Análise Comparativa Canudos e Integralismo-ZEPA

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8/18/2019 Análise Comparativa Canudos e Integralismo-ZEPA http://slidepdf.com/reader/full/analise-comparativa-canudos-e-integralismo-zepa 1/3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA Partilhamos da ideia que um movimento social existe quando um grupo de indivíduos está envolvido num esforço organizado, seja para mudar, seja para manter alguns dos elementos da sociedade, assumindo, assim, caráter tanto de conservação quanto de transformação. No presente traalho nos propormos a estaelecer uma análise comparativa de dois movimentos sociais !seus contextos hist"ricos, lideranças,  principais ideias, adesão popular e suas respectivas derrocadas#$ a %uerra de &anudos e a 'ção (ntegralista )rasileira, com ojetivo de mostrar que para al*m do em e do mal, existem movimentos que partem de pressupostos progressistas, como tam*m outros que podem ser classificados como retr"grados. &ontextualizando, a %uerra de &anudos aconteceu no fim do s*culo +(+, na )ahia, inserese no cenário de transformaç-es sociais, políticas e econmicas ocorridas durante a transição da /onarquia para implantação da 0epulica. 1 ideário do  progresso estava na ordem do dia do novo regime, muito emora continuassem a negligenciar os sert-es que viviam a merc2 de sua pr"pria sorte. 1 movimento foi liderado por 'ntnio &onselheiro. &om ele, sertanejos aianos estaeleceramse em &anudos, um lugarejo no nordeste da )ahia, e constituíram uma comunidade que não se encaixavam na hierarquia clientelística latifundiária, viviam num sistema comunitário$ não havia propriedade privada e os frutos do traalho eram repartidos, neste sentido, suvertiam a ordem e o seu desfecho foi o aniquilamento pelas tropas do ex*rcito. 's estatísticas são imprecisas e há muita controv*rsia sore o n3mero de haitantes do arraial, de todo modo, falase em algo em torno de 45 mil a 67 mil haitantes. 1 fato * que famílias inteiras aandonavam seu traalho nas fazendas  para seguir o &onselheiro. 8m tr2s anos de exist2ncia &anudos teria se tornado a segunda cidade da )ahia em n3mero de haitantes. No final da guerra, há uma preocupação evidente por parte das autoridades em atestar a vit"ria da 0ep3lica e varrer &anudos, e tudo que ele representava. 1 arraial * incendiado, 'ntnio &onselheiro * decapitado e sua caeça * exiida para população, ou seja, o c3mulo da trucul2ncia e selvageria.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES

UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA

Partilhamos da ideia que um movimento social existe quando um grupo de

indivíduos está envolvido num esforço organizado, seja para mudar, seja para manter 

alguns dos elementos da sociedade, assumindo, assim, caráter tanto de conservação

quanto de transformação. No presente traalho nos propormos a estaelecer uma análise

comparativa de dois movimentos sociais !seus contextos hist"ricos, lideranças,

 principais ideias, adesão popular e suas respectivas derrocadas#$ a %uerra de &anudos e

a 'ção (ntegralista )rasileira, com ojetivo de mostrar que para al*m do em e do mal,existem movimentos que partem de pressupostos progressistas, como tam*m outros

que podem ser classificados como retr"grados.

&ontextualizando, a %uerra de &anudos aconteceu no fim do s*culo +(+, na

)ahia, inserese no cenário de transformaç-es sociais, políticas e econmicas ocorridas

durante a transição da /onarquia para implantação da 0epulica. 1 ideário do

 progresso estava na ordem do dia do novo regime, muito emora continuassem a

negligenciar os sert-es que viviam a merc2 de sua pr"pria sorte.

1 movimento foi liderado por 'ntnio &onselheiro. &om ele, sertanejos aianos

estaeleceramse em &anudos, um lugarejo no nordeste da )ahia, e constituíram uma

comunidade que não se encaixavam na hierarquia clientelística latifundiária, viviam

num sistema comunitário$ não havia propriedade privada e os frutos do traalho eram

repartidos, neste sentido, suvertiam a ordem e o seu desfecho foi o aniquilamento pelas

tropas do ex*rcito. 's estatísticas são imprecisas e há muita controv*rsia sore o

n3mero de haitantes do arraial, de todo modo, falase em algo em torno de 45 mil a 67

mil haitantes. 1 fato * que famílias inteiras aandonavam seu traalho nas fazendas

 para seguir o &onselheiro.

