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Análise da Paisagem Urbana da Área Central de Balneário Camboriú (SC): Um Estudo de Caso sob o Enfoque Sistêmico
Daniella Haendchen Santos1 Josildete Pereira de Oliveira2
Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC
Resumo: Para analisar a paisagem urbana da área central de Balneário Camboriú (SC), unificou-se as categorias de Cullen (1971), Lynch (1997) e Boullon (2002) para descrição objetiva e subjetiva dos atributos visuais desta área em que há intensa concentração populacional durante o verão. Sob o enfoque sistêmico, percebeu-se a cidade como um sistema aberto e as partes que a compõem como subsistemas, os quais estão interligados e interagindo entre si. Os ambientes naturais e construídos e as dinâmicas sócio-econômicas impulsionaram a expansão da cidade. A atividade turística massificada alterou a paisagem natural em período de tempo reduzido devido à construção de segundas residências e de hotéis, a partir dos anos 50, em exíguo território, sem planejamento urbano e turístico. Deste modo, a indústria da construção civil e a especulação imobiliária afetaram a população nativa e o meio ambiente. Palavras-chave: Paisagem Urbana; Balneário Camboriú; Cidade Turística; Turismo de Massa; Enfoque Sistêmico.
1 Introdução
Balneário Camboriú é um destino turístico consolidado, capaz de atrair elevado
número de turistas a cada temporada de verão e de distribuí-los pelo entorno, uma vez que
mantém relações com os demais municípios do Estado e do país por meio da recepção e
emissão de turistas. Pelo fato de ser, então, um destino indutor, o turismo de massa alterou a
paisagem do município, ao longo dos anos, tornando o meio ambiente natural completamente
edificado e urbanizado em praticamente toda extensão territorial.
Com o objetivo analisar a paisagem urbana da área central de Balneário Camboriú, na
qual há intensa movimentação de turistas e residentes, optou-se pelo estudo de caso sob o
1 Jornalista Pós-Graduada em Gestão da Comunicação Empresarial pela UNIVALI. Atualmente, exerce funções administrativas na Editora UNIVALI e cursa o Mestrado em Turismo e Hotelaria na mesma instituição. E-mail: [email protected] 2 Arquiteta e Urbanista, Mestre em Ciências da Terra (Natureza, Meio Ambiente e Sociedade) e Doutora em Ciências Humanas (Geografia) pela Universidade de Caen, na França. Atualmente, é Professora do Mestrado em Turismo e Hotelaria da UNIVALI. E-mail: [email protected].
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enfoque sistêmico. Uma cidade turística pode ser visualizada como um sistema aberto, no
qual os elementos humanos estão no centro deste e se relacionam entre si por meio do
trabalho, da circulação, da habitação e do lazer, transformando seus espaços conforme as
necessidades, objetivos, aspirações, exigências e valores.
Para tanto, as categorias de Cullen (1971), Lynch (1997) e Boullon (2002) foram
unificadas porque estes autores desenvolveram uma metodologia apropriada para leitura
objetiva e subjetiva dos atributos visuais do espaço urbano, considerando fatores externos e
internos ao observador. Desta forma, o estudo apoia-se em conceitos relacionados à visão
serial, legibilidade e observação direta, os quais foram exemplificados com fotografias.
2 Fundamentos Teórico-Metodológicos
A base conceitual deste estudo é a Teoria Geral dos Sistemas, de Bertalanffy (2008),
por meio da qual é possível explicar o todo a partir da compreensão dos seus elementos
integrantes, pois, parte do princípio de que, dentro de um macrossistema, existem vários
sistemas interligados uns aos outros e interagindo entre si. Estes sistemas, por sua vez, são
formados por subsistemas, que também mantêm ligações estreitas entre eles, o que, de fato,
sustenta o todo. Ou seja, por subsistemas entende-se que estes são uma parte menor de um
sistema maior que o abrange, o que corresponde ao espaço delimitado do todo.
De acordo com Bertalanffy (2008), os sistemas podem ser fechados ou abertos. Os
sistemas fechados são aqueles em que não há interação com o meio porque estão isolados. Já
os sistemas abertos são aqueles que mantêm o fluxo contínuo de entradas (inputs) e saídas
(outputs) processadas (throughput) no meio ambiente. Este caso pode ser exemplificado pela
atividade turística, a qual tem o visitante como elemento dinâmico do sistema: ao se deslocar,
ele põe em movimento os subsistemas da região emissora até a região receptora, por meio de
uma rota de trânsito, necessitando de locais propícios para se hospedar, se alimentar e para
cumprir atividades programadas anteriormente.
