Análise de Balanços e Estudos de Indicadores Económicos com ...

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DIS 2411 Análise de Balanços e Estudos de Indicadores Económicos com Base nos Modelos SNC Autor: Carlos Monteiro Fernando Almeida

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  • DIS 2411

    Anlise de Balanos e Estudos de Indicadores Econmicos com Base nos

    Modelos SNC

    Autor: Carlos Monteiro Fernando Almeida

  • Anlise de Balanos e Estudos de Indicadores Econmico-financeiros

    - 1 -

    NOTA INTRODUTRIA

    1. Objectivos

    O objectivo principal desta aco consiste em dar a conhecer aos formandos as diversas

    tcnicas de anlise da informao contabilstica e dos indicadores econmico-

    financeiros, de modo que consigam diagnosticar os principais pontos fracos e pontos

    fortes da empresa a partir das peas corrigidas e das informaes de carcter extra-

    contabilstico.

    Pretende-se demonstrar a importncia da identificao dos problemas econmico-

    financeiros, de forma a aconselhar a aplicao de medidas correctivas de gesto,

    principalmente de cariz financeiro e potenciar o equilbrio estrutural e a rendibilidade da

    empresa.

    Deste modo, pretende-se que os formandos no final da aco de formao consigam:

    Extrair informao relevante das principais fontes de informao contabilstica e

    extra-contabilstica;

    Proceder aos ajustamentos necessrios s peas contabilsticas para a obteno das

    peas financeiras;

    Identificar, caracterizar e inter-relacionar os principais indicadores econmico-

    financeiros da empresa em termos de:

    Investimento

    Financiamento

    Equilbrio Estrutural

    Liquidez e Tesouraria

    Rendibilidade

    Risco

    Definir orientaes para a tomada de deciso de modo a:

    Potenciar o equilbrio estrutural

    Aumentar a rendibilidade

  • Anlise de Balanos e Estudos de Indicadores Econmico-financeiros

    - 2 -

    2. Material de Apoio

    O curso ministrado numa plataforma de formao distncia (Blackboard), sendo a

    apresentao terica das matrias efectuada atravs de vdeos, complementados com

    diapositivos em Power Point e com exemplos ou casos prticos resolvidos em ficheiros

    Word. Os contedos programticos encontram-se desenvolvidos nesta Sebenta de Apoio

    que ser disponibilizada aos formandos.

    3. Agenda dos Blocos de Formao

    Blocos Programa Horas

    Estudo

    Horas Vdeo

    B 1 Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    Objecto e Mtodo da Anlise Econmico-financeira

    Informao Extra-contabilstica

    Das Peas Contabilsticas para as Peas Financeiras -

    Ajustamentos s Peas Contabilsticas

    Principais Mapas de Anlise

    4 0,5

    B 2 Equilbrio Estrutural (Mdio Longo Prazo)

    Estrutura das Aplicaes e das Origens de Fundos

    Fundo de Maneio

    Polticas de Investimento e de Financiamento

    4 0,5

    B 3 Gesto dos Capitais Circulantes (Curto Prazo)

    Liquidez

    Tesouraria (Balano Esquemtico)

    Indicadores de Actividade e Gesto

    4 0,5

    B 4 Rendibilidade e Risco dos Capitais Investidos

    Estrutura de Gastos e Perdas

    Rendibilidade Econmica

    Rendibilidade Financeira

    Risco Global

    4 0,5

    4 Blocos TOTAL 16,0 2,0

  • Anlise de Balanos e Estudos de Indicadores Econmico-financeiros

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    NDICE

    Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios 5

    Objecto e Mtodo da Anlise Econmico-financeira 5

    Informao Extra-contabilstica 16

    o Empresa 16

    o Envolvente Micro e Macroeconmica 23

    Das Peas Contabilsticas para as Peas Financeiras

    Ajustamentos s Peas Contabilsticas 27

    Principais Mapas de Anlise 42

    o Balano Financeiro 42

    o Demonstrao dos Resultados por Naturezas Corrigida 45

    o Demonstrao dos Fluxos de Caixa 47

    o Demonstrao da Origem e da Aplicao de Fundos 50

    Bloco 2: Equilbrio Estrutural (Mdio Longo Prazo) 59

    Estrutura das Aplicaes e das Origens de Fundos 59

    Fundo de Maneio 61

    Polticas de Investimento e de Financiamento 65

    Bloco 3: Gesto dos Capitais Circulantes (Curto Prazo) 74

    Liquidez 74

    Tesouraria (Balano Esquemtico) 77

    Indicadores de Actividade e Gesto 90

    Bloco 4: Rendibilidade e Risco dos Capitais Investidos 96

    Estrutura de Gastos 96

    Rendibilidade Econmica 98

    o Teoria do Custo, Volume e Resultados (CVR) 98

    o Efeito e Grau Econmico de Alavanca 101

    o Risco Econmico 103

    o Rendibilidade e Viabilidade Econmica 104

    Rendibilidade Financeira 106

    o Rendibilidade e Viabilidade Financeira 106

    o Efeito e Grau Financeiro de Alavanca 110

    o Risco Financeiro 115

    Risco Global 116

  • Anlise de Balanos e Estudos de Indicadores Econmico-financeiros

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 1: Matriz de Anlise SWOT 21

    Fig. 2: Anlise das Foras e Fraquezas 22

    Fig. 3: Anlise das Oportunidades e Ameaas 23

    Fig. 4: Modelo de Porter 26

    Fig. 5: Perspectiva Contabilstica vs. Financeira das Contas 28

    Fig. 6: Mapa de Rectificao Balano Financeiro (exemplo parcial) 30

    Fig. 7: Mapa de Rectificao da Demonstrao dos Resultados por Naturezas

    (exemplo parcial) 31

    Fig. 8: Demonstrao dos Resultados por Naturezas Corrigida 47

    Fig. 9: Principais Ciclos Financeiros 48

    Fig. 10: Mapa de Mutao de Valores 52

    Fig. 11: Demonstrao de Variaes dos Fundos Circulantes 53

    Fig. 12: Demonstrao da Origem e da Aplicao de Fundos 55

    Fig. 13: Balanos Sucessivos (Aplicao de Fundos sinttico) 60

    Fig. 14: Grficos da Evoluo da Estrutura das Aplicaes (%) e

    das Origens (Valor) (exemplo) 60

    Fig. 15: DOAFs Sucessivas (Aplicao de Fundos sinttico) 61

    Fig. 16: Regra do Equilbrio Financeiro Mnimo 62

    Fig. 17: Durao e Risco do Ciclo das Origens e das Aplicaes (exemplo) 63

    Fig. 18: Fundo de Maneio 63

    Fig. 19: Balano Esquemtico 78

    Fig. 20: Elementos Activos e Passivos de Tesouraria 87

    Fig. 21: Demonst. de Resultados Sucessivas (Gastos de Explorao sinttico) 97

    Fig. 22: Demonstraes de Resultados Sucessivas (sinttico) 97

    Fig. 23: Demonstrao dos Resultados por Naturezas segundo a Teoria do CVR 99

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 5 -

    BLOCO 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    Objectivos Principais:

    Distinguir as funes e os objectivos da gesto financeira e da anlise financeira;

    Conhecer o objecto e o mtodo da anlise financeira;

    Reconhecer a importncia da informao extra-contabilstica;

    Conhecer os trabalhos preparatrios;

    Identificar os principais ajustamentos a efectuar s peas contabilsticas de forma a

    obter as peas financeiras;

    Conhecer as principais informaes a explorar das peas corrigidas.

    Objecto e Mtodo da Anlise Econmico-financeira

    A funo financeira de uma empresa ocupa-se da obteno, utilizao e controle dos

    recursos financeiros, de forma a maximizar o valor da empresa, desenvolvendo

    actividades que visem a determinao das necessidades de recursos financeiros (atravs

    do planeamento das necessidades, inventariao dos recursos disponveis, previso dos

    recursos a libertar pela explorao e clculo dos recursos a obter fora da empresa), a

    obteno de recursos da forma mais vantajosa (em termos de custos e prazos, condies

    fiscais, procura de equilbrio entre a composio dos capitais prprios e alheios), a

    aplicao criteriosa e racional dos recursos (a fim de obter uma estrutura financeira

    adequada e bons nveis de eficincia e rendibilidade), o controlo das aplicaes de

    fundos (atravs da comparao entre previses e realizaes e pela anlise dos desvios)

    e a avaliao da rendibilidade dos investimentos (quer da empresa como um todo, quer

    por tipo de capitais utilizados).

    A funo financeira engloba a gesto financeira e a anlise financeira.

    A gesto financeira abrange o conjunto de tcnicas que visam a obteno regular e

    oportuna dos recursos financeiros necessrios ao funcionamento e desenvolvimento da

    empresa, ao menor custo possvel e sem alienao da sua independncia, bem como, o

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 6 -

    estudo e controlo da rendibilidade, podendo ser aplicada numa perspectiva de mdio

    longo prazo (quanto a polticas de investimento e de financiamento, distribuio de

    resultados ou estrutura e nvel dos capitais permanentes) ou de curto prazo

    (relativamente gesto dos activos e passivos correntes, tais como, disponibilidades,

    gesto dos crditos de e a terceiros, desconto de ttulos, gesto de stocks e tesouraria).

    Desta forma, so objectivos da gesto financeira: fazer o planeamento financeiro de

    mdio longo prazo (Planos Financeiros) e de curto prazo (Oramentos de Tesouraria),

    assegurar a gesto da tesouraria, estudar as decises de investimento e seleccionar as

    fontes de financiamento, negociar financiamentos, estudar polticas de depreciao e

    amortizao dos activos, analisar imparidades, variaes do justo valor, constituio de

    provises, distribuio de resultados, assegurar a estrutura financeira mais adequada,

    manter a integridade do capital e promover o seu reforo, permitir a constante

    solvibilidade da empresa, assegurar a rendibilidade dos capitais investidos e controlar

    origens e aplicaes de fundos.

    Compete anlise financeira a recolha de dados e o seu estudo, a fim de fornecer

    informaes relevantes ao gestor financeiro, atravs de um conjunto de tcnicas que

    visam o estudo passado e presente da situao econmico-financeira da empresa, com

    vista a determinar a sua provvel evoluo futura.

    A anlise financeira pretende obter resposta s seguintes questes:

    A empresa lucrativa?

