ANÁLISE DA PREVISÃO DE RECALQUES EM … ferrovia, que levou à construção de um aterro ao lado...

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ANÁLISE DA PREVISÃO DE RECALQUES EM UMA OBRA DE ATERRO SOBRE SOLO MOLE ATRAVÉS DE MODELAGEM NUMÉRICA BIDIMENSIONAL PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS Luiz Henrique Martins Bouch Rio de Janeiro SETEMBRO DE 2017 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Marcos Barreto de Mendonça Alessandra Conde de Freitas

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ANÁLISE DA PREVISÃO DE RECALQUES EM UMA OBRA DE

ATERRO SOBRE SOLO MOLE ATRAVÉS DE MODELAGEM NUMÉRICA

BIDIMENSIONAL PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Luiz Henrique Martins Bouch

Rio de Janeiro

SETEMBRO DE 2017

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro.

Orientadores: Marcos Barreto de Mendonça

Alessandra Conde de Freitas

ANÁLISE DA PREVISÃO DE RECALQUES EM UMA OBRA DE ATERRO SOBRE

SOLO MOLE ATRAVÉS DE MODELAGEM NUMÉRICA BIDIMENSIONAL PELO

MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Luiz Henrique Martins Bouch

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

_____________________________________

Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc

_____________________________________

Profª. Alessandra Conde de Freitas, D.Sc

_____________________________________

Prof. Rogério Cyrillo Gomes, M.Sc

_____________________________________

Engª. Ana Cláudia de Mattos Telles, M.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

SETEMBRO de 2017

i

Bouch, Luiz Henrique Martins

Análise da previsão de recalques em uma obra de aterro sobre solo mole através de modelagem numérica bidimensional pelo método dos elementos finitos/ Luiz Henrique Martins Bouch – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

VI, 80p.: il.: 29,7 cm.

Orientador: Marcos Barreto de Mendonça e Alessandra Conde de Freitas

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/Curso de Engenharia Civil, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 78

1. Aterro Sobre Solo Mole 2. Previsão de Recalques

ii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Análise da previsão de recalques em uma obra de aterro sobre solo mole através de

modelagem numérica bidimensional pelo método dos elementos finitos

Luiz Henrique Martins Bouch

Setembro/2017

Orientadores: Marcos Barreto de Mendonça e Alessandra Conde de Freitas

Curso: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta uma análise dos recalques ocorridos durante a construção de

um aterro sobre uma camada de solo compressível. A obra consiste na duplicação de

uma ferrovia, que levou à construção de um aterro ao lado de um já existente. O

estudo trata de avaliar os resultados obtidos para as deformações verticais através do

programa PLAXIS 2D, que aborda o problema através do método dos elementos

finitos. Os resultados foram comparados com os dados obtidos pela instrumentação

instalada para o monitoramento da obra. Foi avaliada a influência do aterro existente,

executado em fase anterior, nas deformações da construção avaliada no presente

estudo, bem como a influência dos parâmetros do solo nos resultados obtidos.

Palavras-chave: aterros sobre solo moles previsão de recalques.

iii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/ UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Civil Engineering.

Analysis of the prediction of settlements at the construction of embankments on soft

soils through two-dimensional numerical modeling by the finite element method

Luiz Henrique Martins Bouch

September/2017

Advisors: Marcos Barreto de Mendonça e Alessandra Conde de Freitas

Course: Civil Engineering

This work presents an analysis of the settlements that occurred during the construction

of an embankment on a layer of compressible soil. The building consists at the

duplication of a railroad, which led to the construction of an embankment next to an

existing one. The study evaluates the results obtained for the vertical deformations

through the PLAXIS 2D program, which approaches the problem through the finite

element method. The results were compared with the data obtained by the installed

instrumentation for the monitoring of the construction. Was evaluated the influence of

the existent embankment, executed in the previous phase, on the deformations of the

construction evaluated in the present study, as well as the influence of the soil

parameters on the obtained results.

Keywords: Embankment on soft soil, prediction of settlements.

iv

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1.1 GENERALIDADES ................................................................................................................. 1

1.2 OBJETIVO DO TRABALHO ...................................................................................................... 2

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................................... 2

2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 3

2.1 SOLOS MOLES .................................................................................................................... 3

2.2 TÉCNICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERRO SOBRE SOLOS MOLES ................................................. 5

2.2.1 Bermas de equilíbrio ................................................................................................. 5

2.2.2 Remoção do material ................................................................................................ 6

2.2.3 Sobrecarga ................................................................................................................ 6

2.2.4 Aterros leves .............................................................................................................. 7

2.2.5 Aterro Estruturado .................................................................................................... 7

2.2.6 Aterro construído em etapas .................................................................................... 7

2.2.7 Drenos verticais ......................................................................................................... 8

2.2.8 Vácuo ........................................................................................................................ 8

2.3 ENSAIOS DE LABORATÓRIO .................................................................................................... 9

2.3.1 Caracterização .......................................................................................................... 9

2.3.1.1 Teor de Umidade Natural ................................................................................................ 9

2.3.1.2 Índice de Plasticidade .................................................................................................... 10

2.3.1.3 Índice de Vazios ............................................................................................................. 11

2.3.1.4 Granulometria ................................................................................................................ 12

2.3.2 Adensamento .......................................................................................................... 13

2.3.3 Compressão Axial .................................................................................................... 16

2.4 ENSAIOS DE CAMPO ........................................................................................................... 19

2.4.1 SPT (Standard Penetration Test) ............................................................................. 19

2.4.2 Ensaio de palheta (Vane test) ................................................................................. 20

2.4.2.1 Resistência não-drenada ................................................................................................ 20

2.4.2.2 Resistência não-drenada amolgada ............................................................................... 21

2.4.2.3 Sensibilidade da argila ................................................................................................... 21

2.4.2.4 Razão de Sobreadensamento (OCR) .............................................................................. 22

2.4.3 Piezocone (CPTU) .................................................................................................... 23

2.4.3.1 Perfil de comportamento do Solo .................................................................................. 24

2.4.3.2 Resistência não-drenada ................................................................................................ 26

2.4.3.3 Razão de Sobreadensamento (OCR) .............................................................................. 27

2.4.3.4 Coeficiente de Adensamento Horizontal ....................................................................... 27

2.4.3.5 Coeficiente de Adensamento Vertical ............................................................................ 28

2.5 INSTRUMENTAÇÃO ............................................................................................................ 29

v

2.5.1 Deslocamentos Horizontais ..................................................................................... 29

2.5.2 Deslocamentos Verticais ......................................................................................... 30

2.5.3 Poropressão ............................................................................................................ 31

2.6 MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS (MEF)............................................................................... 33

2.7 PLAXIS 2D ..................................................................................................................... 34

2.7.1 Input (Entrada) ........................................................................................................ 35

2.7.2 Calculation (Cálculo) ............................................................................................... 36

2.7.3 Output (Saída) ......................................................................................................... 36

2.7.4 Curves (Curvas)........................................................................................................ 37

2.7.5 Modelos constitutivos ............................................................................................. 37

2.7.5.1 Mohr-Coulomb ............................................................................................................... 38

2.7.5.2 Soft-soil .......................................................................................................................... 39

3 ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 43

3.1 SONDAGENS E ENSAIOS SPT ............................................................................................... 43

3.2 CPTU............................................................................................................................. 46

3.3 VANE TEST ...................................................................................................................... 47

3.4 ENSAIOS DE LABORATÓRIO .................................................................................................. 47

3.5 SOLUÇÕES EMPREGADAS .................................................................................................... 50

3.6 INSTRUMENTAÇÃO GEOTÉCNICA .......................................................................................... 50

3.7 SEÇÃO ESTUDADA ............................................................................................................. 54

4 ANÁLISE NUMÉRICA ...................................................................................................... 57

4.1 PARÂMETROS UTILIZADOS NA ANÁLISE NUMÉRICA ................................................................... 57

4.2 ANÁLISE NO PLAXIS 2D .................................................................................................... 59

4.2.1 Primeira Análise ...................................................................................................... 59

4.2.2 Segunda Análise ...................................................................................................... 66

4.2.3 Terceira Análise ....................................................................................................... 71

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 76

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 78

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Generalidades

Este estudo é baseado na instrumentação feita durante a duplicação de uma

ferrovia no norte do Brasil durante o período de novembro de 2015 a março de 2017. A

instrumentação acompanhou as fases de execução do novo aterro construído ao lado

do aterro antigo utilizado para a construção da primeira linha de tráfego.

A ferrovia liga o município de Carajás ao Porto de Itaqui percorrendo, ao todo,

892 km. É a maior ferrovia de transporte de passageiros do Brasil, porém sua principal

função é o transporte de minério.

Figura 1.1. Mapa da Ferrovia

Na fase de projeto de uma ferrovia pode ser observada, com base no perfil

estratigráfico, presença de solo mole em determinados trechos. Nestas situações é

importante a avaliação das deformações verticais geradas pela compressão desta

camada de solo mole logo abaixo do aterro. Através da ferramenta PLAXIS 2D esses

recalques podem ser previstos na fase de projeto e através de técnicas de execução

pode-se acelerá-los para que não ocorram durante a operação do empreendimento.

2

1.2 Objetivo do trabalho

O objetivo do trabalho é avaliar o desempenho do aterro, em termos de

recalque, a partir da comparação dos valores obtidos na análise numérica (método dos

elementos finitos - Plaxis) com os dados da instrumentação do aterro. Com essa

comparação pode-se avaliar o erro entre a análise e os valores obtidos através do

monitoramento de campo, assim como a influência da escolha dos parâmetros

utilizados na análise perante o resultado final. Pode-se, também, avaliar o quão

criterioso deve ser o estudo deste tipo de projeto para que tenhamos resultados

satisfatórios e condizentes com a instrumentação.

1.3 Estrutura do trabalho

O presente estudo foi dividido em seis capítulos, a sua estrutura é definida a

seguir.

O Capítulo 1 apresenta a introdução do trabalho, assim como os seus

objetivos.

No Capítulo 2 serão abordados os embasamentos teóricos necessários para a

análise de aterros sobre solos moles através de cálculos que utilizem o Método dos

Elementos Finitos (MEF), no caso através do programa PLAXIS 2D. Serão

apresentadas as principais técnicas e soluções para a construção de aterros sobre

solos moles, ensaios de laboratório e campo que são utilizados para a definição dos

parâmetros utilizados na análise, e a instrumentação necessária para acompanhar as

alterações geradas pela construção da estrutura.

O Capítulo 3 apresenta os principais detalhes da obra utilizada como estudo de

caso neste trabalho. Serão abordados o projeto da expansão da ferrovia, os ensaios

realizados, a instrumentação instalada e a seção escolhida para a análise.

No Capítulo 4 é feita a análise dos recalques estimados para a seção analisada

do estudo de caso. Neste capítulo são definidos os parâmetros utilizados e serão

apresentados os resultados obtidos através do PLAXIS 2D.

O capítulo 5 apresenta as considerações finais do trabalho.

No capítulo 6 são encontradas as referências bibliográficas utilizadas no

trabalho.

3

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Solos moles

Os solos moles são amplamente encontrados no Brasil. Estes solos são de

origem sedimentar, geralmente argilosos e saturados. Apresentam grande

compressibilidade e baixa resistência ao cisalhamento, além de uma baixa

permeabilidade que faz com que suas deformações demorem para ocorrer, devido a

baixa velocidade de saída da água de seus vazios. Este tipo de material traz desafios

para a engenharia devido aos seus problemas de compressibilidade e/ou estabilidade,

por isso deve ser bastante estudado.