Leiper (1979; 1981) foi quem primeiro adaptou a Teoria Geral dos Sistemas da
biologia para o turismo, reproduzindo os conceitos sistêmicos de tal modo que se visualizasse
a interdisciplinaridade do turismo enquanto fenômeno sócio-econômico que ocorre no meio
ambiente. De acordo com o autor, os elementos que compõem o sistema turístico básico são
categorizados em: dinâmico (turista), geográfico (região de origem, rota de trânsito e região
de destino) e econômico (indústria do turismo), os quais estão envolvidos por um contexto
físico, tecnológico, social, cultural, econômico e político.
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Anos depois, Acerenza (2002) revalidou o sistema turístico básico de Leiper (1979;
1981), ao afirmar que o enfoque sistêmico é uma referência para análise do turismo na sua
totalidade e complexidade porque oferece uma explicação minuciosa sobre: a estrutura e o
funcionamento do sistema turístico, o conhecimento interdisciplinar e o comportamento do
conjunto. Para ele, o turismo é um sistema aberto composto pelos subsistemas: transportes,
alojamentos, serviços de alimentação, centros de lazer e de diversão, estabelecimentos
comerciais e de serviços complementares.
Quando aplicado ao estudo das cidades, o enfoque sistêmico facilita o entendimento
sobre as formas urbanas e suas funções, tendo em vista as ações humanas que interferem no
meio ambiente através do trabalho, da circulação, da habitação e do lazer. Assim, as cidades
são percebidas como sistemas abertos porque estas variáveis funcionais interagem com as
variáveis urbanas constantemente. Ou seja, quando as pessoas se deslocam de suas habitações
para seus locais de trabalho, elas movimentam ruas e avenidas de tal modo que a paisagem
urbana se altera: espaços calmos e silenciosos tornam-se caóticos e barulhentos.
Desta forma, o sistema urbano é fortemente influenciado pela dinâmica dos seus
subsistemas, tornando-se tema complexo para análise, pois, esta deve compreender: estrutura
física, dinâmica ambiental, relação espaço-tempo, interações entre as variáveis e tendência
evolutiva, conforme Oliveira e Portela (2006). Para tanto, neste estudo de caso sobre a
paisagem urbana, a área central de Balneário Camboriú é considerada um subsistema de um
sistema aberto porque esta delimitação é apenas uma porção de um espaço turístico maior (a
cidade), que é muito mais complexo e abrangente.
Para coleta dos dados da pesquisa, optou-se pela pesquisa bibliográfica e documental
mais a observação direta. Para análise, optou-se por unificar as categorias de Cullen (1971),
Lynch (1997) e Boullon (2002) porque as ideias destes autores se complementam quando é
necessária a interpretação e a descrição dos atributos visuais dos espaços urbanos em sua
forma física e, também, em sua capacidade de influenciar a percepção de quem os observa.
Desta forma, a análise visual se revela a partir da posição do observador no espaço urbano e a
partir dos aspectos psico-fisiológicos, sócio-cultural e espaço-temporal.
Portanto, neste estudo de caso, utilizou-se as cinco categorias (vias, limites, bairros,
pontos nodais e marcos) de Lynch (1997) e as seis (logradouros, marcos, bairros, setores,
bordas e roteiros) de Boullon (2002) para descrição objetiva da área central de Balneário
Camboriú. Ressalta-se que estas categorias são semelhantes, mas, Lynch (1997) as utiliza para
descrever espaços urbanos e Boullon (2002), para espaços turísticos.
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Já o método de Cullen (1971, p.11), conhecido como visão serial, facilita a descrição
subjetiva dos espaços urbanos por meio de três categorias: ótica, local e conteúdo. A ótica
refere-se à “sucessão de surpresas ou revelações súbitas” ao observador do espaço urbano; o
local diz respeito às reações oriundas da posição do observador neste espaço; e o conteúdo
refere-se à sua constituição (cor, textura, estilo, natureza, personalidade etc.). Por este método,
então, o espaço urbano é visto como um objeto da percepção da população residente.
