Analise de Conteúdo - Gil
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PATRICIA DE CARVALHO MASTROIANNI
ANLISE DO CONTEDO DAS INFORMAES
TECNICO-CIENTFICAS DAS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS PSICOATIVOS
Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo - Escola Paulista de Medicina, para obteno do Ttulo de Doutor em Cincias.
So Paulo 2008
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Mastroianni, Patrcia de Carvalho Anlise do Contedo das informaes tcnico-cientficas das propagandas de medicamentos psicoativos / Patrcia de Carvalho Mastroianni -- So Paulo, 2008.
xi, 62p.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal de So Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Ps-Graduao em Psicobiologia.
Ttulo em ingls: Analysis Technical and Scientific Informational Content in Psycoactive Drug
Advertising
1. controle de propaganda de produtos . 2.medicamentos psicoativos 3.legislao farmacutica. 4.bibliografia de medicina
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PATRICIA DE CARVALHO MASTROIANNI
ANLISE DE CONTEDO DAS INFORMAES
TECNICO-CIENTFICAS DAS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS PSICOATIVOS
Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo - Escola Paulista de Medicina, para obteno do Ttulo de Doutor em Cincias.
Orientador: Prof. Dr. Jos Carlos F. Galdurz
Co-orientador: Profa. Dra. Ana Regina Noto
So Paulo 2008
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Esta tese foi realizada no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina, com o apoio financeiro da Associao Fundo de Incentivo Psicofarmacologia (AFIP) e do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico (PADC/FCF-UNESP), da Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade Estadual Paulista (UNESP)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE PSICOBIOLOGIA
Chefe do Departamento:
Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Coordenador do Curso de Ps-Graduao: Maria Gabriela Menezes de Oliveira
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PATRICIA DE CARVALHO MASTROIANNI
ANLISE DO CONTEDO DAS INFORMAES
TECNICO-CIENTFICAS DAS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS PSICOATIVOS
Presidente da Banca
Prof. Dr. Jos Carlos F. Galdurz
BANCA EXAMINADORA
profa. Dra. CHUNG MAN CHIN
profa. Dra. NICOLINA SILVANA ROMANO LIEBER
profa. Dra. TEREZINHA DE JESUS ANDREOLI PINTO
profa. Dra. MARIA LUCIA OLIVEIRA DE SOUZA FORMINGONI
Prof. Dr. JOS CARLOS FERNANDES GALDURZ
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Caminhos e Encontros
De tudo ficam trs coisas: a certeza de que estamos comeando,
a certeza de que preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompido antes de terminar.
Mas, faamos da interrupo um novo caminho, da queda, um passo de dana,
do medo, uma escola, do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro. E assim ter valido a pena
Fernando Pessoa
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DEDICATRIA
Em primeiro lugar, dedico este trabalho aos meus Pais que muito cedo me
ensinaram a crescer e a buscar os meus prprios caminhos. minha Me Carmela que, pelos seus bons exemplos, me ensinou os valores morais, a
dedicao, o comprometimento e a responsabilidade; e ao meu irmo Fbio que,
pela sua presena marcante, sempre participou das minhas conquistas.
Tambm dedico aos meus queridos amigos e orientadores, Jos Carlos F.
Galdurz e Ana Regina Noto, a quem eu tenho como modelo de conduta
cientfica, humana e didtica, sempre se preocupando com a formao dos seus
orientandos.
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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Jos Carlos F. Galdurz, pela sua amizade, orientao e exemplo de pesquisador. Muito obrigada pelo seu sempre pronto atendimento e pela sua ateno a este trabalho e a todos os outros projetos, e pelo seu incentivo e motivao nas atividades de pesquisa, ensino e extenso.
Profa. Dra. Ana Regina Noto, pelo seu entusiasmo e empenho em relao minha pesquisa e minha formao acadmica, a quem tenho como exemplo desde os primeiros trabalhos que conduzimos juntas.
minha amiga e irm Yone, que sempre prontamente me socorreu nos momentos mais difceis,sua presena tornou tudo mais fcil, tranqilo e fraterno.
minha Me, por todo o seu apoio entre as idas e vindas a So Paulo para realizao deste trabalho.
Aos sempre amigos Zila, Claudinha, Murilo, Danilo, Luciana e Emrita, pelo companheirismo e pela motivao que fizeram deste trabalho uma experincia de grande satisfao.
Aos Professores do Departamento, pelos seus ensinamentos durante o curso de ps-graduao, os quais tanto contriburam para o meu crescimento profissional e pessoal.
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viii
Aos meus amigos e ex-alunos da Iniciao Cientfica, Amanda, Marcos, Victor, Fensia, Roberta, Ktia, Amanda, Viviane e Mnica, hoje farmacuticos formados, com quem muito aprendi e que acreditaram na professora recm-contratada. Vocs fizeram a diferena!
Aos meus queridos alunos, Fabiana, Josiane, Jnior e Rosa, pelo incentivo, pacincia e compreenso ao longo de seus projetos.
Aos funcionrios do CEBRID, pela ateno prestativa e carinhosa ao longo dos anos de Ps-Graduao.
Nereide Lourdes Garcia, pela sua amizade e eficincia sobre os assuntos relacionados ao curso de Ps-Graduao, que ficaram patentes nos seus carinhosos emails.
Maria Cristina Jorge, pela sua competncia e os seus prestativos auxlios.
A todos os meus amigos Anselmo, Cris, Man Chin, Leila, Jeoccia, Raul que, direta ou indiretamente, participaram de alguma forma deste trabalho. Se eles no esto aqui presentes, de onde estavam me incentivaram e acreditaram em mim.
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ix
SUMRIO
DEDICATRIA vi AGRADECIMENTOS v RESUMO xi
1. INTRODUO 1 1.1. Regulamento sobre a propaganda de medicamentos 2
1.1.1. Recomendaes da OMS sobre as propagandas de medicamentos 2 1.1.2. Regulamentaes das propagandas de medicamentos sob prescrio
no Brasil 4
1.1.3. Influncia da legislao sobre a propaganda de medicamentos psicoativos, no Brasil
8
1.2. Influncia das propagandas de medicamentos sobre a prtica mdica 10
1.3. Aspectos das propagandas de medicamentos psicoativos 12 1.3.1. Subjetividade e esteretipos nas propagandas de medicamentos 13 1.3.2. Padro duplo de informao nas propagandas de medicamentos 14 1.3.3.Qualidade do contedo tcnico-cientfico das propagandas de
medicamentos 17
1.4. OBJETIVOS 20
2. MTODO 22 2.1. Tipo de pesquisa: descritiva e documental 23 2.2. Seleo da amostra 24 2.3. Coleta das propagandas de medicamentos psicoativos 25 2.4. Coleta e organizao das referncias bibliogrficas 26 2.5. Roteiro para a anlise de contedo 26 2.6. Banco de dados e tabulao 28 2.7. Mtodo estatstico 28 2.8. Aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa 28
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x
3. RESULTADOS 29 3.1. Acesso s referncias bibliogrficas 30 3.2.Tipo de estudo das referncias bibliogrficas 31 3.3.Concordncia entre as informaes das propagandas e as das suas referncias bibliogrficas
32
3.4. Figuras humanas nas propagandas de medicamentos psicoativos 37
4. DISCUSSO 39 4.1. Acessibilidade das referncias bibliogrficas das propagandas de medicamentos psicoativos
40
4.2. Concordncia entre as propagandas de medicamentos e as suas referncias bibliogrficas
41
4.3. Figuras humanas nas propagandas de medicamentos psicoativos 44
5. CONSIDERAES FINAIS 48
6. REFERNCIAS 53
ABSTRACT
APNDICE
Aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa ARTIGO 1 - Propaganda de medicamentos psicoativos: anlise das informaes cientficas
ARTIGO 2 - Anlise do contedo de propagandas de medicamentos psicoativos
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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xi
Resumo
Segundo a Organizao Mundial da Sade, as propagandas de medicamentos devem ser fidedignas, exatas, verdadeiras, informativas, equilibradas, atualizadas e passveis de comprovao. Os textos e as ilustraes das propagandas destinadas aos mdicos e aos outros profissionais da sade devem ser totalmente legveis e compatveis com os dados cientficos. Objetivo: avaliar as propagandas de medicamentos psicoativos divulgadas para os mdicos, em relao concordncia das informaes contidas nas peas publicitrias com as suas respectivas referncias bibliogrficas e acessibilidade s referncias citadas, bem como descrever as figuras humanas retratadas nas propagandas de medicamentos psicoativos quanto ao gnero, idade, etnia e ao contexto social. Mtodos: Durante o ano de 2005, em Araraquara/SP, foram coletadas as propagandas de 152 medicamentos psicoativos, nas quais foram citadas 304 referncias bibliogrficas. As referncias foram solicitadas aos servios de atendimento ao cliente dos laboratrios e consultadas nas bibliotecas da rede UNESP (Ibict, Athenas), BIREME (SciELO, PubMed, peridicos catalogados de acesso livre) e os peridicos da CAPES. Por meio da tcnica de anlise de contedo, as afirmaes das propagandas foram conferidas com as das referncias. As figuras humanas apresentadas em 86 propagandas foram analisadas, usando o teste exato de Fisher para as categorias gnero, idade, etnia e contexto social. Resultados: Das referncias citadas nas propagandas, 66,7% foram acessveis. Das 639 afirmaes identificadas, foi possvel analisar 346 (54%). Verificou-se que 67,7% das afirmaes das propagandas conferiam com as suas referncias e as demais no conferiam ou conferiam parcialmente. Houve um predomnio de figuras de mulheres (62,8%), sendo estas, em relao aos homens, quatro vezes mais freqentes nas propagandas de antidepressivos e ansiolticos. A maioria era constituda por jovens adultos (72%), de etnia branca (98,8%). As pessoas estavam em situaes de lazer (46,5%), nas suas casas (29%) ou em contato com a natureza (16,2%). Discusso: Os achados indicam dificuldades de acesso s referncias citadas; as mensagens de eficcia, segurana e custos, entre outras, nem sempre so respaldadas por estudos cientficos, evidenciando falta de fidedignidade, exatido e veracidade. As mensagens transmitidas por meio de figuras humanas sugerem que os medicamentos tratam sintomatologias subjetivas de desconforto do dia-a-dia, muito aqum dos dados cientficos, induzindo a um apelo irracional que pode refletir na prescrio medicamentosa. Concluso: So necessrias mudanas nas exigncias legais e uma fiscalizao efetiva das propagandas de medicamentos.
