

[email protected]

PO36 PROGRAMA DE REORIENTAÇÃO OCUPACIONAL

VOCACIONADA HOLÍSTICO EXISTENCIAL - PROVE

[email protected]

PO37 REESCOLHA PROFISSIONAL: FATORES QUE

MOTIVAM ADULTOS JOVENS

[email protected]

PO38 REORIENTACAO PROFISSIONAL: ALTERNATIVA

PARA REDIRECIONAR ESCOLHAS

[email protected]

PO39 REPERCUSSÕES DA APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA

TRAJETÓRIA SÓCIO-PROFISSIONAL EM ALUNOS

DA DISCIPLINA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE

UM CURSO DE PSICOLOGIA

[email protected]

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PÔSTER COM COLÓQUIO

Código

(anais) Título E-mail da Inscrição responsável

POC1 JOVEM-APRENDIZ: PRIMEIRO EMPREGO E AS

PRIMEIRAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS

[email protected]

POC2 O CURSO PRÉ-VESTIBULAR DA UFSC COMO

OPORTUNIDADE ESCOLAR PARA O INGRESSO

EM CURSOS DE MAIOR DEMANDA

[email protected]

POC3 PRÁTICAS CARTOGRÁFICAS DE UM ORIENTADOR

PROFISSIONAL

[email protected]

POC4 UM WEBSITE CONECTANDO O REAL E O VIRTUAL

PARA A ESCOLHA DE UMA PROFISSÃO

[email protected]

POC5 UMA EXPERIÊNCIA DE ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL DENTRO DA ABORDAGEM SÓCIO-

HISTÓRICA NUMA ONG DA PERIFERIA DE

BLUMENAU/SC

[email protected]

POC6 “DIRETRIZES DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO

CONTEXTO DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA -

METODOLOGIA EPHETA.”

[email protected]

POC7 “O PALHAÇO” ENQUANTO RECURSO DIDÁTICO-

METAFÓRICO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE

ORIENTADORES PROFISSIONAIS E DE

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS

[email protected]

POC8 APOSENTADORIA E CICLO DE VIDA FAMILIAR:

CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA TEORIA

SISTÊMICA

[email protected]

POC9 APOSENTAR, POR QUE E PARA QUÊ? [email protected]

POC10 AS RELAÇÕES DE APOSENTADOS COM OS

ESPAÇOS URBANOS DO CENTRO DE

FLORIANÓPOLIS

[email protected]

POC11 O QUE É APOSENTADORIA? UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO COM PROFISSIONAIS

[email protected]

POC12 O TRABALHADOR COMO OBJETO NAS

ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: O

DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

[email protected]

Código Título E-mail da Inscrição responsável

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(anais)

POC13 PERTINENCIA DA TEORIA DAS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS PARA O ESTUDO DA

APOSENTADORIA NO SERVIÇO PÚBLICO

FEDERAL: REFLEXÕES DE UM PROJETO DE

PESQUISA.

[email protected]

POC14 PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA [email protected]

POC15 PROCESSO DE APOSENTADORIA DE

EXECUTIVOS DE BANCOS BRASILEIROS:

CONTRADIÇÕES E AMBIVALÊNCIAS.

[email protected]

POC16 PROJETOS DE FUTURO NA APOSENTADORIA [email protected]

POC17 TEMPO LIVRE NA APOSENTADORIA [email protected]

POC18 A ESCOLHA PELO TRABALHO VOLUNTÁRIO:

PERCEPÇÕES DE UM GRUPO DE

VOLUNTARIADOS ATUANTES EM HOSPITAIS DE

BLUMENAU

[email protected]

POC19 DIVULGAÇÃO DE TELE E RAC POR VÍDEOS [email protected]

POC20 MODELO PSICOSSOCIAL DE GERENCIAMENTO

DE CARREIRA (MPG-C)

[email protected]

POC21 PERCEPÇÃO DAS MÃES QUE TRABALHAM SOBRE

O IMPACTO DA SUA AUSÊNCIA NA RELAÇÃO COM

O FILHO

[email protected]

POC22 REFLETINDO SOBRE O MUNDO DO TRABALHO

ATRAVÉS DOS CÍRCULOS DE CULTURA: UMA

EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES DE CURSOS

TÉCNICOS DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO

TECNOLÓGICA

[email protected]

POC23 OFICINAS DE PLANEJAMENTO DE CARREIRA

COM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO E

SUPERIOR: RELATO DE EXPERIÊNCIA

[email protected]

POC24 POSSIBILIDADES E LIMITES DE UM PROGRAMA

DE ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE

CARREIRA EM UMA FACULDADE PARTICULAR:

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

[email protected]

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Código

(anais) Título E-mail da Inscrição responsável

POC25 PROVE: UMA NOVA ABORDAGEM HOLÍSTICA

PARA A REORIENTAÇÃO OCUPACIONAL E DE

CARREIRA

[email protected]

POC26 VIVÊNCIAS ACADÊMICAS E A PERMANÊNCIA DE

ESTUDANTES RURAIS E NÃO RURAIS NO CURSO

DE NÍVEL SUPERIOR

[email protected]

LIVRO

Título E-mail da Inscrição responsável

O FUTURO PROFISSIONAL DO SEU FILHO: UMA

CONVERSA COM OS PAIS

[email protected]