    Como obtido o lucro?

    O que aconteceu nos anos anteriores?

    Qual nvel de facturao da empresa?

    Est muito endividada?

    Que investimentos foram realizados?

    .....

    O seu objecto consiste em caracterizar a situao econmica e financeira da empresa e a

    sua evoluo ao longo de certo perodo de tempo (normalmente de 3 a 5 anos), com

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 7 -

    base no estudo das demonstraes financeiras e respectivos anexos. importante

    verificar se:

    a empresa dispe dos meios financeiros adequados s necessidades operacionais, ou

    pode vir a dispor deles sem criar relaes de dependncia perante terceiros;

    EQUILBRIO FINANCEIRO

    a empresa tem capacidade de gerar valor ou rendimento que permita satisfazer

    todos os agentes com interesses na organizao e garantir a sua sobrevivncia e

    expanso a longo prazo.

    RENDIBILIDADE / PRODUTIVIDADE

    Os principais documentos que servem de base anlise financeira so o Balano e a

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas e respectivos anexos, a Demonstrao de

    Alteraes no Capital Prprio, a Demonstrao de Fluxos de Caixa e respectivos

    Anexos, os Relatrios de Gesto da Empresa, a Certificao Legal de Contas, as

    publicaes de Gabinetes de Estudos (relativas a anlises sectoriais ou

    macroeconmicas) e documentos relevantes da imprensa da especialidade.

    As informaes financeiras de uma empresa fornecem um importante quadro de

    referncia sobre a sua evoluo e estado de sade, revelando-se cada vez mais

    importantes para a sociedade circundante, uma vez que se encontram na base de deciso

    das vrias entidades envolvidas. A informao financeira vista neste contexto como

    um elemento redutor de incertezas.

    Podemos identificar um conjunto de entidades que, por diversas motivaes, tm o

    maior interesse no conhecimento das informaes de carcter econmico e financeiro

    de uma empresa, nomeadamente:

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 8 -

    Accionistas, Potenciais Investidores, Consultores e Analistas Financeiros

    que pretendem analisar a evoluo dos seus investimentos, o grau de distribuio ou

    afectao de resultados, as formas de aumento de capital social, as estratgias de

    crescimento das suas quotas de mercado e/ou avaliar o potencial de determinada

    empresa em que desejam investir. Este um dos principais grupos receptores da

    informao financeira de uma empresa, que necessita de informao para a tomada de

    deciso quanto compra, posse ou venda das aces e o respectivo timing para a

    realizao destas operaes. As anlises elaboradas para servirem de base tomada de

    deciso podero ser efectuadas pelos prprios accionistas e potenciais investidores, ou

    por intermedirios, tais como, consultores ou analistas financeiros, que constituem um

    importante grupo de presso junto da gesto quanto publicao da informao

    financeira, quer em termos de prazos, quer em termos de natureza e contedo.

    Gestores

    que pretendem avaliar a sua performance, compreender e controlar as operaes e ter

    uma base para o planeamento e para a tomada de diversas decises de gesto, tais como,

    decises de investimento, de financiamento, de distribuio de resultados, de polticas

    comerciais ou operacionais. Tambm os contratos ou planos de incentivo aos gestores

    assentam essencialmente em elementos financeiros. Muitas empresas estabelecem o

    recebimento de incentivos (sob forma de bnus pecunirios, viagens ou outros prmios)

    por parte dos gestores, quando estes atingem os objectivos predefinidos (ou uma

    percentagem destes), por exemplo, em termos de Resultados, Rendibilidade dos

    Capitais Prprios, Vendas ou Rendibilidade Econmica. importante que o gestor

    possua conhecimento acerca das informaes financeiras da sua empresa em tempo

    oportuno, a fim de corrigir possveis desvios na prossecuo dos objectivos a atingir.

    Pessoal e Sindicatos

    que pretendem negociar melhores condies de trabalho e maiores benefcios salariais,

    necessitando de informaes financeiras da empresa, dado que estas constituem uma

    boa fonte de informao acerca da sua situao actual e potencial rendibilidade e

    solvabilidade. Dado que a empresa possui uma importante envolvente social,

    promovendo o emprego e constituindo uma das principais fontes de rendimento das

    famlias, o seu pessoal necessita ter conhecimento das suas informaes financeiras a

    fim de avaliar a viabilidade futura dos seus planos de reforma. Alm disso, tal como

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 9 -

    para os gestores, algumas empresas estabelecem planos de incentivo aos trabalhadores

    com base em elementos financeiros, como por exemplo, comisses ou bnus sobre o

    valor dos Ganhos ou Resultado Lquido do Perodo ou com base em indicadores de

    rendibilidade, tendo eles, deste modo, grande interesse em aceder informao

    necessria.

    Credores e Pblico em Geral

    que pretendem avaliar a capacidade da empresa quanto liquidao futura de crditos

    concedidos e/ou decidir sobre depsitos ou outras aplicaes a efectuar.

    Estado e Outros Entes Pblicos

    que pretendem calcular o montante de impostos e taxas devido numa perspectiva fiscal,

    ou que pretendem, de alguma forma, obter acesso aos elementos sobre a sua actividade,

    tais como, as entidades que acompanham determinados sectores econmicos

    (construo e da habitao por exemplo) a fim de compatibilizar medidas e polticas.

    Outros

    tais como, concorrentes que pretendem avaliar a performance relativa, estudantes ou

    docentes que pretendem realizar trabalhos de investigao acadmica, ou outras

    instituies de interesse especfico.

    Uma anlise financeira inclui o estudo comparativo das informaes financeiras de uma

    ou vrias empresas num determinado momento no tempo (Anlise Cross-Sectional)

    e/ou evoluo e tendncias dessas informaes ao longo do tempo (Anlise Time-Serie).

    Contudo, os analistas e gestores devem ter presente que as informaes contabilsticas

    so obtidas de documentos contabilsticos que apresentam algumas limitaes,

    nomeadamente:

    No mbito da anlise econmico-financeira, a existncia de divergncias

    conceptuais entre a tcnica contabilstica e a financeira provoca a necessidade de se

    efectuar ajustamentos s peas contabilsticas, apoiadas em informaes

    complementares extra-contabilsticas. Alguns destes ajustamentos no so aceites

    em termos fiscais;

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 10 -

    Os documentos contabilsticos podem conter informao assente no princpio do

    custo histrico, ou seja, no reflectem os valores actuais de algumas contas;

    O saldo de algumas contas so determinados por estimativa, como, por exemplo, as

    contas de depreciaes, amortizaes e provises;

    A dificuldade em valorizar quantitativamente alguns activos fsicos ou intangveis

    existentes na empresa provoca a sua no valorizao e, logo, a sua omisso, tais

    como, o valor dos seus recursos humanos (a sua motivao, capacidades tcnicas ou

    formao), da sua imagem, da qualidade dos seus produtos ou servios, da marca,

    do sistema de informao existente, da sua experincia e da existncia de sinergias;

    A alterao de determinadas regras contabilsticas poder influenciar a

    comparabilidade das peas contabilsticas de um exerccio com as dos exerccios

    anteriores;

    A falta de uniformidade contabilstica a nvel internacional inviabiliza, na maioria

    das vezes, as comparaes entre empresas do mesmo sector em diferentes pases.

    A anlise de rcios1 constitui uma das principais tcnicas de anlise no mbito da

    anlise financeira, dado que permite reduzir toda a informao relevante constante num

    complexo conjunto de informaes financeiras, a um conjunto limitado de indicadores

    econmico-financeiros.

    O clculo de rcios utilizado na anlise das informaes financeiras de uma empresa a

    fim de se avaliar a sua situao econmico-financeira num dado momento e/ou a sua

    evoluo ao longo de vrios perodos e compar-la com a situao de outras empresas

    do mesmo sector e/ou com os valores mdios do sector. Esta prtica enfatiza (implcita

    ou explicitamente) a posio relativa dos rcios financeiros da empresa em relao

    distribuio dos rcios do sector e denomina-se benchmarking. Deste modo, comum

    catalogar uma empresa como pouco rentvel ou muito rentvel de acordo com o seu

    rcio de rendibilidade, sendo este muito abaixo ou muito acima da mdia, por exemplo.

    1 A relao entre contas ou agrupamentos de contas do Balano e da Demonstrao dos Resultados por Naturezas, ou ainda entre outras grandezas econmico-financeiras, podero ter diversas designaes, nomeadamente, rcios, ndices, coeficientes, quocientes ou indicadores. Em Portugal, o termo rcio o mais defendido por diversos Professores da rea de Gesto e Contabilidade e pelo prprio Banco de Portugal.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 11 -

    Ser importante referir que as divergncias registadas entre os rcios de uma empresa e

    os rcios de referncia, podero no representar instabilidade perante a mdia do seu

    sector, mas apenas reflectir uma posio estratgica da empresa quanto definio dos

    seus objectivos, por exemplo.

    implicitamente assumido neste tipo de anlise, que os rcios utilizados possuem as

    propriedades estatsticas apropriadas, nomeadamente:

    Proporcionalidade (a prpria forma do rcio requer uma estreita relao

    proporcional entre o numerador e o denominador. Ou seja, a relao entre o

    numerador e o denominador linear com constante igual a zero);

    Normalidade (os valores em estudo apresentam uma distribuio normal).

    No entanto, um elevado nmero de estudos revela que a no-proporcionalidade e a no-

    normalidade so a regra e no a excepo, onde os dados apresentam constantemente

    elevadas assimetrias e numerosos valores extremos e a incorrecta assuno destas

    propriedades provoca implicaes graves a analistas financeiros e gestores. Por

    exemplo, aquando da no existncia de normalidade, quer pela existncia de

    assimetrias, quer pela presena de valores extremos, os rcios financeiros mdios de um

    sector no devero ser utilizados como valores de referncia para uma empresa

    (Martins, 2001).