3 Caracterização do Sistema Balneário Camboriú (SC)
3.1 Ambientes Naturais e Construídos
Balneário Camboriú situa-se no Vale do Itajaí, litoral centro-norte do Estado de Santa
Catarina, a 80 km da capital Florianópolis, e abrange uma área de 46,4 Km2, cujos limites
geográficos são: ao norte, Itajaí (SC); ao sul, Itapema (SC); ao leste, Oceano Atlântico; ao
oeste, Camboriú (SC). Pelas coordenadas geográficas, a cidade localiza-se a 26º 59’ 26” de
latitude sul e a 48º 38’ 05” de longitude oeste.
A vegetação é composta por Mata Atlântica e também por restingas, arbustos e
manguezais; o relevo é formado por planície litorânea e por morros que compõe o conjunto
das serras do leste catarinense; a principal bacia hidrográfica é a do Rio Camboriú,
destacando-se ainda as duas microbacias formadas pelos Rios Canal do Marambaia e Peroba;
o clima é subtropical, predominando o mesotérmico úmido, cuja temperatura no inverno varia
de 03 a 18ºC e no verão ultrapassa os 25ºC.
Ao longo da orla marítima, existem nove praias3 que constituem o principal atrativo
turístico de Balneário Camboriú. Além destas, a Ilha das Cabras e o Morro do Careca são
também importantes elementos naturais da cidade. A Ilha das Cabras é uma ilha continental
de 10 Km2, situada a 600 metros da praia central, aonde acontece uma das atrações turísticas
mais tradicionais do município: a queima de fogos de artifício na noite do reveillon. O Morro
do Careca, ao norte, situa-se no Bairro Praia dos Amores, divisa com Itajaí, aonde é possível
praticar esportes radicais como voos de parapente e asa-delta, rapel e escalada.
Quanto aos ambientes construídos, de acordo com Boullón (2002), a infraestrutura
urbana pode ser dividida em quatro sistemas:
Sistema viário: As vias de acesso a Balneário Camboriú são terrestre, pela BR-101;
aéreo, pelos aeroportos de Navegantes (SC) e de Florianópolis (SC); e marítimo, pelo Porto
3 Central, Laranjeiras, Taquarinhas, Taquaras, do Pinho, Estaleiro, Estaleirinho, do Canto e do Buraco.
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de Itajaí. A via terrestre é a mais utilizada pelos turistas. Na temporada 2007-2008, a maioria
(72,93%) utilizou automóvel ou ônibus (26,73%) para se deslocar entre as regiões de origem e
de destino e, também, entre os meios de hospedagem e os atrativos turísticos (SANTUR,
2008). Na cidade, a circulação é ordenada por seis vias principais, sendo cinco paralelas à
praia (Avenida Atlântica, Avenida Brasil, Terceira Avenida, Quarta Avenida e Quinta
Avenida) e uma transversal (Avenida do Estado).
Sistema de comunicações: Em Balneário Camboriú, este é composto por jornais
impressos; rádios AM, FM e comunitária; canais de televisão retransmissores e de sinal livre,
além da TV por assinatura. A cidade conta também com agências dos Correios para os
serviços postais e empresas de telecomunicações para os serviços de telefonia fixa e móvel e o
acesso à Internet.
Sistema de saneamento básico: A EMASA4 (2009) é responsável pelo abastecimento
de água e pelo tratamento de esgoto sanitário. Ao todo, são abastecidas mais de 62 mil
unidades consumidoras de água por meio de 17 mil pontos de ligação. A captação de água é
feita no Rio Camboriú e o tratamento em estação situada à Avenida Marginal Leste. No caso
do esgoto sanitário, mais de 51 mil unidades são atendidas por meio de nove mil pontos de
ligação. O tratamento é feito em estação situada no Bairro Nova Esperança. A coleta de lixo é
feita por empresa privada, ENGEPASA5 (2009), que também faz a coleta seletiva. O lixo sujo
é levado ao Aterro Sanitário Canhanduba, em Itajaí, e o lixo limpo à Associação Ecológica de
Catadores de Materiais Recicláveis “Terra Limpa”, no Bairro Várzea do Ranchinho.
Sistema energético: O fornecimento de energia elétrica para Balneário Camboriú é de
feito pela CELESC6 (2008), que atende mais de 64 mil unidades consumidoras.
