ANAIS XXVII EEEE
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XXVII Encontro Estadual de Entidades Ecológicas
Viamão e Porto Alegre,
10 e 11 de novembro de 2007.
ANAIS
organização
Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul
C oor d e n aç ão n o B iê n io 2008 - 2009
I n s t i t u to Gaú c h o d e E s t u d os Am b ie n ta i s – In G á
N úc l e o Am igos d a T e r r a B r as i l – NA T /B r as i l
S oc i e d ad e A migos d a Águ a L im p a e d o Ve r d e - S AA LV E
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C O N T E Ú D O
1. Agradecimentos.............................................................................................4
2. Apresentação................................................................................................. 5
3. Localização.................................................................................................... 6
4. Programação................................................................................................. 7
5. Metodologia................................................................................................... 9
6. Participantes do evento.............................................................................. 11
7. Abertura Oficial..........................................................................................13
8. Análise da Conjuntura da Política Sócio-Ambiental Brasileira e Gaúcha.......................................................................................................................... 15
9. Representação Política – Diálogo I............................................................20
10. Captação de recursos financeiros - Diálogo II....................................... 24
11. A Comunicação e o Movimento Ecológico - Oficina............................. 28
12. Rumos do MEG 2008 - Carta de Análise Interna..................................29
13. Análise da Conjuntura das Políticas de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Carta Aberta ................................................................. 31
14. Moção I...................................................................................................... 39
15. Moção II.....................................................................................................40
16 Anexos.........................................................................................................41
...Anexo 1. Subsídios para a Reflexão e Ação do MEG - CEA................... 41
...Anexo 2. Documento CEA.......................................................................... 47
...Anexo 3. Relatório Resumido de Atividades do CEA.............................. 51
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1 . A G R A D E C I M E N T O S A APEDeMA agradece às seguintes entidades e pessoas, que
colaboraram para a realização do encontro:
Secretaria Municipal do Meio Ambiente, de Porto Alegre
(SMAM), em particular à administração do Parque Saint'Hilaire e à sua
equipe;
Conselho Viamonense de Meio Ambiente (COVIMA);
Palestrantes colaboradores;
Todas as organizações e pessoas que se fizeram presentes.
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2 . A P R E S E N T A Ç Ã O Este documento apresenta os anais do XXVII Encontro Estadual de
Entidades Ecológicas, realizado nos municípios de Viamão e Porto Alegre,
entre os dias 10 e 11 de novembro de 2007.
Os textos aqui reunidos apresentam:
- A estrutura do evento (pontos 3 a 5)
– Os diálogos estabelecidos entre participantes do evento (pontos 6 a 10)
– Os produtos do evento, sendo estes uma carta interna ao movimento
(Rumos do MEG) e uma carta aberta (Análise da Conjuntura das
Políticas de Meio Ambiente e Desenvolvimento)
Os locais do evento, entre Viamão e Porto Alegre, representam a
intenção de equilíbrio entre o rural e o urbano, político e prático,
tecnológico e filosófico, além de restrições de horário no Parque.
O presente documento foi elaborado pelo Instituto Gaúcho de Estudos
Ambientais, na figura dos seguintes membros:
Tiago Eduardo Genehr – edição e diagramação
Vicente Rahn Medaglia - revisão
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3 . L O C A L I Z A Ç Ã O
P a r q u e N a t u r a l S a i n t ´ H i l a i r e
Endereço: Avenida Senador Salgado Filho, 2744,
Parada 38
Viamão – RS
I n s t i t u t o G a ú c h o d e E s t u d o s A m b i e n t a i sEndereço: Avenida Protásio Alves, 3679 / 301
Bairro Petrópolis
Porto Alegre – RS
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4 . P R O G R A M A Ç Ã O
S Á B A D OLocal: Centro de Visitantes do Parque Saint´Hilaire, Viamão
8:45 Cerimônia de Abertura Oficial
APEDeMA - Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio
Ambiente
COMAM - Conselho Municipal de Meio Ambiente (Porto Alegre)
COVIMA - Conselho Viamonense de Meio Ambiente
10:00: Intervalo
10:15: Análise da Conjuntura da Política Sócio Ambiental Brasileira e
Gaúcha. Apresentação: Paulo Brack (InGá)
12:00 Almoço
13:45 Diálogos - Organização e Articulação do MEG (simultâneos)
1. Representação Política
Edi Fonseca (AGAPAN) – Histórico do MEG em órgãos colegiados
2. Captação de Recursos Financeiros
Lúcia Ortiz (NAT) – Instituções Financiadoras
Georgina Buckup (Igré) – Fundo Nacional do Meio Ambiente
Franco Werlang (Fundação Gaia) – Fundo Municipal de Meio Ambiente (POA)
17:30 Intervalo e deslocamento do Parque Saint'Hilaire para Porto Alegre
Local: Sede do InGá – Porto Alegre
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18:30 Apresentação Artística
Contação de Histórias do Programa Camboim de Educação Ambiental (InGá)
19:00 Oficina - Comunicação no Movimento Ambientalista – Núcleo de
Eco Jornalistas
Apresentação: Júlio Oliveira e Taís Silva
20:30 Janta
D O M I N G OLocal: Sede do InGá – Porto Alegre
07:30 Café da Manhã
08:45 Encaminhamentos e Elaboração dos documentos - "Rumos do MEG 2008"
12:15 Cerimônia de Encerramento
12:30 Almoço
15:00 Abraço ao Parque Natural Morro do Osso
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5 . M E T O D O L O G I A
O XXVII Encontro Estadual de Entidades Ecologistas pretendeu
ser um evento produtivo. Para tanto, foi pensada a seguinte metodologia de
trabalho: O produto final do evento foi, entre outros, o documento “Rumos
do MEG 2008”. Foram elaborados coletivamente, no domingo pela manhã,
e tiveram como subsídio a reflexão do dia anterior. Nesse sentido:
O início dos trabalhos, após a abertura do evento, contou com uma
apresentação tratando de uma análise preliminar da conjuntura política
sócio-ambiental gaúcha e brasileira. Essa apresentação teve por base, entre
outras fontes, o Encontro Temático sobre Política Ambiental promovido
pela APEDeMA em 19 de outubro e a participação no Encontro Nacional
do FBOMS de 26 a 28 de outubro. A partir daí, foram abertos os diálogos
entre os participantes pelo restante do tempo deste momento.
Os Diálogos (sábado das 13:45 às 17:30) foram desenvolvido em dois
grupos concomitantes. Em cada um, aconteceram apresentações de 15
minutos, seguidas de diálogos sobre as temáticas propostas: Representação
Política e Captação de Recursos Financeiros. Em função do horário de
funcionamento do Parque Saint'Hilaire (até às 17:30), o público se
deslocou até o prédio onde se localizava a sede do InGá, onde se deu
continuidade aos trabalhos do dia: a apresentação artística de educação
ambiental com o Programa Camboim do InGá; e oficina sobre
Comunicação Ambiental, com o Nùcleo dos EcoJornalistas.
As atividades que ocorreram no Domingo tiveram como objetivo a
produção dos documentos que sintetizem o pensamento coletivo no
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encontro de entidades. O Documento de análise interna, intitulado
“Rumos do MEG” e uma carta aberta a sociedade, denominada “Análise da
Conjuntura das Políticas de Meio Ambiente e Desenvolvimento". Após
este trabalho, que ocorreu em Porto Alegre, na sede do InGá, os
participantes do evento foram convidados a participar da cerimônia Abraço
ao Parque Natural Morro do Osso, o que infelizmente não ocorreu, devido
ao fato de os trabalhos terem avançado no tempo.