    Segundo McLeay (1986) os rcios referentes aos valores sectoriais podem ser

    apresentados segundo dois mtodos de clculo:

    1: Valor Mdio, em que o rcio calculado segundo a mdia aritmtica simples dos

    rcios de cada empresa, segundo a expresso:

    ( )= ii xynr1

    McLeay (1986: 78)

    2: Valor Agregado, em que o rcio calculado com o numerador e o denominador

    agregado das vrias empresas, nomeadamente:

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 12 -

    == iiii xn

    yn

    xyxy11

    McLeay (1986: 78)

    Sendo que:

    ( )

    +=

    i

    ii

    x

    xryrxy

    McLeay (1986: 79)

    Podemos ainda verificar que as diferenas existentes entre os valores de xy e r ,

    dependem da co-varincia entre o rcio e o seu denominador, dado que:

    ( )( ) xryxxrrn

    ii =1

    e deste modo ),(1

    xrcovx

    rxy +=

    McLeay (1986: 90) McLeay (1986: 90)

    Os valores resultantes destes dois mtodos de clculo apenas sero semelhantes,

    mediante condies de perfeita proporcionalidade entre as variveis y e x.

    Tal como j foi anteriormente referido, o mtodo de anlise de rcios promove a

    necessidade de comparar os valores dos rcios de uma empresa com determinados

    rcios de referncia. Consideramos rcios de referncia todos os valores que servem de

    padro de comparao nas anlises efectuadas e identificamos essencialmente os

    seguintes trs tipos:

    a) rcios da prpria empresa referentes a perodos anteriores para anlises de evoluo

    e/ou referentes a projeces ou objectivos predefinidos para anlises de

    desempenho face ao previsto;

    b) rcios de empresas concorrentes a fim de identificar a posio relativa da empresa

    face aos mesmos. Este tipo de informao por vezes de difcil acesso face

    tendncia generalizada para manter a confidencialidade das informaes

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 13 -

    financeiras, essencialmente as referentes s empresas que no so legalmente

    obrigadas sua divulgao;

    c) rcios do sector a fim de identificar a posio relativa da empresa no mesmo. Este

    tipo de informao j de mais fcil obteno, dado a existncia de algumas

    instituies sectoriais e Centrais de Balanos que procedem recolha e ao

    tratamento de informaes financeiras das empresas, constroem bases de dados por

    sectores e emitem relatrios peridicos, normalmente anuais, com rcios mdios

    dos diversos sectores de actividade, servindo estes como valores de referncia a

    gestores, analistas de crdito e analistas financeiros.

    Sendo tradicionalmente os valores sectoriais valores mdios do sector, quaisquer

    desvios extremos, relativamente a esses valores mdios, podem afectar a futura

    performance das empresas, dado que, nestes casos, os elementos decisores alertam para

    a necessidade de convergncia dos seus rcios actuais para os rcios de referncia. A

    este tipo de convergncia denomina-se frequentemente por ajustamento de rcios.

    O ajustamento de rcios pode ser conseguido pela manipulao das informaes

    financeiras, atravs de tcnicas e polticas contabilsticas, como por exemplo, pelo

    critrio de valorizao dos inventrios, pelo mtodo de depreciaes e amortizaes ou

    pela valorizao dos activos no correntes ou atravs de outras decises de gesto a

    nvel das polticas de investimento, comerciais, financiamento ou distribuio de

    resultados.

    Em Portugal, as Centrais de Balanos que fornecem com maior rigor e regularidade

    informaes sectoriais so a do Banco de Portugal, a do Millennium BCP e a Dun &

    Bradstreet.

    As reas de estudo mais trabalhadas no mbito da anlise de rcios so:

    a forma funcional dos rcios financeiros, ou seja, a questo da proporcionalidade;

    as caractersticas da distribuio dos rcios financeiros;

    a comparabilidade dos rcios entre empresas do mesmo sector e entre sectores;

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 14 -

    o ajustamento de rcios;

    a classificao dos rcios financeiros;

    as propriedades cronolgicas dos rcios financeiros;

    os modelos para previso de falncias;

    anlise e avaliao de estratgias;

    o mercado de ttulos e os rcios financeiros;

    anlise de crdito e risco;

    a estimao da Taxa Interna de Rentabilidade a partir das informaes financeiras.

    Contudo, o mtodo de anlise de rcios apresenta diversas limitaes, que embora no

    invalidem a sua utilizao, exigem ao analista um permanente estado de alerta aquando

    da sua aplicao. Segundo Martins (2001) e Saias et al. (1998) as principais limitaes

    dos rcios financeiros so as seguintes:

    A inexistncia de valores de referncia universais provoca uma elevada

    subjectividade afecta anlise;

    Os rcios permitem quantificar factos e detectar anomalias mas, geralmente, no

    conseguem por si s explicar de forma satisfatria as incorreces identificadas;

    A anlise de rcios apenas tem sentido quando elaborada dentro do contexto

    econmico-social em que a empresa se insere, tornando muito complexa, ou mesmo

    impossvel, a comparao de rcios entre empresas de diferentes sectores ou pases;

    A informao obtida atravs de um rcio mnima. O mtodo pressupe o estudo da

    evoluo do mesmo rcio no tempo e a sua interligao com outros rcios. Por

    exemplo, uma Liquidez Geral2 elevada pode representar uma situao forte de

    liquidez (boa gesto) ou um excesso de fundos em caixa, que no geram

    rendimentos (m gesto);

    2 Liquidez Geral = Activo Corrente / Passivo Corrente.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 15 -

    Um rcio pode evoluir de forma positiva por uma melhoria ou pioria de um dos seus

    componentes: por exemplo, um aumento do rcio de Rendibilidade das Vendas3

    poder ocorrer por diminuio do volume de vendas;

    Dois valores idnticos para o mesmo rcio, obtidos em perodos diferentes ou entre

    diferentes empresas, podem no reflectir a mesma realidade, pois podem ocorrer

    compensaes entre os seus componentes;

    Um rcio de valor positivo (que partida pode parecer resultante de uma situao

    favorvel) pode dissimular uma situao desfavorvel por resultar de componentes

    com sinais simultaneamente negativos, ou seja 0>

    x

    y ;

    Os rcios podem ser afectados por operaes pontuais que coincidam com os fechos

    de exerccio ou com variaes sazonais;

    A definio dos valores mdios do sector como valor padro de referncia para uma

    empresa apenas ser vlido se os dados cumprirem as propriedades estatsticas

    necessrias, nomeadamente, a de proporcionalidade e de normalidade;

    A possibilidade de clculo de numerosos rcios, provoca a necessidade de

    seleccionar um conjunto mais limitado de rcios que permita uma anlise em que se:

    minimize a informao perdida pela limitao do nmero de rcios utilizados

    (para tal necessrio que o conjunto final de rcios seleccionados mantenha a

    maioria da varincia observada no conjunto original de rcios considerados);

    minimize a informao redundante entre os rcios seleccionados (para tal

    necessrio que o conjunto final de rcios seleccionados apresente a menor

    correlao entre eles e a ausncia de multicolinariedade).

    Em termos gerais, a metodologia de base da anlise financeira assenta nas seguintes

    etapas:

    1. Recolha de informao contabilstica e extra-contabilstica;

    2. Preparao das peas contabilsticas para anlise;

    3 Rendibilidade das Vendas = Resultado Lquido / Vendas.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 16 -

    3. Comparao ao longo de um determinado perodo de tempo das peas contabilsticas: Estudo da Situao Financeira (Balano) e Econmica (Demonstrao dos Resultados por Naturezas);

    4. Elaborao do Relatrio Econmico-Financeiro.

    Desenvolvemos seguidamente os aspectos mais relevantes afectos a estas etapas, numa

    perspectiva de anlise financeira.

    Informao Extra-contabilstica

    Empresa

    Um processo de anlise financeira implica a recolha de informaes contabilsticas e

    extra-contabilsticas, nomeadamente, informaes referentes empresa, ao seu sector de

    actividade e meio envolvente, que possam, de uma forma directa ou indirecta, ajudar a

    compreender a sua situao financeira e os resultados obtidos, tais como, a sua posio

    no mercado, as condies de financiamento obtidas, a sua filosofia de gesto, o seu

    histrico, a capacidade e personalidade dos gestores, a sua actividade e natureza

    jurdica, a composio do seu capital, a situao macroeconmica, etc. Deve-se portanto

    proceder recolha do mximo de informao possvel sobre os aspectos que tenham

    afectado, estejam a afectar ou possam vir a afectar futuramente a situao patrimonial

    ou o desempenho da empresa (Bastardo e Gomes, 1996). Ao processo de recolha de

    informaes contabilsticas e extra-contabilsticas d-se o nome de diagnstico.

    O diagnstico prepara todas as informaes relevantes sobre a empresa, sobre o seu

    sector de actividade, contexto de mercado em termos econmico-polticos, etc.,

    efectuando um estudo aprofundado ao potencial da empresa, s condies e resultados

    de explorao e s relaes estabelecidas com o meio envolvente.

    Segundo Cohen (1996), a fim de caracterizar a situao actual da empresa e identificar

    situaes que possam influenciar o seu futuro desempenho, necessrio efectuar uma

    anlise em termos de:

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 17 -

    Risco (para evidenciar os riscos de incidentes susceptveis de perturbar as

    actividades futuras da empresa);

    Avaliao Global (realar os pontos fortes e fracos tendo em vista a proposta e o

    desenvolvimento de aces de planeamento estratgico).

    Em termos gerais, existem duas escolas de anlise preliminar: a escola francesa e a

    americana. A escola francesa baseia-se fundamentalmente na anlise da empresa face ao

    mercado e aos recursos de que dispe para desenvolver a sua actividade.

    Criada no mbito da escola americana, a Teoria dos 5 Ms: Men, Money, Merchandise,

    Materials e Market, considera que para avaliar o desempenho de uma empresa

    necessrio efectuar uma anlise ao conjunto de factores humanos, financeiros, materiais

    e de mercado que fornecem empresa vantagens competitivas face aos seus

    concorrentes e logo, valor acrescentado, nomeadamente:

    Men (potencial humano, qualidade das relaes, da organizao e da gesto);

    Money (diagnstico financeiro);

    Merchandise (qualidade e valorimetria dos Inventrios);

    Materials (nvel tecnolgico, desempenho, fiabilidade dos Activos Fixos Tangveis);

    Market (posio no mercado, imagem, rede de distribuio).

    Ou seja, torna-se necessrio proceder a uma avaliao de carcter global, na qual

    podemos identificar os principais elementos do diagnstico:

    I Diagnstico das Orientaes Estratgicas

    Anlise dos objectivos explcitos ou implcitos

    do sistema de planificao e da gesto previsional;

    dos dispositivos de controlo;

    da carteira de encomendas;

    das relaes com o meio envolvente (clientes, fornecedores, instituies

    financeiras,).

