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ANAIS

Volume III

III MOSTRA CIENTÍFICA DE

ALIMENTOS

2017

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REALIZAÇÃO

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira

Curso Superior de Engenharia de Alimentos

Curso Superior de Tecnologia em Alimentos

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COMISSÃO ORGANIZADORA DA III MOSTRA CIENTÍFICA DE ALIMENTOS

Carolina Castilho Garcia

Celeide Pereira

Cristiane Canan

Deisy Alessandra Drunkler

Denise Pastore de Lima

Elciane Regina Zanatta

Eliana Maria Baldissera

Eliane Colla

Fábio Avelino Bublitz Ferreira

Flávio Dias Ferreira

Gláucia Cristina Moreira

Ilton José Baraldi

Marinês Paula Corso

Nádia Cristiane Steinmacher

Sirley Laurindo Ramalho

Valdemar Padilha Feltrin

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SUMÁRIO

ACEITAÇÃO DE BLENDS DE C. arabica E C. canephora ADICIONADOS DE DEFEITO PVA

TRATADO COM VAPOR .................................................................................................................. 6

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS, MICROBIOLÓGICAS E SENSORIAL DE GELEIA DE

ABACAXI E MARACUJÁ ............................................................................................................... 13

APLICAÇÃO DE REVESTIMENTOS COMESTÍVEIS EM MORANGOS CAMINO REAL

ARMAZENADOS EM DIFERENTES TEMPERATURAS ............................................................ 20

APLICAÇÃO TECNOLÓGICA DA CASCA DE ABACAXI DESIDRATADA ........................... 29

ATIVIDADE PROTEOLÍTICA DO MÚSCULO Biceps femoris DE BOVINOS DA RAÇA

NELORE TRATADO COM ULTRASSOM .................................................................................... 37

BARRA DE CEREAIS COM ADIÇÃO DE FARINHA DE TEMPEH: ACEITAÇÃO

SENSORIAL E MAPA DE PREFERÊNCIA INTERNO ................................................................. 43

CARACTERIZAÇÃO BROMATOLÓGICA DE FARINHAS DE TRIGO E DE MILHO ............ 49

CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DO LEITE EM PÓ E ANÁLISE DA FORMA DE

SECAGEM: UMA REVISÃO ........................................................................................................... 54

CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSO PARA VARIÁVEL TEMPERATURA DO ÓLEO

DE PALMA (Elaeis guineenses) UTILIZADO NA FRITURA DE MASSAS INSTANTÂNEAS . 62

DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO DE CÂMARA FRIA PARA ARMAZENAMENTO

DE BATATAS NA CIDADE DE CURITIBA/PR ............................................................................ 69

DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE BEBIDA LÁCTEA SIMBIÓTICA DE

CAMBUCÍ E YACON ...................................................................................................................... 78

DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA SALSA (Petroselinum crispum)

PELO MÉTODO DE INFUSÃO ....................................................................................................... 87

EFEITO DA INSENSIBILIZAÇÃO NA ATIVIDADE PROTEOLÍTICA DA CARNE DE PEITO

DE FRANGO ..................................................................................................................................... 95

EFICIÊNCIA DA ENCAPSULAÇÃO E ESTABILIDADE OXIDATIVA DO ÓLEO DE CHIA

MICRO ENCAPSULADO POR SPRAY DRYING ......................................................................... 101

ENRIQUECIMENTO NUTRICIONAL DE ALIMENTOS COM FARINHA DE CMS DE

TILÁPIA .......................................................................................................................................... 108

ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DO ÓLEO DE PALMA (Elaeis guineenses) NO PROCESSO DE

FRITURA DE MASSAS INSTANTÂNEAS .................................................................................. 115

ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DE LIOFILIZAÇÃO DE PÉS DE FRANGO PARA

EXPORTAÇÃO ............................................................................................................................... 122

ESTUDO SOBRE A VIABILIDADE DA INSTALAÇÃO DE UMA PEQUENA FÁBRICA DE

DOCE DE LEITE SEM LACTOSE NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG ................................ 130

FARELO DE ARROZ E BAGAÇO DE MANDIOCA: ALTERNATIVAS PARA PRODUÇÃO

DE BREADING EXTRUSADO SEM GLÚTEN ............................................................................ 138

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FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA DO HIDROLISADO DE FARELO DE ARROZ

DESENGORDURADO ASSISTIDA POR ULTRASSOM ............................................................ 145

MODELAGEM MATEMÁTICA DA FERMENTAÇÃO DE PÃES AUSENTES DE GLÚTEN 153

MUCILAGEM DE TARO COMO SUBSTITUTO DA GORDURA EM IOGURTE ................... 160

PERFIL DE ACEITAÇÃO SENSORIAL DE PÉS DE FRANGO LIOFILIZADOS ..................... 167

PROJETO DE CÂMARA FRIGORÍFICA PARA ARMAZENAGEM DE LARANJA

LOCALIZADO NA CIDADE DE SÃO LUIS - MA ...................................................................... 173

PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO DE ISOLAMENTO TÉRMICO EM EQUIPAMENTOS

COM PASSAGEM DE VAPOR NUMA INDÚSTRIA DE PEQUENO PORTE .......................... 182

PROJETO PARA INSTALAÇÃO DE CÂMARA FRIGORÍFICA EM UMA INDÚSTRIA DE

SORVETE ........................................................................................................................................ 191

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA PARA CONSUMO DE UMA UNIVERSIDADE

DO OESTE DO PARANÁ .............................................................................................................. 200

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ACEITAÇÃO DE BLENDS DE C. arabica E C. canephora ADICIONADOS DE

DEFEITO PVA TRATADO COM VAPOR

Daneysa Lahis Kalschne1; Antonio José De Conti

2; Marcelo Caldeira Viegas

3; Michaela Schweig

4;

Marinês Paula Corso5; Marta de Toledo Benassi

6

RESUMO

O tratamento com vapor tem sido reportado como alternativa para melhorar a composição volátil e

qualidade sensorial da bebida do café torrado. Em estudos preliminares foram definidas as melhores

condições para tratamento de grãos PVA de C. canephora com vapor. O objetivo desse estudo foi

avaliar a aceitação sensorial de blends de C. arabica e C. canephora de boa qualidade com o defeito

tratado (DT) comparativamente as bebidas puras. Os grãos defeituosos tratados com vapor (5 bar

por 16 min) e os cafés puros foram torrados e moidos. Foram preparadas quatro bebidas de café:

(CA) bebida 100% C. arabica; (CADT) blend contendo 50% de C. arabica e 50% de DT; (CC)

bebida 100% C. canephora; (CCDT) blend contendo 50% de C. canephora e 50% de DT. Foi

avaliada a aceitação considerando os atributos cor, textura, aroma, sabor e a aceitação global,

empregando a escala hedônica híbrida de 10 cm, e intenção de compra. Os dados individuais de

aceitação global foram ainda empregados para gerar um Mapa de preferência interno. As bebidas

com adição do defeito tratado foram as mais aceitas sensorialmente, com notas médias superiores a

6,4 para cor, textura, aroma e sabor, com boa aceitação global (6,7) e intenção de compra (6,3); não

se observou diferenças significativas (p > 0,05) entre CCDC e CADT em nenhum dos parâmetros

avaliados. As bebidas adicionadas de defeito tratado foram preferidas por 75% do total de

consumidores. 1 Daneysa Lahis Kalschne – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 2 Antonio José de Conti – Pesquisador do Departamento P&D - Cia Iguaçu de Café Solúvel, [email protected]

3 Marcelo Caldeira Viegas – Pesquisador do Departamento P&D - Cia Iguaçu de Café Solúvel, [email protected]

4 Michaela Schweig – Acadêmico do Curso de Tecnologia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Marinês Paula Corso – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 6 Marta de Toledo Benassi – Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos - Universidade

Estadual de Londrina, [email protected]

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Palavras-chave: Escala hedônica; Grãos PVA; Intenção de compra; Mapa de preferência interno;

Tratamento com vapor.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. No ano de 2017 a estimativa da produção

de C. arabica e C. canephora deve chegar a 35,4 e 10,1 milhões de sacas de 60 Kg,

respectivamente (CONAB, 2017). Do total de grãos produzidos, entre 15 e 20% são grãos

defeituosos oriundos do processo de colheita por derriça, com destaque para os grãos PVA (preto,

verde e ardido). Os grãos defeituosos são responsáveis pela depreciação da qualidade da bebida do

café, e em parte, pelo preço mais acessível do produto comercializado no país, limitando as

exportações e forçando a comercialização no mercado interno (TOLEDO et al., 2016; FARAH;

SANTOS, 2015; FRANCA; OLIVEIRA, 2015; WEI; TANOKURA, 2015).

O tratamento do café com vapor se desenvolveu na Alemanha, com intuito de fazer um café mais

"aceitável" para consumidores que relataram vários graus de desconforto no estômago quando do

consumo de café regular, já que o procedimento gera modificações químicas e físicas nos grãos

(ITC, 2017). Pesquisas que reportam a melhora no perfil volátil e da qualidade da bebidas de C.

canephora incluem principalmente patentes (BECKER; SCHLABS; AG, 1991; DAR;

BRUCKMANN; KELLY, 1985; MANFRED, 1997).

Em estudo preliminares de nosso grupo de pesquisa, bons resultados tem sido obtidos com

tratamento com vapor, observando-se o aumento de compostos voláteis de impacto positivo e

redução de voláteis de impacto negativo na qualidade da bebidas do café (KALSCHNE et al.,

2016a; KALSCHNE et al., 2015; DE CONTI, 2013). No entanto, constatou-se que o tratamento

com vapor também afetou o teor de compostos importantes para o sabor do café como a cafeína,

trigonelina e 5-ACQ por efeitos de solubilização e/ou degradação térmica (KALSCHNE et al,

2016b). Como o tratamento com vapor promove modificação do perfil de voláteis e compostos

bioativos e de interesse para a qualidade da bebida do café, também pode ter influência na aceitação

das bebidas produzidas com o defeito tratado.

A análise sensorial é uma disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar as

reações das características dos alimentos e materiais como são percebidas pelos sentidos da visão,

olfato, gosto, tato e audição (ABNT, 1993). Dentre os métodos afetivos é bastante usual o emprego

da escala hedônica para avaliar a aceitação. Nesse tipo de teste os avaliadores expressam o grau de

gostar ou desgostar de um determinado alimentos, de forma global ou em relação a um atributo

específico (DUTCOSKY, 2013; LAWLESS; HEYMANN, 2010; IAL, 2005).

Bebidas de C. arabica são mais estudadas quanto as características e aceitação em comparação a

bebidas de C. canephora. Entretanto no que se refere a avaliação sensorial de defeitos de grãos

PVA de C. canephora informações na literatura são escassas, especialmente no que se refere a

grãos tratados com vapor.

Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi tratar grãos PVA de C. canephora com vapor e, avaliar

a aceitação sensorial de blends de C. arabica e C. canephora de boa qualidade com o defeito

tratado comparativamente as respectivas bebidas puras.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Amostras de café

Grãos crus de Coffea canephora PVA (37,9% ardidos, 34,9% pretos, e 8,9% verdes) foram tratados

com vapor (DT) nas condições de pressão de vapor de 5 bar e tempo de contato de 16 min,

considerando a melhora relatada no perfil de compostos voláteis do café torrado previamente

tratado sob essas condições (KALSCHNE et al., 2016a; KALSCHNE et al., 2015). O DT foi seco

( 9%) em estufa a vácuo

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(Q819V2, Quimis, São Paulo), submetido a torra ( 230 °C, Rod Bel, São Paulo) com grau médio

(L* = 26,5) e moídos em granulometria média (Burr Grinder GVX2, Krups, Solingen, Alemanha).

Em paralelo, grãos de café de boa qualidade de bebida das espécies C. arabica (bebida tipo 2, safra

de 2015 do estado do Paraná) e C. canephora (bebida neutra, com pouco sabor de robusta, da safra

de 2015 do estado de Rondônia) foram submetidos ao processo de torra e moagem similar DT (L =

26,1 e 26,2, respectivamente).

2.2 Preparo das bebidas do café

Foram preparadas quatro bebidas de café: (CA) bebida 100% C. arabica; (CADT) blend contendo

50% de C. arabica e 50% de DT; (CC) bebida 100% C. canephora; (CCDT) blend contendo 50%

de C. canephora e 50% de DT. O preparo se deu com água mineral (Ouro Fino, Campo Largo) a 92

°C por percolação em filtro de papel (Melita 102, Guaíba) na concentração de 10% e com adição de

6% de sacarose (Alto Alegre, Presidente Prudente). As bebidas de café foram mantidas em frascos

térmicos por até 2 h e foram servidas em temperaturas de 70 °C (CORSO; VIGNOLI; BENASSI,

2016).

2.3 Aceitação sensorial

Este estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética na Pesquisa de Seres Humanos da Universidade

Estadual de Londrina (CAAE: 36840214.0.0000.5231). Os 142 consumidores participantes foram

informados sobre a análise sensorial e responderam um questionário sócio-demográfico e referente

ao hábito de consumo de café antes da realização dos testes sensoriais.

Empregou-se escala híbrida de 10 cm ancorada com o termos verbais (0 = desgostei extremamente,

5 = nem gostei/nem desgostei, 10 = gostei extremamente) (VILLANUEVA; PETENATE; SILVA,

2005) na avaliação dos atributos cor, textura, aroma, sabor e aceitação global. A intenção de compra

foi avaliada com uma escala similar (0 = definitivamente não compraria, 5 = talvez compraria/

talvez não compraria, 10 = definitivamente compraria).

Os testes foram conduzidos em escala laboratorial em cabines individuais iluminadas com luz

branca. As bebidas de café foram servidas ( 50 mL) em copos de isopor de (100 mL) codificados

com três dígitos aleatórios e randomizados. A ordem de apresentação das amostras foi monádica e

aleatorizada para cada consumidor seguindo-se um delineamento experimental em blocos

balanceados e casualizados. Os consumidores foram orientados a limpar o palato com água antes e

entre as avaliações das amostras.

2.4 Análise estatística

Os dados foram analisados por ANOVA (considerando as amostras e os consumidores como fonte

de variação) e teste de Tukey (p ≤ 0.05) utilizando o programa Statistica 8.0 (STATSOFT, 2007).

Foi gerado um Mapa de preferência interno com os dados da aceitação global empregando o

programa Senstools versão 2.3.28 (OP & P PRODUCT RESEARCH, 1998).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da equipe

Na Figura 1 podem ser observados as características de gênero, idade, escolaridade, frequência de

consumo, tipo de bebida de café mais consumida e preferência por bebida de café adoçada ou não

dos consumidores do estudo. De forma geral, o painel foi composto por um público jovem, com

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grau de escolaridade médio. Todos os consumidores declararam ser consumidores de café com alta

frequência de consumo diária, preferência por café filtrado e adoçado com açúcar.

Figura 1: Característica da equipe de consumidores.

3.1 Aceitação sensorial

As bebidas de café preparadas com blends contendo o defeito tratado (CADT e CCDT) tiveram boa

aceitação sensorial com médias sensoriais superiores a 6,4 para os atributos de cor, textura, aroma e

sabor e, ainda tiveram boa aceitação global (CADT = 6,7; CCDT = 6,6) e intenção de compra

(CADT = 6,3; CCDT = 6,2), sem diferenças significativas entre si (p > 0,05). A bebida de café CA

(100% C. arabica) obteve notas inferiores para textura e sabor, o que provavelmente está

correlacionado com sua menor aceitação global e menor intenção de compra. A bebida CC (100%

C. canephora) obteve médias sensoriais similares às bebidas contendo o defeito tratado (Tabela 1).

Dentre os atributos avaliados, a cor e aroma das bebidas foram os que receberam as maiores medias

sensoriais, independente da bebida avaliada.

Tabela 1: Aceitação sensorial e intenção de compra das bebidas de café. Atributos* CA CADT CC CCDT

Cor 7,4b ± 1,9 7,3

b ± 1,7 8,0

a ± 1,7 7,6

ab ± 1,6

Textura 5,2b ± 3,0 6,7

a ± 1,9 6,3

a ± 2,2 6,4

a ± 2,0

Aroma 6,9a ± 2,1 7,1

a ± 2,0 7,1

a ± 1,9 7,0

a ± 1,9

Sabor 5,6b ± 2,9 6,6

a ± 2,4 6,0

ab ± 2,4 6,5

a ± 2,3

Aceitação global 5,9b ± 2,4 6,7

a ± 2,0 6,4

ab ± 1,9 6,6

a ± 1,9

Intenção de compra 5,1b ± 3,0 6,3

a ± 2,5 5,9

a ± 2,5 6,2

a ± 2,5

*Média ± desvio padrão (n = 142); (CA) bebida 100% C. arabica; (CADT) blend contendo 50% de C. arabica e 50%

de DT; (CC) bebida 100% C. canephora; (CCDT) blend contendo 50% de C. canephora e 50% de DT. Escala

hedônica: 0 = desgostei extremamente, 5 = nem gostei/nem desgostei, 10 = gostei extremamente; Intenção de compra: 0

= definitivamente não compraria, 5 = talvez compraria/ talvez não compraria, 10 = definitivamente compraria; letras

diferentes sobrescritas nas linhas indicam diferença significativa (p ≤ 0.05).

Em relação aos atributos mais apreciados (Tabela 2), verifica-se que a adição do defeito tratado nas

bebidas de C. arabica e C. canephora gerou um acréscimo na apreciação do sabor, a manutenção

do aroma e redução na apreciação da cor e textura. Os atributos de sabor e aroma estão

correlacionado com o perfil volátil, melhorado nos grãos PVA pelo efeito do tratamento com vapor

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aplicado, no sentido de maximizar compostos de impacto positivo e minimizar os de impacto

negativo na qualidade da bebida do café (KALSCHNE et al., 2016a; KALSCHNE et al.2015). A

cor e a textura da bebidas de café contendo o defeito tratado foram menos intensas que nas

respectivas bebidas puras. Isso possivelmente está correlacionado com a interferência do tratamento

com vapor na formação de melanoidinas e lixiviação de compostos hidrossolúveis, devido a

similaridade com o processo de descafeinização do café (HEILMANN, 2001).

Tabela 2: Características mais apreciadas bebidas de café e frequência reportada (%). CA CADT CC CCDT

Color (34,4%)

Aroma (19,4%)

Texture (18,1%)

Flavor (24,4%)

Color (25,1%)

Aroma (21,1%)

Texture (12,9%)

Flavor (36,8%)

Color (42,8%)

Aroma (17,9%)

Texture (15,6%)

Flavor (22,0%)

Color (33,3%)

Aroma (17,9%)

Texture (13,0%)

Flavor (32,1%)

(CA) bebida 100% C. arabica; (CADT) blend contendo 50% de C. arabica e 50% de DT; (CC) bebida 100% C.

canephora; (CCDT) blend contendo 50% de C. canephora e 50% de DT.

A avaliação dos dados de aceitação global pelo Mapa de preferência interno indicou a segmentação

dos consumidores por

amostras. Uma solução

bidimensional foi responsável

pela variância explicada de 76%

para a aceitação global

(Figura 2).

Figura 2: Mapa de preferência interno: configuração das bebidas de café e consumidores

considerando a aceitação global. (CA) bebida 100% C. arabica; (CADT) blend contendo 50% de C. arabica e 50% de DT; (CC) bebida 100% C.

canephora; (CCDT) blend contendo 50% de C. canephora e 50% de DT; Grupo 1 (○): preferiu CA; Grupo 2 (□):

preferiu CADT; Grupo 3 (Δ): preferiu CCDT; n = número de consumidores que preferiram as bebidas de café

indicadas.

As bebidas CA e CADT foram bem discriminadas das outras (CC e CCDT), locadas separadamente

do lado direito do mapa de preferência interno (Figura 2). Apesar da menor aceitação sensorial

global da bebida de café CA (Tabela 1), um grupo específico de consumidores a preferiu (grupo 1,

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35 consumidores, 25% do total). De forma contrária, a bebida de café CC teve uma boa aceitação

sensorial assim como as bebidas que continham o defeito tratado e foi alocada próxima as essas

bebidas no mapa de preferência interno, mas não foi preferida por nenhum consumidor (Figura 2).

As bebidas adicionadas do DT foram as preferidas: o grupo 2 preferiu a bebida de café CADT (54

consumidores, 38% do total) e o grupo 3 preferiu a CCDT (53 consumidores, 37% do total) (Figura

2).

4. CONCLUSÕES

Bebidas de café contendo 50% de defeito tratado foram bem aceitas pelos consumidores, sendo as

indicadas como preferidas. O tratamento de grãos de C. canephora PVA com vapor mostrou uma

excelente porposta com potencial para a adição de até 50% em blends com o C. arabica e C.

canephora.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES e CNPq pela concessão das bolsas. A Café Iguaçu pelo

fornecimento das amostras e tratamento das mesmas. Ao IAPAR por ter cedido os torradores e a

UTFPR pelo apoio nas análises cromatográficas.

REFERÊNCIAS

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terminologia. 1993, 8 p.

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http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_05_18_15_37_37_boletim_cafe_-

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ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS, MICROBIOLÓGICAS E SENSORIAL DE

GELEIA DE ABACAXI E MARACUJÁ

Maria Gabriela Lavagnini1; Rafael Mascoloti Spréa

2; Gláucia Cristina Moreira

3; Valdemar Padilha Feltrin

4;

Diana Cristina Damo5

RESUMO

Os subprodutos da indústria de alimentos apresentam uma diversidade de aplicações devido as suas

propriedades funcionais, tecnológicas e nutricionais. O objetivo deste trabalho foi desenvolver

geleia de abacaxi com diferentes concentrações de albedo e suco de maracujá. Foram avaliadas 5

formulações: T1: 0,5% albedo, 0,325% suco de maracujá; T2: 1% albedo, 0,65% suco de maracujá;

T3: 2% albedo, 1,3% suco de maracujá; T4: 4% albedo, 2,6% suco de maracujá; T5: 8% de albedo,

5,2% suco de maracujá. As concentrações de açúcar e de abacaxi não foram alteradas, sendo ambas

de 50% para todas as formulações. O delineamento estatístico empregado foi inteiramente

casualizado com três repetições por formulação. Foram realizadas análises microbiológicas e físico-

químicas a fim de verificar se o produto atendia a legislação vigente e análise sensorial para

verificar a aceitação do produto. Os dados obtidos foram comparados pela análise de variância e

teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os cinco tratamentos não apresentaram diferença estatística

para as análises de acidez titulável e cor. O tratamento T4, comparado com os outros quatro

tratamentos, foi o que apresentou menor atividade de água e menor acidez titulável, em contra

partida, dentre os cinco tratamentos, o tratamento T2 apresentou maior atividade de água e maior

pH. O tratamento T5 foi o que apresentou maior intenção de compra pelos avaliadores, dentre as

cinco formulações, porém não houve diferença significativa para os parâmetros: aparência, sabor e

aceitação dentre os cinco tratamentos.

Palavras-chave: Ananas comosus; Subprodutos; Pectina; Geleia.

____________________________________ 1 Maria Gabriela Lavagnini – Graduanda em Engenharia de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Campus Medianeira, [email protected] 2

Rafael Mascoloti Spréa – Graduando em Engenharia de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Campus Medineira, [email protected] 3 Gláucia Cristina Moreira – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Campus Medianeira, [email protected] 4

Valdemar Padilha Feltrin – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Campus Medianeira, [email protected] 5

Diana Cristina Damo – Graduando em Tecnologia em Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Campus Medineira, diana.damo@hotmailcom

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1. INTRODUÇÃO

Os resíduos provenientes da indústria de alimentos são compostos por grandes quantidades de casca

e caroço. Esses materiais, além de fonte de matéria orgânica, servem como fonte de proteínas,

enzimas e óleos essenciais, podendo ser recuperados e aproveitados (COELHO et al., 2001).

O aproveitamento de subprodutos do processamento é de grande interesse para a indústria de

alimentos, pois estes subprodutos apresentam uma diversidade de aplicações como ingredientes,

pelas suas propriedades funcionais, tecnológicas e nutricionais, com benefícios para a saúde.

Apresentam também redução de riscos de contaminação na indústria e no meio ambiente além de

redução de custos (SCHIEBER; STINTZING; CARLE, 2001).

O abacaxi (Ananas comosus) apresenta excelente qualidade sensorial, devido à presença de

açúcares, ácidos orgânicos e compostos voláteis na fruta, estes compostos lhe conferem sabor e

aroma característicos (ANDRADE, 1999). É cultivado em diversas regiões tropicais e subtropicais,

e mundialmente apreciado (MODA et al., 2008).

A classificação do fruto do abacaxi envolve as seguintes variedades: Smooth Cayenne, Queen,

Spanish e Pérola (FREIMAN; SABAA-SRUR, 1996). No Brasil, a variedade Perola é considerada

insuperável para o consumo in natura devido a sua maior suculência e sabor de sua polpa

(GRANADA, 2002), que é quase branca e pouco ácida (SILVA; ZAMBIAZI, 2008).

A pectina é um ingrediente alimentar funcional que apresenta uma versatilidade de aplicação. Na

indústria de alimentos é amplamente utilizada como agente gelificante e estabilizador. É também

um componente abundante e multifuncional das paredes celulares de plantas terrestres (WILLATS;

KNOX; MIKKELSEN, 2006). Para a área farmacêutica, a pectina também apresenta diversas

funções, como diminuição da gordura sanguínea e até mesmo combate a vários tipos de câncer

(NAQASH et al., 2017).

A pectina de alta metoxilação (ATM), se utilizada na formulação de geleias convencionais,

necessita de teores de sólidos solúveis superiores a 50% e um meio com baixo valor de pH para que

ocorra a gelificação doproduto (BARCIA; MEDINA; ZAMBIAZI, 2010).

A indústria de alimentos visa obter produtos com características sensoriais e nutricionais próximas

ao produto in natura e que apresentem qualidade microbiológica. A qualidade destes produtos é

fundamental para que estes atendam aos padrões estabelecidos pela Legislação Brasileira e também

as exigências do mercado consumidor (LIMA; MÉL; LIMA, 2000).

A Legislação Brasileira de Alimentos define as geleias de frutas como ―produto obtido pela cocção

de frutas inteiras ou em pedaços, polpas ou sucos de frutas, com açúcar e água, e concentrado até a

consistência gelatinosa‖ (BRASIL, 1998).

Os elementos básicos para a elaboração de geleia são: fruta, pectina, ácido, açúcar e água e sua

qualidade irá depender da qualidade da matéria prima e dos demais ingredientes utilizados, além

das combinações adequadas e da ordem de adição durante o processamento (BRASIL, 1998).

No presente trabalho o albedo do maracujá foi usado como substituto da pectina comercial e o suco

de maracujá, como substituto do ácido cítrico. Com isso o objetivo do trabalho foi realizar

avaliações microbiológicas, físico químicas e sensorial de 5 formulações de geleia que se diferiam

pela quantidade de albedo e suco de maracujá adicionados.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O processo de produção da geleia de abacaxi e maracujá foi realizado no Laboratório de Vegetais

da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Câmpus Medianeira – Paraná.

Foi realizado o descarte das frutas com injúrias e em seguida a lavagem das mesmas com detergente

neutro em água corrente e posterior higienização com água clorada (20 mg de cloro L-¹). Em

seguida, as frutas foram descascadas e aquelas com injúrias foram descartadas. Para o maracujá,

retirou-se apenas o albedo e este foi cozido por 25 minutos.

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Foram preparadas 5 formulações (tratamentos): T1: 0,5% albedo, 0,325% suco de maracujá; T2: 1%

albedo, 0,65% suco de maracujá; T3: 2% albedo, 1,3% suco de maracujá; T4: 4% albedo, 2,6%

suco de maracujá; T5: 8% de albedo, 5,2% suco de maracujá. Logo, as variáveis estudadas foram a

concentração de suco e albedo de maracujá. As concentrações de açúcar e de abacaxi não foram

alteradas, sendo ambas de 50% para todas as formulações. Dessa forma, a geleia de abacaxi e

maracujá foi classificada como extra.

O abacaxi e o albedo cozido foram triturados em liquidificador e, em seguida, misturou-se ao

abacaxi e ao albedo, o açúcar e o suco de maracujá, sendo realizada, posteriormente, a cocção até o

ponto de geleia.

Após atingir o ponto de geleia, a mesma foi acondicionada em vidros esterilizados e estes,

pasteurizados por 20 minutos.

Para a caracterização físico-química da geleia de abacaxi e maracujá foram realizadas as análises de

acidez titulável, atividade de água (aw), pH e cor. A análise de acidez foi realizada pelo método

titulométrico, a atividade de água foi determinada em medidor de atividade de água (AQUALAB,

Decagon Devices ), o pH pelo método potenciométrico, seguindo os métodos do Instituto Adolfo

Lutz (BRASIL, 2005). A determinação da cor foi através de colorímetro Konica Minolta, sendo

registrados os valores de L*, a* e b* das amostras. Essas análises foram realizadas em triplicata no

Laboratório de Vegetais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira –

Paraná.

Foram realizadas as seguintes análises microbiológicas em triplicata: Coliformes a 45ºC, contagem

de bolores e leveduras e pesquisa de Salmonella sp/25 g (BRASIL, 2001).

O experimento foi conduzido em delineamento estatístico inteiramente casualizado composto por 5

tratamentos e 3 repetições. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e

as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade por meio do programa Infostat.

A análise sensorial foi realizada no Laboratório de Análise Sensorial da Universidade Tecnológica

Federal do Paraná (UTFPR) – Câmpus Medianeira – Paraná. A análise contou com 60 julgadores

não treinados que avaliaram as cinco formulações quanto a aparência, sabor, aceitação global e

intenção de compra. Em relação a intenção de compra, as opções de escolha para os julgadores era

certamente compraria, provavelmente compraria, tenho dúvidas se compraria, provavelmente não

compraria e certamente não compraria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análises físico-químicas

A Tabela 1 apresenta os valores de pH encontrados que variaram de 3,56 a 3,78. Segundo o Manual

Para Produção de Geleias de Frutas em Escala Industrial, o pH deve estar entre 2,8 e 4,2 para que

haja formação de gel e também para o realce do sabor da fruta. Portanto os resultados encontrados

neste trabalho estão dentro da faixa citada por Brasil (1998). O pH é um índice que indica se um

meio qualquer é ácido, neutro ou alcalino (SOUZA et al., 2010). Com relação aos tratamentos, o

tratamento T2 diferiu estatisticamente do tratamento T3, apresentando uma geleia com maior valor

de pH, sendo algo negativo para a formulação, visto que segundo Ribeiro et al. (2016), um pH

baixo auxilia no desenvolvimento de uma textura adequada e auxilia também na formação de um

gel estável.

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Tabela 1: Resultados das análises físico-químicas da geleia de abacaxi e maracujá.

Tratamentos pH Acidez titulável (%) Atividade de água

T1 3,65ab

0,59a

0,72c

T2 3,78a 0,62

a 0,80

a

T3 3,56b

0,64a

0,77b

T4 3,65ab

0,50a

0,70d

T5 3,64ab

0,63a

0,77b

CV (%) 1,40 9,63 0,74

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5%.

CV: Coeficiente de variância

Os ácidos orgânicos presentes em alimentos influenciam na qualidade do mesmo, podendo alterar

sabor, aroma, cor e estabilidade. A determinação da acidez total em alimentos tem uma grande

importância visto que através dela, podem ser obtidos dados relacionados ao processamento e ao

estado de conservação dos alimentos. A acidez ocorre pela presença de ácidos orgânicos presentes

no alimento, ácidos que são adicionados propositadamente e também aos provenientes das

alterações químicas dos mesmos (SOUZA et al., 2010).

Os valores de acidez titulável encontrados no experimento variaram de 0,5 a 0,64%. Segundo Brasil

(1998) a acidez da geleia deve estar entre 0,5-0,8% pois, acima de 1%, ocorre sinérese, ou seja,

exsudação do líquido da geleia. O valor de acidez titulável também indica o sabor ácido ou azedo

dos frutos (AROUCHA et al., 2010). A Tabela 1 mostra que o tratamento T4 apresentou menor

valor de acidez titulável, seguindo de T1. O resultado esperado era que T1 apresentasse um sabor

menos ácido dentre as cinco formulações, visto que neste tratamento a concentração de ácido era

menor.

Segundo Oetterer (2006) os valores de atividade de água adequados para o crescimento da maioria

dos microrganismos estão entre 0,98 e 0,99. No presente trabalho os valores obtidos para atividade

de água estão entre 0,70 e 0,80, valores inferiores aos adequados para o desenvolvimento da maioria

dos microrganismos. O tratamento T2 foi o que apresentou maior atividade de água, diferindo

estatisticamente dos demais. Isso pode acarretar ao produto uma menor vida de prateleira. Enquanto

que o tratamento T4 apresentou o menor valor de atividade de água, isso está relacionado à maior

adição de albedo na formulação T4, visto que um maior teor de sólidos reduz a atividade de água.

Por isso se esperaria que a formulação T5 apresentasse menor valor de atividade de água. Por outro

lado, o tratamento T4 apresentou menor atividade de água e um maior valor de acidez titulável,

sendo assim essa formulação apresentava um sabor ácido.

Na Tabela 2 estão apresentados os resultados da análise colorimétrica para o parâmetro L*, de

luminosidade e as coordenadas de cromaticidade a* e b*, onde (+a) indica cor vermelha e (-a)

indica cor verde e (+b) indica cor amarela e (–b) cor azul. Pode ser notado que a formulação T5

apresentou coloração mais próxima de amarelo, isso pode ser explicado devido a maior quantidade

de suco na formulação. Observou-se que não houve diferença estatística significativa dentre os

tratamentos.

Tabela 2: Resultados da análise de cor da geleia de abacaxi e maracujá.

Tratamentos L* a* b*

T1 33,81a -2,12

a 16,58

a

T2 32,43a -2,19

a 16,38

a

T3 32,38a

-2,05a

16,31a

T4 27,61a

-1,69a

16,37a

T5 31,57a

-2,00a

21,36a

CV (%) 14,89 15,46 11,77

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5%.

CV: Coeficiente de variância

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3.2 Análises microbiológicas

Os resultados das análises microbiológicas dos doces formulados nos diferentes tratamentos estão

descritos na Tabela 3. A legislação brasileira somente apresenta parâmetros para bolores e leveduras

e coliformes a 45˚C na RDC nº12 de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001), porém no presente

trabalho também foi realizada a análise de Salmonella sp/25 g.

Tabela 3: Resultados das análises microbiológicas da geleia de abacaxi e maracujá.

Tratamentos Coliformes a 45

oC

(NMP/g)

Bolores e

Leveduras

(UFC/g)

Salmonella sp/25 g

T1 < 5 < 10 Ausência

T2 < 5 < 10 Ausência

T3 < 5 < 10 Ausência

T4 < 5 < 10 Ausência

T5 < 5 < 10 Ausência

Padrão da legislação 5 104

UFC/g Ausência em 25 g

Verificou-se que todas as formulações apresentaram-se dentro dos parâmetros permitidos na

legislação no que diz respeito às análises microbiológicas. Esses resultados garantem que a geleia

foi formulada respeitando as boas práticas de fabricação e armazenamento. Tais resultados também

garantem confiabilidade ao produto que passou por análise sensorial.

3.2 Análise sensorial

Os dados da análise sensorial encontram-se na Tabela 4, sendo possível verificar que não houve

diferença estatística entre os tratamentos para os parâmetros aparência, sabor e aceitação.

Tabela 4: Resultados da análise sensorial da geleia de abacaxi e maracujá.

Tratamentos Aparência Sabor Aceitação

T1 7,65a 6,61

a 6,79

a

T2 7,28a 7,31

a 7,13

a

T3 7,85a

7,42a

7,48a

T4 8,03a

7,25a

7,24a

T5 8,04a

7,62a

7,60a

CV (%) 23,32 28,82 27,56

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5%.

CV: Coeficiente de variância

T1 obteve 25% e 16,6% das intenções de compra provavelmente compraria e certamente compraria,

respectivamente. T2 obteve 38,8% das intenções de compra como provavelmente compraria e

16,6% certamente compraria. T3 obteve como intenções de compra 20% para certamente compraria

e 43,33% para provavelmente compraria. O Tratamento T4 apresentou 21,6% e 38,3% dos

julgadores com as intenções de compra certamente compraria e provavelmente compraria,

respectivamente. Já T5, a formulação que continha uma maior concentração de suco de maracujá e

de albedo, apresentou intenções de compra 16,6% para certamente compraria e 56,6% para

provavelmente compraria, sendo a formulação com maior aceitabilidade. Isso indica que uma maior

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quantidade de albedo e de suco de maracujá na formulação agradou os julgadores. Porém não houve

diferença significativa entre os parâmetros aparência, sabor e aceitação para os cinco tratamentos.

4. CONCLUSÕES

Verificou-se que as formulações foram preparadas respeitando as boas práticas de fabricação e

armazenamento. Ainda, verificou-se que o tratamento T2 apresentou um maior pH, sendo algo

negativo para a formulação já que um baixo valor de pH confere ao produto uma melhor textura e a

formação de gel estável. Além disso, um menor pH traz uma maior intensidade do sabor natural da

fruta para o produto. Esta formulação também apresentou uma maior atividade de água, o que pode

acarretar ao produto uma menor vida de prateleira. Por outro lado, o tratamento T4 apresentou

menor atividade de água e menor valor de acidez titulável, sendo assim essa formulação não

apresentava um sabor ácido. Em relação as análises de cor, não houve diferença significativa para

os cinco tratamentos. Quanto a análise sensorial pôde-se observar que o tratamento T5 foi o que

apresentou maior intenção de compra, verificando-se assim que uma maior quantidade de albedo e

de suco de maracujá na formulação acarretou em uma maior aceitabilidade do produto.

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20

APLICAÇÃO DE REVESTIMENTOS COMESTÍVEIS EM MORANGOS

CAMINO REAL ARMAZENADOS EM DIFERENTES TEMPERATURAS

Adrieli da Silva Gouvêa1; Mariana Manfroi Fuzinatto

2; Daniélly Nascimento Morais

3

RESUMO

O morango (Fragaria x ananassa Duch.) é um fruto que apresenta elevada perecibilidade pós-

colheita, principalmente, devido a sua intensa atividade metabólica e grande suscetibilidade ao

ataque de agentes patogênicos causadores de podridões. Este trabalho teve por objetivo avaliar a

aplicação de revestimentos comestíveis em morangos a fim de verificar a sua eficiência na

conservação do fruto pós-colheita. Foram realizados três tratamentos com os seguintes

revestimentos: fécula de mandioca 5%, gelatina 5% e controle, sob diferentes temperaturas: 23 ± 2

°C e 7 ± 2 °C. Os parâmetros avaliados foram: perda de massa fresca, pH, sólidos solúveis,

umidade, realizadas a cada dois dias durante dez dias de armazenamento, coliformes

termotolerantes a 45 °C (zero e decimo dia) e análise sensorial por teste afetivo (10º dia de análise).

As análises interdias mostraram que os morangos armazenados em temperatura de refrigeração

apresentaram maior estabilidade. Os tratamentos a 7 ºC diferenciaram-se significativamente dos

tratamentos a 23 ºC para todos os parâmetros avaliados, exceto para acidez total. O tratamento com

gelatina a 7 ºC apresentou para sólidos totais (6,70 ±0,22) e acidez titulável (0,42±0,12) valores

significativamente diferentes dos valores obtidos para os tratamentos controle e com fécula. De

forma geral, não houve diferença significativa para os parâmetros de umidade e perda de massa

fresca entre os tratamentos. Na análise sensorial não houve diferença significativa entre os

tratamentos com gelatina e o controle para os atributos avaliados. Os revestimentos avaliados

favoreceram a qualidade pós-colheita dos morangos quando armazenados sob refrigeração sem

interferência em suas características organolépticas.

Palavras-chave: Fruta; Qualidade; Pós-colheita; Conservação; Fragaria x ananassa Duch

__________________________ 1 Adrieli da Silva Gouvêa – Acadêmica do Curso de Tecnologia em Alimentos – Universidade Estadual de Mato Grosso

do Sul – Câmpus Navirai, [email protected] 2 Mariana Manfroi Fuzinatto – Docente do curso de Engenharia de Alimentos – Universidade Estadual de Mato Grosso

do Sul – Câmpus Navirai, [email protected] 3 Daniélly Nascimento Morais - Discente do Mestrado em Tecnologia de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Tecnologia de Alimentos (PPGTA) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) é a única hortaliça pertencente à família Rosaceae.

Produz um pseudofruto não climatérico, o morango (CHITARRA; CHITARRA, 2005), cuja cultura

tem se destacado nos últimos anos como uma das principais hortaliças-fruto plantadas e consumidas

no Brasil e no mundo (DIAS et al. 2015). A área de produção de morango no Brasil cresce a cada

ano e o cultivo põe o país na posição de segundo maior produtor de morango da América Latina, e

com isso surge a necessidade de desenvolver e aprimorar tecnologias de produção, transporte, pós-

colheita e comercialização dos frutos (DIAS et al. 2015). Melhorias nos cultivares garantem o

aumento da produção, como no caso do cultivar Camino Real desenvolvida em 2001 pela

Universidade da Califórnia. Esta variedade apresenta alta capacidade produtiva, frutos grandes,

firmes e de sabor agradável, são recomendados tanto para o consumo in natura como para

industrialização (THOMAS, 2016).

A comercialização dos frutos in natura tem como limitante a rápida perda de qualidade pós-

colheita, a vida útil do morango fresco é de aproximadamente 5 dias quando mantido a baixas

temperaturas (0 a 4 ºC) (CASTRICINI et al. 2017). Entretanto, para o armazenamento prolongado a

redução da temperatura pode não ser suficiente para manter a qualidade dos frutos. Assim, torna-se

necessária a utilização de técnicas complementares, visando o prolongamento do período de

conservação (KORTE; FAVARÃO, 2016). Dentre as principais mudanças que ocorrem no morango

durante o período de armazenamento estão, a redução da firmeza, a perda de água (GONÇALVES

et al. 2004) e os danos mecânicos sofridos após a colheita, durante o transporte e na

comercialização. As avarias ocorridas durante estas etapas causam a depreciação do produto e a

diminuição da sua vida útil (DEL-VALLE, 2005).

Recobrimentos com gelatina, amidos e gomas têm sido eficientes na conservação das propriedades

dos alimentos, auxiliam a reduzir a perda de massa, a controlar o crescimento microbiano, e na

manutenção da cor e da firmeza destes. Alguns componentes, como a fécula de mandioca, quando

aplicados sobre o fruto em concentrações entre 1 e 5 %, auxiliam na redução da perda de massa e

conservam a boa aparência do fruto (QUEIROZ et al. 2010).

A gelatina é um hidrolisado parcial proteico obtida do colágeno contido em peles, ossos e tendões,

sendo importante para o consumo humano (CARVALHO, 1999; PRESTES et al. 2013).

Revestimentos comestíveis a base de gelatina reduzem a permeabilidade ao oxigênio e podem ser

eficientes agentes antimicrobianos e antioxidantes, porém, sua eficácia na conservação de frutos

dependerá da superfície a ser recoberta (ZOCCHE, 2010).

Este trabalho teve como objetivo avaliar a efetividade de dois revestimentos comestíveis, um a base

de proteína (gelatina) e a outro a base de amido (fécula de mandioca), em diferentes temperaturas, a

fim de prolongar a vida útil de morangos frescos, diminuindo a taxa respiratória, atividade

metabólica e microbiológica do fruto.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Alimentos da Universidade Estadual de Mato

Grosso do Sul (UEMS) no período de agosto a setembro de 2016.

2.1 Obtenção dos Frutos

Foram adquiridos morangos da variedade Camino Real no Distrito Verde, município de Naviraí –

MS. O estágio médio de maturação dos frutos foi caracterizado por observação ocular com

visualização da coloração vermelha predominante.

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Os frutos foram sanitizados com solução de hipoclorito de sódio a 100 ppm por 10 minutos e

enxaguados com solução de hipoclorito de sódio a 3 ppm. Após secagem sob condição ambiente, os

frutos foram separados em grupos para aplicação dos revestimentos.

2.2 Preparo do Revestimento e Aplicação

Os revestimentos foram preparados de acordo com a metodologia descrita por Junior (2014).

A base de amido, foi elaborada utilizando 5% de fécula de mandioca. Realizou-se a dissolução da

fécula de mandioca em água destilada sob temperatura ambiente com homogeneização por cerca de

um minuto. A solução foi aquecida até a temperatura de 70 °C, e mantida em agitação constante até

ponto de geleificação (cerca de 15-20 minutos). Após esta etapa, manteve-se o revestimento em

repouso para arrefecer a temperatura de 28 °C. A base proteica, foi elaborado com 5% de gelatina

incolor. Realizou-se a dissolução da gelatina em água destilada sob temperatura ambiente,

permanecendo em repouso por uma hora, posteriormente, a solução foi aquecida até atingir 60 °C,

aproximadamente 10 minutos. O revestimento foi arrefecido até temperatura de 28 °C.

Os morangos já higienizados e secos foram imersos nos respectivos revestimentos arrefecidos

durante 1 minuto e escorridos em peneira por 30 segundos. Posteriormente acondicionaram-se os

frutos em bandejas identificadas, que foram mantidas em temperatura ambiente até a completa

secagem da cobertura. As bandejas com as amostras foram cobertas com plástico filme 12 μm de

espessura e armazenadas em temperatura ambiente (23 ºC) e de refrigeração (7 ºC).

2.3 Análises Físico-Químicas e Sensorial

Os frutos foram avaliados a cada dois dias, durante 10 dias de armazenamento, segundo os

seguintes parâmetros: umidade por determinação gravimétrica em estufa a 105 ºC; perda de massa

fresca por determinação do peso antes e após o tratamento com pesagem em balança analítica;

sólidos solúveis por refratômetro digital PAL-1 ATAGO (Atago Company); acidez titulável por

solução padrão de NaOH 0,01 M; e potencial hidrogeniônico (pH) por peagômetro digital (MS

Tecnopon equip. Especiais ltda). No dia zero e no décimo dia foram realizadas análises

microbiológicas de coliformes termotolerantes a 45 °C pelo método de plaqueamento direto. As

análises seguiram as metodologias oficiais descritas pelo Instituto Adolfo Lutz (2008).

A análise sensorial foi realizada após a finalização das análises físico-químicas (dia 10 de análise),

sendo realizada com 50 provadores não treinados, através do método afetivo com escala hedônica

de 9 pontos, variando de gostei muitíssimo até desgostei muitíssimo, avaliando-se os seguintes

parâmetro: cor, aroma, textura, sabor, impressão global e intenção de compra (DUTCOSKY, 2013).

2.4 Delineamento Experimental e Análise Estatística

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 2

x 5, sendo dois revestimentos, duas temperaturas de armazenamento e cinco períodos de avaliações,

com duas repetições contendo 12 morangos cada.

Os resultados foram submetidos a Análise de Variância (ANOVA) e suas médias comparadas

através do Teste de Tukey a nível de 5% de significância (p˂0,05). Utilizou-se o programa

Statistica Software, versão 7.0 (STATSOFT, 2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os tratamento apresentaram nas análises de umidade interdias (Figura 1) grande

variabilidade, após o 8º dia os tratamento armazenados a 23 ºC apresentam maior ganho de

umidade. Para todos os tratamentos as análises interdias para de pH se mantiveram estáveis até o 8º

dia, posteriormente, as amostras armazenadas a 23 ºC apresentaram aumento desse parâmetro

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(Figura 2). Os tratamentos sem refrigeração e sem cobertura apresenta maior redução de sólidos

solúveis nas análises interdias (Figura 3), entretanto, a redução foi mais acentuada a partir do 2º dia

para a amostra controle em temperatura ambiente. A acidez solúvel foi reduzida de forma

espontânea nos dois primeiros dias de análise (Figura 4), estabilizando-se entre o 4º dia e o 8º, e

apresentando ligeiro aumento entre os dias 8 e 10. Os tratamentos a 23 ºC tiveram na análise de

perda de massa fresca interdias, em comparação com os tratamentos a 7 ºC, uma maior perda já a

partir do primeiro dia de análise (Figura 5).

Nas figuras são expressadas as seguintes nomenclaturas: (CA = Controle (sem revestimento)

temperatura ambiente; CR = Controle (sem revestimento) refrigeração; GA = Gelatina temperatura

ambiente; GR = Gelatina refrigeração; FA = Fécula temperatura ambiente; FR = Fécula

refrigeração).

FIGURA 1. Análise interdias de umidade em

morangos armazenados sob diferentes

temperaturas e revestimentos.

FIGURA 2. Análises interdias de pH em

morangos armazenados sob diferentes

temperaturas e revestimentos.

FIGURA 3. Análises interdias de Sólidos

solúveis totais (°Brix) em morangos

armazenados sob diferentes temperaturas e

revestimentos.

FIGURA 4. Análises interdias de acidez

titulável em morangos armazenados sob

diferentes temperaturas e revestimentos.

FIGURA 5. Análise interdias de perda de massa em morangos

armazenados sob diferentes temperaturas e revestimentos.

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Observam-se os resultados finais (Tabela 1) das análises de umidade, pH, sólidos solúveis totais,

acidez titulável e perda de massa fresca realizadas no décimo dia de análise em todos os

tratamentos.

Tabela 1. Umidade, pH, sólidos solúveis totais, acidez titulável e perda de massa fresca em

morangos sob diferentes revestimentos e ambientes de armazenamento após 10 dias de

armazenamento.

*Sem revestimento; **23ºC± 2; ***7ºC ± 2. Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna e

minúscula na linha são estatísticamente iguais entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O teor de umidade não diferiu estatisticamente com relação aos diferentes recobrimentos e o

controle, porém, observa-se que com relação as temperaturas de armazenamento empregadas houve

diferença significativa. A utilização de baixas temperaturas auxiliou na redução da taxa respiratória,

de maneira a diminuir a degradação dos tecidos e a perda de umidade dos frutos para o ambiente.

As amostras de morango apresentaram variações no pH, a amostra do tratamento controle

armazenado a 23 ºC apresentou maior valor para esta análise (5,97±0,87), os morangos, quando

armazenados em temperatura ambiente, sofrem um processo de aumento da senescência e

apresentam um aumento do pH. A amostra de morango revestido com gelatina mantida a

temperatura de 23 ºC apresentou diferença significativa das demais amostras com relação ao pH,

mostrando-se mais estável. Em geral, as amostras conservadas a 7 ºC apresentaram pH mais baixo,

devido as baixas temperaturas retardam a senescência. Hernandez-Muñoz et al. (2006) relataram

um aumento no pH de morangos cobertos ou não com quitosana e armazenados a 20ºC com

umidade relativa de 70%. Este aumento pode ser justificado pela redução do teor de ácidos

orgânicos como consequência dos processos respiratórios durante a senescência dos frutos

(CHITARRA; CHITARRA, 2005).

Houve redução do teor de sólidos solúveis nos frutos que foram mantidos à temperatura de 23 ºC,

pois, possivelmente devido ao aumento da taxa respiratória e crescimento de microrganismos

(CARVALHO, 1999). Enquanto que, as amostras armazenadas sob refrigeração apresentaram

maiores valores de sólidos solúveis, dentre estas a amostra de morango com revestimento de

gelatina foi a que apresentou maior teor 6,70±0,22 diferenciando-se significativamente das demais

amostras.

Na análise de acidez titulável a amostra de morango com revestimento de gelatina armazenado à 7

ºC apresentou baixo teor (0,42±0,12), diferenciando-se significativamente das demais amostras. As

amostras: morango revestido com fécula e controle armazenadas a 7 ºC, não apresentaram diferença

significativa quando comparadas com as suas análogas armazenadas a 23 ºC, já a amostra revestida

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com gelatina armazenada em temperatura a 23 ºC apresentou um aumento significativo da acidez

(0,82±0,09).

No último dia de armazenamento, a perda de massa fresca da amostra controle armazenada à 23 ºC

foi maior (14,39±0,39), porém, não observou-se diferença significativa com relação as demais

amostras armazenadas sob a mesma temperatura. As amostras mantidas a 7 ºC apresentaram baixa

perda de massa fresca: controle (5,2±0,71), fécula (5,2±1,58) e gelatina (4,5±0,33) não diferindo

estatisticamente entre sí. A perda de massa fresca é um acelerador da senescência das frutas,

acarretando maior rapidez na taxa de desintegração da membrana e perda do conteúdo celular e,

consequentemente o murchamento e a perda de suculência.

Com relação a análise microbiológica, de acordo com a Resolução – RDC n° 12 de 2 de janeiro de

2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2001) todas as amostras

apresentaram resultados dentro dos parâmetros estabelecidos.

Os resultados da análise sensorial estão apresentados na Tabelas 2.

Tabela: 2 Valores médios de aceitação e intenção de compra dos provadores em relação as

amostras de morangos com diferentes revestimentos.

Letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si (p < 0,05). Escala hedônica: 1-

desgostei muitíssimo, 2 – desgostei muito, 3 – desgostei moderadamente, 4 – desgostei

ligeiramente, 5 – não gostei/ nem desgostei, 6 – gostei ligeiramente, 7 – gostei moderadamente, 8 –

gostei muito, 9 - gostei muitíssimo. Teste de intenção de compra escala de 1 - certamente não

compraria, 2 – possivelmente não compraria, 3 – talvez comprasse/ talvez não comprasse, 4 –

possivelmente compraria, 5 - certamente compraria.

De acordo com as notas obtidas, pôde-se verificar que não houve diferença significativa entre as

três amostras no atributo cor, devido estarem no mesmo grau de maturação, as amostras foram bem

aceitas, as médias das notas do morango no atributo cor tiveram valores acima de 7,0 (equivalente a

gostei moderadamente). VIANA et al. (2016) relataram que o uso de coberturas à base de fécula de

mandioca manteve as propriedades mecânicas e os parâmetros de cor sem alteração em abacaxis

‗Pérola‘ durante 8 dias mantidos a 7 °C. Os revestimentos realçaram a cor e o brilho melhorando

sua aparência visualmente.

No atributo sabor as amostras de morango revestidos com gelatina e controle obtiveram melhores

notas (7,62±1,12) e (7,78±1,39) respectivamente, esse parâmetro demonstra que não há

interferência na aceitação pelo consumidor quando empregado esse revestimento, uma vez que os

mesmos não alteraram de forma significativa o sabor do fruto. As amostras de morango revestidos

com fécula apresentaram nota 6, equivalente a gostei ligeiramente, ou seja, baixa aceitação em

relação as demais amostras, possivelmente a rejeição pode ter ocorrido devido a aparência pegajosa

que o fruto apresentou, quanto ao sabor, alguns provadores relataram que o morango revestido com

fécula não apresentava o sabor característico. De acordo com Alves et al. (2011), os morangos que

foram tratados com amido de milho, amido de mandioca e amido modificado não apresentam

diferença estatística entre si.

Para o atributo textura não houve diferença significativa entre as amostras controle (7,68±1,54) e

gelatina (7,32±1,46), a gelatina proporcionou um aspecto natural aos frutos, enquanto que a fécula

apresentou uma nota significativamente inferior (6,58±1,83) e apresentou aspecto pegajoso, tal

como foi mencionado anteriormente. Garcia et al. (2012), verificaram que a textura dos morangos,

com e sem cobertura, avaliada pelos provadores ao longo dos 15 dias de armazenamento a 5 ºC, não

apresentaram variações ao longo do tempo e, em cada tempo, apresentaram texturas

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estatisticamente iguais. A fécula foi o revestimento com menores notas em todos os atributos

possivelmente devido a secagem insuficiente após o revestimento e por ser mais sensível ao calor,

inclusive à temperatura ambiente, o que pode ter provocado seu amolecimento. Deste modo a fécula

teve influência negativa sobre alguns atributos avaliados.

Na intenção de compra, segundo os provadores, a amostra controle e com revestimento de gelatina,

obtiveram nota 4 (possivelmente compraria), devido conferir ao produto uma boa aparência, foram

as amostras preferidas por parte dos provadores. A fécula de mandioca teve menor aceitação e

pouca intenção de compra por parte dos provadores com nota 3 (talvez comprasse – talvez não

comprasse).

