Anais Uf Pel

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Artigos variados do 7 UFPEL. Congresso internacional em comunicação, memória e cultura.

Transcript of Anais Uf Pel

  • Catalogao na Fonte

    Ayd Andrade de Oliveira CRB - 10/864

    S471a Seminrio Internacional em Memria e Patrimnio : Conveno do Patrimnio Imaterial: 10 anos depois [2003-2013] [recurso eletrnico] (7.: 2013 : Pelotas).Anais do VII Seminrio: Conveno do Patrimnio Imaterial: 10 anos depois, 06 a 08 de novembro de 2013 / Organizadoras : Carolina Martins Etcheverry ; Frantieska Huszar Schneid. Pelotas: Ed. da UFPel, 2014.. Pelotas : Ed. da UFPel, 2013.

    1 CD-ROM (1054p.) ; il. p&b e color.

    ISSN: 2178-7646

    1. Memria - Congressos. 2. Esquecimento. 3. Polticas de memria. I. Etcheverry, Carolina Martins, org. II. Schneid, Frantieska Huszar, org. III. Programa de Ps-Graduao em

    Memria Social e Patrimnio Cultural do Instituto de Cincias Humanas/UFPel. IV. Ttulo.

    CDD:153.12

  • INDCE POR AUTOR

    Alexandra Vaz Viana ............................................................................................................ 7

    Aline Montagna da Silveira ................................................................................................ 16

    Amanda Mensch Eltz ......................................................................................................... 26

    Ana Stela de Negreiros Oliveira .......................................................................................... 37

    Anderson Pires Aires ......................................................................................................... 45

    ngela Mara Bento Ribeiro ................................................................................................ 54

    Benedito Walderlino de Souza Silva ................................................................................... 61

    Camila Warpechowski ....................................................................................................... 72

    Daniela Maria Alves Pedrosa .............................................................................................. 83

    Daniele Behling Lukow ....................................................................................................... 94

    Eduardo R. Palermo ......................................................................................................... 105

    Fabrcio Locatelli Ribeiro .................................................................................................. 117

    Felipe Radnz Krger ....................................................................................................... 128

    Francielle Moreira Cassol ................................................................................................. 140

    Genivalda Cndido da Silva .............................................................................................. 153

    Helena de Araujo Neves ................................................................................................... 162

    Janaina Silva Xavier ......................................................................................................... 175

    Jaqueline Marcos de Araujo ............................................................................................. 184

    Jos Cludio Alves de Oliveira .......................................................................................... 192

    Jussara Vitria de Freitas do Esprito Santo ...................................................................... 208

    Keli Cristina Scolari .......................................................................................................... 215

    Marcelina das Graas de Almeida ..................................................................................... 226

    Marcelo Cachioni ............................................................................................................. 238

    Marcelo Pimenta e Silva .................................................................................................. 250

    Mara Teresa Barbat ........................................................................................................ 260

    Michel Platini Fernandes da Silva ..................................................................................... 268

    Mirella de Jesus Honorato ............................................................................................... 282

  • Nadia Miranda Leschko.................................................................................................... 285

    Rebecca Corra e Silva ..................................................................................................... 297

    Rodrigo Vivas .................................................................................................................. 307

    Rogrio Piva da Silva ........................................................................................................ 317

    Severino Cabral Filho ....................................................................................................... 331

    Talita Corra Vieira Silva .................................................................................................. 342

    Tayrine Barcelos de Freitas Gomes ................................................................................... 352

    Tatiana Carrilho Pastorini Torres ...................................................................................... 362

    Valria Raquel Bertotti .................................................................................................... 371

    Yussef Daibert Salomo de Campos.................................................................................. 383

    INDCE POR TTULO

    A Arquitetura Protomoderna no Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas ....... 7

    A arquitetura moderna em Pelotas: inventrio, conhecimento e preservao ........ 16

    O inventrio como perspectiva de pesquisa histrica no Museu Joaquim Francisco do Livramento ......................................................................................................................... 26

    Trilha caminhos dos maniobeiros: integrao da cultural imaterial , turismo e vivncia do patrimnio ............................................................................................................ 37

    O surgimento dos cemitrios no sculo XIX - o caso de Pelotas e Jaguaro, Rio Grande do Sul, Brasil. .............................................................................................................. 45

    Compartilhando os bens culturais de Jaguaro-RS-patrimnio imaterial proposta de educao patrimonial ....................................................................................................... 54

    A construo do patrimnio nas polticas pblicas de salvaguarda cultural do Brasil. ................................................................................................................................................. 61

    Patrimnio Histrico e Acessibilidade: a busca do equilbrio entre o respeito pela memria e o respeito pelas pessoas ....................................................................................... 72

    Feira Livre da Avenida Brasil: o Patrimnio Cultural que desfila as margens do Paraibuna. ............................................................................................................................... 83

    Inventrio como instrumento de interpretao e planejamento: O plano de preservao do patrimnio arquitetnico de So Loureno do Sul-RS. ................................. 94

    Usina de Cuapir: patrimonializacin, turismo y desarrollo local en la frontera Rivera Livramento. ............................................................................................................. 105

    Campus I: Uma memria a ser contada ................................................................... 117

    Representaes do Holocausto nos Quadrinhos ..................................................... 128

    Povo gacho, eis aqui tua Me! Romaria da Medianeira em imagens os enfoques dados pelos jornais Santamarienses ..................................................................................... 140

  • Abordagens e discusses sobre o espao museal, a patrimonializao e a comunicao cultural: Estudo comparativo entre o Museu dos Ex-votos e a Sala de Milagres do Santurio do Bomfim, em Salvador, Bahia. ..................................................................... 153

    Inventrio das instituies de ensino privadas de Pelotas-RS constitudo por meio das propagandas impressas (1872-2011) ............................................................................. 162

    Plano Museolgico: uma ferramenta dos museus na gesto do patrimnio .......... 175

    A mercantilizao e espetacularizao das cidades: O desafio em preservar o patrimnio histrico e cultural.............................................................................................. 184

    Cartas ex-votivas: histrias de vidas, memrias social e comunicao ................... 192

    Degradao de materiais constitutivos da fotografia sobre vidro - complexidade de materiais e critrios de intervenes - caso Chichico Alkimim. ........................................... 208

    Estudos das Esculturas em faiana da cidade de Pelotas ........................................ 215

    Moritvri Mortvis memria, histria e patrimnio os construtores de tmulos do Bonfim, o documentrio ....................................................................................................... 226

    Inventrio de Bens Culturais Imateriais de Piracicaba - SP ...................................... 238

    A memria construda pelo jornal Correio do Sul em torno da figura do ex-presidente Emlio Garrastazu Mdici .................................................................................... 250

    El Payador: desde Ansina a Diego Sosa ................................................................. 260

    Interao, novas mdias e tecnologias da informao e comunicao em exposies museolgicas. ........................................................................................................................ 268

    Museus e Memria na Contemporaneidade ........................................................... 282

    Repercusses Grficas da Passagem do Graf Zeppelin pelo Brasil: Anncios Publicados na Imprensa em 1930 ......................................................................................... 285

    Museu sensvel e museu no feminino. Mulheres artistas nas exposies museolgicas ....................................................................................................................... 297

    Museu Revelado: O fardo da histria no revelada ................................................. 307

    Notas Introdutrias sobre a Histria e Biografia de um Pioneiro: Carlos Guilherme Rheingantz, o Primeiro Industrial Gacho ............................................................................ 317

    A memria em disputa: o Museu do Algodo de Campina Grande-PB, 1973-2013 331

    Colees e Histria dos Museus: a Coleo Adail Bento Costa e o Museu Municipal Parque da Baronesa .............................................................................................................. 342

    Educao Patrimonial como ferramenta de proteo do Patrimnio Cultural ....... 352

    Educao patrimonial: uma proposta de metodologia para o ensino de histria ... 362

    Guia de Acervos: a representao dos acervos documentais .................................. 371

    O Patrimnio Cultural na Constituinte de 1987/88. ................................................ 383

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    A Arquitetura Protomoderna no Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas

    Alexandra Vaz Viana1

    Liciane Machado Almeida2

    Daniele Behling Luckow3

    Resumo A arquitetura protomoderna, ainda significativamente remanescente na cidade de Pelotas,

    representa um importante elemento testemunho do desenvolvimento histrico e cultural da cidade. Este estudo busca analisar esta produo arquitetnica, atendo-se ao acervo remanescente na malha urbana atual, que se encontra cadastrado no inventrio do Patrimnio Histrico e Cultural de Pelotas. Objetiva conhecer esta arquitetura como forma de contribuio pesquisa que esta sendo desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas em parceria com a Prefeitura de Pelotas. Envolve tanto a identificao de suas caractersticas como o entendimento dos mecanismos de proteo vigentes. Reconhece que os exemplares protomodernos j protegidos pela Lei 4568/2000 constitui-se como uma referncia para as anlises dos demais exemplares atualmente em estudo.

    Palavras-chave: inventrio.arquitetura.protomoderna.patrimnio.pelotas

    Contextualizao histrica da produo protomoderna em Pelotas A produo da arquitetura urbana de Pelotas teve incio durante as primeiras dcadas

    do sculo XIX, quando ainda era freguesia, tendo chegado ao status de cidade no ano de 1835. O desenvolvimento socioeconmico, propiciado pela indstria saladeril nas charqueadas, impulsionou o crescimento do ncleo urbano e da produo arquitetnica. Esta se desenvolveu por mais de um sculo, passando por significativas transformaes estilsticas. Primeiramente, apresentando caractersticas da arquitetura lusobrasileira, representada pelas charqueadas, transformou-se para uma arquitetura de caractersticas eclticas e aps introduzindo uma nova linguagem arquitetnica na composio de suas fachadas, chegou aos meados do sculo XX compondo-se atravs de elementos mais geomtricos e menos rebuscados, caractersticos da arquitetura protomoderna.