3.2 Dinâmicas Sócio-Econômicas
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Balneário Camboriú é de 0,867, ou
seja, trata-se de um município com alto desenvolvimento humano, que ocupa a 7ª posição se
comparado aos demais municípios do país e a 2ª posição se comparado aos demais municípios
do Estado de Santa Catarina (PNUD, 2000). A população é estimada em 94.344 pessoas,
todas elas vivendo na área urbana com acesso aos serviços básicos e bens de consumo.
O turismo é a principal atividade econômica, seguido pela indústria e agropecuária,
que são inexpressivas neste contexto. Na temporada 2007-2008, o movimento estimado de
4 Empresa Municipal de Água e Saneamento. 5 Ambiental Saneamento e Concessões. 6 Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A.
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turistas7 foi de 685.946 pessoas, que gastaram cerca de US$98,24 por dia, em estadias que
variaram de seis a dez pernoites (SANTUR, 2008). Para atender esta demanda, há 137 opções
entre hotéis e pousadas e 298 entre bares e restaurantes. Ressalta-se que a maioria (73,1%)
dos turistas hospeda-se em meios alternativos, como os alugados temporariamente, os de
amigos e parentes e os de segunda residência. Os hotéis e as pousadas são ocupados por
25,28% dos visitantes. As opções de entretenimento são: sítios naturais, manifestações
culturais, históricas e folclóricas e eventos programados (BOULLÓN, 2002).
3.3 Gênese Histórica O povoamento dos municípios de Camboriú e Balneário Camboriú ocorreu em 1826,
quando Baltazar Pinto Corrêa adquiriu, por sesmaria, um pedaço de terra no sítio da Barra Sul
e, junto de outras famílias descendentes de açorianos, formou o primeiro núcleo populacional:
o Arraial do Bom Sucesso. Com o crescimento populacional e a construção da Capela de
Santo Amaro, em 1840, o Arraial foi elevado à categoria de Freguesia nove anos mais tarde.
Nesta época, as famílias se sustentavam por meio de atividades comerciais, de produção
agrícola, do extrativismo da madeira, da construção naval e da pesca.
No entanto, devido à ínfima extensão da área - 4,9Km2 - da Freguesia Nossa Senhora
do Bom Sucesso e à existência de um espaço territorial inteiro a ser explorado acima do Rio
Camboriú, em 1836, Tomás Francisco Garcia, vindo do Ribeirão da Ilha (um dos distritos de
Florianópolis), instalou-se nas terras férteis do irmão José Francisco Garcia e fundou a Vila
dos Garcia às margens do Rio Pequeno, afluente do Rio Camboriú. A concorrência entre o
sítio da Barra Sul e a Vila dos Garcia foi estimulada pelas condições favoráveis do uso do
solo para agricultura, pecuária e extrativismo mineral desta última.
Por esta razão, a Vila dos Garcia tornou-se o mais importante centro das transações
comerciais da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso, o que lhe proporcionou a
independência político-administrativa do município de Itajaí, em 05 de abril de 1884,
denominando-se, então, Camboriú. Porém, a sede permaneceu no sítio da Barra Sul até
fevereiro de 1890, quando o Governador Lauro Müller determinou a transferência da sede do
município para a Vila dos Garcia. Esta decisão descontentou a população e para apaziguar os
ânimos exaltados, o Distrito da Barra foi criado em 1894, porém, extinto em 1900.
A partir da década de 1920, com a expansão industrial no Alto Vale do Itajaí, o poder
aquisitivo da população residente em Brusque e em Blumenau aumentou rapidamente,
7 Oriundos do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul e, também, de outros países: Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai e Estados Unidos.
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proporcionando-lhes o lazer. Com isso, os primeiros turistas da Praia de Camboriú - criada
oficialmente em 1959, são oriundos destas localidades. De acordo com Corrêa (1985),
Blumenau foi o mercado emissor catarinense que mais contribuiu com o progresso de
Camboriú, em decorrência das excursões nos fins de semana e do povoamento teuto-
brasileiro, além da construção de segundas residências e de meios de hospedagem devido ao
relacionamento permanente com a região de destino.
Com o turismo em alta e por interesses político-econômicos, houve a separação do
Balneário de Camboriú8 de Camboriú, em 20 de julho de 1964, sob o aval do Governador
Celso Ramos. Com este ato, que se revelou impensado nos últimos anos, o processo de
ocupação do território foi estimulado pela construção civil e pela especulação imobiliária.