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6 . P A R T I C I P A N T E S D O E V E N T O
Entidade Participante
ABES Paulo Robimson Samuel
AGAPAN Sandra Jussara Mendes Ribeiro
AGAPAN Edi Xavier
APENAS Carlos Bartz Moreira
APTA Clóvis Airton Braga
APTA Ilgo João Koppliin
ASPAN Igor Doyle Paes
CAATIBATAN Maurício Damasceno
CAATIBATAN Marcelo Sbaraini
CAATIBATAN Giovana Reis Ghidini
CAATIBATAN Cássio Becker
CÂM. DE VEREADORES DE VIAMÃO Belini Romanzini
CAMP Leonardo Toss
CAMP / GAB. VEREADOR BELINI João Maurício Farias
CEA Anderson Alexis
ECOARTE Joseane Lemmertz
FUNDAÇÃO GAIA Franco Werlang
IGRÉ Ludwig Buckup
IGRÉ Georgina Buckup
INCOMUN Heverton Lacerda
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INGÁ Mateus Raymundo das Silva
INGÁ Vicente Medaglia
INGÁ Tiago Eduardo Genehr
INGÁ Paulo Brack
INGÁ Cristiano Hickel
MOVIMENTO ROESSLER Mauro Moeller
NAT Ana de Araújo Carrion
NAT Elisângela Soldateli Paim
NAT Eliege Fante
NAT Maria da Conceição Carrion
NAT Lúcia Ortiz
NAT / NEJ / PANGEA João Batista Santafé Aguiar
OAB/RS Cristiano Ribeiro
REDE BIOMA PAMPA Eduino de Mattos
SAALVE Valério da Cunha Oliveira
SAALVE Carlos Marchiori
UFPEL Wilson de Oliveira
UFPEL Daísa Brandão
UFPEL Camila Goulart
UFRGS/PGDR Simone Azambuja
ULBRA - Canoas Carlos Carvalho
Débora Cristina da Silva
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7 . A B E R T U R A O F I C I A L Local: Parque Saint´Hilaire
Compondo a mesa: Conceição Carrion, NAT; APEDeMA-RS
Beto Moesch, SMAM; COMAM, Porto Alegre
Valério da Cunha, Saalve e COVIMA
Conceição Carrion, ao abrir os trabalhos da mesa, na abertura do
evento, agradece aos presentes, lembrando a homenagem às mulheres e aos
ambientalistas na forma de violetas roxas, que adornam a mesa.
Lembrando o histórico da APEDeMA e seus princípios, desde sua criação,
fortalecidos pelos Encontros Estaduais, Conceição reflete sobre o contexto
atual, em meio aos problemas ambientais no Rio Grande do Sul, a partir
das monoculturas para exportação, indústria coureiro-calçadista,
agrotóxicos e fertilizantes químicos da Revolução Verde e ameaças às
matas nativas. Conclui dizendo que a questão ambiental, hoje não é só dos
ambientalistas, mas atinge a todos, e principalmente os menos favorecidos.
Nas palavras do índio gaúcho Sepé Tiarajú, “Esta terra tem dono!”
Beto Moesch, secretário de meio ambiente de Porto Alegre, saúda os
presentes, contente com a mistura do pessoal mais jovem com os mais
experientes. Lembra que a SMAM, primeira secretaria de meio ambiente
no país, também é fruto do movimento ambientalista, que teve como um
dos principais expoentes em José Lutzemberger, fundador da AGAPAN.
Entendendo o recado transmitido pela Conceição, Beto ressalta que daqui a
50 anos o discurso vai ser o mesmo. O secretário elogia as instalações do
Centro de Convivência do Parque Saint Hilaire, financiado pelo FNMA,
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explicando que o Parque, apesar de ter 89% de seu território no município
de Viamão, o Parque é administrado pela Prefeitura de Porto Alegre. Ao
concluir, divulga o Fundo Municipal Pró Ambiente, antes uma caixa-preta,
agora, gradualmente sendo aberto. Gerido pelo Conselho de Meio
Ambiente, o Fundo dispõe de verbas para projetos ambientais.
Valério da Cunha, falando pela Saalve e COVIMA, ressalta a
importância de fazer o XXVII EEEE em Viamão, município se
candidatando para efetuar o licenciamento ambiental local. Afirma a
importância de efetivar a APA do Banhado Grande, questão ignorada
sistematicamente pelo governo estadual. Valério ressalta a importância de
abrir as caixas pretas, de acessar os fundos ambientais, e propõe a
ampliação do papel da APEDeMA, fomentando a profissionalização do
movimento ecológico.
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8 . A N Á L I S E D A C O N J U N T U R A D A P O L Í T I C A S Ó C I O - A M B I E N T A L B R A S I L E I R A E G A Ú C H A
Local: Parque Saint´Hilaire
Apresentação: Paulo Brack (InGá)
Na manhã do primeiro dia do XXVII Encontro Estadual de Entidades
Ecológicas, após a mesa de abertura oficial, o Prof. de Botânica da
UFRGS, integrante do InGá, Paulo Brack, expõe, a título de
contextualização, a apresentação:
Biodiversidade e Sustentabilidade – Cegueira Imediatista.A Biodiversidade, questão central da ética, tem suas dimensões
representadas pela Cultura da Terra, a Ecologia e Sustentabilidade, e bens
para o desenvolvimento. No modelo atual de desenvolvimento, que prega a
expansão das economias nacionais, com a crescente demanda de energia, a
biodiversidade representa um empecilho à uniformidade da economia de
grande escala. A questão ambiental, mais profunda que a mera valoração, é
uma questão ética. Na antiguidade, ainda que os povos não tivessem
teorias elaboradas em relação à natureza, predominava outra relação com a
terra. E a cultura do povo está intimamente relacionada com a Terra. Hoje
em dia, deveríamos trocar o símbolo do gaúcho pela figura do serrador de
eucalipto. Em nível nacional o contexto é o mesmo, desenvolvimento
significa fumaça. O Brasil, além de ser um campeão em mega diversidade,
também acumula o troféu de 4º lugar nas emissões de gases de efeito
estufa.
O país passa por situação de calamidade, políticas públicas que
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deveriam proteger as comunidades e a biodiversidade, acabam estimulando
iniciativas de alto impacto, a exemplo do Programa Bolsa-Família, qu
acaba por deixar as pessoas passivas, menos conectadas com a floresta e
mais dependente dos mercados. As monoculturas, ocupando o espaço de
matas nativas, na caatinga, no cerrado, na floresta amazônica, acabam
trazendo outros tipos de violência, pois as maiores taxas de homicídio
estão no centro-oeste, no arco do desmatamento. A silvicultura destrói
mangues com a anuência dos órgãos ambientais, dentro de pacotes
fechados de desenvolvimento, gestados de forma rápida e unilateral, sem
diálogo com as comunidades locais. A mata atlântica sofre com a
instalação de mega pasteiras de celulose, cuja produção é 98 % voltada
para a exportação.
A situação é alarmante no Alto Uruguai, divisa do RS com SC, região
que concentra alto grau de endemismo de espécies associadas à rochas, sob
ameaça de desaparecer com a instalação de novas barragens de
hidrelétricas. No Vale do Taquari, das 54 barragens programadas, 17
foram consideradas inviáveis a partir do estudo ambiental integrado,
realizado por demanda da CONFEMA. Fato constitui um triunfo da
participação popular.
Algumas ongs e redes famosas no ambientalismo, ao receber
financiamento de grandes empresas, se calam em relação a danos
coletivos, garantindo recursos para seus projetos. Através da compra de
espaços publicitários, grupos econômicos calam a imprensa também,
manipulando o editorial dos grandes veículos de comunicação.
Ao relatar a experiência do CTNBio, em que o prof. Paulo participa,
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se verifica que a intenção é liberar os transgênicos de qualquer forma.