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 18 -

    II Diagnstico das Estruturas

    Anlise do organograma formal

    Anlise do sistema de informao

    III Diagnstico das Grandes Funes

    Compras, Aprovisionamento e Gesto dos Inventrios

    Produo e Gesto Tcnica

    Marketing e Vendas

    Recursos Humanos e relaes dentro da empresa

    Diagnstico Financeiro

    (Adaptado de Cohen, 1996: 387)

    Cohen (1996) identifica as seguintes fases do diagnstico:

    1. Preparao e tratamento das fontes de informao

    Recolha das informaes contabilsticas e extra-contabilsticas consideradas relevantes.

    Em termos financeiros procede-se aplicao dos instrumentos de anlise financeira,

    tais como, ajustamento ou correco das contas, clculo dos indicadores, elaborao de

    mapas e quadros auxiliares, etc.

    2. Identificao dos aspectos mais relevantes

    Identificao dos sintomas ou sndromas das dificuldades (diagnstico de crise) e

    identificao dos pontos fortes e fracos (diagnstico de controlo). Em termos

    financeiros procede-se apreciao e interpretao dos mapas e indicadores em termos

    de equilbrio e desempenho financeiro, fontes e gastos do financiamento, estrutura e

    remunerao das aplicaes, etc.

    3. Anlise explicativa

    Anlise explicativa das causas das dificuldades, das vantagens e desvantagens dos

    vrios aspectos mais relevantes.

    4. Prognsticos e recomendaes

    Formulao das perspectivas e sugesto de solues alternativas.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

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    O diagnstico constitui uma fase crucial do processo de avaliao financeira da

    empresa, dado que:

    ajuda na determinao do valor real do patrimnio da empresa;

    avalia a capacidade da empresa para gerar lucros estimativa do valor de

    rendimento;

    fornece indicaes preciosas sobre a situao financeira da empresa, em termos de

    solvabilidade, rendibilidade, pontos fortes e fracos (essencialmente na ptica

    financeira).

    Este tipo de anlise permite identificar as vantagens competitivas de que a empresa

    detentora e as suas limitaes, ou seja, identificar os seus pontos fortes e fracos, no

    apenas em termos financeiros, mas tambm em termos comerciais, estratgicos,

    tecnolgicos, etc.

    Em termos financeiros, Cohen (1996) refere que o diagnstico permite determinar a

    existncia de:

    Pontos Fortes, tais como:

    abundncia de recursos e de liquidez;

    qualidade da carteira de crditos e de activos susceptveis de proporcionar mais-

    valias potenciais;

    qualidade das relaes com a envolvente financeira (bancos, mercados , ....).

    Pontos Fracos, tais como:

    fragilidade do equilbrio financeiro solvabilidade duvidosa;

    falta de liquidez dos elementos activos;

    fraca rendibilidade;

    insuficincia de auto financiamento;

    fragilidade da estrutura financeira insuficincia de Capitais Prprios ou de

    Capitais Permanentes;

    saturao da capacidade de endividamento;

    m imagem junto do mercado financeiro;

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 20 -

    elevadas necessidades de Fundo Maneio de carcter estrutural.

    A anlise SWOT - Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats constitui um dos

    mtodos mais conhecidos e utilizados pelos analistas, dado que permite posicionar

    estrategicamente uma empresa no seu mercado atravs de uma anlise integrada das

    suas foras e fraquezas face s oportunidades e ameaas do meio envolvente. Esta

    anlise poder ajudar a compreender a situao financeira actual e os resultados obtidos,

    bem como, ajudar a definir futuras estratgias e polticas de investimento,

    financiamento, distribuio de resultados, comerciais, etc.

    Creditada por Albert Humphrey na Universidade de Stanford (Califrnia EUA) na

    dcada de 60, no se registam registos precisos sobre a origem desse tipo de anlise.

    Segundo alguns autores, esta tcnica foi criada por Kenneth Andrews e por Roland

    Christensen da Harvard Business School (EUA); segundo outros, esta tcnica j era

    utilizada h mais de trs mil anos por Sun Tzu (544 496 a.C.). Sun Tzu considerado

    um dos maiores estrategas militares de todos os tempos. Autor do famoso livro chins

    sobre tcticas militares A arte da guerra (considerada de grande importncia nos

    escritos militares e estratgicos da histria da humanidade) foi tambm um pioneiro das

    cincias polticas.

    Concentre-se nos pontos fortes, reconhea as fraquezas, agarre as

    oportunidades e proteja-se contra as ameaas. (Sun Tzu, 500 a.C.).

    Mais recentemente surgiu a denominada nova Anlise SWOT, assente na mxima de

    que para um bom estratego, as ameaas constituem sempre oportunidades latentes,

    sendo possvel transformar aparentes ameaas em novas oportunidades. Segundo esta

    nova perspectiva, uma potencial ameaa s no poder ser transformada em

    oportunidade se a empresa no possuir uma viso estratgica, no possuir meios para

    aproveitar as novas oportunidades ou no agir atempadamente. A nova Anlise SWOT

    enquadra as Foras e Fraquezas da empresa nas Oportunidades do meio envolvente e no

    Tempo, ou seja, considerando a varivel Time em vez de Threats (Freire, 1998: 144).

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 21 -

    A anlise do ambiente interno consiste no estudo das Foras e Fraquezas actuais da

    empresa e a anlise do ambiente externo no estudo das potenciais Oportunidades e

    Ameaas do mercado que podero afectar o futuro funcionamento da empresa.

    Figura 1: Matriz de Anlise SWOT

    Na conquista do objectivo

    Ajuda Dificulta

    Inte

    rna

    (em

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    )

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    nte

    )

    Fonte: Wikipdia (http://pt.wikipedia.org, consultado em 12 Julho 2007)

    A definio das foras e fraquezas da empresa conseguida atravs da anlise dos

    seguintes factores:

    Caracterizao geral da empresa (estrutura, actividade que exerce, denominao, forma

    jurdica, composio do capital, );

    rea da produo (qualidades das instalaes, tecnologias utilizadas, estado de uso dos

    equipamentos, cumprimento de prazos de fabrico, controlo de qualidade, manuteno

    dos equipamentos, ...);

    rea dos recursos humanos (definio das funes de cada posto de trabalho, nmero

    de trabalhadores, seleco e recrutamento, grau de formao dos trabalhadores,

    investimentos em formao, poltica de remunerao, poltica de prmios e incentivos,

    estilo de gesto e liderana, );

    S W

    O T

    Foras Fraquezas

    Oportunidades Ameaas

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    - 22 -

    rea de pesquisa e desenvolvimento (desenvolvimento de novos produtos, melhorias de

    produtos existentes, pesquisa para diminuir os custos dos produtos, pesquisa sobre

    novas tecnologias, inovao, ...);

    rea de aprovisionamento (poltica de compras, rotura de stocks, qualidade das

    aquisies, poltica de recepo qualitativa e quantitativa, gesto de stocks,

    armazenagem, );

    rea de marketing / vendas (produto, preo, promoo, distribuio, comunicao,

    publicidade, relaes pblicas, apoio ps-venda, clientela, mercado potencial, ...).

    Figura 2: Anlise das Foras e Fraquezas

    Fonte: Criado pelos autores

    Os factores identificados no ambiente interno so resultado das estratgias de actuao

    definidas pelos gestores da empresa e podem ser por estes controlados. Desta forma, os

    gestores devem tentar maximizar as suas foras (ou pontos fortes) e minimizar as suas

    fraquezas (ou pontos fracos).

    Marketing

    Empresa Produo

    Rec.Humanos

    I & D Aprovisionamento

    Foras

    Fraquezas

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    - 23 -

    Envolvente Micro e Macroeconmica

    Para alm das informaes sobre a empresa, tambm necessrio recolher informaes

    sobre a conjuntura nacional e internacional, em relao a factores que influenciam ou

    podem vir a influenciar o desempenho da empresa, tais como, agravamentos das taxas

    de juro, inflao, agravamento dos impostos, crescimento, desemprego, desvalorizao

    da moeda, instabilidade social, poltica, selectividade e contraco do crdito, etc.

    (Bastardo e Gomes, 1996).

    Os factores identificados no ambiente externo no podem ser controlados pela empresa,

    mas podem ser previstos e antecipados os seus efeitos atravs de um sistema de gesto

    estratgico eficiente que acompanhe o mercado de perto de forma a conhecer as suas

    tendncias. Os gestores devero tentar aproveitar as oportunidades e evitar as ameaas.

    A definio das oportunidades e ameaas externas conseguida atravs da anlise dos

    seguintes factores:

    Meio envolvente geral (composto por factores macroeconmicos de ndole econmica,

    social, poltico-legal, tecnolgica ou cultural, tais como, a evoluo do Produto

    Nacional Bruto (PNB), das taxas de juro, das taxas de desemprego, das taxas de cmbio,

    da inflao, poltica fiscal, incentivos financeiros produo e ao investimento, );

    Meio envolvente sectorial (normalmente analisado com base nas cinco foras

    competitivas do Modelo de Porter).

    Figura 3: Anlise das Oportunidades e Ameaas

    Fonte: Criado pelos autores

    Economia

    Novos

    Concorrentes

    Rivalidade

    Produtos

    Substitutos

    Negociao

    Fornecedores

    Negociao

    Clientes

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 24 -

    Michael Porter concebeu em 1979 um modelo de anlise da competitividade entre

    empresas que tem sido amplamente utilizado e mundialmente adaptado para diversos

    sectores de actividade. O modelo constitudo por cinco factores, ou foras

    competitivas, que devem ser objecto de estudo por parte de uma empresa que procure

    desenvolver uma estratgia empresarial eficiente.

    Segundo Porter (1998) existem foras externas, tais como, o poder de negociao dos

    clientes e fornecedores, a ameaa de entrada de novos concorrentes e a existncia de

    produtos ou servios substitutos, que influenciam de forma significativa a dinmica

    concorrencial ou nvel de rivalidade entre empresas do mesmo sector, contribuindo para

    a caracterizao do sector em que a empresa actua. Desta forma, uma empresa que

    pretenda delinear uma estratgia eficiente, necessita avaliar os cinco factores ou foras

    competitivas de Porter, que so as seguintes:

    Rivalidade entre os concorrentes

    O factor nvel de rivalidade ou dinmica concorrencial fortemente influenciado

    pelos outros factores e pelas caractersticas dos principais concorrentes, bem como

    do prprio mercado. O estudo deste factor exige o conhecimento do nmero, da

    dimenso relativa e das caractersticas dos principais concorrentes, da taxa de

    crescimento da actividade, do nvel de diversidade/diferenciao, de obstculos

    sada, etc.