    As charqueadas, predominantemente localizadas as margens do Arroio Pelotas, representam as primeiras edificaes produzidas em Pelotas. Estas, com caractersticas da arquitetura luso- brasileira, apresentam na sua composio formal a presena de marcao horizontal, esquadrias com formas verticalizadas, vergas em arco, cobertura aparente com uso de beiral e inexistncia de platibanda. O crescimento urbano, da segunda metade do sculo XIX, evidenciou um perodo de modernidade a partir da influncia europeia, com edificaes de qualidade nas tcnicas construtivas e formas arquitetnicas, tornando-se predominantemente ecltica. Esse estilo arquitetnico apresenta

    1 1Acadmica de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Catlica de Pelotas, [email protected]

    2 2Arquiteta e Urbanista, Especialista em Patrimnio Cultural, Mestre em Memria Social e Patrimnio

    Cultural, Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas, [email protected] 3 Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e Urbanismo

    Universidade Catlica de Pelotas, [email protected]

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    como principais caractersticas edificaes com adornos de formas orgnicas, vergas retas, presena de marcao horizontal e vertical, esquadrias com formas verticalizadas e o uso de platibanda trabalhada com formas vazadas como balastres e rendilhados.

    Em meados do sculo XX a composio formal das fachadas iniciou um processo de simplificao dos elementos compositivos, perceptvel principalmente nas platibandas, que substituem o uso de formas orgnicas por elementos mais geomtricos. Evidenciam-se tambm caractersticas como marcao dos acessos; recuos na fachada, como forma de proteo do acesso principal e o emprego do revestimento de cimento penteado, caractersticas da arquitetura protomoderna.

    FIGURA 1 Estilos arquitetnicos presentes no Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas Fonte: Manual do Usurio de Imveis Inventariados

    A arquitetura protomoderna inserida no mbito do Patrimnio histrico cultural de Pelotas

    A cidade de Pelotas possui um vasto legado cultural atribudo a sua produo arquitetnica. As edificaes, no s externamente, mas tambm internamente, apresentam uma grande riqueza de detalhes e aspectos construtivos, os quais merecem serem preservados.

    A busca pela preservao do patrimnio edificado pelotense teve incio a mais de trs dcadas, atravs de aes de tcnicos vinculados a academia e a administrao pblica

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    municipal. A regulamentao da Lei 4568/2000 (PELOTAS,2000) representou a oficializao desta luta, tornando-se assim o principal instrumento de preservao do municpio. A citada lei instituiu as Zonas de Preservao ZPPCs e declarou a preservao do acervo de mais de 1700 prdios cadastrados no inventrio do patrimnio histrico de Pelotas, exigindo a manuteno das fachadas pblicas e a volumetria deste acervo. Alm dos bens inventariados Pelotas atualmente conta com um nmero expressivo de prdios Tombados, sejam em nvel federal, estadual ou municipal, os quais, predominantemente, apresentam as caractersticas da arquitetura ecltica e representam os exemplares mais significativos remanescentes na malha urbana.

    FIGURA 2 Mapa das Zonas de Preservao do Patrimnio Histrico de Pelotas Fonte: Acervo Secretaria Municipal de Cultura

    O acervo inventariado contempla exemplares de diferentes estilos arquitetnicos, constituindo-se, desta forma, um instrumento que assegura a permanncia de testemunhos das transformaes socioeconmicas e do desenvolvimento urbano de Pelotas.

    Dentre os 2094 imveis inventariados, 29 apresentam caractersticas da arquitetura lusobrasileira, 1623 so representativos da arquitetura ecltica, 282 enquadrando-se na arquitetura protomoderna e 160 no apresentam um estilo claramente identificado, conforme tabela a seguir.

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    FIGURA 3 Exemplares dos estilos arquitetnicos presentes na malha urbana de Pelotas Fonte: Produo da autora base acervo da Secretaria Municipal de Cultura

    O acervo de edificaes protomodernas inseridas no inventrio A arquitetura protomoderna inserida no Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas,

    objeto de nosso estudo, contempla um percentual significativo de 13,46% do total de imveis, o que representa 282 exemplares. Os prdios, dotados das caractersticas protomodernas, so bens que representam a produo arquitetnica do municpio predominantemente entre as dcadas de 1920 e 1940, perodo posterior produo da arquitetura ecltica.

    A definio da amostra de 282 prdios foi baseada na ficha de classificao dos imveis inventariados em nveis de preservao, constante no arquivo da Secretaria de Cultura. A citada ficha apresenta o estilo arquitetnico de cada um dos imveis integrantes do inventrio como um dos parmetros para definio dos nveis de preservao.

    Cabe destacar que a amostra aqui em estudo, apesar de bastante significativa, no representa nem mesmo a metade do acervo remanescente na malha urbana. A pesquisa em desenvolvimento pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPEL em parceria com a Prefeitura de Pelotas, j realizou o levantamento e mapeamento de aproximadamente 850 exemplares preservados na rea correspondente aos dois primeiros loteamentos, incluindo ainda a regio mais ao norte, atualmente reconhecida como AEIAC zona norte pelo Plano Diretor.

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    Atualmente a citada pesquisa esta na fase de anlise do acervo identificado para posterior definio dos bens passiveis de enquadramento na lei municipal 4568/2000 (PELOTAS,2000), que regulamenta o inventrio.

    FIGURA 4 Exemplares da arquitetura protomoderna integrantes do Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas.

    Fonte: Produo da autora.

    A localizao dos 282 exemplares da amostra no mapa da zona urbana permitiu avaliar a tendncia de construo em direo zona porturia. Conforme pode ser observado no mapa a seguir.

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    FIGURA 5 Mapa de localizao da arquitetura protomoderna integrante do Inventrio do Patrimnio Histrico de Pelotas

    Fonte: Produo da autora

    Estudo analtico da arquitetura protomoderna inventariada em Pelotas Para as anlises da amostra utilizou-se o acervo fotogrfico dos imveis inventariados

    constantes no arquivo da Secretaria de Cultura, atravs do qual se desenvolveu o reconhecimento formal dos 282 exemplares, avaliando seus aspectos compositivos de fachada grau de descaracterizao, nvel de preservao e tipologia da amostra.

    1-Aspectos compositivos

    A constatao da presena ou no dos principais elementos formais representativos da arquitetura protomoderna nos exemplares da amostra evidenciou que 189 dos imveis identificados como integrantes do perodo em estudo, cadastrados no inventrio, so edificaes evidentemente protomodernas, ou seja, apresentam uma clara inteno formal compositiva representativa do estilo. Os demais 93 exemplares da amostra apresentam caractersticas compositivas protomodernas ainda miscigenadas com elementos do ecletismo, evidenciadas principalmente com a manuteno da verticalidade das fachadas atravs da forma de suas esquadrias, o que se entende como um perodo de transio estilstica.

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    FIGURA 6 Exemplares representativos da arquitetura protomoderna. Fonte: Produo da autora

    2-Grau de descaracterizao

    Analisando os elementos compositivos da fachada de cada um dos bens, foi feita uma classificao dos imveis como ntegro, quando no possuem nenhum tipo de interveno e mantida sua caracterstica original; com intervenes, quando possuem descaracterizaes reversveis como a colocao de grade em portas e janelas, medidor de luz na fachada e a utilizao de aparato publicitrio; e descaracterizados, quando os imveis possuem descaracterizaes que alteram a leitura tipolgica da fachada como a troca de esquadrias, alteraes de vos, acrscimo de revestimento, retirada de elementos, porto de garagem, descaracterizaes de volume e a substituio de telhas. Considerando estas alteraes que descaracterizam o imvel, as que tiveram a maior evidncia foram quando houve a troca de esquadrias e a alterao de vos.

    FIGURA 7 Exemplo de imvel protomoderno ntegro, com intervenes e descaracterizado Fonte: Produo da autora base acervo da Secretaria Municipal de Cultura

    3-Nvel de preservao

    O estudo desenvolveu a anlise dos 282 imveis protomoderno em nvel de preservao, tomando por base a classificao dos imveis inventariados em 4 nveis, assim definidos: nvel 1 - inclui os imveis que devem ter preservadas as suas caractersticas internas e externas; nvel 2 - inclui os imveis que devem ter suas caractersticas externas preservadas podendo sofrer alteraes internas; nvel 3 - inclui os imveis que devem ter preservadas suas

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    caractersticas externas ainda remanescentes e em alguns casos podem sofrer intervenes de melhorias para se adequarem ao contexto; e, nvel 4 - inclui os imveis j descaracterizados e passveis de demolio (plano diretor). Constatou-se a predominncia de imveis classificados em nvel 2, no total de 193 bens; em seguida observamos um equilbrio entre imveis de nvel 3 e nvel 4, respectivamente, 46 e 42 bens; e apenas 1 imvel foi identificado como sendo nvel 1, o colgio So Jos, que est localizado na Rua Flix da Cunha esquina com a Rua Trs de Maio. Sua fachada composta pelo revestimento de cimento penteado, caracterstica do estilo protomoderno.