Biossegurança é uma piada, pois dois terços dos técnicos do Comitê são
pesquisadores que trabalham com biotecnologia, e dependem das empresas
para financiar suas pesquisas. Este ano, alterações aprovadas pelo CTNBio
incluem a diminuição da área de amortecimento em plantações
transgênicas, de 10km para 500 m; diminuição de barreiras para a
importação de agrotóxicos; revelando interesses mútuos entre o governo e
as empresas multinacionais. Assim como a Monsanto se associa ao
governo federal, comprometendo interesses coletivos em favor do lucro, a
Aracruz está inserida na agenda do geverno estadual. Ainda que o estado
possua centenas de espécies nativas com potencial de geração de renda, o
projeto da silvicultura de eucalipto em grande escala ameaça a diversidade
cultural e biológica da região.
Após a apresentação, os presentes no evento tecem seus comentários,
registrados em seguida:
Eduíno Mattos, que participa do Comitê do Lago Guaíba, relata
participação no Encontro Nacional dos Comitês de Bacia, onde estava
presente o Sr. Melo, titular da recém criada secretaria fantasma de
irrigação, fazendo lobby pelo governo do estado.
Georgina Buckup informa sobre os problemas decorrentes da
carcinocultura, atingindo os caranguejos do mangue pela poluição das
águas. Problema social que atinge grande população. Sobre Paiquerê,
Georgina informa a existência de levantamentos dos sítios arqueológicos –
42 sítios registrados nos arredores do rio onde está projetada a usina,
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incluindo inscrições rupestres que poderiam inclusive constituir fonte de
renda para a comunidade local, desde que preservadas.
Ludwig Buckup informa sobre a opinião pública a favor da usina, por
parte dos proprietários beneficiados pelas futuras compensações
ambientais na região.
Conceição Carrion fala da necessidade de conscientização da
população em relação ao consumo. Princípios de precaução e de
preservação dos recursos são ignorados quando CONSEMA libera o
licenciamento, pois as grandes empresas se instalam aqui, com grandes
subsídios econômicos, exportando nossos recursos para longe.
Tiago Eduardo fala que, apesar da crise generalizada do MEG, não se
abriu mão dos princípios, da clareza de objetivos, e do caráter guerreiro do
movimento ecológico. Diferente do movimento político-partidário, ou do
movimento estudantil, o MEG escolheu o caminho da autonomia de ação.
Ludwig Buckup ressalta a necessidade de qualificação técnica dos
movimentos, pois é essencial a análise de documentos públicos como os
EIAs e RIMAs dos empreendimentos.
Vicente Medaglia, ressaltando a importância da dimensão filosófica
no discurso ambientalista, chama à atenção a importância de se ter clareza
sobre os fatos e divulgá-los amplamente. O modelo de sociedade e de ser
humano é irracional e irresponsável. Se prega o crescimento ilimitado,
sabendo que a biosfera tem limites. Vivemos uma psicopatologia social,
branca, machista, pretensamente detentora da racionalidade, fundamentada
no egoísmo. Não há resposta aos questionamentos dos ambientalistas sobre
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os limites do crescimento.
Carlos Marchiori anuncia que a FEPAM vem se tornando um órgão
meramente burocrático, fomentando a indústria do EIA RIMA, permitida
pelo licenciamento local. Importante denunciar os profissionais
responsáveis por tais atos. Carlos relata a vitória no caso da empresa
EXXON, na tentetiva de instalar uma planta industrial em plena APA do
Banhado Grande. Saalve critica o desmanche dos órgãos ambientais, e
informa as mudanças na forma de participação nas audiências públicas.
Ressalta a necessidade de qualificação técnica do movimento
ambientalista.
Ludwig Buckup informa da possibilidade de denúncias junto aos
órgaõs ambientais – DEFAP, Brigada Ambiental, pois a PATRAM não tem
condições de percorrer todo o estado para a verificação de irregularidades.
Franco Werlang ressalta a necessidade de qualificação tecnico-
científica, e também organizacional das entidades. Entender os fluxos e
saber como atender a realidade. Existe dedicação nas pessoas engajadas no
ambientalismo, mas falta qualificação. Legislação ambiental complexa
permite que oportunistas ganhem dinheiro, fazendo contra-serviço à
questão ambiental. É preciso ter visão sistêmica.
Belini Romanzini, vereador do município de Viamão, comenta o
crescimento econômico e apropriação das empresas nas instâncias
públicas. ONGs precisam de instrumentos para este diálogo. Sugere que o
dinheiro advindo dos licenciamentos sirva para estruturar os parques
naturais da região.
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9 . R E P R E S E N T A Ç Ã O P O L Í T I C A – D I Á L O G O I Edi Fonseca, da AGAPAN, inicia o diálogo, falando sobre sua
experiência no Movimento Ecológico Gaúcho (MEG), em relação ao
diversos espaços de participação da sociedade civil organizada. Começou a
participar internamente, nas palestras, e depois institucionalmente, nos
fóruns e conselhos.
Ao comparar o Conselho Estadual de Meio Ambiente com o Conselho
Estadual de Saúde, verifica que este último apresenta maior paridade entre
os setores e eleições mais democráticas. CONSEMA tem situações
distorcidas, aonde entidades como CREA, EMATER, FAMURS aparecem
como organizações não governamentais. Fica mais fácil para o governo,
aliado com o setor produtivo, para dominar as votações. O mesmo ocorre
em diversos níveis: COMAM, CONSEMA, CONAMA. Nas câmaras
técnicas, havia paridade, mas hoje não mais, elas estão inchadas,
prejudicando o debate, pois ali está o corpo técnico, não político.
Quando foi criado o Conselho Municipal de Meio Ambiente, se
acreditava que a política ambental da cidade passaria pelo COMAM, mas
ainda existem órgãos no DMAE e outros que tratam da questão ambiental
Comitês de Bacia são uma conquista do MEG dos anos 90, aonde
existe paridade e discussões democráticas, a exemplo do COMITESINOS,
primeiro do Brasil, onde há forte participação do Movimento Ecológico.
Ainda menciona como espaços de articulação a RMA – Rede Mata
Atlântica, Rede contra o Deserto Verde, ABONG, FBOMS e redes
internacionais.
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Ao avaliar o CONSEMA, Edi ressalta a grande responsabilidade de
assumir posição num colegiado como este. Existem reuniões mensais e
ainda as câmaras técnicas. É necessário se aprofundar em vários assuntos e
se articular com entidade que atuam na área. Ainda por cima, lidar com
interesses pessoais que acabam prevalecendo na hora das votações, ainda
que se concorde com os prejuízos visíveis.
No CONSEMA, existe unidade nas votações entre membros do MEG,
existe confiança na área de conhecimento de cada um. No CONAMA isto
não existe, há grande diferença nas atuações dos gaúchos em relação aos
outros. Existe disputa, mesmo entre as ongs, para votar em conjunto.
Apesar da sensação de estar “dando murro em ponta de faca”, Edi avalia
que, ainda assim, são espaços importantes politicamente para a
participação nas políticas públicas ambientais.
Vicente Medaglia, relatando derrotas sistêmicas em espaços como
CONSEMA, questiona a forma de organização da APEDeMA, como órgão
articulador, não representativo. Isto foi deliberado para evitar a
centralização / monopolização do MEG. Existem ongs grandes e pequenas,
com diferenças na bagagem histórica e na capacidade de mobilizar
recursos. No CONSEMA, atuação não é consistente. O trabalho está
apoiado na disposição voluntária das pessoas, é importante trazer recursos
para garantir a manutenção.
A seguir, comentários colocados pelos presentes, registrados aqui e
não necessariamente consensuados pelo grupo.
É importante fortalecer o papel da APEDeMA, no sentido de frear o
caos do licenciamento ambiental, feito sem critérios técnicos, necessidade
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de profissionalização. Maurício, a partir do histórico de criação dos
comitês de bacia, indica como saída da crise organizacional, ampliar a
relação com as comunidades, pois o Movimento aborda principalmente os
aspectos técnicos e ganha com uma maior organização popular.