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INTRODUO
1
1. INTRODUO
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INTRODUO
2
1.1. REGULAMENTAO SOBRE PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS
A promoo no tica de medicamentos um problema grave na maior parte do
mundo, principalmente nos pases em desenvolvimento, podendo gerar o seu uso
irracional, promover a superprescrio, a automedicao e o abuso. O objetivo principal das regulamentaes das propagandas de medicamentos assegurar que
os mdicos, ao se utilizarem das informaes contidas nas propagandas, evitem
conseqncias negativas para os seus pacientes. (Kessler, Pines, 1990; Hogerzeil, 1995).
1.1.1. Recomendaes da OMS sobre Propagandas de Medicamentos
A Organizao Mundial da Sade (OMS), em 1988, props os Critrios ticos e cientficos para as propagandas de medicamentos. Este documento teve como
objetivo regulamentar as publicaes sobre medicamentos para profissionais mdicos e para o pblico, assim como a distribuio de amostras grtis, a farmacovigilncia, a
divulgao de informaes, o contedo de bulas e de rtulos, e a conduta de
propagandistas (OMS, 1988). O principal objetivo dos critrios ticos para a promoo de medicamentos consiste em apoiar e fomentar a ateno sanitria ao uso racional de medicamentos. Para
isso, nas propagandas, qualquer afirmao sobre os medicamentos deve ser:
fidedigna, exata, verdadeira, informativa, equilibrada, atualizada e passvel de
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INTRODUO
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comprovao. No deve conter declaraes que induzam a uma interpretao
equivocada ou que no possa ser comprovada, ou ainda omitir informaes que
possam induzir utilizao de medicamentos para indicaes no justificadas (OMS, 1988). As propagandas de medicamentos psicoativos devem incluir, no mnimo, as seguintes
informaes: nome genrico, nome comercial, indicao, dose e apresentao, nome
de todos os excipientes, inclusive os que provocam problemas conhecidos, reaes
adversas ao medicamento (RAM), precaues, contra-indicaes, advertncias, principais interaes, nome e endereo do fabricante ou distribuidor e referncias
adequadas (OMS, 1988). Os textos e as ilustraes das propagandas, destinadas aos mdicos e aos outros
profissionais da sade, devem ser totalmente legveis e compatveis com os dados
cientficos aprovados no registro do medicamento. Os estudos cientficos, tais como
os de farmacovigilncia, no ps-registro, no devem ser usados indevidamente como
uma forma de promoo indireta.
Com este propsito, os Estados Unidos, por intermdio de um Ato do Congresso,
(United States, 1986) intitulado EXPORT ACT of 1986 Ato de Exportao, obrigou as companhias multinacionais americanas, nos anncios de seus medicamentos
publicados em outros pases, a mencionar as mesmas informaes de indicao e as
restrio ao uso, aprovadas pelo Food and Drug Administration (FDA). At ento, os medicamentos no aprovados nos Estados Unidos pelo FDA eram exportados e
comercializados em outros pases, como, por exemplo, o Brasil (OTA, 1993).
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INTRODUO
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1.1.2. Regulamentaes das propagandas de medicamentos sob prescrio no
Brasil
A regulamentao para as propagandas de medicamentos iniciou-se com o Decreto
79.094 de 05 de janeiro de 1977 (Brasil, 1977), que regulamentou a lei 6.360/76 (Brasil, 1977), que diz no seu ttulo X, art. 118, item II - que o texto, figura, imagem, ou projees no insinuem interpretaes falsas, erro ou confuso quanto a composio do produto, suas finalidades, modo de usar ou procedncia, ou apregoem
propriedades teraputicas no comprovadas na ocasio do registro, e no item III -
que sejam declaradas obrigatoriamente as contra-indicaes, indicaes, cuidados e advertncias sobre o uso do produto.
Na seqncia, a ABIFARMA (Associao Brasileira das Indstrias Farmacuticas) se antecipou sua congnere internacional, a International Federation Pharmaceutical Manufacturers Association (IFPMA) e, em 1978, estabeleceu o Cdigo Voluntrio de tica Publicitria, com o propsito de orientar a indstria farmacutica do Brasil em suas Boas Prticas de Promoo e
Comercializao de Medicamentos, no que diz respeito aos medicamentos sujeitos prescrio mdica e cuja divulgao deve ser restrita aos mdicos (ABIFARMA, 1978; Barros, 1986). Porm, sabe-se o quanto a auto regulao falha, pois no h punio aos infratores (Herxheimer, Coller, 1990).
Passados vinte anos da publicao da Lei 6.360/76, foi publicada a Lei 9.294 de 2 de
julho de 1996, a que se dispe sobre as restries s propagandas de produtos,
consta no seu art. 5, 2 que A propaganda dos medicamentos referidos neste
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INTRODUO
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artigo no poder conter informaes que no sejam passveis de comprovaes cientficas, nem poder utilizar depoimentos de profissionais que no sejam legalmente qualificados para faz-los
Alm disso, o Decreto 2.018/96 (Brasil, 1996), que regulamenta a Lei 9.294/96 (Brasil, 1996), em seu captulo IV, diz: Art. 10. A propaganda de medicamentos e terapias de qualquer tipo ou espcie
poder ser feita em publicaes especializadas dirigidas direta e especificamente a
profissionais e instituies de sade.
Art. 11. A propaganda dos medicamentos e drogas ou de qualquer outro produto
submetido ao regime da Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976, cuja venda dependa de prescrio por mdico ou cirurgio dentista, somente poder ser feita junto a esses profissionais atravs de publicaes.
A Lei 9.294/96 e o seu Decreto regulamentador 2.018/96 (Brasil, 1996a) s foram normatizados pelo rgo competente quatro anos depois, a ANVISA (Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria), que publicou em 30 de novembro de 2000 a
Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC) n 102, que aprova o regulamento sobre as
propagandas apenas para medicamentos nacionais e importados para quaisquer que
fossem as formas e os nveis de sua veiculao.
A RDC n 102/00 veda as propagandas de medicamentos que:
a) Contenham apresentaes de tabelas ou outras ilustraes comparando dados que no estejam baseados em informaes comprovadas por estudos clnicos veiculados em publicaes indexadas (art. 4, item II; art. 14);
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INTRODUO
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b) Provoquem temor, angstia e/ou sugerem que a sade de uma pessoa ser ou poder ser afetada por no usar o medicamento (art. 4, item IV);
c) Contenham mensagens tais como aprovado, recomendada por especialistas, demonstrado em ensaios clnicos, incuos, seguro,
produto natural, ou que mascarem as indicaes reais do medicamento
(art. 4, itens VI, VIII e X); d) Atribuam propriedades curativas quando o mesmo indicado para
tratamento sintomtico e/ou para o controle de doenas crnicas (art. 4 item IX);
e) Sejam veiculadas ao pblico leigo, a proprietrios de farmcia que no sejam farmacuticos ou a balconistas. No caso de propagandas de medicamentos de venda sob prescrio, exceto quando dirigidas aos
profissionais prescritores e dispensadores (art. 5 a; art. 13). Quando o(s) princpio(s) ativo(s) do medicamento for de uma substncia(s) de
controle especial deve se respeitar as limitaes e as advertncias previstas pela
legislao sanitria especfica, que no caso dos psicoativos a portaria SVS/MS n
344 de 12 de maio de 1998 (art. 12, item II; art. 16) (Brasil, 1998). Segundo a RDC 102/00 (Brasil, 2000), as informaes imprescindveis para a
promoo de medicamentos de venda sob prescrio so: o nome comercial
(quando for o caso), o nome genrico, a indicao, a posologia, as contra indicaes, as reaes adversas ao medicamento, as interaes com outras substncias, as
precaues e as advertncias, devendo as mesmas ser compatveis com o registro
junto ANVISA (art. 5, b; art. 12 item I). Ainda, em seu art. 15 afirma que as
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INTRODUO
7
citaes, tabelas ou outras ilustraes extradas de publicaes cientficas utilizadas
em qualquer propaganda, publicidade ou promoo, devem ser fielmente
reproduzidas e especificar a referncia bibliogrfica completa.
Observa-se que os critrios da OMS (1988) exige os mesmos aspectos da RDC 102/2000, acrescidos da exigncia do nome e do endereo do fabricante ou
distribuidor. A RDC 102/2000, por sua vez, difere dos critrios da OMS (1988) na exigncia sobre a posologia. Mesmo assim, os estudos que avaliaram ou
monitoraram as propagandas de medicamentos segundo as recomendaes,
observaram que as informaes so incompletas e as que restringem o uso, tais
como as advertncias e precaues, so menos freqentes(Pizzol et al 1998; Barros, Joany, 2002; Luchessi et al, 2005; Mastroianni et al, 2005; Soares 2008).