Segundo PINTO (2006) esse material pode ser determinado através das

seguintes propriedades:

Índice de Consistência

O cálculo do índice de consistência proposto por Terzaghi é dado pela fórmula

a seguir.

�� =�� − �

�� − ��

Onde:

IC: Índice de consistência

LL: Limite de liquidez

LP: Limite de plasticidade

w: Teor de umidade do solo

A classificação do material através do índice de consistência pode ser vista na

Tabela 2.1 a seguir.

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Tabela 2.1. Estimativa da consistência pelo índice de consistência (adaptada de PINTO, 2006)

Resistência à compressão simples

Através da tensão necessária para levar uma amostra do material à ruptura por

compressão simples, pode-se definir a consistência da argila analisada, conforme

apresentado na Tabela 2.2.

Tabela 2.2. Consistência em função da resistência a compressão (adaptada de PINTO ,2006)

NSPT

A consistência do solo também pode ser definida através do ensaio feito

durante a sondagem. O NSPT é o número de golpes necessários para a cravação dos

últimos 30 cm do amostrador padrão no solo, conforme a NBR 6484.

A Tabela 2.3 a seguir apresenta consistência em função do NSPT.

Tabela 2.3. Consistência das argilas em função do NSPT (adaptada de PINTO, 2006)

Tabela 2.4

Consistência Índice de Consistência

mole < 0,5

média 0,5 a 0,75

rija 0,75 a 1

dura > 1

Consistência Resistência em kPa

muito mole < 25

mole 25 a 50

média 50 a 100

rija 100 a 200

muito rija 200 a 400

dura > 400

Consistência NSPT

muito mole < 2

mole 3 a 5

média 6 a 10

rija 11 a 19

dura > 19

5

2.2 Técnicas para a construção de aterro sobre solos moles

A necessidade de se construir em regiões com presença de camadas muito

compressíveis trouxe problemas de estabilidade e compressibilidade. Para minimizar

estes problemas, detalhados na Figura 2.1, foram desenvolvidas diversas técnicas

para a construção de aterros sobre estas camadas. As soluções empregadas são

sempre associadas às condições geotécnicas do local, custos e prazos do

empreendimento, o tipo de construção e a vizinhança.

Figura 2.1. Problemas comuns da construção de aterro sobre solo mole (ALMEIDA, 2010)

Serão apresentadas a seguir as principais alternativas para a construção de

aterros sobre solos moles, podendo ser empregada mais de uma solução para o

mesmo trecho. As soluções expostas são baseadas em ALMEIDA, 2010.

2.2.1 Bermas de equilíbrio

Bermas de equilíbrio podem ser utilizadas nas laterais do aterro para melhorar

a sua estabilidade. O maior condicionante desse tipo de solução é a disponibilidade de

espaço na lateral do aterro e de material para a construção das bermas. Quando se

6

quer diminuir o volume de material podem ser instalados geossintético na base do

aterro. A Figura 2.2 abaixo mostra a disposição desta solução.

Figura 2.2. Detalhe de projeto com bermas de equilíbrio

2.2.2 Remoção do material

Em casos que se quer evitar trabalhar com as grandes deformações geradas

pela camada de solo compressível, uma das soluções é a remoção total ou parcial

deste material, substituindo-se esse material por um menos compressível, evitando-se,

deste modo, os problemas de estabilidade e compressibilidade. Para que este tipo de

solução possa ser empregado é necessário que este material apresente uma pequena

espessura, segundo ALMEIDA (2010) até 4 metros, e que se tenha material disponível

para que seja feita a substituição.

A remoção do material pode ser feita através do uso de escavadeiras, expulsão

pelo próprio peso do aterro ou através do uso de explosivos. Deve-se também atentar

para a legislação ambiental quanto ao despejo do material removido.

2.2.3 Sobrecarga

A utilização da sobrecarga temporária se dá em casos em que se deseja

acelerar os recalques nas camadas compressíveis, reduzindo o tempo necessário

para a estabilização do aterro. As deformações estão diretamente associadas com as

cargas impostas ao solo, sendo assim, maiores cargas levam a maiores deformações.

No caso da sobrecarga temporária é feito um aterro a cima da cota do aterro desejado

em projeto, visando aumentar as cargas e assim acelerar as deformações. Assim que

se alcança o recalque previsto em projeto esse material é removido de forma que

tenhamos somente o aterro necessário para atingir-se a cota requerida em projeto.

7

2.2.4 Aterros leves

Como visto anteriormente, os recalques dependem da magnitude do

carregamento aplicado, sendo assim, quanto menores as cargas, menores os

recalques. A técnica de aterros leves consiste na utilização de materiais de baixo peso

específico, como o isopor, no corpo do aterro de maneira que este se torne mais leve

e acarrete em menores deformações.

2.2.5 Aterro Estruturado

Consiste em construir o aterro sobre estacas, que podem ser de concreto ou

colunas de areia ou de brita, de maneira a transferir as cargas do aterro em sua

totalidade ou grande parte para camadas de solo mais profundas e competentes. Para

melhorar a distribuição das cargas paras as estacas podem ser empregados capitéis

no topo das mesmas e/ou o uso de geogrelhas. Essa solução é utilizada para a

minimização dos recalques e melhora da estabilidade pois utilizam um solo de

fundação mais competente que o solo. A Figura 2.3 a seguir traz um exemplo deste

tipo de solução.

Figura 2.3. Detalhe de projeto de aterro estruturado

2.2.6 Aterro construído em etapas

A construção do aterro em etapas é empregada quando se pretende contar

com o ganho de resistência do solo gerado por cada fase de carregamento após a

dissipação dos excessos de poropressões gerados pelo carregamento. Nesse caso,

em vez de se construir o aterro em uma única etapa, o que poderia acarretar na

ruptura do material de fundação, se constrói em etapas para que o carregamento da

próxima etapa do alteamento do aterro possa contar com o ganho de resistência da

etapa anterior.

8

O que inviabiliza essa solução, em alguns casos, é o prazo, pois o tempo

necessário para a dissipação das poropressões pode ser maior que o limite dado pela

obra. Por isso essa solução é, normalmente, utilizada em conjunto com técnicas para

acelerar a dissipação dos excessos de poropressões.

2.2.7 Drenos verticais

Uma das soluções que acelera a equalização das poropressões é a instalação

de drenos verticais no corpo da camada de solo compressível. Esses drenos

diminuem o caminho de percolação realizado pela água através da combinação da

drenagem vertical (dentro do dreno) com a radial (gerada pela presença dos drenos),

acelerando assim a sua remoção do material e permitindo que o solo se deforme em

menos tempo. Vale lembrar que este tipo de técnica apenas acelera o tempo de

deformação, não alterando a sua magnitude.

2.2.8 Vácuo

A utilização do método que comtempla a aplicação de vácuo tem como objetivo

o pré-adensamento do solo através do aumento das tensões efetivas, pois o sistema

de vácuo reduz as poropressões no interior do solo mantendo as tensões totais

constante. Portanto, assim como a técnica de sobrecarga, o uso dessa técnica acelera

o processo de recalque, podendo as duas serem utilizadas em conjunto para a

obtenção de melhores resultados.

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2.3 Ensaios de laboratório

Diversas propriedades do solo importantes para a análise de recalques são

obtidas em laboratório através de ensaios de caracterização, adensamento e de

compressão triaxial. Estes ensaios são necessários para que se possa compreender

os mecanismos de deformação. Serão abordados neste item os ensaios utilizados no

estudo de caso que será apresentado no Capítulo 3.

Segundo JAMIOLKOWSKI et al. (1985) as principais vantagens dos ensaios de

laboratório são as definições das condições de contorno, o controle da drenagem do

material, conhecimento dos caminhos de tensões e as propriedades do solo. Por outro

lado, as desvantagens são o alto custo e tempo, em comparação aos ensaios de

campo, o amolgamento inevitável das amostras e a baixa representatividade da

amostra em relação ao campo devido às suas dimensões serem bem reduzidas em

comparação ao todo.

2.3.1 Caracterização

Para o conhecimento do material é essencial a determinação dos seguintes

parâmetros: teor de umidade natural, Limites de Atterberg, índice de vazios, peso

específico real dos grãos e granulometria do material. Uma facilidade desses ensaios

é que podem ser utilizadas amostras deformadas para obtê-los, facilitando sua

execução e diminuindo o custo.

2.3.1.1 Teor de Umidade Natural

A determinação do teor de umidade natural é um processo bem simples, sua

maior dificuldade é garantir que o material retirado do campo não perca umidade

durante o transporte ao laboratório. Após a chegada desse material no laboratório ele

é pesado e colocado em uma estufa. Quando sua massa não apresentar mais

variação esse material é admitido como seco. O cálculo do teor de umidade é dado

por (DNER-ME 213/94):

ℎ =��� − ���

��� − ��× 100

Onde:

h: Teor de umidade (%)

mbu: massa bruta úmida adicionada da massa do recipiente (g)

10

mbs: massa bruta seca adicionada da massa do recipiente (g)

mr: massa do recipiente vazio (g)

2.3.1.2 Índice de Plasticidade

O índice de plasticidade é obtido através da diferença entre os Limites de

Atterberg:

�� = �� − ��

Onde:

IP: Índice de Plasticidade

LL: Limite de Liquidez

LP: Limite de Plasticidade

O Limite de Liquidez é obtido em ensaio com uso do aparelho de Casagrande

(Figura 2.4), sendo a umidade necessária para que o solo se una ao longo de 13mm

após 25 golpes. O Limite de Plasticidade é a umidade necessária para a formação de

um cilindro do material de 3mm de diâmetro sem que ocorra a fragmentação do

material.

Figura 2.4. Esquema do aparelho de Casagrande (PINTO, 2006)

11

2.3.1.3 Índice de Vazios

A determinação do índice de vazios natural do material é outro item essencial

para a análise das deformações. Este índice não pode ser definido diretamente

através de um ensaio de laboratório, porém pode ser estimado indiretamente a partir

de relações entre outros índices. Seu valor é determinado por:

� = γ�

γ�− 1

Onde:

e: Índice de vazios do solo

gs: Peso específico dos sólidos ou grãos (kN/m³)

gd: Peso específico aparente seco (kN/m³)

O gs pode ser obtido através do ensaio de picnômetro, no qual se coloca um

peso seco conhecido de solo num picnômetro e após completar com água tem-se o

peso total. O peso do picnômetro só com água mais o peso do solo seco, subtraído do

peso do picnômetro com solo e água é igual ao peso da água deslocada pelo solo,

conforme a Figura 2.5 de PINTO (2006) a seguir. Desse peso sabe-se o volume de

água deslocada, que é igual ao volume do solo, com o volume e o peso do solo, temos

o peso específico dos sólidos.

Figura 2.5. Esquema da determinação do peso específico dos solos de PINTO, 2006.

Porém o peso específico aparente seco também não é determinado

diretamente, então é necessário obtê-lo através da relação a seguir:

γ� = γ�

1 + ℎ

12

Onde:

gn: Peso específico natural do solo (kN/m³)

O peso específico natural do solo é facilmente determinado através do molde

do solo em um cilindro com dimensões conhecidas. O peso total divido pelo volume

fornece o valor do peso específico do solo.

Com a realização de todos esses procedimentos obtém-se o valor do índice de

vazios do solo.

2.3.1.4 Granulometria

A análise granulométrica do solo consiste em duas fases: peneiramento e

sedimentação.