    Poder de negociao dos clientes

    O poder de negociao ou poder de mercado dos clientes caracterizam a presso

    que estes podem exercer no sentido de influenciar o funcionamento da empresa a

    seu favor. O estudo deste factor exige o conhecimento de alguns indicadores, tais

    como: o ndice de concentrao relativa (maior concentrao (poucos clientes que

    representam uma elevada quota parte das Vendas) implica maior poder de

    negociao), a diferenciao dos produtos (pouca diferenciao implica maior poder

    de negociao pois para o cliente indiferente adquirir o produto x ou y) ou o custo

    de transferncia (custos baixos implicam maior poder de negociao pois para o

    cliente fcil mudar de fornecedor).

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 25 -

    Poder de negociao dos fornecedores

    O estudo deste factor semelhante ao anterior, mas na perspectiva das compras e

    dos fornecedores, ou seja: o ndice de concentrao relativa (maior concentrao

    (poucos fornecedores que representam uma elevada quota parte das Compras)

    implica maior poder de negociao), a diferenciao dos produtos ou matrias

    (elevada diferenciao implica maior poder de negociao pois no indiferente

    para a empresa adquirir o produto x ou y) ou o custo de transferncia (custos

    elevados implicam maior poder de negociao pois para a empresa difcil mudar

    de fornecedor).

    Ameaa de entrada de novos concorrentes

    A entrada de novos concorrentes constitui uma ameaa uma vez que promove a

    reduo da quota relativa da empresa no mercado, quer pela existncia de um maior

    nmero de concorrentes, quer pela perda potencial de clientes uma vez que estes

    tm sua disposio mais opes de escolha. O aumento do nmero de empresas

    concorrentes, aumenta a rivalidade e a concorrncia entre empresas do mesmo

    sector. A ameaa de entrada de novos concorrentes tanto maior quanto maior for a

    taxa de atractividade e crescimento potencial da actividade e o respectivo acesso a

    essa actividade. A existncia de barreiras entrada (tais como, restries

    regulamentares, elevados custos de investimento, benefcios de economias de

    escala, acesso restrito aos circuitos de distribuio, elevada fidelidade da clientela,

    etc.) limitam e/ou dificultam o acesso actividade e, portanto, reduzem a ameaa de

    entrada de novos concorrentes.

    Ameaa de produtos ou servios substitutos

    As inovaes tecnolgicas so os principais responsveis pelo aumento do nvel de

    ameaa da existncia ou aparecimento de produtos ou servios substitutos. A

    substituio consiste, com efeito, em substituir um produto ou um servio existente

    por outro, que desempenha a mesma funo, se no uma funo mais dilatada,

    proporcionando assim ao utilizador uma utilidade maior por um custo competitivo

    (Silva e Jordo, 2000: 33). Face evoluo exponencial das novas tecnologias, o

    aparecimento de novos produtos ou servios substitutos cada vez mais difcil de

    prever e de dominar.

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    Segundo Freire (1998) aps analisadas as foras competitivas, os gestores podem optar

    por uma das alternativas seguintes:

    Adequar: conhecer profundamente as caractersticas do seu sector de actividade e

    adequar o funcionamento da empresa a essas caractersticas, criando condies para

    enfrentar devidamente as foras competitivas do seu negcio ou explorar

    determinados segmentos ou nichos de mercados onde os efeitos das foras so

    menos agressivos;

    Intervir: tentar intervir no sector mediante a alterao das caractersticas do mesmo

    (introduzindo inovaes por exemplo) ou alterar a interaco das cinco foras em

    proveito prprio, melhorando a posio concorrencial da sua empresa;

    Antecipar: prever a evoluo provvel do sector e posicionar a empresa de forma a

    potenciar os efeitos futuros esperados das cinco foras competitivas, tentando levar

    a empresa a uma posio de liderana no sector.

    Figura 4: Modelo de Porter

    Fonte: Adaptado de Porter (1998: 4)

    Poder de Negociao dos Fornecedores

    Poder de Negociao dos

    Clientes

    Ameaa de Produtos ou

    Servios Substitutos

    Ameaa de Entrada de

    Novos Concorrentes

    Rivalidade entre

    Concorrentes

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    - 27 -

    Das Peas Contabilsticas para as Peas Financeiras - Ajustamentos s Peas

    Contabilsticas

    Os ajustamentos efectuados no mbito da anlise financeira tm em vista o apuramento

    do valor real das peas contabilsticas, numa perspectiva de controlo quanto s normas e

    prticas contabilsticas (quotas de depreciao e amortizao, montantes de provises,

    clculo de imparidades e variaes do justo valor, classificao das rubricas, arrumao

    das rubricas em termos de curto e longo prazo e de explorao e extra-explorao, etc.).

    Tambm a dificuldade em determinar o valor exacto de algumas contas e a existncia de

    eventuais erros de contabilizao justificam a necessidade de se efectuarem

    ajustamentos ou correces.

    O objectivo desta fase de preparao das peas contabilsticas, que servem de base

    anlise econmico-financeira de uma empresa, consiste em certificar, corrigir, ajustar e

    arrumar as mesmas, de forma a passar de uma ptica contabilstica para uma ptica

    financeira.

    O Balano Contabilstico assenta em normas contabilsticas que, nem sempre, so

    apropriadas para efeitos da anlise financeira. Contudo, muito difcil, ou mesmo

    impossvel, para um analista externo empresa, ter acesso a toda a informao

    necessria para transformar o Balano Contabilstico em Balano Financeiro.

    A principal questo que o analista deve colocar a seguinte:

    OS DOCUMENTOS CONTABILSTICOS ESPELHAM DE UMA FORMA ADEQUADA A

    SITUAO PATRIMONIAL DA EMPRESA?

    Numa primeira fase de Certificao, o analista deve optar por procedimentos que

    permitam confirmar a veracidade e a fiabilidade da informao disponvel e corrigir

    subsequentemente as anomalias, se necessrio, de forma a:

    Verificar se a contabilizao dos factos patrimoniais foi efectuada de acordo com as

    normas constantes do SNC;

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    - 28 -

    Verificar a existncia de erros de contabilizao;

    Apurar todos os nus (hipotecas, penhores, emprstimos, etc.) efectivos ou

    potenciais, que possam afectar o patrimnio da empresa;

    Apurar as situaes supervenientes do fecho de contas, com especial ateno nas

    rubricas de Devedores, Credores, Inventrios, Depreciaes e Amortizaes,

    Imparidades, variaes do Justo Valor e Provises.

    Em regra, o Balano Contabilstico j reflecte de forma verdadeira e apropriada a

    situao patrimonial da empresa pelo que apenas se justifica que sejam feitas as

    correces decorrentes da Certificao Legal de Contas ou de informaes sobre factos

    supervenientes.

    As normas contabilsticas, em determinadas situaes, prevem a opo das empresas

    reconhecerem os seus Investimentos pelo modelo do custo ou pelo modelo do justo

    valor. Tal dualidade levanta problemas de comparabilidade entre empresas que adoptem

    diferentes modelos, podendo questionar-se se o modelo do custo adequado para

    efeitos de anlise financeira. Nesta perspectiva consideramos que, no Balano

    Financeiro, os Investimentos devero ser reconhecidos de acordo com o seu valor de

    mercado.

    Numa fase posterior de Preparao, o analista deve optar por procedimentos que

    permitam arrumar as contas de forma a passar de uma perspectiva contabilstica para

    uma fundamentalmente financeira, de forma a destacar-se os elementos que permitam

    extrair informaes relevantes sobre a situao financeira, em termos de:

    Figura 5: Perspectiva Contabilstica vs. Financeira das Contas

    Activo Aplicaes de Fundos

    Passivo Capital Alheio

    Passivo No Corrente + Capital Prprio Capitais Permanentes

    Passivo + Capital Prprio Origens de Fundos

    Fonte: Criado pelos autores

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 29 -

    A fim de arrumar as contas do Activo de carcter permanente (liquidez superior a 1 ano)

    deve criar-se a rubrica de Outros Activos No Correntes (OANC). Esta rubrica de

    carcter exclusivamente financeiro pois no consta no Cdigo de Contas do SNC.

    Para efeitos de anlise financeira recomendvel que o Balano Financeiro evidencie o

    valor dos Activos No Correntes Brutos, (corrigidos de imparidades acumuladas), e as

    respectivas Depreciaes e Amortizaes Acumuladas. Desta forma dever ser includa,

    no Balano Financeiro, uma rubrica de Depreciaes e Amortizaes.

    Existem vantagens, para o trabalho de anlise, em detalhar a informao constante do

    Balano Contabilstico de acordo com as principais contas de determinadas classes

    como, por exemplo, os Inventrios.

    Exemplos de procedimentos a efectuar:

    Devedores: transferir para OANC as Dvidas de Terceiros a Mdio Longo Prazo no

    tituladas ou tituladas e no imediatamente descontveis, as dvidas dos scios ou de

    empresas associadas ou filiais e os saldos antigos de Financiamentos Concedidos;

    transferir os Adiantamentos a Fornecedores para Inventrios.

    Inventrios: transferir para OANC os monos e os Adiantamentos a Fornecedores com

    grau de liquidez superior a 1 ano.

    Credores: transferir para Inventrios os Adiantamentos de Clientes; transferir para

    Passivo No Corrente os Financiamentos Obtidos de Participantes de Capital

    (suprimentos e outros mtuos) dado o seu baixo grau de exigibilidade.