4. CONCLUSÕES

A aplicação de revestimento com 5% de gelatina em morangos, armazenados em temperatura

ambiente e refrigeração, mostrou-se eficiente na manutenção da qualidade pós-colheita,

proporcionando menor redução do teor de sólidos solúveis e da acidez titulável. Sendo uma eficaz

barreira para retardar a senescência, evitando assim o aumento o pH dos frutos e prolongando sua

vida útil. O uso de revestimento com 5% de fécula de mandioca em morangos, armazenados em

temperatura ambiente e refrigeração não foi eficiente para prolongar a conservação dos frutos. Os

morangos com revestimento elaborado com gelatina apresentaram melhor aceitação sensorial e um

alto potencial de intenção de compra, uma vez que esse revestimento não interfere no sabor do

fruto.

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APLICAÇÃO TECNOLÓGICA DA CASCA DE ABACAXI DESIDRATADA

Nívia Barreiro1; Márcia Alves Chaves

2; Carolina Castilho Garcia

3

RESUMO

Nos últimos anos, especial atenção vem sendo dada para minimização ou reaproveitamento de

resíduos sólidos gerados nos diferentes processos industriais. A casca do abacaxi é um resíduo

industrial que apresenta potencial para aplicação como enriquecedor da dieta alimentar devido ao

seu conteúdo nutricional. O objetivo do presente trabalho foi utilizar o resíduo agroindustrial casca

de abacaxi na produção de farinha para ser usada na fabricação de sorvete com reduzido teor de

gordura. A farinha foi obtida após secagem e moagem das cascas de abacaxi. As características

físico-químicas da farinha e do sorvete foram determinadas. A formulação padrão de sorvete

apresentou umidade e teor de lipídios significativamente maior que a amostra na qual houve adição

da farinha de casca de abacaxi. O teor de cinzas e o de proteínas da formulação de sorvete

adicionada de farinha da casca de abacaxi foi significativamente maior que o teor de cinzas da

formulação padrão de sorvete, como consequência da adição do resíduo agroindustrial. O sorvete

adicionado de farinha de casca de abacaxi apresentou-se mais esverdeado e amarelado que a

formulação padrão. A densidade aparente das formulações padrão e adicionada de farinha de casca

de abacaxi foi 269,89 e 196,48 g/L, respectivamente.

Palavras-chave: Ananas comosus (L.) Merill; resíduo agroindustrial; sorvete de abacaxi.

____________________ 1Nívia Barreiro – Engenheira de Alimentos – Pós Graduanda em Gestão da Qualidade – Instituto Graduarte – Unidade

São Paulo, [email protected] 2Márcia Alves Chaves – Responsável Técnica dos Laboratórios da Faculdade Educacional de Medianeira,

[email protected] 3Carolina Castilho Garcia – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil está entre os maiores produtores de produtos agrícolas, fato impulsionado pela alta

demanda por alimentos. Com o aumento da produção, houve o crescimento da quantidade de

resíduos gerados. Estima-se que o Brasil produza cerca de 26,3 milhões de toneladas de lixo

orgânico no ano (MORENO, 2016).

As cascas das frutas são fontes alternativas de nutrientes, apresentando potencial de aplicação como

enriquecedor da dieta alimentar. Segundo Gondim et al. (2005), uma porção de 100 g da casca de

abacaxi apresenta 78,13 g de umidade, 1,03 g de cinzas, 0,55 g de lipídios, 1,45 g de proteínas, 3,89

g de fibras, 14,95 g de carboidratos, 76,44 mg de cálcio, 0,71 mg de ferro, 62,63 mg de sódio, 26,79

mg de magnésio, 0,45 mg de zinco, 0,11 mg de cobre e 285,87 mg de potássio. Esses dados

demonstram que as cascas desta fruta poderiam ser reutilizadas em formulações alimentícias,

contribuindo para a melhoria do aporte nutricional desses produtos. Nesse sentido, Garcia, Chaves e

Barreiro (2017) estudaram a cinética de secagem e a granulometria de cascas de abacaxi, visando a

produção de farinha para posterior aplicação tecnológica desse resíduo.

De acordo com a RDC nº 266, de 22 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), gelados comestíveis

são ―os produtos congelados obtidos a partir de uma emulsão de gorduras e proteínas; ou de uma

mistura de água e açúcar (es). Podem ser adicionados de outro(s) ingrediente(s) desde que não

descaracterize (m) o produto‖.

O sorvete, considerado um gelado comestível, é reconhecido como alimento completo e de elevado

valor nutricional devido, principalmente, ao seu alto conteúdo de carboidratos e gordura. As

proteínas do leite representam de 34 a 36% de seus sólidos não gordurosos e o sorvete contém

elevada concentração de minerais e vitaminas. O sorvete deve conter, no mínimo, 10% de gordura e

20% de sólidos totais, 12 a 17% de açúcares ou adoçantes, 0,2 a 0,5% de estabilizantes e

emulsificantes e 55 a 65% de água (constituinte do leite) (BERGER, 1997).

A busca por uma alimentação alternativa é, sem dúvida, uma realidade nos dias atuais.

Consumidores que buscam novos e saudáveis hábitos alimentares têm nos produtos light e diet

grandes aliados. Os mais jovens procuram os produtos geralmente com preocupações ligadas à

estética corporal e, entre os mais velhos, a procura prende-se à preservação e manutenção da boa

saúde (RORATO et al., 2007). Os produtos com apelo saudável estão recebendo cada vez mais

atenção dos consumidores, sendo que a indústria tem lançado produtos com baixo teor de gordura e

cloreto de sódio.

Os consumidores modernos estão interessados em produtos gostosos e convenientes, mas também

estão preocupados com o valor nutritivo, a segurança e os benefícios que o alimento possa trazer.

Os sorvetes com reduzido teor de gordura tem sido de grande procura. No desenvolvimento de

sorvetes com reduzido teor de gordura, a base gordurosa é substituída parcialmente por substitutos,

permitindo assim que o sorvete mantenha a maioria de suas propriedades sensoriais (ADAPA et al.,

2000; OHMES et al., 1997).

A goma de alfarroba, garrofina ou caroba é um estabilizante proveniente da polpa de alfarroba,

característico da região do Mediterrâneo. Sua aplicação tem a finalidade de melhorar a textura de

determinados alimentos, como bolos e biscoitos, espessarem coberturas para saladas, melhorar as

características de congelamento e fusão de sorvetes, na palatabilidade dos géis de carragena e para

diminuir a dureza e a temperatura de fusão do gel. A farinha de sementes de alfarroba pode ser

utilizada em sorvetes à base de creme, como também em produtos de frutas (ESTABILIZANTES

EM SORVETES, 2016).

O objetivo do presente trabalho foi utilizar o resíduo agroindustrial casca de abacaxi na produção de

farinha para ser usada na fabricação de sorvete com reduzido teor de gordura.

2. MATERIAL E MÉTODOS

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Abacaxis da variedade Smooth Cayenne (Ananas comosus L. Merril) foram adquiridos no comércio

local, lavados, sanitizados e descascados cuidadosamente. O preparo da farinha da casca de abacaxi

foi realizado segundo Garcia et al. (2017). Os ingredientes utilizados na fabricação dos sorvetes

foram adquiridos na cidade de Medianeira, PR, Brasil.

As formulações do sorvete, bem como as análises físico-químicas foram realizadas nos laboratórios

da UTFPR, Câmpus Medianeira, PR, com exceção do teor de lipídios e de proteínas, que foram

determinados no Laboratório Nucleotec, Foz do Iguaçu, PR, Brasil.

Foram elaboradas duas diferentes formulações de sorvete com reduzido teor de gordura, sendo a

padrão (F1) e outra com substituição de 1,95% do creme de leite por farinha de casca de abacaxi

(F2). A Tabela 1 apresenta as duas formulações de sorvete preparadas.

Tabela 1: Formulações dos sorvetes.

Ingredientes F1 F2

Leite em pó desnatado 5,18% 5,18%

Farinha da casca de abacaxi 0,00% 1,95%

Creme de leite 5,18% 3,23%

Sacarose 5,47% 5,47%

Glicose 2,35% 2,35%

Farinha da semente alfarroba 0,78% 0,78%

Aromatizante de abacaxi 0,78% 0,78%

Saborizante de abacaxi 2,06% 2,06%

Leite UHT desnatado 78,19% 78,19%

Para o preparo do sorvete, após a pesagem, realizou-se a mistura dos ingredientes sólidos: leite em

pó desnatado, farinha da casca de abacaxi, goma de alfarroba e açúcar cristal, os quais foram

adicionados ao leite aquecido à temperatura de 40 ºC, sendo homogeneizados previamente à adição

do xarope de glicose de milho. Quando a mistura atingiu 60 °C, adicionou-se o creme de leite,

sendo realizada a pasteurização a 80 °C por 25 segundos. A seguir, a calda foi resfriada até

aproximadamente 5 °C, procedendo à adição do saborizante/aromatizante (abacaxi) e corante

alimentício (amarelo) com posterior homogeneização em liquidificador de aço inox (L58-25,

SIEMSEN, Brusque – SC, Brasil). A calda foi maturada em câmara fria à temperatura de 5 ± 2 °C

por 24 horas.

Após a maturação, a calda foi levada à bateção em sorveteira descontínua (SKYMSEN, Gelopar,

Chapada Araucária – PR, Brasil) a temperatura de -18 °C por 15 min. O sorvete foi acondicionado

em embalagens plásticas de polietileno, previamente higienizadas, e armazenado em freezer vertical

a -10 ± 2 °C (Freezer 290, Consul, São Paulo – SP, Brasil) até o momento da realização das análises

microbiológicas e físico-químicas.

Os sorvetes foram caracterizados com relação à umidade, cinzas, proteínas e lipídios totais, em

triplicata, à cor, em quintuplicata, e ao overrun e derretimento visual.

A cor dos sorvetes foi avaliada em colorímetro (Konica Minolta, Curitiba, Brasil) previamente

calibrado com placa cerâmica branca (x = 0.3188; y = 0.3362 e z = 87.0). Os resultados foram

expressos em valores absolutos L*, a* e b*, sendo que L* representa a luminosidade da amostra e

varia de 0 (escuro) ao 100 (claro), o parâmetro de croma a* varia do verde (valor negativo) ao

vermelho (valor positivo) e o parâmetro de croma b* varia do azul (valor negativo) ao amarelo

(valor positivo). Para a leitura da cor das formulações, os sorvetes foram acomodados em placas de

Petri de maneira a preenchê-las completamente, sem transbordar. Foram, então, realizadas cinco

leituras dos valores de L*, a* e b* em diferentes posições.

A umidade e os teores de cinzas, lipídios totais e proteína bruta foram determinados segundo

metodologia proposta por AOAC (1995): a umidade foi determinada pelo método estático

gravimétrico, em estufa a 105 °C; o teor de cinzas foi determinado em mufla à 550 °C; o teor de

lipídios foi determinado pelo método de Soxhlet utilizando éter de petróleo como solvente; o teor de

proteínas foi determinado pelo método de Kjedhal clássico utilizando sulfato de cobre

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pentahidratado e sulfato de potássio como catalisadores na mineralização e ácido bórico como

solução receptora da amônia na destilação. O fator de correção utilizado foi 6,25.

O overrun foi determinado a partir do volume ocupado por 100 g de amostra (sorvete ou calda) a

partir da Equação 1 (SOLER; VEIGA, 2001):

(1)

Em que: Vsorvete representa o volume, em mL, ocupado por 100 g de sorvete; Vmix representa o

volume, em mL, ocupado por 100 g de calda.

O teste visual de derretimento dos sorvetes foi realizado por meio da observação periódica (5 em 5

min) das amostras (60 g) dispostas em uma placa de Petri, à temperatura de 20 °C por 15 min

(SABATINI et al., 2011).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 2 apresenta os teores de água (bu), cinzas (%), lipídios totais (%) e proteína bruta (%) das

amostras de sorvete e os valores de L*, a* e b* das formulações elaboradas.

Tabela 2: Umidade (bu, %), cinzas (%), lipídios totais (%), proteína bruta (%) e parâmetros de cor

das formulações de sorvete produzidas.

F1 F2

L* 89,51a ± 2,41 78,57

b ± 2,15

a* 9,84a ± 0,23 4,62

b ± 0,28

b* 25,55a ± 1,42 27,21

a ± 1,20

Umidade 75,94a ± 0,57 73,15

b ± 0,38

Cinzas 1,17b ± 0,02 1,31

a ± 0,03

Lípídios Totais 0,45a ± 0,00 0,23

b ± 0,01

Proteína Bruta 4,52b ± 0,10 5,00

a ± 0,05

Média das amostras com diferentes letras sobrescritas na mesma linha, para cada parâmetro, indicam diferença

estatística significativa ao nível de 5% de significância (p < 0,05) de acordo com o teste de Tukey.

O componente L* da cor indica a luminosidade do produto e mostrou que a formulação de sorvete

com adição de farinha de casca de abacaxi foi significativamente (p < 0,05) mais escuro que a

controle, fato relacionado à adição da farinha da casca de abacaxi, que apresentou coloração

marrom (Figura 1).

Figura 1: Aspecto visual da farinha da casca de abacaxi.

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O sorvete formulado com farinha de casca de abacaxi apresentou valor de a* significativamente

maior que a formulação controle, porém, ambos valores foram negativos, indicando coloração

verde. Não foi detectada diferença significativa entre os valores do croma b* das formulações de

sorvete, sendo que ambos foram positivos, mostrando que os sorvetes eram amarelos, fato esperado

já que o corante adicionado apresentava essa coloração.

É possível verificar na Tabela 2 que F1 apresentou umidade significativamente maior (p < 0,05) que

F2, fato possivelmente relacionado à substituição de parte do creme, de elevado teor de umidade (de

60 a 70%), pela farinha, que apresentou umidade abaixo de 20%, contribuindo para a redução no

teor de água.

O teor de cinzas da formulação de sorvete adicionada de farinha da casca de abacaxi (F2) foi

significativamente maior (p < 0,05) que o encontrado em F1. O aumento do teor de cinzas do

sorvete com farinha de casca de abacaxi ocorreu possivelmente devido ao fato deste resíduo ser rica

em minerais conforme relatado por Godim et al., (2005) com 1,03 g de cinzas, 76,44 mg de cálcio,

0,71 mg de ferro, 62,63 mg de sódio, 26,79 mg de magnésio, 0,45 mg de zinco, 0,11 mg de cobre e

285,87 mg de potássio, e consequentemente aumentando o teor de minerais em F2.

Verificou-se que o teor de lipídios totais de F1 foi significativamente maior (p < 0,05) do que o teor

de lipídios totais de F2. Nota-se que F1 apresentou teor de gordura aproximadamente 2 vezes maior

que F2, resultado esperado, devido à substituição parcial do creme de leite pela farinha da casca de

abacaxi. Ainda, o resultado é de grande interesse, devido à crescente busca da população por

alimentos saudáveis, dentre eles, os de reduzido teor de gordura.

Verificou-se que o teor de proteínas de F1 foi significativamente menor (p < 0,05) que o teor de

proteínas de F2. Sabe-se que as proteínas são nutrientes essenciais para a nutrição humana, por

exercerem funções importantes no organismo, como auxiliar na construção de tecidos e na

formação de enzimas e hormônios (FONSECA et al., 2011). Devido ao alto teor de proteínas da

casca de abacaxi, 4,5% segundo Carvalho (2008), é possível que sua adição ao sorvete na forma de

farinha tenha contribuído para elevar o aporte proteico.

Resultados similares aos deste trabalho foram encontrados por Boff et al. (2013) que avaliaram as

características sensoriais e físico-químicas de sorvetes elaborados com fibra de casca de laranja

amarga comercial como substituto da gordura, tendo sido produzidas duas formulações com

concentrações diferentes de fibra (F1 com 0,74% e F2 com 1,10% de fibra) e uma formulação

controle (com gordura animal, leite em pó integral e leite integral). Os autores verificaram que a

formulação controle apresentou menor umidade (aproximadamente 63%), enquanto que as demais

formulações apresentaram umidades de aproximadamente 70%. Também foi verificada redução de

70,4% e 71,4% no teor de gordura nas formulações F1 e F2, respectivamente, em relação ao sorvete

controle. Ainda, a formulação controle apresentou 12,87% de proteínas e esse teor aumentou com a

adição da fibra da casca da laranja para 16,32%, em F1, e 15,38 %, em F2.

Rodrigues et al. (2006) observaram que sorvetes produzidos com substituto de gordura comercial

(soro de leite em pó) obtiveram valores mais baixos de lipídios do que a formulação base (com

gordura), comprovando a redução da quantidade de lipídios ao utilizar um substituto da base

gordurosa.

Com relação ao overrun (%) e a densidade aparente (g/L) na Tabela 3 podem ser observados os

resultados para as duas formulações de sorvete.

Tabela 3: Análise de overrum e densidade aparente (g/L) das formulações de sorvete.

Overrum (%) Densidade Aparente (g/L)

F1 62,5 269,89

F2 45,45 196,48

A quantidade de ar presente no sorvete (overrun) é de suma importância, devido ao seu efeito sobre

a maciez e a leveza do produto (SABATINI et al., 2011), contudo, este parâmetro não é considerado

na legislação brasileira, sendo utilizado para controle da densidade aparente, estipulada no valor

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mínimo de 475 g/L (BRASIL, 2005). No presente estudo, as porcentagens de overrun (incorporação

de ar) encontradas foram de 62,50% para F1 e 45,45% para F2 Segundo Nabeshima et al. (2005), o

limite mínimo de densidade aparente de 475 g/L representa 110% de overrun. Assim, verificou-se

que ambas formulações produzidas apresentaram overrun e densidade aparente abaixo do esperado.

Sabe-se que a redução no teor de gordura pode diminuir a agregação das bolhas de ar e influenciar o

rendimento em sorvetes, como relatado no trabalho de Su (2012). Outro fator de relevância para o

aumento na quantidade de ar incorporado ao sorvete é o tipo de equipamento utilizado na batedura

da calda. No presente trabalho foi utilizada uma sorveteira descontínua na fabricação dos sorvetes, o

que limitou a incorporação de ar nas formulações. Contudo, deve-se considerar que a densidade

aparente e o overrun dos sorvetes, apesar de abaixo dos valores propostos na legislação,

apresentaram valores razoáveis em função das limitações do equipamento.

Sabatini et al. (2011), avaliaram a viabilidade de utilização da alfarroba na elaboração e

aceitabilidade de sorvete de alfarroba. Os autores encontraram percentual de overrun de 25,92%,

inferior aos resultados encontrados para os sorvetes produzidos no presente trabalho, e abaixo do

estabelecido pela legislação (BRASIL, 2005).

A Figura 2 apresenta o teste de derretimento visual realizado durante 15 min para ambas

formulações de sorvete.

Figura 2: Teste de derretimento visual das amostras de sorvete realizado em intervalos de 5 min

durante 15 min.

Do ponto de vista físico, o sorvete é um sistema multifásico complexo, no qual bolhas de ar,

glóbulos de gordura parcialmente coalescidos e cristais de gelo estão dispersos em uma solução

viscosa (KOXHOLT et al., 2001). Esses elementos formam uma rede tridimensional responsável

pela estrutura do sorvete (BOLLIGER et al., 2000). Durante o derretimento, dois eventos principais

acontecem: o derretimento dos cristais de gelo e o colapso da estrutura espumosa lipídica

estabilizada (GOFF, 2016). O fenômeno do derretimento é governado por vários fatores, dentre eles

a taxa de incorporação de ar ou overrun (SOFJAN; HARTEL, 2004), as interações lipídicas e a

cristalização da gordura (GRANGER et al., 2005), tipo e concentração de emulsificante

(BOLLIGER et al., 2000), além do diâmetro dos glóbulos de gordura (KOXHOLT et al., 2001).

O registro visual das formulações durante o derretimento fornece subsídios para acompanhar o

colapso da estrutura. Observou-se que F1 manteve sua estrutura e forma por mais tempo, quando

comparado ao sorvete adicionado de farinha (F2). Esse fato possivelmente está relacionado ao

menor teor de gordura da formulação adicionada de farinha de casca de abacaxi quando comparada

à formulação controle, o que contribui para retardar o derretimento do produto, pois, a gordura

auxilia na formação da matriz complexa do sorvete. Outro fator que pode ser considerado é a

formação de cristais de gelo em maiores proporções devido à adição da farinha de abacaxi, o que

reforça a implementação de outras análises como a microscopia eletrônica de varredura com o

propósito de identificar a estrutura dos sorvetes. Dessa forma é de se esperar que formulações de

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menor teor lipídico apresentem derretimento mais rápido que aquelas cujo teor lipídico é mais

elevado.

O sorvete padrão (F1) praticamente não derreteu após os 15 minutos de observação visual, enquanto

que F2 apresentou derretimento coagulado após esse período, indicando a presença de partículas

coaguladas de tamanho inferior. Segundo Soler & Veiga (2001), esse tipo de derretimento é

causado pelo desbalanceamento no teor de sais (teor mais alto de cálcio e magnésio em relação ao

de fosfatos e citratos). É possível que a adição da farinha de casca de abacaxi tenha contribuído para

esse desbalanceamento, devido à grande quantidade de cinzas, resultando na diferença verificada

durante o derretimento visual das formulações de sorvete produzidas.

4. CONCLUSÕES

Os resultados apontaram ser possível produzir sorvete com teor reduzido de gordura aproveitando

um resíduo agroindustrial, a casca de abacaxi, a qual possui alto teor de nutrientes e é de baixo

custo.

A formulação de sorvete adicionada da casca de abacaxi apresentou teor de lipídios totais cerca de 2

vezes menor que a formulação padrão, além de apresentar maior teor de proteínas e minerais. A

densidade aparente e o overrun das formulações de sorvete de abacaxi produzidas foram abaixo do

valor preconizado pela legislação, possivelmente devido ao teor reduzido de lipídios das

formulações e às limitações do equipamento utilizado na batedura da calda. O sorvete acrescido de

farinha de casca de abacaxi apresentou-se mais escuro que a formulação padrão.

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ATIVIDADE PROTEOLÍTICA DO MÚSCULO Biceps femoris DE BOVINOS

DA RAÇA NELORE TRATADO COM ULTRASSOM

Alexia Francielli Schuch1; Rosana Aparecida da Silva-Buzanello

2; Fernanda Salbego Colombari-

Almeida3, Denise Pastore de Lima

4; Cristiane Canan

5

RESUMO

O ultrassom apresenta-se como tecnologia emergente para o amaciamento de carnes, resultado de

mudanças estruturais e bioquímicas que ocorrem nos tecidos. Assim, o objetivo deste estudo foi

avaliar o efeito do ultrassom na atividade proteolítica e maciez da carne bovina pelas determinações

de cálcio sarcoplasmático (CS), índice de fragmentação miofibrilar (IFM) e força de cisalhamento

(FC). As amostras provenientes de músculo Biceps femoris foram coletadas 24 h post-mortem em

triplicata, padronizadas quanto altura x largura x comprimento (2 x 5 x 6 cm) e peso (~ 60 g) e

embaladas à vácuo. As amostras foram sonicadas em banho de ultrassom (frequência: 80 kHz;

intensidade: 22,6 W cm-2

) por 120 s. Amostras não sonicadas foram armazenadas como controle. O

teor de CS e do IFM —medida indireta do sistema calpaína— foram determinados por

espectrometria de absorção atômica de chama e espectrometria UV-Vis, respectivamente. A FC foi

determinada nas amostras cozidas em texturômetro. O teor de CS foi superior (p ≤ 0,05) em

amostras sonicadas do que no controle, demonstrando que a sonicação resultou na ruptura do tecido

muscular provocando liberação de cálcio no sarcoplasma. Uma redução da FC foi observada em

amostras sonicadas comparadas às controle, indicando aumento da maciez da carne. Contudo, o

IFM não diferiu entre os tratamentos, sugerindo que a maciez da carne foi obtida por outros

mecanismos proteolíticos que não os resultantes do sistema calpaína. O tratamento de ultrassom

____________________ 1 Alexia Francielli Schuch – Acadêmica do Mestrado em Tecnologia de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Tecnologia de Alimentos (PPGTA) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 2 Rosana Aparecida da Silva-Buzanello – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos – Universidade Estadual

de Londrina, [email protected] 3 Fernanda Salbego Colombari-Almeida – Mestre em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Denise Pastore de Lima – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira – [email protected] 5 Cristiane Canan – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira – [email protected]

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afetou a atividade proteolítica do músculo Biceps femoris bovino resultando em um aumento da

maciez da carne.

Palavras-chave: Teor de Cálcio Sarcoplasmático; Índice de Fragmentação Miofibrilar; Força de

Cisalhamento.

1. INTRODUÇÃO

A maciez apresentada pela carne é influencia por diversos fatores, sendo estes, decorrentes da

composição, bem como, do teor de tecido conjuntivo, gordura entremeada, componentes proteicos

miofibrilares, grau de contração miofibrilar, localização do músculo na carcaça e método de

cozimento (LAWRIE; LEDWARD, 2006). Portanto, melhorar a maciez do músculo Biceps femoris

é em particular um grande desafio, devido ao seu alto teor de tecido conjuntivo (PIETRASIK;

SHAND, 2010).

Diferentes métodos vêm sendo estudados visando a melhoria da textura da carne. A injeção de

cloreto de cálcio (PAZOS et al., 2002), a suspensão pelo tendão de Aquiles ou suspensão da carcaça

pelo osso pélvico durante o resfriamento (AHNSTRÖM et al., 2012), a estimulação elétrica

utilizada nas carcaças antes do resfriamento pós-abate, o uso de enzimas proteolíticas, a utilização

de alta pressão (SIKES et al., 2014), a aplicação de ondas ultrassônicas (STADNIK;

DOLATOWSKI, 2011; SIKES et al., 2014; CHANG et al., 2015) e o uso combinado de ondas

ultrassônicas e enzimas (BAREKAT; SOLTANIZADEH, 2017) são algumas das tecnologias

estudadas.

O ultrassom é uma tecnologia emergente que tem sido aplicada no processamento de alimentos

(KNORR et al., 2011; AWAD et al., 2012; ALARCÓN-ROJO et al., 2015). Em carnes, o

amaciamento pela aplicação de ultrassom é obtido em virtude do seu modo de ação combinado que

baseia-se na ruptura física dos tecidos resultante do processo de cavitação (JAYASOORIYA et al.,

2004), liberação e ativação de enzimas proteolíticas (RONCALES et al. 1993) e consequente

alteração do metabolismo pré-rigor da carne pela liberação de cálcio (GOT et al., 1999). Assim, a

avaliação dos parâmetros físico-químicos e bioquímicos responsáveis por estas modificações

proteolíticas são essenciais para a avaliação do efeito da aplicação do ultrassom na carne.

Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do ultrassom na atividade proteolítica da carne

bovina mediante determinação do teor de cálcio sarcoplasmático, índice de fragmentação

miofibrilar e força de cisalhamento.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Amostragem

Neste estudo foi utilizado um músculo bovino Biceps femoris (coxão duro) de aproximadamente 5,5

kg, obtido de meia carcaça direita de bovino da raça Nelore, com idade de 24 meses (~ 550 kg),

abatido de acordo com normas e procedimentos oficiais (BRASIL, 1997; BRASIL, 2000). As

amostras foram coletadas do músculo 24 h post-mortem, em triplicata, e foram padronizadas quanto

à altura x largura x comprimento (2 x 5 x 6 cm) e peso (aproximadamente 60 g). Posteriormente, as

amostras foram embaladas a vácuo (Microvac CV8, Selovac) em sacos de polietileno e

armazenadas entre 0 a 2 ºC por 1 h para estabilização da temperatura para posterior aplicação do

ultrassom.

2.2. Tratamento com ultrassom

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As amostras foram sonicadas em um banho de ultrassom (Elmasonic P 120H, Singen, Alemanha),

utilizando os parâmetros de frequência: 80 kHz, intensidade: 22,6 W cm-2

e tempo: 120 s. Estes

parâmetros foram definidos com base em estudos preliminares (dados não mostrados). Neste

tratamento, a maior área superficial das amostras foi mantida em contato com o fundo do banho de

ultrassom e na metade do tempo de sonicação, a porção da amostra que estava em contato com o

fundo do banho foi invertida, de modo que o tratamento atingisse uniformemente os dois lados do

corte. O banho de ultrassom foi mantido a 10 °C durante todo o tratamento com a adição de gelo.

Amostras sem aplicação de ultrassom foram armazenadas como controle.

As determinações analíticas foram conduzidas em triplicata e realizadas 24 h após a sonicação.

2.3. Determinação do teor de cálcio sarcoplasmático

Para extração do cálcio sarcoplasmático, as amostras de carne bovina tratadas e controle foram

cortadas em porções de 10 g e, sem seguida, suspensas em 25 mL de solução de KCl 150 mmol L-1

(CHEAH; CHEAH; WARING, 1986). A homogeneização das suspensões obtidas foi realizada por

2 min, seguida de centrifugação a 6000 rpm por 4 min. O sobrenadante resultante da centrifugação

foi transferido para outro recipiente e submetido a centrifugação a 26000 g por 4 min. A alíquota de

1 mL do sobrenadante obtido foi transferida à 4 mL de uma solução de lantânio 0,5%. A

determinação do teor de cálcio sarcoplasmático foi realizada em espectrofotômetro de absorção

atômica de chama a 422,7 nm (Varian, AA240FS, EUA) usando carbonato de cálcio como padrão.

2.4. Determinação do índice de fragmentação miofibrilar (IFM)

Porções de 4 g das amostras de carne bovina congeladas e livres de tecido conectivo foram picadas

e homogeneizadas com 20 mL de solução tampão IFM fria (KCl 100 mmol L-1

, KH2PO4 20 mmol

L-1

, EDTA 1 mmol L-1

, MgCl2 1 mmol L-1

e NaN3 1 mmol L-1

) pH 7,0 por 1 min. Após, foram

centrifugadas a 6000 rpm por 25 min a 2 °C, sendo o sobrenadante obtido coletado e estocado em

banho de gelo. O sedimento obtido foi ressuspendido em 20 mL de tampão IFM frio e novamente

centrifugado a 6000 g por 25 min a 2 °C, sendo que o novo sobrenadante obtido foi coletado e

adicionado ao primeiro. O sedimento foi ressuspendido em 10 mL de tampão IFM frio e, após

homogeneização, foi filtrado e a suspensão filtrada adicionada aos sobrenadantes coletados

incialmente. A suspensão de miofibrilas obtida teve sua concentração proteica determinada pelo

método de Biureto. Alíquotas das suspensões de miofibrilas com contrações finais de 0,5 mg mL-1

de proteína tiveram sua absorbância determinada a 540 nm em espectrofotômetro ultravioleta-

visível (Perkin Elmer, Lambda XLS Beaconsfield, Reino Unido). O IFM foi expresso como A540 nm

x 200 (CULLER et al., 1978).

2.5. Medida da força de cisalhamento

As amostras foram cozidas em forno elétrico convencional até atingir a temperatura interna de 80

°C. A maciez das amostras foi mensurada pela medida da força de cisalhamento, utilizando um

Texturômetro Universal TATX-2i, equipado com lâmina Warner Bratzler. As amostras foram

cortadas (1 × 1 × 2 cm) no sentido longitudinal das fibras musculares e cortadas com a lâmina

Warner Bratzler no sentido transversal das fibras musculares. Os resultados foram expressos pela

força em Newton (N) necessária para o corte das amostras. A célula de carga utilizada foi de 100

kg.

2.6. Análise estatística

Para avaliação dos dados obtidos utilizou-se análise de variância (ANOVA) e teste t de Student para

comparação de médias, considerando um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05).

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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores de teor de cálcio sarcoplasmático, índice de fragmentação miofibrilar (IFM) e força de

cisalhamento (FC) são apresentados na Tabela 1. As amostras sonicadas e controle diferiram em

relação às medidas de teor de cálcio sarcoplasmático e FC (p ≤ 0,05), não havendo diferença quanto

ao IFM (p > 0,05).

Tabela 1: Teor de cálcio sarcoplasmático, índice de fragmentação miofibrilar e força de

cisalhamento de amostras de carne bovina submetidas à sonicação e controle (sem ultrassom).

Determinações

analíticas

Amostras p-valor

Controle Sonicadas

Ca2+

(µg g-1

) 5,5 ± 0,3 6,9 ± 0,4 0,0012*

IFM 68,8 ± 1.1 70,47 ± 2,1 0,2915

FC (N) 68,7 ± 1,2 63,8 ± 0,7 0,0035* Médias ± desvio padrão.

FC: força de cisalhamento; Ca2+

: teor de cálcio sarcoplasmático; IFM: índice de fragmentação miofibrilar.

*Diferença significativa entre as médias pelo teste t de Student (p ≤ 0,05).

Amostras de carne bovina sonicadas apresentaram maior teor de cálcio sarcoplasmático (p ≤ 0,05)

do que as amostras controle. Estes resultados corroboram com o reportado por Got et al. (1999) em

seu estudo de aplicação de ultrassom no músculo Semimembranosus, onde amostras controle

apresentaram valores de cálcio sarcoplasmático inferiores aos das amostras tratadas com ultrassom

(2.6 MHz; 10 W cm-2

; 30 s). O processo de ruptura física do tecido muscular tem sido relacionado à

cavitação resultante da aplicação do ultrassom, o que contribui para a maior liberação de cálcio no

sarcoplasma (WARNER et al., 2017), justificando os resultados obtidos no presente estudo.

Apesar do aumento do teor de cálcio sarcoplasmático da carne ter sido observado pela aplicação do

ultrassom e, que este é capaz de influenciar na ativação das enzimas do sistema calpaína

(KOOHMARAIE, 1992), observou-se que a atividade destas enzimas —medida indiretamente pelo

IFM— não foram afetadas pelo tratamento com ultrassom. Contudo, a força necessária para romper

a carne bovina —medida pela FC— foi superior (p ≤ 0,05) em amostras controle do que aquelas

tratadas com ultrassom, indicando que a sonicação resultou em um aumento na maciez da carne

bovina. Este aumento da maciez da carne pode ser explicado por outros modos de ação do

ultrassom, além da proteólise da estrutura do tecido muscular esquelético resultante da ação do

sistema calpaína. O processo de fragmentação do colágeno presente no tecido conjuntivo pode ser

favorecido pela aplicação de ultrassom e consequentemente afetar o amaciamento da carne

(MISRA; CULLEN; TIWARIMISRA, 2017), sendo que este tipo de fragmentação não pode ser

identificado pelo IFM. O músculo Biceps femoris é um corte rico em tecido conjuntivo, o que

corrobora com o discutido acima.

4. CONCLUSÕES

A aplicação de ultrassom afetou a atividade proteolítica do músculo Biceps femoris bovino da raça

Nelore resultando em um aumento da maciez da carne.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES, CNPq e Fundação Araucária pelo suporte financeiro e concessão

de bolsas de estudos.

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BARRA DE CEREAIS COM ADIÇÃO DE FARINHA DE TEMPEH:

ACEITAÇÃO SENSORIAL E MAPA DE PREFERÊNCIA INTERNO

Priscila Falcão Melo1; Daneysa Lahis Kalschne

2; Rosana Aparecida da Silva-Buzanello

3; Rafael

Sprea4; Marinês Paula Corso

5; Cristiane Canan

6

RESUMO

O tempeh é um alimento produzido pela fermentação da soja com o fungo Rhizophus oligosporus

capaz de promover efeitos benéficos na saúde. Entretanto, não é muito conhecido e consumido no

Brasil. O objetivo do presente trabalho foi produzir formulações de barra de cereais adicionadas de

farinha de tempeh (FT) e avaliar a aceitação pelo teste de escala hedônica e mapa de preferência

interno. Grãos de soja orgânica foram empregados no preparo do tempeh, que foi liofilizado e

moído para a obtenção da FT, essa foi adicionada nas formulações em proporções e 10, 15 e 20%,

sendo que uma formulação foi mantida como controle. Os atributos de cor, aparência, textura, sabor

e impressão global foram avaliados pela escala hedônica híbrida de 10 cm. Um mapa de preferência

foi gerado considerando os dados da impressão global. A barra de cereais controle foi a preferida,

mas as barras com adição de 10% e 15% de FT tiveram notas superiores a 5,5 para todos os

atributos, indicando aceitação. No mapa de preferência a amostra controle foi locada separadamente

das amostras contendo FT, com um grupo maior de provadores que a preferiu. Contudo, um grupo

menor e específico (23% dos consumidores) preferiu as amostras que continham FT. A produção e

comercialização de uma barra de cereais com adição de FT entre 10 e 15% apresenta-se como

opção com aceitação por um grupo específico de consumidores.

Palavras-chave: Análise sensorial; Consumidores; Escala hedônica; Soja.

_______________________ 1 Priscila Falcão Melo – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Daneysa Lahis Kalschne – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 3 Rosana Aparecida da Silva-Buzanello – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-

Graduação de Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 4 Rafael Sprea – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Marinês Paula Corso – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 6 Cristiane Canan – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O tempeh é um alimento típico da Indonésia, utilizado como complemento ou substituinte de baixo

custo da proteína da carne. É obtido a partir da fermentação dos grãos da soja com o microrganismo

Rhizophus oligosporus. É um produto com baixo teor de sódio, fonte de proteínas, com elevadas

concentrações de ácidos graxos essenciais e vitaminas do complexo B. Além disso, possui

componentes bioativos capazes de promover a saúde, destacando-se o conteúdo de isoflavonas e a

atividade antioxidante (BABU; BHAKYARAJ; VIDHYALASHMI, 2009; CHANG et al., 2009). A

produção do tempeh é relativamente simples e rápida, podendo ser considerada um processo

fermentativo em estado sólido. As fases essenciais na preparação do tempeh incluem descasque,

cozimento, inoculação e fermentação (CRUZ, 2014).

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja com uma safra estimada em 113,9 mil ton em

2017 (CONAB, 2017). Entretanto, a soja no país é empregada principalmente na produção de óleo

vegetal e rações para alimentação animal, e em menor proporção na produção de biodiesel e na

indústria química (APROSOJA, 2017; KOHLHEPP, 2010). Apesar da grande oferta da matéria

prima para a produção do tempeh, esse alimento não é muito conhecido e consumido no país. Como

alternativa para potencializar o consumo, a adição em um alimento amplamente consumido pode ser

uma opção para popularizar o consumo e garantir os efeitos benéficos na saúde promovidos pelo

tempeh.

As barras de cereais compreendem uma categoria de alimentos saudáveis, com estimativas

crescentes de consumo e que conquistaram os consumidores (NIELSEN, 2016; SOUZA, 2014).

Logo a incorporação do tempeh na barra de cereais, já reconhecida como um alimento saudável

(DEGASPARI; MOTTIN; BLINDER, 2009), é uma opção interessante para popularizar seu

consumo.

A análise sensorial é uma ciência que envolve a participação de indivíduos aptos para analisar as

características de um produto para um determinado fim, como por exemplo alimentos que contém

ingredientes diferenciados e que caracterizam um novo produto (TEIXEIRA, 2009). Existem

diversos testes sensoriais, sendo que o de uso mais comum e difundido é a escala hedônica, a qual

possibilita a avaliação do grau de gostar ou desgostar de um atributo em específico ou de forma

global (DUTCOSKY, 2013; LAWLESS; HEYMANN, 2010; IAL, 2005).

O objetivo desse trabalho foi produzir formulações de barra de cereais adicionadas de farinha de

tempeh e avaliar a aceitação pelo teste de escala hedônica e mapa de preferência interno.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Produção do tempeh e farinha de tempeh

O tempeh foi obtido de cotilédones de soja orgânica hidratados (1:10; w/w) por 18 h a temperatura

ambiente, descascados e cozidos por 45 min com 1,5 L de água adicionada de 12,5 g de vinagre

branco. Na sequência os grãos foram drenados, secos, resfriados até 25 °C e inoculados com

Rhizopus oligosporus (100:0,7; p/p). Foram dispostos em uma embalagem de polipropileno

perfurada e incubados na temperatura de 30 °C por 40 h em estufa (Quimis, modelo Q313M, São

Paulo, Brasil), na qual foram dispostos recipientes contendo água para aumentar a umidade do

ambiente ( 60%).

A farinha de tempeh (FT) foi produzida a partir da liofilização do tempeh por 24 h com temperatura

de aquecimento de 40 ºC e pressão menor que 0,5 mbar (Labconco, FreeZone 6L, Kansas, EUA)

seguida do processo de moagem em moinho de facas (modelo SL31, Solab, Piracicaba).

2.2 Preparo das barras de cereais

Três formulações contendo FT foram produzidas, sendo que essa substituiu totalmente a aveia em

flocos e parcialmente a granola. Uma amostra sem adição de FT foi mantida como controle. As

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barras de cereais foram produzidas a partir da mistura dos ingredientes indicados na Tabela 1,

seguido do molde em uma forma de inox (20 mm X 20 mm X 10 mm) e armazenamento em

geladeira (5 a 8 °C) por no mínimo 4 h.

Tabela 1: Formulações de barras de cereais.

Ingredientes (%) Controle 10% 15% 20%

Castanha (picada) 7,32 7,32 7,32 7,32

Damasco (picado) 9,15 9,15 9,15 9,15

Farinha de tempeh 0,00 10,07 15,01 20,05

Maltodextrina 12,82 12,82 12,82 12,82

Granola 13,73 17,39 12,45 7,41

Flocos de arroz 14,65 14,65 14,65 14,65

Xarope de glicose 28,38 28,38 28,38 28,38

Essência de laranja 0,22 0,22 0,22 0,22

Aveia em flocos 13,73 0,00 0,00 0,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

2.3 Condução dos testes sensoriais

Os testes sensoriais foram autorizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Educação

Integrado - Campo Mourão (CAAE: 64104117.4.0000.0092; Parecer: 1902699). Os 135

consumidores participantes foram previamente informados sobre a análise sensorial e responderam

a um questionário sócio-demográfico e sobre hábitos de consumo.

Os testes sensoriais foram conduzidos no Laboratório de Análise Sensorial da UTFPR- Câmpus

Medianeira em cabines individuais sob luz branca. As barras de cereais ( 15 g cada) foram

servidas em copos transparentes (50 mL) codificados com três dígitos aleatórios e randomizados.

Os consumidores foram orientados a limpar o palato com água antes e entre as avaliações das

amostras. A escala hedônica híbrida de 10 cm ancorada com os termos (0 = desgostei

extremamente, 5 = nem gostei/nem desgostei, 10 = gostei extremamente) (VILLANUEVA;

PETENATE; SILVA, 2005) foi utilizada para avaliar a aceitação dos atributos cor, aparência,

textura, sabor e impressão global. As amostras foram apresentadas de forma monádica seguindo-se

um delineamento experimental em blocos balanceados e casualizados.

2.4 Análise estatística

Os dados foram analisados por ANOVA (considerando as amostras e os consumidores como fonte

de variação) e teste de Tukey (p ≤ 0.05) utilizando o programa Statistica 8.0 (STATSOFT, 2007). O

mapa de preferência interno foi gerado com uso da escala multidimensional e analise de cluster

empregando o programa Senstools versão 2.3.28 (OP & P PRODUCT RESEARCH, 1998).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da equipe

A equipe de provadores (72 mulheres e 63 homens) tinha idade predominante entre 18 e 25 anos

(88%) e a maioria tinha ensino médio completo (91%). Eram estudantes (76%) e profissionais

assalariados, liberais ou funcionários públicos (24%), em sua maioria consumidores de barra de

cereais (75% consumiam ocasionalmente, 18% consumiam uma vez ou mais na semana, enquanto

7% não consumiam). Quando questionados sobre o consumo de produtos funcionais, 36%

afirmaram consumir ocasionalmente, 25% de 1 a 3 vezes na semana, 15% diariamente e 24%

afirmaram não consumir. Dentre os alimentos funcionais mais consumidos destacaram-se os cereais

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(56%, sendo que 31% indicaram a granola e 31% a aveia), iogurte (17%), frutas e verduras (16%) e

outros (11%). Quando questionados do consumo de produtos de soja, 44% indicaram nunca

consumir, 38% afirmaram consumir ocasionalmente e 19% 1 vez na semana ou mais. Dentre os

derivados da soja mais indicados, destacaram-se o leite ou suco de soja (41%), azeite (29%),

proteína texturizada (14%), shoyo (7%) e outros (10%). Em relação ao tempeh, 83% afirmaram não

conhecer o produto, 13% já ouviram falar e 4% já consumiram.

3.2 Aceitação sensorial

A barra controle foi a mais aceita, entretanto entre as que tiveram adição de 10% e 15% de FT não

houve diferença, indicando a possibilidade da adição de 15% (Tabela 2). Em relação as barras de

cereais com 15% e 20% de adição de farinha de tempeh também não houve diferença, mas a barra

de cereais com 20% teve aceitação inferior à barra que continha 10% de FT. No caso dos atributos

cor, aparência, sabor e impressão global das barras com tempeh o desvio padrão foi maior em

comparação à barra padrão. Isso indica que na aceitação da barra controle houve maior consenso

entre os consumidores e, no caso a grande maioria gostaram. Entretanto, dentre as barras de cereais

com adição da FT, as com adição de 10% e 15% e são ambas formulações interessantes do ponto de

vista da aceitação sensorial.

Tabela 2: Aceitação sensorial das barras de cereais.

Amostras Cor Aparência Textura Sabor Impressão global

Controle 7,6a ± 1,9 7,6

a ± 2,0 7,3

a ± 2,0 8,1

a ± 1,8 7,6

a ± 1,6

10% 6,9b

± 2,1 6,7b

± 2,2 7,0ab

± 2,1 5,8b

± 2,6 6,3b

± 2,1

15% 6,5bc

± 2,1 6,4bc

± 2,2 6,8b

± 2,0 5,5bc

± 2,5 5,9bc

± 2,1

20% 6,1c ± 2,2 5,9

c ± 2,2 6,2

c ± 2,1 5,1

c ± 2,6 5,6

c ± 2,1

Média ± desvio padrão (n = 135); escala hedônica: 0 = desgostei extremamente, 5 =não gestei/nem desgostei, 10 =

gostei extremamente; letras sobrescritas diferentes nas colunas indicam diferença significativa (p ≤ 0.05).

O tempeh é um derivado da soja com conteúdo considerável de isoflavonas (BORGES et al., 2016),

as quais são reconhecidas pelo sabor amargo (SILVA et al., 2010; ARAÚJO et al., 1997) que

conferem aos alimentos. Quando solicitados sobre os atributos menos apreciados para a amostra

contendo 10% de FT 36,7% dos provadores indicaram o sabor e, mais 15,1% indicaram

especificamente o sabor amargo. Na amostra contendo 15% de FT 36,9% indicaram o sabor e

17,4% o sabor amargo. Na amostra com 20%, um total de 40,8% não apreciou o sabor. Segundo os

consumidores de barra de cereais o sabor é um dos atributos que mais influencia a escolha do

produto no momento da compra (DEGASPARI; MOTTIN; BLINDER, 2009).

Em barras de cereais proteicas, adicionadas de proteína texturizada de soja e polpa de camu-camu

desidratado foi obtido boa aceitação sensorial, e conforme os autores a cor e a aparência foram os

atributos mais aceitos, seguidos da textura e sabor (PEUCKERT et al., VIERA et al., 2010). De

forma similar, em barras de cereais com alto teor proteico e vitamínico a base de proteína de soja

texturizada, gérmen de trigo e aveia, enriquecida de ácido ascórbico e acetato de α-tocoferol, e

saborizadas com banana foram obtidas médias de aceitação equivalentes as obtidas no presente

estudo, apesar dos autores terem aplicado a escala hedônica de 9 pontos (FREITAS; MORETTI,

2006).

3.3 Mapa de preferência interno

A avaliação dos resultados individuais pelo mapa de preferência interno permitiu verificar a

segmentação de consumidores. Uma solução bi-dimensional foi responsável por 81% da variância

explicada para a impressão global (Figura 1).

A dimensão 1 discriminou a barra de cereais controle das demais barras de cereais com adição de

tempeh, sendo que a primeira foi locada separadamente no lado esquerdo do mapa de preferência

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Barra padrão

Barra 10% tempeh

Barra 15% tempeh

Barra 20% tempeh

Dimensão 1

Dim

ensã

o 2

interno, enquanto as demais foram locadas no lado direito (Figura 1). Independente da menor nota

para impressão global das barras com FT (Tabela 2), um grupo menor e especifico de consumidores

as prefere (correspondente a 23% dos consumidores; grupo 2: 14 consumidores, grupo 3: 9

consumidores e grupo 4: 8 consumidores) (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Preferência Interno das barras de cereais.

Configuração das amostras () e dos consumidores ( grupo 1, 104 consumidores; grupo 2, 14

consumidores; grupo 3, 9 consumidores; grupo 4, 8 consumidores).

4. CONCLUSÕES

A barra de cereais controle foi a preferida, enquanto que as barras com adição de 10% e 15% de FT

tiveram notas sensoriais similares entre sim inferiores a barra controle, mas superiores a 5,5 para

todos os atributos, indicando aceitação. No mapa de preferência interno a amostra controle teve um

grupo maior de provadores que a preferiu, entretanto um grupo menor e específico, correspondendo

a 23% dos consumidores, mostrou preferência pelas amostras que continham a FT. A produção e

comercialização de uma barra de cereais com adição de FT entre 10 e 15% apresenta-se como

opção com aceitação por um grupo específico de consumidores.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte financeiro e bolsas de estudo concedidos pelos órgãos CAPES,

CNPq e Fundação Araucária.

REFERÊNCIAS

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CARACTERIZAÇÃO BROMATOLÓGICA DE FARINHAS DE TRIGO E DE

MILHO

Julia Thayna Tavares Teodoro1; Éder Lisandro de Moraes Flores

2; Elciane Regina Zanatta

3

RESUMO

O Brasil é um grande produtor e consumidor de farinhas de trigo e milho. Toda produção é voltada

para a fabricação de produtos derivados destas farinhas e para a produção de insumos, além de

servir para o consumo doméstico da população. Diante da importância destes alimentos, é preciso

que os moinhos sigam à risca as legislações referentes às informações e conteúdos nutricionais, que

devem estar de acordo com a quantificação de macronutrientes. O objetivo deste estudo foi analisar

os teores de umidade, fibra total, lipídeos, proteínas, acidez, cinzas e carboidratos presentes em

farinha de trigo e farinha de milho, comparando os resultados obtidos com os valores expressos nos

rótulos. Para todas as análises quantitativas, ambas as amostras se encontraram dentro dos limites

esperados. Em relação ao conteúdo expresso em seus rótulos, também não foram encontradas

irregularidades, indicando que as legislações legais vigentes estão sendo seguidas corretamente.

Palavras-chave: Controle de Qualidade; Composição centesimal; Rotulagem.

______________________________ 1 Julia Thayná Tavares Teodoro – Acadêmica do Curso de Tecnologia em Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Éder Lisandro de Moraes Flore – Departamento Acadêmico de Química – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3 Elciane Regina Zanatta – Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Câmpus Medianeira, [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O milho e o trigo são cereais com grande produção no Brasil. De toda a produção de milho do mês

de março de 2017 no país, apenas 1,8 mil toneladas foram voltadas para o consumo interno,

enquanto exportaram-se 30 mil toneladas do grão (ABIMILHO, 2017). Já o consumo do trigo no

país é mais elevado: a projeção do ano de 2016 do grão foi de um pouco mais de 11 mil toneladas,

enquanto que a procura pela farinha foi de 8,2 mil de toneladas no país (ABITRIGO, 2015).

Sendo o Brasil rico em produção de grãos, consequentemente, também é nos produtos derivados

dos mesmos. Grande parte da produção de milho e trigo é voltada para a fabricação de farinhas.

Segundo a Resolução CNNPA nº12 de 1978, a farinha de trigo é proveniente do grão Triticum

vulgares, enquanto que a farinha de milho é obtida a partir do grão Zea mays. O produto

denominado ―farinha‖ pode ser compreendido como sendo um ―produto obtido a partir da moagem

de partes comestíveis de vegetais, podendo sofrer processos tecnológicos adequados‖.

Segundo dados da Abitrigo (2015), da fabricação de farinha de trigo voltada para o consumo

interno, 56% são destinados para a fabricação de produtos de panificação, como pães e bolos, 15%

para a fabricação de macarrão, 10% para bolachas, 10% para uso doméstico e 9% para demais

segmentos. Já a produção de milho, de acordo com a Abimilho (2017), é voltada principalmente

para a fabricação de farinhas de milho, fubá e canjica, sendo que são utilizadas, principalmente,

para a fabricação de alimentos como a polenta e cuscuz, e ainda insumos voltados para a indústria.

A caracterização da composição centesimal em alimentos é um importante indicador de qualidade e

padronização de processos e matérias-primas (ANVISA, 2008). No Brasil, a RDC nº 360, de 23 de

dezembro de 2003 é responsável por determinar que todas as empresas de cunho alimentício

forneçam em suas embalagens informações nutricionais, a fim de evitar fraudes e garantir uma

melhor transparência ao consumidor.

Este trabalho tem como objetivo caracterizar as composições centesimais de farinhas de trigo e

milho produzidas e comercializadas na cidade de Medianeira, Paraná e região, a fim de analisar se a

legislação legal vigente brasileira está sendo seguida corretamente. Os valores encontrados são

comparados com os expressos na tabela nutricional, bem como com a legislação, quando aplicável.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização deste estudo, foram coletadas duas amostras, sendo uma amostra de farinha de

trigo e uma de farinha milho, ambas de uso doméstico, do Tipo 1, em supermercados localizados na

cidade de Medianeira, no Paraná. Foi realizada uma análise das informações contidas nas

embalagens de cada amostra, levando em consideração o conteúdo da tabela nutricional, indicação

da presença de glúten e alergênicos e, ainda, a fortificação com ferro e ácido fólico. Para cada

fabricante, foi analisado, em triplicata, os teores de umidade, fibra total, lipídeos, proteínas, acidez,

cinzas e carboidratos, conforme as metodologias descritas pelo Instituto Adolf Lutz (2008). A

umidade foi determinada a partir da evaporação da água da amostra por meio de secagem a 130º em

estufa, por aproximadamente 1 hora, a partir do cálculo da diferença entre o peso inicial da amostra

e a quantidade de água perdida. A determinação da quantidade de cinzas ocorreu por meio da

carbonização, seguida de incineração da matéria orgânica em forno mufla a 550º C e resfriamento

em dessecador, resultando na quantidade de minerais. A acidez foi determinada pelo método álcool-

solúvel, realizando uma titulação com hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 N, neutralizando o ácido da

amostra. Os lipídeos foram determinados pelo método de Extração direta em Soxhlet, utilizando

como solvente éter de petróleo, com extração continua por 8 horas, levado à estufa por 1 hora e

resfriado em dessecador. As proteínas, por sua vez, foram quantificadas pelo método de Kjeldahl,

que se baseia na quantidade de nitrogênio proteico da matéria orgânica. A quantidade de fibras

alimentares foi determinada pelo método enzimático-gravimétrico, que consiste no tratamento da

amostra com enzimas. Para o teor de carboidratos, a sua quantificação foi feita através do cálculo da

diferença da soma da umidade, fibras, lipídeos, proteínas e cinzas. Todas as análises ocorreram no

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Laboratório de Análise de Alimentos, localizado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná,

câmpus Medianeira.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A composição centesimal da farinha de trigo e da farinha de milho produzidas e comercializadas na

cidade de Medianeira, Paraná são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Composição centesimal obtida experimentalmente e valores declarados nos rótulos, para

a cada 50g de amostra.

Amostra Composição centesimal obtida Composição centesimal

Legislação experimentalmente declarada no rótulo

Análise Média

Farinha Umidade 8,20% - Máx. 15%

de Cinza 0,30 g - Máx. 0,385 g

Trigo Lipídeos 0,5 g 0,5 g -

Proteínas 4,8 g 5 g -

Fibras 0,9 g 1 g -

Acidez 0,3 mg - Máx. 2 mg

Carboidratos 35,3 g 37 g -

Farinha Umidade 7,8% - Máx. 15%

de Cinza 0,42 g - -

Milho Lipídios 0,8 g 1 g -

Proteínas 4,2 g 4 g -

Fibras 1,1 g 1 g -

Acidez 0,5 mg - Máx. 2 mg

Carboidratos 36 g 38 g -

Para a amostra de farinha de trigo o teor de umidade encontrada foi de 8,2%, e para a amostra de

farinha de milho a umidade foi de 7,8%. Ambas as amostras estavam de acordo com a RDC nº

263/2005, que determina que farinhas provenientes de cereais tenham uma umidade máxima de

15%. Os teores de umidade dentro dos limites definidos em legislação indicam que o

armazenamento das farinhas foi correto, o que preservou as características de ambos os produtos.