A primeira fase, peneiramento, consiste em passar o material através de

peneiras e medir o peso retido em cada uma delas. Esses pesos são anotados

permitindo a elaboração de curvas similares às apresentadas na Figura 2.6, que é a

curva granulométrica do solo. O diâmetro das partículas é dado pela abertura das

peneiras, porém esse é um diâmetro equivalente já que as partículas não são

esféricas. No entanto esta análise é limitada pelo diâmetro das peneiras, usualmente a

menor peneira é a de nº 200, que possui uma abertura de 0,075mm. Para a

determinação da granulometria para partículas de diâmetros menores que este é

necessário que se faça o ensaio de sedimentação.

13

Figura 2.6. Exemplos de curvas granulométricas dadas pela NBR 7181/1984.

2.3.2 Adensamento

O ensaio de adensamento unidimensional ou Edométrico é fundamental para a

especificação de parâmetros de compressibilidade do solo. O ensaio consiste em

etapas de aplicação de incrementos de carga a um corpo cilindro confinado.

Durante o ensaio são registrados os deslocamentos verticais do corpo de prova

para os níveis de tensão aplicados. Com esses valores são obtidos gráficos que

relacionam o índice de vazios ou a deformação vertical, com a tensão vertical efetiva e

a partir destes gráficos obtém-se parâmetros como o índice de compressão virgem

(Cc), de descompressão (Cs) e recompressão (Cr), conforme a Figura 2.7 a seguir.

14

Figura 2.7. Gráfico e x logs’v (BECKER, L. - Notas de aula, 2016)

O procedimento do ensaio consiste em aplicar uma tensão vertical crescente –

geralmente duplica-se a tensão. Acompanha-se a estabilização da variação de altura

do corpo de prova ou até que se passem 24 horas, calcula-se o índice de vazios para

a altura atingida e repete o ensaio até atingir-se a tensão desejada. O

descarregamento também é feito em estágios.

Os valores de Cc, Cr e Cs são obtidos do gráfico a partir das tangentes da curva

nos trechos de compressão, recompressão e descompressão, respectivamente:

��, ��, �� = ∆�

∆����′��

Por meio deste ensaio também pode ser estimada a tensão de

sobreadensamento do solo através do método gráfico de Pacheco Silva, por exemplo.

O método consiste em traçar uma reta horizontal a partir do índice de vazios inicial da

amostra e uma reta tangente à curva no trecho de compressão virgem. Do ponto de

encontro das duas retas é traçada uma reta vertical até encontrar-se a curva do

ensaio, após se faz uma reta horizontal até encontrar a reta tangente à fase de

compressão e, finalizando, traça-se uma reta vertical até a tensão de

sobreadensamento (σ’vm), conforme a Figura 2.8 a seguir.

15

Figura 2.8. Método de Pacheco Silva (BECKER, L. - Notas de aula, 2016)

Também através do ensaio de adensamento pode ser obtido o coeficiente de

adensamento (cv) do solo, que reflete características do solo como permeabilidade,

porosidade e compressibilidade. Este coeficiente pode ser obtido através da equação

dada pela NBR 12007:

�� =0,197(0,5���)�

���

Onde:

cv: coeficiente de adensamento (cm²/s)

H50: altura do corpo de prova correspondente a 50% do adensamento primário

(cm)

t50: tempo correspondente à 50% de adensamento primário (s)

O valor de H50 pode ser obtido através da equação:

��� =�� + ����

2

Onde:

H0: Altura correspondente à 0% de adensamento (cm)

16

H100: Altura correspondente à 100% do adensamento (cm)

O coeficiente de adensamento também pode ser determinado através da

equação a seguir (PINTO, 2006):

�� =�(1 + �)

�� ∙��

Onde:

k: é a permeabilidade vertical do solo (m/dia)

e: é o índice de vazio do solo

g0: é o peso específico da água (10 kN/m³)

av: coeficiente de compressibilidade (m²/kN)

O que permite o cálculo da permeabilidade do solo, caso se conheça o valor de

av que pode ser obtido pela relação:

�� =0,435��

∆������

Onde:

svm: é a tensão de pré-adensamento do solo (kN/m²)

2.3.3 Compressão Triaxial

O ensaio de compressão triaxial é realizado com o objetivo de se obter a

envoltória de ruptura do solo, com a qual é possível determinar o intercepto de coesão

e o ângulo de atrito do solo, parâmetros de resistência do solo.

O ensaio consiste na aplicação de uma pressão hidrostática no solo, através

da câmara de ensaio (Figura 2.9), que pretende simular a pressão confinante do solo

in situ e é aplicada em todas as direções. Então é aplicado um carregamento vertical

na amostra de solo através de um pistão. Essa carga é chamada de tensão

desviadora (s1 - s3), onde os planos verticais e horizontais são principais, por não

haver tensões cisalhantes nestas direções.

17

Figura 2.9. Câmara de ensaio à compressão triaxial (PINTO, 2006).

Durante o ensaio são medidas as variações da tensão desviadora e a

deformação vertical do corpo de prova. As tensões máximas dos corpos de prova

geram a envoltória de ruptura através das quais pode-se obter os parâmetros de

coesão e ângulo de atrito. Vale lembrar que os corpos de prova devem ser ensaiados

em diferentes pressões confinantes e como a envoltória não é reta na realidade, deve-

se ensaiar o material numa faixa de tensões parecida com a prevista em campo. Cabe

destacar que a coesão é o valor onde a reta intercepta o eixo vertical do gráfico e o

ângulo de atrito é dado pela inclinação da reta com a horizontal. A Figura 2.10 a seguir

ilustra a envoltória de resistência de um dado solo.

18

Figura 2.10. Envoltória de ruptura do ensaio triaxial (PINTO, 2006).

Quanto a sua drenagem o ensaio pode ser divido em três tipos: Adensado

drenado (CD), adensado não drenado (CU) e não adensado não drenado (UU).

CD

No ensaio adensado drenado há permanente drenagem do corpo de prova

durante a sua execução. A pressão confinante é aplicada e espera-se até que se

dissipe o excesso de poropressão gerado. Após essa fase a tensão desviadora é

aplicada lentamente de maneira que não gere uma variação na poropressão do

material e que a tensão aplicada seja a tensão efetiva. Este tipo de ensaio pode ser

muito lento para solos de pouca permeabilidade para garantir que a tensão exercida

seja a tensão efetiva.

CU

No ensaio adensado não drenado há uma dissipação das poropressões

durante o adensamento, porém durante o carregamento axial a drenagem é suspensa.

Neste caso, para que se saiba a tensão efetiva, deve-se medir as pressões neutras

geradas durante o ensaio. Por não apresentar drenagem este é um ensaio muito mais

rápido que o anterior e por isso é muito empregado, segundo PINTO, 2006.

UU

Neste ensaio não é permitida a drenagem do material em nenhuma das fases

do ensaio. Este ensaio é, normalmente, interpretado em função das tensões totais.

19

2.4 Ensaios de campo

A vantagem dos ensaios de campo em relação aos de laboratório é por

avaliarem o solo diretamente em seu local natural, sem a necessidade de extrair

amostras, levando menos tempo para a sua execução e sendo, em geral, mais

baratos. Eles são utilizados, principalmente, na determinação da estratigrafia do solo

no local da obra e para a definição de alguns de seus parâmetros.

Existem diversos tipos de ensaio, cada um com sua recomendação e

aplicação. Cabe ao engenheiro avaliar qual a sua necessidade e assim qual o ensaio

recomendado. A seguir, na Tabela 2.5, tem-se os ensaios que serão apresentados e

as suas aplicações segundo LUNNE et al. (1997).

Tabela 2.5. Grau de precisão dos ensaios de campo para cada parâmetro de Lunne et al, 1997.

Aplicabilidade: A = alta; B = moderada; C = baixa; - = inexistente

Existem outros tipos de ensaios, porém esses não foram utilizados no estudo

de caso analisado e, portanto, não serão descritos abaixo.

2.4.1 SPT (Standard Penetration Test)

A sondagem à percussão tem como seus principais objetivos a determinação

do tipo de solo e suas profundidades de ocorrência, a posição do nível d’água e os

índices de resistência à penetração (NBR 6484). Porém para determinar os

parâmetros dos depósitos de solos moles Schnaid e Odebrecht (2012) citam que o

ensaio não é representativo para o caso de NSPT entre 0 a 5. Contudo continua sendo

bem efetivo para a obtenção da estratigrafia local.

Seguindo a NBR 6484 O ensaio SPT realizado associado à sondagem à

percussão é realizado de metro em metro, são anotados os golpes necessários para a

cravação de 45 cm do amostrador, onde os golpes necessários para a cravação dos

u ' Su Dr mv cv k G0 sH OCR s-

SPT A B - C C B - - - C - C -

Piezocone

(CPTU)A A A B B A/B B A/B B B B/C B C

Palheta B C - - A - - - - - - B/C B

EnsaioTipo de

SoloPerfil

Parâmetros

20

últimos 30 cm definem o NSPT. O avanço é alternado entre os golpes e o avanço a

trado, quando acima do nível d’água, e com o uso do trépano de lavagem, abaixo do

nível d’água.

Além das correlações de compacidade relativa e ângulo de atrito que são

obtidos através do NSPT. O material recolhido do amostrador pode ser utilizado para

determinação da umidade do solo e dos limites de Atterberg. Segundo ALMEIDA &

MARQUES (2010) a amostra deve ser adequadamente escolhida de maneira que não

seja influenciada pelo processo de avanço.

2.4.2 Ensaio de palheta (Vane test)

O ensaio de palheta ou Vane test é o mais utilizado a obtenção da resistência

não-drenada (Su) das argilas moles. Através deste ensaio também é possível obter a

resistência não-drenada do material amolgado, a sensibilidade da argila e a razão de

sobreadensamento.

O ensaio consiste na cravação de quatro lâminas no terreno, que formam

ângulos retos entre si (formato de cruz) até a profundidade desejada. Através da

rotação das lâminas o solo é cisalhado. É gerada então uma superfície cilíndrica de

ruptura. Durante o ensaio, mede-se o torque em função da rotação da palheta, cuja

velocidade é controlada.

O equipamento considera seis hipóteses para o cálculo da resistência não-

drenada do material:

a) Nenhuma drenagem durante o ensaio

b) Isotropia e homogeneidade

c) Superfície de ruptura cilíndrica

d) Diâmetro de cisalhamento igual ao diâmetro gerado pelas lâminas

e) Inexistência de ruptura progressiva

f) Velocidade de rotação de 6°/min

2.4.2.1 Resistência não-drenada

O cálculo da resistência não-drenada é obtido através da rotação das lâminas

na condição natural do solo. A equação prescrita pela NBR 10905 é:

�� =0,86 × �

� × � �

Onde:

21

Su: Resistência não-drenada do solo (kN/m²)

T: Torque máximo medido durante o ensaio (kN·m)

D: Diâmetro do instrumento (m)

2.4.2.2 Resistência não-drenada amolgada

Para a obtenção da resistência não drenada na condição amolgada faz-se dez

revoluções da palheta dentro do furo no material já ensaiado e após esse

procedimento repete-se o processo citado no item anterior. Teremos então:

��� =0,86 × �

� × � �

Onde:

Sua: Resistência não-drenada amolgada do solo (kN/m²)

T: Torque máximo medido durante o ensaio do material amolgado (kN·m)

D: Diâmetro do instrumento (m)

2.4.2.3 Sensibilidade da argila

Com base nos resultados da resistência não-drenada do material indeformado

e do amolgado pode-se calcular a sensibilidade da argila através da razão dos dois

valores:

�� =��

���

Onde:

St: Sensibilidade da argila

Su: Resistência não-drenada do solo (kN/m²)

Sua: Resistência não-drenada amolgada do solo (kN/m²)

BJERRUM (1973) propôs uma correção para o valor de Su obtido através do

ensaio com relação aos valores do Su em rupturas reais no campo. Onde:

�� ����� = μ × �� ������

Onde:

22

µ: Fator de correção de Bjerrum

O fator de correção de Bjerrum pode ser obtido através do gráfico da Figura

2.11:

Figura 2.11. Correção de Su (BJERRUM, 1973).