    Acrscimos e Diferimentos: transferir os Gastos a Reconhecer e os Devedores por

    Acrscimos de Rendimentos, com liquidez superior a 1 ano, para Outras Dvidas a

    Receber a Mdio Longo Prazo (integrada na conta de OANC); transferir os

    Rendimentos a Reconhecer e os Credores por Acrscimos de Gastos, com liquidez

    superior a 1 ano, para Passivo No Corrente.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 30 -

    Os ajustamentos devem ser efectuados simultaneamente no Balano e na Demonstrao

    dos Resultados por Naturezas, dado que os ajustamentos que envolvem contas de gastos

    ou de rendimentos exigem ajustamentos do Resultado Lquido do Perodo apurado. Os

    mapas de apoio s operaes de ajustamento das peas contabilsticas tm a seguinte

    estrutura:

    Figura 6: Mapa de Rectificao Balano Financeiro (exemplo parcial)

    Saldo Ajustamentos Saldo Rubricas 31/12/n Dbito Crdito Rectificado

    ACTIVO NO CORRENTE

    Activos Fixos Tangveis 857 825 857 825

    Activos Intangveis 2 470 2 470

    Participaes Financeiras 129 200 129 200

    Depreciaes e Amortizaes (280 825) 24 625 (11) (256 200)

    Outros Activos No Correntes Gastos a Reconhecer - MLP 385 (14) 385 INVENTRIOS

    Matrias-Primas 170 935 170 935

    Produtos Acabados 482 310 482 310

    Mercadorias 47 905 47 905

    Imparidades em Inventrios (55 910) 45 760 (4a) 37 798,3 (4b) (47 948,3)

    Ad. por conta de Compras 6 165 (3) 6 165

    Ad. por conta de Vendas 5 525 (7) (5 525)

    DIFERIMENTOS 385 385 (14) 0

    Colunas utilizadas para anotar o nmero ou a referncia da operao a dbito e a crdito, geralmente acompanhada de uma breve nota explicativa. Exemplo: (14) Transferncia dos Diferimentos com liquidez superior a 1 ano para Outros Activos No Correntes (OANC).

    Saldo Ajustamentos Saldo Rubricas 31/12/n Dbito Crdito Rectificado

    CAPITAL PRPRIO

    Capital 250 000 250 000

    Reservas 601 395 601 395

    Resultados Transitados (31 830) 7 310 (2b) 118 680

    45 760 (4a)

    75 615 (5)

    21 825 (11)

    Resultado Lquido do Perodo 77 415 300 (1) 12 045 (5) 29 190,4

    1 746,8 (2c) 2 800 (11)

    37 798,3 (4b)

    23 224,5 (13)

    Fonte: Criado pelos autores

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 31 -

    O saldo rectificado constitui o saldo inicial somado dos valores rectificados a dbito e

    subtrado dos valores rectificados a crdito para as contas de saldo tipicamente devedor

    (nomeadamente, contas de Activo e de Gastos) e constitui o saldo inicial somado dos

    valores rectificados a crdito e subtrado dos valores rectificados a dbito para as contas

    de saldo tipicamente credor (nomeadamente, contas de Passivo, de Capital Prprio e de

    Rendimentos).

    Figura 7: Mapa de Rectificao da Demonstrao dos Resultados por Naturezas (exemplo parcial)

    Saldo Ajustamentos Saldo Rubricas 31/12/n Dbito Crdito Rectificado

    Imparidade de Inventrios 24 705 1 746,8 (2c) 12 045 (5) 52 205,1

    37 798,3 (4b)

    Juros e Gastos Similares Suportados 75 000 300 (1) 75 300

    Resultado Antes de Impostos 77 415 52 414,9

    Imposto Sobre Rendimento 23 224,5 (13) 23 224,5

    RESULTADO LQUIDO DO PERODO

    77 415 12 045 (5) 300 (1) 29 190,4

    2 800 (11) 1 746,8 (2c)

    37 798,3 (4b)

    23 224,5 (13)

    77 914,6 77 914,6 Fonte: Criado pelos autores

    O total dos movimentos a dbito tem de ser igual ao total dos movimentos a crdito, tanto no Balano como na Demonstrao dos Resultados por Naturezas.

    Sempre que um ajustamento envolva uma conta de gastos ou rendimentos, devem ser

    efectuados dois lanamentos em simultneo, um no Balano e outro na Demonstrao

    dos Resultados por Naturezas, de forma a no desequilibrar o total de movimentos a

    dbito e a crdito em cada um dos mapas.

    Considere-se, a ttulo de exemplo, nos mapas apresentados nas figuras 6 e 7, o

    lanamento com a referncia (4b). Este lanamento corresponde ao reconhecimento de

    um aumento das Imparidades de Inventrios em Mercadorias. O lanamento

    contabilstico deste tipo de operao seria:

    Dbito: 652 Perdas por Imparidade em Inventrios (Demonst.Resultados por Naturezas) Crdito: 329 Perdas Por Imparidade Acumuladas (Balano)

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 32 -

    Tal lanamento implicaria um movimento a dbito na Demonstrao dos Resultados por

    Naturezas (na conta de Perdas por Imparidade em Inventrios) e o correspondente

    movimento a crdito no Balano (na conta de Perdas Por Imparidade Acumuladas), o

    que iria desequilibrar o total de movimentos a dbito e a crdito em cada um dos mapas.

    Em termos contabilsticos, o lanamento ir afectar a conta de Resultado Lquido do

    Perodo, conta comum aos dois mapas. Desta forma, para efectuar este ajustamento,

    devem ser registados dois lanamentos, um no Balano e outro na Demonstrao dos

    Resultados por Naturezas, atravs da conta comum de Resultado Lquido do Perodo.

    Nomeadamente:

    Balano:

    Dbito: 81 Result. Lq. do Perodo / Crdito: 329 Perdas Por Imparidade Acumuladas

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas:

    Dbito: 652 Perdas por Imparidade em Inventrios / Crdito: 81 Result. Lq. do Perodo

    Em termos lquidos, o lanamento o mesmo que o correspondente lanamento

    contabilstico, mas desta forma efectuado em simultneo o respectivo ajustamento ao

    valor do Resultado Lquido do Perodo apurado.

    De salientar ainda que esta operao iria promover um aumento dos gastos ( Perdas por

    Imparidade em Inventrios ) e logo uma reduo do Resultado Lquido do Perodo

    apurado. Contudo, os lanamentos de ajustamento implicam um lanamento a dbito

    (no Balano) e outro a crdito (na Demonstrao dos Resultados por Naturezas). Sendo

    a conta de Resultado Lquido do Perodo uma conta de Capital Prprio, o apuramento

    do saldo rectificado deve ser efectuado no Balano. Na Demonstrao dos Resultados

    por Naturezas iro constar os mesmos lanamentos, mas na posio contrria em termo

    de dbito/crdito. Ou seja, na Demonstrao dos Resultados por Naturezas o saldo

    rectificado da conta de Resultado Lquido do Perodo corresponde ao saldo inicial

    somado dos valores rectificados a dbito e subtrado dos valores rectificados a crdito.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 33 -

    Martins (2004) defende a utilizao de uma conta especfica nos Capitais Prprios do

    Balano, nomeadamente, a conta de Outras Variaes dos Capitais Prprios, para

    registar os ajustamentos ao Resultado Lquido do Perodo. Desta forma, possvel

    manter o valor do Resultado Lquido do Perodo apurados contabilisticamente e,

    simultaneamente, fazer reflectir o valor dos ajustamentos efectuados nos Capitais

    Prprios da empresa. Uma vez que este procedimento no influencia, de forma

    significativa, o processo de anlise das contas e para visualizar de uma forma mais

    directa o impacto dos ajustamentos sobre os resultados da empresa, optamos por fazer

    reflectir os mesmos directamente na conta de Resultado Lquido do Perodo.

    Segundo Martins (2004) existem algumas situaes que emitem sinais de perigo ao

    analista e que revelam sintomas da necessidade de ajustar a informao contabilstica.

    Essas situaes so as seguintes:

    Existncia de reservas no parecer do Revisor Oficial de Contas (ou seja, a existncia

    de uma certificao com reservas);

    Ocorrncia de alteraes nos mtodos ou procedimentos contabilsticos (por

    exemplo, a nvel do mtodo de custeio das sadas dos inventrios: existem causas

    justificadas para a mudana ou a mesma foi influenciada pela busca de resultados

    contabilsticos mais convenientes?);

    Existncia de elevados montantes nos saldos das contas de Diferimentos e de

    Acrscimos, uma vez que estas contas podem ser utilizadas com vista a influenciar

    os resultados;

    Registo de grandes alteraes no valor dos Inventrios, dada a influncia dos nveis

    de stocks nos resultados, por via do custo das mercadorias vendidas e das matrias

    consumidas ou atravs da variao dos produtos acabados ou em curso;

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 34 -

    Com base em Martins (2004) e Baptista (2002), enunciamos seguidamente os principais

    procedimentos de preparao que o analista deve efectuar, de forma a tomar medidas

    correctivas, se necessrio:

    a) Contas do Activo

    Activos No Correntes:

    Criao de uma conta no contabilstica (dado que no consta no cdigo de contas

    do SNC): a conta de Outros Activos No Correntes (OANC).

    A conta de Outros Activos No Correntes (OANC) deve conter todas as contas do

    Activo com liquidez superior a 1 ano, ou seja, de carcter permanente, que no sejam

    Activo No Corrente propriamente dito, tais como:

    Adiantamentos a Fornecedores de Investimentos, porque representam investimento

    em Investimentos;

    Valores realizveis a mdio e longo prazo (prazo superior a 1 ano);

    Devedores por Acrscimos de Rendimentos cujo rendimento ocorra em exerccio

    posterior ao prximo;

    Gastos a Reconhecer cujo gasto seja reconhecido em exerccio posterior ao

    prximo;

    Inventrios de difcil venda (Monos);

    Depsitos cativos ou em conta cauo com prazos superiores a 1 ano.

    Exemplo: Transferir Adiantamentos a Fornecedores de Investimentos para Outros Activos No Correntes Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes / Crdito: 271 Fornecedores de Investimento

    Conferir os valores contabilsticos dos investimentos e ajustar os mesmos para o

    respectivo valor real. Ou seja, verificar se a empresa utiliza o mtodo do custo ou do

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 35 -

    justo valor e ajustar, sempre que necessrio o respectivo valor para o correspondente

    valor real dos Investimentos.