Em relação à acidez, a Resolução – CNNPA nº 12 determina que para ambos os tipos de farinha o

limite máximo permitido é de 2,0 mg de KOH.100 g–1

, logo ambas as amostras estavam de acordo

com o estipulado. Ainda segundo esta Resolução, para farinhas de trigo o limite máximo permitido

de cinzas é de 0,385 mg, logo a amostra de farinha de trigo encontra-se dentro dos limites. Já para a

amostra de milho, havia 0,42 g de cinzas. Para farinhas de milho não há especificações máximas

para cinza, e nem há obrigatoriedade de declarar valores no rótulo, logo não há referenciais para

comparação.

Apesar de não existir nenhuma legislação que forneça parâmetros quantitativos para fibras, lipídeos,

proteínas e carboidratos, os valores encontrados para ambas as amostras estavam de acordo com a

RDC nº 360/03, que diz respeito aos valores expressos na tabela nutricional. Tal Resolução admite

que os nutrientes declarados no rótulo possam ter uma variação de ± 20%, o que foi respeitado

pelos fabricantes das amostras.

As amostras de farinha de trigo e de milho continham em seus rótulos todas as informações exigidas

pela RDC nº 360/03, que são carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras

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trans e fibra alimentar, além dos teores de sódio. Em ambos os rótulos havia a indicação de que as

farinhas eram fortificadas com ferro e ácido fólico, conforme é determinada pela Resolução RDC nº

344, de 13 de dezembro de 2002. Para a presença de substâncias alergênicas, apenas a farinha de

trigo indicava a presença de trigo, conforme determinado pela RDC nº 26 de 02 de jul. de 2015. Em

relação à indicação de presença ou ausência de glúten, conforme determina a Lei nº 10.674 de 2003,

a farinha de trigo indicava a presença de glúten, enquanto que a farinha de milho não continha tal

substância.

4. CONCLUSÃO

As amostras analisadas estavam de acordo com o esperado, tanto em relação às informações

nutricionais, quanto a sua caracterização quantitativa. O controle de qualidade é uma etapa

importante para garantir que o alimento esteja de acordo com os parâmetros exigidos, fazendo com

que a qualidade e a confiabilidade de tal fabricante se tornem elevados.

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CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DO LEITE EM PÓ E ANÁLISE DA

FORMA DE SECAGEM: UMA REVISÃO

Luma Sarai de Oliveira1, Nicolli Grecco Marchiore

2

RESUMO

Uma das limitações do leite como matéria-prima é a sua perecibilidade, fator limitante para o

transporte do produto para longas distâncias, além da sua sazonalidade. A fim de suprir a demanda

de leite para o mercado interno e externo a engenharia de alimentos desenvolveu meios para

facilitar a oferta deste produto. O leite em pó é um produto obtido por meio de um processo

tecnológico de desidratação do leite de vaca integral, desnatado ou semi-desnatado, sendo que a

gordura é ajustada a cada tipo de apresentação. Podemos citar a secagem como um avanço

tecnológico e de suma importância para a indústria de alimentos, cujo intuito é de aumentar a vida

útil e de diminuir as alterações nutritivas e sensoriais dos produtos alimentícios, onde exerce papel

fundamental pois previne o desenvolvimento de microrganismos devido a redução do teor de água

disponível, conservação quase total dos nutrientes do produto, além de possibiliar o seu transporte

mais econômico. Esta revisao destaca a caracterização do leite em pó bem como as etapas de

produção do alimento, tendo como foco principal o método de secagem mais empregado pela

indústria alimentícia para a obtenção do produto.

Palavras-chave: Desidratação; Conservação; Secagem.

__________________________ 1 Luma Sarai de Oliveira – Engenheira de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos (DALIM) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Campo Mourão, [email protected]

2Nicolli Grecco Marchiore – Engenheira de Alimentos – Centro de Engenharias e Ciências Exatas (CECE) –

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Câmpus Toledo, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O leite apresenta expressivo volume de produção em nível mundial, dispõe de uma importante fonte

de nutrientes sendo eles: proteínas, sais minerais, vitaminas, carboidratos e água (LEONHARTH,

2015). O leite permite fácil acesso da chegada de nutrientes para todas as camadas sociais, até

mesmo para aqueles de renda mais baixa, levando saúde e alimentação saudável para todas as

pessoas (MANIRIQUES et al., 2014).

Oliveira (2009) destaca que a perecibilidade do leite é uma das grandes limitações para o

fornecimento do deste produto para regiões mais distantes. Para a garantia da segurança do alimento

destinado ao consumo humano, ele deve ser cuidadosamente tratado, armazenado e preparado. Se o

leite não está sob condições de estocagem e refrigeração adequadas, existe a possibilidade de

desenvolvimento de microrganismos e deterioração do produto, ou, então, a multiplicação de

patogênicos o torna sem segurança para o consumo.

O volume de lácteos exportados, de 86,0 mil toneladas em 2014, reduziu para 76,8 mil toneladas em

2015 e para 55,1 mil toneladas em 2016, o que representou 28% a menos no último ano, porém em

contraposto disso, o Brasil vendeu em 2016 para 50 países, e para um período analisado neste

mesmo ano, embarcou-se num total de 54% de leite em pó integral (ZOCCAL, 2017).

Segundo Coelho et al., (2016), o Brasil se destaca como um dos maiores produtores de leite em pó

integral, juntamente como a Nova Zelândia, enquanto que os Estados Unidos e a França são

responsáveis pelo maior volume de produção de leite em pó desnatado.

Guerra et al., (2005) destaca que a secagem do leite para obtenção do produto em pó está entre as

diversas tecnologias desenvolvidas atualmente para o seu aproveitamento. E Hammes (2015),

complementa que a secagem é uma alternativa de maior rentabilidade econômica ao leite e de fácil

reconstituição (instantâneo). Neste tipo de processo, os nutrientes são conservados quase que completamente e outras vantagens desta

tecnologia é que o produto em pó possibilita um transporte mais econômico, planejamento de produção,

distribuição e a fabricação de derivados diversos, podendo ser, portanto, uma via tecnológica viável. (GUERRA et al., 2005). Apesar do alto custo energético do processo do processo de secagem, o transporte do produto seco e

em pó não necessita de refrigeração, ficando facilitado devido à redução considerável de volume,

esta redução não altera a quantidade de extrato seco do produto e facilita ainda o manuseio e

armazenamento do leite, resultando em economia energética no transporte e diminuição do número

de veículos que serão utilizados para a expedição do produto. (MEDEIROS, 2010).

O objetivo desta revisão é a caracterização e classificação dos tipos encontrados do leite em pó bem

como as etapas de produção do alimento, tendo como foco principal o método de secagem mais

empregado pela indústria alimentícia para a obtenção do produto

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a seguinte revisão bibliográfica foi realizada uma busca de artigos científicos nas bases de

dados do Portal do Capes, Nature (NPG), Highwire Press, Wiley Online Library, AGRICOLA: NAL

Articles, Science (AAAS) e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACCS), Scientific Electronic

Library Online (SciELO). As palavras-chave utilizadas como descritor do assunto foram ―leite‖,

―leite em pó‖, ―secagem‖, ―secagem por atomização‖, ―composição do leite em pó‖, ―métodos de

secagem do leite em pó‖, ―spray dryer‖, ―secagem por leito fluidizado‖, ― secagem em leite de

jorro‖.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Classificação do leite em pó

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Entende-se por leite em pó o produto obtido por desidratação do leite de vaca integral, desnatado ou

parcialmente desnatado e apto para a alimentação humana, mediante processos tecnologicamente

adequados (MAPA, 1996).

O leite em pó pode ser classificado de acordo com o conteúdo de matéria gorda de acordo com

segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Silva (2013), destaca que

o conteúdo de nutrientes do leite em pó depende das perdas resultante do processo de concentração e

das demais perdas durante a secagem disposto na Tabela 1.

Tabela 1- Classificação do leite em pó de acordo com o conteúdo de matéria gorda.

Leite em Pó

Conteúdo de

matéria

gorda

(%/mm)

Umidade

(%/mm)

Acidez titulável

(ml NaoH 0,1

N/10g sólidos

não gordurosos)

Índice de

solubilidade

(ml)

Leite de alto

tratamento

térmico

Integral Maior ou

igual a 26 Máx. 3,5 Máx. 18,0 Máx 1,0 -

Parcialmente

desnatado

Entre 1,5 a

25,9 Máx 4,0 Máx 18,0 Máx 1,0 -

Desnatado Menor que

1,5 Máx 4,0 Máx 18,0 Máx 1,0 Máx 2,0

Fonte: Adaptada a Portaria N. 369, de 4 de setembro de 1997 do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA).

3.2 Método de obtenção para o leite em pó instantâneo

O procedimento industrial comumente utilizado para a produção de leite em pó consiste em 6 etapas

básicas de acordo com Medeiros (2010), como mostrado na Figura 1.

Figura 1: Procedimento industrial para obtenção de leite em pó instantâneo.

Tabela 2 - Classificação do leite em pó instantâneo.

Leite em pó Umectabilidade

máx. (s)

Dispersabilidade

Integral 60 85

Parcialmente

desnatado

60 90

Desnatado 60 90

Fonte: Adaptada a Portaria N. 369, de 4 de setembro de

1997 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA).

3.3.1 Recepção da matéria prima

Esta etapa se dá basicamente em receber o leite vindo dos caminhões tanques isotérmicos (SAITO,

2007).

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Para assegurar a garantia da qualidade da matéria prima que dará origem ao leite em pó, Silva

(2013), afirma que amostras do leite devem ser retiradas para posteriores análises, sendo elas

demonstradas na Tabela 3.

Tabela 3 - Requisitos físico-químico e microbiológicos para leite normal.

Requisitos físico-químico

Caracteres cor, odor, sabor Normais

Teor de gordura Mínimo 3%

Acidez De 14 a 18 graus Dornic

Densidade a 15oC 1,028 a 1,034g/ml

Lactose Mínima de 4,3%

Extrato seco desengordurado Mínimo de 8,4%

Extrato seco total Mínimo de 11,4%

Proteína Mínimo de 2,9%

Índice crioscópico Máximo -0,530ºH ou -0,512º C

Índice refratométrico no soro

cúprico a 20°C Não inferior a 37° Zeiss.

Requisitos microbiológicos

UFC*/ml Máx 300.000 UFC/ml

CCS**/ml Máx 300.000 CCS/ml

Fonte: Adaptada a RESOLUÇÃO Nº 065/2005 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

*Unidade formadoras de colônias

**Células somáticas

3.3.2 Pré-tratamento

O leite aprovado após os testes feitos na recepção é clarificado em separadores centrífugos ou

filtros, posteriormente é resfriado em trocadores de calor do tipo em placas e armazenados em

tanques a 4oC. Em seguida, o leite é padronizado a fim de ajustar os seus teores de sólidos totais e

gorduras de acordo com o produto destinado (MEDEIROS, 2010).

3.3.3 Tratamento térmico

O regulamento da inspeção sanitária e industrial para leite e seus derivados (2005) enfatiza que a

pasteurização é o procedimento onde é empregado o calor por um determinado período de tempo

com o objetivo de eliminar totalmente a flora microbiana, ainda ressalta que este processo pode

submeter o leite à faixas de temperatura entre 72ºC a 75°C por aproximadamente 15 a 20 segundos.

Os equipamentos usados para realização deste procedimento são conhecidos como pasteurizadores,

para aplicação em leites o indicado é que seja utilizado o pasteurizador do tipo a placas, que

contenham instrumentos para que se possa ser registrado e acompanhado a vazão de leite e a

temperatura de operação.

3.3.4 Concentração

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A operação de evaporação pode ser na forma de evaporadores sob vácuo (cerca de 120mmbar),

conseguindo-se, deste modo, uma diminuição da temperatura de vaporização da água impedindo o

desenvolvimento dos microrganismos e diminuição dos danos causados pelo calor aos atributos

sensoriais do leite (SILVA, 2013).

Nicollini (2008), apresenta a possibilidade da realização da concentração em evaporadores de

película descendente, que consiste em uma série de tubos preenchidos por leite e ao redor destes

tubos estão camisas aquecidas por vapor e são mantidas a vácuo, assim o leite é distribuído

uniformemente sobre as superfícies de aquecimento dos tubos, passando por placas perfuradas ou

por distribuidor de duplo cone.

Os parâmetros de operação, pressão e temperatura se dimensionados e monitorados adequadamente

acarretam processos que requerem baixos custos energético para a remoção de água e a garantia de

uma emulsão concentrada de leite com atributos sensoriais semelhantes ao leite in natura

(MEDEIROS, 2010).

3.3.5 Secagem

Na secagem existe a ocorrência de dois fenômenos: a transferência de calor e a transferência de

massa. A transferência de calor é observada no período onde o produto começa a ganhar calor da

fonte de aquecimento e eleva a sua temperatura; e no processo de mudança de fase, onde parte da

água líquida constituinte do leite transforma-se em vapor. A transferência de massa é a passagem do

líquido ou vapor que passa do alimento para a atmosfera. O controle da secagem é dependente das

condições internas de transferência de massa (características do sólido) ou das condições externas

de transferência de calor (velocidade e temperatura do ar de secagem) (CRUZ, 2013).

3.3.6 Envase

Esta etapa final da produção consiste no empacotamento do leite em pó, estocagem e envio até o

mercado consumidor (MEDEIROS, 2010). Segundo a Portaria n. 369 de 4 de setembro de 1997 do

MAPA, o leite em pó deverá ser envasado em recipientes de um único uso, herméticos, adequados

para as condições previstas de armazenamento e que confiram uma proteção apropriada contra a

contaminação, apresentar em seus rótulos informações como teor de gordura, a composição,

quantidade de água que deve ser adicionada e instruções para sua reconstituição.

3.4 Mecanismos convencionais de secagem para obtenção do leite em pó

A secagem é um dos mecanismos mais antigos conhecidos pelo homem para a finalidade de

conservar os alimentos. Trata-se de uma operação que visa remover a água presente num

determinado alimento através da aplicação de calor (ARAÚJO, 2014).

Como vantagens marcantes deste processo podemos incluir a extensão da vida de prateleira do

produto, diminuição das perdas pós-colheita, redução do volume e peso, o que consequentemente

diminuem as despesas com embalagens, transportes e armazenamento (GAVA, 2008).

Celestino (2010), cita ainda que os alimentos desidratados possuem seus componentes nutricionais

mais concentrados, levando ao aumento do valor nutricional do alimento.

Vários mecanismos podem ser aplicados na secagem do leite em pó, dentre eles podemos citar o

mecanismo da condução, convecção, leito fluidizado, vapor superaquecido (PARK et al., 2007).

4. Secagem por spray dryer ou nebulização

A secagem por nebulização, também conhecida por spray dryer ou atomização, surgiu na metade do

século 18, quando foi patenteada a primeira operação de secagem de ovos, entretanto, a sua utilização

em grandes escalas a nível industrial data da década de 20. Os primeiros produtos reportados como

obtidos com a secagem por nebulização foram o leite e o sabão em pó (ROSA et al, 2011).

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Figura 2: Fluxograma simplificado do processo de produção do leite em pó através do mecanismo de secagem com spray dryer.

A etapa de concentração, anterior à etapa de secagem em spray, é de suma importância, pois

minimiza o custo energético do processo. (MEDEIROS, 2010). Silva (2013) ressalta que além da

economia energética atribuída a etapa de concentração, a aplicação das diferentes formas de

filtração (micro, nano e ultra) também são responsáveis por aumentar a concentração proteica,

aumentar a velocidade de coagulação e de firmeza da coalhada quando aplicado em queijos e na

remoção de gorduras e partículas em suspensão que podem ser responsáveis pela cor indesejada do

leite e ainda são responsáveis pela remoção de microrganismos.

O spray dryer é um equipamento usado para a secagem de produtos que tenham sensibilidade ao

calor, podendo conservar o máximo de nutritivos presentes no alimento e no pó (FURLAN, 2012).

Brevemente neste processo o leite é pulverizado no interior da câmara e transformado em partículas

menores, que entram em contato com uma corrente de ar filtrado e quente. Desta forma a

desidratação do leite é instantânea, sem que as partículas do alimento alcancem temperaturas muito

altas. Isso ocorre porque a água durante a evaporação absorve o calor produzindo um

―resfriamento‖ da parte sólida. (ROSA et al, 2011).

A eficácia da secagem por spray dryer está relacionada com o princípio do aumento de área de

contato entre o material a ser seco e o agente dessecante, o ar quente (ROSA et al., 2009). E Shucck

(2010) complementa que quanto maior for a velocidade deste ar de secagem mais e rápido será o

processo de secagem, o autor explica que a velocidade de secagem está ligada a três fatores, entre

eles estão a superfície de evaporação, a diferença da pressão parcial de água entre a gotícula e o ar

e a velocidade de migração de água na gotícula.

A Figura 2 ilustra o fluxograma simplificado do processo de produção do leite em pó através do

mecanismo de secagem com spray dryer.

4.1 Atomizador

Com a passagem do produto pelo secador ocorre a aglomeração de gotas e partículas devido à sua

colisão e interação ao longo do secador. Na região de atomização, a aglomeração se dá com duas ou

mais gotículas unindo-se a partir de um único núcleo, já na região posterior, a aglomeração, dita

como secundária, se dá através da captura dos finos reciclados, pelas gotas descentes. Na região

cônica do secador spray, a aglomeração é ternária, onde acontece o deslizamento dos aglomerados e

partículas úmidas uns sobre os outros, resultando no tempo de contato necessário para o

aparecimento de novas forças de superfície ou de indução nos pontos de contato das partículas

(BIRCHAL, 2003).

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Figura 3: Planta ilustrativa contendo o equipamento utilizado para a secagem por leito fluidizado.

4.2 Leito Fluidizado

A fim de resfriar o pó do produto para evitar grandes aglomerados (torrões) indesejáveis no

empacotamento, a secagem por leito fluidizado torna este sistema também como classificador de

partículas, separando as que não estão no padrão de aceitação por arraste para o reciclo, os finos não

aglomerados do pó produzido, além de ajudar na preservação e formação de aglomerados com

tamanho e densidade adequada à reconstituição rápida do pó em água (MEDEIROS, 2010).

A Figura 3 demonstra uma planta ilustrativa contendo o equipamento utilizado para a secagem por

leito fluidizado.

.

5. CONCLUSÕES

Para a obtenção do leite em pó, o produto é submetido a vários tratamentos, tanto térmicos como

mecânicos. Durante a secagem, o leite sofre diversas mudanças em relação à concentração,

aparência, consistência, estado físico e qualidade final. Estas mudanças dependem do bom

desempenho do equipamento bem como de sua correta operação. Dentre os métodos o mais

empregado para obtenção do leite em pó é, por spray dryer.

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secagem do leite em pó sobre a oxidação do colesterol. Ribeirão Preto: USP, 2014.

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CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSO PARA VARIÁVEL

TEMPERATURA DO ÓLEO DE PALMA (Elaeis guineenses) UTILIZADO NA

FRITURA DE MASSAS INSTANTÂNEAS

Lucas Bruning Checossi1; Elciane Regina Zanatta

2; Gláucia Cristina Moreira

3; Ilton Jose

Baraldi4; Fábio Avelino Bublitz Ferreira

5.

RESUMO

O Controle Estatístico de Processo (CEP), visa indicar possíveis melhorias que devem ser

implementadas em processos, a fim de garantir a mínima variação das variáveis. Este trabalho

objetivou definir o comportamento da variável temperatura do óleo de palma utilizado ao longo do

processo de fritura de massas instantâneas. Para isso, foi realizado o estudo referente ao Controle

Estatístico de Processo, no qual consistiu em realizar o monitoramento da temperatura durante um

ciclo de operação. A partir dos dados, foi possível analisar o sistema de medição, a normalidade, o

coeficiente de correlação amostral, a capacidade do processo e as cartas de controle de observação

individual e amplitude móvel, incluindo testes de tendência. O sistema de medição demostrou-se

adequado, validando assim os dados para a realização do estudo referente ao CEP. O

monitoramento da temperatura gerou resultados satisfatórios, com baixa correlação amostral dos

dados e estes, apresentaram uma distribuição normal, no qual o valor-p encontrado foi de 0,116.

Isto indica a provável ausência de causas especiais atuando sobre o processo. Além disso, o

processo foi caracterizado como fortemente capaz, com valor de Cpk de 2,30. A partir das cartas de

controle, notou-se que o processo se apresentou estável para os testes de tendência e sob controle,

para a variável temperatura.

Palavras-chave: Controle Estatístico de Processo; Qualidade; Temperatura.

________________________ 1 Lucas Bruning Checossi – Graduado no Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Elciane Regina Zanatta – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3 Gláucia Cristina Moreira – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Ilton José Baraldi – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Fábio Avelino Bublitz Ferreira – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Em processos térmicos intensos, como por exemplo, no processo de fritura, é de suma importância a

utilização de um óleo que apresente, características de resistência a altas temperaturas, a fim de

minimizar a degradação do mesmo. Além disso, é necessário que haja o controle da temperatura a

fim de evitar oscilações significativas durante o processo, caso contrário poderá comprometer a

qualidade do óleo e do produto. Com o processo operando em temperaturas baixas, poderá

ocasionar em um tempo excessivo para a fritura do produto, e quando em temperaturas altas podem

acelerar a degradação do óleo. Portanto, é necessário que seja realizado o monitoramento desta

variável de maneira eficaz (SANIBAL; FILHO, 2002).

O Controle Estatístico de Processo (CEP) é uma ferramenta da qualidade, no qual visa analisar a

variabilidade de um processo através da coleta de dados e obter assim um maior controle e

padronização de processos. A coleta de dados é realizada periodicamente na qual a cada intervalo

de tempo é coletada uma amostra, e a partir disto, empregando as ferramentas da qualidade, é

possível realizar estudos referentes ao teste de normalidade, capacidade de processos e gráficos de

controle e assim se necessário, planejar ações corretivas e correções para garantir a estabilidade e a

melhoria contínua dos processos (COSTA; EPPRECHT; CARPINETTI, 2012).

Os dados coletados devem apresentar uma distribuição normal e uniforme, caso contrário, é

provável que haja um indicativo de possibilidade de causas especiais atuando no processo e,

portanto o CEP não é aplicável de maneira adequada. A verificação dos dados é realizada pelo teste

de normalidade, sendo que este pode ser realizado por meio de diferentes métodos, dentre eles o de

Anderson-Darling, o qual é utilizado para testar hipóteses de aderência para modelos contínuos

(FERREIRA, SOUZA, SILVA, 2013; SILVA et al., 2015).

A capacidade de processo se refere a variabilidade existente de um processo comparado com as

especificações ou exigências de um produto. A capacidade do processo trata-se da uniformidade de

produção (MONTGOMERY, 2013). Segundo Costa, Epprecht e Carpinetti (2012), os índices de

capacidade do processo são parâmetros que quantificam o quanto um determinado processo é capaz

de atender a determinadas especificações. Existem vários índices a fim de caracterizar a capacidade

do processo, dentre eles pode-se mencionar o Cp e Cpk. Quanto maior o valor destes índices,

melhor é a capacidade do processo em atender determinadas especificações, porém para um

processo ser considerado como capaz, o valor mínimo estabelecido é de 1,33.

Dessa forma, objetivou-se com este trabalho realizar um estudo referente ao controle estatístico do

processo, para variável temperatura do óleo de palma, sendo este utilizado no processo de fritura de

massas instantâneas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Material utilizado

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizado o monitoramento da temperatura do óleo de

palma refinado, sendo este proveniente de uma indústria da região Oeste do Paraná, Brasil.

2.2 Monitoramento da temperatura do processo de fritura

Para a realização do monitoramento da temperatura do óleo no processo de fritura, foram utilizados

dois termômetros digitais tipo espeto, com escala de -30°C a 300°C da marca Incoterm, ambos

calibrados.

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64

2.3 Estudo do processo produtivo da massa instantânea

Para a realização do estudo referente ao Controle Estatístico de Processo, foi necessário analisar o

princípio de funcionamento do processo produtivo da massa instantânea, fabricada em uma

indústria de massas da região Oeste do Paraná, Brasil.

A primeira etapa do processo consiste na preparação da massa, na qual envolve a homogeneização

dos ingredientes, seguido pelo descanso da massa, laminação, corte da massa, cozimento, secagem,

corte da massa seca e dobragem. Após o processo de preparo, a massa segue para a etapa de fritura,

onde os tabletes de massa instantânea são imersos em óleo (neste estudo óleo de palma), em

processo contínuo de aquecimento. Na Figura 1, é observado o diagrama que representa o processo

de fritura.

Figura 1: Diagrama do processo de fritura da massa instantânea

De acordo com o processo produtivo, a massa instantânea entra na extremidade (E), fica submersa

no óleo (aproximadamente 3000 litros) em torno de 2 a 3 minutos, em seguida a mesma é retirada

na extremidade posterior (S). Nesta etapa, há a eliminação da água e incorporação de óleo ao

produto, portanto é necessário que ocorra a reposição do óleo na fritadeira, em uma frequência de 8

minutos, onde são adicionados aproximadamente 30,66 litros de óleo. Esta reposição acontece de

maneira automática através da bomba centrífuga B1, a qual, é acionada por um sensor de nível

(NO) quando o óleo está abaixo do estabelecido.

Com o objetivo de compensar a perda de calor do óleo devido ao contato com a massa instantânea,

é necessário que haja um sistema de aquecimento contínuo do óleo na fritadeira. Para isto, o óleo

presente na fritadeira é bombeado através da bomba centrífuga (B2) ao trocador de calor (TC), para

então ser realizado o aquecimento e ser retornado novamente à fritadeira.

Depois de finalizado todo o processo de produção, o óleo presente na fritadeira, é armazenado no

tanque de retenção (TR), para então ser utilizado no início do ciclo posterior do processo.

2.4 Análise do Sistema de Medição (MSA) para o Controle Estatístico de Processo

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65

A análise do sistema de medição para o monitoramento da temperatura na fritadeira industrial (FI)

foi constituída por cinco leituras realizadas em duplicata, sendo executado por três operadores

devidamente treinados. A frequência amostral foi de uma hora, resultando em um total de 30

monitoramentos. Os dados foram tratados, através de estudos de Gage R&R cruzado e do método

ANOVA, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância (Costa; Epprecht; Carpinetti, 2012;

Gomes, 2009).

Foram avaliados a influência das variáveis, operadores e termômetros, no qual classificou-se o

sistema como satisfatório, o que indica que as leituras realizadas estavam aptas para a utilização no

estudo referente ao controle estatístico de processo.

2.5 Controle Estatístico de Processo (CEP) na fritadeira industrial (FI)

O plano de amostragem para este estudo foi constituído em monitoramentos da temperatura do óleo

de palma, com tempo de amostragem de uma hora, durante um ciclo de operação, totalizando assim,

um total de 35 medidas. A partir disto, foi realizado o teste de normalidade, determinação da

capacidade do processo e os gráficos de controle para observações individuais e amplitude móvel,

definindo-se o coeficiente de correlação amostral.

2.6 Análise Estatística

O tratamento estatístico, para todos os resultados deste trabalho, foi realizado com o auxílio do

programa estatístico Minitab (Minitab Inc., Pensilvânia – EUA), versão 17.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Controle Estatístico de Processo

A fim de trabalhar os dados coletados continuamente, foi verificado se os mesmos apresentavam

uma distribuição normal.

Segundo Moraes, Ferreira e Balestrassi (2005), para verificar se os dados apresentam normalidade

através do teste de Anderson-Darling, é necessário que o valor-p seja superior a 0,05.

Nota-se no Gráfico 1 que o valor encontrado foi de 0,116 caracterizando uma distribuição normal

dos dados. Isto indica que a temperatura monitorada, durante a etapa de fritura apresentou uma

distribuição aleatória em torno da linha média, ou seja, esteve sujeita a apenas variações comuns e

com ausência de causas especiais atuando no processo.

Segundo Montgomery e Runger (2009), as variações comuns são provenientes de causas que geram

pequenas oscilações e estão naturalmente presentes no processo, e que muitas vezes são inevitáveis

e difíceis de serem eliminadas.

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Gráfico 1: Teste de normalidade para variável temperatura

A partir disso, foi realizada a análise da capacidade do processo em atender aos limites de

especificação, para a variável temperatura. Para isso, utilizou-se o índice de Cpk (Gráfico 2).

Gráfico 2: Capacidade do processo para variável temperatura

Nota-se que o processo em estudo é fortemente capaz, pois quando analisa-se o limite superior e

inferior de especificação (LSE=180°C e LIE=130°C), percebe-se que estes encontram-se

consideravelmente distante dos dados reais do processo. Além disso, é verificado também, que, os

índices da capacidade do processo, Ppk e Cpk, são de 2,32 e 2,30 respectivamente, sendo estes,

maiores que 1,33. De acordo com Costa, Epprecht e Carpinetti (2012), quando o valor de Cpk que

avalia o processo atual ou Ppk na qual indica a tendência dos dados em períodos maiores, for maior

que 1,33, o processo é classificado como capaz de produzir produtos dentro dos padrões de

qualidade estabelecidos.

146145144143142141140139138137

99

95

90

80

70

60

50

40

30

20

10

5

1

Média 141,2

DesvPad 1,618

N 35

AD 0,591

Valor-P 0,116

Temperatura (°C)

Perc

en

tual

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67

Em seguida foram construídos os gráficos de observação individual e amplitude móvel. Para isto,

foi determinado o coeficiente de correlação amostral, onde este apresentou baixa correlação

amostral, ou seja, as amostras apresentaram baixa interdependência, validando o espaçamento

amostral realizado.

O Gráfico 3 refere-se às cartas de controle para a observação individual e amplitude móvel da

temperatura do processo de fritura de massas instantâneas.

Gráfico 3: Observações individuais e amplitude móvel para a variável temperatura

De acordo com a Gráfico 3, percebe-se que o processo se apresentou estável e sob controle, uma

vez que os testes de tendências não apresentaram positividade e ainda, que os pontos se

apresentaram distribuídos aleatoriamente dentro dos limites de controle estabelecidos. Com isto, o

processo foi classificado como continuamente estável e com ausências de causas especiais de

efeitos.

O limite superior de controle (LSC) e o limite inferior de controle (LIC) estabelecido foram de 145

e 137oC, respectivamente. Desta forma, valores acima ou abaixo destes indicam que o processo está

fora de controle interno da indústria, porém pode estar dentro do limite de especificação superior

(180°C), valor referenciado pela ANVISA (BRASIL, 2004) e dentro do limite de especificação

inferior (130°C), sendo este, definido pela própria indústria.

4. CONCLUSÕES

No presente estudo, foi detectado que a variação da temperatura do processo, esta sujeita a apenas

causas comuns, sendo que estas muitas vezes são inviáveis de serem eliminadas, no entanto, podem

ser minimizadas, quando pertinente. Além disso, o processo demostrou-se de forma estável e

totalmente capaz de atender as especificações para a obtenção de massas instantâneas. Desta

maneira, a ausência de grandes oscilações na temperatura, acarreta em benefícios para o produto e

consequentemente para o consumidor, uma vez que o produto final tenderá a apresentar-se

padronizado, ou seja, sem grandes oscilações nas suas características sensoriais e composição.

REFERÊNCIAS

343128252219161310741

146

144

142

140

138

Observação

Valo

r In

div

idu

al

_X=141,25

LSC=145,45

LIC=137,05

343128252219161310741

4,8

3,6

2,4

1,2

0,0

Observação

Am

pli

tud

e M

óvel

__AM=1,58

LSC=5,16

LIC=0

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68

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http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_211_252_28289.pdf>. Acesso em 13 ago. 2017.

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DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO DE CÂMARA FRIA PARA

ARMAZENAMENTO DE BATATAS NA CIDADE DE CURITIBA/PR

Monalisa Ayumi Ohara1; Elciane Regina Zanatta

2

RESUMO

A refrigeração é um método antigo e amplamente utilizado com o intuito de conservar alimentos

sob baixas temperaturas. Dessa forma, o uso de câmaras frias é frequentemente aplicado para

armazenar alimentos como vegetais e frutas. O objetivo deste estudo foi desenvolver um projeto de

câmara fria para batatas na cidade de Curitiba, estado do Paraná (PR). Foram utilizados

conhecimentos sobre refrigeração e dimensionamento de câmara fria, bem como, determinado a

acomodação das batatas, cálculos de carga térmica e definido os equipamentos para construção da

câmara fria. A câmara do estudo resultou uma carga térmica total de 12.002,8 kcal.h-1

sob utilização

de quatro evaporadores com vazão de ar a 770 m3.h

-1, e devido ao diferencial de temperatura de

20ºC, isolante Espuma Rígida de Poliuretano (PUR) foi recomendado a uma espessura de 80 mm. O

presente trabalho é importante para uma construção mais assertiva de uma câmara fria com esta

finalidade, pois normalmente elas são feitas sem um estudo apropriado, e consequentemente, o

desempenho não é satisfatório e há um maior gasto de investimentos.

Palavras-chave: Câmara Frigorífica; Conservação; Transmissão de Calor; Dimensionamento.

______________________________ 1 Monalisa Ayumi Ohara – Acadêmica do Mestrado em Engenharia de Alimentos do Programa de Pós-Graduação em

Engenharia de Alimentos (PPG-EA) – Universidade Estadual de Campinas – Câmpus Campinas, SP,

[email protected]; 2

Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR,

Câmpus Medianeira – PR, [email protected];

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1. INTRODUÇÃO

A batata, assim como outros produtos vegetais frescos, não deve ser congelada com o intuito de

conservação pois ocasiona rompimento das células pelos cristais de gelo formados, com grande

exsudação e perda de qualidade após o descongelamento. Sendo assim, de forma geral, deve-se

manter a batata em armazenamento sob forma de refrigeração. O armazenamento refrigerado de

batatas é feito em temperaturas entre 10,0 e 12,8ºC, com umidade superior a 85%. Nessas

condições, é possível controlar satisfatoriamente o desenvolvimento microbiano sem provocar o

acúmulo de glicose com perda de amido (KOBLITZ, 2011).

A norma de identidade, qualidade, acondicionamento, embalagem e apresentação da batata foi

aprovada pela Portaria nº 69 (DOU 23/2/1995) do MAPA e alterada parcialmente pela Instrução

Normativa nº 36 (DOU 23/7/2007). Quanto à embalagem, a norma relaciona que a batata para

consumo será acondicionada em embalagem nova, seca, limpa e com capacidade máxima de até 50

kg líquidos, e para o acondicionamento, as batatas deverão estar em locais cobertos, limpos, secos,

ventilados, com dimensões de acordo com os volumes a serem acondicionados e de fácil

higienização a fim de evitar efeitos prejudiciais para a qualidade e conservação das mesmas

(MAPA, 1995).

De acordo com a Portaria nº 127 do MAPA, sacaria é a embalagem confeccionada em juta,

polietileno, polipropileno ou polipropileno de malha plana; sendo as dimensões da embalagem para

o acondicionamento de batatas de 830 mm (comprimento) x 500 mm (largura) (EMBRAPA, 2009).

A partir dos dados levantados foi possível identificar a importância de planejamento para a logística

de armazenamento de batatas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi desenvolver um projeto de

câmara fria para o armazenamento de batatas na cidade de Curitiba, estado do Paraná, com

capacidade de estocagem de 100 toneladas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O método aplicado foi um estudo resultante de um processo hipoteticamente proposto. A câmara

fria foi escolhida para estar localizada na cidade de Curitiba/PR, na qual foi assumido temperatura

ambiente de 30°C. Geralmente, a temperatura média no verão em Curitiba é de 21ºC, porém com

máximas médias de 29ºC, podendo chegar a 34°C, sendo assim, foi possível no trabalho analisar

como seria a operação da câmara em temperatura mais extrema e os materiais necessários para uma

câmara que tenha necessidade de operar neste máximo. A capacidade máxima de armazenamento

foi de 100 toneladas. Para a embalagem foi utilizada sacaria de polietileno (PEBD), sendo

armazenados 50 kg de batatas em 112 paletes (1,0 x 1,2 m) e admitindo temperatura de refrigeração

de 10ºC.

Considerou-se ainda, que a câmara fria esteve localizada em um estabelecimento que também

armazena outros alimentos, no caso, repolhos e bananas. A câmara fria deste projeto encontra-se em

vizinhança com a câmara fria de bananas. Dessa forma, assumiu-se as seguintes temperaturas

internas: 10°C – câmara do projeto, 15°C – câmara fria de bananas, 20°C – antecâmara, 25°C – área

de expedição.

O projeto foi estudado e analisado de forma a identificar as condições necessárias para construção

da câmara.

2.1 Caracterização de armazenagem e da câmara fria

A disposição das batatas por sacaria foi feita de acordo com os dados da Tabela 1.

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71

Tabela 1: Características do armazenamento de batatas

Produto Tipo de

embalagem

Dimensões da

embalagem

(Comp.xLarg.xAltu.)

(m)

Peso

Bruto

(kg)

Peso

Embalagem

(kg)

Quantidade

produto

por

embalagem

(unidades)

Empilhamento

máximo de

sacos

Batata

Sacaria

Polietileno

(PEBD)

0,5x0,3x0,8 900,032 0,032 238 6

A partir destas informações foi possível definir o layout das batatas empilhadas no palete e da

estocagem, bem como dimensionar a câmara fria. A partir das temperaturas envolvidas no projeto,

foi escolhido o tipo de isolante. O modelo de evaporador foi escolhido de acordo com o catálogo da

empresa Thermokey (catálogo Evaporadores de Ar Forçado - FTC / DFTC), a partir da relação

entre a carga térmica e o número de evaporadores necessários.

2.2 Cálculo da carga térmica total (QT)

A carga térmica total (em kcal.h-1) foi calculada estimando-se o calor provenientes de: estruturas

(QE), produto (QP), infiltração de ar na câmara (Qinf) e carga devido às luzes, pessoas e

equipamentos no interior da câmara (Qvariáveis). Os cálculos foram realizados de acordo com as

equações a seguir.

QE é dado pelo somatório do calor de todas estruturas como piso, parede lateral leste, parede lateral

oeste, parede frontal sul, parede fundos norte e teto, calculados separadamente seguindo a Eq. 1.

(1)

Sendo:

a = comprimento da câmara (m)

c = largura da câmara (m)

Fator de dispersão para o isolante = valor tabelado conforme Sousa et al. (2015) em (kcal.m-2

24h)

Qp é dado pelo somatório do Calor sensível antes do resfriamento (Qs1) e Calor de respiração (Qresp)

(frutas e vegetais continuam a experimentar mudanças depois da colheita enquanto estão

armazenados sendo que a mais importante destas mudanças é a produzida pela respiração),

conforme as Eq. 2 e 3.

(2)

Sendo:

m = massa do produto (kg);

c = calor específico (kcal.kg-1.ºC-1);

∆T = temp. de entrada do produto - temp. interna da câmara (°C).

(3)

Sendo,

mp = é a massa total do produto armazenada no espaço refrigerado (kg)

Cr = é a taxa de calor de evolução, dado em mW.kg-1

, valor tabelado

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Qinf é dado pela eq. 4,

(4)

Sendo,

Vcam , FTA e ∆H foram determinados conforme Sousa et al. (2015). Qvariáveis é dada pelo somatório da carga térmica devido às luzes, pessoas e equipamentos no interior da câmara seguindo as equações 5, 6 e 7.

Carga térmica de ocupação (Qpess):

(5) Sendo:

Qocup, n e t, forma determinados conforme Sousa et al. (2015). Carga térmica de iluminação (Qilum): (6) Sendo:

A = área da câmara (m2)

t = tempo de operação da câmara Carga térmica devido aos motores dos ventiladores (Qvent): (7) Sendo,

P = Potência do ventilador (CV)

t = tempo de operação (h) conforme Chagas (2013)

ƞ = rendimento (tabelado)

Portanto,

A carga térmica total é dada pela soma: QT = QE + Qp + Qinf + Qvariáveis

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Armazenamento das batatas

De acordo com as características necessárias para realizar o empilhamento, pode-se observar pela

Figura 1 que foi determinado 3 sacos de batatas por camada, sendo 6 camadas ao total sobre cada

palete.

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Figura 1: Layout dos paletes (estrados) com vista frontal e superior.

A Figura 2 demonstra como todos os paletes foram posicionados na câmara fria. A unidade das

dimensões é em milímetros.

Figura 2: Layout da câmara fria com os paletes representados.

3.2 Dimensões da câmara fria

Na Tabela 2, pode-se observar as dimensões da câmara fria e a Figura 3 ilustra dimensões do saco

de batata.

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74

Tabela 2: Dimensões da câmara fria

Medida Valor (m)

Comprimento 15,5

Largura 18,5

Altura 2,5

Figura 3: Dimensões e ilustração do saco de batata.

3.3 Localização da câmara no estabelecimento

A Figura 4 acompanhada da Rosa dos Ventos representa a posição da câmara fria sendo

hipoteticamente proposta pelo projeto.

Figura 4: Posição da câmara fria de batatas ilustrada com X.

3.4 Escolha do tipo e espessura do isolante

O isolante a ser utilizado foi a Espuma Rígida de Poliuretano (PUR) painel, pois verificou-se que o

painel com PUR apresenta um coeficiente global de transmissão de calor (U) menor do que a

Espuma Rígida de Poliuretano (PUR), tornando-o um isolamento mais eficiente.

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Admitindo que a utilização de um fator de fluxo de calor de 8 kcal.h-1

.m-2

, possibilita um bom

balanço entre os custos de isolamento e de energia elétrica, e de acordo com o tipo de material e o

diferencial de temperatura desejado (20ºC), a espessura é de 80 mm.

3.5 Carga térmica total

O Gráfico 1 representa a distribuição da carga térmica total de 12.002,8 kcal.h-1

de acordo com os

gastos em cada especificidade.

Gráfico 1: Distribuição da carga térmica total.

3.6 Escolha do evaporador

O modelo de evaporador foi escolhido de acordo com o catálogo da empresa Thermokey, a partir da

relação entre a carga térmica e o número de evaporadores necessários. Para a relação 0ºC / 15 ºC, o

melhor modelo de evaporador para a capacidade requerida (3.000,7 kcal.h-1

) é o Modelo DFTC

14R, na Tabela 3 encontra-se as especificações e na Figura 5 observa-se as dimensões do mesmo.

Tabela 3: Especificações do modelo do evaporador

Modelo Vazão de

ar (m³.h-1

) kW kcal.h

-1

Peso

Líquido

(kg)

Área de

troca

térmica

DFTC 14R 770 3,85 3305 18 8

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Figura 5: Dimensões e ilustração do evaporador modelo DFTC 14R.

3.7 Visualização da câmara fria

Na figura 6, pode-se observar a ilustração da câmara fria com os evaporadores, bem como a parte

frontal da câmara.

Figura 6: Vista superior e frontal da câmara fria.

4. CONCLUSÕES

Câmara fria tem um grande potencial para conservar alimentos através do controle de temperatura e

umidade. No entanto, mais projetos precisam ser desenvolvidos para a realização do mesmo, pois as

necessidades mudam de acordo com o local e o produto a ser refrigerado. Neste trabalho,

demonstrou-se satisfatoriamente um possível desenvolvimento de uma câmara fria para batatas em

Curitiba. A caga térmica total obtida foi de 12.002,8 kcal.h-1

distribuída entre estrutura, motores,

infiltração e ao produto, sendo recomendado 80 mm de isolante Espuma Rígida de Poliuretano

(PUR) em virtude da eficiência, custos de isolamento e de energia elétrica. Devido à carga térmica

total, foram necessários quatro evaporadores modelo DFTC 14R da empresa Thermokey para

participar do processo de refrigeração. Para futuros trabalhos, é interessante o estudo do fluido

refrigerante e também custos do projeto.

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Estadual de Engenharia Mecânica e Industrial, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo, RS,

2015.

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE BEBIDA LÁCTEA

SIMBIÓTICA DE CAMBUCÍ E YACON

Ana Karoline Ferreira1; Fernanda Cristina Lunkes

2; Maíra Escobar de Araujo

3; Valdemar Padilha

Feltrin4, Carla Adriana Pizarro Schmidt

5; Celeide Pereira

6

RESUMO

A bebida láctea é um produto composto essencialmente por leite, soro de leite. Prebióticos e

probióticos geram alimentos funcionais simbióticos, que proporcionam efeitos benefícios à saúde

dos consumidores. O cambuci é rico em vitamina C e possui uma grande quantidade de pectina. O

Yacon apresenta alto teor de carboidratos, elevado conteúdo de potássio e 40 % a 70 % de FOS. O

objetivo deste trabalho foi desenvolvimento e a análise sensorial de uma bebida láctea fermentada

simbiótica com a adição de polpa de Cambuci, farinha de Yacon, Bifidumbacterium bifidum,

leitelho, soro e concentrado proteico de soro. Foram desenvolvidas quatro formulações de bebida

láctea fermentada simbiótica com 4 %, 6 % e 8 % de polpa de Cambuci e Padrão (sem adição de

polpa). As formulações foram analisadas nos períodos de 0, 10, 20 e 30 dias de estocagem.

Realizaram-se análises microbiológicas de Bolores e leveduras, Salmonella spp, Staphylococcus

aureus e coliformes a 35 e 45ºC, avaliação da viabilidade da cultura láctica contendo Lactobacillus

delbrueckii subsp. bulgaricus e Streptoccoccus salvarius subsp. termophilus, cultura láctica

probiótica Bifidobacterium bifidum. Todas as análises foram realizadas em duplicatas. Os resultados

da análise sensorial demonstraram que a bebida láctea fermentada não obteve a aceitação esperada

quando submetido à avaliação sensorial humana, com relação ao atributo sabor, isto deve ser a falta

de ajuste do modelo que levou à uma seleção de desejabilidade não ideal, necessitando de melhorias

no sabor.

________________________ 1 Tecnóloga em Alimentos - Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Medianeira, email:

[email protected] 2 Tecnóloga em Alimentos - Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Medianeira, email:

[email protected] 3 Graduanda em Tecnologia de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Medianeira, email:

[email protected] 4Doutor em Ciência dos Alimentos – Universidade Federal Santa Catarina – UFSC, professor efetivo da UTFPR –

Campus Medianeira, email:[email protected] 5Doutora em Agronomia – Universidade Estadual de Londrina - PR, professora efetiva da UTFPR – Campus

Medianeira; e-mail: [email protected]

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6Doutora em Ciência dos Alimentos – Universidade Federal de Santa Catarina - SC, professora efetiva da UTFPR –

Campus Medianeira, email: [email protected]

Palavras-chave: Aceitação Sensorial; Alimento Lácteo Funcional; Controle de Qualidade.

1. INTRODUÇÃO

Os alimentos funcionais têm ganhado espaço no mercado, devido ao aumento da procura pelos

consumidores por produtos alimentícios saudáveis, nutritivos e que proporcione benefícios à saúde,

promovendo a manutenção e prevenção de doenças, com isso verifica-se uma elevação no consumo

de alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos (DIAS, 2012). Segundo a agencia Nacional de

Vigilância Sanitária (BRASIL, 2002) probióticos são definidos como microrganismos vivos

capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal, produzindo efeitos benéficos à saúde do

indivíduo. Os prebióticos são fibras não digeríveis que fermentam em nosso intestino e estimulam o

crescimento das bactérias probióticas, alem de melhorar o funcionamento do intestino e diminuir os

riscos de infecções. Para Vasconcelos (2010), dentre os alimentos funcionais, o Yacon (Smallanthus

sonchifolius) tem ganhado importância. É uma raiz de origem andina e tem sido descrita como o

alimento com maior conteúdo de frutooligossacarideos (FOS) na natureza. Uma das principais

características desses carboidratos é a estimulação do crescimento de bactérias não patogênicas por

meio da fermentação colônica, sendo assim classificados como constituintes bioativos com alegação

prebiótica e, portanto, funcionais. A associação de prebioticos e probioticos geram alimentos

funcionais simbióticos, que proporcionam aos consumidores vários efeitos benefícios à saúde.

O Cambuci é um fruto chamado botanicamente de Campomanesia phaea, sua arvore é da família

das Mirtáceas (ANDRADE; FONSECA; LEMOS, 2011). Este fruto tem origem nos estados de São

Paulo (principalmente na Serra do Mar) e em Minas Gerais é típico da Mata Atlântica (TAVARES,

2013). É conhecido também pelo termo kamu-si, oriundo do tupi-guarani, que significa pote d‘água,

em virtude da sua forma semelhante a um vaso de cerâmica (ANDRADE; FONSECA; LEMOS

2011).

Os concentrados proteicos de soro (CPS) podem variar sua composição de proteínas de 34 a 80 %:

quando contêm cerca de 53 % de proteína, terão em média 35 % lactose, 5 % de gordura e 7 % de

cinzas (ANTUNES, 2003; PACHECO et al. 2005). O leitelho é uma boa alternativa para o uso em

formulações de produtos lácteos, pois possui várias propriedades benéficas a saúde, possuindo

também boas propriedades tecnológicas, baixo custo, fácil disponibilidade e boas características

sensoriais como apresenta o leitelho (BASSI et al. 2012). O soro é um subproduto da indústria

láctea, obtido pela separação da fase aquosa do leite e da maior parte da porção lipídica e caséica.

(SGARBIERI, 2005). A fabricação de bebidas lácteas, fermentadas ou não, a partir do soro líquido

é, para a indústria, uma alternativa lucrativa, pois o processo tecnológico é simples, além de ser

possível o uso de equipamentos que geralmente já existem na usina de beneficiamento (CUNHA et

al. 2007).

O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento e a análise sensorial de uma bebida láctea

fermentada simbiótica com a adição de polpa de Cambuci, farinha de Yacon, Bifidumbacterium

bifidum, leitelho, soro e concentrado proteico de soro.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O soro e o leitelho utilizado para a elaboração das formulações da bebida láctea foram doados por

um Laticínio da cidade de Missal- PR, sendo transportado em caixa de isopor condições de

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refrigeração até as dependências da Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR, campus

Medianeira. O cambuci foi adquirido na cidade de Paraibuna- SP, transportado congelado em caixa

térmica. A cultura mista de Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus e Streptococcus salvarius

subsp. termophilus, cultura láctica probiótica Bifidobacterium bifidum, foi obtida por doação da

empresa DANISCO-FERMENTEC, o soro concentrado proteico foi doado pela empresa ALIBRA.

A farinha de yacon foi gentilmente doada empresa MAÇA. O açúcar, corante artificial para fins

alimentícios cor Verde Folha (Mix Coralim), espessante/estabilizante Selecta foram adquiridos no

comércio local do município de Medianeira- PR. Foram utilizadas os laboratórios Laboratório de

Industrialização de Laticínios (J-16), Laboratório de Microbiologia (J-12) da Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Campus de Medianeira.

A elaboração da bebida Láctea foi realizada de acordo com a metodologia proposta por (BRASIL,

2005), não havendo alteração na tecnologia tradicional de fabricação de bebida láctea fermentada.

Foram desenvolvidas quatro formulações de bebida láctea fermentada simbiótica com 4 %, 6 % e 8

% de polpa de Cambuci e formulação padrão (sem adição de polpa). Adicionou-se 1,5 % das

culturas lácticas termofílicas (Streptococcus thermophilus e Lactobacillus delbrueckkii ssp.

bulgaricus) e cultura láctica probiotica (Bidifudumbacterium bifidum). As formulações foram

analisadas nos períodos de 0, 10, 20 e 30 dias de estocagem. As formulações 01, 02, 03 e 04 das

bebidas lácteas fermentadas simbióticas foram designadas por F1, F2, F3 e F4 (Padrão). A bebida

láctea fermentada simbiótica foi preparada com leitelho, soro, adição de açúcar, farinha de yacon e

o espessante, sendo homogeneizada. A mistura base foi pasteurizada a 75 ºC por 15 segundos e

resfriada (43 ºC) para inoculação dos fermentos lácticos contendo (Lactobacillus delbrueckii subsp.

bulgaricus e Streptoccoccus salvarius subsp. termophilus) e cultura probiótica (Bifidobacterium

bifidum), que foram previamente preparadas. Ao atingir 70 ºDornic de acidez e pH 4,3, a bebida

láctea foi resfriada a 10 ºC, efetuou-se a quebra da massa com agitação constante. Adicionou-se a

polpa de cambuci e o corante com homogeneização, seguindo para o resfriamento e armazenamento

a temperatura de 5 ºC. As amostras foram avaliadas através do método da escala ideal e hedônica,

os atributos aparência, consistência, cor, doçura, sabor, textura, através da escala hedônica de nove

pontos e avaliação global de aceitabilidade, utilizando 109 provadores não treinados e

consumidores regulares de sorvete, de ambos os sexos, tendo idade entre 18 a 50 anos. O

delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso e a análise estatística realizada foi a análise de

variância (ao nível de 5 %) com auxílios dos softwares Assistat e Consensor.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Os resultados das análises sensoriais das formulações F1, F2, F3 e F4 (Padrão) da bebida láctea

fermentada simbiótica são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Resultados dos valores das Médias ± Desvio Padrão das formulações F1, F2, F3 e F4

(Padrão) da bebida láctea fermentada simbiótica.

Escalas e

Atributos

Formulação 1

(F1)

Formulação 2

(F2)

Formulação 3

(F3)

Padrã4

(F4)

Médi

a ± DP

Médi

a ± DP

Médi

a ± DP

Médi

a ± DP

Escala do Ideal

Aparência 2,64 ± 0,89 b

2,62 ± 0,83 b

2,58 ± 0,95 b

3,12 ± 0,95 a

Consistência 2,63 ± 0,92 b

2,61 ± 0,94 b

2,77 ± 0,98 b

3,21 ± 0,88 a

Textura 2,46 ± 0,88 c

2,58 ± 0,89 bc

2,68 ± 0,94 b

3,24 ± 0,92 a

Cor 2,58 ± 0,99 b

2,60 ± 1,00 b

2,56 ± 1,01 b

3,07 ± 0,97 a

Doçura 3,04 ± 0,93 b

2,99 ± 0,99 b

2,96 ± 0,90 b

3,28 ± 0,95 a

Sabor 2,66 ± 1,15 b

2,61 ± 1,11 b

2,68 ± 1,11 b

2,98 ± 0,97 a

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Escala Hedônica

Avaliação Global 5,24 ± 2,02 b

5,26 ± 2,05 b

5,23 ± 2,17 b

6,13 ± 1,76 a

Obs. Valores seguidos por letras distintas nas linhas diferem estatisticamente ao nível de 5% pelo

teste não paramétrico de Mann-Witney.

Os dados não obedeceram à distribuição normal e dessa forma optou-se pela comparação das

médias por meio do teste não paramétrico de Mann-Witney. Todas as análises indicaram diferença

estatística entre o padrão e os produtos avaliados, sendo que a média das notas obtidas pelo padrão

foram superiores para todos os atributos. Observou-se ainda que com base na escala do ideal que o

padrão se apresentou acima do esperado para doçura, textura, consistência, aparência e cor, sendo

que para o sabor ele mostrou-se um pouco menos adequado que o ideal, de onde se pode observar

que os julgadores esperavam um pouco mais do sabor desse produto. Para todos os atributos

avaliados, as amostras das formulações F1, F2 e F3 mostraram-se menos adequadas do que o ideal

para todos os atributos avaliados pela escala do ideal, sendo que apenas a formulação F1 obteve

nota acima de 3,0 para doçura do produto. Nenhum dos produtos foram avaliados com médias

superiores a 3,28. Nos gráficos apresentados na Figura 4 pode-se observar a comparação de todos

os produtos avaliados. Na Figura 4-A observou-se que os valores de ideal da aparência foram

superiores a 50 % para a formulação F1 e para o F4 (Padrão), sendo que as demais formulações

precisariam de melhorias na aparência.