Além disso, a abertura da BR-101, nos anos 70, contribuiu para o acelerado crescimento
urbano, pois, além de facilitar o acesso, efetivou o turismo de massa devido à proximidade
com o mar. Deste modo, percebe-se que a urbanização da cidade está intimamente relacionada
à atividade turística massificada.
4 A Paisagem Urbana do Subsistema Centro de Balneário Camboriú (SC)
Por falta de planejamento urbano e turístico nos primórdios, a expansão ocorreu de
modo desenfreado em período de tempo reduzido, afetando a paisagem urbana e a vida
cotidiana: a grande quantidade de edifícios construídos numa área territorial exígua trouxe
conseqüências negativas à população nativa, que não teve condições de arcar com os ônus
gerados pela renovação urbana, e ao meio ambiente natural, que foi devastado. Pela forma
urbana que se tornou - ortogonal e completamente vertical, não é mais possível contemplar a
Ilha das Cabras a partir de um dos pontos focais9 da cidade, nem mesmo tomar banho de sol
na praia central, devido ao sombreamento na faixa de areia tão logo a tarde se inicia.
FOTO 01: PAISAGEM URBANA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ.
8 Em 1979, a preposição “de” foi suprimida desta nomenclatura, tornando-se Balneário Camboriú. 9 De acordo com Cullen (1971), o ponto focal é um símbolo vertical que confirma a localização das pessoas. Em Balneário Camboriú, pode-se citar o Cristo Luz.
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Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
O avanço dos edifícios sobre a orla marítima tem sido objeto de intensa discussão
entre a comunidade local e o poder público instituído, que planeja a revitalização da Avenida
Atlântica e a ampliação da faixa de areia para evitar o fenômeno da “sombra urbana”. Porém,
de um lado, estão os ambientalistas que discutem os impactos ambientais da obra; de outro,
estão os que defendem a economia local, tendo em vista que a praia central é uma área de
lazer para turistas e residentes e seu entorno é a imagem pública de Balneário Camboriú
diante dos principais mercados emissores.
Situação diferente ocorre nos bairros mais afastados da orla, onde é possível perceber
a horizontalidade em um design urbano mais bem planejado. Estas seções da cidade não têm
atrativos turísticos para apreciação porque são homogêneas e monótonas, criadas para facilitar
a administração pública (BOULLON, 2002). Para o observador, Lynch (1997) afirma que os
bairros são identificáveis internamente e referenciáveis externamente. Ou seja, características
comuns de um bairro são identificadas apenas pelos seus moradores. As demais pessoas o
referenciam apenas para facilitar o deslocamento pelas ruas da cidade. Em Balneário
Camboriú, existem 13 bairros10 nomeados de tal modo que a identidade e a unidade temática
facilitam a mobilidade das pessoas (LYNCH, 1997).
FOTO 02: BALNEÁRIO CAMBORIÚ AO NORTE E AO SUL.
10 Centro, dos Pioneiros, Ariribá, Praia dos Amores, das Nações, dos Estados, dos Municípios, Vila Real, Jardim Iate Clube, da Barra, São Judas Tadeu, Nova Esperança e Várzea do Ranchinho, conforme lei municipal nº1840/1999.
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Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
O marco zero em Balneário Camboriú é a Avenida Central: se o observador estiver de
costas para o mar, à sua esquerda, a nomenclatura das ruas são os números pares e à sua
direita, os ímpares. Mas, esta nomenclatura é confusa para quem desconhece a cidade, pois,
não há nenhuma menção em totem ou placa informativa no calçadão da Avenida Central de
que este ponto é o marco zero da cidade e de que as ruas são numeradas de tal modo. Assim, é
fácil se perder pela cidade, embora exista marcos geral e local para facilitar o deslocamento,
conforme será visto adiante.
Construído no final dos anos 70, o calçadão da Avenida Central, que interliga a
Avenida Atlântica e a Avenida Brasil, tornou-se um espaço turístico, aberto e de uso público.
No entanto, não é arborizado e as pessoas disputam o espaço com os automóveis, pois,
existem ali diversas entradas de garagens dos edifícios construídos no local, além dos
empreendimentos turísticos de hospedagem, alimentação, entretenimento e outros serviços.
