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Fabiano Capeleto Schaeffer (Graduando em Geografia) E-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul Genílson Gonçalves Nunes (Graduando em Geografia) E-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul Prof. Dr. Rafael da Rocha Ribeiro (Orientador) E-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul ANÁLISE DA DINÂMICA DUNÁRIA E DA EXPANSÃO URBANA DA CIDADE DE TUTÓIA (MA) ENTRE 1987 E 2010 INTRODUÇÃO O município de Tutóia está localizado a nordeste do Estado do Maranhão na região nordeste do Brasil. A área deste estudo está localizada entre a baia de Tutóia e os rios Cagantã e Comum, ambos pertencentes à APA delta do Parnaíba (Figura 1), conforme o Dec. s/n.º de 28.08.1996. O relevo na região é formado pela planície litorânea, modelada por agentes e processos marinhos. Entre eles, destacam-se os ventos alísios, cuja ação move as dunas para a direção noroeste onde estão localizadas as margens dos rios e o interior do continente, que caracteriza-se por apresentar extensas planícies flúvio-marinhas cortadas por uma rede de canais, que formam as ilhas do Delta. Como resultado dos processos de acumulação flúvio-marinha, e sob influência das características destes ambientes, desenvolvem-se extensas áreas de mangues e dunas móveis no seu interior com orientação predominantemente Nordeste-Sudeste. Guzzi (2012) define que alguns destes campos encontram-se fixados por vegetação rastejante e arbustiva e áreas de tensão ecológica formada por caatinga a Leste, cerrado a Sudoeste e sistemas marinhos a Norte. Nesse contexto, os rios mencionados possuem a função de transportar, através das marés, a areia jogada na área de manguezais e igarapés. Por sua vez, os diferentes

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Fabiano Capeleto Schaeffer (Graduando em Geografia)

E-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Genílson Gonçalves Nunes (Graduando em Geografia)

E-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Prof. Dr. Rafael da Rocha Ribeiro (Orientador)

E-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

ANÁLISE DA DINÂMICA DUNÁRIA E DA EXPANSÃO URBANA DA

CIDADE DE TUTÓIA (MA) ENTRE 1987 E 2010

INTRODUÇÃO

O município de Tutóia está localizado a nordeste do Estado do Maranhão na

região nordeste do Brasil. A área deste estudo está localizada entre a baia de Tutóia e os

rios Cagantã e Comum, ambos pertencentes à APA delta do Parnaíba (Figura 1),

conforme o Dec. s/n.º de 28.08.1996. O relevo na região é formado pela planície

litorânea, modelada por agentes e processos marinhos. Entre eles, destacam-se os ventos

alísios, cuja ação move as dunas para a direção noroeste onde estão localizadas as

margens dos rios e o interior do continente, que caracteriza-se por apresentar extensas

planícies flúvio-marinhas cortadas por uma rede de canais, que formam as ilhas do

Delta. Como resultado dos processos de acumulação flúvio-marinha, e sob influência

das características destes ambientes, desenvolvem-se extensas áreas de mangues e dunas

móveis no seu interior com orientação predominantemente Nordeste-Sudeste. Guzzi

(2012) define que alguns destes campos encontram-se fixados por vegetação rastejante e

arbustiva e áreas de tensão ecológica formada por caatinga a Leste, cerrado a Sudoeste e

sistemas marinhos a Norte.

Nesse contexto, os rios mencionados possuem a função de transportar, através

das marés, a areia jogada na área de manguezais e igarapés. Por sua vez, os diferentes

níveis de marés transportam para a baía os sedimentos arenosos, formando bancos de

areia na baía de Tutóia, potencializando, dessa forma, o movimento dunário. Conforme

Antônio Cordeiro Feitosa (2006), nesta área ocorrem: praias, mangues, dunas, lagos e

rios. A proximidade com o mar influi diretamente sobre grande parte dos processos de

modelagem do ambiente, dando origem aos campos de dunas móveis e dunas fixas sem

cobertura vegetal e intercaladas por lagoas de origem pluvial. Os cursos d’água da

região fazem parte da bacia hidrográfica do rio Parnaíba e a vegetação é composta por

formações com influência marinha e flúvio-marinha e Floresta Estacional com a

presença de encraves de mata dos cocais.

Figura 1: Localização do município de Tutóia (em verde) no contexto do Estado

do Maranhão (vermelho).

Estima-se que 18.680, um total de 35,4% da população tutoiense, reside na

cidade-sede do município, na malha urbana, conforme censo de 2010 do IBGE.

Conforme a tabela 1, quando comparado o censo de 2000 com o censo de 2010, é

notório que a concentração demográfica do município de Tutóia teve um acréscimo

significativo, o que nos leva a considerar a hipótese dos movimentos migratórios,

potencializados no ano de 2000, quando se observou um movimento de retorno do

Sudeste para o interior do país.

Tabela 1: Censo demográficos de 2000 e 2010 (Fundo Nacional de Saúde de 2016)

O presente artigo traz uma análise da movimentação das dunas e a expansão

urbana da cidade de Tutóia (MA) em direção ao Parque dos Pequenos Lençóis

Maranhense entre 1987 e 2010. Como a região não é detentora de muitas pesquisas

atribuídas a esta temática, este artigo apresenta um debate sobre o crescimento da malha

urbana da cidade de Tutóia e faz apontamentos bem como auxilia os gestores no

planejamento urbano e na preservação desta área de proteção ambiental.

