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ANALISE DA PRODUÇÃO
BIBLIOGRÁFICA DA MEDIÇÃO DE
DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE:
UMA VISÃO DA BIBLIOMETRIA
Mariana Pereira Carneiro (UEPA)
Roberto Antonio Martins (UFSCAR)
Esse artigo tem como objetivo analisar a produção bibliográfica da
medição de desempenho e sustentabilidade, por meio da bibliometria.
Para tanto, foi feita uma busca de artigos na base Web of Knowledge,
aplicando filtros de campo de pesquisa, sendo encontrados 589
artigos, posteriormente foram lidos os abstracts a fim de obter um
maior refinamento e restaram para análise 216 artigos. A partir de
redes de co-citação e de palavras-chave, e tabelas de frequência,
foram encontrados alguns padrões, como a ênfase no relacionamento
entre desempenho social e financeiro, medição de desempenho em
cadeias de suprimento e a importância da abordagem dos stakeholders
para o tema estudado.
Palavras-chave: sistema de medição de desempenho, indicadores de
desempenho, sustentabilidade, bibliometria
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1. Introdução
O tema sustentabilidade vem ganhando grande destaque no mundo acadêmico e empresarial,
gerando mudanças significativas na concepção, implantação e gestão de processos de
produção. Elkington (2001) define sustentabilidade como um tripé baseado em aspectos
sociais, ambientais e econômicos também muito conhecido como tripé da sustentabilidade.
As mudanças globais causadas por questões ambientais e sociais afetam as organizações ao
redor do mundo de diferentes maneiras. Drake; Spinler (2013) afirmam que as mudanças
climáticas afetam também os lucros e fluxos de caixa das empresas devido aos furacões e às
secas, que afetam os níveis de produtividade.
As empresas vêm sofrendo crescentes pressões acerca de práticas sustentáveis, tanto
externamente (regulações do governo, organizações lucrativas ou não) quanto internamente
(objetivos estratégicos, visão da alta gerência, bem-estar e segurança do trabalhador,
economia de custos, produtividade e qualidade) (GUNASEKARAN; SPALANZANI, 2012).
No entanto, existem desafios quanto à compreensão da sustentabilidade dentro das
organizações. Os indicadores de desempenho devem ser considerados nesse processo de
mudança organizacional uma vez que é necessário demonstrar se as práticas de
sustentabilidade implantadas contribuíram ou não para tornar a organização mais sustentável
ou não.
Os novos desafios propostos pela incorporação da sustentabilidade nas operações das
organizações vêm causando uma mudança na temática da medição de desempenho. Yagasaki
(2013) e Leite (2014) observaram em seus estudos que as práticas de sustentabilidade atuam
como gatilhos para iniciar mudanças na medição de desempenho, tanto internamente,
alterando a forma como a direção da empresa lida com o assunto, assim como é uma alavanca
externa que impulsiona mudanças na maneira de medir desempenho.
A medição de desempenho, de acordo com Neely et al (1995), consiste em quantificar a
eficiência e eficácia de ações organizacionais. Neely et al (1997) afirmam que há um impacto
comportamental quando se utiliza as medidas de desempenho, pois as pessoas tendem a
mudar seu comportamento em função da medição de desempenho para alcançar resultados
estabelecidos. Consequentemente, o uso de sistemas de medição de desempenho também
contribui para o alcance da sustentabilidade. Bititci et al (2012) coloca a sustentabilidade
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como um dos fatores que possam mudar os rumos da gestão de desempenho e,
consequentemente, dos sistemas de medição de desempenho.
Ramos; Caeiro (2010) e Singh et al (2012) afirmam que existe uma necessidade real em
integrar os aspectos sociais e ambientais no monitoramento de sistemas de medição de
desempenho, sendo, assim, necessária uma abordagem mais holística para definir as medidas
de desempenho.