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INTRODUO
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1.1.3. Influncia da legislao sobre propaganda de medicamentos psicoativos
no Brasil
Os regulamentos sobre a propaganda de medicamentos visam apoiar e
fomentar a melhoria da ateno sade e ao uso racional destes.
O estudo de Mastroianni et al (2003) teve como objetivo avaliar a influncia de trs regulamentos sobre propaganda de medicamentos: o Export act, publicado em
1986 nos Estados Unidos; os Critrios da OMS, em 1988 e a Resoluo da
Diretoria Colegiada n 102 de 2000 da ANVISA (Agncia Nacional de Vigilncia
Sanitria) (Brasil, 2000), sobre as propagandas de medicamentos psicoativos divulgadas em revistas brasileiras de psiquiatria.
Independentemente do regulamento estudado, as informaes que restringem
o uso, como reaes adversas ao medicamento (RAM), as interaes, as contra-indicaes, as advertncias e as precaues eram menos freqentes e ilegveis do
que as informaes que favorecem o uso, tais como indicao, posologia e
apresentao do produto. Alm disso, quando presentes, essas informaes se
localizavam em fundo de difcil visualizao e em tamanho de letra muito menor do
que a indicao, a apresentao e a posologia. Um ano depois de todos os atos
publicados, apenas 38,2% dos anncios continham todas as informaes tcnicas
imprescindveis, e 35,3% apresentavam alguma irregularidade. Os autores
observaram que, logo aps a publicao do ato regulamentador, diminuiu o nmero
de propagandas menos informativas e as irregularidades, o que se explicava pelo
fato das propagandas menos informativas terem sido retiradas de circulao. No
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INTRODUO
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entanto, passados alguns meses, elas retornaram para as revistas (Mastroianni et al, 2003).
As irregularidades mais comumente encontradas nas propagandas de
medicamentos psicoativos foram:
Indicaes subjetivas: devolve a tranqilidade e restaura o equilbrio; equilbrio restabelecido, dose nica de tranqilidade, devolve a maneira natural de viver;
Consagrado/ confivel: voc confia, voc prescreve, confivel para um maior
nmero de pacientes; consagrado pelo uso;
Medicamento padro ou de referncia: antidepressivo padro, lder mundial no
tratamento da insnia; ansioltico de referncia da OMS; primeira escolha,
padro superior de eficcia;
Aprovados por rgos competentes: aprovado pelo FDA e Ministrio da Sade;
Ausncia de interaes: no interage com outras drogas; no interage com o
lcool;
O mais prescrito: o ansioltico mais prescrito,
Resposta rpida: rpido incio de ao; rapidez com menor sedao; alvio
imediato;
Sugesto de amplo espectro: ansioltico que atende todas as necessidades;
grande amplitude de ao, soluo ampla; eficaz em todas as formas de
depresso;
Ao fisiolgica: sono fisiolgico na medida certa; mais fisiolgico dos
indutores;
Certeza da eficcia: certeza da eficcia,
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INTRODUO
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Farmacocintica: farmacocintica superior para uma vida melhor, (Mastroianni et al, 2003).
Aps a RDC 102/00, cerca de 60% das propagandas de medicamentos
psicoativos apresentaram referncias bibliogrficas sobre as afirmaes feitas, sendo
que um tero daquelas era de protocolos e de materiais do prprio laboratrio,
revistas no indexadas, boletins de sociedades, ou de apresentaes em congresso
no publicadas. Mastroianni et al (2003) sugeriram a realizao de trabalhos futuros para avaliar a qualidade metodolgica dos materiais citados nas propagandas de
medicamentos, para a confirmao da veracidade, da exatido e da fidedignidade
entre as afirmaes da propaganda e a sua respectiva referncia, uma vez que
qualquer informao na forma de texto, figura ou tabela, deve ser passvel de
comprovao cientfica.
Dados publicados demonstraram que o ato regulador em si insuficiente, pois
se faz necessria a monitorao, a orientao, a fiscalizao e as penalidades
devem ser no apenas em forma de multa, mas tambm de retratao pblica, por
meio de uma publicidade corretiva, pelos meios em que foi divulgada a publicidade
irregular e explicando o motivo da correo. Acredita-se que a publicidade corretiva
o meio mais efetivo para prevenir as propagandas irregulares (Mastroianni, 2003; Mastroianni, 2008).
1.2. A INFLUNCIA DAS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS SOBRE A PRTICA DOS PROFISSIONAIS DA SADE
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INTRODUO
11
Vrios estudos tm demonstrado que as propagandas so empregadas como
fonte de informao tcnica pelos prescritores, sendo consideradas determinantes
para a prescrio (Herxheimer, Collier, 1990; Lexchin, 1993; Gldal, Semin, 2000; Ministrio Sade, 2005; Norris et al, 2005). Silva et al (1999), afirmaram que as propagandas so a principal fonte de informaes rpidas para os mdicos, pois, em
cerca de cinco minutos, eles adquirem informaes sobre os medicamentos que
prescrevem, o que devido sua sobrecarga de trabalho de 50 a 60 horas semanais,
seria difcil de um outro modo (Saporito, Goldberg, 1982). No entanto, segundo a opinio dos prprios mdicos, os ensaios clnicos e
experimentais so mais significativos para influenciar uma prescrio (Avorn et al, 1992). Embora seja possvel o dilema tico que vivem os mdicos e os farmacuticos para escolherem um medicamento em funo das propagandas (Porier et al, 1981).
A forma mais efetiva de publicidade a feita pelo propagandista, se utiliza do
recurso oral e do escrito, por meio de materiais promocionais (Berings, 1994). Porm, se as indstrias farmacuticas investem cerca de 60 milhes de dlares por
ano em publicidade, provvel que haja um retorno satisfatrio (The Lancet, 2000).
Para as indstrias farmacuticas, a promoo uma etapa essencial,
considerada uma extenso do processo de pesquisa e de desenvolvimento dos
novos medicamentos, sendo que para esta atividade so realizados investimentos
at duas vezes maiores do que em pesquisa e desenvolvimento (Blumenthal, 1986; Ministrio da Sade, 2005).
Wazana (2000) realizou uma anlise sistemtica de 29 estudos empricos sobre a influncia das promoes na prtica mdica feitas pelas indstrias
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INTRODUO
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farmacuticas. Os principais efeitos negativos observados nestes estudos foram a
incapacidade para identificar as afirmaes incorretas, as freqentes sugestes de
medicamentos sem vantagens para o tratamento, a prescrio irracional, o aumento
das taxas de prescrio e a prescrio de medicamentos mais caros sem vantagens
teraputicas. Portanto, se faz necessrio conhecer e avaliar a qualidade e a
segurana das mensagens publicitrias das propagandas de medicamentos quanto
sua veracidade, fidedignidade e exatido cientfica, a fim de se diminuir o impacto
e a influncia negativa que essas propagandas podem causar sobre a prtica dos
profissionais da sade.
1.3. ASPECTOS DAS PROPAGANDAS DE MEDICAMENTOS PSICOATIVOS
Conhecer e avaliar as propagandas de medicamentos psicoativos de grande
relevncia, uma vez que estes so os terceiros mais prescritos (Castelo et al, 1991). Num estudo em hospital de grande porte observou-se que 27% das prescries de
eram de medicamentos psicoativos (Sebastio, 2001), pelo que essencial que as mensagens publicitrias vinculadas na propaganda estejam baseadas em dados cientficos.
-
INTRODUO
13
1.3.1. Subjetividade e esteretipos nas propagandas de medicamentos psicoativos
Alguns trabalhos, conduzidos na dcada de 70 e 80, afirmaram que as
propagandas de medicamentos psicoativos tendiam a ser menos informativas do que
as propagandas sobre outros tipos de medicamentos (Hemminiki, 1973; Carlini, 1981 e 1983; Neill, 1989). Mastroianni et al (2003) afirmaram que, aps duas dcadas, persistiam indicaes inadequadas e subjetivas nas propagandas desta classe de medicamentos.
Vrios estudos tm mostrado existirem discrepncias nas propores entre as
figuras masculinas e femininas que aparecem nas propagandas de medicamentos,
principalmente os psicoativos (Prather, Fidell, 1975; King, 1980; Riska, Hagglund, 1991; Sayer, Britt, 1997; Lvdahl, Riska, 2000; Mastroianni et al 2003). As propagandas de medicamentos antidepressivos constroem uma idia de depresso
como sendo uma sintomatologia feminina, sendo o mesmo observado nas
propagandas de benzodiazepnicos, medicamentos com propriedades ansiolticas e
hipnticas. Em contrapartida, as figuras de homens adultos ou idosos geralmente
aparecem nas propagandas de medicamentos neurolpticos (Lvdahl et al, 1999). Lvidahl, Riska (2000), intitularam os anos 70 e 80 como a era das plulas de dormir, em que as figuras humanas, principalmente os homens, eram retratadas
com a necessidade de benzodiazepnicos para suportar a presso externa do
trabalho. J as mulheres apareciam em situaes consideradas subordinadas,
como dormindo ou em atividades nos lares. Em meados dos anos 90, com o
lanamento dos novos antidepressivos (inibidores seletivos da recaptao da
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INTRODUO
14
serotonoina ISRS), as propagandas de medicamentos constroem a imagem da depresso como um distrbio mental feminino.