2.4.2.4 Razão de Sobreadensamento (OCR)

O ensaio de palheta também permite determinar a razão de sobreadensamento

através de correlações semiempíricas, como por exemplo, as propostas por MAYANE

& MITCHELL (1988).

��� = � ×

��

�′��

� = 22 × (��)� �,��

Onde:

α: Parâmetro empírico

IP: Índice de plasticidade do solo

O ensaio de palheta possibilita uma série de parâmetros do solo, contudo este

possui uma grande desvantagem em relação ao próximo ensaio a ser detalhado, o

piezocone. O ensaio de palheta fornece os parâmetros em determinadas

profundidades, enquanto o piezocone fornece um perfil contínuo com características

do material.

23

2.4.3 Piezocone (CPTU)

O Piezocone é um ensaio de campo amplamente utilizado para a determinação

de parâmetros geotécnicos de argilas moles. Ele é fornece de maneira contínua a

resistência de ponta (qc), atrito lateral (fs) e a poropressão (u) sendo possível medir “u”

em diversas posições, conforme indicado na Figura 2.12.

Figura 2.12. Posicionamento dos elementos porosos para a medida de poropressão no cone.

Os cones comerciais possuem apenas o elemento poroso em u2 para a

medição das poropressões. Isso se dá por pelas seguintes vantagens:

Melhor posição para correção de qc

Possibilidade de utilizar as medidas para a correção de fs

Menores riscos de danificar o elemento poroso (CAMPANELLA et alii, 1982,

SMITS, 1982, TAVENAS et alii, 1982).

Posição melhor para as correlações com parâmetros geotécnicos por ser

governada, principalmente, pelas tensões cisalhantes, enquanto no vértice e na

face são normalmente governadas por tensões normais (LEVADOUX,1980,

DANZIGER e LUNNE, 1994).

O ensaio consiste na cravação do cone com velocidade constante de 2,0 cm/s

até a profundidade desejada. A cravação é feita através de um penetrômetro hidráulico

e as leituras são feitas de maneira contínua durante o processo. Durante o ensaio

pode-se parar em determinada cota para realizar o ensaio de dissipação dos excessos

de poropressões registrados em u2.

Por realizar leitura contínua o ensaio é capaz de definir um perfil com as

características do terreno que permite entender o comportamento do solo através de

relações empíricas através dos dados obtidos. Diferente do SPT, o perfil obtido

através do CPTU apenas diz respeito ao comportamento do solo e não a sua

granulometria, ou seja, determinada faixa do material pode ter muito mais areia que

24

argila, porém a argila que governa o seu comportamento e por isso seria dado como

um material argiloso para o CPTU e uma areia pouco argilosa no SPT.

Como dito anteriormente, uma das vantagens na utilização do elemento u2 se

dá pela correção do fator qc. Essa correção é necessária devido à influência do efeito

da poropressão em áreas desiguais da geometria do cone (e.g. BALIGH et alii, 1981,

DE RUITER,1981). Sua correção é feita por:

�� = �� + �� ∙(1 − �)

Onde:

qc: Resistência de ponta medida durante o ensaio

qt: Resistência de ponta corrigida

a: Relação entre as áreas do cone (AN/AT) dadas na Figura 2.13

Figura 2.13. Área interna e externa do cone.

2.4.3.1 Perfil de comportamento do Solo

Com base nos valores corrigidos pode-se utilizar as correlações de

ROBERTSON (1990) para definir o comportamento do material através dos valores da

resistência de ponta normalizada (Qt), do atrito lateral normalizado (Fr) e do parâmetro

de poropressão (Bq). Com esses valores é possível definir a zona onde esse material

se encontra nos gráficos de ROBERTSON(1990) da Figura 2.14 e através da Tabela

2.6 definir o tipo de comportamento do solo.

�� =�� − ���

��� − ��

25

��(%)=��

�� − ���

�� =�� − ��

�� − ���

Onde:

qt: Resistência de ponta corrigida

fs: Resistência de atrito lateral

σv0: Tensão vertical total inicial

u0: Poropressão na condição hidrostática

u2: Poropressão medida pelo ensaio

Figura 2.14. Gráficos Fr x Qt e Bq x Qt (ROBERTSON, 1990).

26

Tabela 2.6. Classificação dos solos por tipo de comportamento (adaptada de ROBERTSON, 1990).

2.4.3.2 Resistência não-drenada

Através do CPTU também pode-se obter a resistência não-drenada do solo

através de correlações. Esse valor apresenta relativa confiabilidade e pode ser obtido

ao longo de todo o perfil do material.

�� =�� × ���

���

Onde:

NKT: Fator do cone

O valor de NKT não é constante, variando de acordo com as propriedades do

depósito. Na Tabela 2.7 tem-se algumas referências de valores obtidos em ensaios

realizados no Brasil.

Zona

1

2

3

4

5

6

7

8

9

areias – areias limpas

areias finas rígidas

solo orgânico e turfas

argilas – argilas siltosas

argila siltosa – silte argiloso

siltes arenosos – areias siltosas

areias limpas – areias siltosas

areias com pedregulhos – areias

Tipo de Solo

solo fino sensível

27

Tabela 2.7. Valores tipicos de NKT no Brasil (JANNUZZI, G - notas de aula, 2017).

2.4.3.3 Razão de Sobreadensamento (OCR)

Na análise de solos compressíveis o conhecimento da razão de pré-

adensamento do solo é essencial. Dentre as diversas propostas a mais recomendada

é a de CHEN e MAYNE (1996), que engloba um banco de dados de mais de 1200

ensaios de piezocone:

��� = 0,305��� − ���

�′���

2.4.3.4 Coeficiente de Adensamento Horizontal

A realização do ensaio de dissipação durante o CPTU nos permite obter o

coeficiente de adensamento horizontal. Para se estimar esse coeficiente é necessário

que se realize o ensaio até que se dissipe pelo menos 50% da poropressão, portanto

tem-se com acurácia o valor da poropressão durante o ensaio. O método de

HOULSBY e TEH (1988) é dado por:

�� =���∗���

Onde:

ch: Coeficiente de adensamento horizontal

28

R: Raio do piezocone

T*: Fator tempo

Ir: Índice de rigidez (G/Su)

G: Módulo de cisalhamento

t: Tempo de dissipação

A Tabela 2.8 fornece o fator tempo em relação a porcentagem de adensamento

e de acordo com a posição aonde a poropressão foi obtida de acordo com HOULSBY

e TEH (1988).

Tabela 2.8. Fator tempo T* (HOULSBY & TEH, 1988).

2.4.3.5 Coeficiente de Adensamento Vertical

O conhecimento do coeficiente de adensamento horizontal permite, através de

correlações, determinar o valor do coeficiente de adensamento vertical a partir da

expressão de SCHNAID (2000):

�� =��

��× ��

Os valores típicos para a relação entre as permeabilidades vertical e horizontal

pode ser encontrado na Tabela 2.9 de (LADD et al, 1976; JAMIOLKOWSKI et al,1985

apud SCHANID,2000):

29

Tabela 2.9. Relação entre a permeabilidade horizontal e vertical (LADD et al, 1976).

2.5 Instrumentação

A instrumentação de obras como a de aterro sobre solos moles tem o intuito de

verificar a situação de segurança em que a mesma se tanto no período de sua

execução quanto após a sua conclusão. Além disso, as medições realizadas, podem

ser utilizadas para confirmar as considerações feitas na fase de projeto e aperfeiçoar

os critérios de projeto e métodos de execução das obras (DUNNICLIFF, 1993).

As principais grandezas medidas em obras de aterro sobre solos moles são os

deslocamentos, verticais e horizontais, os excessos de poropressão e seus tempos de

dissipação. Os principais instrumentos utilizados para essas medições serão descritos

a seguir, conforme as grandezas medidas. Maiores detalhes são encontrados em

DUNIICLIFF (1993).

2.5.1 Deslocamentos Horizontais

Os inclinômetros são os principais instrumentos para a medição de

deslocamentos horizontais. São compostos por uma haste cilíndrica, com quatro rodas

e com um sensor de inclinação instalado no seu interior. Estas quatro rodas se

encaixam em ranhuras dentro de um tubo de PVC ou alumínio que é cravado no

terreno até uma profundidade onde não se espera haver deslocamentos, geralmente

rocha. São medidos então os deslocamentos em duas direções ortogonais ao longo do

comprimento do tubo, essas leituras são feitas de meio em meio metro. Conforme

Figura 2.15.

Depósitos com ocorrênciua de várias camadas de material

permeável

kh/kv

1,0 a 1,5

2,0 a 4,0

3,0 a 15

Natureza da argila

Argilas homogêneas, sem macroestrutura definida

Macroestrutura definida, presença de descontinuidades e

lenter permeáveis

30

Figura 2.15. Inclinômetro (Commetro Engenharia)

2.5.2 Deslocamentos Verticais

Os deslocamentos verticais são geralmente medidos através de marcos

superficiais ou por placas de recalque.

As placas de recalque são compostas por uma placa retangular na qual se é

fixado uma haste metálica que é revestida por um tubo de PVC, essa placa é

posicionada no topo da camada de solo mole na qual se deseja conhecer os recalques

e conforme o aterro vem sendo alteado são instalados novos seguimentos do tubo

para que seja possível a sua visualização. Esses tubos possuem, em geral, 1 metro de

comprimento e é interessante que se alterne suas cores para que se tenha um

conhecimento da altura do aterro (Figura 2.16). Os recalques são lidos por métodos

topográficos a partir da variação da cota do topo do tubo.

Figura 2.16. Placa de recalque. (TEIXEIRA, 2012)

31

Os marcos superficiais são elementos metálicos instalados diretamente na

superfície onde se deseja conhecer os recalques. Estes elementos possuem formato

de pino que funciona como mira, de maneira que os recalques também são lidos

através de um instrumento topográfico (teodolito, estação total ou nível). O marco

pode ser visto em detalhe na Figura 2.17 a seguir.

Figura 2.17. Marco superficial (Commetro Engenharia)

2.5.3 Poropressão

Os excessos de poropressão gerados durante o alteamento do aterro, assim

como a sua dissipação são medidos através dos piezômetros. Existem diversos tipos

de piezômetro, contudo o mais utilizado é o Piezômetro de Casagrande.

O Piezômetro de Casagrande ou de tubo aberto consiste em um tubo de PVC,

com a extremidade perfurada na profundidade em que se deseja conhecer as

variações de poropressão. Este tubo é inserido no solo através de uma perfuração e o

vão entre o tubo e o solo é preenchido com areia na base, para permitir a passagem

da água, e com uma mistura de solo e bentonita no resto de seu comprimento,

conforme Figura 2.18. Através da perfuração a água penetra no interior do tubo

enchendo-o até que as tensões entrem em equilíbrio, a altura final dentro do tubo é a

cota piezométrica para o ponto avaliado.

32

Figura 2.18. Piezômetro de Casagrande (NBR-9061-85).

O maior problema deste tipo de piezômetro é a demora em registrar as

variações de poropressão, entretanto acabam sendo mais confiáveis que os demais

piezômetros por apresentarem uma maior durabilidade, que sofrem problemas por

descargas elétricas.

