Análise de livro didático-CEREJA

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ANÁLISE DE TRECHO DE LIVRO DIDÁTICO Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia ÉRICA NERI CAMARGO

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ANÁLISE DE TRECHO DE LIVRO DIDÁTICO

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado.

Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia

ÉRICA NERI CAMARGO

CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 9º ano. 7 ed. Reform. São Paulo: Saraiva, 2012.

PROFLETRAS – Mestrado Profissional em Letras

Docente: Profa. Dra. Maria Isabel Borges

Disciplina: Texto Ensino (2LET840)

ANÁLISE DE TRECHO DE LIVRO DIDÁTICO Capítulo 1 – O preço de estar na moda – p. 10 a 33

ÉRICA NERI CAMARGO

Para início de conversa...

O livro didático tem grande importância na educação brasileira como política pública e é, em grande parte do país, o principal instrumento de ensino utilizado em sala de aula pelos professores.

Cabe ao professor o direcionamento no uso desse material, a fim de gerar discussões e proporcionar que o aluno seja um sujeito ativo na construção do conhecimento, que tenha autonomia e liberdade de criação e não seja “oprimido” por uma única visão, discurso e ideologia presente no livro.

Tem-se a falsa ideia de que a solução para os problemas da escola está nos métodos, nas técnicas e nos manuais de ensino. Isso é herança da pedagogia tecnicista, calcada na psicologia behaviorista. (Fernandes, 2004)

O ensino é direcionado e determinado pelo professor [...] nenhum material didático pode substituir as decisões tomadas pelo professor e somente com a superação das carências e fatores negativos ligados à vida do educador (formação, condições de trabalho, salário) será possível melhorar a qualidade de ensino, pois esta qualidade depende muito mais da força profissional e pedagógica dos professores do que da força dos livros didáticos. (Silva, 1998)

MITO Para início de conversa...

Breve histórico

Grécia - Platão - seleção do que havia de melhor na cultura grega.

Portugal - (séc. XV) - cartilhas (“cartinhas”) - alfabetização + fundamentos religiosos. (Cartinha de aprender a ler – João de Barros, 1539).

Brasil

1929 - (INL) Instituto Nacional do livro - aumenta o número de cartilhas, baixo custo;

1938 - (CNLD) Comissão Nacional do Livro didático

1945 - Decreto 8460 – professor escolhe o livro, regras de produção e importação do livro.

1966 - Comissão Nacional do Livro Técnico (Colted); começa o financiamento público do livro didático;

1985 – PNLD – Programa Nacional do Livro Didático

CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 9º ano. 7 ed. Reform. São Paulo: Saraiva, 2012.

ANÁLISE DE TRECHO DE LIVRO DIDÁTICO Capítulo 1 – O preço de estar na moda – p. 10 a 33

Referencial Teórico

Linguísti-ca Textual

Teoria dos Gêneros

Gêneros do

Discurso

Análise do Discurso

Letramen-tos

Sociolin-guística

Bakhtin

Marcuschi

Koch

Bagno

Schneuwly

Vygotsky

Kleiman

Dolz

Maingueneau

Bronckart

Meurer

Bonini

Rojo

Solé

Todorov

- Preocupação com a seleção dos textos e leitura;

- Utiliza elementos da gramática normativa, ampliando a compreensão sob os avanços da linguística e da análise do discurso;

- Produção textual apoiada na teoria dos gêneros textuais ou discursivos e linguística textual;

- Relação com outras linguagens (pintura, fotografia, cinema, etc)

- Revisão dos objetivos, inclusão de novos conteúdos, reavaliação do peso de determinados conteúdos;

- Inclui a variação linguística e tira a noção de erro;

- Situações concretas de interação discursiva;

- Projetos: aluno-sujeito para a construção do conhecimento;

- Língua e linguagem na perspectiva do texto e do discurso;

- Conteúdos: perspectiva da semântica, estilística, linguística e análise do discurso

Manual do Professor

Concepção de ensino que adota a perspectiva da língua como instrumento de comunicação, de ação e de interação social.