O esteretipo das propagandas de medicamentos leva a um apelo irracional
que, conseqentemente, se reflete na prescrio mdica, conduzindo a uma
distoro da imagem entre os distrbios mentais e gnero (Smith,Griffin, 1977), e supermedicalizao das doenas mentais (Lvdahl et al, 1999). No entanto, no localizamos trabalhos recentes avaliando possveis esteretipos dos distrbios
mentais e as caractersticas das figuras humanas nas propagandas de
medicamentos psicoativos.
1.3.2. Padro duplo de informao nas propagandas de medicamentos
psicoativos
Em 1988, um grupo internacional da Gr Bretanha examinou os anncios das revistas
mdicas com maior circulao, em dez pases desenvolvidos e oito em
desenvolvimento. Dos 5.711 anncios analisados em 15 diferentes revistas mdicas
em pases europeus e em 1.199 anncios em oito revistas mdicas de pases em
desenvolvimento, o grupo observou que havia uma notria discrepncia quanto aos
itens contra-indicao, advertncias e efeitos colaterais, pois estas informaes
estavam presentes em mais de 50% dos anncios europeus e em menos de 30% dos
outros (Herxheimer et al, 1993). Um outro estudo realizado por um grupo francs, o PIMED (Pour une Information Mdicale tique et le Dveloppement), analisou informaes de 141 anncios promocionais de revistas mdicas em dois pases da frica, cujo idioma o francs, e
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INTRODUO
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comparou os dados com as informaes contidas nas monografias publicadas num
compndio de especialidades farmacuticas da Frana. O grupo verificou que 60%
dos anncios continham informaes imprecisas sobre as indicaes, os efeitos
colaterais e as contra indicaes que em mais de 25% os efeitos colaterais no foram
mencionados e que 20% no continham contra-indicaes (Chirac et al, 1993). Alloza, Lasagna (1983) compararam a uniformidade do contedo das informaes do compndio dos EUA (PDR - Physicians Desk Reference) com os da Espanha (VID - Vade-mecum Internacional de Especialidade Farmacuticas e Biolgicas) do Mxico e do Brasil (DEF - Dicionrio de Especialidades Farmacuticas). Entre os 15 produtos comuns aos quatro compndios, observou-se a omisso da existncia de efeitos
adversos em 46,7% no DEF - Brasil, 33,3% no VID e 6,6% no DEF Mxico, alm de
tambm haver informao sobre intoxicaes em ambos os compndios. Do ponto de
vista quantitativo, os trs compndios juntos continham apenas 70,5% do nmero de palavras contidas no PDR.
Barros (2000a, 2000b) repetindo parcialmente o trabalho de Alloza, Lasagna, (1983), usando os critrios da OMS, comparou as informaes sobre os 50 produtos mais
vendidos no Brasil em dois compndios dos EUA (PDR Physians Desk Reference) e USP-DI Drug Information for the Helath Care Professional) com as descritas no compndio brasileiro (DEF Dicionrio de Especialidades Farmacuticas). O autor constatou, respectivamente, uma ausncia de informaes de 10,8%, 8,0% e 65,2%
s informaes que diziam respeito s interaes, s contra indicaes e ao
mecanismo de ao dos medicamentos.
Um estudo, realizado pelo OTA (Office of Technology Assessement), dos EUA, comparou as bulas de medicamentos do Brasil, do Panam, da Tailndia e dos EUA
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INTRODUO
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dentre as 241 bulas analisadas, 66% tinham falhas nas informaes necessrias ao
mdico para fazer um uso seguro e eficaz do medicamento, demostrando que confiar
apenas nas informaes das bulas poderia levar a tratamentos inadequados (OTA, 1993). Silvermam (1977), Silverman et al, (1982,1986) e Lee (1991) relataram a existncia de um padro duplo de informao, ou seja, um mesmo medicamento produzido por uma empresa multinacional, dependendo do pas em est sendo comercializado as
informaes diferem. Nos pases em desenvolvimento, estes medicamentos,
geralmente, apresentam inmeras indicaes no especficas e irracionais e nem se
quer citam a lista de riscos mnimos (precaues e advertncias) e reaes adversas aos medicamentos; o que j no ocorre nos pases desenvolvidos. Dados semelhantes foram observados por Mastroianni et al (2005), ao compararem as propagandas brasileiras de medicamentos psicoativos com as dos mesmos
medicamentos, em revistas de psiquiatria inglesas e americanas nos perodos de
1985 a 1989 e de 1999 a 2001. Embora nos ltimos anos do estudo as propagandas
nacionais tivessem tornado mais informativas pela introduo do sumrio da bula em
anexo, o que no existia nos anos 80, mesmo assim as propagandas brasileiras
continuavam sendo menos informativas do que as inglesas e americanas; alm do
que s as brasileiras apresentavam irregularidades.
Os autores afirmaram que ainda hoje existe este padro duplo de informao de um mesmo medicamento psicoativo, comercializado por uma mesma empresa, em que a
informao tcnica difere, dependendo do pas em que est sendo comercializado e
promovido. Este fenmeno pode ser explicado no como uma poltica da indstria
farmacutica multinacional, mas como uma exigncia da legislao do pas onde o
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INTRODUO
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medicamento comercializado, e tambm, pela falta de monitoramento e de
fiscalizao efetiva por parte do governo nos pases em desenvolvimento (Mastroianni et al, 2005). Mastroianni et al (2005) sugeriram a necessidade da aplicao de uma poltica de educao sanitria nos cursos de graduao, de atualizaes profissionais e de ps-
graduao, referente teraputica e ao uso racional de medicamentos para os
profissionais de sade, principalmente os prescritores. S assim todos eles poderiam
desenvolver um senso crtico e avaliar a qualidade das informaes recebidas por
meio das propagandas de medicamentos. Por outro lado, a prpria indstria
farmacutica reconheceria a necessidade de extinguir as diferenas que h nas
informaes divulgadas, e adotariam uma poltica nica, tica e de qualidade para
divulgao dos seus medicamentos. Finalmente, em conjunto com estas medidas, teria de haver o monitoramento e a fiscalizao efetiva por parte do governo.
1.3.3. Qualidade do contedo tcnico-cientfico das propagandas de
medicamentos
Na Frana, o rgo responsvel pela regulamentao e fiscalizao das
propagandas veiculadas aos prescritores afirma que cerca de um por cento destas
sofrem infraes, sendo as suas veiculaes proibidas por falta de exatido no
resumo das caractersticas do produto, pelas apresentaes subjetivas e parciais e pelo uso de estudos metodologicamente incorretos (Jaillon, 2000).
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INTRODUO
18
Kleinmam, Cohen (1991), afirmaram que as mensagens veiculadas nas propagandas de medicamentos psicoativos, mesmo quando utilizam de uma
linguagem cientfica, tendem a ser de marketing, transmitindo uma idia de
autonomia, de satisfao e de plenitude. Os autores observaram que, geralmente, s
mensagens de eficcia, de segurana e de tolerabilidade, faltam referncias
bibliogrficas de estudos que as comprovem.
Mastroianni et al (2003), ao analisarem os anncios de medicamentos psicoativos publicados em revistas de psiquiatria indexadas, em 2001, observaram
que menos de 60% dos anncios publicados apresentavam referncias
bibliogrficas, e um tero era de referncias no oficialmente reconhecidas. Estas na
sua maioria, eram protocolos do laboratrio detentor do produto, apresentaes orais
ou pster divulgados em congressos ou material da prpria empresa.
Este no um problema que s ocorre nas propagandas nacionais, Wilkes et al
(1992), ao analisarem as propagandas de medicamentos enviadas ao FDA, observaram que metade dos anncios possuia referncias, embora menos da metade
estivesse disponvel (43%). Carandag, Moulids (1994), ao analisarem as falhas nas informaes de anncios
de medicamentos em quatro jornais mdicos australianos, observaram que 15% das referncias estavam citadas incorretamente.
Villanueva et al. (2003), em 1997, ao analisarem as referncias bibliogrficas apresentadas em 264 anncios de anti-hipertensivos e anti-lipmicos veiculados em
seis peridicos mdicos espanhis, verificaram que as mensagens promocionais
eram sobre a eficcia, a segurana, a convenincia e o custo. No que dizia respeito
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INTRODUO
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s referncias bibliogrficas, 18% eram monografias e dados no publicados, 63%
eram artigos publicados em peridicos com alto ndice de impacto, sendo o tipo de
estudo na sua maioria (82%), ensaios clnicos do tipo aleatrio. No total, 44,1% das mensagens publicitrias no eram justificadas pelas suas respectivas referncias bibliogrficas.
Casares et al. (2005), ao avaliarem 67 estudos vinculados aos materiais promocionais entregues aos mdicos de famlia em um centro de sade em
Valncia, na Espanha, verificaram que 44,5% das mensagens publicitrias no
derivavam do estudo referendado e apenas 29,9% eram fidedignas ao estudo
referendado. Os autores observaram extrapolao das mensagens publicitrias em
relao aos estudos citados, sugerindo que deveria ser realizada uma anlise prvia
dos estudos referendados antes de se considerar as mensagens publicitrias.
Trabalho conduzido por Victora (1982), h mais de vinte anos, ao analisar os estudos vinculados nas propagandas brasileiras de medicamentos sujeitos prescrio, nota que estes tinham mtodos, anlises estatsticas e mtodos
errneos, amostras viciadas, inexistncia de grupo controle, grupo experimental
reduzido e resultados sem diferena estatisticamente significativa.