METODOLOGIA

Com o intuito de investigarmos os processos de urbanização e o movimento

dunário, o presente trabalho analisará imagens do satélite Landsat, do ano de 1987 e

2010. Nosso objetivo será observar a trajetória do crescimento da malha urbana da

cidade de Tutóia e investigar os fatores que influenciam tal fenômeno. Inicialmente,

realizamos o download das imagens no site http://www.glcf.umd.edu/data/landsat,

(PATH ROW 219/62). A imagem de 1987 foi capturada pelo satélite Landsat 4,

enquanto a imagem de 2010 foi obtida pelo satélite Landsat 7.

Após, iniciou-se o uso do software ArcGIS. Como o interesse estava

concentrado apenas no município de Tutóia, mais especificamente a região das dunas,

foi necessário o recorte do mesmo. Já com a área selecionada, aplicamos uma

composição colorida nas bandas 5 (vermelho), 4 (verde) e 2 (azul) com o objetivo de

facilitar a interpretação visual das feições geomorfológicas (duas) e urbanas (casas,

ruas, etc.). Com a necessidade obter informações in loco realizamos um trabalho de

campo nesta mesma região em janeiro de 2016.

DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Conforme a Figura 2, observa-se que no ano de 1987 a concentração urbana da

cidade de Tutóia (MA) ocorre de forma compacta em relação ao entorno, mais

especificamente na área central da cidade. Já em relação a 2010 (Figura 3), percebe-se

que tal realidade transformou-se pela expansão urbana no sentido Centro para o Oeste.

Na Figura 4 é possível fazer uma análise temporal do crescimento urbano em direção às

áreas nas quais anteriormente haviam dunas, sinalizadas em vermelho. As Figuras 5 e 6

mostram a presença de moradias nas áreas de dunas. Essa ocupação dá-se no mesmo

sentido do deslocamento das dunas, que obedecem por sua vez o sentido dos ventos

alísios, e ocorre por meio da cultura de posse por apoderação gradativa, prática

intensiva na região em questão. Dessa forma, os moradores, por conta própria ou por

uma política municipal, procuram realizar cultivos de coqueiros, cajueiros, mangueiras,

construção de poços, cercas e ranchos provisórios como forma de demarcar as áreas

desocupadas pelas dunas, com deslocamento recente, objetivando uma futura posse

definitiva, demonstrados pelas Figuras 7, 8, 9 e 10.

Figura 2: Cenário

urbano e dunas da

cidade de Tutóia (MA)

/ 1987.

Figura 3: Cenário

urbano e de dunas da

cidade de Tutóia (MA)

/ 2010.

Figura 4: Cenário urbano e dunas da cidade de Tutóia (MA) / 2010 com marcação em

vermelho das dunas existentes em 1987.

Figura 5: Casa e moradores na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

Figura 6: Casa e moradores na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

Figura 7: Casas na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

Figura 8: Cercamento e casa na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

Figura 9: Cercamento na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

Figura 10: Cercamento e casa na região de dunas de Tutóia (MA) / 2016

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análises das imagens dos anos de 1987 e 2010, foi identificada a

movimentação dunária, na cidade de Tutóia, de Leste para Oeste, e também a fixação do

areal a Leste da cidade. Com isso, observou-se a expansão da área urbana para essas

localidades, demarcadas por cercamento e construções de casas. A hipótese levantada

foi do crescimento urbano causado pelo atual fenômeno migratório brasileiro, que tem

ocasionado o retorno de famílias maranhenses para suas cidades de origem. Além disso,

verificamos que a ação humana é tão importante quanto o movimento dos ventos,

levando à manutenção dos deslocamentos de areia e até acelerando de forma manual o

ocorreria por ação natural, caso as condições ambientais permanecessem as mesmas.

Essa breve análise também teve o objetivo estimular a pesquisa na região, que carece de

estudos, mas é importantíssima como bem natural do país. Por meio dos estudos sobre a

região será possível contribuir para um crescimento melhor estruturado da malha

urbana, que impacte o menos possível as movimentações naturais que mantém o

ecossistema e o equilíbrio natural da região, que é inclusive área de proteção ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

D'AGOSTINI, A., FREITAS, L. R., FURTADO, L. F. A., MOREIRA, M.

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sistemas de dunas na região costeira de Torres – RS e Passo de Torres – SC In:

XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2013, Foz do Iguaçu. Anais

XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, 2013.

GUZZI, Anderson. (Org.). Biodiversidade do Delta do Parnaíba: litoral

piauiense. Parnaíba: EDUFPI, 2012. 466p

NOVO, Evlyn M. L. de Moraes. Sensoriamento Remoto: princípios e

aplicações. 4° ed., São Paulo: Blucher, 2010.

Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea,

Estado do Maranhão: relatório diagnóstico do município de Tutóia.

Francisco Lages Correia Filho, Érico Rodrigues Gomes, Ossian Otávio Nunes,

José Barbosa Lopes Filho. Teresina: CPRM - Serviço Geológico do Brasil,

2011. 31 p.: il.

STROHAECKER, Tânia Marques. Apostila de geografia urbana. Porto

Alegre: IGEO/UFRGS, 2004.

Porto Alegre, julho de 2016