ESTRUTURA DO LIVRO

Unidade 1 - VALORES Cap. 1 – O preço de estar na moda Cap. 2 – Os valores do outro Cap. 3 – A dança das gerações

Unidade 2 - AMOR Cap. 1 – A conquista amor impossível Cap. 2 – O selo do amor Cap. 3 – O milagre do amor

Unidade 3 - JUVENTUDE Cap. 1 – A primeira vez Cap. 2 – Ser sempre jovem Cap. 3 – A permanente descoberta

Unidade 4 – NOSSO TEMPO Cap. 1 – Ciranda da indiferença Cap. 2 – Os Brasis Cap. 3 – De volta para o presente

Ao final de cada unidade a proposta de elaboração de um produto (livro de conto, jornal mural, exposição de textos, mostra cultural, etc)

ESTRUTURA DA UNIDADE 1 - VALORES

SEÇÃO INTERVALO – Projeto “O sonho acabou” - Como produzir o jornal; Como montar a mostra

- Vários textos e imagens sobre os anos 60 - Retoma as dicas de músicas e filmes

Cap

ítu

lo

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

• Breve análise de um texto

• Produção de texto

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

• Estudo do texto

• Produção de texto

• A língua em foco

• Divirta-se

O preço de estar na moda

Os valores do outro

A dança das gerações

Abertura: Poema relacionado à temática; Seção “Fique Ligado! Pesquise!”: dicas de filmes, livros, músicas e sites; Intervalo: antecipa que a produção final será um jornal sobre a década de 60 e uma mostra sobre os valores dessa época.

ESTUDO DOS TEXTOS Artigo de opinião e reportagem

- Compreensão e interpretação - A linguagem dos textos - Trocando ideias

Compreensão e interpretação Informações explícitas

Relação entre partes do texto Efeitos de sentido

Relação entre os textos Método indutivo e dedutivo

A Linguagem dos Textos Paronomásia

Figuras de Linguagem Deduzir sentido de expressões

Falta explorar Temática, Finalidade

Falta explicar Figuras de linguagem

Trocando Ideias Questões opinativas

Aluno se posicionar quanto ao assunto

Crítica Tema fora da realidade de alunos de escola pública

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda

Pág. 12-16

Produção de Texto Reportagem

Exploração do Gênero

Exploração do Gênero

Forma composicional Estilo Tema

Análise Textual

Vozes presentes no texto Informações explícitas

Argumentos

Variação linguística

Identificar a variedade Características dessa variedade

PERGUN-TA FINAL Característi-

cas do gênero (a partir das

pistas nos enunciados –

método indutivo) Pontos Positivos

Utilização de elementos não verbais (gráficos, ilustrações, fotos); ampliação de vocabulário; análise

epilinguística.

Crítica Fontes dos textos (mesmo discurso)

Folha de SP, O Estado de SP

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda

Pág. 17-21

O trabalho com a Língua deve considerar as práticas linguísticas que o aluno traz ao ingressar na escola; é preciso que seja trabalhada a inclusão dos saberes necessários ao uso da norma padrão e acesso aos conhecimentos para os multiletramentos, para o aprimoramento das aptidões linguísticas dos estudantes.

Diretrizes Nacionais – p. 48

Críticas à parte textual (roteiro)

Não considera o saber do aluno antes de explorar a temática Não oferece espaço para questões abertas ao contexto do aluno

Não favorece estratégias de leitura Pouca relação com a realidade do aluno de escola pública

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda Pág. 21 e 22

Para escrever com expressividade

Reportagem

Discurso

O tipo de discurso citado nos textos jornalísticos

Vozes

Identificar as vozes presentes no texto

Fato x opinião

A (im)parcialidade da linguagem jornalíistica (3ª pessoa)