Infelizmente no existem dados recentes sobre a veracidade, a fidedignidade e a
exatido entre as mensagens publicitrias e as suas referncias bibliogrficas,
presentes nas propagandas de medicamentos, sobretudo no que se refere aos
medicamentos psicoativos que esto sujeitos a controle especial, nem to pouco h dados sobre a acessibilidade aos dados tcnicocientficos referendados.
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OBJETIVOS
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1.4. OBJETIVOS
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OBJETIVOS
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Conhecer a veracidade, a exatido e a fidedignidade das informaes das propagandas de medicamentos de fundamental importncia para apoiar e fomentar a ateno sanitria ao uso racional de medicamentos (OMS, 1988). A partir das propagandas de medicamentos psicoativos, divulgadas aos profissionais mdicos que atuam no municpio de Araraquara/ SP, em 2005, o presente estudo teve como objetivo:
1. Verificar a acessibilidade das referncias bibliogrficas citadas nas propagandas de medicamentos psicoativos;
2. Conferir as informaes de textos, grficos e tabelas contidas nas propagandas de medicamentos psicoativos com as apresentadas em suas respectivas referncias bibliogrficas;
3. Identificar possveis esteretipos dos distrbios mentais por meio de diferenas quanto gnero, etnia, faixa etria ou contexto social presente nas propagandas de medicamentos psicoativos.
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MTODOS
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2. MTODOS
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MTODOS
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2.1. Tipo de Pesquisa: Descritiva e Documental
A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrio de um fenmeno ou o estabelecimento de relaes entre variveis. A sua principal
caracterstica est na utilizao de tcnicas padronizadas para a coleta de dados.
A pesquisa documental um tipo de pesquisa descritiva que se utiliza de
registros estatsticos, institucionais, de documentos pessoais e de comunicao de
massa, como os jornais, as revistas, os programas de rdio, as propagandas, etc. Ela muito utilizada entre outras, nas pesquisas de natureza histrica, do mbito da
Sociologia, Psicologia, da Cincia Poltica. Podendo ser sua anlise por meio da
tcnica da anlise de contedo (Gil, 1996; Gil, 2006). A anlise de contedo definida como sendo uma tcnica de tratamento de
dados de pesquisa voltada para uma descrio objetiva, sistemtica e quantitativa do contedo de comunicaes (textos, entrevistas, entre outros) (Bardin, 1977). Assim, embora tenha as suas origens na pesquisa quantitativa, ela busca a interpretao de
materiais de carter qualitativo (Minayo, 1998). O seu desenvolvimento dividido em trs fases: (a) pr-anlise; (b) explorao do material e (c) tratamento dos dados, inferncia e interpretao
A pr-anlise a fase de organizao, a qual se inicia, geralmente com os
primeiros contatos com os documentos; a que se chama leitura flutuante. Essa o
primeiro contato do analista com o material em estudo, que visa obter impresses e
orientaes a respeito dos referidos documentos (Bardin, 1977). A seguir, procede-se escolha dos documentos, formulao da hiptese e preparao do material
para anlise.
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MTODOS
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A explorao do material uma fase que tem por objetivo a administrao sistemtica das decises tomadas na pr-anlise. Ela refere-se, fundamentalmente, s tarefas de
codificao que envolvem o recorte (escolha das unidades), a enumerao (escolha das regras de contagem) e a classificao (escolha das categorias). Por fim o tratamento dos dados, a inferncia e a interpretao, tem o objetivo de tornar os dados vlidos e significativos. Para tanto so utilizados procedimentos
estatsticos que possibilitam estabelecer quadros, diagramas e figuras, que sintetizam
e pem em relevo as informaes obtidas. medida que as informaes obtidas so confrontadas com as j existentes, pode-se chegar a amplas generalizaes, o que torna a anlise de contedo um dos mais importantes instrumentos para a anlise das
comunicaes de massa (Gil, 2006). As principais vantagens do uso das fontes documentais so a possibilidade do
conhecimento do passado, a investigao dos processos de mudana social e
cultural, permitindo a obteno de dados a um menor custo.
2.2. Seleo da Amostra
O universo da pesquisa corresponde a todas as propagandas de
medicamentos divulgadas pela indstria farmacutica. A amostra foi composta por
propagandas de medicamentos psicoativos divulgadas para os mdicos, por
intermdio dos propagandistas das indstrias farmacuticas, em clnicas, hospitais e
postos de sade. A coleta de dados foi realizada durante o ano de 2005, no
municpio de Araraquara, no Estado de So Paulo.
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MTODOS
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Os medicamentos psicoativos so substncias sujeitas ao controle especial, dispensados apenas sob prescrio e reteno de sua respectiva prescrio. As
propagandas destes medicamentos s podem ser feitas para profissionais
prescritores e dispensadores (RDC 102/00 - art. 5 a; art. 13 e Portaria SVS/MS n
344/98- art. 12, item II; art. 16). Portanto, os nicos meios de promoo destes medicamentos so dirigidos aos profissionais prescritores, por meio dos materiais
promocionais entregues nos estabelecimentos de sade e livros ou peridicos
mdicos.
Sabe-se que as propagandas de medicamentos divulgadas pelas indstrias
farmacuticas so as mesmas em todo o territrio nacional. As peas coletadas no
municpio de Araraquara podem ser consideradas representativas das propagandas
dos medicamentos psicoativos, divulgados aos prescritores em todo o territrio
nacional.
2.3. Coleta das propagandas de medicamentos psicoativos
As propagandas de medicamentos foram coletadas durante o ano de 2005. Foi
estabelecido contato com os mdicos, que atuavam em hospitais, clinicas e UBS,
para explicar a proposta do estudo, solicitando-lhes que guardassem o material,
voluntariamente, para a coleta mensal pela equipe.
No houve diferenas nas propagandas coletadas conforme o local da coleta, pois era
o mesmo propagandista, de cada laboratrio, que visitava o hospital, as unidades
bsicas de sade (UBS) e as clnicas, deixando os mesmos materiais.
-
MTODOS
26
2.4. Coleta e Organizao das Referncias Bibliogrficas
As referncias bibliogrficas foram solicitadas pelo SAC/SAM (Servio de Atendimento ao Cliente ou Servio de Atendimento ao Mdico) por meio do nmero informado nas propagandas, tendo sido pesquisadas nas bibliotecas da rede UNESP
(Ibict, Athenas), BIREME (Scielo, Pubmed, peridicos catalogados de acesso livre) e em outros bancos de dados disponveis na Internet, tais como os peridicos da
CAPES.
As referncias Bibliogrficas foram registradas num banco de dados,
informando a fonte de acesso (laboratrio, biblioteca ou no encontrada) e a situao de anlise (analisada, no analisada e motivo da no anlise).
2.5. Roteiro para anlise de Contedo
A partir de uma leitura flutuante das propagandas de medicamentos e das
suas referncias elaborou-se um roteiro para a anlise de contedo, o que facilitou o
seu direcionamento para o cumprimento dos objetivos pr-estabelecidos (Bardin, 1977).
O roteiro contemplou as seguintes informaes:
Parte I Identificao da Propaganda: contemplou as informaes sobre o
nmero de identificao da propaganda, o nome do medicamento, o princpio
ativo, a classe teraputica, o nome do laboratrio, o nmero SAC/SAM; se a
propaganda apresentava referncias e quantidade;
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MTODOS
27
Parte II Anlise das referncias bibliogrficas: continha informaes para
cada referncia citada no anncio, tais como, o tipo de referncia (publicada e indexada, publicada no indexada, no publicada, citao de livro, material do
laboratrio, apresentao em congresso, guias de sociedades, revista de
preo de medicamentos, etc.); o tipo de metodologia empregada no estudo (metanlise, ensaio clnico, coorte, caso controle, editorial, reviso, levantamento, farmacovigilncia etc.), e o grau de conferncia (confere, no confere ou confere parcialmente) entre as mensagens publicitrias e suas referncias bibliogrficas.
A fim de se evitar a subjetividade ou interpretaes diferentes, toda a anlise de contedo foi realizada por dois analistas independentes e, em caso
de divergncias, um terceiro analista analisava o contedo.
Julgou-se como confere as citaes cujas afirmaes nas peas publicitrias foram observadas na referncia citada; confere parcialmente, quando pelo
menos uma ou parte das afirmaes nas peas foi observada na referncia
citada; e no confere quando no se observaram quaisquer das afirmaes
da pea na referncia citada.
Parte III Anlise das figuras humanas: apresentou as seguintes informaes:
etnia, faixa etria, posio social, local em que se encontrava a figura
humana. Adaptado de Munce et al (2004). A faixa etria foi dividida em quatro categorias: adolescentes, pacientes
dos 20 aos 40 anos, dos 41 aos 60 anos e acima dos 60. Os locais foram
classificados como: casa ou jardim, natureza (cachoeiras, praia, trilhas etc); trabalho (escritrio, comrcio, laboratrio, etc.); e contexto social (locais de
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MTODOS
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lazer como praas, shopping, restaurante, clubes, etc.). A posio social refere-se situao em que se encontrava a figura humana, sendo essa
classificada como profissional, familiar ou lazer (Munce et al, 2004).
2.6. Banco de dados e tabulao dos dados
Numa pasta de aplicativo Excel criou-se um banco de dados para organizar as
informaes coletadas, por meio do roteiro de anlise de contedo, sobre as peas
publicitrias e suas referncias bibliogrficas.
