Sistema Respiratório CBB 5018 Anatomia Humana II Professor: Indíara Jorge Latorraca.
Análise cbb jorge
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A situação econômico-financeira da CBB é lastimável. Se fosse uma empresa privada estaria à
beira da falência. Para a análise ficar mais clara e compreensível, vamos separá-la em quatro
pontos:
1. Déficit
O déficit (que é o prejuízo se a CBB fosse uma empresa privada) é muito grande e
preocupante. Analisando a Demonstração de Resultados, percebe-se que há a separação por
fontes de recursos, o que é bastante interessante para análise. Pela Lei Piva, o resultado foi
nulo, sendo aplicados todos os recursos na manutenção de sua estrutura administrativa e com
o pagamento de despesas com competições.
O maior problema neste item é o convênio com a Eletrobrás. De uma receita de R$
11.467.855, o déficit foi de R$ 2.464.871, ou 20% sobre a receita arrecadada. Isto evidencia
dois potenciais problemas: ou a CBB foi ineficiente ao montar sua planilha de custos para
captação do dinheiro (captou menos do que precisava) ou simplesmente geriu mal o dinheiro
captado, extrapolando o orçamento em mais de R$ 2 milhões. Mesmo com os outros itens
apresentando um pequeno superávit, o déficit total ainda ficou gigantesco. Só para uma
comparação simplória: o total do déficit da CBB em 2010 (R$ 2.309.974) é quase o dobro do de
2009 e representa, pasmem, 92% de todo o conjunto de bens e direitos (chamado de Ativo)
que a Confederação possui.
2. Endividamento
A primeira vista, assusta que a CBB tenha um empréstimo bancário de mais de R$ 4 milhões
em seu balanço (na verdade, é de R$ 4.284.500,00). Entretanto, isto é apenas a ponta do
iceberg. Sempre que olhamos o endividamento, temos que comparar o volume de dívidas com
os bens que uma entidade possui para pagá-las. Se olharmos os balanços de empresas como
Petrobrás, Vale do Rio Doce, Embraer etc., veremos um volume de dívidas muito alto, porém,
como os bens que possuem são maiores ainda, tal fato passa a ser relativizado.
No caso da CBB, o rombo é muito pior. Apenas de dívidas de curto prazo, com vencimento no
ano de 2011, o montante é de mais de R$ 5 milhões, além de R$ 360 mil que a CBB considera
que terá que desembolsar no longo prazo por ações judiciais. Em uma empresa saudável, o
volume de dívidas não deve superar 66% (2/3) do seu volume de bens e direitos (ativos). Na
CBB, o volume de dívidas representa 203% do volume de ativos, ou seja, a CBB tem de dívidas
mais do que dobro do que possui de bens e direitos, significando que, caso a CBB vendesse
tudo o que possui, teria condições de arcar apenas com 49% de suas dívidas.
Além disto, se olharmos o que a CBB tem de bens e direitos de curto prazo, ou seja, que são
mais fáceis de transformar em dinheiro, vemos que a situação é ainda mais catastrófica. Estes
recursos, que em uma empresa normal devem superar as dívidas de curto prazo, cobrem
apenas 31% destas dívidas. Isto faz com que a entidade seja de altíssimo risco para conseguir
financiamento, fazendo com que pague juros muito altos para a rolagem da sua dívida.
Olhando as Notas Explicativas ao Balanço (uma peça super útil para análise, mas que quase
ninguém vê por ser de difícil entendimento), observa-se para quem a CBB deve estes
empréstimos, bem como a taxa de juros. Os empréstimos foram feitos junto ao Banco Itaú e
ao Banco Bradesco, sob as seguintes condições:
Banco Valor Devido ao final de 2010 Taxa de Juros Mensal Taxa de Juros Anual
Itaú R$ 1.213.426 3,5% 51,11%
Itaú R4 1.056.727 3,0% 42,58%
Bradesco R$ 360.000 2,5% 34,49%
Bradesco R$ 960.000 2,5% 34,49%
Observem como as taxas de juros são exorbitantes. Isto significa, então, que os bancos estão
querendo ganhar rios de dinheiro em cima da confederação? Errado. Isto significa que são
empréstimos, provavelmente, sem garantia, com um elevado risco de calote. Nestes casos, a
taxa de juros é realmente alta para quem quer que seja.