33

2.6 Método de elementos finitos (MEF)

O MEF segue o pensamento de dividir uma situação maior em diversos

elementos, de maneira a simplificar o problema e melhor entende-lo. Inicialmente foi

desenvolvido para a resolução de problemas na área de estruturas, mas vem sendo

cada vez mais usado na área de Geotecnia. O método permite a discretização da

região em nós e utiliza dois tipos de elemento para a análise: um elemento triangular

ou quadrilátero, conforme Figura 2.19.

Figura 2.19. Elementos usados na análise bidimensional (LOPES, 2006)

A resolução de problemas através do MEF é uma aproximação da situação

real, através de relações matriciais entre os nós. São consideradas relações utilizadas

no método dos deslocamentos, método de equilíbrio e o método misto. Quanto maior o

número de elementos mais próximo é o resultado da realidade. Porém quanto mais

elementos, maior o tempo de processamento.

O método dos elementos finitos, baseado nos deslocamentos segue o seguinte

procedimento:

I. Discretização do meio contínuo: Divide o domínio em subdomínios,

denominados elementos finitos, conectados entre si através de um número

finito de pontos, os nós. Discretização é o processo de divisão do elemento

através de linhas e superfícies imaginárias, que resultam em um número finito

34

de elementos. No caso bidimensional são formados os elementos triangulares

ou quadriláteros.

II. Escolha do modelo de deslocamentos: É escolhido um conjunto de funções

que, baseado no deslocamento nodal, governa o deslocamento da massa de

estudo. Normalmente são funções do tipo polinomial.

III. Cálculo da matriz de rigidez: Por meio de uma função de interpolação, se

relaciona o valor da variável do problema dentro de cada nó, com a geometria

e as propriedades do elemento, dando origem a um sistema de equações, que

pode ser escrito através de uma matriz. Uma relação de equilíbrio é formada

entre a matriz de rigidez, o vetor de deslocamento de cada nó e o vetor de

força. É associada essa matriz entre cada elemento e assim, cria-se um

sistema global.

IV. Cálculo das incógnitas: Através da relação de equilíbrio os deslocamentos são

calculados. A solução é obtida a partir de várias etapas, nas quais ocorrem

modificações na matriz e/ou no vetor de força. Então, com o campo de

deslocamento nodais, obtêm-se o deslocamento em cada elemento. E estes

deslocamentos juntos com as deformações iniciais e o modelo constitutivo de

cada material, é definido um estado de tensões no elemento e seu entorno.

2.7 PLAXIS 2D

O PLAXIS é um programa de elementos finitos para análise em 2D de tensão e

deformação aplicado à engenharia geotécnica e mecânica de rochas. Desenvolvido

em 1987, na Universidade Técnica de Delf na Holanda. É atualizado constantemente

para se adequar às diferentes demandas do mercado e é amplamente utilizado pelas

principais empresas de projetos de Geotecnia. O programa é divido em quatro

subprogramas, Input, Calculation, Output e Curves, tendo cada um uma função

específica e interagindo entre si.

35

2.7.1 Input (Entrada)

No subprograma Input são definidos os dados de entrada para a análise no

PLAXIS. Ou seja, é nesta etapa que é definida a geometria de estudo, os, assim como

as suas propriedades, o modelo de comportamento do solo e as condições de fronteira

para definir a malha de estudo, vide exemplo na Figura 2.20.

Figura 2.20. Exemplo de malha gerada no PLAXIS 2D.

Nessa etapa é possível definir o refinamento da malha de estudo, o que

significa estabelecer o número de elementos que compõe a malha. Quanto mais

elementos melhor a análise, porém mais lento será o processamento. Também é

definido o tipo de análise axissimétrica ou através de um estado plano de

deformações (Figura 2.21).

Figura 2.21. Análises no estado plano de deformação ou através de eixo de axissimetria (BRINKGREVE, 2002)

36

2.7.2 Calculation (Cálculo)

O PLAXIS 2D apresenta quatro tipos de cálculos para as análises geotécnicas:

Plastic, Consolidation, Dynamic Analysis e Phi-c Reduction. Respectivamente são

fases plástica, de adensamento, análise dinâmica e por último o programa possibilita a

realização de uma análise de estabilidade determinando a resistência mobilizada

necessária para a estabilidade do solo.

Neste subprograma são definidas também as etapas construtivas, adicionando-

se ou removendo-se carregamentos e/ou materiais, definindo-se a duração de cada

um. É essa fase que irá determinar o tipo de cálculo que o PLAXIS executará para

cada fase da modelagem numérica do projeto.

2.7.3 Output (Saída)

O output é o subprograma que permite a visualização das variáveis calculadas

pelo o PLAXIS. Com ele podem ser visualizadas – através da própria malha

deformada – as deformações totais, verticais ou horizontais em cada uma das fases

determinadas no Calculation. Também podem ser vistas as tensões totais, efetivas e

cisalhantes para cada ponto da malha. Vale salientar que o PLAXIS possui uma

conversão de sinais diferente da usual na Geotecnia, com a tração sendo positiva.

O método gráfico de exibição desses valores pode ser através de um sistema

de cores, setas com direção, sentido e magnitude das tensões/deslocamentos ou

através de linhas de isovalor (Figura 2.22).

37

Figura 2.22. Modos de demonstração dos deslocamentos/tensões no PLAXIS

Pode-se ainda identificar os pontos de plastificação (plastic points), que são os

pontos que excedem as tensões admissíveis, eles são identificados por um quadrado

vermelho na tela de output.

2.7.4 Curves (Curvas)

O Curves é uma plataforma do PLAXIS através da qual pode-se selecionar

pontos da malha para obter um gráfico relacionando as diversas informações obtidas

na análise, por exemplo um gráfico de tensão versus deformação ou poropressão

versus tempo. Essas curvas podem ser geradas para diferentes fases do cálculo e

para mais de um ponto da malha de elementos finitos.

2.7.5 Modelos constitutivos

O comportamento dos elementos que compõe o modelo numérico, quando

sujeitos a variações de tensões é governado pelo modelo constitutivo adotado. O

PLAXIS possui diversos modelos, como o Mohr-Coulomb, Hardening Soil, Soft-soil e o

38

Jointed Rock. A escolha do modelo constitutivo correto para cada tipo de solo é

essencial para que os resultados estejam de acordo com a realidade. Na análise feita

nesse trabalho foram utilizados os modelos Mohr-Coulomb e o Soft-soil por isso estes

serão os modelos apresentados nos itens a seguir.

2.7.5.1 Mohr-Coulomb

O modelo Mohr-Coulomb, também chamado de Linear elástico perfeitamente

plástico, possui o critério de ruptura definido por Mohr-Coulomb. Ele considera,

separadamente, as deformações elásticas – reversíveis – e as deformações plásticas

– irreversíveis – para definir a deformação total do solo.

∆� = ∆�� + ∆��

Onde:

: Acréscimo de deformação total

e: Acréscimo de deformação elástica

p: Acréscimo de deformação plástica

O gráfico da Figura 2.23 demonstra como são essas deformações no PLAXIS.

Figura 2.23. Modelo linear elástico perfeitamente plástico (PLAXIS, 2015)

A análise por Mohr-Coulomb requer os cinco parâmetros da Tabela 2.10 a

seguir.

39

Tabela 2.10. Parâmetros para análise pelo modelo Mohr-Coulomb

Como este modelo possui uma rigidez constante durante a deformação do

material, ele acaba não sendo o modelo mais acurado para esse tipo de análise.

Sendo mais utilizado para análises nas fases iniciais, justamente pela rapidez de

cálculo e por não necessitar muitos parâmetros. Porém, quando os recalques da

camada modelada com esse modelo constitutivo não são relevantes para a análise,

este modelo pode ser utilizado.

2.7.5.2 Soft-soil

O modelo Soft-soil foi desenvolvido para a análise de solos altamente

compressíveis, como por exemplo as argilas moles. Ele é um modelo do tipo Cam-

Clay.

O modelo Cam-clay (ROSCOE e SCHOFIELD, 1963) é utilizado para

descrever três aspectos importantes das argilas: a sua resistência, compressibilidade

e o estado crítico. O estado crítico é o estado no qual a argila alcança um estado de

grandes deformações sem variação de tensões ou volume. A segunda versão deste

modelo, o Cam-clay modificado (ROSCOE e BURLAND, 1968), também baseado na

teoria do estado crítico, porém neste modelo a equação utilizada para descrever a

curva de plastificação são elípticas, enquanto no original elas são logarítmicas.

Neste modelo são utilizados três parâmetros para descrever o material: tensão

efetiva média (p’), tensão desviadora (q) e volume específico (u

�� =�′� − 2�′�

3

� = �′� − �′�

u = 1 + e

O modelo soft-soil utiliza esses parâmetros para a análise de tensão e

deformação das argilas. Suas principais características são:

E

n

c

y Dilatância

Parâmetros Básicos do Modelo

Mohr-Coulomb

Módulo de elasticidade

Coeficiente de Poisson

Coesão

Ângulo de atrito

40

Rigidez dependente do nível de tensões

Descrição entre carregamento primário e descarregamento/recarregamento

Capacidade de considerar o histórico de tensões

Critério de Mohr-Coulomb para a ruptura

O modelo assume uma relação logarítmica entre a deformação volumétrica e a

tensão média efetiva. Que pode ser formulada por:

�� − ��� = �∗ ∙�� ��′

�′��

Onde:

εv e εv0: Deformações volumétricas para dois instantes diferentes

p’ e p’0: Tensões médias efetivas para dois instantes diferentes

λ*: Índice de compressão modificado

O parâmetro λ* expressa a compressibilidade do material durante a

compressão primária. Sendo uma correlação com o parâmetro λ do modelo Cam-Clay.

Já para a fase de descarregamento/recarregamento, temos:

�� − ��� = �∗ ∙�� ��′

�′��

Onde:

k*: Índice de expansão modificado

O parâmetro k* descreve o comportamento do solo durante a fase de

descarregamento, seguida por um recarregamento. O parâmetro também possui uma

correlação com um parâmetro do modelo Cam-Clay, o k.

Tanto o parâmetro λ*, quanto o k* afetam as deformações do solo de acordo

com o gráfico da Figura 2.24.

41

Figura 2.24. Relação logarítmica entre a deformação volumétrica e a tensão média (PLAXIS, 2015)

Estes parâmetros podem ser obtidos através de correlações com os resultados

do ensaio Edométrico, Cc e Cr, através das seguintes expressões:

�∗ =��

2,3(1 + �)

�∗ =��

2,3(1 + �)

Onde o índice de vazios é admitido constante, apesar de sua variação durante

a compressão. Essa variação leva a pequenas mudanças nos valores finais, por isso

pode ser adotado o valor inicial.

Além destes parâmetros o modelo constitutivo Soft-soil utiliza os seguintes

parâmetros (Tabela 2.11):

42

Tabela 2.11. Parâmetros para o modelo Soft-soil.

43

3 ESTUDO DE CASO

O caso utilizado para a análise da estimativa de recalques de aterros sobre

solo mole através da modelagem numérica pelo programa PLAXIS 2D foi o da

duplicação de uma ferrovia do norte do país que apresenta em alguns trechos a

execução de aterro sobre solo mole com tipos variados de solução, como por exemplo

a apresentada na Figura 3.1.

Figura 3.1. Solução de aterro com berma e sobrecarga

O caso estudado no presente trabalho irá se restringir ao trecho compreendido

entre os quilômetros 18+340 e 22+280 da ferrovia. Serão apresentadas neste capítulo

as investigações geotécnicas realizadas e as soluções adotadas para as diferentes

condições do terreno e do greide de projeto.