2.7. Mtodo Estatstico
As informaes coletadas sobre as figuras humanas nas propagandas de
medicamentos foram tabuladas em freqncia simples, segundo o gnero e a classe
teraputica do medicamento da propaganda e, tambm, segundo o gnero e os
possveis esteretipos (etnia, idade, posio social). A associao entre as categorias gnero e faixa etria, local e posio social foram analisadas usando o
teste exato de Fisher (http://faculty.vassar.edu/lowry/VassarStats.html).
2.8. Aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da UNIFESP, no dia 10 de maro de 2006, sob o protocolo no176/06 (Apndice 1).
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RESULTADOS
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3. RESULTADOS
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RESULTADOS
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Foram coletadas 167 diferentes propagandas de medicamentos psicoativos,
divulgadas por 25 laboratrios farmacuticos, sendo elas, na sua maioria, de
medicamentos antidepressivos (41,9%) e ansiolticos (24,5%). Para a anlise da acessibilidade e da concordncia entre as mensagens publicitrias e suas
referncias bibliogrficas, foram excludas 15 propagandas (provenientes de quatro laboratrios) que no citavam qualquer referncia bibliogrfica.
Entre as 152 propagandas analisadas, foi observada uma mdia de 2,5 (1-28) referncias citadas por propaganda, totalizando 395 referncias. No corpo dessas
152 foram identificadas 639 mensagens publicitrias que estavam explicitamente
associadas a pelo menos uma das referncias citadas (mdia de 3,5 mensagens publicitrias por propaganda) (Figura 1).
3.1. Acesso s Referncias Bibliogrficas
As 395 referncias bibliogrficas foram solicitadas ao servio de atendimento
(SAC/SAM) dos laboratrios selecionados, sendo que dois se recusaram a colaborar com a pesquisa. Entre os que colaboraram, embora a maioria alegasse no ter as
referncias arquivadas na empresa, informaram que solicitariam as mesmas matriz
ou s bibliotecas mdicas. O tempo de entrega variou de trs dias teis a seis
meses. Apenas um laboratrio entregou todas as referncias bibliogrficas, os
restantes, em mdia, entregaram menos da metade das referncias citadas. No total
foram obtidas 107 (27%) referncias via SAC/SAM.
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RESULTADOS
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Por meio de pesquisas nas bibliotecas da rede UNESP (Ibict, Athenas), na BIREME (Scielo, Pubmed), e nos peridicos catalogados de acesso livre, obteve-se acesso a 156 (39,5%) referncias bibliogrficas no entregues pelos laboratrios (Figura 1). As demais referncias, 132 (33,5%), no estavam disponveis ou foram de difcil acesso (Tabela 1).
3.2. Tipo de Estudo das Referncias Bibliogrficas
A maioria das referncias bibliogrficas era proveniente de estudos publicados
em revistas indexadas 291 (73,7%) e no indexadas 13 (3,3%). A partir dessas 304 referncias, foi possvel avaliar o tipo de estudo de 260 artigos, pelo acesso na
ntegra ou ao resumo do artigo disponvel em base de dados como o PubMed,
classificando-as segundo a metodologia empregada e o grau de evidncia
recomendado para a tomada de deciso (Oxman et al, 1993).
Observou-se que a maioria dos estudos eram do tipo ensaios clnicos
controlados(116), o que corresponde ao grau elevado de evidncia para a deciso na escolha teraputica. O segundo tipo de estudo mais freqente foi os de revises
bibliogrficas (94), que correspondem ao menor grau de evidncia na deciso teraputica (Oxman et al, 1993). Tambm se observaram estudos no recomendados, tais como os pr-clnicos (4,6), levantamentos epidemiolgicos (2,3) e avaliao da qualidade de vida (0,4) (Tabela 2).
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RESULTADOS
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3.3. Concordncia entre as informaes das Propagandas e das suas
Referncias Bibliogrficas
Avaliou-se o grau de conferncia entre as mensagens publicitrias contidas
nas propagandas de medicamentos psicoativos e as suas respectivas referncias
bibliogrficas. Das 639 mensagens publicitrias referendadas foi possvel conferir
346 (54%) por serem citaes das 263 referncias disponveis (107 entregues pelos laboratrios e 156 encontradas nas bibliotecas consultadas).
Na maioria das mensagens analisadas (234 [67,7%]) foi possvel encontrar as frases ou as informaes na referncia citada. Em 54 (15,6%), as informaes estavam incompletas ou referiam parcialmente a referncia bibliogrfica, e em 16,7%
(58) no foi possvel encontrar qualquer das informaes da propaganda na referncia bibliogrfica citada.
Foram considerados casos de no conferncia ou conferncia parcial
aquelas que as informaes encontradas nos trabalhos referendados eram
contraditrias ou no existiam. Havia estudos experimentais conduzidos com
frmacos diferentes do medicamento da propaganda, estudos de revises de classes
teraputicas que no traziam informaes especficas sobre o medicamento da
propaganda, e tambm estudos conduzidos em jovens adultos, cujas propagandas afirmavam ..seguro em idosos.
Foram observadas mensagens publicitrias errneas, como a extrapolao de
resultados e o aumento do nvel de significncia estatstico. Notou-se, em alguns
casos, estudos realizados com animais, embora as mensagens publicitrias
indicassem o uso do medicamento para seres humanos. Havia tambm, estudos
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RESULTADOS
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conduzidos em pacientes com uma nica morbidade, cujas mensagens publicitrias afirmavam eficcia para duas ou mais morbidades, ou ainda seguros para pacientes
com insuficincia renal ou heptica, sendo que os estudos no contemplavam tais
co-morbidades (Tabela 3).
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RESULTADOS
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TABELA 1. Motivos da dificuldade ao acesso s referncias bibliogrficas citadas nas propagandas de medicamentos psicoativos, divulgados no municpio de Araraquara no ano 2005.
Motivos N(%)
Artigos no disponveis e no entregues pelo SAC
52 (39,4) Revistas de preo de medicamentos 22 (16,7) Apresentao oral ou psteres em reunies cientficas 15 (11,4) Livros 10 (7,6) Referncias sem citaes nas propagandas 9 (6,8) Material de laboratrio no publicado 7 (5,3) Relatrio de vendas no publicados 5 (3,8) Referncias incompletas/incorretas 5 (3,8) Artigos francs 3 (2,3) Artigos alemo 3 (2,3) Dirio Oficial da Unio 1 (0,6) Total 132 (100)
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RESULTADOS
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TABELA 2. Tipos de metodologias empregadas nos estudos referendados nas propagandas de medicamentos psicoativos, divulgados no municpio de Araraquara no ano 2005.
Metodologia N(%) Recomendada:
Ensaios clnicos 116 (44,6) Metaanlise 8 (3,1) Coorte 8 (3,1) Caso-controle 0
Estudo de caso /farmacovigilncia 9 (3,5) Revises/Guias 94 (36,1) Editorial 6 (2,3) No Recomendada
Estudo pr-clnico (in vivo /in vitro) 12 (4,6) Levantamento Epidemiolgico 6 (2,3) Avaliao da qualidade de Vida 1 (0,4) Total 260 (100)
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RESULTADOS
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TABELA 3. Motivos da no conferncia e da conferncia parcial entre as afirmaes contidas nas propaganda de medicamentos psicoativos e as suas respectivas referncias bibliogrficas, divulgados no municpio de Araraquara no ano 2005.
Motivos* N (%)
Informaes no encontradas
87 (62) Extrapolao de indicao/morbidade/classe teraputica 17 (12) Informao contraditria ou errada 14 (10) Extrapolao para humanos 8 (5,6) Extrapolao dos dados estatsticos 7 (5) Populao diferente ou especfica 6 (4) Extrapolao para a qualidade de vida 2 (1,4) Total 141 (100) * cada afirmao podia ter mais de um motivo de no conferncia
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RESULTADOS
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3.4. Figuras humanas nas Propagandas de Medicamentos Psicoativos
Foram identificadas 86 propagandas de medicamentos psicoativos com
figuras humanas. Segundo a classificao teraputica (Anatomical Therapeutic Chemical [ATC]), as propagandas eram de medicamentos antidepressivos (39,8%), ansiolticos (23,3%), antipsicticos ou neurolpticos (11,4%), hipnticos (9,1%), anticonvulsivantes ou estabilizadores de humor (10,2%) e outros (6,2%), como os ampliadores cognitivos, antiparkinsonianos etc.
A maioria das propagandas coletadas apresentava figuras humanas (51,5%) de etnia branca (98,8%). As mulheres estavam presentes em 62,8% das propagandas e, na sua maioria, eram jovens adultas (entre os 20 e os 40 anos), geralmente estando em casa (18,6%), em contato com a natureza (10,4%) ou em situao de lazer (30,2%). J os homens (10,5%), tambm eram jovens adultos (entre os 20 e os 40 anos), sendo freqentemente retratados no local de trabalho em atividades profissionais (4,6%) ou de lazer (5,4%) (Tabela 4).
As propagandas de medicamentos psicoativos, principalmente os anncios de
medicamentos antidepressivos e ansiolticos e anticonvulsivantes, geralmente
apresentavam jovens adultos na faixa etria entre os 20 e os 40 anos (72%). As poucas figuras de adolescentes estavam nas propagandas de medicamentos
anticonvulsivantes. Por outro lado, as figuras de idosos estavam principalmente nas
de medicamentos antiparkinsonianos e ampliadores cognitivos ou neurolpticos.
Utilizando o teste exato de Fischer foram observadas diferenas
estatisticamente significativas entre o gnero e o local em que o paciente se
encontrava (p=0,017) e a sua posio social (p=0,003).