Figura 4: Gráficos Apresentando os Resultados Percentuais da Avaliação dos Produtos por

Meio da Escala do Ideal (imagens A até F) e Escala Hedônica Imagem G.

Na Figura 4-B observou-se que a consistência da formulação F3 e F4 (Padrão) ficou próxima a 50

% de ideal sendo que as demais precisariam de melhorias na consistência. Pode-se ainda notar que

muitas notas se situaram no valor 2 que indica menos que o ideal para consistência do produto.

Percebeu-se uma forte rejeição da consistência da formulação F1 (FIGURA 4-C), pois mais de 50%

dos julgadores atribuíram nota 2 que indica menos que o ideal para esse quesito. Nenhum dos

quatro produtos apresentou boa aceitação para textura e precisariam de melhorias.

A cor dos produtos não foi bem aceita (FIGURA 4-D), o F4 (Padrão) que não recebeu nenhuma

adição de corante foi mais bem aceito que os produtos coloridos, mas cabe destacar que mesmo ele

não chegou a 50 % de ideal. Entre as formulações a F3 foi a menos aceita em termos de coloração

que precisaria melhorar para esse produto. Com base no apresentado acredita-se que todos os

produtos poderiam ser adicionados de mais corante para melhoria da aceitação dos produtos. A

primeira impressão que se tem de um alimento é geralmente visual, sendo que a cor é um dos

aspectos fundamentais na qualidade e aceitação dos produtos, pois tem muita influência na decisão

de compra do consumidor, bem como na expectativa do sabor correspondente (OFOSU et al.,

2010). Segundo Bezerra (2010), a aparência exerce maior influência na hora da aquisição do

produto pelo consumidor e gera interferência sobre a qualidade do produto. A coloração dos

alimentos exerce um fator marcante dado a sua atratividade ou não, determinando aceitação,

indiferença ou rejeição. A Figura 4-E ilustra o gráfico para doçura esse quesito foi o que apresentou

resultados mais próximos de 50 % do ideal para todos os produtos avaliados, sendo que as

formulações F1 e F3 se destacaram como melhores que as demais.

A B C

D E F

G

A B C

D E F

G

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Devido a diferenças na consistência das bebidas Lácteas, pode ter ocorrido alteração na percepção

do gosto doce pelos julgadores. HEWSON et. al. (2008) investigaram a interação entre atributos

sensoriais em bebidas cítricas e os resultados apontaram interação significativa entre viscosidade e

gosto doce. O aumento na viscosidade diminui a percepção de doçura, o que explica a diferença

entre as amostras quanto ao gosto doce. A avaliação do sabor do produto encontra-se ilustrada na

Figura 4-F esse atributo foi que mais comprometeu os produtos formulados sendo que apenas o

produto F4 (Padrão) chegou próximo a 50 % de ideal para ele. Apesar de os direcionamentos de

melhorias que se observaram por meio da escala do ideal, os produtos foram mais aceitos do que

rejeitados (FIGURA 4-G), porém somente a F4 (Padrão) conseguiu apresentar mais de 70 % de

aceitação necessária para lançamento de produtos no mercado. Dessa forma mais testes e

formulações se fariam necessárias para que os produtos aqui desenvolvidos pudessem ser

comercializados resultando em boas vendas.

Segundo Delwiche (2004), o olfato, juntamente com o sabor tem um enorme impacto sobre atitude

do consumidor, interferindo em relação ao alimento ser preferido ou aprovado, aceito ou rejeitado.

Devido a polpa de fruta Cambuci possuir acidez bastante elevada, pode ter influenciado a aceitação

dos julgadores, além da acidez produzida pelas bactérias lácticas e probióticas. A sensação de sabor

é culturalmente estabelecida, cada povo tem uma alimentação e preferência alimentar característica.

Portanto, não é só valor nutricional que se avalia em um alimento, o atributo sabor é de grande

importância na avaliação sensorial (BRITO; CÂMARA; BOLINI, 2007).

Os coeficientes de concordância calculados mostraram níveis de concordância entre 21,02 %

e 47,32 % o que mostra opiniões divergentes dos provadores em relação aos produtos Tabela 2.

Tabela 2: Resultados dos Valores dos Coeficientes de Concordância calculados.

Escalas e

Atributos

Coeficientes de Concordância em

Porcentagem

Escala do Ideal F1 F2 F3 F4

Aparência 45,71 40,47 36,87 43,49

Consistência 42,36 39,04 39,96 43,66

Textura 45,84 41,27 39,74 38,94

Cor 36,68 36,50 32,76 38,44

Doçura 46,34 40,79 47,32 41,40

Sabor 23,74 26,97 27,48 39,80

Escala Hedônica

Av. Global 26,08 24,39 21,02 34,25

Os valores mais baixos foram encontrados para o sabor e avaliação global do produto o que nos

leva a crer que o sabor dos produtos precisaria de melhoria, a maior concordância na avaliação do

sabor e na avaliação global do produto foi obtida para o produto F4 (Padrão).

O decréscimo na aceitação sensorial do produto, devido ao sabor, pode estar associado à ação do

Lactobaciilus delbrueckii ssp bulgaricus que possui alta atividade proteolítica, liberando peptídeos

pela ação de enzimas citoplasmáticas proteolíticas influenciando a aceitação sensorial do produto.

MARTIN et al. (2002), constataram alteração no sabor em iogurtes devido á proteólise, o

Lactobacillus bulgaricus possui alta atividade proteolítica. Dos julgadores recrutados 26 % não

consomem regularmente bebida láctea, mas a maior parte deles comprariam o produto como se

pode observar na Figura 5.

Os julgadores foram solicitados a dizer qual a preferência entre as amostras apresentadas

sem contar com a formulação Padrão (F4). A resposta final de preferência de 40 % dos julgadores

foi pela formulação F1, conforme se pode notar na Figura 6.

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Figura 5: Gráfico Ilustrativo do Percentual

de Julgadores que Comprariam o Produto

Figura 6: Gráfico Ilustrativo do Percentual de

Preferência que os Produtos Conseguiram.

Figura 7: Gráfico Obtido com Base nos

Resultados de Avaliação por Meio da

Escala Hedônica, onde pode-se observar

a Localização das Quatro Diferentes

Amostras e os Vetores Individuais de

cada provador.

Figura 8: Gráfico Obtido com Base nos Resultados

de Avaliação por Meio da Escala do Ideal, onde

pode-se Observar a Localização das Quatro

Diferentes Amostras, os Vetores Individuais de

cada provador e o Posicionamento Relativo dos

Seis Atributos Sensoriais Avaliados nos Produtos.

Em resumo pode-se observar que os produtos precisariam ser melhorados principalmente no que diz

respeito ao sabor. Dentre os produtos avaliados o produto da Formulação 3 foi o mais bem aceito e

os problemas na cor e consequentemente na aparência desse produto podem ter sido os responsáveis

pela redução da média obtida por ele na escala hedônica, pois quando um produto é avaliado como

um todo qualquer atributo pode prejudicar a nota final.

A apresentação de um mapa de preferência interno de dois fatores deixa mais claro o

direcionamento da preferência dos julgadores que avaliaram o produto, para a construção do mapa

utilizou-se apenas os resultados obtidos na avaliação global das bebidas lácteas. De acordo com

Minin (2006), o mapa de preferência interno identifica a principal variação extraindo as duas

primeiras dimensões da preferência. Nesse estudo a primeira componente explicou 51,59 % da

variação e a segunda componente explicou 30,21 % sendo que as duas juntas explicaram mais de 80

% da variação.

Por meio desse mapa, observando-se os vetores que ilustram o comportamento dos provadores,

ficou claro o maior direcionamento dos provadores para o lado direito do mapa onde se encontra a

amostra padrão, e um direcionamento inferior para o lado esquerdo onde se encontram F1, F2 e F3.

De todas as amostras a Formulação 3 foi a que se localizou mais próximo da F4 (Padrão), isso

ilustra o motivo desta ter sido a formulação mais bem aceita, ela não está mais próxima por conta

das melhorias que ainda precisam ser realizadas nela para que seja mais bem aceita. Para explorar

de maneira mais completa esses dados, realizou-se um agrupamento dos julgadores por meio da

análise multivariada. Essa análise nos fornece um mapa de preferência interno de três fatores (three-

way preference mapping) conforme descrito por Nunes, Pinheiro e Bastos (2011) e (Nunes et al.,

2012) e pode ser utilizada para verificar o posicionamento das amostras em relação à preferência

dos julgadores e aos atributos avaliados, sendo que no caso deste estudo foi feita com base nas notas

dadas ao produto pela escala do ideal.

Os resultados dessa técnica podem ser visualizados na Figura 8, sendo que a variância explicada

pelo Fator 1 foi de 31,85 % e pelo Fator 2 de 45,50 %. Juntos os dois fatores explicam mais de 90

% da variabilidade dos dados. Da mesma forma que no teste anterior o padrão se posicionou no lado

contrário das demais formulações demonstrando claramente a diferença dele em relação aos demais

produtos. Os atributos de qualidade ficaram situados mais para o lado do produto padrão tendo sido

este produto o que se apresentou mais próximo do ideal pela avaliação dos julgadores. Os outros

Figura 5: Gráfico Ilustrativo do Percentual de

Julgadores que Comprariam o Produto

Figura 6: Gráfico Ilustrativo do Percentual de

Preferência que os Produtos Conseguiram.

Figura 7: Gráfico Obtido com Base nos

Resultados de Avaliação por Meio da Escala

Hedônica, onde pode-se observar a

Localização das Quatro Diferentes Amostras e

os Vetores Individuais de cada provador.

Figura 8: Gráfico Obtido com Base nos

Resultados de Avaliação por Meio da Escala do

Ideal, onde pode-se Observar a Localização das

Quatro Diferentes Amostras, os Vetores

Individuais de cada provador e o

Posicionamento Relativo dos Seis Atributos

Sensoriais Avaliados nos Produtos.

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produtos ficaram do lado oposto indicando que todos eles precisariam melhorias em seus atributos

de qualidade para chegarem mais próximos do produto padrão e do ideal buscado pelos julgadores

para as bebidas lácteas. O peso do Fator 2 foi superior ao do Fator 1 o que nos informa que a

distancia vertical significa maior diferença entre os produtos do que a horizontal, dessa forma as

amostras F1 e F2 estariam mais distantes do produto padrão do que a amostra F3 o que condiz os

demais testes anteriormente apresentados. A adequada aplicação da metodologia sensorial permite a

obtenção de resultados significativos sobre o alimento desenvolvido, de forma prévia, quanto á sua

aceitabilidade no mercado consumidor (CRUZ et al. 2010).

4. CONCLUSÃO

A formulação que apresentou os melhores resultados para todos os atributos sensoriais avaliados foi

a formulação F4, porém, a preferência final dos julgadores foi para formulação F1 (4 % de polpa de

Cambuci) com 40 % de preferência. No entanto, os resultados da análise sensorial demonstraram

que a bebida láctea fermentada não obteve a aceitação esperada quando submetido à avaliação

sensorial humana, com relação ao atributo sabor, isto deve ser a falta de ajuste do modelo que levou

á uma seleção de desejabilidade não ideal, necessitando de melhorias no sabor. O desenvolvimento

das quatro formulações evidenciou a produção de um alimento nutritivo, rico em vitamina C

presente na fruta camubuci, de baixo valor calórico, adicionada do prebiótico farinha de yacon e

bactérias probióticas, saudável, funcional, possibilitando melhoras nos aspectos relacionados à

saúde e à satisfação do consumidor. Além de agregar valor a um subproduto da indústria de

laticínios, como a utilização do concentrado protéico de soro (CPSs), por ser nutritivo, de baixo

custo e por apresentar-se como alternativa que proporcionará redução do impacto ambiental.

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DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA SALSA

(Petroselinum crispum) PELO MÉTODO DE INFUSÃO

Bruna Yuu Tanaka Pereira1;Eleomar de Oliveira Pires Júnior

2; Valdemar Padilha Feltrin

3

RESUMO

A salsa é uma planta condimentar muito utilizada no mundo, tanto para finalidades alimentícias

como farmacêuticas, porém, devido à má utilização, muitos dos seus componentes acabam sendo

desperdiçados. Um exemplo disso seria o talo, que por sua vez, é rico em vitamina C e óleos

essenciais. Deste modo, os talos da salsa foram submetidos à testes microbiológicos em cultivos de

Staphylococcus ssp e Escherichia coli com diluição da infusão de salsa em diversas concentrações

(Controle, 2%, 1%, 0,5% e 0,1%) e por disco difusão, com a finalidade de avaliar o seu potencial

antibacteriano para Staphylococcus ssp e Escherichia coli. Os resultados obtidos através do método

de disco difusão revelaram que para Staphylococcus ssp a concentração de 2% apresentou maior

potencial antibacteriano do que as demais, enquanto para Escherichia coli um halo de inibição se

manteve constante para todas as outras concentrações. Com relação ao método de diluição por

infusão, dois meios de cultura foram utilizados, Caldo Infusão Cérebro e Coração (BHI) e Lauril

Sulfato Triptose (LST), na finalidade de observar a influência dos mesmos sobre os micro-

organismos estudados em função das concentrações da substância contida através da infusão do talo

da salsa. Para mensurar os resultados, as amostras foram coletadas em diversos intervalos de tempo

(0 horas, 8 horas, 12 horas, 16 horas, 20 horas e 24 horas) e submetidas a avaliação da absorbância

em espectrofotômetro. Com os dados coletados foi possível construir gráficos de desenvolvimento

microbiano em cada um dos meios de cultura. Sendo assim, constatou-se que, o Staphylococcus ssp

apresentou menor crescimento em caldo BHI enquanto a Escherichia coli não apresentou inibição

considerável em ambos os meios.

Palavras-chave: Micro-organismos; Desperdício; Concentrações, Reaproveitamento.

________________________ 1 Bruna Yuu Tanaka Pereira – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Eleomar de Oliveira Pires Júnior – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 3 Valdemar Padilha Feltrin – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Instituições como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),

apontam que atualmente cerca de 1,3 bilhões de toneladas de alimentos são desperdiçados

anualmente ao redor de todo planeta. Esse valor corresponde aproximadamente a um terço de toda

produção mundial de alimentos. Vale salientar, que grande parte do desperdício mundial acontece

nas fases de produção, manipulação, pós-colheita e armazenagem dos produtos (FAO, 2009).

Com relação ao Brasil, essa situação não é diferente. Atualmente, o país desperdiça em todo o seu

território aproximadamente 26 milhões de toneladas de alimentos por ano. Outro fator importante, é

que de cada 100 caixas de produtos agrícolas, apenas 61 chegam no destino final. O que resulta em

um lixo urbano composto por 60% de produtos de origem alimentícia (EMBRAPA, 2007).

A falta de conhecimento sobre diversas partes dos alimentos resulta muitas vezes no seu

desperdício. Um grande exemplo seria os talos, folhas e cascas, que podem ser mais nutritivas do

que outras partes consumidas habitualmente em nosso cotidiano. De outro modo, a utilização total

dos alimentos pode acarretar em um maior índice da economia, além de proporcionar características

de administração de recursos e de respeito a natureza (BADAWI, 2009).

A manipulação consciente dos alimentos resulta no aproveitamento máximo do que cada um tem

para oferecer. Dentre diversos nutrientes fundamentais que compõe cada um deles, grande parte se

tornam lixo devido à falta de informação. Um grande exemplo disso seria o talo da salsa

(Petroselinum crispum) que é rico em vitamina C e óleos essenciais, e por muitas vezes é

desperdiçado. Portanto, reduzir e evitar o desperdício pode propiciar em uma economia financeira

de até 30% dos gastos com a alimentação, além de reduzir o lixo orgânico, que hoje em dia

representa 65% de todo o lixo produzido no Brasil (INSTITUTO AKATU, 2003).

A salsinha (Petroselinum crispum), é uma hortaliça muito utilizada como condimento (HEREDIA

et al., 2003). Sua popularidade é difundida em todo Brasil. Possivelmente por ser considerada uma

das ervas condimentares muito utilizada ao redor do mundo. Outro aspecto importante, é que além

de ser utilizada para fins alimentícios, a salsa possui características farmacêuticas como, ação

diurética, estimulação menstrual e na prevenção de doenças cardiovasculares. Ainda, a

comercialização de suas folhas pode ser feita tanto fresca, quanto seca (LORENZI; MATOS, 2002).

O uso de antimicrobianos é muito comum atualmente, tanto para conservação (controle natural da

deterioração), quanto para a garantia da segurança (prevenção do crescimento de micro-organismos

patogênicos) dos alimentos. Dentre a diversidade de substâncias que combatem os micro-

organismos, podem se destacar as de caráter natural oriundas de partes vegetais. Essas substâncias

são capazes de proporcionar a redução do desenvolvimento de micro-organismos, além de

reduzirem a resistência de antibióticos pelos compostos patogênicos (TAJKARIMI et al., 2010).

A procura por alimentos seguros e de qualidade vem crescendo atualmente, juntamente as

preocupações com as doenças de origem alimentar, que muitas vezes são ocasionadas por micro-

organismos (TAJKARIMI et al., 2010). O que proporciona uma reflexão, visto que as doenças de

origem alimentar são os principais problemas para a saúde pública na atualidade. Isso ocorre até

mesmo em países industrializados, devido a fatores como, o advento do consumo de alimentos já

prontos e a rotina acelerada de muitos indivíduos. Sendo assim, é de extrema importância o

conhecimento de tecnologias voltadas para às áreas de prevenção de doenças alimentares

(PASAVENTO, 2015).

Deste modo, este trabalho teve o intuito de avaliar a ação antimicrobiana da salsa (Petroselinum

crispum), que é uma planta condimentar muito utilizada no Brasil, Através das técnicas de diluição

da infusão em diversas concentrações e disco difusão.

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2. MARTERIAS E MÉTODOS

2.1 Material Vegetal

Para o preparo das concentrações foram utilizados talos de uma amostra de salsa adquirida em um

supermercado no centro da cidade de Medianeira - PR. O talo da salsa foi devidamente separado de

suas folhas manualmente para que fosse possível macerar e fazer a primeira diluição (25 g de talo

de salsa em 225 mL de água destilada sendo submetido a esterilização).

2.2 Preparo das Concentrações

A princípio, cinco concentrações distintas de solução de salsa foram preparadas, conforme

demonstrado na Figura 1. Logo após, para cada bateria das concentrações, foram adicionados aos

meios de cultura Lauril Sulfato Triptose - LST e Caldo Infusão Cérebro Coração - BHI, e

inoculados os microrganismos Echerichia coli e Staphilococcus ssp conforme demonstrado na

tabela 1.

Figura 1: Fluxograma de Diluição da infusão de salsa em diversas concentrações.

Tabela 1: Composição das Baterias de Micro-organismos com as diluições da infusão de salsa em

diversas concentrações.

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2.3 Micro-organismos Utilizados

Para os seguintes testes manipulou-se duas cepas de micro-organismos diferentes, Staphylococcus

ssp e Escherichia coli ambas cultivadas no laboratório de Microbiologia da UTFPR – MD e

reativadas em caldo BHI e caldo LST durante aproximadamente 8 horas.

2.4 Preparo do Disco-difusor

Em placas de Petri distintas adicionaram-se as cepas reativadas de Staphylococcus ssp e

Escherichia coli por plaqueamento em superfície. Após a aderência do micro-organismo no Agar

Nutriente, os discos embebidos com as concentrações distintas da salsa foram adicionados com

auxílio de uma pinça na superfície de cada placa. Logo após, as placas foram incubadas a 35ºC por

aproximadamente 24 horas.

2.5 Preparo das Diluições da Difusão

Para a macrodiluição foram utilizados tubos de ensaio contento o caldo nutriente BHI e o LST para

o Staphylococcus ssp e Escherichia coli, respectivamente. Nestes tubos adicionou-se 0,1 mL das

cepas reativadas e em seguida as concentrações da salsa. Para observar o desenvolvimento dos

micro-organismos incubaram-se os tubos por, aproximadamente, 24 horas. A turbidez do conteúdo

foi observada pela primeira vez a partir das 8 horas de incubação e retirada 1 mL de cada tubo de

ensaio onde as mesmas seguiram para refrigeração, os tubos com os cultivos retornaram para a

incubadora por mais 4 horas. As amostras foram retiradas a cada 4 horas até completar 24 horas de

incubação.

2.6 Análise Instrumental

Para a determinação da absorbância em espectrofotômetro foi necessário que todas as amostras

passassem por centrifugação por pelo menos 10 minutos para que fosse possível separar o conteúdo

sólido do líquido. Assim que retirado o líquido de todas as amostras nos mesmos eram adicionadas

1 mL de água destilada e em seguida levada para leitura no espectrofotômetro. A leitura no

espectrofotômetro foi realizada em cada amostra retirada durante os intervalos de tempo das 24

horas de incubação e através da absorbância de cada amostra foi possível construir gráficos com o

crescimento microbiano em cada concentração de extrato de salsa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Disco Difusão em Placas

O método de disco difusão é um teste quantitativo que permite visualização do efeito causado pelo

suposto antimicrobiano produzido. Logo após a incubação por 24 horas pela técnica da difusão do

disco no Agar nutriente é possível notar a formação de um halo ao redor do mesmo. Mostrando

assim, a atividade antimicrobiana, podendo ser denominada como halo de inibição (VANDEN

BERGHE; VLIETINCK, 1991).

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Figura 2: A) Disco difusor Echerichia coli; B) Disco difusor Staphylococcus ssp.

Conforme a Figura 2 é possível notar que os halos formados tanto na placa com a E. coli, como na

placa de Staphylococcus ssp demonstraram resultado positivo em relação a atividade antimicrobiana

da diluição do talo da salsa. Porém, é notório que na concentração de 2%, o halo apresentou um

tamanho consideravelmente maior que as demais concentrações na placa de Staphylococcus ssp.

Enquanto que, na outra placa, notou-se a formação de um halo pequeno que se manteve em

tamanho constante em todas as concentrações produzidas da diluição do talo da salsa.

3.1 Diluição da Infusão

A diluição da infusão é um método que é utilizado para testes de sensibilidade microbiana, ou seja,

é um teste onde um determinado micro-organismo é posto para se desenvolver em composto a ser

estudado em caldo nutriente. Esse teste traz resultados de acordo com a capacidade de

desenvolvimento do micro-organismo com esse agente a ser testado. Deste modo através de um

espectrofotômetro foi possível observar o crescimento do micro-organismos através da absorbância

contido no conteúdo do caldo.

00h00min 8h00min 12h00min 16h00min 20h00min 12h00min

Controle 0.000 0.002 0.003 0.003 0.003 0.004

2% 0.000 0.002 0.003 0.003 0.002 0.003

1% 0.000 0.002 0.003 0.003 0.002 0.004

0,50% 0.000 0.002 0.003 0.003 0.002 0.003

0,10% 0.000 0.003 0.001 0.003 0.002 0.004

0.000

0.001

0.001

0.002

0.002

0.003

0.003

0.004

0.004

0.005

Ab

sorb

ânci

a

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92

Figura 3: Absorbância x Tempo - Staphylococcus ssp em meio BHI.

Conforme a Figura 3, pode-se observar que o micro-organismo Staphylococcus ssp apresentou um

teor de desenvolvimento reduzido quando inserido no meio BHI. O meio por sua vez, possuía as

proporções da diluição do talo da salsa (Petroselinum crispum) nas concentrações de: controle, 2%,

1%, 0,5%, 0,1%. Portanto, em todo o intervalo de tempo de incubação pode-se constatar que a

substância de talo de salsa influenciou em seu desenvolvimento, porém o mesmo não proporcionou

a morte do micro-organismo, ou seja, o seu efeito foi bacteriostático.

Figura 4: Absorbância x Tempo - Staphylococcus ssp em meio LST.

Com relação a Figura 4, os valores encontrados para absorbância se apresentaram de maneira

equivalente ou superior ao controle. Deste modo, vários fatores podem ter influenciado o

desempenho do micro-organismo, sendo alguns deles: possível reação da solução de salsa com o

meio, a contaminação do meio pelo manipulador ou a adaptação do micro-organismo no meio LST

(que não é o mais indicado para Staphylococcus).

00h00min 8h00min 12h00min 16h00min 20h00min 12h00min

Controle 0.000 0.002 0.002 0.002 0.002 0.004

2% 0.000 0.004 0.004 0.004 0.003 0.005

1% 0.000 0.003 0.004 0.003 0.003 0.008

0,50% 0.000 0.003 0.004 0.004 0.001 0.009

0,10% 0.000 0.003 0.004 0.003 0.003 0.007

0.000

0.001

0.002

0.003

0.004

0.005

0.006

0.007

0.008

0.009

0.010

Ab

sorb

ânci

a

00h00min 8h00min 12h00min 16h00min 20h00min 12h00min

Controle 0.000 0.001 0.002 0.002 0.002 0.003

2% 0.000 0.001 0.002 0.002 0.001 0.002

1% 0.000 0.001 0.001 0.001 0.001 0.002

0,50% 0.000 0.001 0.001 0.002 0.001 0.002

0,10% 0.000 0.001 0.002 0.002 0.002 0.002

0.000

0.001

0.001

0.002

0.002

0.003

0.003

0.004

Ab

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a

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Figura 5: Absorbância x Tempo - Echerichia coli em meio BHI.

De acordo com a Figura 5, pode-se observar que a Escherichia coli não sofreu influência relevante

com a presença da diluição do talo de salsa em suas diversas concentrações nas primeiras 16 horas.

Contudo, ao passar deste intervalo de tempo, constatou-se um declínio no desempenho do micro-

organismo nas amostras que possuíam a substância do talo.

Figura 6: Absorbância x Tempo - Echerichia coli em meio LST

Segundo a Figura 6, o desempenho da Echerichia coli teve uma leve inibição nas primeiras 8 horas.

Isso se esclarece através do comportamento inclinado das curvas construídas. Porém, a partir deste

horário o micro-organismo iniciou sua fase de crescimento acelerado. A partir daí o mesmo não

sofreu inibição com a substância do talo da salsa presente nas amostras.

4. CONCLUSÕES

Os resultados apresentados através das técnicas, de cultivo de Staphylococcus ssp e Escherichia coli

com diluição da infusão de talo de salsa em diversas concentrações (Controle, 2%, 1%, 0,5% e

0,1%) e por disco difusão mostraram atividade antimicrobiana nos micro-organismos estudados

(Staphylococcus ssp e em Escherichia coli), porém, o desenvolvimento dos dois micro-organismos

analisados não foi igual visto que o Staphylococcus ssp apresentou uma área de inibição maior na

técnica de disco difusão, além disso, o mesmo demonstrou maior sensibilidade nas baterias

estudadas através da técnica diluição da infusão. Já para a E. coli, pode-se observar uma resistência

considerável as diluições realizadas nas baterias de cultivo de micro-organismos com diluição da

infusão de talo de salsa em diversas concentrações, além de uma inibição menor nos discos

analisados nas placas. Contudo, o poder de inibição sobre os micro-organismos diminuiu com o

passar do tempo. O que resultou assim, em uma substância de caráter bacteriostática. Deste modo,

os resultados apresentados foram satisfatórios perante as metodologias aplicadas. Porém, é de

extrema importância um aprofundamento nos estudos sobre as características do talo de salsa para

obtenção de maiores informações sobre as propriedades antibacterianas do talo de salsa.

00h00min 8h00min 12h00min 16h00min 20h00min 12h00min

Controle 0.000 0.001 0.001 0.003 0.003 0.004

2% 0.000 0.002 0.004 0.002 0.003 0.004

1% 0.000 0.001 0.003 0.003 0.002 0.002

0,50% 0.000 0.001 0.003 0.004 0.002 0.002

0,10% 0.000 0.001 0.002 0.003 0.004 0.004

0.000

0.001

0.001

0.002

0.002

0.003

0.003

0.004

0.004

0.005

0.005

Ab

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94

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95

EFEITO DA INSENSIBILIZAÇÃO NA ATIVIDADE PROTEOLÍTICA DA

CARNE DE PEITO DE FRANGO

Rosana Aparecida da Silva-Buzanello1; Alexia Francielli Schuch

2; Diego Ricardo Nunes Nogues

3,

André Wilhan Gasparin4; Cristiane Canan

5; Adriana Lourenço Soares

6

RESUMO

A insensibilização por eletronarcose é comercialmente mais utilizada para insensibilização de

frangos antes do abate, no entanto, o método de insensibilização por atmosfera controlada de CO2

tem sido sugerido devido menor estresse animal. Poucos estudos tem reportado a influência do

método de insensibilização na qualidade da carne de frango. Assim, o objetivo deste trabalho foi

avaliar a influência do método de insensibilização na atividade proteolítica da carne de frango

através da determinação de cálcio sarcoplasmático e índice de fragmentação miofibrilar. Frangos da

linhagem Cobb (42-48 dias) foram submetidos a insensibilização por eletronarcose (n = 100) ou por

atmosfera controlada de CO2 (n = 100) e abatidos seguindo as práticas comerciais industriais.

Amostras de filés de peito de frango foram avaliadas quanto ao teor de cálcio sarcoplasmático por

espectrometria de absorção atômica de chama. O índice de fragmentação miofibrilar foi

determinado por espectrometria UV-Vis como medida indireta da atividade de calpaína. Os teores

de cálcio sarcoplasmático e IFM foram superiores em amostras de frangos insensibilizados por

eletronarcose do que àquelas insensibilizadas por atmosfera controlada de CO2. Isto pode ser

atribuído à maior atividade sistema calpaína, ativado pela presença de cálcio liberado em excesso

no sarcoplasma, o que normalmente ocorre em condições de estresse animal. A insensibilização por

atmosfera controlada de CO2 resultou em menor atividade proteolítica precoce da carne de frango

do que a eletronarcose de acordo com as medidas indiretas do sistema calpaína. ____________________________ 1 Rosana Aparecida da Silva-Buzanello – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos – Universidade Estadual

de Londrina, [email protected] 2 Alexia Francielli Schuch – Acadêmica do Mestrado em Tecnologia de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Tecnologia de Alimentos (PPGTA) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 3 Diego Ricardo Nunes Nogues – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 André Wilhan Gasparin – Supervisor de Abate – Cooperativa Agoindustrial Lar, Matelândia, [email protected]

5 Cristiane Canan – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira – [email protected] 6 Adriana Lourenço Soares – Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade

Estadual de Londrina, [email protected]

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Palavras-chave: Teor de Cálcio Sarcoplasmático; Índice de Fragmentação Miofibrilar; Calpaína.

1. INTRODUÇÃO

Considerada essencial para o atendimento do bem-estar animal, a insensibilização é uma das

primeiras etapas do abate. Segundo a Instrução Normativa nº 3 de 17 de janeiro de 2000 (BRASIL,

2000) que aprova o Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate

Humanitário de Animais de Açougue, a morte de um animal deve ser ocasionada exclusivamente

pela sangria. Assim, estudos sobre os métodos de insensibilização apresentam relevância tanto na

observação do atendimento à legislação, bem como, na avaliação de sua influência na qualidade

final da carne.

Largamente utilizada pelas indústrias brasileiras, a eletronarcose consiste na aplicação de corrente

elétrica de alta tensão e baixa corrente, que atravessa o cérebro do animal e provoca a inconsciência

instantânea antes do abate (GOMIDE et al., 2014; RAJ, 2004; KETTLEWELL; HALLWORTH,

1990).

A baixa eficiência da insensibilização por eletronarcose em frangos e maior estresse animal tem

sido reportada (SAVENIJE et al., 2002; FLETCHER, 2002; CRAIG; FLETCHER; PAPINAHO,

1999; HOEN; LANKHAAR, 1999) sendo crescente as recomendações de uso do método de

insensibilização por atmosfera controlada gasosa por governos e organizações de proteção animal

em toda Europa (GERRITZEN et al., 2013). Este método consiste na introdução do animal em um

ambiente fechado contendo gás anestésico, geralmente dióxido de carbono ou argônio, aplicado

isoladamente ou em combinação com outros gases, possibilitando a insensibilização por anóxia

cerebral (GOMIDE et al., 2014). A insensibilização por atmosfera controlada gasosa é

regulamentada pela Instrução Normativa nº 3 de 17 de janeiro de 2000 (BRASIL, 2000), que prevê

o uso de dióxido de carbono, ou mistura de dióxido de carbono e gases do ar a que os animais são

expostos para a insensibilização, devendo ser controlada para resultar em um estado de

inconsciência até o momento da sangria.

As condições de estresse animal antes e durante o abate podem afetar as características bioquímicas

da carne. O estresse animal tem sido correlacionado com o aumento da liberação de cálcio

sarcoplasmático (SOARES et al. 2003) e aumento do índice de fragmentação miofibrilar

(WILHELM et al., 2010) em carnes de frango PSE (Pale, Soft, Exudative) comparadas às normal,

sendo estas medidas indiretas da atuação do sistema calpaína responsável pelo processo de

resolução do rigor mortis (KOOHMARAIE, 1992; CULLER et al., 1978). Deste modo, a

determinação destes parâmetros bioquímicos da carne de frango submetida a diferentes tipos de

insensibilização pode ser utilizada para estimar o estresse animal em função dos tratamentos.

Poucos estudos tem reportado a influência do tipo de insensibilização nos parâmetros de qualidade

da carne de frango.

Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a influência do tipo de insensibilização na atividade

proteolítica da carne de frango através da determinação de cálcio sarcoplasmático e índice de

fragmentação miofibrilar.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Preparação das amostras

Os experimentos foram conduzidos em uma planta industrial localizada na região Oeste do Paraná.

Frangos comerciais da linhagem Cobb de ambos os sexos, com idade entre 42 e 48 dias e peso

médio de 2,84 ± 0,14 kg, foram abatidos seguindo as práticas comerciais de insensibilização

(eletronarcose ou atmosfera controlada de CO2), sangria, escaldagem, depenagem, evisceração e

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resfriamento em chiller. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Animais

da Universidade Estadual de Londrina (número de protocolo: 3158.2016.57).

2.2 Delineamento experimental

O estudo foi conduzido por um delineamento em blocos inteiramente casualizado, utilizando cinco

lotes de frangos diferentes. Em cada lote, as aves foram provenientes do mesmo aviário e mesmo

caminhão de transporte. Metade das aves de cada lote foram submetidas à insensibilização por

eletronarcose e a outra metade à atmosfera controlada de CO2 (n = 200).

Na insensibilização por eletronarcose, as aves foram penduradas pelas patas e insensibilizadas em

cubas de imersão contendo solução salina carregada com corrente elétrica de aproximadamente 150

mA por ave, tensão de 180 V e 400 Hz de frequência, por um tempo de 5,7 s.

Na insensibilização por atmosfera controlada de CO2, as aves foram retiradas dos caminhões e

levadas diretamente à uma câmara de insensibilização dentro de suas gaiolas de transporte. Para

tanto, utilizou-se uma câmara de teste fornecida pela Meyn Food Processing BV (Oostzaan,

Holanda), com dimensões exteriores de 2600 × 2200 × 2500 mm (comprimento x largura x altura).

A insensibilização deu-se com aplicação de CO2 em cinco estágios, os quais as aves foram expostas

à concentrações gradativas de 20, 30, 35, 40 e 60% de CO2, com tempo de exposição de 60 s em

cada um dos quatro primeiros estágios e de 120 s no último, totalizando 6 min. Após a

insensibilização, as aves foram levadas para o setor de pendura, sendo submetidas as demais etapas

do abate convencional.

Após o resfriamento em chiller, as carcaças foram removidas da linha de produção e os filés de

peito de frango (Pectoralis major) foram desossados manualmente (1,5 h post-mortem) e as porções

direitas foram acondicionadas em embalagens de nylon, congeladas em túnel de congelamento (-35

°C) e armazenadas a -18 °C até o momento das determinações analíticas.

2.3 Determinação do teor de cálcio sarcoplasmático

Porções de 10 g de amostra (n = 50) foram suspensas em 25 mL de solução de KCl 150 mmol L-1

,

segundo metodologia proposta por Cheah, Cheah, Waring (1986) com algumas modificações. As

suspensões foram homogeneizadas por 2 min e centrifugadas a 6000 rpm por 4 min. O sobrenadante

obtido foi coletado, centrifugado a 26000 g por 4 min e 1 mL do sobrenadante obtido foi coletado e

adicionado em 4 mL de solução de lantânio 0,5%. O teor de cálcio sarcoplasmático foi quantificado

em espectrofotômetro de absorção atômica de chama a 422,7 nm (Varian, AA240FS, EUA) usando

carbonato de cálcio como padrão. As determinações foram conduzidas em duplicata.

2.4 Determinação do índice de fragmentação miofibrilar

O índice de fragmentação miofibrilar (IFM) é uma medida indireta da atividade das calpaínas

(CULLER et al., 1978). Amostras de filés de peito de frango (n = 50) congeladas e livres de tecido

conjuntivo foram picadas (4 g) e homogeneizadas em 20 mL de tampão IFM frio (KCl 100 mmol L-

1, KH2PO4 20 mmol L

-1, EDTA 1 mmol L

-1, MgCl2 1 mmol L

-1 e NaN3 1 mmol L

-1) pH 7,0 por 1

min. O homogenato foi centrifugado a 6000 rpm por 25 min à 2 °C. O sobrenadante foi coletado e

estocado em banho de gelo. O sedimento foi ressuspendido em 20 mL de tampão IFM frio e

centrifugado a 6000 g por 25 min a 2 °C. O sobrenadante foi adicionado ao primeiro coletado. O

sedimento foi ressuspendido em 10 mL de tampão IFM frio, homogeneizado, filtrado e a suspensão

filtrada foi adicionada aos sobrenadantes já coletados. O teor de proteínas da suspensão de

miofibrilas obtida foi determinada pelo método de Biureto. A absorbância de alíquotas das

suspensões em tampão IFM com uma concentração final de 0,5 mg mL-1

de proteína foi

determinada a 540 nm em espectrofotômetro ultravioleta-visível (Perkin Elmer, Lambda XLS

Beaconsfield, Reino Unido). O IFM foi expresso como A540 nm x 200. As determinações foram

realizadas em duplicata.

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2.5 Análise estatística

Os resultados obtidos foram avaliados por análise de variância (ANOVA) e teste t de Student para

comparação de médias, considerando um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores do teor de cálcio sarcoplasmático e do índice de fragmentação miofibrilar (IFM) (Tabela

1) foram diferentes (p ≤ 0,05) e superiores nas amostras de filés de peito provenientes de frangos

insensibilizados por eletronarcose do que àqueles insensibilizados por atmosfera controlada de CO2.

Estes parâmetros bioquímicos são utilizados como medidas indiretas da atividade enzimática

durante o post-mortem resultantes da atuação do sistema calpaína (KOOHMARAIE, 1992). Sabe-se

que sob condições de estresse animal um aumento da liberação de cálcio no sarcoplasma pode ser

desencadeado (SOARES et al., 2003), afetando consequentemente o teor de IFM obtido.

Tabela 1: Teor de cálcio sarcoplasmático e índice de fragmentação miofibrilar das amostras de filés

de peito de frangos submetidos à diferentes condições de insensibilização.

Parâmetros

bioquímicos

Método de insensibilização p-valor

CO2 Eletronarcose

Ca2+

(µg g-1

) 3,37 ± 0,41 4,10 ± 0,77 0,0002*

IFM 78,64 ± 7,06 100,35 ± 6,47 < 0,0001*

Médias ± desvio padrão.

Ca2+

: teor de cálcio sarcoplasmático; IFM: índice de fragmentação miofibrilar.

*Diferença significativa entre as médias pelo teste t de Student (p ≤ 0,05).

Concentrações de cálcio sarcoplasmático de 10 mmol L-1

são suficientes para proporcionar o

aumento da atividade das proteases endógenas do músculo (LEE et al., 2008). Segundo Koohmaraie

e Geesink (2006) a atuação do sistema calpaína resulta na proteólise da estrutura do sarcômero,

podendo ser visualizado pela medida do IFM. Estas considerações explicam os resultados obtidos

no presente estudo e sugerem que a insensibilização por eletronarcose proporcionou maior estresse

animal.

Segundo Gerritzen et al. (2013) a principal vantagem do método de insensibilização a gás é que as

aves podem ser insensibilizadas em seus recipientes de transporte, portanto, a manipulação e a

pendura de aves conscientes podem ser reduzidas ou eliminadas, minimizando esta etapa de

estresse. Assim, a ocorrência de asas quebradas e de hemorragias internas pode ser potencialmente

reduzida quando comparados, por exemplo, ao método elétrico de insensibilização pelo uso de cuba

de imersão (RAJ et al., 1990; VIZZIER-THAXTON et al., 2010). Estes fatores reportados podem

ter influenciado no menor estresse animal observado nas amostras provenientes de aves

insensibilizadas por atmosfera controlada de CO2.

4. CONCLUSÕES

A insensibilização por atmosfera controlada de CO2 resultou em menor atividade proteolítica

precoce da carne do peito de frango do que a insensibilização por eletronarcose, sugerindo menor

estresse animal.

5. AGRADECIMENTOS

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Os autores agradecem à CAPES, CNPq e Fundação Araucária pelo suporte financeiro e concessão

de bolsas de estudos.

REFERÊNCIAS

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100

VIZZIER-THAXTON, Y.; CHRISTENSEN, K.D.; SCHILLING, M.W.; BUHR, R.J.; THAXTON,

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EFICIÊNCIA DA ENCAPSULAÇÃO E ESTABILIDADE OXIDATIVA DO

ÓLEO DE CHIA MICRO ENCAPSULADO POR SPRAY DRYING

Luana Luz1; Marinês Paula Corso

2; Ilton José Baraldi

3; Deisy Alessandra Drunkler

4; Fábio

Avelino Bublitz Ferreira5

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi micro encapsular óleo de chia (Salvia hispanica L.) com proteína

isolada de soja e lecitina por meio da técnica de secagem por atomização. A secagem foi realizada

por spray drying utilizando-se um bico atomizador tipo duplo fluido, com orifício de 1,0 mm de

diâmetro, com a vazão da alimentação de 0,35 ± 0,03 L.h-1

, temperatura do ar de secagem de 124

°C e com pressão de ar do compressor de 0,4 MPa. As microcápsulas foram submetidas a avaliação

do rendimento de sólidos, da eficiência de encapsulação, determinação da atividade de água,

diâmetro médio e determinação do índice de peróxido. Os resultados se mostraram baixos para o

rendimento de sólidos obtidos após a secagem e para a eficiência de microencapsulação do óleo,

obtendo-se valores de 10,26% e 11,41%, respectivamente. A atividade de água (Aw) das

microcápsulas produzidas apresentaram valor médio de 0,3800 ± 0,0500, superfície integra e

arredondada com diâmetro médio de 602,2 ±315,16 µm, com presença de óleo no interior e na

superfície externa. Após o processo de secagem, houve um aumento do índice de peróxidos, de 1,81

±0,53 meq.Kg-1

para 18,50 ± 4,21 meq.Kg-1

. No entanto, durante o armazenamento por 30 dias o

índice de peróxidos diminuiu de 18,50 ± 4,21 meq.Kg-1

para 13,44 ± 1,37 meq.Kg-1

, porém, sem

apresentar diferença estatisticamente significativa (p > 0,05).

Palavras-chave: Microencapsulação; spray drying; ácidos graxos; Salvia hispânica L.

_________________________ 1 Luana Luz – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM)

– Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira. 2 Marinês Paula Corso – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3 Ilton José Baraldi – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Deisy Alessandra Drunkler – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Fábio Avelino Bublitz Ferreira – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) – Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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102

1. INTRODUÇÃO

As sementes de chia (Salvia hispânica L.) possuem cerca de 25 a 38 % de lipídeos, sendo estes

ricos em ácidos graxos poli-insaturados. De acordo com Ayerza (1995), os principais componentes

são os ácidos linoléico (17-26 %) conhecido como ômega 6, e o ácido α-linolênico (50-57 %)

conhecido como ômega 3. Dietas a base de ácidos graxos poli-insaturados evidenciaram a redução

de níveis de colesterol total e triglicerídeos, que são relacionados a doenças cardiovasculares,

ateroscleroses, artrite, hipertensão e trombose (MARTINS et al. 2008).

Os ácidos graxos, principalmente os insaturados, são suscetíveis a processos oxidativos que

comprometem a sua funcionalidade. Para evitar a oxidação, podem ser utilizadas barreiras, como a

encapsulação, que devem evitar o contato com oxigênio, a umidade e a luz. Quanto mais

insaturações possuírem os lipídios, maior deverá ser a proteção (PACHECO; REGITANO-

D‘ARCE, 2009).

A encapsulação pode proporcionar uma barreira física entre o composto do núcleo e o meio

externo. É uma técnica na qual um líquido ou composto gasoso será aprisionado em filmes finos,

formados a partir de uma membrana alimentícia, gerando microcápsulas disponíveis para várias

aplicações, como para enriquecimento de alimentos e para conferir sabor e aroma ao produto

(POSHADRI; KUNA, 2010; FREITAS, 2005).

Na indústria de alimentos, o procedimento mais utilizado para microencapsulação é a secagem por

spray drying. Este processo é rentável, flexível e produz partículas de boa qualidade

(FRASCARELI et al. 2012).

A técnica de spray drying inclui estabelecer as condições operacionais que aumentam a recuperação

de produto final com a qualidade desejada. A recuperação do produto é determinada principalmente

pela eficiência de pó coletado, podendo ocorrer perdas de produto, principalmente pela fixação do

pó seco nas paredes do equipamento (GOULA; ADAMOPOULOS, 2004). Proteínas extraídas a

partir de soja, trigo e outros vegetais já demostraram sua capacidade de proteger de forma eficiente

vários ingredientes sensíveis, principalmente utilizando a técnica de spray drying (NESTERENKO

et al. 2014).

Objetivou-se, no presente trabalho, avaliar a eficiência da encapsulação utilizando a proteína isolada

de soja e a lecitina de soja como materiais de parede no encapsulamento do óleo de chia por spray

drying e analisar a estabilidade oxidativa do óleo de chia encapsulado.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para a produção das microcápsulas foi utilizado o óleo da semente da chia (Salvia hispanica L.)

extraído por prensagem à frio e doado pela empresa Agropecuária Produza S.A., localizada em

Ciudad del Leste, Paraguai.

Os materiais encapsulantes utilizados foram: proteína isolada de soja (PIS), contendo 87% de

proteína e lecitina comercial de soja contendo 85% de emulsificantes, ambas da marca Linea Verde

Alimentos Ltda.

2.1 Microencapsulação do óleo de chia por atomização

A metodologia para encapsulação foi baseada no trabalho de Nesterenko et al. (2014), com

adaptações. Para a produção das microcápsulas preparou-se uma emulsão que foi submetida ao

processo de secagem por spray drying. Esta emulsão apresentou uma relação material de

parede/óleo de chia de aproximadamente 2:1, com 11,5% de sólidos totais, resultando na seguinte

composição: 7,57% de PIS, 0,1% de lecitina, 3,83% de óleo e 88,5% de água.

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O processo de secagem por spray drying foi realizado em um secador laboratorial

Mini Spray Dryer (MSD 1.0, LABMAQ, São José do Rio Preto, SP). O equipamento foi composto

por bico atomizador tipo duplo fluido, com orifício de 1,0 mm de diâmetro, com vazão de

alimentação da amostra de 0,35 ± 0,03 L.h

-1, temperatura do ar de secagem de 124 °C, temperatura

de saída de 64 ± 4 °C, pressão de ar do compressor de 0,4 MPa e a vazão de ar de atomização para o

bico de 35 L.min

-1.

2.2 Rendimento de sólidos recuperados

O rendimento de sólidos recuperados foi calculado para determinar as perdas sofridas durante a

secagem por spray drying, como descrito por González, et al. (2016). O rendimento de sólidos foi

calculado pela razão entre a massa de pó recolhido após cada secagem e a quantidade inicial

preparada para a emulsão (exceto a água), realizado em quintuplicata.

2.3 Eficiência da encapsulação

Para analisar a eficiência da encapsulação foi utilizado o procedimento descrito por González, et al.

(2016). Desta forma, a eficiência do processo foi medida a partir da quantidade de óleo de chia

presente na superfície das microcápsulas e o conteúdo total do óleo de chia presente no material

atomizado, ou seja, o óleo total do material atomizado (microcápsulas) e o óleo na superfície das

microcápsulas.

2.4 Atividade de água

Realizou-se a análise de atividade de água (Aw) para as amostras armazenadas durante 30 dias,

utilizando-se a metodologia descrita por Hijo et al. (2014), em triplicata. Esta análise foi realizada

em aparelho digital (modelo AquaLab 4TE, marca Decagon Devices, Pullman, USA).

2.5 Análise morfológica e determinação do diâmetro médio das microcápsula

As microcápsulas foram analisadas por microscopia ótica utilizando microscópio ótico Olympus

(TVO 63XC) e o programa de captura de imagens DP25 - BSW. Para a preparação das lâminas

foram utilizadas técnicas de coloração, utilizando lugol e fucsina como corantes, para melhor

visualização. As lentes utilizadas foram as oculares com aumento de 10 vezes e objetiva com

aumento de 4, 10 e 20 vezes.

2.6 Avaliação do perfil oxidativo do óleo de chia

Para a caracterização do potencial das microcápsulas contra a oxidação do óleo de chia encapsulado

foi realizada a determinação do índice de peróxidos para o óleo de chia, para o óleo encapsulado logo

após o processamento e para o óleo encapsulado após 30 dias de armazenamento, de acordo com as

normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2004), em triplicata. No armazenamento das

microcápsulas para esse período de tempo foi utilizado um dessecador com a umidade relativa em

33% a 20 °C.

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2.7 Análise estatística

Os resultados obtidos para o do índice de peróxidos foram submetidos à análise de variância e

quando detectada diferença significativa (ao nível de 5% de probabilidade) aplicou-se o teste de

Tukey, empregando o programa estatístico Minitab (Minitab Inc., Pensilvânia – EUA), versão 17.

3. RESULTADOS

Os valores obtidos para o rendimento de sólidos recolhidos no final do processo por spray drying

foi de 10,26 ± 2,50 %, obtendo grandes perdas durante a secagem. A baixa recuperação por spray

drying pode ser atribuída pela quantidade de pó retido no ciclone e que não foi coletado no final do

processo. Resultado semelhante foi observado por Kaushik et al. (2016), para microencapsulação de

óleo de linhaça.

A eficiência da encapsulação determina o grau de proteção do óleo de chia retido no interior das

microcápsulas e pode ser influenciada por vários fatores, como material encapsulante, relação

núcleo:material de parede e teor de sólidos totais (TOSONI; RODRIGUES, 2013). Quanto a

eficiência de encapsulação, esta foi de 11,41%. Ou seja, 88,59% do óleo presente no material

atomizado não foi encapsulado. Segundo Tang e Li (2012), utilizando a PIS como material

encapsulante obteve-se uma eficiência de encapsulação entre 33,1 a 51,4%, alterando-se os

parâmetros da secagem por spray drying e os parâmetros de preparo da emulsão, onde a melhor

condição do processo foi obtida quando utilizada a temperatura do ar de entrada do atomizador de

180 °C, conteúdo de sólidos totais de 20% e a relação núcleo:material de parede de 1:1.

Segundo Silva, Borges e Ferreira (1999), a umidade também pode afetar a estabilidade oxidativa

dos lipídeos, cujos experimentos realizados evidenciaram que valores de atividade de água entre 0,2

e 0,3 reduziram o processo de oxidação. Caso a umidade fosse próxima a zero, favoreceria a

migração do oxigênio e caso a umidade fosse alta propiciaria um aumento das reações de oxidação

enzimática. Em ambas as situações ocorreriam o aumento da velocidade de oxidação. Para este

experimento a atividade de água média das microcápsulas foi de 0,38 ± 0,05.

A partir da técnica de Spray Drying foi possível produzir microcápsulas que obtiveram uma

estrutura exterior arredondada e diâmetro médio de 602,21±315,16 µm, variando de 200 a 1000 µm.

Resultado semelhante foi obtido por Gan, Cheng e Easa (2008), que obtiveram microcápsulas

variando de 1 e 1000 µm para microencapsulação de óleo de peixe por técnica de coacervação. Com

base nas imagens produzidas (Figura 1) logo após a encapsulação, foi possível observar o óleo na

superfície das microcápsulas.

Figura 1 - Imagens das microcápsulas com aumento de 10 vezes utilizando lugol como corante.

Fonte- Autoria Própria.

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3.1 Estabilidade oxidativa

Na Tabela 1, estão apresentados os índices de peróxidos resultantes da avaliação da estabilidade

oxidativa do óleo de chia não encapsulado, encapsulado e armazenado 30 dias, em temperatura

ambiente (23º ± 2 ºC) e com umidade relativa de 33%.

Tabela 1 – Índice de peróxidos para óleo de chia, óleo de chia encapsulado por spray drying e óleo

de chia encapsulado por spray drying e armazenado por 30 dias. Condição de tratamento Índice de Peróxidos (meq/Kg)

*

Óleo de Chia 1,809 ± 0,534a

Óleo de Chia encapsulado 18,500 ± 4,210b

Óleo de Chia encapsulado e armazenado por 30 dias 13,436 ± 1,370b

*Média ± Erro padrão da média. Letras iguais, na mesma coluna, indicam não haver diferença significativa ao nível de

5% de probabilidade entre as amostras.

Por meio da análise de variância verificou-se que as amostras encapsuladas não apresentaram

diferenças significativas entre si para o índice de peróxidos (p > 0,05). Esta observação sugere que

com o armazenamento de 30 dias em atmosfera controlada não houve alteração significativa no

índice de peróxidos, ou seja, através do processo de encapsulação por spray drying, aplicou-se uma

barreira física, possivelmente efetiva contra a oxidação lipídica do óleo de chia. Entretanto, para a

amostra de óleo não encapsulado, verificou-se que existe diferença significativa (p < 0,05) quando

comparada às amostras encapsuladas e encapsuladas armazenadas por 30 dias, demonstrando que o

tratamento térmico, na presença de oxigênio, executado para o processo de encapsulação, acelerou

as reações oxidativas no óleo de chia. Esse resultado contrasta com aqueles apresentados por

González et al. (2016), em que não houve nenhuma diferença significativa (p > 0,05) entre as

amostras secas por spray drying em temperatura de entrada do ar de secagem de 130 °C e o óleo de

chia não encapsulado.

Ressalta-se que a inferência feita acima, com relação ao potencial de proteção das microcápsulas

contra a oxidação lipídica só poderá ser verdadeira se desconsiderado o fato de que a maior parte do

óleo (88,6%) estava depositado sob a superfície externa das microcápsulas.

Para as microcápsulas submetidas ao armazenamento durante 30 dias, o índice de peróxidos, apesar

de não apresentar diferença significativa (p > 0,05), mostrou uma tendência de diminuição. Isso

pode ocorrer porque os peróxidos são compostos instáveis e se decompõem, gerando produtos

secundários de oxidação, como aldeídos, cetonas, hidroxiácidos, hidrocarbonetos e polímeros, além

de que no início da reação de rancidez oxidativa, a velocidade de formação de peróxidos é maior

que a de decomposição (SILVA; BORGES; FERREIRA, 1999).

Segundo Silva, Borges e Ferreira (1999), a umidade também pode afetar a estabilidade oxidativa

dos lipídeos, cujos experimentos realizados evidenciaram que valores de atividade de água entre 0,2

e 0,3 reduziram o processo de oxidação. Caso a umidade fosse próxima a zero, favoreceria a

migração do oxigênio e caso a umidade fosse alta propiciaria um aumento das reações de oxidação

enzimática. Em ambas as situações ocorreriam o aumento da velocidade de oxidação. Para este

experimento a atividade de água média das microcápsulas foi de 0,38 ± 0,05.

4. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos permitem concluir que foi possível realizar a encapsulação do óleo de chia

utilizando PIS e lecitina de soja como materiais de parede, através da técnica de spray drying.