Ideologia

Posicionamento ideológico presente no texto

Recursos gráficos

Aspas e travessão para marcar as falas

Crítica Não explica os tipos de

discurso

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda Pág. 23-30

Crítica - Frases descontextualizadas

- Gramática normativa - Sem variação linguística

Trechos de textos e poema como pretexto

A língua em foco Subordinadas Substantivas

Construindo o conceito Cartum

- 3 perguntas de compreensão Transitividade verbal, objetos

Conceituando

Análise da estrutura do período Definição de subordinada substantiva

Conjunções

Análise nas frases Função sintática

Classificação

Tipos de orações subordinadas Exercícios de análise sintática

Orações substantivas na construção do texto

Poema – 4 questões de análise Função das subordinadas no texto

Semântica e Discurso

Anúncio – Análise textual (finalidade, público, intencionalidade, não-verbal)

Análise sintática, exercícios

Pág. 23

Crítica - Oportunidade para trabalhar as questões da igualdade de gênero,

machismo, o papel da mulher, etc.

Pág. 27

Crítica - Oportunidade para trabalhar as Leis 10.639/03 (11.645/08)

O ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil e história indígena.

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda Pág. 30-33

De olho na escrita Tirinha

Plural substantivos compostos

Análise de linguagem não verbal

Efeito de humor

Construção da regra

exemplos

Exercícios Crítica Textos como pretexto

Pontos Positivos Variedade de gêneros

para leitura Método indutivo

• Estudo dos textos

• Produção de texto

• Para escrever com expressividade

• A língua em foco

• De olho na escrita

• Divirta-se

Cap

ítu

lo

O preço de estar na moda Pág. 33

Divirta-se CHARADA

Anteontem, Márcia tinha 14 anos, mas terá 17 no ano que vem.

Como se explica o envelhecimento acelerado?

Pág. 34-47

Capítulo 2 Os valores do outro

Texto para análise: Tela/pintura

Produção de texto: leitura de um texto histórico sobre anos 60

Produzir uma reportagem sobre temas sugeridos dos anos 60

Língua em foco: pronome relativo

De olho na escrita: plural dos adjetivos compostos

Divirta-se: cartum

Gêneros: anúncio, tirinha, poema

Capítulo 3 A dança das gerações

Texto para análise: Crônica

Produção de texto: Editorial

Estudo do gênero, compreensão

Produzir um editorial sobre temas do protagonismo juvenil

Língua em foco: subordinadas adjetivas

Divirta-se: charada

Gêneros: notícia, anúncio, tirinha, campanha, poema, artigo científico,

anedota.

Pág. 48-63

SEÇÃO INTERVALO – Projeto “O sonho acabou” - Como produzir o jornal; Como montar a mostra

- Vários textos e imagens sobre os anos 60 - Retoma as dicas de músicas e filmes

Pág. 64-67

Algumas considerações...

O livro didático é uma arma poderosa, entretanto, como toda arma, pode ter efeitos diversos dependendo das mãos que o manuseiam.

Tudo dependerá, no entanto, de como serão tais orientações [didáticas] tratadas pelos usuários [do livro didático] em suas salas de aula; seria nefasto se as indicações ali feitas fossem tomadas como normas ou pílulas de uso e efeito indiscutíveis. Pior ainda, se com isso se pretendesse identificar conteúdos unificados para todo o território nacional, ignorando a heterogeneidade linguística e a variação social.

MARCUSCHI, 2000, 10

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Cristiane. Livro didático: o sujeito leitor na construção do sentido do texto. Dissertação. Londrina: UEL, 2004.

MARCUSCHI, Luiz A. Linguística textual: o que é e como se faz. Recife, UFPE. Séries DEBATES.V1, 1983.

MARCUSCHI, Luiz A. O papel da linguística no ensino de línguas. Anais do I Encontro de Estudos Linguísticos Culturais da UFPE, 2000.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa. 2012.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1998.

SOARES, Magda Becker. Um olhar sobre o livro didático. V. 2-presença pedagógica, 1996. p. 53-63.

ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino de literatura. 2 ed, São Paulo: Contexto, 1991.

Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico. Acesso em 14 de maio de 2016.