-
RESULTADOS
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Tabela 4 - Freqncia das figuras humanas nas propagandas de medicamentos
psicoativos, segundo o gnero, a etnia, a idade, o local e a posio social.
Caractersticas dos pacientes
N
Sexo Masculino
%
Sexo Feminino
%
Ambos os sexos
% ETNIA Branca 85 10,5 61,6 26,7 Negra 1 - 1,2 - FAIXA ETRIA Adolescente 3 - 3,5 - 20 40 62 8,1 40,7 23,2 41 60 10 1,2 5,8 4,6 > 60 11 2,3 5,8 4,6 LOCAL Casa/jardim 25 2,3 18,6 8,1 Natureza 14 3,5 10,4 2,3 Trabalho 6 4,6 1,2 1,2 Contexto social* 12 2,3 3,5 8,1 No identificado 29 - 20,9 12,8 POSIO SOCIAL Profissional 7 4,6 2,3 1,2 Familiar 12 2,3 5,8 5,8 Lazer 40 5,8 30,2 10,5 Outros 27 - 17,4 14,0
*locais de lazer, restaurantes, clubes / p= 0,017 pelo teste exato de Fischer p=0,003 pelo teste exato de Fischer
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DISCUSSSO
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4. DISCUSSO
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DISCUSSSO
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4.1. Acessibilidade das Referncias Bibliogrficas das Propagandas de
Medicamentos Psicoativos
Dados do presente estudo demonstraram a dificuldade ao acesso s
referncias bibliogrficas citadas nas propagandas de medicamentos psicoativos,
pois no foi possivel encontrar um tero das referncias bibliogrficas, seja porque os laboratrios no as tinham disponveis nas suas sedes, quer por no estarem
disponveis nas bases de dados procuradas ou por no terem sido publicadas. O
mesmo sucedeu no estudo de Villanueva et al (2003), que ao analisarem anncios de medicamentos publicados em seis jornais espanhis, no obtiveram acesso a 18% das referncias citadas por serem monografias ou outros dados no publicados.
O fato dos laboratrios terem levado seis meses para entregar os estudos
originais, sugere que um profissional prescritor que, quisesse conhecer os estudos
originais, teria muita dificuldade, principalmente se no estivesse ligado a instituies
de ensino, porque os impediriam de ter acesso aos peridicos restritos que esto
disponveis em Universidades.
Este estudo demonstrou a necessidade de alteraes na legislao sanitria
vigente, referente regulamentao das propagandas de medicamentos. Deveria ser
proibida a citao de material sem carter cientfico, como revistas com preo de
medicamentos, e exigido que os laboratrios tivessem disponveis, nas suas pginas
de sto de internet, os artigos citados na ntegra e no caso dos restritos, comprarem
por seus direitos a divulgao. Alm disso, deveria ser obrigatrio somente citar
estudos conduzidos cuja metodologia empregada tenha um grau de evidncia
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recomendvel para a tomada de deciso teraputica. Seria recomendvel utilizar
apenas estudos publicados, evitando desta forma apresentaes orais ou psteres
divulgados em reunies cientficas que em geral no so avaliados por corpo
editorial ad hoc.
4.2. Concordncia entre as afirmaes das Propagandas e suas Referncias
Bibliogrficas
A falta de exatido nas mensagens publicitrias das propagandas de
medicamentos psicoativos foi observada em 32,3% das informaes analisadas.
Resultados semelhantes foram observados por Villanueva et al (2003), ao conferirem as mensagens publicitrias em anncios de medicamentos anti-hipertensivos
publicadas em jornais mdicos espanhis com as suas respectivas referncias (44,1%), e por Casares et al (2005), ao analisarem materiais promocionais entregues aos mdicos de famlia na Espanha (44,5%).
Ziegler et al (1996), ao analisarem a exatido das informaes sobre medicamentos, apresentadas pelos propagandistas aos mdicos, observaram que
11% das informaes eram contraditrias. No presente estudo as informaes
contraditrias ou erradas foram responsveis por 10% dos motivos da no
conferncia.
Os motivos da no conferncia ou da conferncia parcial, neste estudo, foram
semelhantes aos observados nos trabalhos conduzidos na Espanha por Villanueva et
al (2003) e Casares et al ( 2005). Assim tambm notou-se existir nas propagandas
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de medicamentos, ausncia da informao da referncia citada, estudo de outro
frmaco, pacientes em condies especficas no contempladas, no haver
diferenas significativas, extrapolao de indicaes ou patologias e concluses
diferentes das informaes afirmadas nas peas publicitrias. Segundo a RDC
102/00 a no conferncia ou conferncia parcial so considerados casos de omisso
de informao ou divulgao de informaes enganosas por induzirem ao erro.
A informao enganosa foi freqentemente observada nas mensagens
publicitrias de eficcia, de segurana e de menor custo. Sobre este ltimo item as
propagandas se utilizavam de referncias as revistas de preos de medicamento.
Neumann et al (2002) relataram que mensagens econmicas so frequentes nos anncios de medicamentos. No entanto, para respaldar afirmaes de teor
econmico, se fariam necessrios estudos farmacoeconmicos, nos quais se
comparam custos do tratamento e no os preos individuais dos medicamentos
(Villanueva, 2003).
Geralmente as propagandas apresentam informaes incompletas, resumidas,
inconsistentes e diferentes dos estudos citados (Gutknecht, 2001; Fagundes et al, 2007), as quais so sempre favorveis indicao teraputica, eficcia, segurana e ao custo ( Mejia, et al, 2001; Neumann et al, 2002; Villanueva et al, 2003). Alguns trabalhos relataram a baixa freqncia de referncias bibliogrficas nas mensagens publicitrias (Lvdahl, Riska,2000; Mastroianni et al, 2005). No entanto, um trabalho mais recente observou que 91% das propagandas apresentam
pelo menos uma referncia bibliogrfica, o que sugere que os laboratrios,
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atualmente, tendem a se utilizar de referncias bibliogrficas como estratgias de
marketing para os materiais promocionais.
Wade et al (1989) afirmaram que o padro de evidncia usado pela indstria farmacutica para justificar as propagandas de medicamentos inadequado, pois, no seu levantamento, nenhuma empresa foi capaz de comprovar cientificamente as
mensagens publicitrias de seus produtos. Loke et al (2002) verificaram que apenas 8% das afirmaes tinham respaldo cientfico, as mensagens comumente so
ambiguas ou vagas, apesar de mensionar um nmero interessante de referncias
bibliogrficas, do tipo meta-anlise, ou ensaios clnicos aleatrios.
Os laboratrios farmacuticos, geralmente, utilizam-se de estudos publicados
em jornais indexados e reconhecidos pela classe mdica (Pizzol et al, 1998; Casares et al, 2005; Villanueva et al, 2003). Verificou-se que os estudos referendados nas peas publicitrias eram geralmente do tipo ensaios clnicos aleatrios (44,6%), cuja metodologia preferencialmente indicada para decidir a escolha do tratamento
(Oxman et al, 1993), ou as revises bibliogrficas (36,1%) que so as menos indicadas pelo seu baixo nivel de evidncia (Oxman et al, 1993). No caso destas ltimas, as mensagens nas propagandas eram sempre as informaes favorveis
aos frmacos, omitindo ressalvas ou as precaues para grupos especficas, como
crianas, idosos, contidas nas revises, caracterizando desta forma uma falha no
equilbrio, como tendem a ser as mensagens publicitrias (Mastroianni et al, 2003; Mejia, et al, 2001; Villanueva et al, 2003) .
Carderelli et al (2006), afirmaram que os estudos utilizados nos materiais promocionais so de boa qualidade e na maioria (80%) patrocinado pela prpria
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indstria farmacutica. No entanto, os estudos patrocinados pela indstira tm
probalidade quatro vezes maior de fornecerem resultados positivos do produto, do
que os estudos que recebem outro tipo de patrocnio, tais como as agncias de
fomento pesquisa.
Outros trabalhos tm relatado vieses de publicao (Easterbrook et al, 1991; Loannidis, 1998), que significa que os estudos com resultados positivos e que favorecem o uso dos medicamentos so mais rapidamente publicados do que os
no favorveis, os quais levam muito mais tempo ou nem so publicados. Isso pode
ser considerado uma evidncia de que os laboratrios farmacuticos financiam
ensaios clnicos, relatando os seus resultados de acordo com as suas estratgias de
marketing (Villanueva et al, 2003), e que as suas afirmaes tendem sempre a ser favorveis ao medicamento que lhes interessa comercializar (Ziegler et al, 1996).
No entanto, se fosse possvel o acesso s 132 referncias no encontradas,
responsveis pelas as 293 afirmaes no analisadas (46%), ser que a maioria das afirmaes estaria de acordo?