3.1 Sondagens e Ensaios SPT

Foram realizadas ao longo do trecho estudado sondagens associadas à

ensaios SPT (vide item 2.4.1) para determinar o perfil estratigráfico do solo e assim

determinar as espessuras das camadas de solo mole.

As principais informações obtidas pelas sondagens executadas no terreno de

fundação da obra encontram-se na Tabela 3.1. A cota de referência dessas

sondagens é o topo do terreno onde o aterro terá como base.

44

Tabela 3.1. Resumo das sondagens

Vê-se que a maior espessura de solo mole foi encontrada nos km 18+740 e

20+260, com 7,0 m. Observa-se que em diversas sondagens indicaram camadas com

NSPT muito baixos, chegando a 1/50 no km 18+740.

Sondagem NA

km Espessura (m) NSPT Espessura (m) NSPT Prof. (m)

18+421 2 18 0 - 5,9

18+425 0 - 3 P - 1 0,9

18+452 9 1-33 0 - 6,1

18+465 10 1-38 0 - 6,9

18+465 0 - 3 P 0,8

18+740 9 1-44 2 5 5

18+740 4,8 1-15 1,2 2 2

18+740 1 2 7 1/50 - 3 2,5

18+748 15 5-31 0 - 7,8

18+770 10 4-36 0 - 1,8

18+770 2 1-5 4 1/40 - 2 2,1

18+770 1 2 5 1-2 2,1

18+782 10,5 11-44 0 - 7,8

18+800 2 3 5 1/45 - 4 2,3

18+803 15,3 4-37 0 - 7,6

18+970 3 7-12 6 1/40 - 4 2,45

19+170 0 - 3 1/40 - 1 0,95

19+170 0 - 4 P - 2 0

19+220 0 - 4,1 P - 2 0

19+270 1,1 1 1,9 1 1,2

19+270 0 - 3 P - 2 0

19+320 0 - 5,4 P - 1 0

19+360 4 10-39 3 2 2,1

19+360 0 - 5 P - 1/20 0

19+400 0 - 5 P - 1 0

19+440 0 - 3 P - 1 0

19+560 2 6-31 2 1 1,95

19+760 3 2-14 2 2 2,2

19+960 3 28-34 3 2-3 2,3

20+160 0 - 6 1-2 0,3

20+260 0 - 7 P - 3 0,42

20+560 1 2 4 1/40 - 2 1,56

20+860 1,6 1/40 5,4 1/40 - 4 1,73

21+160 1,2 1/25 5,8 1/40 - 3 1,94

21+460 1,9 1 6,1 1-4 2

21+760 1,7 1 5,3 1/45 - 3 1,9

22+060 0,3 - 4,7 P - 2 0,93

22+260 1,7 1-2 3,3 2-4 1,86

Aterros existentes Solos Moles

45

É importante notar também que o nível d’água é muito próximo à superfície do

terreno na maioria das sondagens feitas.

Devido a extensão da obra, apenas uma seção será analisada numericamente,

a do km 20+120 que será mais detalhada no item 3.7. Porém esta seção não

apresentou nenhuma sondagem, a mais próxima foi realizada no km 20+160 e é

apresentada a seguir na Figura 3.2.

Figura 3.2. Sondagem da seção do km 20+160.

Nota-se que nesta seção temos cerca de 6 metros de material muito

compressível de NSPT baixo. Verifica-se também a presença do nível d’água

praticamente na superfície do terreno.

46

3.2 CPTU

Ao todo, foram realizados 14 ensaios CPTU (vide item 2.4.3) e 25 medidas de

dissipação dos excessos de poropressão. Os gráficos com as informações da

resistência não drenada Su e OCR ao longo do ensaio não foram disponibilizadas,

porém o resumo dos resultados dos coeficientes de adensamento horizontal (Ch)

definidos através dos ensaios de dissipação é apresentado na Tabela 3.2.

Tabela 3.2. Resumo dos ensaios CPTU

cm2/s m2/ano

2 18+740 2,3 9,4 x 10-3 29,6

2,01 3,9 x 10-3 12,3

4,11 2,8 x 10-2 88,3

2,03 3,2 x 10-3 10,1

4 4,1 x 10-3 12,9

6,54 1,8 x 10-1 567,7 Areia argilosa

2,01 6,4 x 10-3 20,2

4,05 1,5 x 10-3 4,7

6,01 5,3 x 10-3 16,7

2,02 3,7 x 10-2 116,7

4,26 8,6 x 10-2 271,2

2,31 3,3 x 10-2 104,1

4,1 2,4 x 10-1 756,9

8 19+170 2,26 2,1 x 10-1 662,3

2,15 1,6 x 10-1 504,6

4,08 1,9 x 100 5991,8 Areia argilosa

2,16 3,9 x 10-2 123

4,31 1,8 x 10-1 567,6 Areia argilosa

2,05 8,3 x 10-2 261,8

4,1 3,7 x 10-1 1166,8 Areia argilosa

2,11 4,8 x 10-2 151,4

4,07 2,9 x 10-1 914,5 Areia argilosa

13 19+760 2,2 7,9 x 10-2 249,1

2,02 1,3 x 10-1 410

4,27 2,1 x 100 6622,6 Areia argilosa

Obs.

11 19+440

12 19+560

14 19+960

7 19+080

9 19+270

10 19+360

4 18+840

5 18+920

6 19+000

CPTU kmProfundidade

(m)

ch

3 18+770

47

3.3 Vane Test

Foram realizados ensaios de palheta (Vane Test – vide intem 2.4.2) em 13

diferentes locais, determinando a resistência não drenada (Su) em algumas

profundidades escolhidas, assim como a sensibilidade das argilas. Esses valores são

apresentados na Tabela 3.3.

Tabela 3.3. Resumo dos ensaios de palheta

3.4 Ensaios de laboratório

Durante o projeto foram coletadas 16 amostras indeformadas através da

cravação do amostrador tipo Shelby, com diâmetro de 4”, para a realização de ensaios

de laboratório nesse material.

VT km Prof. (m) Su indeformado (kPa) Su amolgado (kPa) Sensibilidade (S)

2,5 6,2 5,2 1,2

3,5 24,9 3,8 6,6

4,5 47,1 19,3 2,4

5,5 39,6 16,2 2,4

2,5 26,9 4,8 5,6

3,5 30,1 5,1 5,9

5,5 26,2 6,9 3,8

3,5 17,9 3,6 5

4,5 20,7 3,7 5,6

5,5 26,7 9,6 2,8

2,5 13,8 2,6 5,3

4,5 38,4 12,6 3

2,5 10,6 1,8 5,9

4,5 55,5 23,3 2,4

3,5 18,5 6,4 2,9

4,5 21,2 9 2,4

3,5 29,4 10,8 2,7

5,5 57 16 3,6

2,5 25,6 6,2 4,1

4,5 70,3 17,3 4,1

2,5 23,6 6,5 3,6

4,5 40,5 9,8 4,1

2,5 6,5 3,2 2

4,5 34,5 6,3 5,5

5,5 48,9 13,4 3,6

2,5 17,4 3,5 5

4,5 34,5 11,6 3

2,5 13,6 2,7 5

3,5 21,2 5,9 3,6

4,5 23,5 8,1 2,9

2,5 17,3 3,6 4,8

3,5 34,3 6,5 5,3

21+000

21+400

21+800

22+20013

18+740

18+770

18+900

19+100

19+300

19+600

20+000

20+400

20+600

7

8

9

10

11

12

1

2

3

4

5

6

48

Foram realizados os seguintes tipos de ensaio para cada amostra (vide

capítulo 2.3):

Granulometria

Densidade real das partículas

Determinação de índices físicos

Limites de Atterberg

Adensamento unidimensional

Compressão simples

Na Tabela 3.4 e a Tabela 3.5 encontram-se resumidos os resultados obtidos

através desses ensaios, assim como a localização das amostras.

Tabela 3.4. Resumo dos ensaios de caracterização

Onde:

h: umidade do solo

gn: Peso específico natural do solo

e0: Índice de vazios do solo

LL: Limite de liquidez

LP: Limite de plasticidade

km Prof. (m) h (%) gn (g/cm3) e0 Argila (%) Silte (%) Areia (%) LL (%) LP (%) IP (%)

18+740 3,0 a 3,5 73,9 1,44 2,27 17,3 60,3 22,4 47 24 23

18+740 5,0 a 5,5 40,3 1,71 1,2 13,6 59,8 26,6 34 15 19

18+800 2,0 a 2,5 95,3 1,44 3,03 52,8 45,5 1,7 89 35 54

18+800 4,0 a 4,5 104,4 1,39 2,99 26,7 68,4 4,9 83 31 52

19+000 2,0 a 2,5 99,5 1,36 2,68 21,1 77,6 1,3 73 27 46

19+000 3,0 a 3,5 72,2 1,53 2,16 18,3 80,6 1,1 54 25 29

19+200 3,0 a 3,5 - - - 4,9 71,3 23,8 35 20 15

19+400 2,5 a 3,0 70,4 1,62 1,78 8,3 66,3 25,4 43 20 23

19+800 2,5 a 3,0 33,6 1,68 1,19 4,4 58,2 37,4 NL NP -

20+200 2,0 a 2,5 67,5 1,57 1,89 12,8 69,4 17,8 41 17 24

20+800 2,5 a 3,0 125 1,42 3,41 20 78,2 1,8 92 31 61

20+800 4,0 a 4,5 68,7 1,6 2,04 16,4 69,4 14,2 48 22 26

21+600 2,0 a 2,5 108 1,33 3,23 12,2 86,8 1 77 30 47

21+600 4,0 a 4,5 51,9 1,58 1,63 9,5 85,2 5,3 36 21 15

22+000 2,0 a 2,5 123,3 1,36 3,46 42 57,2 0,8 91 31 60

22+000 3,0 a 3,5 78,7 1,52 2,32 22,1 71,7 6,2 58 24 34

Amostra shelby Índices físicoss Frações Granulométricas Limites de Atterberg

49

IP: Índice de plasticidade

Tabela 3.5. Resumo dos ensaios de adensamento

Onde:

s’pa: Tensão de pré-adensamento

Cr: Coeficiente de recompressão

Cc: Coeficiente de compressão

OCR: Razão de sobreadensamento

cv: Coeficiente de adensamento vertical

km Prof. (m) cm2/s m2/ano

18+740 3,0 a 3,5 60 0,15 1,17 2,14 1,7 x 10-4 0,54

18+740 5,0 a 5,5 44 0,05 0,41 - 2,8 x 10-3 8,83

18+800 2,0 a 2,5 76 0,21 1,49 2,87 5,8 x 10-5 0,18

18+800 4,0 a 4,5 41 0,2 1,34 1,06 1,5 x 10-4 0,47

19+000 2,0 a 2,5 30 0,15 1,28 1,13 8,1 x 10-5 0,26

19+000 3,0 a 3,5 28 0,06 0,72 - 7,2 x 10-4 2,27

19+200 3,0 a 3,5 - - - - - -

19+400 2,5 a 3,0 20 0,08 0,61 - 1,2 x 10-3 3,78

19+800 2,5 a 3,0 40 0,07 0,29 - 3,2 x 10-3 10,1

20+200 2,0 a 2,5 31 0,09 0,76 1,82 1,8 x 10-3 5,68

20+800 2,5 a 3,0 36 0,18 1,45 1,71 4,3 x 10-4 1,36

20+800 4,0 a 4,5 70 0,1 0,95 2,33 9,0 x 10-4 2,84

21+600 2,0 a 2,5 41 0,23 1,47 2,28 2,1 x 10-4 0,66

21+600 4,0 a 4,5 32 0,06 0,5 1,07 2,0 x 10-3 6,31

22+000 2,0 a 2,5 20 0,22 1,46 1,11 2,0 x 10-4 0,63

22+000 3,0 a 3,5 31 0,1 0,98 1,29 2,8 x 10-4 0,88

cvAmostra shelbys'pa (kPa) Cr Cc OCR

50

3.5 Soluções empregadas

Devido a variação das condições do terreno e do greide de projeto ao longo do

trecho construído, foram adotadas diferentes soluções para cada caso. Essas

soluções tiveram como objetivo reduzir as deformações no aterro da ferrovia,

acelerando os recalques antes de sua finalização, de maneira a diminuir os recalques

operacionais e melhorar a estabilidade do projeto.