Porém, a maior parte do óleo de chia presente no material seco encontrou-se aderido à superfície

externa das microcápsulas e, portanto, em contato direto com o oxigênio. Com isso, foi verificada

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uma baixa eficiência no processo de encapsulação (11,41%). Essa eficiência na encapsulação

possivelmente pode ser melhorada através do processo de preparação e homogeneização da

emulsão, além dos parâmetros para a atomização da emulsão por spray drying.

Através da análise microscópica, foi observado que as microcápsulas apresentaram morfologia

homogênea, superfície arredondada, com presença de óleo em sua superfície externa e diâmetro

médio de 602,21 ± 315,16 µm.

Analisando a estabilidade oxidativa para o óleo de chia encapsulado, ficou evidente o aumento

significativo (p < 0,05) no índice de peróxidos após o processo de encapsulação, ocasionado

possivelmente no preparo e/ou na atomização da emulsão.

Na observação das microcápsulas armazenadas, foi verificada estabilidade do óleo durante o

armazenamento, caracterizando efetividade do material de parede na proteção do óleo encapsulado

contra a oxidação, nas condições testadas. Observou-se que o índice de peróxidos diminuiu ao

longo do tempo de armazenamento, porém, não diferindo estatisticamente (p ≥ 0,05) entre o tempo

zero e trinta dias. Essa redução provavelmente ocorreu pela instabilidade dos peróxidos e formação

de compostos secundários de oxidação.

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ENRIQUECIMENTO NUTRICIONAL DE ALIMENTOS COM FARINHA DE

CMS DE TILÁPIA

Eloisa Cola Ribeiro de Oliveira¹; Gabrieli Ribas de Morais²; Gabriela Marins Venturelle Amorim3;

Rodolfo Jaramillo Aranda Junior4; Paola Stefanutti

5, Gislaine Silveira Simões

76

RESUMO

A carne mecanicamente separada (CMS) de peixe é obtida a partir dos resíduos da filetagem, é um

alimento de fácil digestão, fonte de proteínas, minerais, vitaminas A, D e do complexo B e não

possui espinhas. Buscar alternativas de utilização de CMS de peixe é uma forma de reduzir os

impactos negativos do beneficiamento de peixe ao meio ambiente e pode solucionar problemas de

má nutrição atribuída à carência ou deficiência de proteínas de alto valor biológico. O objetivo deste

trabalho foi utilizar uma farinha de CMS de tilápia em produtos alimentícios visando o

enriquecimento nutricional destes alimentos. Os produtos enriquecidos foram uma farofa de pinhão

e o pão brioche, de ambos foram testados formulações padrões (sem farinha de CMS) e formulações

adicionadas de 10% e 20% de farinha de CMS, sem substituição da farinha de trigo e de mandioca,

mas sim por adição. Verificou-se a composição centesimal da farinha de CMS de tilápia e dos

produtos enriquecidos com a farinha. Com a análise dos resultados, observou-se que a farinha de

CMS apresentou 75,09 +0,18% de proteínas e 9,40 +0,31% de minerais, e tanto as farofas como os

pães adicionados de farinha de CMS apresentaram aumento nos teores de proteínas e minerais

quando comparados com as formulações padrões. Concluiu-se que é possível adicionar farinha de

CMS de tilápia em produtos alimentícios e que esta adição promove o enriquecimento nutricional

de alimentos que podem ser inseridos no cotidiano.

1 Eloisa Cola Ribeiro de Oliveira – Docente de Gastronomia – Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu,

Uniamérica, Foz do Iguaçu, email: [email protected] 2 Gabrieli Ribas de Morais - Aluna do Curso Técnico em Cozinha, IFPR, Campus Foz do Iguaçu -

[email protected] 3 Gabriela Marins Venturelle Amorim - Aluna do Curso Técnico em Cozinha - IFPR, Campus Foz do Iguaçu;

[email protected] 4 Rodolfo Jaramillo Aranda Junior - Aluno do Curso de Engenharia de Aquicultura - IFPR, Campus Foz do Iguaçu,

[email protected] 5

Paola Stefanutti - Docente de Gastronomia – Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu,

[email protected] 6 Gislaine Silveira Simões

- Docente de Tecnologia de Alimentos - Instituto Federal do Paraná, Campus Foz do Iguaçu,

[email protected]

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Palavras-chave: Desenvolvimento de produtos; Gastronomia; Farinha de peixe; Farofa de pinhão.

1. INTRODUÇÃO

O aumento do consumo de peixes e os investimentos na expansão de frigoríficos estão alavancando

o cultivo de peixes no Paraná. A produção de peixes em 2016 ficou estimada em 110 mil toneladas

no Paraná, de acordo o Departamento de Economia Rural da Secretariada Agricultura e do

Abastecimento (SEAB, 2016), sendo que a região Oeste apresenta grande destaque na área da

piscicultura. Além do aumento no número de frigoríficos de peixe, as associações de pescadores

profissionais também têm se destacado na obtenção, beneficiamento e comercialização de peixes

nas regiões do lago da usina de Itaipu.

A carne mecanicamente separada (CMS) de peixe é um produto obtido a partir dos resíduos do

beneficiamento de peixes, como a filetagem, também denominado “minced fish‖. A CMS é obtida

pela passagem do pescado eviscerado e descabeçado ou de seus resíduos por uma máquina

separadora de carne e ossos, ou despolpadeira. Pode ser proveniente de uma única espécie de peixe

ou de uma mistura de espécies com características sensoriais semelhantes. O processo de obtenção

de CMS gera partículas de músculo esquelético isentas de vísceras, escamas, ossos e pele. A CMS

pode ser submetida à cocção, formatada, fatiada e congelada, sendo posteriormente utilizada como

ingrediente para elaboração de subprodutos do pescado (NEIVA; GONÇALVES, 2011; apud

PIRES, et al., 2014).

A CMS de peixe representa uma alternativa para a elaboração de novos produtos, sendo possível

agregar alto valor nutricional ao produto final, sendo comumente utilizada na elaboração de

―fishburger‖, empanados, patês, embutidos e reestruturados de peixe. A CMS de peixe é um

alimento de fácil digestão e fonte de proteínas, minerais, principalmente cálcio e fósforo, vitaminas

A, D e complexo B, não possui espinhas, porém apresenta alto teor de umidade, consequentemente,

curto tempo de validade (KIRSCHNIK, 2007).

O desenvolvimento de produtos alimentícios através do aproveitamento de proteínas de pescado

constitui-se em uma alternativa promissora para obtenção de produtos com excelente qualidade

nutricional. Buscar alternativas de utilização CMS de peixe é uma forma de reduzir os impactos

negativos do beneficiamento de peixe ao meio ambiente, visto que são aproveitados resíduos do

processo de filetagem, ao mesmo tempo, pode ser uma solução para problemas de má nutrição

atribuída à carência ou deficiência de proteínas de elevado valor nutricional na dieta alimentar.

Neste sentido, diversos estudos foram desenvolvidos utilizando farinha de peixe elaborada com

resíduos de peixe. Godoy et al. (2010) elaboraram caldos e canjas a base de farinha de carcaça de

tilápia do Nilo, carpa e pacu defumados com o objetivo de inserção na merenda escolar, sendo que

os autores verificaram através de análise sensorial com provadores não treinados, que os caldos e as

canjas elaborados a partir das farinhas aromatizadas tiveram boa aceitabilidade, independente da

espécie utilizada. Adeleke e Odedeji (2010) avaliaram a inclusão de 5, 10, 15 e 20% de farinha de

tilápia em pães, Veit et al. (2012) estudaram a adição de 20% e 12% de filés de tilápia cozidos e

triturados em bolo de chocolate e cenoura, respectivamente, sendo que ambos os autores concluíram

que os produtos estudados obtiveram índices de aceitabilidade satisfatórios e incremento no valor

nutricional, principalmente no que diz respeito ao teor de proteínas e lipídios dos alimentos.

Baseado nestes estudos e devido a importância de desenvolvimento de produtos alimentícios com

adição de CMS de peixe, o objetivo deste trabalho foi produzir uma farinha de CMS de tilápia e

verificar o efeito da adição desta farinha sobre a composição centesimal de pães brioche e de uma

farofa de pinhão visando o enriquecimento nutricional destes alimentos. Portanto, foi investigada a

composição centesimal da farinha de CMS de tilápia e dos alimentos adicionados de 10% e 20% de

farinha de CMS de tilápia. A justificativa pela escolha dos produtos pão e farofa, deve-se ao fato de

que o pão é consumido todos os dias por grande parte da população brasileira, e a farofa de pinhão

apresenta-se como um prato típico do Paraná, portanto, com a adição de farinha de CMS de tilápia,

pretende-se enriquecer esses alimentos que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Produção da farinha de CMS de tilápia

A CMS de tilápia (Oreochromis nilotica) foi obtida congelada de um frigorífico comercial da região

oeste do Paraná. Foi descongelada a 4±2 ºC por um período de 12 h, sendo então submetida ao

processo de prensagem pelo uso de uma prensa de rosca. Após a prensagem a CMS foi distribuída

em formas de alumínio perfuradas e realizou-se a secagem em estufa com circulação de ar (marca

Solab, modelo Sl-100) na temperatura de 70ºC por 10 h, sendo que esta temperatura foi definida em

estudos realizados previamente. Após a completa secagem, a CMS foi triturada em processador de

alimentos para obtenção da farinha.

2.1 Aplicação da farinha de CMS de tilápia em produtos alimentícios

2.2.1 Elaboração da farofa de pinhão enriquecida com farinha de CMS de tilápia

Testaram-se três formulações: padrão (sem farinha de CMS), com adição de 10% de farinha de

CMS, e com adição de 20% de farinha de CMS. Sendo que estas porcentagens foram baseadas na

quantidade de farinha de mandioca fina e bijusada, sem substituição, apenas adicionou-se a farinha

de CMS à farinha de mandioca. A Tabela 1 apresenta as formulações testadas.

Tabela 1 - Formulações de farofa de pinhão enriquecida com farinha de CMS de tilápia.

Ingredientes Farofa

Padrão

Farofa com 10% de

farinha de CMS

Farofa com 20% de

farinha de CMS

Farinha de mandioca fina 30,0 g 30,0 g 30,0 g

Farinha de mandioca – Biju 30,0 g 30,0 g 30,0 g

Farinha de CMS - 6,0 g 12,0 g

Pinhão cozido 60,0 g 60,0 g 60,0 g

Manteiga 12,5 g 12,5 g 12,5 g

Pimenta do reino 0,30 g 0,30 g 0,30 g

Pimenta rosa 0,20 g 0,20 g 0,20 g

Cebola em pó 0,30 g 0,30 g 0,30 g

Alho em pó 0,22 g 0,22 g 0,22 g

Salsa desidratada 0,45 g 0,45 g 0,45 g

Sal 1,0 g 1,0 g 1,0 g

Para preparar as farofas, primeiramente, o pinhão foi picado em pequenos pedaços e salteado na

manteiga clarificada. Em seguida, adicionaram-se as farinhas de mandioca fina, bijusada e a farinha

de CMS de tilápia, deixou-se dourar por 5 min. Ao final, foram adicionados os demais ingredientes,

deixou-se esfriar e armazenou-se em potes plásticos.

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2.2.2 Elaboração dos pães

Para a elaboração dos pães utilizou-se uma receita padrão de pão brioche e testou-se a adição de

10% e 20% de farinha de CMS de tilápia. Sendo que estas porcentagens foram baseadas na

quantidade de farinha de trigo, sem substituição, apenas adicionou-se a farinha de CMS à farinha de

trigo. A Tabela 2 apresenta as formulações testadas. Para a elaboração dos pães, primeiramente foi

misturado os ovos com o açúcar e o sal, acrescentou-se a farinha de trigo e a farinha de CMS

peneirada, em seguida adicionou-se o fermento dissolvido em água. Sovou-se a massa em batedeira

planetária, acrescentou-se a manteiga e sovou-se novamente. Deixou-se a massa em repouso à 30 ºC

por 40 min para crescer, em seguida moldou-se os pães em forma de alumínio e deixou-se crescer

por 30 min à 30 ºC. Ao final, os pães foram assados em forno à gás na temperatura de 140 ºC por 30

min.

Tabela 2 - Formulações dos pães brioche padrão e enriquecidos com farinha de CMS de tilápia

Ingrediente Pão Padrão Pão com 10% de

farinha de CMS

Pão com 20% de farinha

de CMS

Farinha de CMS de tilápia - 25 g 50g

Farinha de trigo 250 g 250 g 250 g

Manteiga 50 g 50 g 50 g

Fermento biológico seco 10 g 10 g 10 g

Leite 100 g 100 g 100 g

Ovos 60 g 60 g 60 g

Açucar 40 g 40 g 40 g

Sal 2 g 2 g 2 g

2.3 Composição centesimal da farinha de CMS de tilápia e dos produtos alimentícios

Para determinar a composição centesimal da farinha de CMS de tilápia e dos produtos enriquecidos

com a farinha foram realizadas as análises de composição centesimal (umidade, proteína, lipídeos,

carboidratos e resíduo mineral) seguindo metodologia da AOAC (2006), exceto carboidratos que foi

mensurado por diferença. Também foi realizada a medida de atividade de água (Aw) da farinha de

CMS de tilápia utilizando analisador de atividade de água (Novasina Tecnal, modelo LabSwift).

Todas as medidas foram realizadas em duplicata e calculadas as médias e desvios padrão utilizando

Microsoft Excel 2007.

2.4 Análise estatística

As médias de composição centesimal de cada formulação de farofa e de cada formulação dos pães

foram comparadas estatisticamente (p<0,05) pelo Teste de Tukey utilizando software Statistic 7.0.

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112

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da farinha de CMS de tilápia

Observou-se que a farinha de CMS de tilápia apresentou alto teor protéico (75,09 +0,18%)

conforme apresentado na Tabela 3, e por ser obtida de matéria prima animal (peixe), provavelmente

apresenta aminoácidos essenciais. Além do alto valor protéico, a farinha apresentou alto valor de

minerais (9,40 +0,31%). A presença de minerais deve-se ao fato de que para a obtenção da CMS de

tilápia utiliza-se a carcaça com as espinhas. O valor de umidade (9,25 +0,45%) encontrado indica

que o processo de secagem foi suficiente para obter um produto classificado como desidratado.

Ogawa e Maia (1999) recomendam que farinha de peixe apresente valor de umidade abaixo de

12%, sendo assim, a farinha obtida atende a esta recomendação. É de fundamental importância

conhecer a atividade de água de um alimento, visto que, através do valor de atividade de água pode-

se prever as reações químicas e enzimáticas que poderão ocorrer no alimento e se há possibilidade

de desenvolvimento de microrganismos no mesmo. Com o valor da atividade de água é possível

escolher adequadamente o tipo de embalagem e as condições de armazenamento do alimento. A

diminuição da atividade de água com a secagem por calor contribui para conservação e

consequentemente aumento da vida útil do alimento desidratado (FELLOWS, 2006). Neste estudo a

farinha de CMS de tilápia apresentou um baixo valor de Aw (0,56±0,01), este valor indica que a

farinha obtida está microbiologicamente estável, ou seja, nestes valores de atividade de água

nenhum microrganismo consegue se desenvolver. Em geral, o limite máximo de Aw para a maioria

das bactérias é de 0,90, para leveduras é 0,88 e para fungos é de 0,80 (OGAWA; MAIA, 1999).

Tabela 3 - Composição centesimal da farinha de CMS de tilápia

Parâmetros Farinha de CMS de tilápia

Umidade 9,25 +0,45 g 100 g-1

Proteína 75,09 +0,18 g 100 g-1

Lipídeos 6,61 +0,67 g 100 g-1

Minerais 9,40 +0,31 g 100 g-1

Aw 0,56 +0,01

Com relação ao teor de proteína, Stevanato et al. (2007) produziram farinha obtida a partir de

cabeças de tilápias com teor de proteínas de 38,4%, valor este menor que encontrado no presente

estudo com a CMS de tilápia. Portanto, observa-se que com a secagem de CMS de tilápia foi

possível obter uma farinha com alto teor de proteínas. Como continuidade deste estudo, pretende-se

quantificar os aminoácidos da farinha de CMS de tilápia. A farinha de peixe é um importante

produto que se destaca pelo seu elevado valor nutricional, sendo que a adição dessa farinha em

produtos alimentícios confere ao alimento proteínas de alto valor biológico, sais minerais (cálcio,

fósforo e fero) e gordura de boa qualidade, como enfatizado por GODOY et al. (2010).

3.2 Composição centesimal dos produtos alimentícios adicionados de farinha de CMS de

tilápia

A adição de farinha de CMS de tilápia aumentou significativamente o teor de proteínas e de

minerais da farofa de pinhão (Tabela 4). Sendo que a adição de 20% de farinha de CMS

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113

proporcionou o maior valor de proteínas na farofa de pinhão (8,57+ 0,57%), quando comparado

com as demais formulações. Pretende-se realizar análise sensorial das farofas enriquecidos com

farinha de CMS de tilápia como continuidade da pesquisa.

Tabela 4 - Composição centesimal das farofas (g 100g-1

)

Farofa

Padrão

Farofa com 10% de

Farinha de CMS

Farofa com 20% de

Farinha de CMS

Umidade 17,21 +0,48 a 14,03 +0,01 b 15,01 +0,23 b

Proteínas 2,62 +0,32 a 6,59 +0,28 b 8,57 + 0,57 c

Carboidratos 70,17 +1,84 a 68,39 +0,57 a 64,98 +1,37 a

Lipídeos 8,00 +1,09 a 8,32 +0,80 a 8,72 +0,41 a

Minerais 2,01 +0,05 a 2,67 +0,07 b 2,73 +0,15 b a, b, c - Letras diferentes na mesma linha indica que existe diferença significativa ao nível de 5% entre os tratamentos.

Com relação aos pães, observou-se que a adição de farinha de CMS de tilápia também aumentou

significativamente o teor de proteínas e de minerais dos pães e quanto mais se adicionou farinha de

CMS, maior foi o teor de proteínas e de minerais, como pode ser visualizado na Tabela 5. A escolha

do enriquecimento de pão com a farinha de CMS de tilápia deve-se ao consumo diário do produto e

a fácil inserção deste no mercado. Visto que, segundo a Associação Brasileira de Panificação

(ABIP, 2014), o consumo per capita de pão no Brasil é de 34 quilos/habitante/ano, pouco mais da

metade dos 60 quilos/habitante/ano recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS),

órgão da ONU. No entanto, países de condições socioeconômicas similares às do Brasil, como

Argentina e Chile, consomem mais de 70 quilos/ano e 90 quilos/ano. Portanto com a adição de

farinha de CMS em pães, que são produtos consumidos todos os dias, proporciona-se uma opção de

alimentação rica em minerais e proteínas ao organismo, principalmente quando pensa-se em atingir

públicos que possuem determinadas restrições alimentares. Pretende-se realizar análise sensorial

dos pães enriquecidos com farinha de CMS de tilápia como continuidade da pesquisa.

Tabela 5 - Composição centesimal dos pães (g 100g-1

).

Pão Padrão Pão com 10%

de Farinha de

CMS

Pão com 20% de

Farinha de CMS

Umidade 27,17 +0,67 a 26,92 + 0,15 a 25,88 +0,48 a

Proteínas 8,99 +0,06 a 11,59 +0,04 b 14,08 +0,33 c

Carboidratos 51,70 +0,63 b 47,98 +0,01 a 47,09 +0,06 a

Lipídeos 10,77 +0,12 a 11,51 +0,11 a 10,51 +0,02 a

Minerais 1,38 +0,02 a 2,00 +0,01 b 2,45 +0,07 c a, b, c - Letras diferentes na mesma linha indicam que existe diferença significativa ao nível de 5% entre os tratamentos.

4 CONCLUSÕES

Obteve-se uma farinha de CMS de tilápia rica em proteínas e minerais e verificou-se que a adição

de farinha de CMS de tilápia em farofa de pinhão e em pão brioche promoveu o enriquecimento

nutricional destes alimentos, principalmente pela elevação do teor de proteínas e de resíduos

minerais. Como continuidade deste estudo, pretende-se analisar sensorialmente os produtos e

mensurar o teor de cálcio da farinha de CMS de tilápia e dos produtos enriquecidos com a farinha.

5 AGRADECIMENTOS

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Ao Instituto Federal do Paraná pelo financiamento do projeto e pelas bolsas de Inovação e de

Extensão concedidas aos alunos, e ao CNPQ pela bolsa de PIBIC-Jr concedida.

REFERÊNCIAS

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em 2014. 10/03/2014. Disponível em: http://www.abip.org.br/site/sobre-o-setor-2014. Acesso em

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ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DO ÓLEO DE PALMA (Elaeis guineenses) NO

PROCESSO DE FRITURA DE MASSAS INSTANTÂNEAS

Lucas Bruning Checossi1; Elciane Regina Zanatta

2; Gláucia Cristina Moreira

3; Ilton Jose

Baraldi4; Fábio Avelino Bublitz Ferreira

5

RESUMO

Em processos de fritura, os parâmetros de qualidade do óleo devem ser monitorados, a fim de

garantir as condições adequadas de consumo. Este trabalho objetivou caracterizar o perfil oxidativo

do óleo de palma, utilizado em processo de fritura na produção de massas instantâneas, e definir os

efeitos da variação da temperatura sobre o percentual de umidade e lipídeos no produto final. As

amostras do óleo foram submetidas às análises de índice de acidez, peróxidos e saponificação no

decorrer do processo de fritura e posterior armazenamento do óleo. As amostras de massa

instantânea foram coletadas em diferentes temperaturas de processo e submetidas às análises de

umidade e lipídios. O estudo verificou que após 30 horas de processo, o óleo de palma não

apresentou índices acima daqueles preconizados pela legislação brasileira. O baixo índice de

degradação detectado foi atribuído ao fato de que o processo opera com reposições de óleo novo,

acarretando em diluição dos compostos de degradação formados. As condições de armazenamento

do óleo estão sendo adequadas a ponto de não provocar alterações do óleo, durante o período de

estocagem. A umidade da massa instantânea apresentou-se abaixo do valor máximo estabelecido

pelo padrão de identidade e qualidade. Constatou-se que o aumento da temperatura do processo de

fritura, provocou a redução da umidade presente na massa instantânea. As concentrações de lipídios

não demonstraram diferenças significativas conforme a variação da temperatura.

Palavras-chave: Degradação do óleo; Frituras; Qualidade.

________________________ 1 Lucas Bruning Checossi – Graduado no Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Elciane Regina Zanatta – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3 Gláucia Cristina Moreira – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Ilton José Baraldi – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Fábio Avelino Bublitz Ferreira – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O óleo de palma extraído da palmeira apresenta alta produtividade e excelente matéria prima, onde

pode ser empregado para a produção de alimentos, como por exemplo, em processos de frituras

(NUNES, 2007; CORLEY, 2009). É composto por 60% de ácido oléico e resistentes a altas

temperaturas sem provocar oxidação, fenômeno responsável por formação de peróxidos e odores

desagradáveis. Curvelo (2010), destaca que devido à sua alta concentração de ácidos graxos

saturados e sua característica proporção de ácido oléico e linoléico, o óleo de palma apresenta uma

boa estabilidade térmica.

Durante o processo de fritura, o óleo apesar de possuir boa estabilidade, ainda está susceptível a

algumas mudanças físicas como, por exemplo, o escurecimento, o aumento da viscosidade e a

redução do ponto de fumaça. Podem ocorrer também mudanças químicas, que potencializam a

hidrólise dos triacilgliceróis pela ação do calor e umidade, formando ácidos graxos livres,

monoacilglicerol e diacilglicerol. Além disso, o óleo está vulnerável às reações de oxidação, onde

há a reação de oxigênio com ácidos graxos insaturados (SANIBAL; FILHO, 2002; RAMALHO;

JORGE, 2006).

Devido ao potencial de degradação do óleo durante o processo de fritura, é de suma importância a

realização da caracterização do óleo através de análises, a fim de identificar o ponto de descarte do

óleo que é reutilizado em processos de fritura, uma vez que este faz parte da dieta dos consumidores

e deve apresentar características adequadas de consumo (SANIBAL; FILHO, 2002).

Além da preocupação com a qualidade sensorial e toxicológica do óleo, a rápida deterioração dos

alimentos também tem sido um dos fatores levados em consideração, principalmente por parte das

indústrias, onde as mesmas precisam buscar meios de garantir que o alimento esteja presente na

mesa do consumidor, com as características desejáveis de consumo.

O teor de umidade é um dos fatores que determinam a vida de prateleira dos alimentos fritos.

Alimentos constituídos de alto teor de umidade em sua estrutura interna apresentam uma vida de

prateleira consideravelmente curta. Além disso, o teor de lipídios também é um parâmetro

importante na composição do alimento, caso este apresente uma alta concentração, aliado a elevada

frequência de consumo, poderá trazer problemas para a saúde do consumidor, como por exemplo,

obesidade, doenças coronarianas e, em alguns casos, câncer (FELLOWS, 2006).

Dessa forma, objetivou-se com este trabalho realizar a caracterização da degradação do óleo de

palma refinado, no decorrer de sua utilização para fritura de massas instantâneas e identificar a

variação de umidade e lipídios destas massas em função da temperatura do processo de fritura.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Material utilizado

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizado óleo de palma refinado e massas instantâneas,

provenientes de uma indústria da região Oeste do Paraná, Brasil.

2.2 Coleta de amostras de óleo de palma

O plano de amostragem para realizar as análises físico-químicas do óleo de palma, foi constituído

por oito coletas. A primeira amostragem foi referente ao óleo novo (AMOSTRA 0), no momento

em que houve o descarregamento deste, no tanque de armazenamento da indústria. As demais

amostras foram coletadas na fritadeira industrial de massas instantâneas. A Amostra 1 foi obtida no

início da operação, após a estabilidade térmica do processo ter sido atingida, as demais, com

intervalo de 6 horas.

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Após as 30 horas de operação, o processo finaliza e o óleo presente na fritadeira foi bombeado ao

tanque de retenção, onde permaneceu armazenado durante sete dias, para então ser utilizado no

início do ciclo posterior de produção. Com isso, foi realizado a oitava coleta na fritadeira, designada

por Amostra 7, que teve o intuito de verificar a influência do período de armazenamento do óleo no

tanque de retenção da indústria.

As amostras foram coletadas através do ponto de esgotamento da fritadeira localizado na parte

central da mesma e armazenadas em recipientes de vidro âmbar, sendo estes envolvidos com papel

alumínio para proteção completa da luz, identificados, armazenados em caixa térmica e

transportadas ao laboratório de análise.

2.3 Análises físico-químicas do óleo de palma

As amostras de óleo foram submetidas às análises de índice de acidez, índice de peróxidos e índice

de saponificação. Estas foram realizadas em triplicatas de acordo com a metodologia oficial da

Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 1998).

Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e as médias foram comparadas

pelo método de Tukey (nível de 5% de significância).

2.4 Coleta de amostras de massas instantâneas

O plano de amostragem para a análise físico-química das massas instantâneas levou em

consideração a variável temperatura do processo de fritura. Com isso, ao final do processo, com as

massas já embaladas, foram coletadas amostras processadas em diferentes temperaturas de fritura.

Essas temperaturas corresponderam às extremidades de valores promovidas pela oscilação inerente

ao processo. Sendo especificamente 138 e 145 °C, e ainda, a temperatura intermediária de 142 °C.

2.5 Análises físico-químicas da massa instantânea

A influência da temperatura do processo de fritura foi analisada determinando-se a concentração de

lipídeos e o teor de umidade nas massas instantâneas processadas nas temperaturas citadas no item

2.4. Estas análises foram realizadas em triplicata e seguiram a metodologia descrita pelo método

oficial da Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 1998).

Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e as médias foram comparadas

pelo método de Tukey (nível de 5% de significância).

2.4 Análise Estatística

O tratamento estatístico, para todos os resultados deste trabalho, foi realizado com o auxílio do

programa estatístico Minitab (Minitab Inc., Pensilvânia – EUA), versão 17.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análises físico-químicas do óleo de palma

Os resultados obtidos para os índices de acidez, peróxidos e saponificação estão apresentados na

Tabela 1.

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Tabela 1: Resultados da determinação dos índices de acidez, peróxidos e saponificação nas

amostras do óleo de palma, utilizado no processo de fritura das massas instantâneas. Amostras Acidez (mg KOH/g da

amostra)

Peróxidos (meq/kg da

amostra)

Saponificação (mg KOH/g

da amostra)

Amostra 0 0,284 ± 0,002c

0,266 ± 0,067d

195,385 ± 0,553a

Amostra 1 0,444 ± 0,026b 1,054 ± 0,035

a 198,070 ± 1,750

a

Amostra 2 0,500 ± 0,021ab

0,972 ± 0,008ab

197,740 ± 0,980a

Amostra 3 0,470 ± 0,025ab

0,990 ± 0,006ab

196,253 ± 0,838a

Amostra 4 0,492 ± 0,042ab

0,598 ± 0,001c

198,750 ± 1,190a

Amostra 5 0,555 ± 0,007a

0,966 ± 0,037a

197,210 ± 2,050a

Amostra 6 0,522 ± 0,012ab

0,827 ± 0,039b

194,760 ± 1,300a

Amostra 7 0,561 ± 0,002a

1,120 ± 0,036a

194,576 ± 0,670a

*Média ± Erro padrão da média.

**Letras iguais, na mesma coluna, indicam não haver diferença significativa ao nível de 5% de significância entre as

amostras.

Com relação ao índice de acidez, nota-se que ao longo do processo de fritura, inclusive após o

período de armazenamento, o óleo de palma apresentou-se dentro do limite (0,60 mg KOH/g)

estabelecido pela Resolução RDC n° 270 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

(BRASIL, 2005).

Observa-se que a Amostra 0, referente ao óleo novo, ou seja, o óleo que ainda não foi submetido a

nenhuma etapa de aquecimento no processo de produção da massa instantânea, apresentou baixo

índice de acidez (0,284 ± 0,002), diferenciando-se significativamente das demais (p<0,05). O baixo

índice detectado leva a possíveis conclusões de que, o óleo está sendo fornecido em condições

adequadas e o processo de produção de massas instantâneas não está alterando as características do

óleo de maneira expressiva, ao ponto de ultrapassar o limite preconizado pela legislação.

Na Figura 1, nota-se que há uma tendência de aumento do índice de acidez do óleo com o passar do

tempo do processo de fritura. Essa tendência pode ser explicada, principalmente pelo fato de que, o

fornecimento de calor ao óleo, relacionada à absorção de umidade, provocam a hidrólise dos ácidos

graxos constituintes dos triacilgliceróis, acarretando assim em um acréscimo da degradação do óleo

em processo.

Figura 1: Regressão linear para o índice de acidez

Em relação às condições de armazenamento do óleo no tanque de retenção, estas, foram adequadas

a ponto de não provocar alterações do óleo durante o período de estocagem, uma vez que a Amostra

7, referente ao óleo que permaneceu armazenado por sete dias, não difere estatisticamente quando

comparado com a Amostra 6, que se refere a última coleta do ciclo de operação.

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De acordo com Sanibal e Filho (2002), há duas situações que podem ocorrer durante um processo

de fritura e que são benéficas para a qualidade do óleo. A primeira é referente ao vapor formado a

partir da umidade desprendida do alimento a ser processado, este, arrasta os subprodutos do

processo de oxidação. A segunda é a possibilidade de reposição do óleo durante o processo de

fritura, com isso, provoca-se a diluição dos subprodutos do processo de oxidação. No presente

estudo, ambas as situações são constatadas, uma vez que é necessária a reposição do óleo em uma

determinada frequência para que o nível de óleo na fritadeira seja mantido.

Além disso, Moretto e Fett (1998), mencionam que devido ao óleo de palma apresentar em sua

composição alta concentração de ácidos graxos saturados, em torno de 51%, e baixa concentração

de ácidos graxos poli-insaturados, torna-se mais resistente à degradação quando submetido ao

tratamento térmico.

Para o índice de peróxidos, de acordo com o estabelecido pela Resolução RDC n° 270, de 22 de

setembro de 2005 da ANVISA, e pelo Codex Alimentarius (Codex Stan 210-1999), o limite

máximo é de 10 meq/kg em óleos e gorduras refinados (BRASIL, 2005; CODEX

ALIMENTARIUS, 2015).

De acordo com os resultados obtidos (Tabela 1), nota-se que a variação do índice de peróxidos foi

de 0,266 ± 0,067 meq/kg para a Amostra 0 a 1,120 ± 0,036 meq/kg referente a Amostra 7. Portanto,

todas as amostras em estudo apresentaram índices consideravelmente baixos, quando comparados

com o estabelecido pela legislação (BRASIL, 2005).

Analisando a Amostra 7, e sabendo que esta é proveniente do óleo que foi removido da fritadeira no

final do processo e armazenado no tanque de retenção por sete dias, e posteriormente utilizado no

início do ciclo posterior, percebe-se que difere significativamente (p<0,05) da Amostra 6, sendo

esta, referente ao final do processo.

Segundo Moretto e Fett (1998), o uso contínuo do óleo em aquecimento tem influência intermitente

na degradação. Alguns autores mencionam que os períodos curtos de uso são mais destrutivos que

os longos. Este fato se deve à formação de peróxidos e sua decomposição durante os ciclos de

resfriamento e reaquecimento, respectivamente. Atribui-se este efeito ao aumento de absorção de

oxigênio durante o resfriamento do óleo, favorecendo as reações oxidativas. Com isso, é provável

que o leve aumento que foi detectado na Amostra 7 durante o período de armazenamento no tanque

de retenção, pode ter sido influenciado pela absorção de oxigênio durante as etapas de resfriamento

e reaquecimento, porém, o mesmo apresentou-se com características adequadas para o uso, quando

comparado aos padrões legais e internacionais. Além disso, as reposições de óleo novo durante o

processo contribuíram para que houvesse a diluição do óleo já aquecido, mantendo assim o índice

de peróxidos baixo.

Em relação ao índice de saponificação, observa-se na Tabela 1 que não houve diferença

significativa para as médias das amostras analisadas, sendo assim, durante o ciclo de operação em

estudo, o índice de saponificação manteve-se de forma estável. Percebe-se ainda que a variação foi

de 194,576 ± 0,670 mg KOH/g à 198,750 ± 1,190 mg KOH/g referentes as amostras 7 e 4

respectivamente. Esses valores de extremos encontram-se dentro dos limites mencionados pelo

Codex Alimentarius (CODEX STAN 210-1999), no qual estabelece que o índice de saponificação

para o óleo de palma pode variar de 190 a 209 mg KOH/g (CODEX ALIMENTARIUS, 2015).

Corsini e Jorge (2006) demonstram em experimentos já realizados, que um processo contínuo de

fritura provoca menos degradação ao óleo, quando comparado com processos descontínuos, pelo

fato de que em frituras contínuas, a formação de vapor age com uma barreira isolante entre o óleo

da superfície e o oxigênio do ar. Com isso, o fato de o processo ocorrer de maneira contínua no

presente estudo, pode ser levado em consideração e atribuído como fator benéfico para a baixa

degradação detectada no óleo de palma.

3.2 Análises físico-químicas da massa instantânea

Na Tabela 2, estão apresentados os resultados obtidos para o teor de umidade e lipídios que foram

detectados nas três amostras de massas instantâneas.

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Tabela 2: Resultados da determinação do percentual de umidade e lipídios nas amostras de massas

instantâneas em diferentes temperaturas de processo. Amostras Temperatura (°C) Umidade (%) Lipídios (%)

A1 145

2,318 ± 0,024b

21,013 ± 0,284a

A2 142 2,187 ± 0,039b

21,166 ± 0,873a

A3 138

3,303 ± 0,026a

19,568 ± 0,295a

*Média ± Erro padrão da média.

**Letras iguais, na mesma coluna, indicam não haver diferença significativa ao nível de 5% de significância entre as

amostras.

Nota-se que as amostras A1, A2 e A3 apresentaram baixos teores de umidade, quando comparado

com o Codex Alimentarius-Standard For Instant Noodles (CODEX STAN 249-2006), onde

estabelece que o índice máximo permitido de umidade para massa instantânea é de 10% (CODEX

ALIMENTARIUS, 2016). Percebe-se ainda que a amostra A3 apresentou diferença significativa

(p<0,05), com um percentual de umidade acima das demais, esta por sua vez, representa a amostra

referente à temperatura mais baixa do processo (138°C).

De maneira geral, o fato de serem detectados baixos teores de umidade nas massas instantâneas

analisadas pode ser explicado devido à característica do processo de fritura, onde este encontra-se

operando em temperaturas abaixo (138°C a 145°C) do limite máximo (180°C) permitido pela

ANVISA (BRASIL, 2004). Segundo Fellows (2006), processos que operam em baixas

temperaturas, a secagem da superfície tende a ocorrer de maneira mais lenta, possibilitando assim a

evaporação da água e consequentemente a tendência de redução da umidade no alimento.

Com tudo, quando verificamos o percentual de umidade detectado em cada temperatura em estudo,

nota-se que a umidade não apresentou o perfil descrito por Fellows (2006), uma vez que as

amostras A1 e A3 (p<0,05), por exemplo, demonstraram comportamento inverso, em que o

aumento da temperatura provocou a redução da umidade.

Com relação ao teor de lipídios que foram detectados nas amostras (Tabela 2), percebe-se que

houve variação de 19,568 ± 0,295 a 21,166 ± 0,873, porém não apresentaram diferenças

significativas entre as amostras (p>0,05). Segundo Wu, Aluko e Corke (2006), o conteúdo de

gordura de massas instantâneas deve se encontrar na faixa de 16 a 24%.

Alterações significativas de teores de óleo no alimento são prováveis de serem detectadas quando as

variações de temperaturas do processo se tornam significativamente distintas, porém neste caso,

estas foram de 138°C a 145°C, sendo, portanto, esta diferença considerada pequena e com isto,

torna-se insuficiente para provocar alterações no teor de óleo absorvido pelo alimento.

De maneira geral, no processo de fritura em estudo podem-se destacar alguns pontos que são

relevantes. A umidade do produto tende a diminuir com o aumento da temperatura do processo, até

um determinado ponto, onde, segundo Fellows (2006), o efeito deve ser inverso. Esta diminuição de

umidade acarreta em benefícios para o produto, uma vez que este dificulta o desenvolvimento de

reações que possam degradar o alimento. Porém, mesmo sem relevância estatística observada neste

estudo (p>0,05), observou-se que a amostra A3, que apresentou o maior teor de umidade, obteve a

menor concentração de lipídeos. A constatação de oscilações da concentração de lipídios no produto

poderia acarretar em alterações dos padrões perceptíveis pelos consumidores e aumentar a

probabilidade de oxidação.

4. CONCLUSÕES

O sistema de tratamento térmico estudado, utilizado para fritura de massas instantâneas, acarreta na

degradação do óleo de palma desde o seu início de utilização, sendo esta constatação detectada pela

determinação do índice de acidez. No entanto, esta alteração não foi suficiente para ultrapassar o

limite máximo preconizado pela legislação brasileira. Já os índices de peróxidos e saponificação

não apresentaram tendência de aumento e mantiveram-se abaixo dos limites estabelecidos pelos

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padrões internacionais e legislação brasileira. Estes dados validam a utilização do óleo de palma

(Elaeis guineenses) para o processo de fritura, dentro das condições estudadas.

Em relação à análise da massa instantânea produzida nas condições do estudo, o teor de umidade

apresentou-se consideravelmente abaixo do estabelecido pela norma internacional (Codex

Alimentarius-Standard For Instant Noodles), e foi possível verificar um perfil de comportamento

relacionado à temperatura de processo, onde conforme aumenta-se a temperatura, o teor de umidade

tende a ser menor. Já em relação ao teor de lipídios, não houve diferença significativa (p>0,05)

entre as amostras estudadas, acarretando na indefinição da tendência do teor de lipídios em função

das temperaturas estudadas.

REFERÊNCIAS

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ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DE LIOFILIZAÇÃO DE PÉS DE

FRANGO PARA EXPORTAÇÃO

Beatriz Berkenbrock Niemeyer1; Elciane R. Zanatta

2, Carolina C. Garcia

2, Ilton J. Baraldi

2;

Cristiane Canan2

RESUMO

A carne de frango é a segunda mais consumida no mundo, por ser uma carne considerada magra. É

uma boa fonte de proteína, contém nutrientes essenciais tais como vitaminas, minerais e

aminoácidos. O frango está cada vez mais presente na mesa do consumidor. O Brasil é o maior

exportador de carne de frango, gerando um capital de bilhões de reais anualmente. A liofilização é

um método de secagem que pode ser utilizado para aumentar a vida de prateleira de cortes de

frango, sem a necessidade de refrigeração. O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade de

liofilização de pés de frango para a exportação, avaliando a cinética de secagem e o custo de

transporte com refrigeração (congelado) e sem refrigeração. A secagem dos pés de frango foi

realizada em um liofilizador piloto e a cinética foi determinada através da pesagem das amostras,

em tempos diferentes. Como resultado obteve se, o produto liofilizado em 26,7 horas e umidade ao

redor de 5,0 % o que permite seu transporte e armazenamento sem a necessidade de refrigeração,

aumentando a sua vida útil. Porém o método da liofilização apresentou um custo de 267 % maior

que o processo de refrigeração da carne. Portanto, o método de secagem por liofilização deve ser

aprimorado, ou substituído por uma tecnologia com menor tempo de secagem e consumo de energia

elétrica.

Palavras-chave: Secagem; Carne; Degradação.

__________________________ 1 Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos (DAALM) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus

Medianeira, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O frango é a carne mais consumida no Brasil e a segunda mais consumida no mundo, ficando atrás

apenas dos suínos. A carne de frango proveniente do Brasil está presente nas mesas de

consumidores de mais de 150 países. O Brasil é o maior exportador mundial desde 2004, e o

segundo maior produtor de carnes de aves, atrás somente dos Estados Unidos (USDA, 2016).

Como toda carne, possui alta atividade de água, levando a indústria e o consumidor a procurarem

formas adequadas para conservá-la, pois alimentos que possuem alta atividade de água são mais

susceptíveis á proliferação de microrganismos, degradando o alimento (NETO, 2008).

Existem vários métodos que podem ser utilizados para preservar a carne, o mais utilizado é o uso da

cadeia do frio, devido ao fato de os microrganismos não se multiplicarem rapidamente em

temperaturas baixas. Porém, a grande desvantagem de utilizar baixas temperaturas para a

preservação são os custos de refrigeração. Para indústria que exporta este tipo de carne, os custos

ainda são maiores, porque a cadeia do frio deve estar presente em toda cadeia logística, incluindo

estocagem, todos os tipos de transporte que deverá passar, até chegar no país de destino

(VELASCO et al., 2006).

Os processos de secagem são utilizados para remover a água do alimento, permitindo o transporte e

armazenamento sem a necessidade da cadeia de frio por período prolongado. A liofilização é um

tipo de secagem, que preserva as propriedades da matéria-prima original. Neste processo, a água

contida no alimento é congelada, sublimada a baixas temperaturas em uma câmara de vácuo,

ocorrendo um aumento gradativo da temperatura, reduzindo deste modo a pressão circunvizinha.

Assim a água congelada no material passa diretamente da fase sólida para a fase gasosa sem passar

pela fase líquida (sublimação). A baixa atividade de água inibe a ação dos microrganismos e das

enzimas que normalmente degradam os alimentos, preservando-os.

Porém, a liofilização também necessita de um elevado consumo de energia, havendo uma possível

viabilidade econômica se este produto for transportado a grandes distâncias, porque elimina a

necessidade de refrigeração ao longo da cadeia logística.

Um corte de frango muito exportado para países como a China é o pé de frango, que é muito

apreciado neste mercado, sendo o país responsável por 80% da carne de frango importada pelos

chineses (MENDES, 2016).

O objetivo deste trabalho foi estimar a viabilidade econômica da exportação de pés de frango

liofilizados para a China (sem necessidade de refrigeração), comparando com o processo atual

(material congelado). E para isto, foi determinada a cinética de liofilização, e a cadeia de

refrigeração até o consumidor final para o frango congelado e o liofilizado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Preparo da Matéria-Prima

Foram utilizados pés de frango in natura recém-abatidos em um frigorífico no oeste do Paraná, do

mesmo lote utilizado por König (2016). O material passou por uma etapa de pré-cozimento em

água em ebulição por 20 minutos (testes preliminares indicaram que esta etapa evita o

escurecimento do material liofilizado no momento do preparo), logo em seguida o material foi

resfriado à temperatura ambiente, pesado e congelado à -20 ± 2 0C .

2.2 Procedimento de liofilização dos pés de frango.

Para realizar a liofilização, o material congelado foi introduzido rapidamente na câmara de vácuo

do liofilizador (FreeZone 6, Labconco, Kansas City-USA), com dois sensores de temperatura

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aderidos à superfície, sendo liofilizado a pressão menor que 0,5 mbar e com placa de aquecimento a

60 0C. Foi monitorada a massa e a temperatura com o tempo nas posições indicadas na Figura 1.

Fig. 1: Pontos de monitoramento da temperatura do pé de frango.

2.3 Determinação da cinética de liofilização.

Determinou-se a umidade em base seca ( ), que é a razão entre a quantidade de água na amostra

(kg) e a massa de sólidos secos da amostra (kg), e a umidade adimensional ( ao longo do tempo

pela equação 1. Utilizou-se como umidade inicial em base úmida (𝑈0) o valor de 61,98 %

determinado por König (2016). Calculou-se também a umidade adimensional ao longo do tempo e

efetuou-se o ajuste dos dados experimentais ao modelo logarítmico de secagem (equação 2).

(1)

Onde: : umidade com o tempo, : umidade inicial e : umidade no equilíbrio.

(2)

Onde: são parâmetros do modelo.

2.4 Cálculo do consumo de energia elétrica e custo de liofilização.

Para que seja possível a comparação de custos entre as operações de congelamento e transporte na

cadeia de frio e a liofilização, realizaram-se cálculos para estimar a quantidade de energia

consumida em cada processo por kg de frango in natura. Embora o frango liofilizado apresente

cerca de 5% de umidade, tendo massa de aproximadamente 43% do frango congelado, para

comparar grandezas iguais, considerou-se a massa do frango liofilizado, como reidratado (umidade

de 62% em base úmida).

Cálculo da energia elétrica para o congelamento ( ): Tanto para a liofilização como para o

transporte em container sob congelamento, inicialmente os pés de frangos necessitam ser

congelados, considerou-se que o material sai da linha de produção à 5 0C e é congelado até – 25

0C

e que a máquina térmica que faz este trabalho possui um coeficiente de performance (COP) de 70%

de um refrigerador de Carnot (SMITH, VAN NESS, ABBOUTT, 2013), resultando na equação 3.

(∫

) [

( ) ] [kWh/kg de frango] (3)

Onde: , , = 248 K, , 𝑈 =62%

, são os calores específicos médio do frango com a água no estado líquido e

sólido respectivamente (IBARS et al., 2003).

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O consumo de energia elétrica de aquecimento na sublimação ( é calculado como a quantidade

de energia para sublimar o gelo, reduzindo a umidade do seu valor inicial até que seja atingida a

umidade em base úmida de 5% (atividade de água baixa para conservação sem refrigeração)

(ANVISA, 1978). Para transformar a energia necessária para a sublimação, em consumo específico

de energia elétrica, utilizou-se a equação 4.

[kWh/kg de frango] (4)

Onde: kJ/kg e 𝑈 = 62%

Todo gelo sublimado necessita passar para a fase sólida no condensador (ressublimação), portanto a

energia requerida, em módulo, no condensador é igual à energia necessária para a sublimação.

Paracalcular o consumo de energia elétrica ( ) foi considerado um coeficiente de performance

(COP) de 70% de um refrigerador de Carnot, trabalhando entre as temperaturas de – 45 °C

(condensador) e a temperatura ambiente 25 °C (SMITH, VAN NESS, ABBOUTT, 2013),

resultando na equação 5.

[kWh/kg de frango] (5)

Onde: = 228 K, , – equação 4

Por fim, calculou-se o consumo energético da bomba de vácuo ( ) cuja potência média é 0,22

kW, sendo calculada pela equação 6, considerando a remoção de 2,0 kg de gelo por batelada de

liofilização.

(

) (

) [kWh/kg de frango] (6)

Onde: 𝑈 , - tempo de liofilização em segundos.

Para calcular os custos em reais utilizou-se o valor da energia elétrica vigente da Companhia

Paranaense de Energia (COPEL, 2016) aplicado à indústria com impostos (subgrupo B3), que é de

R$ 0,65 por kWh.

2.5 Custos de transporte dos pés liofilizados.

Considerou-se o uso de container de 40 pés para transporte de cargas secas, com dimensões internas

do container sem refrigeração: comprimento de 12,033 m, largura de 2,352 m e altura de 2,386 m

(Fonte: Primex Containers).

2.5.1 Cálculo de quantidade de produto por container seco.

Primeiramente, determinou-se a embalagem secundária a ser utilizada para o armazenamento dos

pés de frango como sendo a caixa de papelão, com dimensões de 0,48 m de comprimento, 0,32 m

de largura e 0,36 m de altura (realizou-se a medida da caixa de papelão em um supermercado da

região para frangos congelados) e capacidade para até 18 kg de produto.

Portanto, considerando as dimensões do container seco, calculou-se que poderá comportar até 1050

caixas, ou seja, este tem capacidade para transportar até 18 900 kg de pés de frango in natura (62%

de umidade em base úmida), equivalente à 8127 kg de frango liofilizado (com 5% de umidade em

base úmida).

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2.5.2 Cálculo de Frete Rodoviário e Marítimo.

Foi considerada a situação do container saindo do oeste do Paraná (Cascavel), sendo enviado por

transporte rodoviário até o porto de Paranaguá, e então, sendo transportado até o porto de Xangai

(China) por transporte marítimo. Os valores de frete foram obtidos por cotação online em empresa

de transporte e logística (WORLD FREIGHT RATES, 2016), selecionando-se a origem, o destino,

o tipo de transporte (Marítimo ou Rodoviário) e o container, e o tipo de carga (Seca ou Congelada).

Os custos específicos foram obtidos dividindo-se o custo do transporte pela carga do container em

kg, tanto para o container seco (material liofilizado) quanto para o refrigerado.

2.6 Cálculos da energia e custo no processo de exportação do frango congelado até o momento

do consumo.

Após o congelamento o material é exportado em container refrigerado de 40 pés, que possui as

dimensões: comprimento de 11,574 m, largura de 2,256 m e altura de 2,235 m (Fonte: Primex

Containers).

2.6.1 Cálculo da Quantidade de Produto por Container.

Considerando as dimensões das caixas de papelão e as do container, este comportará 1008 caixas.

Portanto, um container refrigerado tem capacidade para transportar cerca de 18 144 kg de pé de

frango.

2.6.2 Cálculo do consumo de energia no ponto de venda em Ilha de exposição ( ).

Os produtos ficam expostos para os consumidores em Ilhas refrigeradas, cujo consumo médio diário

de energia é de 4,3 kWh/dia (GELOPAR, 2016), e volume útil é de 378 litros.

O consumo específico em kWh/kg de frango congelado na Ilha de exposição foi calculado pela

Equação 7, estimando-se 7 dias de exposição do produto na ilha.

[kWh/kg frango ] (7)

Sendo: - energia elétrica consumida na ilha em kWh/kg de frango congelado, – tempo médio

que o produto fica na ilha de exposição em dias, - carga de frango congelado na ilha em kg, que

foi estimada considerando-se o volume útil do equipamento.

Para o cálculo de custo da energia elétrica consumida na ilha, utilizou-se o valor da tarifa de energia

elétrica média na China que é de R$ 0,26 por kWh (CPFL, 2015).

2.6.3 Cálculo do consumo de energia na casa do consumidor (CEC).

Considerando que o consumidor guarda o produto adquirido, em freezer com volume útil de 276

litros e potência de 1,85 kWh/dia (BRASTEMP, 2016). Estimando que, em média, o material

armazenado é consumido em 7 dias (uma semana), o consumo específico de energia é calculado

pela Equação 8.

[kWh/kg frango] (8)

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Onde: - tempo no freezer em dias, - carga de pés congelados no freezer (kg) calculada pelo

volume útil do eletrodoméstico totalmente carregado com pés de frango congelado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Temperaturas da amostra no processo de liofilização.

Observou-se que mesmo com a placa de aquecimento à 60 °C a temperatura do material durante a

liofilização vai aumentando lentamente não superando 35 °C (Fig. 2). Verificou-se no ponto 2 (Fig.

1) um rápido aumento da temperatura, seguido de um decréscimo, que possivelmente está

relacionando ao fato de o freezer doméstico não apresentar temperatura baixa o suficiente para o

congelamento total da amostra, ocorrendo uma liquefação parcial da água congelada, seguida por

vaporização, que faz com que a temperatura reduza novamente. O perfil de temperatura dos pés de

frango durante a operação de liofilização difere significativamente do perfil de temperatura de uma

secagem convencional (ar quente), porém a temperatura do material seco não excede 35 0C.

Fig. 2: Perfil de temperatura durante a liofilização na temperatura de aquecimento de 60 0C

3.2 Massa e umidade da amostra ao longo do tempo e cinética de liofilização.

Na Fig. 3 consta a umidade adimensional obtida no experimento em função do tempo, e os

resultados ajustados ao modelo logarítmico (equação 2), onde os parâmetros do modelo obtido são:

a = 0,9123; k = 0,0023 e b = 0,0454 com R2 de 0,9948. Utilizando-se o modelo, conclui-se que para

obter umidade adimensional 0,07 que corresponde a umidade em base úmida de 5%, necessita-se de

1600 minutos de secagem.

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Fig. 3 – Cinética de secagem obtida no experimento e ajuste ao modelo logarítmico

3.3 Comparação dos custos de exportação do frango congelado e do liofilizado

Na Tabela 1 observam-se os valores de custo de energia tanto para o frango congelado como o

liofilizado.

Comparando-se os custos dos dois processos (Tabela 1), observa-se que o processo proposto no

presente trabalho apresentou um custo em R$/kg, ao longo da cadeia de logística 267% maior do

que o processo de exportação do frango congelado. Entretanto, se considerando somente o

transporte marítimo com o container de 40 pés refrigerado tem-se um aumento de 118% nos custos

quando comparado com o container de 40 pés sem refrigeração (seco). O fator que mais influenciou

no elevado custo do material liofilizado foi a bomba de vácuo, indicando o ponto que deve ser

trabalhado para melhorar a viabilidade econômica do processo proposto.

Tabela 1: Comparação de custo dos processos para exportação de frango liofilizado e

congelado

Etapas Liofilizado (R$/kg frango*) Congelado (R$/kg frango

*)

Congelamento 0,0140 0,0140

Sublimação 0,2917 ---

Condensador 0,1279 ---

Bomba de vácuo 1,0864 ---

Transporte Rodoviário 0,0649 0,0690

Transporte Marítimo 0,1260 0,2757

Ilha de Exposição --- 0,6075

Armazenamento em freezer --- 0,0398

Total 1,7109 0,4659 *Com umidade de 62% em base úmida

4. CONCLUSÕES

Para obter um produto com umidade em torno de 5% (base úmida), pés de frangos inteiros e pré-

cozidos, devem ser liofilizados em 26,7 horas quando submetidos às seguintes condições: pressão

absoluta menor que 0,8 mbar e temperatura de fornecimento de calor de 60 0C. Dessa maneira, seu

peso reduziria em média em 60%, permitindo seu transporte e armazenamento sem a necessidade de

refrigeração e aumentando a sua vida útil.

O custo com a cadeia logística de frio (transporte rodoviário e marítimo) foi estimado ser 118%

mais caro em containers de 40 pés refrigerados (processo atual), do que sem refrigeração (pés de

frangos liofilizados). Porém ao considerar os custos de liofilização de pés de frango para o mercado

chinês, este fica muito mais caro (267 %) que o processo atual. O custo mais relevante foi o de

energia elétrica na bomba de vácuo, que é diretamente proporcional ao tempo de liofilização.

Porém, o processo de secagem por liofilização pode ser aprimorado, ou substituído por uma

tecnologia que reduz o tempo de secagem e consumo de energia elétrica, para se tornar boa

alternativa para a exportação do produto para a China, país maior importador de pés de frango, onde

o produto é considerado nobre.