    4-Tipologia da amostra

    Para a anlise da tipologia dos imveis adotou-se a seguinte classificao: residencial; comercial; industrial; tipologia especfica, que contempla edificaes como igrejas e escolas e tipologia mista, predominantemente identificada em sobrados. Esta classificao baseou-se na terminologia presente na ficha dos nveis constante na Secretaria Municipal de Cultura. Verificou-se que a maioria da amostra, mais de 83,3%, apresenta tipologia residencial, o que representa 235 imveis. Para esta tipologia constatou-se o predomnio de edificaes em fita, constituindo conjuntos residncias, os quais se caracterizam pela configurao de coberturas contnuas e platibanda repetitiva. Para as demais tipologias identificou-se 2 imveis comerciais, 6 industriais, 14 com tipologia especfica e 25 com tipologia mista.

    Concluses A permanncia de exemplares da arquitetura protomoderna em Pelotas evidencia a

    necessidade de sua manuteno como elemento representativo de uma importante fase da histria de desenvolvimento da cidade. O estudo das transformaes permite compreender cronologicamente as influncias e tendncias estilsticas, ressaltando que as caractersticas protomodernas tambm foram fortemente empregadas na produo edilcia na cidade.

    Analisando estes 282 prdios, verificando assim a sua importncia na paisagem urbana, no contexto histrico da cidade e na memria de Pelotas.

    Referncias ALMEIDA, Liciane Machado. 2009. Casas de Renda Um Estudo para

    Reabilitao dos Conjuntos Residenciais do Patrimnio Edificado Pelotense no Incio do Sculo XX. Dissertao (Mestrado em Memria Social e Patrimnio Cultural) Instituto de Cincias Humanas, Universidade Federal de Pelotas, 2006.

    MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim. Protomodernismo em Pelotas. Pelotas: Editora e Grfica da UFPel, 2005.v. 300. 200 p.

    PELOTAS. Lei 4.568 de 2000. Declara rea da cidade como zonas de preservao do Patrimnio cultural de Pelotas ZPPCs lista seus bens integrantes e d outras providncias. Disponvel em: www.pelotas.com.br. Acesso em: 20 set. 2013.

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    PELOTAS. Lei 5.502 de 2008. Institui o Plano Diretor Municipal e estabelece as diretrizes e proposies de ordenamento e desenvolvimento territorial no Municpio de Pelotas, e d outras providncias. Disponvel em: http://www.pelotas.rs.gov.br/. Acesso em: 28 out. 2013

    PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Manual do Usurio de Imveis Inventariados. Pelotas: Nova Prova, 2008.

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    A arquitetura moderna em Pelotas: inventrio, conhecimento e preservao

    Aline Montagna da Silveira4

    Daniele Behling Luckow5

    Clia Castro Gonsales6

    Ana Lcia Costa de Oliveira7

    Resumo O incio dos anos noventa marcou, no cenrio brasileiro, o reconhecimento da importncia da

    documentao e da preservao da arquitetura, do urbanismo e de outras manifestaes modernas no pas. A convico da importncia destas obras foi motivadora deste estudo, que prope a identificao e a sistematizao da arquitetura art dco produzida em Pelotas entre os anos 1930 e 1950. O mtodo de trabalho consistiu em um inventrio de reconhecimento, que contemplou as obras localizadas no 1, 2 e 3 loteamentos de Pelotas, totalizando 887 exemplares. Os dados coletados foram armazenados e organizados no programa gvSIG, possibilitando a elaborao de mapas temticos a partir de categorias pr-determinadas, que permitiram o cruzamento de informaes com o intuito de compreender as particularidades do patrimnio moderno art dco na cidade de Pelotas.

    Palavras-chave: Inventrio. Arquitetura art dco. Arquitetura moderna em Pelotas. Patrimnio Arquitetnico.

    Introduo A ampliao do conceito de patrimnio nas ltimas dcadas despertou o interesse pela

    discusso sobre a preservao de valor cultural, tanto material quanto imaterial. O incio dos anos noventa marcou, no cenrio brasileiro, o reconhecimento da importncia da documentao e da preservao da arquitetura, do urbanismo e de outras manifestaes modernas no pas.

    Nesse perodo foi criado o ncleo brasileiro do DOCOMOMO (International Working Party for DOcumentation and COnservation of Buildings, Sites and Neighbourhoods of the MOdern MOvement). Uma das aes deste ncleo est voltada para o inventrio das obras que integram o patrimnio da arquitetura moderna brasileira.

    No mbito local, a constatao da importncia da preservao da arquitetura moderna possui amparo em documentao legal: o III Plano Diretor de Pelotas, em vigor desde 2008,

    4 Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Ncleo de Estudos de Arquitetura Brasileira, Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected]. 5 Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Catlica de

    Pelotas. [email protected]. 6 Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Ncleo de Estudos de Arquitetura Brasileira, Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected] 7 Doutora em Planejamento Urbano e Regional. Ncleo de Estudos de Arquitetura Brasileira, Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected]. Alm das autoras deste artigo, fazem parte da equipe as bolsistas Daiane Barreto, Dbora Schoffel e

    Iohana Steinwandter.

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    preconiza como uma das diretrizes para as reas Especiais de Interesse do Ambiente Cultural (AEIAC) o cadastramento do patrimnio arquitetnico pr-moderno para incluso no inventrio do Patrimnio Cultural de Pelotas (Pelotas, 2008, p.21).

    A convico da importncia do conhecimento deste acervo foi motivador do projeto de pesquisa Inventrio de arquitetura moderna em Pelotas que prope a identificao e a sistematizao da arquitetura art dco produzida entre os anos 1930 e 1950.

    Esta investigao est sendo desenvolvida por um grupo de professores do Ncleo de Estudos de Arquitetura Brasileira NEAB, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas. Outro estudo realizado pelo corpo tcnico do NEAB no incio da dcada de 1980 j havia identificado alguns exemplares da arquitetura produzida neste perodo, mas em uma rea mais restrita da cidade, limitada ao 1 loteamento da cidade (OLIVEIRA, FUO e PATELLA, 1985).

    Metodologia e resultados Este trabalho prope relatar esta experincia do primeiro inventrio de arquitetura

    moderna realizado na cidade, apresentando os resultados das anlises obtidas aps o levantamento de campo e a elaborao dos mapas temticos da rea estudada.

    A proposta de cadastramento do patrimnio arquitetnico art dco (ou pr-moderno, como se refere o III Plano Diretor de Pelotas) foi pautada em um inventrio de reconhecimento. Este cadastramento foi realizado atravs de um levantamento de campo, abrangendo o 1, 2 e 3 loteamentos de Pelotas (Figura 1). Nesta rea foram identificadas, registradas e fotografadas as edificaes construdas no perodo de 1930 a 1950, que se enquadravam nos critrios preestabelecidos pela equipe. O inventrio preliminar selecionou 887 edificaes que possuam as caractersticas definidas pela equipe. Neste trabalho sero apresentados os resultados das anlises destes bens quanto s categorias tipologia, uso, associao e inteno compositiva.

    FIGURA 1 Mapa da rea de levantamento: 1, 2 e 3 loteamentos de Pelotas. Zona do Porto (2 fase)

    Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

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    Um dos critrios para a coleta de dados pautou-se na integridade das obras selecionadas. Nessa perspectiva, foram desconsideradas durante o levantamento de campo as edificaes que se encontravam em runa. As demais obras foram classificadas quanto ao seu estado de preservao e de conservao.

    Em paralelo ao levantamento de campo, a reviso bibliogrfica serviu para definir os critrios que qualificavam as obras a serem inventariadas e permitiu conhecer o estado da arte sobre o tema, sistematizando informaes relevantes que foram tabuladas e georreferenciadas.

    A utilizao de ferramentas de georeferenciamento, especificamente o programa gvSIG (software livre), para armazenar e organizar os dados coletados foi uma escolha da equipe, que se fundamentou na possibilidade de gerenciar informaes diferentes em uma mesma base de dados.

    Os critrios selecionados para a elaborao das fichas de levantamento de campo basearam-se nas categorias estabelecidas por Moura (2005), priorizando a coleta de dados das fachadas e do entorno das obras selecionadas. Estes dados foram adaptados para a sua insero no programa gvSIG, e possibilitaram a confeco de mapas temticos sobre o objeto estudado (Figura 2).

    FIGURA 2 Ficha de levantamento de campo do Inventrio de Arquitetura Moderna elaborada pela equipe (superior). Trecho do mapa temtico e grfico de anlise das informaes sobre a preservao

    das obras inventariadas (inferior esquerda). Tela de visualizao do programa gvSIG, com mapa e imagem de obra inventariada (inferior direita)

    Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    Alm do conhecimento sobre a produo arquitetnica do perodo estudado, a pesquisa pretende contribuir para a reflexo junto aos rgos de preservao locais sobre as formas de salvaguardar os exemplares mais representativos dessa arquitetura, assim como suas ambincias urbanas.

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    O art dco em Pelotas: consideraes preliminares do inventrio

    As dcadas de 1930 e 1940 constituram-se como o perodo de maior difuso da arquitetura art dco nas cidades brasileiras. Em Pelotas, a arquitetura moderna art dco vem sendo estudada por pesquisadores como Moura (2004 e 2005), Schlee (1993) e Gonsales (2001), cujos estudos formam o referencial terico sobre a produo arquitetnica local.