Existe desigualdade nos conselhos, a maioria dos representantes é
“chapa branca”, do governo, é importante ter recursos para organização do
colegiado, promover eventos e apoiar deslocamentos. A luta é desigual,
falta articulação entre as ongs ambientais e destas com os movimentos
sociais, pois estão todos ocupados em suas lutas, e poucos se dedicam à
articulação política. Falta de ação mais radical do movimento
ambientalista, dificuldade em sair da teoria para a prática, que gera
resulatdos.
APEDeMA não é hierárquica e deve continuar assim. Pode ter força
como tal e tem que profissionalizar, tendo assim recursos para trabalhar.
Há quem se coloque contra a profissionalização, dizendo que a
sociedade deve se mobilizar pela qualidade ambiental como um todo, papel
de todo cidadão, e não sobreviver da luta ambientalista.
É necessária a formação dos ambientalistas, englobando aspectos de
gestão de voluntários. A visibilidade política se intensificou na
representação em colegiados públicos, a partir da Lei Nacional dos
Conselhos, que traz voz e voto para a sociedade civil. Com a
redemocratização do Brasil, ocorre a cooptação de ambientalistas para
trabalhar no governo, enfraquecendo as lutas de base. Na década de 80
ocorre uma polarização em torno da questão da caça, e define-se como
organização ambientalista aquela que tem como prioridade a questão
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ambiental. A representação política é confusa, com número pequeno de
voluntários e pouco apoio técnico. É importante manter os princípios da
APEDeMA quanto ao que é ong ambientalista. O contexto hoje é diferente
do passado, mas é importante manter a identidade. É importante se
organizar internamente, na forma de eleições, movimento de organização
de voluntários, articulação com outros movimentos e valorização da base
teórica.
Importante, para ser efetivo, o trabalho político e projetos concretos,
como em agricultura.
Ainda que não haja hierarquia, nas falas se percebe outra coisa,
importante pensar numa proposta de financiamento público para as ongs,
pois existe dinheiro disponível, mas com a baixa profissionalização,
ocorrem brigas entre ongs para receber recursos. Importante equilibrar
argumentos técnicos, sem perder o viés político. Informações importantes
devem circular entre as organizações.
É importante revisar os critérios da APEDeMA, mas não abrir mão
dos princípios. É preciso dinheiro para prover a militância em tempo
integral, ocupar as câmaras técnicas. O ponto da profissionalização deve
ser tratado com profundidade. O MEG precisa de corpo jurídico eficiente e
equipe técnica.
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1 0 . C A P T A Ç Ã O D E R E C U R S O S F I N A N C E I R O S - D I Á L O G O I I Local: Parque Saint´Hilaire
Lúcia Ortiz, da ong Amigos da Terra - Brasil, citou que existem
fundos de investimento internacionais (Por exemplo, 0,5% do PIB da
Holanda é dedicado para fins de cooperação Internacional. Embaixadas
também trabalham com isso, e a Suíça e outros países criaram inclusive
agências especializadas para isso. Nos EUA, existem fundações
independentes, formadas por empresas e pessoas físicas, algumas muito
antigas como a Fundação Ford. Em 1950 ela começou a atuar na área
ambiental. A mesma colocou também, que o trabalho do ambientalista
deve ser valorizado do ponto de vista financeiro e profissional.
As diferentes categorias de fundos ou recursos são as seguintes:
Recursos ONG´s
-sócios/doações
-Fundos difusos
-governos
-empresas
-Serviços
-fundações de pesquisa
Cooperação internacional
- Governos
- Ministérios
- Agências
- Fundações
O Global Greengrants Fund – GGF – oferece recursos de até 5.000
dólares com as seguintes modalidades: apoio institucional, apoio
emergencial, apoio estratégico.
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O GGF no Brasil possui um conselho (que gerencia através de
empresas e outros) o qual se constituiu no CASA – Centro de Apoio
SocioAmbiental. O CASA funciona através de uma composição com
representatividade regional com diferentes redes e temas. Tem equilíbrio e
diversidade. Sites relacionados: www.ggf.org ou www.casa.org.br. O
CASA não pode apoiar uma instituição por mais de dois anos. Existe
modelo de projeto a ser seguido – é uma ajuda para ONG se estruturar ou
um fundo para apoios emergenciais. Fundação MOT é uma ampliação do
GGF .
Existe um conselho que indica os projetos a serem apoiados (formado
por ativistas brasileiros, do qual a representante Lúcia Ortiz, da ong
Amigos da Terra – Brasil, faz parte). Recebe de 200.00 a 300.000 dólares
por ano divididos em doações de 5.000 dólares.
A ONG Amigos da Terra já recebeu doações dessas Fundações, que
normalmente direcionam para a ong que lhe interessa ou para um
determinado setor que interessa ao país de origem (através das Agências).
Num segundo momento, Franco Werlang falou sobre como nos vemos
como tomador de recursos e como se olha o doador de recursos. Segundo
o mesmo, não precisamos de recursos, dinheiro tem sobrando, ao mesmo
tempo temos um Conselho de Meio Ambiente que não funcionava bem.
Hoje, para a continuidade do mesmo é necessário que a sociedade cobre
dele o que ele faz. O Conselho não tem gerência sobre o Fundo de Meio
Ambiente. Levamos 4 anos para saber o que estava sendo feito com os
recursos. Queremos que os recursos sejam liberados. Entidade deve
receber o dinheiro diretamente pois não temos notas. Atualmente tem mais
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de 5 milhões de reais nesse fundo. O Secretário de Meio Ambiente pediu
dinheiro para acertar o fluxo de caixa dele para receber liberação do BID.
Existe briga por um decreto de administração do fundo (pressão sobre a
Secretaria da Fazenda).
A SMAM tem que apresentar ao CONAMA as diretrizes gerais que
vão para o órgão de controle. 20% dos recursos devem ir para as diretrizes
gerais, ou seja, para as ong´s que trabalham em POA. Ano que vem terá
recursos de 1.700.000 reais. Vinte por cento do mesmo vai para educação
ambiental. Existe recurso e precisamos mostrar qual é o nosso serviço.
Precisamos de movimentação para assumir esse fundo. É necessário que o
movimento ambiental mostre as pessoas que gerem esse processo no
município o que desejam delas. O Fundo Municipal Ambiental pode doar
ou direcionar dinheiro a qualquer entidade pública ou privada.
Houve uma proposta de um representante de Canoas de criar uma rede
dos conselhos municipais de meio ambiente. A APEDeMA deve ampliar as
informações, criar mais redes.
No terceiro momento Georgina Buckup, do IGRÉ, relatou sobre o
tópico: Fundo Nacional de Meio Ambiente. Fazem parte do conselho desse
fundo 5 organizações de cada região. O Fundo é uma caixa preta. É
desestruturado, possui uma burocracia enorme com poucos técnicos.
Pessoa deve ser capacitada para fazer projetos tal a dificuldade do
processo.
Em relação ao orçamento é complicado. Existem 50 milhões de reais
de recursos mas não há recursos para novos projetos. Vinte por cento do
recurso num projeto deve ter contrapartida das ong´s. Mas isso está
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mudando. Existe um decreto em estudo aonde a questão da contrapartida
das ONG´s sejam em bens e serviços.
As coisas não estão muito claras até começar o ano que vem (2008).
Se solicitou uma reunião com o Secretário Executivo do Meio Ambiente
(Capobianco) para elucidação das seguintes questões:
- Para que serve o Fundo Nacional de Meio Ambiente?
- Porque as ONG´s não participam desse fundo?
Ele disse que desconhecia o que se passava no Fundo Nacional de
Meio Ambiente. Citou que nunca recebeu o Diretor do Fundo Nacional de
Meio Ambiente (Elias Araújo). Argumentou que em trinta dias daria o
retorno das perguntas feitas a ele.