Um grande número de pesquisas vem sendo desenvolvidas no âmbito da sustentabilidade e
seus efeitos no desempenho corporativo, além do que muitos dos resultados encontrados ainda
são questionados (PERRINI et al, 2011). Diante desta contextualização, este artigo tem como
objetivo analisar a produção bibliográfica dos temas “sustentabilidade” e “medição de
desempenho” por meio da análise bibliométrica. Os autores mais citados, periódicos onde há
mais publicações e palavras-chave mais utilizadas são mostrados neste trabalho, situando
como os temas interagem entre si ao longo do tempo. O uso da bibliometria permite que
sejam feitas algumas inferências referente ao estado da arte sobre medição de desempenho e
sustentabilidade, a partir de análises estatísticas em redes de co-citação, assim como mostra
algumas tendências de pesquisa em torno dos temas.
O presente trabalho está organizado em cinco seções: a primeira é a introdução, apresentando
as motivações e objetivos da pesquisa; a segunda seção apresenta os conceitos básicos de
bibliometria; a terceira seção mostra o método utilizado; a quarta seção contém os resultados
da análise bibliométrica; enquanto, a quinta e última seção apresenta a conclusão com
contribuições e sugestões de trabalhos futuros na área.
2. Bibliometria
O termo bibliometria foi usado pela primeira vez em 1922, como bibliografia estatística,
sendo pontualmente mencionado até a popularização do seu termo atual em 1969, por Alan
Pritchard, que observou que uma parte da literatura poderia ser objeto de análise e ser
estudada por meio de métodos estatísticos (GUEDES; BORSCHIVER, 2005).
Ingwersen (2011) afirma que a bibliometria desenvolve modelos matemáticos e mede os
processos de disseminação do conhecimento e usa os modelos e medidas para prever e tomar
decisões. Para tanto, técnicas de visualização de dados são utilizadas para investigar padrões
de referências, citações, autores, periódicos, instituições, palavras, dentre outros tipos de
análise.
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2.1. Análise de acoplamento bibliográfico e de co-citação
As leis abordadas anteriormente regem como as análises bibliométricas devem ser
conduzidas. No entanto, é válido mencionar outras análises que podem ser desenvolvidas e
complementadas no estudo de bibliometria, como a análise de acoplamento bibliográfico e de
co-citação.
O acoplamento bibliográfico existe quando dois artigos citam um ou mais artigos em comum.
Já a análise de co-citação é baseada em pares de artigos altamente citados (GARFIELD, 2002;
GUEDES; BORSCHIVER, 2005). A Figura 1 mostra a diferença entre os conceitos.
Figura 01 – Diferença entre acoplamento bibliográfico e co-citação
Fonte: Garfield (2002)
Observa-se que as análises de co-citação geram mais perspectivas futuras de pesquisa, pelo
fato de se ter vários artigos citando pares de artigo s. Já o acoplamento tem mais um aspecto
retrospectivo, de levar em conta os artigos que foram mais citados e os pares que os citam.
Este método pode ser aplicado a qualquer conjunto de publicações.
Os resultados do acoplamento ou de co-citação são mais bem visualizados em redes sociais,
em que a forma gráfica permite observar agrupamentos de autores pareados, mostrando de
uma forma mais clara os resultados encontrados. O Tópico 2.3 aborda com mais detalhes as
particularidades dessas redes.
2.2. Redes Sociais e seus indicadores de relação
Segundo Alejandro e Norman (2005), uma rede social corresponde a um grupo de indivíduos
que, de forma agrupada ou individual, se relacionam uns com os outros para um objetivo
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específico, caracterizado pelos fluxos de informação. Segundo os mesmos autores, uma rede
social contém três elementos básicos: nós ou atores, vínculos ou relações e fluxos,
conceituados da seguinte forma:
a) Nós ou atores: são indivíduos e grupo de indivíduos que se agrupam com um fim
comum;
b) Vínculos: são laços que existem entre dois ou mais nós, representados por linhas;
c) Fluxos: indica a direção do vínculo que se representa com uma seta mostrando o
sentido. Podem ser uni ou bidirecionais, ou ainda pode não haver nenhuma direção de
fluxo (nó está solto na rede).