    Correia comenta que a tendncia art dco caracterizou-se por ser uma expresso da modernidade acessvel s diferentes camadas sociais (Correia, 2010, p.14). Esta particularidade pode ser verificada nas manifestaes arquitetnicas do perodo; em Pelotas, podem ser observadas em edifcios institucionais, comerciais e residenciais de grande porte at a arquitetura residencial que forma o tecido da cidade.

    Os elementos de composio que pautaram a definio das obras que integram o inventrio foram os mesmos estudados por Moura (2005) e Correia (2008 e 2010). Destaca-se, como fundamental, a simplificao geomtrica dos elementos de ornamentao das fachadas. So importantes tambm como caractersticas da linguagem a nfase na marcao do acesso principal e a manuteno do tratamento da fachada em corpo, base e coroamento. Em alguns casos, como em exemplares mais significativos, os blocos que compem o conjunto podem se integrar usando planos e formas distintas, como volumes retangulares, volumes cilndricos e/ou arredondados.

    Tipologias

    As tipologias das edificaes foi uma das categorias de anlise na classificao das construes arte dco arroladas no presente inventrio. As constataes da pesquisa revelam que apenas 1% dos imveis inventariados foi classificado como tipologia no tradicional, ou seja, a grande maioria das obras ainda apresenta caractersticas da arquitetura de perodos anteriores (Figura 3). Entende-se por tipologia tradicional a denominao estabelecida por Jantzen et al. (2010) para construes brasileiras que se consolidaram nos sculos XVIII, XIX e incio do XX, cujos tipos se enquadram em casas de porta e janela, corredor lateral (meia morada), corredor central (morada inteira), entrada lateral, solar, sobrado, cachorro sentado(construo usual na fronteira Brasil-Uruguai) e tipos funcionais caractersticos (igreja, estao de trem, posto de gasolina entre outros).

    Apesar das tipologias no tradicionais apresentarem um valor pouco representativo em termos quantitativos, sua presena marcante na cidade. Esse dado significativo, pois nesta categoria encontram-se as edificaes em altura que, por seu porte ou sua volumetria diferenciada, tendem a se sobressair na paisagem urbana. A maior parte dessas edificaes encontra-se no 2 loteamento de Pelotas, rea onde foi incentivada a verticalizao das construes, conforme constatou Moura (2005).

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    FIGURA 3 Trecho do mapeamento e anlise das informaes sobre a arquitetura com tipologia tradicional e no tradicional no 3 loteamento. Em destaque, o Instituto de Educao Assis Brasil.

    Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    Usos

    O uso predominante nas obras arroladas na pesquisa foi o residencial, representando 66% do universo pesquisado. Essa ideia refora a constatao anterior, demonstrando a tendncia de uma linguagem que busca a modernizao, mas ainda est arraigada a forma tradicional de construir.

    Correia comenta que em muitos casos o art dco restringia-se a detalhes ornamentais aplicados em fachadas de construes cujas caractersticas em termos de implantao, tecnologia, volumetria e organizao dos espaos seguiam modelos atrelados ao passado (2010, p.15). Essa realidade tambm foi verificada no levantamento realizado em Pelotas, principalmente na arquitetura residencial, onde raros exemplares apresentam novas implantaes e volumetrias diferenciadas. A grande maioria so edificaes de at dois pavimentos (97% do universo pesquisado), localizadas no alinhamento predial (86% das obras inventariadas) (Figura 4).

    FIGURA 4 Exemplar de arquitetura residencial unifamiliar trrea geminada (esquerda). Exemplar de arquitetura residencial unifamiliar de dois pavimentos (central). Exemplar de arquitetura residencial

    multifamiliar de dois pavimentos geminada (direita) Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    Os dados acima demonstram que essas edificaes residenciais configuram a paisagem urbana como uma arquitetura de acompanhamento; implantadas junto ao alinhamento predial, reforam a delimitao entre espao pblico e privado pelas suas fachadas. Nessa perspectiva, observou-se ainda que muitos desses exemplares permitiram a sua anlise a partir da forma de associao na paisagem, sendo classificados em edificaes isoladas

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    (nicas), geminadas, geminadas em conjunto, em fita e em conjunto (as edificaes geminadas e em fita so idnticas; quando esto em conjunto so semelhantes, mas no necessariamente iguais).

    Associaes

    As associaes foram observadas principalmente em ruas secundrias (Figura 5). Em Pelotas, o traado da cidade possui uma hierarquia do sistema virio: as ruas norte-sul so consideradas principais, e as leste-oeste secundrias (Cruz, 1984). As ruas secundrias (ou travessas) so aquelas que escoam as guas pluviais para os crregos que cortam a cidade no sentido norte-sul (Arroio Pepino e Arroio Santa Brbara).

    FIGURA 5 Exemplares significativos de associaes. Trecho esquerda: Rua Doutor Cassiano entre Baro de Santa Tecla e Santos Dumont. Trecho direita: Rua Uruguai entre Andrade Neves e General

    Osrio Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    Apesar da predominncia da arquitetura residencial, outros usos foram identificados no levantamento de campo, e se inserem na tendncia que a linguagem art dco apresenta no resto do pas.

    No Brasil, a linguagem dco em arquitetura se expressou inicialmente, sobretudo, em projetos que buscavam traduzir uma noo de modernidade vinculada a programas novos. Este foi o caso dos arranha-cus que testemunharam a passagem de nossas capitais condio de metrpoles; de edifcios institucionais que abrigavam funes de um Estado que se modernizava e expandia; de lojas de departamento que introduziam um novo conceito de comrcio; e de cinemas, clubes e emissoras de rdio que difundiam formas novas de diverso, cultura e lazer. Rapidamente, entretanto, o estilo se difundiu, aplicado em fbricas, igrejas e em lojas e moradias de pequeno porte (Correia, 2010, p.16)

    Em muitos casos, os exemplares que possuam um uso distinto do residencial caracterizaram-se por apresentar particularidades que os destacaram no universo pesquisado. Uma das categorias em que estes exemplares se destacaram foi a inteno compositiva.

    Caractersticas compositivas da arquitetura dco em Pelotas

    Um dos critrios que orientou a seleo das edificaes inventariadas foi a inteno compositiva. Entende-se por inteno compositiva a presena, na fachada principal da

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    edificao, de elementos que se diferenciam da composio do ecletismo do final do sculo XIX e incio do sculo XX.

    Nessa categoria foram observados aspectos referentes ao tratamento da fachada principal. Na arquitetura residencial, um dos elementos compositivos de maior destaque foi o tratamento das platibandas, com formas geometrizadas, relevos e elementos decorativos em metal. Evidenciou-se ainda a marcao do acesso principal, atravs da curvatura das paredes que conduzem porta, recuada e elevada pela insero de dois ou trs degraus.

    Outros aspectos identificados referem-se diminuio das dimenses e da proporo das esquadrias (tanto portas como janelas), o emprego de venezianas e a utilizao de pequenos vitrais nas portas principais.

    A busca pela monumentalidade foi observada tanto nos edifcios residenciais multifamiliares (com mais de dois pavimentos) quanto em edificaes institucionais. Essa inteno foi obtida atravs do emprego de elementos escalonados ou elementos verticais de coroamento, que reforavam a tendncia verticalizao. Em Pelotas, essa soluo projetual pode ser observada em duas obras religiosas: a capela do Colgio So Jos e a Igreja Adventista do Stimo Dia (j demolida).

    FIGURA 6 Arquitetura religiosa em Pelotas: Capela do Colgio So Jos (esquerda) e Igreja Adventista do Stimo Dia (direita). Nas duas obras observa-se a tipografia art dco, com a tendncia a

    geometrizao, caracterstica do estilo Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    (esquerda). Acervo das autoras, s.d.

    Os edifcios com mais de dois pavimentos apresentavam, em sua maior parte, uso misto: comrcio e servio (lojas, cinemas etc.) no pavimento trreo e residncias nos pavimentos superiores. Nestes exemplares pode-se verificar a hierarquia e marcao dos acessos, com tratamento diferenciado das esquinas (Figura 7).

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    FIGURA 7 Edifcio Caixa Econmica Federal (esquerda) e Glria (direita) Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    FIGURA 8 Associao Comercial, Correios e Telgrafos, Instituto de Educao Assis Brasil e Colgio Santa Margarida

    Fonte: Acervo do inventrio da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel

    Nos edifcios institucionais e educacionais foi possvel verificar o tratamento mais complexo dos volumes das edificaes art dco em Pelotas. Os exemplares dos Correios e Telgrafos, da Associao Comercial de Pelotas, do Instituto de Educao Assis Brasil e do Colgio Santa Margarida so representativos da repercusso das intenes compositivas do art dco no sul do Rio Grande do Sul.

    Concluses A primeira etapa da pesquisa, que consistiu na realizao de um inventrio de

    reconhecimento (ou de varredura) j foi realizada. A ficha de levantamento de campo foi testada em uma ao-piloto, e a equipe foi treinada para o seu preenchimento. Os critrios foram estabelecidos e as dvidas foram constantemente discutidas pela equipe8, com o intuito de selecionar as obras que compreendiam o acervo do patrimnio moderno art dco em Pelotas.

    8 Agora ampliada com a participao da equipe de arquitetos da Secretaria Municipal de Cultura, a partir

    de convnio concretizado entre a Universidade Federal de Pelotas e a Prefeitura Municipal de Pelotas.

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    O banco de dados foi gerado com as informaes coletadas. Os bens listados no inventrio de reconhecimento da arquitetura moderna em Pelotas totalizaram 887 exemplares na rea pesquisada. Uma das constataes que apenas 5% dessas obras encontram-se protegidos por legislao municipal e, a maioria destas obras encontra-se localizada no 1 e 2 loteamentos da cidade.