REFERÊNCIAS

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130

ESTUDO SOBRE A VIABILIDADE DA INSTALAÇÃO DE UMA PEQUENA

FÁBRICA DE DOCE DE LEITE SEM LACTOSE NA CIDADE DE

UBERLÂNDIA-MG

Luma Sarai de Oliveira1; Kamila de Cassia Spacki

2; Nicolli Marchiore

3; Felipe Rocha

4

RESUMO

O doce de leite é um produto amplamente comercializado no Brasil e em diversos países sul-

americanos, além de ser altamente nutritivo. A lactose é um dissacarídeo encontrado no leite e em

produtos lácteos, e tem sido notado um significativo aumento em casos de intolerância da lactose. A

fim de obter um produto nutritivo, amplamente consumido, com custo relativamente baixo e

direcionado a um público intolerante à lactose, foi desenvolvido um estudo sobre a viabilidade da

instalação de uma fábrica de doce de leite sem lactose levando em consideração fatores como:

localização, custos fixos e móveis e mercado consumidor. Os cálculos demonstraram que, para

obter uma margem de lucro de 100% no produto, o doce de leite comercializado em embalagens de

polietileno de 400 g de massa útil deve ser vendido de a um valor de R$ 8,35 reais, obtendo um

retorno de investimento em 4 meses.

Palavras-chave: Intolerância, projeto, indústria.

_______________________ 1 Luma Sarai de Oliveira –Engenheira de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos (DALIM) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Campo Mourão, [email protected] 2 Kamila de Cássia Spacki – Engenheira de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Campo

Mourão, [email protected] 3 Nicolli Grecco Marchiore – Engenheira de Alimentos – Centro de Engenharias e Ciências Exatas (CECE) –

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Câmpus Toledo, [email protected] 4

Felipe Rocha – Engenheira de Alimentos – PPGTA- Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O doce de leite é um produto típico da América Latina, produzido e consumido em grande escala no

Brasil e na Argentina. É basicamente um produto resultante da cocção do leite com açúcar até a

concentração e caramelização desejada (MACHADO, 2005). O doce de leite apresenta elevado

valor nutricional por conter proteínas e minerais, além do alto conteúdo energético (FEIHRMANN;

CICHOSKI; REZENDE, 2004).

De acordo com a legislação, o doce de leite pastoso deve apresentar-se limite entre os valores

mínimos e máximos em sua composição, conforme a Tabela 1:

Tabela 1: Limites mínimos e máximos da composição do doce de leite pastoso.

Doce de leite pastoso Mínimo (%) Máximo (%)

Umidade - 30,0

Cinzas - 2,0

Proteínas 5,0 -

Gordura 6,0 9,0

Fonte: Adaptada a Portaria No. 354, de 4 de setembro de 1997 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Outros ingredientes podem ser adicionados conforme a Tabela 2:

Tabela 2: Composição dos ingredientes para 1 L de leite.

Doce de leite pastoso Composição máxima (g L-1

de leite)

Sacarose 300,0

Amidos nativos ou modificado 5,0

Mono/Dissacarídeos 40,0

* A enzima β-galactosidase (lactase) e o bicarbonato de sódio podem ser empregados como

coadjuvantes em quantidade necessária.

Fonte: Adaptada a Portaria No. 354, de 4 de setembro de 1997 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

A lactose é um dissacarídeo, que ao sofrer hidrólise, forma como produtos glicose e galactose. A

hidrólise enzimática da lactose, tem se mostrado um dos métodos mais promissores para remover a

lactose do leite e de seus subprodutos. Dependendo do nível de hidrólise, o leite com lactose pré-

digerida terá um gosto ligeiramente mais doce (CARMINATTI, 2001).

A importância industrial da β-galactosidase está em sua aplicação na indústria de laticínios, pois

garante alimentos com baixo teor de lactose, melhor solubilidade e digestibilidade do leite e

derivados (TOMAL, 2010). Com isso, os problemas associados com a eliminação do soro,

cristalização de lactose em certos alimentos congelados e o consumo de leite por indivíduos com

intolerância à lactose podem ser reduzidos (SANTOS, 2006).

Com as estimativas de que 70-75% da população mundial poder ser intolerante à lactose e

considerando um consumo total de leite e seus subprodutos em mais de 200 milhões de toneladas

em 2011, produtos lácteos sem lactose representam uma oportunidade substancial para os

fabricantes de laticínios (IFT, 2012).

De acordo com os dados da Pesquisa Pecuária Municipal divulgada pelo IBGE (2015), o ano de

2015 apresentou uma produção total de 35 bilhões de litros de leite. No comparativo dos estados,

Minas Gerais se destacou novamente como principal produtor de leite, apresentando 9,14 bilhões de

litros, o que corresponde a 76,8% da Região Sudeste e 26,11% do total da produção nacional. Em

segundo lugar esteve o Estado do Paraná, com produção de 4,66 bilhões de litros de leite

(MILKPOINT, 2016).

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O leite é considerado um importante produto no segmento alimentício, estando presente em

praticamente todos os continentes como uma das principais fontes de proteínas e nutrientes para os

seres humanos. Em virtude disso, o consumo do produto por parte da população é significativo.

(MARTINS, 2005 apud BREITENBACH, 2012).

A Figura 1 abaixo apresenta os números do setor leiteiro no Brasil:

Figura 1: Números do setor leiteiro no Brasil

Fonte: (EMBRAPA, 2016)

A disponibilidade de leite por habitante no Brasil ainda é pequena quando comparada à de países

desenvolvidos, cujo poder aquisitivo da população é mais elevado. A média de consumo nesses

países alcança 220 litros/habitante/ano (ZOCCAL, 2016).

Porém pessoas que não possuem a enzima beta-galactosidase não podem consumir alimentos que

contenha o açúcar proveniente do leite: a lactose, este fato causa impacto sobre a demanda do

produto pelo mundo. A intolerância à lactose afeta mais de 75% da população mundial (BULHÕES

et al., 2007). No Brasil, estudos mostram prevalências de 8% a 45% nas regiões sudeste e sul

(PRETTO et al., 2004). O presente trabalho tem como objetivo projetar uma indústria de doce de

leite sem lactose com sede em Uberlândia, Minas Gerais, tendo em vista que a cidade oferece

condições satisfatórias para a implementação da empresa.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste contexto a fim de projetar uma pequena fábrica de doce o estudo para implementação

seguiram as seguintes etapas:

2.1 Escolha do produto

O produto foi escolhido de acordo com pesquisas de dados sobre produtos consumidos e tendências

atuais de comercialização.

2.2 Projeção da demanda

A demanda foi projetada de acordo com um questionário online elaborado pela ferramenta Google

Docs com perguntas elaboradas sobre a intenção de compra do doce de leite sem lactose e

frequência do consumo quantitativa do produto, em caso positivo de compra.

2.3 Pesquisa de Mercado

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A demanda foi projetada de acordo com o questionário online elaborado pela ferramenta Google

Docs. Com a obtenção dos dados, foi possível projetar uma demanda de acordo com a localização

da indústria previamente escolhida, obtendo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

da população local e faixa etária. Para definir um produto sem lactose, foram feitas pesquisas para

obtenção de dados sobre o quadro de intolerância à lactose da população brasileira, bem como um

tendencial aumento em casos de intolerantes;

2.4 Análise da concorrência

A análise de concorrência foi feita com uma pesquisa in loco em supermercados da cidade de

Campo Mourão – PR.

2.5 Estudo detalhado da localização

A localização foi definida baseando-se em pesquisas atuais em órgãos do governo de oferta de

matéria-prima e tendência de consumo do produto na região escolhida.

2.6 Fluxograma explicativo das etapas de produção

Foi feito um fluxograma quantitativo do processo de produção do doce de leite sem lactose.

2.7 Balanço financeiro

Foram feitos cálculos com base nos preços obtidos de equipamentos em empresas especializadas e

estimativas de custo fixos e variáveis de produção.

2.8 Planta da instalação

A planta da instalação foi projetada através da ferramenta MicrosoftVisio 2010.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Projeção da demanda

Com os dados obtidos pelo MAPA (2015), foi calculado a projeção da demanda para o consumo de

leite no Brasil, em bilhões de litros, através do método mínimos quadrados no Excel como exposto

pela Tabela 1.

Tabela 1: Projeção de demanda para produção e consumo de leite, em bilhões de litros, no

Brasil.

Ano Produção Consumo

2016 35,11 30,90

2017 35,77 31,49

2018 36,43 32,08

2019 37,09 32,68

2020 37,75 33,27

Com base aos resultados demonstrados pela projeção da demanda pelo método dos mínimos

quadrados observou-se que a produção de leite no Brasil até o ano de 2020 é crescente, assim como

o seu consumo. Desta forma há um indicativo satisfatório para a produção do doce de leite quanto a

disponibilidade de matéria prima.

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3.3 Pesquisa de mercado

A enquete demonstrou resultados aceitáveis quanto a porcentagem de pessoas intolerantes a lactose,

quanto a intenção de compra do doce de leite, mesmo este um pouco mais caro devido a utilização

da enzima B-galactosidase. E que mesmo o consumo de doce de leite sendo pouco atualmente,

ainda existe mercado para o produto. A Tabela 2 demonstra os resultados obtidos a partir da

enquete realizada.

Tabela 2: Enquete obtida pela pesquisa de mercado.

Faixa etária 20-29 anos 84,9%

Sexo Feminino 59,3%

Escolaridade Ensino superior incompleto 50,6%

Renda Maior que 3 salários mínimos 47%

Você consome doce de leite? Sim 33,7%

Você é intolerante a lactose Sim 10,5%

Pagaria mais caro pelo

produto sem lactose Sim 47,7%

Fator de maior atração no

produto Preço 50%

3.4 Análise de concorrência

Devido o doce de leite ser um doce de mesa utilizado junto a pães, bolos, confeitarias, existe a

possibilidade da sua substituição por compotas de frutas, geleias e chimias. Estes produtos são

isentos de lactose, desta forma são produtos concorrentes diretos.

3.5 Localização

Uberlândia localizada no triângulo mineiro dispõe de grande oferta do principal implemento

utilizado para a fabricação do doce de leite: o leite, gerando economia com o transporte da matéria-

prima da origem até a fábrica. Outra vantagem quanto a localização da empresa é que a cidade

dispõe de um atrativo público alvo, pois segundo o IBGE (2017) o centro consumidor conta com

676.613 habitantes em 2017.

Apesar do fechamento de micro e pequenas empresas (MPEs) em Uberlândia, no ano de 2015, já

superar o total do ano de 2014, a quantidade de MPEs ativas atualmente também é maior do que o

registrado em 2014. De acordo com dados do portal Empresômetro MPE, do Instituto Brasileiro de

Planejamento e Tributação (IBPT), em dezembro de 2014, havia 62.015 MPEs ativas na cidade. Até

31 de dezembro de 2015, as MPEs somavam 65.883, o que mostra um aumento de pouco mais de

6% (CORREIO DE UBERLÂNDIA, 2015).

3.6 Fluxograma produtivo do doce de leite sem lactose

A Figura 2 representa o fluxograma produtivo do doce de leite sem lactose adotado como

metodologia para fabricação do doce pela fábrica.

Figura 2: Fluxograma de produção do doce de leite sem lactose

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Fonte: (ROCHA, 2016)

3.7 Balanço financeiro

Segundo pesquisa ao BNDES o capital de investimento para a fábrica será R$ 1.800.000,00 a taxa

de juros de 7% ao ano, possuindo 10 anos para quitar o parcelamento. As parcelas mensais são de

R$21.356,62 utilizando o sistema price para o cálculo da prestação.

O terreno possui 800 m² localizado na região industrial de Uberlândia no valor de R$700.000,00

reais. Os equipamentos custam um total de R$ 274.084,00 e a depreciação destes é 10% do

investimento inicial, com 10 anos de vida útil.

A produção diária da empresa é de 905,3 kg de doce de leite, sendo o valor do leite fornecido pela

empresa local de Uberlândia CALU, de R$ 1,30. O processo opera 4 horas por dia com 1 turno. A

limpeza, sanitização e manutenção são feitas aos sábados, em turno de 4 horas. A indústria conta

com 11 funcionários ao total, sendo 10 colaboradores com salário mínimo de R$ 1.030,06, sendo

este o piso salarial de Minas Gerais e 1 Engenheiro de alimentos com salário mensal de R$

3.800,00.

O imposto de renda da pessoa jurídica terá uma taxa de 15%.

Para os cálculos de energia foi utilizado o preço do kW/h no valor de R$ 0,4923, segundo a

CEMIG, companhia energética de Minas Gerais, e para a água sendo R$ 49,89 a tarifa mínima para

a categoria industrial mais o valor de R$ 3,79 para cada m³ excedente de água, segundo o

Departamento Municipal de Água e Esgoto de Uberlândia, Minas Gerais para as indústrias.

O valor de venda do pote do doce de leite 400 g será de R$ 8,35, com uma margem de lucro de

100%, obtendo o retorno do investimento em 4 meses.

O preço de cada equipamento está disposto na Tabela 3.

Tabela 3: Preços avaliados para os equipamentos do processo.

Equipamento Quantidade Preço Unitário Valor total

Evaporador 4 R$ 14.000,00 R$ 56.000,00

Tanque inox 5.000 L 1 R$ 10.000,00 R$ 10.000,00

Envasadora 1 R$ 27.000,00 R$ 27.000,00

Caldeira 1 R$ 180.000,00 R$ 180.000,00

Refratômetro 4 R$ 271,00 R$ 1.084,00

Total R$ 274.084,00

Os custos variáveis seguem conforme a Tabela 4.

Tabela 4: Custos variáveis de produção.

Componente Preço total

Energia (kW/h) R$ 7.196,35

Água (m³) R$ 7.500,89

Materiais de limpeza e higiene R$ 600,00

Matéria-prima (leite, sacarose e enzima) R$ 63.274,13

Embalagem R$ 9.052,50

Total R$ 87.623,87

Os custos fixos seguem de acordo com a Tabela 5.

Tabela 5: Custos fixos de produção.

Componente Preço total

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Funcionários R$ 15.800,00

Parcela do financiamento R$ 21.356,92

Análise laboratorial R$ 800,00

Total R$ 37.956,92

A Figura 3 ilustra como ficaria o laticínio para obtenção do doce de leite.

Figura 3: Planta do laticínio.

Software MicrosoftVisio2010.

4. CONCLUSÕES

A partir do estudo pode-se concluir que a implementação da fabricação do doce de leite sem lactose

na cidade de Uberlândia é viável visto que há matéria prima para abastecimento da indústria nas

proximidades, incentivo municipal a microempresas e potente mercado consumidor. Além do

atrativo preço do produto acabado.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Secretaria de Defesa Agropecuária,

Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Portaria No. 354, de 4 de setembro

de 1997. Disponível em: http:// www.agricultura.gov.br/das/dipoa/port354.html. Acesso em: 10

ago. 2017.

BULHÕES, A. C. et al. Correlation between lactose absorption and the C/T-13910 and G/A-22018

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CARMINATTI, C. A. Ensaios de Hidrólise Enzimática da Lactose em Reactor a Membrana

Utilizando Beta-Galactosidase Kluyveromyces lactis. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Química), Universidade Federal de Santa Catarina, p. 79, 2001.

CORREIO DE UBERLÂNDIA. Quase 1,7 mil micro e pequenas empresas fecham em 2015.

Disponível em: http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/quase-17-mil-micro-e-

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FAEMG. Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais. Os números e a

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http://www.sistemafaemg.org.br/Noticia.aspx?Code=8171&ParentCode=139&ParentPath=None&

ContentVersion=R. Acesso em 19 ago. 2017.

FEIHRMANN, A.C.; CICHOSKI, A.J.; REZENDE, D. F. Doce de leite (revisão). Higiene

Alimentar, v. 18, n. 118, p. 21-23, 2004.

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http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=317020&search=%7C%7Cinfogr%25E

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MACHADO, L. M. P. Uso de soro de queijo e amido de milho modificado na qualidade do

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UNICAMP, Campinas, 2005.

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89443n.aspx. Acesso em: 10 ago. 2017.

PRETTO, F. M. et al. Má absorção de lactose em crianças e adolescentes: diagnóstico através do

teste de hidrogênio expirado com o leite de vaca como substrato. Jornal de Pediatria, Porto

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ROCHA, F., OLIVEIRA, L.S. Projeto de instalação de uma indústria de pequeno porte de doce

de leite sem lactose na cidade de Uberlândia MG. (Trabalho apresentado a disciplina de

planejamento de projetos), Campo Mourão, p. 32, 2016.

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em Ciências de Alimentos), Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP), p. 68, 2006.

TOMAL, A. A. B., CUNHA, M. E. T., BOSSO, A., YOUSSEF, E. Y. e SUGUIMOTO, H. H.

Avanços tecnológicos na obtenção, purificação e identificação de galactooligossacarídeos e estudo

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2010.

ZOCCAL, R. Alguns números do leite. Balde Branco, v. 51, n. 623, p. 8, 2016.

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FARELO DE ARROZ E BAGAÇO DE MANDIOCA: ALTERNATIVAS PARA

PRODUÇÃO DE BREADING EXTRUSADO SEM GLÚTEN

Élcio José Feix1; José Nilson Pereira Brandão

2; Leandro Romão Dos Santos

3; Daneysa Lahis

Kalschne4; Gláucia Cristina Moreira

5; Marinês Paula Corso

6

RESUMO

O farelo de arroz (FA) e o bagaço de mandioca (BM) são subprodutos com propriedades

interessantes para aplicação em alimentos. Atualmente muitos indivíduos buscam produtos livres do

glúten do trigo. Os breadings aplicados em produtos cárneos são principalmente constituídos a base

de trigo. O objetivo desse trabalho foi desenvolver formulações de breading extrusado sem glúten

utilizando os subprodutos FA e BM. Uma mistura de farinha e milho, FA e BM (2:1:1) foi

extrusada seguindo um planejamento fatorial completo 2² tendo como variáveis a temperatura no 3º

estágio da extrusora e a velocidade de extrusão e, como respostas o índice de absorção de água

(IAA), índice de solubilidade em água (ISA) e índice de absorção de óleo (IAO). Os ensaios foram

analisados e comparados com um breading comercial. A temperatura teve efeito negativo (p 0,05)

no IAA e ISA, enquanto que o IAO não sofreu efeitos das variáveis estudadas (p > 0,05). O IAA

variou nos ensaios de 6,24 a 9,16 g gel g matéria seca-1

e o ISA variou de 12,12 a 20,70%, sendo

que ambos foram superiores ao do breading comercial (IAA: 5,98 g gel g matéria seca-1

; ISA:

0,37%). Em contrapartida, o IAO foi menor nos ensaios (2,05 a 2,27 g gel g matéria seca-1

) em

comparação ao breading comercial (3,30 g gel g matéria seca-1

). A incorporação de FA e BM no

________________________ 1

Élcio José Feix – Acadêmico do Curso de Tecnologia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 José Nilson Pereira Brandão – Acadêmico do Curso de Tecnologia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 3 Leandro Romão Dos Santos – Acadêmico do Curso de Tecnologia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 4 Daneysa Lahis Kalschne – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 5 Gláucia Cristina Moreira – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 6 Marinês Paula Corso – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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breading produzido à base de milho extrusado mostrou-se uma boa proposta para utilização como

breading sem glúten.

Palavras-chave: Extrusão; Farinha de empanamento; Índice de absorção de água; Índice de

solubilidade em água; Planejamento fatorial completo.

1. INTRODUÇÃO

O farelo de arroz é um subproduto obtido do polimento do arroz integral para a produção de arroz

branco. É fonte de vitaminas e minerais com potencial para ser aproveitado em alimentos (CHAUD;

ARRUDA; FELIPE, 2009). De forma similar, o bagaço de mandioca também pode ser empregado

em alimentos (FIORDA et al., 2013). É definido como o subproduto gerado durante a separação da

fécula, constituído pelo material fibroso da raiz que contém parte do amido que não foi possível

extrair no processo (LEONEL, 2001), representando uma fonte de fibra de boa qualidade,

nutricionalmente interessante e de baixo valor comercial. Vários estudos foram realizados para

explorar o potencial desses resíduos na alimentação humana, através do desenvolvimento de

tecnologias de aproveitamento em produtos alimentícios de maior valor agregado (LEONEL, 2001;

CHAUD; ARRUDA; FELIPE, 2009; RODRIGUES; CALIARI; ASQUIERI, 2011; FIORDA et al.,

2013).

O Brasil é reconhecido como o segundo maior produtor mundial de carne de frango (12.900 mil ton

em 2017) (ABPA, 2017). O processamento da carne de frango em produtos de maior valor

agregado representa vantagens econômicas para a indústria avícola no Brasil (NUNES et al., 2006).

O empanado é um produto cárneo industrializado, obtido de carnes de diferentes espécies de

animais de açougue, acrescido de ingredientes, moldado ou não, revestido de cobertura apropriada

que o caracterize (BRASIL, 2001). A cobertura (breading ou farinha de empanamento) pode ser

definida como uma base de cereal, geralmente obtida através de processamento térmico,

condimentado ou não (GL, 2002). A principal matéria prima utilizada na produção de farinhas de

empanamento é o trigo. Entretanto a utilização do trigo envolve duas limitações: o Brasil necessita

importar trigo para atender a demanda interna, dependendo, portanto da cotação do dólar e

restrições do mercado internacional (CAMARGO, 2015); e pacientes celíacos, intolerantes ao

glúten (sensibilidade ao glúten não-celíaca) ou alérgicos ao trigo seguem dietas com restrição de

glúten e/ou trigo (HIPPERT, 2015).

Considerando a importância para a avicultura brasileira de incentivos na comercialização de

produtos industrializados, a produção de um breading a partir de subprodutos como o farelo de

arroz e bagaço de mandioca poder ser uma alternativa para produção de empanados com qualidade

nutricional diferenciada, se encaixando em dietas sem consumo de glúten/trigo e com custo de

produção baixo.

O processo de extrusão é um processo de tratamento térmico do tipo HTST (High Temperature

Short Time) que modifica matérias-primas por meio da combinação de calor, umidade e trabalho

mecânico. Podem ser obtidos novos formatos e estruturas com diferentes características funcionais

e nutricionais, sendo geralmente aplicada no processamento de cereais e proteínas destinados à

alimentação humana (GUERREIRO, 2007; ASCHERI, 2017).

Assim, o objetivo desse trabalho foi desenvolver formulações de breading extrusado sem glúten

para empanamento de produtos cárneos, utilizando os subprodutos farelo de arroz e bagaço de

mandioca.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Matérias-primas

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A farinha de milho (pacotes de 1 kg da marca Ipê) foi adquirida em mercados da cidade de

Medianeira/PR. O farelo de arroz desengordurado peletizado foi doado pela Irgovel/RS e o bagaço

de mandioca úmido oriundo do processo de extração do amido foi doado pela Unidade Industrial de

Mandioca e Milho Lar, localizada em Missal/PR.

2.2 Preparação das matérias-primas

O bagaço de mandioca foi recebido na forma úmida, logo procedeu-se a secagem em estufa com

circulação de ar (marca Eller, Alemanha) a 60 °C por 8 h. A umidade inicial do bagaço foi de 93 g

100 g-1

que após o processo de secagem atingiu 10 g 100 g-1

. Na sequência, tanto o bagaço de

mandioca e o farelo de arroz foram moídos em moinho de facas (modelo SL31, Solab, Piracicaba) e

armazenados em embalagens plásticas em câmara fria (5 ± 2 °C).

2.3 Preparação da breading

O breading foi preparado a partir da mistura de farinha de milho, farelo de arroz e bagaço de

mandioca (2:1:1) respectivamente. Foram realizados testes preliminares (dados não mostrados) para

a determinação da umidade da farinha submetida ao processo de extrusão, obtendo-se o valor

mínimo de 40%. A umidificação foi realizada com água destilada pulverizada sobre a farinha, que

foi revolvida continuamente com auxílio de uma espátula. A quantidade de água adicionada foi

calculada considerando-se a quantidade de farinha a ser extrusada e a umidade inicial das três

matérias-primas (Equação 1). A farinha umidificada foi armazenada em sacos plásticos por 12 h a

temperatura ambiente para atingir a umidade de equilíbrio.

Qa = (Uf – Ui) / (100 – Uf) × Ma (1)

Onde: Qa = quantidade de água a ser adicionada (mL); Uf = umidade final da amostra estabelecida

(40 %); Ui = umidade inicial da amostra; Ma = massa da amostra (g).

2.4 Condução dos ensaios

Foi avaliado o efeito da temperatura na terceira zona de extrusão e velocidade de extrusão sobre as

propriedades tecnológicas da farinha (índice de absorção de agua e óleo, e solubilidade em água)

obtida utilizando-se um planejamento fatorial completo 22 (4 pontos fatoriais e 3 pontos centrais)

(Tabela 1). A extrusora com capacidade mínima de 800 g h-1

(modelo LAB-16, AX Plásticos) teve a

temperatura controlada por termopares e sistema de refrigeração com água e válvulas solenoides,

com alimentação manual. Os parâmetros fixos da extrusão foram a camisa helicoidal, matriz

circular (diâmetro do furo 3 mm). No início de cada ensaio o processamento por extrusão foi

ambientado e estabilizado utilizado o mesmo material de estudo. Na sequência, os ensaios foram

secos em estufa com circulação de ar a 55 ºC por 8 h, moídos em moinho de facas e armazenados

em embalagens plásticas em câmara fria (5 ± 2 °C).

Tabela 1: Níveis reais, codificados e variáveis resposta do Planejamento fatorial completo 22.

Ensaio Temperatura

(ºC) (x1) Velocidade

(rpm) (x2) IAA

(g gel g matéria seca-1

) ISA (%)

IAO (g gel g matéria seca

-1)

1 50 (-1) 90 (-1) 8,54 ± 0,67 20,70 ± 4,02 2,19 ± 0,02 2 50 (-1) 110 (+1) 9,16 ± 0,47 14,80 ± 0,37 2,22 ± 0,08 3 70 (+1) 90 (-1) 6,24 ± 0,15 12,85 ± 1,99 2,19 ± 0,09 4 70 (+1) 110 (+1) 6,75 ± 0,54 12,12 ± 2,99 2,13 ± 0,15 5 60 (0) 100 (0) 8,20 ± 0,00 15,72 ± 0,64 2,27 ± 0,01 6 60 (0) 100 (0) 8,23 ± 0,36 14,88 ± 0,60 2,19 ± 0,08

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7 60 (0) 100 (0) 7,84 ± 0,21 17,63 ± 0,80 2,05 ± 0,19 Breading comercial (controle) 5,98 ± 0,17 0,37 ± 0,09 3,30 ± 0,06

IAA: índice de absorção de água; ISA: índice de solubilidade em água; ISSO: índice de absorção de

óleo.

2.5 Determinação das propriedades tecnológicas

As propriedades tecnológicas dos ensaios foram determinados em triplicata e comparados aos de

um breading comercial. O índice de absorção de água (IAA) foi determinado em um tubo de

centrífuga contendo 2,5 g dos ensaios e 30 mL de água, agitados por 30 min (Fisatom, 713 D, São

Paulo) e centrifugados a 3000 rpm por 10 min. O sobrenadante (10 mL) foi transferido para um

cadinho de porcelana o qual foi seco em estufa a 105 °C e o gel remanescente foi pesado e o IAA

calculado (Equação 2) (ANDERSON et al., 1969). O índice de solubilidade em água (ISA) foi

calculado pela relação entre o peso do resíduo da evaporação e o peso seco da amostra (Equação 3)

(ANDERSON et al., 1969). O índice de absorção de óleo (IAO) foi determinado a partir da

adaptação da metodologia do IAA, na qual a água foi substituída por óleo de soja (SEIBEL;

BELÉIA, 2009).

IAA (g gel g matéria seca-1

) = PRC/PA – PRE (2)

ISA (%) = PRE/PA x 100 (3)

Onde: PRC = peso resíduo de centrifugação (g); PA = peso da amostra (g bs); PRE = peso resíduo

de evaporação (g) x 3; PA = peso da amostra (g bs); e PRE = peso resíduo de evaporação (g) x 3.

2.6 Análise estatística

Os resultados foram analisados utilizando o programa Statistica 8.0 (Statsoft Inc., Tulsa, EUA) com

um nível de significância de 5%. A adequação dos modelos gerados foi avaliada por análise de

variância (p ≤ 0,05).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O IAA e ISA nos ensaios (IAA: 6,24 a 9,16 g gel g matéria seca-1

; ISA: 12,12 a 20,70%) foram

superiores ao breading comercial (IAA: 5,98 g gel g matéria seca-1

; ISA: 0,37%). Em contrapartida,

o IAO foi menor nos ensaios (2,05 a 2,27 g gel g matéria seca-1

) se comparado ao breading

comercial (3,30 g gel g matéria seca-1

) (Tabela 1).

No IAA e ISA, a temperatura teve efeito negativo (p 0,05), indicando que a diminuição na

temperatura de 70 °C para 50 °C proporcionou aumento significativo no IAA e na ISA (Tabela 2).

No caso do IAO, nenhuma das variáveis foi significativa (p > 0,05), indicando que na faixa

estudada estas não exerceram influência na absorção de óleo.

Tabela 2: Efeitos das variáveis temperatura e velocidade de extrusão sobre o IAA, ISA e IAO do

breading obtido da mistura de farinha de milho e farelos de mandioca e arroz (2:1:1) Resposta Variáveis Efeito Erro padrão t p-valor R

2 Rajustado IAA Média 7,85 0,12 66,02 <0,000* 0,94 0,91

x1 -2,36 0,31 -7,48 0,002*

x2 0,57 0,31 1,80 0,147 ISA Média 15,53 0,51 30,21 <0,000* 0,89 0,78

x1 -5,27 1,36 -3,87 0,031*

x2 -3,32 1,36 -2,44 0,093

x1 por x2 2,59 1,36 1,90 0,154

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IAO Média 2,18 0,03 63,01 <0,000* 0,15 0,00 x1 -0,05 0,09 -0,49 0,656

x2 -0,02 0,09 -0,16 0,880

x1 por x2 -0,05 0,09 -0,49 0,656

x1= temperatura (°C); x2 = velocidade (rpm); * p 0,05.

Os modelos obtidos para o IAA e ISA tiveram p-valor 0,05, indicando que a Anova do modelo foi

significativa. Foram observadas curvaturas não significativas (p > 0,05), o que indica que os

modelos são lineares, logo, as variáveis tiveram efeitos lineares (Figura 1A e B).

Figura 1: Superfície de resposta para o IAA (A) e ISA (B).

A capacidade de absorção de água refere-se à quantidade total de água que pode ser retirada de um

breading e, se esse não absorver água do batter, este não se unirá corretamente ao batter. Isto causa

um desprendimento do breading, resultando em baixo desempenho do produto (GL, 2002; DILL;

SILVA; LUVIELMO, 2009). O IAA é uma medida que reflete a capacidade do grânulo de amido

em absorver água, mesmo em temperatura ambiente, e a capacidade de integralidade da estrutura

amilácea após o processo de extrusão. A capacidade de absorção de água do material amiláceo cru é

geralmente elevada e a partir do momento em que se aplica calor, em meio úmido durante o

processamento, promove-se o processo de gelatinização (ASCHERI, 2009; MOURA et al., 2011).

Portanto, considerando que a extrusão promove a gelatinização do amido, essa pode favorecer a

absorção de água em matérias amiláceas (ASCHERI, 2017). Na faixa estudada, com a diminuição

da temperatura foi alcançado uma maior absorção de água, sem alterar a absorção de óleo a qual, foi

em média 34,14 ± 2,12% menor nos ensaios se comparada ao breading comercial (Tabela 1).

A absorção de óleo é uma propriedade tecnológica importante, considerando que após o

empanamento o produto segue para a pré-fritura, por meio da imersão do produto em óleo (180 a

200 ºC por 20 a 35 s). Esta etapa fixa o breading, contribui para o desenvolvimento da cor, retira a

umidade, inibindo parcialmente a desidratação do produto pelo frio, e proporciona absorção de óleo

(GL, 2002) em quantidades que podem varia de 3% a 60% (JORGE; LUNARDI, 2005).

Em relação ao ISA observado nos ensaios acredita-se que esse propriedade possa alterar

negativamente a crocância do produto final, considerando que os valores obtidos foram superiores

ao do breading comercial (Tabela 1). Assim, na faixa estudada a temperatura de 70 °C é mais

indicada para gerar menor ISA.

4. CONCLUSÕES

y = 15,53 – 2,63x1 – 1,66x2 + 1,29x1x2 y = 7,85 + 0,28x1 – 1,18x2

A B

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A incorporação de farelo de arroz e bagaço de mandioca no breading feito à base de milho mostrou-

se uma proposta interessante para utilização como breading sem glúten após o processo de

extrusão. O IAA e ISA sofreram efeitos negativos gerados pela temperatura, logo as melhores

condições para o aumento do IAA foram observadas a 50 °C e para redução do ISA a 70°C. A

velocidade da extrusão não gerou efeitos significativos nas respostas estudadas, sendo indicado a

utilização de maiores velocidades devido a questão do tempo de processamento mais curto.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte financeiro e bolsas de estudo concedidos pelos órgãos CAPES,

CNPq e Fundação Araucária.

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FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA DO HIDROLISADO DE FARELO DE

ARROZ DESENGORDURADO ASSISTIDA POR ULTRASSOM

Mônica Stobienia1; Bianca Colombari Peron

2; Michaela Schweig

3; Larissa de Oliveira Bispo

4;

Eliane Colla5; Ilton José Baraldi

6

RESUMO

Os resíduos agroindustriais vem sendo amplamente estudados. O farelo de arroz desengordurado

(FAD), rico em carboidratos é empregado como substrato em fermentação alcoólica. A utilização

do ultrassom de baixa frequência (20-100 kHz) se mostra relevante, no estímulo ao crescimento

celular, devido seu poder de ativação em reações químicas. Neste contexto, o objetivo do trabalho

foi realizar a fermentação de hidrolisado de FAD assistida por ultrassom. Primeiramente, o FAD foi

submetido a hidrólise enzimática. O hidrolisado foi fermentado utilizando Saccharomyces

cerevisiae na proporção de 10% (v/v), com incubação a 30 °C e agitação de 100 rpm em shaker

orbital, durante 10 horas. Realizaram-se três ensaios distintos, sendo um controle (EC) (sem

aplicação de ultrassom), e os outros dois com aplicação nas frequências 37 kHz (E37) e 80 kHz

(E80). A aplicação ocorreu a partir da sexta hora de fermentação em banho ultrassônico, com tempo

de exposição 105 segundos e potência de 70%. Observou-se que a produtividade celular (0,67±0,01

gcélulas·(L·h)-1

) foi maior no ensaio E80 comparado aos demais, indicando um estímulo promovido

pelo ultrassom. Estudos subsequentes serão realizados para definição dos parâmetros do ultrassom

que influenciam positivamente na cinética fermentativa.

Palavras-chave: Bioprocessos, Resíduos Agroindustriais, Energia Ultrassônica.

_______________________ 1 Mônica Stobienia – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Bianca Colombari Peron – Acadêmica do Mestrado em Tecnologia de Alimentos do Programa de Pós-Graduação de

Tecnologia de Alimentos (PPGTA) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 3 Michaela Schweig – Acadêmica do Curso de Tecnologia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Larissa de Oliveira Bispo – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 5

Eliane Colla – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Câmpus Medianeira, [email protected] 6

Ilton José Baraldi – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Um dos componentes principais da dieta do brasileiro, com consumo médio de 25 kg por ano, o

arroz (Oryza sativa) assume condição importante durante toda sua cadeia produtiva em caráter

social e econômico (CONAB, 2017).

Na safra 2015/16, o Brasil produziu 10,6 milhões de toneladas de arroz (CONAB, 2017), sendo a

maior parte dessa produção beneficiada, ou seja, faz-se necessário o descascamento e tratamento do

grão para que este possa ser comercializado. Neste processamento, o farelo aparece como

subproduto importante, pois representa entre 8 e 11% do peso total do grão, sendo obtido a partir do

endosperma amiláceo no processo de polimento do arroz (LAKKAKULA et al., 2004).

O farelo de arroz desengordurado (FAD) contém cerca de 15% de proteínas e 15% fibras e

carboidratos, caracterizados por hemicelulose (8,7% -11,4%), celulose (9% -12,8%), amido (5% -

15%) e beta-glucana (1%) (MALEKIAN et al., 2000). O alto teor destes hidratos de carbono

justifica a utilização deste resíduo para fermentação alcoólica, pois, quando submetido à hidrólise

enzimática, são liberados açúcares fermentescíveis utilizados em bioprocessos.

Com o intuito de aumentar o rendimento da produção de etanol, várias tecnologias podem ser

empregadas durante a fermentação, como a aplicação de ultrassom, o qual tem grande potencial e

ainda não foi amplamente explorado (PEDRO, 2018).

Considera-se o processo de ultrassom como um fenômeno físico onde são criadas, em um meio

líquido, cavidades de vapor e gases as quais aumentam de tamanho até implodirem, gerando o

evento conhecido como cavitação, provocando efeitos de ativação em reações químicas

(MARTINES et al., 2000).

Estudos mostraram que a aplicação do ultrassom causou efeitos no crescimento celular e na

produção de etanol. Matsuura et al. (1994) conseguiram otimizar o tempo de fermentação em 50%

em vinhos e cervejas e acelerar a produção de etanol e outros componentes com a aplicação de

sonicação na frequência de 43 kHz. Visando avaliar o mecanismo de atuação do ultrassom sobre as

células, Lanchun et al. (2003) observaram aceleração no crescimento celular através de estímulo

intermitente de energia ultrassônica de baixa intensidade nas fases de adaptação e de crescimento da

levedura Saccharomyces cerevisiae.

Com base no referencial teórico apresentado, utilizou-se o ultrassom em diferentes frequências

durante o processo de fermentação alcoólica do hidrolisado FAD, para avaliar o crescimento e a

viabilidade celular da levedura Saccharomyces cerevisiae, bem como a produtividade de etanol.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Hidrólise enzimática

O FAD foi cedido pela Indústria Riograndense de Óleos Vegetais (IRGOVEL-Pelotas/RS) na forma

de pellets. Realizou-se a moagem do farelo em moinho de facas (Solab, SL31 TipoWillye, Brasil),

granulometria média de 70 mesh, com o objetivo de expor maior área de contato do farelo com as

enzimas na etapa de hidrólise enzimática.

Para a hidrólise enzimática foram utilizados preparados comerciais contendo atividades de protease

(ALCALASE 2.4L FG), α-amilase (Liquozyme Supra 2.2X) e amiloglucosidase (AMG 300L),

cedidas pela empresa LNF – Latino Americana.

As condições utilizadas para hidrólise enzimática foram previamente otimizadas por Siepmann

(2015): razão FAD/água 200 g∙L-1

, 15 µL·g FAD-1

de protease por 2 horas (60 °C), 30 µL∙g FAD-1

de α-amilase com tempo de atuação de 2 horas (90 °C) e 40µL∙g FAD-1

de amiloglucosidase, com

atuação de 3 horas (60 °C). O hidrolisado foi preparado em reator de hidrólise (TE-2003/3,0-E2,

Tecnal) com agitação de 100 rpm. Para ajuste do pH ideal para atuação das enzimas, utilizou-se de

soluções de hidróxido de sódio e ácido cítrico, ambos de concentração 2 mol·L-1

, formuladas com

reagentes de pureza analítica.

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Após esse período, o hidrolisado foi centrifugado em centrífuga refrigerada (CIENTEC, CT-5000R,

Piracicaba, São Paulo) (6000 rpm) por 5 minutos.

2.2 Fermentação Alcoólica com Aplicação de Ultrassom

A fermentação foi conduzida em erlenmeyers de 500 mL, contendo 225 mL do hidrolisado

esterilizado, com pH ajustado para 5, e 25 mL de inóculo de Saccharomyces cerevisiae (Saf-

instant®, adquirido no comércio local) previamente ativado em meio de cultura para levedura

(glicose 2% (m/v), peptona de carne 0,5% (m/v), extrato para levedura 1% (m/v) e levedura

liofilizada na proporção de 2% (p/v)).

Os ensaios foram realizados em shaker de agitação orbital (SL 221, SOLAB CIENTÍFICA,

Piracicaba, SP), por 10 horas sob temperatura de 30 °C e agitação constante de 100 rpm.

Realizou-se aplicação de ultrassom a partir da 6ª hora de fermentação, em banho ultrassônico

(Ultra-Bohn, Elma, E 30H), de forma que todo o meio contido no erlenmeyer permanecesse

submerso na água do banho. Foram realizados 3 ensaios em triplicata, sendo um teste controle, sem

aplicação do ultrassom. Os outros dois tiveram os parâmetros: tempo aplicação de 105 segundos,

temperatura de 30 °C e potência de 70% fixados, variando-se entre os dois apenas a frequência,

onde em um utilizou-se de 37 kHz (E37) e no outro, 80 kHz (E80), com aplicação regular a cada 2

horas.

Foram retiradas alíquotas de amostra a cada 2 horas para acompanhamento da fermentação,

iniciando no tempo zero até 10 horas, avaliando-se as respostas de células viáveis, açúcares

redutores (AR), biomassa celular e concentração de etanol.

2.3 Contagem de Células Viáveis

A contagem de células foi realizada utilizando-se Câmara de Neubauer, onde determinou-se a

concentração de células por mL e o índice de viabilidade celular, através de observação e contagem

de células vivas (incolores) e mortas (coloridas).

2.4 Determinação de Açúcares Redutores

A concentração de AR foi determinada em duplicata por meio do método Somogyi-Nelson

(Somogyi, 1945; Nelson, 1944). O princípio do método baseia-se na redução de Cu2+

a Cu+ pelo

AR com formação Cu2O, que reduz o arsenomolibdato e produz um composto de coloração azul

proporcional à quantidade de açúcares presente no meio (NELSON, 1944). As leituras das

absorbâncias foram realizadas em espectrofotômetro (PerkinElmer, Lambda XLS), no comprimento

de onda de 540 nm. A concentração de AR, em gramas por litro de meio, foi calculada a partir de

curva padrão de solução de glicose com concentração de 1 g·L-1

, com diluições variando de 0 a 1

g·L-1

.

2.5 Determinação Biomassa Celular

A concentração da biomassa celular foi determinada por meio de leitura da densidade ótica (DO) a

600 nm de uma alíquota do meio de cultivo. Utilizou-se de curva de calibração da DO versus massa

seca, construída utilizando uma alíquota de 10 mL do meio de cultivo ao final da fermentação,

sendo as células lavadas por três vezes com água destilada e centrifugadas em centrífuga refrigerada

(CIENTEC, CT-5000R, Piracicaba, São Paulo) com posterior secagem em estufa a 50 ºC até peso

constante. Paralelamente, foram realizadas diluições apropriadas de alíquotas do meio de cultivo,

com leitura da DO em comprimento de onda de 600 nm.

Através da relação com o volume de meio coletado, determinou-se a concentração total de massa

seca, a qual foi relacionada indiretamente para se estabelecer as concentrações de biomassa celular

durante o período de fermentação, a partir da curva de calibração.

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2.6 Concentração de Etanol

A concentração de etanol em % (p/v) foi determinada em Cromatógrafo Líquido de Ultra-alta

Pressão (UHPLC, DIONEX, U3000) equipado com detector de Índice de Refração, sendo as

amostras filtradas em filtros de seringa Milipore® 0,45 µm e injetadas em coluna Aminex HPX-

87H (BIO-RAD). A fase móvel foi constituída de H2SO4 5 mmol·L-1

, com vazão de 0,6 mL·min-1

.

Manteve-se a temperatura do sistema a 50 °C e a detecção foi realizada por índice de refração,

sendo o volume de amostra injetado de 20 µL. Para cálculo das concentrações de etanol das

amostras, foi construída uma curva padrão com 6 pontos (diluições de 0 a 10%), utilizando um

padrão de etanol absoluto 99,5%.

2.7 Cálculos de Rendimento e Parâmetros Cinéticos da Fermentação Alcoólica

A eficiência de fermentação alcoólica foi obtida pelo rendimento de AR (glicose) em etanol sobre o

rendimento máximo estequiométrico (0,511), sendo calculado pela Equação 1, onde etanol e AR

são expressos em g·L-1

(CINELLI, 2012):

Eficiência de fermentação % =EtanolFinal-EtanolInicial

(ARInicial

-ARFinal) 0,511 100

.

A produtividade de etanol foi calculada com base na Equação 2 (STROPPA, 2009):

Produtividade g∙ L∙h -1 =Pf-P0

tf

Sendo:

Pf: Concentração do produto (g·L-1

) no tempo tf de fermentação;

P0: Concentração do produto (g·L-1

) no início da fermentação;

tf: Tempo de fermentação (horas).

Da mesma forma, a produtividade em células pode ser calculada a partir da Equação 3 (CINELLI,

2012):

Produtividade g∙ L∙h -1 = f- 0

tf

Sendo:

Xf: Concentração de células (g·L-1

) no tempo tf de fermentação;

X0: Concentração de células (g·L-1

) no início da fermentação;

tf: Tempo de fermentação (horas).

O fator de conversão de substrato em produto (YP/S) e em biomassa (YX/S) e da biomassa em

produto (YP/X) foram calculados por meio das Equações 3, 4 e 5 (STROPPA, 2009; ALMEIDA,

2006):

YP/S=Pf-P0

S0-Sf

Y /S= f- 0

S0-Sf

Eq. (1)

Eq. (2)

Eq. (3)

Eq. (4)

Eq. (5)

Eq. (3)

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149

YP/ =Pf-P0

f-x0

Em que:

P0 e Pf = concentrações (g·L-1

) inicial e final do etanol;

Xf e X0 = as concentrações (g·L-1) inicial e final de células, e

S0 e Sf = as concentrações (g·L-1) inicial e final de açúcares redutores, respectivamente.

2.8 Tratamento Estatístico dos Dados

Todos os dados foram tratados com auxílio do software Statistica® 7.0 (Statsoft Inc., Tulsa, US).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 são apresentados os valores de substrato (S), biomassa celular (X) e etanol (P) durante

o tempo de fermentação com aplicação de ultrassom.

Figura 1: Perfil cinético da fermentação alcoólica do FAD.

Observa-se que houve o consumo de aproximadamente 97% do substrato em todos os ensaios, com

estabilização da concentração de S e X a partir da oitava hora, indicando tempo suficiente para a

conversão de produto em substrato no processo fermentativo do FAD.

Em relação ao consumo de substrato, não houve diferença significativa entre os ensaios durante o

tempo decorrido da fermentação. Já a concentração de biomassa celular obteve-se diferença

significativa no ensaio E80 em relação aos demais ensaios no tempo final de 10 horas, mostrando

que o ultrassom foi capaz de estimular o crescimento celular nesta frequência.

A evolução do número de células bem como da viabilidade celular pode ser observada na Figura 2.

0

10

20

30

40

50

60

0 2 4 6 8 10 12

Co

nce

ntr

açã

o (

g/L

)

Tempo (h)

AR Controle AR E37 AR E80X Controle X E37 X E80P Controle P E37 P E80

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150

Figura 2: Número de células por mL e viabilidade celular durante a fermentação.

Tanto o número de células quanto a viabilidade celular não apresentaram diferença significativa

entre os ensaios nos tempos analisados. Porém, observa-se diminuição no número de células

viáveis nos ensaios E37 e E80 após a primeira aplicação do ultrassom, mostrando a influência do

tratamento sobre as células, que voltaram a crescer significativamente a partir da oitava hora de

fermentação, caracterizando um impacto positivo sobre o crescimento.

Pedro (2008) observou um aumento no número de células de Saccharomyces cerevisiae após o

tratamento ultrassônico na fermentação alcoólica, provavelmente devido a melhor dispersão dessas

células no meio. Da mesma forma, Silva (2006) verificou que a contagem do número de esporos de

Aspergillus niger era superior em amostras submetidas à radiação ultrassônica.

A cinética fermentativa também foi avaliada em relação à produtividade em células, etanol e em

relação ao consumo de açúcares. Os dados estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1: Eficiência da fermentação alcoólica, produtividade em células e em etanol, fatores de

conversão do substrato em biomassa (YX/S), da biomassa em produto (YP/X) e do substrato em

etanol (YP/S), obtidos no processo de fermentação alcóolica do FAD.

Ensaios YX/S* YP/X* YP/S* Eficiência

(%)*

Produtividade

X*

Produtividade

P*

Controle 0,15a

0,24a

0,63a

122,96a

0,59a

2,44a

E37 0,13a

0,28a

0,47a

92,41a

0,61a

2,22a

E80 0,14a

0,29a

0,48a

94,50a

0,67b

2,32a

*Médias marcadas com letras semelhantes na mesma coluna não diferem significativamente entre si

(p≥0,05) pelo teste de Tukey a 95% de confiança.

Observa-se que a eficiência da fermentação variou entre 94,5 e 122,96%. Um rendimento maior que

100% é justificável, visto que leveduras do gênero Saccharomyces sp. possuem cerca de 33% de

carboidratos, os quais podem ser utilizados para produção de etanol por meio de uma fermentação

endógena (PEPPLER, 1970).

A produtividade em células foi significativamente maior (p>0,05) no ensaio E80 em comparação

com o ensaio controle, indicando um estímulo positivo provocado pela energia ultrassônica no

crescimento celular, porém não alterando consideravelmente a produção em etanol.

Durante a aplicação do ultrassom, em ambas as frequências, observou-se a formação de espuma no

meio em fermentação, caracterizando a saída de CO2 produzido pelas leveduras na forma de

microbolhas, fenômeno este que também foi constatado por Matsuura (1994), o qual relatou maior

fluxo de eliminação do gás durante aplicação da energia ultrassônica. Esta diminuição de CO2

dissolvido ao meio pode configurar uma melhora no desempenho fisiológico da levedura, visto que

a presença deste composto expõe o microrganismo a uma condição de estresse.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0,00E+00

2,00E+07

4,00E+07

6,00E+07

8,00E+07

1,00E+08

1,20E+08

0 2 4 6 8 10

Via

bil

ida

de

Cel

ula

r

mer

o d

e C

élu

las/

mL

Tempo (h)

Células Controle Células E37 Células E80

Viabilidade controle Viabilidade E37 Viabilidade E80

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151

Apesar disso, faz-se necessário o controle de egresso deste produto, uma vez que pode haver o

carreamento do etanol produzido com consequente diminuição da sua concentração real. Uma

alternativa seria a implementação de um sistema de condensação para retornar o etanol ao meio

quando aplicado o ultrassom.

4. CONCLUSÕES

Como forma de estudo exploratório, estes dados indicaram resultados preliminares em relação ao

uso do ultrassom como forma de estímulo das células na fermentação alcoólica, mostrando que há

interferência da aplicação desta energia no processo, porém, que não convergem à uma conclusão

mais efetiva com relação as condições que podem ser utilizadas com o intuito de melhorar o

procedimento de fermentação.

Ainda há a necessidade de maiores estudos com aplicação de ferramentas estatísticas de otimização

para definição das melhores condições de emprego do ultrassom, de forma a estabelecer

metodologia solidificada para a definição dos parâmetros que influenciem positivamente na cinética

fermentativa.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecimento ao professor Éder Flores pela sua disposição em auxiliar neste trabalho.

REFERÊNCIAS

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Brasileira de Produtos Agroindustriais, v. 8, n. 1, p. 35-42, 2006.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mercado Interno 2015. Disponível

em: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/arroz>. Acesso em 13 de junho de 2017.

CINELLI, B. A. Produção de etanol a partir da fermentação simultânea à hidrólise do amido

granular de resíduo agroindustrial. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2012.

Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de

grãos. v. 9 Safra 2015/16 - Nono levantamento, Brasília, p. 1-178, junho 2016.

LAKKAKULA, N. R. et al. Rice bran stabilization and rice bran oil extraction using ohmic heating.

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870, p. 1-69, 2000.

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Nova vol.23 n.2 São Paulo mar./abr. 2000.

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Irradiation. Journal of Fermentation and Bioengineering. Vol. 77, n. 1, 36-40, 1994.

NELSON, N. A photometric adaptation of the Somogyi method for the determination of glucose.

Journal of Biological Chemistry, v. 153, p. 375-380, 1944.

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arroz e avaliação do potencial antioxidante. 90 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de

Alimentos) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2015.

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Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro,

2008.

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152

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1970. Cap.8, p.421-463.

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desengordurado por processo submerso. 89 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de

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Trabalho de conclusão de curso - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio

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STROPPA, C. T. et al. Parâmetros cinéticos de linhagens de levedura isoladas de alambiques

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153

MODELAGEM MATEMÁTICA DA FERMENTAÇÃO DE PÃES AUSENTES

DE GLÚTEN

Marcelo Gava Junior1; Nádia Cristiane Steinmacher

2; Felipe Veloso

3; Elciane Regina Zanatta

4

RESUMO

A modelagem matemática é a interação entre dois opostos, matemática e realidade, sendo uma

ferramenta essencial no controle e na análise de um processo. Dessa forma, o presente trabalho teve

como objetivo estudar e identificar através dos recursos matemáticos qual o comportamento do

crescimento da massa de pães (fermentação) abordando dois modelos matemáticos, Gompertz e

Verhulst que relacionam crescimento populacional (volume x tempo). No preparo da massa dos

pães, o único ingrediente que variou foi o tipo de espessante utilizado. Para a formulação 1 utilizou

a goma xantana e para a formulação 2 empregou o psyllium. Parte da massa preparada

(aproximadamente 20 cm3) foi retirada e adicionada a uma proveta de 50 cm

3, para acompanhar a

fermentação. A proveta com a massa foi armazenada em estufa a temperatura de 40 °C e teve seu

crescimento controlado até o tempo de 32 minutos. No experimento da modelagem da fermentação

a formulação que obteve maior volume no tempo de 32 minutos foi a que apresentou em sua

composição psyllium e para a modelagem matemática, o melhor modelo em ambos os casos para

ajuste dos dados experimentais foi o de Verhulst. Em conclusão, a utilização da modelagem

matemática é de grande importância para interpretações e simulações de processos experimentais

abrangendo não só o mundo matemático como qualquer área do conhecimento.

Palavras-chave: Controle de processo; Modelo; Problema; Equações

___________________________ 1 Marcelo Gava Junior – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Nadia Cristiane Stenmacher – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3

Felipe Veloso – Acadêmico do Curdo de Engenharia de alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Elciane Regina Zanatta – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

A abordagem e a utilização da modelagem matemática tornam-se ssencial no controle, e, na análise

de um processo. Sua aplicação nas atividades do cotidiano é muito ampla, basta ter um problema,

criatividade na resolução e material matemático que, consequentemente, surgirá um modelo, que

proporcionará relacionar os dados coletados e sua ação sobre a realidade (STAIL; OLIVEIRA;

SCHULTZ, 2013).

Segundo Biembengut & Hein (2004), a modelagem matemática é a interação entre dois opostos,

matemática e realidade. Isto é, fazer uma tradução através da modelagem do mundo real para o

matemático, e isso será possível se ocorrer uma série de procedimentos.

O primeiro procedimento é o reconhecimento do problema (situação), e a familiarização, pesquisa

sobre o assunto a ser modelado. A matemática fornecerá a resolução do problema em termos de

modelo, tradução do problema para a linguagem matemática. Obtendo assim, um conjunto de

equações, expressões e gráficos. E o terceiro, será a validação do modelo gerado (BIEMBENGUT;

HEIN, 2004).

A modelagem matemático nada mais é do que uma simplificação do mundo real ou a conveniência

em trabalhar com este mundo. Porém, as características primordiais do mundo real devem estar

expressas no modelo, gerando assim, uma situação igual ou parecida aquela do sistema modelado.

O modelo matemático é constituído por equações matemáticas que representam quantitativamente

as hipóteses utilizadas na construção do modelo, as quais se apoiam no sistema real (SODRÉ,

2007).