Tais elementos são mostrados na Figura 02.
Figura 02 – Elementos de uma rede social
Fonte: Alejandro; Norman (2005)
3. Método de pesquisa
Para esta pesquisa em questão, as etapas para o desenvolvimento das análises seguiu o padrão
utilizado por Leite et al (2012) que também realizaram pesquisa bem semelhante, no entanto,
fizeram a busca de artigo entre 1990 até 2011, já a presente pesquisa estendeu a busca até
2014. A Figura 03 mostra o esquema seguido para a obtenção da análise bibliométrica:
Figura 03 – Etapas para a realização da análise bibliométrica
Busca de artigos na
base Web of
Knowledge
Leitura de
resumos de
artigos
Aplicação de
filtros (1)
Aplicação de
filtros (2)
Refinamento dos
dados no software
sci2,Gephi e
Microsoft Excel
Analise dos dados
obtidos
Fonte: Adaptado de Leite et al (2012)
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Primeiramente, foi feita uma busca na base de dados Web of Knowledge (conhecida
anteriormente por ISI Web of Science) para artigos em inglês, utilizando dois grupos de
palavras. O primeiro grupo continha as seguintes palavras: performance metrics, performance
measures, performance measurement, performance measurement system, key performance
indicator, scorecard. Elas foram separadas pelo operador booleano OR. Já o segundo grupo
continha as palavras: sustainability, sustainable, triple bottom line, corporate responsibility,
também separadas pelo operador booleano OR. Já entre grupos, a separação era feita pelo
operador booleano AND. Uma vez realizada a busca na base de dados, foi aplicado o filtro
por campo de pesquisa do Web of Knowledge que o artigo foi registrado (Industrial
Engineering, Business e Operations Research Management Science).
Em seguida, foi feita a leitura dos resumos dos artigos que serviu para separar os artigos que
concretamente tratam da medição de desempenho e sustentabilidade daqueles que não tratam.
Os critérios de exclusão são mostrados no Quadro 01.
Quadro 01 – Critérios de exclusão de artigos na leitura de resumos
Trabalhos sobre o setor público, organizações não-governamentais ou outras instituições sem fins lucrativos
Trabalhos que discutem a sustentabilidade em termos de cidades, estados ou países
Trabalhos que usam o termo “sustentabilidade” ou termos similares no que diz respeito à durabilidade
Trabalhos que não mencionam a sustentabilidade e medição de desempenho no resumo
Trabalhos sobre filantropia
Fonte: Leite et al (2012)
Então, com os dados selecionados, as informações pertinentes para análise, como autores,
citações, resumo e palavras-chave, foram salvas em um arquivo de texto, para tratamento e
refinamento dos dados. Para extrair as análises, foram utilizados os softwares sci2, Gephi e
Microsoft Excel (com Visual Basic for Application). O sci2 funciona de forma semelhante ao
conhecido software sitkis, preparando os dados para gerar as redes de co-citação ou análises
em planilhas eletrônicas. Já o Gephi tem função semelhante ao software UCINET, sendo
utilizado para gerar visualizações gráficas em forma de redes. Por fim, a análise dos dados
obtidos foi realizada por meio de redes de co-citação, redes de palavras-chave, tabelas com a
frequência de publicação de artigos e gráficos, observando, por meio dos gráficos, tabelas e
redes, a ocorrência de padrões e maior ocorrência de artigos mais publicados e periódicos,
dentre outros tipos de análise, conforme é mostrado na próxima seção.
4. Análise e Discussões
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4.1. Análise Descritiva
Na busca pelos artigos na base Web of Knowledge, com a aplicação do primeiro filtro somente
(refinamento pela categoria), foram encontrados 387 artigos de 2012 a 2014.