    Inventrios:

    Verificar se houve alterao do critrio de valorimetria dos Inventrios durante o

    perodo em anlise;

    Registar a existncia de monos (bens dificilmente vendveis), que devem ser

    transferidos para a conta de Outros Activos No Correntes, uma vez que representam

    activos com elevado grau de permanncia na empresa;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes / Crdito: 32 Mercadorias

    Transferir Adiantamentos por Conta de Compras com grau de liquidez superior a um

    ano para a conta de Outros Activos No Correntes.

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes / Crdito: 39 Ad. por Conta de Compras

    Dvidas de Terceiros:

    Arrumar as contas a receber de acordo com as perspectivas reais dos prazos de

    recebimento dos crditos, em termos de curto prazo (recebimento previsto para um

    prazo igual ou inferior a 1 ano) ou mdio e longo prazo (recebimento previsto para

    um prazo superior a um ano);

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 36 -

    Transferir as Contas a Receber a Mdio Longo Prazo (no tituladas ou tituladas no

    descontveis de imediato) para a conta de Outros Activos No Correntes;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes / Crdito: 2 Contas a Receber a ML Prazo

    Transferir as dvidas dos scios ou accionistas empresa para a conta de Outros

    Activos No Correntes, dado que normalmente tm um baixo grau de liquidez;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes / Crdito: 26 Accionistas / Scios

    Constituir Clientes de Cobrana Duvidosa e respectivas Perdas por Imparidade para

    todos os crditos que se prevem de cobrana difcil, independentemente dos

    critrios fiscais;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 2134 Clientes Cobrana Duvidosa / Crdito: 211 Clientes Conta Corrente

    Dbito: 81 Result. Lq. do Perodo / Crdito: 219 Perdas por Imparidade Acumuladas

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas:

    Dbito: 65 Perdas por Imparidade / Crdito: 81 Resultado Lquido do Perodo

    4 O SNC no prev qualquer subconta para Clientes de Cobrana Duvidosa, no entanto considera-se que para um melhor acompanhamento destas situaes se dever retirar estes valores da conta de Clientes C/C, pelo que se aconselha a utilizao de uma das subcontas disponveis, neste caso a 213.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 37 -

    Verificar a existncia de crditos incobrveis (valores que efectivamente j no se

    prevem receber) nas contas de Clientes de Cobrana Duvidosa;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 81 Result. Lq. do Perodo / Crdito: 213 Clientes Cobrana Duvidosa

    Dbito: 219 Perdas por Imparidade Acumuladas / Crdito: 81 Result. Lq. do Perodo

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas:

    Dbito: 683 Dvidas Incobrveis / Crdito: 81 Resultado Lquido do Perodo

    Dbito: 81 Resultado Lquido do Perodo / Crdito: 65 Perdas por Imparidade5

    Anular os crditos, no anteriormente considerados de cobrana duvidosa, que se

    prevem incobrveis por contrapartida de Resultado Lquido do Perodo (referentes

    ao prprio exerccio) ou Transitados (referentes a exerccios anteriores);

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 56 Resultados Transitados / Crdito: 211 Clientes de Conta Corrente

    Dbito: 81 Resultado Lquido do Perodo / Crdito: 211 Clientes de Conta Corrente

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas:

    Dbito: 683 Dvidas Incobrveis / Crdito: 81 Resultado Lquido do Perodo

    5 Caso as perdas por imparidade j tivessem sido reconhecidas em anos anteriores, o lanamento no Balano referente anulao das Perdas por Imparidade Acumuladas seria o seguinte:

    Dbito: 219 Perdas por Imparidade Acumuladas / Crdito: 56 Resultados Transitados

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 38 -

    Transferir os Adiantamentos a Fornecedores de Investimentos (cujo preo no esteja

    previamente fixado registado na conta 27136) para Outros Activos No Correntes,

    uma vez que constituem investimentos;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos no Correntes / Crdito: 27.13 Ad. a Fornecedores de Investimento

    Transferir os Adiantamentos a Fornecedores (cujo preo no esteja previamente

    fixado registado na conta 2287) para Inventrios, pois a sua aptido para se

    transformarem em meios lquidos est condicionada recepo das matrias ou

    mercadorias, eventual transformao e posterior venda;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 3 Inventrios / Crdito: 228 Adiantamentos a Fornecedores

    Meios Financeiros Lquidos:

    Transferir todos os elementos constantes na conta Caixa no imediatamente, ou

    quase imediatamente, disponveis, (como por exemplo: vales de caixa, valores

    selados, cupes de dividendos e de juros vencidos) para Outras Contas a Receber a

    Curto Prazo ou Mdio Longo Prazo (Outros Activos No Correntes) consoante o seu

    grau de liquidez;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 27 Outras Contas a Receber a Curto Prazo / Crdito: 11 Caixa

    6 De referir que os Adiantamentos por Conta de Investimentos, com preo previamente fixado, j se devem encontrar registados numa conta da classe 4 - Investimentos. 7 De referir que os Adiantamentos por Conta de Compras, com preo previamente fixado, j se devem encontrar registados na conta 39, ou seja, numa conta de Inventrios.

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    - 39 -

    Dbito: Outros Activos No Correntes Contas a Receber a Mdio Longo Prazo Crdito: 11 Caixa

    Transferir os Depsitos Cativos que se destinem cauo de obrigaes que a

    empresa assumiu perante terceiros para Contas a Receber a Curto ou Mdio Longo

    Prazo (Outros Activos No Correntes), de acordo com a data prevista para o

    cumprimento dos mesmos;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 27 Outras Contas a Receber a C. P. / Crdito: 13 Outros Depsitos Bancrios

    Dbito: Outros Activos No Correntes Contas a Receber a Mdio Longo Prazo Crdito: 13 Outros Depsitos Bancrios

    b) Contas do Passivo

    Dvidas a Terceiros:

    Arrumar as dvidas existentes pela sua natureza: de funcionamento (directamente

    associadas actividade de explorao, tais como: Fornecedores e Estado e Outros

    Entes Pblicos) e de financiamento (associadas s actividades de investimento, tais

    como: Financiamentos Obtidos ou Accionistas / Scios);

    Transferir os Adiantamentos de Clientes (cujo preo no esteja previamente fixado

    registado na conta 218) e os Adiantamentos por Conta de Vendas (cujo preo esteja

    previamente fixado registado na conta 276) para Inventrios, pois os produtos ou

    mercadorias que venham a ser entregues aos clientes, por via de adiantamentos

    efectuados, no iro gerar mais meios lquidos;

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 40 -

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 218 Adiantamentos de Clientes / Crdito: 3 Inventrios

    Dbito: 276 Adiantamentos por Conta de Vendas / Crdito: 3 Inventrios

    Arrumar as contas das Provises nas Contas a Pagar a Curto ou a Mdio Longo

    Prazo, consoante a previso da data de ocorrncia dos respectivos gastos.

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 29 Provises Mdio e Longo Prazo Crdito: 29 Provises - Curto Prazo

    c) Contas de Diferimentos

    Transferir os Gastos a Reconhecer a mais de um ano para Outros Activos No

    Correntes;

    Exemplo: Balano:

    Dbito: Outros Activos No Correntes Crdito: 281 Gastos a Reconhecer

    Transferir os Rendimentos a Reconhecer a mais de um ano para Passivo No

    Corrente.

    Exemplo: Balano:

    Dbito: 282 Rendimentos a Reconhecer - CP Crdito: 282 Rendimentos a Reconhecer - MLP

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 41 -

    d) Contas de Gastos e Perdas

    Os principais ajustamentos s contas de gastos derivam de ajustamentos efectuados s

    contas j referidas anteriormente. Para alm destes, a perspectiva financeira arruma as

    contas, separando o seu contedo, em termos dos gastos afectos actividade de

    explorao da empresa e os referentes a actividades extra-explorao.

    Outros Gastos e Perdas (conta 68 do SNC):

    Segundo a perspectiva financeira os Outros Gastos e Perdas devem ser classificados

    segundo a sua natureza, como por exemplo:

    Outros Gastos de Explorao: os directamente ligados actividade de explorao da

    empresa, tais como: quotizaes obrigatrias ou ofertas e amostras de existncias.

    Os Gastos Financeiros de Funcionamento resultantes da actividade de explorao da

    empresa, tais como: diferenas cambiais desfavorveis resultantes de operaes de

    compra e venda, descontos de pronto pagamento concedidos, encargos financeiros

    com o desconto de ttulos, etc., devero integrar esta conta;

    Outros Gastos Extra-Explorao: os restantes gastos associados ao investimento ou

    no especificados.

    Gastos e Perdas de Financiamento (conta 69 do SNC):

    Os Gastos Financeiros de Financiamento constituem os gastos resultantes de operaes

    de financiamento para suprir dificuldades de tesouraria ou para cobrir investimentos em

    activos no correntes, tais como: juros de emprstimos bancrios, encargos com

    Leasings, etc.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 42 -

    e) Contas de Rendimentos

    Os principais ajustamentos s contas de rendimentos derivam de ajustamentos

    efectuados s contas j referidas anteriormente. Para alm destes, a perspectiva

    financeira arruma as contas, separando o seu contedo, em termos dos Rendimentos

    afectos actividade de explorao da empresa e os referentes a actividades extra-

    explorao.

    Trabalhos para a Prpria Entidade (conta 74 do SNC):

    Os valores constantes nesta conta no esto, normalmente, relacionados com a

    actividade de explorao da empresa, pelo que devem ser considerados como Outros

    Rendimentos, ou seja, no devem figurar conjuntamente com os rendimentos de

    explorao.

    Outros Rendimentos e Ganhos (conta 78 do SNC):

    Tal como a conta anterior e dado que se registam nesta conta os rendimentos e ganhos,

    alheios ao valor acrescentado, das actividades que no sejam prprias dos objectivos

    principais da empresa, na perspectiva financeira devem considerar-se estes valores

    como Outros Rendimentos, ou seja, no devem figurar conjuntamente com os

    rendimentos de explorao. A nica excepo a referente conta 7881 (Correces

    Relativas a Perodos Anteriores) que deve ser reclassificada na conta de Resultados

    Transitados.

    Principais Mapas de Anlise

    Balano Financeiro

    Aps a realizao dos ajustamentos descritos no ponto anterior, o Balano

    Contabilstico d lugar ao Balano Financeiro.

    Destacamos seguidamente as principais diferenas entre ambos:

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 43 -

    A perspectiva financeira avalia as contas do Activo numa ptica de Aplicao de

    Fundos. A empresa tem fundos aplicados em investimentos, em inventrios, em crditos

    concedidos aos seus clientes ou em depsitos bancrios e outros instrumentos

    financeiros.