Uma das tendências é não aceitar valores menores do que 100.000
reais. A Conselheira do Fundo Nacional de Meio Ambiente é
corresponsável pelas contas junto ao TCU. Existem 172 convênios em
execução. O dinheiro que não é utilizado num ano passa para o ano
seguinte. Ong´s não estão utilizando muito em função da contrapartida. Ao
mesmo tempo se coloca lá que o RS não necessita de recursos porque é
uma região rica. Paulo Brack colocou a questão da articulação do
movimento ambiental sobre os Fundos (FUNDEFLOR e Fundo Estadual do
Meio Ambiente).
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1 1 . A C O M U N I C A Ç Ã O E O M O V I M E N T O E C O L Ó G I C O - O F I C I N A
Local: Sede do InGá, Porto Alegre
Promoção: NEJ – Núcleo dos Ecojornalistas.
Apresentação: Júlio Oliveira e Taís Silva.
Resumo: Existe a necessidade de trabalhar a comunicação nas ongs,
qualificar o corpo técnico dos movimentos. Esse é um dos objetivos da
Ecoagencia – pioneira no Brasil, além de divulgar e pautar questões
ambientais na sociedade, formar estudantes de jornalismo, estimulando a
reflexão sobre a temática ambiental, dar voz às ongs ambientalistas,
devido ao espaço restrito encontrado nos veículos de comunicação de
massa.
Para trabalhar a comunicação nas ONGs, é necessário perceber que a
questão ambiental é complexa na comunicação e atinge várias editorias,
mas no dia-a-dia é dado o enfoque específico. O enfoque ambiental não
precisa de editorias, jornais ou programas específicos, está em tudo.
É necessária sensibilidade e percepção para a Comunicação Cidadã.
As ongs devem se comunicar entre si, para potencializar seus esforços.
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1 2 . R U M O S D O M E G 2 0 0 8 C A R T A D E A N Á L I S E I N T E R N A
Os participantes do encontro, durante os dois dias de diálogo, apontaram e
deliberaram o que segue:
1. Sobre a situação do MEG
O Movimento Ecológico Gaúcho encontra-se hoje fragilizado, tanto
pela oposição sistemática que sofre do governo, setor produtivo e mídia,
quanto pela falta crônica de recursos financeiros e de pessoal. Nesse
sentido, faz-se necessária uma reestruturação do movimento e uma
rediscussão do papel da APEDeMA/RS nessa conjuntura. Entre outros
temas trabalhados, foi elencada a possibilidade de que a APEDeMA venha
a assumir um papel mais representativo do Movimento, e não somente
articulador. Por hora, as filiações seguirão os critérios de Caxias, sendo
necessário o diálogo sobre os critérios, sem abrir mão dos princípios que
regem a identidade das entidades em defesa do meio ambiente.
2. Sobre a Qualificação do MEG
Foi sugerido que o Movimento necessita captar recursos para
manutenção, buscar instrumentalização através de formação na área e
alianças institucionais com organizações de interesse e princípios comuns,
de forma que alguns militantes possam se dedicar integralmente à causa.
Os participantes foram unânimes, ainda, em que o Movimento precisa
qualificar-se. Foram elencados as seguintes áreas carentes de qualificação:
comunicação, gestão, corpo técnico/científico, corpo jurídico
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3. Sobre estratégias do MEG em 2008
Foi ressaltada, no encontro, a necessidade de se aprofundar o
relacionamento com as comunidades das áreas de atuação das entidades,
argumentando-se que isso dá força às lutas. Ainda foi dado um exemplo de
uma denúncia que surtiu efeitos benéficos ao Meio Ambiente, e se
argumentou que essa pode ser uma estratégia eficiente que o movimento
possa privilegiar. O IGRÉ se disponibilizou a realizar uma oficina de
capacitação para elaboração de denúncias ambientais.
Como Lutas Comuns para o ano de 2008, foram deliberadas as
seguintes:
Hidrelétrica de Pai-Querê; Impactos da Cadeia da Celulose;
Desmonte da SEMA.
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1 3 . A N Á L I S E D A C O N J U N T U R A D A S P O L Í T I C A S D E M E I O A M B I E N T E E D E S E N V O L V I M E N T O – C A R T A A B E R T A Há trinta e cinco anos, quando ocorreu a I Conferência da ONU sobre
Meio Ambiente em Estocolmo, o Clube de Roma já alertava para a
insustentabilidade do modelo econômico de crescimento ilimitado. Nos
dias de hoje, contudo, ainda não se conseguiu modificar esse sistema
irresponsável e irracional que está produzindo alterações desastrosas, por
exemplo, nos equilíbrios climático e ecológico do Planeta.
Atualmente, o novo ciclo de expansão econômica está gerando uma
fragilização crescente dos direitos sociais e da gestão ambiental no mundo
inteiro e, em especial, nos paises considerados emergentes. Em um
contexto de "Estado Mínimo", os recursos aplicados em Meio Ambiente
tornam-se cada vez mais minguados e o já precarizado sistema de
licenciamento ambiental acaba sendo o principal alvo para o afrouxamento
das "barreiras" ambientais. É impressionante que mesmo com o cenário
trágico das mudanças climáticas, incontestavelmente relacionadas ao modo
de vida da sociedade moderna, o setor econômico não tenha se
sensibilizado, reproduzindo velhas fórmulas de crescimento a todo custo.
No Brasil, a opção pelo mercado globalizado destrói pequenas
economias, aprofundando o modelo exportador que sempre visou melhorar
os tradicionais indicadores econômicos, como o PIB. Exportam-se
commodities, com baixo valor agregado, como a soja, a pasta de celulose e
os metais, como aço e alumínio. O país mantém o envio ao exterior de seus
recursos naturais e fica com os prejuízos ambientais. As metas de
superávit e do chamado "risco país" acabam sendo jogos perversos,
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favorecendo o capital especulativo, onde os indicadores de qualidade de
vida não estão contemplados.
No Brasil o verdadeiro risco é outro. Grande parte dele está
representado pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O PAC
resgata a velha concepção de país como "potência econômica", por meio
de velhos e gigantes empreendimentos gestados, em sua maioria, há mais
de trinta anos em pleno governo militar. Naquela época, a sustentabilidade
ambiental e a distribuição de renda estavam longe da lógica
desenvolvimentista. Símbolo disso foi Itaipu, a maior hidrelétrica do
mundo que, mesmo com a destruição de Sete-Quedas e o deslocamento de
dezenas de milhares de pessoas, foi mostrada para a sociedade como
motivo de orgulho nacional. O mesmo aconteceu com a malfadada
Transamazônica, a Hidrelétrica de Balbina e as caríssimas usinas nucleares
de Angra. Atualmente, a meta de 5% de crescimento do PIB, proposta pelo
governo acaba sendo a justificativa para tudo. Ou seja, agora não mais
importa o "meio" e sim o "fim".
O novo ciclo de expansão econômica dos grandes conglomerados,
aliados ao processo de precarização do Estado, traz de volta as políticas de
desenvolvimento que fomentam os megaempreendimentos, agora
privatizados através das PPPs (Parcerias Público-Privadas). Delineia-se,
assim, a consolidação da aliança entre o governo e as grandes empresas –
que aliás financiam as campanhas eleitorais destes governantes – em obras
como a Transposição do rio São Francisco, as usinas nucleares, as
hidrelétricas do rio Madeira, do rio Xingu, do rio Uruguai e outras
incluídas no PAC, muitas delas sem licenças ambientais.
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No campo, resgata-se uma "nova" Revolução Verde, muito mais
impactante do que na década de 70, devido à escala de produção tornar-se
ainda mais gigantesca e ao aprimoramento de tecnologias para
monocultura. Fomenta-se aí o incremento aos insumos (adubos químicos,
herbicidas, inseticidas, fungicidas, etc.) e a incorporação da transgenia
como forma de controle ainda maior das sementes por parte do Mercado.