    A segunda fase da pesquisa (em andamento) consiste em selecionar os exemplares mais significativos, seja pela sua qualidade arquitetnica da obra ou pela sua insero na paisagem urbana, formando conjuntos significativos na composio da paisagem.

    Nessa perspectiva, as ferramentas de georreferenciamento tm sido essenciais para armazenamento de dados, possibilitando o cruzamento de informaes que nos ajudam a compreender as particularidades do patrimnio moderno art dco na cidade de Pelotas e a discutir as possibilidades de sua preservao.

    Referncias CORREIA, Telma de Barros. O art dco na arquitetura brasileira. Revista UFG, jul. 2010,

    ano XII n 8, p. 14-18.

    CORREIA, Telma de Barros. Art dco e indstria. Brasil, dcadas de 1930 e 1940. Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v.16, n 2, p. 47-104, jul.- dez. 2008.

    CRUZ, Glenda Pereira da. Espao Construdo e a Formao Econmico-social do Rio Grande do Sul: uma metodologia de anlise e o espao urbano de Pelotas. 1984. (Mestrado em Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

    GONSALES, Clia Helena Castro. Racionalidade e contingncia, uma proposta de leitura da arquitetura moderna brasileira: o caso de Pelotas. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis. Editora Ritter dos Reis. 2001. v. 3, p. 173-180

    MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim de. Ari Marangon - 25 anos de arquitetura. Santa Maria: Pallotti, 2004.

    MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim de. Protomodernismo em Pelotas. Pelotas: Ed. Universitria/UFPel, 2005.

    PELOTAS. Lei 5.502 de 2008. Institui o Plano Diretor Municipal e estabelece as diretrizes e proposies de ordenamento e desenvolvimento territorial no Municpio de Pelotas, e d outras providncias. Disponvel em: http://www.pelotas.rs.gov.br/. Acesso em: 07 mar. 2013.

    OLIVEIRA, Ana Lcia Costa de; FUO, Fernando Freitas; PATELLA, Hilda Amaral. Inventrio arquitetnico da cidade de Pelotas. Belo Horizonte: XII Congresso Brasileiro de Arquitetura, 1985 (manuscrito).

    PINHEIRO, Maria Lucia Bressan. Arquitetura residencial verticalizada em So Paulo nas dcadas de 1930 e 1940. Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v.16., n 1, p. 109-149, jan.- jun. 2008.

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    SCHLEE, Andrey Rosenthal. O ecletismo na arquitetura pelotense at as dcadas de 30 e 40. 1993. 215p. (Mestrado em Arquitetura). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

    Agradecimentos Agradecemos ao apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico

    e Tecnolgico - CNPq, atravs do Edital CNPq/CAPES n 007/2011 (Processo 401080/2011-7).

    Agradecemos ao apoio financeiro da Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul FAPERGS, atravs do Programa Pesquisador Gacho PqG -, Edital FAPERGS n 004/2012 (Processo 12/1899-1).

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    O inventrio como perspectiva de pesquisa histrica no Museu Joaquim Francisco do Livramento

    Amanda Mensch Eltz9

    Resumo Este trabalho visa relatar as experincias desenvolvidas no Museu Joaquim Francisco do

    Livramento, um dos acervos do Centro Histrico-Cultural Santa Casa, durante a execuo do projeto de inventariao do acervo tridimensional. Descreve os seguintes processos: estudo global de acervo, a constituio do plano de ao e suas etapas - anlise e conservao dos diferentes suportes materiais, inventrio e pesquisa histrica. Outro objetivo deste trabalho trocar informaes sobre a temtica - Patrimnio Material: Histrias e Inventrios - com demais pesquisadores e instituies.

    Palavras-chave: Objetos culturais. Inventrio. Pesquisa histrica.

    Breve histrico institucional A Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre foi fundada em 1803, pelo

    Irmo Joaquim Francisco do Livramento. A criao se deveu ao fato de no existirem instituies de assistncia sade no Estado. No trajeto de sua histria, proveu na sade, loucura, abandono das crianas e dos velhos e morte. A caracterstica da Santa Casa era atender doentes sem condies de financeiras para o pagamento do atendimento. Este ato de caridade acabou levando a Instituio a passar por diversas crises econmicas.

    Em 1983, a fim de superar uma grave crise financeira, o Governo do Estado disponibilizou a Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre um grupo de gestores administrativos, liderados pelo Provedor Dom Vicente Scherer. Estes administradores constituram novas diretrizes administrativas para sua revitalizao da Instituio, dentre estas o Planejamento Estratgico Institucional.

    Neste cenrio de reorganizao dos diferentes setores, muitos espaos foram remodelados, dentre eles o Arquivstico. Nascia, com esta ao, em 07 de junho de 1986 o CEDOP Centro de Documentao e Pesquisa. Com nova sede e estruturao, ao longo dos anos, formaram-se trs acervos. O primeiro acervo foi o Arquivstico, fundado em 1926l. O segundo acervo, o bibliogrfico, fundado em 1992. E, por fim, o terceiro acervo, o Museolgico, inaugurado em 1994, batizado de Museu Joaquim Francisco do Livramento.

    Com os acervos estabelecidos, inmeras atividades voltadas para a reconstruo da memria foram realizadas. Com os estmulos das aes que envolviam a histria e memria institucional nasce o desejo da criao de um Centro de Cultura. Em 2003 o que era um desejo ou sonho comea a tomar formas, atravs da revitalizao do casario localizado na Avenida Independncia, logradouro que atualmente abriga o Centro Histrico-Cultural Santa Casa (CHCSC), espao que contempla a cultura, memria e o patrimnio histrico da Santa

    9 Licenciada em Histria pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS), graduanda em Histria

    Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), discente do curso de especializao em Educao Especial e Gesto de Processos Inclusivos (PUCRS) e Historiadora no Centro Histrico-Cultural Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre, [email protected].

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    Casa de Misericrdia de Porto Alegre. Este Centro disponibiliza a comunidade arquivo, biblioteca, teatro, salas mltiplos usos e museu.

    O estudo de caso sobre o acervo existente A partir do incio das obras de revitalizao das Casinhas da Independncia, em

    2003, para abrigar o Centro Histrico-Cultural, novas aes voltadas para a gesto dos diferentes acervos comearam a serem realizadas. No entanto, em 2012, a fim de compor a expografia, que os estudos museolgicos referente ao acervo foram realizados.

    Para tanto, se estabeleceu uma comisso tcnica composta por membros internos e externos do Centro: Adriane Raimann e Amanda Eltz, historiadoras, Susana Cardoso e Ktia Atades, restauradoras Juliana Marques, inventarista, Mariane Virgina Kravczyk, estudante de museologia e Ceres Storchi, arquiteta e curadora da exposio de longa Fragmentos de uma Histria de Todos Ns. Esta equipe, a fim de conhecer o acervo museolgico institucional, realizou um estudo global sobre o histrico do museu e as necessidades tcnicas da muselia existente.

    Para tanto, tivemos como fundamentao terica: CAMARGO-MORO, CNDIDO, CIDOC, FERREZ, IPHAN, MARQUES, JULIO e RAMOS. Aps foram analisadosos aspectos constitutivos do histrico do museu, como tambm da produo documental (dentre, os inventrios), a conservao os objetos e seus ambientes de guarda e os resultados de pesquisas histricas.

    Quanto ao histrico da documentao museolgica, verificou-se que, inicialmente, algumas apresentavam discordncias com as polticas das cincias documentais de mbito nacional e internacional. Os primeiro documentos explorados foram s fichas de aquisies (doao) de bens10.

    Ainda no campo da documentao anterior ao inventrio corrente, existiram duas outras listagens de arrolamento de bens patrimoniais do acervo. A primeira foi na ocasio em que o Museu foi constitudo, em 1994, apresentando o sistema tripartidrio seqencial de registro, dividido pela sigla do museu, ano de tombamento e nmero de registro crescente (exemplo: MJFL/ANO/NMERO DE REGISTRO). Este sistema vigorou at o ano de 2008/2009, quando se percebeu a sua ineficcia e se buscou uma nova frmula de catalogao. O novo sistema de registro passou a ser alfanumrico sequencial, dividido por colees e crescente (exemplo: MJFL/COLEO-NMERO DE REGISTRO). Ambos inventrios apresentavam a mesma ficha de registro11.

    10

    O Museu comeou a recolher e incorporar sistematicamente os objetos, justificando-os de acordo com

    sua identidade de uso, foi no ano 2006, momento que se constituiu um registro de incorporao padronizado. Ou seja, anteriormente a documentos referentes s aquisies de bens no apresentavam registros sistemticos os quais justifiquem os objetos.

    11 Os campos eram: selo da Irmandade da Santa Cassa de Misericrdia de Porto Alegre, identificao do

    Museu (no completa, sem endereo), nmero de registro, nome do objeto, coleo, funo, aquisio, matria-prima, poca, procedncia, informantes, origem, conservao, restaurao, dimenses, localizao, histrico do setor, perodo, utilidade, pessoas, descrio, observaes. Muitos destes campos no eram preenchidos, porque faltavam informaes complementares referentes ao objeto, como anteriormente esclarecemos.

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    FIGURA 1: Ficha de registro 1994-2012 (frente).

    FIGURA 2: Ficha de registro 1994-2012 (verso).