8m tr2s anos de exist2ncia &anudos teria se tornado a segunda cidade da )ahia

em n3mero de haitantes. No final da guerra, há uma preocupação evidente por parte

das autoridades em atestar a vit"ria da 0ep3lica e varrer &anudos, e tudo que ele

representava. 1 arraial * incendiado, 'ntnio &onselheiro * decapitado e sua caeça *

exiida para população, ou seja, o c3mulo da trucul2ncia e selvageria.

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1 centenário da guerra !49:;# e posteriormente o centenário da pulicação dos

<ert-es !4:5=# arem espaço para uma grande quantidade de novas pulicaç-es e

deates que procuram analisar &anudos por vários prismas. 

>entre destas oservaç-es,

muitos foram os r"tulos dados ao movimento$ messi?nico, socialista, precursor das lutas

 pela reforma agrária !questão que ainda hoje não foi resolvida#, muitas foram as

tentativas de dar conta da experi2ncia vivida pelos conselheristas naqueles dias em )elo

/onte, o importante mesmo * que &anudos não pode ser esquecida, e, neste sentido, *

de nossa responsailidade desejar que permaneçam vivas em nossas mem"rias a

desmedida viol2ncia empregada contra os sertanejos, que lutavam por mínimas

condiç-es de vida.

Por outro lado, tam*m conhecido como (ntegralismo, o /ovimento da 'ção

(ntegralista Nacional, de tend2ncia fascista, existiu entre os anos de 4:65 e 4:6;. &omo

&anudos, inseriuse em um amiente de indefiniç-es, entre o intervalo da crise da

hegemonia das oligarquias e o 8stado Novo @arguista.

<eus principais líderes foram Plínio <algado, /iguel 0eale e %ustavo )arroso,

que tam*m eram, partindo de uma perspectiva gramsciana, intelectuais org?nicos do

 projeto. <o a insígnia de A>eus, Pátria e BamíliaA, reuniu os setores conservadores da

classe m*dia que careciam de representação política, da (greja e do 8x*rcito.

Prioristicamente, a '() teve grande adesão e fez dela o primeiro partido político de

massa organizado nacionalmente no )rasil. 8m 4:6C, o total de seus memros era

estimado entre C55 mil e um milhão.

8ntre as principais andeiras defendidas pelos integralistas, podemos destacar a

exaceração dos valores de nacionalidade, a aolição do pluralismo político, a

 perseguição aos comunistas, negação dos ideais socialistas e a ascensão de um forte

líder político. <eu conte3do ideol"gico uscava legitimar um 8stado autenticamente

nacional, esse movimento foi associado ao )rasil puro, que estaria no interior, no sertão,

longe da influ2ncia imperialista do colonizador.

 'l*m disso, os integralistas fizeram o uso massivo dos meios de comunicação,

frases de efeito, criação de símolos, padronização comportamental$ apreciam

 pulicamente uniformizados !camisas verdes#, utilizavam de uma saudação comum,

D'nau2E, expressão de origem indígena, para cumprimentar seus associados, adotaram a

letra grega sigma !significa somat"ria#. Fodo esse aparato ideol"gico traalhava na

construção de um projeto homogeneizador, que incentivariam um forte sentimento de

comunhão e amor G pátria. &ontudo, para surpresa dos integralistas, em dezemro de

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4:6; @argas decretou o fechamento da '(), juntamente com todas as demais

organizaç-es partidárias do país.

 Nos textos analisados podemos perceer que amos tiveram o proposito inicial

de rememorar &anudos e o (ntegralismo, divulgando diversas interpretaç-es sore os

temas, não com ojetivos de esgotalos, mas de ressaltar a necessidade da realização de

novos estudos que ajudem a entender aç-es coletivas tão importantes na hist"ria do

)rasil.

Referências Bi!i"#r$ficas

/'(1, /. &. H &IF0IN1J(&K, 0. . A Ação Integralista Brasileira: um movimento

 fascista no Brasil . (n$ Lorge BerreiraH Mucilia de 'lmeida Neves >elgado. !1rg.#. 1

)rasil 0epulicano 1 tempo do nacionalestatismo. 0io de Laneiro$ &ivilização

)rasileira, =556, v. 6, p. 6:C4.

/1FF', /árcia /aria /enendes H M(/', 8li de Bátima Napoleão de H K'0F, P. H

>('<, &. /. /. .  Para não esquecer Canudos. (n$ /árcia /enendes /ottaH Paulo

Karth. !1rg.#. Bormas de resist2ncia &amponesa. @isiilidade e diversidade de conflitosao longo da ist"ria.. <ão Paulo$ ON8<P, =559, v. 4, p. =4=C5.