Na produção de pães uma etapa fundamental é o processo da fermentação, nesta fase é o momento

em que ocorre o ―crescimento‖ da massa, na qual, as leveduras (fermento) adicionadas no preparo

consomem os açucares presentes na massa transformando-os em álcool e gás carbônico. O processo

da fermentação quando realizado em condições ideais umidade, tempo, temperatura e quantidades

de ingredientes corretos, proporciona ao produto uma excelente qualidade. Além da fermentação

alcoólica, outros tipos de fermentações são realizados pelos microrganismos que geram compostos

responsáveis pelo odor e sabor característicos do pão (STAIL; OLIVEIRA; SCHULTZ, 2013;

RIBEIRO, 2006).

Para que o fenômeno da fermentação ocorra é necessário adicionar a levedura à massa determinada

quantidade de substrato, a fonte do substrato é proveniente do açúcar adicionado e da farinha

(açúcar fermentáveis). Dessa forma, em condições ideais as leveduras começam a se multiplicar

consumindo os açucares e por consequência produzem álcool, que é evaporado e gás carbônico, o

principal responsável pelo aumento da massa. Salientando que a umidade e a temperatura ideal

ajudam no crescimento das leveduras (STAIL; OLIVEIRA; SCHULTZ, 2013).

Partindo da importância do fenômeno da fermentação e dos princípios da modelagem matemática o

presente trabalho teve como objetivo estudar e identificar através dos recursos matemáticos qual o

comportamento do crescimento da massa (fermentação) de pães ausentes de glúten abordando dois

modelos matemáticos, Gompertz e Verhulst que relacionam crescimento populacional.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para o preparo da massa, foram feitas duas formulações (1 e 2) variando o tipo de espessante,

primeiramente realizou-se a gelatinização da farinha por aproximadamente 10 minutos adicionando

50 mL de água aos poucos até completar 150 mL e atingir a temperatura de 65 °C. Por 5 minutos

foi realizada uma pré-fermantação, misturando açúcar, fermento e 10 mL de água. Em seguida os

ingredientes secos (sal e espessante) foram misturados junto a farinha gelatinizada, com a ajuda de

uma batedeira por 5 minutos, em sequência adicionou ovo e azeite e misturou por 10 minutos (5

min em baixa potência e 5 minutos em alta potência). Por fim, foi adicionado o preparado

fermentado e água (10 mL) e bateu-se por mais 3 minutos em potência baixa. Parte da massa

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preparada (aproximadamente 20 cm3) foi retirada e adicionada a uma proveta de 50 cm

3, para a

realização do experimento (Figura 1 e 2). A bureta com a massa foi armazenada em estufa a

temperatura de 40 °C e teve seu crescimento controlado até o tempo de 32 minutos. Para o estudo

da modelagem utilizou de dois modelos adaptados que relacionam crescimento populacional

(volume x tempo).

Modelo de Verhults

(1)

Sendo: VT = Volume total da massa acumulado em um tempo; V0 = Volume inicial de massa; VF =

Volume máximo que a massa pode assumir; r = coeficiente de crescimento da massa, resultado dos

dados experimentais; t = tempo.

Modelo de Gompertz

(2)

Sendo: VT = Volume total da massa acumulado em um tempo; VF = Volume máximo da massa; V0 =

volume inicial da massa; A = taxa constante de crescimento da massa; t = tempo.

Figura 1: Acompanhamento do volume da massa para a formulação 1, em relação ao tempo.

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Figura 2: Acompanhamento do volume da massa para a formulação 2, em relação ao tempo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na elaboração da massa variou o tipo de espessante, segue a distribuição na Tabela 1. O

acompanhamento da fermentação da mistura 1 e 2 está disposta na Tabela 2 e Tabela 3

respectivamente. Para os ajustes dos dados experimentais na modelagem matemática foram

considerados como volume inicial 20 cm3 e como volume máximo suporte de 50 cm

3.

O comportamento da fermentação da formulação 1 mostrou-se mais acelerado comparado a

fermentação 2, logo nos primeiros dois minutos iniciais o já havia aumentado 1 cm3 e este

comportamento progressivo foi constante. Porém, nos 5 cinco minutos finais o crescimento

desacelerou. Por outro lado, a fermentação 2 nos últimos 5 minutos obteve um crescimento

significativo, resultando em um volume maior que a fermentação 1. Essa variação no crescimento

está ligada a diversos fatores como composição da massa, temperatura, umidade, substrato

disponível para o desenvolvimento dos microrganismos.

Tabela 1: Quantidade de goma xantana e psyllium presentes nas formulações dos pães ausentes de

glúten.

Formulação Goma Xantana

(g)

Psyllium

(g)

1 3,75 0

2 0 3,75

Tabela 2: Tempo de fermentação e os respectivos volumes observados na proveta da formulação 1.

Tempo

(min) 0 2 4 6 9 12 17 22 27 32

Volume

(cm3)

20 21 21 22 22 23 25 28 37 41

Tabela 3: Tempo de fermentação e os respectivos volumes observados na proveta da formulação 2

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Tempo

(min) 0 2 4 6 9 12 17 22 27 32

Volume

(cm3)

20 20 21 21 22 22 25 28 35 44

Com relação a modelagem, ambos os modelos utilizados foram adaptados para a fermentação e os

dados experimentais foram ajustados utilizando o software OriginPro, versão 8.5.1, o qual utiliza o

método de estimativa dos mínimos quadrados, cujo objetivo é minimizar a soma dos quadrados dos

desvios dos valores observados para a variável dependente, daqueles preditos pelo modelo

matemático. Para avaliar a eficiência do ajuste matemático aos dados experimentais foram

utilizados; coeficiente de determinação (R2) e a raiz do erro quadrático médio percentual (REQM)

Equação 3:

{∑

}

(03)

Sendo que: xcalc

representa os valores de volume, calculados utilizando os modelos xexp

representa

os valores experimentais de volume; N representa o número de observações.

Na comparação da modelagem mais adequada para a formulação 1, em ambos os modelos foi

obtido R2

muito próximos de 1, Verhults, R2

0,9138 e Gompertz; R2

0,9072, dados encontrados na

Tabela 4. As figuras 3 e 4, mostram graficamente o comportamento do crescimento dos pães na

formulação 1 para ambos os modelos. No caso da formulação 2 a modelagem que obteve um R2

próximo de 1 foi o modelo de Verhults com R2 0,9016 e Gompertz com R

2 0,8956 (Tabela 4). E as

figuras 5 e 6 trazem os gráficos da fermentação da formulação 2 [para ambas as modelagens.

Os dados estimados adequaram-se aos dados experimentais (R2 > 0,9) Tabela 4, para o modelo de

Verhults e, considerando que o cálculo do tempo e da taxa de crescimento são aspectos importantes

na modelagem dos processos de fermentação, é possível concluir que os dois modelos são

adequados para ajuste dos dados experimentais de fermentação de pães sem glúten.

Segundo Mingoti (2005) a Raiz Quadrada do Erro Quadrático Médio (REQM), que avalia a

adequabilidade do modelo, esse dado mostra um índice de discrepância entre a matriz de

covariância amostral e a matriz de covariância obtida através do modelo fatorial, apresentando uma

amplitude compreendida entre 0 e 1, sendo que mais próximo de zero melhor o ajuste do modelo.

Os resultados expressos na Tabela 2 que fazem referência ao REQM estão em percentagem. Dessa

forma, todos os modelos tiveram valores muito próximos de zero. Porém, o melhor modelo, o que

chegou mais próximo ainda de zero foi para a Formulação 1, o de Verhults obtendo também o

melhor R2.

Tabela 4: Coeficiente de determinação (R2), raiz do erro quadrático médio percentual (REQM) e

coeficientes do modelo de Velhunst e Gompertz aplicados para o ajuste dos dados experimentais da

fermentação de pães ausentes de glúten.

Formulação Modelo R2 REQM (%) *r **A

1 Verhults 0,9138 4,5784 0,02392 -

Gompertz 0,9072 4,92893 - 0,00274

2 Verhults 0,9016 6,1645 0,02619 -

Gompertz 0,8956 6,66428 - 0,00267 *r=coeficiente de crescimento da referida população modelo de Verhults;

**A=taxa constante de crescimento da massa modelo de Gompertz.

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Figura 3: Dados experimentais do volume da fermentação, pelo tempo, da formulação 1, ajustados

pelo modelo de crescimento por Verhults.

Figura 4: Dados experimentais do volume da fermentação, pelo tempo, da formulação 1, ajustados

pelo modelo de crescimento por Gompertz.

Figura 5: Dados experimentais do volume da fermentação, pelo tempo, da formulação 2, ajustados

pelo modelo de crescimento por Verhults.

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Figura 6: Dados experimentais do volume da fermentação, pelo tempo, da formulação 2, ajustados

pelo modelo de crescimento por Gompertz.

4. CONCLUSÕES

No experimento da fermentação a formulação que obteve maior volume no tempo de 32 minutos foi

a que apresentou em sua composição psyllium e para a modelagem matemática, o melhor modelo

em ambos os casos para ajuste dos dados experimentais foi o de Verhults.

A elaboração do trabalho pode deixar evidente como diversos fatores podem influenciar na

fermentação do pão, deixando claro que esta é uma etapa muito importante no processo de

fabricação. Todos as interferências que existem no processo de crescimento da massa foram

analisadas através do experimento que foi plotado em um gráfico de função exponencial, derivado

de uma função construída em dados coletados experimentalmente.

Em conclusão, a utilização da modelagem matemática é de grande importância para interpretações e

simulações de processos experimentais abrangendo não só o mundo matemático como qualquer

área do conhecimento.

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MUCILAGEM DE TARO COMO SUBSTITUTO DA GORDURA EM

IOGURTE

Andressa Padilha1; Márcia Alves Chaves

2;Eliana Maria Baldissera

3

RESUMO

Nos últimos anos tem-se observado uma crescente demanda por formulações alimentícias

diferenciadas impulsionadas por consumidores cada vez mais preocupados com um estilo de vida

saudável. Um dos parâmetros mais abordados no desenvolvimento desses novos produtos é a

redução calórica, diminuindo-se preferencialmente os níveis de lipídios e carboidratos nos

alimentos industrializados. Contudo, a gordura possui um papel fundamental nas características

tecnológicas e sensoriais. A mucilagem de taro (Colocasia esculenta (L.) Schott) possui

propriedades espessante, estabilizante e emulsificante, sendo estas características fundamentais para

a elaboração de iogurte. O objetivo deste trabalho foi utilizar a mucilagem de taro na elaboração de

iogurte e avaliar o processo de fermentação, a composição centesimal e valor energético das

formulações desenvolvidas. Após a fermentação os valores de pH ficaram abaixo do ponto

isoelétrico das caseínas (4,6) e acidez titulável em torno de 1,0 g de ácido láctico 100 g-1

de iogurte

(8 h), caracterizando a formação da rede do gel protéico. A adição da mucilagem promoveu redução

nos níveis de lipídios e energia total e aumento nos parâmetros de cinzas, umidade e carboidratos

totais.

Palavras-chave:Leite Fermentado. Goma. Lipídios totais.

_______________________ 1Andressa Padilha –Tecnólogo em Alimentos –Universidade Tecnológica Federal do Paraaná,

[email protected]. 2Márcia Alves Chaves – Responsável Técnica dos Laboratórios da Faculdade Educacional de Medianeira,

[email protected]. 3Eliana Maria Baldissera – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O taro (Colocasia esculenta (L.) Schott) é uma planta originária de regiões da Ásia (Índia,

Bangladesh e Myanmar), pertencente à família Araceae e que caracteriza-se por folhas grandes, de

cor verde escura e altura variando entre 30 a 180 cm de acordo com sua cultivar (BRASIL, 2010).

Estima-se que no Brasil, a introdução de plantas da família Araceae foi promovida pelos

portugueses e, desde então, houve expressivo crescimento do seu cultivo, totalizando

aproximadamente 35 gêneros e 400 espécies nativas, das quais as mais usadas na alimentação são o

taro e a taioba com lavouras concentradas principalmente no sul da Bahia e sudeste brasileiro

(SOUZA; LORENZI, 2005; REIS et al., 2010).

A parte de maior utilização comercial do taro é o tubérculo, do qual pode ser extraída a mucilagem

que segundo Almeida (2012), apresenta propriedades funcionais e nutricionais de grande

importância devido à fração de amido existente. Contudo, observando as pesquisas com a

mucilagem de taro, nota-se que sua aplicação encontra-se restrita a produtos de panificação,

necessitando maior investigação das suas potencialidades em formulações lácteas, a exemplo do

iogurte.

O iogurte é um leite fermentado, definido pela legislação brasileiravigente comoo produto obtido

por coagulação e diminuição do pH do leite, por fermentação láctica mediante ação de cultivos

protosimbióticos de Streptococcus salivariussubsp. Thermophilus e Lactobacillus delbrueckii

subsp. Bulgaricus. A mesma legislação ainda classifica esse produto de acordo com o teor de

gordura em: iogurtes com creme (mín. de 6,0 g100 g-1

); iogurtes integrais (mín. 3,0 g100 g-1

);

iogurtes parcialmente desnatados (mín. 2,9 g100 g-1

) e iogurtes desnatados (mín. 0,5 g100 g-1

)

(BRASIL, 2007).

O iogurte desnatado representa importante parcela do mercado, especialmente por ser consumido

por indivíduos que apresentam dislipidemias, diabetes e cardiopatias, ou por consumidores que

buscam um estilo de vida saudável. Contudo, Sivieri e Oliveira (2002) ressaltam que a

aceitabilidade deste iogurte depende principalmente das propriedades de corpo e textura. Entre os

ingredientes que mais contribuem para essas características está a base gordurosa, a qual pode ser

substituída por ingredientes que mimetizem sua ação em iogurtes, contribuindo para a redução

novalor energético e apresentando boas propriedades sensoriais e tecnológicas.

Neste sentido, o objetivo do presente trabalho foi utilizar a mucilagem de taro na elaboração de

iogurte e avaliar o processo de fermentação, a composição centesimal e valor energético das

formulações desenvolvidas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O leite desnatado fluido (0,5 g100-1

g de gordura), o leite em pó integral (27 g100 g-1

de gordura), o

creme de leite (45 g100 g-1

de gordura), a sacarose cristalina e o tubérculo de taro (para obtenção da

mucilagem) foram adquiridos no comércio local de Medianeira, enquanto a cultura fermentativa de

iogurte (L. bulgaricuse S. thermophillus) foi doada por uma empresa da região oeste do Paraná.

Para a obtenção da mucilagem, foram selecionados tubérculos sadios, os quais foram lavados e

sanitizados com hipoclorito de sódio (20 ppm) por 10 minutos para remoção das sujidades e

redução da carga microbiana. Na seqüência, com auxílio de uma faca, realizou-se a retirada das

cascas, sendo os tubérculos novamente higienizados e, então, fracionados em pedaços de

aproximadamente 1 cm de espessura e submetidos ao branqueamento em água (100 ºC/60 s) a fim

de evitar o escurecimento enzimático. Em seguida, os pedaços do tubérculo foram triturados no

liquidificador (modelo MG-W00, marca Oster) em velocidade máxima por 5 minutos e a mistura

obtida foi filtrada em malha de poliéster (40 cm x 40 cm), conforme a metodologia de Contado et

al. (2009). A mucilagem extraída foi acondicionada em embalagens de polietileno e armazenada

sob refrigeração (6 ºC± 1 ºC) até o momento de sua utilização.

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Para o desenvolvimento do iogurte, realizaram-se pré-testes com intuito de investigar a proporção

de mucilagem a ser utilizada nas formulações, sendo então proposta a substituição de 25, 50 e 75 %

da gordura com base em uma formulação padrão (6 g100 g-1

de gordura). O cálculo dos

ingredientes foi realizado individualmente para cada formulação, considerando o percentual de

lipídios totais preconizado pelos fabricantes (leite fluído, leite em pó e creme de leite), conforme

demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1:Percentuais dos ingredientes utilizados nas formulações de iogurte

Ingredientes* FP (%) F1 (%) F2 (%) F3 (%)

Sacarose cristalina 10 10 10 10

Leite em pó integral (28 g100 g-1

de gordura) 4 4 4 4

Creme de leite (45 g100 g-1

de gordura) 10,97 7,64 4,31 0,98

Mucilagem de taro 0 25 50 75

Cultura starter 0,9 0,9 0,9 0,9 * Os ingredientes foram calculados para 2 L de leite fluido desnatado com 0,5 g100 g

-1 de gordura FP: Formulação

padrão (sem adição de mucilagem e 6 g100 g-1

de gordura); F1: Formulação com 25 % de substituição da gordura por

mucilagem; F2: Formulação com 50 % de substituto da gordura por mucilagem; F3: Formulação com 75 % de

substituto da gordura por mucilagem.

Primeiramente, as matérias-primas foram separadas e pesadas em balança analítica (modelo

BCW15, marca Welmy), sendo realizada uma mistura prévia dos ingredientes secos (leite em pó e

sacarose cristalina), os quais foram adicionados ao leite fluido aquecido a 40 ºC. Quando a

temperatura alcançou 60 ºC acrescentou-se o creme de leite e, nas formulações com substituição

parcial da gordura, a mucilagem de taro. A mistura foi homogeneizada e submetida ao tratamento

térmico (90 °C/5 min), sendo posteriormente resfriada a 45 ºC para inoculação do fermento láctico

de S. thermophiluse L. bulgaricus, seguidos de incubação a 42 °C ± 1 °C em câmara com

temperatura controlada (modelo 101M/3 marca Eletrolab). O processo de fermentação foi

acompanhado até atingir uma acidez média de 1,0 g de ácido láctico em 100 g de produto (8 h).

Então as formulações foram resfriadas por 12 h em câmara de refrigeração (6 ºC ± 1 ºC) para

posterior quebra do coágulo. As formulações foram acondicionadas em embalagens de polietileno

de alta densidade a fim de simular o armazenamento comercial refrigerado (10 ºC ± 1 ºC).

Para o acompanhamento do processo fermentativo das formulações de iogurte, foram determinadas

as análises de: acidez titulável, por meio da titulação com solução de NaOH 0,1N, na presença do

indicador fenolftaleína, segundo metodologia descrita na Instrução Normativa nº 68 de 2006

(BRASIL, 2006) e pH realizado com auxílio de um potenciômetro digital (modelo pH21pH/Mv

meter, marca HANNA), previamente calibrado com soluções tampões fosfato comerciais pH 4,0 e

7,0 (ARYANA, 2003).

Também procederam as análises de composição centesimal, onde a umidade foi realizada pelo

método gravimétrico de perda de massa por dessecação em estufa a 105 ºC(AOAC, 2005); cinzas

através do método de incineração em mufla a 550 ºC com carbonização (AOAC, 2005); proteína

bruta realizada por determinação de nitrogênio total pelo método de micro Kjeldahl, utilizando o

fator de conversão de 6,38 (AOAC, 2005). Para os lipídios totais utilizou-se o método de Gerber,

com o auxílio do butirômetro, segundo a metodologia descrita na Instrução Normativa nº 68 de

2006 (BRASIL, 2006). Os carboidratos totais foram determinados por diferença de acordo com a

Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003, com base na Equação 1 adaptado (BRASIL,

2003). Para o cálculo do valor energético, uma massa aproximada de 0,5 g de iogurte em base seca

foi conduzida à bomba calorimétrica (modelo C-200, marca Ika Works). Os valores foram

expressos em Kcal100 g-1

, equivalente a uma porção de iogurte.

Os resultados das formulações de iogurte foram submetidos à análise de variância e quando

detectada diferença significativa ao nível de 5 % de probabilidade, aplicado o Teste de Tukey

utilizando o programa Statistic versão 7.0. Todas as análises foram realizadas em triplicata sendo o

resultado final expresso como a média ± erro padrão dessas repetições.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O processo de fermentação das formulações de iogurte está representado na Figura 1 com os

resultados das curvas de acidez e pH.

Figura 1: Valores de acidez e pH durante o processo de fermentação das formulações de iogurte

Notou-se que o tempo transcorrido para o processo de fermentação foi de 8 h, quando as

formulações atingiram a acidez estipulada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA) do país que indica um valor entre 0,6 e 1,5 g de ácido lático100 g-1

como aceitável para o

iogurte ser comercializado (BRASIL, 2007). Neste sentido, buscou-se alcançar um parâmetro

intermediário de acidez para realizar as análises de caracterização do iogurte elaborado, tendo como

resultados aceitáveis valores próximos a 1,0 g de ácido láctico100 g-1

. Ao atingir essas condições,

os valores finais de pH em todas as formulações, situaram-se abaixo do ponto isoelétrico da caseína

(4,6), caracterizando a formação do gel do iogurte, que segundo Ordónez (2005), consiste em uma

rede tridimensional de cadeias proteicas, nas quais estão aprisionadas as moléculas de água.

De acordo com Tamime e Robinson (1991), a conversão gradual da lactose em ácido láctico e

consequente redução do pH desestabiliza os complexos de caseína e proteínas do soro desnaturadas,

por solubilização do fosfato de cálcio e dos citratos. Os agregados de micelas de caseína vão se

associando e coalescem parcialmente à medida que se aproxima o valor de pH do ponto isoelétrico

(4,6).

Analisando outros trabalhos da literatura verificaram-se diferenças de tempo e quantidade de ácido

láctico formado no processo fermentativo de iogurtes, uma vez que a legislação vigente não indica a

quantidade de cultivo starter a ser utilizado para que se alcance a faixa de acidez recomendada.

Almeida (2012) encontrou valores finais de pH de 4,9 e 4,40 em 5,3 e 6 h respectivamente, o que

também pode ser reflexo dos ingredientes utilizados, em especial da quantidade de lactose

disponível em função da adição de leite em pó. Algumas indústrias lácteas estabelecem o fim do

processo fermentativo tão logo se evidencie o aspecto de gel lácteo, produzindo iogurtes mais

suaves com pH levemente abaixo de 4,9. No entanto, quando a fermentação prossegue até pH 4,6

ocorre um aumento na estabilidade do gel formado (ANTUNES, 2004). Do mesmo modo, Brandão

(1995), relata que valores de pH acima de 4,6, favorecem a separação do soro porque o gel ainda

não foi suficientemente formado. Avaliando o processo de acidificação, observou-se que na

primeira hora de fermentação, as formulações FP (0,64 g de ácido láctico100 g-1

) e F1 (0,65 g de

ácido láctico100 g-1

) alcançaram os valores mínimos estipulados pela legislação vigente para

acidez, seguido de F2 (0,73 g de ácido láctico100 g-1

) e de F3 (0,70 g de ácido láctico100 g-1

) na

segunda e terceira horas seguintes, respectivamente. Esses resultados indicam que o fermento lácteo

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utilizado no preparo do iogurte apresentou células viáveis em ótimas condições de cinética de

crescimento microbiano condicionando a conversão gradativa e crescente da lactose em ácido

láctico. Contudo, observou-se que o aumento no teor de mucilagem de taro resultou em maior

tempo de fermentação, o que pode estar relacionado ao aumento da concentração de substâncias não

lácteas e redução nos teores de lactose oriundas do creme de leite (4 g100 g-1

), o qual foi substituído

em maiores proporções (50 e 75 %) nas formulações F2 e F3, respectivamente.

Com relação à composição centesimal (Tabela 2), a legislação vigente estipula os requisitos

limitantes apenas para o teor de proteína bruta e lipídios totais. Neste contexto, verificou-se que

para proteínas, todas as formulações obedeceram ao mínimo exigido (2,90 g100 g-1

) não

apresentando diferenças significativas entre si (p > 0,05) e demonstrando que o teor protéico não foi

alterado em função da adição da mucilagem de taro. Quando comparado os resultados do presente

trabalho com os encontrados por Medeiros et al. (2011) em amostras de iogurtes comerciais,

observou-se que mesmo nas formulações adicionadas de mucilagem de taro, as proporções

encontradas mantiveram-se superiores aos iogurtes comercializados, que apresentaram valores entre

1,58 e 2,18 g100 g-1

de proteína, abaixo do limite mínimo proposto pela legislação.

Tabela 2:Composição centesimal e valor energético das formulações de iogurte

Análises (g100 g-1

) FP F1 F2 F3

Umidade 76,72 ± 0,15bc

77,20 ± 0,48b 78,04 ± 0,13

ab 78,36 ± 0,09

a

Cinzas 0,83 ± 0,02b 0,89 ± 0,04

b 0,89 ± 0,02

b 0,98 ± 0,03

a

Proteína bruta 3,51 ± 0,19a 3,47 ± 0,17

a 3,40 ± 0,13

a 3,57 ± 0,09

a

Lipídios totais 6,63 ± 0,40a 5,17 ± 0,21

b 3,47 ± 0,29

c 2,17 ± 0,05

d

Carboidratos totais 12,32 ± 0,26c 13,28 ± 0,54

bc 14,20 ± 0,21

ab 14,92 ± 0,15

a

Valor energético (Kcal/100 g) 116,00 ± 2,72a 106,46 ± 0,09

b 96,70 ± 2,29

c 87,33 ± 1,32

d

Médias com diferentes letras sobrescritas na mesma linha, para cada parâmetro, indicam diferença estatística

significativa ao nível de 5% de significância (p< 0,05) de acordo com o teste de Tukey.

Quanto ao teor de umidade, F3 apresentou maior média dentre as formulações, diferindo

significativamente (p < 0,05) a FP e F1, as quais possuem em sua composição maior quantidade de

lipídios. Tais resultados podem ser explicados devido ao elevado percentual de substituição da

gordura pela mucilagem de taro (75 %) uma vez que este tubérculo, segundo Franco (1998), possui

elevada quantidade de água em sua composição (73,10 g100 g-1

) e, conseqüentemente, na porção de

33 mucilagem utilizada nas formulações de iogurte. O conteúdo de cinzas também resultou

significativamente maior em F3 (com maior proporção de mucilagem de taro), sendo esse

parâmetro 1,18 vezes maior que na formulação padrão, podendo ser atribuído ao fato de que nesta

mucilagem, existem quantidades expressivas de cinzas (0,35 g100 g-1

), conforme relatado por

Almeida (2012). Quanto ao teor de gordura, o resultado já esperado, indicou diferença significativa

(p < 0,05) entre as formulações, sendo menor a proporção de lipídios conforme o aumento na

concentração de mucilagem de taro. Observando a classificação estabelecida pela Instrução

Normativa nº 46 de outubro de 2007, as formulações de iogurte desenvolvidas no presente trabalho

enquadram-se em 3 categorias distintas, sendo elas: com creme (mínimo de 6,0 g/100 g) para FP,

integral (3,0 a 5,9 g100 g-1

) para F1 e F2 e semidesnatado (0,6 a 2,9 g100 g-1

) para F3. Esses

resultados indicam conteúdo de gordura 3 vezes menor na formulação com 75 % de mucilagem de

taro quando comparada a padrão. Os níveis de substituição da gordura no iogurte também

repercutiram nos resultados de energia total, sendo que todas as formulações apresentaram

diferenças entre si (p < 0,05), com decréscimo das calorias conforme o aumento nos teores de

mucilagem de taro. Em F3 ocorreu a maior redução energética (28,67 Kcal/100 g) quando

comparado à formulação padrão. Outro parâmetro influenciado pela substituição dos níveis de

gordura foram os carboidratos totais. Os distintos resultados dentre as formulações, provavelmente

tenha ocorrido devido às variações no teor de mucilagem adicionada em função da base lipídica.

Verificou-se correlação negativa (-0,97) entre o teor de carboidrato e de lipídios totais, uma vez que

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os níveis de sacarose adicionada ao produto mantiveramse iguais em todas as formulações. Segundo

Njintanget al. (2011) a mucilagem de taro possui de 46 a 69 g100 g-1

de carboidratos, especialmente

galactose, arabinose e manose, o que possivelmente possa ter contribuído para o aumento deste

parâmetro, especialmente em F2 e F3.

4. CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos ao longo do trabalho, conclui-se que o processo de

fermentação do iogurte foi alcançado em 8 h, sendo que o gel formado apresentou níveis de acidez

dentro dos estabelecidos pela legislação. Na análise de composição centesimal os valores de

proteína mantiveram-se iguais estatisticamente para todas as formulações. Contudo, os parâmetros

de umidade, cinzas e carboidratos totais aumentaram, enquanto o teor de lipídios e energia total

diminuíram conforme a maior proporção de mucilagem de taro adicionada ao iogurte. Estes

resultados são importantes do ponto de vista tecnológico e nutricional, pois, a elaboração de novos

produtos com ingredientes que simulem a ação da gordura podem ser bem aceitos por consumidores

que almejam por alimentos com menores proporções calóricas.

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TAMIME, A. Y.; ROBINSON, R. K. Yogur Ciencia y Tecnologia.Zaragoza: Acribia, 1991. 368p.

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167

PERFIL DE ACEITAÇÃO SENSORIAL DE PÉS DE FRANGO

LIOFILIZADOS

Dyonatha Luis König1; Rosana Aparecida da Silva-Buzanello

2; Daneysa Lahis Kalschne

3; Marinês

Paula Corso4; Cristiane Canan

5; Ilton José Baraldi

6

RESUMO

Os pés de frango compreendem aos cortes avícolas brasileiros que são amplamente exportados à

países asiáticos, necessitando-se da cadeia do frio para seu transporte e comercialização.

Alternativas para o aumento da estabilidade de produtos cárneos que possibilitem sua

comercialização sob temperatura ambiente têm despertado o interesse de indústrias processadoras.

A liofilização apresenta-se como excelente alternativa de secagem, minimizando possíveis

alterações nas propriedades físico-químicas dos alimentos. Assim, o objetivo deste estudo foi obter

pés de frango desidratados por liofilização e avaliar sua aceitação por meio do teste de escala

hedônica e índice de aceitabilidade. Amostras de pés de frango in natura foram cozidas à 100 °C

por 20 min, em seguida congeladas e após, submetidas a secagem por liofilização (40 °C, 0,5 mBar,

24 h). Amostras controle (não liofilizadas) também foram armazenadas para comparação. Os

atributos de cor, aparência, textura, sabor, impressão global e intenção de compra foram avaliados

pela escala hedônica híbrida de 10 cm. Não houve diferença de aceitação entre as amostras de pés

de frango controle e liofilizadas (p > 0,05) para todos os atributos avaliados. O mesmo foi

observado para o índice de aceitabilidade, inferior a 70%, o que sugere baixa aceitação pelos

consumidores. Contudo, menos de 1/3 dos consumidores rejeitaram as amostras, de acordo com os

_______________________ 1 Dyonatha Luis König – Acadêmico do Curso de Tecnologia em Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Rosana Aparecida da Silva-Buzanello – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-

Graduação em Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 3 Daneysa Lahis Kalschne – Acadêmica do Doutorado em Ciência de Alimentos do Programa de Pós-Graduação em

Ciência de Alimentos – Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 4 Marinês Paula Corso – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Cristiane Canan – Professora do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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6 Ilton José Baraldi – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

percentuais de aprovação, indiferença e rejeição determinados para todos os atributos. O processo

de secagem dos pés de frango por liofilização demonstrou ser uma técnica eficiente para

conservação deste tipo de produto, não influenciando na sua aceitação sensorial.

Palavras-chave: Produto Cárneo; Secagem; Escala Hedônica; Índice de Aceitabilidade.

1. INTRODUÇÃO

A produção e comercialização de carne de frango têm se tornado expressiva em todo o mundo,

resultando em um positivo impacto econômico ao país. Em 2016, o Brasil ocupou a segunda

posição no ranking mundial de produção de carne de frango (12,90 milhões de toneladas), atrás dos

Estados Unidos (18,26 milhões toneladas), além de ser o maior exportador mundial (4,38 milhões

de toneladas). Dentre os produtos cárneos avícolas, os cortes representaram 59% das exportações de

carne de frango (ABPA, 2017). Os pés congelados são um dos cortes amplamente exportados,

principalmente para a China e Hong Kong (REVISTA AVE, 2016). Desta forma, a cadeia do frio

torna-se indispensável para sua comercialização.

Alternativas para melhorar a estabilidade de produtos cárneos e possibilitar a sua comercialização

sem a necessidade de refrigeração têm sido buscadas por abatedouros brasileiros. Dentre estas pode-

se destacar a secagem por liofilização, que ainda é pouco utilizada na indústria cárnea brasileira.

Este processo consiste na secagem do material por meio da sublimação da água congelada, à baixas

temperaturas e sob vácuo, resultando em um produto livre de umidade e com estrutura porosa,

podendo ser reconstituído pela adição de água (IBARZ; BARBOSA-CANOVAS, 1999; FARKAS;

SINGH, 1991).

Contudo, para avaliar a influência da técnica de secagem na aceitação do produto final pelos

consumidores, a análise sensorial apresenta-se como ferramenta essencial. Com um mercado

consumidor cada vez mais exigente, a qualidade sensorial de um alimento e a manutenção deste

propiciam a fidelidade do consumidor (TEIXEIRA, 2009). Testes sensoriais afetivos quantitativos

utilizando a escala hedônica, o qual que avalia o grau de gostar ou desgostar de determinado

atributo, possibilitam a obtenção de dados de aceitabilidade do produto avaliado, além de observar

as direções de preferência deste produto a partir de seus atributos avaliados (DUTCOSKY, 2013;

LAWLESS; HEYMANN, 2010).

Assim, o objetivo deste estudo foi obter pés de frango desidratados por liofilização e avaliar sua

aceitação por meio do teste de escala hedônica e índice de aceitabilidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Obtenção da matéria-prima e secagem por liofilização

Os pés de frangos utilizados neste estudo foram coletados em um abatedouro comercial. As

amostras, in natura resfriadas, foram provenientes de aves da linhagem Cobb com idade média

entre 43 e 46 dias, abatidas seguindo as práticas convencionais. Os cortes foram pré-cozidos à 100

°C por 20 min e após resfriados e congelados à -25 °C para posterior secagem por liofilização. O

processo de secagem foi conduzido em um liofilizador (Labconco, FreeZone 6L, Kansas, EUA),

sob temperatura de aquecimento de 40 °C e pressão de 0,5 mBar por 24 h. Amostras de pés de

frango controle cozidas e não submetidas à secagem por liofilização também foram armazenadas

congeladas a fim de comparar com as liofilizadas.

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2.2 Análise sensorial

A realização dos testes sensoriais foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos (CAAE 50241515.6.0000.0092). Um questionário sócio-demográfico foi aplicado aos 60

consumidores participantes, os quais foram informados sobre a análise sensorial.

Cabines individuais, iluminadas com luz branca, e localizadas nas dependências do Laboratório de

Análise Sensorial da UTFPR- Câmpus Medianeira foram utilizadas para a aplicação dos testes

sensoriais. As amostras de pés de frango liofilizados e controle foram cozidas em caldo (8 L de

água, 200 g de sal comum, 4 cebolas grandes e um maço de cebolinha verde e salsa). Porções de

aproximadamente 3 cm de amostra foram cortadas e servidas quentes (~ 50 °C) em copos

descartáveis de cor branca (50 mL), devidamente codificados com 3 dígitos aleatórios e

randomizados. Cada consumidor recebeu as amostras monadicamente (pés de frango controle e

liofilizados) seguindo-se um delineamento experimental em blocos balanceados e casualizados.

Entre as avaliações das amostras os consumidores foram orientados a limpar o palato com água. A

escala hedônica híbrida de 10 cm ancorada com os termos (0 = desgostei extremamente, 5 = nem

gostei/nem desgostei, 10 = gostei extremamente) (VILLANUEVA; PETENATE; SILVA, 2005) foi

utilizada para avaliar a aceitação dos atributos cor, aparência, textura, sabor, impressão global e

intenção de compra.

2.3 Análise estatística

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), considerando consumidores e

amostras como causa de variação e teste t de Student (p ≤ 0.05) utilizando o programa Statistica 8.0

(STATSOFT, 2007).

Para o cálculo de Índice de Aceitabilidade (IA) do produto, foi utilizada a Equação 1. Em que, A =

nota média obtida para o produto e B = nota máxima dada ao produto. O IA com boa repercussão

tem sido considerado ≥ 70% (DUTCOSKY, 1996).

(1)

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização da equipe

A equipe que participou da análise sensorial foi composta por consumidores jovens de gênero

heterogêneo (31 mulheres e 29 homens), a maioria (73,3%) com faixa etária entre os 18 e 25 anos e

90% dos mesmos eram estudantes (cursando a graduação). Quanto ao hábito de consumo de pés de

frango, 55% dos consumidores nunca haviam consumido o produto, 35% consomem

ocasionalmente e outros 5% consomem 3 vezes por semana. Além disso, dentre os 40% dos

consumidores que consomem pés de frango, a forma de preparo mais citada foi em sopas ou caldos.

3.2 Aceitação sensorial

As amostras de pés de frango controle e liofilizadas não apresentaram diferença (p > 0,05) na

aceitação pelo teste de escala hedônica em relação aos atributos de cor, aparência, textura, sabor,

impressão global e intenção de compra (Tabela 1). Estes resultados sugerem que o processo de

liofilização dos pés de frango não provocou alterações significativas nas características sensoriais

do produto avaliado.

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170

Tabela 1: Aceitação sensorial dos pés de frango controle e liofilizados.

Pés de

frango Cor Aroma Textura Sabor

Aceitação

global

Intenção de

compra

Controle 6,05a ± 2,18 6,28

a ± 2,39 6,17

a ± 2,41 6,44

a ± 2,16 6,41

a ± 1,96 6,01

a ± 2,12

Liofilizados 5,98a ± 2,05 5,92

a ± 2,09 5,56

a ± 2,03 5,99

a ± 2,00 6,04

a ± 1,95 5,71

a ± 2,11

Média ± desvio padrão (n = 135); escala hedônica: 0 = desgostei extremamente, 5 =não gestei/nem desgostei, 10 =

gostei extremamente; letras sobrescritas diferentes nas colunas indicam diferença significativa (p ≤ 0.05).

O índice de aceitabilidade (Tabela 2), calculado em relação aos atributos analisados pelos

consumidores em ambas as amostras, mostrou baixa aceitação para os pés de frango liofilizados e

controle, considerando que para ambas as amostras nos cinco atributos avaliados houve um índice

de aceitabilidade abaixo de 70%, considerado como mínimo para um produto ser sensorialmente

aceitável (DUTCOSKY, 1996). Este baixo índice pode ser justificado pela falta de hábito de

consumo de pés de frango. Contudo, não houve diferença (p > 0.05) em comparação com os pés de

frango controle e os liofilizados.

Tabela 2: Índice de aceitabilidade das amostras de pés de frango controle e liofilizados.

Pés de frango Cor Aroma Textura Sabor Aceitação global

Controle 60,5% 62,8% 67,7% 64,4% 64,1%

Liofilizados 59,8% 59,1% 58,5% 63,0% 63,5%

Na literatura não foram reportados estudos sobre o processo de liofilização de pés de frango, bem

como, a avaliação sensorial deste tipo de produto. Babic, Cantalejo e Arroqui (2009) avaliaram a

aceitação sensorial de carne de peito de frango submetida à diferentes parâmetros de secagem por

liofilização (tempo, temperatura, pressão) e variando a espessura da amostra (fina = 0,7 cm, grossa

= 1,3 cm), utilizando uma equipe de julgadores treinados. Diferente do observado no presente

estudo, o processo de secagem por liofilização afetou a aceitação de carne de peito de frango

liofilizada reidrata cozida em comparação à carne fresca cozida, sendo inaceitável para consumo,

principalmente àquelas com espessura de 1,3 cm, independente do tratamento aplicado. O peito

apresenta composição diferente dos pés de frango, os quais são constituídos basicamente de

proteínas e com quantidade considerável de colágeno e lipídeos (SANTOS, 2010), variando

portanto a forma de ligação da água, o que pode interferir de maneira significativa na etapa

posterior de reidratação e, consequentemente, a aceitação sensorial.

Apesar da falta de hábito de consumo de pés de frango pelos julgadores, menos de 1/3 rejeitaram a

amostra, de acordo os percentuais de aprovação, indiferença e rejeição calculados para todos os

atributos avaliados sensorialmente (Tabela 3).

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Tabela 3: Percentuais de aprovação, indiferença e rejeição das amostras de pé de frango controle e

liofilizados.

Aprovação (%) Indiferença (%) Rejeição (%)

Cor

Controle 60,0 18,3 21,7

Liofilizado 63,3 18,3 18,3

Aroma

Controle 68,3 6,7 25,0

Liofilizado 60,0 16,7 23,3

Sabor

Controle 66,7 11,7 21,7

Liofilizado 58,3 20,0 21,7

Textura

Controle 63,3 10,0 26,7

Liofilizado 51,7 15,0 33,3

Aceitação Global

Controle 68,3 16,7 15,0

Liofilizado 61,7 18,3 20,0

Intenção de Compra

Controle 61,7 5,0 33,3

Liofilizado 58,3 13,3 28,3 % de aprovação = porcentagem de notas entre 5,1 e 10; % de indiferença = porcentagem de notas igual a 5,0; % de

rejeição = porcentagem de notas de 0 a 4,9.

4 CONCLUSÃO

O processo de secagem dos pés de frango por liofilização demonstrou ser uma técnica eficiente para

conservação deste tipo de produto, não afetando as características sensoriais, o que foi comprovado

pelo teste de aceitação de escala hedônica, não havendo diferença (p > 0,05) entre os pés de frango

liofilizados e controle (sem liofilização) para nenhum dos atributos avaliados (cor, aparência,

textura, sabor, impressão global e intenção de compra).

5 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES, CNPq e Fundação Araucária pelo suporte financeiro e concessão

de bolsas de estudo.

REFERÊNCIAS

ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório Anual. 2017. Disponível em:

<http://abpa-

br.com.br/storage/files/3678c_final_abpa_relatorio_anual_2016_portugues_web_reduzido.pdf>

Acesso em: 11 set 2017.

BABIC, J.; CANTALEJO, M.J.; ARROQUI, C. The effects of freeze-drying process parameters on

Broiler chicken breast meat. LWT - Food Science and Technology, 42, 1325–1334, 2009.

DUTCOSKY, S.D. Análise sensorial de alimentos. 4 ed. Champagnat: Curitiba, 2013, 531 p.

DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. Champagnat: Curitiba, 1996. 123p.

IBARZ, A.; BARBOSA-CANOVAS, G. V. Deshidratación y operaciones unitarias en la

ingeniería de alimentos, Lancaster, Basel, 1999. 868 p.

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172

FARKAS, B.E.; SINGH, R.P. Physical properties of air-dried and freeze-dried chicken white meat.

Journal of Food Science, 56, 3, 611-615, 1991.

LAWLESS, H.T.; HEYMANN, H. Sensory Evaluation of Food Principles and Practices.

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REVISTA AVE. A força do frango brasileiro. Revista Ave, ano 14, n. 86, 1-84, junho-julho 2016.

Disponível em: <https://app.magtab.com/leitor/808/edicao/17726> Acesso em: 11 set 2017.

SANTOS, F.F. Qualidade bacteriológica de pés de frangos de corte em diferentes etapas do

processamento tecnológico. 2010. 70 f. Dissertação (Mestre em Medicina Veterinária) – Faculdade

de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. Disponível em:

<http://docplayer.com.br/2636350-Felipe-faccini-dos-santos-qualidade-bacteriologica-de-pes-de-

frangos-de-corte-em-diferentes-etapas-do-processamento-tecnologico.html> Acesso em: 12 set

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STATSOFT. STATISTICA for Windows: comp.uter program manual. Versão 8.0. Tulsa:

Software Inc., 2007.

TEIXEIRA, L.V. Análise sensorial na indústria de alimentos. Revista Do Instituto de Laticínios

Cândido Tostes, 64, 366, 12–21, 2009.

VILLANUEVA, N.D.M.; PETENATE, A.J.; SILVA, M.A.A.P. Performance of the hybrid hedonic

scale as compared to the traditional hedonic, self-adjusting and ranking scales. Food Quality and

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PROJETO DE CÂMARA FRIGORÍFICA PARA ARMAZENAGEM DE

LARANJA LOCALIZADO NA CIDADE DE SÃO LUIS - MA

Isabela Fernanda Bonin1; Lucas Hilgert Santos

2; Micheli Ferreira

3; Rafaela Dal Pra Brand

4;

Silmar Antonio Lunkes5; Elciane Regina Zanatta

6

RESUMO

O Brasil é um grande produtor de alimentos, como de frutas e legumes, e muitos desses alimentos

são produzidos somente em determinadas épocas do ano, devido, principalmente, a fatores

climáticos. Para que se possa haver o fornecimento de alimentos durante todo o ano, não somente

nos períodos de safra, a armazenagem correta dos alimentos em câmaras frias mostra-se uma boa

alternativa para suprir esta demanda. A correta armazenagem proporciona a conservação dos

alimentos, com qualidade, por longos períodos de tempo, como na entressafra. Sendo assim, o

objetivo deste trabalho foi realizar o dimensionamento de uma câmara frigorifica fictícia, para a

estocagem de laranja, em uma empresa que estaria localizada na cidade de São Luís – MA. O

intuito foi oportunizar a aplicação dos conceitos de refrigeração industrial em uma situação similar

a realidade. Foi possível dimensionar a câmara frigorífica, de acordo com as restrições impostas,

direcionando-se os estudos para as normas legais vigentes, a paletização do produto, as cargas

térmicas, o tipo de material isolante das paredes e tamanho das instalações para comportar a

quantidade de laranjas inicialmente definida, bem como, a marca e modelo do evaporador indicado

para a câmara em questão. Este trabalho foi de grande valia para a ampliação dos conhecimentos

sobre operações unitárias e pode servir de modelo para realizar o dimensionamento de outras

câmaras frigoríficas, tanto para fins didáticos quanto em situações reais.

Palavras-chave: Armazenagem; Câmara frigorífica; Dimensionamento.

_______________________________ 1 Isabela Fernanda Bonin – Acadêmica do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção (DAPRO) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 2Lucas Hilgert Santos – Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção (DAPRO) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 3Micheli Ferreira– Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental e bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET)– Departamento

Acadêmico de Ambiental (DAAMB)– Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4Rafaela Dal Pra Brand – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade

Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5Silmar Antonio Lunkes – Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção (DAPRO) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 6Elciane Regina Zanatta – Professora Doutora em Engenharia Química, Departamento Acadêmico de Alimentos - Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

A colheita de frutas acontece normalmente em um período de safra a cada ano, e conservar esses

alimentos é de grande importância para disponibilizá-los em outras épocas do ano. Dentre diversos

métodos, o mais utilizado para a conservação são as câmaras frigorificas (AGOSTINI et al., 2014).

Câmaras frigoríficas são compartimentos refrigerados, fechados, isolados termicamente, em cujo

interior são mantidas condições de temperatura e de umidade consideradas apropriadas para a

conservação de determinado produto. (SOUSA et al., 2005).

O objetivo deste trabalho foi realizar o dimensionamento de uma câmara frigorifica fictícia, para a

estocagem de laranja, em uma empresa que estaria localizada na cidade de São Luís – MA.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente observou-se a Portaria n.125, de 15 de maio de 1981, publicada no D.O.U. de 19 de

maio de 1981, que estabelece normas e padrões de identidade, qualidade e embalagem para

classificação e comercialização de laranjas. Posteriormente, os estudos foram direcionados para o

armazenamento de 50 toneladas de laranjas em uma câmara situada na cidade de São Luiz - MA,

dispostas em caixas plásticas, com empilhamento máximo de 10 níveis por palet, admitindo-se

apenas um nível de palet. Para a retirada de um palet da câmara fria, poderia ser realizada a

movimentação de outros dois palets. Considerou-se uma movimentação diária de 5 toneladas,

temperatura de entrada das laranjas de 24 ºC e temperatura de armazenagem de 0,5 ºC. As tabelas

necessárias para auxiliar na escolha do tipo de material e espessura das paredes, bem como outros

fatores relevantes, foram buscadas na literatura sobre refrigeração industrial e encontram-se

devidamente referenciadas ao longo do texto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Características da armazenagem

As laranjas seriam acondicionadas em caixas plásticas adequadas para produtos hortifrúti, com

dimensões de 0,524 m de comprimento, 0,33 m de altura e 0,3 m de largura. O peso da embalagem

seria de 2 kg e o peso somente das laranjas seria de 20 kg. Cada caixa comportaria

aproximadamente 112 unidades de laranja.

3.2 Paletização dos produtos

Seriam disponibilizadas 5 caixas por nível e o empilhamento máximo seria de 10 caixas, somando,

portanto, 100 kg de laranja por nível e 1000kg de laranja por palet. Dentro da câmara fria seriam

armazenados 50 palets.

3.3 Layout dos palets

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Figura 1: Distribuição das caixas por nível. Figura 2: Paletização das caixas.

Figura 3: Distribuição dos paletes na câmara fria.

3.4 Dimensões da câmara fria

A partir da disposição dos palets, sugerido na Figura 3, do distanciamento de 0,30 metros das

paredes e de 0,1 metros entre os patets, tem-se as dimensões para a câmara fria:

Tabela 1: Dimensões da câmara fria.

Comprimento

Largura

Altura

Volume da câmara fria

3.5 Layout da câmara fria dentro da empresa

Figura 4: Localização da Câmara fria - situada no canto superior esquerdo .

O projeto da câmara considerou que as paredes norte e oeste estariam expostas a uma temperatura

ambiente correspondente a 33,9 ºC, que é a maior temperatura média da cidade de São Luís no

estado do Maranhão. A parede sul faria divisória com outra câmara frigorifica presente na

organização, dessa maneira, sua temperatura seria de 0,5 ºC. Já a parede leste estaria localizada no

interior da empresa, onde a temperatura é de 24 ºC.

3.6 Definição do material isolante das paredes

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O material escolhido para o projeto da câmara frigorifica foi o Poliuretano (PUR) de cor branca,

devido às suas características de baixa condutividade térmica, segurança ao fogo e resistência à

passagem de água.

Temperatura ambiente externa máxima da cidade = 33,9 ºC

Temperatura interna da onde a câmara seria instalada empresa = 0,5 ºC

Parede Sul externa = 0,5 ºC

Parede Norte externa = 33,9 ºC + 1 ºC

Parede Leste externa = 24 ºC

Parede Oeste externa = 33,9 ºC + 2 ºC

As diferenças de temperatura em que cada parede estaria submetida, são calculadas por

meio da Equação 1.

(1)

Desse modo, as diferenças de temperaturas para as paredes sul, oeste, norte e leste são,

respectivamente, 0 ºC, 35,4ºC, 34,4ºC e 23,5ºC.

A espessura do material adotada para cada parede foi a excelente, dessa maneira:

Sul: ∆T = 0 °C; adotou-se 20 ºC com espessura de PUR de 50 mm;

Oeste: ∆T = 35,4 °C; adotou-se 40 ºC com espessura de PUR de 100 mm;

Norte: ∆T =34,4 °C; adotou-se 40 ºC com espessura de PUR de 100 mm;

Leste: ∆T = 23,5 °C; adotou-se 30 ºC com espessura de PUR de 80 mm.

3.7 Carga térmica da estrutura da câmara

A carga térmica total cedida pelas estruturas da câmara, é dada pela Equação 2.

(2)

Tabela 2: Carga térmica cedida pela estrutura. (SOUSA, 2005)

Piso Q1

Parede frontal + fundos Q2

Paredes laterais Q3

Teto da Câmara Q4

(3)

A espessura adotada foi a maior dentre as paredes: 100 mm. Assim, determinou-se que os fatores de

correção das paredes oeste, do teto e do piso seriam de 142,4 kcal/m² 24 h; o fator de correção para

a parede leste seria de 124,2 kcal/m² 24 h e o da parede norte seria de 139,1 kcal/m² 24 h.

3.7.1 Carga térmica cedida pelas paredes

Tabela 3: Cálculo da carga térmica cedida pelas paredes.

Parede Oeste

Parede Norte

Parede Leste

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177

Desta maneira:

(4)

3.7.2 Carga térmica cedida pelo teto

(5)

Em que o fator de dispersão, que corresponde ao valor de 142,4 kcal/m² 24 h foi encontrado na

Tabela 1 (SOUSA, 2005).

3.7.3 Carga térmica cedida pelo piso

, (6)

Em que o fator de dispersão, que corresponde ao valor de 142,4 kcal/m² 24 h foi encontrado na

Tabela 1 (SOUSA, 2005).

3.7.4 Carga térmica total da estrutura

(7)

3.8 Carga térmica cedida pelo produto

3.8.1 Calor sensível antes do congelamento

(8)

Em que: m = movimentação diária de um determinado produto na câmara (kg/dia); Cp1 = calor

específico do produto antes do congelamento (kcal/kg∙°C) dado pela Tabela 4 (SOUSA, 2005);

Tentrada = temperatura de entrada do produto na câmara (°C); T1 = para câmaras de resfriamento é a

temperatura final do produto, e, para câmaras de congelamento, é a própria temperatura de

congelamento do produto (°C) encontrado na Tabela 4 (SOUSA, 2005).

3.8.2 Calor latente de congelamento

O calor latente de congelamento foi considerado zero, pois as laranjas não serão congeladas.

3.8.3 Calor sensível após o congelamento

Pelo fato das laranjas não serem congeladas, o calor sensível após o congelamento foi tomado como

zero.

3.8.4 Calor de respiração

(9)

Sendo: ma = quantidade total de produto na câmara (kg); Calor de respiração = quantidade de calor

liberada pela respiração do produto (kcal/kg∙dia) dado pela Tabela 4 (SOUZA, 2005).

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178

Então, a carga térmica cedida pelo produto é:

(10)

3.9 Carga térmica infiltração de ar (supondo uma umidade relativa de 60%)

(11)

Em que: Qinf = quantidade de calor infiltrado na câmara (kcal/dia);

; FTA = fator de troca de ar (1/24 horas) dado pela Tabela 2

(SOUSA, 2005); ΔH’ = Calor cedido por cada m3 de ar que entra na câmara (kcal/m

3) dado pela

Tabela 3 (SOUSA, 2005).

3.10 Carga térmica devido as luzes, pessoas, embalagens, equipamentos e outras fontes de

calor no interior da câmara.

3.10.1 Carga térmica de ocupação

Para o projeto da câmara frigorifica, foi considerado que um operador será responsável pelo manejo

do produto e o mesmo só irá ocupá-la por 3 horas. Dessa maneira, tem-se que:

(12)

Em que: Cocupação corresponde ao calor de ocupação por pessoa, n é o número de pessoas na câmara

e o t é o tempo que as pessoas ocupam a câmara.

3.10.2 Carga térmica de iluminação

(13)

Sendo: P = potência instalada por unidade de área (10-16 W/m2); A = área da câmara (m2); t =

tempo de utilização da iluminação (h/dia); 0,86 = fator de conversão kW/kcal.

3.10.3 Carga térmica das embalagens

A carga térmica das embalagens é calculada pela Equação 14, em que m é a massa do produto,

Cpemb corresponde ao calor específico da embalagem.

(14)

(15)

Como a embalagem representa uma parcela menor que 10% do total da embalagem (embalagem +

produto), a carga térmica da embalagem pode ser desconsiderada para o cálculo da carga térmica

total.

Dessa maneira, a carga térmica é dada por:

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179

(16)

A carga térmica total final, sem a carga dos ventiladores será:

(17)

3.11 Distribuição da carga térmica

A Figura 5 apresenta a distribuição de todas as cargas térmicas consideradas para o

dimensionamento da câmara fria.

Figura 5: Distribuição da carga térmica

3.12 Seleção do evaporador

Tem-se que a quantidade de carga térmica total aproximada é de:

(18)

Então, estimou-se o valor de 0,5 CV por TR para a potência mecânica dos ventiladores, dessa

maneira, tem-se que:

(19)

(20)

Segundo Teixeira et al. (2000), para uma potência de 1,537cv, tem-se um rendimento aproximado

de 78%. Então, calcula-se a carga térmica dos ventiladores:

(

) (

)

(21)

Esse valor deve ser retornado na carga térmica total:

(22)

10%

63%

25%

2% Carga Térmicaestrutura

Carga Térmicaproduto

Carga TérmicaInfiltração

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180

A potência do motor do ventilador é calculada segundo a Equação 20, sendo então de 1,537 CV.

Diante da comparação do valor obtido com o apresentado por Teixeira et al. (2000), considerou-se

que a potência estaria dentro da faixa estimada. Para a escolha dos evaporadores utilizou-se o

catálogo comercial da marca Thermokey (THERMOKEY, 2017). Foi escolhido utilizar pelo menos

4 evaporadores, dessa maneira:

(23)

,

Assim,

(24)

Portanto, tem-se que: (25)

Então, é realizada a divisão entre a temperatura de evaporação encontrada e a potência estimada

para encontrar a quantidade de evaporadores, assim, tem-se que

, e como resultado utiliza-se 4

evaporadores .