    No diagnstico de conservao do acervo, procuramos seguir tpicos avaliativos roteirizados pelas conservadoras Suzana Cardoso. O momento foi de analise de vrios aspectos, dentre eles: a localizao do edifcio que abrigada o CHCSC e o entorno construtivo e ambiental, material e tcnica construtiva do edifcio e o acervo e seus diferentes suportes e sua guarda.

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    Fato que cabe mencionar, dentre estes aspectos elencados no pargrafo acima, o que se refere ao diagnstico dos distintos suportes dos objetos e sua guarda. Dentro do contexto histrico de formao do Museu, antes a constituio da reserva tcnica museolgica, muitos artefatos eram armazenados em diferentes depsitos do hospital, sem condies de guarda qualificada. Nestes locais, os objetos estavam acomodados em ambientes midos, empoeirados, sem climatizao. Em decorrncia da m acomodao os artefatos apresentavam sujidades, corroso, presena de insetos lascas e outros sinais de deteriorao. Neste tpico que se remete a conservao, verificamos as diferentes tipologias e, por seguinte, a conservao destes materiais, dentre eles: metal, plstico, couro, madeira, vidro, faiana, porcelana, tecido, gesso, argila etc.

    Atualmente a reserva tcnica conta com mobilirio prprio, dentre eles arquivo deslizante, mapotecas, gaveteiros, faltando somente traineis para a armazenagem das telas. A soluo que encontramos foi a montagem de uma estante com divisrias com cordes, as quais evitam o contato entre os diferentes telas.

    IMAGEM 3: Estantes de guarda de telas.

    No manuseio do acervo, seguimos como parmetros regras bsicas, as quais esto elencadas em um manual de rotinas em fase de reviso textual. O monitoramento e controle ambiental da reserva tcnica e reas expositivas so efetuados diariamente, com auxlio de equipamentos de climatizao, termo-higrmetro e luminrias de baixa luminescncia. Maria Ins Cndido (2006, p.36) nos esclarece:

    A gesto de acervos museolgicos demanda um programa de pesquisa permanente, envolvendo um sistema de documentao capaz de oferecer a base conceitual e cognitiva para as demais aes institucionais. Neste sentido, deve disponibilizar instrumentos de pesquisa eficientes, que atendam s finalidades de identificao, classificao e inventrio dos bens culturais, ampliando o acesso informao.

    Esta reflexo de Maria Ins Cndido auxiliou na analise dos resultados da pesquisa. O grupo averiguou as seguintes necessidades: conservao dos diferentes suportes materiais do acervo; inicializao de um novo levantamento dos objetos culturais, visando atender as exigncias da museologia contempornea, que nos inventrios anteriores no estavam

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    contemplados e por fim a fundamentao da pesquisa histrica dos objetos selecionados para a exposio.

    O acervo museolgico e seu gerenciamento: conservao, inventrio e pesquisa histrica

    A partir do estudo global do acervo do Museu Joaquim Francisco do Livramento, os interessados teceram um fluxograma de trabalho que previa as seguintes etapas: criao de uma nova ficha de registro, elaborao de normas de preenchimento da ficha, conservao preventiva dos suportes materiais, inventrio, classificao dos objetos por coleo, sistema de controle de marcao numrico e a pesquisa histrica.

    A elaborao da ficha que atendesse os requisitos necessrios era primordial para a seqncia do trabalho. Assim uma nova ficha de registro foi concebida pelas colegas Juliana Marques e Adriane Raimann, observando os padres do IPHAN e ICOM12. Pensando na padronizao das informaes presentes no registro se elaborou um guia com as normativas de preenchimento, uma vez que a documentao museolgica sistematizada, registrada e justificada fundamental.

    O passo seguinte, orientado pelas conservadoras Susana Cardoso e Ktia Atades, foi conservao prvia do material a ser inventriado. Foram conservadas 3023 peas, contabilizando-se os desdobramentos dos 1913 registros.

    FIGURA 4: Conservao de objeto em metal, 2013.

    Aps, seguimos para outra fase do projeto: o inventrio. Vrias colees foram trabalhadas, tais como Administrao, Objetos Sacros, Placas, Nutrio e Diettica, Mobilirio

    12

    Comparado com a ficha de registro anterior, foram acrescidos os seguintes campos: registro fotogrfico, partes componentes, vocabulrio controlado, localizao de guarda e atual, proteo, dados histricos, restauraes, referncias bibliogrficas e arquivsticas, cruzamento com outro arquivo do CHC, observao, nome do documentalista, revisor, descarte.

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    e Artigos Decorativos, porm foi dada prioridade s colees da Pinacoteca, Arsenal Mdico-Cirrgico e Botica, de acordo com a demanda da futura exposio.

    Todos os objetos foram analisados e classificados previamente de acordo com as utilidades ou funcionalidade compartilhada. Esta ao museal tem como objetivo distribuir objetos ou documentos tridimensionais em diferentes categorias, no caso do Museu, por colees (CHAGAS, 2003). Para Laraia (1986, pp. 53-56), a anlise da cultura utilitria e funcional dos objetos ocorre devido viso estereoscpica e pelo manuseio dos artefatos. Isto, a percepo em decorrncia dos diversos sentidos, possibilita o homem transformar e transportar objetos, gerando novas formas, novos smbolos e outras observaes. O fato de poder pegar e examinar um objeto atribuiu a este um significado prprio, gerando significao cultura material. No entanto, para entendermos os significados dos diversos smbolos necessrio conhecer as outras formas manifestao da cultura, dentre elas a histrica e social representada pela formao identitria dos grupos outrora utilizavam o objeto.

    Todos os objetos ao entrarem no acervo, deixam de serem utilitrios sociais e se transformam em documentos representantes do social. Ou seja, estes artefatos, com sua entrada no acervo perdem o seu valor usual e econmico e esto sujeitos a proteo da instituio museolgica. Para Maria Ins Cndido (2006, p. 34) as instituies devem seguir mecanismos tcnicos especficos:

    Partindo de materiais diversos e por meio de mecanismos tcnicos distintos, essas instituies devem estar aptas a cobrir determinados campos de investigao. Assim, a forma/funo do documento em sua origem o que define o seu uso e destino de armazenamento futuro, independentemente do seu suporte.

    Juntamente com a etapa de inventariao, realizamos o controle numrico dos artefatos, no qual se atribuiu um cdigo prprio alfanumrico, anual, por colees e sequencial, representados pela seguinte numerao: MJFL-ANO-COLEO-NMERO DE REGISTRO.DESDOBRAMENTO (exemplo: MJFL-2012-01-0001.001). A marcao na pea de forma definitiva respeita um manual bsico que prev as seguintes recomendaes: o registro no deve ser inscrito em um local aparente ou em pontos de contato que possam desgastar com facilidade, deve ser legvel e respeitar, salvo alguns casos, a regra: verso, lado direito inferior.

    FIGURA 5: Marcao do registro em tela.

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    Os processos por colees A primeira coleo a ser trabalhada foi a Pinacoteca. Quanto conservao, todas as

    telas foram higienizadas com trinchas superficialmente; os chassis e molduras foram examinados a fim de averiguar a possvel existncia de galerias de cupim e outros insetos; as telas que apresentavam ressecamento do verniz ou resina de cobertura da camada pictrica foram acondicionadas em mapotecas, abrigadas em envelopes de papel neutro, para que futuramente um profissional habilitado possa realizar a conservao destes objetos.

    O inventrio comeou pelas obras que ficam em exposio permanente no Salo Nobre da Provedoria da Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre (ISCMPA), seguidas das que se encontravam na reserva tcnica do CHC. Foram inventariadas 290 peas, contabilizando-se os desdobramentos dos 192 registros desta coleo. No que se refere pesquisa histrica, foram escolhidas peas especficas para maiores detalhamentos, devido urgncia da expografia. Contudo, esta coleo apresenta como obstculo de aprofundamento histrico, o fato de muitos dos retratos de Irmos Benemritos da ISCMPA no apresentarem identificao nominal. Dos cinqentas retratos desta coleo, vinte no possuem referncias.

    Todos os objetos culturais desta coleo receberam a marcao a lpis grafite nmero 6B, sendo a sua maioria no verso da tela no lado direito inferior. Alguns casos, devido fragilidade do tecido da tela, as inscries foram colocadas no chassi, lado direito inferior.

    Um dos casos de pesquisa da Pinacoteca a obra, Jesus, eu conto contigo!, sob o nmero de inventrio MJFL-2012-11-0112. Esta tela era mais uma das inmeras sem nenhum tipo de informao biogrfica. Em uma iniciativa de buscar informaes sobre os artefatos da reserva tcnica, lanamos em conjunto com o Arquivo Histrico o projeto Biografia a posteriori, atravs do qual, com o recurso da histria oral, realizamos entrevistas com ex-funcionrios da Santa Casa de Porto Alegre. Durante a visitao destes a Reserva Tcnica do Museu, eles foram contando suas memrias referentes aos objetos que visualizavam e reconheciam.

    No caso deste objeto, a visitante entrevistada foi a Irm Lina, da Ordem Franciscana, que atuou na Santa Casa entre os anos de 1962 e 1980, como enfermeira e Madre Superiora. Ela, ao visitar a reserva, nos relatou como chegou o referido quadro at suas mos. A partir deste momento houve a justificativa desta tela e ela passou a ser um documento histrico tangvel de inmeras interpretaes.