3. Situação de Caixa
Aqui é onde funciona o ditado de “as aparências enganam”. Olhando a demonstração de fluxo
de caixa, observa-se que o total do que chamamos de equivalente de caixa (caixa em si, bancos
e aplicações financeiras) subiu de R$ 105 mil reais para R$ 870 mil, com um aumento de,
aproximadamente, R$ 765 mil. Isto é bom, certo? Normalmente sim, mas depende de como
este aumento foi obtido.
Em geral, classificamos as origens de caixa em três aspectos: operacional, financiamento e
investimento. Em uma empresa normal, o aspecto operacional deve ser sempre positivo, para
que se possa gastar dinheiro com investimento e para amortização de dívidas (financiamento).
Reorganizando o fluxo de caixa da CBB, temos a seguinte composição:
Atividades Operacionais: basicamente o que recebeu de verbas com patrocínio, publicidade,
TV (que estranhamente ficou zerado em 2010) etc. menos o que pagou com as suas atividades,
como organização de torneios, despesas administrativas, de pessoal etc: DÉFICIT de R$
879.668,00.
Investimentos: Aqui são os investimentos em infra-estrutura, compra de máquinas, móveis,
imóveis, veículos etc. Neste item, houve um déficit de R$ 848.440,00, o que é absolutamente
normal, para compra de novos bens.
Financiamento: Aqui o maior problema. Somando-se o que a CBB contraiu de novos
empréstimos, mais os juros menos os pagamentos de empréstimos anteriores, observa-se um
superávit de R$ 2.493.430,00, ou seja, o aumento no valor do seu caixa foi ocasionado apenas
por empréstimos.
E aqui, uma situação muito, mas muito preocupante. Observa-se que dos R$ 870 mil que a
CBB possui de equivalente de caixa, R$ 607.218,00 estão em contas correntes bancárias e R$
263.744,00 em aplicações financeiras.
Entretanto, lendo a nota explicativa de número 9, onde trata dos empréstimos, observa-se que
o empréstimo junto ao Banco Itaú no valor de R$ 1.213.426 na verdade refere-se “ao saldo do
limite utilizado para cobertura de capital de giro”. Isto significa, em português, a “limite do
cheque especial”. Isto significa que em alguns bancos a CBB tem saldo positivo e no Banco Itaú
está no cheque especial. Se fizermos a soma de todos os saldos bancários, o saldo não é de R$
607.218 e sim de R$ 606.208,00 negativos. E aqui, uma dúvida que me atormenta. Por que a
CBB tem aplicação financeira de 263.744 se está no cheque especial em mais de R$ 600 mil?
Diretoria Financeira, por favor, explique.
4. Para onde está indo o dinheiro?
Aqui um adendo à análise. Observando os balanços, me deparei com algumas perguntas e
situações estranhas e até mesmo embaraçosas.
a) As despesas com pessoal e administrativas da CBB somaram R$ 5.935.244,00, ou, em média,
R$ 494.603,67 mensais. Isto tudo sem considerar os gastos com eventos propriamente ditos,
só com a operação administrativa da CBB.
b) Aqui um ponto extremamente preocupante. Consta que a CBB tem a receber R$ 604.379 de
adiantamentos que foram feitos e que aguardam prestação de contas. Observando para quem
foram estes adiantamentos, olhem o que encontrei: “representações e DIRIGENTES: R$
236.170”. Isto significa que a CBB tem a receber mais de R$ 200.000 de seus dirigentes por
adiantamentos feitos - e sabe-se lá para que fim. Será que a CBB está nadando em dinheiro
para ter este tipo de luxo? Sinceramente, acho que não.
5. Conclusões
Fechando esta análise, se a CBB fosse uma empresa privada, estaria em situação falimentar, ou
seja, ou já estaria de portas fechadas ou se encaminhando para isto. Não vou entrar no mérito
se a gestão esportiva é boa ou não, não sou especialista na área, mas, com certeza, a gestão
financeira está muito, mas muito a desejar.
Finalmente, quero dar meus parabéns para a equipe de contabilidade da CBB. As
demonstrações trouxeram diversos itens de evidenciação com uma boa qualidade contábil.
Ressalte-se que toda esta análise foi feita com os dados fornecidos pela própria CBB em seus
balanços, sem nenhuma montagem minha quanto a números, bem como nenhum acesso a
informação privilegiada.
Professor Doutor Jorge Eduardo Scarpin Doutorado em Ciências Contábeis e Administração - FURB http://professorscarpin.blogspot.com http://www.twitter.com/jorgescarpin