4.3. Figuras humanas nas Propagandas de Medicamentos Psicoativos
Gnero
As mulheres aparecem quatro vezes mais em propagandas de medicamentos
antidepressivos e ansiolticos. No entanto, os dados epidemiolgicos sobre
depresso e a ansiedade indicam uma relao de duas mulheres para cada homem
(OMS, 2001). A discrepncia dos dados epidemiolgicos e representao da mulher
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nas propagandas de medicamentos podem influenciar as prescries mdicas
(Mastroianni et al, 2003; Munce et al 2004). Munce et al (2004), ao analisarem figuras humanas nas propagandas de
medicamentos psicoativos em jornais psiquitricos nos EUA, Inglaterra e Canad, observaram que as figuras de homens so menos freqentes. E, quando presentes
so retratados nos seus locais de trabalho, sendo produtivos, independentes e com
uma boa situao econmica, ao passo que as mulheres, freqentemente, so
retratadas, estando no jardim, em casa ou dormindo. Apesar das mulheres nos ltimos anos terem expandido as suas funes na
sociedade, as propagandas de medicamentos psicoativos continuam representando-
as como submissas, em atividades no lar, lazer, sem uma atividade profissional ou,
ainda, de um modo sensual, bem vestidas, magras, jovens, adultas e atraentes
(Munce et al, 2004). A representao exagerada da mulher, e a tendncia de a retratar de forma
estereotipada, pode formar um prottipo de depresso e de ansiedade levando os
mdicos a identificar essas patologias em suas pacientes, diagnosticando-as com
depresso e ansiedade quando elas esto com problemas circunstanciais e/ou
transitrios. Por outro lado, os homens podem ser sub-diagnosticados e no tratados
(Lvdahl et al, 1999; Munce et al, 2004), levando aplicao de tratamentos diferentes para homens e mulheres, em que eles so tratados por estresse
relacionado ao trabalho, e elas por sintomas emocionais difusos(Lvdahl, Riska, 2000). Smith, Griffin (1977) afirmaram que as propagandas exageram na estereotipagem para minimizar a necessidade de diagnsticos mais completos.
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Faixa etria
Observa-se que as propagandas dos medicamentos antidepressivos, de
ansiolticos, de hipnticos e de estabilizadores de humor, retratam figuras de
pacientes jovens adultos, enquanto que as do neurolpticos, antiparkinsonianos e ampliadores congnitivos, retratam adultos e idosos, o que j fora observado por Mastroianni et al (2003) e Lvdhl et al1 (1999). Sabe-se que os adultos e idosos so os que mais necessitam de medicamentos psicoativos e, no entanto, as figuras mais
freqentes so as de pacientes jovens adultos. O esteretipo induzido pelas propagandas de medicamentos pode refletir no
diagnstico e na prescrio medicamentosa, supermedicalizando os jovens e sub-diagnosticando as outras faixas etrias. Os resultados do presente estudo
corroboram a necessidade de rediscutir a regulamentao e a fiscalizao das
propagandas no Brasil, uma vez que estas no so equilibradas quanto as
informaes de indicaes e restries de uso e, geralmente, nem apresentam
informaes sobre a posologia, as advertncias e as precaues especficas e
contra-indicaes para cada faixa etria, principalmente para os pacientes
peditricos e geritricos (Mastroianni et al, 2003).
Etnia
Os resultados evidenciam haver uma contradio de carter tnico nos
anncios de medicamentos psicoativos, por estes retratam exclusivamente pessoas
brancas (98,8%). De acordo com o IBGE (CENSO 2000), 44,6% da populao brasileira seja parda ou negra, no se observou a existncia de qualquer pessoa oriental e uma nica propaganda de ansioltico apresentava uma mulher negra, o que
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um retrato inadequado da diversidade tnica brasileira. A falta de diversidade racial
nas propagandas de medicamentos pode levar a um importante impacto na
prescrio (Munce et al, 2004), simultaneamente um sub-diagnstico e um sub-tratamento de distrbios mentais nas etnias no brancas, alm de restringir o acesso
ao medicamento.
Local e Posio Social
As figuras humanas nas propagandas de medicamentos psicoativos,
geralmente so retratadas em momentos de lazer (46,5%) ou de descanso nos seus lares (29%) ou, ainda, em contato com a natureza (16,2%), passando a idia de que os medicamentos tratam sintomatologias ligadas ao desconforto e ao estresse.
Algumas propagandas de medicamentos ansiolticos apresentavam mulheres em
atividades de relaxamento como o yoga ou sendo massageadas, dando a entender
que existe uma equivalncia entre estas atividades e o uso do ansioltico. Observa-
se que as propagandas de medicamentos psicoativos induzem a um apelo no
cientfico, o que se reflete na prescrio medicamentosa sem considerar outras
terapias no medicamentosas. As mesmas mensagens subjetivas foram relatadas por Lvdahl, Riska (2000) quando analisaram figuras humanas em propagandas de medicamentos psicoativos nos anos 70, 80 e 90. Isso significa que, at hoje, as propagandas de medicamentos psicoativos no apresentam as verdadeiras
indicaes a que se destinam, o que pode levar ao uso irracional e at mesmo
dependncia.
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CONSIDERAES FINAIS
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5. CONSIDERAES FINAIS
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CONSIDERAES FINAIS
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A grande maioria dos laboratrios farmacuticos parece no ter disponveis
todos os artigos referendados nas propagandas de medicamentos, pois eles
no quiseram entregar todas as referncias citadas, e as disponibilizadas pelo
servio de atendimento (107 [27%]) levaram at seis meses para serem entregues. Alguns laboratrios as solicitaram matriz e outros compraram o
artigo de acesso restrito ou as solicitaram nas bibliotecas como a BIREME.
Portanto, se faz necessrio adotar medidas regulatrias que estabeleam a
obrigatoriedade de disponibilizar, nas pginas de sto na internte da indstria,
toda e qualquer referncia citada nas propagandas de medicamentos;
Os principais motivos da falta de acesso s referncias bibliogrficas foram
artigos no disponveis no Brasil e/ou acesso restrito (39,4%) e, ainda, materiais no publicados (28,1%). Os dados demonstraram o no cumprimento das recomendaes da OMS e RDC 102/00, as quais
estabelecem que qualquer texto, figura ou tabela, contidas nas propagandas
de medicamentos devem ser passiveis de comprovao cientfica, pelo que as
referncias devem se referir a estudos cientficos passveis de comprovao;
No foi possvel avaliar a concordncia entre 293 (46%) mensagens publicitrias e suas respectivas referncias bibliogrficas (132 [33,5%]). Os Resultados obtidos ratificaram a dificuldade em se avaliar a exatido, a
veracidade e a fidedignidade das informaes vinculadas nas propagandas de
medicamentos, permanecendo a dvida quanto suas qualidade e
confiabilidade;
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CONSIDERAES FINAIS
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Apenas 346 (54%) mensagens publicitrias foram passveis de anlise quanto a concordncia com a sua respectiva referncia bibliogrfica, 32,3% destas
no foram encontradas ou as informaes eram contraditrias, seja por no se tratar do mesmo frmaco do medicamento mencionado na propaganda ou por
extrapolaes de indicao, populaes especficas, dados estatsticos ou
ainda de dados com animais (pr-clnicos). Os resultados desse estuddo confirmaram que as propagandas de medicamentos psicoativos continuam
subjetivas pela ausncia de justificativas de caracter tcnico-cientfico, descumprindo os critrios ticos da OMS e a RDC 102/00;
As referncias bibliogrficas das propagandas dos medicamentos psicoativos
so, na sua maioria, publicadas em peridicos indexados (73,3%) e reconhecidos pelo seu elevado impacto na area de psiquitrica, sendo que os
estudos, segundo os grau de deciso de evidncia clnica, variam desde o
mais elevado (ensaios clnicos [29,4%]) ao mais baixo (revises bibliogrficas [22,8%]). Os resultados evidenciam que a indstria farmacutica utiliza-se dos estudos e a relevncia das publicaes como estratgia de marketing, sem
que haja uma preocupao mnima com a veracidade das informaes tcnico-cientficas, uma vez que apenas em 36,6 % (234) de todas as mensagens publicitrias foi possivel comprovar a sua veracidade. Resta
avaliar o quanto esta prtica compromete a teraputica e o uso racional de
medicamentos e se as propagandas destes so de interesse para a sade
pblica;
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CONSIDERAES FINAIS
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Os resultados evidenciaram que as propagandas de medicamentos
psicoativos promovem um olhar enviesado entre o gnero e os distrbios
mentais, induzindo ao esteretipo de que a depresso e a ansiedade so
sintomatologias predominantente femininas, o que contradiz os dados
epidemiolgicos (relao 2:1). Alm disso, transmitem a idia de que o uso de antidepressivos e de ansiolticos pode promover um bem-estar semelhante
aos momentos de lazer ou de descanso domstico e/ou de contato com a
natureza, favorecendo o processo de medicalizao para qualquer situao
de desconforto do dia-a-dia sem uma indicao objetiva (cientfica). Sugere-se a realizao de um frum de discusso e de questionamento sobre a
influncia das (des)informaes das propagandas sobre a poltica do uso racional de medicamentos, e o risco sanitrio das mesmas continuarem a ser
divulgadas a fim de diminuir as discrempcias entre os dados epidemiolgicos
e as sugestes de marketing das indstrias farmacuticas;
Provavelmente os profissionais no tm o hbito de verificar a veracidade dos
materiais promocionais recebidos, uma vez que 33,5% das referncia
bibliogrficas no estavam disponveis. Portanto, sugere-se, como medidas
preventivas, que os profissionais de sade estejam mais atentos e desenvolvam habilidades e senso crtico sobre os materiais promocionais que
recebem, pois os laboratrios farmacuticos nem sempre tm a preocupao
de consultar as referncias citadas ou em verificar se estas so sobre o
frmaco anunciado, alm de verificar se a comparao estabelecida entre
frmacos da mesma classe teraputica;
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CONSIDERAES FINAIS
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Ainda propem que, sejam realizadas nos programas de graduao, projetos de extenso e cursos de educao permanente aos profissionais graduados sobre a anlises de contedo das propagandas de
medicamentos, a fim de promover o uso racional e prevenir o uso abusivo
dos medicamentos psicoativos, diminuindo a influncia das prticas
promocionais sobre os profissionais da sade.
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