    A segunda coleo a ser inventariada foi Arsenal Mdico-Cirrgico. Parte dos objetos foi encaminhada ao setor de esterilizao hospitalar, a partir de ento, conservados e, por fim inventariados. Inventariamos 1424 peas, contabilizando-se os desdobramentos dos 718 registros desta coleo. Ainda existem algumas peas em pendncia.

    Para realizar a reconstruo histrica cultural destes objetos, utilizamos como fontes de memria fotografias histricas, livros e catlogos antigos, dentre outros documentos do acervo operacional do CHC e de outras instituies. Neste processo, devido s especialidades mdicas evidenciadas nos objetos culturais, est sendo pesquisada, simultaneamente, a formao das enfermarias na Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre, a fim de relacionar temporalmente os objetos com a instituio.

    A terceira coleo foi a Botica. Nesta, observamos como principais tipologias dos suportes materiais madeira, vidraria e metal. Esta coleo apresenta a peculiaridade de muitas

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    das vidrarias possurem compostos qumicos, alguns identificados pela etiqueta original, outros no. Diversos frascos com compostos qumicos nocivos sade humana foram encaminhados ao departamento de engenharia ambiental da Santa Casa (ISCMPA) para serem descartados, dentre eles mercrio, cido ntrico, acido sulfrico e ter ntrico. Inventariamos 931 peas, contabilizando-se os desdobramentos dos 684 registros desta coleo.

    A construo histrica cultural destes objetos seguiu o mesmo padro de pesquisa do Arsenal Mdico-Cirrgico. Neste processo, simultaneamente, a colega sociloga, Vera Zugno, realizou a pesquisa em Relatrios da Provedoria, Livros Atas da Provedoria, Livro de Receita da Botica, dentre outros documentos do Arquivo Histrico deste Centro, no intuito de constituir o histrico desta repartio hospitalar.

    Um dos casos interessantes de ser citado o objeto MJFL-2013-02-0685, a cesta de vime. A princpio pode ser tido como simplrio objeto, mas sua pesquisa demonstra complexidade da interligao de dados entre fontes diferenciadas. Conseguimos resgatar com os documentos do Arquivo Histrico, fotografias que evidenciavam a utilizao desta pea. Mais tarde, em uma entrevista realizada pela Professora Dra. Vra Lucia Maciel Barroso com a Irm Orminda, da Congregao Franciscana, esta pode visualizar trs fotografias onde apareciam as cestarias. Ao reconhecer o objeto, elas nos relatar as diferenas estruturais das mesmas e em quais setores do Hospital eram utilizadas: Farmcia, Lavanderia e Padaria. Com esta entrevista, podemos tecer perspectivas histricas de trabalho, religio, cincia, fazeres, entre muitas outras anlises.

    A Farmcia era o local onde se realizavam as manipulaes de xaropes ou pores, pomadas, pastilhas, cpsulas amilceas, dentre outros medicamentos. A Irm narra que, atravs dos cestos, realizavam-se os transportes dos vidros com compostos at as enfermarias e, depois de vazios, retornavam a Farmcia, bem como o livro de receitas prescritas pelos mdicos. Quem realizava o transporte desta cesta eram as Irms Quirina, Discola e Leardina. Para exemplificar, transcrevo trecho da entrevista, na pgina 2:

    Eles *a Farmcia+ faziam todos os remdios. A poo 15, a poo 13. E tudo tinha nmero. Ento, vinha... todos os dias, vinha o cesto com o remdio [para] os pacientes. E esse vidro vazio ia pra l, l tinha um canto [onde se armazenavam]. Havia uma [Irm que] passava levando o dia inteiro vidros de medicao, a balana, tudo da Farmcia.

    Consideraes finais A atividade de inventrio apresentou dificuldades de identificao no mbito da

    representatividade, funcionalidade e histria dos artefatos. Isto resultou na pesquisa intensiva para identificao dos objetos nas colees. Para tanto, realizamos interligaes entre as diferentes fontes de memria visando esta reconstruo.

    Atualmente, a atividade de inventrio apresenta os seguintes resultados: 3023 objetos inventariados em nove colees diferentes, contabilizando-se os desdobramentos dos 1913 registros. As colees prioritrias esto em fase final de inventariao. Como a pesquisa histrica efetuada de acordo com a demanda da futura exposio, somente parte dos objetos inventariados recebeu uma pesquisa aprofundada. Desta forma, os objetivos deste

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    projeto de inventariao foram atingidos parcialmente. Isto se deve a extenso da documentao tridimensional existente no Museu.

    TABELA 1: Inventrio MJFL a partir de 1 de agosto de 2012. Autor: Juliana Marques, 2013

    Coleo Nome Numer

    ao Qtde.

    1 Administrao 20 28

    2 Botica e Farmcia 684 931

    3 Arsenal mdico-cirrgico 718 1424

    4 Objetos Sacros 86 112

    6 Placas 113 138

    9 Nutrio e Diettica 53 53

    11 Pinacoteca 192 288

    14 Mobilirio 27 29

    15 Artigos Decorativos 20 20

    TOTAL 1913 3023

    Percebe-se que o inventrio dos bens patrimoniais do acervo, viabiliza estes documentos como objeto de investigao e pesquisa histrica nos diferentes campos do conhecimento da cultura material e imaterial. A investigao cientfica propicia respostas quanto trajetria, contextualizao e significao histrica e social dos objetos culturais, qualificando-os como documentos. Desta forma, os objetos selecionados para a futura exposio, tornam-se objetos geradores (RAMOS, 2004, p. 31), cujas informaes motivam reflexes sobre as relaes dos sujeitos com os artefatos, auxiliando na funo social que o Museu desempenha com a exposio.

    Enfim, o objeto gerador manifesta-se como narrativa potica material temporalizada entre as inter-relaes sujeito e objeto que desperta-se atravs da comunicao pedaggica, histrica e museogrfica. Nesta concepo, o objeto museal perde o valor de uso para se transformar em um objeto de estudo ou comunicao, de uma poca esquecida nas lembranas subjetivas. Para exemplificar esta relao, cito o poema abaixo:

    Os objetos sobrevivem ao morto:

    os sapatos,

    o relgio,

    os culos

    sobrevivem

    ao corpo

    e solitrios restam

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    sem conforto.

    Alguns deles, como os livros,

    Ficam com o destino torto

    Parecem filhos deserdados

    ou folhas secas no horto.

    As jias perdem o brilho

    embora em outro rosto.

    No deveriam

    deixar pelo mundo

    Espalhados

    os objetos rfos do morto, pois eles so, na verdade, fragmentos de um corpo

    SANTANNA, 1999, p. 78 (IN: RAMOS p. 160)

    Para finalizar se evidencia que a organizao do acervo do Museu Joaquim Francisco do Livramento primordial para a preservao, patrimonializao e gerao de informao. Este trabalho de conservao, inventrio e pesquisa histrica, o que viabiliza a comunicao, sendo um trabalho contnuo, que disponibilizara comunidade a memria dos 210 anos da Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Porto Alegre, que est relacionada direta e indiretamente com a histria do Rio Grande do Sul.

    Referncias CAMARGO-MORO, Fernanda. Museu: Aquisio-Documentao. Rio de Janeiro:

    Livraria Ea Editora, 1986.

    CNDIDO, Maria Ins. Documentao museolgica. CADERNO de diretrizes museolgicas 1. Braslia: Ministrio da Cultura/Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional/Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/Superintendncia de Museus, 2006. 2 Ed. Disponvel em: . Acesso em 25 out. 2013.

    CIDOC. Diretrizes Internacionais para Informao de Objeto de Museu: As Categorias de Informao do CIDOC [Subject Depicet Information Group]. Disponvel em: . Acesso em 15 ago. 2010.

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    CHAGAS, Mario; ABREU, Regina. Memria e patrimnio: ensaios contemporneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

    FERREZ, Helena Dodd; PEIXOTO, Maria Elizabete Santos. Manual da Catalogao: Pintura, Escultura, Desenho, Gravura. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1995.

    IRM LINA, religiosa da Congregao Franciscana. Entrevistador: Amanda Eltz. Porto Alegre, 13 jul. 2011. Transcrio de gravao em meio digital.

    IRM ORMINDA, religiosa da Congregao Franciscana. Entrevistador: Vra Lcia Maciel Barroso. Porto Alegre, 06 ago. 2013. Transcrio de gravao em meio digital.

    JULIO, Letcia. Pesquisa histrica no museu. CADERNO de diretrizes museolgicas 1. Braslia: Ministrio da Cultura/Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional/Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/Superintendncia de Museus, 2006. 2 Ed. Disponvel em: . Acesso em 25 out. 2013.

    LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropolgico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

    MARQUES, Lucia. Metodologia para o Cadastramento de Escultura Sacra-Imaginria. Edio Especial Ilustrada - documento. Bahia, 1981.

    RAMOS, Francisco Rgis Lopes. A danao do objeto: o museu no ensino de histria. Chapec: Argos, 2004.

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    Trilha caminhos dos maniobeiros: integrao da cultural imaterial , turismo e vivncia do patrimnio

    Ana Stela de Negreiros Oliveira13

    Joseane Pereira Paes Landim14

    Rosa Maria Gonalves15

    Resumo A Trilha Caminhos dos Maniobeiros est instalada na regio da Serra Branca, Parque Nacional

    Serra da Capivara/Piau. Apresenta stios arqueolgicos ocupados por pessoas vindas de outros estados e dos municpios da redondeza que faziam das tocas do local, antes ocupadas por povos pr-histricos, suas moradias, convivendo com vestgios arqueolgicos, reocupando a rea e construindo um novo espao, com novos simbolismos e adaptaes culturais. Esta Trilha tem por objetivo fortalecer a memria do perodo da extrao do ltex da manioba no imaginrio das pessoas, buscando impedir o desaparecimento dos vnculos entre descendentes de maniobeiros e os locais de suas prticas.