Como resultado, temos maior contaminação química e um risco de a
contaminação genética propagar-se indefinidamente, considerando o apoio
que a indústria dos transgênicos vem recebendo do Ministério de Ciência e
Tecnologia.
O Estado exime-se em não cobrar a rotulação, a segregação de
sementes e em não de realizar a fiscalização das irregularidades, em
especial da entrada ilegal de OGMs no Brasil. Neste contexto de
permissividade, o patenteamento dos seres vivos se torna algo "normal", o
que resulta na nossa cada vez maior dependência com relação às
transnacionais que controlam a produção e o mercado agrícola. Essas
coorporações obtêm lucros máximos a despeito da contaminação e
expansão continuada sobre os biomas brasileiros. Pelo menos em que se
refere aos transgênicos, a Justiça tem tido papel de destaque em impedir
um avanço ainda maior do processo de liberação.
Entretanto, o quadro agrava-se ainda mais com a opção pelos
agrocombustíves, tidos como panacéia para os problemas brasileiros. Até o
Pantanal tornou-se alvo da expansão da cana-deaçúcar, trazendo sérios
problemas de contaminação a muitos rios, até então límpidos, que serviam
para programas turísticos ligados à natureza. Os agrocombustíveis, na
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realidade, vão virar commodities, sujeitas às oscilações de mercado, com o
aprofundamento dos já enormes impactos sócio-ambientais da atual
monocultura, competindo com a produção de alimentos. O investimento
em agroecologia é mínimo, destacando-se apenas ações por parte do
Ministério de Desenvolvimento Agrário e do Ministério de Meio
Ambiente.
No aspecto social, o êxodo rural continua crescente, bem como a
conseqüente favelização das cidades. Ilustrativo do grande impacto do
avanço da fronteira agrícola e do agravamento das questões sociais é o fato
de que, das dez cidades com maior índice de homicídios no Brasil, sete
estão situadas na região Centro-Oeste, justamente na área do Arco do
Desmatamento, entre a Amazônia e o Cerrado . Afora essas regiões,
expandem-se sobre o Pampa e a Mata Atlântica milhões de hectares de
mono-silvicultura de gigantes empresas papeleiras visando à exportação de
pasta de celulose. Ainda, no meio urbano os parâmetros de poluição,
violência e miséria já passaram dos padrões aceitáveis, com níveis
elevados de desperdício de energia e bens de consumo descartáveis,
resultando em uma vida insalubre e, por que não dizer, quase insuportável
para a maioria da população.
A despeito do quadro alarmante, hoje a sociedade começa a perceber
as conseqüências perniciosas deste modelo. Porém, os governantes e a
maior parte da classe política estão afastados do tema. É fundamental que
as autoridades sejam cobradas para ações emergenciais e para a
necessidade de uma reflexão, de forma democrática, sobre os programas de
desenvolvimento adotados. Da mesma forma, deve-se pôr um freio aos
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mecanismos de financiamento da insustentabilidade, que parecem ter
tomado conta do país. Destaca-se aqui a atuação do BNDES que drena
bilhões de reais para grandes empreendimentos sem cobrar a viabilidade
ambiental e a responsabilidade social das empresas.
No que se refere ao Ministério de Meio Ambiente, fica evidente o
caráter de submissão a este modelo de crescimento alucinante, por meio da
concessão de licenças a mega-obras, ignorando grandes impactos sócio-
ambientais. As políticas ambientais tornaram-se, muito mais, meras
formalidades, raramente resistindo à recorrente exigência de
flexibilização, dentro da lógica de "não impedir o desenvolvimento". Neste
quadro, as Conferências Nacionais de Meio Ambiente acabaram sendo
eventos "chapa-branca", sem retomar as deliberações tiradas nas
conferências anteriores.
No caso do Rio Grande do Sul, seguindo a mesma lógica do modelo
hegemônico de desenvolvimento do país, a situação é a mesma, senão pior.
No setor agrícola, as políticas continuam se pautando pelo investimento na
exportação de commodities, em especial, soja, arroz, trigo e celulose. Na
área industrial, permanecemos presos ao paradigma dos investimentos
governamentais nos grandes empreendimentos, com utilização midiática e
eleitoral, como nos casos das montadoras automotivas e das indústrias de
celulose. Exemplo disso foram as eleições de 2006, quando o setor da
celulose finaciou as campanhas eleitorais de mais de 70 candidatos a
deputados no RS, de diversos partidos, além de candidatos ao governo do
Estado.
Atualmente, o quadro ambiental no Rio Grande do Sul é dramático.
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No que se refere ao Pampa, a cada ano perdem-se de 140 a 400 mil hectares
de área relativa ao bioma. O RS não tem mais do que 0,68% de Unidades de
Conservação (UCs) de proteção integral. O caso da morte de 80 toneladas de
peixes no Rio dos Sinos, no ano de 2006, além de não ter recebido até hoje a
devida atenção, demonstrou a fragilidade a que chegou a Secretaria Estadual de
Meio Ambiente (SEMA).
Depois de 2002, o Estado passou por seis secretários de Meio
Ambiente. A SEMA foi quase extinta no governo anterior. Alguns setores
desta Secretaria tiveram seu quadro técnico drasticamente reduzido, como
no caso da FEPAM e do DEFAP. Esse fato agravou-se no governo atual,
cuja concepção de "Estado Mínimo" fez com que setores da FEPAM se
tornassem mais um balcão de licenças do que propriamente um órgão de
gestão ambiental. A FEPAM, conquista histórica da sociedade civil, parece
estar sofrendo um processo de intervenção direcionado ao favorecimento
do setor econômico, ao arrepio mesmo da legislação ambiental.
Desde o início de 2007 até a metade do ano, as entidades
ambientalistas, por meio da APEDEMA/RS, realizaram uma série de
tentativas de diálogo com a SEMA visando resgatar alguns princípios
mínimos de Políticas Ambientais, esfaceladas nos últimos anos. As
tentativas foram, contudo, infrutíferas, considerando que a quase
totalidade dos questionamentos feitos pelo movimento ambientalista não
foi sequer respondida. Outro fato relevante foi a ausência de resposta
quanto a realização de Audiência Pública sobre os projetos de silvicultura,
em Porto Alegre, solicitada pela APEDEMA e por diversas outras
entidades.
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Em resumo, poderíamos elencar alguns episódios ilustrativos da
desestruturação da SEMA, quais sejam: 1) substituição precoce da
Secretária de Meio Ambiente no início deste governo; 2) criação de um GT
para desconstituir o Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS),
elaborado pela própria SEMA; 3) substituição das equipes de
licenciamento por técnicos de outros setores, como a EMATER; 4) decisão
de fechamento de laboratórios de monitoramento ambiental da FEPAM; 5)
promoção acelerada dos licenciamentos municipais, mesmo sem diretrizes
consolidadas e com terceirização por parte das prefeituras; 6)
desestruturação de setores como DRH e DEFAP; 7) emissão de Licenças
Prévias dispensando o EIA-RIMA – exigência legal – como no caso das
barragens de irrigação de Taquarembó e Jaguari. E, também focando a
desestruturação da área, a tentativa de extinção do Comando do Batalhão
Ambiental da Brigada Militar.
O quadro de fragilização deliberada da gestão ambiental continua
favorecendo os setores da economia tradicionalmente imediatistas e
promotores da degradação. Assim, as políticas adotadas no Rio Grande do
Sul permanecem dissociadas das necessárias preocupações com a
sustentabilidade, tanto no que se refere ao modelo de desenvolvimento
quanto no âmbito da gestão ambiental. Neste caso, torna-se fundamental
que sejam invertidas as prioridades, preservando-se os instrumentos de
Controle do Estado, em especial o CONSEMA, destacando-se também o
fortalecimento do quadro funcional e da infra-estrutura da SEMA,
diminuindo-se o peso dos CCs (Cargos em Comissão) no órgão, e
fortalecendo-se os instrumentos, os programas e ações institucionais de
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meio ambiente, dentre estes o Zoneamento Ambiental da Silvicultura.