    Enquanto a perspectiva contabilstica agrupa as contas de acordo com a sua natureza

    (Activo No Corrente, Inventrios, Meios Financeiros Lquidos, etc.), ordenando-as de

    acordo com o seu grau de liquidez (menor liquidez maior liquidez).

    Na perspectiva financeira a informao constante do balano contabilstico

    reorganizada e detalhada com o objectivo de fornecer mais informao para o analista.

    Figura 8: Activo segundo o Balano Contabilstico vs. Balano Financeiro

    Balano Contabilstico Balano Financeiro

    Fonte: Criado pelos autores

    ACTIVO APLICAES de FUNDOS

    Activo No Corrente Activo No Corrente

    Activos Fixos Tangveis

    Propriedades de Investimento

    Activos Fixos Tangveis

    Propriedades de Investimento

    Activos Intangveis

    Activos Biolgicos

    Participaes Financeiras

    Accionistas / Scios

    Activos Intangveis

    Activos Biolgicos

    Participaes Financeiras

    Accionistas / Scios

    Outros Activos Financeiros Outros Activos Financeiros

    Activos por Impostos Diferidos Activos por Impostos Diferidos

    Depreciaes e Amortizaes Acum.

    Activo Corrente Outros Activos No Correntes

    Inventrios Ad. Fornecedores Imobilizado

    Activos Biolgicos Outras Contas a Receber - MLP

    Clientes Diferimentos - MLP

    Outras Contas a Receber Inventrios (Monos)

    Diferimentos Depsitos Cativos / Cauo

    Activos Financeiros Detidos p/ Neg.

    Outros Activos Financeiros Activo Corrente

    Activos no Corrent. Detidos p/ Venda Inventrios

    Caixa e Depsitos Bancrios Activos Biolgicos

    Clientes

    Outras Contas a Receber

    Diferimentos

    Activos Financeiros Detidos p/ Neg.

    Outros Activos Financeiros

    Activos no Corrent. Detidos p/ Venda

    Caixa e Depsitos Bancrios

    TOTAL DO ACTIVO TOTAL DE APLICAES

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 44 -

    A perspectiva financeira avalia as contas do Passivo e Capital Prprio numa ptica de

    Origens de Fundos. A empresa financia-se com os capitais investidos pelos seus scios

    ou accionistas (Capital Prprio) e com o capital de terceiros, tais como, crditos obtidos

    dos seus fornecedores, entidades bancrias, outros credores, Estado e Outros Entes

    Pblicos, etc. (Capital Alheio). Os capitais investidos na empresa e as dvidas a

    terceiros so assim analisadas numa perspectiva de fontes de financiamento.

    Enquanto a perspectiva contabilstica d nfase ao agrupamento das contas por tipo de

    capitais (Prprios ou Alheios), ordenando-as de acordo com o seu grau de exigibilidade

    (menor exigibilidade maior exigibilidade), a perspectiva financeira reagrupa as

    mesmas, atravs da criao de dois grandes grupos de contas, dando nfase

    componente temporal:

    Capitais Permanentes: composto por todas as origens de fundos com grau de

    exigibilidade superior a 1 ano, nomeadamente, todas as contas de Capital Prprio e

    todos os passivos no correntes.

    Passivo Corrente: composto por todos os passivos com grau de exigibilidade inferior

    a 1 ano, que constituem, na grande maioria das vezes, a totalidade das contas de

    Dvidas a Terceiros a Curto Prazo e Provises.

    Figura 9: Passivo e Capital Prprio segundo o Balano Contabilstico vs. Balano Financeiro Balano Contabilstico Balano Financeiro

    Fonte: Criado pelos autores

    PASSIVO + CAPITAL PRPRIO ORIGENS de FUNDOS

    Capital Prprio CAPITAL PERMANENTE

    Capital Realizado Capital Prprio

    Reservas Passivo No Corrente

    Resultados Transitados

    Resultado Lquido do Perodo

    Passivo

    Passivo No Corrente

    Passivo Corrente PASSIVO CORRENTE

    TOTAL DO PASSIVO + CP TOTAL DE ORIGENS

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 45 -

    Em resumo: a perspectiva financeira analisa as componentes do Balano em termos de

    investimentos efectuados (Activos ou Aplicaes de Fundos) e respectivas fontes de

    financiamento ou Origens de Fundos (Capitais Prprios ou Alheios).

    Demonstrao dos Resultados por Naturezas Corrigida

    A Demonstrao dos Resultados por Naturezas contabilstica apresenta os resultados

    decompostos em dois grandes grupos, nomeadamente: operacionais (antes e depois de

    depreciaes, gastos de financiamento e impostos); e financeiros. Os ajustamentos s

    contas deste mapa so aqueles que derivam dos ajustamentos efectuados s contas de

    gastos e rendimentos e que, consequentemente, alteram o valor do Resultado Lquido do

    Perodo apurado.

    A Demonstrao dos Resultados por Naturezas corrigida para uma perspectiva

    financeira sofre alteraes significativas em termos de arrumao de contas. O objectivo

    apresentar separadamente os resultados em termos de explorao, extra-explorao e

    financeiros.

    A grande mais-valia da rectificao deste mapa consiste na separao dos valores

    associados a actividades de explorao, aos quais se denominam gastos ou rendimentos

    de funcionamento, dos valores associados a actividades de investimento /

    financiamento.

    Existem contas que, contabilisticamente, incluem valores respeitantes s diferentes

    actividades, pelo que se torna necessrio o seu desdobramento. Nesta situao salienta-

    se as contas de Perdas por Imparidade (conta 65), Provises do Perodo (conta 67),

    Outros Gastos e Perdas (conta 68), Reverses (conta 76) e Outros Rendimentos e

    Ganhos (conta 78).

    Neste contexto so includos nos Gastos de Explorao todos os valores efectivamente

    imputveis a actividades de explorao, independentemente das contas em que se

    encontram registados contabilisticamente. Os restantes valores so considerados Outros

    Gastos associados a actividades extra-explorao.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 46 -

    A ttulo de exemplo, apenas a parte dos Gastos e Perdas de Financiamento (conta 69)

    efectivamente correspondente a actividades operacionais, tais como diferenas cambiais

    desfavorveis resultantes de operaes de compra e venda, devem ser transferidos para

    Outros Gastos e Perdas de Explorao. Os restantes valores registados

    contabilisticamente nesta conta (conta 69), tais como, juros de emprstimos bancrios

    ou encargos com Leasings, so considerados Juros e Gastos Similares de

    Financiamento.

    Da mesma forma, a conta de Juros, Dividendos e Outros Rendimentos Similares (conta

    79) tambm desagregada em duas partes, sendo a parte correspondente aos

    Rendimentos Financeiros de Funcionamento associados explorao reflectidos nos

    Outros Rendimentos de Explorao; e a parte dos Rendimentos Financeiros resultantes

    de Aplicaes de Capital so reflectidos nos outros rendimentos de extra-explorao.

    Diversos analistas defendem que os Juros, Dividendos e Outros Rendimentos Similares

    devem ser deduzidos nos Gastos e Perdas de Financiamento. Contudo, importante ter

    presente, tal como argumentam outros tantos analistas, que uma das principais polticas

    em estudo na anlise financeira de uma empresa a poltica de financiamento, pelo que

    de crucial importncia isolar os Juros e Gastos Similares de Financiamento, o que no

    seria possvel deduzindo os Juros, Dividendos e Outros Rendimentos Similares.

    Neste contexto todos os rendimentos afectos actividade de explorao que no se

    encontrem reflectidos nas rubricas exclusivamente de explorao devero ser registados

    numa rubrica autnoma de Outros Rendimentos de Explorao que dever conter,

    entre outros, as reverses de perdas por imparidade, as redues das provises, os

    aumentos de justo valor, e as reverses de depreciao e amortizao associadas

    explorao.

  • _________________________________ Bloco 1: Recolha de Informao e Trabalhos Preparatrios

    - 47 -

    Figura 8: Demonstrao dos Resultados por Naturezas Corrigida

    1 + Vendas de Mercadorias e Produtos

    2 + Prestao de Servios

    3 + Subsdios Explorao

    4 + Variao nos Inventrios da Produo

    5 + Outros Rendimentos de Explorao

    A = RENDIMENTOS DE EXPLORAO (1 + 2 + 3 + 4+5)

    6 - Custo Mercadorias Vendidas Matrias Consumidas

    7 - Fornecimentos e Servios Externos

    8 - Gastos com o Pessoal

    9 - Perdas por Imparidade de Inventrios

    10 - Perdas por Imparidade de Dvidas a Receber

    11 - Gastos de Depreciao e Amortizao

    12 - Outros Gastos e Perdas de Explorao

    B = GASTOS DE EXPLORAO (6 + 7 + ... + 12)

    C RESULTADO DE EXPLORAO (A - B)

    13 + Outros Rendimentos

    14 - Outros Gastos

    D RESULTADO EXTRA-EXPLORAO (13 14)

    E = RESULTADO ANTES JUROS E IMPOSTOS (RAJI) (C + D)

    15 - Juros e Gastos Similares de Financiamento Suportados

    F = RESULTADO ANTES DE IMPOSTOS (RAI) (E - 15)

    16 - Imposto sobre o Rendimento do Perodo (IRC) (F * t8)

    G = RESULTADO LQUIDO DO PERODO (F 16)

    17 - Resultados a Distribuir (G * d9)

    H = RESULTADOS RETIDOS (G 17)

    Fonte: Criado pelos autores

    Demonstrao dos Fluxos de Caixa

    Elaborada de acordo com o modelo aprovado pela Portaria n 986/2009, de 7 de

    Setembro, a Demonstrao dos Fluxos de Caixa (DFC) tem como principal objectivo

    elucidar os utentes da informao financeira do modo como a empresa gera e utiliza o

    dinheiro num determinado perodo (normalmente anual), em termos de fluxos gerados

    na empresa pelas actividades operacionais, de investimento e de financiamento.

    Note-se que os ajustamentos efectuados no mbito da anlise financeira no implicam

    quaisquer alteraes a nvel dos recebimentos e pagamentos efectuados pela empresa,

    pelo que o analista apenas se limita a analisar a informao constan