    Palavras-chave: Maniobeiros; Serra da Capivara, Memria, Patrimnio Cultural.

    O Parque Nacional Serra da Capivara e o Turismo Cultural O Parque Nacional Serra da Capivara possui uma rea de 129.140 hectares e possui

    214 km de permetro. Ocupa reas dos municpios de Brejo do Piau, Coronel Jos Dias, Joo Costa e So Raimundo Nonato e foi criado pelo Decreto Federal n 83.548, de 05/06/1979 para proteger a flora, a fauna, as belezas naturais e os monumentos arqueolgicos. Seu reconhecimento como patrimnio nacional se deu atravs do tombamento federal, com a inscrio no Livro de Tombo* Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico em 1993 pelo Iphan.

    Est includo na Lista do Patrimnio Mundial da UNESCO desde 1991. Hoje ele est sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes para a Conservao da Biodiversidade/ICMBio, que compartilha com a Fundao Museu do Homem Americano/FUMDHAM, as aes de preservao e manuteno do Patrimnio Ambiental existentes. J o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional/Iphan, tem a responsabilidade de preservar seu Patrimnio Cultural. A importncia do Parque para o Brasil se d no s pelos stios arqueolgicos identificados e cadastrados, mas tambm por ser a nica Unidade de Conservao no pas voltada para a preservao do Bioma Caatinga.

    O Parque Nacional Serra da Capivara uma Unidade de Conservao/UC do tipo proteo integral, ou uso indireto, pertencente categoria Parque Nacional. Este tipo de UC tem como objetivo a preservao dos ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento de

    13 Graduada em Histria pela UFPI, Mestre e Doutora em Histria pela UFPE, Chefe do Escritrio Tcnico I

    IPHAN do Piau, [email protected] 14 Graduada em Histria pela UESPI, Mestranda em Preservao do Patrimnio Cultural PEP/MP IPHAN,

    [email protected] 15 Graduada em Artes Plsticas pela ECA/USP, Especialista em Arte Educao pelo IA/UnB e Mestranda em

    Museologia e Patrimnio pela UNIRIO/MAST, Coordenadora do Servio Educativo do Museu do Homem Americano, [email protected]

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    atividades de educao e interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico (BRASIL, 2000b apud CARVALHO 2012).

    Nos Parques Nacionais permitida a visitao pblica e o incentivo de atividades tursticas, e isto no diferente no Parque Nacional Serra da Capivara, que desde 2006 at setembro de 2010 j recebeu mais de 50.000 visitantes, entre pagantes e no pagantes, segundo dados registrados pelo ICMBio ( CARVALHO 2012).

    o principal atrativo do Plo das Origens, um dos sete plos de desenvolvimento do turismo do Estado do Piau (PIAU, 2011 apud CARVALHO 2012). Sua importncia, tanto regional como internacional, demonstrada por sua incluso nos 65 destinos indutores do turismo no pas (MTUR, 2008).

    Figura 1: Parque Nacional Serra da Capivara e Stios Arqueolgicos que compem a Trilha Caminhos dos Maniobeiros.

    Fonte: Lucas Braga/FUMDHAM, 2013.

    Para se ter acesso ao Parque necessria a contrao de um condutor de visitantes. Na cidade de So Raimundo Nonato/PI, h a Associao de Condutores de Visitantes Ecotursticos do Parque Nacional Serra da Capivara ACOVESP, criada em 1999. Segundo informaes obtidas pela Associao, atravs de entrevista informal, a ACOVESP, em 2010, contava com 51 associados e 30 condutores ativos que absorviam 100% da demanda do Parque. Ainda, conforme a Associao, os condutores tm cursos de conduo de visitantes, ministrados pela FUMDHAM e do ICMBio (CARVALHO, 2012).

    O Parque Nacional dispe de infraestrutura para visitao, com um total de 172 stios arqueolgicos abertos ao pblico; passarelas e guarda-corpo; 30 guaritas de entrada, sendo 11 com guarda permanente e rdio de comunicao e 4 guaritas tursticas abertas ao pblico; um Centro de Visitantes com auditrio com capacidade para 50 pessoas, exposio de fsseis de animais pr-histricos da regio, loja de souvenirs, e uma lanchonete; 300 km de trilhas de piarra, com caneletas para escoamento de gua, e, em sua maioria, liberadas para carros pequenos; mais de 100 km de trilhas para pedestres; placas de sinalizao e placas

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    interpretativas (em alguns stios); e cerca de 16 stios so considerados, pela FUMDHAM e pelo Iphan, adaptados para deficientes fsicos ou com mobilidade reduzida (FUMDHAM, 2010 apud CARVALHO, 2012). A estrutura fsica para visitao do Parque Nacional considerada uma das melhores do pas, por revistas e guias do segmento turstico, como Guia Quatro Rodas e Revista Viagem e Turismo.

    Atualmente o Parque Nacional conta com 14 Circuitos Tursticos, incluindo a Trilha Histrica da Jurubeba, que foi instalada com o objetivo de reconstituir a histria da ocupao colonial da regio, destacando-se a fazenda Jurubeba, que representa o tipo de ocupao colonial do espao, no serto do Piau, que teve incio a partir do sculo XVII e no qual as terras eram ocupadas e exploradas economicamente por atividades baseadas na criao de gado. Durante muito tempo, as terras da fazenda Jurubeba foram utilizadas na pecuria, agricultura de subsistncia e extrao e cultivo da manioba (OLIVEIRA, 2009). A Trilha Histrica da Jurubeba formada por stios arqueolgicos pr-histricos e histricos e possui um museu com vestgios que recebeu de uma escavao que aconteceu nas runas da Casa do Neco Coelho, antigo proprietrio daquela regio. Fornece informaes sobre o meio ambiente e a cultura do homem do serto nordestino e foi instalada para que tanto o visitante como o morador local conheam e valorizem os stios arqueolgicos, pr-histricos e histricos e compreendam as diversas nuances do patrimnio desta regio.

    Perodo Econmico da Manioba No incio do sculo XX o Estado do Piau viveu um perodo de prosperidade

    econmica com a explorao da borracha de manioba, especialmente em reas que se encontram hoje constituindo o Parque Nacional Serra da Capivara.

    Figura 2: Toca do Joo Sabino Fonte: Acervo FUMDHAM

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    Figura 3: Forno de Farinha da Toca do Mulung III Fonte: Acervo FUMDHAM

    Figura 4: Jogo A Ona e os Cachorros. Stio Toca da Pedra Solta da Serra Branca. Fonte: Acervo FUMDHAM

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    A UNESCO conceitua Patrimnio Cultural Imaterial como as prticas, representaes, expresses, conhecimentos e tcnicas e tambm os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes so associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimnio cultural16.

    Esse conceito se aplica perfeitamente no modo como viveram os maniobeiros, uma vez que eles usavam matrias primas encontradas na prpria natureza para a criao de situaes de interao social, constituindo um modo de viver que no existe mais. Para fabricar os instrumentos de trabalho, moradias, calados e utenslios domsticos, os maniobeiros se apropriavam do que a natureza lhes oferecia, transformando e adaptando os materiais de que dispunham no seu dia-a-dia (OLIVEIRA, 2001). Esse conjunto de tcnicas, formas de conhecimento e prticas realizadas formam o patrimnio cultural.

    Figura 5: Famlia de maniobeiros vivendo na Toca do Olho dgua da Serra Branca. 1978 Fonte: Acervo FUMDHAM

    No perodo do auge da economia do ltex da manioba, final do sculo XIX, famlias inteiras se deslocaram de diversas regies do pas para So Raimundo Nonato na inteno de trabalhar com o extrativismo da manioba, ficando conhecidos como maniobeiros. O desejo por melhores condies acabou em meados da dcada de 1960 com a decadncia da borracha da manioba no mercado internacional. Muitos trabalhadores no conseguiram mudar de vida, pois no juntaram dinheiro suficiente para mudar de ocupao ou voltar para suas

    16

    Entende-se como patrimnio tudo que possui importncia afetiva, faz referncia memria, histria, e identidade de um povo.

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    cidades. Foi um perodo curto de prosperidade, por que dinamizou a vida nas cidades interioranas do Estado (OLIVEIRA, 2001).

    reas que se encontram hoje no entorno e constituindo o Parque Nacional Serra da Capivara foram grandes produtoras de borracha de manioba.

    Segundo Oliveira, a Serra Branca, desde o incio do sculo XX, foi o principal ponto de extrao de ltex de manioba de So Raimundo Nonato. Toda essa rea foi testemunho de ocupaes pr-histricas e histricas. Como resultado de ocupaes mais antigas existem pinturas e gravuras rupestres, fragmentos de material ltico e cermico; de perodos mais recentes foram freqentados pelos maniobeiros e observam-se estruturas edificadas (fornos de farinha e moradias), bem como restos da cultura material dos seus construtores.

    Homens, mulheres e crianas envolvidas com a atividade de extrao da borracha da manioba durante mais de 50 anos viveram no sudeste do Piau.

    Para conseguir extrair o ltex, os maniobeiros usavam um instrumento conhecido como lega e faziam incises na raiz principal da rvore, o prazo para recolher al