Complementando os 202 encontrados (1990-2011) no trabalho de Leite et al (2012), obtendo-
se um total de 589 artigos publicados com a temática sustentabilidade e medição de
desempenho. A figura 04 mostra a distribuição dos artigos considerados nesta pesquisa, ao
longo dos anos.
Figura 04 – Número de publicações por ano
Fonte: Autores (2015)
Vale observar na Figura 4 que o número de publicações vem crescendo com destaque para os
anos 2012, 2013 e 2014, em que se observa um aumento do número de artigos publicados
significativamente, especialmente em 2012 e 2013, ano em que foram publicados 132 e 122
trabalhos, respectivamente, sobre sustentabilidade e medição de desempenho. Tal fato mostra
a crescente importância do tema na academia.
Após a leitura dos abstracts, com a aplicação dos critérios de exclusão (presentes no quadro
01), restaram 216 artigos, sendo 77 encontrados entre 1990-2011 (LEITE et al 2012) e 139
artigos entre 2012-2014, ou seja, há mais artigos nos últimos dois anos do que nos 21 anos
anteriores.
Quanto aos periódicos onde mais se publica, o mais frequente é o Journal of Business Ethics,
conforme mostra a figura 5 com os periódicos onde há mais publicações.
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Figura 5 – Periódicos com maior número de publicações
Fonte: Autores (2015)
Pelo gráfico supracitado, observa-se que em segundo lugar vêm empatados os periódicos
Business Strategy and Environment e Corporate Social Responsability and Environmental
Management. Tomando como base estes dados, observa-se que o foco está em estudos que
abrangem o tripé da sustentabilidade (dimensão econômica, social e ambiental), como estudos
sobre o meio ambiente e sua interação com o mundo empresarial, além da relação da
sustentabilidade e questões financeiras. O trabalho de Garcia-Castro et al (2010), por
exemplo, trata da relação entre o desempenho social e financeiro da responsabilidade sócio
corporativa, publicado no Journal of Business Ethics, enquanto que Pätäri et al (2011)
pesquisam o mesmo tema, no Business Strategy and Environment, cujos resultados do
trabalho mostram uma relação positiva entre desenvolvimento sustentável e desempenho
financeiro.
4.2. Análise de citações e redes sociais de co-citação
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Dentre estes 216 trabalhos publicados de 1990-2014, os trabalhos mais citados estão na
Tabela 01.
Tabela 01 – Autores mais citados em publicações entre 1990-2013
Fonte: Autores (2015)
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Observa-se que, dentre os 11 artigos mais citados, 8 são sobre a responsabilidade social
corporativa ou de tema relacionado ao desempenho social, o que reflete o desafio atual de
relacioná-la com o desempenho financeiro e com a sustentabilidade de uma forma
equilibrada.
O mais citado é o artigo de Waddock; Graves (1998), que relata as diversas possibilidades de
relacionamento entre o desempenho social e desempenho financeiro, concluindo que não há
negatividade entre estes desempenhos. Uma das interpretações válidas é que as empresas com
problemas financeiros têm dificuldades para investir em atividades sociais, como a filantropia,
enquanto em empresas em boas condições financeiras constroem-se escolas para a
comunidade ou geram condições para a melhoria na mão de obra.
Orlitzky et al (2003) corroboram com este trabalho e avançam no entendimento do
relacionamento entre estas duas variáveis, colocando que a reputação é um bom medidor
desta relação. Ainda assim, não se chega a um consenso forte sobre a relação positiva entre o
desempenho social e financeiro, questão destacada por Perrini et al (2011) e Peng; Yang
(2013) que colocam que não se compreende bem como esta relação ocorre e quais os
direcionadores. Ganha destaque também o artigo de Freeman (1984), sobre a abordagem dos
stakeholders, cuja questão torna-se um ponto central nos estudos sobre medição de
desempenho e sustentabilidade, pois muito se discute que a busca pela medir sustentabilidade
surge em função da abordagem dos stakeholders e a exigência dos mesmos para alcançá-la
(RUF et al, 2001; FERGUSON, 2009; RAMOS; CAEIRO, 2010)
Vale mencionar, também, como artigos bem citados, os trabalhos de Carroll (1979) que
apresenta uma definição de sustentabilidade holística, focando mais aspectos sociais,
enquanto que o trabalho de Russo; Fouts (1997) mostram como o desempenho ambiental afeta
a lucratividade.