O resumo das soluções encontra-se na Tabela 3.6, com as decisões de projeto

para cada trecho da obra estudada.

Tabela 3.6. Soluções empregadas para o aterro sobre solo mole ao longo da ferrovia

3.6 Instrumentação Geotécnica

Neste capítulo são apresentadas as instrumentações utilizadas na obra com a

finalidade de monitorar das deformações e variação de tensão geradas pela

construção do aterro.

A obra utilizou diversos instrumentos de monitoramento geotécnico, entre eles,

piezômetros de Casagrande, piezômetros elétricos, placas de recalque, marcos

superficiais e inclinômetros. Estes instrumentos foram distribuídos ao longo do trecho

construído, de maneira a acompanhar a seções específicas de cada tipo de solução

empregada para ter controle da obra como um todo.

A seguir são apresentados os instrumentos instalados no trecho de estudo. O

afastamento indicado refere-se a distância em que o instrumento foi instalado em

relação a do eixo da ferrovia, estando todos à esquerda do aterro novo.

Trecho Soluções empregadas

18+340 - 18+410 Sobrecarga e remoções de solos moles

18+410 - 18+490 Sobrecarga, colunas de areia encamisadas, geogrelhas e bermas de equilíbrio

18+728 - 18+860 Sobrecarga, colunas de areia encamisadas, geogrelhas e bermas de equilíbrio

18+860 - 19+000 Sobrecarga, drenos verticais fibroquímicos, geogrelhas e bermas de equilíbrio

19+000 - 19+440 Sobrecarga, drenos verticais fibroquímicos e bermas de equilíbrio

19+440 - 20+220 Sobrecarga e bermas de equilíbrio

20+220 - 22+280 Sobrecarga e geogrelhas para pavimento e bermas de equilíbrio

51

Piezômetros de Casagrande (Tabela 3.7)

Tabela 3.7. Localização dos piezômetros de Casagrande

Piezômetros Elétricos (Tabela 3.8)

Tabela 3.8. Localização dos piezômetros elétricos

52

Placas de recalque (Tabela 3.9)

Tabela 3.9. Localização das placas de recalque

km Afastamento (m) Local Quantidade

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

20 bordo direito

25 eixo

30 bordo esquerdo

17 bordo direito

22 eixo

27 bordo esquerdo

10 bordo direito

15 eixo

20 bordo esquerdo

6 bordo direito

11 eixo

16 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

8 eixo

12 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

4 bordo direito

9 bordo esquerdo

Total - - 54

18+400

18+470

3

19+500

19+600

2

18+750

18+800

18+880

19+060

3

3

3

3

3

221+760

22+160

21+760

20+920

21+160

21+360

21+560

2

2

2

2

2

2

20+320

20+520

20+720

2

3

3

3

3

2

2

2

19+820

20+020

20+120

19+340

53

Marcos Superficiais (Tabela 3.10)

Tabela 3.10. Localização dos marcos superficiais

Inclinômetros verticais (Tabela 3.11)

Tabela 3.11. Localização dos tubos guias dos inclinômetros

Percebe-se que a referida obra é bastante instrumentada possibilitando obter

informações necessárias para a avaliação das condições feitas na fase de projeto e

para acompanhar o desempenho geotécnico da mesma durante a sua execução e

operação.

km Afastamento (m) Local Profundidade (m) Quantidade

18+470 LE 42,0m Pé do talude 12 1

18+480 LE 3,0m Ao lado das fundações da ponte 12 1

18+492 LE 25,0m Sobre bermas longitudinais 12 1

18+720 LE 25,0m Sobre bermas longitudinais 25 1

18+725 LE 3,0m Ao lado das fundações da ponte 25 1

18+750 LE 36,0m Pé do talude 25 1

18+800 LE 36,0m Pé do talude 20 1

18+880 LE 36,0m Pé do talude 20 1

19+060 LE 36,0m Pé do talude 15 1

19+340 LE 33,0m Pé do talude 15 1

Total - - - 10

54

3.7 Seção estudada

A seção escolhida para a análise da instrumentação e da previsão dos

recalques através da modelagem numérica foi a localizada no km 20+120 do trecho

citado originalmente. Esta seção está situada na região onde a solução empregada

consistiu no uso de bermas de equilíbrio, para melhorar a estabilidade do aterro, e

sobrecarga temporária, para acelerar os recalques previstos para a obra.

A seção detalhada é apresentada na Figura 3.3 a seguir, incluindo o

posicionamento da instrumentação instalada.

A seção possui três placas de recalque (PR), instaladas nos bordos esquerdo e

direito e no eixo da ferrovia. Os marcos superficiais (MS) foram instalados no aterro já

existente para medir os efeitos provocados nele pela execução do novo aterro. Os

piezômetros elétricos (PE) foram instalados ao longo da camada de argila. Foi

instalado um piezômetro de Casagrande (PC) na camada de areia com um

afastamento de 14 metros do eixo da ferrovia.

A execução do aterro foi iniciada pelo corte da berma esquerda do aterro já

existente. Após essa fase foi realizada a primeira camada do aterro com 90 cm de

espessura, depois de 150 dias foi acrescentada mais uma camada com 50 cm e após

mais 30 dias o aterro foi finalizado com mais 70 cm. O aterro foi mantido nessa

configuração por cerca de 190 dias para acelerar os recalques e após esse prazo a

camada de sobrecarga, de 70 cm de espessura, foi retirada, de maneira que o aterro

ficasse na cota pretendida pelo projeto. A variação da cota do aterro executada ao

longo do tempo é apresentada no gráfico da Figura 3.4.

55

Figura 3.3. Seção do km 20+120

56

Figura 3.4. Gráfico da cota do aterro x tempo

57

4 ANÁLISE NUMÉRICA

Neste capítulo será apresentada a previsão da evolução dos recalques do

aterro na seção estudada (km 20 + 120), através da análise numérica utilizando a

ferramenta PLAXIS 2D, cujos resultados serão comparados com os valores medidos

pela instrumentação.

4.1 Parâmetros utilizados na análise numérica

Os parâmetros utilizados na análise numérica foram definidos com base nos

ensaios de laboratório e de campo realizados no trecho estudado, apresentados no

capítulo anterior.

A camada de argila mole foi modelada através do modelo constitutivo soft-soil

(vide item 2.7.5.2), recomendado para solos moles, sendo necessário determinar os

parâmetros utilizados especificamente por este modelo.

Os valores de OCR, Cc e Cr foram obtidos a partir do ensaio de adensamento.

Como nas proximidades da seção analisada só havia uma amostra em uma

determinada profundidade, foram utilizados os seus parâmetros como representativos

para toda a camada compressível, admitindo valores constantes ao longo deste

material. A amostra considerada foi a retirada com amostrador tipo Shelby no km

20+200 a 2,50m de profundidade.

Além desses parâmetros, também foram obtidos, através de ensaios, os

valores de g e0, kh e kv da mesma amostra. As permeabilidades foram estimadas

através de correlações a partir do coeficiente de adensamento vertical do solo (vide

item 2.3.2) e o peso do específico do solo e seu índice de vazios foram obtidos de

acordo com os procedimentos indicados no item 2.3.1.3.

Por não terem sido realizados ensaios triaxiais com essa amostra, os

parâmetros c’ e ’ foram estimados através de ensaios feitos num trecho adjacente ao

trecho estudado. Contudo esses parâmetros não são relevantes para a análise de

recalques, seu uso se dá, pois, o PLAXIS apresenta erros numéricos na ausência

deles.

A Tabela 4.1 apresenta os parâmetros adotados para a argila mole no modelo.

58

Tabela 4.1. Parâmetros utilizados para a modelagem da camada de argila

Na modelagem numérica do material do aterro foi utilizado o modelo

constitutivo Mohr-Coulomb (vide item 2.7.5.1), cujos parâmetros são apresentados na

Tabela 4.2.

Tabela 4.2. Parâmetros utilizados para a modelagem do aterro

A camada de areia compacta localizada logo abaixo da camada de solo

compressível também foi modelada com base no modelo Mohr-Coulomb e seus

parâmetros se encontram na Tabela 4.3. Foi modelada apenas o trecho inicial de 3

metros da camada encontrada na sondagem pois esta camada apresenta

deslocamentos irrelevantes em relação a camada argilosa.

Tabela 4.3. Parâmetros utilizados para a modelagem da camada de areia compacta

OCR 1,82

e0 1,89

Cc 0,76

Cr 0,09

' (º) 17,8

c' (kPa) 7,3

g (kN/m³) 15,7

kx (m/dia) 5,00E-04

ky (m/dia) 2,50E-04

Parâmetros da Argila

E (MPa) 25

' 35

c' (kPa) 2

g (kN/m³) 20

k (cm/s) 2,00E-03

Parâmetros do Aterro

E (MPa) 35

' 35

c' (kPa) 0

g (kN/m³) 19,5

k (cm/s) 2,00E-03

Parâmetros da Areia Compacta

59

Os parâmetros do aterro e da areia compacta foram obtidos através do

relatório técnico de estudos geotécnicos realizado para o projeto da ferrovia.

As camadas subjacentes foram consideradas como incompressíveis e por isso

não foram consideradas no modelo.

4.2 Análise no PLAXIS 2D

Tendo sido definida a geometria da obra estudada, as fases de execução e os

parâmetros dos solos para cada modelo constitutivo foi possível realizar a análise do

problema através do método dos elementos finitos utilizando o software PLAXIS 2D.

A malha de elementos finitos foi gerada seguindo a geometria da seção

analisada e as suas fases de execução. A Figura 4.1 apresenta a geometria gerada no

programa para realizar a análise da seção.

Figura 4.1. Seção gerada no PLAXIS 2D para a realização das análises

4.2.1 Primeira Análise

Com esta geometria a obra foi modelada em suas diferentes fases para avaliar

os deslocamentos gerados pelos carregamentos correspondentes, comparando-os

com os resultados da instrumentação. As fases consideradas no modelo foram:

Corte da berma do aterro antigo

Primeiro Alteamento (90 cm)

Segundo Alteamento (50 cm)

Terceiro Alteamento (70 cm)

Remoção da sobrecarga (70 cm)

60

A fase inicial da construção foi composta do aterro antigo no perfil do terreno e

através da qual foram geradas as tensões iniciais na análise (Figura 4.2).

Figura 4.2. Fase inicial da análise numérica

Nas condições iniciais também foi definida a profundidade do nível d’água. Na

sondagem da Figura 3.2 vê-se o nível d’água a 5 cm do topo do terreno, por isso na

análise o nível d’água foi posicionado na superfície do terreno conforme Figura 4.3.

Figura 4.3. Condição hidrostática da análise numérica

Após a fase inicial foram definidas as fases de construção do novo aterro

adjacente, sendo a primeira o corte da berma do aterro existente (Figura 4.4).