Desta forma, pés e pneus se movimentam no mesmo espaço, “transformando a segurança e
intimidade do interior de um edifício em demasiada rapidez e desespero dos acossados”
(CULLEN, 1971, p. 123).
FOTO 03: CALÇADÃO DA AVENIDA CENTRAL.
Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
A Avenida Central, a Avenida Atlântica e a Avenida Brasil são consideradas como
roteiros, pela categorização de Boullon (2002), e como vias, pela de Lynch (1997). Por
roteiros, entende-se que estes são àquelas avenidas - ou ruas - usadas pelos turistas para
deslocar-se até os atrativos turísticos e, também, àquelas para chegar e sair de uma cidade-
destino. Por vias, entende-se que estas são àquelas avenidas - ou ruas - por onde as pessoas
passam todos os dias, tornando-se um trajeto de hábito cotidiano.
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No caso da Avenida Atlântica e da Avenida Brasil, ambas são usadas como roteiros
pelos turistas e como vias pela população residente de forma concomitante, comprometendo a
mobilidade de todas as pessoas devido aos congestionamentos, principalmente, durante a alta
temporada. Além disso, quando há eventos diversos nestes locais, o trânsito das demais
avenidas e ruas também fica obstruído. Daí, a irritabilidade dos moradores que se atrasam nos
seus trajetos casa-trabalho faz com que a atividade turística não seja benquista por uma
parcela deles, que se refugia em outras localidades nos meses de dezembro a março.
Quanto à visualidade, a Avenida Atlântica e a Avenida Brasil são duas vias longas e
paralelas, das mais importantes da cidade, interligadas por ruas transversais menores, que são
os acessos à praia central. A Avenida Atlântica situa-se defronte para o mar e se prolonga à
frente do observador em linha reta, tendo “um impacto relativamente pequeno porque o
panorama inicial é rapidamente assimilado, tornando-se monótono” (CULLEN, 1971, p.11).
Na visão do todo, se o observador estiver numa das extremidades da avenida (Pontal Norte ou
Barra Sul), a imagem que se tem é: orla côncava, completamente arborizada e urbanizada com
calçadas padronizadas, canteiros floridos, quiosques, assentos, edifícios etc.
Enquanto na Avenida Atlântica há intensa movimentação de pessoas em torno dos
restaurantes e das casas noturnas, na Avenida Brasil a movimentação é em torno dos
estabelecimentos comerciais. Verifica-se, então, que nessas áreas da cidade há efetiva
apropriação dos espaços públicos por conta desta movimentação de pedestres nas calçadas e
dos meios de transporte nas vias. Mas, muitas vezes, as estreitas calçadas são utilizadas como
extensão dos restaurantes e das lojas, dificultando a mobilidade das pessoas que, por esta
razão, precisam caminhar junto ao meio-fio, disputando o espaço com os meios de transporte
e colocando-se em risco.
FOTO 04: AVENIDA ATLÂNTICA.
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Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
A Praça Almirante Tamandaré está situada na Avenida Atlântica, próxima ao calçadão
da Avenida Central. De acordo com Boullon (2002), esta praça é um logradouro porque é um
espaço aberto e de uso público, mas, também, pode-se considerá-la um marco geral devido à
sua localização proeminente na Avenida Atlântica, de fácil visualização para os turistas. Além
disso, conforme Cullen (1971), a Praça Almirante Tamandaré é uma pontuação da Avenida
Atlântica, uma vez que funciona como uma pausa ao longo da via e também demarca àquele
espaço como palco para eventos nacionais e internacionais, sobretudo, os esportivos. Ou,
ainda, trata-se de um dos pontos nodais de Balneário Camboriú, pois, de acordo com Lynch
(1997), os pontos nodais são locais estratégicos da cidade, nos quais há intensa movimentação
e concentração de pessoas.
FOTO 05: PRAÇA ALMIRANTE TAMANDARÉ.
Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
Além deste marco geral, a cidade possui também marcos locais, como: a escultura do
Presidente João Goulart na Avenida Atlântica; as esculturas “Força do Inusitado” no Pontal
Norte e na 4ª Avenida; o monumento “Mão do Trabalhador que Sustenta o Mundo” na Praça
Kurt Amann, também na Avenida Atlântica; e as obras “Repouso em Tensão” no Molhe da
Barra Sul.