3.13 Localização dos Evaporadores e Distribuição do ar frio na câmara

A Figura 6 apresenta a localização escolhida para os evaporadores.

Figura 6: Distribuição dos evaporadores dentro da câmara fria

4 CONCLUSÕES

O dimensionamento da câmara frigorífica, apesar de aplicada a uma situação fictícia, trouxe a

oportunidade da aplicação dos conceitos sobre refrigeração industrial. O dimensionamento do

evaporador é o passo inicial para a determinação dos demais componentes do sistema de

refrigeração, como o compressor, a válvula de expansão e o condensador.

5. REFERÊNCIAS

AGOSTINI, Juliana da Silva et al. Nota científica: Conservação pós-colheita de laranjas

Champagne (Citrus reticulata × Citrus sinensis). Brazilian Journal Of Food Technology. n.2,

v.17.,2014.

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181

SOUSA, Ariel Veloso de et al. Projeto de câmara frigorífica para armazenamento de maçãs. IX

Seminário Estadual de Engenharia Mecânica e Industrial, 2005. Disponível em <

http://www.feevale.br/Comum/midias/9db2527f75c24278be5146c821f9e742/Andr%C3%A9%20L

uiz%20Vicente%2001.pdf>. Acesso em 20/06/2017.

THERMOKEY DO BRASIL. Catálogo de evaporadores. Disponível em:

http://www.thermokey.com.br/bra/dw_catalogos.asp Acesso em 20/06/2017.

TEIXEIRA, C. A.; OLIVEIRA FILHO, D.; SANTOS, W. L. Digitalização de curvas características

de rendimento de motores elétricos: para adequação do uso de força motriz. In: Proceedings of the

3. Encontro de Energia no Meio Rural. 2000..

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182

PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO DE ISOLAMENTO TÉRMICO EM

EQUIPAMENTOS COM PASSAGEM DE VAPOR NUMA INDÚSTRIA DE

PEQUENO PORTE

Luma Sarai de Oliveira1, Nicolli Grecco Marchiore

2

RESUMO

No ambiente industrial onde se dá o processamento de alimentos, a demanda energética é alta o

suficiente para dissipar energia na forma de calor pela unidade fabril. Devido a esta diferença de

temperatura entre os equipamentos e o ambiente de trabalho este gradiente provoca uma troca de

calor. A energia percorre no sentido da maior temperatura para a de menor temperatura. Este

fenômeno pode alterar a temperatura de processamento e ainda resultar em ineficiência energética.

Uma alternativa para minimizar este efeito é a utilização de materiais isolantes de baixa

condutividade térmica sobre os equipamentos onde acontecem estas trocas térmicas. O interior do

isolante térmico é formado por pequenas bolhas de gás que impossibilitam a sua movimentação e

consequentemente a transferência de calor. Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de

um projeto para possível implementação de isolamento térmico em derivações de vapor e tachos

destinados a produção de doce de leite em uma pequena fábrica. O uso destes materiais isolantes

tornou-se uma forma de melhor aproveitar a energia em processos industriais, de oferecer condições

de trabalho amenas a trabalhadores, redução dos custos envolvidos com a produção e diminuição do

impacto ambiental.

Palavras-chave: Eficiência energética; Evaporadores; Transferência de calor.

___________________________ 1 Luma Sarai de Oliveira – Engenheira de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos (DALIM) –

Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Campo Mourão, [email protected] 2Nicolli Grecco Marchiore – Engenheira de Alimentos – Centro de Engenharias e Ciências Exatas (CECE) –

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Câmpus Toledo, [email protected]

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183

1. INTRODUÇÃO

Produto originário da América Latina, porém com grande participação na produção de produtos

derivados do leite no Brasil, o doce de leite pode ser encontrado em dois diferentes formatos, sendo

eles: doce de leite em pasta e o doce de leite em tablets (VIEIRA, 2004). Trata-se de uma

alternativa rentável e que agrega valor expressivo à pecuária leiteira, podendo o lucro chegar a

400% (FRANCO, 2017).

A grande participação da produção deste derivado lácteo pelo Brasil é facilitada pela grande

disponibilidade de matéria-prima e pelo processamento simples, através da evaporação da água por

aplicação de calor na forma de vapor injetado em tanques encamisados (evaporadores)

(OLIVEIRA, 2017).

O vapor começou a ser utilizado na indústria a partir da Revolução industrial, a sua aplicação era no

acionamento de bombas, locomoção de locomotivas e outros similares através de uma força motriz.

Após algum tempo o uso desta força diminuiu e entrou em marcha corrente o uso do vapor como

fonte térmica, e assim o vapor produzido por uma fonte geradora de vapor por ser utilizado de

diversas formas como: geração de energia elétrica, processos de fabricação e beneficiamento,

geração de trabalho mecânico, aquecimento de linhas e reservatórios de óleo combustível e ainda na

prestação de serviços (LEITE, 2013).

A necessidade de melhoramento e aproveitamento da energia na forma de vapor nos processos

industriais, tornou-se necessário devido aos crescentes gastos energéticos pela unidade fábril além

do aumento do impacto ambiental (KRUCZEK, 2013).

Durante a passagem do vapor pelas tubulações transportadoras de energia é notado a grande

dificuldade na garantia da temperatura constante desde o momento da saída da caldeira até o destino

final como por exemplo evaporadores, tachos abertos. Este problema resulta em custos econômicos

crescentes para a planta industrial (POLOVNIKOV, 2014).

A fim de minimizar os efeitos da perda de calor são utilizados materiais denominados de

isolamentos térmicos, constituidos por inúmeros microscópicos espaços responsáveis por não

permitir a transmissão total de calor. Cada material o qual é formado o isolante contém uma

propriedade chamada de constante de condutividade térmica, e esta constante tende a ser muito

pequena reduzindo as perdas de calor através da irradiação para o meio externo, desta forma o calor

é mantido dentro da tubulação (NASCIMENTO JUNIOR, 2009).

A escolha do material que será utilizado para isolamento de proteção térmica é de grande

dificuldade pois as mudanças das condições térmicas geram diferentes temperaturas e essa condição

de molhação alterna o valor da condutividade do material. As propriedades que não podem deixar

de serem notadas ao selecionar o material isolante são a taxa de evaporação e de umidade, e a

transferência de massa (KRUCZEK, 2013).

Este trabalho tem como objetivo selecionar o material isolante e dimensionar a espessura do

isolamento térmico para os tachos de fabricação do doce de leite e para as derivações das linhas de

vapor que servem como forma de aquecimento para os tachos, acarretando em economia financeira,

de recursos naturais e de energia, tornando o processo mais competitivo e sustentável.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada para o dimensionamento da espessura do isolante térmico foi a apostila

Noções de isolamento térmico de tubulações, desenvolvido pelo professor autor Paul Fernand

Milcent em parceria com a Universidade Federal do Paraná, do departamento de Engenharia

Química. A parceria entre a Universidade Tecnológica Federal do Paraná campus Campo

Mourão e a indústria de doce de leite típica de pequeno porte localizada na região centro-oeste do

estado tornou possível a realização deste estudo. A seguir é descrito as etapas realizadas para a

realização do dimensionamento do material isolante para envolver as derivações de vapor e a manta

térmica para envolver os tachos de produção do doce já existente na indústria.

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184

Figura 1: Corte de uma tubulação de vapor já isolada

Figura 2: Corte frontal da tubulação de vapor sem isolamento

2.1 Equações utilizadas para o dimensionamento do isolamento térmico do projeto

A Figura 1 demonstra a vista frontal de uma tubulação já revestida com o material isolante, e a

Figura 2 ilustra a tubulação de vapor sem o isolamento térmico.

Onde:

T1: Temperatura do vapor no interior da tubulação;

T2: Temperatura interna do material da tubulação;

T3: Temperatura externa do material da tubulação;

T4: Temperatura interna do material do isolamento;

T5: Temperatura externa do material do isolamento.

Estando o fluido quente (vapor) no interior do tubo (T1) e fora do tubo existir o ar em temperatura

mais baixa (T5), o calor fluirá de dentro para fora do tubo, fluindo no ambiente por convecção. Pela

parede do tubo e pelo isolamento o calor flui por condução na direção do raio, unidirecional, em

regime permanente, sem geração de calor e com condutividade térmica constante, podendo ser

adotada a Equação 1.

𝑞 =− .

= − .(2 . 𝜋. . 𝐿).

(1)

Onde:

q = Taxa de transferência de calor;

k = Condutividade térmica;

A = Área de troca térmica;

T = Temperatura;

r = Raio;

L = Comprimento do tubo.

Integrando:

q = ∫

= -k. 2. 𝜋. L ∫

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185

q. ln

= 2. k. 𝜋. L ( ) e rearranjando a equação temos a Equação 2.

q =

(2)

A partir da Equação 2, os valores da condutividade térmica (k), os valores das temperaturas

( e dos respectivos raios externo e interno devem ser substituídos de acordo com a análise

da resistência em questão, para determinar o calor que está fluindo pela região delimitada.

A transferência de calor por convecção existente dentro do tubo (região 1) e no fluído que envolve o

tubo (região 2) e pela (região 4) e (região 5) podem ser determinadas através da Equação 3.

q = h. A. ∆T = h. A. (3)

Onde:

Tx = Temperatura mais elevada

Ty = Temperatura mais baixa

É definido um coeficiente global de troca térmica por meio da equação 4.

𝑞 𝑈 𝑈 (4)

Onde:

qTOTAL = é a taxa total de calor que se transfere

AJ = é a área de troca de referência; a qual se refere UJ

∆TOTAL = a diferença de temperatura total considerada

UJ = o coeficiente global de troca térmica

A Equação 5 fornece o valor da área de troca térmica:

𝐿

(5)

Sendo assim se considerarmos o ∆TTOTAL = T1-T5, deduzimos a seguinte Equação 6.

∆TOTAL = (T1-T2) + (T2-T3) + (T3-T4) + (T4-T5) (6)

Substituindo as diferenças de temperaturas nas equações acima temos a Equação 7.

+

(7)

Fazendo simplificações matemáticas obtemos a Equação 8 que fornece a taxa de transferência de

calor total pela tubulação:

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186

𝑞

(8)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Planejamento para implementação do isolamento térmico nos evaporadores e derivações

da linha de vapor

O diagrama com valores para temperatura ambiente e temperatura de cozimento, visto na Figura 2,

durante diferentes amostragens, torna evidente a oscilação da temperatura de cozimento em função

da temperatura ambiente. Esse fato está provavelmente relacionado a falta de isolamento térmico no

tacho, indicando a necessidade de isolante. Esse revestimento resulta na redução da perda de

energia, uma vez que a manutenção da temperatura implica em maior injeção de vapor e, com isso,

aumentaria a eficiência energética do procedimento de fabricação do doce. Observou-se que as

derivações de vapor que chegam ao tacho também não possuem revestimento, aumentando a área

de dispersão do calor do vapor direcionado para o tacho por essas tubulações e ainda pelas válvulas

e acessórios presentes no trecho.

Figura 1: Diagrama de temperatura ambiente x temperatura de cozimento

Registrou-se ainda na linha de produção, o calor excessivo relatado pelos funcionários que

operavam os tachos. Considerando que o organismo humano funciona como uma máquina, tendo

sua temperatura central regulada pelo hipotálamo que responde a qualquer alteração térmica, a

temperatura do corpo ativa mecanismos internos de compensação, entretanto, embora o corpo se

adapte ao meio, os limites de temperatura interferem consideravelmente no bem-estar das pessoas

(SILVA; ALMEIDA, 2010).

Silva (2016) registrou que principalmente a partir de 30°C, a velocidade do trabalho diminui, as

pausas se tornam maiores, a propensão a acidentes aumenta e a concentração diminui.

Comprovando essa teoria, os colaboradores relataram as dificuldades na agilidade dos trabalhos e

queimaduras frequentes ocorridas nos equipamentos de evaporação do doce de leite. Ainda

sustentando a necessidade de providências no processo estudado, o Anuário Brasileiro de Proteção

(2007) reconheceu que o atendimento às condições de conforto dos ambientes de trabalho de

indústria produtoras de alimentos são fatores que podem contribuir para a redução do desgaste

físico e emocional dos trabalhadores e, consequentemente, pode reduzir os índices de acidentes de

trabalho neste setor, que possui atualmente os maiores índices registrados, com 8,91% dos casos.

Em suma, os isolamentos diminuem as perdas de calor e otimizam o processo, reduzindo os gastos

energéticos sendo altamente indicados.

0

20

40

60

80

100

120

1 2 3 4 5

0

18,3 17,8 18,4 18,7

111,7 112,4 111,6 112 112,3

TEM

PER

ATU

RA

○C

AMOSTRAGEM

Temperatura Ambiente Temperatura de cozimento

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187

3.2 Simulação do custo para implementação do isolante

Para a obtenção do orçamento do isolamento levou-se

em consideração os fatores como: preço, características

termo física do material isolante, distância do

fornecedor do material e a montagem do mesmo.

Através de pesquisas de custo benefício decidiu-se iniciar

o orçamento com duas empresas, uma delas situada na

cidade de São Paulo e a outra na cidade de Curitiba. Como

a logística encareceu o produto foi decidido continuar o

orçamento com a empresa de Curitiba.

O contato com a empresa foi através de telefone e e-mail, e para dar continuidade com o orçamento

dados como: temperatura máxima que o fluído poderá atingir, comprimento da tubulação, material

que a tubulação é construída, dimensões dos tachos evaporadores, temperatura ambiente do local de

trabalho e diâmetro da tubulação foram fornecidas.

A Figura 4 representa o material isolante de interesse para aplicação.

Tabela 1: Simulação do custo de implementação do isolamento térmico

Material Referência Espessura

(mm)

Valor

unit. Sem

ICMS/IPI

(R$/m)

Qde*

(m)

Valor

unit**.

com

ICMS

(R$)

Valor

total

(R$)

com

ICMS

Valor

total

com

ICMS e

IPI

Obs

TuboAF_Armaflex

AF U 022

44

55,62

10

63,21

632,10

695,31

½‖

aço

Manta_Class_1_Armaflex

C1 32 100

E

32

80,41

7

91,38

639,66

703,63

7mx1

m

Acessórios Armaflex

Adesivo

520-S 3,6 I

n/a

153,23

1

174,13

174,14

174,13

3,6

litros

Folha de alumínio 10 128,00 128,00 128,00

Total

1701,07

*Quantidade, ** Valor unitário

Figura 4: Isolante de interesse para aplicação industrial

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188

O trecho de tubo sem isolamento é de 2,0 m para percurso de cada tacho, totalizando 4,0 m e com

bitola de ½ polegada (1,3 cm). O tacho foi considerado, por aproximação, um cilindro de altura 1,0

m com largura de 1,0 m. O isolante tomado para análise de investimento de revestimento no tubo

foi o Armaflex® modelo AF U 022, com 44 mm de espessura, orçado em R$ 63,21/m. Para o tacho,

cotou-se a manta térmica marca Armaflex® modelo C1 32 CE, com espessura 32 mm e largura de

1,0 m, orçada em R$ 91,38/m de comprimento. Com isso estimou-se serem necessários 3,14 m de

manta para cada tacho, resultando aproximadamente 6,3m para os dois tachos. Considerando

eventuais perdas, indica-se a compra mínima de 7 m da manta num total de R$ 703,63 (com ICMS

e IPI inclusos). Para o revestimento dos 4,0 m de tubo recomenda-se a compra mínima de 10 m

(metragem limitante do fabricante) totalizando R$ 695,31 (com ICMS e IPI inclusos). Para garantia

da resistência mecânica e ainda proteção contra umidade e fogo direto recomenda-se o revestimento

com folha de alumínio que incrementará o custo em 128,00. O investimento com isolante térmico

incluindo o adesivo selante e o envoltório externo para proteção mecânica totalizaria R$ 1701,07.

A figura 5 trata-se de uma imagem ilustrativa da unidade fabril do doce de leite, na figura podemos

observar que o tacho do canto direito está sem o isolamento na derivação por onde passa o vapor

proveniente da caldeira a fim de aquecer o evaporador. Este calor quando dissipado eleva os custos

energéticos e o consumo de lenha que é utilizado na queima da caldeira, ainda salientando que os

colaboradores que trabalham perto desta derivação ao abastecer ou circular perto do equipamento

sofrem queimaduras.

O tacho do canto esquerdo ilustra como possivelmente ficaria o equipamento revestido pelo

isolamento. O isolamento irá recobrir toda a derivação de vapor que abastece o tacho e uma manta

iria envolver o tacho. Desta forma existe a garantia de que a temperatura de cozimento do doce se

manterá constante, pois o fluxo de calor proveniente da fonte de alta temperatura (tacho) para a

fonte de baixa temperatura (ambiente) será minimizado. Ao tomar estas medidas o produto final

obterá sempre o mesmo padrão de qualidade, existirá a queda no abastecimento de lenha da caldeira

e o ambiente de trabalho terá temperaturas amenas para os colaboradores trabalharem.

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189

Figura 5: Planta ilustrativa de como ficaria o tacho com isolamento térmico

CONCLUSÕES

A inexistência de isolamento térmico em parte da tubulação de derivação e no tacho de cozimento

deve ser corrigida para que se tenha eficácia de cozimento, eficiência térmica e prevenção de

acidentes. A previsão de custo da adequação do processo seria a relativa a compra do isolamento

(cerca de R$ 1701,07), correção, calibração e treinamento para operacionalização dos instrumentos

(dependente da empresa contratada).

REFERÊNCIAS

ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO. Estatística. MPF Publicações. Novo Hamburgo, RS,

2007.

FRANCO, P. R. Doce de leite é aposta para aumentar rentabilidade e agregar valor à pecuária

leiteira. Agropecuário, 2015. Disponível em:

<http://www.em.com.br/app/noticia/agropecuario/2015/08/10/interna_agropecuario,676831/lucros-

adocicados.shtml>. Acesso em: 29 de julho de 2017.

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190

LEITE, C,B,F. Inspeção e manutenção do sistema de purgadores de uma fábrica de pneus

para redução do consumo de energia. (Dissertação para conclusão do curso). Rio de Janeiro.

Centro Universitário Estadual da Zona Oeste, pg. 4, 2013.

KRUCZEK T. Determination of annual heat losses and steam pipeline networks and economic

analysis of their thermomodernisation. Journal Energy, n. 62, pg. 120-131, 2013.

NASCIMENTO JUNIOR, Cleber M.; SARTORELLI, Ricardo J. Geração de energia por meio do

vapor. Coletânea de trabalhos – Qualidade de energia e tecnologias de uso final, n.2, p.13-17,

2009.

OLIVEIRA, L. S. Parametrização da produção de doce de leite em indústria de pequeno porte.

(Dissertação para conclusão de curso). Campo Mourão, Universidade Tecnológica Federal do

Paraná, 2017.

POLOVNIKOV, V. Y.; GUBINA, E. V. Heat loss of heat pipelines in moisture conditions of

thermal insulation. EDP Sciences, 2014.

SILVA, F. T. Doce de leite. AGEITEC – Agência Embrapa de Informação Tecnológica 2016.

Disponível em:

<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/tecnologia_de_alimentos/arvore/CONT000girl7f390

2wx5ok05vadr14mvyuve.html>. Acesso em: 10 de setembro de 2016.

SILVA, T.L, ALMEIDA. V.C. Influência do calor sobre a saúde e desempenho dos

trabalhadores. Simpósio Maringaense de Engenharia de Produção. Maringá, 2010.

VIEIRA, L.C; JÚNIOR, J.B.L. Tecnologias de fabricação dos Doces de Leite Pastoso em

Tabletes. Comunidade Técnico, p.1, Belém, 2004.

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191

PROJETO PARA INSTALAÇÃO DE CÂMARA FRIGORÍFICA EM UMA

INDÚSTRIA DE SORVETE

Emanueli Backes1; Marília Neuman Cuoto

2 ;Vanessa Barbosa

3; Alisson Veiga

4; Jandrei Sartori

Spancerski5; Elciane Regina Zanatta

6

RESUMO

A estocagem de alimentos de forma eficiente se torna necessária quando o homem deixa de obter

seus alimentos para consumo imediato e passa a guarda-los. Para tal eficiência são necessárias

análises de temperatura, dimensionamento e materiais que foram sendo desenvolvidas ao longo da

evolução humana. Com uso de tais análises e as tecnologias disponíveis, o presente trabalho

apresenta os processos que envolveram o projeto de uma câmara frigorífica para armazenamento de

sorvetes com capacidade de estocagem de 30000 kg e movimentação diária de 12000 kg, em uma

indústria produtora localizada na cidade de Petrolina, no Pernambuco. O projeto da câmara

frigorífica segue todas as especificações da legislação vigente para o produto, e, mesmo sendo

apenas um projeto teórico, possui todos os requisitos para ser executado em circunstâncias reais.

Palavras-chave: Cadeia do frio; Armazenamento; Gelados comestíveis. ___________________________ 1 Emanueli Backes – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Medianeira, [email protected] 2 Marília Neumann Cuoto - Acadêmica do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção

(DAPRO) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Medianeira, [email protected] 3 Vanessa Barbosa - Acadêmica do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção

(DAPRO) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Medianeira, [email protected] 4 Alisson Veiga – Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção (DAPRO)

– Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 5 Jandrei Sartori Spancerki – Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – Departamento Acadêmico de Produção

(DAPRO) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Medianeira, [email protected] 6 Elciane Regina Zanatta – Docente do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de Alimentos

(DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Medianeira, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Com a globalização e o sedentarismo da população, foi necessário o desenvolvimento de métodos

de armazenagem de alimentos, que de acordo com o Código Nacional de Saúde, Decreto-Lei

986/1969, alimento é toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, líquido, pastoso

ou qualquer outro adequado, que objetiva fornecer ao organismo humano os elementos normais ao

seu processo nutricional.

Sabe-se que temperaturas baixas são utilizadas para retardar as reações químicas e a atividade

enzimática bem como para retardar ou inibir o crescimento e a atividade microbiana nos alimentos,

através desse conceito, foi pensado em armazenar os alimentos em ambientes controlados, um deles

são as câmaras frias. As técnicas de conservação têm por objetivo principal a destruição dos

microrganismos, impedindo toda e qualquer ação demandada por esses agentes, por enzimas ou por

outras causas deteriorantes (GAVA et al., 2008). Com isso, esse tipo de armazenamento auxilia no

aumento do tempo de prateleira dos alimentos.

Para que os alimentos permanecem na temperatura adequada em seu armazenamento utiliza-se

ciclos de refrigeração industrial, compostos, entre outros equipamentos, por dois trocadores de

calor. De acordo com Isenmann et al. (2012), esses trocadores de calor podem ser definidos como

aparelhos onde o calor está sendo transferido, no caso específico da refrigeração industrial recebem

o nome de evaporadores e condensadores. A quantidade de calor a ser transferida geralmente é dada

pelas exigências da operação unitária, igualmente as temperaturas de entrada e de saída das

correntes trocadoras de calor.

Tratando-se de um produto comercializado mundialmente, estima-se que o sorvete tornou-se

conhecido no Brasil em 1834, e a partir disto são continuamente desenvolvidas novas técnicas e

sabores, dispondo de variados ingredientes para seu preparo. O fator de armazenagem é grande

contribuinte para a qualidade do produto, sendo a recristalização do gelo seu maior agravante

relacionado à temperatura de armazenamento e suas alternâncias. (FERNANDES et al., 2016).

A produção do sorvete dá-se início por emulsão estabilizada, ―também chamada de calda,

pasteurizada, que através de um processo de congelamento sob agitação contínua (batimento) e

incorporação de ar, produz uma substância cremosa, suave e agradável ao paladar‖ (SOUZA et al.,

2010. p. 155).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento do projeto para instalação de câmara frigorifica em uma indústria de sorvete na

cidade de Petrolina-PE, baseou-se em uma capacidade de armazenamento teórica de 30 toneladas

do produto, com uma movimentação diária de 12 toneladas, valores que atendem as necessidades de

uma indústria com produção e fluxo relativamente altos. O tipo de sorvete a ser estocado na câmara

frigorifica projetada são potes de sorvetes de 2 litros.

Os dados para o projeto foram fornecidos pela Resolução RDC nº 267, de 25 de setembro de 2003,

que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos

Industrializadores de Gelados Comestíveis e pela Portaria nº 379, de 26 de abril de 1999, que

aprova o Regulamento Técnico referente a Gelados Comestíveis, Preparados, Pós para o Preparo e

Bases para Gelados Comestíveis.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Os potes de sorvete são armazenados na câmara frigorifica em embalagem secundária de polietileno

de baixa densidade, formando fardos com 4 potes de sorvete cada e com uma lâmina de papel

ondulado na base dos potes. A massa total por fardo é de 3,9 kg – considerando densidade mínima

do sorvete disposta na Portaria nº 379 – com dimensões de 36 x 26 x 12,5 cm de comprimento,

largura e altura, respectivamente.

O baixo custo para aquisição dos pallets de madeira são os principais responsáveis por estes serem

largamente utilizados no armazenamento de produtos. Com dimensões fixas de 1,2 x 1,0 m, a

Figura 1, apresenta duas formas distintas de disposição dos fardos no pallet, de forma que seu

tamanho foi otimizado para suportar a maior quantidade de produto (11 fardos).

Figura 1: Vista superior de dois níveis de paletização.

Aconselha-se um empilhamento máximo de 12 níveis de produto, atingindo assim uma massa de

42,9 kg por nível e 514,8 kg por pallet. Para suprir a necessidade de armazenamento de 30

toneladas, fez-se necessária a utilização de uma câmara frigorifica contendo 59 pallets.

A Portaria no 711, de 1 de novembro de 1995 e RIISPOA exigem que haja uma distância mínima de

0,3 m entre os pallets e as paredes da câmara frigorifica, quando se faz o estoque de produtos de

origem animal. O espaçamento de 0,1 m entre os pallets faz-se necessário para melhor

movimentação e ventilação da estocagem. A Figura 2 apresenta o layout de disposição dos pallets

dentro da câmara frigorifica projetada.

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Figura 2: Vista superior do Layout de disposição dos pallets na câmara frigorifica de estocagem

para 30 toneladas de sorvete.

A câmara frigorifica conta com apenas um nível de paletização e possui uma área otimizada com a

movimentação máxima de 2 pallets para atingir o pallet desejado.

A câmara possui uma orientação espacial teórica como apresentada na Figura 3.

Figura 3: Vista superior da localização da câmara de estocagem de sorvetes dentro da indústria e

sua orientação espacial.

A temperatura de armazenamento mínima do sorvete, segundo Resolução RDC nº 267 é de – 18oC.

A câmara frigorifica projetada conta com uma temperatura de armazenamento com uma margem de

segurança, isto é, – 20ºC. Sua localização teórica dentro da indústria é entre outras duas câmaras de

armazenamento (Câmara 1 e 3).

Sabendo que a média da maior temperatura da cidade de Petrolina – PE, na qual a parede Sul está

exposta é de 38,4ºC, tem-se os cálculos descritos abaixo.

ΔT = (Texterna-Tinterna) + ΔT*

Sendo

Texterna: temperatura externa à câmara (°C);

Tinterna: temperatura interna à câmara (°C);

ΔT*: fator de correção para a radiação solar (°C) (SOUSA et al., 2015).

Parede Sul: ΔT = (38,4°C-(-20°C)) + 1 = 59,4°C

Para o valor de 59,4ºC, segundo tabelas apresentadas por Sousa et al. (2015), a espessura EPS será

de 200 milímetros.

Parede Oeste e Leste: ΔT = (-20°C-(-20°C)) = 0°C

Para o valor de 0ºC, segundo tabelas apresentadas por Sousa et al. (2015), a espessura EPS será de

50 milímetros.

Parede Norte: ΔT = (12°C-(-20°C)) = 32°C

Para o valor de 32ºC, segundo tabelas apresentadas por Sousa et al. (2015), a espessura EPS será de

125 milímetros.

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3.1 CARGA TÉRMICA DA ESTRUTURA

A carga térmica da estrutura pode ser calculada pela carga cedida pelas paredes, cedida pelo teto e

cedida pelo piso. A equação abaixo representa o cálculo da carga térmica, onde o fator tabelado foi

retirado de análise de câmara frigorífica realizada por Sousa et al. (2015).

Qestrutura = Área x (Fator tabelado)

Parede Norte: Qestrutura = (3,5x9)m² x (190,667 kcal/m²) = 6006,0105 kcal/dia

Parede Sul: Qestrutura = (3,5x9)m² x (212,9 kcal/m²) = 6706,35 kcal/dia

Teto e Piso: Qestrutura = (9x13,5)m² x (212,9 kcal/m²) = 25867,35 kcal/dia

3.2 CARGA TÉRMICA CEDIDA PELO PRODUTO

Quando o sorvete adentra a câmara frigorífica, ele está à temperatura de – 12oC, e nesta temperatura

ele já se encontra congelado. Assim, desconsidera-se dos cálculos calor sensível antes do

congelamento e latente de congelamento.

Pelo fato de o sorvete ser um produto de origem animal e não apresentar metabolismo ativo, o calor

de respiração do produto também é desconsiderado dos cálculos.

Portanto, a carga térmica cedida pelo produto é composta apenas pelo calor sensível após o

congelamento do produto:

Qproduto = m x cp x (T1 – T2)

Sendo

m: movimentação diária de sorvete na câmara;

cp: calor específico do sorvete (SOUSA et al., 2015);

T1: temperatura ambiente da indústria;

T2: temperatura no interior da câmara.

Qproduto = 12000 kg/dia x 0,45 kcal/Kg °C x (-12 – (-20))°C = 43200 kcal/dia

3.3 CARGA TÉRMICA DE INFILTRAÇÃO DE AR

A abertura da porta da câmara frigorifica para entrada e saída de funcionários provoca uma troca

térmica no ambiente, na qual haverá entrada de calor, necessitando que uma carga térmica de

infiltração de ar também seja contabilizada.

Qinfiltração = Vcâmara x FTA x ΔH

Sendo

Vcâmara: volume da câmara frigorifica;

FTA: fator de troca de ar (1/24 horas);

∆H: Calor tabelado cedido por cada m³ de ar que entra na câmara (SOUSA et al., 2015)

Qinfiltração = (9x13,5x3,5)m³ x 3,099 x 16,6 kcal/m³ = 21876,305 kcal/dia

3.4 CARGA TÉRMICA DEVIDO A LUZES, PESSOAS, EMBALAGENS E EQUIPAMENTOS

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A câmara frigorífica que está sendo projetada não contém nenhum equipamento que dissipe calor

por meio de eletricidade, então, este cálculo de carga térmica pode ser desconsiderado.

A massa da embalagem é de 0,050 kg e a massa do conjunto produto armazenado mais embalagem

é de 3,850 kg. Como a massa da embalagem representa apenas 1,3% em relação ao conjunto

anteriormente citado, a carga térmica devido a embalagem pode ser desconsiderada.

A carga térmica cedida pela iluminação e ocupação de pessoas é a seguinte:

Qiluminação = Potência x Área x t x 0,86

Sendo ―t‖ o tempo de utilização das lâmpadas.

Para o projeto, considerou-se a utilização de lâmpadas com 10 W de potencia. Estas lâmpadas

ficarão acessas apenas durante o período em que os colaboradores estiverem trabalhando dentro da

câmara, ou seja, 3 horas.

Qiluminação = 10 x (9x13,5)m² x 3 x 0,86 = 3134,7 kcal/dia

Para a carga térmica devido a ocupação, isto é, pessoas, considera-se que apenas um funcionário irá

trabalhar dentro da câmara frigorífica, durante 3 horas por dia.

Qpessoas = Cocupação x n x t

Sendo Cocupação o calor equivalente por pessoa na câmara frigorífica (SOUSA et al., 2015)

Qpessoas = 338 kcal/h x 1 pessoa x 3h/dia = 1014 kcal/dia

3.4.1 CARGA TÉRMICA DOS MOTORES DOS VENTILADORES

A carga térmica dos motores dos ventiladores contabiliza o calor cedido pelos motores dos

equipamentos para evaporação, instalados. Para o cálculo (SOUSA et al., 2015) é necessário

inicialmente somar os cálculos de carga anteriores e assim chegar em uma carga aproximada e

transformá-la em toneladas de refrigeração:

Qaproximada = Qestrutura + Qinfiltração + Qproduto + Qvariada

Qaproximado = 64447,0605 + 21876,305 + 43200 + (3134,7 +1014) = 133672,0655 kcal/dia

Qaproximado = 5569,669 kcal/h equivalente a 1,84 TR

Foi então estimada a potência inicial de 0,5 cv para o cálculo da carga dos ventiladores. Com base

na Figura 4, retirada de Foust, a potencia do ventilador é de 0,5 x 1,84 = 0,92 cv e rendimento (n)

de 70%, ficando na faixa de potencia do motor entre 0,5 e 1,0 cv.

Figura 4. Tabela retirada de Foust

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Calculando a carga dissipada pelos motores dos ventiladores:

Qventiladores = Potência x tempo de utilização x 632/n

Qventilador = 0,92 cv x 21 h/dia x 632/0,70 = 17443,2 kcal/dia

Portanto, somando a carga do ventilador à carga aproximada, tem-se:

Qtotal = 133672,0655 + 17443,2 = 151115,26 kcal/dia equivalente a 6296,47 kcal/hora e 2,08 TR

Com o valor de carga térmica em toneladas de refrigeração, pode-se calcular a potência necessária

para os motores dos ventiladores, apresentada abaixo:

2,08 x 0,5 = 1,04 cv

Conforme supracitado, o resultado obtido está fora do intervalo de abrangência ao qual 0,92 cv

pertence (entre 0,5 e 1,0 cv), sendo então esta possibilidade descartada, gerando a necessidade de

uma nova iteração. A nova potência escolhida é de 0,6 cv.

Potência do motor do ventilador = 0,6 x 1,84 = 1,1 cv, com rendimento (n) de 71,6%, estando na

faixa de 1,0 a 1,5 cv da Figura 4.

Fez-se novamente o cálculo da carga dos motores dos ventiladores:

Qventilador = 1,1cv x 21h/dia x 632/0,716 = 20389,94 kcal/dia

Recalculando a carga total:

Qtotal = 133672,0655 +20389,94 = 154071 kcal/dia

Qaproximado = 6419,62 kcal/h, equivalente a 2,12 TR

Calculando a potência dos motores dos ventiladores com o resultado desta iteração temos:

2,12x0,6 = 1,27 cv, na qual a valor final está na mesma faixa de abrangência da eficiência que o

inicial (entre 1,0 e 1,5), resultado potencialmente adequado para ser utilizado.

3.5 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA TÉRMICA

O Gráfico 1 apresentado abaixo mostra a porcentagem que cada carga térmica representa no sistema

ao todo.

Gráfico 1: Distribuição da carga térmica total requerida pela câmara frigorífica para estocagem de

30 toneladas de sorvete.

3.6 SELEÇÃO DO EVAPORADOR

48%

32%

17% 3%

Qestrutura

Qproduto

Qinfiltração

Qvariada

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Para a carga térmica total correspondente a 6.419,62 kcal/h e temperatura de refrigeração de -20oC,

optou-se por utilizar 4 evaporadores do catálogo da empresa especializada Thermokey do Brasil,

modelo PM 130.63, que se adapta a câmara frigorífica projetada. A carga térmica utilizada por cada

evaporador dentro da câmara frigorífica é de 1,9 kW, correspondente a 1634,79 kcal/h.

3.7 CÂMARA FINALIZADA

Após a finalização das etapas, o projeto da câmara frigorifica, realizado em software (SketchUp), é

apresentado nas figuras 5 e 6.

Figura 5. Vista isométrica com destaque ao lado Norte da câmara.

Figura 6. Vista isométrica com corte lado Norte/Leste da câmara.

4. CONCLUSÕES

Com a realização do presente trabalho foi possível evidenciar a importância de realizar um estudo

preliminar para construção de uma câmara de estocagem de sorvetes levando em conta aspectos

legais, normas e cálculos para dimensionamento, tecnologias referentes a materiais construtivos e

equipamentos. O presente trabalho apresenta uma proposta de construção de uma câmara frigorifica

para armazenamento de potes de sorvete de 2 litros, com soluções de empilhamento, disposição dos

pallets dentro da câmara frigorífica e as distâncias necessárias entre os pallets e entre os potes

necessária para o armazenamento. Com tal estudo foi observado que existem legislações sobre

temperatura de trabalho referente a funcionários e também referentes ao produto, além de normas

técnicas sobre a câmara frigorífica, somando estes fatores com os cálculos de dimensionamento é

possível obter o melhor resultado para construção minimizando custos operacionais, assim é

possível resultar em um armazenamento eficaz e estocagem segura do alimento.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto Lei no 986, de 21 de outubro de 1969. Institui normas básicas sobre alimentos.

Diário Oficial, DF, Seção 1, p. 8935.

BRASIL. Resolução RDC no 267, de 25 de setembro de 2003. Regulamento Técnico de Boas

Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Industrializadores de Gelados Comestíveis.

Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388704/RDC_N_267.pdf/6bbd5fab-

2c85-4b80-9c0b-1ad6ea42d5c0> Acesso em: junho 2017.

BRASIL. Resolucao RDC no 266, de 22 de setembro de 2005. Regulamento Técnico para Gelados

Comestíveis e Preparados para Gelados Comestíveis. Disponível em: <

http://portal.anvisa.gov.br/legislacao#/visualizar/27624> Acessado em: junho 2017.

FERNANDES, D.S. Adição de Maltodextrina e Farelo de Mandioca na Formulação de Sorvetes.

Dissertação do Mestrado em Agronomia – Energia na Agricultura – Universidade Estadual

Paulista (UNESP), Botucatu, 2016.

FOUST, A. S.; WENZEL, L. A.; CLUMP, C. W.; MAUS, L.; ANDERSEN, L. B. Princípios das

Operações Unitárias – São Paulo, SP: 1982.

GAVA, A. J.; SILVA, C. A. B.; GAVA J. R. F. Tecnologia de alimentos: princípios e aplicações.

São Paulo: Nobel, 2008.

ISENMANN, F ARMIN. Operações unitárias na indústria química - Timóteo, MG : 2012. 1°

Edição.

SOUSA, A.V.; GOMES, B.C.C.; ZANON, B.S.; GOMES, M.C.; GOMES, M.C.; CARVALHO,

A.L.V. Projeto de Câmara Frigorífica para Armazenamento de Maçãs. Anais do XV CONEMI,

2015.

SOUZA, J.C.B.; COSTA, M.R.; RENENSIS, C.M.V.B.; SIVIERI, Katia. Sorvete – Composição,

Processamento e Viabilidade da Adição de Probiótico. Alimentos & Nutrição, v.21, p. 155-165,

2010.

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QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA PARA CONSUMO DE UMA

UNIVERSIDADE DO OESTE DO PARANÁ

Eleomar de O. P. Júnior1; Isa P.M. Amaro

2; Fabio A. Bublitz Ferreira

3; Valdemar P. Feltrin

4

RESUMO

A água é considerada um recurso finito, e por esse motivo a utilização de maneira consciente torna-

a um indicador de desempenho importante, visto que existe a promoção de uso correto e racional de

tal recurso. Além disso, ela também pode trazer riscos à saúde se for de má qualidade, servindo de

veículo para vários agentes biológicos e químicos. Por este motivo, seis bebedouros, alimentados

por água proveniente de poço artesiano, de uma universidade do Oeste do Paraná, foram utilizados

para serem avaliados com relação a qualidade microbiológica da água de consumo. Foram

realizadas as análises de contagem de bactérias heterotróficas pelo método de laminocultivo

(Aquacult-Laborclin), contagem de heterotróficos em placas, determinação de número mais

provável de coliformes totais e termotolerantes e análise de pH. Os resultados pelo método de

laminocultivo indicaram que somente dois dos bebedouros avaliados apresentaram-se dentro do

limite de 500 UFC/mL de heterotróficos, estipulado pela Portaria 2.914 de 12 de dezembro de 2011,

ANVISA. Além disso, coliformes termotolerantes foram identificados em dois pontos de coleta,

segundo a mesma Portaria a positividade destas análises é inaceitável. Possivelmente, o problema

encontrado na água, está diretamente relacionado a sua origem, e a ausência de tratamento para

desinfecção. Além disso, fatores como manutenção, tempo de vida útil e localidade dos bebedouros,

devem ser levados em consideração para a garantia da qualidade da água para consumo humano.

_____________________________ 1 Eleomar de Oliveira Pires Júnior – Acadêmico do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 2 Isa Paula de Melo Amaro – Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos – Departamento Acadêmico de

Alimentos (DAALM) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Medianeira,

[email protected] 3 Fabio Avelino Bublitz Ferreira – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica

Federal do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected] 4

Valdemar Padilha Feltrin – Professor do Departamento Acadêmico de Alimentos – Universidade Tecnológica Federal

do Paraná – Câmpus Medianeira, [email protected]

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201

Palavras-chave: Heterotróficos, contaminação microbiológica, bebedouros

1. INTRODUÇÃO

A água é de extrema necessidade para a vida, é um recurso indispensável não só para os humanos,

mas também para outros seres vivos, ou seja, é um suporte essencial aos ecossistemas. Com relação

ao consumo humano, a água é retirada de rios, lagos, represas e aquíferos, podendo assim impactar

a saúde, qualidade de vida e o desenvolvimento populacional (SOUZA, 2000).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ―todas as pessoas, em quaisquer estágios de

desenvolvimento e condições socioeconômicas têm o direito de ter acesso a um suprimento

adequado de água potável e segura‖. O termo ―segura‖ refere-se à água que não represente um risco

significativo à saúde, e que se apresente em quantidade satisfatória de acesso, suprindo as

necessidades domésticas e apresente baixo custo (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE

SAÚDE, 2009).

A potabilidade é o índice que garante a qualidade da água. Deste modo, a água distribuída para o

consumo humano deve ser tratada, limpa, e não apresentar nenhum índice de contaminação, seja de

origem química, física, radioativa e microbiológica, ou seja, em hipótese alguma deve apresentar

risco a saúde humana (BRASIL, 2011).

Pode-se alcançar a potabilidade através de diversas formas de tratamento, sendo o mais usual

aqueles que incluem as etapas de coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção e

fluoretação (FREITAS, 2002).

Atualmente a Portaria no

2914 de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, é a responsável

pelo controle e pela vigilância da qualidade da água para o consumo humano, e também visa

garantir o seu padrão de potabilidade. Com relação às características microbiológicas, o Ministério

da Saúde regulamenta, por meio desta Portaria, a qualidade de abastecimento municipal através da

avaliação da presença de bactérias do grupo coliformes, que são as responsáveis por indicar

contaminação por bactérias de origem fecal, incluindo uma ampla variedade de espécies

patogênicas. Além disso, é estabelecido pela mesma legislação um limite de 500 UFC/mL

(Unidades Formadoras de Colônias por mililitro) para bactérias heterotróficas. Outro aspecto a ser

ressaltado, são as metodologias e parâmetros das análises físico-químicas necessárias, que por sua

vez também podem ser encontradas no documento (BRSIL, 2011).

A água pode ser contaminada em diversos modos, desde o seu ponto de origem, passando pelo

processo de distribuição e principalmente, nos reservatórios particulares, onde o índice de

supervisão é menor. As principais causas das contaminações em residências e empresas são a

vedação inadequada das caixas de água e cisternas, a carência de atividade de limpeza e a

desinfecção periódica irregular (GERMANO; GERMANO, 2003).

A utilização da água subterrânea vem sendo questionada atualmente conforme relata a Companhia

Ambiental do Estado de São Paulo. Isso ocorre devido aos fatores históricos, visto que o solo vem

sofrendo frequentes contaminações através do deposito de resíduos gerados por atividades

cotidianas. Porém, a sua capacidade de retenção e depuração dos resíduos não satisfaz as

necessidades atuais. Pois, a sociedade se apresenta um maior crescimento a cada dia, e o solo por

sua vez se torna debilitado por não suportar grande quantidade de resíduos. Assim, apesar de serem

mais protegidas que as águas superficiais, as águas subterrâneas podem ser poluídas ou

contaminadas quando os poluentes atravessam a porção não saturada do solo (CETESB, 2013).

Sabe-se que vários fatores podem comprometer a qualidade da água. O destino final do esgoto

doméstico e industrial, em fossas e tanques sépticos, a disposição inadequada de resíduos sólidos

urbanos e industriais, postos de combustíveis e de lavagem e a modernização da agricultura,

representam fontes de contaminação das águas subterrâneas, por bactérias e vírus patogênicos,

parasitas e substâncias orgânicas e inorgânicas (SILVA; ARAÚJO, 2003).

É muito comum a utilização de água de poços na região Oeste do Paraná onde foi realizado o

estudo, tanto nas áreas urbanas como rurais (LIMA; LOCH, 2014). A popularidade das fontes

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subterrâneas para abastecimento deve-se ao fato de existirem muitas vantagens na utilização desta

água, por exemplo: baixo custo, pois exigem menos construções, retirada próxima ao local de

utilização, facilidade de exploração, bom nível de potabilidade e menor perda por evaporação por

estar armazenada no subsolo (STROPARO, 2004).

Os compostos clorados, devido a propriedades que destroem ou inativam organismos patogênicos e

sua capacidade de efeito residual, são as substâncias mais utilizadas no tratamento da água. A

aplicação do cloro acontece de uma forma simples, visto que os equipamentos utilizados são de

baixo custo e a ação do agente se dá à temperatura ambiente e em um curto prazo de tempo

(TOMINAGA; MIDIO,1999).

Sendo assim, o intuito deste trabalho foi realizar a verificação da qualidade microbiológica da água

disponível para consumo nos bebedouros de maior fluxo de pessoas da instituição de ensino.

2.MATERIAIS E MÉTODOS

A universidade possui um sistema de abastecimento de água proveniente de um poço artesiano,

situado em seu território, classificado como uma Solução Alternativa Coletiva de Abastecimento.

Esta água, por sua vez, é distribuída sem tratamento, através de um sistema de tubulações para

todos os blocos em que se encontram instalados os bebedouros. Dentre eles foram utilizados seis

pontos estratégicos, com maior fluxo de pessoas para a coleta da água. Os pontos foram nomeados

de acordo com a sua localização sendo eles 1. Biblioteca, 2. Restaurante Universitário, 3. Sala de

Estudos, 4. Recepção, 5. Bloco 1 e 6. Bloco 2. As características de filtração e localização dos

bebedouros analisados são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Características relevantes dos bebedouros.

A coleta de amostras em cada um dos bebedouros aconteceu em dois períodos de tempo, espaçados

em 28 (vinte e oito) dias e coletadas no mesmo horário (17h00min). As amostras para análises

microbiológicas foram coletadas de acordo com as normas indicadas no Manual para Orientação

Análise de Água no Instituto Adolfo Lutz (BUGNO et al., 2016).

2.1 Análise de pH

As análises de pH foram realizadas com ajuda de um pHmetro (HANNA, FT-P21), em triplicata, de

todas as amostras coletadas nos seis pontos dispersos pela universidade, segundo as Normas

Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985).

2.2 Análises Microbiológicas

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Inicialmente a qualidade microbiológica da água foi avaliada com o auxílio da técnica de

laminocultivo para contagem de bactérias heterotróficas em amostras líquidas, Aquacult

(Laborclin), em duplicata.

A partir dos tubos com maior crescimento de colônias as análises para identificação dos micro-

organismos foram feitas. A primeira análise de identificação foi iniciada a partir da técnica de

coloração de Gram. Ainda, a partir das colônias desenvolvidas nos frascos de Aquacult, a

determinação de coliformes totais, coliformes termotolerantes e a contagem padrão em placas

UFC/mL foram realizadas.

A determinação de heterotróficos em ágar PCA foi realizada como método confirmatório para as

placas de Aquacult que apresentaram desenvolvimento de colônias. Para esta análise utilizou-se o

método de contagem padrão em placas UFC/mL.

Para a análise de coliformes totais e termotolerantes, utilizou-se a técnica do número mais provável

(NMP) para amostras de água. Estas análises foram coletadas em duplicata, e para todas as análises

microbiológicas, a metodologia utilizada se encontra descrita no Manual de Métodos de Análise

Microbiológica de Alimentos e Água (SILVA et al., 2010).

2.3 Tratamento Estatístico

Para a análise estatística dos dados de pH, foi realizado a análise de variância (ANOVA), e teste de

Tukey, com nível de significância de 95% (p>0,05), com o auxílio do programa estatístico Minitab

(Minitab Inc., Pensilvânia – EUA), versão 17.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análise de pH

O pH é um dentre muitos dos testes físico-químicos exigidos conforme a legislação brasileira. Deste

modo, as duas baterias de amostras de água coletadas, foram submetidas às análises de pH, em

triplicata. Em seguida, a média dos resultados foram calculadas e apresentadas conforme a Tabela

2.

Tabela 2: Resultado da análise de pH dos pontos de coleta.

*RU: Restaurante Universitário

**Média ± Erro padrão da média; **Letras iguais, minúsculas na mesma linha e

maiúsculas na mesma coluna, indicam não haver diferença significativa ao nível de

5% de probabilidade entre as amostras.

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O pH da água potável para consumo humano deve ser mantido na faixa de 6,0 a 9,5 (BRASIL,

2011) conforme Portaria 2914, de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde (MS). Logo,

todas as amostras analisadas apresentaram conformidade perante a legislação. Analisando as

amostras, observa-se que tanto o Bloco 2 como a Sala de Estudos foram estatisticamente diferentes

nos dois tempos analisados. Com relação a análise entre os diferentes pontos de coleta, verifica-se

que o Bloco 2 apresentou diferença significativa (nível de significância de 5%) de todos os demais

pontos de coleta. Esta análise indica que no ponto de coleta Bloco 2, houve variação do pH da água,

tanto com relação ao tempo entre as análises, quanto na comparação com os demais pontos de

coleta analisados. Desta forma, pode-se inferir a possibilidade de existência de interferentes

indesejáveis neste ponto.

3.2 Análises Microbiológicas

3.2.1 Teste de Laminocultivo

Seguindo o planejamento experimental, foram realizadas duas coletas de amostras de água para

execução do método Aquacult, dando início aos testes microbiológicos quantitativos. Os resultados

foram expressos conforme a tabela 3.

Tabela 3: Contagem de microrganismos, em duplicata, por local de coleta pelo método Aquacult.

*RU: Restaurante Universitário

De acordo com a legislação brasileira o limite máximo para a contagem de bactérias heterotróficas

não deve ser superior a 500 UFC/mL (BRASIL, 2011). Entretanto, pode-se observar na tabela 3,

que os resultados obtidos, para o Bloco 2, Restaurante Universitário e também para a segunda

coleta de amostras da Biblioteca, não apresentaram conformidade com parâmetro estabelecido. As

demais amostras apresentaram resultados menores que 10³ UFC/mL, sendo este o limite de

detecção do método. Desta forma, podem estar dentro do parâmetro estabelecido pela legislação.

3.2.2 Contagem de heterotróficos em placa

A determinação de heterotróficos pelo método de contagem padrão em placas UFC/mL, foi

realizada nos laminocultivo que apresentaram desenvolvimento de colônias, os resultados estão

expressos na Tabela 4.

Tabela 4: Contagem padrão em placas UFC/mL para heterotróficos em água para consumo humano

por local de coleta.

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*RU: Restaurante Universitário

Na tabela 4, pode-se observar que as amostras coletadas nos bebedouros do Restaurante

Universitário (RU), Bloco 2, Sala de Estudos e Bloco 1 apresentaram contagem de bactérias

heterotróficas acima do limite previsto pela legislação. Dentre todas as amostras, percebe-se que os

resultados para o Bloco 2 e RU são os que mais divergem do limite máximo permitido. Além disso,

se comparados com os resultados da Tabela 3, podemos concluir que as amostras analisadas pela

contagem padrão em placas UFC/mL confirmam os resultados obtidos pelo método Aquacult.

3.2.3 Coloração de Gram

A análise de coloração de Gram, indicou predominância de micro-organismos Gram negativos, não

esporulados, com variações em suas morfologias, entre elas a forma bacilos. Esta morfologia é

típica de algumas bactérias entéricas, do grupo Coliformes, como Escherichia coli.

3.2.4 Análise de Coliformes

Conforme o Anexo I da Portaria 2.914 de 12 de dezembro de 2011, da ANVISA, não é permitido a

presença de coliformes totais e/ou termotolerantes na água, e caso ocorra o aparecimento destes

microrganismos a água se caracteriza como não potável. Deste modo, foram realizadas análises pelo

método NMP para confirmar a presença destes microrganismos. Os resultados encontrados estão

descritos na Tabela 5.

Tabela 5: Resultado de coliforme totais e termotolerantes por NMP/100 mL.

*RU: Restaurante Universitário

**NMP: Número mais provável

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Os dados obtidos nos pontos de coleta, Sala de Estudos, Biblioteca, Bloco 2 e R.U, indicaram

presença para coliformes termotolerantes, não estando de acordo com as exigências da legislação. A

presença desses microrganismos, possivelmente justifica-se pelo fato de que a água que abastece a

universidade pode estar sendo contaminada por resíduos de origem fecal. Esta água é proveniente

de uma fonte alternativa de abastecimento (poço artesiano) e não é submetida às análises de

monitoramento e verificação, assim como, tratamento de desinfecção.

Os bebedouros da Recepção e Bloco 1 possuem sistemas de filtração. Esses sistemas, possivelmente

contribuíram para a ausência de bactérias do grupo coliformes nas amostras analisadas. Os

resultados apresentados nestes pontos estiveram de acordo com a legislação, tanto para

heterotróficos quanto para coliformes, mantendo-se dentro do padrão de contagem que garante a

potabilidade da água.

Os resultados acima do valor permitido para coliformes, assim como a suspeita de presença de

Escherichia coli encontrada na coloração de Gram, confirmaram uma necessidade de um estudo

mais aprofundado no manancial subterrâneo, para que posteriormente a cloração obrigatória seja

implantada em todo o sistema de distribuição. De outra forma, devido à suspeita desta bactéria,

análises mensais, além das semestrais obrigatórias previstas na legislação, devem ser adotadas no

ponto anterior ao local de desinfecção da água, para garantia de sua qualidade de consumo.

Vale salientar, que compete ao responsável pelo sistema ou solução alternativa de coleta de água,

fatores como, a garantia e o controle da qualidade da água, a manutenção das instalações e rede de

distribuição, assim como a capacitação e a atualização de técnicas de todos os profissionais que

atuam de forma direta no fornecimento e controle de qualidade da mesma.

4. CONCLUSÕES

A análise da qualidade microbiológica da água de bebedouros em uma universidade do Oeste do

Paraná foi realizada com o objetivo de observar o padrão de potabilidade da mesma, de acordo com

a legislação vigente. A universidade estudada possui abastecimento de água a partir de poço

artesiano (Solução Alternativa Coletiva de Abastecimento), com isso, o contato direto com o solo é

iminente e a contaminação desta água depende das relações com o terreno em que se encontra. O

monitoramento do pH da água indicou resultados satisfatórios, permanecendo dentro do limite

regulamentado. Para a análise de Contagem de Heterotróficos, 66,67% da coleta estiveram fora dos

parâmetros preconizados pela legislação (acima de 500 UFC/mL). Já para a determinação da

presença de bactérias do grupo coliformes, 66,67% dos pontos de coleta estudados apresentaram

presença de coliformes totais e termotolerantes, nestes pontos a água foi classificada como não

potável. A presença deste tipo de contaminação é inaceitável e indica a possibilidade de

contaminação da água por material fecal, possivelmente oriundo de esgoto doméstico. Os

parâmetros estudados, assim como as recomendações para as ações que devem ser tomadas em

casos de contaminação da água são regulamentadas pela Portaria no

2914 de 12 de dezembro de

2011, do Ministério da Saúde.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria n 2.914 de 12

de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da

água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Diário Oficial da União de 16/12/2011,

Seção 1, pág. 266, 2011.

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