61

Figura 4.4. Fase de corte da berma do aterro antigo

Como o monitoramento dos recalques só ocorreu após o corte da berma do

aterro antigo, não se têm a duração exata desta fase. Foi arbitrada então uma duração

de 15 dias e após esse período houve a execução da primeira camada do aterro novo,

com duração de 7 dias e de 0,9 m de espessura (Figura 4.5).

Figura 4.5. Fase do primeiro alteamento do aterro novo

O aterro permaneceu nesta cota durante cerca de 150 dias e após esse

período ele foi novamente alteado numa espessura de 0,5 m, durante 5 dias, atingindo

a cota de 1,8 m, conforme Figura 4.6.

62

Figura 4.6. Fase do segundo alteamento do aterro novo

O aterro permaneceu nesta nova cota por mais 30 dias e após esse período de

adensamento foi executada a camada de sobrecarga, com 0,7 m de espessura e com

duração de 3 dias (Figura 4.7).

Figura 4.7. Fase do terceiro e último alteamento do aterro

A sobrecarga foi mantida por 190 dias e após esse período essa camada foi

removida. Desta forma o aterro ficou na sua configuração final conforme Figura 4.8.

63

Figura 4.8. Fase de remoção da sobrecarga

Segundo o modelo, o recalque total máximo para este caso, após a dissipação

dos excessos de poropressão, foi de 45,4 cm. Esse recalque foi observado na berma

de equilíbrio que por ter apenas a função de estabilizar o aterro, não foi instrumentada.

A Figura 4.9 apresenta os deslocamentos verticais ao final da dissipação dos

excessos de poropressão.

Figura 4.9. Deslocamentos verticais obtidos ao final da dissipação dos excessos de poropressão.

Através da Figura 4.9 pode-se notar o efeito de sobreadensamento gerado pela

configuração inicial do terreno, ou seja, a compressão gerada pelo aterro pré-

64

existente. Vemos que por esta parcela do solo ter um estado de tensões inicias mais

alto que as demais a mesma apresenta uma menor influência devido ao acréscimo de

tensão. Por isso os maiores recalques são mais para a esquerda da seção, região

mais afastada do aterro existente.

A evolução dos recalques medidos com base nas três placas de recalque

instaladas na seção estudada e previstos através da análise numérica nas diversas

etapas da obra estão apresentados nos gráficos das figuras a seguir (Figura 4.10 a

Figura 4.12).

Cumpre salientar que a placa PR1 é a mais afastada do aterro pré-existente e

a PR3 a mais próxima, conforme indicado anteriormente na Figura 3.3.

Figura 4.10. Curvas Recalque x Tempo - PR1 e análise numérica

65

Figura 4.11. Curvas Recalque x Tempo – PR2 e análise numérica

66

Figura 4.12. Curvas Recalque x Tempo – PR3 e análise numérica

Como pode ser visto, com base nos parâmetros adotados os recalques obtidos

na análise numérica apresentaram uma diferença considerável em relação ao

monitoramento. Os valores iniciais são próximos, porém os das fases finais destoam

da instrumentação. Para as placas 1 e 2 o modelo apresenta recalques bem menores,

enquanto para a placa 3 os recalques são maiores na modelagem. O principal motivo

é que a profundidade ensaiada pode não ser representativa para toda a espessura de

argila.

4.2.2 Segunda Análise

Visando dirimir a deficiência por usar um único conjunto de parâmetros

geotécnicos para toda a camada de argila, optou-se por dividi-la em três subcamadas.

Os parâmetros das respectivas subcamadas foram estimados baseando-se em

ensaios realizados com amostras de outras seções coletadas em profundidades com

NSPT similares aos NSPT representativos de cada subcamada da seção estudada.

Entretanto, não foi evitado o problema de representatividade dessas amostras por

estarem em seções distantes da seção estudada.

67

Fazendo uma reconsideração para os parâmetros da camada de argila mole

através de ensaios realizados em outros trechos da obra, a camada inicial foi dividida

em três subcamadas de 2 metros cada. Os parâmetros foram definidos de acordo com

a Tabela 4.4.

Tabela 4.4. Parâmetros para a modelagem das camadas de argila

As amostras escolhidas, com base no NSPT, foram as dos km 18+740 e 21+600

(Tabela 4.5).

Tabela 4.5. Amostras utilizadas para a discretização da camada argilosa

Com essa nova consideração, foi elaborado um novo modelo geométrico

incorporando a discretização da camada argilosa (Figura 4.13).

0-2 2-4 4-6

OCR 1 1,82 1,07

e0 1,2 1,89 1,63

Cc 0,41 0,76 1,07

Cr 0,05 0,09 0,5

' 17,8 17,8 17,8

c' 7,3 7,3 7,3

g 17,1 15,7 15,8

kx (m/dia) 2,00E-04 5,00E-04 2,00E-04

ky (m/dia) 2,00E-04 2,50E-04 2,00E-04

ParâmetrosProfundidade (m)

Prof (m) NSPT Seção Prof (m) NSPT

0-2 1 18+740 5,0-5,5 1

2-4 1 20+200 2,0-2,5 1

4-6 2 21+600 4-6 2

Subcamada da seção

estudadaAmostra utilizada

68

Figura 4.13. Geometria elaborada no PLAXIS 2D para a realização das análises

Nesta nova configuração do estudo foi obtido um recalque máximo maior que

no caso anterior, com o valor de 50 cm (Figura 4.14).

Figura 4.14. Deslocamentos verticais da seção ao final da dissipação dos excessos de poropressão.

Assim como na primeira análise, serão apresentadas as curvas recalque

versus tempo previstas (análise numérica) e medidas (instrumentação) para as

posições correspondentes aos três pontos instrumentados com placa de recalque

(Figura 4.15, Figura 4.16 e Figura 4.17).

69

Figura 4.15. Curvas Recalque x Tempo - PR1 e análise numérica

70

Figura 4.16. Curvas Recalque x Tempo – PR2 e análise numérica

71

Figura 4.17. Curvas Recalque x Tempo – PR3 e análise numérica

Com as novas análises a evolução dos recalques nas placas 1 e 2 apresentou

uma menor discrepância do que na primeira análise. Já para a placa 3, essa

discrepância sofreu um acréscimo. Isso mostra que esta placa é mais afetada pelo

aterro antigo, por isso talvez a modelagem não tenha sido representativa para a sua

condição em campo.

Porém, apesar da proximidade dos valores das placas 1 e 2, continuou-se

tendo o problema da velocidade dos recalques.

4.2.3 Terceira Análise

Em função da maior velocidade de recalques (maior Cv) observado em campo,

foi feita uma terceira modelagem numérica procurando ajustar a permeabilidade dos

solos e de forma que tornar os resultados mais próximos da realidade. A terceira

análise consistiu, portanto, numa retroanálise da velocidade de recalques de forma a

definir o coeficiente de permeabilidade do solo. Para isso, as permeabilidades foram

aumentadas para os seguintes valores (Tabela 4.6):

72

Tabela 4.6. Permeabilidades alteradas

Os demais parâmetros da análise foram mantidos de acordo com a segunda

análise (item 4.2.2).

Com essa alteração os valores absolutos dos recalques sofreram pequenas

alterações e o recalque máximo foi para o valor de 49,7cm, conforme Figura 4.18.

Figura 4.18. Deslocamentos verticais na seção analisada ao final da dissipação dos excessos de poropressão.

A maior alteração foi na relação dos recalques com o tempo, que pode ser

vista nos gráficos abaixo (Figura 4.19 e Figura 4.20).

0-2 2-4 4-6

kx (m/dia) 3,00E-04 1,00E-03 3,00E-04

ky (m/dia) 3,00E-04 5,00E-04 3,00E-04

ParâmetrosProfundidade (m)

73

Figura 4.19. Recalque x Tempo - PR1

74

Figura 4.20. Recalque x Tempo - PR2

75

Figura 4.21 Recalque x Tempo - PR3

Pôde-se obter resultados bem mais próximos do monitoramento, só com

pequenas alterações nas permeabilidades das camadas de argila. Porém, nota-se que

esse ajuste a terceira análise não se mostrou adequado ao resultado da placa de

recalque 3, o que pode ser resultante do fato dessa região ser influenciada pelo antigo

carregamento do aterro pré-existente, o que faria com que seus índices de

compressibilidade fossem menores do que a região das placas 1 e 2.

76

5 CONCLUSÃO

A análise da duplicação do aterro para a expansão de uma ferrovia no norte do

país através do PLAXIS 2D foi feita de acordo com as etapas executivas. A avaliação

do desempenho do aterro, em termos de recalque, foi feita comparando-se os valores

obtidos pelo modelo numérico com os obtidos a partir da instrumentação de campo.

O estudo foi possível em função dos dados obtidos a partir de vários ensaios

de laboratório e de campo realizados, bem como da instrumentação de campo

instalada para o monitoramento da obra. Devido à complexidade desse tipo de obra o

uso destes instrumentos é essencial para realizar o acompanhamento dos estados de

deformações e tensões. Só assim é possível avaliar se as considerações feitas em

projeto correspondem à realidade.

Há diversas soluções para a construção de aterros sob solos moles. Cada uma

possui características peculiares que dão subsídios para a tomada de decisão de qual

a opção mais recomendada para cada situação avaliada. É imprescindível que o

projetista tenha conhecimento das diversas opções disponíveis, de modo que se

possa atender tanto os requisitos de projeto quanto as restrições observadas em

campo, escolhendo uma solução técnica e economicamente.

Em obras ferroviárias ou rodoviárias é comum o uso de diversas soluções ao

longo da obra. Justamente pela sua extensão é normal que se tenha uma grande

variação das condições do terreno e por isso essa prática é tão recorrente.

Os parâmetros utilizados na análise numérica foram estimados através da

interpretação de ensaios de campo e de laboratório. Sem as investigações

necessárias esse tipo de análise se torna impossível, assim como poucas

investigações também tornam o projeto muito suscetível a erros. Sendo assim, é

importante que se invista nessa fase, pois uma boa campanha de investigação gera

um conhecimento melhor do problema e possibilita uma análise mais fiel do projeto de

maneira que se tenha maior precisão nos prazos de execução e na escolha das

técnicas a serem utilizadas.

Além disso, nota-se pela terceira análise (item 4.2.3) a influência da

permeabilidade do solo na definição do prazo de estabilização dos recalques. Isso só

reafirma a importância da instrumentação na obra para acompanhar a sua execução,

77

pois através deste monitoramento pode-se avaliar a estabilização dos recalques

naquela região que é determinante para o prosseguimento da execução.

Na análise das placas de recalque PR1 e PR2 viu-se a influência de uma maior

discretização do solo compressível na análise. As análises obtidas com os parâmetros

do item 4.2.2 foram mais próximas dos resultados do monitoramento do que a análise

que considerou os 6 m de argila com parâmetros constantes (item 4.2.1). Porém o

mesmo não ocorreu para a placa PR3, que sofreu o efeito contrário.

Os recalques obtidos pelo PLAXIS 2D foram muito próximos aos encontrados

em campo com base na instrumentação, para as posições correspondentes às placas

de recalque: PR1 e PR2. O que mostra a possibilidade de uso dessa ferramenta nos

projetos geotécnicos de obras sobre solos moles. Principalmente quando o projeto

requer o uso de geometrias complexas, que dificultariam os cálculos através de

métodos simplificados.

No entanto para a posição correspondente à Placa PR3 os resultados

numéricos foram bem superiores aos medidos (50% maior). O que sugere, para esta

posição, não ter sido possível contemplar, de forma fidedigna, a influência do aterro

pré-existente.

78

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