FOTO 06: ESCULTURA DO PRESIDENTE JOÃO GOULART E UMA DAS
ESCULTURAS “FORÇA DO INUSITADO”.
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Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
FOTO 07: MONUMENTO “MÃO DO TRABALHADOR QUE SUSTENTA O
MUNDO” E UMA DAS OBRAS “REPOUSO EM TENSÃO”.
Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
Tratando-se da acessibilidade, Balneário Camboriú tem a BR-101 como a principal via
de acesso terrestre. Inaugurada nos anos 70, esta rodovia federal impulsionou a economia do
país, uma vez que integrou de norte a sul todo litoral brasileiro. No caso de Balneário
Camboriú, devido à proximidade entre a BR-101 e a orla marítima, ocorreu a acelerada
ocupação do solo e a massificação do turismo. No entanto, por conta do alto custo do solo,
outros bairros surgiram para além da BR-101, fazendo dela um limite marcante que separa
duas partes da cidade, uma borda forte conforme as categorias de Boullon (2002), sendo
perceptível até a diferenciação entre as classes sociais: os mais abastados residem aqui na
praia e os menos abastados além da BR-101.
Outra borda forte é o Rio Camboriú, um limite natural que separa o sítio da Barra e as
praias agrestes da área central de Balneário Camboriú, cuja extensão é de 33,8km por 120m
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de largura, aproximadamente, na sua foz. Este rio pertence à Bacia Hidrográfica do Rio
Camboriú, banha os dois municípios vizinhos e os abastecem de água potável. Para Lynch
(1997), as bordas são chamadas de limites quando duas regiões são penetráveis, mesmo
separadas, ou de costuras, quando estas regiões se encontram e se relacionam. Neste caso, o
Rio Camboriú é um limite e a BR-101 é uma costura assim como a Avenida Santa Catarina e
a Rodovia Osvaldo Reis, que liga Balneário Camboriú a Camboriú e Itajaí, respectivamente.
FOTO 08: RIO CAMBORIÚ E BR-101.
Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
Outra categoria de Boullon (2002) são os setores: partes menores da cidade, onde
ainda há marcas do passado, cuja importância como atrativos turísticos se revela a partir do
momento em que são reconhecidos pela comunidade local e valorizados como tais. Nesta
categoria se insere o bairro da Barra, que deu origem à cidade.
FOTO 09: BAIRRO DA BARRA
Fonte: Davi E. C. Spuldaro (2008).
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Santos Jr. (2000) identificou três fatores pelos quais este setor ainda está preservado:
1. longo período de esquecimento político-administrativo - por conta da transferência da sede
do município de Camboriú da Barra para Vila dos Garcia; 2. geografia local - o Rio
Camboriú deságua direto no Oceano Atlântico e o conjunto de serras contorna o sítio,
isolando-o da praia central; e 3. as diferentes fases de produção e as formas de utilização e
ocupação do solo - que são limitadas ao exíguo espaço territorial.
Atualmente, por conta do patrimônio histórico, tenta-se inserir no sítio da Barra o
turismo cultural. No entanto, se não houver planejamento urbano e turístico, o local poderá
sofrer os impactos negativos do turismo de massa, tendo em vista a urbanização desta área
ocorrida nos últimos anos, logo após a construção da Rodovia Interpraias, em 2000, e dos
empreendimentos turísticos nas praias vizinhas.
5 Considerações Preliminares
O estudo das cidades estende-se para além do entendimento sobre o espaço territorial
que elas ocupam, é preciso também entender as atividades exercidas pelos seus moradores. Se
“para a cidade do litoral, o mar é a sua razão de ser”, nas palavras de Cullen (1971, p.192),
Balneário Camboriú faz jus a este preceito: o crescimento urbano se deve às dinâmicas sócio-
econômicas relacionadas ao mar. No entanto, devido à indisciplina do uso e ocupação do solo
e è especulação imobiliária, a expansão da cidade ocorreu de forma desenfreada em período
de tempo reduzido, afetando a qualidade de vida da população e do meio ambiente, além dos
sérios problemas na infraestrutura urbana. Percebe-se que a paisagem atual de Balneário
Camboriú é fruto de ações dos grupos individualizados. Cada qual agiu de acordo com seu
próprio interesse econômico condicionado pelos fatores geográficos.
6 Referências
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