Margolis; Walsh (2003) discutem amplamente as iniciativas sociais em ambiente de negócios
e suas motivações. Esses autores colocam que o desafio refere-se a promover a justiça social
em um mundo que prega a maximização dos ganhos dos acionistas, em que existe uma forte
tensão entre a miséria social e o benefício econômico.
Diversos autores mostram os relacionamentos positivos, neutros e negativos entre
desempenho social e financeiro. Apesar de haver grande quantidade de artigos que mostram a
relação positiva, existe o cuidado desses mesmos autores em questionar as reais motivações
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para que as organizações busquem beneficiar a sociedade, compreendendo os fatores
determinantes para o investimento de iniciativas sociais. O mesmo é feito por Waddock;
Graves (1998), assim como McWilliams; Sigel (2000) que tratam do relacionamento entre as
medidas de desempenho sociais e financeiras, cujos resultados mostraram que existe uma
relação neutra entre os mesmos, contrapondo à Waddock; Graves (1997) e a outros autores
mencionados anteriormente.
Em seguida, foi elaborada uma rede de co-citação para identificar quais os pares de autores
são mais citados, mostrado na Figura 06.
Figura 06 – Rede de co-citação com filtro aplicado para artigos que possuem mais de 804
conexões
Fonte: Autores (2015)
A rede mostra que os autores centrais são: Freeman (1984), Waddock; Graves (1997),
Mcguire (1988) e Orlitzky et al (2003). Margolis; Walsh (2003) e Mcguire (1998).
aproximam-se desses autores. A configuração da rede evidencia a forte ênfase vista
anteriormente na investigação do elo entre desempenho financeiro e social, tomando como
base a teoria dos stakeholders. Gerdessen; Pascucci (2013) afirmam que diferentes contextos
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de stakeholders podem gerar diferentes critérios e métodos de avaliação de sustentabilidade e
provocar diferentes e contrastantes julgamentos. Chang et al (2013) argumentam sobre a
influência dos stakeholders e as mudanças na indústria provocam mudanças na forma de
medir sustentabilidade.
Ullmann (1985) e Aupperle (1985) figuram dentre as referências que aparecem de forma
periférica na rede de co-citação. Esses autores também tratam do relacionamento entre a
reponsabilidade sócio corporativa e a dimensão financeira da sustentabilidade.
4.4. Análise de palavras-chave
A análise de palavras-chave também pode evidenciar os rumos dos trabalhos publicados nas
temáticas pesquisadas. A Tabela 02 mostra as palavras-chave mais citadas.
Tabela 02 – Frequência de ocorrência de palavras-chave
Palavras-chave Freq.
Corporate Social Responsibility 56
Sustainability 31
Sustainable Development 21
Performance Measurement 18
Corporate Social Performance 15
Financial Performance 14
Supply Chain Management 11
Environmental Performance 10
Corporate Sustainability 9
Environmental Management 8
Fonte: Autores (2015)
Pela frequência, nota-se que a palavra-chave responsabilidade sócio corporativa tem grande
destaque bem como sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Vale destacar que o
termo desempenho financeiro tem destaque intermediário, juntamente com o desempenho
sócio corporativo.
Outra análise pertinente é a rede de co-ocorrência de palavras-chave, observando o
pareamento das palavras, conforme ilustra a Figura 7.