Quanto à Política Ambiental do Estado, a APEDeMA-RS reitera as
reivindicações especificas do movimento ambientalista gaúcho contidas
nos documentos entregues à SEMA, no primeiro semestre de 2007, até
hoje não respondidas.
Para finalizar, independente do difícil quadro ambiental em todos os
níveis, é importante que seja assinalado que enquanto prevalecerem as
velhas concepções de crescimento econômico, com projeções de aumento
de consumo e de produção de bens, muitas vezes desnecessários, não será
possível vislumbrar uma situação mínima de sustentabilidade ambiental
para as sociedades atuais e futuras. Necessitamos de programas com metas,
costuradas em conjunto entre ONGs, sociedade, legislativo, judiciário e
executivo.
Porto Alegre, 11 de novembro de 2007
Assinado
APEDeMA/RS
Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS,
organizadora do XXVII Encontro Estadual de Entidades Ecológicas
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1 4 . M O Ç Ã O I Moção: Para as entidades ambientalistas
Que as entidades ecológicas organizem-se a tal ponto que mantenham
sítios institucionais na Internet, com link à APEDeMA/RS, contendo suas
atividades, relatos dos encontros nas comunidades, formas de contato,
principais lutas, etc.
Observação: Um sítio institucional na Internet pode ser criado e
mantido com o investimento anual de R$ 200,00.
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1 5 . M O Ç Ã O I I Moção: Para os conselhos municipais de Meio Ambiente do RS
Que os conselhos de meio ambiente de todo o estado viabilizem
ferramentas de transparência na Internet que possibilitem o
acompanhamento pela comunidade, inclusive a seus integrantes não
residentes localmente, das pautas das reuniões, das atas, dos trabalhos das
câmaras técnicas, composição, etc.
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1 6 A N E X O S
A N E X O 1 . S U B S Í D I O S P A R A A R E F L E X Ã O E A Ç Ã O D O M E G - C E A
Primeiramente saudações a todos e todas participantes do XVII EEEE.
É um marco!!!!!!
Quando da realização do EEEE/05, o CEA elaborou um documento
(em anexo), que ressaltava uma:
“preocupação no que tange a organização e o fortalecimento
político do MEG, tendo em vista uma conjuntura desfavorável às
teorias e às práticas voltadas para a sustentabilidade, numa
magnitude nunca antes vivida após o surgimento do movimento
ecológico, desde a década de 70, a qual é agravada
cotidianamente pela dificuldade do MEG em reconhecê-la,
enfrentá-la e superá-la, muitas vezes fruto, em parte, da
inexistência momentos de debate e tomada de deliberações do
coletivo das ONG ecológicas gaúchas, mas não só;”
De lá para cá as coisa mudaram, mas não melhoraram. Ao contrário, a
crise ecológica no RS se aprofundou e o MEG ainda não conseguiu
enfrentá-la a altura e, na nossa opinião, ainda precisa encontrar tal
caminho.
Para tanto, carecemos de mais encontros para tratar de temas que
afligem as ONGs, como os que elencamos a seguir para o presente EEEE.
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Muitos são os diagnósticos que apontam para a diminuição da
capacidade de intervenção das ONGs ecológicas nas políticas ambientais,
na gestão privada do ambiente e nas externalidades negativas para a vida
humana e não humana.
Sabemos que parte das razões que levam a perda do poder das ONGs,
sejam elas locais ou internacionais, sejam pequenas, médias ou ditas
grandes (king ONGs), estão muito além do nosso domínio. Porém, outros
fatores estão plenamente no âmbito da nossa capacidade de gestão. A
questão é saber até que ponto nós contribuímos para nosso próprio
enfraquecimento.
Alguns desses fatores, que nós do CEA chamamos de internos ao
movimento ecológico, estão visíveis e podem ser identificados e
combatidos. Muitos já foram ressaltados em outras oportunidades
(documento citado). Passamos a destacar e comentar alguns, reiterando os
que constam no documento em anexo.
A diminuição e até extinção da solidariedade entre as ONGs é o
principal fator interno de nosso enfraquecimento e daí podemos destacar
diversos aspectos:
• hierarquização das relações entre ONGs: queremos nos referir a
existência de uma estratificação indevida no que tange a importância
política e financeira entre as ONGs e que poderiam ser mitigadas pela
cooperação horizontal, não a ponto de negar as individualidades, mas sim
o individualismo. Pequenas ONGs, apesar de militantes históricas,
raramente encontram condições de atuar como antes. Por outro lado,
grandes e até pequenas ONGs, recentemente criadas, conseguem atuar no
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nicho do MEG. Algumas demonstram relações claras ou dissimuladas, não
fundadas no mérito ambiental, com governos e empresas.
A hierarquia também se manifesta pelo privilegiamento da técnica
científica, da geopolítica e de temáticas específicas tratadas/impostas por
determinadas ONG’s, de forma vertical;
• disputas entre as ONGs: as disputas entre as ONG’s, fomentadas
principalmente pela concomitante viabilização e ausência de financiamento
público para as mesmas, acabam por favorecer ações pautadas na lógica
liberal de competição, que tem por efeito colateral o aniquilamento do
“adversário”.
As estratégias individualistas, principalmente no que refere a
aprovação de projetos em fundos públicos e “apoios” privados, é
expressada na máxima falada e ouvida em diversos fóruns e redes: “cada
ONG deve buscar os recursos para os seus projetos e conseqüente
subsistência”. Postura essa que reproduz uma lógica neoliberal e parte do
preceito de que toda ONG é igual, o que não é verdade. Isso esconde as
reais diferenças entre nós, bem como as relações privilegiadas por uma
suposta meritocracia. Relações essas indesejáveis, que vivenciamos e
repudiamos (em textos e documentos) em outros espaços de poder, como a
relação balconizada e paroquialista entre municípios e União;
parlamentares federais e governo federal (p. ex., emendas do orçamento) e
tantas outras;
• a informação não circula de forma transparente entre nós;
• priorização de redes temáticas em detrimento das redes não
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temáticas: se por um lado as redes temáticas reforçaram a luta ecológica, e
realmente reforçam, elas também, se não forem tomados determinados
cuidados, podem enfraquecer a organização mais ampla e holística das
ONGs, como a própria APEDEMA. Outro efeito negativo, quando não se
estabelece uma relação
verdadeiramente horizontal entre as ONGs e dessa forma é que as redes
valem a pena e são mais eficientes, é a falta de espaço para a luta local ou
dita “menor”. Considerando que muitas das temáticas específicas e/ou
locais acabam, devido as condições técnicas/financeiras/políticas
superiores de algumas ONG’s, por ocultar e diminuir a importância de
outros temas, contribuindo com a hierquização e dominação entre ONG’s;
• substituição da militância pelo trabalho “técnico”: a elitização e
priorização do trabalho “técnico” em detrimento da ação política, assim
como o privilegiamento do argumento de autoridade sobre outros saberes,
chamados de não científicos, acabam por hierarquizar e desqualificar a
colaboração da militância política e por fomentar a dominação científica e
o enaltecimento da racionalidade moderna dominante. Há que se equalizar
os saberes;
• priorização de diálogos externos em detrimento de eventos do MEG:
se totalizássemos os espaços que reservamos para dialogar com os de fora
do MEG perceberemos que conversamos bem menos entre nós. E o que é
pior, acabamos por ter uma grande capacidade de tolerância (e até apoio)
para com aqueles e, contrariamente, para dentro, demonstramos um
potencial ofensivo e não raras vezes, desestimulante, muito maior.
Esses são alguns pontos que entendemos merecedores de debate
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franco e aberto entre nós, visando a construção de uma nova coesão
interna, através do resgate e repactuação de conceitos, objetivos e
estratégias do MEG, de forma horizontal, solidária e fortalecida.