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Figura 7 – Frequência de ocorrência de palavras-chave que possuem mais de 20 conexões
Fonte: Autores (2015)
A rede em si mostra como a sustentabilidade está associada ao conceito de responsabilidade
sócio corporativa, apesar de existir uma discussão de diferenças entre os conceitos. De forma
periférica, está o desempenho ambiental e a gestão ambiental, o que aponta para que não seja
um item tão explorado quanto o contexto do desempenho social. Outra questão é a presença
tímida da relação da palavra-chave “medição de desempenho” com as outras. Pode-se
observar que, apesar de discussões significativas sobre desempenho financeiro e social, não se
pensa tanto na sustentabilidade no contexto propriamente dito da área de medição de
desempenho.
De forma também periférica, observa-se o relacionamento da palavra-chave “gestão da cadeia
de suprimentos” com “responsabilidade sócio corporativa”. Alguns estudos relacionados
como o de Genovese et al (2014) investigam a implantação de medidas de desempenho ao
longo da cadeia de suprimentos e para avaliar fornecedores. Bhattacharya et al (2014)
desenvolvem um modelo de medição de desempenho em cadeias de suprimento, com base na
otimização via lógica fuzzy. Já Zhang et al (2014) por outro lado estudam o impacto do
investimento em responsabilidade sócio corporativa no relacionamento com fornecedores,
evidenciando o aspecto positivo e como influencia no alcance de objetivos organizacionais de
longo prazo. De maneira geral, observa-se a ênfase no estudo das chamadas de cadeias de
suprimento sustentáveis e na necessidade de medir o desempenho das mesmas.
5. Considerações Finais
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No que tange aos objetivos de pesquisa, foi possível alcança-lo, pois se analisou a produção
bibliográfica dos temas “sustentabilidade” e “medição de desempenho”, cujos resultados
permitiram algumas inferências sobre o que foi encontrado. Primeiramente observou-se o
crescimento significativo do número de artigos envolvendo as duas áreas a partir de 2012,
chegando a representar mais que o dobro publicado nos 21 anos anteriores. Além disso, a
produção bibliográfica registrada está concentrada em 3 periódicos: Journal of Business
Ethics, Corporate and Social Responsability e Business Strategy and Environment, que juntos
concentram 38,88% dos trabalhos publicados.
Outro ponto relevante a mostrar é que dentre as citações dos artigos, observa-se uma ênfase
na dimensão social da medição de desempenho da sustentabilidade e sua relação com as
outras dimensões, de tal forma que ainda não existe consenso em como o relacionamento dos
diferentes indicadores ocorre. Observa-se que a teoria dos stakeholders tem grande influência
como estes relacionamentos são direcionados.
Quanto à análise das palavras-chave, observa-se que o estudo de medição de desempenho e
sustentabilidade acontece de forma corporativa, sem enfatizar níveis hierárquicos mais baixos
e no desdobramento dos indicadores nestes níveis, sendo que uma abordagem mais próxima a
este âmbito é quanto às cadeias de suprimento sustentáveis e a busca na avaliação dos
fornecedores.
Este estudo tem como principal contribuição mostrar como as áreas pesquisadas estão sendo
investigadas e quais futuras pesquisas podem ser desenvolvidas. Sua contribuição para o
estudo de bibliometria também é evidente no uso de novos softwares como Sci2 e Gephi, que
ainda são pouco explorados por pesquisadores, tendo em vista a crítica a softwares
conhecidos como sitkis, estes se tornam alternativas interessantes para exploração de estudos
nessa área.
A principal limitação deste trabalho decorreu do uso de somente uma base de artigos, o Web
of Knowledge. Logo, é válido incluir em estudos futuros, outras bases como Scopus, Proquest,
dentre outras. Estudos nas áreas mostradas nesta pesquisa devem ser explorados como o
aprofundamento do relacionamento entre os indicadores sociais e financeiros, e com os
indicadores ambientais, em como esta relação acontece e seus pré-requisitos para que seja um
relacionamento positivo entre ambos. Além disso, estudos sobre medir desempenho de
cadeias sustentáveis também podem ser mais explorados, no sentido de explorar os
indicadores de sustentabilidade dos elos da cadeia e o impacto no desempenho da mesma.
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