Assim, propomos também o seguinte para o EEEE:
- Financiamento público para as ONGs: por desempenharmos função
de interesse público, que seja reservado um tanto do arrecado pelo
consumo de bens e serviços, que degradam o ambiente, para suporte das
ONGs, seja para fins institucionais, seja para projetos (a exemplo do
financiamento público de campanhas eleitorais);
- Moção contrária ao PL 3057: considerando a ameaça direta que o PL
3057 promove no tocante a tutela jurídica das Áreas de Preservação
Permanente – APP’s, nos posicionamos pela sua não aprovação e imediato
arquivamento do mesmo;
- TACs: pela não banalização dos Termos de Ajustamento de Conduta
firmados pelo Ministério Público Federal e Estadual e degradadores
ambientais púbicos e privados, e pela imediata responsabilização legal dos
degradadores ambientais. Quando da necessidade de firmamento de TAC,
exige-se o acompanhamento dos Conselhos Municipais ou Estadual de
Meio Ambiente, desde que deliberativos e democráticos, e a total reversão
dos recursos auferidos como ajustamento de conduta para os Fundos
Públicos de Meio Ambiente, para financiamento de projetos ambientais.
Publicidade para os TACs realizados (prestação de contas do MP);
- Suspensão das atividades de monocultura: a imediata suspensão de
toda e qualquer atividade de monocultura de árvores exóticas no RS e pela
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imediata responsabilização legal das pessoas físicas e jurídicas, públicas
ou privadas, que colaboraram para o atual quadro de ilegalidade das
plantações existentes e em planejamento.
Pelotas/Rio Grande, novembro de 2007.
Anderson Alexis
Antonio Soler
Cíntia Barenho
Eugênia Dias
Luiz Rampazzo
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Aos participantes do EEEE/05
O CENTRO DE ESTUDOS AMBIENTAIS – CEA, organização
ecológica não governamental, com mais de 22 anos de atuação, vem pela
presente dizer o que segue e ao final apresentar relatório resumido de
atividades:
- primeiramente desejar a todos os participantes um debate de
qualidade e profundo sobre os temas constantes na pauta, visando sempre à
construção coletiva da sustentabilidade;
- expressar a preocupação no que tange a organização e o
fortalecimento político do MEG, tendo em vista uma conjuntura
desfavorável às teorias e às práticas voltadas para a sustentabilidade, numa
magnitude nunca antes vivida após o surgimento do movimento ecológico,
desde a década de 70, a qual é agravada cotidianamente pela dificuldade
do MEG em reconhecê-la, enfrentá-la e superá-la, muitas vezes fruto, em
parte, da inexistência momentos de debate e tomada de deliberações do
coletivo das ONG ecológicas gaúchas, mas não só;
- diversos exemplos desse cenário adverso, podem ser citados. Mas
como todos nos o conhecemos bem, não vamos dedicar espaço, no
momento, para tal elenco. É certo que todos eles passam pela neoliberal
desregulamentação e/ou flexibilização das conquistas do MEG
(consolidadas, com muita persistência e dificuldades, no âmbito do Direito
Ambiental), reivindicadas pelos capitais, via de regra degradadores e
socialmente
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excludentes, e muitas vezes consentidas e até estimuladas pelo Poder
Público, estando sua gestão a cargo da direita ou da esquerda,
desesperançosamente;
- lembremos (para ficar só numa referência, talvez a mais
significativa para a política ambiental do estado e para as conquistas do
MEG) do enfraquecimento do CONSEMA, órgão máximo do SISEPRA.
Tal diminuição debilita a participação das ONGs em tal colegiado
ambiental e, por conseqüência a democracia direta ambiental. A cassação
branca de mandato e/ou da suspensão unilateral e sem prévio aviso, por
parte da FEPAM/SEMA, do custeio da participação das ONGs no
CONSEMA, que se deu e persiste ao logo de quase todo o ano de 2005, é
uma nuance da política adotada pelo atual governo do estado em prol de
grandes empreendimentos poluidores e socialmente excludentes (como os
Desertos Verdes) e contra a organização social e a democracia direta,
inobstante o fato de algumas ínfimas conquistas do MEG, que são
meramente conjunturais e não estruturais, seja no CONSEMA (via vitória
numa votação e/ou resolução), no Judiciário (através de uma liminar, ao
final do processo judicial não confirmada) e/ou no legislativo (alguma lei
que existe somente no plano formal), sem alterar a realidade);
- Os espaços na imprensa, dominada pelos interesses políticos e dos
capitais poluidores acima citados, diminuíram, quando não se extinguiram
para o MEG e para a maioria das ONGs ecológicas, especialmente aquelas
que, a eles, ainda representam alguma ameaça. Esses que ganham poder e
capital com os processos insustentáveis, se apropriaram do discurso
ambiental, quando não cooptaram militância para seus interesses, o qual
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combatemos, e que são notoriamente contrários às praticas que melhoram a
qualidade socioambiental;
- Somado a tal cenário exógeno desfavorável, devemos reconhecer o
fato de que o MEG esta desmobilizado, desorganizado, descapitalizado (o
que passa ser uma grande fragilidade política) e que as ONGs, em geral,
com raríssimas exceções, vem priorizando questões suas em detrimento do
debate e ação coletiva do MEG. São escassos os momentos que nos
reunimos. Porém, desses momentos não são raros aqueles que nos
reunimos e deixamos de aprofundar analises e debates, “legitimando”
delegações que acabam indo representar um movimento que não consegue
atingir posições coletivas, debatidas de forma democrática dentro do
próprio MEG. Nem mesmo as listas de debate digital vem atendendo de
forma eficiência o debate entre nós;
- Nos apegamos ao pragmatismo, pela pressão dos desafios diários e
relegamos um debate e uma reflexão mais tranqüila e profunda sobre a
ética e a política ambiental, seja municipal, estadual ou federal;
- Deixamos nos levar por algum tipo de tolerância, mesmo com uma
insistente repetição de cenários e personagens não aliados a uma política
ecológica transformadora e com preocupação social;
Assim, propomos que façamos uma reflexão sobre o acima exposto e
sobre as seguintes ações, possíveis de enfrentar e, talvez, modificar
cenários que estão levando uma vantagem esmagadora da
insustentabilidade, apesar de vermos a temática ambiental cada vez mais
sendo tratada em instituições e espaços onde até a bem pouco tempo era
escorraçada ou ridicularizada:
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- Nos reconhecermos, em eventos planejamento, de forma mais constante;
- Nos fortalecermos, através de coletivos como a APEDEMA;
- Ampliar a transparência e a democracia interna;
- Combater o enfraquecimento da democracia ambiental;
Pelotas, novembro de 2005.
Coordenação do Centro de Estudos Ambientais
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A N E X O 3 . R E L A T Ó R I O R E S U M I D O D E A T I V I D A D E S D O C E A
No ano de 2007, desenvolvemos várias ações e projetos como segue:
a) Participação em colegiados:
- Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMPAM) Pelotas, e algumas
de suas Câmaras Técnicas, como a que trata de Assuntos Jurídicos e Educação
Socioambiental;
- Comissão Nacional Para Políticas de Desenvolvimento Sustentável e
Agenda 21 – CPDS;
- Comissão Brasileira Para o Programa da UNESCO o Homem e a
Biosfera – COBRAMAB;
- Conselho Deliberativo do FNMA;
- Fórum da Agenda 21 de Pelotas;
- Coordenação do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento - FBOMS;
- Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente-
APEDEMARS;
- Rede de ONGs Mata Atlântica;
b) Projetos:
- Agenda 21 de Pelotas;
- Consolidação das leis ambientais municipais;
Também desenvolvemos diversas ações relativas a não monocultura de
árvores no bioma pampa.
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